Comunicando Revista-Laboratório do curso de Comunicação Social Relações Públicas da Universidade de Caxias do Sul Jan/Fev 2011
Quando a noite cai...
VIVER UMA UNIVERSIDADE COMO A UCS FAZ TODA A DIFERENÇA.
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Expediente Reitor Isidoro Zorzi Vice-Reitor José Carlos Köche Pró-Reitor Acadêmico Evaldo Antonio Kuiava Diretora do Centro de Ciências da Comunicação Marliva Vanti Gonçalves Coordenadora do curso de Comunicação – Habilitação em Relações Públicas Jane Rech Professor da disciplina Projeto Experimental IV -– Produção Gráfica Dinarte Albuquerque Filho Projeto Gráfico Aline de Gasperi, Daniela Fochesatto, Gilce Mara Walter, Graziela Casara, Jaqueline Fiorio e Morgana Perini. Foto da capa Milena Leal Foto da turma Ísis Cornelli Foto p. 3 Leonardo Regianini Impressão: Gráfica da UCS Tiragem: 1 mil exemplares
Produção dos alunos da disciplina Projeto Experimental IV – Produção Gráfica Aline de Gasperi Aline Ponzoni Carla dos Santos Dalsochio Carlos Isidro Boff Carolina Maino Cíntia Zanol Claudia Patricia Muller Daniela Davila Deves Daniela Fochesatto Débora Sartor Dulce Angelica Mahs Everton Luis de Macedo Fernanda Testolin Franciele Luza Gilce Mara Walter Glória de Macedo Vailatti Graziela Casara Jaqueline Fiorio Josiene Tamara Gomes Juliana Bressiani Linéia Silva Espindula Lisiane Karen Fiedler Luis Claudio Giani Marros Melani Lucinda Corso Morgana Daniel Morgana Perini Noele Tavares Scur Sara Creta Taíse Klippel Paim Tiago Tramontin dos Santos
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Editorial
nquanto a maioria das pessoas descansa no período da noite, cerca de 15 milhões de brasileiros iniciam sua jornada de trabalho, segundo estimativa do Instituto do Sono em São Paulo, com dados do Ministério do Trabalho. Trabalhar no período da noite pode parecer ruim, mas tem gente que prefere trabalhar no período em que os outros dormem. Interessados em encontrar esses brasileiros, os alunos da disciplina de Projeto Gráfico IV foram à procura dos que preferem a escuridão da noite à luz do dia. O contingente incluiu profissionais que mantêm funcionando 24 horas o atendimento na área da saúde, das telecomunicações, da segurança pública, do recolhimento de lixo, dos transportes, da produção de alimentos, das lojas de conveniência e das profissionais do sexo, entre outros tantos serviços. São eles que tornam possível a existência de uma sociedade 24 horas. Esse funcionamento em alguns ramos de atividade, embora seja uma tendência recente, também se tornou uma característica irreversível da vida moderna. Cada vez mais as populações demandam, por conveniência ou por necessidade, um mundo que não para.
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Transitar com segurança Carlos Boff
Praça de pedágio Univias é a linha tênue que separa Caxias do Sul de Farroupilha Carla Dalsochio csdalsoc@ucs.br Carlos Boff ciboff@ucs.br Everton Macedo elmacedo@ucs.br
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Univias é um consórcio privado que tem como principal negócio a Gestão de Rodovias Concedidas. Fundado em 20 de janeiro de 1998, é formado pelas concessionárias Convias, Sulvias e Metrovias, responsáveis pela administração dos Pólos Rodoviários de Caxias do Sul, de Lajeado e Metropolitano, respectivamente.
Por se tratar de uma empresa com atuação nas 24h do dia, desperta-se o interesse em querer conhecer os profissionais que atuam no horário da noite (após 20h até a madrugada). Irani Vieira, 22 anos, e Regina Lurdes dos Santos, 41, “arrecadadores” que atuam nas cabines de cobrança na praça de pedágio de Farroupilha são duas delas.
Conheça alguns benefícios Entre os serviços 24 horas oferecidos pela empresa estão telefones de emergência, call-boxes, ambulâncias com atendimento pré-hospitalar, guinchos leves e pesados. - Guincho: Esse serviço funciona em tempo integral e tem por objetivo oferecer condições de segurança e conforto aos usuários que trafegam na rodovia e aos que enfrentam problemas com seus veículos. Se necessário, o veículo é removido a um ponto de apoio mais próximo de onde seja possível acionar a empresa de sua confiança para repará-lo. Você pode solicitar atendimento ligando para o 0800 9791133. - Ambulâncias/Carros-Resgate: Os carros resgate do Univias são equipados com os mais modernos equipamentos para prestar os primeiros socorros e funcionam 24 horas todos os dias do ano. Se você deseja obter informações sobre os trechos, fazer reclamações, elogios ou sugerir melhorias, entre em contato com a Ouvidoria pelo telefone 0800 979 11 44.
Irani: satisfação com o horário noturno
Irani comenta que já trabalhou em diversos turnos, porém, considera que à noite “tem menos movimento, já que de dia é mais corrido”. Ele ainda diz que existe uma diferença em relação ao descanso, mas que “já me acostumei”. Atualmente, o arrecadador está com dois anos e cinco meses de empresa, dos quais “um ano e seis meses no turno da noite”. Quando questionado sobre trabalhar à noite, Irani relata que não houve qualquer tipo de imposição ou condição por parte do Univias. A escolha por esse horário foi de livre e espontânea vontade. “Como pretendo estudar pela parte da manhã, esse horário é tranquilo para mim e sem maiores transtornos”. Ao questionar a colega de Irani, Regina, é possível notar que o horário noturno também lhe é atrativo. “Escolhi este horário e me foi questionado se eu preferia outro turno, mas eu escolhi à noite.” Por se tratar de um horário em que muitas pessoas estão em casa com suas famílias, surge a questão de como Regina e Irani conciliam
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O que é? O Consórcio Univias visa a segurança, o bem estar e o conforto daqueles que utilizam suas estradas. Um circuito de TV realiza, 24 horas por dia, um rigoroso monitoramento e gerenciamento das condições das rodovias. Com o auxílio de aproximadamente 500 funcionários diretos e 150 indiretos, administra 1055 quilômetros de rodovias estaduais e federais por onde circulam 70% do PIB gaúcho e cerca de 85 mil veículos que passam, diariamente, pelas 14 praças de pedágio.
suas atividades profissionais noturnas com os afazeres pessoais que, muitas vezes, ocorrem durante o dia. “Na época em que eu trabalhava à noite conseguia resolver meus compromissos durante o dia, sem problemas . Agora, com este horário, tento ir pela parte da manhã, porém, na época que trabalhei de manhã e à tarde, esperava minha folga”, comenta Irani, que atualmente trabalha das 14h às 22h. A colega Regina também compartilha das palavras de Irani: “Chego em casa, durmo até meio-dia,
O fraldário é um dos benefícios oferecidos pelo Univias
concilio de forma tranquila. Agora que minha filha está fazendo fisioterapia (devido a um acidente), consigo lidar numa boa sem maiores problemas.” O horário da noite também traz elementos como medo e insegurança, ao mesmo tempo que experiências engraçadas. Questionados sobre isso, Regina fala: “Olha, peguei dois assaltos, claro que tive, sim, medo, mas não é algo que me faria ter medo ou mudar de horário. Já presenciei algo engraçado. Teve um casal brigando porque ela pegou o cara com ou-
tro no motel. A gente vê cenas que é um absurdo. O ser humano tá decadente!” (risos) O colega Irani acrescenta: “Meu maior medo sempre foi relacionado a assaltos. Nunca presenciei algo que tenha me causado problemas. O que posso dizer é que de sábados sempre quando as pessoas voltam das ‘festas’, vemos situações curiosas (risos) e engraçadas.” Apesar disso, indagados sobre uma possível mudança de horário, ambos afirmam de forma categórica que não mudariam de turno.
Fotos Carlos Boff
Saiba mais Além dos serviços habituais disponibilizados pela concessionária, o Univias criou a Parada Univias em todas as suas praças de pedágio. É um local com ambiente agradável onde os viajantes podem descansar. Equipado com ar-condicionado, sanitários, fraldário, sala de estar com televisão, oferece água, café, chimarrão e aparelho de microondas. Regina: realização profissional
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Prontos a qualquer hora... Sofrimento familiar choca mais do que a própria tarefa de agente funerário
Linéia Silva Espindula lineia.espindula@gmail.com
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fonso Rodrigues, 38 anos atendente funerário há cinco anos, comenta que seu cumprimento aos familiares já é diferenciado, pois não cabe um “boa noite” sorridente; porém, é necessário uma apresentação cortês e passar ao cliente a segurança de que, a partir daquele momento, ele irá o ajudar. “O primordial é o atendimento a família, e eu tenho que ser quem vai tentar amenizar a dor deles, não posso trazer mais problemas.” O agente funerário Nestor Konig, 46, que executa o trabalho mais operacional – aquele que envolve a remoção do corpo –, comenta que falecimento de criança, é muito desgastante, principalmente para ele, que é pai: “Estas coisas fogem à sequência lógica da vida”, acredita. Ele também não participa da parte mais chocante para os familiares, que, em geral, é o encerramento do velório, o que faz com que as as tarefas noturnas sejam menores em comparação às diurnas. Por esse motivo, e pelo calor do sol, ele não voltaria a trabalhar durante o dia. A porta necessita estar sempre trancada e, quando o a gente sai para traslado, o atendente precisa ficar sempre alerta – falam em tom de brincadeira, pois o cochilo ocorre em noites mais tranquilas. O fato de a capela estar bem centralizada, já ocorreu situações em que transeuntes noturnos invadiram um velório aos prantos, como sendo da família, e depois se dirigiram à parte reservada aos familiares para se alimentarem. Quanto aos aspectos pessoais, ambos reclamam do cansaço de fins de semana e datas comemorativas, porém não trocaFotos Isis Cornelli
Atendentes e agentes funerários sempre prestativos
riam a noite pelo dia, pois até suas famílias já estão acostumadas com esta rotina. Brincalhão, Nestor diz: “Assim, a esposa ganha uma folga do ronco dele.” Sempre alegres, porém com seriedade ao falar dos clientes e do produto oferecido, Nestor confessa que “aproveito minha vida, pois depois não sei como vai ser”. Já, Afonso, destaca: “Não existe diferença entre pobre e rico, depois de mortos somos todos iguais.” Segundo os agentes funerários, presenciar familiares, geralmente mulheres, em discussões sobre a pensão do falecido, ao invés de sentir a perda – torna-se uma situação revoltante, admitem. Nestor já presenciou o falecimento de vizinho e de uma irmã no dia de seu plantão; o falecimento da mãe ocorreu quando ele estava em férias, porém, ele assumiu os cuidados de tudo, afinal estava a par dos trâmites legais. Outro episódio destacado foi o falecimento de uma senhora que tinha câncer e estava bem debilitada, e o desejo dela era um velório com a urna fechada. Os filhos iriam vê-la antes do velório iniciar. Ao chegar à capela, a filha disse: “Essa não é minha mãe!” Naquele momento, eles se assustaram mas, logo, perceberam que era um elogio: a preparação (que é terceirizada) e a ornamentação foram tão bem executadas, que a aparência da senhora estava mais jovem. Por fim, os filhos decidiram deixar aberta a urna, para que todos tivessem uma imagem bonita da mãe como última lembrança.
