Revista Entrelinha

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REVISTA

ENTRELINHA Revista-laboratório da disciplina Design de Notícia Comunicação Social - Habilitação Jornalismo- UCS Primeiro semestre 2016

Os Perigos do Excesso - p.10 Medo de Comer - p.18 O corpo é um Templo - p.26


EDITORIAL Esta edição da Revista Entrelinha traz como tema central o corpo humano, nas suas mais varia­ das funções e características. Uma série de reportagens especiais foi produzida pelos acadêmicos de Comunicação Social, habilitação em Jornalismo, da Universidade de Caxias do Sul, da disciplina De­ sign de Notícias. O grupo de alunos responsável por esse projeto autoral entendeu que o momento histórico que a sociedade atravessa está condicionado ao materialismo. Temos a percepção clara de que essa super­ valorização do consumo pelo consumo leva a uma interação social pobre em afeto e abundante em aparências. Neste cenário, o corpo humano, instrumento indispensável para o convívio, assume uma centralidade conceitual que merece sua devida análise pelo jornalismo. Por meio da Entrelinha, esta análise foi feita, dentro de um programa disciplinar e conceitual que engloba tanto a escolha de pautas, quanto a produção e a diagramação do trabalho. Que neste mundo tão avançado tecnologicamente, você dedique um pouco de seu tempo para ler e cuidar da sua saúde. Boa leitura!

EXPEDIENTE REITOR: Dr. Evaldo Antônio Kuiava DIRETORA DO CENTRO DE CIêNCIAS SOCIAIS: Dra. Maria Carolina Rosa Gullo COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO: Dr. Álvaro Benevenuto Júnior DISCIPLIA: Design de Notícia

ALUNOS: Ana Lara Lessa Gozzi André Sebben Ramos Ângela Zorzi Salvallaggio Estefani Alves Felipe Jung Franciane Peracchi Gabriela Fiorio Kimberly Salomão da Silva Pedro Henrique dos Santos

PROFESSORA: Dra. Marlene Branca Sólio PROJETO GRÁFICO: Ângela Zorzi Salvallaggio

Endereço Campus-Sede Rua Francisco Getúlio Vargas, 1130 Bairro Petrópolis - Caxias do Sul - RS 95070-560 Telefone: (54) 3218-2100


Esporte é Qualidade de Vida

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O Reflexo da Criança na Mídia

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Os Perigos do Excesso

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Alimentação de Verdade mesmo com Restrições

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Medo de Comer

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Reiki e Meditação são Formas Distintas de Transformação

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O Corpo é um Templo

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ESPORTE É

QUALIDADE DE VIDA

FOTO: GABRIELA FIORIO


CORRIDA

Os municípios da Serra gaúcha, nos últimos anos, estão abrindo um grande espaço para as corridas de rua Por Gabriela Fiorio

Basta um tênis, um calção e uma camiseta, colocar um pé na frente do outro e disparar. A corrida de rua, um dos esportes mais demo­ cráticos que existe no mundo, a cada dia ganha mais adeptos. Além da facilidade para praticar, correr não exige grandes recursos financeiros e traz vários benefícios à saúde. Correr está virando moda. Febre há muitos anos nos Es­ tados Unidos, no Brasil a prá­ tica começou em São Paulo e no Rio de Janeiro. Há mais ou menos cinco anos, sem da­ dos precisos, ela começou a se disseminar em outras cidades do Brasil, chegando também à Região da Serra gaúcha. O Clube de Corre­ dores de Caxias do Sul, fun­ dado em 11 de setembro de 2014, com a necessidade de existir uma entidade para re­ presentar a nova moda, reúne os maiores grupos de corrida da cidade. Atualmente, são 175 equi­ pes que buscam melhores condições para treinamento e difundem todas as provas que ocorrem no Estado, tornando as corridas de rua mais populares e estimulando o contato social. O aumento da aderência à modalidade traz muitos benefícios a saúde. “A corrida faz com que o sono fique menos fragmentado, aumen­ ta o bem-estar, é, melhora a visão, o coração e a pressão arterial, além de fortalecer os ossos e os músculos”,

ressalta o presidente do Clube de Corredores de Caxias do Sul, Marial­ do Lopes Rodrigues. Um estudo publicado no Journal of the American Medical As­ sociation reafirma que a prática de atividades físicas pode aumentar a longevidade. A pesquisa australiana estudou mais de 200 mil adultos por mais de seis anos até provar os reais benefícios da corrida para a saúde.

OS MUNICÍPIOS DA SERRA GAÚCHA, NOS ÚLTIMOS ANOS, ABREM GRANDE ESPAÇO PARA AS CORRIDAS DE RUA Quando realizada em ritmo modera­ do, a corrida diminui as chances de morte em até 44% e aumenta a expec­ tativa de vida em cerca de seis anos em homens e cinco em mulheres. Amadores em peso Os municípios da Serra gaú­ cha, nos últimos anos, estão abrindo um grande espaço para as corridas de rua. Segundo o Instituto Fuja do Estresse, Corra pra Saúde – Ifecs, – o crescimento das corridas ainda

não é o suficiente para uma verda­ deira cultura da prática e educação esportiva, tendo como foco a saúde e a integração social, bem como a efetiva contribuição dada ao turismo em geral. O Ifecs, criado em 2011, pro­ move corridas pela Região da Ser­ ra gaúcha com foco na saúde. De acordo com o diretor executivo do Instituto, Geremias Rech, a partici­ pação das pessoas em 2011 va­ riava de 100 a 120 atletas por prova. Hoje, são mais de 500. “Alguns atletas profissionais participam, mas em número bastante pequeno. O foco das corridas são os amadores. Nós os incentivamos e motivamos para que despertem consciên­ cia de que, com a prática de esportes, todos ganham em saúde e equilíbrio emocio­ nal”, destaca Rech. Dados analisados pelo Instituto mostram que a práti­ ca de corrida de rua tem um grande futuro pela frente. No caso de provas amadoras, é possível um crescimento ainda maior que o profissional, pois as pessoas em geral buscam a sen­ sação de bem-estar. Hoje, em todo o lugar, você vê alguém praticando corrida conhecendo novos lugares e fazendo amigos. Mas, para correr e melhorar a cada dia sua performan­ ce, é preciso alimentar-se bem e tam­ bém descansar.

