conheca o nucleo
Editorial Stonewall e a cidadania plena Nesta edição, trouxemos na capa uma reportagem sobre um dos marcos da história mundial dos Direitos Humanos. A Revolta de Stonewall, que em 2019 completa 50 anos, ainda reverbera em nossa sociedade, seja nas marchas ou na necessidade e urgência de pensar a interseccionalidade entre gênero, raça e classe social. Debate-se ainda que tal luta não acontece apenas pela letra da lei, pois a cidadania plena vem com a mudança de cultura. Também, a reportagem apontou um paralelo com o contexto histórico-social brasileiro e conversou com Ananda Puchta, advogada e presidente da Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero da OAB, Rafaelly Wiest, diretora de Informação do Dignidade e Diretora Administrativa da Aliança Nacional LGBTI, Máira Nunes, historiadora e doutora em Comunicação e Linguagem, e outras pessoas, que vivem tais opressões, mas que também produzem sistemas de acolhimento. Para a equipe editorial, esta reportagem representa o quanto ainda estamos aquém, enquanto sociedade, de uma cidadania plena para todos e todas E que, apesar disso, há clareza da necessidade de percorrer este caminho por vias democráticas. O leitor que busca que imagens também está contemplado. Nesta 8ª edição, trouxemos ensaios fotográficos, na seção Falando em Imagens, sobre o tempo, cinema, séries que espalham glitter pela tela e lugares e cidades históricas. Também trouxemos entrevistas com um haitiano que trabalha com turismo em Curitiba, um ator negro que se apresentou no último Festival de Teatro, um professor que pesquisa xadrez na academia. Na seção Perfil, você vai encontrar as histórias de uma professora da Educação Básica e da diretora do Procon. Boa leitura!
Ilustra
Por Marcus Basstti
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Revitalização da história
Reforma do complexo turístico em Porto Velho promete cara nova à cultura local Por Alex Garcia dos Santos (RO)
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Maria do Socorro tem 50 anos de idade e fala com orgulho que o amor e o talento para o artesanato vem de família. “Nasce com a gente, não dá para explicar. O que eu sei é que com o tempo a gente vai aprimorando, criando gosto”, explica a artesã que há pouco mais de 15 anos trabalha no Complexo Turístico da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, em Porto Velho. O local está fechado para uma revitalização desde novembro de 2018, e apesar de agora trabalhar em tendas improvisadas, às margens de uma avenida da capital, o tom é de esperança. Por aqui a torcida é para que a obra termine logo e que todos saiam ganhando. O novo complexo turístico da Estrada de Ferro Madeira Mamoré tem prazo para a conclusão de 18 meses. A primeira etapa, um muro de contenção, foi finalizado. A administração municipal diz que o segundo passo é a limpeza e a restauração dos galpões, três no total. Um deles vai abrigar os artesãos, desde que eles estejam devidamente cadastrados na prefeitura. “Está tudo dentro do prazo. Uma orla e algumas praças de alimentação devem vir para o complexo”, diz Antônio Ocampo, presidente da Funcultural, órgão responsável pela obra.
Logo, os tapumes devem dar espaço a uma nova cara à parte da história do povo rondoniense. “O que a gente quer é que tudo fique pronto, bonito”, conclui Maria.
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De estação ferroviária a centro cultural Garanhuns transforma a história através da arte Por Samara Pontes (PE)
Entrada do Centro Cultural Alfredo Leite Cavalcanti.
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A cidade de Garanhuns, no Agreste Pernambucano, está localizada a 842 metros acima do nível do mar. Situada entre sete colinas, onde no seu ponto mais alto chega a 1030 metros de altitude, o município é conhecido por seu clima frio, e pontos turísticos. Também, abriga nas proximidades do comércio, o Centro Cultural Alfredo Leite Cavalcanti, palco de grandes apresentações musicais, teatrais e tantas outras expressões artísticas. O ambiente já foi a Estação Ferroviária de Garanhuns. No seio da “Suíça Pernambucana” a história permanece viva e as relíquias do passado são valorizadas.
Em 28 de setembro de 1887 o município começa a dar o primeiro passo para o progresso e a escrever as linhas da sua própria história. Nesta data, a Estação Ferroviária foi inaugurada pela Great Western Railway Company, uma Companhia Inglesa que construía ferrovias no Brasil. O professor, escritor e historiador, Cláudio Gonçalves de Lima, 47 anos, que também é sócio fundador do Instituto Histórico, Geográfico e Cultural de Garanhuns, fala um pouco da importância, especialmente econômica, com a criação da ferrovia na cidade. “Graças a malha ferroviária, Garan-
huns passou a ser de fato reconhecida. Nesta mesma época, também devido ao apogeu do algodão e do café, passamos a ser a terceira maior economia do Estado. Foi um momento em que surgiram escritórios de importação, lojas comerciais, círculo operário e devido ao clima atrativo que chamava a atenção de quem passava por aqui, nasceram cineteatros, cafés e hotéis”.
sos nos eventos culturais. A Estação Ferroviária ainda vive aqui. A gente consegue “tocar” a história”, conta emocionado o historiador. O último trem passou em 19 de novembro de 1966. Já não fazia mais sentido, nem era mais economicamente vantajoso, utilizar o transporte na região. Mas antes mesmo da desativação total, em 1971, o local foi ocupado e abrigou feiras
Interior do espaço Teatro Luiz Souto Dourado; aulas de canto acontecem no local.
Atualmente, é possível ainda identificar muito do que foi a antiga estação. As cadeiras onde à época serviam de espera para os passageiros, hoje servem como acento para o teatro Luiz Souto Dourado. A estrutura foi reformada especialmente neste setor, com palco, camarins, banheiros etc. “Onde o trem passava é onde hoje fica o teatro. É possível ainda vermos a bilheteria da Estação que até hoje é utilizada para a compra de ingres-
em suas dependências. Foi então que na gestão do prefeito Luiz Souto Dourado o local passou a ser aproveitado. Em 27 de março de 1971 O Centro Cultural foi inaugurado. O seu nome, Alfredo Leite Cavalcanti, foi dado em homenagem ao historiador garanhuense, que também foi vereador e contribuiu em diversos aspectos para a evolução do município.
Cultura e história O espaço também guarda em sua história importantes apresentações culturais. No mês de Julho, durante o Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), uma programação é preparada no local com diversos espetáculos de dança e teatro adulto e infantil. Na história do Centro Cultural, e durante o FIG, um fato em especial ficou marcado: Em 18 de julho de 2014 o poeta Ariano Suassuna fez a sua última aula-espetáculo. O teatro estava lotado, todos atentos para ouvir os ensinamentos do autor de o “O Auto da Compadecida”. Dias depois, em 23 de julho, Ariano faleceu aos 87 anos vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico.