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Heróis de farda que salvam vidas Juliana Bressiani jbress1@ucs.br
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A noite cai, a escuridão e o silêncio predominam. A calmaria é interrompida pela sirene que soa, em mais um chamado a ser atendido
sta poderia ser a rotina do 5º Comando Regional de Bom- controlar a emoção, razão, raciocinar, fazer o trabalho e coordenar a beiros do Rio Grande do Sul, localizado em Caxias do Sul, equipe da forma mais correta possível.” mas existe a expectativa pelo toque do alarme, e a ocorrência Uma situação marcante por ele relatada é a de um atropelapode ser um combate a incêndio, um salvamento, uma busca, um mento ocorrido na Rota do Sol, no bairro Santa Fé. Um caminhão acidente de trânsito. Ser bombeiro é uma profissão que encanta a atingiu uma mulher e, nesse caso, não houve tempo de resgate, apemuitos, principalmente pela possibilidade de salvar vidas e ajudar nas de “limpeza do local”. Durante o trabalho, os bombeiros perao próximo, ser o “super-herói”. No entanto, o sargento José Mario ceberam que ela estava grávida – mas só o que conseguiram foi Oliveira Pelissaro, 38 anos, comandante da Guarnição de Socorro recolher o feto. Enquanto descreve, Pelissaro se emociona. Situade Caxias, diz que os homens e mulheres que se dedicam a esta ção difícil também quando a vítima é um conhecido ou um colega profissão são seres humanos sem super-poderes, dispostos a arriscar de profissão. O sargento lembra que “casa de bombeiro pega fogo, suas vidas para salvar a de desconhecidos, sem glamour e sem he- bombeiro também morre em acidente de trânsito, bombeiro também roísmos, mas com muito amor pela profissão. morre cortando árvore”. Pelo relato, percebe-se que os bombeiros O sargento, natural de Vacaria, trabalha há 20 anos no Cor- são cidadãos comuns, que saem para o trabalho e deixam suas espo de Bombeiros. O ingresso posas em casa, grávidas, ou Ísis Cornelli na corporação foi feito por mesmo seus filhos pequenos. meio de concurso público O trabalho do Core, para “subir” de posto, foi po de Bombeiros é feito necessário prestar um novo em equipe. “Aqui somos irconcurso interno. Na escala mãos”, afirma. Cada membro, de plantão, existe a possibilino momento da ação, tem sua dade de trabalhar 12h e folgar função pré-determinada e 36h, ou trabalhar 24h e folgar apoia o colega, trabalha de 72h, conforme o processo de forma sincronizada, cuida e adaptação do bombeiro. alerta para possíveis perigos. Pelissaro acredita não Se um falhar, compromete o existir diferenciação de ocortrabalho do grupo. Mas, “a rências do dia para a noite. gente morre abraçado”. Ele O que existe, segundo ele, é ressalta que a ligação com o o risco da falta de visibilidatrabalho se torna tão forte que de para o grupo que trabalha “se você estiver no corpo de no socorro. A iluminação arbombeiro, você esta tão ligatificial torna-se insuficiente e do, tão próximo (à família), Sargento Pelissaro não vê diferença entre a noite e o dia não oferece segurança total como estando em casa… eu ao bombeiro. Em situações de sinto esta tranquilidade”. incêndio, as barreiras de fumaça prejudicam ainda mais a visibilidaQuestionado sobre um grande caso de salvamento que tenha de. Em salvamentos, a identificação clara do ambiente fica prejudi- marcado seus 20 anos de profissão, o entrevistado não foi capaz cada, o terreno pode desmoronar ou, até mesmo, o bombeiro pode de eleger uma situação especial entre tantas em que já atuou. Quer estar à beira de um precipício, o que aumenta o risco para a vítima e demonstrar, realmente, que todas as vidas são especiais. Conforme para o grupo que efetua o resgate. suas próprias palavras “a prioridade é salvar vidas”; o patrimônio, O Corpo de Bombeiros é chamado nos momentos mais difí- seguramente, fica em segundo plano. Mesmo que aos olhos de um ceis da vida de uma pessoa. Trabalha-se em meio ao desespero, an- civil um salvamento seja grandioso, para o corpo de bombeiro o gústia, perdas e tragédias. O sargento afirma que os anos de trabalho padrão é salvar vidas – o contrário é que foge à regra. e o treinamento contribuem para que o trabalho seja desenvolvido O sargento reforça que bombeiro nasce com a vontade de com naturalidade e a emoção seja controlada. Porém, lembra que ajudar as pessoas. Ajuda que na infância não tem grande efeito, e situações mais trágicas sempre ficam na memória, principalmente que hoje a vontade de ajudar se transforma em um grandioso ato. quando crianças estão envolvidas. “Quando se depara (o bombeiro) “Você pode fazer muito mais, ir lá salvar o patrimônio, tira-lá (a com este tipo de cena, ela choca. Você tem que fazer o seu trabalho, pessoa) de uma situação desesperadora”, conclui.
EMERGÊNCIAS LIGUE 193
www.brigadamilitar.rs.gov.br/bombeiros O Corpo de Bombeiros está localizado na Rua 20 de Setembro, 2533.
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Depois do trabalho ou da festa O consumo de lanches rápidos é a preferência de finais de festas e expedientes A noite é tensa para quem trabalha nesse horário, pois não se sabe quem irá se achorro-quente, churro aproximar do quiosque ou e crepe não são uma do estabelecimento, se é asiguaria fina, mas quem saltante ou o cliente, mesmo não gosta de comer um desses assim, os trabalhadores gade vez em quando? Ainda mais rantem clientes fiéis e atendidepois de uma noite longa de mento intenso no horário. trabalho ou de uma festa agiJoão*, funcionário da tada, seja, à noite ou à madruTowner de cachorro-quente, gada, comprado numa carrocidestaca o lado ruim de trabanha ou quiosque qualquer, para lhar à noite, por ser bastante acalmar a fome. É interessante, perigoso, por ocorrerem muisaber como estes simples lantas brigas e pelo fato de ter ches e um atendimento especial que enfrentar as noites frias fazem a diferença em certos e chuvosas do inverno da momentos. cidade. Ele trabalha por neAdriano de Mello Diocessidade nesse horário (das Friend’s Dog atende das 19h às 7h nizio, 35, de Santa Maria, 20h as 6h) e para garantir o funcionário da Friend's Dog, dinheiro do mês. Não obteve diz que não fez curso e que aprendeu sozinho como fazer o treinamento para o trabalho, aprendeu a fazer o molho e moncachorro-quente, atender aos clientes e que aprendeu a gostar tar os cachorros-quentes ao praticar, principalmente no horário do que faz. Além disso, conta com o apoio e ajuda da esposa de mais movimento, que é das 4h as 5h, horário com público para atendimento e para preparo dos lanches. bem segmentado: pessoas que saem de festas, as que encerram A Friend's Dog fica no centro da o trabalho e aqueles que buscam lanche cidade e o atendimento é das 19h as 7h. para consumir em casa. “Gosto de trabalhar à Além de cachorro-quente, vende xis, torO analista de suporte, Luís Vargas, rada, minipizza, espetinho de morango e 28, de Porto Alegre, é cliente há um ano. noite, é o meu ramo, sorvete expresso. Apesar do mix variado Não compra toda a semana, mas sempre apesar de já ter sido de produtos, o que mais vende no turno que fica além do expediente no trabalho e da noite ainda é o cachorro-quente. assaltado várias vezes.” vai retornar para sua residência, vai até a Adriano trabalha no local há seis Towner do João* e compra seu cachorroanos e afirma que o movimento em comquente para levar para casa. Luís comenparação ao dia é bem melhor, principalmente de quinta-feira a ta: “É o único lugar aberto perto da minha casa, fica aberto até domingo. Ele comenta: “Gosto de trabalhar à noite, é o meu tarde e conheço há mais tempo.” ramo. Apesar de já ter sido assaltado várias vezes.” * Nome preservado a pedido do entrevistado. Daniela D. Deves dani_deves@hotmail.com
Daniela D. Deves
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Cachorro-quente
Comer Cachorro quente lá no bar Por certo a moda vai pegar Por não ser vulgar... Comer Vai toda a gente ao "quarteirão" Pois há lingüiça em profusão Pra comer com pão... Que bom lamber... Trincar... Comer... Um cachorrinho tentador
No “Quarteirão do Serrador” Comer É bem melhor do que beber, Pois dá sustância e faz crescer Todo e qualquer ser... Comer É verbo bom de conjugar Quando queremos conquistar Um "pirão" no bar... Fonte: www.letras.terra.com.br
Leonardo Regianini
Composição: Lamartine Babo e Ari Barroso
Luís Vargas (e) é cliente há um ano
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A origem
ão se sabe ao certo quem foi a primeira pessoa a servir um cachorro-quente, mas acredita-se ter sido um imigrante alemão que teria vendido os sanduíches em um carrinho de mão. Entretanto, o cachorro-quente que conhecemos, com o tradicional pão, foi feito por um comerciante de origem bávara, em 1904. O “hot-dog” começou sua história em Polo Grounds, estádio dos New York Giants. Em um dia frio, um comerciante responsável pelos alimentos vendidos do estádio, não estava conseguindo vender refrigerante e sorvete, então pediu para que seus funcionários comprassem todas as salsichas e pães que encontrassem. No Brasil, por volta de 1926, o empresário Francisco Serrador, no Rio de Janeiro, lançou o cachorro-quente em seus cinemas. A novidade foi tão bem recebida que acabou à inspirar Lamartine Babo e Ary Barroso a criarem, em 1928, a marchinha de carnaval Cachorro-Quente. No país, a forma de se fazer o cachorro-quente depende da região do país. No estado do Rio de Janeiro se come com ovos de codorna, já no estado de São Paulo, por exemplo, se come com purê de batatas. No sul do Brasil, em geral, acompanha-se o cachorro-quente com maionese, ketchup, mostarda, molhos à base de tomates e cebola ou ainda outros ingredientes como batata palha, maionese, pepino, palmito, ervilha, milho, queijo ralado, tempero verde, entre outros. Nesse contexto, em Caxias do Sul, existem profissionais que produzem o cachorro-quente para as pessoas que consomem após as festas e o trabalho, na madrugada, e confirmam que o lanche não perde a qualidade por isso.
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Uma doce opção Daniela D. Deves
m Caxias do Sul, no horário noturno, é difícil encontrar outro tipo de lanche rápido, que não seja o tradicional cachorro-quente. Foi por esse motivo que uma profissional tomou a frente e apostou em duas originais e deliciosas iguarias que estavam em falta na noite caxiense, o crepe e o churro. Foi a caxiense Neura Lemos, 45, autônoma, que acreditou nessa ideia. Ela atende há nove meses durante o dia, mas foi a partir do momento em que seus clientes começaram a solicitar o atendimento à noite que ela tomou coragem de encarar as mesmas madrugadas frias, chuvosas e, por vezes perigosas, de tantos outros Neura em sua primeira noite de trabalho trabalhadores. No dia da conversa com a reportagem da revista Comunicando, Neura iniciava seu primeiro teste de trabalho à noite; a expectativa para a primeira vez era de que o movimento seria fraco, mas o desejo de dar certo esse desafio era bastante grande. O quiosque, inicialmente, estará aberto nas noites de maior movimento, as sextas e aos sábados. Aos poucos os clientes serão avisados que também haverá atendimento à noite. A vendedora de crepe comenta: “Escolhi essa profissão, pois gosto de trabalhar com público e já trabalhei cinco anos com meu pai em uma carrocinha de cachorro-quente.” A família apoia o trabalho à noite, e a sua filha, de 15 anos, ajudou durante muito tempo, enquanto Neura ainda trabalhava com o pai na carrocinha de cachorro-quente. O ponto onde fica o Quiosque da Yasmim tem 15 anos, mas a vendedora de crepes e churros trabalha ali há nove meses. Neura acrescenta: “O lado positivo de trabalhar nesse local é que tem câmeras, meu pai trabalha sexta e sábado de noite bem próximo e o meu marido vem ficar comigo à noite.” Durante o dia, o quiosque atende diferentes pessoas em um curto espaço de tempo, mas conta, também, com clientes fixos. A expectativa para o atendimento noturno é viver uma nova experiência, além de manter e aumentar a clientela.