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O REFLEXO DA CRIANÇA NA MÍDIA

FOTO: ALDRIN JONATHAN


MÍDIA Campanhas publicitárias surgem na intenção de seduzir cada vez mais o público infantil para a compra de sandálias, brinquedos, roupas e videogames e aproximam o universo adulto do mundo adorável das crianças Por Estefani Alves

A concepção que se tem da infância, hoje, não é a mesma de anos atrás. A grande mídia altera a forma de ver e tratar as crianças, e traz, hoje, uma nova forma de repre­ sentação do público infantil, assim como o material por ele recebido. Dentre diversos problemas que vêm à tona com o uso inadequado da imagem das crianças, o pior e mais preocupante é a erotização. Isso porque representa o público de ma­ neira errônea, assim como influen­ cia para uma “adultização” precoce, contato com o consumismo e estipu­ la um modo de viver não saudável. Apesar de todos esses proble­ mas serem considerados caracterís­ ticas da sociedade contemporânea, precisamos entender um pouco do contexto histórico da situação. Se­ gundo o artigo “Erotização dos cor­ pos infantis na sociedade de consu­ mo” estudos de Jane Felipe e Bianca Salazar Guizzo, de 2003, não se tem muitos dados sobre a infância na Grécia antiga, concluindo que não havia relações entre adultos e crian­ ças. No entanto, os gregos sempre foram um povo de cultura educa­ dora, que adquiriu uma formação diversa, semelhante a da socieda­ de moderna. O sentido da infância para ele, porém, não é o mesmo da atualidade. Com o passar do tem­ po, pode-se perceber a importân­ cia da infância, graças às pinturas romanas, assim como a preocupa­

ção em proteger as crianças dos as­ suntos relacionados à sexualidade. Durante a Idade Média, quan­ do as crianças dominavam a fala, por volta dos sete anos, já eram consi­ deradas adultas e tratadas como tal. No século XII, os meninos de treze anos já poderiam se casar com me­ ninas de pelo menos onze anos, sem pedir o consentimento dos pais. Ainda naquele período, as crianças assumiam responsabilidades como adultos muito cedo, e não passavam pela fase da juventude, que, como sabemos, é considerada superim­ portante na sociedade de hoje. A re­ lação de amor paternal só passou a existir nas famílias burguesas – antes eram baseadas em princípios morais e sociais. Nos séculos XVIII e XIX, houve uma nova repre­ sentação social da infân­ cia; por conta da divisão dos papéis de gênero, a mulher assumiu o papel de responsável pelo lar. Com base no ar­ tigo “Erotização dos corpos infantis na so­ ciedade de consumo”, no período moderno a expansão do capitalismo e de meios tecnológicos ampliou o alcance dos meios de comunicação e, com isso, a preocupação com a educação infantil, assim como desenvolvi­

mento do conceito de ingenuidade, pureza e inocência, características que não deveriam ser corrompidas pelos segredos adultos. Com o pas­ sar do tempo, as ideias mudam e no­ vos conceitos aplicados às famílias, como as mães que assumem o papel de matriarca, filhos de pais separa­ dos e o capitalismo, têm um novo pa­ pel de influência direta sobre todos. Podemos comprovar esse qua­ dro quando programas de tele­visão e desenhos animados ditam vendas a lojas de brinquedos, como nos conta a gerente da Estação dos Brinque­ dos, Juliana Matte. Segun­do ela, os principais brinquedos para meninos ainda são os carrinhos, porém os super-heróis estão ganhando força no mercado. Já os brinquedos que

DENTRE DIVERSOS PROBLEMAS QUE VÊM À TONA COM O USO INADEQUADO DA IMAGEM DAS CRIANÇAS, O PIOR E MAIS PREOCUPANTE É A EROTIZAÇÃO

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MÍDIA

O PÚBLICO INFANTIL É BASTANTE FRÁGIL E FACILMENTE PERSUADIDO mais vendem para as meninas são as Barbie ou Polly. Além de tradicio­ nais há anos, essas bonecas passam a ideia de glamour e feminilidade que a sociedade contemporânea tenta vender para as mulheres em geral. Dessa forma, as meninas crescem com a ideia de que precisam inves­ tir dinheiro em itens caros e que fa­ zem parte da rotina na fase adulta. Segundo Juliana, muitos itens ainda são os pais que escolhem­para os filhos, como os jogos, que têm um bom percentual das vendas gerais. Esse tipo de situa­ ção denominou uma nova fase: pós-modernidade, em que a infância é mui­ to discutida e traz a ideia de como as crianças vão se relacionar com o mun­ do na contemporaneidade. Isso se dá pela influência dos meios de comunicação e da publi­cidade, que divi­ dem com os pais e a escola o próprio papel de trans­ missão de conhecimento, educação comportamental e valores. Com o fácil aces­ so à internet e à televisão, as crianças começam a consumir um material adulto e com isso en­ tra em ação o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária (Conar), que atua desde o final dos anos 70 e é uma organização não-go­ vernamental que visa a promover a liberdade de expressão publicitária e a defender as prerrogativas consti­ tucionais da propaganda comercial. O código também aponta como julgar pelo Conselho de Ética denúncias de consumidores, auto­

ridades, associados ou formuladas por integrantes da própria direto­ ria quando há abuso por parte das empresas. Mais de 8 mil represen­ tações já foram julgadas pelo Co­ nar e desde 1998, quando se teve o primeiro caso envolvendo o uso da criança ou a influência exerci­ da sobre a mesma, se tem registro de 254 casos, segundo as infor­

elas se encaixam no sentido lúdico, como no case Família ExpoBento, usa para representar a criança em família e sem consumo de um pro­ duto específico. Thamy ainda fala sobre a influência da publi­cidade no público infantil. “O assunto é sempre delicado. Quando envolvemos a imagem da criança em uma campanha publicitária, precisamos es­ tar conscientes da influência desta no desenvolvimento do caráter dos pequeni­ nos, que terá como conse­ quência a construção e o desenvolvimento do futuro de todos nós. Sim, o públi­ co infantil é bastante frágil e facilmente persuadido; é preciso partir de nós, publi­ citários, a entrega de uma comunicação ética e que não viole os direitos e valores, prin­ cipalmente daqueles que ainda não os podem distinguí-los”, afirma ela. Neste momento, a criança adquire um papel importante e de­ terminante: percebe-se nela a possi­ bilidade de atuação como consumi­ dora e como veículo de consumo. A banalização do adulto e a erotização infantil são reais, assim como a in­ fluência exercida sobre elas. Isso precisa ser discutido com seriedade e dada a devida importância ao caso.

