Escathos - Forças Especiais

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Gabriel Freitas

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APRESENTAÇÃO Parei, hesitei por um segundo quando vi a placa do fim do mundo, mas decidi, e para lá mesmo que vou... Desse que vivo, já estou saindo para esse desconhecido, vou partindo, aqui nesse mundo, nada mais restou... Sigo em frente, enfrento a negrura estarei procurando pela aventura, num lugar que alguém nunca conheceu... Idéia louca, que a mente não ofusca com coragem partirei para a busca, procurando por lá, o que ninguém perdeu... Se encontrar ao acaso, algum pioneiro então tornarei me um guerrilheiro, lu11


tarei, tentarei meu espaço conquistar... Jamais terei medo de alguma intriga, participarei de qualquer sangrenta briga, por que aqui, não quero mais voltar... Gil de Olive “Eles podem tirar nossas vidas, mas nunca vão tirar... nossa liberdade!" Mel Gibson – Coração Valente

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K

indland não se era a melhor cidade para se viver, mas também não era lá uma das piores, havia por exemplo a cidade vizinha, Orlando, um lugar completamente sem regras onde a violência era a única coisa que eles podiam apresentar como “cartão postal” . Kindland é um paraíso comparado a Orlando, porém o que fez os moradores criticarem muito a qualidade de vida de Kind – como era popularmente chamada - foi por consequência do repentino crescimento da metrópole, tanto em aspecto populacional, como em aspecto geográfico, em dez anos a cidade cresceu no que estava previsto para acontecer em trinta, quarenta anos, número que certamente impressionou a todos que não esperavam ver esse resultado acontecer tão cedo. A metrópole sofreu grandes transformações em seu espaço geográfico, como a chegada 13


das grandes indústrias que importam e exportam mercadorias pelo mundo todo, a construção de grandes arranhas céus que tirou a bela visão do céu azul dos moradores de bairros mais tranquilos e humildes, sem falar em um campo de pastagem que ficava em uma parte bem remota da cidade, próximo a sua saída e se estendia até o fim da cidade que por consequência do crescimento metropolitano acabou se tornando uma imensa usina hidrelétrica chamada “Usina Leste”, popularmente conhecida por “Represa Mongoli”, esse nome foi adotado pois em sua construção trabalharam operários vindo da Mongólia – o que ninguém entendia – pois pra que contratarem pessoas de fora do país se os brasileiros também tem a mesma habilidade e capa- cidade de lidar com uma obra desse nível, sem falar que os construto- res eram muitos estranhos, aparentavam trabalhar com raiva, forçados a estarem lá, porém após a conclusão da obra, não foi comentado nenhum boato sobre os “mongoloides” como dizia Gabriel Freitas, filho de Charlie e Julia Freitas. Gabriel é estudante do 4º ano de Ciências Biológicas na Universidade Metropolitana de Kindland (UMK) – eleita quatro vezes consecutivas como a melhor universidade do estado – nun14


ca teve dificuldades em relação às notas, pois desde o primeiro ano sempre se empenhou nos estudos já que o curso que ele fizera era o sonho de sua vida e sempre contou com o apoio de seus melhores amigos: Diego Silvino, Marcela Roberta – sua namorada – e Larissa Matsuda, namorada de Diego, pois se não fossem o incentivo dos amigos do primeiro ano até o fim deste, Gabriel mesmo gostando do curso teria desistido pela grande exigência que a Universidade exercia sobre os alunos – não era a toa que várias vezes fora reconhecida como a melhor universidade do estado de São Paulo. Os motivos que levaram Gabriel a escolher o curso de Ciências Biológicas foi o fato de ele ser fascinado por animais desde criança e gostar muito de estudar algumas espécies, e também pelo motivo da escassez de biólogos pelo mundo, principalmente biólogos que se dediquem na preservação de animais ameaçados de extinção – o que es- tava sendo difícil naquele ano de 2.015. Era uma quarta-feira de manhã ensolarada, Gabriel levantou de sua cama bem cedo como de costume, as sete da manha para assistir 15


Kind News, o jornal local que era transmitido apenas em Kindland. Ele tomava seu café tranquilamente sentado no sofá da sala quando o jornalista Douglas Nascimento anunciou que a formatura da UMK para os alunos do curso de Ciências Biológicas aconteceria no dia treze de novembro, Gabriel pegou seu celular e viu no calendário que a data marcada para a formatura coincidira com uma sexta-feira 13, o que fez com que ele abrisse um sorriso supersticioso que combinando com sua cara de sono não ficou nada legal. Mesmo assim nem a sexta-feira 13, nem a cara feia de sono o deixava para baixo, pois estava muito ansioso que esse sonhado dia 13 chegasse, já que estavam no dia 26 de outubro, restando-lhe apenas 18 dias para o tão esperado dia de sua graduação. Embora Gabriel estivesse contagiado pela ansiedade e felicidade, havia um assunto que o preocupava um pouco – o que ele faria após o término da faculdade? Será que ele terá que deixar Kindland, seus amigos, sua família, e tudo que o faz sentir bem para conseguir um emprego que compense os anos de estudo dele? – essas perguntas eram incontestáveis na mente de Gabriel, não havia um dia sequer que esse assunto não o incomodasse e o fizesse refletir, pois o 16


que ele mais desejava fazer após a conclusão do curso era conseguir um bom emprego em reservas de urso panda. Era um sábado tranquilo com o tempo bastante quente e abafado como todos os outros dias na residência dos Freitas, Gabriel descansava em seu quarto quando o celular começou a vibrar no criado mudo, preguiçosamente ele virou-se para o lado direito, esticou seu magro e comprido braço e nas pontas dos finos dedos apanhou o aparelho o trazendo para si – Marcela chamando – observou ele no visor antes de atender. – Oi amor – atendeu evitando fazer voz de sono. – Nós iremos sair hoje? – perguntou ela ansiosa. – Provavelmente sim, a Larissa vai? – Ela não estava muito animada não, desde que o Diego parou de sair com a gente ela disse que não é a mesma coisa e que fica mais difícil dela se divertir pensando nisso. Larissa tinha razão em não estar animada para o fim de semana, afinal o comportamento de Diego nas últimas semanas preocupava a todos eles, principalmente sua namorada, pois 17


sem nenhuma justificativa ele se afastou de todos. – Ah amor, tenta conversar com ela e convença-a a ir – suplicou Gabriel a Marcela como incentivo – se ela ficar em casa pensando nele não vai ajudar em nada, pelo contrario, só fará ela se sentir pior. – Tudo bem, falarei novamente com ela e veremos o que ela dirá – respondeu – te ligo mais tarde, amo você. Gabriel desligou o telefone e o colocou novamente em seu criado mudo, virou-se para o lado oposto dele e tentou dormir embora o calor não colaborasse muito. Diego sempre foi um garoto orgulhoso, às vezes tinha atitudes que magoavam os outros, porém nunca teve problemas com seus amigos, na presença deles, ele sempre tentava deixar seu orgulho de lado e procurar ser uma pessoa gentil e agradável, mas há aproximadamente duas semanas até certo momento, ele se afastou de todos, inclusive de sua namorada por motivos que ninguém sabe – fazendo com que todos fiquem ainda mais preocupados por não saberem o que se passa. Gabriel e Diego eram amigos desde criança e se consideravam como “irmãos”, o que 18


fez com que Marcela e Larissa desconfiassem que Gabriel sabia de alguma coisa sobre o estranho comportamento do amigo e escondia a verdade delas – o que seria difícil de acontecer já que Gabriel nunca escondeu nada de sua namorada – com o tempo elas perceberam que realmente ele não sabia de nada a respeito, mas pediram que se soubesse, não escondesse delas. Naturalmente ele concordou! Marcela era branca, alta, com os cabelos castanhos, lisos e compridos, porém ondulados no final. Ela conseguiu convencer Larissa a sair com ela e Gabriel até a pizzaria naquela noite - embora os dois – Gabriel e Marcela – concordaram em não tocar no assunto “Diego” para evitar deixá-la pior do que estava se sentindo. Mesmo assim, Larissa não pode ficar em silêncio e insistiu em falar sobre “ele”. – Pessoal, eu não aguento mais ficar sem ter notícias do Dí, ele não retorna minhas ligações, não deixa recados no Facebook, sinceramente não sei o que está havendo entre nós dois. – Larissa, eu sei que está sendo difícil, pensa, eu conheço o Diego desde os meus quatro anos de idade, e só de saber que ele se afastou da gente sem motivos nenhum é muito, muito 19


triste, mas eu prometo uma coisa a você, vou descobrir a todo custo o que está havendo – respon- deu Gabriel convicto a tentar fazer com que Larissa se sentisse melhor. Os olhos mestiços de Larissa, tapados pela franja de seu enorme cabelo liso e negro se encheram de lágrimas e sem saber o que fazer ela abraçou Gabriel pedindo que ele ajudasse o amigo. Após deixarem a pizzaria e Larissa em sua casa, Gabriel e Marcela aproveitaram para conversar sobre o incidente na pizzaria. – Amor, eu estou muito preocupada com a Larissa – mencionou Marcela aflita passando a mão em seus longos cabelos. – Não se preocupe meu amor, nós vamos ajudá-la. É questão de descobrirmos o que está havendo com Diego que tudo voltará ao normal se Deus quiser – os dois se abraçaram fortemente, em seguida Gabriel girou a chave do carro para que pudesse deixar Marcela em sua casa. O domingo foi exaustivo pra Gabriel, pois ele passou a maior par- te do dia estudando para as provas finais, o que fez com que Marcela e 20


ele não se vissem o dia todo. Ele estava tão preocupado com suas avaliações finais que foi preciso que sua mãe levasse almoço para ele no quarto, do contrário ele não teria saído de lá, nem mesmo para ir ao banheiro. A segunda-feira veio que Gabriel nem percebeu, a primeira coisa que ele viu ao acordar foi um livro de células e seu caderno em sua cama – o fazendo chegar à conclusão que acabou dormindo enquanto estudava. Rapidamente ele se levantou da cama e foi para a cozinha, ansioso para assistir seu seriado animado preferido: Mega Choque – o que não era normal para um jovem de vinte e dois anos – porém a sua justificativa, é que ele assiste o seriado desde os treze anos – esse personagem, Mega Choque, foi criado por Wagner Felipe – o famoso produtor de desenhos animados do Brasil – e a trama do desenho se passa na própria metrópole de Kindland. O personagem é um superherói que protege a cidade das forças do mal. Atualmente o programa está na sua reta final onde o Mestre Harussamê se uniu ao perverso lagarto humano conhecido como, Príncipe do Crime para que juntos finalmente conseguissem dominar toda Kindland e em seguida o mundo. Faltavam apenas três para o término dessa série e Gabriel se via obrigado a saber como 21


terminaria, pois há dez anos quando o desenho foi ao ar pela primeira vez, ele a vem acompanhando e dificilmente perde um episódio. Após terminar de assistir seu programa favorito, Gabriel subiu até seu quarto para que pudesse se arrumar para o trabalho – aliás, Gabriel trabalhava nas Empresas Oxford, como vendedor de produtos – quando estava de saída, parou diante da televisão a qual sua mãe assistia concentrada e se viu tentado a assistir a reportagem que o Kind News estava transmitindo sobre o aquecimento global, onde mais três ursos polares foram encontrados mortos boiando em águas tropicais e uma forte chuva de granizo que atingiu Salvador – BA, coisa que era praticamente impossível de acontecer naquela região há pelo menos cinco anos atrás. Realmente o homem brincou com os limites da natureza e todos, inclusive os que não têm nada a ver com esses atos prejudiciais, estão sofrendo as consequências também. Chegando de seu serviço para a hora do almoço, Gabriel retornou uma ligação perdida de Marcela em seu celular, pois não podia atender no serviço – determinação de seus supervisores. 22


– Marcela, você me ligou? - perguntou Gabriel com uma voz ansiosa porém cansativa – Desculpe não poder atender você aquela hora, mas é que hoje o seu Domingues estava lá e sabe como aquele velho é nojento né? – justificou Gabriel referindo ao seu chefe, o qual ele não tinha muita simpatia. - Não se preocupe querido, não era nada importante não, só queria saber se depois do trabalho, caso não estiver muito cansado é claro, se não queria dar uma volta comigo já que não nos vimos ontem. – Bom depois do trabalho é praticamente impossível porque eu tenho prova da faculdade, mas nada impede que saiamos após a prova, prometo fazê-la o mais rápido possível para sairmos tudo bem? – Tá legal, porém concentre-se – recomendou Marcela – estarei esperando por você. Gabriel almoçou e em seguida foi descansar um pouco em sua cama, quando estava prestes a dormir, o seu celular anunciou:

“Hora de Trabalhar!” Ele se levantou olhando feio para o celular e ironicamente pensou alto – Você é um pé no saco hein celular – Levantou-se às pressas, cal23


çando seus sapatos e colocando a gravata que o senhor Domingues insistia que ele usasse. Desceu as escadas, pegou rapidamente a chave do carro, despediu-se somente de sua mãe com um beijo no rosto, pois seu pai estava trabalhando e foi até a garagem pegar o veículo, onde segui- ria direto para seu trabalho. Indo para o serviço, Gabriel infelizmente teve que enfrentar o grande trânsito pósalmoço que a Avenida Presidente Vargas costumava ter diariamente por volta daquele horário e vendo que não iria sair dali tão cedo, ligou a rádio onde estava transmitindo um jornal, que instantes depois de anunciar a notícia que Kindland faria uma estátua com a imagem do prefeito homenageando-o pelo seu trabalho nos últimos anos, anunciou a notícia que dois pesquisadores do Centro de Pesquisas de Kindland (CPK) foram brutalmente assassinados por armas ainda desconhecidas e que uma das vítimas tinha graves queimaduras, uma delas perfurou o coração do cientista, como uma espécie de raio laser, já o outro teve o pescoço deslocado – barbarizado com a notícia que o jornal informava, Gabriel desligou o rádio, esticou seu braço para fora da janela do veículo tentando relaxar e olhou para o lado, quando de repente ele concentrou seu olhar 24


para uma mulher que estava do outro lado da cidade, tinha os cabelos ruivos, olhos azuis como cristal, e parecia ser jovem, porém usava roupas estranhas, como uma capa cinzenta que condenava sua juventude. Mesmo com vestes nada agraváveis, Gabriel havia ficado encantado com a tamanha beleza daquela mulher, olhou fixamente para ela por quase cinco segundos, quando uma buzina vinda de um veículo logo atrás dele o fez concentrar-se no trânsito e quando voltou a olhar novamente para o lado, a mulher não estava mais lá dando a impressão que ela era apenas uma ilusão. Aquele dia foi tão agitado no serviço, vendas e mais vendas que a tarde passou tão rápido que quando Gabriel menos se deu conta seu horário tinha terminado e ele estava a caminho da faculdade para realizar a sua prova. Terminando-a, foi finalmente se encontrar com Marcela na praça da catedral da cidade. Quando eles se encontraram, se cumprimentaram e começaram a conversar, até que ela tocou em um assunto que ele não gostava muito que fosse mencionado: – Gabriel, você tem certeza que não sabe mesmo o que está acontecendo com Diego? 25


– Claro que tenho meu amor, não me diga que está desconfia de mim? – Desculpe, não estou desconfiada, mas é que vocês se conhecem a muito tempo e eu achei que você poderia pelo menos ter alguma pista ou suspeita que nos levasse a qualquer informação que nos faça descobrir o que se passa com ele. Embora Gabriel não tivesse gostado que Marcela suspeitasse dele, ele no fundo sabia que todos ali estavam preocupados com tudo e toda opinião era válida, desde que ela pudesse ser aproveitada.