Andrea Amorim, cantora e compositora.
Muitos artistas passaram e passam pelo Centro, exemplo disso é a cantora e compositora Andrea Amorim, de 39 anos. Ela viaja o mundo para mostrar a sua arte, já foi parceira musical de Roberto Menes-
cal, foi entrevistada por Jô Soares, morou no Japão, tem uma promissora carreira na música, mas, em Garanhuns, ela confessa ser onde consegue repousar. “Eu tenho asas muito infinitas, mas elas nunca estão presas a nada. Estou sempre querendo voar e por isso passo temporadas fora daqui, só que a minha raiz é muito fincada neste lugar. Eu voou, literalmente, mas eu sempre volto”, relata a artista. Amorim também tem histórias fortes com o Centro Cultural: “Dizer só de um momento desse lugar é difícil, mas alguns me marcaram profundamente. Eu lembro como hoje da primeira seletiva que aconteceu para participar do FIG. Na época, eu tocava na Banda de Rock Eclipse Urbano e nós ficamos em segundo lugar. Foi mágico participar daquele momento. Outro dia muito importante foi quando eu fiz um show para lançar o CD “Bossa de Alma nova” e cantei com vários artistas da terra, foi lindo!”, contou Andrea. E, além dos eventos realizados em momentos específicos do ano, projetos especiais acontecem no espaço. Em setembro de 2017 teve início no Centro Cultural a exposição Artes na Estação. O projeto, criado pela Secretaria de Turismo e Cultura, tem como objetivo fortalecer as diversas linguagens artísticas existentes na região. Produções culturais nas áreas de artes plásticas, literatura, fotografia, música, entre outras, já passaram pelo projeto que, além de contar com a visita dos turistas que passam pela cidade, recebe estudantes de colégio públicos e particulares. A exposição acontece por temporadas e funciona com uma programação diferente do horário de funcionamento habitual do prédio.
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A Ilhéus de Jorge Amado
A influência da literatura do escritor baiano na cidade Por Felipe Moreira Castro (BA)
Ilhéus, mundialmente famosa por suas praias e cacau, também ficou conhecida por ambientar um dos romances de maior sucesso do escritor baiano Jorge Amado, o livro Gabriela Cravo e Canela. Mesmo passados mais de 65 anos da primeira publicação do romance, a cidade de Ilhéus ainda sente reflexos, sobretudo, nos setores culturais e turísticos por conta da ampla divulgação que o livro lhe proporcionou. Seguindo pelo Bataclan onde os coronéis do cacau dormiam com as
conhecidas meretrizes da época, passando pelo Convento da Piedade, onde as filhas dos coronéis estudavam, e entrando no bar e restaurante mais famoso da cidade, o Bar Vesúvio, cenário do romance de Gabriela e Nacib, fica fácil entender tamanha inspiração.
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Fachada da Casa de Cultura Jorge Amado, palacete onde o escritor viveu a infância.
Fachada da Catedral de São Sebastião, igreja frequentada pelos coronéis.
O Secretário Municipal de Cultura de Ilhéus, Pawlo Cidade, destacou três grandes impactos na ligação entre Jorge Amado e a cidade: o turismo cultural. Uma vez que a grande massa vem em busca do patrimônio, apesar de ter restado pouco acervo da época. Durante todo o ano a cidade recebe milhares de turistas de todos os cantos do Brasil e do mundo que querem ver de perto as locações descritas nas páginas do romance.
Secretário de Cultura de Ilhéus, Pawlo Cidade, na janela da sala de jantar da Casa de Cultura Jorge Amado.
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Fabiola Paes Leme, turismóloga e mestranda em Cultura e turismo pela UESC.
Outro grande impacto se deu ao elemento histórico do município que possui uma relação próxima ao turismo e ao desenvolvimento econômico do município que, segundo o secretário, vem recebendo grandes empresários interessados em investir, criando oportunidade de negócios. A turismóloga Fabiola Paes Leme ressalta que Ilhéus está imortalizada nas obras de Jorge Amado e isso criou um interesse das pessoas em conhecer as histórias vividas naquela época, a exemplo do coronelismo, do cacau, dos costumes da época, mas que a cidade necessita se apropriar mais da sua história, ter um sentimento maior de pertencimento de sua cultura, e que, a partir daí, a cidade atrairá ainda mais turistas para a região.
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Muito além do braile
A diversidade de material didático para cegos Por Sylvia S. Tobaldini (PR)
Quando se fala em educação para deficiêncientes visuais, é inevitável que se pense, em primeiro lugar, no braile, método de escrita tátil que se lê com a ponta dos dedos. Mas, o método não atende completamente às necessidades de aprendizagem dos alunos cegos ou com baixa visão. Para isso, outros recursos são utilizados: audiolivros, soroban (instrumento para cálculo), jogos pedagógicos e outros materiais em relevo, como mapas e gráficos, por exemplo. Em Maringá, no Paraná, o CAP (Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual) é o setor responsável por atender a demanda de materiais didáticos adaptados para alunos deficientes visuais do ensino básico de vários municípios da região. De acordo com Rita de Fátima Carvalho Biazetto, 61 anos, especialista em educação especial que atua no CAP de Maringá, a demanda por materiais acessíveis é grande. Em 2018, o setor produziu e distribuiu 157 livros didáticos. Ricardo Alexandre Vieira, 42 anos, cego desde o nascimento, é responsável pela revisão dos materiais produzidos no CAP. Para ele, é importante que os alunos tenham acesso a materiais de apoio pedagógico diversificados. Ricardo considera as disciplinas de matemática e química como sendo as mais complexas para o deficiente visual, já que não é possível
realizar cálculos em braile e essas disciplinas exigem a interpretação de gráficos e fórmulas. Assim, os materiais em relevo, o soroban e os softwares que transformam texto em áudio se tornaram ferramentas obrigatórias para manter a qualidade do ensino desses alunos. Para Rita e Ricardo, a inserção das crianças com deficiência visual em classes de educação regular é muito importante, já que proporciona para a criança, além do aprendizado das disciplinas do ensino básico, a possibilidade de desenvolver habilidades sociais e conviver com as diferenças. Um dos desafios para isso é a ampliação do acesso dos estudantes aos materiais didáticos necessário, bem como a capacitação contínua dos professores.