AS AGÊNCIAS DE PUBLI­ CIDADE ESTÃO MAIS ATENTAS AO CÓDIGO DE ÉTICA DO PROFIS­ SIONAL DE PUBLI­ CIDADE E PROPA­ GANDA, BEM COMO AO ESTATUTO­DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

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mações contidas no site do órgão. Para evitar esse tipo de situa­ ção, hoje as agências de publicidade estão mais atentas ao código de ética do profissional de publicidade e pro­ paganda, bem como ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A agência de publicidade Alvo Global, de Bento Gonçalves, toma diversos cuidados em relação ao assunt o. Se­ gundo a assistente de atendimento, Thamy Weirich, evita o uso de crian­ ças em campanhas, porém quando


FOTO: EDITORIAL VOGUE PARIS 2011


OS PERIGOS

DO EXCESSO

FOTO: PIXABAY


EXCESSO As atividades físicas costumam ser boas para o nosso corpo, mas o exagero na prática pode trazer consequências maléficas à saúde. O uso de remédios para acelerar resultados também pode gerar complicações sérias ao organismo Por Pedro Santos

São vários os fatores que levam pessoas a realizarem exercícios físicos: a busca por um corpo mais bonito e saudável, a cura de lesões, a sensação de se sentir vivo, entre outros. Todas essas boas intenções, porém, podem gerar o efeito contrário ao desejado, em casos de prática errada ou excessiva. Em algumas ocasiões, os danos podem ser maiores do que se imagina. Normalmente associada à saúde, a prática de atividades físicas em demasia pode acarretar alguns problemas graves, como a hipertrofia muscular e lesões de articulações, além de exaustão e fadiga extremas. O exagero nos exercícios também pode trazer consequências ruins a longo prazo, como aumento da frequência cardíaca, irritabilidade, insônia e enfraquecimento do sistema imunológico. S ã o esses os principais sintomas do overtrainning, como são chamados os exageros nos treinos. Segundo Ana Ruzzarin, Mestre em Ciências da Saúde pela PUC-RS, esse comportamento decorre principalmente da pressa em ter um corpo bonito, que só aparece com o tempo, depois de muito esforço e dedicação. Ela também chama a atenção para a importância

de deixar descansar o músculo, pois é só nesse período que ele começará a crescer. Remédios Ilícitos A falta de persistência para conseguir o corpo dos sonhos também pode levar as pessoas a tentarem soluções ainda piores, como o uso de fármacos para acelerar os resultados. “Eles entram prometendo o corpo lindo sem grandes sacrifícios e a curto prazo. Mas tudo na vida que vem fácil acaba tendo um alto custo”, alerta Ana. E tem mesmo: o uso indiscriminado de anabolizantes, comumente utilizados para o aumento dos músculos, pode gerar infertilidade e redução na produção de espermatozoides, além de alteração do volume testicular e mamário. Funções cardiovasculares e do fígado também podem ficar comprometidas, sem falar no risco grande de dependência. Já os remédios para emagrecer também podem ser prejudiciais: alterações no sono e no humor, perda muscular, complicações cardíacas são alguns dos problemas. Uma boa dica para evitar a tentação dos remédios é a prática de

A FALTA DE PERSISTÊNCIA PARA CONSEGUIR O CORPO DOS SONHOS TAM­ BÉM PODE LEVAR AS PESSOAS A TENTAR­ EM SOLUÇÕES AINDA PIORES

esportes de que os interessados gostam, como forma de não perder a motivação nos treinos. Fazer exercícios com a ajuda de profissionais pode conter excessos e garantir a correta utilização desses meios. Fisiculturismo Saudável Quem costuma seguir esses conselhos é a fisiculturista Adri Oliboni, moradora de Flores da Cunha, que há 15 anos mantém uma rotina puxada de treinos – nos últimos seis, acompanhada de um profissional. A decisão mudou seus conceitos sobre musculação: hoje, faz três treinos por semana, menos do que fazia antes. Mas a intensidade das atividades combinada com uma dieta rígida contribuem para atingir os resultados que há muito tempo queria. Os benefícios, segundo ela, vão além da aparência: a liberação de endorfina e o fortalecimento das articulações auxiliam na realização de tarefas do dia a dia. Adri também destaca que a prática de exercícios oferece maior longevidade às pessoas, como os idosos de 60 ou 70 anos com quem costuma treinar. Isso, claro, sem o uso de substâncias ilícitas, as quais considera totalmente desnecessárias e perigosas. “Não espere milagres e resultados rápidos. E, claro, escolha um profissional com competência e experiência para acompanhar os treinos”, aconselha Adri aos que estão pensando em se aventurar na área. Tão saudável quanto a correta realização de exercícios físicos é ouvir as dicas de alguém que, como ela, entende muito do assunto.