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A

cada dia que se passava, a preocupação com Diego aumentava. Suas notas na faculdade caíram pelo número excessivo de faltas que ele teve durante esse semestre, o chefe de seu serviço ligou preocupado para Larissa informando a ela que Diego havia pedido demissão sem justificativa nenhuma. Sempre que Gabriel liga em sua casa, ele é atendido pela secretária eletrônica da linha, o que começou a irritá-lo e o fez tomar a decisão de investigar o amigo por conta própria para tentar descobrir o que estava havendo e analisar quais as chances de ajudá-lo caso estivesse passando por algum tipo de problema. A nossa história começa a partir daí, quando a Batalha do Fim dos Tempos – o período em que a humanidade correria o risco de ser extinta para sempre – estava começando.

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Era uma quinta feira, dia 29 de outubro, Gabriel acordou no horário de costume para assistir seu imperdível Mega Choque – mesmo estando morrendo de sono por ficar junto com Marcela até altas horas pelas ruas frias e desertas da cidade, próximos da Praça da Catedral, porém se esforçou ao máximo para ficar acordado já que esperava pelo final da série desde a sua infância. Terminando de assistir Mega Choque, a senhora Julia, com seus cacheados e curtos cabelos grisalhos, pele morena, porém meio clara, se aproxima do sofá ao qual Gabriel estava deitado quase cochilando de tanto sono e pede: – Filho querido, teria como você fazer um favor para mim? – Claro mãe, o que a senhora quer? – Preciso que vá ao supermercado comprar algumas coisas pra mim, eu ia pedir pro seu pai, mas ele está resolvendo algumas coisas com o advogado dele e como é sua folga, pensei que não se importaria de fazer isso por mim. Gabriel não fez questão de ajudar a mãe, tomou um rápido café com leite e bolacha para despertar e em seguida recebeu de sua mãe uma lista com tudo que ela precisava que fosse comprado. O filho se despediu da mãe com um beijo no rosto e foi até a garagem da casa pegar 28


seu carro, em seguida se dirigiu para o supermercado – mas antes, decidiu fazer uma rápida parada na casa de Diego, com a expectativa de conseguir descobrir alguma coisa que justificassem as últimas e estranhas semanas que se passaram, dando iniciativa na sua investigação. Chegando a frente da casa de Diego, Gabriel estacionou o veículo logo de frente para a residência e ficou observando, viu que o carro de seu amigo não estava lá indicando que ele havia saído, porém o portão não estava trancado, mas sim encostado, pois o agitado vento que corria junto à brisa daquela manhã, fazia com que as barras metálicas do portão fizessem um rosnado de movimento NHREK indicando que ele estava aberto. Gabriel não ficou satisfeito só de ficar ali observando, queria fazer algo a mais. Vendo que realmente parecia não haver ninguém na casa decidiu entrar e ver se conseguia alguma informação. Descendo do carro discretamente para que os vizinhos não o confundissem com algum ladrão ou bandido, ele olhou para os lados com toda cautela possível para ter certeza que não estava sendo vigiado, abriu lentamente o portão para impedir que as grades enferrujadas e velhas fizessem algum barulho que entregasse 29


seu plano e em seguida começou a caminhar lentamente na direção da porta frontal. Estando de frente com a entrada principal da casa, por impulso, Gabriel esticou seus dedos direitos na maçaneta da porta firmando sua mão ali e apoiando a palma dela, ele girou a maçaneta e a porta s e abriu sem dificuldade alguma - pura coincidência? – perguntava Gabriel para si próprio já que tudo estava dando perfeitamente certo. Sua esperança era conseguir todas as informações necessárias para obter conclusões. Gabriel cuidadosamente empurrou a enorme porta branca de madeira, olhou para os arredores da sala e concluiu que realmente a casa estava vazia. Entrou rapidamente antes que alguém chegasse e foi até o aparelho do telefone, pois sabia que o modelo que havia na casa registrava as últimas cinco chamadas, essa era a vantagem de ser amigo de confiança de Diego, sabia de tudo que havia na casa, e determinado – É o que devo fazer, vou verificar as últimas chamadas e conferir se Diego conversou com alguém nessas últimas horas, às vezes isso pode me levar as peças que preciso pra ir montando meu quebracabeças – raciocinou Gabriel. Já frontal ao aparelho, Gabriel apertou o botão vermelho superior à base onde o telefone 30


ficava armazenado, no centro do botão estava escrito “Caixa Postal”, instantes depois de ter apertado, Gabriel começou a ouvir uma voz que ele desconhecia, ela era rouca e falhada, aparentando ser de um homem com mais de cinquenta anos de idade. Essa voz dizia: – Diego, aqui quem fala é o general Crouth, venha para minha base amanhã as oito e não se esqueça de vir até aqui hoje de manhã para que possamos iniciar a construção das bombas C4. Estarei aguardando sua chegada... Chamada recebia no dia vinte e nove de outubro de dois mil e quinze às sete horas e trinta e quatro minutos, Horário de Brasília – anunciou a secretária eletrônica antes de o telefone desligar automaticamente. Um grande progresso Gabriel acabava de conseguir com as informações que acabava de ouvir – descobriu aonde Diego foi e sabe que está metido em problemas – agora cabe a ele descobrir onde fica essa tal base, quem é esse general Crouth e o que fez Diego se envolver com tudo isso. Gabriel achou melhor não comentar nada do que descobriu com ninguém nem mesmo com Marcela, pelo menos até poder ter certeza de tudo e apresentar conclusões das quais possa explicar. 31


Vendo que não iria descobrir mais nada, Gabriel decidiu voltar para o carro e ir até o supermercado para cumprir realmente o que o fez sair de casa naquela manhã. Quando se aproximava da porta, um vulto passou por ele o assombrando, Gabriel olhou para o lado rapidamente mas não via nada de anormal, começou a rodear si próprio mas mesmo assim nada via – “devo estar ficando louco” – pensou ele assustado, de repente a porta se fechou fortemente sozinha estremecendo toda a sala. Gabriel começando a ficar preocupado começou a gritar: – Quem está aí? Diego pare de graça! Quando Gabriel menos se deu conta uma forte luz branca saltou em cima de seu rosto cegando-o momentaneamente. Sem poder enxergar nada, ele caiu no chão com as mãos nos olhos – O que está havendo? Quem está ai? – perguntava ele gritando desesperado achando que estava prestes a morrer. Ainda não enxergando nada, uma voz feminina e suave começou a sussurrar em seu ouvido: – Acalme-se Gabriel, não se assuste querido, não lhe farei mal algum. 32


– Quem é você? E o que quer de mim? Como sabe meu nome? – Isso não importa nesse momento querido, o que importa é que você está liberto! Bem aos poucos a luz foi enfraquecendo e Gabriel ia recuperando a visão lentamente. Quando tudo estava tudo nítido, ele se deparou com uma mulher aparentando ter mais ou menos uns trinta anos, olhos azuis claro como cristal, cabelos ruivos, longos e cacheados, pele branca como a neve, lábios pequenos, porém encantadores e vestia um longo manto cinzento que cobria seu corpo até os pés – naquele mesmo instante Gabriel se lembrou da mulher que avistou no dia anterior quando estava indo trabalhar. A mulher segurava na mão direita um cetro dourado que se apoiado ao chão, terminava mais ou menos à altura de seu ombro e na sua base superior havia uma pérola azul escuro, lembrando o coração do oceano, essa pérola brilhava constantemente tendo em seu interior ondas brilhosas que se moviam aleatoriamente. Ela se aproximou de mim calmamente e sorrindo, e com uma voz mais calma e suave ainda ela disse: – Levanta-te Gabriel e acalme-se, não irei lhe fazer mal algum. 33


O medo que Gabriel sentia foi desaparecendo conforme ele percebeu que a mulher que estava diante dele, não iria lhe fazer mal algum – pelo menos não aparentava – então se levantou quando ela estendeu sua mão esquerda para ele se apoiar. Ao se levantar Gabriel olhou desconfiado e friamente nos olho dela e perguntou: – Me responda uma coisa, se não quer me machucar, o que faz aqui? Quem é você e como sabe meu nome? – Disse que era para mim responder apenas uma coisa – sorriu a Oráculo ao caçoar das perguntas de Gabriel – Meu nome é Oráculo, sou a deusa do destino e também escolhida para ser sua guardiã – respondeu ela ainda com aquela tranquilidade que irritava Gabriel. De repente sem dizer mais nada, ela estendeu o cetro na direção da Gabriel e este produziu um tipo de energia que saiu de dentro da pérola, lançando-o na direção do peito de Gabriel fazendo com que ele fechasse suavemente os olhos e quando tornou a abri-los a mulher havia desaparecido dando a impressão que nunca estivera ali antes. Gabriel ficou se perguntando se tudo aquilo era real ou ele estava tendo alucinações, pois era muito surreal para estar acontecendo de 34


verdade. De repente ele olha para seu tênis e vê um pedaço de papel dobrado próximo a ele – curioso para ver o que continha aquele papel, se abaixou e o apanhou, em seguida desdobrou-o, nele estava escrito:

“Sei que pode parecer estranho, mas acredite Não foi um sonho! Eu realmente existo e estou aqui com a missão te tentar mudar o destino da humanidade, mas para isso você precisa se juntar ao lado certo, pois sozinho nunca conseguirá nada. Sei que fiz uma boa escolha, porém, Pense bem nas suas escolhas, elas podem salvar ou destruir a todos. Oráculo P.S.: Faça bom uso.” Ao ler o suposto pedaço de papel, Gabriel ficou imóvel, com a boca aberta, deixando o papel cair, pois ele não estava compreendendo nada que acontecia naqueles últimos minutos. A única coisa que ele conseguia pensar era: “Onde estou? O que essa mulher fez comigo? O que quis dizer quando mencionou ter-me liberto? O que significa “Faça bom uso”? 35


– tudo isso fazia com que Gabriel duvidasse ainda mais daquela realidade, o que ele não imaginava é tudo aquilo realmente estava acontecendo. Após ter se acalmado, Gabriel olhou em volta da casa de Diego e viu que tudo estava em seu devido lugar e não despertaria suspeitas, então rapidamente se dirigiu para a saída da casa, pois não conseguia mais ficar lá dentro depois do acontecido e também estava com medo de que seu amigo voltasse e visse que ele havia entrado em sua casa durante sua ausência, o que geraria uma conversa não muito agradável principalmente pelo clima que vem sendo a amizade entre os dois.

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A

o sair da casa de Diego, Gabriel sentiu uma sensação de alívio, pois do lado de fora podia se sentir

mais seguro. Entrou rapidamente em seu carro sem olhar para trás e foi até o supermercado comprar as coisas que sua mãe havia lhe pedido. O supermercado Walmart, o maior da cidade de Kindland e nacionalmente conhecido pela variedade de produtos e pela excelente estrutura que a sua rede oferece, era o mais frequentado pelos moradores da metrópole, ele era tão grande que seu estacionamento foi construído do outro lado da avenida, onde quem estivesse motorizado teria que atravessar a rua de qualquer modo para ter acesso a um dos dois locais. Gabriel deixou o carro no estacionamento e se dirigiu até a entrada principal do Walmart, passando pela porta de vidro automática, caminhou na direção dos carrinhos de compra e 37


apanhou um deles que ficavam logo na entrada – um dos menores já que a lista que sua mãe havia lhe dado não era tão grande. Começou então a caminhar pelos enormes corredores do supermercado. A lista de itens que a senhora Julia havia pedido para o filho comprar era: - 1 pacote de Farinha de Trigo - 1 caixinha de creme de leite - 1 caixa de cereal de milho - 2 bandejas (pequenas) de ovos - 2 detergentes (guaraná) - 2 potes de margarina (sem sal) Para facilitar seu trabalho, Gabriel decidiu seguir a lista exatamente na ordem que ela se encontrava para não correr risco de esquecer alguma coisa. Pois conhecia sua mãe e com certeza reclamaria pela desatenção do filho. Começando na sessão onde ficavam as farinhas, amidos, entre outros relacionados. Ele pegou o pacote de farinha mais próximo que encontrou colocando de imediato em seu carrinho. E assim foi indo, item por item, até concluir com os dois potes de margarina. Mesmo as-

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sim conferiu para ter certeza que não havia esquecido nada. Embora fosse uma quinta-feira de manhã, o supermercado estava bem movimentado, nele Gabriel pode ver pessoas conhecidas, como o prefeito de Kindland, o senhor Gilberto Sanches, o juiz Bill, entre outras pessoas que conhecia de vista que estavam em uma fila no caixa ao lado do seu, também aguardando para poder passar os itens que haviam comprado. Comprado tudo que a senhora Julia havia pedido, Gabriel apanhou as sacolas do caixa e se dirigiu para a saída do supermercado onde caminharia até o estacionamento para poder pegar seu carro. Quando atravessava a rua para ter acesso ao estacionamento, Gabriel sentiu uma forte pancada na cabeça o fazendo soltar as sacolas que segurava e apoiar suas mãos a cabeça para tentar amenizar a dor, mas de nada adiantou, a dor que estava sentindo era tão grande que ele começou a gritar agonizado. De repente uma caminhonete surge no horizonte vindo à direção de Gabriel em alta velocidade, porém o motorista estava desatento ao trânsito pois conversava em sue telefone celular. Gabriel ainda com muita dor, olhou para frente e viu o veículo se aproximando cada vez 39


mais rápido de si, mas não havia tempo dele correr, a dor que sentia era tanta que mal conseguia mover as pernas para andar. O destino era certo, morte na certa, mesmo assim por impulso de defesa, Gabriel esticou seus braços na direção da caminhonete como forma de proteger seu corpo – embora todos soubessem que mesmo assim isso não iria mudar o seu destino – a caminhonete estava a uns cinco metros de Gabriel, quando o motorista se deu conta que havia uma pessoa a sua frente , imediatamente ele acionou os freios do veículo, mas a caminhonete estava tão rápida que não havia distância o suficiente para livrar Gabriel da morte. Quando o veículo estava prestes a se chocar com o corpo de Gabriel – que ainda estava com as mãos contra a caminhonete, um enorme campo de força transparente, com faíscas azuis a envolveu, fazendo com que ela parasse de se mover e a levitando alguns centímetros acima do chão. A dor de cabeça de Gabriel havia desaparecido na hora, porém desta vez ele corria risco de ter um ataque cardíaco, pois seu coração começou a bater aceleradamente por estar muito surpreso e nervoso com o que estivera acontecendo pois não conseguia imaginar como aquele campo de força saiu de suas mãos. 40