Saiba mais Churros é um alimento de origem espanhola, muito popular nos países latino-americanos. Este doce é preparado com massa, à base de farinha de trigo e água, em formato cilíndrico e frito em óleo vegetal. Logo após, ele pode ser salpicado com uma camada de açúcar e/ou canela. Sendo um doce originário da Espanha, é bastante consumido desde o México até a Argentina. Porém, nestes países, o churros geralmente não tem recheio. No Brasil e Uruguai o churros é recheado de doce de leite ou chocolate. É comum, no Brasil, vendedores ambulantes em carrocinhas parecidas com as de cachorroquente comercializarem o produto em praças e eventos a céu aberto, como feiras e festas municipais. A preparação do churros é feita com uma ferramenta na qual a massa fica armazenada e por meio de um dispositivo de pressão, tal qual uma manivela, envia a massa para uma forma, que confere o aspecto estriado da massa com um canal central. Logo após, essa massa preparada é frita em óleo vegetal e deixada em repouso até a inserção do recheio e posterior consumo. A inserção do recheio é realizada com uma espécie de tubo, que despeja o recheio no interior do churros. Fonte: Veja São Paulo – Edição 2085
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Variedade a qualquer hora Satisfação dos clientes é o principal objetivo dos proprietários dos estabelecimentos diferenciados
Cíntia Zanol
Dulce Mahs
cintiazanol@hotmail.com Dulce Mahs damahs@ucs.br Lisiane Fiedler
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lisikarenf@yahoo.com.br
heila Signorati, 26, natural de Farroupilha é uma das proprietárias da fruteira Barcelona Fruti-Center que funciona em horário diferenciado: durante a semana, ela abre as portas das 7h30 às 3h, nas sextas-feiras e sábados estendem por mais uma hora, e, no domingo, ficam somente até a meia-noite – afinal, precisam descansar. Além de fruteira, o local funciona com uma padaria, um açougue e uma grande variedade de produtos, o que a caracteriza como um mercado. São 10 funcionários que se revezam durante os turnos, entre eles, a família (pai, mãe, tio e esposo de Cheila). A Fruti-Center foi inaugurada em 1992, durante os Jogos Olímpicos de Barcelona, por isso o nome. De lá para cá muitas inovações ocorreram, mas há somente dois anos observaram a oportunidade de se manter aberto durante a noite. “Caxias precisava de estabelecimentos que trabalhassem a noite”, comenta Cheila. Nesse horário, o público principal são os jovens, que frequentam à procura de bebidas, gelo e cigarro – os produtos de maior venda. Mesmo com câmeras de segurança e monitoramento, contam com um segurança nos finais de semana. Cheila alerta: “De noite é perigoso. A gente vê de tudo.” Uma das coisas que a comerciante viu durante a noite foi uma provocação entre gangues. Uma delas, inclusive, estava dentro do estabelecimento, e a outra do lado de fora, com homens mascarados e armados com pedaços de pau. Ela conta que sentiu muito medo, mas, mesmo assim, foi até eles e pediu que não brigassem dentro do comércio. Em respeito ao local que frequentam, eles não causaram nenhum constrangimento. Mas ela também viu coisas engraçadas, como pessoas que já haviam bebido além da conta e que ainda procuravam
Cheila e família se revezam durante a noite no atendimento
mais bebida. Uma das clientes estava descalça, com náuseas, à procura de um banheiro, mas Cheila não permitiu o utilização do sanitário, pois ficou receosa de que a cliente sujasse o espaço. Quando questionada sobre os pontos positivos e negativos, Cheila diz ser mais fácil citar os negativos, por ter muitos positivos. A escassez na segurança e o medo são vistos como ruim. O lado bom é “o carinho da pessoas. O que fizemos pelos outros é retribuído”. Cheila demonstra gratidão por seus clientes. A Fruti-Center não se utiliza de mídia para sua divulgação, apenas conta com a indicação dos clientes e de uma placa com as ofertas descritas na calçada. Já o Canto Verde tem uma cultura um pouco diferente. Há alguns anos atrás trabalhava 24h, porém, há dois anos optou por reduzir o horário e atender das 6h às 23h30. A escuridão que traz insegurança, perigo e incertezas levou os caxienses Vilma Forlin, 45 anos, e Micael Forlin, 25, proprietários do mercado Canto Verde, antigo Ponto 7, ao fecharem as portas durante a madrugada. O local atende há mais de 20 anos, porém a família o administra há apenas quatro.
Comunicando 13 Outros pontos que levaram para esta decisão foi colocar na ponta do lápis os gastos com funcionários nesse turno e o cansaço para enfrentar o trabalho durante o dia, pois atendiam os clientes 24h. Hoje, além dos funcionários para atendimento, contam com um segurança que fica até o fechamento do mercado. “Já tivemos assaltos, inclusive três vezes na mesma semana, porém nenhum em horário de atendimento”, diz Vilma. Mesmo com a insegurança, a procura por trabalho noturno no local é grande. Ainda durante 2009, o Canto Verde tinha atendimento 24h, porém era feito por meio de uma janela. Para ajudar as pessoas, já que os mercados fecham entre as 20h e 22h e atender ao pedido dos clientes, os proprietários optaram por deixar o estabelecimento aberto até às 23h30. “É mais para atender o público do que para nós mesmos. Já pensamos várias vezes em fechar mais cedo, mas deixamos
eles na mão”, afirma Vilma. “O lado bom de trabalhar à noite é a boa clientela e o lado ruim é que é bastante cansativo porque dormimos à meia-noite e acordamos às 6h. A gente se reveza em dois turnos, eu e meu guri, meu irmão e os outros funcionários. Nunca posso me
Caxias precisava de estabelecimentos que atendessem à noite, comenta Cheila reunir com a família para ir na minha mãe e todos juntos por causa do horário, tanto eu quanto meu irmão”, diz Vilma. O mercado tem padaria, açougue, fruteira e produtos diversificados, mas a procura maior é por bebidas e pelo açougue. A padaria fica ao lado e conta com qua-
tro funcionários, que começam a assar os pães às 3h para, às 6h, o mercado iniciar a venda. Ao iniciar o expediente pela manhã, atendem diversas pessoas quem retornam de festas, mas também possuem uma clientela fixa que se deslocam de bairros diferentes para comprar no local. A dona de casa Marli Alves da Sliva Garcia de 30 anos, natural de Santo Antônio do Sudoeste (PR), frequenta o estabelecimento durante a manhã, tarde e noite: sempre que falta alguma coisa em casa ela vai até o Canto Verde. “A escolha do local é porque é mais próximo de casa, fica aberto até mais tarde e tudo o que eu preciso encontro aqui”, reconhece Marli. “Eu morava no bairro Fátima e sempre que precisava de alguma coisa meu marido vinha até o Canto Verde buscar, porque, passou das 20h, não se encontra mais nenhum outro lugar aberto.” Leonardo Regianini
Família Forlin trabalha com satisfação no atendimento de seus clientes
A tradição do churrasco Mais uma alternativa de refeição durante a noite, é o churrasquinho de rua. No final do século XVII, o churrasco tornou-se uma prática mais difundida, criando-se, assim, novas técnicas para o seu preparo. Define-se por churrasco toda carne assada na churrasqueira e no fogo de chão, e em outras regiões usa-se grelha. Os mais tradicionalistas defendem o uso da lenha, porém, o mais comum é o uso de carvão para o fogo, pela praticidade e facilidade de compra. O tempero varia conforme o gosto e o costume local - pode ser simplesmente sal grosso. Da generalização do hábito de comer churrasco, surgiu diferentes estilos de consumo. Um que ganha destaque é o churrasquinho de rua, à noite. Em Caxias do Sul, é possível encontrar nas ruas do Centro e saídas de estádios de futebol. A Prefeitura de Caxias do Sul irá regularizar vendedores de espetinhos que atuam nas ruas. Mas, para concessão do alvará, os ambulantes terão de se adequar a novas normas. Entre elas, está o uso de churrasqueiras a gás no Centro, que substituirão os recipientes a carvão. A medida divide opiniões. Os profissionais desta área optaram por não se manifestar em reportagem. Fonte: Jornal Pioneiro On-line - Data 05/01/2011Nº 10943 e Boi & Cia - http://www.boiecia.com.br/historiadochurrasco.htm
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Abrir com segurança Não basta ter conhecimento ou ser bom profissional; é preciso transmitir confiança Gilce Mara Walter
A
gmwalter@ucs.com
Chaveiro Casa de Pedra teve como fundador José Renan da Conceição, 45 anos. Proprietário, iniciou as atividades de chaveiro aos 15 anos, quando teve seus primeiros ensinamentos com um conhecido. Ao exercer a função, surgiu a ideia de abrir um estabelecimento e, assim, em 1992, abriu o seu próprio negócio, hoje administrado em conjunto com a esposa Ionice Luisa da Conceição, 41. Pelo grande número de chaves codificadas, carros cada vez mais modernos e modelos diferenciados de fechaduras, são realizados constantes treinamentos aos funcionários. Como em qualquer profissão, a especialização passa a ser um grande diferencial. Para José, ser chaveiro não é uma profissão tão fácil, pois é necessário que um profissional tenha treinamento, maquinário e uma boa estrutura. O profissional também carrega, junto com o equipamento próprio para atendimento local, a sua carteira que habilita a profissão. “Isso facilita caso alguém tenha dúvidas na hora de nos aproximarmos para a
realização do nosso trabalho”, comenta José. No início, a empresa ficava realmente de plantão no aguardo de ligações, até porque o chaveiro Casa de Pedra é pioneiro no atendimento 24h. Hoje, a empresa conta com três pessoas disponíveis para atender as ligações diuturnas. Segundo José, “cada serviço é um caso, tudo é diferente e inusitado, é muito bom, principalmente porque faço o que gosto”. Na política da empresa não existe nenhuma restrição de serviço e muito menos de localidade, assim toda a região é atendida. Nesses anos, histórias de situações inusitadas não faltam. “Já aconteceram coisas hilárias. As pessoas vão fazer programa com os travestis, não pagam pelo programa e alguns deles aprontam, roubam as chaves, a carteira, deixam a pessoa numa situação constrangedora”, conta Ionice. “Nos motéis acontece bastante, também, de atendermos ao chamado de clientes que esquecem as chaves dentro do carro e por aí vai”, diz Alex Daniel Rodrigues, 30, chaveiro há 12 anos. E não termina aí: trotes vinculados a roubos também são constantes em suas rotinas. Ionice relata que, em uma tarde, a em-
Gilce Walter
Veíaculo para atendimento 24h
presa deslocou Fique ligado uma unidade para realizar Trote é crime previsto no o atendimento Código Penal Brasileiro. no centro, por Quem comete essa prática volta das 16h, e pode ser preso e autuado. era um assalto. A pena prevista é de Os ladrões ledetenção de um a seis varam o carro, meses, ou multa. documentos e equipamento, e o funcionário permaneceu por horas amarrado, sozinho, até conseguir fugir. Outras situações que chocam bastante os profissionais são as solicitações de parentes que sentem a ausência de algum familiar. Conforme Ionice, um dos episódios nada agradáveis que já aconteceram foi o seguinte: “Ao abrir o apartamento de uma pessoa que morava sozinha, encontraram a mesma morta há dias.” Fatos chocantes como esses acontecem mais seguido do que as pessoas imaginam. De acordo com Elizabeth Bedin, proprietária da Chaveiro Casa das Chaves Central, empresa que está no ramo há 13 anos, o número médio de ligações durante a noite varia conforme o dia da semana. Nos finais de semana há em torno de duas ou três solicitações de serviço, entre 4h e 5h. “Os jovens saem das festas, nestes horários e aí que recebemos mais chamados.” A Chaveiro Casa das Chaves Central atende também toda a região serrana, porém apenas durante o dia. Nos chamados fora destes horários, optou, por motivos de segurança, não atender mais à noite; para isso, conta, então, com a colaboração de dois chaveiros terceirizados. “Um fato engraçado ocorrido no começo deste ano foi a vinda de um cliente aqui na loja, preocupado com as chaves do seu veículo em mãos, nos solicitando que fossemos ver porque a chave dele não abria. Chegando no local onde ele dizia estar o veículo, verificamos que realmente a chave não abria... mas, não ia abrir mesmo, pois eles estava tentando abrir outro veículo e não o seu, porém com a mesma cor e do mesmo modelo. O seu veículo estava a poucos metros de onde estávamos”, lembra Elizabeth.