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Feirinha do Alto atrai pessoas de todas as idades Local oferece diversidade de produtos e passeios de trem por pontos turísticos Por Elaini Vianna Ribeiro
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Localizada na Praça Higino da Silveira, em Teresópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro, a Feirinha do Alto, é um ponto turístico da cidade que atrai pessoas de todas as idades. Quem passeia pelo local desfruta de uma variada opção em barracas de roupas, artesanato e alimentação, além de espaço infantil e o passeio de trenzinho. Segundo a assessoria de comunicação da Prefeitura de Teresópolis, a Feirinha do Alto conta com 602 barracas, está localizada na Praça Higino da Silveira desde 1983 e funciona todos os finais de semana e feriados prolongados, das 10h às 18h. Nas barracas de roupas é possível encontrar moletom, casacos de lã, gorros, luvas, cachecóis. No artesanato encontra-se desde cadeiras de vime a pequenos souvenirs, tudo muito bem trabalhado. Na praça de alimentação, o visitante encontra churrasco, pastel, comida japonesa e diversos doces. Ao lado da praça de alimentação está o trenzinho, local que fica repleto de famílias. O trenzinho passa por pontos turísticos dos bairros Alto, Fátima e Comary, sempre contando com a diversão dos personagens que animam o percurso. Maria Ribeiro, 80 anos, além de realizar compras na feirinha, aproveitou o passeio de Trenzinho. “Vim na feirinha para comprar um casaco e outras coisinhas. O preço aqui é ótimo e a variedade de roupas também. Mas cheguei e
vi a alegria do pessoal no trenzinho e resolvi fazer o passeio. Valeu muito a pena, passamos pela CBF, pelo Clube Comary, na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, na Casa de Cultura. E todo o tempo os personagens alegrando a todos. A Feirinha do Alto é um lugar maravilhoso.” Leonidi Oliveira, 70 anos, estava na feirinha e gostou muito. “Que lugar maravilhoso, fiz minhas compras e agora realizei o passeio de Trenzinho, foi fantástico. Estou super animada. Passear num dia lindo como o de hoje, com esse sol maravilhoso na feirinha é bom demais. Aqui é um lugar completo. Se faz compras, vê gente, para pra almoçar, passeia no trem. Estou encantada.”
Maria Ribeiro fez compras e andou de trenzinho O Trenzinho passa por pontos turĂsticos dos bairros Alto, FĂĄtima e Comary.
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EWALL A Revolta de Stonewall Inn nos Estados Unidos é um grande símbolo da luta mundial da comunidade LGBTQI+ pelos seus direitos civis e sociais, pela liberdade e segurança e, também, uma das origens da Marchas do Orgulho Gay. Por Amanda Zanluca, Clarissa Casagrande, Maria Eduarda Biscotto e Nicole Beck.
Arte: Milson Junior
Luta LGBTQI+ na construção de seus direitos
Com a Revolta de Stonewall, a comunidade LGBTQI+ conseguiu abrir espaço na sociedade para lutar e debater pautas a favor dos seus direitos Assumir a homossexualidade para os pais, família, amigos e sociedade costuma ser um desafio para muitas pessoas. Entretanto, para Rafaela Dittrich Guebert, se assumir como lésbica para sua mãe, Giselda Dittrich, foi mais compreensível do que esperava: ela encontrou apoio desde o primeiro instante. Ex-frequentadora da Igreja Evangélica Luterana de Rio Negro, Giselda diz que aceitou a orientação sexual de sua filha de forma legítima, chegando a cortar o contato com familiares e amigos que não aceitavam a orientação de Rafaela. Giselda, que participa do grupo há mais de sete meses, conta que busca se relacionar apenas com pessoas que não têm preconceito como modo de vida. O coletivo do Mães pela Diversidade, com atuação na capital paranaense e também no restante do país, luta contra o avanço da homotransfobia e a favor dos direitos civis de seus filhos e de toda a população LGBTQI+. Hoje, a mãe de Rafaela estuda Psicologia - curso que sonhava em cursar, mas que desistiu ao se casar - e, a partir dele, teve a ideia de abrir o próprio projeto, intitulado “Uma Mãe Para Conversar”. O objetivo é realizar acolhimento fraternal de pessoas LGBTQ+ e familiares. Com uma abordagem calorosa, a mesma que ela teve com sua própria filha, ela diz
preocupar-se especialmente com os filhos que não recebem o mesmo acolhimento de seus pais. O acolhimento proporcionado por espaços como o Mães pela Diversidade e o Uma mãe para conversar revelam condições invisibilizadas por uma cultura homofóbica enraizada no país (e no mundo). Dentre a série de consequências, o transfeminicídio no Brasil chama atenção: 45% dos assassinatos de transexuais do mundo inteiro são registrados no país. Ou seja, a cada 16 horas há uma morte por homofobia, o que alerta para a discussão sobre preconceito, segurança pública e direitos civis. A Revolta de Stonewall Inn, ocorrida em 28 de junho de 1969 e que completa 50 anos em 2019, foi um dos primeiros passos para o desenvolvimento dos direitos LGBTQI+. Lideradas por Storme Delaverie, Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera, e tendo como palco o bar Stonewall Inn, em Nova York, o movimento consistiu numa série de atos contrários à opressão e ao preconceito e um dispositivo de organização da luta por direitos sociais. Umas das ações afirmativas imediatas foi justamente o fortalecimento das chamadas Marchas do Orgulho Gay, que tem origem nos Estados Unidos, em 1970. Ananda Puchta, advogada e presidente da Comissão de Diversidade Sexual e de
Giselda Dittrich, idealizadora do projeto ‘Uma Mãe para Conversar’. Foto: Clarissa Casagrande
Acolhimento: Giselda e sua filha, Rafaela Guebert Neto Foto: Clarissa Casagrande
Gênero da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), reitera a importância da Revolta e explica que o Brasil sentiu o efeito de alguns direitos consolidados só depois dos anos 2000, mas que antes disso as organizações brasileiras já trabalhavam essa temática. Uma das pioneiras, foi o “Grupo Somos”, que nasceu em São Paulo em 1979, dez anos depois da Revolta do Stonewall Inn. Majoritariamente composto por homens gays, em 1983 o grupo abriu espaço para mulheres lésbicas, que começaram a se engajar fazendo publicações do jornal Chanacomchana - publicação vendida no Ferro’s Bar. Segundo Ananda, a comercialização foi proibida pelo proprietário do local, o que provocou, no dia 19 de agosto de 1983, o que ficou conhecido como “Stonewall Brasileiro” - data que também passou a ser marcada como o Dia do Orgulho Lésbico. Somente em 2011 o país teve a primeira grande conquista da comunidade LGBTQI+ com o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo considerado legal pelo Supre-
O significado das cores A bandeira LGBT que foi criada em 1997, pelo artista plástico Gilbert Baker, é o grande símbolo da luta contra o preconceito e o desrespeito. Mundialmente usada, ela é composta por seis cores e cada cor possui um simbolismo próprio, fazendo referência aos ideais e interesses dos membros da comunidade.