Ele estava tão nervoso que sem saber o que fazer, jogou suas mãos para o lado esquerdo e a caminhonete se auto arremessou com o motorista dentro na entrada principal do supermercado estourando a enorme porta de vidro. Todos que passavam pela rua pararam para ver a caminhonete presa na entrada do Walmart, inclusive o prefeito que estava na multidão e viu Gabriel saindo nervoso do local. Para sua sorte ninguém – exceto o motorista – vira exatamente o que aconteceu, bastava torcer para que ninguém acreditasse nele e caso alguém perguntasse o que exatamente havia acontecido – Gabriel responderia que o motorista perdeu o controle do veículo quando tentou desviar dele e se chocou contra o supermercado. Para a sorte de todos, ninguém ficou ferido, o motorista que conduzia a caminhonete estava usando o sinto de segurança e levou apenas um susto, porém Gabriel estava muito nervoso e trêmulo, entrou rapidamente seu carro antes que alguém o parasse para fazer qualquer tipo de pergunta. Dirigindo para sua casa, Gabriel foi se acalmando aos poucos até que conseguia pensar mais tranquilamente e chegou a uma única explicação 41


– Tudo indicava que a misteriosa mulher que se dizia ser a Oráculo deu a ele superpoderes, mas a pergunta é: Por que ela faria isso? Gabriel chegou em casa tentando aparentar que estava tudo bem, para sua sorte, sua mãe não desconfiou de nada, ele então subiu rapidamente para seu quarto e não saiu de lá o resto do dia, ficou preso no computador pesquisando informações sobre a Oráculo, mas tudo que ele achava era apenas mitos e lendas e nenhuma delas com o perfil da mulher que apareceu para ele na casa de Diego naquela manhã. Afinal segundo a mitologia a Oráculo é uma divindade consultada onde o homem pode obter respostas das quais imaginaria, já a mulher que apareceu para Gabriel nessa manhã se dizia ser a deusa do destino, teoria que distorce completamente a mitologia e o deixava ainda mais confuso sobre tudo que aconteceu. Anoiteceu, a família Freitas jantava silenciosamente na sala de jantar quando o senhor Charlie, pai de Gabriel, quebrou o silêncio perguntando: – E aí filho? Decidiu já o que vai fazer após a faculdade? Não pode ficar naquela empresa o resto da sua vida. 42


– Ainda não sei pai – respondeu Gabriel convicto – Estou mais preocupado em terminar o curso, ainda tenho muito tempo para fazer meus planos após a faculdade. Mais uma vez o silêncio tomou conta da sala de jantar e eles continuaram a refeição. Após ajudar sua mãe a lavar a louça, Gabriel subiu para seu quarto novamente, escovou os dentes e foi se deitar, quando enfim pegou no sono, um pesadelo invadiu sua mente – Marcela estava sendo segura por alguém que Gabriel não conseguia identificar, ela pedia socorro para o namorado que apenas observava a cena, em seguida essa pessoa dispara com uma arma de fogo na cabeça de Marcela a fazendo cair falecida no chão – imediatamente ele acorda assustado, transpirando e gritando pelo nome de Marcela. Quando olhou em seu redor, viu os objetos e móveis do quarto flutuando, segundos depois, todos eles se firmaram no chão novamente, alguns deles fazendo um barulho, porém não tão forte o suficiente a ponto de acordar os pais de Gabriel que para sua sorte tinham sono pesado. Vendo que ficar acordado só iria piorar as coisas deixando-o ansioso e muito cansado no outro dia, ele decidiu tentar dormir novamente. 43


O sono veio após uns vinte minutos da nova tentativa e dessa vez pesadelo nenhum o incomodou. Chegou a esperada sexta-feira! Gabriel acordou ansioso, porém, dessa vez não teve problemas emocionais que atrapalharam seu sono. Descendo as escadas para ir até a cozinha tomar café, Gabriel viu um bilhete de sua mãe pregado na geladeira dizendo: “Querido, Estou na casa da tia Maria, Tem torradas dentro do micro-ondas, suco de laranja na geladeira e café na cafeteira. Seu patrão disse que não precisa ir trabalhar hoje novamente, parece que a empresa vai entrar de novo em greve. Qualquer coisa liga na casa da tia. Volto logo, Beijos, sua mãe.” Embora a notícia que a empresa entraria em greve animasse Gabriel, ao mesmo tempo o preocupava pois se ela fosse chegasse ir a falência ele perderia o emprego, mas isso ficou como assunto secundário para ele naquela manhã – sua preocupação era a respeito de Diego, e como não iria trabalhar naquele dia, decidiu segui-lo para tentar descobrir mais alguma in44


formação que complementasse o que ele tinha ouvido no telefone. Gabriel ainda se perguntava o que havia acontecido com ele na manhã passada e culpava a Oráculo por quase ter matado o motorista da caminhonete ao arremessá-lo junto do veículo contra o supermercado. Isso fez com que Gabriel sentisse medo dele próprio, pois não sabia quando esses poderes poderiam voltar. Após tomar seu café da manhã, com uma combinação de torradas com manteiga e suco de laranja, Gabriel foi até a garagem pegar seu carro para poder ir até a casa de Diego – naquela manhã Gabriel não pode assistir Mega Choque, pois se assistisse perderia a hora e não conseguiria executar sua missão, porém ele poderá assistir o episódio perdido pela internet no site oficial da série. Antes de entrar no carro ele ficou olhando seriamente para o veículo e pensava consigo mesmo: “E se eu entrar em meu carro e ele sair voando comigo dentro? E se eu machucar mais alguém?”. Mesmo com muito medo de acontecer mais alguma coisa misteriosa, Gabriel entrou no veículo corajosamente, deu partida e dirigiu até a casa de Diego para que pudesse segui-lo – se ele ainda estiver em sua residência. Gabriel estacionou o carro um pouco distante da casa 45


do amigo, porém conseguia visualizar perfeitamente o que se passava por aquela região, então permaneceu em silencio aguardando a saída de Diego. O tempo ia passando e nenhum sinal de Diego em parte alguma, Gabriel estava começando a ficar cansado de esperar. Faltava pouco para ele dar partida no veículo e retornar para sua casa. De repente, quando ele menos esperava, o inconfundível som do portão eletrônico da garagem se abrindo o fez voltar sua atenção novamente para a casa de Diego, instantes depois um veículo saiu da garagem e nele Gabriel conseguiu visualizar perfeitamente Diego, com seus cabelos castanhos e espetados aparentando haver nele uma tonelada de gel, olhos castanhos escuros e um pequeno cavanhaque, ele observava o redor da rua para ter certeza que não estava sendo vigiado – nesse momento Gabriel já havia abaixado a cabeça pois sabia que o amigo desconfiava fácil das coisas. Quando viu que Diego já não desconfiava de nada e nem mesmo percebera sua presença, ligou o veículo e saiu discretamente logo em seguida para não perdê-lo de vista. Após segui-lo por mais ou menos 15 minutos, Gabriel se deu conta que eles estavam na saída da cidade, pois passava pela ponte que 46


cruzava a represa Mongoli. Diego estava em alta velocidade, e passados alguns minutos Gabriel e ele estavam fora do perímetro urbano, mesmo assim Gabriel não desistiu e insistiu em segui-lo. Quando Gabriel menos esperava, o carro de Diego saiu da pista pegando uma estrada de terra, que ligava a uma pequena mata. Sem opção Gabriel teve que fazer o mesmo, o que ele não imaginava é que teria que desviar das árvores em alta velocidade para não perder seu amigo de vista. Rodado bastante floresta adentro, Gabriel avistou uma imensa espécie de cúpula metálica, parecendo uma esfera que tinha metade de seu corpo enterrado abaixo da terra, tinha provavelmente uns 8 metros de altura e brilhava muito conforme o sol refletia em sua superfície – não era a toa que ela estava em uma parte bem remota da cidade, quase impossível de se ver a longa distância por causa das árvores e o local que estava ninguém a encontraria. O carro de Diego chegava cada vez mais perto da cúpula, porém em momento nenhum reduziu a velocidade. Quando estava prestes a se chocar com a cúpula, uma misteriosa passagem se abriu e por ela Diego passou. 47


Gabriel vendo tudo aquilo ficou surpreso, pois segundos antes não havia nenhuma passagem ali, parecia que uma parte da cúpula se derretera criando uma passagem, então sem perder tempo, acelerou seu carro o mais rápido que pode para tentar entrar dentro daquela cúpula antes que a passagem se fechasse. De repente a passagem se fechou em questão de milésimos, Gabriel vendo que não tinha o que fazer, pisou com toda a força no freio do veículo o parando a alguns centímetros da cúpula. – Essa foi por pouco – suspirou Gabriel respirando ofegante e aliviado por não bater o carro. Vendo que não iria conseguir mais nada ficando ali, decidiu ir até a casa de Marcela e contar a ela tudo que aconteceu desde a manhã do dia anterior até o incidente da cúpula. Chegando à casa de Marcela, Gabriel desceu do veículo e tocou a campainha por três vezes seguidas até que a senhora Laura, mãe de Marcela e também sogra de Gabriel apareceu. Ao abrir o portão para que ele pudesse entrar, ela percebeu que o genro estava um pouco nervoso, e preocupada com seu estar perguntou: – Gabriel, você está bem filho? 48


– Estou sim senhora Laura – respondeu ele tentando disfarçar o seu verdadeiro estado emocional – por acaso a Marcela está? – Está sim querido, pode entrar, ela está em seu quarto com a Larissa – respondeu ela. Gabriel agradeceu sua sogra enquanto ela fechava o portão, ele se dirigiu até dentro da casa, onde caminhava rumo ao quarto de sua namorada. Chegando a frente da porta que separava o quarto do corredor, Gabriel deu dois toques na porta, instantes depois, ouvia-se a voz suave e irreconhecível de Marcela dizendo: – Entre! Gabriel girou a maçaneta, empurrou levemente a porta e entrou no quarto. Cumprimentou Marcela com um beijo rápido nos lábios e Larissa com um beijo na bochecha seguido de um leve abraço. Embora Gabriel quisesse aparentar que estava tudo bem, elas notaram sem dificuldade alguma que ele não estava bem. – Gabriel, o que houve? – perguntou Marcela diretamente mostrando que conhecia perfeitamente o seu namorado. – Tá legal, acho que vocês duas merecem saber! Tenho novidades! 49


– O que houve meu amor? – perguntou Marcela. – Já sei, é sobre Diego – complementou Larissa já sabendo que Gabriel concordaria com ela. Realmente foi o que ele fez! Gabriel começou a contar exatamente o que havia descoberto nesses últimos dias que se passaram, desde a secretária eletrônica na casa de Diego, até o incidente com a cúpula na floresta há alguns minutos antes dele se dirigir para a casa de Marcela. No princípio elas ficaram bravas com Gabriel pensando que ele estivesse zombando delas, principalmente no momento que ele disse que havia ganhado poderes especiais. – Gabriel, você está tirando onda da nossa cara não está? – perguntou Marcela com um o rosto fechado e uma expressão séria. – Vocês acham mesmo que eu viria até aqui para zombar de vocês com um assunto desses? – perguntou Gabriel respondendo sem dificuldades a pergunta anterior. Vendo que aquela conversa não levaria a nada e que as garotas não acreditariam facilmente no que ele estava dizendo, Gabriel decidiu convidar Marcela e Larissa para irem tomar 50


sorvete no centro da cidade, e naturalmente, elas aceitaram. Os três foram para a Sorveteria Paraíso Tropical, a sorveteria que vendia os melhores sorvetes da cidade. Sentados em uma mesa colocada na calçada em frente da sorveteria, os três conversavam sobre Diego e também sobre o misterioso general Crouth que Gabriel havia mencionado – e que ainda não convencia as garotas que ele estava falando a verdade – de repente eles começaram a ouvir sons de disparos vindos de arma de fogo próximos ao local que estavam, segundos depois conseguiram identificar que os tiros disparados vinham da arma de um bandido que fugia de uma perseguição policial e estava vindo nas suas direções, o que deixou os três preocupados e assustados. O carro que o bandido conduzia se aproximava cada vez mais da sorveteria, seguido de duas viaturas policiais. Gabriel, Marcela e Larissa vendo que o bandido estava cada vez mais próximo deles, se levantaram e ficaram observando ansiosos a perseguição. De repente um dos policiais que estava em uma das viaturas, apontou sua arma na direção do veículo em fuga e disparou convicto, acer51


tando o tiro no pneu esquerdo traseiro. O bandido que conduzia o veículo em alta velocidade perdeu completamente o controle no instante que o tiro que a arma do policial havia disparado perfurou a câmara de ar o estourando. Sem saber o que fazer, o bandido girou o volante na direção que Gabriel, Marcela e Larissa estavam. Em pânico Gabriel estendeu sua mão na direção do carro – repetindo o ato do supermercado – fechou seus olhos e gritou desesperado pensando que aquele momento seria o último de sua vida. Quando abriu os olhos novamente viu que ele e as garotas estavam envolvidos em um campo de energia semelhante ao que ele envolveu a caminhonete no dia anterior, porém quem estava dentro do campo dessa vez eram eles. O carro estava logo a sua frente, com a parte frontal toda amassada e liberando uma fumaça cinzenta por ter se chocado com o campo de energia, o bandido estava no bando do motorista, completamente zonzo, olhou ao seu redor por alguns segundos e em seguida desmaiou inclinando sua cabeça na direção do volante. Imediatamente ainda sem saber como fez, Gabriel desfez o campo de força antes que mais alguém visse o incidente, instantes depois as duas viaturas que perseguiam o bandido esta52


cionaram logo a frente dos três, dois deles foram na direção do bandido para imobilizá-lo, outros dois permaneceram nas viaturas e um deles foi até Gabriel, Marcela e Larissa e diretamente perguntou: – O que houve com o carro? – Não sabemos direito senhor policial – justificou Gabriel tentando fugir da verdade. – Ele perdeu o controle – complementou Marcela, passando a acreditar em tudo aquilo que Gabriel havia dito a ela e a Larissa O dono da sorveteria saiu logo em seguida preocupado com todo aquele tumulto, Gabriel, Marcela e Larissa pagaram a conta e deixaram o local antes que mais algum policial inventasse de fazer perguntas sobre o incidente, enquanto o dono da sorveteria tentava convencer os policiais a deixarem logo aquele local, pois todo aquele tumulto poderia prejudicar sua venda espantando os fregueses.