Comunicando 15 Isis Cornelli
Enquanto isso, no motel... Suíte preparada pelas camareiras inúmeras vezes durante a noite Taíse Klippel Paim tkpaim@ucs.br
L
ençois limpos e bem passados, esticados milimetricamente na cama, toalhas e roupões embalados, sabonetes e sais de banho dispostos ao lado da banheira, que parece nunca ter sido usada. Logo acima do frigobar, variados salgadinhos e chocolates para disfarçar a oportuna fome; se preferir, um cardápio que oferece desde petiscos diversos até um completo café da manhã. Esses são alguns dos itens que compõem o cenário encontrado em um quarto de motel. Bem diferente daquele que é visualizado geralmente por Vera Lúcia Schimidt, 53 anos, camareira e cozinheira há 34, que trabalha em um dos maiores e mais frequentados motéis de Caxias do Sul. Viúva, natural de Novo Hamburgo, ela reside na cidade há 45 anos. Vera trocou o trabalho diurno em hoteis pelo noturno em moteis. Segundo ela, nesse tipo de estabelecimento os clientes não reclamam tanto e, por ser uma pessoa tímida, prefere não interagir com eles. Sua rotina é prática, apesar do maior movimento ser à noite. Quando casada, trabalhava ao dia; após a perda do
Mais que ponto de encontro para quem busca satisfação, também significa renda para muitas pessoas marido, e com os três filhos já çula (de seis anos) acreditava casados, Vera sentiu dificulda- que a mãe trabalha em um hodes em ficar em casa à noite. Ao tel. “Seria muito difícil explicar perceber essa dificuldade, pediu a diferença de hotel para motel transferência para a noite, já que para minha filha, não saberia exao dia se ocupava com as tarefas plicar”, afirma. da casa. “Acreditava que seria Entretanto, hoje, motemporário, até passar o período tel não está ligado somente ao de luto e até por que meus filhos sexo, diz, uma vez que muitos eram contra”, ela recorda. dos quartos são ocupados por Com o passar do tempo, quem passa pela cidade. Ela cita a camareira se habituou e hoje um exemplo de um cliente que não troca o trabalho à noite visita Caxias uma vez por semapelo do dia. Os filhos aceitaram na e pernoita no motel; inclusia ideia. Vera ve, a esposa completa telefona No início, Vera tinha quase 10 diretamente anos de trapara o quarvergonha de balho à noito para conmencionar o seu te no motel versar com local de trabalho e não tem ele. intenção de Vera parar de traacumula balhar tão cedo. algumas histórias interessantes No início, ela sentia in- e engraçadas ao longo desses sônia: chegava em casa as 7h e anos de trabalho, desde clientes não conseguia dormir; passado que circulam do lado de fora em torno de 30 dias, a camareira do prédio totalmente nuas, até já estava adaptada com a rotina. mulheres que ligam insistenteHoje, o motel trabalha com três mente para a gerência à procuturnos, sendo que Vera trabalha ra de seus maridos e supostas das 20h as 5h30, tendo duas fol- amantes. Um dos casos mais gas por semana. engraçados que ela recorda, é Ela conta que, no início, o de uma senhora que ficou de tinha vergonha de mencionar o plantão à noite toda em frente seu local de trabalho; sua ca- ao motel, para confirmar a su-
posta traição do marido. Ocorre que, no decorrer da madrugada, ao reconhecer um carro que entrava no motel, a senhora é surpreendida ao perceber que o motorista do veículo era seu pai e, como se não bastasse, a acompanhante era uma jovem muito mais nova que ela própria. Após um breve tumulto, o pai conseguiu conter a fúria da filha e a levou para casa. “Foi muito engraçado.” (risos). Além dessas histórias, Vera menciona algumas curiosidades e situações com relação a pertences deixados nos quartos pelos clientes. O último mais marcante foi um filhote de gato: o casal que havia utilizado o quarto, ao ser questionado sobre o bichano, afirmou enfaticamente que não havia levado ao motel um filhote de gato. Em meio a risos, Vera diz que hoje, Nina, batizada e adotada pelos funcionários do motel, permanece nas redondezas do estabelecimento, mas garante que o animalzinho não invade os quartos e não perturba os clientes. Ao concluir, Vera acrescenta um comentário: “Também escolho a noite pela cumplicidade entre os meus colegas. Só consegui isso à noite.”
16 Comunicando
Há funcionários que preferem o horário noturno para realizar atividades
Carlos Boff
Noite... horário tranquilo para trabalhar Carlos Boff ciboff@ucs.br Cláudia Müller
C
claudiamuller02@hotmail.com
axias do Sul produz cerca de 410 toneladas diárias de lixo doméstico. A Codeca realiza duas coletas: a do lixo orgânico e dos resíduos seletivos. O recolhimento do lixo orgânico é realizado em todos os bairros, loteamentos e distritos do município. No Centro e nos bairros próximos, a coleta é diária e, nos demais bairros, ocorre três vezes por semana. No interior, o lixo é recolhido uma ou duas vezes por semana. Já o recolhimento de materiais recicláveis ocorre em toda a área urbana e em parte da zona rural de Caxias do Sul. Atualmente, o recolhimento é realizado duas vezes por semana em todos os bairros e loteamentos da cidade. Na área conteineirizada, a coleta é diária. A Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Co-
Razões para reciclar Reciclar significa reaproveitar produtos usados como matéria-prima. Ou seja, a garrafa PET, uma vez utilizada, transforma-se em uma nova garrafa PET ou em algum outro produto (como cartão magnético). Por isso, quanto mais você reciclar, mais você contribuirá para preservar o meio ambiente. Ao reciclar, você: – diminui o volume de lixo jogado no aterro sanitário; – reduz a poluição ambiental; – melhora o aspecto visual da cidade; – preserva árvores e recursos naturais; – ajuda pessoas. O material separado corretamente e reciclado é entregue a associações de recicladores, que revendem-no para as indústrias de reciclagem; – contribui com uma mudança de comportamento que vai deixar o planeta mais limpo e melhor. Ou seja, você pode ajudar o mundo com o simples ato de separar o lixo.
Clóvis atua há 17 anos na Codeca
deca) conta com um quadro funcional de 1.081 colaboradores, sendo 287 somente para o setor de coleta, que atuam em turnos de 6 horas, 24 horas por dia. Trabalhadores do período noturno, Clóvis Brás da Silva, 42 anos, e Jorge Antonio Simioni, 54, contam sobre suas experiências. Clóvis começou a atuar na Codeca pela parte da manhã. “Foram três anos neste horário”; Jorge começou no turno da manhã, sendo que sua primeira atuação foi no setor de pavimentação da autarquia. Atualmente, ele é motorista da área da coleta. Ao serem questionados se houve algum motivo em especial para trabalhar na parte da noite, Clóvis diz que, com ele, “foi acontecendo... mas eu fui pedindo para trocar os turnos. Fui consultado e depois acabei optando pelo turno da noite”. A opinião de Jorge é semelhante: “Foi pelo convívio com outros colegas que acabei gostando do horário da noite. Considero o melhor para mim porque acho mais calmo.” Trabalhar à noite também pode trazer algumas surpresas e até mesmo sustos ou inconveniências. Porém, tanto para Jorge quanto para Clóvis isso são apenas circunstâncias. “Nada. Somente alegria (risos). Nunca tive maiores problemas”, diz Jorge. Clóvis já narra uma situação engraçada: “ Teve uma situação que abri um contêiner perto do Hospital Pompéia. Quando eu abri, o gato pulou na minha direção (risos) ... claro que eu tomei maior susto, mas depois eu ri.” Ter o apoio da família é destaque que os colaboradores ressaltam em relação ao horário que trabalham. Ambos, quando abordados em relação a trocar o horário da noite para o dia, afirmam que não pretendem mudar, pois “há mais tranquilidade, menos trânsito... acho menos cansativo”, diz Clóvis.
Comunicando 17 Fotos Carlos Boff
Codeca: 35 anos a serviço da comunidade
A Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Codeca) é uma empresa pública de economia mista, controlada pela Prefeitura. Sua missão é prestar serviços de limpeza urbana da cidade, 24 horas por dia por meio da coleta, capina e varrição. É responsável pela pavimentação e repavimentação asfáltica, conserto e construção de bocas de lobo, construção, operação e monitoramento dos aterros sanitários. Atua também para tornar Caxias do Sul a cidade com maior índice percentual de reciclagem do Brasil. Em 2007 a Codeca foi pioneira no país ao implantar o sistema de coleta de lixo mecanizada na região central da cidade que, atualmente, já expandiu-se para alguns bairros. O sistema consiste na colocação de contêineres (verde: coleta orgânica, amarelo: coleta seletiva) nas principais ruas centrais do município, durante o dia é feita a retenção e a noite, através de caminhões mecanizados é efetuado o recolhimento dos lixos. Além do trabalho de limpeza pública, a Codeca presta um
Sede administrativa da autarquia
excelente serviço de pavimentação de ruas. Entre 2005 e 2010, foram executados 582 mil metros quadrados de pavimentação asfáltica e, somente em 2010, 130 mil metros quadrados. No mesmo período, foram realizados 272 mil metros quadrados de repavimentação asfáltica e, em 2010, 66 mil metros quadrados. A Codeca também mantém contratos de prestação de serviço com secretarias da Administração Municipal, onde prestam mão-de-obra especializada no Samae e nas secretarias do Meio Ambiente, de Obras, de Habitação, de Mobilidade e Trânsito e no Aeroporto.
Saiba mais aqui: Para conferir dia e horário de coleta, acesse www.codeca.com.br ou ligue para a Central de Atendimento ao Cidadão (CAC) – 3224.8000.
“Somente alegria”, comenta Jorge
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Francesca dedica-se aos ritmos eletrônicos desde 2005 e, com a atividade, já circulou boa parte do Estado
Música para todos os gostos
H
A velha e a nova gerações de DJs movimentam a noite de Caxias e da região
á cinco anos, Francesca Marcílio, 23 anos, tem um compromisso no final de semana: é ela a responsável pela diversão de centenas de jovens que, em geral, dançam a noite inteira ao ritmo da house music e da tec house, gêneros eletrônicos que dominam o gosto, atualmente, da DJ. Francesca é acadêmica de Relações Públicas na UCS, mas sempre gostou de música.