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EXCESSO

Jovens que abusam de cirurgia plástica Por Felipe Jung

Hoje, a cirugia plástica deixou de ser um procedimento apenas para adultos. Ela começa na adolescência, quando jovens procuram centros de estética para corrigir imperfeições, como seios murchos, nariz de velho, pele em excesso, boca de pato, entre tantas outras “ imperfeições” que eles veem em si. Geralmente, os viciados em cirurgias plásticas são jovens que, desde a infância, sofreram bullying. Tudo começa na própria escola, com piadas de mau gosto e até mesmo apelidos que os amigos colocam. A Dra. Rossane Plasteck, ci­ rurgiã plástica, nos fala um pouco sobre os benefícios e malefícios, bem como sobre transtorno e obses­ são por plásticas. A percepção exagerada sobre o próprio corpo leva a uma série de prejuízos. Há quem deixe de se re­ lacionar e evite situações sociais em que a “imperfeição”possa ser perce­ bida, desenvolvendo uma espécie de fobia, que pode atrapalhar até a vida profissional. A preocupação com a aparência pode levar à depressão e, em casos mais graves, ao suicídio, afirma a Dra. Rossane. Para a cirurgiã, é difícil perce­ ber sintomas do transtorno nos pa­ cientes que procuram cirugia plásti­ cas. “Há casos gritantes, mas muitos são sutis nas reclamações”, afirma, destacando que a orientação é não realizar o procedimento ao perce­ ber a dismorfofobia. “O profissional

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precisa negar a operação e, depen­ dendo, até indicar o tratamento psi­ quiátrico.” “Amo muito meu trabalho e o faço com todo prazer; gosto de fazer as pessoas felizes consigo, apenas melhorando o que as incomoda, não exagerando ou até mesmo achando coisas erradas onde não há”, diz a médica. Até onde vamos na conquista da beleza Com 29 anos e um grande nú­ mero de cirugias plásticas feitas pelo corpo e rosto, Julia Dondi, nos conta o porquê de fazer um grande núme­ ro de cirugias estéticas. “Sempre me senti a última opção em tudo. Era aquela em quem achavam defeitos e nunca estava satisfeita com meu rosto e até meu corpo”, afirma a jovem. Julia nos conta que com 16 anos, já fez sua pri­ meira cirugia plástica. O que mais a incomodava era seu nariz. Após algum meses, ela percebeu o quanto era fá­ cil e prático para ela mudar algo que a incomodava. “Depois que rece­ bi meu primeiro elogio, foi como se tudo tivesse vali­ do a pena”, diz Julia. Logo

após ela fez lipoaspiração juntamen­ te com lipoescultura. Depois de um ano e ainda insatisfeita com seu cor­ po, colocou prótese de silicone ma­ mária e botox nas maçãs do rosto. Mesmo assim ela percebeu que não estava satisfeita consigo. Sempre sentia-se aquela última op­ ção.Já recebendo elogios, ela quis procurar outro médico, mas dessa vez um psicólogo, com quem final­ mente pôde corrigir o problema maior que era interno: mudou suas formas de pensar. Hoje, ela faz acom­ panhamento médico. Não se arre­ pende das mudanças físicas, mas não se sente mais a última opção.

GERALMENTE, OS VICIADOS EM CIRURGIAS PLÁS­ TICAS SÃO JOVENS QUE DESDE A IN­ FÂNCIA SOFRERAM BULLYING


A PERCEPÇÃO EXAGERADA SO­ BRE O PRÓPRIO CORPO LEVA A UMA SÉRIE DE PREJUÍZOS

FOTO: PIXABAY


A LIMENTAÇÃO

DE VERDADE MESMO COM RESTRIÇÕES

FOTO: PIXABAY


ALIMENTAÇÃO

Cada vez mais torna-se comum a adoção de dietas que excluem nutrientes importantes, independen­ temente do acompanhamento de um profissional Por Ana Lara Lessa Gozzi

Uma alimentação restritiva, sem glúten e sem lactose, por exem­ plo, não deveria ser adotada por pessoas que não são intolerantes ou alérgicas. Mas, o fato é que as dietas da moda invadem a rotina alimentar de muita gente e, se não forem feitas com cautela, podem acarretar conse­ quências severas na saúde. Alergia x intolerância “A intolerância alimentar é uma reação adversa a alguns alimen­ tos, provocada pela falta ou deficiên­ cia de enzimas que impossibilitam a digestão. Ela não envolve o sistema imunológico e não apresenta base psicológica, podendo ser resultado de fatores etiológicos e fisiopatoló­ gicos, como reações farmacológicas, tóxicas, metabólicas, neuropsicoló­ gicas e mesmo contaminação, entre outras.” relata a nutricionista Odete Beatriz Turella. O exemplo mais co­ mum de intolerância é à lactose, que é o açúcar do leite, mas também exis­ te a intolerância à glicose e à frutose. Já a alergia, segundo constata Odete, é uma reação adversa aos ali­ mentos que envolvem mecanismos imunológicos, em sua maioria carac­ terizada por reações entre antígenos (substâncias estranhas ao organismo humano) e anticorpos. Os alimentos mais comuns de causarem alergia são leite, ovo, trigo, frutos do mar e

alguns vegetais. “Os tipos de alergia alimentar incluem as reações de hi­ persensibilidade mediadas pela imu­ noglobulina E (IgE) e outras, causa­ das por qualquer outro mecanismo imunológico”, explica a nutricionis­ ta. As reações podem variar desde as locais (edema, prurido nos lábios), até manifestações sistêmicas graves. Alguns sintomas são comuns tanto na intolerância, quanto na alergia, portanto podem ser confundidos. Perigos das dietas restritivas Uma dieta restritiva, com grandes cortes de alimentos por um período de tempo, não é indicada em qualquer situação. O que acon­ tece, segundo Karina Giane Mendes, doutora em Endocrinologia e coor­ denadora do curso de Nutrição da Universidade de Caxias do Sul, é que, quando o corpo fica um perío­ do em modo de dieta restritiva, pode ocorrer uma perda de peso rápida – entretanto, quando a pessoa volta a introduzir alimentos diferentes na alimentação, o corpo tende a reter o peso. Isso causa, além do aumento de peso, dificuldade para emagrecer. A nutrição também desenvol­ ve um papel significante na atividade física. Mesmo que o indivíduo prati­ que alguma atividade física com fins de aumento de força ou hipertrofia muscular, a dieta habitual da maio­