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A

o entrarem dentro do carro, Gabriel deu partida e iniciou o trajeto para levar Marcela e Larissa embo-

ra.

– E então, não vai nos dizer nada? – perguntou Marcela ansiosa não conseguindo permanecer em silêncio conforme Gabriel desejava. – Quer que eu diga o quê meu amor? Eu disse que tudo aquilo que aconteceu era verdade – respondeu ele sério e concentrado no trânsito. – Como você faz isso? – perguntou Larissa se interessando pelo assunto. - Nem eu sei explicar direito Lari, só sei que minhas mãos são capazes de produzir esses tipos de campos de energia. Mas e então, acreditam em mim agora?

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– ACREDITAMOS! – responderam as duas juntas compassadas olhando uma para outra com os olhos arregalados de tanta surpresa. Voltando para a casa de Marcela, a senhora Laura notando que todos estavam agitados preparou três copos de água com açúcar, um para cada. Quando todos estavam mais calmos, decidiram omitir o incidente acontecido e caso a senhora Laura perguntasse o que houve, responderiam que aconteceu um acidente próximo a sorveteria e eles se assustaram por testemunhar tudo. A senhora Laura vendo que os Gabriel, Marcela e Larissa queriam conversar em particular, deixou-os a sós e Marcela aproveitando a oportunidade, tentou: – Amor, se não estiver preparado para responder, não tem problema nenhum, mas eu preciso saber de uma coisa, como você usa esses poderes? Eu quero tentar ajudá-lo mas para que isso aconteça, vai depender de você. – Foi como eu disse antes de irmos para a sorveteria, depois que encontrei essa mulher misteriosa que dizia ser a Oráculo, coisas estranhas como esse poder começaram a acontecer comigo, mas não sei como produzir esses campos de energia quando quero, é repentino, a única coisa que sei é que nas duas vezes que 55


eles se produziram, foram nas únicas vezes que eu estava em perigo. – Não acham isso muito estranho? – perguntou Larissa complementando de maneira curiosa a resposta de Gabriel – Primeiro o Diego começa a agir de um modo que nós desconhecemos, depois o Gabriel vem com essa de poderes especiais, o que eu nunca vi em toda minha vida a não ser nos filmes de ficção do Steven Spielberg e do J.J. Abrams. – A Larissa tem razão – prosseguiu Marcela olhando profundamente nos olhos de Gabriel – isso pode ser um sinal, indicando que alguma coisa ruim está para acontecer. – Bom meu amor, quanto a isso não posso afirmar nada, pois ainda mal consigo acreditar que tudo isso está realmente acontecendo comigo. Marcela foi na direção de Gabriel e o abraçou fortemente e sussurrou em seu ouvido – Não importa o que aconteça, eu vou estar sempre contigo, pois eu te amo e quero o seu bem – em seguida ela se afastou e sorriu para ele. – Obrigado por tudo meu amor, mas agora eu preciso ir embora, não dormi bem essa noite e o sono está pesando em meu corpo... – Não quer que eu te leve no seu carro e depois volto de táxi? – sugeriu Marcela. 56


– Não se preocupe comigo, eu ficarei bem, já consegui me acalmar, só preciso descansar um pouco que devagar as coisas vão melhorando. Marcela se conformou que Gabriel iria embora sozinho, despedisse dele e em seguida o observou saindo pela janela de seu quarto, o vendo entrar em seu carro e instantes depois desaparecer ao virar a rua.

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N

aquele mesmo dia, os policiais que capturaram o bando em frente a sorveteria voltaram imediatamente para a delegacia – que por sinal estava num alvoroço tremendo por consequência de crimes excessivos. Sem perder tempo dois deles foram até uma sala que ficava no fim do corredor do primeiro andar, rodeado por várias portas, caminharam até entrar em uma que na sua frente havia uma plaquinha azul-escura com letreiro branco pregada informando ”Dr. Valdir Santana delegado de polícia”. Bateram na porta e em seguida entraram. Ao entrarem na sala, viram um homem com a cabeça baixa, bigodes grisalhos, cabelos brancos porém com uma falha careca no centro superficial da cabeça e parecia estar lendo alguma coisa. 58


– Dr. Santana? – interrompeu um dos policiais ansiosos para ver a reação do delegado. – Pois não Marcos? – respondeu ele inclinando tranquilamente a cabeça e olhando para os dois policiais. Os dois caminhavam em passo combinado na direção da mesa de Valdir Santana, puxaram cada um, uma cadeira e se assentaram. – O senhor se lembra do incidente com a caminhonete ontem no Walmart? – perguntou o outro policial olhando fixamente nos olhos de “Santana” – como preferia ser chamado. – Claro que eu me lembro James, várias pessoas me enchendo a paciência por causa disso dizendo que viram um homem arremessá-la. Besteira isso. – Chegaram a descrever o homem que poderia ter ocasionado isso? – Bom, me disseram que ele era alto, magro, cabelos escuros e saiu em um carro preto. – Bom doutor e se esse mesmo cara tivesse ocasionado a parada do bandido na sorveteria? Pois quando chegamos até ele, o bandido estava inconsciente com a frente do carro roubado toda amassada. – Pelo menos conseguiram o nome desse suspeito? 59


– Gabriel Freitas – responderam os policiais simultaneamente. Valdir Santana solicitou que os policiais entrassem em contato com Gabriel para que pudesse ouvir o que ele tinha a dizer, pois dois casos envolvendo carros danificados e ele estava presente nos dois locais, gerou grandes suspeitas por parte do delegado. Os policiais foram então até a recepção da delegacia onde iriam procurar em um dos computadores, pelo nome Gabriel Freitas onde pegariam seus dados e o localizariam. Depois de encontrados três pessoas cujo nome continha Gabriel Freitas, só conseguiram identificá-lo pois o reconheceram pela foto. “Gabriel Augusto Freitas Identidade: XX.XXX.XXX-X Rua Roosevelt No. 226, Jardim

Santa Monica Kindland” Os policiais não perderam tempo e se dirigiram para o endereço que o computador indicava. Ao chegarem lá, tocaram a campainha da casa e aguardaram alguns segundos até Gabriel sair para fora – tudo isso por volta das sete da noite. – Pois não? – perguntou Gabriel ansioso. 60


– Senhor Gabriel Freitas? – perguntou um dos policiais. – Sou eu mesmo! Desejam alguma coisa? – Eu sou o policial James – se apresentou um dos policiais – e esse é o policial Marcos, gostaríamos que o senhor nos acompanhasse até a delegacia. – Eu fiz alguma coisa errada? – perguntou Gabriel preocupado. – Não senhor, é que o delegado Santana deseja vê-lo. Gabriel viu que não tinha escolha e teria que acompanhar os policiais até a delegacia, então pegou seu carro e acompanhou a viatura escura, com as sirenes ligadas e escrito nos dois lados da porta Polícia Federal de Kindland. Chegando à delegacia, os policiais conduziram Gabriel para a sala do delegado Valdir Santana que já o aguardava. Quando os três pararam em frente a sala do delegado, os policiais bateram na porta e em seguida entraram – Gabriel seguiu logo atrás. Já dentro da sala, ao ver Gabriel, o delegado Santana sorriu e olhando friamente nos olhos dele disse: – James, Marcos, deixe-nos a sós – parou um instante até que os policiais saíssem – Senhor Freitas, sente-se, por favor. 61


Bastante nervoso Gabriel foi se aproximando com passos curtos, até que puxou uma das cadeiras próximas da mesa repleta de papéis do delegado e se sentou, em seguida apertou a mão do delegado o cumprimentando. – Aqueles dois policiais disseram que o senhor desejava falar comigo. – De fato sim, senhor Freitas, na verdade gostaria de lhe fazer algumas perguntas relacionadas ao incidente no Supermercado Walmart e na Sorveteria Paraíso Tropical. – O que o senhor gostaria de saber? – Bom segundo algumas pessoas que estavam próximas ao supermercado, o senhor usou poderes especiais contra a caminhonete, em minha opinião, besteira, mas sei que o senhor pode me explicar exatamente o que houve. Gabriel não sabia o que dizer, pois tinha medo de contar a verdade e acabar sendo chamado de louco, então disse a desculpa mais óbvia que veio em sua mente: – Na manhã de ontem senhor, eu estava atravessando a rua, porém não vi que a caminhonete estava vindo em alta velocidade na minha direção, o homem que a dirigia, para evitar uma tragédia, girou o volante na direção do supermercado e se chocou com a porta, eu fiquei nervoso e com medo de me envolver e 62


deixei o local antes que tudo aquilo virasse um tumulto e as pessoas começassem a me acusar. O delegado começou a então a acariciar seus bigodes grisalhos, duvidoso, após anotar as informações que Gabriel transmitia para ele. Em seguida perguntou sobre o incidente na sorveteria, Gabriel vendo que não tinha escolha, mentiu novamente dizendo que o bandido havia batido em um poste – já que o delegado não estava presente na hora do acontecido. Valdir Santana olhou profundamente nos olhos de Gabriel para ter certeza que ele não estava mentindo, porém este estava tão sério que ele não conseguia identificar nenhuma reação suspeita. Então o agradeceu pela sua atenção e o dispensou logo em seguida. Enquanto Gabriel saia da sala, o delegado ficou encarando-o até o último segundo. Quando finalmente saiu da delegacia, Gabriel sentiu uma sensação de alívio, pois ninguém havia suspeitado de nada, voltou para dentro de seu carro e seguiu caminho rumo a sua casa.

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G

abriel assistia ao último capítulo de Mega Choque que para ele foi o melhor de toda a série – Sombra se uniu a Mega Choque para que juntos destruíssem o perverso Príncipe do Crime que acabou sendo morto pelo mestre Harussamê que ao ver que iria ser preso cometeu suicídio. Gabriel viu na internet naquela mesma manhã que uma nova série começaria no próximo ano, onde Mega Choque liderará uma liga de super-heróis chamada de Liga Extraordinária dando sequência a série que foi um sucesso. Terminando de assistir, Gabriel tomou rápido seu café da manhã e aproveitando que era sábado, decidiu ir até a casa de Diego novamente com o objetivo de encontrá-lo lá dessa vez. Se aproximando da casa de Diego com o veículo, Gabriel notou que ele estava de saída, 64


pois estava na frente de sua casa, prestes a entrar em seu carro. Sem perder tempo, Gabriel buzinou para o amigo. Diego olhou assustado, pois não esperava aquela visita. Gabriel desceu do carro e caminhou na direção de Diego e sem cumprimentá-lo, foi direto ao assunto: – Precisamos conversar Diego! – Estou ouvindo – respondeu ele ríspido aparentando estar com muita pressa. – O que está acontecendo com você? Por que não sai mais com a gente? Por que não conversa mais com Larissa, que por sinal ainda é sua namorada, ou já se esqueceu disso? – Sinto muito Gabriel, mas não posso lhe dizer nada, você nunca entenderia – respondeu Diego diretamente, evitando estender aquela conversa desagradável. – O quê eu não entenderia Diego? Sobre o general Crouth eu não entenderia? – Como sabe do general? – perguntou surpreso, não esperando que Gabriel o mencionasse. – Eu simplesmente comecei a investigar você nos últimos dias para descobrir o motivo que fazia você agir estranhamente de algumas 65


semanas pra cá, pois eu ainda acredito que posso trazer o meu melhor amigo de volta. – Quem lhe deu o direito de se meter em minha vida? – perguntou ele nervoso, mostrando uma reação que Gabriel nunca tivera visto. – Três amigos de verdade, que estão muito, mas muito preocupados, pois as suas atitudes recentes não são atitudes do Diego que eu conheço. – Cala a boca e me escuta seu desgraçado! – gritou Diego silenciando Gabriel – Você contou a mais alguém sobre o general Crouth? – perguntou preocupado. – Contei sim, para Larissa e Marcela. – Seu idiota! Você acaba de condená-las e condenar você mesmo. – Diego, do que é que você está falando? – perguntou Gabriel com um mau pressentimento, encurtando o tom da voz. – Que você dizendo a elas sobre a existência de Ernesto Crouth você fará com que ele venha atrás delas e de você também. – Mas afinal, quem é esse general Crouth? – Ernesto Crouth é um antigo general que comandou o exército dos Estados Unidos há alguns anos atrás antes de ser banido por crimes contra a bandeira americana, foi procurado em mais de vinte países, é de origem austríaca, mas 66


domina o nosso português perfeitamente – respondeu Diego – Porém, se quer continuar vivo é bom ficar longe da minha vida e de meus problemas. Gabriel ficou surpreso com tudo aquilo que Diego acabara de revelar – seu amigo estava trabalhando para um criminoso procurado pelo mundo todo – então vendo que seria perda de tempo conversar com Diego, e muito mais perda ainda tentar dar lição de moral para ele, Gabriel o deixou ali sem dizer nada e voltou para seu carro. Quando deu partida, encarou o amigo com um olhar de decepção, pois aquela era uma atitude que ele nunca esperaria partir de seu amigo de infância. Sem dizer mais nada Gabriel voltou para sua casa, chegando lá, não deu nem tempo dele descer do veículo quando a senhora Julia o gritou – Querido! A Marcela ligou e disse que precisa falar muito com você! – Gabriel agradeceu sua mãe pelo recado e voltou para o veículo, aonde iria até a casa de Marcela conversar. Se aproximando da casa de Marcela, Gabriel avistou uma pessoa sentada na frente da casa – uma mulher para ser mais exato – estava sentada na calçada com a cabeça baixa, porém não se podia identificar de longe pois os lisos 67


cabelos estavam encobrindo o rosto. Gabriel parou o carro próximo a mulher e ao descer do veículo notou que era Marcela que ali estava. Rapidamente ele correu em sua direção e viu que ela estava chorando. – O que houve meu amor? – perguntou preocupado com o estado de sua namorada. Marcela levantou a cabeça lentamente e olhou para Gabriel, instantes depois ela se levantou, ficou um pouco mais calma e o abraçou. – Amor, você se lembra daquele general Crouth que você mencionou ontem no meu quarto enquanto nos contava sobre as coisas que tinha descoberto? – Claro que me lembro querida, o que houve? – perguntou ansioso pela resposta. – Andei pesquisando sobre ele no Google e descobri que ele é procurado em mais de vinte países e as autoridades do estado desconfiam que ele esteja liderando uma base de armamento ilegal em Kindland. – Merda! Isso explica a cúpula impenetrável! Mas amor me diga, por que está chorando? – Porque eu estou preocupada com Diego, depois que você me disse que ele parece estar envolvido com esse cara, me passou pela cabeça 68


que Diego se tornou um membro dessa base, ou seja, um criminoso. Observando o estado de Marcela e vendo que ela estava muito agitada, Gabriel decidiu omitir o encontro que ele tivera com o amigo minutos antes, e procurou acalmá-la para poder levá-la para dentro de sua casa. De repente, uma voz misteriosa – feminina – e próxima deles disse: – Gabriel! Vire-se! Gabriel já tivera ouvido aquela voz antes, mesmo assim estava tentado a se virar e descobrir quem era então Marcela e ele se viraram e se depararam com a mulher que se dizia ser a Oráculo. Os dois ficaram impressionados com a sua aparição, ainda mais Marcela que nunca a tinha visto – ainda bem que os pais de Marcela não estavam em sua residência, pois se vissem a mulher envolvida por uma luz branca e brilhosa ainda mais com aquelas vestes estranhas, com certeza teriam desmaiado de susto. Marcela ficou pálida, imóvel como se estivesse vendo alguma coisa muito assustadora, porém ela não gritava nem dizia uma palavra sequer. A Oráculo sorriu para ela e disse: – Fique calma minha jovem! Não estou aqui para machucá-la! 69


