Isabel costa e silva, josé maria da, 1788 1854 published 1832

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POEMA DE

JOSEPH MARIA DA COSTA E SILVA.

LISBOA, NA IMPRESSAO REGIA. 1832. Com

Licenga.


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c^ li

So

shall

Field

Ànd And

,

he

feast

loves ali

,

the

in changeful hue and combat to renew and arms , and harper's glee strive

,

,

pomp

o£ chivalry.

Walter

Scott,

S87270 »29

A Qs^;p^/l_

Marm.

Cant, V.


m P

XXa

RO

LO G

multo que os Poetas de a paraphrasear os seus antigos

O.

Hespanha comegaroin Romances, mas limi-

tando-se, ao menos nos, que eu tenho visto, a glosar regnlares cada dois versos dos dictos Roinances: o que indica que o principal intuito dos, que se derom a esse trabaiho, foi tornar aquellas Composigòes mais aptas , e acomodadas pera a Musica moderna.

em Coplas

Walter Scott, nos nossos dias, aproveitando , e refundindo as Balladas, e Romances Populares da Escocia, formou delles Poemas engenhosos , e sublimes, que Ihe adquirirom larga nomeada na Europa; na sua Patria o bem merecido titulo de primeiro dos Poetas Inglezes, no presente Seculo , depois de Lord Byron, que polo arrojo de pensamentos , origie

nalidade de inventar, colorido poetico, for§a de sene viveza dedescrever, nom soffre comparagom. Estes dois Homens devem ser considerados corno os Mestres da Escoìla Romantica, que tem progredido tanto, que jà se propagou pela Franga, do que dam testimunho bastante as Poesias de Casimiro de Lavigne, Alfredo de Vigni, e Affonso Lamartine. tir,

Hum dospoucos engenhos, que ao presente fazem honra a nossa Poesia , depois de haver seguido as pizadas de Lord Byron em D. Branca, e em Camoes, resolveo proseguir na carreira de Walter Scott, tra-


,

Prologo.

IV

ctando os nossos Romances comò

elle

tractàra os Es*

Despendeo (diz elle) largos annos em reco* Iher bum boni nùmero daquellas Composigoes depositadas, e comservadas na memoria das Ayas, e das Vecocezes:

e he assàs para lamentar que so executasse o progeto em dois Romances Bernal Francez , e Silvana =: que deo a luz ebem que do primeironom tirasse lodo o partido , que podia , do segundo fez o excellente Poema de Adosinda, cheio de pathetico , de interesse, e de sensibilidade , e a que so a inveja póde recusar louvor, e aprego. Este Poema me foi apresentado por bum dos poucos amigos , com quera me dava , M050 de nào vulgar instrucgom , e multo affeigoado a este genero de Estndos , instando comigo pera que compozesse alguma cousa neste gosto , e offerecendo-se-me pera ajudar-me na pesqiiiza dos necessarios Romances. Nào sei si por condescender com o meo amigo si influido pola Leitura da Adosinda, si polo desejo de pTOvarme nesta espece de Composicom , ou si per todas estas cousas juntas , lansei raào da empresa , e demos obra a buscar os materiaes para ella. Entre os Romances, que ambos podemos coligir, o do Conde Galbardo foi o, que por suas situacoes dramaticas me desafiou mais o desejo de tractalo; porém a predilecgom , que o meo Amigo mostrava pola Heroina de Aragom , fez que eu condescendesse em a compór primeiro. Abi a dou agora a luz com o Romance originai, pera que os Leitores possào melbor ajuizar do trabalbo, que tive com està Producgom , e dos ornatos, que Ibe juntou esse pouco cabedal poetico, com que me dotou a Natureza, e que eu nom pude levar ao grau de polimento, que de-

Ihas

;

=

seu

;

=


,

Prologo*

v

sejava, sem embargo de haver a esse firn, encaminha05 estudos da minha vida inteira. quero entrar em discussòes sobre aprefereacia da Poesia Classica, oii Romantica , que hoje for-

do

Nom

mam bum

Scisma na Republica Literaria; pareceme, com tudo, que seria bom, que o gosto desta ulti-

ma

se generalisasse

em

Portugal

5

pera livrar os nos-

do miseravel jugo da imita9om , que ha inlos Seculos tera agorentado os vóos dos mais feliAes engenhos, fazendo-Ibes produsir em vez de Composigòes originaes, Paraphrases, ou Traduccoes livres dos Poemas da Antiguidade. A Poesia deve sor Nacional e Albuquerque, ou D. Joào de Castro, Irajados àGrega, me parece couporque o colorido locai sa ridicula, alem de absurda he o maior lenocinlo da Poesia , e a falla delle he o defeito, que mais salta aos olhos em os nossos Poetas ^mtigos; direi mais, si dermos o devido desconto, nos Livros de Cavallarias , que hoje se despresam tanto, havendo tao pouco quem os tenha lido, depararemos mais repetidas, e fteis pinturas dos costumes, e- usancas dos nossos maiores, do que nas Epopeias mais gabadas , que se tem impresso em Portuguez. Isto nasce, quanto a mim, de que os Poetas escreviam com a Iliada, ou a Eneada a vista, forcejando por se apropriarem as suas belezas, e os Authores das Chronicas fabulosas , nào podendo imitar, nem copiar os Gregos, pintavam , e atribuiàm aos Cavalleiros errantes os successos , e opiniòes do seu tempo. A Mythologia he bella nos Poemas de Homero e de Virgilio mas sera ella admissivel na Poesia das Nagòes modernas? creio que sim na Poesia Phylosophica, em que o Poeta falla sem iaterposlaPessoa, sos Poetas

;

;

;


VI

Prologo.

podendo por

isso servir-se dos Deoses da Fabula, cosymbolos dasoperagoes da Natureza, e dando com as descripbòes brilhantes, que elles fornecem arnenidade a aridez dos preceitos, e descDa&o a fadiga das Doutrinas. Tambem a admitto na Poesia Lyrica , e Pastori!; mas fazer que era hum Poema Epico os NuQies do Paganismo entiem era accora com Heroes Chris-' tàos, me parece desacerto, inverosimilhanga , e falla de ciso. O Meravillioso Christào he grande e sublime; mas tenho por indecencia empregn-lo era Poemas, cujo assumplo nom seja Religioso. Deos , e os Anjos figuram com toda a magestade no Paraiso de Milton, na Messiada de Klopstock, e no Noe de Bodmer mas nom sera irrevcrencia misturar objectos Sagrados com OS furores de Orlando, com as cavallarias de Rucom as desgerio, com as facanhas de Mandricardo emvolturas de Angelica, e com as aventuras de Marphysa , e dos outros Heróes, e Heroinas dos Poemas de Ariosto, e de Berni ? Mas d'onde tiraremos o meravilhoso da Poesia Romantica? das Tradigoes, e Supersticoes populales; da Magia, e das Fadas. Todos os Criticos comfessam que para osAgentes Meravilhnsos derramarem que sejam interesse em hum Poema he nx^cessario susceptiveis de paixoes. Ora parece-me que neste ponto de vista os Magos , e as Fadas sam iguaes, sinom superiores aos Deoses da Mythologia, sentem corno elles o amor, o odio, o temor , a vinganga, e todos OS mais affectos, que revolvera o peitohumano, e mil cousas ha , que , segundo as ideas mais apuradas da Divindade, que reinam no nosso tempo, se nom pò-

,

^

,


Prologo.

vii

deriam sem inverosiniilhanQa atribair aos Numes da Polylheismo, e que tem todo o cabimento nos Magos, que satn puros Homens , e nas Fadas , que ainda que, na opinioni popular, sejam de mais subida natureza, nom participani da Divindade. O poder bum nom podos Deoses da Grecia hera limitado dia desfazer o , que o outro fizera ;

Ncque

'

eniin licei irrita cuique

Facta Ă’ei fecisse Deo. Ovid.

o poder dos Magos

,

seo gran de saber

desfaz

;

e das

Fadas he so limitado pelo as obras do outro, e

bum

podem reciprocamente vencer,

e ser vencidos

,

e athe

presos, ou por imprudencia sua, ou pola superioridade daÂŤ artes dos seus inimigos; podem transtornar a

marcha da natureza, prever o futuro com maior, ou menor perfeic^om e quem nom ve que movimento, ;

que variedade de situa^oes , e de successos pode produzir a lucta de taes Agentes? Torna-se ainda mais verosimil a sua admigom no tecido Epico , por que, sendo os Magos de diferentes Nagoes, he naturai, que trabalhe cada bum delles pola prosperidade da sua Patria, e dos seos Conterraneos. celebre Voltaire, no seo Ensaio sobre o Poema Epico, mostra-se muito inimigo da Magia, e censura gravemente o Tasso pola haver admitido no seo

O

Gofredo. Hum Homem, (diz elle) que acaba de ler Loke, eAddisson, nom pode accomodar-se com a leitura de semelhantes contos. Isto, quanto a mim, he dizer, por outros termos, que a Phylosophia, e a Poesia noni sam a mesma cousa, quem oduvida? aPhy-


vili

Prologo.

losophia dirige-se a Rasom , e a Poesia ao corajom a Phylosophia quer demonstrar, e comvencer, a Poesia quer mover, e deleitar huma instrue com raciocinios, e provas ; e a outra com as fic^òes, e os exemplos; e ficgòes por ficgoes, creio que as da Magia nom valem menos, do que as outras e bum Homem , que estuda Addisson , e Loke , se tiver imaginacom , e gosto poetico, se accomodarà mais com Armida, e o seo Jardim delicioso , e com a selva encantada de Tasso, que coni as intrigas da Discordia, do Fanatismo , e a mais Phantasmagoria alegorico-phylosophica da Henriada de Voltaire. Nom ha Fadas , dirào OS Criticos, mas tambem nom ha Jupiter, nem Marte, nem Venus , e esses mesmos Crlticos, e Boileau, o mais severo de todos, os admitem nos Poemas Epicos. Quanto aos Magicos, a sua existencia he acredictada em todas as iNagòes polo Vulgo, e por muita Gente, que nom he Vulgo. Os Codigos Ecclesiasticos, e Seculares fulminam penas contra elles, condemnando huais a Magia comò peccado , e punindo-a os outros comò delieto civil. Os Tribunaes Tetumbarom mil vezes com as acuzagoes da Magia e nom forom poucas as victimas , que subirom ao cadafalso por este pretendido crime, e sera dificil de decedir se hera maior a cegueìra dos miseraveis, que se julgavam Magicos, ou a dos Juizes, que os puniam corno taes. Està pagina da Historia das loucuras huxnanas seria susceptivel de mais de hum CommentaTÌo. Finalmente huma Tradigom popular he pera as a Magia he ficgoes poetìcas fundamento suficiente huma Tradicgom popular, e os Poetas devem lansar mào della pera as suas invengoes, em especial quando se tracta de pintar os costumes, e opiniòes da idade media , de que està crensa faz parte. ;

:

:

:


Prologo.

ix

O

Author da Adosinda escreveo o seo Poema livremente rythmados; eu preferi os Hendecasylabos soltos, por me parecer que Versos de medida pequena nom se accomodavam bem corti as longas de^cripsòes, qiie o meo assumplo requeria e creio que o que dà nova graga aos curtos Cantos de Adosinda, nos Cantos do meo Poema, causàra por mais estensos , cansada , e tediosa monotonia. Nom don està Obra por bum modelo conheco quanto està longe da perfeigom , e nenhum Critico he capaz de julgar-me com menos indulgencia, que eu proprio; mas tenho, que ha nella belìezas suficienles para tornar agradavel a sua Leitura e que para certa ordem de Pessoas nom sera pequena recomendacom, o nom achar nella cousa, de que os bons Cos» tumes possam, nem [eveniente offender-se.

em Octosylabos

;

,

;

;



XI

ROMANCE ORÌGINAL. PARTE -O a

se

apergoam

I.

as guerras

-

Là nos Campos de Aragao

-

Ai de

-E

que jà sou guerras me acabarao mirri

;

vellio

,

!

Responde a Filha mais velha

Com «

loda a resolucào

Venhào armas,

«Que

-Tendes -

Filha

;

cavallo, eu serei Filho Barao.

,

os olhos

e

mui lindos,

<::onhecer-vo5-hào.

«Quando

passar pela armada no chào.

u Porei o3 olbos

«Venhào armas,

uQue

eu

e cavallo. Filho Barào,

serei

-Tendes

os bombros mui altos -F^ilha, conhecer-vos-bào «Sejào as armas pezadas, ;

^.tQue OS

bombros abaixarào. « Venbào armas ,

«Que

eu

serei

e cavallo

,

Filho Barào.


Romance Original,.

XII

— Tendes mui — Filha conhecer-vos-hào os peitos

altos,

,

Veriha cà

;

hum

Alfaiate, «Faja-rae jnsto hura jubào. «t

ce

Venbao armas

uQue '

eu

serei

, e cavallo, Filho Barào.

— Tendes

as niàos pequeninas, conhecer-vos-hào; «Mete-!as-hei n'humas luvas

—-Filha, «De

cumpridas passarào. « Venhào aimas, e eavallo, ctQue eu serei Filho Barào.

— Tendes

-

— Fiiha

os pes delicados,

conhecer-vos-hào uMete-los-hey n'humas botas, 9

"Nunca

;

dellas sahirao.

«

Venhào armas

uQue

e cavallo , , eu serei Filho Barào.

P A R T E

II.

«Senhor Pay, Senhora May, u Grande dór de coracào « Por que os olhos de Dom Marcos «Sào de Mulher, d'Homem nào. -Convidai-o vós

,

meo Filho,

-Para hir comvosco ao Pomar; -Porque, se elle for Mulher, -A' magan se ha de pegar.


Romance Original.

xiir

Doni Marcos, corno discreto,

Huma Lima ibi mirar; «Oh que bella Lima he està «Para hum Homem cheirar! uLindas magans para Damas,

«Quem

Ihas podera levar!

uSenhor Pay, Senhora May,

«Grande dór de coragào, « Por que os olhos de Dom Marcos «Sào de Mulher, d' Homem nào.

-Convidai-o vós, meo Filho, -Que va comvosco jantar, -Cadeiras alias, e baixas -Fazei a raeza cercar, - Por que se elle fór Mulher -Nas baixas se ha de sentar.

Dom

Marcos , comò discreto Depois de considerar, Deixando as cadeiras baixas

A

mais alta

foi buscar.

«Senhor Pay, Senhora May, «Grande dór de coragào, «Por que os olhos de Dom Marcos «Sào de Mulher, d'Homem nào. t

-Convidai-o vós

-Para

hir

-Por que, -A'g

,

meo Filho,

comvosco

feirar,

Mulher, ha de pegar.

se elle for

fitas se


Romance Original.

XIV

Dom

Marcos, comò discreto,

N'huma adaga

foi

= Oh ==:

pegar;

que bella adaga està Para bum Homem brigar! :Bellas

Quem uSenhor Pay

,

Senliora

fitas

para

Damas,

Ihas podera levar!

May,

«Grande dòr de cora^ào, « Por que os olhos de Dom Marcos itSào de Mulher, d'Homem nào,

— Convidai-o vós, meo Filho, -Para comvosco nadar

-Por que -^

se elle for

Mulher

Desculpas vos ha de dar.

Do'm Marcos, corno Se propoz a

discreto,

nadar E, recebendo huma Carta, Poz-se a ler, e a chorar. hir

« Que magoa he essa Dom Marcos uQue infortunio, que afliccao ,

;

«Essas lagrimas

arranca, « Te lacera o coracào ? te

Novas me chegao agora, Novas de grande pezar, = De que minha May he morta, = Meo Pay vai a enterrar. =

=


Romance Original. =:zOs Sinos da minha Terra

= Parece que ougo dobrar; zi=Que duas Irmaàs, que tenho = Ougo ao longe lamentar. =z:Para servir-lhe de amparo n= Devo ao Castello tornar ZZI Monta, nìonta, Cavalleiro, =:Temos tempo de chegar. ;

PAR T E Partem

O

,

Pay a

IH.

chegào ao Castello, Janella estava;

E rindo ao seo Cappitào Dom Marcos assim fallava. uSe me

uOh

quizer namorar, tao lindo Cappitào,

aVenha 6fc

a caza de

Porem na guerra

meo Pai, isso

nào.

— Oh meo Filho quem he — Que vos vem accompanhar?

esse

,

uHe, «Se

Senhor,

hum Genro

vosso

o quizerdes acceitar.

— Septe annos andou na guerra — Este meo Filho Barào, — E ninguem o conheceu — Senào o seo Cappitào. =zConheci-o

pelos olhos,

= Que por outra couza

nao.

xt



,,

1

A HEROINA DE ARAGOM. CANTO

I.

OoBRE as fronteiras de Aragotn se elleva Alta moiitanha, crespa de rochedos; Nella antigo Castello, coroado De torreòes , e ameias , anieaga Da planice os pacificos Colonos. Forra o musgo as muralhas corcomidas 5 Que amarellas tornoii do Tempo a dextra ; Polas fendas das pedras serpeando Vam raizes das Heras , cujos ramos Quaes tropheos , se debrugarn balougando Dos ventos a sabòr obra dos Godos, sua forma anciàa nos traz a idea Esses tempos feudaes em que luctando civilisa^om ja corrompìda Co' a barbarez indomita, exaltadas Pola Supersti§ora e Amor, as almas !

Em

,

A

,

Com

heroicas virtudes, negros crimes

Assignalaroai paginas de sangue ]Na historia d'essas barbaras Idades que a forga hera Ley , Juiz a espada! De noite em solidom ali se escuta A gemedora voz do Mocho infesto; Oi sibilos dos ventos, que, rugindo,

Em


,

A Heroina de Aragom

2

Nos €chos da montanha

O

,

se prolongam rumor das torrentes, que baqueam

De

rochedo

em

rochedo

e

,

vam

;

siimir-se

Nos fundos, Presa^em

largos fossos, que atravessa cadeias , levadiga ponte:

,

Disseras, que das grades, que se emcruzam estreitas , bicudas, longas frestas, Sahem gemidos de formosas Damas,

^^as

Que

trdiconi. ou ciume

ali

prenderà;

e as batalhas. Disseras, que os assaltos De que forain theatro aquelles sitios Com estrondo outra vez se represenlam. De dia embevecida a vista estende-se Por espaco sem firn ora contempia Pyramides de neve, que scintillam Da Aurora co' fulgor nos altos picos Dos arduos alcantis; ora se espraia ,

'

;

Por Por

florestas

de

omnimodo Aryoredo,

cultivados vales , que fecumdam Tortuosos Ribeiros; por Cidades, Que ao longe se esvaecem no li ori sonte Como as dubias visoes de bum ledo sonho ^ Que enternecida amante lisongéa! Neste nobre Solar vivia Affonso, Cavalleiro, que a fior da verde idade Nas cruentas batalhas despendéra Descendente de Wauìba , em cuja dextra aguilhom se tornara em Regio Sceptro Seos Avós nas Asturicas montanhas De Pelaio a fortuna accompanharom Pugnando por salvar a oppressa Hespanha Da Maura escravidom , que inda durava; Digna Prole de Avós tao generosos^ :

O


,

Canto Mil

,

T.

na Peninsula afrontàra Agarenas; e alem-mares

vezes

Càfillas

Fora com o bom Goffredo em Palestina Alardear valor! tremeo Nicea

Aos duros golpes seos Solyma o vira Seos muros expiignar. Do Egypto a Hostè Viu de seo Chefe a barbara cabe^a Per elle decepada o chàm nianchando; Do Golgotha no cume beijou piò O trilho 5 que deixou de bum Deos o sangue; Eatoou no Olivete ao Sol nascente Do Rey Propheta os Psalriios sonorosos ; Banhou-se do Jordam nas sacras ondas; Venerou em Bethlem a Lapa sancta, que nascerà o Redemptor do Mando, E que sabio Hieronimo escolhera Pera nella morrer vira do Nhilo A inundagom fecunda , e comtemplara As soberbas Pyramides , debalde Dos rudes habitantes inquirindo !

Em

!

Que

A

alto n^otivo os

Pharaós moverà que os Evos ,

edificar taes fabricas

Insultam e dam pasmo a nossa idade. Agora retirado em seo Castello, Morta a Esposa seo unico consolo Trez Filbas sam de sem igual belleza. ,

,

Quem

as visse

Julgara que as

Dos amenos

no estrado qui redor delle trez Gracas, desertando

vergeis de Idalia^ e

Chypre

Viniiam ouvir liccòes do velho Tempo. Isabel que das trez'bera a mais velha, E apenas quatro lustros transposera De Palas, qual a pintam Gregos Vates B 2 5


4

A

Heroina de Aragom

O

prefeito retracto se mostrava, Tiriha alto, e esbelto o corpo revestido De forga varonil negros os olhos, Que das ramosas palpebras despedem Vivo fulgor, que as almas derretia; Negro o Gabello em ondas se debraia Polo colo de neve, e eburneos hombros; Alto, e bem torneado o lindo peito, Onde turgecem dois formosos globos Alvos mais do que a neve: imita a boca Semi-aberto botom de rubra rosa, De que amavel sorriso a furto escapa. Forte 5 e sonora a voz mas qual podera Delicado pincel de Albano, ou Guido Imitar de seo rosto a cor mimosa, Onde as cecens , e as rosas se comfundem ;

;

^

Sem que descubra deslumbrada a vista Onde fmda a Cecem comega a rosa? Agii com garbo em movimento, e passo, ,

Os prazeres do Sexo desdenhando Tao forte comò o Pav movia as armas Tao forte corno o Pay corsel fogoso

;

Na patente campina arremessava. Mil vezes, desparando a seta aguda, No voo a Garca degolou nos ares Mil vezes, o Veado perseguindo, ;

Primeira a lansa Ihe cravou mil vezes Alcantis de rochedos atrepando Foi roubar em seo ninho os Filhos da Aguia. ;

Theli

nenhum Mancebo

Hum

suspiro de

obteve della

amor, mas em seo peito Palpita bum coragom a amar propenso. Assinx em negros grĂ os na funda mina


,

Canto L Preso dormir parece o voraz fogo ao contacto de subii! scentelha ;

Mas

De

subito se

emflamma,

e pelos ares

Despedacadas rocbas arremega

,

Treme a terra e com fumo o Sol se eclypsa Comfusa tradicom de muitos crida ,

Duvidada de muitos

Que ao nascimento

,

divulgava

seo a

Fada Elphira^

De

Donzellas gentis accompanhada, Benevola assestira , e que, nos bragos Levantando-a rizonha, prophetara De seos fados a cerca alias venturas, E, ao desapparecer , a Estancia loda Com aroma de rosas perfumara. Hum dia que, baixando, o Sol guiava Carro ardente ao cerulo Oceano,

O

misteriosa, em que se emtranha Nossa alma em melancholicas ideas , Fundas medita^òes , e em que pareceQue, da terra esq^ìecida, se extravia Por hum vago sem fim a que eh a maro m Sonhos d'Homem desperto antigos Sabios,

Hora

,

Affonso taciturno passeava

Por ampia Sala d'armas, que luziam Co vermelho clarom do Sol cadente, Que, por ampia janella, refleetia Nos brunidos Escudos e éneos Elmos; D'espago a espago comtemplava absorto De seos Avos retractos denegridos, Que as antigas paredes adornavam ,

;

Involuntarias lagriraas cahindo As venerandas faces Ihecorriam, Gemo as gotas de orvalho se debrucao»

!


6

A

Polo odoroso

calycf.

Heroina de Aragom da Rosa

:

Do

intimo d'alma rompem-lhe suspiros , Qual briza , que os Jasmins move serena

Com

escasso ruido

e transflorava

,

Magestoso pesar do Heroe no gesto. Tal etn rochedo sobranceiro a praia O C'ar*!Ìba indomito se assenta,

Immobil,

d'olhos fixos

comtemplanda

As Occeaneas ondas, que remugem

:

'No esquerdo cotovelo inclina o corpo, ]Na mào a face; ondea o ^ento as pìumas. Que a liberrima fronte Ine aderecam , a bamba chorda do arco desarmndo, que apoia a direita vendo-o ocreras,

E Em

!

ISom Hom^rn

Que

,

,

mas de marmor

frifi

bum Tumulo

coroa

o remate de

Eslatua !

D'Affonso a inquielacom desvela as Filhas Que a seos bra^os atlonitas se arrojam, E a causa inquirem do pezar, que o punge, Enternecido o Veiho as trez ijpperla Sobre o seo coragom que a ma ve! grupo De filial Amor, paterno Afecto Primores apostando que alto assumpto De Buonarrota ao portentoso scopro , Annimador de marmores! quaò dextro I

!

Em

trez rostos gentis

,

n'hum

virii

rosto

Paria contrastar assomos d'alma, Diversos na expressora , na essencia os mesmos! Que longe estam os barbaros, que zombam

Dos

prodigios das Artes, de sentirem

Essa Poesia d'alma, com que annima O Bronze, o Cobra, o Marmore o talento D'inspirados Artistas Entes brutos. !


,

Canto Que

em

a Terra involuntaria

7

I.

si

sostenta,

Para quem sempre ibi fechado Livro O quadro da fecunda Natureza! Tem olhos, e nom vera no niveo Lyrio Mais do que estcril fior, e, ouvidos tendo. Mais que rumor nas de M.ozzart nom ouvem Divinas consonancias hes , oh Ouro Unico Idolo seo , porque em ti acliam facil melo de farlar seosVicios! Longe , Vulgo profano! hide atolar-vos !

,

O

Em

sordidos prazeres the que a Morte e so grave ,

Vos enserre no Tumulo

, esquecimento em vossas campasi que pera vos nom canta o Vate, Ileservam-se de Phebo os dons sagrados

Despreso

Longe

i

A OS nobres coragoes em quera Natura Porco m deposi tou do Empyreo fogo , Que OS impelle ao que be terno, ao que he sublime; Que percebem a energica eloquencia Da Beleza e da Dor , e que penetram Da Solidom os rnisticos orcanos, Sam eiles, que de tlores engrinaldam ,

,

De Camòes

E

5

e Pliylinto a septdtura,

quando eu pague a morte o feudo, Os cantos meos repati rào saudosos. talvez,

u Filhas (Affonso exclama) oh charas Filhas « b4 ii

Porque da rninha dor sondaes motivos? Porque estranhaes as lagrimas, que verto Que nobre coragom da Patria os males

Nom fazem A trombeta

?

prantear? com son medonho da guerra abaia , atroa 35 Os campos de Aragom Mouros canripeaun " Polos seos campos semeando eotragos. ii

64

!


,

,

A

8

Em

a

,

,. , ,

Heroina de Aragom

defeza da Fé, da Liberdade

46

Os Hespanos Heroes

4i

Tem

às armas correm , por ficto a Victoria , ou Morte lionrada 4t Lansain em roda os olhos , e procuram 44 Affonso, que outro tempo os precedia « T^a carreira da gloria; e o bravo Affonso u Ora o que he? sombra vaà Aguia ferida u Que, moribunda, e fraca , apenas pode 4( As azas sacudir, quando quizera

!

!

Erguida aos Ceos , arremessar-se a preza Lidima heransa de valor guerreiro, 4t Que meos claros Avos me Iransmetirom u Qus eu sustentei de tanto sangue a custo 4f iSlas montanhas de Hesperia derramado Nos campos do Levante, fervoroso 4i 44 Pola Fé, pola Patria expondo a vida c( Que de niim nom passasse aos Ceos approuve! 4s Si dos Alayores meos ficto os retractos 4(

!

4c

E

46

esses tropheos por elles conquistados

Parece-me que os vejo merencoiios naquelle Apontar para mim dizer oh magoa oh pena! -fiosso nome findpu Embora a minha morte ao menos dìgna eu corro oh Filhas, Sera da minha vida

4;

«t

4( 4t

,

!

!

!

Da

.

.

.

.

,

o meu bra^o 4; Jà nom pode ceifar armadas Hostes 4t Presentando-me affoito aos innemigos, 4t IMorrendo aos gojpes seos , terei cumprido ic Com o que devo a Deos , a mim , e a Patria! Das Filhas nisto rompe acerbo pianto ; Huma deplora a misera orphandade ; Insta a outra, abra§ada aos seos joelhoSj ((

gloria ao

Que do

campo; adeos

!

e

si

infausto projeto se descarte

;


,

Canto

Mas

em

o Velho tenaz

,,

,

I.

*

seo conceito

Rogos regeita, e lagrimas nom ouve. Assim o Monte Aliante alern das nuvens

De

neves coroada a frente eleva

,

Neni sente corno o Mar etii crespas ondas Lhe assalta as bases rebramindo irado « Omnipotente Deos (prosegue Affonso) a Porque nom mereci que me outhorgasses « Hum Filho 5 em quem surgisse a gloria minha « Elle por mim voàra aos marcios campos « E a sombra de seos Louros poderia « A minha caduquez dormir tranquilla!. Cora que gosto, ao partir, lhe apresentara !

!

,

.

.

.

<fi

O

a meo lucido escudo , e lhe dissera « Neste, ou com este voltaràs honrado! et Que triste a sorte de hum Anciào sem filhos! u Sua infausta existencia he corno a Hera « Que nasce onde nom pode unir-se a hum Tronco « Que em vez de no ar ufana estender ramos , « Pela terra serpea , e sem reparo 4t Aos pes a cajcam Gados , e Pastores Nisto a cabega encurva , cruza os bracos ^ !

E

n'hum

Na

feixe de lansas se reclina! Isabel , que theli guardou silencìo^ idea re voi vendo alto projeto

Com magestoso E com solemne

passo ao Pay caminha, ton assim lhe fajla. Todo o orgulho dos Pays nos filhos libra* De ha muito o sei; o seo afecto inteiro Nelles se reconcentra; elles so amam Nelles so vivem Cargos , Dignidades -Titulos, Possessoès , Nomes, sam delles!