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Espírito Serenidade e Harmonia Natureza Luz do sol Cura Vida
Gilbert Baker se inspirou nos hippies (que enxergam o arco-íris como um símbolo da paz) e na canção Shomewhere over the rainbow, cuja letra aponta para coisas boas além do arco-íris.
mo Tribunal Federal (STF). No ano de 2017, foi para pauta do STF a doação de sangue por homens e mulheres gays. Em março de 2018, foi aprovada a ratificação do nome das pessoas transexuais sem necessidade de processo judicial. No dia 28 de junho de 2019, foi conquistado outro avanço para a comunidade com a consolidação da criminalização da LGBTfobia - o dia também marca o Dia Internacional do Orgulho Gay. Apesar desses avanços simbólicos, Ananda garante que essas conquistas não significam dizer que todos os direitos estejam garantidos. “A comunidade LGBT como um todo, busca a cidadania plena. A luta maior não é a letra da lei, mas uma mudança de cultura. Porque o que buscamos é efetivar o que a gente já conseguiu na justiça”, explica. A advogada também afirma que não adianta ter o STF julgando a criminalização, se ainda há uma dificuldade desse crime ser processado. Para ela é necessário conscientizar e formar pessoas do Ministério Público e da Polícia Civil, além de outros prestadores de serviços públicos e privados, com uma instrução correta sobre como agir. “Tem muito desconhecimento sobre a população LGBT. Muita gente não sabe como tratar uma pessoa que é lésbica, gay ou trans”, conta.
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“A comunidade LGBT como um todo, busca a cidadania plena. A luta maior não é a letra da lei, mas uma mudança de cultura. Porque o que buscamos é efetivar o que a gente já conseguiu na justiça”, explica Ananda Puchta. Foto: Maria Eduarda Biscotto
Stonewall: diferenças entre EUA e Brasil
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A revolta de Stonewall é considerada um marco de referência para o movimento LGBTQI+ em todo o mundo. O evento, que foi um tipo de catalizador para uma série de inciativas e lutas, já vinha gradativamente sendo fomentado pela inclusão de homossexuais em pautas sociais da época. No Estados Unidos, a Revolta de Stonewall tem como marco a noite de 28 de junho de 1969, o bar Stonewall Inn, em Nova York, e um cenário de surgimento dos movimentos culturais da juventude, com mobilizações de rua, ocupação de espaços e luta pelos direitos. Naquela noite, o bar sofreu uma violenta batida policial que foi o estopim para a revolta. Sylvia Rivera, mulher trans, e Marsha P. Johnson, mulher trans e negra, foram as figuras expoentes que lideraram a revolta dos presentes no Stonewall Inn, contra a invasão dos policiais. Na mesma época, criaram a Street Transvestite Action Revolutionaries (Revolucionários das ações de travestis de rua), também chamada de S.T.A.R House - instituição que tinha como objetivo amparar as pessoas trans e travestis em situação de vulnerabilidade social. O contexto da Revolta é protagonizado pela geração babyboomer (norte- americanos que nasceram entre os anos de 1945 e 1960, também conhecida como geração do período de pós-guerra), que inicia os movimentos identitários dos negros, feministas e comunidade LGBTQI+ nos EUA. Enquanto na América do Norte a co-
munidade LGBTQI+ lutava pela sua liberdade de gênero e direitos, paralelamente, no Brasil apesar de haver iniciativas importantes sobre debates identitários, com a instauração do regime militar, após o golpe de 1964, as pautas principais dos movimentos organizados era o combate à ditadura. Segundo a historiadora e doutora em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná, Máira de Souza Nunes, o regime militar é o que canaliza a organização social contra a ditadura. A organização destes movimentos, voltados especificamente à comunidade LGBTQI+, vai ser a partir dos anos 80, no período de reabertura política. “Em 1980, temos o chamado de “Stonewall Brasileiro”, esse movimento que é uma reinvindicação que ocorre em São Paulo (SP) por conta das políticas higienistas da época. Quando a gente pensa na questão LGBT ou na questão de homossexualidade, a gente pensa sempre em uma configuração do que é normal e do que é anormal. E são essas políticas higienistas que vão construir uma imagem do que é aceito socialmente. Podemos relacionar, inclusive, com o regime militar brasileiro”, explica. Além dos contextos diferentes em que se encontra a luta da comunidade LGBTQI+ no Brasil e Estados Unidos, existe algo que se perde nas reflexões acerca da importância da Revolta de Stonewall, como aponta Máira: “Acabamos nos voltando para o debate das questões de gênero e sexualidade em uma esfera es-
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tritamente individual, nos esquecendo de que há uma esfera do poder público, que é fundamental para a manutenção das violências e exclusões que vemos em todo o mundo”. A revolta de Stonewall Inn se mantém atual por ter sido protagonizada por pessoas como Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera, trazendo a importância da interseccionalidade entre gênero, raça e classe social. Stonewall também deu início às primeiras marchas do chamado Orgulho Gay nos Estados Unidos, em 1970. Mesmo já existindo a prática de ocupação das ruas para fins de manifestação, a tradição de comemorar o orgulho LGBTQI+ durante o mês de junho, se originou devido à revolta. “O fato do Stonewall Inn ter sido uma manifestação (ou uma revolta), contra a violência e os abusos cometidos pela polícia, mostra a luta pela laicidade do Estado, pela sua estrutura democrática, que deve passar pela questão do direito à vida e da existência e a liberdade dos corpos. E que principalmente, deve ser pensada como uma pauta coletiva”, complementa Nunes. A historiadora destaca ainda que há algo muito importante a ser recuperado nesse formato de marcha, que é o deboche e o escândalo. Uma carnavalização que gera choque e estranhamento. Também há uma radicalidade importante nessa estética de subversão que ainda se mantém presente em muitos movimentos atuais.
“Acabamos nos voltando para o debate das questões de gênero e sexualidade em uma esfera estritamente individual, nos esquecendo de que há uma esfera do poder público” explica, Máira de Souza Foto: Amanda Zanluca
LGBTQI+ A sigla mais conhecida para representar a comunidade é a LGBT que significa Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais, Transgêneros e Travestis. Atualmente, a sigla se expandiu para LGBTQI+ abrangendo também os que se consideram como Queer, Assexuais e Simpatizantes. A sigla é dividida em duas partes, sendo a primeira (LGB) relacionada à orientação sexual e a segunda (TQI+) que diz respeito ao gênero.