ria das pessoas é capaz de suprir as necessidades diárias de proteína, segundo Odete, que completa: “Os progressos e o bom desempenho durante o treinamento apoiam-se no tripé nutrição adequada, bom pro­ grama de treinamento e tempo sufi­ ciente para recuperação.” Alguns grupos específicos, como atletas competitivos, gestantes e pessoas desnutridas ou vegetaria­ nas, recebem a indicação de suple­ mentação de proteína, pois são gru­ pos cujas dietas não contemplam as necessidades proteicas diárias. Po­ rém, deve-se lembrar que o excesso de qualquer nutriente pode sobre­ carregar o organismo. O excesso de proteína, por exemplo, pode acar­ retar problemas nos rins, que não conseguem eliminar todo o excesso ingerido. Karina ainda afirma que, de maneira alguma, uma dieta restriti­ va vai trazer benefícios à saúde, pois a variedade da alimentação também faz parte de uma boa saúde. Vegetarianismo x veganismo Existem quatro tipos princi­ pais de dietas que excluem o con­ sumo de carne: ovolactovegetariana, lactovegetariana, vegetariana estrita e vegana. Os adeptos do veganismo não consomem produtos de origem animal na alimentação, no vestuário,

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ALIMENTAÇÃO

O fato é que as dietas da moda invadem a roti­ na alimentar de muita gente e, se não forem feitas com cautela, podem acarretar consequên­ cias severas na saúde

na beleza e nos demais produtos. Os adeptos do vegetarianismo estri­ to não comem alimentos de origem animal, sem restrições físicas como no veganismo. Os outros dois grupos se di­ ferem pelo fato de os lactovegeta­ rianos não consumirem ovos nem derivados animais, enquanto os ovolactovegetarianos ape­nas não se alimentam de carne. Ainda existem outros grupos que restringem tipos de carne especí­ ficos. O essencial, en­ tretanto, é manter o cuidado com a saúde, mesmo mantendo esse tipo de alimentação. Deve-se ter atenção e cuidado maiores com as vitaminas B12 e D, o ômega 3, o cálcio, o fer­ ro e o zinco, que devem ser obtidos por alimen­ tos enriquecidos ou suplementos. “Embora muitas pessoas acredi­ tem que o maior pro­ blema seja o equilíbrio da proteína, a dieta vegetariana ou vegana, quando bem planeja­ da, apresenta quantidade suficiente de proteínas e de nutrientes”, afirma Odete. Ainda pode surgir um pro­

blema que Karina destaca: deve-se manter uma dieta balanceada, pois muitos acabam comendo mais gor­ dura e carboidrato quando param de consumir carnes. Isso eleva os níveis de triglicerídeos no sangue e pode ser prejudicial à saúde. Comida de verdade Podemos constatar que, quanto mais tempo um alimento dura, mais prejudi­ cial ele é à saúde. Isso se dá devido à quantidade exorbi­ tante de conservantes colo­ cados na comida, durante o processo de industrialização. Boas escolhas alimentares são a receita para a boa saú­ de, o bem-estar e a beleza. Alimentos naturais, frescos, orgânicos devem ser priori­ zados, e as quantidades mo­ deradas – “comer de tudo, mas não tudo”, lembra Ka­ rina. O acompanhamento individualizado por um pro­ fissional de nutrição é in­ dispensável, pois cada orga­ nismo possui necessidades diferentes e não existe uma receita universal. Tudo deve ser muito bem orientado e medido, pois quando se trata de alimentação, trata-se de saúde, o nosso bem mais precioso.

QUANTO MAIS TEMPO UM ALI­ MENTO DURA, MAIS PREJUDICIAL ELE É À SAÚDE. ISSO SE DÁ DEVIDO À QUANTIDADE EXOR­BITANTE DE CONSERVANTES COLOCADOS NA COMIDA DURANTE O PROCESSO DE IN­ DUSTRIALIZAÇÃO

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FOTO: PIXABAY


DE COMER

MEDO

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CORPO

Receitas de emagrecimento rápido levam o corpo ao limite e a mente à obsessão Por Ângela Savallaggio Por Franciane Peracchi Dietas da sopa, do ovo, do san­ gue, detox, entre tantas outras, pro­ metem quilos a menos em poucos dias. Porém, essas dietas, apesar de populares, são condenadas por pro­ fissionais da saúde por restringirem nutrientes importantes ao corpo, como os famigerados carboidratos. A obrigação de apresentar magreza, para serem aceitas pela sociedade, leva pessoas a aderirem constantemente a die­ tas que funcionam por alguns dias, mas, depois provocam a volta ao peso inicial ou até mesmo a pesos superiores. Uma pesquisa da empresa de medicamentos Omega Farma verificou que uma em cada dez mulheres faz dieta a vida toda tentan­ do emagrecer. Segundo a nutri­ cionista e pesquisadora da USP Sophie Deram, as restrições alimentares assustam o cérebro, por­ que ele as entende como um perigo e desenvolve mecanismos de proteção. Além dis­ so, as dietas causam o desenvolvi­ mento de transtornos alimentares, uma vez que os adeptos ficam sem comer determinados alimentos, mas não resistem a episódios de des­ controle e comem exageradamente. Ainda conforme Sophie, as pessoas estão com medo de comer.

Essa constatação também é feita pela nutricionista Najara Valdu­ ga. Para ela, a maioria dos pacientes chega ao consultório buscando per­ da de peso e de percentual de gor­ dura e não a mudança de hábitos alimentares. Ao longo das últimas décadas, as mulheres conquistaram espaço e

Em contraposição ao modelo estético exaltado pela população em geral, surge um movimento promo­ vido por nutricionistas e médicos, para alcançar o bem-estar, sem ne­ cessariamente exibir um corpo ma­ gro. Para Najara, o fundamental é se­ guir uma alimentação rica em frutas, verduras, fibras e água. A ingestão de gordura não é esquecida, desde que ela seja bené­ fica à saúde. A nutricio­ nista diz que não indica produtos caros, como os diet, light ou suplemen­ tos “da moda”. Segundo ela, é importante pensar na qualidade de vida.