— — —

!

'— N'aryore da Familia

inuteis

Folhas


A

10

Heroina de ì\ragom

-— Soraos julgadas

!

Que

as desperse o

Vento,

— Que o Sol seque, que vai? na infaocia — Tenue nos dam crescendo a idade, — Do Solar desterradas nos enviam nonie em casa — Buscar — Homens, que o sangue vosso — Nom gira em nossas porque o Sexo — Menoscabaes a que deveis a vida — Somos fracas nossa fraqueza — Da educacom que vos nos daes, as

isso

riso

;

estranilo

«

allieia

injustos sois

veias

!

!

?

?

5

dizeis;

,

dinriana,

,

•—Ella nos debilita os membros, ella Nos amesquinha o espirito, apagando Quasi o fogo celeste, que Natura

— — Em

nos despoz

,

e ein vos, e

que nos

Homens

"— Procuraes augmentar com todo o esraero. -—Vede OS diversos annimaes da Terra, Do Sexo a diferenca o que influe neiles? He mais bravo o Liotn que a esposa sua? Cede ao Tygre era fereza , cai forca a Tygre? E porque em mi in so falle, ha hi Mancebo, Que, mais agii do que eu, floree a espada?

— — — — — — Que mais longe arremesse o dardo, a setta? — Que mais firme na aguenlar possa ~ Galope do Corset, da lansa o encoiìtro — Filho Baroni que mais a — Delle porque choras de hoje avante — Filho, nom aruias sou! Cavallo, — Jà me apromptem para a guerra eu marcho sella

!

fizera

assira

e

?

?

e

filha

se

falta

,

« Tu, Filha! tu a guerra em trage estranho « Conhecer-te farào teus lindos olhos! !

— Do Elmo a — E, quando — Torvos

viseira os cobrirà descida

a suba,

com

fingido enfado

OS tornarei! Cavallo, e

armas


Canto

11

I.

— Jà

se me aprompterii , para a guerra eu marcbo. Tens ahos hoaibros elevado o seio ii Abonos de Mnlher daràs no talhe! -— Abaixa-los farà do arnez o pezo -~ E quando Qie desarme, iiura jiiboni largo Forrado de felpudas zibelinas —~0 talhe emendarà Cavalo e armas para a guerra cu marcbo Ja se me aprompteo) 44 Nom Fiiha! eu noni consinto qiìo le exponha^ a A voluntario risco. Olbos de Lynce Ci Tem amor! pe piqueno, e delicado « Trahirà teo sei^redo 55 Era ferreas nrevas Bruxulea-lo nom pode aguda vista. Mais, Senlìor, nom te oponhas, aada temas» e;

,

,

— —

,

-

!

5

-

!

!

,

i

— — — Superior impulso me arrebala — Filho Barom eu sou da guerra a tuba -— Aos campos da Victoria convida. ~ De teo nobre em mirn renascern •— O5 antigos brazoes, A ìdade tua — Da paz exige o placido remanso. ~ Das Fiihas tuas deslVuctando — Habita o solar, em Fama — Com anoticia das proezas minhas — Te farà confessar que em mi(n revive — Teo guerreiro valor! Cavalo, armas — Ja me apromptem para guerra eu marcilo '

,

!

.

.

.

(ne

appelliflo

al'fagos,

Leo

qtie

brev(^ a

e

se

,

a

Disse, e subito os muros se estremessem

Tremem

as

armas,

os relractos

,

tremem

Com son corno o dos Ventos quando ronipem De cerrada Floresta as densas Folhas. Ao Affonso

jpm

,

colo de Isa bel 1 ansando os bracjos a quem demove o ledo agouro ,

vivo enthusiasmo alegre exclamal

!


,

1^

A

Heroi'na ee

Aragom

ce Nom te contrasto mais, varonil Filba, « Ou Filho , se este nome mais te agrada, a Vai onde te comvida a voz da Gloria, « a de teos Avoengos, que se expressa « No rumor jubiloso, que escutamos. « Vai qae jà me figura a pbantasia " Que do ousado Africano Hostes comfundes, ce Esquadroès rompes, e tranqueiras gals^as, " Que por ti de Moncada o nome egregio « De recente esplendor briiha, e fulgura! « de virentes louros adornada « Volves aos bragos meos findada a guerra! « Minhas tremulas màos o arnez te emverguem st Elvira as grevas , e Thercza o elmo.

E

E

ii

Està espada

éi

Companheira

« « « a « u 4c

«

a èc

(c

a

te cinjo

que

,

foi

,

sempre

em meos

trabalhos, Co' ella acabei medonhas aventuras, a tingiu vezes mil barbaro sangue. Eis este escudo de brunido aceiro Foi do famoso Argante , que em Solyma Mais terror nos Cruzados emfundia Que OS defensores seos , e as torres suas Morreo às màos do impavido Tan credo, Morto elle quazi, este Agareno Achyles. Tancredo o despojou voltando ao campo De amisade em penhor , deo-me este escudo; Sempre o guardei do grande Heroe por honra, E, estimulo de esfor^o , a ti o entrego. Disse; a Heroina grossa lansa empunha, fiel

E

;

!

;

E

a brande com tal garbo , que poem susto Pay, a Irmaas, e a Servos, que comtemplam. Tao portentosa scena assim nos pintam As Fabulas de antigos Romanceiros

A

!


Canto

A

13

I.

mui formosa Infanta x41astraxerea

Que no Castello das calsadas quatro, (#) Onde entrar pòde por subtil industria. Arrogando o jubom armada brillia Ante OS olhos do attonito Gigante; Coni elle, e seos Sateiites avanga, E, coni morte de todos traz ao dia ,

Do

Carcere , em que genae , a linda Arlanda. No pateo do Castello, prompto ha muito, Hum fogoso Corsel , alvo qual neve, Que a maò do Inverno no Apenino acama Cava o cliaò , curva o colo, orelhas troca, Relincha, espurna, sem parar n'hum sitio. coni ledo rosto Eis que desce Isabel ;

Abrada o Pay , e Irmaas; as redeas lansa A' cerviz do Corse!, co' a esquerda as firma, De crina huma madeixa enroHa ao dedo Mete o sinistro pe no estribo, e prompta De hum pulo vai cahir na sella a prumo. Recebe de Tbereza a grossa lansa Esporea o Corsel , transcende a porta

Treme com

o pezo a levadiga ponte Montanha airosa desce. Pay, Irmaas, e Criados a acompanham Com vozes quanto he dado ouvir-se as vozes, Depois polo ar agitam brancos lensos The que, a larga planice atravessando Com rapido galope a vista escapa.

E

a encosta da

FiM DO Canto (#)

Pan art.

Veja-se a Chronica 1.*

deD.

I,

Florisel de

Niqueas


m

,

u

A HEROINA DE ARAGOM.

CANTO

II,

ri

EMPo das Fadas

Como

j

Tempo dos Encantos, me recrea

as tuas leaibrancas

Nos Livros, que

o casmurro de Cervantes

Ao fogo condeainara por sente nsa De bum Cura impertinente, e de bum

Barbeiro,

Taralbom comò todosl so podia De Mancbego bestiimto, e taes cabegas Nascer

tal

desproposito

!

que

Demo

Tentou o Senbor Padre, e o Senbor Mestre Para assim proscrever tao guapos Livros

Amplas

vertentes de prazer donoso

Valem mais

os de Tacito, e

?

Comines

Recheados de malicia? tem mais prego Bacamartes juridicos , que ensinam

Da

Trapassa os reconditos arcanos? hi nos Physicos Romances, corno os athomos ganchosos Contradangando na estensom do vacuo, Huns n'outros embrulhados, produsirom

Que gosto ba Que explicam


,

Canto

A

Terra

,

,

15

II.

o Sol, Eslrellas, e Planetas

?

Ou comò a longa tromba de hura Cometa No Sol fogueira eterna, focinharido 5

Semeou polo

De

ar globos

em

braza

exhaìarom Vapores, que depois, cabindo em chuva vidro derretido

,

qiie

,

Lhe apagarom a

Que

vasta superfice ? affirmam que em volcoes o centrai fogo

Abriu na codea boqueiroes immensos.

Onde

as agoas ferventes se arrojarom

Mares formando, descobrindo Montes

?

o calor dessipado em evos longos, Terra se cobriu de arvores, plantas. De Homens 5 e de annimaes, e o vasto De Peixes, de Meuiscos? nom ensina

Que,

A

Occeano

Melhor, que estes phylosophos delirios, origem do Universo a sacra Biblia Neste verso tao simpìes, tao sublime Creou Deos no principio o Ceo , e a Terra f Quem pode ler sem tedio, ou somno, ou ira Mil abstrusos poiiticos tractados Com que a genie azoada inquieta o Mando? Divagar por florestas espinhosas De subtis Methaphysicas ? que emporta Saber se o Diamante a fogo intenso Se transforma em carvom ? se de dois gazes Unidos por electri'ca corrente A agoa se produz? nom cessem fontes De a verter, nem os Rios de regarem A terrea superfice, que isso basta Dos Homens pera o bem. Quem quizer leia Esses Livros tao sabios, tao profundos, Com que jà na fervente mdcidade

A

,


A Heroina

16

Tanto tempo

de Aragom

perdi tenho passado vida a equinocial; prazer , descanso Sanri os Idolos meos so me conteritatn Imaginosos quadros da Poesia 9 Da Musica as suaves consonancias !

Da

!

Hum Hum

Rouxinol cantando em bosque umbroso, lindo por do Sol, que me recorda Que ja do meo viver o ocaso chega! Hirei tirar

Das

com

desvelado esmero

trevas de Monasticas estantes

As Chronicas de

andantes Cavalleiros, truncadas, em poeira envoltas, caracteres Gothicos impressas; Elias me entreteraò nas vagas horas Com vistosos Torneios, ledas Justas, E aventuras de amor. Verei Gigantes A' verde espada de Amadis morrendo (1) Verei por nova Helena Europa, e Asia (2) Sobre Constantinopla combaterem Com heroico furor! embelesar-me Do sabio Daliarte barn de os prodigios (3) Os de Alquife, e de Urganda mas Chymeras (4) 6t He tudo5? me diraò; embora o sejam ; E tudo quanto faz da vida o encanto que he sinom chymeras? Dignidades Que sam ? chymeras. Titulos? chymeras. Gloria, e Fama? chymeras: a nobreza ? Chymera inda maior. Essas mentiras

Rotas

,

Em

;

!

O

(1) (2)

(3)

(4)

Vid. Chron. de Amadis de Gaula. D. Fiorisci de Niquea. Palmeirim de Tnglaterra. Historia da A madia da Grecia.


,

Canto

Tem

17

II.

mais feitigo, e graga, a hisloria matisarom Hyguera, e Garibay, Laimundo, e Brito Sou lòuco? certo estou que tal nora pensam Os Modernos Poetas , que em crearem Huma Poesia Naciorial trabalham , Que acharao nesses Livros despresados Novo meravilhoso, proprio della , Comsono co' as ideas , e os costumes Do Vulgo, que ere Fadas , Nigromantes, E que em Marte nom ere, Mynerva, Juno, Em Jupiter, em Venus, e os mais Deoses, Que a Grecia produziu e adorou Roma Nom que tao depravado o gosto eu tenha^ Que desprese de Apollo o carro ardente Tirado por ignivomos Ethontes, A concha , em que das ondas Venus surge De Tritòes, e Nereidas circumdada, Esse Olympo de Homero revolvido Per todas as Paixoes, que os homens pungem, JVleravìlhoso tal quem nom captiva? Mas o outro he mais geral, e se acomoda A todas as Nagoes e às Crensas todas. Fadas 5 e Magos creu o Mundo antigo j Nosso Seculo ere Magos , e Fadas Si ha tradi§om universal he està. O Europeo na infancia absorto escuta

Que

mais engenho

essoutras,

^

com que

!

!

,

,

Pasmosas narracòes dos seus prodigios Acha-os em sua historia o Musulmano; O Negro, si Ihe falha a sementeira Em seo clima de fogo, irado acuza Perfido Encantador, que Iha fascina N'Asia o Gentioj e nos desertos Mattos ;

;

e


A

18

Da Os

Heroina de Aragom

America o Selvagem vagabundo

, os consulta, implora, e teme. o consenso unanime dos Homens Alguma cousa prova, couza alguma

E

receia

si

Mais provada nom vejo, que a existencia Das Fadas e dos Magos! firme a creio E si inda ha bi quem a duvide, escute ,

A

historia de Isabel

Como

,

tao verdadeira

,

a dos doze Paladins da Franca,

Que Turpim

mui-veridico escrevera heram ja que, fatigando Seo formoso Corse], a Hespana Heroina Demandava o Exercito, que perto defesa da Patria se j unta va. Entra afouta em vastissima Floresta Emmaranhada, e triste! o Sol cadente, !

Seis dias

Em

Illuminando as nuvens, parecia

Que

rubras laboredas abrasava

Polo Occidente o Geo! a luz obliqua, Penetrando na selva Ihe da visos ,

De

estensa arcada (jotbica, sustida

Em

columnas de bronzei envolta a

Na immensidom

Dama

frondosa, aĂŹonga os olhos Avida de sabir do arboreo enredo, Antes que desca a noite, e em vao procura lemite do bosque, em vao dĂ prega Ao ligeiro Cavallo. A Noite desce E com manto de trevas tudo esconde. Quem nunca atravessou na escura noite Descampada Floresta, escassa idea Faz do medonbo aspecto de Natura No instante, em que he terrivel ante os olhos Massas de sombras gigantescas giram

O

!


,

Canto

II.

19

O

rosto agoutam co' estridor das azas Pipilantes Morcegos; soa ao longe Do Moucho 5 e Noitibó funereo guincbo, Sopram Corujas, estremesse a terra Com o piso dos Javardos que sedentos ,

Vam

de ribeiro proximo em demanda; E, si este rumor cessa, mais medonho Fica o silencio 5 que esentar sodeixa som dos passos do Corsel , qvie avanza, Como seo Dono, timido! na mente Entao assomam lugubres ideas JMil casos lastimosos se recordam De viandantes perdidos ; as cruezas De iniquos salteadores as funestas Aparigoes de Espectros , e as Choreas, Que em torno tecem de fadados Robles Torpes Estrias , Trasgos rnalfazejos ; Tremor involuntario os membros corre, E OS cabellos na fronte se arrepiam.

O

;

Do

susto OS sobresaitos repremindo,

a Dama, e, depois de longo espaco ^ Perde o tino da Selva, e nom conhece A onde està, pera onde vai, e hesita Sobre o partido , que tornar Ihe cumpre. A tea vagarà the que depare Do Floresteiro a Choga, em que se alvergue? Ou, prendendo o Cavallo a hum tronco, a Aurora Esperarà que rompa, sobre a relva^ Por cabeceira o escudo , reclinada Tal meio mais Ihe apraz mas horror novo Augmenta o costumado horror nocturno

Marcha

!

,

!

Cresce o Vento , e em rajadas sybilantes Os troncos verga , os ramos despeda^a :

e

2


,

A

20

Heroina de Aragom

De espaco a espa^o o Ceo De medonbos relampagos,

se

abrasa

em

fogo

que seguein

Os trovòes cujo eslrondo representa Que as Poteslades do ar em guerra dura A iDacbina do Mundo despedacam. ,

Eis subito o Corse)

cometa inquieto

A

entonar a cabega, orelhas hirta, Sopra , ladeia , e tremulo recuza De avangar, qual si objecto presentisse Que Ihe excita pavor espora, e redea >ìom o sopeiam, por fugir trabalha Soberba rasom do Homem , quanto cedes in«^tincto de Annimaes! de longe aventam Sem o ver, que bum contrario se aproxima iNlom sabe a Dama o que este susto indica, E, prompta a todo o lanse, a espada empunha* Eis que por entre as arvoreTdescobre Luz de bum facho , que, rapida correndo, !

!

A

!

Para o sitlo , onde està, se derigia A!egra-se que lium Guia achar ja pensa Que a conduza onde alvergue! assim, perdidos Ao furor *de nocturna tempestade Vellas, e mastros , e boiando o Lenho Meio-alagado a descrigom dos mares, Nauta esmorecido espera a morte: Eis que rompe a Manhaà, e perto observa Conhecida enseada , que Ine abona Hospedeiro recobro , e Ihe deslembra presente praser passada angustia. Ja o facho mais proximo llammeja, o Corsel mais se assusta jà se avista Lindo Anom , cor de rosa aijuba o cobrcj LoDgas plumas no gorro Ihe tremulam, !

O

O

E

!


Canto IL

SI

Grande Leom cavalga, que governa Com aureas redeas, e empunhava o facho. éi Isabel (elle diz) prompta me segue, 4i

Para guìar-te eu vim. » Ella assombrada

— E quem — Quem

hes tu? (pergunta) que conheces u mais nom me he nome meo ?

sou, e o

a, que me envia, assim o ordena. Disse. Ella o segue; em rapido galope Polo mais intrincado da Floresta Se entranham the chegar a huma Colina A cuja falda se abre esconsa gruta A quem verde cortina, serpeando , Forma em tufos de folhas a Labrusca Que ao pezo verga dos agrestes cachos. Apeiam-se, e o Anom aplica aos labios Busina, que dos hombros Ihe pendia Presa em aurea corrente! eis surgem fora « Dizer-te

;

Duas Nymphas

gentis

,

que

as redeas

tomani

Cavallo, e ao Leom! precauta a Dama Receios dessimuia, e vai seguindo Anom, que com seu facho attento a guia Pela subterrea estrada! contemplando As paredes o tecto , o pavimento Desta longa Caverna, admira a Dama esmero, com que aprove a Natureza De aderecar està mansom de trevas. A agoa empregnada de oxydos diversos, Que variadas cores Ihe transmitem

Ao

O

,

O

Pouco a pouco estilando-se ali forma Torneadas columnas de Alabastro, Ricas tapegarias, lindas flores, Arvores , que seus ramos longe estendem Grij^aldas ao desleixo suspendidas 5

dado


A Heroina

22

de Aragom

Pyramides, e assentos, quanto pode

Nos Arabescos

seos pincel feoundo a luz do facho, Iracar Reperculindo ali, aos olbos forrua

De Raphael

Magica Scena

!

que, exaitando a idea, deslumbra oh Natureza Quanto hes meraviìhosa quanto hes rica Nas tuas producgoes! mas porque escondea Taes portentos nas sombras, onde raro Dos Homens chega a vista ? norn he digua Està de apparecer do Sol aos raios Vegetacom niarmorea? ou destinaste Estes lindos Alcagares aos Genios Que presidem do Globo a economia, E OS varios Elementos modificam ? Mas teo mistico veo erguer quem pode Penetrar teos arcanos ? admira-los Mas sem os decifrar so cabe aos Homens Nota Isabe! que està comprida estrada maneira de Serpe, que colea varias direccoès mìl voltas forma E sempre mais, e mais se inclina, e busca Da Terra a profundez eis que comega apparecer dubio clarom, que imita Aurora, que no extremo do Oriente Principia a romper, e a ouvir-se ao longe Doces echos de Musica suave De concertadas vozes , e instrumentos u Onde estanjos ? ?? (pergunta) mas o Guia^ Sem nada responder , o facho apaga; Quanto mais caminbando se adiantam , Mais a luz, mais a Musica se avivariì. Eis que novo Espectaculo embelesa Arrebata

,

5

e

!

!

,

,

!

A

,

Em

!

A A

5


Canto

23

II.

Os olhos de Isabel Salom brilhanle De Arclìitectura Gothica susiido ,

Eli lucidas coìumnas de Alabastro, Eu cujos qualro extremos avultavarn , Obia de aito primor, Estatuas quatro , Que Estio. Outono, Inverno, e Primavera Ao v'vo representa m todas de oaro, De preciosas pedras tachonadaa, Que tao vivo fulgor circumvertiam , Que, a vastissima Estancia illuminando, De Pheoo siipre a iuz! o tecto forrarn Forram Paredes mil Rosae» vistoso», Rubis asflores, esmeralda as folhas Mosaicado matiz o chào vestia, No topo se ergue bum Throno ern degraos septe^ De que imitam ao vivo as varias cores !

;

O Arco chuvoso da Thaumancia Virgem. Servem-lbe de docel festoes de Rosas , Nelle em aurea cadeira se recosta Magestosa Matrona, em cujo roste A bondade, e a belesa resplandecem. Nom sei que de Divino, ao ve-la, acliaras seo modo, em seo ar sam cor de rosa Roupas, que traja , perlas as matizam. Rosea grinalda Ihe coroa a fronte, D'onde descem ondeando as crepas transas, Que nos formosos hombros Ihe lourejam. Vestidas de igual cor, gentis Donzellas, Humas dedilham Ilarpas sonorosas Outras com dece voz assìm cantavam. w Salve, das Fadas inclita Princeza, " Do Grào Demogorgon présada Filha, « Elphyra, he lymbre teo a rubra Rosa,

Em

!


A

S4

Heroina de Aragom

Que te imita em beldade! tu franqueas A quem te apraz os magicos arcenos, « Dos Heroes, dos Amantes te comprazes 4t

«

a De ao Natal assestir feliz trez vezes « Aquelle, que, ao nascer, de ti obteve « Hum sorriso benevolo a {eo cargo « Fica o dourar seos dias de ventura, « E invisivel valer-lbe em arduos lanses. « Nas entranhas da Terra te obedecem « Os Gnomos cor da noite! os leves Sylphos ce Polas planices do ar as Leys te acatam , « Nymphas d'agoa , e do fogo ao teo mandado « Dos Elementos seos a furia amansam « Junges ao carro teo brandos Favonios, «t E, mais veloz que o pensamento, voas a Do ardente Cymboraco aos frios Alpes, « Do longo JVlississipi ao negro Zaire. « Mas nas margens fructiferas do Ebro « Te agradou colocar teo domecilio M Aqui da Natureza as Leys moderas, « Tarnsformas em Jardins fragas incultas, « Salve das Fadas inclita Princeza u Do Grào Demogorgon prezada Filha. Cessa o canto , e seus ultimos accentos Nos échos das abobadas soavam , Quando a Fada a Isabel sorrindo accena ; Por entre as alas das alegres Nymphas Ella passa , e do Throno airosa sobe Os marmoreos degraos, e reverente Curva o joelho^ e, o que Ihe ordene , espera, 46 Teo destino (ella diz) da tenra infanci^ a Hey vegiado com desvelo assiduo ; !

!

;

«e

Nos bragos

te apertei

recemnascida^


,

,

Canto IL

25

Descrigom e belleza, que te adornam 5 Os briosos espiritos, que nutres, « Forom dòes meos jà se devolve o tempo

é6

,

a

;

De

cumprir-se as proQjessas de ventura 4t a guerra Feitas por mim em teo nata! u Vas por influxo meo; mas he preciso « Que a Lei , que te impozer cumpras exacta !.. « Para intimar-ta eu fiz que na fìorosta a Cam in ho perdesses. Obra min ha «f A tempestade foi e ao raeu Alca^ar (c A noni te conduziu por meo preceito. Mas fatigada estas , descansar deves, Ergue-se, pela mao a toma, e entra N'outra formosa Estancia , iluminada De candelabros de ouro. Rica meza Ali aderegada se offerece Vasos de Jaspe com purpureas Rosas Soltam gratos perfumes: lindos Grupos De Figuras a adornam. Toma assento Com a Heroina a Fada. Trazern promptos Guapos Anòes opiparos njanjares. Todas as produccòes de estranhas terras ^ Todas as produccòes de estranhos mares «

!

O

;

O

i(.

Se alardeam

ali.

Derramam Nynìphas

Em

limpidos cristaes antigos vinbos^ Que espumam , e subtil vapor exhalam. Nem Ihes falesce Musica divina, Cansoes, quaes entoara o douto lopas No almo convivio da Fenicia Dido. u Como OS Astros, e Estrellas se equilibram « Nos diaphanos ares d'onde partem , ;

(c

Onde dam

«

Como

as

volta igniferos

Nuvens

,

Cometas Ventos ,

Trovoes

;

se

formam

*


,

A Hesoina

Q6 is

u a

de Aragom Canto IL

Como

OS Rios ao Mar, sem que o Mar cresca Levam seos cabedaes; corno ern seo greaiio Os diversos melaes a terra cria ;

Como

nulrem dos Volcòes os fogos, « Que forga ociilta as agoas vezes duas « Do Polo ao Eqiiador n'hurn dia impelle!... « Caatam corno nas Plantas circulando

te

u

a u

Das Das

se

raizes às folbas sobe a seve,

d^pois desce comò inspiram " o impuro Azote! 64 Que altas virtudes em seos sucos moram, ii D'onde as cores provem, de que matisa u Primavera as pétalas das Flores, ts Seos varios bymineos, amores varsos, 6i Hums patentes aos ollios , emvolvido» a Oulros nos veos do tacito misterio. Assumptos graves 5 ponderosos, dignos foliias às raizes

Em ondas cor de leite O Oxigenio, aspirando !

A

De quem

ouve, e quem canta!...

Satisfeito

Ja o apetite, a meza se abcindona. Despedida da Fada a Hispana Dama, Oficiosas Nympbas a conduzem A huma pomposa Alcova: despojada Ali das armas em pomposo leito 5

Os

fatigados

membros descansando,

ellas em torno se despede varòes de ouro as sericas corlinas Cor rem , e ao brando somno entregue a deixam.

Graciosa

;

Em

FiM DO Canto

II.


fvv«vkm %\i^^rv\^%'«%^v%\/«/%(\/v%%/\i%'«/\/v»%i««\«\ vv%i\/v\'«w%«/vi%^Ai^'vtt/v%i\^^

A HEROINA

DE ARAGOM.

/vki\«wt'«Miwt«««\'%^v«««%a'\/%%\/««\f« %«%

CANTO Tu

IH.

eiGO sornno, dom optimo dos Numes, doce balsamo restauras que diurnas lidas inanirom,

corri teo

Corpos

,

Aflicto emferrno laiìgaido te invoca Sobre bum leito de dor dltoso amante Qae a noi te despendera entre delicias Sobre o seio da amada volupioso , ;

Nas palpebras

te acolbe ao romper d'Alvai consolagom do Desgracado hes da Nolte o Rey , e o Sceptro estende^ Aos Ires Reynos da vasta Natureza Tu subjugas coni lagos de papoulas O Leom 5 e o Tyrano e em quanto dormern Descansa a Morte, a Humanidade exulta! Multo embora qs austeros Cenohitas A's tuas Leis rebeldes , vam no Choro Psalmear suas rezas multo embora Frivolos Cortezàos , loureiras Daraas Com nionotono jogo a noite encurtem Prolong'uem the a Aurora os seus banquetes

Tu Tu

a

;

,

;


A

28

Tecam Sem as

choreas

,

Heroina de Aragom canticos entoem

hums,

virtudes de

,

e os vicios de outros^

mimos prefiro a taes praseres. Dormir he o maior dos hens da vida Velar he padecer! ninguem dormindo Eli teos

De violentas Ou do crime

paixoes he lacerado sulcou mar tormentoso. lividos Espectros da Pobreza,

Os As puas da Ambigom do Orgulbo os fumos Os prejurios de Amarites refal?adas Nom cercam, nom inquietam, nom instigam Quera jaz incurioso em teo regalo. Todos sam bons dormindo bum privilegio He do Homem justo o somno, que os malvados Nora dormem si olhos fecham, se assoporam, Nom he somno; he lethargo, que mterrompem ,

,

;

;

Horridos sobresaltos

,

Que

antolham

seos crimes Ihe

visòes negras ,

,

que os fustigam

Co' vipereo flagello dos remorsos. Gemem entao com soffocados gritos, Tremem , bracejam erguem-se esj)antados Buscam a luz, e o fado seo maÏdizem. Dormir folgado he ser ditoso; e si Homem Houve feliz no Mundo em meo conceito Epymenides foi oh somno, oh Nume! Porque huma igual ventura nom me outhorgas Que prazer, despertando apoz dois Evos Tivera em ver o Sol, em rodear-me De ignotas Gentes com costumes outros, Com outras opiniòes, em confronta-las Aos meos contemporaneos, decedindo Si vai, corno alguns pensam, nossa espece peior j ou se o Tempo a aperfeigoa ,

,

!

,

A

I

?


Caeto

29

III.

Mas,

si a milito se elevam meos desejos menos veni assiduo ao meo alvergue. Roga- me com teo sceptro de Papoulas

Ao

nem consintas Que se abram, sem que o Sol no carro Ja em pieno merìdio a luz derrame. Da ventura, que eu tanto invejo, Ai» palpebras despertas,

de ouro

e louvo Desfructava Isabel no brando leito. Mas neslas horas de sopor, que ppdem Ferias cha mar-se da exislencia externa; Horas, em que desprega a interna vida A intensìdade toda dam-se às vezes Reagoes dos sentidos que conservam Vigil parie do cerebro afectado De impressòes nimio-vivas , que a seo folgo Livre a Imaginagom despoem , e ordena Mil-variados sonhos produzindo, Caprichosos Pintores, que nos tragam Objectos vàos , ou que o porvir enserra Destes Turba engenhosa entao vagava ledo adejo da cabega em torno Da dormente Beleza assim nos vemos manhaà de fragrante Primavera Enxames de raeiificas Abelhas Agodados zurabir, girar em roda Dos calices das Flores, que despojara Do polen fecumdante, que transformem Com seo traballo nos nectareos favos. Ou comò em derredor do bum raio escasso De Sol, que se introduz em casa escura, Mil aihomos subtfs , turbilhonando , ;

,

!