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Marcha comemora os 50 anos de Stonewall Mais de 10 mil pessoas foram contabilizadas na Marcha da Diversidade de 2019, edição realizada no dia 30 de Junho, a qual comemorou os 50 anos da Revolta de Stonewall – marco de conquistas para a comunidade LGBTQI+ - e a criminalização da homofobia, votada em junho de 2019 pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Giselda Dittrich, estudante de Psicologia, participante da ONG Mães pela Diversidade e criadora do Uma mãe para conversar (grupo de acolhimento fraternal de pessoas LGBTQI+ e familiares) esteve na Marcha. Ela conta que em meio à multidão de participantes do evento, teve uma breve conversa com um jovem e que o diálogo foi impactante e emocionante o suficiente para que o rapaz se desfizesse em lágrimas.
O evento foi organizado pelo Grupo Dignidade, Coletivo Cássia, Transgrupo Marcela Prado e UMA LGBT-PR, teve concentração na Praça Santos Andrade e terminou na Praça Rui Barbosa, também no centro de Curitiba. Confira algumas fotos da Marcha da Diversidade 2019.
Fotos: Clarissa Casagrande
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ONG oferece atendimento psicológico e jurídico
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O Grupo Dignidade atua desde 1992 na luta pela garantia e conquista dos direitos da comunidade LGBTQI+. O grupo nasceu em Curitiba (PR) e tem como objetivo atuar na defesa da livre orientação sexual, dos direitos humanos e na garantia à cidadania. Rafaelly Wiest, diretora de Informação do Dignidade e Diretora Administrativa da Aliança Nacional LGBTI, conta que conheceu o grupo em uma época que não havia muita informação. “O meu vínculo com o Dignidade começou em 1999, na minha adolescência. Eu estava meio perdida querendo me descobrir, e diferente de hoje em que temos acesso à internet, no início dos anos 2000 e na periferia de Curitiba, não tínhamos acesso a informação. Eu soube do Dignidade em 2006 por um amigo e iniciei no grupo como voluntária”. Em 2009, ela assumiu a presidência do Grupo Dignidade, ficando na gestão até 2013, ano em que tornou-se presidente do Transgrupo Marcela Prado, instituição parceira que nasceu dentro do Dignidade. O grupo atua como um guarda-chuva que abriga outras instituições menores, que atuam em diversas áreas. “A Aliança Nacional atua com advocacia e interlocução com o Estado Brasileiro, com o Legislativo, Judiciário e Executivo em âmbito nacional. A GayLatina é uma rede que cuida das questões relacionadas a América Latina e o Caribe. O Instituto Brasileiro de Diversidade Sexual (IBDSEX) trabalha com toda a parte acadêmica. O Centro Paranaense da Cidadania (CEPAC), fundado em 1995 e dentre as
remanescentes do grupo Dignidade é a instituição mais antiga, tem como objetivo a promoção dos direitos humanos e o acesso à educação e à saúde. O Espaço Paranaense pela Diversidade atua dentro do Paraná com jovens lideranças e coletivos. E o Coletivo Cássia que atua com mulheres lésbicas e bissexuais”, explica. Atualmente, o Dignidade oferece gratuitamente à comunidade o teste rápido para o HIV, atendimento psicológico e jurídico e formação sobre direitos humanos, comunicação e saúde. Rafaelly Wiest conta que a ONG realiza 100 atendimentos psicológicos por mês e mais de 3000 Testes de Tipagem Fluodoral (o teste de HIV). Semanalmente, também acontecem rodas de conversa sobre empoderamento feminino e questões relacionadas a saúde, discriminação, entre outras. Outra ação que a ONG tem feito é com um grupo de mães, em que uma delas se disponibiliza a ficar duas vezes por semana no espaço para atender as pessoas que foram expulsas de casa. Para a ONG, uma das maiores dificuldades é a financeira. Rafaelly Wiest explica que com o governo atual de extrema direita e extremamente conservador, o grupo tem dificuldade para obter apoio e a manutenção dessas atividades.
Rafaelly Wiest, diretora do Grupo Dignidade Foto: Maria Eduarda Biscotto
Haitiano recomeça sua vida com o turismo
Depois de perder tudo o que tinha no Haiti, Fritzler Germain veio para Curitiba em busca de estudos e uma vida nova. Por Caroline Biscarra
Em 2010, um forte terremoto de magnitude 7,0 na escala Richter atingiu o Haiti. A tragédia afetou cerca de 3,5 milhões de habitantes do país. Entre os atingidos, um sobrevivente, Fritzler Germain, 32 anos. Que após o terremoto pensou em sair do país para estudar e achar uma forma de voltar para o Haiti e mostrar para as pessoas que é possível levantar o país sim, e uma das formas, é através do turismo. Hoje, Fritzler, trabalha como estagiário no Instituto de turismo de Curitiba e busca conhecimento para depois poder aplicar em seu país.
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Revista F: Por qual motivo você deixou o Haiti e veio para o Brasil? Fritzler Germain: Por causa do terremoto de 2010, que atingiu a cidade de Petit-Goâve e outras 3, e acabou fazendo com que o País quebrasse em todas as suas plataformas e não tinha muito o que fazer, eu vim para buscar uma vida melhor. Porém o Brasil não era meu destino, mas como eu tinha o foco nos estudos, vim para cá. Revista F: Você encontrou alguma dificuldade por ter mudado de país? Fritzler Germain: No meu caso foi diferente pois eu vim para o Brasil legalmente, agora quem vem ilegalmente tem muito mais dificuldades. Quando eu cheguei tive dificuldades para conseguir um emprego, compreender a língua, a cultura, até se acostumar com tudo. Uma coisa que me
“Minha assistência aqui é mais para os turistas que falam inglês, francês e espanhol”, diz Fritzler Germain.
incomodou foi o racismo, pois lá não existia isso e eu só tinha visto em livros. Aqui essa questão é muito forte. Revista F: O que mais sente falta do seu país? Fritzler Germain: Comida, calor e mar. Revista F: Como conseguiu vaga para estudar na UFPR (Universidade Federal do Paraná)? Fritzler Germain: Eu entrei na UFPR em 2016 quando era disponibilizado uma prova para os imigrantes, escrita em português, porém não eram perguntas
ENTRE -VISTAS tão difícil de se compreender. Logo após vinham as entrevistas que eram feitas em inglês. Revista F: Como você explica o fato de ser um imigrante e trabalhar ajudando as pessoas a conhecerem Curitiba? Fritzler Germain: La na faculdade a gente tem que aprender coisas sobre o mundo inteiro e agora a gente está tendo um material especifico de Curitiba, o que me ajuda aconhecer melhor a cídade. Além disso, a minha assistência aqui é mais para os turistas que falam inglês, francês e espanhol. Revista F: Sentiu alguma dificuldade em aprender a língua Portuguesa? Fritzler Germain: Hoje eu já consigo compreender bem quando falam comigo, só na hora de me expressar que erro em algumas concordâncias, verbos, mais a gente vai aprendendo. “Eu entrei na UFPR em 2016 quando era disponibilizado uma prova para os imigrantes”.