PESSOAS QUE BUSCAM A ATIVIDADE FÍSICA, A MUS­ CULAÇÃO, APENAS PARA GANHO DE MASSA, PARA ADQUIRIR BOA FORMA, PARA DESENVOLVIMENTO MUSCULAR, ACABAM DE­ SISTINDO FACILMENTE DA PRÁTICA, POIS NÃO SÃO REALMENTE FOCADAS EM QUALIDADE DE VIDA, EM SAÚDE assumiram papéis de destaque; con­ tudo, ainda são pressionadas a alcan­ çar um padrão de beleza inatingível em meio às responsabilidades de casa e trabalho. Najara afirma que atende mais mulheres do que ho­ mens, principalmente acima dos 30 anos, quando o metabolismo desace­ lera e gera aumento de peso.

A corrida pelo corpo ideal

Além da alimenta­ ção saudável para man­ ter a forma e alcançar o corpo tão almejado, hoje em dia as pessoas procu­ ram, também, com maior frequência, a prática de exercícios físicos. Segundo o instru­ tor da academia Vida Ativa, de Nova Prata, Henrique Zamin, a maioria das pessoas que procuram os servi­ ços da academia, quer realizar ape­ nas objetivos estéticos. Esse público compreende ho­ mens e mulheres de 16 a 25 anos, que buscam hipertrofia muscular como consequência do aumento das fun­

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CORPO

Embora receba muitos elogios, ela não está satisfeita com a sua imagem e afirma que tem o desejo de fazer cirurgias estéticas. “A gente sempre quer melhorar mais”, diz Aline

ções celulares, geralmente ocasiona­ do pela prática de musculação. Porém, essas mesmas pes­ soas que buscam a atividade física, a musculação, apenas para ganho de massa, para adquirir boa forma, para desenvolvimento muscular, acabam desistindo facilmente da prática, pois não estão realmente focadas em qualidade de vida, em saúde. Perma­ necem com a prática dos exercícios de forma alucinada durante o ve­ rão; fazem dietas absurdas e extre­ mamente rígidas entre os meses de novembro a abril e, assim que o ou­ tono chega, a debandada acontece. Esquecem promessas e atiram obje­ tivos às traças. Dessa forma, fica claro o ver­ dadeiro objetivo desse público: exi­ bicionismo, ficar bem para o outro, mostrar-se bem nas redes sociais e usar o corpo apenas como valoriza­ ção exacerbada da imagem pessoal. Segundo Henrique Zamin, esse aumento da procura pelo mun­ do fitness, de alguns anos para cá, ocorre porque, além de influencia­ das pelas mídias, como internet, re­ des sociais, televisão, as pessoas se conscientizam de que a alimentação saudável é importante, praticar exer­ cícios físicos é fundamental, mas não apenas para se ter um corpo magro, musculoso, mas um corpo saudável e resistente.

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Beleza premiada Dona de seis faixas de concur­ so de beleza, Aline Tessaro, 19 anos, moradora de Veranópolis, chama a atenção por onde passa. Loira de 1,75m, a jovem encanta seus 7.700 seguidores no Facebook com foto­ grafias de seu dia a dia. Aline começou a participar de concursos em 2012. A estreia foi no evento Garota Verão. Segundo ela, não esperava vencer nem a eta­ pa municipal. Porém, chegou a Ca­ pão da Canoa, na final estadual. Dali em diante, tudo mudou em sua vida. Ela conta que passou a cuidar mais de seu corpo e preocupar-se com as roupas, afinal, as pessoas, nas ruas, passaram a observá-la com mais atenção e até mesmo a analisá-la. “Tive que mudar. Mudei cabelo, pas­ sei a me cuidar mais. E gosto disso.” Aline dedica-se aos concur­ sos dos quais participa e inicia sua preparação na academia. A estudan­ te de Arquitetura diz que, cerca de seis meses antes do desfile, pratica musculação e exercícios aeróbicos três vezes por semana, regra a ali­ mentação e realiza tratamentos es­ téticos. Próximo à data, a academia é compromisso diário, sendo que ela treina de duas a três horas por dia, e os alimentos que provocam inchaço no corpo são riscados do cardápio.

Todos os concursos dos quais a jo­ vem já participou contavam também com a parte de entrevistas. Portanto, além da parte física e estética, ela se concentra em estudar assuntos ge­ rais e estar confiante para responder às perguntas. Existe também o investimen­ to financeiro. Ela não revela o valor, mas afirma que já gastou, segundo suas palavras, um preço absurdo em vestidos, torcida, pessoas para auxi­ liá-la e demais itens necessários. A estudante diz lidar bem com o assédio e acredita que, apesar de saber que sua beleza influencia, a maior parte de seus seguidores de­ ve-se ao seu carisma. Ela conta que os fãs pedem que publique fotogra­ fias de seu cotidiano, por isso, pro­ cura manter-se sempre apresentável. Embora receba muitos elo­ gios, ela não está satisfeita com a sua imagem e afirma que tem o desejo de fazer cirurgias estéticas. “A gente sempre quer melhorar mais”, diz. Questionada sobre o que pen­ sa a respeito do padrão de beleza exigido pela sociedade, Aline con­ clui que “tem meninas que são ma­ ravilhosas, mas vazias de coração. A nossa maior beleza está no coração”.


FOTO: PIXABAY


REIKI E

MEDITAÇÃO SÃO FORMAS DISTINTAS DE

TRANSFORMAÇÃO

FOTO: REPRODUÇÃO


REIKI Práticas alternativas são formas singulares para aumentar a autoestima e melhorar a qualidade de vida Por Kimberly Salomão Silva