Em

!

Em

Em

varias direcgoens

Sem

descendem

saber corno, a

Dama

,

sobem

Ihe parece

^


,,, , ,.

,

A

30

Heroina de

ApwVgOxAĂŹ

Correr apersurada os marcios campos, Ouve em torno de si rugindo a Morte Ve tremular bandeiras despregadas. De espadas, e de arnezes, elmos, lansas Mil raios desparar, que a espbera accendem Copar-se todo o ar de hervadas settas, Esquadroes, e esquadroe abalroar-se, Hostes chocarem Hostes estes fogem , Seguem aqnelles: ais dos moribundos , Gritos dos Vencedores se confundem Dos raavorcios clarins ao son guerreiro E dos Corseis ignivonios ao trote* Rios de quente sangue a relva tingem Cadaveres sangiientos se amori toam Subito muda a scena, e vai sosinha Deleitosa Floresta atravessando Os Canticos das A^^es a recream , Murmurando os Regatos a espairecem , Das Flores ps efluvios a circumdam , De huma nuvem de aromas! e parece Que o verdoso tapiz se alegra , e folga De que seo pe formoso o pise , ou toque! Eis subito descobre .... assembro novo !.

^

;

!

.

.

.

.

Hum

Menino

gentil

!

.

.

.

.

Anjo o

.

disseras

Dos Ceos descido a vesitar hum Justo, Que em antros da Thebaida exballa a vida E a conduzir sua alma ao sacro Empyreo! Lindas azas dos hombros Ihe descendem Kubras as pennas saò , e azuis as guias

^

,

Aureos anneis a fronte Ihe guarnecem Seos olhos, sempre inquietos, vibram fogo, Que ora encanta, ora assusta ; sobre os labios Brinca hum sorriso, que juntar parece


,

Canto Candidez

,

e perfidia.

Menos hum

cincto,

Nùs

III. os

em que

31

membros,

subtil

Hieroglificos magicos borderà

agulha

;

jNa njHO trazia bum Pomo, de tal mimo. Tal aroma, e tal cor, que Eva, se o visse,

Segunda vez a lentacom cederà

Nòvamente

A

,

o preceito transgredira.

Arvore, que o produz jamais

foi vista

Nos Uortos Gas Hesperìdes famosos,

Nunca as maroens ornou do Nilo, ou Ganges Nasce so nos Poinares de Juventa; Seo fructo cresce prompto, e pouco dura, M050S faz , e os Velhos loucos. do prazer Ihe chama o Mundo, Rey da vontade as Fadas Ihe chamarom. Com gesto afagador, com voz tao doce Corno a sonora flauta , o lindo Infante

Sabios OS

O Pomo

Cliama Isabel , e Ihe oflerece o Pomo. Ella o encara, e dubia nom se atreve A segui-lo, ou fugir! que a cada instante

Que

o ve Ihe inspira afecto , e susto infunde, eiiì mar de fitas, quando os Ventos toda a direc^om rugindo assopram jNas opposi as correntes eniagada Obedecer a nlgum a Nau nom sabe. « Isabel (elle diz) porque receias? Porque o Pomo regeitas, que te offerto? ; e Da vida todo o bem nelle se enserra ,

Assim

Em

6

4 e

6 t

Quem

seo nectar

nom prova

Acceita a occasiom Si a deixas escapar

Eu

Ao

,

que

nom

,

he desditoso, apresenta, mais a cobras; se

sou do Mundo o Rey, sem mim tivera cahos ja volvido ha multo o Mwndo.


3,

A

,

,

Heroina de Aragok

Dabalde a Morte co' a afiada foice Vai ceifando nos campos da existencia Quanto ella devastou eu reproduzo

« « « « « « «

Nada em

st

Aquelle

,

E

a terra enfeito de mais bellas

Todos da Terra Aquelle

5

a

os

quem

flores.

Povos me dam culto

eu busco, e

me

^

recebe,

torrentes de iaefavel gosto a quera eu busco e me desdenha tt Procura-me depois, e so encontra « Fogo atormentador , angustias, penas. « Eu habito em Jardim delicioso « Onde OS Subditos meos em festa , e jogo « Nectareos dias placidos deslisam. " Segue-me pois!?? Nom sigas (brada ao longe Respeitosa Matrona, que do bosque Sahio bello he seo rosto , mas severo, vigoso laurei Ihe cinge a fronte. Nom sigas (ella diz) nom mais escutes Desse Tyrano as perfidas promessas Mei suas vozes sam mas recheado -Tem de veneno o coragom maligno. Esse Jardim florigero, em que habita^ ,

,

;

E

— — — — — — Vai no Lago — Que em

;

findar

do Esquecimento

suas rebalsadas, turvas ondas

— Sorve,

'

sepulta os

nomes

dos, que insanos,

— Nas bandeiras desse impio alistarom. affouta — Abandona-o comigo — A ardua vereda que Heroes conduze — Ao Tempio augusto da immortai Memoria. — La engrinaldam de immurcbaveis louros, — La com aureo clarim pregoa a Fama, — Seos nomes, combates, triumphos, se

triiha

'

;

,

os

se

-^

seos

seoé

—•Viver he deixar posthuma memoria


Canto IH. ™-Norn

— Elitre

=

33

vegetar na terra adormecido « Os meos prazeres OS sonhos de amor!

desdenboso Amor replica) u Sam reaes , nom sonhados deixo , oh Gloria 5 44 Pera os Alumnos teos dellrios, sonhos! àt Todo o renome seo, misero fructo " De fadigas, de afans, està pendente « Da alheia opiniom , que raro he jiista! que exageras? a Que proesas sam essas u Rios de humanó sangue derramado , « Cidades entre as chamas consumidas, ,4 Povos da Escravidom curvos ao ]ugó da morte hes Dèosa « Vale isto mais que amor?. « Eu sou da Vida o Deos Tu no sepulchro « Inteiras Gera^oes no germe arrojas, w Eu novas Gera^òes ao Mundo outhorgo u Lembram Alumnos teos ? sim , quaes flagelos , « Que a triste Humanidade devastarom , a Sensi veis coracòes os meos recordam , ii E dam saudoso pranto às cinzas suas « Que Poeta ree usa os sons da Lyra « A' terna Laodamia , a meiga Alceste? u Que Pintor nom colora acceso em estro, « De Andromacba, e de Heitor a despedida ? , 4; Comigo contrastar ^m vào pertendes, 44 He formosa Isabel e a mim pertence. Assim dizendo, huma das màos Ihe toma, Trava-lhe de outra a Gloria, e, em quanto lidam j Para a tirar a si , parece a Dama Que, de forma mudando, ao^ ehao se arreiga, E que, Arvore frondosa, aos ares sobe.

(Com

sorrir

!

,

.

e

,

!

.

.

.

.

!

!

.

.

.

!

.

,

Pendendo em galhos Sobresaltada

bum

Coroas , Sceptros. dà, e acorda;

seos

grito

.


.

A

34

Heroina de Aragom

Os olhos volve em torno, e cuida ainda Que a rodea a visom ttQiae he isto ? (exclama) « Sonho foi? ou de casos que me espera m , a Presentimento indicador? ... e bum sonho a Vaà chymera nom he? desenho informe !

,

.

.

.

a Da mobil 5 exaltada phantasia? « Nevoa da mente, que a rasom dessipa? . « Logo porque me assusto ? mas mil vezes « Sonhei, e ao despertar nom senti nunca u Tao vivas impressòesl debalde intento « Os olhos desviar de quanto hei visto. a Sempre Amor, sempre a Gloria aos olhos volvem , a Ougo as suas rasòes misterio ha nisto u Muitas vezes ouvi que a Divindade a sonhos aos Mortaes se communica! 4i Masdigna acasosou? talvez!... quemsabe?,., 4£ Que impendente perigo me revelle u Mas que em porta que o Geo aos Homens falle, u Si he tao dubia , e obscura a phraze sua, « Que entender-se nom deixa? ... e n'hum tal sonho u Que ha que possa quadrar com meo destino?. . a Vou a guerra 5 e vi campos de Batalha ; transformada u Vi Amor , e eu nom amo et Eni i\rvore, pendiam de meos ramos e o que tem comigo « Sceptros, Goroas , nescia busco u As Goroas , e os Sceptros ? a Achar fio n'hum cahos de Phantasmas, a Que o somno produzio ?? Como pendente Do mastro de hum Baixel ondea , e volta D'aura a sabor a flammula nos ares; D'idea a idea por alterno impulso Passa o espirito seo ; teme , e se anima j Teme outra vez, e anima-se de novo. .

.

.

.

.

.

.

.

!

,

.

.

.

.

.

!

Em

.

.

.

.

.

.

.

!

.

.

.

.

.

.

.

,

I

.

.

.

.

.

.

.

.

!

.

.

!

.

.

.

.


Canto

30

III.

Juizos mil contradictorios forma E o que ora regeitou em breve adopta. tanto a Aurora coni rosados dedos As portas Orientaes ao Sol abria ; E no opposto heniispherio a pouco , e manso Hia a iNoile estendendo o veo das sombras. Attentas a sauda-la as Nyrnpbas entram. Deixa o leito Isabel , toma os vestidos 5 Elias as armas lucidas Ihe eniagàm ,

Ém

E co' as màos, e cabega desarmada, A' presensa de Elphyra a entrodu^irom. A Fada a recebeu com meigo agrado 5 E, apoz de longa pratica, assim finda. 4i Sei que oposias ideas , e receios « Tua mente cansada tumultuam. « O sonilo 5 origem sua , me he patente , « Que nom foi ilusom ha de ensinar-te, M E , nom tarde o porvir de amor thegora « Sem conbecer às Leys viveste, e vives: « Mas o terhpo de amares se aproxima, « Do livre coracom sentir ardendo « Em devorante incendio, e palpitarem ,

a « «

!

Com

insolito moto as Digno o objecto sera

No

veias tuas.

has de encontra-Io

;

da guerra , entre horridos perigos Mas si a ventura, que te guarda a sorte, a Nom queres malograr e em tlor corta-la , C4 Cumpre que elle tee sexo nom conhe^a. iiorror

ifc

,

w

u

Que, amando-o tu, o afecto dessimulesc Grava bem na memoria o meo preceito,

u Si o deslembras « s«

Elphyra te abandona. Recebe este Botóm de Rosa, e minca Suia do peito teo; e quando vires D 3 ,

t


,

A

36

,

Heroina de Aragom

« Que as rubicundas pétalas expande « Difunde brando aroma, entào por certo « Tem que os tempos se chegam, que eu predigo. « Si algurn lanse occorrer, que te de susto, u Beija-o trez vezes , e eu serei comtigo. a Minha Lei desempenha , e ver-me-has inda. 4t Nom te detenho mais; adeos, he forga « Que me ausente daqui , que em seo Palacio « Hoje faz ajuntar as Fadas todas « Graò Demogorgon nos fins da Terra. Disse, e, unindo-a a seo peito , vezes duas

O

A face Ihe beijou com terno afecto. A Dama enla^a o Elmo, a Lansa toma, Corre de novo a subterranea estrada,

Chega a boca da gruta onde llie entregam Ja prompto o seo Corsel, cavalga , e parte. Em tanto a Fada o carro seo, que brilha Mais que de Phebo a ignifera carroga. ,

Manda traser dois Zephyros o tiram, Entra nelle, e se eleva a perder d'olhos ... Tal rio selo de Elysia, Patria minha, ;

!

Amigo Robertson, Ein

teo leve

te vi,

Balom de

ousado

ar inflammavel,

Em marcha magestosa erguer às nuvens, E là do alto agitar alva bandeira do apinhado Vulgo Elphyra observa Mil terras, que em seo rapido caminho

Entre

os aplausos

Com

!

vista curiosa

Presentando-se vam Mouros naqtiellas, ve grandes Rios nestas Christaos Pressurosas correntes devolvendo ; ye Montes coroados de Ar^redos, Ou de fulgido gela! ali campiaas !

Moram

!

•.?

\


,

,

Canto

.

,

37

III.

Onde pastam a solta ampìos Rebanhos Oiitras que a mào de Ceres inumdara 5

De profuso verdor aqui Cidades Que Torres e Castellos poem a salvo De innemigo poder do mar a beira ;

,

I

fundagoQi Phynicia, Onde as nuvens a cupula envolverom Do Tempio de Endovelico mais longe Nos alt05 Minareos da grào Lisboa Ve tremolar as Mauritanas Luas Eis ouve rebramar fervendo as ondas No Promontorio Sacro , em que outro tempo Osyris derom culto antigos Povos. Eis rebenta do seio do Oceano grupo dos Agores , aguardando Que Lusitanos Nautas as descubram Que as povoem Colonos Lusitanos. La turveja a Madeira envolta em nevoa , Coberta de Arvoredo; hoje suberba Co' a coroa de pampanos, que a frente Maritiraa Ihe cinge! aderegadas Com cinctos de frondiferas Palmeiras, No regasso do Atlantico parecem Recoslar-se as Canarias onde os Guanchos D'oucas Montanlias no profundo centro, Como bum thesouro , aos Europeos occultam

Cadix

se eleva,

!

!

.

.

.

A

O

,

De

Avós as Mumias ressequidas. Fada aos olhos escapastes, llhas de Cabo Verde, cujas agoas Em selvas de Sargasso se encachoam Ella vio teo^.Vulcom vomitar chamas, Tu que tinhas de ouvir polos teos Bosques Pulsar Oleno a Lyra sonorosa ^ seos

Nem

vos da

!

,

.

.

.


,

A

38:

.

Heroina de Aragom.

De

dar pio descanso as cinzas suas co' a aguda vista p niuito exl^ivo Continente Africano, negrejando Com niil barbaros Povos , que o povoam. !

Mediu

Barbarps, mas pacificos, ditosos, E exclaiiiou compassiva aos vossós campo? « Lavrai pastoreai vossos Rebanhos « Em quanto vo-lo onthorga o Fado amigo! u A Cobiga d'Europa desbocada « Nom tarda , que nom venha erguer o fachq « Da Discordia , e da Guerra em vossos Lares. ,

.

.

u L' fan OS co' a aiva cor, longos cabellos, « Homens, quanto polidos, deshumanos, 4& Levarao vossos Filhos, vossas Filbas « Por compra, ou roubo pera estranha-s terras a Onde asperas fadigas !he agorentem « A preciosa vida em duros ferrosi Disse, e dos lindos olhos Ihe cahiiora

Lagrimas copiosas que feridas Polos do Sol nascente accesos raios Quaes Diamantes nos ares scintilavarn E mal que ys bebé o cab'do terreno, ,

,

;

(A Fada o quiz assim) delle brotarorii Formosissimas Flores, que a Piedade A si tomou de cultivar cuidosa, Pera bum dia adornar co' ellas a fronte Daquelles que 5 magnanimos, facji.ndps

Do escravisado Negro a Com ellas, oh Cantor da

causa

advoguem

Natureza, Darwin harmonioso, a douta testa Sorrindo te enfeitou Tu , que prirneiro Da soberba Britania nos ouvidos !

Fizeste resoar

em

aureos versos.

!

^


39

Canto III.

Do oprimido Africano Da Rayaha dos mares

O

coragom

fero

,

ais

e

,

queixumes^

atterraste

pedindo a Terra

Que do Negro, nom ciibra mostre o sangue! Logo, mares iaterminos transpondo, O carro volta, America demanda, America em tres Zonas prolongada ,

Rica

co' as

produc^oes de varios climas,

ignotas comò ella entaò aos Homens He prata a terra sua, ouro as areas, Sam diamantes os montes , e os seos Bosques Nascerom com a Terra, que os sostenta,

Tao

Os

!

Lagos sam mares , e os séos Rios d'Europa os comparas, sam Gigantes!

seos

Si aos

Terra feliz, si o Fado a nom fizera Dos Crimes Europeos Theatro infando! La ve de Norte a Sul correr os Andes, Alem das Regioes que as nuvens cruzam Levantar a cabega em ar mais puro, E em baixo condengar-se a tempestade Os trovoes rebramar, luzir 03 raios Ah para; ali poz seo domicilio O Grào Demogorgon , que as Fadas r ege Com outras, que de oppostos Clifhas ebega m Se emcontra hunias a outras saudando, Do supremo Monarcha os passos buscam. .

.

,

,

!

;

Mas, a Fada benefica seguindo. Isabel me esqueci pecado he este, Que certo eston que absolvigom nom tenha

De

No

.

.

Tribuna! dos Ctiticos

!

!

.

embora

!

.

.

Que tenho

eu com os Criticos ? acaso Tecendo estou altisona Epopeia?

Romance he

Canto meo

!

de taes Poennias

^

.


,

A Heugina

40

Nom

,

de Aragom

resam de Aristoteles, e Horacio

As mni-doulas

Poeticas quem doma hutn Poeta Romantico os capricbos ? Foi meo gosto seguir de Elphyra os voos Quem nom gostar de ouvir tape os ouvidos. Si a Palas de Aragom perdi de vista, Is'om preciso que os Crilicos me ensinem Onde a heide encontrar ao longe a vejo Pisa as margens frnctiferas do Ebro Nasce este rio nas agrestes Serras De Santllhana , que os comfins ajuntam Da aspera Asluiias, da Castella antiga , .

!

.

.

De

!

!

.

.

.

!

Que

elle

Atravessa

Das

E

banbando

vai co'

Aragom,

terras vossas

corta

.

.

.

as ondas suas;

huma

))arte

CatalĂ es ousados

,

Mar Mediterraneo alfim se arroja! Elle agora, orgulboso, levantando corpo fora d'agoa atbe a cincia^ De verdes espada nas coToado , Firmando em seo Tridente a mao robnsla Contente a orla sua contemjjjava Ajuntado, em ruina do Agareno, Arraial dos Christaos, Cidade errante, Onde as Tend^s de Lona estam formando.. nas entradas delle Tracas, e Ruas Yelam continuo attentas Atalaias. Que em marcados espa^os se revesam. Giram por fora, descobrindo o campo, Bem-montadosPiquetes! dentro a Tropa Conjo as ondas do mar se agita, e move! ao

O

*,

O

!

.

.

.

ISem so ali Aragonezas Hostes Juntas estam ; da guerra a cauza loca De loda a Hesp^n^a A Cluistandade inteira

!

f


,

Canto

, ,

,

41

III.

Briosos Voluntarios la correroni De varios Reynos, de Provincias varias.

Huns de Biscaia de enredado Idyoma Oiitros vierom das Castellas duas, Asturias, Leom , e de Galiza Lusitania 5 e do Paiz formoso, Que banha o grande Rio , que de Roma Betis chamara a mageàtosa Lingoa E que ora os Hespanhoes (com betn niau goslo) Chamam Guadalquivir com voz Mou fisca . • Guadalquivir parece-me que o Rio,

Das

De

!

!

Cada

.

.

.

.

vez que Ibe

chamam

lai

alcunha,

Xmpetos lem de por ao hombro a urna, E hir derrama-ia em terra onde o nom chrismem. Como hum suberbo Cedro que entra Myrlhos ,

A

magestosa coma alteia ufano Tal là brilha Isabel na roda illustre De altos Heroes da Patria defensores Seo formoso sembiante, afaveis modos, A descrigom , e a graca , que a decoram ;

Sua afoutesa em

,

bejicas afrontas.

De seo Pay o apelido, e acgoes Heroicas, Geral benevolencia Ihe grangeam. Dom Marcos de Moncada (assim Ibe chamara) Rouba dos Generaes a attencom loda , Dos Soldados he o Idolo Dom Marcos , Todos do seo valor fallam com honra , Todos sua virtude aos Astros sobem , E a Inveja, que remorde alheio lustre, Pela primeira vez guardou silencio. FiM DO Canto IIL


,

m

,

,

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A HEROINA DE ARAGOM. 'W^ vv -v^^^ x^ v^ '^/^ v%- XA. ^/^

CANTO

'V

IV.

N

ASciDo nom sei quando, e nom Teceo Homero hum celebre Poema, Typo da perfeigom segundo affi r ma Certos Doutores, Criticos cbamados: Nelle celebra em Gregas consonancias Heroes de pé mais leve, que os Viados, Mais palradores que palreiras Gralhas

sei

onde,

,

Mais comiloes que os Porcos e que os Lobos Famosos Genealogicos , que sabejii Milhor que Frey Gaspar, (#) os Avos todos Do mais raso Peom Grego ou Troiano. ,

,

,

Goslo be ve-los

nom

huma

lansada Sepi pregar hum Sermom aos seos contrarios; Gosto he ve-los no ardor de huma batalha Desenrolar Historias tao pausados Como em torno a hum Magusto os TransmontanoSe Pois o Heroe principal oh que Tunante

dar

!

(*)

Excellente Genealogico,

!


,

Canto IV.

4:1

1

Ou sentado na praia, oii na Barraca Ou conie, ou bebĂŠ, ou dorme, ou canta Como Creansa queixa-se a Maisinha E alem mais, nada faz, ou faz asneira He certo que a tal obra cauza somno,

^

ou ebora,

,

:

Mas ha quem

goste de dortiĂŹir a Grega. Veio Ariosto depois; cantou sonoro

Damas

5

Armas

,

Amores, Cavalleiros,

Arrojadas Empresas, Cortesias, E de Orlando os delirios, e as braviiras Os seos Heroes corno Leoes combatern Suas Damas sam bellas, meigas, ternas^ E algumas lem seo pico de Loureiras. He flexivel seo metro; o seo ertilo Brando, ou forte, sublime, ou gracioso Como Q:pcdem seos quadros variados !

,>

:

O

accompanha embevecido Per onde elle o conduz, sem que o fatigue Leitor o

A proHxa Jornada Mais,

O E

,

porque sempre

e n)ais o interesse se accresceota

novo Canto OS Criticos azoa , porque ousou abrir nova vereda

!

,

Que de Homero os vesligios nom marearom Reo de lesa-Epopeia Ariosto banem, Sem descrepancia dos cpnfins do Pindo. As Musas da Sentensa escarnecerom ,

,

E

OS

Do

Povos

,

sem dos Criticos lembrar-se,

Ci? ne de Ferrara os.doces versos Gostosos lem, decoram , cantam ^ louvam. E que emporta que Ariosto transcurasse A restricta unidade? he menos bello Do que isolado Grupo de Esculptura Vasto Painel, em que Piator solerle^

^


A

44 MuUiplicou,

Campindo Agrada,

Heroina de Aragom:

seni

comfusom

com

os longes

,

Figuras,

gentis

Paugagens?

agradar he na Poesia Primeira regra , ou unica; e mais vale, e

Quanto a mim

Quo nom

,

o ser lido, e criticado,

ser criticado, e

nom

ser lido.

Hoje domina de Ariosto a Musa;

E em

lugar de afectar Gregos donaires trages a Poesia enverga Pinta as nossas paixoes , costumes nossos procura dar vida aos Patrios Fastos. Quadros Nacionaes bem coloridos Bem novos , bem exatos se preferem A's tao gabadas, Classicas Pinturas, Filhas da Imita^om , que nos condusem Sempre aos campos de Roma , aos Gregos Bosques

Modernos

;

E

E

OS Vates, e os Heroes

tornam Gentios!

Moda

he isto , e està moda de Germania Tanto lavrou, que jà conquista a Galia Tao afferrada ao Classico Systema Ja, quem tal presumira? em seo Theatro, Onde athegora com diversas roupas !

Euripedes, e Sóphocles reinarom , Ousou mostrar de Shakespeare o Othelo Seo negro rosto , e barbaro ciume; E de Pariz as Guapas , e os Facetos Por faltar-lhe o bom ton , e o ar da Corte Africano Orosman non cbasquearom. Na Gazeta de Franga a fatai nova fictou-lhe os olhos Aos Elysios chegou irascivel , greguissimo La Harpe Que entao com Despreaux junto a hmpa fonte Sobre a morbida relva conversava

O

!

.

.

.

O

;


,,

,.

Canto IV.

45

Ergue-se, baie o pe, «perdeo-se ludo! ... Pondo as aiàos na cabega aflicto exclama Si a Eschola de Racine calie por terra X Costo, e Letras, a Honra , os bons Costumes, Mesmo a Religiom findou na Calia! Eu quero defender os bons principios Eu quero prevenir tal desventura! Vou-me là, e na Scena aparecendo^ Provare! eloquente a esses Papalvos Que Shakespeare he barbaro Poeta, Ridiculos, sem regras os seus Draraas, t

.

.

i

t

4

i

i

t

4

E todos OS Romanticos Francezes Homens sem gosto, que escrever nom sabem. Optimo (diz Boileau) e de caminho

— — Levaràs, que eu dou pera refor^o — Huma Satyra em prosa bem rimada, — Muito cheia de bem maligna, — Que — Nisto OS interrompem gargalhadas

r

!

ta

fel

.

.

,

e

.

!

Hera o

.

chistoso, folgasam Phylinto, Que desta arte Ihe disse u Vossés julgarn A Franga do seo tempo a Franga de hoje? Que tem de have-lo com Perrault, La Motte?

= = = = = =

Eu conhego-a

milhor, que ha menos annos Polo Lethes troquei do Senna as margens. Vi a Eschola Romantica fundar-se,

Tractei

com

= Que ora dam =::

Nella figuram

Alumnos;

seos

os Talentos,

maior lustre às Patrias Letras^ !

.

.

.

si,

Boileau là fosse,

Com

urbano motejo o emmudeceram ; =:= Si la fosses, La Harpe, zombariarn Da hypocresia , com que uair pertendes =: Da Religiom à cauza a da Poesia Nem temam que se extinga a Eschola antigao ==:

= =

.

.

.

,

o


A Heroina

46

de Aragom

affirmo ; sobra em Franca saiba escrever bém , e pouco invente, z= pertcnda brilhar copiando os outros. rz3 Totnem , que elle he de amigo, o meo cohselhoa

=: Durala, vo-lo

Quem

:=!=:

E

=

Mortos estam , gosem do Elysio as sombras deixem la na terra a seo capricho z=: Cada bum poetar 59 Os dois acbarom Eni Phylinto rasom rasom Ihe eu acho, E vou romancear, sém que me emportem

E

z::^

!

,

Os

juizos de Zoilos, e Pedantes,

Da

Historia de Isabel bum novo Canto. Durava a Guerra, prolongando estragòs Com furor renascente, e novas forgas Rindo agora aos Christàos , agora aos Mouros Victoria revoa enlre os dois Campos Dubia em qual fexaria as azas leves. ChQques seguem-se a chóques mez nom passa ^ que as armas de sangue se nom tinjam , que a Morte nom col ha ampio tributo De vidas de Gerreiros as Batalhas, Segando o uso do Tempo, se entrevallam Com privados Duelos, em que ostentam Intrepidos Campioes o seo denodo. Brilba Isabel entre os mais dignos cbèfes. ;

A

;

Em Em

!

De Mequinenza no apertadó assedio De mil Aventureiros ella a testa

O

Mourisco Arraìal rompeo de noite, viveres a Pra^a abastecendo. Foi raio abrasador, Fraga, em teos campos, E huma Bandeira arrebatou bizarra Ao Alferes dos Arabes, que afouto

De

A defendeu , e que a largou co' à vidà, Batidos OS Càristaès nas margens do Ava,


Canto IV.

47

Ella, as Hostes dispersas reunindo,

Cora o exemplo, co' a voz Ihe imfunde arrojo^ E a refrega as conduz envergonhadas Da derrota, e da fuga, avangam , ferem !

Mouros^que, de ufanos co' a Victoria, Incaulos a pilhagem se abandonam. Renova-se o combate, enxorra o sangue, Nem Tygres , nem Leoes se despedagam INos

Com

tamanho furor, com raiva tanta. Triumpha quem fugio , quem venceo foge Tanto, oh sorte da guerra, hes inconstante! Assiro nos pintam Fabulas da Grecia Rey dos Deoses, que, ao Portai do

O

Aniiudando trovoes

Olympo

chovendo raios. Fere, prostra os Titàes , que ao Geo galgavam Por escadas de montes! Montes, e elles, ,

Desfeitos, fulrninados ruera , cahem , No Baratliro se affundam Largo espago Tremeo nos Eìxos seos comvulsa a Terra, E, no abismo soando , o baque borrendo, Fez descorar Plutào, poz medo às Furias* !

Declinava o Estio , e vinha ao longe pomifera fronte erguendo o Outono Fatigados os Mouros , e apoucados Ern successivas perdas, resolverom Provar a sorte de geral Batalha. Chega o Dia fatai , termo da vida De muitos, que ora insanos o desejam ; Terror de irjuifcos, que deviam nelle Enriquecer-se de optinios despojos. Tanto he verdade, que nom sabe o Homem O que deve anhelar , que temer deve A Noite, que precede, bum campo, e outra

A

!

!


48

A

Heroina de Aragom

Passam insomnes! no Arraial Mourisco Coni accesos brandoes a passo lento Giram ImĂ ns, Dervizes murmurando As verbas do Alcorom com voz soturna. Tal ao cahir da noite devisamos

Em

torno de arruinada, velha Torre, Habitadores seos , Bandos de Mochos Revoarem com funebres gemidos.

Mas sobre o Campo Aragonez descende Espirito de esforco , e de alegria, Annuncio de Victoria! aquelle erapluma De ondeanle Cocar Elmo iuzente: Pule este o forte arnez , e o ferreo peito; Esses afiam Iiicidas espadas Essoiitros o carcaz de Settas enchem ^ Ou agucam as lansas! Assim lidam vario afan as providas Abelbas

Em

Entram, sahem se animam descarregam5 Soa a Colmea co' zumbir continuo E o redolente aroma enfrasca os ares! Quantos votos o Geo ouviu propicio Quantos votos o Geo regeita irado ,

,

!