Minha missão é de paz! Sou a deusa Oráculo. Mas de nada funcionou, a Oráculo mal terminou de dizer aquelas palavras e Marcela desmaiou, caindo nos braços de Gabriel. – Ela vai ficar bem – respondeu a Oráculo sorrindo para ele. Gabriel segurou Marcela em seus braços e pediu explicações a Oráculo, que com a tranquilidade de sempre, explicou a ele que os poderes foram dados, pois ele foi o escolhido para impedir o plano de Ernesto Crouth, que tinha por objetivo explodir a metrópole de Kindland com super bombas nucleares construídas por Diego e pelo próprio Crouth, tudo isso para impedir que uma profecia que o general temia há anos acontecesse. –... E não se esqueça Gabriel, esses poderes só irão funcionar quando você realmente precisar usá-los e, por favor, use-os para o bem da humanidade, pois todos dependem de você. Ao dizer essas palavras, um clarão de luz pairou sobre a Oráculo fazendo com que ela desaparecesse em questão de segundos. Em seguida, Gabriel levou Marcela para dentro de sua casa a deitando em sua cama e deixando em seu criado mudo um bilhete dizendo: 70


“Meu amor, Mil desculpas por não poder esperar que acordasse, mas tive que resolver umas coisas. Me ligue mais tarde quando acordar para que eu te explique exatamente o que aconteceu. Espero que me compreenda. Amo Muito você, G. Freitas” Chegando em sua casa, Gabriel decidiu contar a seus pais que ele havia ganhado super poderes, a primeira impressão que eles tiveram quando o filho lhe revelou a verdade, foi que ele estivesse ficando louco ou drogado, porém quando Gabriel começou a explicar claramente as coisas, eles perceberam que ele falava a verdade e ficaram impressionados com tudo que estavam ouvindo. Quando Gabriel terminou de contar a história, seu pai lhe fez prometer diante dele e sua mãe que em hipótese alguma ele iria tentar provar nada a ninguém enfrentando Crouth e Diego. – Pai, me desculpe, mas infelizmente eu não posso prometer isso ao senhor, o Diego é meu melhor amigo e eu não vou deixá-lo estragar a vida por causa de ganância e dinheiro, se realmente foi isso que o fez se juntar ao general 71


Crouth, e outra, não vou permitir que Kindland corra perigo só porque um velho desgraçado e louco quer explodir toda cidade. Os pais de Gabriel compreenderam que o filho só queria o bem de todos, então mesmo não concordando psicologicamente com tudo aquilo, apoiaram e motivaram o filho dizendo que tudo ia terminar bem, deixando Gabriel mais otimista. Naquela mesma noite, Gabriel pesquisou na internet tudo sobre o general Crouth e segundo os outros países, pelo qual ele passou, o general possui um exército com mais de cem homens de diversas regiões do mundo, todos eles treinados para matar. Pesquisando, Gabriel também descobriu que Ernesto Crouth não é da Áustria, mas sim da Grã-Bretanha e sua missão era de preparar soldados para uma guerra que ele crê que se aproxima - porém essa guerra não foi detalhada no artigo só dizia que após ter um exército forte, houve boatos ele se instalou no Brasil, em Kindland para poder executar seu plano. O que de fato era verdade! Gabriel ao ler tudo aquilo chegou a uma conclusão: “Diego só sai da base de Crouth sem vida” – o que o preocupou ainda mais. 72


G

abriel acordou em cima da escrivaninha de seu computador, pelo visto o cansaço era tanto que ele mal conseguiu chegar à cama, então decidiu adormecer por ali mesmo frente ao computador. Trocou de roupa rapidamente, desceu as escadas e foi até a cozinha tomar café, quando cruzou a porta viu Larissa, séria, sentada a mesa esperando por ele. – Bom dia Gabriel! – respondeu ela se levantando – Me desculpe por ter entrado sem avisar, mas eu vi que a porta estava aberta e decidi esperar por você aqui dentro. – Imagina Lari, você sabe que é de casa! Mas o que faz aqui tão cedo? – Precisamos conversar! Eu não aguento mais sofrer desse jeito Gabriel!

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– Como assim Larissa? Aonde você quer chegar? – perguntou Gabriel ainda em dúvida da resposta que Larissa daria a ele. – Eu andei pensando bastante nesses últimos dias e achei melhor terminar meu relacionamento com Diego, para o bem de nós dois – respondeu ela começando a chorar – do jeito que as coisas estão indo não dá mais. – Mas o que está dizendo Larissa? Pelo amor de Deus, preste bem atenção no que eu vou lhe dizer, por tudo que é mais sagrado, não faça isso, você o ama e sei que o Diego também te ama, ele só está passando por um momento confuso na vida. Por favor, não me decepcione, pense bem antes de tomar qualquer decisão. As palavras de Gabriel deixaram a cabeça de Larissa mais confusa do que estava, pois ela já pensava em não terminar – pelo menos até que as coisas se acalmassem – e pensando por alguns segundos ela chegou em uma decisão: – Gabriel, eu concordo em tentar ajudá-lo, porém, isso não significa que o meu namoro com Diego continuará, vamos nos acertar e ver até onde podemos chegar. Gabriel agradeceu Larissa e em seguida a abraçou. Larissa ficou para tomar café junto com Gabriel, em seguida ela se despediu, pois tinha 74


que ir até o laboratório de seu pai ajudá-lo em uma pesquisa que ele estava realizando. Gabriel ainda inquieto pelas coisas que descobriu, decidiu agir, porém não disse nada a Larissa. Terminou de tomar seu café e foi imediatamente para a delegacia de Kindland onde contaria ao delegado Santana toda a verdade com o objetivo de conseguir sua ajuda. Chegando à delegacia, ele se deparou com os policiais James e Marcos, imediatamente pediu que eles o levassem até o delegado. Ao entrar em sua sala, Gabriel viu Santana sentado em sua cadeira assinando alguns documentos, pediu licença e se aproximou da autoridade. – Senhor Freitas, o que traz sua honrosa visita em pleno domingo? – Precisamos conversar sobre alguns incidentes que aconteceram. – Sou todo a ouvidos – respondeu o delegado voltando sua atenção toda para Gabriel. Gabriel começou a explicar detalhadamente o que realmente aconteceu exceto a questão de seus superpoderes, pois mencionando isso, o delegado certamente iria achar que ele estava louco e o internaria na mesma hora em um sanatório. Após dizer tudo que sabia sobre a base de armamento de Crouth, o delegado sorriu ironicamente. 75


– Tá legal Gabriel, vamos chamar os G.I. Joe para nos ajudar nessa missão e desfazer de uma vez essa base – respondeu ele zombando do que Gabriel acabava de dizer. – Senhor Santana eu não estou brincando, se nós não agirmos rápido, Kindland será reduzida a pó, o general Crouth está determinado a explodir essa cidade e se isso acontecer não teremos chance alguma. – Espere, espere o que você disse? – perguntou mostrando um interesse ainda maior no que Gabriel dizia a ele. – Que se não agirmos logo nossa cidade... – Gabriel respondeu, porém foi interrompido pelo delegado. – Não é isso, me refiro ao nome que você mencionou? – Ah! O general Crouth? – Gabriel, por acaso está se referindo a Ernesto Crouth? – Ele mesmo senhor! – respondeu Gabriel querendo saber como Valdir Santana ouvira falar dele – Conheceo? O delegado apresentou em seu rosto uma expressão de quem estava furioso e deu um forte soco em sua mesa fazendo com que os do76


cumentos que estavam sobre ela dessem um pequeno salto para cima, em seguida disse: – Aquele desgraçado! Então ele realmente voltou com essa ideia maluca? Gabriel, nós vamos invadir essa tal base e você será o encarregado de guiar eu e meus homens até ela. – Tudo bem delegado, concordo com o senhor, porém de princípio acho melhor irmos apenas o senhor e eu para que possamos analisar o espaço dessa base. Segundo uma pessoa esse general é muito perigoso. – Como quiser Gabriel – respondeu o delegado ainda nervoso – mas depois disso convocarei minha equipe de invasão especial para que possamos atacar o local e deter Ernesto Crouth. Gabriel deixou seu carro no estacionamento da delegacia, onde ele e o delegado foram com uma das viaturas policiais da delegacia. Gabriel lembrava perfeitamente o trajeto, saiu do perímetro urbano e cruzou a ponte da represa Mongoli. Quando estavam na pista já fora da cidade o delegado sorriu e comentou: – Por isso que nunca vimos nada de suspeito, o maldito construiu sua base em uma parte bem remota da cidade. Gabriel cortou o caminho pelo qual Diego havia cortado naquela manhã, e no meio da floresta procurava pela 77


cúpula prateada, porém não encontrava o local. De repente avistou em uma parte da floresta um lugar que não havia árvores, como se tivessem sido arrancadas e levadas para outro lugar, porém uma gigantesca cratera se encontrava naquele local, rapidamente parou o carro onde ele e o delegado desceram e correram na direção da cratera. – Era aqui! – respondeu Gabriel preocupado. Valdir Santana furioso. – Mas como moveram uma base daquele tamanho? – Crouth é um homem esperto – respondeu Santana – ele sempre encontra alguma maneira de conseguir as coisas. De repente uma forte luz esverdeada saiu do centro da cratera formando uma projeção digital na frente de Gabriel e Santana, que instantes depois, fez surgir a seguinte frase: Saudações Gabriel, enfim descobriu onde é a minha base, mas sou mais esperto do que você! E agora? Como fará para me encontrar se não sabe para onde levei a base? Recomendo que faça isso antes dos meus soldados ENCONTRAREM A VOCÊ E AO DELEGADO. Lembre-se, o ESCATHOS está próximo. 78


Segundos depois de Gabriel e Santana lerem a mensagem, o projetor que a exibia desapareceu diante de seus olhos deixando apenas a cratera e a visão do céu com algumas árvores que dificultavam sua visão. – Maldição! – resmungava o delegado inconformado – Ele sabia de tudo! Bem que eu desconfiei que estava fácil demais. – E o que vamos fazer agora delegado? – Bom, nossa última esperança é encontralo e lutar já que nosso plano foi por água abaixo! Perdi a chance de prender o homem que cacei por toda a minha carreira profissional na polícia. – Mas senhor, por que essa obsessão em prender Ernesto Crouth? Afinal, seus crimes não foram cometidos em Kindland, com exceção desse que está preste a ser executado. – Sinto muito Gabriel, mas são assuntos pessoais que envolvem meu passado e prefiro não tocar nesse assunto, pelo menos não agora. Gabriel desconfiou que o delegado escondia algum segredo e não queria compartilhar, mesmo ele servindo de ajuda na procura do general. 79


Sem saber o que fazer Gabriel então sugeriu: – Já sei o que podemos fazer senhor! Como não temos chances nenhuma com as forças de Crouth, o que acha de recrutarmos membros e formarmos um grupo de Forças Especiais de agentes treinados e determinados a se dedicarem na perseguição e captura de Ernesto Crouth? – Sabe Gabriel, você tem umas ideias malucas, porém eu gostei do plano. Posso convocar meus agentes, mas esse nosso grupo precisaria de um nome, como o chamaremos? Crouth Force? – perguntou o delegado em um tom sarcástico, porém mostrando interesse na ideia que Gabriel acabava de apresentar. – Eu gostei de Escathos. – Escathos? Por que Escathos? – Porque foi esse nome que Crouth mencionou no final da projeção – “... Lembre-se, o Escathos está próximo.” – Daí eu pensei em: Escathos: Forças Especiais. – Sua ideia é ótima Gabriel, mesmo eu não sabendo o significado dessa palavra, porém esquecemos de um detalhe: Não sabemos para onde Crouth migrou-se, ele deve estar escondido em uma parte bem remota de Kindland, nunca vamos encontra-lo, não em uma cidade 80


desse tamanho, é como procurar uma agulha no palheiro – resmungou o delegado já conformado que poderiam não obter sucesso na missão que planejaram. – Quanto a isso não se preocupe delegado – respondeu Gabriel com tranquilidade e confiança – deixe essa parte sob minha responsabilidade enquanto o senhor fica encarregado de reunir os membros da equipe. Sei de uma pessoa que pode me dar as informações que preciso – referiu-se ele a Diego, porém em momento nenhum mencionou o nome do amigo. Santana aceitou a ideia de Gabriel, porém pediu que ele agisse discretamente, pois o delegado poderia perder o cargo por estar executando uma missão que ultrapassa o limite de sua autoridade. Gabriel acompanhou o delegado de volta até a delegacia para que pudesse pegar seu carro e voltar para sua casa. A primeira coisa que fez quando retornou a sua residência foi ir para a frente do computador, onde no Google, digitou “Escathos”, pois embora seu nome fosse chamativo, Gabriel desconhecia o seu significado e estava curioso para saber mais sobre essa palavra.