“Meus pais escutavam muita música”, conta. Lembra que no começo, quando se aventurou nas pistas de bares, clubes e boates, os pais ficavam muito preocupados, já que, conforme ela mesmo diz, “o mundo dos DJs é muito masculino” . Hoje, já tocou em lugares como Erechim, além de casas noturnas e bares da região e de Caxias, como o extinto Caminho Aventura, onde começou a mostrar seu
A arte de mixar Josiene Gomes
Fotos Thay Andrade
zi_tamara@hotmail.com
Independente do ambiente que frequenta ou qual som tem mais a ver com sua tribo, a música feita por DJs está cada vez mais presente em festas, restaurantes, reuniões em casas de amigos, enfim, nas baladas. Esse cenário, somado ainda a jogos de luzes, música, agito e curtição motivou Thobias Wolff, 22 anos, técnico eletrônico formado em Gastronomia, a
seguir carreira de DJ. A paixão pela profissão
trabalho para os notívagos caxienses. Na verdade, a primeira festa de Francesca foi em Nova Petrópolis, na Socidade Tiro ao Alvo. Não sendo residente, (o DJ que toca fixo em uma casa noturna ou bar) tem liberdade para tocar onde é convidada, “quase todo fim de semana” e é do que ela gosta. Atenta aos ciclos musicais (em 2007-2008 mais eletro house, em 2009, progres-
sive, segundo ela), percebe a cena de Caxias em evolução. “Está em ascensão. Começou mais comercial, mas as novas casas, as festas, os novos DJs, o público entendeu melhor”, comenta a DJ, que se considera da geração 2000, ao lado de Jamur Bettoni, Dana e Frranco Francischini. Juntamente com o DJ Sandro Peres e o músico Marcos Pilatti, Francesca produziu sua primeira música, Lets Go To The Dance Floor.
iniciou aos 14 anos, quando começou a frequentar as baladas, sendo que sua inspiração para iniciar nesta carreira foram os DJs Jamur Bettoni e Danna. Thobias atua como DJ residente há dois Thobias participa do agito caxiense anos em uma casa noturna de Caxias. Os ritmos musicais de- sempre presentes, porém com senvolvidos por ele são house e o passar do tempo, isso tornoutecno. Porém, em algumas fes- se eventual. Justificou, dizendo tas foi necessário tocar estilos que o trabalho à noite interfere que não são de sua preferência, um pouco nas suas relações. mas, em sua opinião, um DJ Para garantir sucesso deve tocar todos os tipos de mú- em sua profissão, conforme sica, pois, sua maior satisfação é Thobias é essencial que um DJ a interação e o reconhecimento esteja atualizado. “O DJ deve do público. apresentar as músicas para o púNas primeiras festas em blico e não o contrário”, afirma que tocou, os amigos estavam o profissional.
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Milagres. Assim o DJ Jaime Rocha entende, ao olhar para trás, as noites roqueiras em salões como Roda Viva e São Gotardo, embaladas pelo rock dos anos 60 nas pickups do som Fantasy (aquele que tinha a língua dos Stones como símbolo!). Era o final da década de 80 e a equipe de som, formada por ele, Carlos Pereira e Roque Morais, mobilizavam os jovens para memoráveis embalos. “Estudei cedo a história do rock e me afastei das drogras. Fui louco dentro de minha loucura”, diz Rocha, que combinava Janis Joplin e Carmina Burana (cantata cênica com poesias latinas medievais, do compositor alemão Carl Off). Hoje, Rocha é proprietário de uma casa de lanches (que leva o seu nome e conta com um acervo de recordações e suvenires) e stonemaníaco de carteirinha. No início, a trilha sonora incluía a música discotéque e o início da eletrônica; depois, só rock, banalizado no início deste século, segundo ele. Foram 20 anos de sonorização e acompanhamento de
shows, como Replicantes, De Falla e Júpiter Maçã (à esq.). A melhor lembrança, conta, é de uma festa que ocorreu em Flores da Cunha, no Clube Indpendente (“o velho”). Quando ele se deu conta, já eram 8h30 e “os bicho-grilo estavam sentados no meio do salão ouvindo Yes e Pink Floyd”. Melhor que as lembraças é ouvir, hoje, os antigos frequentadores das festas - e hoje da casa de lanches - dizerem: “Tu nem sabe o quanto tu marcou a minha vida.” Em seu entender, depois de 20 anos envolvido com o Fantasy, ele agora colhe “o lucro daquele tempo sem ganhar dinheiro.” De sua parte, ele diz: “Repetiria tudo de novo.” Além de “botar som” (como na Festa dos Anos 80), no Havana) e cuidar da casa de lanches (é tradicão da família: o irmão Jarico, treinador de futsal, foi dono do Belvedere, entre outras referências em Caxias), Rocha tem dois programas de rock, um deles na rádio da UCS – sintonize 106.5 FM e “abra” o Baú do Rock. Vá que outros milagres aconteçam...
Em outras palavras... Termos utilizados pelos Djs: Pit: muda o ritmo da música Mixar: mistura dos sons na hora de virar a música Scratch: movimento das mãos sobre o vinil Set: período breve e pré-determinado que um DJ toca em uma festa Samplear: trecho de música já conhecida com releitura feita por um DJ BPM: batidas por minuto
Ramonh Munhoz/Reprodução
Rock na pista e de dentro do Baú
Rocha ao lado de Júpiter Maçã: rock’n’roll e psicodelia
Junto a uma das formações do grupo punk Os Replicantes
Se você pensa em ser DJ, siga algumas dicas: Invista na cultura musical ouvindo trabalhos diferentes e estilos musicais consagrados para ter subsídios para criar e ousar na batida Mesmo que tenha interesse em algum estilo especifico, não feche os ouvidos para outros estilos. Aprimore técnica, afinal, não dá para ser DJ sem uma boa mixagem Mesmo que sejam um pouco caros, tente juntar uma grana para adquirir vinil, CDs e equipamentos Faça cursos para aprender a manipular programas de música de computador, eles ampliam as possibilidades de trabalho Pratique e ouse!
20 Comunicando
O amor, além da profissão Linéia Silva Espindula lineia.espindula@gmail.com
E
m momentos de fragilidade, o ser humano requer atenção e passa a valorizar pequenos gestos. Prática diária sentida pelo enfermeiro André Luiz Keegler, 33 anos, que atua no turno da noite de um hospital tradicional em Caxias do Sul. Sempre que se pensa no perfil de um enfermeiro, vem à mente um profissional atencioso e tranquilo. Se estes forem os requisitos para a profissão, André certamente está bem colocado na carreira que escolheu aos 22 anos, após prestar serviço militar em Santa Maria (RS). Ele conta que foi despertado para a profissão no próprio quartel, pois, em diversas vezes, fez o traslado de médicos e enfermeiros para ações sociais, e sempre observou-os com admiração. Hoje, ele comenta que se arrepia ao declarar que enfermeiro é uma arte e uma profissão, porque desenvolve um lado humano não comum no exercício de outras atividades. “Depois que tu bate o ponto, se entrega ao máximo para o paciente e para a instituição, sempre tentando aliviar a dor e proporcionar o conforto!” André busca inspiração para seu trabalho diário, frente a tanta dor e sofrimento presenciados no setor de traumatologia, em Deus. Em seis anos de profissão, três deles dedicados ao horário noturno, ele afirma que há uma mudança em todo o ciclo da vida. “Nós que trabalhamos de noite, mudamos os hábitos alimentares, sono, sistema digestivo.” A maior dificuldade sentida é o sono, pois em tardes quentes não consegue dormir. Outro problema são os vizinhos, que têm ritmo de vida diferente. Durante o dia ocorre a maior parte
Para ser enfermeiro, empatia é o diagnóstico fundamental m qualquer situação
das cirurgias e, à noite, os pacientes necessitam estabilizar, mas sempre sob a vigília dos plantonistas. “Em momento algum tu pode relaxar”, enfatiza André, que lembra que já encontrou paciente em óbito com o familiar do lado, sem o familiar perceber. Outro ponto a que ele destina uma grande atenção são os familiares. “No horário noturno, as pessoas não trabalham e geralmente vem André escolheu ao hospital ver seus queridos e necessitam conversar sobre o estado de saúde do paciente e nem sempre o médico pode atender.” Então, essa tarefa é assumida pelo enfermeiro. Ele deixa transparecer dor ao comentar que a pior parte do exercício da profissão é ter que chamar familiares frente a óbitos de pacientes. Ele descreve a situ-
Linéia Espindula
a profissão ainda aos22 anos
ação: “Às vezes, de madrugada, chovendo ou com aquela neblina, é necessário ligar para familiares chamando-os, pois o paciente está mal ou até já faleceu. É uma coisa bem frustrante.” “Aqui não é um lugar de sorriso e alegria, é um lugar diferenciado. É uma coisa que mexe com a gente”, finaliza.
Intenção é formar uma família
Valores familiares são importantes para o enfermeiro, que demostra o desejo de formar uma família e ser pai; No entanto, trabalhar à noite, acredita, é um dos motivos para não encontrar uma namorada. Comenta que, eventualmente, acontece de pacientes criarem uma projeção afetiva, pois muitas vezes o marido abandona a esposa no hospital e, com vários dias acamada, ela se apega ao profissional da enfermagem. ”Mas nunca passa disso”, enfatiza. Para despistar, ele recorda uma história que já se tornou lenda nas madrugadas do hospital: um quarto onde a campanhia
toca sozinha. Várias pessoas já faleceram ali, então, quando tudo está quieto, no meio da madrugada, a campainha é acionada mas, quando se verifica, não tem ninguém no quarto. “Comigo ainda não aconteceu isso, mas tem a história.” Para concluir, ele diz: “Você está lidando com o momento mais difícil da vida de algumas pessoas, quando estão mais expostas, tanto com suas emoções, aflições, quanto fisicamente. Esta empatia, colocar-se no lugar do outro e depois ver o paciente sair bem, é uma grande gratificação para o profissional.”
Comunicando 21
Sem contra-indicação
Linéia Silva Espindula lineia.espindula@gmail.com
R
Farmacêutico vive situações engraçadas, mas também “assiste” cenas que só ocorrem à noite
Linéia Espindula
italina, anfetramona, hipodrina, tramadol, hipofagim, nomes complicados para muitas pessoas, mas rotineiros para o jovem farmacêutico Estevão de Vit, 31 anos. Apesar de há cinco meses de trabalho na noite, em sistema de plantão de 12 horas, com noites alternadas, ressalta que a noite foi feita para dormir, e isso é da natureza humana, pois ele não consegue ter um sono tranquilo de dia. “O corpo vai acostumando aos poucos”, conclui. O que muda, também, é o perfil de público que procura o atendimento na farmácia. No turno da noite, casais jovens com crianças, muitas vezes à procura de um medicamento emergencial, além, é claro, de jovens – principalmente – à procura de preservativo. Nas sextas e aos sábados, conta, a procura por remédios que curem a ressaca é grande... Entre os fatos que “assistem de camarote” – já que os plantonistas do
A noite é feita para dormir, mas “o corpo vai acostumando aos poucos”, diz o farmacêutico estabelecimento atendem por meio de janela de plantão – envolvem brigas de casais, travestis, bêbados. Uma das situações que Estevão lembra é a de um casal que discutia porque a moça queria apenas comprar o que ele chamou de “futilidades”: shampoo e escova de dente “Porque você não viu antes que não tinha isso em casa, me faz vir na farmácia às duas da manha para isso?”, lembra Estevão. Casos engraçados, segundo ele, são as trocas de nomes de remédios, apesar de acontecerem constantemente: “Eu quero um trangênico’, ou “Eu quero um genético”, ao invés de genérico (aquele que contém o mesmo principio ativo, na mesma dose e forma farmacêutica). Pedem fluxonasol sendo que o correto seria fluconasol.” Em relação à família, Estevão
Estevåo se diz adaptado à noite, sem estresse
destaca que este horário noturno é bem tranquilo, pois sua namorada só estuda – à noite também –, então conseguem passar o dia inteiro junto. Questionado quanto à conciliação entre eles, é enfático: “A gente precisa conciliar, pois muitas vezes não vai conseguir trabalho de dia.” Quanto à questão salarial da noite, diz que trabalharia independente de noite ou dia, no turno em que receber melhor salário. Mas, pondera: “Quem tem vontade de trabalhar, ganha bem!”
Regulamentação Em 2009, o Ministério da Saúde publicou uma lei que exige a presença do farmacêutico em tempo integral do expediente das farmácias, anterior a esse período, a presença era exigida durante oito horas apenas.
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Com uma pitada de luxúria No começo a necessidade de sobreviver; com o tempo, uma mistura de prazer, pecado e dinheiro....
Débora Sartor debbysartor@terra.com.br
O
bem claro seu posicionamento, até o vidro do seu carro foi quebrado. Apesar da atividade ser relacionada com o sexo, nem sempre a procura pelo seus serviços é para isso. A maioria das mulheres o contratam apenas para conversar e chorar em seu ombro, sobre seus relacionamentos fracassados e acontecimentos do cotidiano. Por isso, Bruno aconselha que, para preservar um bom relacionamento com seu parceiro, sair da rotina é essencial. O casal deve sempre buscar coisas novas e excitantes, sem esquecer do carinho e a satisfação do seu companheiro. A vida dos boys, como são conhecidos os garotos de programa, aparentemente é muito menos perigosa que a das garotas de programa, pois apesar de terem os mesmos objetivos, não sofrem tanto com a discriminação e violência.