!

Santuario nom houve em toda a Hespanha^ A quem promessas mil nom tributassem Piedade, e o Temor , que raro os Homens Se recordaxn do Ceo quando nom temem Quem promete, si vivo a guerra finda, Hir descalso em devota Romaria A' Virgem do Pilar, que santifica De Aragom a Metropole, e accender-lbe Cirios, alvos qua! neve, era seos altares! Quem jura visitar de Atocha o Tempio, De Madrid ornamento quem tornando

A

!

!


,

.

49

Canto IV. Peregrino bordom , e malisado capuz de raaritimas vieiras, Hir beijar reverente a Sepultura , Onde guarda a devota Campostella As reliqaias do Apostolo bemdclo, Que trouxe a luz da Fé a Hespanha Nein la faltarom votos deslemidos

O

em

trevas.

Que d'esses Evos rustiquez sincera Noni deixa chauiar iinpios, que a Prudencia Delirios do valor hoje nomea! Ma5 dogeneres Netos , mal nos cabe ,

Escarnecer dos Erros

,

e

Caprichos

De

nossos Avoengos, que mais valem Sua agreste virtude, e rudes brios , Que a nossa polidez, e os nossos vicios. Solitaria Isabeì na Tenda sua Sobre o seo leito armada espera o dia !

Em

meza, onde alva vela a luz difunde, Pousa o seo morriom vari-emplumado , A bum canto jaz a lansa, e pende a espada

De

As^arenos terrori

oornsif^^o a

Na

mente repousada

rev [stando

Bella

Vai o estranilo theor da vida sua. Chegou (ella dizia) o firn da guerra, ii Amanhaà ou Victoria ou morte a todos !, a Morte ao menos a mim! que ao Pay nom torno « Nuncia da perdicom das Patrias Hostes « Pode hum Homem fugir, perdida a guerra,. « E pera a renovar guardar seo brago « He seo officio, he jogo, em que o triumpho « Sempre na mesma mao paiar nom pode. « Mullier, que as armas veste, ou venga, ou morra, ti Si nom quer malograr suas proesas, E u

.

,

!

;

.


,,

A

50

,

,

.

.

Heroina de Aragom

« E ser de zombarla , e riso objelo u Quem ao campo a chamou ? porque transcende « Circulo , em quo a fechara a Natureza ? « Tal sorte nom terei ; morta, o meo sangue u Farà crescer , e veeejar meos louros « Mas que nova lembranga me saltea? u Onde a promessa, as predicgòes d'Elphyra? !

.

.

.

.

!

.

.

.

.

.

.

,

Onde OS successos que explicar deviam O Enigma do meo Sonho? onde o Consorte, Que ea devia encontrar no horror da guerra? « E a guerra amanbaà finda! acaso a Fada « a a

,

.

n

Me

44

E

et

.

.

halucinoii coni falsas esperangas?.

.

.

a que firn?. que proveito em taes enganos ? Grande he o dia de Deos ! nom pode hum dia Traser o que annos longos nom trouxerom ? Minha May, que nos Ceos Eslrellas pisa , Beneficios d'Elphyra me abonava Me ensinou sempre a venerar seo nome,.. Nas proraessas d'Elphyra confiemos Regem as Fadas dos Mortaes a sorte .

.

.

.

.

u u u u « u u Os varios Elementos Ihe obedecem « Nom tem veos o porvir pera os seos olhos u Elphyra cumprirà seos Vatecinios, quem nada espera nada teme. Sinom u Que vale a dita provocar coni votos? 46 Que vale presagiar futuros males? a Nem bens se apressam , nem retardam damnos « E torna-se o pensar novo tormento it Que nos da novo golpe em cada idea! Disse , e placido somno Ihe assopora Os lindcs olhos de velar cansados Aurora rompe emfim , e vai primeiro Desdobrando ao Levante hum veo ceruleo ;

!

.

4fc

.

.

.

.

!

A

.

.

.

.

.


Uanto Que

IV".

logo de ouro , e purpura matisa , esparge ern Plantas, Flores! canticos as Aves a saudam

E almo rodo

Com

Porem subito os caiìtos Ihe enterrompem Os Clarins as Trombetas e Atabales, Que locam a alvorada! armados^ promptos ,

,

Infantes, Cavalleiros deixaia Tendas, seos Pendoes procuram. Soam vózes

E

Dos Capitaes, que os formam , que os animam, Todos om trez Bataìhas repartindo Assim OS Maioraes ao romper d'alva Contar costumam de seo Arno as Rezés !

Em

Rebaniios as se para in , a hinn Pastor comfiam. Abrem-se as portas corn fragor , que imita Sublerraneo trovom, que indica ao Murido, Que o tremendo Vesuvio se prepara ilios a voriiitar de lava ardente; rreme Calabria, Napoles descora, j\ Montanha vacila, horrenda geme, E Elhna ao longe responde aos seos gemidos 5 Vam sahindo as Batalhas! a primeira Leva o forte Alvarado, que mil vezes Sua es})ada lingiu em Mauro sangue j E escudo foi da Patria! da s<»gunda Brilha u frente brioso Dom Garcia, Mancebo de alto cizo ^ e de alto sangue, Na beleza, e valor rivai de Acbyles; Vendo a tristesa, que Ihe assombra o roste,

E

di ver SOS

cala

Disseras

liuin dt^lles

uama»

o objelo Dinguem sabe.

Nas montanhas de Asturias teve o bergo Chegado hera ao Exercito de pouco, E, mais que amor da gloria, a de seo peito E 2


,

A

52

Vaga

Heroina de Aragom

inquietagoffl o trouxe a guerra.

Rege a lerceira o intrepido Gonzales, Supremo General, provecto em annos,

He Mogo em

robustez , sabio em conselho. Isabel comanda; Co' elles, e os sagitiferos Archeiros He seo dever caracolar no campo, Perturbar a ordenanca do Innemigo, acodir denodada onde baja afronta.

Os Voluntarios

E

Qual Rio, que, ao

Com

chuvas

,

voltar

da Primavera

e desgelos engrossado

,

Furibundo se arroja alem das margens, Prados submerge, de rondom levando Arvores, Penbas, ruslicas Choupanas, E faz ouvir ao longe os seus mugidos Taes, do Arraial sahindo as bravas Hostes A campina vastissima innundavam. Heram Scena do proximo comflicto ,

De Balbastro as planices! assentada De Lum Rio, nom caudal na fertil ,

(Da

terra os Naluraes Ihe

Ergue BaĂŹbaslro

chamam

veiga

Vero,)

a fronte, e pasce a vista

No

E

fecundo Olivedo, que a rodea, em Latadas de Vinha? , q\je revestem

De

seo

Termo

as encostas pictorescas!

Sereno estava o Vento, o Ar sem nuvens,

E

nunca o Sol tao claro sobre a esphera Fulgores derramou, que, reflectindo !Nos Escudos 5 nos Elmos, Peitos , Lansas: Fingem Incendio, que ondeando corre, Dilatada Floresta devorando. Ja se escuta dos Arabes a grita, E OS ludes Anafis; ja se descobre

,

,


, ,

53

Canto IV* Densa nuvem de pò, que Vani sahindo PeoÊs

ÂŁ

,

se

abre^ e della

e Cavalleiros,

ferrea messe de agussadas lansas

.

!

,

.

Dam do altaque o Signal nos pontos Da Aragoneza Linha os retumbantes

todos

Belicos Instrumenlos 5 que formavam Viva, alegre, sonura melodia, quem primeiro Que as almas arrebata L Da Musica as suaves consonancias Juniou do Moribundo aos ais senlidos. Do Homecidio ao fragor? .eerto hera humMonstro, Que uiiiu dor., e praser, e escarnecia o mesmo fora Das angustias da morte Ao misero, que marcha ao cadafalso, Presentar no caminho alegres Dansas, Mezas cobertas de optimos manjares, Ricos vestidos , cofres prenhes de ouro E Donzelas gentis , que em ledo riso A's delicias de amor o desafiem. Tolda -se todo o Ar de hervadas setas, De Pedras , que rechinam , que sibilam, E longe a morte levam ululando .

.

.

!

.

.

.

!

Todos

OS

Genios da

feroz

matanca,

Rottas as vestes, que salpica o sangue, Ao centro da peleja se arremessam Seos olhos vibram fogo , nas cabecas Mil cobras , seos cabellos , se Ihe enroscam E silvani assanhadas! de seos faclios, Que rapidos agitam , derramando Vam discordia, furor, do sangue a sede Nos peitos dos Guerreiros, que em delirio Nom receiam morrer, morrer dezejam troco de matar! baixas as lansasj !

A

.

.

.


^

A

Heroina de Aragom

Beni cobertos do Escudo os Cavallt^iros A galope se enconlram , lansas lompeiBci Mil Cavalbs fugindo vam sem dono^

Mil Soldados por

terra se rebolcam Feridos, mortas alurdid<^s! ferein Na abobada dos Ceos comfusos gritos^ Ella trerae^ e returoba ^ qoal reboa Quando os Filhos de Eolo desfreiados Pel^ etherea expansom Kìciam bramindo ; Como reboriibao) Libicas Floreslas Quando Tygres^ Leoes^ ììyeDns^ Lince?., demanda da presa divagando O* seos rogidós hórridos eomfundem. Vinha diante bum Mouro desieiìridò,. (Granada o vio Bascer) de cor morena , Quasi Gigante em corpo, qoe atropella^ Mata , derruba ^ larga estrada rompe Pela Hoste dos Cbristaos , e em altos gritos Os insulta, e d«esta ! ao seo encontro I)o rapido Corse! a todo o trote Voa Alvarado! poeio-lhe a lansa ao peito^ Falsa-lhe o eseudo^ falsa arnez, e o Mouro Com ella athe ao meio atravessado^ Soando cae , sobre elle as armas tinern Passa avanle o Hespanhoì, florea a espada l Tal dos Alpes no e urne annodo Pinho Da tormenta ao furor resiste ousado; JVlas de Norte hurn pegom subito o arranca ^ Cae ruidoso ; e por fragas rebolando profonda geieira immerso fica! Alta magoa dos Arabes no peito ^ove a morte do Chele ^ e por vinga-Ia Ena redor do Alvarado se aRionioam. ,

Em

!

Em


,,

,

Canto IV.

~

§5^

se defende; os seos o ani para rn parece que ali se leconcenlra Todo o fogo da guerra rnenos bastas Cahern do Segador a curva folce As luridas Espigas menos densas

Bravo o Heroe

E

!

!

Cahem no firn do Outono as secas folhas Que OS Guerreiros ali purpureos rios No verde campo sussurrando fumam !

!

Ao numuro

o valor emfim soccumbe, E OS Christaòs o terreno vam perdendo. A soccorro dos seos voa Garcia Co' segundo Esquadrom qual si bramindo As Eolias prisoes os Ventos rompem E nos desertos do Ax livres campeam Curvam os Bosques os verdosos iopes E passagem Ihe daa] , eslalani troncos^ Remuge o Echo lugubre nas grutasj E OS Rebanlios balindo se despersam / De Garcia , e dos seos assim aos golpes Atropellados se abrem , se debandam Os Africanos Batallioès arroja O seo negro Corsel da pugna ao centro bravo Asturiano: sobre o Elmo Aladim de Jaen colhe, e a cabega £m duas Ihe separa leva bum hombro Ao feroz Almansor^ ebegado ha pouco Das campinas de Fez 5 onde deìxara, Formosa corno o Sol ^ consorte amante, Que abragada ao Filhinbo aos Ceos se queixa Do desamor do Pay as costas fende Ao negro Mustafà, que hia fugindo, E de hum golpe Ihe finda o medo, e u vida! Alvarado a Garcia se reune. ;

5

!

O

!

!

,


A Heroina

56

E

E

de Aragosi

ambos ferem , e rnatam e atropelam, ampia estrada nos Barbaros franqueam ,

Assira dois Rios 5 que distantes nascem Depois de largo giro comfluindo

Cobram

forga dobrada

,

!

,

levam quanto

e

Traballìa de empecer-lhe a marcba tindosa. Koinpeni todos a bum tempo os Maiiritaaos E, qual fìe entào comece, a pugna ferve! campea afouta Isabei o que faz ?

E

.

.

j

.

Pola amplidom do campo, accompanhada

Do

bJzarro Esquadrom de A ventiireiros Ora dà de tropel com seos Ginetes Nos Arabes massissos ora manda

!

:

Que

de longe, e despersos seos xArcheiros Hum diluvio de setas Ihe desparem A' frente, a rectaguarda, aos tlancos sempre Innemigo a depara , e sempre o estraga Rapida foge, rapida accomete, Parece em tempestade acceso raio , Que repentino vem , que bate , e passa ^ Arvores derribadas , rotas penbas que levou , fumando indicam. trilbo Em quanto assim vaguea assim combate De Aragom a Amasona, observa ao longe iS'bum ponto concentrar-se os Agarenos, Que ali mais estrondea o som das arraas, Com gritos, que parece o chaò fundir-se, E OS Ceos estremesser L veloz se arroja !

O

!

E O

5

,

Com

em tropel; lansas , espadas o passo Ihe embarga, e marcba a Morte. hum Joven ^ ebega Js'a dianteira sua Roto o escudo 5 sem elmo, a pé, cuberto OS seos

Kada

!

pe

sangue

j

.

.

.

!

que de inumeras

.

.

.

feridas


Cateto IV. Ihe golfa, em meio hura montoni de cadaveres, revolve Coiti furia exasperada o ferro, e tenta Romper polo cordom dos Innemigos, Que eni prende-lo ou mata-lo ali se empenham. Nom teme o bravo Heroe! elmos aboia 5 As lorigas desmaìba , escudos racha, Mas quantns mais abaie, mais o infestam, Qual Javali que incauto se emmalharaj liberdade, e vida procurando. Debalde furibundo herrissa as cerdas , Debalde vibra os navalhados denles,

Por junturas do arnez

De

,

A

Por que se emreda mais quanto mais lida Por sahir da prisom assim Garcia, (Garcia hera o Guerreiro) em vào combate 5 ,

Que salvar-se nom pode a linda Dama Pasma de ver o seo gentil sembiante, Pasma do seo valor! animo! (brada) E, a pinha dos contrarios dessi pando, N'hum Cavallo, que soUo ali vagava, !

A

dos seos no centro o bravo Moco, Acalmado o furor, que o sustentava , Semi-morto cahiu busca a Heroina Cbama-lo a vida. intrepido Gonzales Coni sua Hoste folgada entaò ?e aballa, batalha em matan^a se converte, E a Victoria aos Christàos os Ceos outorw'am. subir o ajudou

Fora o poem da

!

re frega

!

;

O

A

FiM DO Canto IV.

57


58

A HEROINÀ DE ARAGOM.

CANTO

V.

-UBA de clave , oh Lyra assas cantàmos Marte! novo objecto Sons mais brandos requere, e maviosos Os suspiros de Amor nas cbordas geoìam Nasceu de Amor nos brago?, e a seo colo Foi criada a Camena Lusitana Com macio desvelo , e meigo afugo. !

Os

furores de

I

!

Com

doces favos de

As pequeninas màos

A

Hybla Ihe

elle a

nutria

!

.

.

,

acostumava

manejar o Plectro, e nos seos labios Libava vivos beijos e com elìes O fogo Ihe imfluio, que as aloias move! Ria a formosa May, as Gragas riam Das fadigas do Nume, que^ conienie, Lhe volve 66 Corra o Tempo ^ que està Musa « Canlara sonorosa os meos triumphos^ u Crearà novo Idyoma , que suberbo « Polo Mundo derrame a gloria tua 5 65 Nem Vate inspirata 5 que Amor nom sigal Quando fundava o generoso Affonso 5


5y

Cakto V,

O

Destiiio prometera 5 a que o PoYO:^ subjugar do rubro Oriente,

Imporlo

Os

Descobrir novo Mundo aleni dos ioare^^ Devassar qaantas llbas escondla O ceruleo Nereo no gremio unuoso, Jà, Trovador, e Amante, o bravo Hermingueè^ Fazia resoar de Alt.iada o monte Com o doce nome da genti! Fatirna, Premio do seo valor, suave assurnpto De amorosas Cansoes, em que esaltava Mimos celeste», que em seos bracos gosa! Coplas de amor vagidos sam piimeiros Da Poesia Lusa , e nellas brilha Por enire o metro imforme, e a lingoa incolla Hum tao vivo sentir, dizec tao brando, Hum estro de paixom que enleva , encanta Taes quaes sam Uìiùs me agradam , e as prefiro A(5 agudos conceilos relriiìcados 5

!

,

Emnygniaticos , turgidos , diabolicos De Violafìte do Geo, e de Vahia eoì n.etro, em piìinse cuìlos F Serra de Cinllìra, que adornou Natura beleza Romantica, a quem toucam

Tho sonoros

De

Espessos Nevoeiros, que alimentam Mi! Fonte?, que perenes fertelisam Cilreos Pomares , pamj>inosas Vinhas, Floreslas de Sobreiros, que amplas sombrcs Prestam aos Genios da Tristeza amigos, Que vezes em teos monies resoarom De Bernardirn na rustica Theorba Ternas Endexas, fructo de saudades Daquella, que, outros montes habitando» Memore do seo Vate^ recordava


,

,

A

60

,,

Heroina de Aragoji

Doces

instantes de praser furtivo, outrora Ihe outhorgara entre perigos, Uffana que seos brios colocassem tao alto lugar seo pensamento E quando, ja robusta, a nova Musa Affouta despregou seo voo de Aguia, Se ergueu aos Astros, perpassando as nuveos Das primeiras Licjoès nunca esquecida, Folgou de visitar verdes Florestas, De Venus os Jardins, dictando os versos, Que voavam a Amor, qual brando aroma, Das Lyras de Gargào, Pbylinto, Elmano; o divino Camòes , que a argentea tuba Tao alto remontou de Heroes cantando Toma novo calor, nova harmonia Quando da linda Ignez descreve as gragas Os maviosos ais , e a morte dura Quando pinta a formosa Cytherea Que , namorando o mar , a terra , os ares As Espheras transpoem , e a bem dos Lusos

Que

Em

!

E

:

Mais mimosa, que

triste

ao Padre

falla!

Quando

Colora co' as mais vivas tinctas Na Ilha dos Amores, nos Mancebos fervido seguir, os rogos brandos, obrigar supplicando ; e nas Nereidas

,

O O A E

simulada fuga, ira risonila, o negar concedendo , lenocinios Que o pejo iludem, e o prazer avivam Siga-se, oli Lyra, de Camoes o exemplo, !

De

Isabel os amores descantemos

Em

!

Mouriscas Hoslea Alvarado persegue athe às Raias Com ligeiro Esquadroni de Almogavares;

quanto o

resto das

,


Canto V.

61

Victorioso o Exercito se acolhe

Aos niuros de Balbastro entre os aplausos Dos Habitantes seos Ali penduram Nos Templos uso antigo os Estandartes Arrancados com sangue aos Innemigos. !

,

,

ali o intrepido Garcia Vai a favor de Aledicos soccorros A vida recobrando , e alto publica Que 5 si inda respirava a vita] aura,

Ferido

A Dom Marcos o Doni Marcos (que

deve.

Inteiros dias

Jsabel assim

nomeiam)

Passa junto ao seo leilo. Ouvi-lo, e velo Desusado prazer n'alma Ihe move, Garcia comtemplando o seo sembiante, Sobem-lhe a mente ideas, que trabalha vao por dessipar, que mais se avivam Quanto mais pensa , quanto as mais combate. Hum dia passeando a linda Dama

Em

Desce às margens do Vero deleitosas,

Sempre cobertas de verdura, e flores Baixava o Sol, e a sombra de hum vSalgueiro,

Que em roda

ao chao prolonga os ramos,

atlie

mào

Senta-se; sobre a

O vegetai Em torno

a face inclina,

aroma, que derrama della o Zephyro o sussurro D'agoa corrente longo tempo a embebem

Em E « it

u « «

,

suave tristeza alfim recorda, desta sorte exciama a Qual he este Profundo, inexplicavel sentimento Que athequi nom provei , e em mìm domina? Por que ha de sempre a imagem de Garcia Seguir-me a solidom ? e porque n'alma Eu sinto, delle ausante ^ hum vago, huma ancia ;


A Heroina

62 a

De

u

E

de Aragom

o tornar inda a ver? porque si ficta, oh quantas vezes? em meo rosto os olbos, Sinto às faces subir-me hum vivo fogo,

4t

Que

si està ledo abrasa-las parece alegro, si està triste me entristego! • Mais que o do Rouxinol em rneos onvidos som da sua voz brando resoa Si da vida salvar-!he me dà gracas Tanto me ufano , que ti vera em menos dominio gosar do Mundo intuirò! Si louva o meo valor, entao quizera Ter alcansado de Alexandre os louros. Si outra Dama Ihe falla, odeio-a logo Morta a desejo que loucura . acaso Sera islo o que amor os Homens cliamam?. Talvez quem sabe ? e eu amarei Garcia ? . Ama-lo! ... e porque nom?. de illustre sangue, Moco, gentil, valente, generoso, De allo eslado Senhor, o que Ibe falla

a a

?

.

.

.

Me

a

O

a u u

,

1

O

« « 44 4t

4c

!

e;

.

.

.

!

,

.

.

u a

!

.

.

,

.

.

.

.

.

fit

.

a u Porque a ufania de meo Pay contente? Disse , e a mào por acaso leva ao seio E subito estremece , comlemplando

O

que Elphyra

#

Que

ilie

aberto vivo

dee botom de Rosa, aroma difundia !

Q pobre

Lavrador que sotlerrada Acha, ao cavar seo Horto, amphora cheia De cunhado metal, menos se alegra Que Isabel exultou «que mais duvido? « Das promessas de Elphyra o tempo chega, a Seo Botom jà floriu amo, e Garcia 44 He o que eu devo amar! que lotica estava « Que as palavras da Fada me esqueciam a Ja o tempo de amares se aproxima, ,

!

!

.

.

.

,

.

.

.

!

.


Canto V.

63

— Digno o objecto

sera; has de encontra-ìo ardor da guerra entre horridos perigos , 4i Quem mais digno de mim do que Garcia? a Na guerra o deparei , salvei-lhe a vida, ii comò ludo Ja nas garras da Morte! i4 he vinda a quadra Co' a predicrom combina! ii De eo ser em firn ditosa! ... oh muitas vezes Feliz o instante, em que , vestindo as armas, éc A' guerra temei vir 95 Ergue-se 5 segue A corrente do Bio, que serena

«

— No

««

.

.

.

.

.

.

.

»

.

'.i

!

Com

ceruleos debruns as margens beja

!

Eis de subila idea acometida Para, e diz ìì Porem comò ham de cumprir-se « As promessa? de Elphyra? corno pode « Garcia amar-me? cre-me hum Cavaìleiro! u Declarar-lhe meo sexo a Fada o veda! a Saio de Imm Laberinto, e outro me enreda! et Que farei?... observar a Ley de Elphyra, u Quer que eu ame, e que o afecto desimule, a Protegeu-me athequi , fique a seo cargo « Dirigir, aplonar, regular ludo! Vinha a Nolte chegando ; ella da volta a' Cidade suspensa entre esperansas. Chaga amorosa , que lavrava a ocultas Dentro em seo coracom , ora mais viva Repouso Ihe noni deixa. Assim o Incendio Que hia occulto lavrando em matto espesso Si de Noto hum pégom sobre ella sopra, labaredas sobe, e, campeando D'Arvore em Arvore, a Floresta annosa Estrondoso devora, e volve em cinzas. Garcia em tanto recobrava as for^as; .

.

,

Em

Mas

tristeza

maior Ihe assombra o

rosto.

.

.

.

.


,

A Heroina de Aragom

Sargil, seo Escudeiro, o contemplava Ora profundo meditar , e logo

Cruzar no peilo as maòs, soltar siispiros. Iiuqì Servo lealdoso, Astuto , jovial , e a mào do Tempo A embranquecer-lhe a coma comecàra, Do Amo a aftlic^om Ihe doe, e assim Ihe falla. u Que nova dor ? que nova magoa he essa, u Que recatas de mim? quando deveras « Ledo exultar co' a vida, e co' a saude, « Suspiras ? gemes ? muita vez nos bragos « Te adormeci na infancia a ter hum Filho , 6t Mais que a ti non o amara Usar segredo 4t Comigo he ingratidom eia, saibaraos « O teo pezar , si tens pezar ?5 Garcia

Hera Sargil

.

.

.

;

!

!

« Responde, Pezar que

!

Si hei pezar!..

.

pezar interno,

morte —Sào Thiago os cabelos se me hirrissam " Pezar de morte ... e qual ? 53 Tens observado u Muitas vezes , Os olhos de Dom Marcos ? u Que lindos sam mais negros que azeviche, « Tao brandos , e expressivos tao gamenhos et

me enioquece, !

.

.

e leva a

.

!

!

.

I

«

De certo, sj o Muchacho a amar se Moga nom acharà, que Ihe resista!

— Eis de meo « «

Os

.

.

!

.

.

.

aplica

— O — —

que, meo Amo? " uThegora sim JMarcos??' ouviu tao donoso desparate?

olhos de

Quem

.

.

.

!

u

!

mal a cauza

Dom

!

« Que do me faz meo amo està louquinho! « Depois de amar sonhada formosura, « Polos olhos de hum Homem se dorrete De hù Homem !... nom!... Homem nenhum thegora Olhos gosou tao meigos , tao suaves , Tao divino sembiante , e voz tao doce ! !

.

.

.

.

.

.

!

— —

.

'


,

.

,,

.

,

Canto V.

63

linda Dama, queres , que seja?5? trage as armas exercita Dama presumes 4t Cada vez a milhor a Quem fende morrioes , retalha escudos, No sangue exulta, e nenhum risco esquiva ?. s;

Mas quem

— Que em

virii

-

!

!

.

.

.

ii,

« t;

« a (.i

u a

Ve, Senhor, que nom seja algum Demonio, Que tentar-te viesse em forma humana! .. He o Demonio hura Pescadór astuto, Que com varios anzoes as almas pesca Estes com ouro, com a gloria aquelles, Com cargos huns, com fofmosura os outros, Nom gracejes, Que mestre he de maranhas!» He Dama nom me iludo alto mo affirraam .

— — — Do coracom — Sabe mais; em figura, em moto, em tosto — He a mesma que em sonhos outrora, — Que o Mago me affirmou que acbar devia. ,

,

os vivos sobresaltos. vi

,

« c4 6c

Em

nom

fallo,

encolho os hombros

99

!

Cura he necessario

Como

contava

O

« meo Cura aos Seroès, ao lar sentado, " Pelas noites de Inverno a raim , e a Ama. u Do bom Dora Florisel a H istoria lia ;

u « « «

! .

Quando era Sacristam na minha aldeia Que nescio deixa o Cura!...—-» O meo Cura

a Tal nom farei , qne o « Para o que vou dizer.

i(.

'

,

tal caso

Por sigual

,

que hera escripta

.

em Pergaminho

N'hnmas Letras mui feias mui travadas, Que elle chamava Gregas, e tao Gregas Que eu nunca huma palavra pude ler-lhe Mas o Padre corrente as entendia !.. ,

•— Acabas ja preambulo tao longo u Nom te enfades! Authora do « Hera a famosa Magica Zirfea, .

.

.

F

!

tal

55

Livro


A Heroina

66

de Aragom

« Que da Ilha de Argines foi Raynha, « Sabes onde he Argines??? Noni «he pena « Que eu o nom perguntasse ao Padre Cura a Paciencia! dizia a dieta Historia « Que a Raynha do Caucaso, chamada , a Si bem me leinbra , Zahra, e a Filha sua u mui presada Infanta Alastraxerea » Andarom polo Mondo em viril traje 45 Acabando arriscadas Aventuras. is Com que, si isto he verdade, nom duvido , a Que tambem seja femea o tal Dom Marcos. « Nisto entrava Isabel, SargiI se ausenta. Garcia a recebe-Ia se adianta E, tremulo qual Vime, a mào Ihe aperta, Quem devéras arnou conhece o enleio Que em pre^nga daquella , que idolatra Nom declarado amante agita, e punge. u Bons dias, Cappitam , (Ihe diz a Bella) « Triste estas ?? muito triste, (elle responde) ?? « Talvez^^ tua saude. Nom, sani d*alma «A causa dellas As dores, que eu padego. a Ser-me-ha dado saber ? ?? Acaso amaste?

.

.

.

!

.

,

.

A

"^

.

— éi

Nunca

!

— — —

.

(Isabel corando Ihe replica) mal podes conceber meps males.

— Entào volveo) porem segredos (Garcia — Com tao amigo eu nom devo. Ihe

ter

fiel

comeja o Cavalleiro. Nom sei, quando o souberes, si o meo Fado Te darà riso, ou do caso tao novo , Tao inaudito, e raro, sae da esphera Dos vulgares successosi narrar magoas He dellas lenitivo; mas a minha Sentam-se

« u £t

« « «

,

e assim

!

He

tal,

que o

nom

conta-la, he ser prudente..


Canto V. 4t

u « a

M

Que em Oviedo

67

nasci, qual he

meo sangue,

E

qual o estado meo , ja te he notorio. Amador do saber, e dado às Letras, Norri desdenhei a guerra, exerciteì-a Seguindo de meo Pay o heroico exemplo. Na paz ern montear passava os dias, Praser suave , que comprei bem caro! . .