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Instantes depois, após procurar em dicionários on-line, descobriu que significava “Fim dos Tempos, Apocalipse”. Bendita seja a Wikipédia – comemorava Gabriel por conseguir mais uma informação que precisava. Ao descobrir o significado, Gabriel aplicou a tradução para o português na frase projetada no final da mensagem de Crouth na cratera dentro da floresta: “Lembre-se: O Escathos está próximo”, formando: “Lembre-se: O Apocalipse está próximo”. Gabriel arregalou os olhos frente ao computador surpreso com o que acabara de descobrir, provavelmente Crouth queria dizer que o mundo está prestes a acabar – pelo menos foi o que Gabriel concluiu. Sem perda de tempo ele foi a casa de Marcela.

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G

abriel explicou claramente para Marcela a real situação, ela parecendo não acreditar que Diego realmente estava envolvido com um criminoso, começou a sorrir de maneira irônica dizendo: – Ele é um idiota! Teve tudo que sempre precisou: amigos, família, carinho, uma namorada que o ama muito e mesmo assim preferiu se juntar a esse criminoso, sinceramente eu não entendo o que se passa na cabeça de uma pessoa assim, às vezes penso que essas atitudes são consequências de um passado sofrido, porém, que eu saiba, Diego sempre teve tudo que quis. Gabriel ficou pálido naquele instante, como se alguma coisa o assombrasse. – Não pode ser o que estou pensando – pensou alto.

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Marcela olhou nos olhos congelados de Gabriel e preocupada começou a chacoalhá-lo, porém ele parecia não dar atenção, ela gritava e mesmo assim parecia que ele estava em outro mundo, Marcela então olhou diretamente nos olhos ele e disse: – Gabriel, preciso que me diga, o que você sabe? Gabriel finalmente voltou ao seu estado normal, porém parecia estar bastante aflito. Então olhou para Marcela e disse: – Diego, desde criança, foi muito obsessivo e orgulhoso, certa vez, quando tínhamos se não me engano doze anos, eu e eles brincávamos no jardim da casa que eu morava, lá havia um formigueiro e Diego começou a matá-las atirando fogo contra elas e ele disse uma coisa que marcou muito naquele dia “Meu sonho é ter poder, um poder que nem mesmo os humanos possam me superar, assim como as formigas não me superam nesse momento, vê? Elas temem a mim”. Eu olhei pra ele e disse que às vezes, o poder pode trazer sérias consequências, como voltar para si mesmo, pois muitas pessoas que abusaram de seu poder acabaram se matando por não conseguir mais controlá-lo, uma delas foi Adolf Hitler.

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– Qual foi a reação dele? – perguntou Marcela tentada a saber do passado de Diego e Gabriel e surpresa por ouvir aquilo. – Ele me empurrou dizendo que eu era um idiota, eu caí contra o formigueiro e as formigas me machucaram, seus pais vieram em casa e pediram pra ele pedir desculpas a mim, ele disse que apenas um fraco pediria desculpas a alguém, porém éramos crianças e logo depois fizemos as pazes, porém só agora eu percebo que tudo que Diego no passado refletem no que ele se tornou hoje, ele não estando satisfeito com a vida que tem, se juntou a esse general Crouth tentando obter o tão cobiçado poder que ele queria. – Meu Deus – lamentou Marcela – Nunca esperaria uma atitude dessas vindo de Diego. – E eu que o conheço desde criança? – perguntou Gabriel em tom de lamentação – Nunca imaginei que essas coisas que Diego falava, permaneceram em sua cabeça todos esses tempos, pois até eu tinha sonhos no passado, porém conforme nós amadurecemos a maioria deles desaparecem. Marcela se segurou, porém não conteve as lágrimas que escorriam de seus olhos, Gabriel a abraçou fortemente e sussurrou em seu ouvido direito: – Eu ainda não desisti de salvá-lo. 85


Ela olhou em seus olhos e o beijou, instantes depois o celular de Gabriel começa a tocar, ele pega o aparelho nas mãos e vê quem o número de quem estava ligando, era o delegado Valdir Santana, rapidamente pediu uma licença rápida para Marcela e atendeu. O delegado queria que Gabriel desse uma breve passada na delegacia para que os dois discutissem um pouco mais sobre a operação. Gabriel compreendeu perfeitamente e disse que em uma hora no máximo ele estaria lá. Quando desligou o telefone, Marcela colocou suas mãos suaves e macias no rosto de Gabriel e disse: – Tô preocupada contigo. Gabriel sorriu para ela, deu um leve beijo em sua testa e respondeu: – Fique tranquila meu amor, vai tudo acabar bem se Deus quiser. – Me promete uma coisa? – O quê? – perguntou Gabriel ansioso. – Que nunca vai me abandonar? Gabriel sorriu para ela e com a superfície do dedo polegar, acariciou sua rosada bochecha e respondeu: – Eu nunca vou deixá-la, vou estar sempre contigo, como dizem os contos de fadas, para todo o sempre. 86


Marcela o abraçou e sussurrou no ouvido de Gabriel – Eu te amo – Ele sorriu e respondeu – Também te amo. Gabriel se despediu da namorada e foi até a Delegacia de Polícia de Kindland. Chegando ao distrito policial, ele entrou, perguntou ao policial Marcos que conversava com outro policial chamado Estevão onde Valdir estava e com o indicador esquerdo, Marcos apontou para o corredor mais próximo dizendo – Em sua sala – Gabriel agradeceu e seguiu rumo ao corredor que o levaria até o delegado Santana.

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E

ntrando na sala do delegado, Gabriel pediu licença e caminhou até a enorme mesa da autoridade, viu em sua mesa uma lista com vários nomes, todos eles de homens. Gabriel tentando adivinhar do que se tratava se sentou olhando para a folha e perguntou se os nomes que ali estavam escritos eram dos homens já recrutados para a missão de Escathos. – Exatamente – concordou o delegado – porém precisamos de mais homens ou não teremos chance alguma contra Crouth, acho que em dois dias consigo concluir nosso grupo – concluiu Santana olhando para Gabriel que procurava na lista algum nome de conhecido, porém nunca tivera visto nenhum daqueles nomes ali escritos em toda sua vida. – Mas senhor, por que o senhor me chamou até aqui? – perguntou Gabriel inquieto 88


sem saber sobre que assunto o delegado Santana gostaria de conversar. – Sabe Gabriel, uma coisa me deixou inquieto desde nossa última conversa, você disse que conseguiria informações com uma pessoa que nos levariam até a base de Ernesto Crouth, e eu não pude deixar de me perguntar, quem é essa pessoa que você mencionou no último encontro? Aquele momento fora um dos piores de Gabriel em toda sua vida, pois ele não sabia se entregava o amigo perdendo todas as chances de ajudá-lo a voltar para o lado certo, ou trairia a confiança do delegado que se dispôs a ajudálo em uma missão que outra pessoa provavelmente não ajudaria, contando uma mentira e salvando o amigo de ir preso. Gabriel pensou bem antes de dar uma justificativa ao delegado e então, respirou profundamente e disse: – Senhor, o que eu vou lhe dizer fica entre nós. – Estou ouvindo! – Meu amigo Diego por um motivo que até mesmo eu desconheço, se juntou a esse general para ajudá-lo a construir essas bombas, porém eu gostaria de pedir que o senhor me ajudasse a trazê-lo de volta para o nosso time. 89


O delegado sacudiu a cabeça negativamente e com um olhar de quem estava muito decepcionado, olhou para Gabriel e disse: – Podia ter me contado isso antes, se tivéssemos prendido e interrogado seu amigo, Crouth provavelmente já estaria atrás das grades – disse o delegado Santana decepcionado por Gabriel ter escondido a verdade dele - Não garanto que seu amigo estará livre da prisão caso concluirmos a missão, porém Gabriel, porém, eu prometo que farei o possível para ajudá-lo, desde que isso fique entre a gente, pois mesmo você me decepcionando, é a única pessoa que pode me ajudar a solucionar esse caso e dar sossego em minha vida. Gabriel agradeceu ao delegado, pois agora sabia que podia contar realmente com uma autoridade de confiança para tentar ajudar a recuperar seu amigo. Ao sair da delegacia, ele não perdeu tempo e foi até a casa de Diego. Vendo que o carro estava na garagem, concluiu que o amigo também estivesse lá. Gabriel empurrou o portão com toda a força e foi em direção da porta que tinha uma pequena brecha aberta, indicando que não estava trancada. Gabriel parou diante da porta e pela brecha avistou o amigo. Diego aparentava estar 90


conversando ao telefone, provavelmente falando com o capitão Crouth, pois se dava a impressão que ele sussurrava com a intenção de ninguém ouvir. Gabriel apresentou naquele instante uma reação de fúria, pois sua cara fechouse naquele instante e por um simples impulso de raiva, ele empurrou a porta e foi na direção de Diego puxando o telefone de suas mãos e arremessando-o contra a parede o quebrando. – Acabou Diego! Acabou! – gritou Gabriel olhando para o amigo que olhava para ele com os olhos arregalados e em seguida vendo os pedaços de telefone espalhados pelo chão da casa. Furioso, e ao mesmo tempo com um sorriso irônico, Diego voltou seu olhar para Gabriel, assustado pela reação que jamais imaginava do amigo e respondeu: – Você enlouqueceu né Gabriel? Além de entrar em minha casa sem autorização, tem a ousadia que puxar o telefone de minhas mãos e arremessá-lo na parede? Quer saber, pra mim já chega, isso é um absurdo, vou chamar a polícia. Gabriel vendo que embora Diego estivesse aparentando dizer a verdade, ao mesmo tempo ele temia que alguma coisa ruim pudesse acontecer e aproveitando da situação, respondeu: 91


– Isso mesmo Diego, faça isso, comunique as autoridades e poupe- me o trabalho de levar você até eles, mas de qualquer maneira o delegado Santana dará um jeito de encontrar você. – Do que está falando? Não me diga que teve a capacidade de envolver a polícia nisso? – perguntou Diego começando a ficar mais preocupado com sua situação. – Envolvi! Pra mim dane-se o que o capitão Crouth irá fazer por causa disso, quero mais que ele vá para o inferno! Só sei que o círculo se fechou para seu lado Diego, se continuar agindo dessa forma, vai criar problemas para si próprio, porém ainda há tempo de voltar atrás e decidir de que lado realmente você está. – Desgraçado! - respondeu Diego com o rosto avermelhado de raiva – O que quer de mim? – Tirando tentar ajudar você? Eu quero a verdade Diego! Quero saber para onde é que Ernesto Crouth levou sua base, para que possamos pegá-lo e salvar a sua vida e a de milhões de pessoas inocentes que moram nessa cidade. Diego abaixou sua cabeça e deu as costas para Gabriel, e com uma voz melancólica, como se nada mais importasse para ele, respondeu: – Saia da minha casa, agora! 92


– Não posso Diego, você está ficando louco e precisa de tratamento, deixe-me levá-lo no Sanatório de Kindland para que possam ajudálo. – Sanatório? Eu acho que não! – respondeu Diego sorrindo, instantes depois Diego retirou de seu bolso um canivete e com uma incrível rapidez cravou na coxa de Gabriel que caiu no chão se contorcendo de dor. – Sabe Gabriel, acho que quem precisa de ajuda agora é você, mas não de um sanatório, mas sim de um hospital – respondeu Diego sorrindo para Gabriel que se contorcia de dor na perna. – O que você está fazendo consigo mesmo Diego? – respondeu Gabriel fraquejando e apoiando as mãos na perna afetada. – Desculpe fazer isso com você Gabriel, mas não me deixou escolha, eu tentei de todas as formas possíveis fazer com que você não se envolvesse em meus problemas, me afastei de todos para não machucá-los, mas mesmo assim você insistiu. Adeus, velho amigo. Diego deixou Gabriel esticado no chão com a perna ensanguentada enquanto caminhava para a saída. Com muita dificuldade, Gabriel fez um esforço para retirar o celular que estava no bolso 93


de sua calça cuidadosamente sem que seus compridos dedos tocassem no canivete cravado que estava bem próximo do bolso evitando agravar a dor que sentia naquele momento. Quando finalmente estava com o telefone em mãos, telefonou para o delegado Santana para explicar o que havia acontecido e pedir sua ajuda, porém para seu azar o delegado não atendia ao telefone naquele momento, provavelmente estava resolvendo algum problema. Gabriel se levantou gemendo de dor e retirou aos berros o canivete de sua coxa, o atirando no chão, em seguida foi até o banheiro da casa de Diego e apanhou a toalha de rosto que estava pendurada próxima ao lavatório a amarrando bem forte em sua perna para conter o sangramento. Sem perder tempo, Gabriel saiu da casa de Diego mancando e com muita dor, porém se esforçou ao máximo para chegar até seu carro e em seguida se dirigiu para a delegacia.

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e aproximando cada vez mais da delegacia, Gabriel viu um alvoroço em sua frente e parou o carro por ali mesmo. Preocupado ele avista o policial James e pergunta a ele: – James? O que houve? – Roubaram um helicóptero de nossas instalações! O Dr. Santana está furioso – respondeu ele preocupado. – E onde está Santana? – perguntou Gabriel. – Está no telhado, mas é melhor não ir até lá – alertou James – ele expulsou todo mundo que tentou falar com ele. Gabriel não deu ouvidos aos conselhos de James e sem perder tempo foi até o telhado da delegacia onde avistou Valdir Santana sentado na beira do telhado onde o que dividia o prédio e a rua era a altura.