Ísis Cornelli
telefone toca... mais um cliente... combinase preço e local. Um novo encontro está agendado. Pode ser em um motel ou em um apartamento privê. E essa situação se repete todos os dias e noites de Bruno (nome preservado), profissional do sexo de 22 anos, comunicativo e ambicioso. Ele atua há quatro anos nesta profissão, tida como uma das mais antigas do mundo mas, ainda cercada por muitos preconceitos e tabus. Em entrevista para a Comunicando, Bruno descreve um pouco da sua rotina e assume que ela é uma opção, devido aos benefícios financeiros. Mas tem consciência que tudo isso tem um prazo de validade; ele sabe que um dia seu corpo não terá mais condições físicas e psicológicas de permanecer nessa atividade. O rapaz traçou metas para sua vida e quando atingi-las, principalmente um bom patamar financeiro, pretende seguir outra profissão e constituir família. A rigor, este mercado funciona como qualquer outro: ajusta-se preço, consulta-se tabela e o interessado contrata o serviço. Bruno atende mulheres, homens e casais, sendo que está em Caxias há uma semana (ele vem de Porto Alegre) e a maior parte dos seus programas foram com casais. A faixa etária dos seus clientes varia, de jovens a idosos. Ele faz, em média, nove atendimentos por dia em seu local de trabalho, pois acha perigoso atender em sua residência, até porque, como ele mesmo afirmou, os clientes preferem discrição e ele nunca sabe quem vai atender. Em todo o tempo de
Assim surgiu... A maioria das mulheres o contrata apenas para conversar e chorar em seu ombro
atuação, nunca recusou um programa, pois sempre foi estritamente profissional. É claro que, como em toda a profissão, têm dias em que ele não se sente disposto. Mas como o trabalho dele é esse, tem que criar motivação para satisfazer seus clientes. Entre muitas histórias vivenciadas, ele relatou uma em especial: quando foi atender um cliente, o mesmo
estava vestido de Mulher-Gato e tinha uma fantasia de Batman para ele, situação em que foi difícil conter o riso e precisou ter forças para continuar o atendimento. Quando assunto é o coração, o boy disse que nunca se apaixonou por um cliente, porém eles já se apaixonaram por ele, sendo que em um desses casos, depois de deixar
Na antiguidade, em muitas civilizações, a prostituição era praticada por meninas como uma espécie de ritual de iniciação quando atingiam a puberdade. No Egito antigo, na região da Mesopotâmia e na Grécia, via-se que a prática tinha uma ritualização. As prostitutas, consideradas grandes sacerdotisas (portanto, sagradas), recebiam honras de verdadeiras divindades e presentes em troca de favores sexuais.
Comunicando 23
No final, são todas Cinderelas
Melani Corso corso.melani@gmail.com
M
ichele*, 23, Paula*, 48, e Talia*, 30, garotas que atuam no ramo, lembram que, ao iniciar nesta profissão, passavam por necessidades financeiras e não enxergavam outra opção. Todas residentes em Caxias do Sul, atualmente desenvolvem seu trabalho em uma boate. Michele, a mais jovem, mãe de uma menina, cursa Enfermagem durante o dia. Já, Talia, trabalha como cozinheira e está no ramo há apenas quatro meses. Conta que veio de outra cidade (Barracão) e foi a única forma que encontrou para se manter. A mais experiente de todas é Paula; ela está há mais de 20 anos nesta atividade, e com muito orgulho afirma que por meio do dinheiro que fatura como profissional do sexo, foi possível garantir a formação acadêmica de sua filha. Esta que, conforme Paula, não tem nenhum preconceito ou vergonha da mãe. Ao serem questionadas sobre um fato marcante, Paula foi a primeira a se pronunciar. Contou sobre um rapaz que se apaixonou por ela e, depois de ser rejeitado, resolveu revelar ao pai da moça sobre sua verdadeira profissão. O pai, para confirmar se a informação era verídica, contratou uma pessoa para se passar por cliente, e quando Paula foi realizar o atendimento se surpreendeu ao ver que ali estava seu pai. Eles passaram anos sem manter contato, mas hoje já tem um bom relacionamento familiar. Nenhuma delas manifestou interesse em deixar desta vida. Em contrapartida, nessa profissão existe um segmento chamado “acompanhante de luxo”, e é nele que Raquel*, 24, se encaixa. Há quatro anos no ramo, estudante de Nutrição, iniciou na atividade porque sonhava em cursar Medicina. Após perceber que a noite podia lhe proporcionar muito lucro dessa forma, afirma que permanece por opção e hoje tem a possibilidade de escolher os clientes com quem vai realizar programas. Depois de trabalhar durante três anos em uma boate de Caxias, decidiu manter apenas alguns clientes e deixar o antigo local de trabalho. Atualmente, Raquel se preocupa muito com sua beleza e, para manter-se no ramo de acompanhantes de luxo, fala fluentemente inglês e espanhol, pois seus programas incluem viagens para o exterior. A moça destacou um fato marcante de sua vida: lembra que manteve um namorado por cinco meses, sem revelar sua profissão. No dia em que resolveu contar, foi surpreendida por ele na boate em que trabalhava durante uma despedida de solteiro. O rapaz, muito decepcionado, deixou o local e nunca mais tiveram nenhum tipo de contato. Apesar de tudo parecer muito maravilhoso e repleto de benefícios, Raquel, na verdade, é uma Cinderela, que sonha em casar e constituir família. * Nomes preservados a pedido dos entrevistados.
24 Comunicando
Lanches na calada da noite
Cíntia Zanol cintiazanol@hotmail.com
U
Divulgação
Dulce Mahs damahs@ucs.br
Baladeiros e profissionais da noite procuram locais seguros para saciar a fome
m passeio noturno, um pós-festa ou um trabalho que o carro dos clientes, o que facilitou o atendimento de pessoas acaba no meio da madrugada, são motivos que levam portadoras de deficiência. muitas pessoas a procurarem locais seguros para fazeA qualidade e o atendimento foram as causas que levarem uma refeição. Por isso alguns estabelecimentos mantêm-se ram muitos clientes a seguirem-os. Olivia lembra: “Em São Braz abertos neste turno e atendem a um seleto público que não tem (comunidade próxima de Ana Rech) dava muita gente. Uma vez, pressa para fazer as refeições e que está aberto a novas amiza- tivemos de cercar o carrinho, pois dava muito tumulto.” Cachodes. Em Caxias do Sul, dois locais se destacam e confirmam eira defende que seu espetinho era um dos melhores diz que essa tese. “tinham clientes que deixavam de ir O paranaense Nilton Cachoem churrascarias para consumirem o eira, 44, e sua filha, Olivia, 18, nameu churrasquinho”. De segunda a sábado, o tural de Criciúma (SC), trabalham Com o novo endereço, a fahá cerca de 10 anos nesse horário e mília Cachoeira modernizou cardáCachoeira Lanches Bar relatam que já tentaram trocá-lo pelo pio e atendimento. Hoje, não vende atende das 18h às 6h dia, mas que o movimento noturno mais os espetinhos, mas em comrende mais. Eles são proprietários do pensação serve viandas e grelhados Cachoeira Lanches Bar e fica aberto durante a madrugada. Tem música das 18h às 6h, de segunda a sábado. ambiente e tele-entrega, o que permite atender boates e hospiA família tem sala comercial há aproximadamente três tais. Olivia planeja ainda mais para o lugar: “Estamos em fase anos. Antes disso, trabalhava na rua com uma carrocinha, onde de mudanças e futuramente pretendemos colocar pay-per-view, vendia cachorro-quente e espetinhos nas saídas das festas. De- para que nossos clientes possam acompanhar o futebol.” pois, montou um ponto fixo em uma esquina do centro da cidaA equipe do Cachoeira é formada por cinco pessoas, sende, onde ganhou muita clientela por atender mesmo em dias de do duas cozinheiras – uma delas a esposa – que aprenderam a chuva e frio rigoroso, com o diferencial de levar o lanche até profissão na prática, sempre na busca de aperfeiçoar as receitas. A família divulga o estabelecimento por meio do site www.cachoeiralanches.com.br, pelo site de buscas www.achetudofacil.com.br e pelo carro adesivado, além da indicação do clientes. “O Cachoeira Lanches Bar é uma alternativa não só para quem quer fazer um lanche, mas para quem procura uma refeição de qualidade na madrugada caxiense”, diz Cachoeira. Outra lancheria na cidade que fica aberta nas noites é o Komilão Lanches. O proprietário Rudimar Corso, 54, tem o apoio da filha Gabriela, 26, formada em Engenharia de Alimentos, que se empenha na busca de inovações para os lanches. Ele ingressou na profissão em 1975 sendo proprietário do quarto trailer na cidade a vender lanches. Com o aumento dos clientes surgiu a oportunidade de abrir uma casa de lanches. Desde 2008, tem uma filial em Camboriú (SC) e tem planos de abrir uma filial em Porto Alegre e, no futuro, distribuir a matéria-prima para as demais filiais. Optou por trabalhar durante o dia e na madrugada, porque poucos lugares ficam abertos nes se horário. Abre as portas para o público a partir das 11h e segue até às 6h, de terças a sábados. Corso comenta que no período do verão a casa abre também nas madrugadas de domingo, “para atender o público que chega de viagem, normalmente da praia, e que, muitas vezes, se depara com os outros comércios fechados”. Já Cachoeira aproveita o domingo para o descanso com a família. A noite, além de proporcionar a renda que Cachoeira apresenta seu estabelecimento, agora fixo essas famílias precisam, também traz pontos posi-
Divulgação
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Komilão busca inovar o cardápio para atrair ainda mais clientes
Dica Experimentar o xis do Komilão com pão integral ou os novos sabores de chocolate preto e/ou branco.
tivos e negativos. No Komilão, Corso tem como positivo as amizades conquistadas e a satisfação em conseguir dar mais atenção aos clientes noturnos. Para Cachoeira, sua satisfação está em conhecer fatos e pessoas diferentes, além de ser muito grato por nunca ter sido assaltado. Mas como nem tudo que brilha é ouro, Cachoeira vê como ponto negativo a falta de tempo de reunir a família, de fazerem as refeições juntos e que, no inverno, a madrugada é mais cansativa e gelada. No que se diz respeito à segurança, Corso relata que durante o dia é mais inseguro: “Porque não nos prevenimos como à noite, período em que temos câmeras e seguranças para monitorar os carros e as pessoas.” Corso aproveita e conta histórias interessantes que aconteceram na madrugada em seu estabelecimento, como um pedido de noivado e “pessoas que se conheceram em uma festa e na mesma noite se perderam de vista, e acabaram se encontrando aqui em um lanche após a festa”. Os clientes em ambos locais são jovens que saem das festas e de trabalhadores que trocam de turno durante a noite, além dos profissionais do sexo, que são mais vistos nesse período.
O hambúrguer no Brasil e no mundo O sanduíche popularizou-se bastante, caindo no gosto das mais diversas culturas. Países com costumes diferentes adotaram o hábito do hambúrguer com adaptações para os costumes locais. Na Índia, por exemplo, utiliza-se carne de carneiro no lugar da bovina. Há também variações no tipo e qualidade de carne utilizadas: hambúrguer de picanha, de fraldinha, de frango, de peru e de peixe, entre outros. Os sanduíches ganharam os cardápios das lanchonetes a partir do século 19. Com a Revolução Industrial, houve propagação dos almoços rápidos para trabalhadores das cidades grandes. Com jornadas de trabalho cada vez mais extensas, o sanduíche passou a ser uma opção mais prática. O hambúrguer ingressou nos costumes do brasileiro quando Robert Falkenburg, campeão de tênis em Wimbledon, quando abriu em 1952, no Rio de Janeiro, a primeira lanchonete, a Bob’s, que seguia os padrões americanos. Também foram importados o milk shake e o sundae. Essa lanchonete passou a fazer parte da crônica social do Rio e do Brasil, sendo frequentada por celebridades da época, como o compositor Villa-Lobos e o músico de jazz Booker Pittman, entre muitos outros. Fonte: Veja, “Especial - Histórias cariocas” – Edição 318.