« « u E nunca da Bèlezd os atractivos u Sobre o meo coracom fizerom brecha. « De nescio persumi que este tributo « Nom tinha de pagar, e Amor cobrou-o u Com violento rigor, per modo estranho. « dia, andando a ca^a em prado hervoso u Vi linda Corsa , que repasta , e folga. 66 Armo o Arco, desparo, a seta voa 66 no lombo se encrava ella ferida 66 Foge gemendo, sigo-a. Eis que do Bosque 66 Se arroja huraa Mulher em trage ignoto, 66 Que a faz parar , a afaga , extrae a flexa 66 E, encarando-me, diz com gesto irado, Ferir ousaste a Cerva, que eu presava .

Hum

E

!

.

.

— Nom morre que — Porem breve outra

llie

,

•—

Em

darao tormento longo. zombei, e estava perto O complemento seo volvo ao Castello Subnoute, busco o leito , e me adormego. Sonhei! sonbo nom foi eu vi patente 66

66

66 66

66

66

«

a

premio

valem meos soccorros

seta, outra ferida

te

Da amea5a

!

.

.

.

!

.

mim caminhar Menino Na dextra hum arco de ouró

Pera

.

.

alado, aljava ao ,

,

,

"

hombrOj

E o cerca resptendor que a Estancia aclara. Vem a seo lado Imma formosa Datna Dama Deidade que nom ha taes gTàgtìs !

.

.

.

,

F

2


,

A

68

Heroina de Aragom

N'algum humano Sevi essa, que Zeuxis, De cem Belezas compilando encanlos,

(c

« ce

Na

a

Meiga,

nom foi tao bella! hum preceito a conslrangesse ^ em mim antes luzeiros,

Grecia coloriu

,

e qual se

a Ficta OS olbos , « Que na espLera de amor vibra vam raios . . « Em quanto eu a contemplo embevecido, a Todo allieado, e absorto , Amor me clama, Eis a tua isempgom quem vencer deve, C«e a seos pes, adora, e me conhece. a Nisto o arco despara, a seta parte 44 Sobre bum raslo de luz, vara-me o peito. « Co' as maos no golpe despertei gritando ; a Porem da linda Dama a imagem linda 44 N'alma gravada estava eni igneos tragos, 44 Da memoria risca-la aflicto busco, 44 E ella cada vez mais , oh Ceos se aviva 44 Tudo me desagrada , e me desgosta 44 Fujo das gentes pelos montes vago, !

.

— —

!

!

,

44 44

44

Ah! quem cometa

Nom Nom 44

a

amar,

busque a solidom

;

acalmam paixoes

,

No

e

amar

receia

tranquillo silencio das Florestas

64

Minha imaginagom mais

44

E

amorosos Phantasmas

(4

O

Zephyro nas

44

Heram

44

Das roupas

se

accendia,

me cercavam

;

o rumor das Fontes

suas o rugir; das Aves doce canto a sua voz ouvia!...

44

No

(4

Interno sentimento

64

Que

neste

!

folhas sussurrando

seos passos

me afirmava Mundo da sonhada imagem

44

O

a

De sim, cu nom

originai existe

,

,

sombras de Bosques dam-lhe mais forca»

mas quem pode assegurar-me

?

escuto


6^

Canto V. a « a

Que em montes de Granada bum Mago A quem tudo he patente! nom hesito, Vou demandar esse Paiz formoso

habita^

<4 Coberto de vicosas Amoreiras, a Nutrindo o Insecto, Artifece daSeda^ u Onde limpidos Rios se devolvem ;t

it

a

^ « « a -fi

»

A' sombra de odoriferos Pomares aiireas Laranjas, Rubis nos giàos imitami Paiz, onde os seos Reys do alto da Alhambra, D'arte, e riqueza monumento eximio, Vem em torno de si brilhar Sciencias, O Commercio, a Opulencia, Industria ^ Lei ras Praseres, e Policia que inda ignoram Nossos agrestes Godos, que so sabem Vida pobre viver, brandir a espada;

De vigosos Limòes, De Romaàs, que os

,

a « Deixando da Lavoura as uteis ìidas a Gloria em Roma de Consules, Patricios, 4i

a « « « ;;

« « u

« «

« « u

A' inerte Escravidom, que esterelisa Tudo o que toca co' a aviltada dextra u Entrei n'hum vale, verdejante, estreito, Cercado de alcantis, a quem chamaram, Per sua forma, de Geriom, o leito; Limpido Lago estende-se no centro, Altos Carvalhos, que de roda o cingem, Alamos, e Pinheiros vara às nuvens Tecendo verde abobada, e parece Sobre o liquido espelho reflectido, Que bum magico Bosquel das ondas surge! No fundo huma pequena cataraeta As agoas, refervendo, arroja ao Lago, Unico estrondo, que o silencio quebra Neste ameno recinto! domicilio !

3


A

70

Heroina

i>e

Aragom

u Ahi poz o Mago ern placido Tugurio « A cuja porta fresco Alpendre formam « Arvores, que Ihe dam annuo tributo « De saborosas Frutas acolheu-me « Coni benigno sembiante o sabio Velho, «e Consolou minhas niagoas depois toma « A meo pedido fluctuantes roupas « Escuras comò a Moite! solta as transas « Que no colo, qual-neve, Ihe branquejam, « Tem na direita a vara , com que traga torno a si trez circulos na terra w « Na esquerda hum Livro, emquemurmura aespagos <; cbao pulsando magicas palavras lingoa ignota (( eis de repente soam li Trez medonbos trovoes que reboando , 4c Nos echos das montanh^s se prolopgam , « Trerae a terra, e dos circulos ao longo te Correm trez grades de azuladas eh a mas (( No meio assoma hum Genio em luz emvolto, « Que reverente ao Nigromante offerta * u Trìangular espelho , cujos frizos ti Cifras matisam de lavor estranho! Observa (elle me diz) «e, nòm sei corno, t; Ali aos olhos meos, huma apoz outra t( Passando yam quantas formosas Damas t; Hoje adornam o Mundo Alfim descubro et Aquella, que na idea eu trago impres&a tt De praser transportado e;xclamo , he està . , t; Mal dou tal grito , outros trovoes retumbaai , et E o Genio, a luz, e espelho se esvaecem tt Como rapidp sonho , e a par do Mago tt Na escuridona da noite , labsorto eu fico ! tt Yoz aoru soltei de atociito , e tremia !

!

Em

;

O Em

!

.

.

.

:

!

!


Canto V. «

Como hum Choupo «

O

dos Earos agoutado! ao seo alvergue

me conduz Que me diz"

sabio

fi.

— essa, que adoras u E assim — Ja vez, mas onde, o nome seo dizer-te — O Gram Demogorgon prohibe agora. — Poder maior que o meo rege o teo fado. — Busca-a fora da Patria, ha de tua. — Dar-te està seguranga me permitem. existe

e

ser

« D'ali me aparto co' sorrir da Aurora. « Peregrino de amor, vou descorrendo " Quantas Cidades nossa Hespanha enserra. ti

4i

« « a 4i

« " »

« u u 4i

44 44 44 44

44

tt Terras estranhas ver, de varios Povos Notar usos , costumes, leys , he gosto Que , sem provado o haver , mal se avalia Mil nos agitam sensasoes ignotas, Mil quadros nossos olhos embelesam Censuramos aqui , alem louvarìios , E contrastam desgostos , e prazeres. a Certo que o Geo nom fez pera vivereiii No mesmo solo os Arabès, e Hispanos, Si multo a Crensa os aliena, o Genio Hum Povo de outro muito mais separa! Nossas Cidades Arràiaes parecerìi Palacios , que habitanios, sam Castellos De Barbacaàs e Torres defendidos ; Nossos campos incultos estrondeam Com os sons da tuba venatoria , o Godo Austero, insociavel^ blasonando De alto valor 5 e de nobreza antiga So tem praser nas armas , e seo peito !

!

*,

A

estranhas gentes franquear recusa.

Tal o nocturno Mocbo em toca escura " De huma Arvore elevada se eritrinebejra

44

^


A

72 ut

« (( 4t

Heroina de Aragom

Co' a solidom contente , e quando morre O darò resplendor do Sol, que odea, Sae polas sombras procurando a preza, coni funereo pio assusta os ares. « Arabe, em tudo extremo, se arremessa Do trabalho ao praser, do amor a guerra , As Sciencias cultiva, as Artes honra, Hospedeiro, e leal com seos amigos, Co's contrarios be Tygre sarn seos campos Jardins continuos, as Cidades suas Theatros de prazeres, e delicias, De continuadas festas , que os nom tolhem De acodir a seos traficos lucrosos. Assim o vasto Oceano ora parece As verdes margens afagar lascivo, Ora urranJo dos venios impelido Levanta até aos Ceos serras de espuma, Rochedos despedaga , Ilhas alaga, Os Navios devora , porem nunca JE

O

u « « (;

<i ti

u a « a a c( c(

ic

!

«

Fm

((

De tt

calma, ou terapestade se deslenibra prefazer seu giro em torno ao Globo. Depois de longo curso entrei no Algarve,

Terra amena, fecunda, e dtleitosa A's abas do Oceano, a cujos portos a. « Cada dia d'Europa , e Lybia chegam a Mii Frotas mercantisi Terra, que abunda g(

ti

a c(

Em bravos Cavaleiros, Damas lindas, E onde as Musas Arabicas encontrara No Alcacar de seos Reys ditoso abrigo.

a Musica, e Poesia ali se volvem a Hum goèto universal Ao som de Flautas a Os Pastores na Serra os Gados pascem, ^t Cantando q L^vr^cìoi: ^ixiauha os campos, !


73

Canto V. Romances^ que acompanham Accordes Instrumentos interrompem

Corri suaves

Da

,

Estiva noile o tacito silencio

Ternos Amantes aos umbraes da amada Que so ergue , e ami vestida os ouve a furto Pela ferrea, niiuda zelosia ;

Nas Zambras asàentada em rico estrado Almas eucanta, ouvidos arrebata ,

Donzella formosissima, que entoa son da Harpa as inclitas proesas Hcroes , que enchem de gloria a Patria sua! 64 Que tempo venturoso ali passara

Ao De

Com

livre

o coracom

mas

!

dores d'alma

O

sentimento do prazer embotam Que servern jogos , festas, e torneios A quem devora o peito interna magoa L So podia alegrar-me a, que eu buscava, Quicà (dizia) E hera baldado afan !

!

.

.

.

.

.

Bem nom

comprehendi do sabio o aviso. Busca-a fora da Patria—-uè talvez seja Fora, nom das Asturias, mas da FJespanba

me

!

em

V^eneta Galera, E do insolito Oceano as agoas sulco Mas corno poderei pintar-te, amigo , u Eis jà

c^'nbarco

!

A

sensassom profunda, inexplicavel, o que, empegado a vez primeira , Perde de vista as praias , que se abysmam , ao principio E so ve Geo, e Agoas? Sua alma se engrandece, e se agiganta, E parece tocar co' dedo o extremo Da circumfusa immensidade logo Reflexo sentimento o reconcentra Dentro em si , e Ihe mostra o nada do Homem

Que prova

.

.

.

!

!


, ,

A

,

Heroina de Aragom

a Assim a Hemerocal, nascendo a Aurora, As laranjadas pétalas desprega, da noite ao chegar as fecha , e murcha!

« «

E

u

« Encostado a amurada, erguendo os ollios , e abaixando-os pera os mares, Dizia o qiie sou eu , si me comparo Co* esse pelago undoso , que aos pes lenlio^ E a abobada cerulea , que se estende Sobre a minha cabega ? mas que digo? Si quantos , desque o mar he navegado , Ahi tem jazido em tumulos de area Agora sobre hum ponto resurgiram ; Si a elles de Dario, Xerxes, Cyro Os enxames de Exercitos se unissem , Menos, que huma Papoula avultariam Nas Searas , que vestem lourejando As do aureo Tejo ferteles Lisirias! a Descia a ISoite a solidom , da Lua Os praleados raios , que tremulam C'os das Estrellas na planicie equorea, Gritos de Aves marinhas, que atravessam Nos confins do horisonte em densos bandos;

64

Das Nuvens

« Pera os Ceos it

" « u « « a u « 6t

" V-

:

.

.

.

!

;c

i4 4;

« ^i

«

O O

os recortes pictorescos

rumor das enxarcias , e das velas sulco luminoso, que abre a proa

Tudo

objectos tristonhos

,

magestosos

M.Co' estado de mlnha alma harmonisando

Em

terno devaneio me embebiam Mas, polo Estreito de Hercules rompendo « Folguei de ver o mar , que, de apertado

«

!

«

u Entra dois continentes, se enrolava u Bramindo em praias de Africa, e de Hespanba ii De hum lado em alta^ Torres tremulando

«

I


,

,

Canto V.

7d

As Mauritanas Luas, deoutra parie As Cruzes dos Christaos, me figurarom Que ambas Religiòes com vivos brados

« « « «

Do

Universo o dominio desputavam « Entra as qu6 estam bordando ambas as fibas. !

« Varias Povoayoes, em meo caminho « Avistei com horror de Ceuta o porto « Ou foz por onde a Arabica torrente Com furor sobre Hespanha se arremessa « Maldice o traidor Conde , que vingando « Da bella Filha incasta afronta, ou zelos « 6

e

.

,

.

.

,

4

!

, !

5

t

4

;

i

4

i

e

.

.

Aos fios submeteu do Moiiro Alfange Polo crime do Rey da Patria o colo, Sorte usuai de Imperios bindo às nuvens Abyla, e Calpe , que fronteiros jazem Diferentes lembrancas me acordarom Cuidei que via Alcides, que atanoso Rochas em Rochas, sobre Montes Montes, Abrindo ao mar estrada, ergue , amontoa , E d'Africa, e d'Europa as .pontas duas Co' as pasmosas <:oh4n3rias assignaia Monumento immortal das lidas suas Como sois bellas Fabulas da Grecia, Que em tudo influis vida costeamos De Gibraltar o morrò, que suberbo Da Terra se despega , e se offierece A guerreira Nacom pera ser chave, Com que a seo folgo ou abra, ou feche o Estreilo, E Emporio do Commercio de dois mares! Oxalà que eu me engane esse Cabego Inda tem de costar rios de saiìgue « Porque mais te detenho? navegada !

t

!

,

!

!

.

.

.

.

.

.

!

.

.

.

.

.

.


,

,

A

76 fc é6 et

Heroina de Aragopz

Demos fundo no

porto celebrado

Da

guerreira Cidade negociosa, Que d'Alila aos furores deve o Mundo

;

« Cidade, cujo Doge, eleito apenas, « Coni pompa solemnissima desposa 65 maritima Thetis , que, por dote,

A O

dominio do pelago Ibe outhorga! Que prodigio a Cidade reclmada a Nas agoas 5 suas ruas se navegam Em gondolas d')uradas! vi com pasmo u O seo vasto Arsenal, que se rodea 6c

«

!

6fi

« D'altas muralhas, de soberbas Torres! « E dos Obreiros mil, que lidam dentro, operoso rumor fora se escuta « Qual continuo trovom , que ao longe brame. a Qualro Cavalos de dourado bronze, té Que em Bisancio outro tempo decorarom i6 De Constantino o Arco de Triumpho, i5 Do Tempio de Sam Marcos adere^am « A soberba fachada oh talvez inda 4fi

O

!

.

.

.

!

« Arrancando-os dali, a mao da Guerra M Hirà outro Paiz encher de assembro, 4i Co' este de obra Romana alto prodigio! ,4;

il ifi

«

Terra nenhuma me agradou mais que està! Debalde buscaràs no Mundo lodo

Algum Povo mais livre, Que seja mais Politico ,

« Mais activo , inventor, industrioso, « Ou mais frugai no seio das riquezas. « Hera entào Carnaval , tempo votado « Era Veneza ao prazer . fechada a Curia !

mais submisso, e Guerreiro

e

.

.

Pays

,

Esposos piena Ijberdade às Nympbas de Adria

s4

Fechados Tribunaes,

«

Dam

os

,

e


77

CaxNto V.

.

Prisoes todo o anno enserram

«

Que pomposas

((

Elias

u

Com

u

Giram por Feiras, por Theatros giram Tecem Choreas em formosas Qiiintas,

ce

,

o rosto

em mascaras fechando

vestsdos de

«

Vogam

et

Em

forma extravagante, ^

polo canal illuminado

ligeiros Bateis

!

soam d'em torno

a Sonoros Instrumentos , doces cantos, '« E aventuras de Amor se muUiplicam. « Disseras , que descendo em aurea nuvera et A folgazaà Loucura , acompanhada ti De Risos e Prazeres, vem seo Throno tt

Assentai'

em Veneza

D'ali a

et

aquelles dias

!

Lombardia me adianto

et

Theatro antigo de horridas Batalhas, jMilaò visito (Galos a fundarom) Que entre o Ticino, e o Adda se destende Cidade vasta, e rica, cujos Povos

te

Polidez hospedeira

te

et et

pavoneam Oà Mantuanos Estados depois corro,

ee ti

E

et

Que

et

Como hum

a sua Capital, antes Castello, de hum Lago do Mincio surge

Duas

ee

La

ee

« ee

« « «

Do No

Cisne

,

que nada

!

e

em meio onde ingresso

so presta m levadi^as pontes. saudei reverente o berco humilde

ee

et

!

Poeta maior, a quem as Musas Latino Parnaso laurearom ee Caminho ao Sul, e Modena me acolhe^ A quem Sechia , e Panaro fertelisam, Entro depois Hetruria, antigo Bergo Das Artes, das Sciencias, cuja origem Na escuridom dos Seculos se perde. D'onde a Roma nascente derivarom !

!


A

78 «

«

Heroina de Aragom

Reys, Auruspices, Culto, Sacrificios, Onde agora da Terra vam sahindo

a Antigos

Monumentos de

alto pre^o,

u E esses vasos de formas tao donosas « Cobertos de emblematicos lavorcs, a D'Encaustica Pintura, Arte perdida ^4

Pera

se

Nos Habitantes

(;

Do

«

A

ii

u

u « « (( et

u ;;

« «

os mesroos

Romanos

!

vi

com

gosto

seos brilharem ras^ros

pristino caracter

comega

!

da llustragom a Aurora Seo Idyoma tao rico , e tao formoso A levarà d'Italia aos Povos todos Sem sofrer que outro surja em seo comfronto! Qual Diana de Nymphas circumdada, Descóla a frente das Cidades suas A pomposa Florenca bella a charaam E o titulo merece! mas notando Partidos, que iracundos a dividem Pareceu-me que via a Liberdade Abrir as asas indignada, e prompla A erguer o voo , abandonar seos muros a Avante vou e em campos sem cultura De corpulentos Bois Bubalos féros Numerosas manadas repastando surgir la

:

!

!

,

a , a « Do Mundo a Capital me indicam perto . u Toda a Historia Romana entao passava u Pela minha lembrarica mas quaò outra^ u Patria achei dos Decios, e dos Fabios! u Seo ambito, que outrora mal continha « Seos Cidadaos, de vasto ora dà mostras 4i Que ali passou recente »u guerra , ou pest^. a Onde a Praga, em que outrora retumbava « Eloquencia de Tulio ? e que cingiain !

!

A

A

.

.

.

.


Canto V. i4 Si

79

Os Esporoes das Punicas Armadas? Onde a Curia de Reys que decedia ,

No

Capitolio do Universo a sorte?... a Onde se eleva da Concordia o Tempio? ;c da Piedade Filial ? de Jano « Que Augusto clausurou com ferreas trancas « Depois d'Evos aberto ? quem me guia « De Pompeo ao magnifico Theatro ? « De Apollo a Bibliotheca? que se ha feito 4t Desses triumpbos, em que, baixo o rosto, « Os debelados Reys presos seguiam « D'hum Consul vencedor o carro ovante? « Que Povo he este, que possue , que habita a Dos Filhos de Quirino a terra heroica? « Suas Damas das Porcias, das Cornelias a So herdarom beleza , e dos Romaiios « Os Homens so o nome nos recordara tt Frivolas Artes, mymicos costumes, a Luxo afeminado succederom « A'grandeza, às virtudes dos Quirites. « E OS canlos dos Eunuchos, que retumbara « Por Templos , por Theatros pareceu-me « Que insulta vam dos Cezares as cinzas u quanto envergonhado o Tybre leva « As ondas em silencio ao mar Tyrrheno. « Roma moderna no lugar da antiga " He lugubre Epithaphio, que lavrara « Sobre o Sepulcro seo cinzel saudoso! a

O

!

Hum

!

Em

t(

Tudo quanto ha

«

Do

hi bello, e que interesse pensador os olhos sam ruinas, « Ruinas de Aqyeductos, e de Estra<Jas, a Ru^nas de Palacios, e de Templos, u Estatuas, qu^^sabiram de. ruina».


A

80 ce c£

a « « « u

a « « « u

Roma,

Heroina de Aragom

inda bes Metropole das Gentes, acatamento nos mereces He por que em ti o Redemptor do Mundo Sua Igreja fundou , e està ventura perdido esplendor te recoin pensa. 4c De Roma, Peregrino infatigavel Guiado por incertas esperansas, Me dirijo ao Paiz do antigo Capys Jardim de Italia, que ao feroz Annibal Brios amoleceu de amor nos bra^os E o Tybre redemiu bum ar tao puro Geo tao brilbante, tao formosa Terra Si

si

amor 5

e

O

!

Nunca viram meos olhos mas seos Povos, « Prole de Gregos , Prole de Samnitas, « Dos Samnitas, dos Gregos nada herdarom. !

« Pobres com luxo, fracos com perfidia, u Cortezes em palavras, si os offendes « Servem-se do punbai em vez da espada u De huma Athmospbera Eleetrica cercados a

Do

Ocio

u

Em

vez de deparar nessas

5

e

Supersti^om nos bragos dorraem.

Campinas

Venustos Jovens, innocentes Virgens, 66 Da Nagom Primavera, entretecendo 66 Do Alamo a sombra as nupciaes choreas, 66 E Juizes anciàos recompensando 6( Co' a posse da mais Bella o mais Brioso 66 So deparas com rusticos Pastores 66 Rebanbos vegiando em Solo inculto, 66 Temes que em cada bosque , eni cada estrada 66 Bandos de Salteadores te acometam. (^ Ab! porque nom transporta a Natureza 66 Os Povos de Liguria a taes Elysios, « E entre asperos Rocbedos os sepuUa? 66


Canto V»

«Mas deste Clima as naturaés bellezasj Pictorescos prospectos serao sempre « Do sensivel Viajante enlevo , e encanto ?^>

!

éi

Quantas vezes no

altivo

Promontorio^

u A cuja falda verde se le Vanta « Esse Castello de apbucado nome, 55 Onde de Roma o Cezar derradeiró « Dos Herdlos sofreii pezados ferrod, ;; A vista derramando no horisonie « Me embeveci com arròbado enleio « Em mil quadros Poelicos a esquerda « Se proloagava o Devisor da Italia, u Fillio doà Alpes, o Apeninno ingente, « Coroado de neves, e Cypresles ti liasgando as nuvens e' os ethereos picoà; u De là se arroja o Aì*no, arroja ò Tybre5 u Rios Irmaòs, e que entre sì desputam i4 Da gloria a primasia, bum porque lava 64 A sabia Hetruria outro de Roma os muros; «< Tao loucos corno os Homens , que , nascidos « Tódos do mesmo Pay, de iguaes se pejanu u La de vulgares montes se destaca <4 O Vesuvio, que, ignivomo Gigante, u Caminha às praias, e no mar se espelha « De horror e gra^a que contraste era quanto u No cume o seo Cratero vomitando a Candéhtes pedras, e purpureas chamas, « Geme, e se represénta aos seos gemidos « Que de Africa abrasada os Leoes todos a Rugem juntos ali ; que irado Jove 44 Todos OS seus trovoes despara a bum tempo, « E huma columna de ceruleo fumò, « Como enorme Pinlróro j sobe aos ares ^ G !

,

;

,

!


A Heroina 4i

E

junto aos Ceos

em

ee

Ar AGOM

turbilboes desprega

« A negrejante copa se revestem « Da montanha as encostas cultivadas « De aureos Palacios, de vicosas Quintas, !

De apinhadas Aldeias, que enliemeiam « Alegres Vinbas, Laranjaes odoros, « De tlores , e de fructos esmaltadosl « Quem coni mais energia, que aste quadro « Pode ensinar aos Homens, que visinham « O terror, e o prazer , a morte, e a vida! « Descobria a direila o Pausilippo « De latadas de Pampanos vestido a De corpulentos Choupos, corno a Noiva « Aldeà, que engrinaldada se apressura «fi

a De Hymeneo aos Altares! ali dormem « Do Mantuano as cinzas venerandas, a Das Egypcias Pyramides mais dignas ti Que^ OS inglorios ossames, que la jazem « D'ignotos Pharaós 5 segundo he fama! Inda abrigo Ihe dà velho Loureiro r. curva-se, aloriga-se Et Que elle proprio piantoni a montanha! alem assomam (( Polo golfo &c Prócyda plana , e Ischya montuosa 6< Mas O sopro do Tempo apagar soube Baias là fica, (c Seo medonho Volcom (c Baias, que n'outro tempo retnmbava <c Com canticos de amor, e o som dos bailes; (c Baias ora em silencio , e onde alta noite u Ainda de Agrippina os Manes gemem « frente tinha o golfo, que se estende c( Entra b Cabo Misseno, e o de Minerva, u E que ao longe correndo magestoso a Se une ao azul dos Ceos! o mar, brilbanle !

!

Em


Canto V.

83

a Corri os réios do Sol 5 vai, impelido u De braiidas vira^oes^ cobrir de espiimas ((

Os Rochedos de Capreas

,

que negrejarii

;

» Capreas, congesto de alcantis de Penhas, u Covii de hum Tygre , que estancar nom pó4e Si tanlos anno» de borridas criìozas u De Roma escrava o soffiimenlo imfarne. u Na Cidade vagava outrora , aonde et Tediosa ni ix tura se depara 4i De Luxo, e de Miseria! onde salpicarn « De ifnnnando lodo ricas carruagens a Especlros sen)i-nùs! onde Atalaias Codi a lani^a emj)unbada esmola acceitaai! Si u Onde o torpe Assassino, em piena dia , Por premio vii banba o purihal no sangue, a Onde a Prostilui^'onì corre sem freio a Si alguem quer conhecer os vjcios todos , a Que degradam a triste Humanidade, (( Napoles busqiie . la existem juntos u Hia é? vezes a Portici, sentada « Onde jaz sob as la va 5 do Vesuvio

Km

ii,

!

!

6t

« 4;

« É«

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.

.

.

.

.

I

.

Sepultada Herculano, e possnido De enlranliavei saudade eu exclamava Debaixo desle chuò que vou pipando, Piuma antiga Cidade, enriquocida De Aionumentos de Sciencias e Arlea, Com lamentosa voz està clamando, Volvei-me a luz do Sol, de que privnda Estou ha taiìios Seculos, e em prèmio Thesouros recebei , de que estou cbeia -— Grita, e ouvem-na os Povos, e indolentes A tira-la do Tumulo nam correm. C4 iNa Caverna tambem de Pausiiippo G 2 ;

,

,

— —

"

— « "

.

!


,

A

S4

m

.

Heroina de Aragom

« Obra immortai de Agrippa, eu Lia absorto Admirar qiiantx) pode a forga do Homem « Po as entranhas de montanha enorme « (Cavada em rocha viva) corre estrada 46 Extensissima 5 e ampia em alto, e largo, « (Pensàras , que aos Elysios se encaminba) « E une Pnzzuolo a Napoles! a espacos « Formosas Claraboias Ihe transmitemi « A necessaria luz, e ar, que a depura! «t Tufos de Hera, e flexiveis Enredigas ti Daquellas fendas descem e contrasta « Com seos verdes, ondeantes martinetes a Da abobada os rochedos pardejantos <5 JNunca ali me enlranbei sem que sentisse u Terna melancholia, bum terror santo, 4«

!

.

,

!

4;

Hum

vivo enthusiasmo, que abaiava

fibras toclas nom sem causa Jurava a imaginosa Antiguidade Que em profundas Cavernas, densos bosques Tinbam habitagom ignotos Numes! « Assiduo meditando em meos amores, Corria as margens do Lucrino, e Agnano, Junto a gruta do Cam , ficando ao Norte Moatanha, que branqueja , e que vaporai De Sulfatara o vale, que da Terra, Rugindo no seo centro exbaia fumo Seo Lago comteraplei crebro fervente, Cujas agoas sam negras e se enxofram Mais quando o mar se agita! iraagem fida Deste meo coracom sempre abrasado, E que emnegrecem da tristeza as sombras, La jaz nom longe Cumas, e Acheronte, La se destendem os Elysios Campos

a As minhas il

a te

•6t

6i te

« a <;

« a « u ii

u

!

.

.

.

!

,


Canto V.

oe antigas Fabulas quem sabe levara o meo tormento ^ Minila louca esperansa, si a que volte De bum Pay a morte nom me obriga a Patria? u Voi tei mente quem diz que amor se esfria Nas peregri na^oes , correr do Tempo! Ardo cada vez mais, mais me esperanso, Bem que em tao varias terras percorridas Nom podesse dizer de huma so Dama .,. so hura sembiante Eis a minha ideal Thegora vi, que ao vivo a represente, ?5 aqui Ihe a voz fallesse, E esse he o teo

x>c*be

«

« a

!

Onde inda me

!

u u

« «

.

.

.

.

M a

E,

.

.

85

.

.

.

.

.

fictos neita os

Nunca

!

.

olhos

.

,

.