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‘Eu não quero uma peça de protesto’ Diretor representa, em peça teatral, a exclusão do negro da sociedade brasileira Por Carmen Witasiak
Glayson Cintra de Souza, 29 anos, deixou a cidade de Mogi Mirim (SP) e veio para a capital paranaense, onde atua como como coordenador pedagógico no Teatro Cena Hum, local em que se formou ator e pelo qual dirigiu a peça “Negro não nego”, apresentada no Festival de Teatro de Curitiba de 2019. Formado em Pedagogia, ele acredita que a arte tem o papel de mexer com as pessoas e prefere atuar e dirigir peças que conscientizem as pessoas do quanto a sociedade marginaliza os negros no Brasil. Revista F: A peça relata aspectos mais relacionados a etnia, especificamente sobre o negro. Qual foi sua intenção? Glayson Cintra: Eu falei para o elenco: eu não quero uma peça de protesto, não é um protesto! Não quero bandeiras! E vamos para a luta? Não é nesse sentido, a gente está na luta, mas é uma luta de humanidade, de igualdade, nós não somos superiores nem inferiores a ninguém, nós somos seres humanos. É esse o ponto da peça e estamos aqui para mostrar que existe uma centralidade, existe uma cultura, existe uma manifestação negra que é usufruída por todo o país. E a gente quer mostrar que existe uma coisa de matar um negro a cada 23 minutos. Revista F: Onde você acredita que o racismo se manifesta de forma mais evidente?
Glayson Cintra de Souza é coordenador pedagógico no teatro Cena Hum.
Glayson Cintra: É nas pessoas. Para mim acontece muito no olhar ao atravessar a rua, no segurança me seguindo no shopping, ou ao chegar em um bar, levantar para atender o celular e a pessoa ficar de olho e achar que você vai sair sem pagar. Enfim, coisas desse tipo. Revista F: Como você acha que o teatro pode ajudar contra o racismo? Glayson Cintra: Eu acho que não só o teatro, como todas as artes podem ajudar. Porque a arte está no lugar da sensibili-
ENTRE -VISTAS dade quando a gente vê uma dança, uma peça de teatro, acessa muito a sensibilidade das pessoas, então acho que falar sobre isso através de qualquer manifestação artística, vai chegar até as pessoas de alguma forma. Revista F: Em comparação com os atores brancos, o número de negros, tanto na TV como no teatro, é muito pequeno. Como você entende essa falta de oportunidade? Glayson Cintra: Por causa desse racismo estrutural. Tem muito negro que está na luta para tentar chegar nesse lugar, e está fazendo muita coisa. Muita gente anônima que faz as coisas acontecerem. Existe esse lugar do preconceito e as pessoas infelizmente não são reconhecidas por conta disso, porque existe muito esforço, existe também a coisa do medo e a coisa da oportunidade.
“Negro não nego” foi apresentada no Festival de Teatro de Curitiba de 2019.
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‘O que eu fiz de melhor, em termos acadêmicos, está ligado ao xadrez’ Wilson da Silva conta como levou a atividade da infância para sua vida profissional Por Barbara Possiede
No ano de 1974, o Grupo Escolar Yvone Pimentel, em Curitiba, foi o local onde um garoto, que na época tinha por volta dos seus 10 anos, descobriu o incrível jogo de xadrez. De lá pra cá, ele deu continuidade à sua educação, sem nunca esquecer a atividade. Hoje, Wilson da Silva, é referência no Brasil quando se fala no estudo desta modalidade. Coordenador do Clube de Xadrez Erbo Stenzel, professor univer-
em uma escola pública na periferia de Curitiba, era uma escola que não Tinha uma quadra coberta, então, em dias de chuva, o professor de educação física não tinha o que fazer com os alunos. Havia um baú de jogos no canto da sala, o que me chamou a atenção foi o xadrez, pelas peças diferentes: a torre, o cavalo. O professor sabia muito pouco sobre o jogo. Mas este ponto de partida foi essencial, porque se eu não
sitário e autor de dos livros “Xadrez e edu- tivesse aprendido com ele, talvez a minha cação: contribuições da ciência para o uso carreira fosse completamente diferente. do jogo como instrumento pedagógico” Revista F: Quando deixou de ser hobby e e “Xadrez para todos: a ginástica da men- passou a fazer parte da sua profissão? te”, ele nos conta um pouco mais sobre a Wilson da Silva: Começou a ser uma história desse hobby que virou profissão. profissão quando percebi que como jogador profissional eu não iria muito longe. Nessa época, conheci o Grande Mestre Revista F: Como você conheceu o xadrez? Wilson da Silva: Aprendi a jogar xadrez Internacional de Xadrez, Jaime Sunye,
ENTRE -VISTAS que comentou a necessidade de professores de xadrez. Gente que conhecesse a educação e as teorias de aprendizagem. Então, comecei a me especializar, partindo da graduação de Pedagogia na Universidade Federal do Paraná (UFPR), até os dois pós-doutorados em informática educacional pela mesma instituição. Tudo teve ênfase no xadrez. Revista F: Como é o universo acadêmico de pesquisas quem tem o xadrez como objeto? Wilson da Silva: O Xadrez é interessante para pesquisas porque tem um sistema de números que expressa a força dos jogadores e permite compará-los. O jogo acaba sendo um instrumento para as ciências cognitivas. Dá para fazer muita pesquisa interessante usando-o como ferramenta de estudo. Revista F: Qual importância de estudar o assunto na academia? Wilson da Silva: O Xadrez é um jogo relativamente simples, mas que te permite avaliar como as pessoas pensam. À medi-
da que ele vai se tornando mais conhecido pela academia, demonstramos que pode ser um coadjuvante interessante para o raciocínio. E por ser um jogo barato, as escolas começam a se interessar. Pense na matemática, por exemplo, ela exercita o raciocínio, mas é árida. Já o jogo, por ser uma atividade lúdica, atrai as pessoas.
“Tudo teve ênfase no xadrez”, disse o professor Wilson sobre sua produção acadêmica.