O Reiki é conhecido como uma técnica japonesa de harmonização, por meio da imposição de mãos em certos pontos do corpo humano, em que se concentra mais energia, ou seja, uma atividade para o relaxamento. Os pon­ tos mais energéticos, chamados de Chakras, localizam-se em nossa aura, na coluna vertebral. Dessa forma, a energia que é canalizada para a pessoa é a Energia Vital Universal. A palavra Reiki, é de origem japonesa, traduzida como “Energia de Vida Universal”: REI é a energia universal e KI é a energia do corpo físico. É um encontro entre as duas formas de energia. O monge budista, Sensei Mikao Usui, é consi­ derado o decodificador do Reiki. A Energia Universal (REI) é a que atravessa o universo, é o que nos referimos dessa força. Já a ener­ gia do corpo físico (KI) é o espírito, a mente, o coração, o sentimento ou o humor. Em outras palavras, é a alma, as emoções e os sentimentos. Sendo assim, quando o KI para de fluir, a vida física acaba. A técnica não é uma religião nem uma terapia. Ele não tem o propósito de curar doenças. Além disso, não é necessário que a pessoa acredite no Reiki, mas que tenha mente aberta para recebê-lo. Conforme a terapeuta Floral e mestra em Reiki Usui, de Carlos Bar­ bosa, Cláudia Adriana Bergamaschi, a sessão de Reiki começa com a terapeu­ ta explicando para o cliente o que é a

técnica e quais as posições. “Durante a sessão utiliza-se música suave ao fundo, sugerindo à pessoa que faça algumas respirações relaxantes. A sessão dura, em média, de 40 minutos a uma hora, dependendo da necessidade de cada um”, ressalta a terapeuta. A profissional ainda explica que a imposição das mãos no corpo é feita de forma suave e tranquila. Há posições básicas, tendo como referência a locali­ zação dos chakras da pessoa. Contudo, se a pessoa que recebe o Reiki é into­

O REIKI NÃO PODE SER USADO COMO MEDICINA ALTER­ NATIVA, MAS SIM COMPLEMENTAR AO TRATAMENTO RECEITADO POR UM MÉDICO lerante ao toque, o terapeuta reikiano aplica a técnica na aura dela, ou seja, a uma distância que varia de 10 a 20 cen­ tímetros do corpo. O Reiki não pode ser usado como medicina alternativa, mas com­ plementar ao tratamento receitado por

um médico. Também, a prática tem in­ fluência sobre o aspecto psicológico de uma pessoa, de forma que a visão dela sobre a vida é ampliada. Em consequên­ cia da atividade, a autoestima é elevada; há equilíbrio mental, relaxamento, alí­ vio do estresse, disposição física e uma transformação pessoal. Benefício do Reiki para a saúde Segundo a mestra em Reiki Cláudia Bergamaschi, o maior benefício para a saúde é o aumento da disposição física. A pessoa fica mais disposta para efetuar seu trabalho. Para com­ preender as alterações biológicas da prática do Reiki, o psicobiólogo Ri­ cardo Monezi, que estuda a neuro­ ciência comportamental, fez testes em camundongos com câncer. Para ele, o animal não tem elaboração psicológi­ ca, fé, crenças e a empatia pelo tra­ tador. A partir disso e da experimen­ tação, foi isolado o efeito terapêutico. Na pesquisa da USP, o psi­ cobiólogo teve como base a técnica japonesa, devido à prática da impo­ sição de mãos e por que era a única sem conotação religiosa. A pesquisa foi feita da seguinte forma: os pesqui­ sadores dividiram 60 camundongos em três grupos. O primeiro grupo controle, não recebeu nenhum tipo de tratamen­ to. O segundo, “controle-luva” recebeu imposição de mãos com um par de luvas preso em cabos de madeiras. E o tercei­ ro grupo, “impostação”, teve como tra­

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REIKI

Assim como o Reiki, a meditação não deve ser usada como medicina alternativa. Ela é uma ferramenta a mais no processo de cura

tamento tradicional da técnica do Reiki sempre pelas mãos da mesma pessoa. Na etapa seguinte, os animais foram sacrificados e examinados em relação à resposta imunológica, ou seja, a capacidade do organismo de destruir os tumores. Os glóbulos brancos e cé­ lulas imunológicas do grupo “imposta­ ção” tinham dobrado a capacidade de reconhecer e destruir as células cance­ rígenas. Não é possível saber, ainda, se a energia que o Reiki ofe­ rece é magnética, elétrica ou eletromagnética. Mas, segundo Monezi, a energia produz ondas físicas que liberam hormônios capazes de ativar células de defe­ sa do corpo. Além disso, a equipe do psicobiólogo co­ meçou a estudar os efeitos do Reiki em seres humanos. O estudo ainda não está pronto, mas tem apresen­ tado resultados positivos, como melhoria na qualida­ de de vida, diminuição de ansiedade e de depressão.

so, diz que “meditar é familiarizar nossa mente de maneira regular e profunda com um objeto virtuoso. Praticando meditação, adquirimos experiência dos diversos níveis de realização espiritual e evoluímos para estados de aquisição cada vez mais elevados”. Conforme Micael, a meditação geralmente está ligada à espiritualidade e pode ser praticada de diversas formas. “A meditação que eu conheço e prati­ co vem de ensinamentos do Budismo Kadampa, ensinados em aulas abertas para todos os públicos, budistas ou não budistas, pela Nova Tradição Kadampa em diversas cidades do Brasil”, conta o biólogo. Assim como o Reiki, a meditação traz benefícios para a saúde, mas principalmente supera problemas emocionais­ como inveja, apego, ignorância e controla a mente e traz paz interior. A prática da medita­ ção é simples e dedicar cinco minutos diários é, para os ini­ ciantes, mais que o suficiente para acalmar a mente. Mas assim como o Reiki, a medi­ tação não deve ser usada como medici­ na alternativa. Ela é uma ferramenta a mais no processo de cura. Ainda, o ob­ jetivo principal da meditação é melho­ rar a qualidade de vida. Quem a pratica com frequência, e corretamente, sente uma diferença significativa na sua vida.