.

immovel!

fica

prazer igual sentirà a

Dama

Como

ao ouvir taes vozes!... perlurbada De alvoro^o , em resposta nom accerta. Aifim, dissimulando os motos d'alma, Coni forgado sorriso assim Ihe falla. e; Certo que o rosto meo nom cri tao bello, « Nem pensei que, depois de enternecer-rae « Co' a triste narragom de teos pezares, « Com lepido gracejo a terminasses 93 Garcia hia a fallar, e ella prosegue; « Loucura he desCulpar-te mas, si he certo u Toma-Io deves por porpicio agouro 46 Ao menos o desejo muitas vezes Quando mais longe a crcs , ebega a ventura, ?> 44 Cortez , e alegre se despede; as for5as Si mais se conslrangesse , Ihe faltaram. Fica o Amante, do que ouvira absorto , Mais em suas suspeitas comfirmado. Entra Sargil , e diz-lhe: «Entào, meo Amo, « Ha nova Zarha, ou nova Alastraxerea^w !

!

.

.

.

!

I

.

.

.

.

.

.


,

A

86

Heroina de Aragom

— Caria

vcz mais o affirmo; os meos amores JVIarcos contei ; alterilo, Ifiterneceu-se, e

— A Dom ouviu-me — suspirou ouvindo — Que hera da que eu imagem — Sqhresaltou-se paliou comfnso — Com donaires —E deixou-me! nom duvides, — He Dama, que declare — Fazer emporta porem corno — « Como O caso he mui o meo Cura — Sempre o Cura!... — sempre he vantajo^o •

!

«tdoro

a viva

,

,

,

chistosos

seo enleio,

subito

.

,

.

o

e se recata!

?

,

difficil

6c

!

,

.

*t

« « ^4

a a a

.

.

u

leo

6t

?

-

.

.

.

.

.

I

Ter qué citar alguina AulhoridacJe De mais, eu quanto sei aprendi delle! Contava que, escondido em femeo traje, Entre as Damas de Scyro se occultara Pera nom hir a Troya o bravo Achylles; Que Ulysses, gràa liaposa desses tempos, Desfargado em Cbatim la fora! aos oihQS !

.

Das

6i

A

«

Mas

*t

Bem

«

A

.

.

iSiyrnphas presentou mil baforinbas,

que

ellas

promptamente concorrerom

;

entre a mais viniaga havia hum Elmo emplnmado, rico Escudo , e Espada;

cuja vista de Peleo o Filho

Cheio de ardor guerreiro as ricas toucas a Arroja ao chaò, poeiii Elmo, embraca o Escudo, « Desembainha a Espadi: , e adeos desfarce ?? 46 Arme-se bum Ingo ignal a tal Madama

6t

!

!

"

—^Bem

« Ci 4t

Hum

dizes! vistosr>

porem qual

Pomar;

ali

?.

.

.

.

.

.

.

— u Ha nesta casa

com

ella

Desfar^ado passe.ia , as fructas gaba Si elle he Mulher ha de às ma^àas deitar-sels?

Approva-se o projccto, e ancioso o Amante a prova o novo dia! FiM AO Canto V.

Aguarda para


,,

87 «*W%%i% **(%%V»iW»**%l^llW*VlM/*IWWW»»ft**/%W*»*'W^*^^

A HEROINA DE ARAGOM. f^y «/Mi««%«VV%^«Vt'«iVt^'M^'V%«'V%<l/M«M

CANTO

VI.

M.

USA do Tejo, novo ardor me inspira o Canto vai e a voz falesce

Que longo

9

!

,

Companheira fiel tu me tens sido Desde a mimosa infancia, e me influiste Està ancia de saber , que me devora E tao pouco medrou entre as procellas D-e huma vida agitadal ao teo influxo Devi sentir as gragas , e os encantos

Que

de Virgilio animam , outorgaste o Lyrico Alaude, que entre Naturaes lucrei , e Estranhos

OS nobres versos

Tu me

Com

Nome,

si

grande noni, honroso ao menos,

Comtigo a Scena Tragica pisando Do Apologo as Campinas precorrendo, Duas laureas ganbei, que raro a fronte ,

De

Lusilanos Vates decorarom. Devo-te , dos teos dons o, que eu mais prezo 9 Os meigos sons, que a timida esquivanga Venceram do Lieutard , de Marcia, e de outra^ Que eu bem quizera , e que olvidar nào posso ^ Pois de mini a separa o longo Oceano ^


A

8,8

Heroina oe Aragom

Kem

de a tornar a ver tenbo esperanga! teo culto em quadras de ventura 3E as illusoes da gloria me cercavam Ern quadras de aftlic^om em ti somente.

Dei-me ao

3,

!

Deparava consolo e meos pezares A' tua voz harmonica cediam Declina o meo Outono, Amores, Gracas, E OS Prazeres meos lares abandonam. ,

!

Tu

so,

Musa,

so tu vesitar ousas

Do pobre Vate o solUario alvergue! Nom te hospeda Opulencia aparatosa

,

Vistosos Camarins, Truoiós donrados: Poucos Livros, e araigos inda menos, exata probidade^ eis meos ihesouros Chegas, e a tua vista o meo sembiante Se alegra, e ^e desfranse; pulso a Lyra Canticos entoo , que recordain minha juventude o tempo ameno.

E

!

o

.

E

Da

Prosegue em proteger-me, amavel Deosa^ Mesmp quando a Velhice desabrida cabeca de neve me branqueje quando desga a Campa, nom seguido

A E

De

!

inuteis luctos, lagrimas fingidas,

[Folgarei

si

na Terra, que me cubra,

tua mào desposta lì urna Roseira yioresce odora , a cuja sombra possa As vezes meo Espirito ^brigar-se Hera a Hora , em que o Sol baixando accende, rubras labaredas o Occidente, de purpura , e de ouro as nuvens cora. Sargil espera ancioso o resultado

Por

!

Em E

Do proj<?to , que ao Amo sugerira. Eis vem Garcia j e n'hum Sophà se arroja

j^


VL

Canto

B9

Palida a cor, desconcertado o gesto, No rosto a morte , e largo tempo fica, Em profundo silencio. De seos olhos As lagrimas, nom raras, se debrugam, SarsTÌl o observa, e de fallar nom ousa Receando a explosom, do que no peito Vulcom de dor fermenta do Amo, e busca Rasoes com que Iho espirito abonance.

li

Tal em frente do Cabo Tormentorio Tranquilo existe o Ar, callado o Pego Mas o Piloto, que nos Ceos descobre Pequena mancha , que negreja ao longe, Bem conhece que horrenda Tempestade Vai rebentar em breve , e de precauto Velas amaiqa , a coi^trastar se aprompta D'Eolo, e de Neptuno. as furias juntas. Ergue-se em firn, e exclama o Cavalleiro. « Certo em bora funesta eu vim ao Mundo « Pera soffrer os mais crucis tormentos et Que Amor pode inventar! maldita a Corsa L.. u Maldita a Fada m4 9 que assim se vinga « De involuntaria offensa que hera sua «e A linda Cerva eu conhecia acaso?. « Longo tormento me agourou bem longo « Tem sido, e no durar mais forja acquista! « Como mais agitada mais se accende 44 Do Archote a luz, do meo amor a chama a Ao sopro da Esperanga fez-se incendio , 44 Que me devora sofrimento, e forgas 44 Cedem , falescem ! por estranhas terras 54 Peregrine! tres annos , e consolo 44 Me hera o pensar, que, achado o lindo objecto^ «« De que bia em busca, meo penar fmdasse! !

.

.

.

.

!

!

.

.

.

.


,

A Heroina

do

,

,

de Asagom

« Achei-o 5 e vejo que as passadas peiias « Sembra nom heram tio que eu sofro agora, u Vejo o Idolo meo , sem achar melo Ci De Ihe dizer , eu le amo!?; assim fallando

A

largos passos no Salom vagueia. Senhor, (Ihediz Sargil) «onde hequeestavas ì^-^ Aqui ^tcHefalso eu nom te vi r -^^ As magoa&

— — — — minhas armas, — Peneiras poem nos « Prompto hum Cavallo jà.. n'oulro me — Pera onde? — «a Granada^? — E com que inlento ?-— a A consultar o Mago" — He na verdade — Miii guapa occasiora em guerra eslamos, — K, atravessando de Agarenos, — Mal nos conhegam remo nos espera — !

.

.

.

olhos

'

!

,

.

.

-jj

segue.

.

'

a

!

.

.

.

terras

!

,

« Espere a Morte, parte, e nom repliques. 95 Escudeiro se ausenta , elle prosegue. « Sim 3 consulte-se o Mago ; elle so pode «t Desfazer està duvida funesta « Que o triste coragom me despedaga. a Mas corno?. nom disse elle que vedado « Lire hera dizer da que eu amava o nome, 4c o sitio, em que existia ? que meo fado a De poder mor que o seo pendente estava ? tt Logo nesta jornada o que aproveito? « Nada!... preciso delle porque saiba u Que em Marcos se disfarca o bem que aduro « mo declara o coracom que ao ve-lo u Se me aìvoroga lodo? e ha hi no Mundo a Mago maior que amor? logo o que busco a Por caminho hirrissado de perigos?.

O

.

.

E

Nom

.

O

,

que?. saber que meios ponha em obra ce Pera obriga-lo a declarar seo sexo. « Mas, si iras de huma Fada me persegue^

«

.

.

?

99


VL

Ca^to a it st

« u tt

Qne me ham de

Quem sabe si Do meo louco

,

Submissom

E

que fora

91

oproveitar do Sabio as Arlesl

desarmada,

jà quasi

offenda

insi^tir talvez se

!

abranda, orguiho as ira!... de uiiui si em quanto ausante, as

,

,

Outro mais venturoso achar podesse

« Melo de conquistar os i^eos afectos ? a Que idea pavojosa so pensa-io a }^e morie, e a mais alroz que digo ? morte ? « Do atormentado Inferno as penas todas fiquemos. . « A par disto sam gloria nom u Sempre a seo lado aigum propicio instante u Ach^ìrei que a verdade me franquee. Nisto volve SargiI Tudo està prompto. ic Preciso ili non) ber Entao nom vamos ? 4t Nom. 55 Multo folgo, evaporou-se o fogo 55 Profunda mente n] editar parece Cavalleiro enlào, e no seo roslo Os diversos afectos se pintavam , Que sua alma agitada nordesteam •Fai no colo da Pomba comtemplamos Cores mil, que se alternam ao reflexo ,

!

.

.

!

.

.

.

!

!

.

.

.

— —

.

— !

O

!

Da luz, que nelle fere! " ser-me-ha dado u (SargiI Ihe diz) saber que alto motivo

Tiveram transportes? — Que outra causa, — nom amor, pode agitar meo peito? — Perturbar-me a rasom he quem move — Em minha alma procellas, e bonangas. — Teo falhou — u Hera so »

teos

ic

Si

?

as

-

alvitre

!

elle

as

isso?

u Pois a fé que julguei que a tal Matrona, « De Ihe cahir a mascara azoinada, « Te mandava fu^ir da vista sua. « rsom fora 5 mesmo assim , de morte o caso,

.

.

,


A

92

Heroina de Aragok

« Toda a Mulher diz noin logo a primeira, « Nom 5 alto 5 e baixo, sim, depois abranda. « Teima, e mataràs caga, diz o Adagio. ^^ Codi Marcos passeei a tarde inteira No vistoso Pomar; fez mil perguntas «—Do meo amor a cerca, e parecia Que alto interesse em me escutar tornava! ^=Garcia (alfim me diz) si, corno espero, Deparares a Dama, que assim buscas, ^=:Muito a amaràs? sempre seràs constante? Si a amarci? (respondi) mais que a mim proprio, E so menos que a Deos! bum pensamento Nom terei, mesmo em sonhos, com que a offenda.

— — =

— — — A ouvir tal, scintilar em seos olhos —-Hiiui fogo de prazer que me cegava.

^

«

vi

=

,

rziEis dos amantes a usuai iingoagem,

=

Respondeu com desdem^ mas corre o tempo, rz:E a posse extingue o amorcirao replicar-!be, Mudou de assumpto, e me atalhou arteiro. Pera fructa colher convido-o, e elle Prompto mào lansa de formosa Lima, Mirando-a diz Que bella Lima he està Pera hum homem cheirar zi^logo apontando A vigosa Maceira , que vergava C'os bem-corados, bem-redondos pomos De suave perfume enchendo os ares Lindas magàas (exclama) pera Damas, parte, e deixa Quem podera levar-lbas! Dentro em meo coragom da morte o gelo.

-

— — —

=

'

— = — — — = = —

=

!

=

— Mas tu

— «Porque nom? tanto tendo a — De que ^ amado amando

alvorogo.

ris?

«e

Tal desesperagom

44

De

44

Sabe muito o Diabo

ser

certeza

,

???

,

sorte

porque he velho


93

Canto VI.

Nom por rauito estudar , e en sou jà rugo! a Pois que querem clizer lantas pergunlas? « Tanta curiosidade eai teos amores ? « Tal gesto si protestas ser constante? u Tanto affirmar que has de encontrar a Bella? a Mordida està da Bicha a tal Mogoila u E, por bera te prender, le fez fosquinhas, « Oli quem sabe si a Fada maliciosa

li

èi

Por mais

te

atormentar Ihe impoem sileacio?

Como,

cessando o Norte, espessas nuvens Dos cumes das Montanbas se arremessam Toldam do Ceo risonho a face alegre, Do bojo arrebe^ando ou gelo , ou chuva; Si por ventura Phebo, que transmonta,

Deixa cahir bum

No

seio

da

raio luminoso

affligida

Nalureza

As Campinas revivem, trinam Aves,

E

Rebanhos alroam vales , montes mugidos alegres de Garcia Assim se desnevoa a mente oppressa Esentando a Sargil. Sabio descorres -— Obra he tudo da Fada (elle responde) OS

Com

!

!

— Seo contra mim — Mas don do Sabio — Ella lem de aplacar-se furor 5

si

persiste

credito

!

~Que

.

.

ainda,

às vozes, claro disse

havia possuir o amado objecto, it Pois, si o di^se, ha d% ser ou tarde, ou cedo, (O Escudeiro Ihe volve) eu mais depressa « Crera que queima o gelo , esfria o fogo « Do que ser vàa do Mago a prophecia! « Quanto ao odio da F^ada nom me assusta ^ a Costumam per caroinhos tortuosos « Canainhar essas Donas; muitas vezes,


A

94 u a « et

HeroiìXA de

Aragom

Quando parece à perdissoiiì levar-nos, Nos levam a ventura seo caracter Inclina pera o bem longo tormento Te agourou noni baldado. Si inlef)lasse Que o fini de teos desejos nom lograras, !

!

,

a a Eni Marcos, si he quern cres , inspirarla a A versoci, nom o afecto^ que te mostra; Finalmente, meo 'amo ^ o meo conselho, i( (( He proseguir no piano jà tracado, « Convida-o a jantar; da raeza em torno a Altas, e baixas disporàs cadeiras, <i Si he Mulher na mais baixa ha de sentar-sé^

Nem

o teo coragom tem mais descan^o,

Bellissima Isabel Amora instiga Com todos seos estlmulos! da Fada Mil vezes o preceito traz a idea, Lisongeira espera n^a ora a embellesa Com suavissimos quadros de venttua, Ora negro receio os enevoa u Loucura he duvidar, Garcia me ama (DÌ2 ella) o sonho seo obra he de Eipijyra ; « Araa-me, oh! e que excesso, que ternura u Brilha em sua paixom as vozes siias « Seo olhar suas mostrai, tndo indica (c Fogo devorador , lealdade extrema 4( Que trabalhos poupou pera encontrar-me ? « Tres annos peregrino em ionges terras a Riscar d'alma nom pòde a inìagem minha! que fizera si saber podesse 4« Ah! u Qaao terna os seos afectos galardoo « Si o soubesse , digo eu ? pois elle o ignora ì !

!

e

!

,

!

,

1

a Leem no pensamento olhos de Amante, « O resto de quern ama, he d'alma espelho!


Canto VI. «t

« a u a « if-

« a

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u « 64

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a « és

« « «

E

95

cada gesto meo, cada palaVra

Lhe diz quein buscas sou ^ e terna te amo. Conbece o meo desfarce , arteiro o sonda ^ Ciimpre-me oliiar por mlin si Ilio revelo, Tado se perde, e me abandona Eiphyra ;

!

oh! quanto custas A bum peito namorado mas que termo Terà ? corno acabar deve este enleio ? Passai da guerra as asperas fadigas Mas as de amor ciìais arduas sam , mais custam Que porporgom ha hi c'huma Hoste armada E bum amante, que meigo nos suplica , Que terno a nossos pes roga piedade Cnja voz , cujas lagrimas sam fogo, Que se transmite a nós e nos devora ? La Elmo adamantino cobre a fronte, Tresdobrada Loriga ampara o corpo, Temos escudo de a^o , aguda espada; O receio da morte , ancia de gloria

Cruel constrangi(rìenlo

!

!

,

Dos Companbeiros o denodo, os brios Tudo em nossa defesa se conspira.

« Aqui sem defensom

afronta o risco

E o nosso coracom sentidos votos Nom por nós, contra nós he que combatem. Com estas reflexóes preocupada A deparou Sargil que do Amo em nome

6t

,

,

4i

A

,

opiparo banquete, em que celebra Restaurada a saude, a comvidava. « Nom faItareÌ5? (responde) e o Servo astuto Nottou que, de Garcia ouvindo o nome, Bella se alegrou, e as niveas faces Mais que a Rosa em AbriI, se enrubecerom. Meo amo tenti rasonj j (comsigo disse)

A

!


A

96

Heroina

i>e

~ He Dama, tem-Ihe amor, — Farei

àragojì e se recata.

ou corto as barbasi Ja se aprompta o Banquete, nom moldada Polo vaò luxo dos modernos terapos, Em que das quatro partes do Universo As variadas produccoes concorrem Ao jantar de hum Pyg-meo cosido em ouro, Qae fora sem o haver, dò Mundo oprobrio Nossos Avós, dos Godos descendentes. '

quie se declare,

!

5

Tao valerosos, tao frugaes comò elles, Nunca as aureas Baixellas conhecerom

,

Nem

massas, e adubados acepipes, Que, em estÌQiulo a gula , a Franca inventai Alvo Pam, tenro Boy, nedeo Carneiro, Caca por elles morta, Aves cazeiras, Vinho, e fructa na Patria produzidos Com abundancia tudo , hera o seo luxo. Flores do Campo as mezas adornavam Franca alegria hera a policia sua. FelÌ2 idade, que nom via na terra j De mymicos Bichancros rodeada bictando Leis ridicula Etiqueta!

Ajuntam-se os alegres Convidados; Entra Isabel derrama em roda a vista , Viu desiguaes Cadeiras, viu que observa Todas suas acgoes attènto o Amante, Lago aqui vejo armado==diz comsigo , Pensa hum leve momento, e cum desgarre^ Na riiais alta Cadeira toma assento. ,

=

deità, o seo hospede sauda, Trincha sem ser rogada , mil donaires^ Mil causticos apodos , que feriam

Vinho

No

sexo femeail risonha scita.


,

,

-

, ,

Canto VI.

97

Contento sem mixtura ern todos reina, cousa rara entào , mui vulgar hoje So norn leve prazer da Festa o dono.

E,

Stparou-se alta noite a Companhia. Pesaroso Garcia ao Servo volta, « Qne te parece? (diz) Senhor , (responde) Inda norn vi Rapoza mais niatreira. -M/iS noni emporta , hei de afumar-llìe a cova, coragerii , prosig-amos, E have-la às màos u Equal? Novaesparrella se arme! Nom tarda A se abrir eni campinas circumstàntes Hama pomposa Feira ia te cumpre

— — — — — —

!

.

.

.

— Hir — Com — Si

!

Duende accompanhado elle giraràs as Vendas todas, elle he Mulher, ham de tenta-lo as desse teo

fitas

Politica atilada inventou Feiras Pera animarem o Commercio interno^ a Civilisa^om em tempos certos

E E em

!

aprasados sitios se juntavam Chatins de toda a parte conduzindo As varias produc^òes do solo, e industria, Qne a livre venda expunham. Concorriaoi De toda a Terra os Povos a prover-se Ali de todos generos precisos Por tal modo hums com outros convivendo! Co' està primeira Enchada comegarom A derrubar nossos antigos Sabios Dos costumes dos Godos , e Suevos Feudal Edificio erguicJo, e feito Pera isolar os Horacns ^ obrigando De cada hurna Provincia os Moradores, Os de cada Cidade, e cada Aidea A ser no mesoGio Reyno hum Povo estranho,

O

H

!


A Heroina

98

Dos mais

cioso

,

JVlas nestas

de Aragom

e às vezes ineraigo

pouco a pouco

!

afizerom

se

Reuniòes frequentes a traclar-se,

A E

unir-se

com

reciproco interesse,

hes , oh Commercio, Sociedade o vincalo mais forte; Tu seos costunf)es barbaros adogas, Interesses oppostos equilibras, Deseravolves o engeniio, Artess apuras , E OS cómodos da vida aperfeigoas Si a defeza da Patria està nas armas, A forga de as brandir vem do Commercio Quem tem quer conservar; da Propriedade jus nos prende a terra, qne nos nutre; Faltas de Propriedade, e de Commercio Fome de seos Bosques arrojava As do Septejutriom barbaras chusmas Sustento a procurar no Sul co' a espada. Assim dos Pirenneos, durante o Inverno, De Lobos famulentas Alcateas, Descem , e buscam preza , em que cevar-se Nos cuUivados vales! os Pastores, Os validos Rafeiros em vaò lidam Pera salvar os pavidos Rebanhos Da praga devorante, que nom cessa Sem que o ferro o mor numero extermine! Mas do Tempo o correr, que ludo altera, Mais brìlhante caracter deu as Feiras! Os productos do Luxo , acumulados Da Terra às producgòes, as Iransformarom De prazer em Theatro, onde passavam Scenas alegres, e amorosos furtos.

mutuas transac^òes!

Da

!

O

A

Ndmorados Mancebos, Damas

liudas


Canto VI.

9S

La forom noni comprar,

nnas ver, ser vistos. Feira de Balbastro eis chega o dia: largo Campo, que Arvores circumdam, i\lil Barracas de Lona armadas formani Pracas, e Ruas , que purpureos toldos Con tra os raios do Sol defendém ; cobre

Da

Em

O chao verde espadana , e rubra area. Dentro em ricos Balcòes , vitreos Armarios Por elegante rnethodo despostas As omnimodas mérces desafiam

Da Cobica

,

e

do Goslo os vagos olhos.

La Volantim ligeiro o Vulgo encanta, Co' a maroma nas maos saltando airoso

Em

retesada chorda

,

ou fino Ararne!

Ca em Camara Oplica demostra Charlatam palavroso a tenue prego o Ethna ardendo, Os Alpes de geleiras coroados, Do Papa a Corte, o Bosque das Ardennas. Conduz este o giboso Dromedario, E o Urso dancarim! outro governa Com debil vara o valido Elephante,

Remota» Regiòes

Que

,

a proboscide elastica revolve alto pulpito subido Descarado Pihpostor inculca a brados Portentoso Elexir de invengom sua, Que OS males todòs cura , e da Bellesa !

Aqui em

Faz reyiver n'hum ponto as murchas rozaSc Alem gentil Sigana, quanto astuta, Solto o cabelo, o corpo désconjuntaj

Girando comò leve Corropio: Ou nas raias dà mào , qué ibè àpresenta, Os vindouros successòs le do Dono. H 2


100

A

Heroinà de Ara.gom

Ranchos encriisam Ranchos,

De

e

vagueam

Barraca em Barraca Rua eoi Rua Fora doste Recinto novos Quadros Se apresentam aos oìhos! as JManadas Dos chatinandos Boys , lanosas Oves, Ou trepadoras Cabras, recostadas Sobre bum lado no chaò quedas runninam Pulverulentas nuvens alevaniam , Nos Cavallos em osso galopando, Vozeantes Mancebos^ que alardeam !

,

!

A

sua rapiclez, e forga , e fogo! Nas providas Locandas se acumulaai Os Rusticos em bandos ; giram copos De fumegante Vinho, e de toldados Cuidam que o cbao llie foge , e os tectps tremem Outros ao som dos Arrabis, das Gailas Tecem com tenìulentas Can:iponesas Choreas Aldeaas! outros mais bravos Os longos paos emcrusomj sabem , entram , Fogem , avancam , saltam , golpes param , Goìpes acertam bum vacila , o outro Cae o sangue a gojfar ludo he bolicio ; Cantam , vozeam , rixam , the aos Astros rumor jubiloso se propaga Por entie os aureos carros , que devoram As estradas rodando, a Feira chegam Marcos 5 e (larcia em Corseis negros De briihantes jaezes adornados, jNos Cavalleiros dois se empregam todos Os olhos femenis, e nom decidem ;

!

O

!

Dom

Qual tem garbo maior, maior bellesa. Apeiam-se, e os Cavallos entregando Aos Escudeiros seos,,Jju4oj^gistam5

!


,

Cai^to

VL

101

Ao menos o parece , que bum ao oiitro Mais atende que a turba variada De objectos circumfusos que ha no Mundo !

Tao bello, e encanlador, que prenda a vista De bum terno amante, que o seo bem noai seja?

He

a paixon^i de

Amor

Que n'hum ponto da

qual vldro ardente

luz concentra os raios.

« Nesta pomposa Loja , (diz Garcia) « Feirar nos cumpre, tudo nella' abunda. mui-prudente Dama os olbos lansa, E as fitas mais preciosas, que avistàra, Viu a bum lado jazer; conhece o dolo,

A

E,

disfargando, rica adaga

empunba;

— Pera bum Romeni brigar que adaga! — Que aci-calado punbo! surrindo aponta, clama, Pera — Oh que formosas pera Damas, — Quem alguma que bella

ferro, e rico

e

as fittas,

fitas

livera a

offerta*! as!

A

Noite desce em firn; mais variada, Mais brilhante aparencia toma a F'eira. Vivo reflexo de bum milbom de luzes Da Carroga flammivoma de Phebo Ausente o resplendor sentir nom deixa. Ardem crebras fogueiras estalando, E OS Mininos, travessos em seos jogos, torno clamam , e as transpoem d'hum salto« De Damas mais frequentes chegam Turmas

Em

E com

loquaz susurro atroam tudo.

Instrumentos barmonicos se escutam , Cantigas populares alta noite Os dois pera a Cidade se retiram. Vai mudo e melancholico Garcia Ri-se a furto Isabel de o ver comfuso; !

,

;


A

J02

Aragom

Heroij^a de

Que

indole a da Mulher, que se recrea Co' as penas the do Homeni , que mais ama 'No centro da paixom sempre a vaidade Predomina em sua alma^ sempre cuida Como ha de vender caro os seos favores E tal 5 que pelo amante dera a vida , De atormenta-lo huma ocasiom nom perde! O manhoso Sargil , que observa o Amo, Nom dar palavra no caminho inteiro , motivo antevé, e dava ao Demo Tao negregado amor , tanto desfarce. o Asturianno Ei-!os em casa sós Passeia, na cabe^a as maos emcruza E puipureos suspiros d'alma arranca! « Inda desta escapou??? (SargiI pergunta) E sempre escaparà, (responde o Amante) Por de mais he lidar , meo Fado o ordena E cumpre 5 novo Tantalo, que morra A pura sede tendo a fonte a vista. « Isso nom 5 que SargiI inda nom cansa, « E rede Ihe armarci, que ella nom rompa, !

O

!

— — — — ((

Huma

vez cae a

Gaza

,

!

nem tao dextro

Esgrimidor ha hi, que ou tarde, ou cedo « Nom descubra onde bum bote ad verso o fira. Disse, e em quanto Garcia a dor se entrega c(

Pensando

fica , e de repente grita « Achei, achei !n e salta comò butp Gamo. Achaste o que? (o Amo Ihe pergunta Que, de assim velo, attonito se ria.) a Endoudeci veremos • Endoudeceste ?

— — — nom me Tenho Gorga emprazada, — Sempre sempre zomb^ assim, — De todos «Nom !

ti

e

a

dizes

teos ardiz!

.

.

!

.

escapa.

e

desta feita.

.

.


Canto VI.

103

a Inda que por livra-Ia se empenliassem « Quantas Fadas ha hi , Magos, Duendes!

— Multo promeles!

mas em

firn

.

»

,

vejamos

— O que ideado o Naufragante — Proxitoo a submergir-se màos estende —A canna, ao qiiebradigo vime! tens!

as

^

debiì

« Despedio-se de nós a Primavera u E o Leom ja da juba as calmas soltaj « Serenas suas agoas leva o Vero, « Nada ha mais naturai que comvida-lo « Pera nelle a manhàa nadar comtigo: ,

c( Si he JVJulher darò eslà que se disculpa, a Sì he Homem , vem . desenganado ficas. 99 lago he tao subtil (Ihe diz Garcia) Que ardua cousa sera que delle escape! P]u Ihe vou escrever fica a teo cargo Apresentar-lhe a Carta ao romper d'alva. Quanto he contradictorio o peito do Homem Si o domina a paixom busca a verdade de encontra-la timido receia

—O

— — — •

;

!

E

Ha

!

que nos fascinam , E tememos perder! assim Garcia Escrevendo a Isabel vacJla, hosita , E treme cada vez que se recorda Que possa ser Varom fechada a Carta, Ao Escudeiro a entrega, e dividido Entre susto, e esperansa o leito busca. Mas qual teo sobresalto e o teo assombro, Lindissima Isabel, quando no Leito Hum Servo, ao romper d'alva te apresenta De Garcia o Bilhete! menos austo Tem Caminhante incauto, que, rnarchando A dubia lu25 da Aurora em bosque espesso. certas ilusoes,

!