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A BELEZA D O I N V E R N O
Em meio ao frio intenso de Curitiba, em baixas temperaturas, às paisagens costumam ser discretas, neutras e sóbrias. O clima, ora seco, ora úmido, pela geada ou pelas grandes chuvas, marcam essa época do ano. Mesmo assim, temos o privilégio de encontrar lindas paisagens, de galhos secos a lindas flores, que brilha aos olhos de quem vê. A beleza se mostra nos detalhes, nas formas, na fauna e na flora. Como é bom sentir, contemplar e se encantar, com a beleza do inverno. Por Maria Eduarda Biscotto
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Reinauguração do Cine Passeio Por Clarissa Casagrande Após 10 longos anos de reforma o Cine Passeio foi reinaugurado dia 26 de março de 2019, num evento que foi parte das comemorações de 326 anos da cidade de Curitiba. Já no primeiro mês de funcionamento, o espaço cultural exibiu estréias e classicos e sediou os festivais 8º Olhar de Cinema e Subtropikal. A estrutura foi montada a partir de um prédio histórico de 1930, tombado como Unidade de Interesse Especial de Preservação (UIEP). A visita ao cinema é um passeio interessante tanto para curitibanos e turistas, já que retrata parte da história da região onde foi instalado: o centro histórico
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e, especialmente, a famosa Rua Riachuelo. Além disso, traz de volta o cinema de rua para aqueles que querem fugir dos cinemas convencionais, em sua maioria, em shoppings.
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R E A C H I N G
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S O M E T H I N G Por Eduarda Moreira
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A série Euphoria (lançada em 2019 pela HBO e estrelada por Zendaya) fala sobre a angústia que o jovem sente, o medo de ser insuficiente, o nervosismo de não alcançar metas inventadas, a vontade de buscar algo que pareça significativo, que o torne especial, enfim. As cenas mostram estudantes passando por um Ensino Médio conturbado. Nos rostos, as maquiagens excêntricas contribuem para a construção da personalidade e enredo de cada protagonista. As luzes e os efeitos das câmeras nos ajudam a ver as diferentes nuances e perspectivas dos cenários introduzidos. Os personagens parecem ter mil coisas passando pela mente. São sentimentos misturados, dores intensas e escondidas. É um medo de tudo mas uma vontade do novo. Sentem a ansiedade de um futuro. Mas que futuro? O futuro é agora ou agora é o presente? Respira. 1, 2, 3. O futuro é brilhante, eles dizem.
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GLOW NASA
“This is one small step for a woman One giant leap for woman-kind” Por Stefany F. Bodziak
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Como já dizia Ariana Grande, em NASA, todas nós, mulheres, somos uma galáxia. Dentro de nós cabe o universo e todo o mistério que ele guarda, somos maiores que qualquer medida. Não podem nos limitar e não fomos feitas para nos encaixar em padrões. De longe somos estrelas brilhantes e de perto somos planetas surpreendentes, tão inexplicáveis que para nos entender é necessário muito mais que uma agência do Governo americano. Nascemos para brilhar. “It’s like I’m the universe and you’ll be N-A-S-A”
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O tempo Por Maria Eduarda Biscotto
Incessantemente apressado, em um ritmo frenético, perfeito, sem parar, sem pausa, sem trégua, sem dó. Quantas histórias cabem dentro dele? Incontáveis! Um milésimo dele faz toda diferença, e que diferença. Ele é bom, ele é ótimo, um perfeito aliado, mas pode ser ruim também. Ele é amigo, ele cura, acalma. Pode ser inimigo, judia, rouba. Ele é um só, e anda em uma só direção, no mesmo ritmo, a todo instante e momento. O que você tem feito dele? Ele tem sido seu amigo? Ou seu inimigo? Nós trabalhamos contra ou a favor dele? O tempo, ele não para.
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350 anos de fé, de geração em geração Por Maria Eduarda Biscotto Edificada entre 1876 e 1893, é impossível não se encantam com cada detalhe da arquitetura do local, localizada na Praça Tiradentes, na região central da capital, muitos admiradores param em seu caminho para admirar a grandiosa fachada, logo em suas escadarias, fieis aguardam o começo das celebrações. Lá dentro, um silencio respeitoso, olhos fitos no altar, ou cabeças curvadas em forma de devoção, o que faz encantar qualquer um que estava por ali.
350 anos de fé e devoção, marcam o Jubileu da Catedral Basílica Menor de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, sendo o principal templo da capital, que faz parte da história de várias gerações do povo curitibano. Todos os dias, centenas de pessoas entram e saem, em busca de renovação, pedidos e agradecimentos, povos de todos os tipos e idades, desde simpáticas senhoras, até jovens e crianças que apreciam o templo.
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Voluntários levam alegria e atendimentos básicos à Tunas
Equipe saiu de Curitiba em direção ao bairro Vale do Tigre motivada a fazer a diferença na vida dos moradores Por Jessica Sassi
Mais de 50 pessoas se deslocam semanalmente para realizarem trabalhos de ação social no Vale do Tigre, um bairro de difícil acesso localizado em Tunas do Paraná, na região metropolitana de Curitiba (PR). No local, habitam pessoas simples e trabalhadoras. O intuito do projeto é transmitir alegria e bem-estar aos moradores da região, levando benefícios como tratamento básico de saúde bucal, aferição de pressão, lazer para as crianças, cesta básica, bazar beneficente, entre outros. A motivação maior dos voluntários é ver a alegria e o entusiasmo que a população transmite.
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O evento acontece em escolas públicas cedidas pela prefeitura da cidade e avaliados pelo organizador e Assistente Social, Renan Ricardo Prochinski. A psicóloga Gladiana Daliada, uma das organizadoras do evento, garante que cada ação que é realizada é única, e que todas tem algo de especial. Os atendimentos que realiza no local são muitas vezes simples, suprindo necessidades momentâneas. “Paramos tudo por aquelas pessoas, naquele momento. E eu acredito que isso é agir com solidariedade, é quando estamos dispostos a doar nosso tempo e talento por alguém que nunca vimos”, relata.
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Passado e presente nas construções de São Francisco do Sul Por Giovanna Palma O ano era 1504 quando o navegador francês Binot Palmier de Gonneville, que estava à frente de uma expedição para as Índias, acabou por desembarcar em São Francisco do Sul, a primeira cidade do Estado de Santa Catarina e a terceira do Brasil. Fundada em 1847, desde 1658 São Francisco já era conhecida como uma vila. Um dos principais pontos turísticos da cidade é o Forte Marechal Luz, construído para defender a entrada da baía da Babitonga. Desativado em 1976, as instalações, que eram destinadas ao alojamento de soltados, foram convertidas em um hotel para os militares do exército. O Hospital de Caridade, fundado em 1859 e fechado em 2012, também faz parte do cartão postal da cidade e recebe visitantes. No centro histórico, a igreja Matriz, o Mercado Municipal, as praias e o porto formam um circuito que oferece aos visitantes uma viagem entre o passado e o presente de São Francisco do Sul, ou, como é conhecida por alguns turistas, São Chico.