A MEDITAÇÃO GERALMENTE ESTÁ LIGADA À ESPIRITUALI­ DADE E PODE SER PRATICADA DE DIVERSAS FORMAS

Meditação como evolução espiritual As práticas alternativas estão presentas na família da mestra em Reiki Cláudia. Seu filho Micael Bergamaschi, biólogo e fotógrafo circense, é um fre­ quente praticante da meditação. O mes­ tre em meditação, Geshe Kelsang Gyat­

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FOTO: N´UCLEO CHANTI CHALA

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O CORPO É

UM TEMPLO Há muito tempo, o homem dedica-se a com­ preender a própria matéria. O cuidado com o cor­ po é passo fundamental para qualquer aspirante a um caminho superior

FOTO: HOMEM VITRUVIANO DE LEONARDO DA VINCI


CORPO HUMANO Por Andre Sebben A ciência biológica estima 100 trilhões de células compondo o corpo humano, dando origem a mais de 20 órgãos que formam sistemas complexos metabólicos, em um equilíbrio perfeito. Mas é no campo da espiritualidade que o corpo assume contornos curiosos. O jornalista Diego Franzen, que também é estudante de cabala cristã e de outras ciências herméticas, afirma que o corpo é um instrumento para a prática espiritual. Para ele, é vital pu­ rificar o corpo para utilizá-lo como um instrumente eficiente e seguro. “O taba­ gismo, o uso indiscriminado de drogas e o consumo de álcool levam a uma relati­ va perda do controle de si”, afirma. Ele lembra que a dupla mente­ -corpo costuma ser dispersiva, o que atra­palha a evolução do ser no meio em que lhe compete. Por isso, o exercício da concentração é fundamental. Fran­ zen, que é faixa-preta em taekwondo e faixa roxa em karatê, recomenda as ar­ tes marciais e a meditação, como cami­ nhos seguros para a conscientização do corpo. “O treino do corpo leva a uma disciplina, a uma dinamização de vonta­ de”, esclarece. O estudante da Rosacruz (Amorc), Alberto Detanico, acrescenta que o corpo é o veículo da alma no mun­ do material. Por isso, sua necessidade de existir, justamente para possibilitar a cada alma experimentar a vida através dos sentidos, das emoções e da mente. “A encarnação (vida) seria um oceano, no qual o corpo seria um barco necessá­ rio para atravessá-lo”, completa.

to”), compilado pelo arte-educador Phi­ lip Hallawell. Esta abordagem relaciona-se com os arquétipos platônicos (as ideias) nas formas manifestadas (na matéria). Mônica afirma que é possível, através do estudo dos traços físicos da pessoa, identificar claramente as característi­ cas no nível da personalidade. Esses padrões seriam tão elementares que até mesmo as doenças podem ser vistas a partir dos traços físicos. “Está tudo no rosto”, declara. A matriz africana Na umbanda, prática religiosa que se perde nas “noites” do tempo, o corpo é um veículo para a manifestação dos guias espirituais, entidades que tra­ balham a favor dos seres encarnados. É o que explica Anderson Valente, ex­ periente umbandista e seguidor de re­ ligiões de matriz africana. “Dentro da umbanda o corpo funciona como um cavalo, um veículo para manifestação de consciências”, complementa. Um exemplo de manifestação de consciência é o icônico São Jorge, ou, ainda, o orixá Ogum, na tradição afri­

A DUPLA MENTE-CORPO COSTUMA SER DISPER­ SIVA, O QUE ATRAPALHA A EVOLUÇÃO DO SER NO MEIO EM QUE ELE LHE COMPETE

A mente governante Para Mônica Weber Viana, bus­ cadora como ela mesma se denomina, a saúde do corpo físico é consequência da saúde espiritual. “Vejo o cérebro e a mente como o berço da alma e o corpo como um avatar”, sentencia. Mônica lembra que o corpo é o reflexo do Espírito Imortal do ser, e por isso, o corpo, sendo a forma, traz pistas do conteúdo, aquilo que preenche. Ela também aponta um estudo interessante de características físicas e suas relações com a personalidade chamado Visagis­ mo (do francês visage, “estudo do ros­

cana. “O cavaleiro que mata o dragão”, sintetiza Jorge Antonio Oro, filósofo brasileiro. Oro explica, em uma de suas palestras no Programa Vida Inteligente, que o cavalo branco representa o veí­ culo purificado do cavaleiro, capaz de posicionar-se, com absoluto controle, acima do dragão para que o cavaleiro, utilizando-se de sua lança, mate o mons­ tro. Para o filósofo, a alegoria que São Jorge encerra é transcendental. O cavaleiro seria o Eu Superior Imortal das diversas tradições, e que se utiliza do corpo do cavalo como veículo de ma­

nifestação para vencer todas as tendên­ cias negativas que o próprio cavaleiro traz desde o berço. “O senhor do seu cavalo vence o dragão por meio da luta pela aquisição de conhecimento e cons­ ciência, a ponto de dominar o dragão com sua lança”, finaliza. O corpo como templo Para o professor universitário da FTEC e coordenador dos estudos teo­ sóficos em Caxias do Sul, Charles Boei­ ra, o termo veículo é mais adequado do que simplesmente corpo. Boeira lembra que há vários níveis de manifestação de energia, e aquilo que chamamos de corpo físico seria o mais denso de todos os outros seis veículos que compõem o ser humano. “Temos a consciência, que é intangível, que não pode ser tocada e os veículos de manifestação, em vários níveis de densidade”, completa. O professor também ressalta a importância da purificação dos veículos para a consciência passar dos inferiores para os superiores, o que levaria o ser a um conhecimento mais abstrato, intui­ tivo, superior. Mas como purificar? Ele enumera algumas ações eficazes que qualquer um pode começar a fazer: Para o veículo físico: alimenta­ ção vegetariana, vegana ou ainda frugí­ vora. Evitar entorpecentes. Para o veículo vital: é necessário respirar com qualidade para ter fluxo contínuo de energia pelo corpo. Para o veículo emocional: o culti­ vo de emoções saudáveis. Para o veículo mental concreto: pensamentos harmônicos e construti­ vos. Boeira lembra que, quando há harmonia nos veículos inferiores, o “quaternário” (conforme infográfico) acessa os veículos superiores, poden­ do levar o ser humano à iluminação da consciência, ou, em outras palavras, à felicidade plena. Para ele, está claro que o caminho para a imortalidade é trazer a consciência sempre para o presente, em todos os veículos. “O quaternário tor­ na-se servo do triângulo, o que leva o buscador a sair da ilusão do tempo pas­ sado e futuro e passar a viver no Eterno Presente”, conclui.

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