,

,


A

104

Heroina de Aragom

Piza da Serpe o colo,

e a ve raivosa

Vibrar qual chama a trifarpada lingoa, arquear sibilando a longa cauda

E

!

Le,

huma,

e mil vezes

cuida Que està sonhando; arroja-se do Leito Meia-vestida , cem projelos forma , e relè

,

£, mal

que os forma, subito os regeita. Tal dextro Esgrimidor do Imigo a frente Yivo se avanza, prompto retrocede, Mil golpes varre, mil entradas tenta, h sempre encontra do Adversario o ferro

Que

seos botes 6t

O

,

seos impetos Ihe frustra.

*

lanse, que eu temi , chegou (diz ella) Sexo occultar Elphyra ordena,

O

,

a meo « Meo Sexo conhecer tenta Garcia. « Pude athegora coni feliz industria u Os ardis illudir, que amor Ihe inspira. « Mas este comò? si nom vou comfesso « Impossivel he hir! quem me encaminha « Neste mar proceloso, em que navego H « Sem mais Norte que debil esperansa, fi « Que a espa^os me sorri , me accena, e foge ? l± « Quem vio mais, do que o nosso , estranho Fado?:3 « Devo ama-lo , e occultar-me, elle adorar-me a Sem conhecer-me! hum Laberinto corro 4c Sem fio achar que me dirija os passos , « E me liberte do entricado Enredo! a Mas, si eu fiz quanto pude, o que me resta? a Corro a declarar tudo ao caro Amante, jjj u Tempo he ja de cessar de atormenta-lo . 6w si o fago para sempre o perco Louca a Bem claro o disse a Fada e seos discursos ^ w Certos em tudoj falharào so nisto ? .

.

.

!

!

.

.

.

!

.

!

.

.


Canto VI.

105

mas fngindo o que adianto ?. . . o segredo , e cuidarà que eu fiijo é; Porque o nom amo ?? A forga de entregar-se A oppostas reflexoes , ideas varias. Se recordou que a Fada Ihe oulborgara poder invoca-la em arduos lanses. 6i Que mor aperto, que este ? (exclaraa a Bella) Toma o roseo Botom , beija-o tres vezes li 5 suavissimo aromii a estancia enchendo De que te assustas ? Branda voz se escutou Da tua ditta a bora se aproxima; Vai ao prazo indicado, e a tempo idoneo La coratigo serei Como as Florinhas, Que fizera curvar nocturno gelo Mal que a purpurea luz do Sol as doura Se erguem, e o calice odoroso expandem , Assìqì toma vigor, exulta, e folga atribulado Espirito da Dama Co' a protectora voz!.. nom sabe o corno, Mas co' auxilio de Elphyra se esperansa Sahir airosa deste novo aperto. Caminiiava ao Zenith o Sol ardente, Pelas margens do Vero passeando bosquel de frondosas Amoreiras Garcia com Sargil ha muito aguardam. Soltos OS seos Cavallos repastavarn ii

Fugirei

u

Rompo

!

.

.

.

!

O

— — —

!

O

Em Do

prado a felpa verdejante. instante, que passa, o peito alegra bravo Asturianno, e a vez primeira fertil

Cada

Do

Houve quem de

esperar nom se enfàdasse. « Nom falhou, oh Sargil, a industria tua; " Iludi-la nom soube , (diz Garcia)

«

He Dama,

e noia vira!

Dama,

x^

qua eu busco


A

106

Heroina de Ar.\gom

« E cuja posse o Mago me afiansa . . . a Quao longe a fui buscar, tendo-a tao perto u Mas do peregrinar chegou-se o termo. « Livre jà posso em meo amor fallar-lhe, « Rogar, instar 15— A ocasiom he bella. !

!

.

.

.

vem!— Hum

(Sargil Ibe diz) que ella ahi De procelosas nuvens desparado,

raio

Que

abraza crepitando hum Cedro annoso, gigantesco Roble , menos susto Imfunde em quem o ve, que estas palavras No animo de Garcia , que de longe

Ou

Reconhece Isabel, que, campeando

Em seo negro Corsel , se avezinhava! Foge-lhe a cor, fraqueam-lhe os joelhos, Turvam-se os olhos , quer fallar, nom pode , Que a dor Ihe prende a falla! ... a nom suste-Io Prompto Sargil exanime cahira !

Chega em tanto

«6

Isabel, leda se apeia ; Tardei^! (diz ella) quem comvida espera!

— Porem — Que

que obsei vo

sentes

?

— Com

?

.

.

.

palido

traballio

!

.

.

.

tremente

!

repremindo

Sua perturba^orn volve Garcia. -— Nada afrontou-me a calma, mas ja torno A livre respirar -—«Folgo; (diz ella) « Mas caprichoso andaste em comvidar-me,

!

.

.

.

!

« E creio que deprega te arrependas , « Pois sou mau nadador! porem do Vero a Tao limpidas, tao mansas vam as agoas, u Que espero acbar prazer no fresco banho. Fallando assim , crebros estalos se ouvem Volta os olhos onde o estrondo soa, hum A nom com figura de Correio Vem , quQ em ligeiro Palafrem galopa

m

E


Canto VI.

107

Centra o sitio, em que estam , e mal se apeia Huma Carta a Isabel cortez entrega. A Dama, desalando os nós de seda, Le, e, lendo , o sembiante se Ihe altera,

E arrazam-se-liie em praato os lindos oibos. a Amigo (diz Garcia) que desgraca u Essa Carta contem ? « Desgraga , e grande ^ (Ella rej^lica) rninha Irmàa me avisa -Que meo Pay jaz emfermo, e que he perdida

Toda

a esperansa de salvar-lhe a vida. Filho , e instante esrà a

— Outro terno me ama, nom tem — Por raim todo o chamando. — Prornpto voo ao Solar, oxalà chegne — A tempo de a mào piedoso, —E bencào ~ Nisto parte e

beijar-lhe

receber-lbe a

!

Seo Cavallo a tornar, que solto andava. Trava do Amo SargiI , e diz a Nom creio « Que està Carta, este A nom do Ceo chovessem Mesmo a ponto no critico momenlo! u Ella he mais fina que Raposas septe, SI E està Scena d<^spoz para embagar-nos, .

«

E

escapulir-se airosa deste aperto!-

.

.

— laìvez!... mas que — u O que?,,. — Nom pode negar a amizade, — Que ha multo vos palmilhado — Pera dares com tanto Mundo — Que o galopares mais hum par de — He cousa de nonnada o fundo ao Cesto — Cumpre ver, quem he na Caza sua — Saberemos em — Nisto chega Ja cavalgando Amigo adeos w — Que intentas (Garcia vivamente — Partir mira nossa amizade farei?

to

segui-la,

vista

ligou

!

.

.

tens

.

ella

^

dias

!

e

firn,

ella

u

,

!

Ihe replicai)

seoi

?

.

.

.

6ofrc

?


A

108

Heroina de Aragom

— Que em tao urgente caso — Comtigo Sargil,

le

hirei!

.

.

A Dama de prazer em Ouvindo tal «A companhia

abandone?

os Corseis ionia.

.

si

^

nom cabe

tua u So podia em tal lanse consolar-me u Mas nom to ousei pedir!.. .« Vem o Escudeiro C'os Corseis; jà na sella se arremessam , Cravam esporas, e, o A nom seguindo, longa estrada rapidos devoram. Vai contente Isabel , bem que o desfarce, Por que na ignota Carta vio notoria Da Fada a proteo coni, e porque segue Garcia os passos seos; Elle a acompanha Sem saber o que espere, ou tema; poucas , si 5 e a seos Corseis , horas concedem , De sustento 5 e descanso em vindo a noite. No Castello de Affonso em tanto reinam Saudade e tristeza aflige o Velho Da Filha a longa ausencia , e nom atina Qual a causa sera! Thereza , Elvira Pera dar-lhe consolo em vao traballjam , Que Isabel so deseja , Isabel busca D'Isabel falla, de Isabel so cuida. Tal a formosa Vaca, a quem roubarom Pera em sangue tingir aras de Numes, incornigera Filba , vaga, corre: Debalde ferteis campos Ihe oferecem Relvoso, ameno pasto; em vào Ribeiros banhar-se , e a beber correndo a chamam ; vào densas Flore^tas a comvidam Com sombra abrigadora ella recuza inquieta relva 5 a limpba, as sombras, .. Valesy e jafìonles co' mugido atroa

A

A

,

,

!

A

A Em

!

A

.


Canto VI.

E

109

faminta ao Redil volta. em que o So], quebrando a forga Pouco a pouco inclinava o Carro ardente Pera o pcgo , em que Thetis o recebe E as frescas Viracòes batendo as azas Slavissima frescura derramavam , Na Torre da Homenageiii , assentada Junto às ameias a gentil Thereza, Depois de liaver a vista derramado Nos circumfusos Vales , de Harpa de ouro As sonorosas chordas dediinando , De Rodrigo o Romance (1) asjìim cantava! ti Quando as pintadas Aves emmud^^cem^ « E a Terra escuta os Rios , que devolvem seo tributo ao mar; a luz escassa « D'Estrelias 5 que no timido silencio « Tristemente scintilam mais seguro w Julgando o trage humilde, que a riqueza, « E invejada Coroa de^vestidas « As Insignias Reaes , que Amor, e Mede

cansada,

Huma

e

tarde,

5

:

fic

O

;

;

« «

De Guadalete nas Campinas deixam Bem diverso daquejje, que, inda ha pouco, ;

« Pomposo entrou na pugna decorado « De ricas joias, premio de victorias « sangue alheio, e proprio as armas tinctas, « Cheio o rosto de pò, sem Elmo a fronte, « Copia funesta da Fortuna sua, « Que em pò se volve, em seo Cavallo Orelia « Que de cansado mal respira, e beja, " Escorregando, a terra; pelos campos

Em

Romance popular (1) fielmente traduzido.

;

dos Hespanhoes

,

aqui


,

A

110 «

Heroina de Aragom

De Xerez, Gelboé

chorosa, e nova, serras vai fugindo Rodrigo, ìnfeliz Rey ante os seos olhos Voao tristes imagens! temeroso Fere-lhe o ouvido o belico ruido; Nom sabe, ai triste! onde derija a vista; Si pera o Geo , a choléra Ihe teme Pois fez offensa ao Geo; si pera a Terra, Ja nom he sua , e marcha em solo alheio Si dentro em si com as memorias suas

a Por valés, montes 4t

«

« « « et

,

.

!

.

.

.

.

.

« « a Quer reco!her-se, eariipo de Batalba u Mais horrido, e funesto acha em seo peito: « E assim entre sgIu^os, e suspiros « Se queixa cv Godo Rey Rodrigo infausto Si isto outrora fizeras, e fu^iras, •— J ao leve corno agora, aos teos desejos, Si aos assai tos de amor nom opuseras Fiaqueza tao indigna de Homem Godo, Mais indigna de bum Rey, que o Sceptro rege, Inda Hespanha gozara a gloria sua, E essa forte defeza, que por terra Ora jaz e que- a cor às hervas muda Amada imiga minba, Héleiìa Ibera, (1) Oh si nascesse eu cego oh si nascesses Sem formosura tu !.. maldita a bora que ao Mundo me deu a Estrejla minha! :

— — — — — — — — — — — — Em — Antes OS peitos, que me derom — Me dessem sepultura! pago o censo

!

'

!

!

,

,

!

.

.

leite,

A

lìom

Condega Florinda, Filha do Gonde Ju(1) coffheeido vulgarmenfé pelo Nome Arabigo de ,

Cava.


,

,

Canto VI.

— A* Terra,

em

Ili

sua solidom dormirà

— Com Consules, Reys ou Pliebo faumilde! — Deste modo a Fortuna roubaria — Carro, em que triumphar, e a Hespanha — Hum Rodrigo motor da perda sua! — Oh Juliom perfido Conde, — hera culpa de bum so, porque — Tao sem universa! a pena? — eu nunca aos Africanos offensa, -—Por que vingar-te os Africanos correm — Oh veias rasgasse — Ponle-agudo F^unhal — u mais pertendia" e

,

triste

traiclor

Si

,

a

fizeste

justicja

,

Si

fiz

a

si

!

?

esto as falsas

te

!

Dizer Rodrigo, e enojo Ihe arrebata £( E entre seos dentes as palavras quebra ; « E a Hespanha, que ja Barbaros dominam u Dizendo adeos, junlo ao Corsel deitado, a Pela innemiga luz do Dia espera!)? Da forfuosa Theresa a voz sua ve Reperculida nos distantes echos Formava sons tao lernos, que parece Que resurgindo as Victimas dos Mouros, Vinham com ella prantear seos fados! Acabou , e lansando acaso a vista A' encosta da Montanha, descortina Dois Cavalleiros, que a galope guiam 66

j

,

A' porta do Castello, accompanhados

De hum

E

Escudeiro, e de

Escudo,

e

hum Anom, que

Lansa em F^alafrens

os

seguem,

Ihe trazem.

Quem

serao (diz Thereza) os que assira buscam Castello?... hum subito alvorogo, « Nom sei porque, entra em meo peito ao velos!..« « Oh se fosse talvez ... « mais perto chegam ,

«

u

iS'osso

E

ella,

!

!

afirmando mais attenta a vista,


A

113

Heroina de Aragom

Pelos sobre-signaes a Irmaa conhece! He Isabel » (exclama) arroja a Harpa ^ Ligeira comò bum Gamo escadas desce Atravessa os Saloes , the qua depara, Affonso, que d'Elvira no regasso, Ao som de seo cantar se adormecera Oh antigos Costumes!... haver pode Para bum bom Pay mais brando Travesseiro Que de Filha amorosa o raeigo colo Thereza entra gritando ti veio chega Sobresalta-se a Irmàa , o Pai desperta Quem he que veio? (attonito pergunta) « Isabel eu a vi ... 95 a taes palavras Na Sala de rondom se precepitam A Heroina, Garcia , os Escudeiros. Isabel de si ionge arroja o Elmo, Corre ao seio do Pay, que estreito aperta, Com lagrimas de jubilo a abraga-la As Irmàas voam , solugando todos Todos fallam a hum tempo, e mal se entendem. Desviado Garcia , e mudo observa Està Scena da vivida ternura, E OS olhos seos arrazam-se de pranto. « Filha, alfim torno a ver-te ? ( A ffon so exclama) « Oh! quanto padeci na ausencia tua! « Mil vezes praguejei saudoso a Bora, « Que de mim te apartou! mas jà voltaste « E todo o meo pezar, ditoso, esquego! « Mas quem he este guapo Cavalleiro, « Que teos passos seguiu f?? Esse he teo Gemo ^ Si acceitar o quizeres! ... a Garcia Depois voltando diz, Si requeslar-me, 4t

!

!

!

!

!

.

.

.

!

.

.

.

!

>

.

— Tao

.

'

.

lindo

Cappitam

'

,

intentas

,

seja


Canto VI-

«—Em

casa de

Mal que

A

meo Pay, mas nom na

isto disse,

todos eavolvea

;

113 gtierra.

escuridom profanda

treroe o Castello

Nos fundamentos seos, ^ parecia Que a montanha com elle a terra absorve!.. suavissima harmonia, Das Rosas a fragrancia enfrasca os ares, Vai viva luz as trevas desbastando, The que as extingue; o Anom desaparece, E, linda corno a Aurora, assonia Elphyra ! . Todos a acatam , e se huQiilham todos Da Farailia a benigna Protectora,. Que une as màos de Isabe! , e de Garcia, E sorrindo Ihe diz ««Curapriste a fisca te Todo o preceiio meo, recebe o premio. €i Fui eu quem accendeu em vossas almas ii Vivo incendio de Amor, que sempre dure, u Venturosos vivei, que de vós ambos « Alta Prole vira, que, a Patria honrando^ « dia de Aragoni occupe o Solio, u De mim vos recordai; virei mil vezes

Eis

*

se escuta

Hum

Dias afegres desfructar comvosco, E rever-me n'iium quadro de ventura-i, « Que dos desvelos meos foi digno objecto. 4t

a

F

I

M.

.

x



A V

I

S

O M,

POEMETO X>£

JOSEPH MARIA DA COSTA E SILVA.

I

^


ADVERTENCIA. Nom

se

persuadam os meos Leitores, de que

es*

Poemeto nascerà de eu haver ein despreso a Poesia Romantica, qwe seria injùsti^a em mim o menos-ca* bar bum genero, a quem se devem os milhores Poete

mas

deste Seculo; e a que, rigorosamente fallando, pertencem os de Ariosto, Tasso, Camoes e Ossian: mas sim do tedio, e indigna^om, que me causarona algumas obras, que nestes ultiroos annos se publicarom e que seos Authores chamarom Romanticas, ,

,

quando

so Ihes conapetia o

nome de

estravagant€s

,

e

lidiculas: mas a inopia, ou ftilla de ciso destes, nom deve haver-se por culpa do genero, mas de quem mal o cultiva. Por ventura sera o genero Classico responsavel por Pradon, e Pimenta escreverem ruins Trage-

dias, e La Mothe Odes hyperboreas? Poi por isso que no mesmo Poemeto procurej difinir o caracter de bum Poeta Romantico 5 e o que faz o distinctiyo desta espece de Poesia.


ut

A V

I

S

O M5

POEMETO. (W%M\IM^MIXMI%MMWK%IWM\

Me

orreria o

«

Ca

verilìo

5

Moraes? «a manhàa

(disse) (1)

e prenhes trago as aijibeiras

Co' a Conquista doAlgarve, (9) co' a Ulysseia, (3) Co' as Poes'ias do Caldassj (4) mas passado Tem bum solido mez , sem que apparega, Que nom mente o Moraes he cousa clara, He Homem de palavra; o mais ferrenbo. Mais sordido Judeo Ihe acceitaria Em penhor de mil Louras emprestadas ti

t;

O

meo (1) raes Sarmento. (2)

Amigo

o Senhor Francisco de

Mo«

D, Branca, cu a Conquista do Algarve,

Poema.

A Ulysseia (3) reira de Castrò.

,

Poema Epico de

Poesias Lyricas (4) sa Càldas^

Gabriel Pe-.

do Padre Antonio de Sou*


,

,

A Vi SOM,

11^

Dois cabpllos da barba, Grande cousa anda aqui

a tivera. a pbantasia sugere

Ma

colisa he ser

N'hum Homem

Dam

E

si

!

penosas ideas me a mente encosla a mais cruel de todas.

jVIil

E

,

,, .

Romantico; que apenas

farejarom tal mania,

lo<^o nelle Fadi^s,

o metem

Nigromantes

em

mil lanses, miì tractadas; esses Livros tao donosos

Testemunha Grato entertenimento em milhor tempo De nossos bons Avos a guerra dados, Que o Cura do Mancbego Cavalleiro X)o Barbeiro e Sobrinha accompanbado, 5

Sem

piedade arrojou pela Janella , (1) no Pateo queimou, corno se acaso Eosse elle Inquisidor , Hebreos os Livros. Quem sabe si Liipercio , Mago astuto encafuou na Torre crisialina, Onde era meio do mar ja encantara JDo forte Ro^abel a linda Esposa • Talvez agora jaza eracasmurrado Encostado a bum Balcom, comtando as ondas, Que na escada da Torre, e nas columnas, . Se arrojam remugindo , e se espedacam Pobre Moraes , si he tal !.. onde ha de achar-se Hum bravo Clara monte, que, vestido Co' as armas de Theseo , e bacba tremenda, Venha , destrosse OS Guardas, e o liberte?... (2)

E

O

!

.

!

.

.

Veja-se a Historia de (1) guel de Cervantes Savedra. (2)

D. Quixole por Mi-

Veja-se Espejo de Principes, y C^valleros*


,

,

,

PoEMETO*

,

119^

Talvez no extremo de Floresta escura Fraudador dos Ardis desse com elle,

E

O

acallantando-o

,

com

palavras brandas

j

enganado ao seo Castello, Metendo-o na Gaiola onde prenderà C'os doi? Velhos Paschasios , que a seguiam f A formosa Daraìda; e de igual modo, liabeando de fome agora veja Fraudador co' as Irmàas dansar-lhe em roda Cantando adà-me o pé , dà cà , meo Loiro!. ..« Inda mal, si Guerreiro o Moraes fosse^ Podendo, comò a intrepida Daraida, Arrancar da bainha a Durindana levasse

,

,

De bum golpe E, o burlador

espeda5ar as ferreas grades burlado, por-se ao fresco. (1) quanto assim fallava, eis de repente Soa de vento horrisona rajada Que de vinte trovòes imita o brado; Remoinhando o pò se eleva aos Astros; Da Janella as vidragas ritinindo Correrom-se per si, a Casa treme

Em

!

Alva nuvem

,

ondeando

Eracorpora-se, fende-se

Poem

vulto feminil

!

.

.

se dilata,

,

e a

, .

em

meo lado seo sembiante

Severa magestade resumbrava Tinha louro o cabello , em seis lagadas Descriminado com chistoso esmero. Pendendo a bum lado, e outro, e o mais colhido subtis fios de huma argentea rede. ;

Em

Chronica de (1) liciano da Silva»

D.

Florisel de

Niquea por

Fq.%


A VisoM,

120

De tercio-pelo azul opa trajava De pregas the a cincia enroquetada, Com mil aureos Caireis; largas as inangas De tfez alturas, que apertavam golpes. Polo» quaes , donairosos transiloravam morbida Camiza os niveos tufos. Calsam-lhe as plantas Borzegnins purpureos^ Com debruns de onro, perlas os matisam Hnm brilbante Carbunculo Ihe aperta

Da

:

O

precioso cincto, e ao dextro pulso

Curta vara suspende aurea cadeia. «

Ao Quem

ver o estranilo trage, o

modo

estranho,

hes (subresaltado Ihe pergunlo)

— Urganda sou — Do multo

(1)

(pausada

me

responde)

sabio Alquife (2) a sabia Esposa,

ù Urganda <t

]Nom

Mas

;

tu

!

55

— Meo

nome

te he

ignoto?—

vezes mil o deparei nos Livros,

perdoa, julguei que Alquife , e Urganda parto engenhoso , « Do cérebro de velhos Romanceiros. Nompasmo; (diz sorrindo) os Homens dehoje balda tem de duvidar de tudo. :z=Nom ha Fadas , nem Magos (Elles dizera <*. Com decisorio tom,) nos nunca os vimos,^ Como si elles de os verem dignos fossemf... fl| Affeitos a tractar no tempo antigo •—Da alta Casa de Grecia, e Trebisonda <i

5

« Heram Chy meras vaas

—A

— —

èm

(1) Celebre Maga, de quem se faz larga nossos Livros de Cavallarias. (2)

Alquife,

grande figura.

Mago, que nos mesmos

mensom

,

Livros faz


,

,

P O E M E T a.

ISI

— Tmperadoros, Reys, Heroes — De Cavallaria, brago invicto, — De quem heram nobres Justas, — De quetn hera expor a vida^ — A favor da Innocencia perseguida; — formosas Damasj — De genio peito, —-As benevolas Fadas Magos doutos, — Na Universo, corrupsom — Desdenhando tractar Poltroes cobardesj — Vis Escravos de sordidas riquezas, — Desdenhando Damas perjuras mercadoras, -—De vendidos — Pera Retiros recolherom — E ahi na solidom assiduo estudo — Sondam da Natureza segredos. — Apenas, longe em algumas — Os Poetas Roraanticos visitam —E Cansoes, que nom souberom — As Musas do Parnasso habitadoras. briosos,

e

alta

recreio as

exercicio

Affeitos a tractar

affavel

e

lealdoso

,

deste

geral

tractar

5

afectos

os

seos se ,

;

e

altos

longe,

vezes

,

Ibe inspirali!

" Agora mais me assembra a vinda tua!..* « Romantico eu nom sou minha cabega 46 Com follias de Carvalho nom se emrama. « Cinjo o laurei Phebeio , que adornara u De Gargào, de Phylinto a fronte honrada, « Como elles canto Heroes da Patria dignos, « Canto de Amor as penas, e os prazeres, « E da Amizade as sólidas delicias. « Clara be minha dicyom , corre o meo verso, u Como as correntes do Ar, fluente, e livre; !

t;

« w

Ponho todo o cuidado e todo o esmero Que seja o meo estilo igual correcto, Pomposo, natura P e forte, e brando, ^

,


A VisoMj

123 s«

Como

a « « u

Sem baixeza singelas, e sublinies, Mas sera afectagom qiie em meos Poemai Nunca falte o feitÌ5o da harmonia. A mào do outavo lustro jà comeca

o assumpto o requer; minlias ideas

,

O

4c castanho cabello a encanecer-me; « Velho sou pera hir a nova EscoUa Aprender relamboria geringonga, t; « Qiie ao mofo seiscentistico trascalìa; M A estofar de conceitos rebuscados

Éc Pensamentos triviaes , ideas faìsasj a A em verso traduzir Ribadaneira a E as Historias de Bruxas, e Duendes. a Tenho do dos ouvidos dos Leitores « Nom quero atanaza-los com màos versos Esdruxulos, agudos , derrengados, a Duros, e sem cesura, e tao partidos, u Que a lingoa, a os pronunciar, se des-engonga. a Deixo isso aos novos Vates, que presumem 4; Co' a extravagancia remontar-se ao Pindo. » Esses nom sam Romanticos, sam loucos, Que aLingoa, o Metro, que obom gostoestragam fet

«—Como

em

seo delirio, se ajustassem tornar ridicnla a Poesia.

—«Pera

si

,

— Romanticos os Vates sam, que, affoutos^ — Sem tradnzir Gregos, Latinos, bem penetrados ~Mas^o Espirito — Com pince! dar souberom — Nacional colorido aos Poemas .— Das modernas Nagoes pintar exactos — Usos costumes, crimes, virtudes, que teve —E brilhante — Polo Seculo o Nascimento, e os

os

'

seo

estio

,

e

livre

seos

e

,

'

esse

Espiritx),

treze

;

;


,

,,,

,

,

PoEMETO.

— Em

que o valor unido a formosura

•— Altas ti

« a « « « « « «

123

cavallarias produsironi « Pois isso he ser Romantico? ... eii Guidava Que isso hera ser Poeta, e boni Poeta! • Isso fez o Garcào, e o bom Phylinto, Tolentino, e Tbomino, e nenhutn delles Romantico se disse! Ariosto, e Tasso Sam logo dois Romanticos da gema!,,. Poi entào occioso , alem de absurdo Hir bum nome inventar tao novo, e vago Pera couza tao velila neste Mundo. Porera seja Romantico quem dizes !

.

<.i

Ou

«

O

.

esses , que de tedio me abarrotam, que exiges de mim ? ?? -— Venho mostrar-te Cousas, que nenhum Homem viu thegora ; Porque cauza Moraes promete, e falta

— — — E tanto em

visitar-te se delonga. « Pois em nome de Deos 53 (1) com gosto a Fola resposta viu que eu certo estava !

No

estilo

E,

correndo mais rapida, que o raio

Maga

dos Andantes Cavalleiros. Logo, corno nom sei, nos cerca a Nuvem

Nos poem em erma praia o mar contemplo Desmedida Serpente nelle vejo Que, com asas abertas, coleando, !

,

.

.

*

Serras de fofa espuma aos Ceos erguia!

E

por ellas rompendo a terra busca Ergue a enorme cabeca junto a praia, ,

,

!

.

,

.

Pues en ìiomhre de Dios^ phraze affirmati(1) va frequentemente usada nos Livros de Cavallarias de Felici^ng da Silva.


A Vi»

124

Abre

Tao

A

a boca alta

,

que bum Portico parece,

e tao rasgada liera

.

oM',

!

.

.

.

estendendo

que huma prancha semelhava. Entra ali (diz Urganda) eu , recuando ,. « Desmesura parece em tal Matrona u Fazer-me esse convite!. eu noni sou Jonas^ 6i Pera em ventre de Cetos alojar-roe! Mal-fundado ternor (replica a Maga) Serpente, isso nom be, bem que o figure, •—Mas a encantada Nau, em que outro tempo -O bravo Esplandiom, por meo intluxo, (1) Corria, sem Piloto, os iargos mares. IS'isto da mào me trava , e vai comigo Trilliando a prancha, ou lingoa, que a Serpente^ Mal que nos engoliu prompta recolhe. Dà dois pulos, voltando, com que as agoas Faz saltar co' chapuz de bum lado , e de outro! E, mais veloz que o leve pensamento, Sobre as espaduas do Occeano voa. Porem , no bojo serpentino entrando, Que brilhante espectaculo me assombra! Pomposos Camarins, Estancias ricas, Cozido em ouro o tecto , o pavimento Adornado de Persicos Tapetes Vestem paredes as Cbinezas Sedas, lingoa

,

.

.

.

.

.

,

Que com

aureas estrellas mil-relusem

Rico Estrado

co' a

Maga me

!

.

^.

recebe,

Anoes lindo-trajados, aijubas de monte, e rubros gorros,

Seis formosos

Com

Acepiposa meza nos presentam.

(1)

Chroaica do Imperador Esplandiom*


, ,

POEME'TO.

Em

copos de cristal espuma

,

125

e ferve

O Bachico licor, cheirosas fructas. Em pintadas bandejas desafiam ,

Lisongeam a vista, olfato, e gosto. Soam sem ver de donde, accordes notas 5

De

hunianas vozes, gratos IiVslrumentos. u Felizes (exclariiei embevecido)

a

Felizes os anligos Cavalleiros,

« « «

Que tamanhos favores desfructavam Que barata compravam tal ventura

ti

A De

!

.