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Gabriel se aproximou do delegado e perguntou: – Não está pensando em se matar está? O delegado sorriu e respondeu: – Quem me dera acabar com todos os meus problemas, mas tenho uma família e não posso abandoná-los, só estou aqui pensando se eu realmente sou uma autoridade competente o suficiente a ponto de permitir que roubem um helicóptero do meu setor administrativo. – Não diga isso senhor, todos nos sabemos que o senhor é um homem de grandes conquistas, o senhor tirou Kindland de uma situação onde todos pensaram ser o fim, portanto não julgue seu trabalho em apenas um ato – sorriu – Até mesmo os grandes homens erram. – Você tem toda a razão Gabriel! – respondeu ele se afastando do abismo – Sabe, você tem sido não só um cara que tem me ajudado com meu trabalho, mas também vem sendo um ótimo amigo. – Obrigado senhor, venha, vou levá-lo para sua sala. Gabriel levou o delegado para sua sala onde deu a ele um copo d’água e ansioso por saber o que havia exatamente acontecido, perguntou: 96


– Senhor, agora que está mais calmo, pode me dizer quem invadiu o distrito e roubou o helicóptero? O delegado respirou fundo e colocou o copo de água que tomava sobre a mesa. – Gabriel, quem roubou o helicóptero foi aquele seu amigo Diego, ele soltou bombas de gás no departamento de transporte e se apoderou do helicóptero enquanto meus homens estavam inconscientes. – Por acaso vocês possuem mais um helicóptero? – Sim, temos mais quatro se não me engano, por quê? – perguntou o delegado sem saber aonde Gabriel queria chegar. Gabriel então sugeriu que eles utilizassem um dos helicópteros disponíveis para encontrar Diego, pois a única maneira de capturá-lo seria pelo ar. O delegado rapidamente concordou e os dois foram para o departamento de transporte do prédio onde pegaram um dos helicópteros disponíveis. Enquanto Santana ligava o helicóptero para poderem voar, Gabriel, assustado perguntou: – Já pilotou um bicho desses antes delegado? – perguntou Gabriel com medo de altura. 97


– Não se preocupe, ganhei pontuação máxima no simulador de Vídeo Game. – Vídeo Game? Meu Deus – respondeu Gabriel assustado e arregalando os olhos de nervosismo. Enfim o helicóptero saiu do ar! O helicóptero sobrevoava o centro da cidade tranquilamente em busca de Diego e talvez, se dessem sorte, o misterioso e procurado Ernesto Crouth. De repente o rádio transmissor de comunicação do helicóptero começou a apitar, Santana imediatamente o colocou no viva voz pois imaginava que deveria ser alguém do distrito querendo lhe informar alguma coisa. Quando ele apertou o botão vermelho para que o rádio transmissor emitisse som uma voz meio rouca e masculina aparentando ser de uma pessoa já velha começou a dizer: – Valdir Santana e Gabriel Freitas, finalmente poderei falar diretamente com vocês! Aqui quem fala é o General Ernesto Crouth, estamos bem próximos de vocês, rendam-se agora ou terão uma morte mais lenta e dolorosa. – Esqueça Ernesto! – gritou o delegado aparentando não ter medo do general – Nós lutaremos até a morte!

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– Bom, não se esqueçam! Foram avisados – alertou o general desligando o rádio imediatamente. De repente o som de outro helicóptero começou a incomodar os ouvidos de Gabriel e Santana que olhavam ao redor do céu, mas nada viam. Quando eles menos esperavam algo atingiu a cauda do helicóptero que eles estavam. – É hoje que vamos morrer – gritou Gabriel assustadíssimo. Quando ao helicóptero parou de vibrar por conseqüência do impacto, Gabriel inclinou sua cabeça para fora e viu um helicóptero idêntico ao que eles estavam – o helicóptero roubado da delegacia – e dentro dele estava Diego acompanhado por um homem bem mais velho que ele, usava roupas de cores camufladas do exército, tinha um grande bigode branco da mesma cor que seus cabelos. O delegado estava atendo aos movimentos do inimigo e sem saber o que fazer, ordenou: – Gabriel, pegue aquela bazuca atrás do banco e atire no helicóptero deles! – Ficou maluco? – perguntou Gabriel assustado com a ordem que recebera – Meu amigo está naquele helicóptero! 99


– Idiota! Se você quer sair dessa batalha vivo, cale a boca e faça o que eu digo, acerte a droga desse helicóptero com a porcaria da bazuca que está atrás do seu banco! Agora! Vendo que não tinha escolha, Gabriel apanhou a bazuca conforme as ordens que recebeu do delegado, inclinou-se na porta do helicóptero que estava aberta – morrendo de medo de cair da altura que estava – e mirou no helicóptero que estava logo atrás deles. Quando estava prestes a atirar, o rádio comunicador indicou sinais de transmissão novamente e a voz do General Crouth voltou a se pronunciar: – Recomendo que não faça isso Gabriel ou a sua namoradinha, Marcela morrerá! – Covarde! Largue ela Ernesto, deixe a garota fora disso! – gritou o delegado aparentando estar ficando furioso – É a nós dois que você quer! Solte-a! – O que foi Valdir? Não consegue me capturar? Eu sabia, você é e sempre será esse fracote – zombou o general soltando uma risada maléfica e com tom de deboche. De repente o rádio comunicador ficou mudo e Gabriel desesperado por saber que sua namorada estava junto com Diego e Crouth começou a gritar por seu nome com a esperança 100


de que a transmissão voltasse. Instantes depois o rádio apresentou sinais de transmissão novamente e a voz de Marcela começou a suplicar: – Gabriel, por favor, me ajude. – Amor! Eu vou tirá-la daí! – Ela vai morrer Gabriel – respondeu Diego zombando do amigo – Eu avisei para você ficar longe dos meus problemas. Como diz o ditado: “Quem avisa amigo é.”, não pode negar que não fui seu amigo. Agora olhe só o que você fez, causou a morte da própria namorada – Diego e Crouth começaram a rir debochando da situação que Gabriel se encontrava. – Diego, por favor, em nome da nossa amizade, solte-a, por favor – suplicava Gabriel, mas de nada adiantava, Diego dizia que Marcela era a garantia do sucesso do plano deles. Gabriel começou a ficar vermelho de raiva e nesse instante largou a bazuca que caiu despencando céu abaixo e sem pensar nas consequências dos seus atos, saltou do helicóptero, outra coisa impressionante aconteceu, Gabriel começou a flutuar pelo céu como se estivesse sendo movido por algum meio de telepatia. Demorou 101


alguns segundos até Gabriel se equilibrar no ar e aprender e a se controlar. Vendo que não cairia dali tão cedo, inclinou seu corpo, pouco horizontal, movendo-se na direção do helicóptero de Diego e Crouth. Quando estava próximo da porta dos inimigos, fez uma força e se jogou dentro do transporte conseguindo entrar. Crouth que estava pilotando olhou furioso para Gabriel e gritou: – Desgraçado! Conseguiu chegar até mim, mas daqui você não passa! Diego mate-o imediatamente! Depois disso a Marcela é toda sua. – Com todo prazer – respondeu Diego sorrindo para Gabriel. Os olhos de Diego começaram a escurecer, ficando em seguida vermelhos como brasa, de repente ele disparou na direção de Gabriel uma espécie de raio vermelho produzido pelo interior de seus olhos. Com um reflexo incrível Gabriel criou em sua frente um campo de força impedindo que o raio o atingisse fazendo com que ele mudasse de curso – na direção do painel de controle do helicóptero, próximo ao general. O painel começou a pipocar, liberando uma fumaça escurecida. Crouth desesperado levantou-se de seu assento e alertou: 102


– O helicóptero vai explodir! Diego vamos sair daqui, deixe-os aí e vamos dar o fora! Gabriel sem perder tempo, segurou Marcela nos braços e a jogou para fora do helicóptero a derrubando na água – pois para sua sorte sobrevoavam naquele instante a Represa Mongoli – Diego desesperado não quis nem saber e saltou em seguida. Chegando na vez de Gabriel, quando ele estava prestes a saltar, o general Crouth o segurou pelo braço e gritou: – Não vou permitir que você vá, estragará meus planos! Morreremos aqui e Diego terminará aquilo que comecei! O helicóptero já havia passado pela represa Mongoli, estavam sobrevoando novamente na cidade, o helicóptero estava descontrolado e o painel de controle estava soltando uma grande quantidade de fumaça escura, Gabriel estava desesperado, pois logo a frente havia um edifício e provavelmente o helicóptero de chocaria contra ele em um tempo de cinco a sete segundos. – Acho bom você me soltar bigodudo da onça! – nesse instante Gabriel utilizou o braço que estava livre e soltou um soco na face do general Crouth que soltou seu braço na mesma hora e caiu contra o painel que estava em chamas, nessa hora o painel explodiu seguido de 103


todo o helicóptero que acabava de se chocar com o edifício que estava a sua frente, porém Gabriel ainda estava lá, e vivo. Ele olhava ao seu redor e via apenas chamas e destroços do helicóptero caindo, porém não sentia dor alguma. Quando se deu conta, estava envolvido em um campo de energia semelhante ao que fez na sorveteria Paraíso Tropical – o que justificava o motivo de não estar morto. Aproveitando que estava a salvo, Gabriel se afastou da explosão onde viu o corpo do general totalmente carbonizado se chocar contra o chão, em seguida seguiu em direção a Represa Mongoli para resgatar Marcela. Vendo que não conseguia encontrar nada observando por cima, Gabriel aterrissa próximo às margens do lago, pisando firmemente nos ásperos cascalhos que ali havia e procura por começou a procurar por todos os lados, porém nenhum sinal de vida, nem de Marcela, muito menos de Diego. De repente algo acerta seu braço, um raio avermelhado disparado em uma velocidade incrível fazendo com que Gabriel caísse brutalmente contra os cascalhos que cercavam as margens da cristalina água da represa. Gabriel olha para trás e vê Diego segurando Marcela pelo pescoço 104


e gritando a todo o momento que iria matála. – Espere um minuto! Você matou aqueles cientistas que a rádio anunciou? – perguntou Gabriel aterrorizado ao lembrar da notícia - ... Dois pesquisadores do Centro de Pesquisas de Kindland (CPK) foram brutalmente assassinados por armas ainda desconhecidas e que uma das vítimas tinha graves queimaduras, uma delas perfurou o coração do cientista, como uma espécie de raio laser, já o outro teve o pescoço deslocado. – Muito bom Gabriel, precisávamos de urânio e apenas no Centro de Pesquisas de Kindland que conseguiríamos a quantidade necessária, a não ser que invadíssemos Chernobyl – respondeu Diego olhando bizarramente para Gabriel. Diego estava completamente fora de si e a qualquer momento poderia cometer uma besteira, toda calma era necessária naquele momento e o suspense tomava conta do ambiente, pois ninguém sabia o que estava prestes a acontecer. Tudo que lhes restava era rezar! Com uma leve dor no braço, Gabriel se levantou com dificuldades, pois sua perna ainda doía por causa do canivete, e encarando Diego nos olhos viu que ele estava nervoso e que apa105


rentava não querer ferir Marcela, sinal que ele ainda sentia alguma coisa pelos amigos. – Todos nós sabemos que não é isso que você quer Diego, ela não lhe fez mal algum! Diga, qual o seu objetivo? – Cale essa boca! – respondeu ele com frieza – Você não sabe quais os meus propósitos e eu a matarei com todo prazer do mundo. – O que fizeram com você? Para onde eles levaram meu amigo? – C-Cala-do! – gaguejava ele – O-ou e-ela vai mor-rer! – Eu estou avisando, se você fizer qualquer coisa com ela eu juro que quem vai morrer aqui será você seu desgraçado! Diego sorriu para ele e soltou uma gargalhada maléfica, porém não pronunciou mais nenhuma palavra. Aquele momento lembrava um sonho que Gabriel teve há alguns dias onde Marcela era morta por uma arma. Quanto maior era a chance de Marcela ser morta pelos raios de Diego, mais a fé de Gabriel aumentava. De repente os olhos de Diego começaram a faiscar prestes a liberar seus raios mortais e ainda sorrindo ele disse: – Diga adeus a ela, meu amigo! 106


Quando Diego ia liberar seus raios contra Marcela, seus olhos pararam de brilhar na hora, então ele começou a cambalear soltando Marcela e em seguida caiu inconsciente nas margens da represa, tudo isso graças ao delegado Santana que disparou um dardo tranquilizante pelas suas costas acertando a nuca de Diego. Marcela olhou para Diego caído e viu que não havia mais perigo nenhum e sem perder tempo, correu na direção de Gabriel o abraçando. Não se contendo, Gabriel e Marcela choraram de alívio e felicidade, pois todo aquele tormento havia passado. Instantes depois ela olhou nos olhos de Gabriel e com um brilho no olhar e um sorriso de quem estava grata disse: – Por um momento pensei que tivesse perdido você. – Isso nunca vai acontecer, lembra quando eu disse que estaria do seu lado pra sempre? – Lembro – afirmou ela sorrindo – Para todo sempre. – Pois é eu não menti sobre aquilo. – É uma pena que perdemos o nosso amigo – lamentou Marcela ao olhar novamente para Diego desmaiado nos cascalhos molhados. 107


Gabriel embora estivesse conformado que seu amigo o decepcionara, ainda havia uma pequena esperança a seu respeito. –Não sei se perdemos – respondeu Gabriel olhando com pena para o amigo – acredito que ele ainda possa voltar ao normal. – Pobre Larissa – lamentou novamente Marcela, porém desta vez se referindo à amiga – ela vai ficar muito mal quando contarmos toda a verdade a ela, que Diego é um doente criminoso. De repente o delegado Santana se aproximou dos dois com um sorriso de quem estava saindo vitorioso de uma batalha, apoiou uma mão em Gabriel e a outra em Marcela e disse: – Conseguimos amigos! Salvamos Kindland da destruição! Gabriel mostrou um sorriso forçado ao delegado, pois embora estivesse feliz por ter derrotado o general Crouth e salvado a cidade, estava triste por Diego que ele via como um irmão. Santana vendo que ele estava incomodado, com uma enorme angústia teve que avisar a Gabriel e Marcela: – Gabriel, eu sei que está sendo difícil aceitar isso, porém Diego querendo ou não é um criminoso e precisa ser levado para a delegacia de Kindland. 108


– Não podem fazer isso – respondeu Gabriel de imediato. O delegado mesmo compreendendo a situação, não teve escolha, e respondeu: – Gabriel, esse homem é um criminoso, ele quase matou milhões de pessoas, roubou um helicóptero do distrito policial e ainda sequestrou sua namorada. Não podemos deixá-lo livre, seria um absurdo. – Eu compreendo perfeitamente o senhor delegado, mas penso que no caso dele, ele era uma pessoa normal há algumas semanas atrás e essa mudança repentina de comportamento não é normal. Não estou dizendo que ele tenha que ficar livre. O que estou querendo dizer é que ele precisa de cuidados especiais e nada melhor do que levá-lo para o Sanatório de Kindland. O delegado concordou com a ideia de Gabriel, porém alguma coisa ainda o incomodava. – Gabriel e como faremos para não corrermos o risco de Diego atingir mais ninguém com aqueles olhos avermelhados que mais parecem os olhos do capeta? – Deixe essa parte comigo – respondeu Gabriel sorrindo com o palavreado do delegado – Quanto tempo dura o efeito do dardo tranquilizante? 109


– Em um ser humano, mais ou menos duas horas. – Então vamos logo, não temos um segundo a perder.

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ara a segurança de todos, Gabriel criou nos olhos de Diego, uma espécie de campo de força telepática que evitariam que ele utilizasse seus raios paralisantes contra qualquer coisa. Porém o delegado ainda estava inquieto e perguntou: – Gabriel, acha mesmo que isso é seguro? E se esse campo que você diz ter criado desaparecer uma hora ou não funcionar? – Não se preocupe delegado, agora que aperfeiçoei esses meus poderes, tenho certeza que Diego não conseguirá produzir uma faísca avermelhada sequer, ao menos que ele... Bom deixa pra lá. – Ao menos que ele... O quê Gabriel? Não me deixe preocupado dessa maneira criatura!