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O shopping não para Daniela Fochesatto danifoches@hotmail.com Gilce Walter
M
gylwalter@yahoo.com.br
uitas pessoas procuram, após um dia cansativo de trabalho, fazer compras ou até mesmo passear em um shopping center. Esse é um hábito bastante comum. Para encontrá-lo organizado, funcionários se dedicam a limpar o estabelecimento no período da noite. A Brasanitas Sul é a empresa responsável, atualmente, pela limpeza do Shop-ping Iguatemi Caxias, entre outras empresas. A rotina de trabalho é dividida em quatro turnos. Porém, é no turno da noite, como diz Luiz Gonçalves Reis, 41 anos, supervisor operacional: “Na noite eles fazem acontecer.” Luiz se refere ao fato de que muitos serviços não podem ser realizados durante o dia em função do movimento. “É durante a noite que é possível fazer toda a limpeza mais pesada.” Mas nem só com o trabalho convivem os funcionários
Durante o dia ocorre a manutenção, mas é no período da noite que o trabalho pesado é feito Fotos Alcir Nazareth
da empresa. Conforme o coordenador regional da Brasanitas Sul, Alcir Nazareth, 34, durante o turno da noite é possível passar por diversas situações, sendo uma delas contada pelo próprio Alcir. “Uma de nossas funcionárias ficou presa em torno de uma hora em uma das docas do shop-ping (corredores internos) e ela acabou entrando em pânico, chorava, tremia e ficamos tão preocupados que acabamos levando ela à Funcionários se preparam para iniciar o turno de trabalho enfermaria para que ela se recuperasse.” Luiz complementa, ainda, que temer trabalhar à noite e, “para presas que dispõem de turnos já teve colaboradores que não nós, ela deu muito a entender noturnos para seus colaboratrabalhavam sozinhos em al- que havia visto alguma coisa dores. Alguns deles, preferem guns setores do shopping, por que a tinha deixado muito as- esses turnos pelos diferenciais medo. Houve também a situ- sustada”. noturnos. Muitas pessoas não ação de uma funcionária que Em Caxias do Sul há sabem, mas colaboradores que pediu demissão da empresa por uma grande quantidade de em- trabalham à noite ganham algu-
Inovação
A empresa Brasanitas Sul, especializada em serviços e soluções para limpeza, atua ha 4 anos na região. Com filiais em todo Brasil, atendem aos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Hoje, a empresa presta serviços a um dos maiores centros de compras da Serra gaúcha, o Shopping Iguatemi Caxias. Hoje, a equipe é composta por 49 funcionários para atender a toda demanda de serviço.
Empresa investe em equipamentos na limpeza
Comunicando 27 mas vantagens e acréscimos na folha de pagamento. Entre elas estão a hora reduzida e o adicional noturno. Mas, às vezes, não é apenas os ganhos que compensam. Muitos preferem trabalhar à noite pela tranquilidade e pelo tempo disponível para se dedicar às atividades inerentes à função. Carla Lazzaris, 37, líder operacional e uma das funcionárias mais antigas da Brasanitas Sul, já trabalhou em todos os turnos do shopping. E o turno com que mais se identifica é o noturno. “O trabalho à noite é menos cansativo de ser realizado, pois à noite você se concentra mais e tem mais tempo para realizar suas atividades. Além de você estar sozinha, faz o trabalho muito mais bem feito.” Luiz comenta, ainda, que uma das vantagens de se trabalhar nos turnos da noite, é que “parece que as horas passam mais rápido. Quando a gente vê, já encerramos o nosso turno, aprontamos o nosso material para a próxima equipe e estamos prontos para irmos embora”. O turno da noite tem suas atividades diferenciadas dos demais turnos, pois tem um cronograma de atividades. Para cuidar da limpeza mais pesada
Limpeza da praça de alimentação
do shopping (banheiros, piso, utilizá-las durante o horário praça de alimentação, recolhi- normal. Conforme o supervisor mento operaciode resínal, “o duos), trabalho “Parece que as horas são utié mais passam mais rápido”, lizadas pesado, máquias mápensa Luiz nas que quinas auxiliam s a e m na limpeza, e isso só é possível para os corredores e fazem toda à noite, pois se tornaria difícil a limpeza e tratamento do piso”.
No turno da noite, a equipe é formada, em média, por sete colaboradores. Mas esses funcionários são raros para algumas empresas. Para o coordenador, Alcir, “há uma grande dificuldade em encontrar profissionais que queiram trabalhar no turno da noite, e muitos são pessoas que vem de fora da cidade, chegam num dia e no outro já começam a trabalhar”.
Trabalho noturno
A Constituição Federal, no artigo 7º, inciso IX, estabelece que são direitos dos trabalhadores, além de outros, remuneração do trabalho noturno superior à do diurno. Horário Noturno Considera-se noturno, nas atividades urbanas, o trabalho realizado entre as 22h de um dia às 5h do dia seguinte. Hora Noturna A hora normal tem a duração de 60 (sessenta) minutos e a hora noturna, por disposição legal, nas atividades urbanas, é computada como sendo de 52 (cinquenta e dois) minutos e 30 (trinta) segundos. Ou seja, cada hora noturna sofre a redução de 7 minutos e 30 segundos ou, ainda, 12,5% sobre o valor da hora diurna. Intervalo No trabalho noturno também deve haver o intervalo para repouso ou alimentação, sendo: – jornada de trabalho de até quatro horas: sem intervalo; – jornada de trabalho superior a quatro horas e não excedente a seis horas: intervalo de 15 minutos; – jornada de trabalho excedente a seis horas: intervalo de no mínimo uma hora e no máximo duas horas. Fonte: http://www.guiatrabalhista.com.br
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O transporte... Morgana Perini morgana.perini@gmail.com
C
Para que os trabalhadores da noite possam se locomover de forma segura e eficiente, a manutenção também precisa funcionar de forma precisa
hega a noite e a maioria das pessoas vai para casa descansar. Alguns vão encontrar os amigos para botar o papo em dia, outros, no entanto, fazem o caminho contrário. Quando a maioria descansa ou se diverte, eles começam a sua jornada de trabalho. Esta é a rotina do motorista de ônibus Ricardo Soares, 32 anos. Filho de uma família humilde de Caxias do Sul, Ricardo perdeu o pai e cedo precisou trabalhar. “Mi-nha família sempre trabalhou com caminhão. Menos meu pai. Meu pai era serralheiro, mas eu decidi seguir a carreira que eu sempre amei: ser motorista”, conta. O gosto pelo trabalho de motorista começou a ganhar força quando Ricardo dirigiu uma Kombi e uma Splinter de um supermercado. A partir daí nunca mais parou. Há quase cinco anos na Via-ção Santa Teresa (Visate), ele afirma gostar do que faz. “No começo foi mais complicado, em cinco anos já são quatro assaltos. Mas a paixão pela profissão fala mais alto”, ressalta. Ricardo trabalha na
Ricardo está pronto para mais uma noite de trabalho
li-nha 02 Salgado Filho/Ana Rech, com o Corujão, das 23h50min as 5h50min. No início, ele fazia uma das li-nhas considerada das mais perigosas – Santa Fé – mas, com o passar do tempo, trocou o roteiro. “Trabalhar à noite é melhor. Claro que é perigoso. Mas tem menos trânsito, corredores vazios”, diz. A noite os perigos
são maiores e o motorista sabe que um descuido pode ser fatal. “O que mais marca a gente é quando um indivíduo chega na porta do ônibus e fica apontando a arma para você. É uma situação ruim porque num piscar de olhos ele pode te dar um tiro,” conclui. Mesmo que Ricardo conheça os perigos de traba-
lhar à noite, não pretende trocar de profissão. “Aqui eu me sinto bem. De certa forma estou preso, mas não como trabalhar dentro de uma empresa, que você não pode sair. A cada hora estou em um lugar. Tem que fazer o que a gente gosta, se sente bem”, afirma. E ele ainda avisa. “Se for por mim, eu me aposento aqui”, finaliza. Fotos Morgana Perini
Conheça a Visate Frota 244 ônibus convencionais 43 ônibus articulados 12 ônibus Low Enter (piso baixo) 14 ônibus Senior Midi 4 ônibus adaptados para PPD 4 microônibus 7 táxis-lotação Dia de passe livre 137 ônibus disponíveis 2.573 horários disponíveis
97.200 usuários transportados (média 1º semestre 2010) Pessoas transportadas 56.675,766 – Total em 2010 4.722,981 mil pessoas (média mês/2010) 157.432 mil pessoas (média dia/2010) 22,70% gratuidades Quilômetros rodados 21.913.599 km (média ano/ 2010) 1.826.133 km (média mês/ 2010) 60.871,10 km (média dia/ 2010).
Estacionamento da Viação Santa Tereza
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Valdecir trabalha há 15 anos na manutenção da frota de ônibus
...e a manutenção
É
com o mesmo ânimo de Ricardo que o mecânico montador da Visate, Valdecir Luiz Duthervicz, 35, trabalha diariamente há 16 anos e 8 meses, das 19h as 5h13min. “Eu trabalhei durante dois meses de dia, mas não me adaptei e voltei a trabalhar à noite.” Valdecir ressalta que o trabalho à noite foi por opção. “Trabalhar à noite foi uma opção minha, claro que também pelo salário, que fica melhor devido ao adicional noturno, mas o bom é que quando eu preciso fazer alguma coisa no centro ou tenho um compromisso, eu tenho a tarde livre. O ruim é que eu não faço as refeições com minha família. Só no domingo,” salienta. O lado familiar é o que mais pesa para os trabalhadores da noite. Deixar os filhos e as esposas em casa não é tarefa fácil, pois os horários
não se encaixam. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) considera trabalho noturno todo serviço realizado num período de sete horas que compreenda o período entre meia noite e 5h. A OIT recomenda que os trabalhadores tenham proteção à saúde e a sua vida social e familiar resguardada. Para o gerente de manutenção da empresa, João Carlos Cardoso, os trabalhadores do turno da noite são mais unidos. “O pessoal da noite, comparando com os trabalhadores do dia, possuem uma cumplicidade maior. Eles parecem ser mais unidos. Tem um código de conduta dife-rente do pessoal do dia, talvez porque se sintam isolados. A própria noite cria uma película em roda deles, porque o horizonte deles não existe. Assim eles se tornam mais próximos”, conclui.