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Claudia Silvano além do pijama Diretora do Procon, conhecida por seu estilo de roupa, Claudia fala sobre sua vida pessoal , gostos e futuro Por Nicole Bek
Com uma feição serena e objetiva, Claudia me recebe em sua sala e me convida a sentar. Sua mesa fica no canto direito de uma sala grande, dividida com alguns colegas. Uma mesa cheia de papéis e pastas, dois monitores e uma pequena lixeira que ela faz questão de me mostrar: foi ela mesma quem comprou e a acha “uma graça”. Na parede, um pequeno quadro negro com uma frase escrita a giz: “Para hoje: acordo, respeito e solução’’. Em suas mãos ela segura o celular, que recebe notificações a todo momento. Claudia Francisca Silvano, diretora do Procon (Programa de Proteção e Defesa do Consumidor) desde 2011, é conhecida por suas roupas peculiares, postura firme e empenho em defender os direitos do consumidor. Filha de pai comerciante com quem teve contato nulo, nasceu em São Paulo e veio para Curitiba ainda pequena, com a mãe, considera-se hoje mais curitibana do que paulista.
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Se define como, Bem-humorada e organizada, gosta de artesanato, comer, fazer compras na feira e cores quentes. É também exigente com quem a cerca. “Não admito desrespeito com os consumidores que procuram o órgão público. Como o fígado, com gosto, de quem faz isso’’. Afirma ser uma pessoa agitada, que não gosta do fim de semana, e que todos os dias acorda com as galinhas. Mantem sagradamente sua rotina: há anos, toma seu café na mesma panificadora. Casada há 13 anos, seu hobbie preferido é ficar em casa com sua companheira e as duas cachorras. Durante a escola, era uma aluna mediana, que anotava tudo. Estudar não era a coisa que mais gostava de fazer, mas se esforçava. Sua primeira formação foi Pedagogia, mas foi trabalhando no Procon que conheceu um amigo que lhe inspirou a fazer faculdade de direito e trabalhar com direito do consumidor. Desde 1998, depois de passar por todos os setores do Procon, acreditava não ter perfil para ser diretora, trabalho que define como estressante e desafiador, por “ter como obra prima o problema”. Respeitosa com o público, prefere não falar sobre as histórias inusitadas que aconteceram durante sua direção. Mais à vontade, confessa: “Tenho todo tipo de medo. Medo de sofrer, morrer, ou ficar doente’’. O que contrapõe com
a imagem firme e corajosa que aparenta nos programas de televisão, onde aparece publicamente. Sua colega, Glória Mattiolli, responsável pelo site de atendimento ao consumidor, a acompanha desde 1998 no Procon. Ela afirma que Claudia é generosa e comprometida. Glorinha, como é carinhosamente chamada pela amiga, fala da diretora com muita satisfação e alegria. Sobre o futuro da sua carreira profissional, diz: “Para mim está ótimo, já deu, não sou ambiciosa, minha ambição é viver uma vida tranquila’’, e descarta completamente a possibilidade de se tornar política, algo que alguns esporadicamente lhe sugerem.
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Professora Cristina se destaca pelo carinho com seus alunos Cristina Penteado da Silva é professora há 24 anos e se dedica a seus pequenos alunos com o mesmo brilho no olhar do início da carreira Por Renata Cristina dos Santos
Já faz tempo que Cristina Penteado da Silva não é só Cristina: há 24 anos ela é a “Profe Cris", 21 anos dedicados ao mesmo colégio. Sua história no CMEI (Centro Municipal de Educação Infantil) Fazenda Boqueirão é repleta de dedicação a crianças que não são seus filhos, mas a professora cuida como se fossem. Ela conta que guarda com muito carinho as histórias, lembranças dos alunos, e também fotos e outros objetos de recordação. Com destaque para uma caneca que ganhou da mãe de uma aluna. Cris chegou a fazer um curso técnico de nível médio em Administração, e até trabalhou na área, mas foi na educação que ela encontrou sua vocação. Confessa que foi sem querer, como uma obra do destino: “Meu pai me disse: abriu um concurso, você não quer tentar fazer? Fiz e passei. E Foi aqui que me apaixonei pelas crianças e pela profissão”, revela. Cristina prefere ser chamada de professora a tia, por uma questão de reconhecimento. Ela conta com orgulho sobre o ensino passado às crianças, planejado pela equipe pedagógica, e que executa com muita dedicação em sala com os pequenos, que têm de um a seis anos.
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Vanda Pereira de Moraes, que trabalha há 13 anos como professora no mesmo CMEI que Cristina afirma “Ela trabalha bem, é dedicada, tem carinho”. A colega explica que é notável sua dedicação a todos os alunos. Cristina não se imagina em outra profissão ou em outro local, pretende encerrar a carreira no mesmo CMEI. Se define como privilegiada e grata por ter a oportunidade de fazer parte do desenvolvimento das crianças.
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Expediente A Revista F é uma produção laboratorial do curso de Jornalismo do Centro Universitário Internacional Uninter. Chanceler Prof. Wilson Picler Reitor Dr. Benhur Gaio Coordenador do curso de Jornalismo Dr. Guilherme Carvalho Professora responsável Ma. Marcia Boroski (MTB: 10737/PR) Projeto gráfico Núcleo de Imagem Ponto Zero Direção de Arte e Diagramação Milson Renato de Oliveira Junior
Produção:
Capa Eduarda Moreira, Stefany Bodziak e Milson Junior Edição e tratamento de imagem Clarissa Casagrande, Eduarda Moreira, Maria Eduarda Biscotto, Milson Junior e Stefany Bodziak Estudantes de Jornalismo Amanda Zanluca, Alex Garcia dos Santos, Barbara Possiede, Carmen Witasiak, Caroline Biscarra, Elaini Vianna Ribeiro, Felipe Moreira Castro, Giovanna Palma, Jessica Sassi, Maria Eduarda Biscotto, Nicole Beck, Renata Cristina dos Santos Samara Pontes e Sylvia S. Tobaldini. Estudantes de Publicidade e Propaganda Clarissa Casagrande, Eduarda Moreira, Milson Junior e Stefany Bodziak. Endereço Rua Saldanha Marinho, 113, Centro. Curitiba (PR) Contato nucleopontozero@gmail.com
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