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– Ao menos que ele queira fazer com que seus raios saiam pela sua cabeça fritando seus miolos. – Você é louco Gabriel, mas é um gênio, tenho que admitir. Gabriel, Marcela e Valdir Santana estavam em um corredor frio e úmido, com um cheiro nada agradável, uma combinação de urina e mofo – ratos e baratas transitavam tranquilamente pelo espaço e mostravam não se incomodar com presenças humanas ali perto – era o corredor onde se localizava o quarto de Diego no sanatório. Os três esperavam o efeito do tranquilizante passar para que pudessem falar com Diego sobre alguns assuntos que ainda não tinham sido esclarecidos. De repente, um dos médicos do sanatório sai de um dos quartos, se aproxima dos três e avisa: – Podem entrar, mas falem pouco, ele ainda está meio zonzo e com dores na cabeça por causa dos medicamentos. E vou logo avisando, ele não está em seu juízo perfeito. – Como sabe doutor? – perguntou Santana. – Oras, ele disse que tem poderes sobrenaturais e que pode queimar qualquer um com os olhos – respondeu o delegado – Ai eu disse a 112


ele que sou o professor Xavier e que um dia aceitarei ele na minha escola de mutantes. O delegado agradeceu ao médico, porém não mencionou nada sobre os poderes que Diego realmente tinha para preservar tudo o que aconteceu e evitar qualquer tipo de escândalo envolvendo a delegacia de Kindland. Em seguida, ele, Gabriel e Marcela entraram no quarto que o médico acabara de sair, era um quarto em forma quadrático, bem escuro e umedecido, as paredes eram revestidas de espumas velhas e mofadas e a única luz que refletia dentro do espaço era a que passava pela grade da pequena janela, há uns três metros acima do chão. Gabriel olhou no canto esquerdo do quarto e avistou Diego sentado, com os pés acorrentados e envolvido em uma camisa de força. Sua cabeça estava baixa, mas quando ele notou a presença dos três a inclinou na direção deles com um olhar de fera enfurecida e com uma voz enfraquecida e forçada ele disse: – Traidores, saiam todos daqui ou lançarei meus raios em vocês! – Faça isso se quiser perder os miolos – debochou Marcela. – Você bloqueou meus poderes Gabriel, seu maldito! – respondeu 113


Diego ao tentar lançar seus raios contra eles e sentir uma forte dor de cabeça, como se ela fosse explodir – O que querem de mim? – Queremos que nos diga para onde Crouth levou sua base e não adianta mentir! – resmungou Valdir. – Que cinismo! Me trouxeram para esse lugar como se eu fosse um animal e ainda querem que eu lhes diga a localização da base? – Por favor – suplicou Marcela – Eu não lhe fiz mal algum Diego, sabe que ainda gosto muito de você embora tudo isso tenha acontecido. – Sabe Marcela, eu não tenho mais nada a perder! Direi a verdade, pois foi você que me pediu, a base foi transportada para o fundo da Represa Mongoli, lugar que ninguém imaginaria que ela estivesse, está há uns vinte metros abaixo da superfície, mas vou logo avisando, à uma hora dessas os soldados de Ernesto já devem estar bem longe da base. – Não importa – retrucou o delegado – Mesmo assim nós iremos averiguar o local na tentativa de encontrar alguma pista que revele exatamente as intenções de Crouth. Ao responder Diego, Valdir virou-se, seguido de Gabriel e Marcela. Quando estavam cruzando a porta para saírem do quarto, Diego gritou: 114


– Gabriel! – Gabriel virou-se lentamente e olhou para o “amigo” que com um sorriso que não agradava ninguém – Isso não termina aqui! – Para mim termina Diego! – respondeu Gabriel fechando a porta do quarto. Ao deixarem o Sanatório, Valdir Santana pediu que Gabriel e Marcela os acompanhassem até a delegacia para discutirem sobre a operação de invasão a base de Ernesto Crouth.

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o escritório de Valdir Santana, ele, Gabriel e Marcela planejavam uma maneira de invadir a base sem colocar nenhum membro da operação em risco. Porém todos sabiam dos perigos que enfrentariam dentro da base de Ernesto Crouth, afinal ele era um homem esperto e sabia que tentariam invadi-la mais cedo ou mais tarde e deve ter preparado alguma surpresa para aqueles que se atreverem a entrar dentro dela. Quando enfim montaram um plano tático para invadir a base, Valdir Santana entrou em contato com o líder das Forças Especiais que ele havia recrutado e todos combinaram de se encontrar as margens da represa, próxima a estátua do prefeito que estava em construção na entrada da cidade que ficava a alguns metros da represa.

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No instante que Gabriel, Marcela e Valdir Santana chegaram ao ponto de encontro, os homens das Forças Especiais já estavam lá, se organizando para a invasão, todos vestidos com roupa de mergulho e determinados a entrarem na represa. Um dos homens, o mais alto e forte, provavelmente o líder da equipe, deu a casa um dos três uma roupa de mergulho, Gabriel assustado quando viu que Marcela também recebeu uma delas, olhou para ela e disse: – Não está pensando em entrar junto com o resto da operação está? – E por que não? – respondeu Marcela ríspida e direta. – De maneira alguma vou permitir que você entre dentro dessa base Marcela, quase perdi você uma vez, não vou correr esse risco novamente. E outra, não sabemos o que nos aguarda ali dentro. Marcela vendo que não tinha escolha concordou com Gabriel, embora não concordasse com a decisão do namorado. Ela ficaria junto de mais dois policiais vigiando para que nenhum movimento acima da superfície da represa estragasse a missão deles. Um dos soldados de Valdir Santana guiou os homens que mergulhariam na represa até o 117


centro das plácidas e cristalinas águas da represa em vários botes. Quando chegaram ao ponto em que os botes pararam, um a um dos homens foram mergulhando – dentro de cada bote haviam aproximadamente vinte homens, pois eram cinco botes – quando todos desceram, sobraram apenas Valdir Santana e Gabriel. – Bom lá vamos nós – brincou o delegado antes de pular, Gabriel foi logo em seguida antes de se despedir da namorada que observava seu corpo afundando nas profundezas da represa. Quanto tocou nas águas na represa, Gabriel sentiu a sensação de que seu coração fosse congelar, pois nunca imaginava que aquelas águas fossem tão frias, porém ela era tão cristalina e pura que se conseguia ver perfeitamente seu interior sem o uso de óculos especiais para mergulho. Olhando para baixo Gabriel viu uma imensidão azul que parecia não ter fim, era como se estivesse no oceano. Nunca imaginava que a represa fosse tão profunda. Todos transitavam pelas profundezas a procura da tal cúpula prateada de Crouth, porém ninguém a encontrava. De repente Gabriel olhou um pouco mais abaixo de si e viu alguma coisa brilhosa, cutucou o delegado Santana e 118


com o indicador esquerdo, apontou para o que tinha visto, porém não sabiam exatamente o que era. Sem perda de tempo o delegado apanhou uma espécie de farolete com a luz vermelha de um cinturão de utilidades que estava preso junto à roupa de mergulho em sua cintura e ao apertar, despertou a atenção dos demais soldados que em questão de segundos estavam todos próximos dos dois. – Atenção homens – disse o delegado com um transmissor especial de comunicação aquática – parece que a base de Crouth está abaixo de nós! Vamos invadi-la, porém não quero que os homens de Crouth saiam feridos se é que eles ainda estão aí. Confio no profissionalismo de vocês. Vamos lá! Nesse instante Valdir Santana e Gabriel começaram a mergulhar com destino ao brilho prateado que haviam visto, os soldados o seguiram logo atrás. Chegou a certo ponto em que a cúpula era inconfundível, era realmente ela que estava abaixo deles. Gabriel, Santana e os soldados começaram a olhar ao redor com a expectativa de encontrar alguma passagem que pudesse levá-los a seu interior. Quando todos estavam no fundo da represa, onde abaixo deles provavelmente haveria 119


apenas terra molhada, um dos soldados tocou na superfície redonda e metálica da base e começou a acariciá-la tentando encontrar alguma passagem escondida, quando todos olharam para ele já era tarde demais, deu-se tempo apenas de ver o soldado explodir diante dos olhos de todos ali presentes pois um lança mísseis estava programado para disparar caso alguém encostasse na superfície metálica da cúpula. – Não toquem em nada! – alertou o delegado olhando assustado para os pedaços ensanguentados que restaram do soldado, flutuando em meio à águas cristalinas da represa. Após procurarem por todo o arredor da cúpula, nenhuma passagem foi encontrada, de repente, Gabriel olhou abaixo dos seus pés e viu uma espécie de túnel que provavelmente levaria a algum lugar. Sem perder tempo, pois os cilindros de oxigênio estavam se esgotando, Gabriel puxou Santana pelo braço e apontou para o túnel que havia descoberto, Santana de imediato, gritou: – Homens, por aqui! Um a um eles foram seguindo pelo túnel. Era um lugar escuro, então todos foram obrigados a acenderem seus faroletes, após poucos minutos de mergulho, eles avistaram enfim uma luz acima deles e rapidamente co120


meçaram a emergir chegando em uma gruta onde seu teto respingava, provavelmente ainda estavam abaixo da Represa Mongoli. Saindo da água, Gabriel foi retirando seus equipamentos e observando todo aquele lugar perguntou ao delegado: – Senhor Santana, já parou pra pensar o porquê de contratar homens da Mongólia para construírem essa represa? – Sabe Gabriel, há alguns minutos atrás eu não fazia ideia, mas vejo que Crouth deveria estar envolvido nisso, pois é praticamente impossível uma represa ter todo esse nível de profundidade e uma gruta no seu subterrâneo, afinal, há dez anos aqui era um campo de pastagem, esse lugar foi completamente alterado pelos homens da Mongólia e todos nós não sabíamos. – Isso aqui tá parecendo mais um oceano do que a represa – complementou o líder das forças especiais chegando próximo de Gabriel e Santana. Todos começaram a caminhar pela gruta até que um dos soldados avistou uma escada metálica e um pouco enferrujada há alguns metros deles, que os levariam mais acima, provavelmente na base de Crouth ou algum local mais próximo dela. 121


Sem perder tempo, um a um foi escalando a escada até que chegaram em outra gruta, porém essa estava toda iluminada por fortes holofotes de luz espalhados pela gruta. Entrando na gruta todos procuraram manter a máxima cautela pois não sabiam o que havia lá dentro já que um túnel os guiaria até o próximo destino. Chegando no fim do túnel, Gabriel, Santana e os soldados chegaram a uma enorme sala redonda, com uma mesa no seu centro e nos arredores diversos tipos de armamento, entre eles bazuca, armas de fogo, lasers, mísseis, entre outros. – ENCONTRAMOS! – gritou o delegado, com um enorme sorriso estampado em seu rosto – Essa é a base de Ernesto Crouth. Olhando para o delegado, dava-se a impressão de que a missão estava cumprida, porém havia muito a se fazer naquele local. Os soldados começaram a vasculhar o local, com a intenção de achar algum dos homens de Crouth, que provavelmente deixaram a base no momento que a notícia que o mandatário deles havia sido morto. Enquanto isso, Gabriel e Santana reviravam a mesa do general com o objetivo de encontrar pistas que levassem aos planos de Crouth. 122


Após revirar toda a mesa, os dois só encontraram projetos e protótipos de bombas nucleares que provavelmente seriam usados para a criação das bombas que explodiriam Kindland. – Onde está? – perguntava para si mesmo o delegado em voz alta. – O que o senhor tanto procura delegado? – Um pen drive. – Pen drive? – perguntou Gabriel confuso. – Não faça perguntas e me ajude a localizar esse pen drive. Gabriel sem dizer uma palavra, começou a revirar a mesa com o objetivo de encontrar esse pen drive que tanto interessava ao delegado. Havia tanta coisa sobre a mesa que era como procurar uma agulha no palheiro. Vendo que o pen drive não estava na ali, Valdir Santana deu um forte suspiro e lançou um forte soco contra a mesa, Gabriel olhou assustado para o delegado que instantes depois viu que uma parte da madeira da mesa havia se soltado, cautelosamente ele retirou o pedaço da madeira e viu que ali havia um fundo falso, quando olhou no interior do fundo viu um objeto de prata e sem perder tempo o pegou nas mãos. – Encontrei! – exclamou ele parecendo que havia encontrado um tesouro pirata perdido – 123


Finalmente eu encontrei o objeto que procurei durante toda minha vida profissional! – Senhor, desculpe ser tão curioso, mas o que esse pen drive tem de tão importante? O delegado olhou com desconfiança para Gabriel, olhou para o pen drive e em seguida voltou a olhar para Gabriel novamente e com um suspiro e voltando a ficar sério respondeu: – Bom nada mais justo do que lhe contar a verdade. – Sou todo a ouvidos. – Esse pen drive contém informações que apenas o general Ernesto Crouth tinha acesso, informações que se algum dia forem compartilhadas ao mundo, causaria um conflito imenso, uma calamidade que não quero nem imaginar. “Gabriel esse pen drive irá nos mostrar todos os segredos do apocalipse que Ernesto tanto temia que se realizasse, aqui dentro há informações sobre as pragas que o mundo vai sofrer, sobre os quatro escolhidos para representar os cavaleiros do apocalipse, enfim tudo que precisamos para terminar de montar nosso quebra-cabeça.” – Quer dizer que haverá uma guerra? – Sim e não! Ernesto sempre foi um homem que desejou o poder supremo, ele acreditava que se vencendo as forças do mal que o apoca124


lipse traria ao nosso planeta, ele seria idolatrado e se tornaria o mais poderoso do mundo. A Oráculo me confiou a missão de detê-lo antes que fosse tarde e graças ao nosso trabalho em equipe obtivemos sucesso. – Espera ai, você disse Oráculo? Conhece a Oráculo? – Se eu conheço a Oráculo? – respondeu Santana sorrindo – A deusa do destino irá nos guiar por toda essa missão e nos ajudara nessa batalha que está prestes a começar. – Então você sabia de tudo desde o início? – É claro, ou acha que eu ia confiar facilmente em você? Gabriel sorriu para o delegado e em seguida, olhando para os projetos na mesa do general, respondeu: – Eu juro que usarei todas as minhas forças para livrar a humanidade de todo esse mal! – Está disposto a enfrentar todo tipo de perigo pela frente? – Claro que sim, não se esqueça que nós somos parte das Forças Especiais!

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