.

troco de estripar quatro Gigantes, assaltar bum Castello, e tirar delle

« F'ormosa Imperatriz gentil Princeza, « Encantadas, ou prezas por invejas tt De bum Mago astuto, ou de agravada Donna. (1) a A troQO de levar vinte estocadas, « Que herara n'huni sancti-amen curadas logo 44 Por niveas raàos de medica Donzella; « The nisto venturosos os comtemplo, « Nom viam , corno nós , janto a seos leitos « Repimpar-se Esculapios impostores; « Nom sentiam nos membros doloridos « Pesadas màos de Cirurgiom casmurro « Qiie em cima de com fel nos nausearem, u D'as carnes nos rasgarem sem piedade ,

64

Ven^ha d'onde vier, pedem dinheiro. Mil praticas em tanto Urganda tece,

Qualquer destas Emprezas hera mais facil (1) ^era bum Cavalleiro Andante, que hoje pera as Senboras o fingir desraaios, e pera os Taveraeiros agoar

o vinho.


A Vi SOM,

126

Contando-me pasmosas aventuras ]Nos Seculos passaclos succedidas,

Finos amores de formosas Damas, Que o Universo Mundo alvorotarotn

Com o renome da belleza sua. Conta corno Amadis da Gaula ousado Deo

eoi

des-comimhal bataiha a morte

Ao feroz Endieago, horrido rnonstro Como a linda Oriana libertara Da Prisom de Arcalau, corno provara Do Arco dos constantes Amadores

A

donosa aventura

!

(1) corno obteve

Esplandiom , seo filho a rica espada; (2) Como no instante de o matar d^rmindo Presa do seo amor ficou Carmella.

Como Amadis

Em

em tenra idade (3) e trage alheio,

de Grecia

nome de Nereida

,

De Niquea colhera a fior virginea Como de Finiste^ accompanbado, I^a Ilha despovoada bum lustro inteiro, ;

5

Pranteando

E

huma,

,

viveu

^Ma Esposa a morte

;

provando ignota fructa, Em doce alienacom ambos cederom , Ao repremido amor, e derom vida A Dom Silves da Selva, a quem ventura Fez no amor inconstante, e forte em armas. (4)

(1)

e outro

,

Chronica de Amadis da Gaula por Vasco

de Lobeira. '

(2) (3) (4)

Chronica do ImperaJor Esplandiom. Chronica de Amadis de Grecia. Chronica de D. Silves da Selva*


P

O E M E T O,

Conta corno, depois de

Que amante

Ihe fizera

1£7

altos servigos/»

em nome, estranha^

A* de Conslantinopla augusta Corte

Enganada Gridonia conduzira O bom Prinialiom e etn seu regasso Da palavra que dera em desempenho ,

,

,

,

5

Poem

a cabega , a espada Ihe oferece, Com que a decepe , e o nome seo declara; corno ella, depondo odio tao longo premio a tanto amor, Ihe outhorga a dextra, (1) Largando mais a redea a solta Imgoa

E Em

Hia Urganda contando o duro

assedio,

Que

de Constantinopla poz aos muros forte Albaizar, vingando o rapto Da formosa Targiana ! (2) interrompeu-a Serpente, que em pulos dava indicios De haver alfim chegado ao seo destino. Aos oibos seos, janellas bem rasgadas, Prpmptos corremos, e alongando a vista, Vimos encachoar*se ao longe as vagas, Sobre hum Recife crespo de rochedos.

O

.

.

.

A

Avancamos

,

rompendo

e subito

Do

equoreo plaino hum Choro de Sereas Circumdam o Baixel do cincto a cima Sara geniìs Nympbas , no demais sam Peixes. Instrumentos multimodos tangiam Com meigo Canto suspendendo os ares. Suave hera ver outras enlagando ;

Chronica do Imperador Primaliom. Historia de Palmeirim de Inglaterra por Francisco de Moraes, (1)

(2)


A Vi SOM,

1S8

Nas quedas agoas

festivaes

Choreas,

E

logo, feitas Aves, levantar-se, Bater nos ares variegadas pennas, Nelles soltar dulci-sonos gorgeos. Cometa entào a erguer-se altiva Torre, Logo outras em redor athe que entramos !

Em

formosa Bahia, circumdada Tocla em roda de amenos Arvoredos. Sahimos jà na praia. Ao nosso encontro Vem leda turba de gentis Donzellas, a Urganda, que respeitam por Senhora, Se inclinam reverentes! uSabia Maga, ic Onde estamos?5? (pergunto) Està (responde) a Ilha perdida, assim chamada, (1) *— Porque a meo bel-prazer a escondo, ou mostro; Nella habito em riquissimo Castello,

E

~He

«—Onde em breve entraràs. Sigo-lhe Vou no caminho os olhos descansando

os passos

Por prados de mil flores matisados, Por amenas Florestas por Outeiros, De virente tapiz e sobre bum delles ,

,

Ja de Urganda o

Castello alfim se avista.

De

Jaspe os muros sam , de Jaspe as Torres; Cerca-o bum fosso de agoa cristalina. De Peixes , e de Cisnes povoado, ponte 5 que he de bronze, ei-la passada Eis'nos no paleo amplissimo de Pedras, Mosaicadas 5 calsado , mil-colores. Correm em roda ricas Gallarias

A

'

!

(1)

plandiom.

Chronica de Amadis de Gaula, e de Es-


= ,

,

P Ò E M E T Ó,

129

Suspensas sobre Gothicas arcadas. Subo escadas de marmore, penetro Por longos , espagosos corredores ; Entro em va?tos Saloes aderecados De Estatuas de Paineis, cujas Figuras 5

Parecem respiror sentir parecem Quanto pode idear de bello, ou rico Viva Imaginagom he tenue sombra Do qne eu admiro aqui ? fallar me cumpre Dos formosos Jardins? vendo-os disseras De certo andou aqui condorn das Fadas Certo qua nenhum Rey tiiegora (exclamo) !

^

,

!

fii

« Desfructou tao magnifica vivenda 95 Pasmas (ella volveu) de quanto observas, Mas vem comigo, e crescerà teo pasmo. Abre entao larga porta, e me entroduzè !

Em

Salom , que àbranger mal pode a vista, que apenas dar pode escassa idea O que fingiu no Olympo o Smyrneo Vate! . De ouro as columnas sam sam de ouro as bases, Rubins OS capiieis, o chao he prata, He prata o tecto , e muros, com relevos De Saphyras, Diamante?, Esmeraldas.

De

,

.

,

a

— Que dizes disto ?~(Urganda me pergunta.) Tudo me assombra, (eu volvo) e mais que ludo

« Esscis Curuis Estatuas , que hi deviso, « Obra certo de Phydias, ou de Scopas u Que eu juràra que vìvem , que respiram.

—E

(A

respiram, e vivem, nom te enganas me interrompe) Essas, que julgas Mortas Estatuas, sam Heroe* sam Bellas^ Que jà forom brasom de antigos Tempos^ JVIaga

— — — Cujas fa^anhas doutas pennas contam. ,

K,


A Vi SOM,

130

— Està he a nos Livros — Camara deffendida, onde passarom — Outrora famosas Aventuras. — Antes que a Morie dias, — Aquì nos Astros lendo — Que ha de em remotos Seculos Europa — Carecer que bracos a defendam — De Alouros mais mais Unnos, — Que de tem tempos — A qui corno submersos — Nas doguras de bum somno saboroso — Tal nos climas doNorte, quando o Inverno — Com larga mào neves araontoa -— As Andorinhas, que em tardarom — Ena cavos troncos, fendas de rochedos — Retirani-se, dormindo a quadra esperao), — Em que o Sol, conduzindo a Primavera, — Derreta desperte a — Entào pelos Bosques voam seos

tao fallada

tao

Ihes cortasse os

OS encantei, seus

crueis

invadi-la

!

feros

,

the esses

presistirào

;

as

fugir

e

'

os gelos, e as

alegres

vida.

— Ninheiros editìcam entregam *— Novamente aos amores. e prazeres. — Este que vez piimeiro, de alvo rosto — Robustos raembros magestoso aspeito, —'He o famoso Arthur, de cuja vinda — A'vida expecta§om lavr^ em Britania. (2) ,

,

e se

,

,

(1)

Vej. OS Cavalleiros da Tavola redonda de de Vasconcellos. Os Inglezes, que tanto zombam de nos per (2) causa dos Sebastianistas , deviam lembrar-se dos que entre elles esperam o Rey Arthur. Ca, e la mais Fadas ha. (1)

Ferrici ra


,

PoEMETQ. Eis

131

Amadis de Gaula, digno tronco de Heroes; tem a seu lado

De Imma Arvore

•A formosa Orianna^ Espos^a sua. Segue-se Esplandiom e Leoiiorina (1) •A qua de ambos aos pes, Donzella observas^ ,

,

5

He

a, qua tanto o an>ou

Que em

seu

nome

perfez

fiel Carmella, mensagens tantas.

,

•Eis Perion de Gaula , e Gricileria, (2) Lysuarte coni Abra, a tao discreta •Segùnda Esposa sua! mais ao longe Dom Florise! , e a Imperalriz Helena , (3) -Estes, que se unem em abrado estreito Sam ( jalaor , e a mui gentil Briolanja, (4) •

rivai em formosura, inda pende indicisa a preferencia. 'Ahi vés Agrages, e a presada Olinda, forte Grasendor , Rei de Bohemia, (5) 'Com a sua Mabilia! observa agora -Este Par sem igual na gentilesa, -Sabes quem sam? Agesiiau, Diana, (6) Principe elle de Cholchos, e ella Prole

-De Orianna

E

O -

(1)

(2)

Chronica do Iraperador Esplandiom. Chronica de Perion de Gaula, e Lysuarte

da Grecia. Chronica de D. Fiorisci de Niqnea. (3) Chronica de Amadis de Gaula de Vasco de (4) Lobeira.

A'cerca destes Cavalleiros, e Damas vajamcitadosLivros, ern quedelles se faz larga mensào. Chronica do Principe Agesilao, Parie (6) de D. Florisiel por Feliciano da Silva. (5)

se OS

IH

da


A V

132

I

so M.

— Do boni Dom de Sidonia, — Que em Guindaya reinou! vestindo armas, — Hum Gigante nom houve, ou Cavalleiro, — Que ao braco podesse — Em nome de Daraida, em femeo trage — So Diana o vencia em Florisel, e

as

delle

resistir

:

genlileza.

Por

extremada (eu digo) a Estranho desde agora me parece 6t

certo be

!

e

pouco

(c

Que por Agesilau, julgando-o Dama, Que por Agesilau julgando-o Joven, De violento amor emdoidecessem De Gualdapa o Monarcha, e sua Esposa, Mas descubro huma Dama, que em sembiante,

«

E

« ic

« 4t

,

talhe desemvolto he seu retrato.

Retrat^o seu?... Della o retrato he elle! teve

— Essa de o produzir a veatura. — He a Raynha Alastraxerea — De Dom Phalanges de Astra Esposa linda, — Que junto (responde Urganda) — Outra nom houve em vibrar lansa, — Ou bem que a Fama a espada — Levante athe aos Astros duas, — Calàfia, que reinou em California, — Sarmacia, que de Esparta Princeza, — E o Troyano desposara. — Ve Amadis da Grecia, ve Niquea, — Que muito amada, muito amante, forte

,

della vès

(1)

;

igual

florear

,

essas

(2)

foi

(3ristedes

(3)

e

delle

(1)

(2) (3) (4)

e

Chronica de D. Fiorisci. Chronica de Lysuarte. Espejo de Princepes, y Cavallei'os^ Chronica de Amadis da Grecia.

(4)


P OE ME T O.

133

— Seo thalamo fecundo enriquecera — Com de esforgo, formosura. — Fior da Cavallaria Heroe guapo — Chàmarom com rasom pois nenhiim outro — Acabou tao penosas aventuras — E uniu tanta virtude, denodo. — Huma espada de fogo a Natareza — No peito estampou por fausto agouro — Do estrago, que nos Barbaros e

prodi<^ios

esse

=

,

e tal

Ihe

faria.

De

tao altas Princesas largo tenrjpo

Estive embevecido comtemplando sem-ignal beldade, que dà mostras

A

De

que as formara adrede a Natureza

Para modellos de

subtis Pintores; Daquelles extreniados Cavalleiros procera estatura bem-talhada, altiva magestade dos sernblantes, Onde assomos de esforco resumbravam Nom tinha mais respeito , e mais bellesa A Assemblea dos Deoses , que nos pinta Nas cumiadas do Olympo o Lacio Vate, destino dos Teucros ventilando. Disse por firn a Urganda u o Sol brilhante " Centos de vezes acabou seos giros, « Depois que estes Heroes aqui se escondem a Tenbo, que elles existam por prodigio; i6 Mas prodigio maior inda reputo « Que OS rostos nom Ihe enrugue a mao do Tempo, « E no vigor da idade os veja a todos. Do encanto isso provem , (responde a x^Iaga) Encantamento he sincope da vida, Que em sua duragom nom se adianta^ "—Ed tempo j que decorre ^m t^nto, lie nullo.

A A

;

O

:

—O —

,


A Vi SOM,

134

— A causa ajunta — Em algum Keys o Sabio — Poude, a de estudos, —-De Plantas, de Metaes, Fructos, Flores — Variadas substancias decompondo — Formar hum qua vida do Homem — Remora, cem annos acrescenta — Sempre no mesmo estado do encanto — A^quelles, que curvara a longa idade, — O ministrou por que amava muito: —E da formula, que digo, geral

està

,

oiitra se

desses

Alqttife,

!

e fadigas

forerà

,

e

,

Elixir,

a

e corn

,

a e, anles

,

(1)

os

,

a virtude

—-Volveu

a juventude a

mim

,

e a elle.

A

da,

mania de remo^ar, de prolongar a vi(1) e athe de conseguir a immorialidade por melo de

vo^fou muito na Europa com os Alcby, mistas, e se acabou com elles. Nom assim na China, onde cada vez mais se arreiga, apesar de muitos dos seus Letrados, e Imperadores baverem sidn victimas

beberagens

da sua

nescia credulidade

a este respeito,

Todos

sa-

o Imperador Wau-tsong ^ dando ouvidos a cliarlatanaria de Tchao- Koiiey ^ Chefe dos Bonzos da Seila de LaO" Kium ^ que Ihe prometia a bebida da Immortalidade, si elle Imperador, desse hum Decreto para ex terminar os Bonzos da Scita de Fo^ ou Chc'Kia^ firmou o dicto Decreto, e tomou a bebida, que em vez de o tornar immortai, Ihe deu cabo miseravel nom sabia da Vida dentro em trez dias. que OS Homens so podem volver-se irnmortaes praticando a virtude, as Sciencias, e as Bellas Artes; e OS Monarchas reinando com justiga , e accrto , e Fa-

bem que

O

zendo a i^licidMc dos Ppvos !


,

, ,

Po3£?»IETO.

135

Meravilhas mecontas, (1) (disse) oli Sabia, a verdade ern labios teos se exprimc, Deixa que eu prove esse remedio egregio P. encanta-me tambero , por que a luz'torn^^ Quando estes , e ham Poeta Ihe grangees Que as passadas proezas , e as futuras Em vjblime Epopeia Ihe eternise. O gosto quero ter, voìvendo ao Mando, De ver da minha Patria o novo estado Os costomes, as modas , a vivenda Desmentìr as patranhas de Escriptores, Que fallen^ do meo tempo, pfescrutando Si 5 quando for essa Epoclia diegada , Os Conterraneos meos tem mais juizo, Com cubiga menor, raaior virtude, E ouvidos menos rusticos, que inclinera Da suave Poesia a voz canora. Com sobeja rasom formas queixumes ' Do desdem da Poesia era Lusitania , (2) «

4i

<t

« 44

u it '.i

« a

« se

a « ii

u 44

E,

si

(1) Phrase muito usada nos Livros deCavallarias. Deste desdem , que os Portuguezes mostram (2) pela Poesia, jà Camoes se queixava dizendo

Mas Tao Tao Que

o peior de ludo he que Natura asperos os fez , e tao severos , rudes , e de engenho tao remisso a niuitos darà pouco, ou nada disso.

Lus. Tguaes queixumes fazia Bernardes E porera de Mecenais tantos temos Como de Brancòs tem a Etiopia. Cant. 26.


A Vi SOM,

136

— Mas he naturai! almas grandes — Que em preclaras accòes a vida empregam — apre^o a Poesia, que — a nada de louvor digno, — C^Tmeiìas? —-Oi.de Ahneidas onde Castros — Os Alhiiqaerques, Menezes so

elle

Dps5j

,

as celebra.

q\ìMTi

JVlas

faz

Ejvì (]ue [ìodeni ser uteis as

^'btam os

—-Que

os

,

,

e os

feros

obra a Toeticos lavores? encantar-te posso, e quero ujais Teus dias proiougar so pode Àlquife, deiii

-—Quanto ao

— —E

,

prompta

estou a interceder

com

elle.

Do

encantado Salom nisto saliimos, E a Maga rne conduz a hum alto Eyrado Que Imuia altissima Torre coroava. Sobre bronzeo vorom la \i disposto Ampio Globo de vidrp Neste EspeHio 'Fabricado co' a norma, que prescrevein Magicos Livrcs, que escreveo Medea, (1) "Quanto possa no Mando ouvirnos^ vemos Passa-te ao lado do OcciJente e attenta.

— — —

.

,

E

mais proximo aos nossos tempos Gargào

Nom F'oi

sabes que das

sempre

bum

Musas Portuguezas

Hospital o Capitolio? Sat.

Nos Lìvros de Cavallarias sam mui celebra(1) dos OS Livros de Nigromancia escriptos por Medea. Elles formavam o princìpal estudo dosMagos e o que mai or numero delles poJia alcangar, maiores progres§03 im^ A^ ^m 4itei


,

,

POEMSTO.

137

Disse a Maga; no espelho os olhos fido, huu) Jardim a meos olhos se desco bre. La de bum Caramanchoiii descubro a soQibra Linda Joven corapondo bum ramilbete.

E

Disseras qne bera Venus, que sentada vistoso Bosqiiel da amena Cbypre, Pensativa esperava o lindo Adonys, Que descuidado a Caca perseguia. Chega logo o Moraes mui surraleiro , E o joelho curvando, assim Ihe falla. Ente unico! Mulher incomprehensivel :—:Que compòes da mistura inexplicavel' =z De desgraca, e ventura o meo destino,

Em

= =z=

Nom

sei si

existes, {nas

que existes sinto

,

Eis-aqui teo amante , o teo Esposo rx: Venbu de bum Miindo, onde eu entrei somente ziziOnde elevei perene Monumento, rrzEn) que va, ja caduco, reco>tar-me. (1) rnz

!

Nom

.

.

.

duvido quebaja abi Leilores, que nom de que se compoem està , falla; mas consolem-se comigo , que tambem àcerca delles estou em jejum. Davus surn ^ non Edipus. Logo (dirào) porque os fizeste assim ? respondo , nom os fiz traduzi-os com todo o escrupulo e exacgom em verso da prosa do Prologo de certo Livro mui panegiricado , comò bum modelo daquelia espece de sublime, que se cbama Balhos^ e de que Pope escreveu hum erudito Tractado. Mas (continuarào os Criticos) ao menos devias perguntar ao Autbor do tal canbenho, o sentido de^se Periodo para no-lo dares em bu« ma aota traduzido eoi Portuguez. Uonfebso, mepa tìe» (1)

entendam

;

os sepie versos


A

138

Mal que

isto

VlSOM, POEMETO vejo, e escuto, irado exclamo,

anda ilusom nom he a Moraes, quo he huin Phylosopho 64

Certo

,

ahi

«

De Mulheres

se

Em

^c &4

!

possivel

!

.

.

.

sisudo

às plantas, requestando-as phrases enigmalicas , e oucas! .

.

.

Moraes nom falla assi m he falso! he falso E dou a ma ventura o ^spelho e Urganda!?^ !

.

.

.

.

.

.

,

Nislo raivoso

me

!

.

.

(1)

levanto! ... e rindo

Conheci que, dos Livros na tardanza Pensando, adormeci, e que sonhara Os destemperos, que eserevi , bem dignos De bum Poema Romantico a moderna!

F

1

M,

nhores, que o arbitrio hera excellente , e so Ihé acho 1.* o defeito de ser inpraticavel , e por diias razoes porque o Author ja morreo ; 2/ porque, inda que fos:

se vivo, hecrivel que,

me

bem examinado

este

amphigou-

réspondesse, nec ego quidem intdligo. Outra expressom tàrabem mui usuai nos Li« (1) vros de Cavallaria. ri,


,

,

,

139

AO MUITO HABIL ARTISTA PORTUGUEZ

MAURICIO JOSÉ SENDIM,

ODE Por JOSE

MARIA DA COSTA E SILVA.

Me

alla tua dotta freni e il Fhebeo lauro Premio^ e corona^ me d'ei sacri ingegni *Amor con santo inviolabil nodo ^

,

Distrinso teca.

Belinelli,

Xmitar co' pince! as varias Scenas Que opulenta oferece a Natureza ;

<Jpondo a sombra a luz, e a

Dar

luz

a sombra

vida a novos Seres

Eis teo emprego, oh magica Pintura, Tu encantas o Mundo, Tu conservas Egregios feitos dos Heroes , e salvas

Da Morte

as feicòes s«ias

Da

!

Grecia o puro Sol sobre o leo bergo Brilliante reluziu, pelos seos Bosques Os teos infantis pasgos ensaiàram As Driadas mimosas Aguia nascente, que seu ninho deixa E busca em Geo estranho imperio, e prezas, Tu foste alardear na eulta Italia Tua Gloria , e prodigios ! !


Ode.

140

Roma

no Capitolio

te

deu cultos,

mar Veneza Imm Tempio, ergueu Florenc^a e Lombardia,

àSagrou-te sobre o

Aras

te

,

Rivaes no estilo , e gesto Belga nos seos pantanos obteve Tuas inspiragòes , e, longo tempo Menoscabado Amante, o Gallo pode Conquistar teos Afectosi Entre cultas Nacòes teo carro ovante Marcha tirado por brilhanles Genios Seguem-no grupos de formosas Nymphas Floreos festoes brandi ndo! !

O

O

severo Desenho te precede

Que copia fiel, e observa tudo Marcha de bum lado a Historia carregada ;

C'os passados successos cruento escalpelo a Anathomia, D'outro , descoze palpitantes membros; !

Com

E

a teos olhos curiosos

poem

patentes

Veias, musculos, nervosi Mostra-te

Dos

breve Mappa a Geographia o quadro, os trages , e os costumes

em

Do Mundo

varios Povos

Te dam

Tua

;

Physica, e Mathesls ligoes proficuas.

regoa , e compasso a Perspectiva Sustem na sabia dextra , em quanto as tinctas A Optica ilusora te mistura iNa engenhosa palheta I Assim a bum teo acceno os Bosques d'Asia Zimbram com o vento sobre a tella, os Alpes Com as geleiras suas se levantam A' regiom das nuvens.


5

,

Ode.

141

De

verdejantes Ilhas coroado Ergtse a fronte o Orelhana, resuscilatn

De Transimeno

as pugnas, e de Troia incendio reflan^eja! Aos FiJhos abragada outra vez Castro Do inflexive! Affonso aos pés prantea ; INovamente de Ormuz se inclina o colo A' Espada de Albuquerqae!

O

Nem

OS Carapos do Téjo , as Musas gratosj Desdenhaste habitar, Deosa engenhosa: Daqui de teos ahimnos leva a Fama Pelo Universo a Gloria. Ouvenn-se com louvor , e com respeito De Alexandrino o Nome, e os dois Vieiras O do grande Coelho , cujos rasgos

O Tambem

,

Escoriai enfeitam,

Sendim amigo, ha de o

teo

Genio

Merecer no futuro igual coroa Entào OS quadros teos serào thesouros Do Entendedor aos olhos ;

!

Nào

que ao Pintor, e ao Vate Sobre a campa he que a Patria faz justica: Vivos nossa grandeza dà ciumes A' Soberba ignorante! Mas a Morte desarma a negra Inveja E conduz a Justica , que pezando Na balanga imparcial do Genio os dotes Nos dà devido apreco. Dos Destinos o Livro o louro Apollo te

de pena

;

Officioso de^cerra aos seos Alumnos! Nelle vi registado em aureas Letras

Teo Posthumo Renome.


SONETOS.

143

AO SENHOR MAURICIO JOSE SENDIM Retratando o Auctob.

O N E T

S Furia meo Roslo teo Pincel

O

O.

e o reproduz na tela

,

que n)al no Vate o empregas, do Manto seo nas densas pregas Envolver a Desgra^a ha uiuito anhella • Das Artes vivo Amor, qqe te desvela, Nom sentem gentes rusticas, e cégas, E quando a copia minha ao Porvir le'gas, !

.

.

.

A quem

!

.

.

Elle talvez diesdenhe conbece-la.

Ah relracta das Lays a formosura, Ou dos Grandes da terra o fero aspeito, !

E fama lucraràs ouro, e ventura. Grego Pintor, rnenos que Tu perfeìto ,

Assira obteve gloria, que inda dura,

Dons d'Alexandre, S

e

de Campa^pe o Leito!

O N E T O

(No dia dos meos annos.) Hoje do Lustro septimo no meio Lanso a vista em redor, e acobardado So desgracas descubro no passado E mais desgragas no porvi r receio. Que me serve cingir laurei Phebeio Infructifero adorno, e nom vingado, Si outhorgar-rae nom quer mesquinho Fado A' penosa existencia honrado esteio. Oh qual erguera Cantico divino. Si 5 desfransindo^ torva catadura,

Hum dia me sorbisse o meo destino? Mas que espero da Patria, cu da Ventura^ Si em avaro hospital raorreu Thomino, Tem Phylioto em desterro a sepultura ?


, ,

,

,

143

SONETOS.

S

O N E T

O.

que o pesar me vai rugando^ Murcharora da saude as rubras rosas^

Na

face

E

5

o fogo das paixoes volupiosas

Mal sob as brancas cinzas vai durando. Os jogos de Cytbera abandonando

E

as Choreas das Chàrites formosas, Fundós Bosques, Cavernas tenebrosas

Vou com Ali he

meo

tardonho passo procurando. prazer

em

soledade

Das Scenas da fecunda Natureza CoDlemplar profusom , e variedade. Adeos, sonhos da gloria, e da belleza Suaves ilusoes da Mocidade, Que minha alaia athequi tivestes preza.

ORACULO DO

SEICULO.

SONETO. bum no coragon) , outro no Tosto, Calcar aos pés o merito indigente, Beber sorrindo o sangue do innocente, Ao sabio propinar pena, e desgosto Ter para o crime o animo disposto, Mostrar de Religiào zelo apparente, Calumniar, trahir, mas cortezmente, Ter o ouro por Deos , por Lei seo gosto. Eis do presente seculo a doutrina que he baixeza a estrada da ventura A perfidia brazào , moda a rapina. Ai do triste, a quem coube huma alma pura, Que a bonra abraga, e bajular declina, Que abrigo 8Ó lerà na sepultura!

Ser

:

Em

Por

X

M.

C. &.


Obra sem erros typograpliicos he cou» sobre-maneira difìcil. Por mais habil , que seja o Compositor , por mais esmero , que ponha o Corrector na emenda das provas , por mais que estas se multipliquem , sempre de Icnge em longe apparecem algucs comò as veleidades do orgulho nos cora^oes mais modestos; Lisongeio-me porem de que ne>ta Edi^om , elitre OS que vam appontados na infraposta tabella, se nom depara algum essencial. Quanlo à Outhographìa que adoptei , e que parecerà estranha a nom poucos Leitores eslou certo de que os Homens lidos nos Authores antigos a reconhecerào por Classica. Como osClas5ÌC0S dei a desinencia em am excepto na terceira Pessoa plural doFu* turo Indicativo , a todas as Pessoas dcs Verbos, que os Modernos terminam em aó uso ou abuso que farìa crer que ha Dithonjos breves , o que he bum absurdo. Terminei em o?n as terceiras Pessoas pluraes dos Preteritos , comò praticou Pero de Audrade Caminha , e todos os Antigos , cujas obras nom forom alteradas quanto a Linguagem pelos Editores modernos. Restimi ao singular dos nomes, que fazem o Piural em oos aés oés as swas genuinas termin 9oes, que am , om ora comfusamente acabam em do , devendo ser em ad Querer dar a

sa

,

si

nom

luz hìiìna

impossivel

,

,

,

,

,

,

,

,

,

^

^

^

comò Chrìstao.

Rasom.

Cappitam.

Cappitaès. Rasoès. Igualmente restilui a sua Orthographia a partìcula si, deferencamdo-a do Pronome reciproco se e d negativa ?iom , que os Antigos assim usarom , e alguns detìes escrevem nani. No resto cingi*me , o Christaos.

,

mais que pude, a Ethyraologia, piimeira Regra da boa escnpta da boa pronunciacom.

Emendai.

Erros.

Prologo

— 6 — Progeto ...... Projeto 18 — Nào Nom — Lin. ^% — da Magia, .... de Magia, Pag. Poema Nìquea, 13 — Nota — Nequeas Pag. Amadis 16 — Nota 4 — A madia Pag. Domicilio, Pag. 24 — Ver. 19 — Domicilio Pag. 25 — Ver. 12 — deves sobem. Pag. 29 — Ver. 32 — sobem — Esquadras .... Esquadroes Pag. 30 — Ver. ondeante Pag. 52 — Ver. 30 — ondeando 12 — ...... Pag. 58 — curo Pag. 120 — Ver. 8 — onro Pag. 125 — Ver. 2 — Pag.

IV

-_

Lìn. Lin.

.

VII!

deves.

,

.

1

.

-,

Ver.

influio

.

fruclas,

influii!

fructas

,

e







027

2509268


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