Fotos Morgana Perini
A manutenção é realizada no período noturno
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Uma realidade do transporte noturno Aline De Gasperi aagasperi@hotmail.com
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Trabalhar no período da noite é quase um estilo de vida, um templo para a compreensão da cidade adormecida
Aline De Gasperi
iferentemente do transporte público, o privado tem um nicho mais selecionado e um tanto menos perigoso, visto o conhecimento da região que o motorista particular necessita. Segundo pesquisa realizada pela Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do Sul (CIC), em 2009, cerca de 160 mil pessoas são transportadas diariamente no perímetro urbano, ou seja, 1/3 da população utiliza algum tipo de transporte público e privado. Foi esta realidade que encontrou a direção da Transportes Silvestri ao firmar seus objetivos na região. Uma empresa familiar, inaugurada em outubro de 1985, “com o objetivo de levar as crianças pequenas para a escola da localidade de Forqueta”,
segundo Gustavo Silvestri, atual gerente geral da empresa. A falta de transporte no interior do bairro, e até à cidade vizinha, Farroupilha, foram os motivos concretos para tornar a empresa, até então com apenas um ônibus usado, uma transportadora que conta, hoje, com 10 veículos e 11 funcionários (administradores e nove motoristas). Basicamente com transporte diurno, apenas quatro linhas atendem na busca de funcionários no período noturno, de segunda a sábado. Cerca de 64 passageiros são atendidos entre as linhas. “A qualidade no trabalho à frente do volante e a boa empresa, me fazem gostar de ter essa profissão”, diz o motorista, garçom e ex-militar Alex Sandro Alves da Cruz. Ao final da tarde, em uma conversa informal, Alex (33 anos, natural da cidade de Carazinho e residente em Caxias do Sul há 15 anos) mostrou todo o seu entusiasmo em trabalhar como motorista do período noturno. Acompanhado de uma garrafinha de água e simpatia permanente, dava início à mais uma noite de trabalho na empresa Silvestri. De segunda a sextafeira, por 3h/dia, há cerca de sete anos, Alex bate o crachá. Segundo Gustavo Silvestri, este horário diferenciado se deve à “escassez de mão de obra no período da noite. Este horário foi definido para que bons profissionais possam conciliar seu trabalho diurno com o noturno, não os deixando tão cansados”. O trabalho noturno tem fama de ser mais perigoso, mas por informações passadas por Alex e Gustavo, apenas em uma vez a empresa sofreu o risco de um assalto, que acabou bem: sem roubo e sem machucados, somente o vidro de um ônibus rachado. Para o motorista, o trabalho noturno é uma questão de respeito ao próximo: “Não tenho medo dos bairros, tenho respeito. Preciso deixar claro para os moradores que estou no bairro deles só de passagem, apenas para pegar um dos moradores e levá-lo para o trabalho.” Para João (nome fictício do motorista, que preferiu não se identificar por não ter a autorização da empresa para se manifestar), o trabalho noturno em Caxias do Sul “já não é mais viável, visto o alto número de roubos, assaltos e sequestros”. João, 56 anos, passa toda a noite por bairros como Santa Fé, São Vitor, Planalto, São Luiz, Cruzeiro, Leon e Vila Mary. Comenta, também, que as pessoas que saem de suas cidades natais para fazer a vida em Caxias submetem-se a trabalhar como motorista na madruAlex Sandro Cruz ao iníciar mais uma noite de trabalho gada para conseguir levar comida para casa, “mas
Comunicando 31 correm o risco muito grande de terem que mandar a comida por outros, porque a possibilidade de não voltar mais, é grande”. Fora as longas histórias sobre perigo e aventuras, o mais marcante para Alex são os momentos hilários que ocorrem em sua profissão. Em uma dessas ocasiões narradas por ele, comenta de um grupo de mulheres que entrou em sua van. Na maior conversa e aos risos, as mulheres entraram, sentaram e fecharam a porta, sem perceber que a van não andava e que o motorista as vigiava. Após alguns breves segundos, Alex virou-se e perguntou o que elas faziam. Em uma resposta rápida, uma delas mencionou que apenas conversavam! Alex, bem-humoraPara Gustavo, o trabalho do, perguntou panoturno é uma questão ra onde elas iam, e elas, simultaneade respeito ao próximo mente, responderam que iriam para casa. “Mas não com essa van!”, disse Alex. Ao perceberem o equívoco, tanto ele quanto as moças riram aos montes e se despediram. Outro caso que também marcou foi um traslado feito por Gustavo. Ao voltar à garagem após uma longa corrida, o motorista já fechava o veículo quando resolveu voltar e dar uma olhadela dentro do mesmo. Qual foi sua surpresa? Um passageiro ainda estava sentado e dormia pesadamente. O retorno de ambos para a empresa em que o funcionário trabalhava foi feita com um carro menor e provavelmente este rapaz nunca mais pegou no sono no trajeto diário de sua casa à empresa.
A Silvestri
A Transportes Coletivos Silvestri atende pelo telefone (54) 3206.1386, com Adriane ou Gustavo. Conta com dois ônibus, quatro micros e três vans. Faz fretamentos, transporte particular e transporte escolar .
Aline De Gasperi
O transporte no Brasil O transporte rodoviário é o principal sistema de transportes do Brasil. Este sistema conta com uma rede de 1.355.000 quilômetros de rodovias por onde passam 56% de todas as cargas movimentadas no país. Dos mais de 1.300.000 quilômetros da rede rodoviária nacional, 30% está muito danificado pela falta de conservação e apenas 140 mil quilômetros estão pavimentados. Parte considerável das ligações interurbanas no país, mesmo em regiões de grande demanda, ainda se dão por estradas de terra ou estradas com pavimentação quase inexistente. O transporte rodoviário de passageiros do país compreende uma rede extensa e intrincada, sendo possíveis viagens que, devido à sua duração, em outros países, só são possíveis por via aérea. Fonte: Ministério dos Transportes (http://www.transportes.gov.br/) Um dos micros da empresa
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Nas padarias, serviço inicia cedo Para satisfazer o desejo de iniciar a manhã com um café saboroso, profissionais trabalham antes do amanhecer
Glória Vailatti gloriavailatti@hotmail.com
P
or muitos anos, as padarias trabalhavam 24 horas para atender a demanda do dia. O padeiro começava sua jornada de trabalho quando a maioria das pessoas já dormia, mas hoje essa rotina foi alterada. Alguns empresários com visão empreendedora mudaram o modo de trabalhar nas padarias e confeitarias. Então, optaram por ter uma central de produção que desenvolve os produtos, congela e os envia às lojas que atendem aos clientes finais. De acordo com o Sindicato das Indústrias da Alimentação de Caxias do Sul (Sindiali) 350 estabelecimentos entre padarias e confeitarias compõem a cidade. Para suprir as necessidades do mercado, a maioria das padarias/confeitaria de Caxias do Sul escolheu trabalhar com produtos congelados. O profissional mudou o seu
Câmera fria
horário de trabalho para a madrugada e deixou de exercer sua profissão a noite toda. Em 1995, Henrique Forini, 43 anos, comerciante, abriu a primeira unidade da Padaria Pão Quente, onde exerce atividades até hoje. Após cinco anos, ele sentiu a necessidade de ter uma central de produção que foi dividida em setores como estoque, frios, congelamento e confeitaria para facilitar a organização e a higiene do local. A cada uma hora um furgão abastece as quatro unidades da Pão Quente com produtos congelados pronto para serem finalizados para o consumo. “O aspecto do produto é igual como se fosse feito na hora”, diz Henrique. Além de maquinários modernos e funcionários envolvidos na produção, o principal segredo da padaria é saber o ponto de fermentação. O proprietário ressalta que é preciso conhecer a fermentação para conseguir o forneamento certo. Ele lembra de um episódio que aconteceu há um tempo atrás. “Eu tava cobrando do padeiro para melhorar o pão, a casca era grossa e eles não tinham um formato padrão. Ele me olhou e disse que precisava de máquinas melhores. Eu disse que iria conseguir mas ele teria que melhorar o pão. Eu comprei as máquinas e ele fez o pão pior do que fazia antes.
Fotos Leonardo Regianini
Aline Ponzoni ali_ponzoni@hotmail.com
Central de produção da Pão Quente
Pedi as medidas que ele tava usando e ele me disse um pouquinho disso, um pouquinho daquilo e não me dava as medidas. Comecei a medir e vi que o que ele usava era seis vezes mais do que precisava e mostrei a ele que não era só as máquinas mas, sim, as medidas, principalmente do fermento.” A central da Pão Quente conta hoje com 45 funcionários que trabalham das 8h às
assaltantes que os forçaram a retornar e levaram parte do que tinha na empresa. A falta de supervisor para conferir a real produção também foi um ponto negativo. Além desses aspectos, a compra de novos maquinários agilizou o que era feito manualmente, além de o congelamento dos produtos possibilitar que, durante o dia, fosse feito o estoque, o que amenizou a necessidade do trabalho à noite. Com um aumento considerável Evitar assaltos foi de encomendas, o o motivo para retirar proprietário da Pão Quente adaptou o o turno da noite setor de televendas junto à central de 16h30. Alguns deles iniciam produção para organizar os sua jornada às 4h ou às 6h. pedidos e a saída do produto Aos poucos, o turno da noite final. Para facilitar o trabalho, foi retirado até que, no início as máquinas são ajustadas de desse ano, todos os colabora- acordo com a linha de prodores começam de madrugada dutos que eles desenvolvem. ou de manhã. Henrique sempre está atualiOs motivos que leva- zado e, sempre que pode, viaja ram Henrique a retirar o tur- em busca de novas receitas. O no da noite foram os assal- padeiro o acompanha para testos. Ele se lembra quando os tar as máquinas e verificar se funcionários saíram e foram elas são eficientes para a exerendidos e agredidos por dois cução do trabalho.
Comunicando 33 O atendimento da padaria Dona Morena é das 7h às 20h. Fecha, para intervalo dos funcionários, das 13h às 14h. Futuramente, o local terá horário ininterrupto. Antes desse horário ser Padaria Dona Morena localizada na Av. Rio Branco estabelecido, a padaria iniciava uma hora mais noite foi retirado e permaneceu preocupação. Ele lembra que, tarde em virtude da produção apenas na central de produção. no turno da noite, muitos joser à noite, porque todos os Um dos pontos nega- vens saíam alcoolizados das produtos eram feitos num só tivos do trabalho noturno que festas e queriam comprar um lugar; mas houve a necessida- Sady destaca era a falta de au- lanche, o que perturbava os de de separar. Cada irmão fi- xílio se algo viesse a acontecer, padeiros que estavam no local cou com uma unidade, quando como um assalto ou até mesmo naquele horário. Dos produtos com saícriaram a central de produção uma queda de energia elétrica. da mais frequente, o proprietápara desenvolver o produto e Outro aspecto que ele ressalta rio considera o tradicional pão fornecer às duas lojas com o era o curto prazo estabelecido francês, conhecido na região mesmo nome e também a em- pelos clientes. “Você tem que como cacetinho, além do pão presas de outros setores. fazer o produto pra dali três de forma de leite, chamado Uma das unidades da horas, quatro horas consumir, Padaria Dona Morena, locali- e não pode errar. Então, a pres- de pão sanduba. O croissant, zada na Avenida Rio Branco, são é muito grande, pra que lançado pela família por volta é administrada por Sady que ninguém faltasse ao trabalho, de 1997, também teve grande acredita ser um benefício re- pra que as maquinas funcio- aceitação do público por ser um produto com pouca gorduceber os produtos congelados nassem e tudo desse certo.” uma hora antes da loja abrir. A segurança é um pon- ra e com grande qualidade. SEGUE Em virtude disso, o turno da to que sempre foi motivo de Aline Ponzoni
Variedade diária que atrai os clientes
Escola Fleischman
Com mais de 70 anos de história no Brasil, a Fleischmann criou, em 1948, a Escola Fleischmann, para suprir a necessidade de especializar pessoas na área de panificação. Vale lembrar que, desde 1932, quando a empresa inaugurou a fábrica de fermento biológico fresco em Petrópolis, no Rio de Janeiro, a marca se destaca entre donas de casa, padeiros e confeiteiros. O novo produto motivou um processo de evolução na indústria de panificação. Tudo começou em 1868, quando o austríaco Carl Fleischmann fundou a primeira fábrica de fermento manufaturado nos Estados Unidos, impressionado com a baixa qualidade do pão naquele país. Fonte: www.fleischmann.com.br
Leonardo Regianini
Por sua vez, em 1981, Sady e Olênia Spiazzi compraram a antiga panificadora São Francisco e mudaram o nome para Padaria Dona Morena, sugestão da família para homenagear a avó falecida. O comerciante Sady Antônio Spiazzi Junior, 48, filho do casal, conta que a escolha do nome “foi uma ideia de sair de nomes de santo, nomes de São Pedro, São Francisco, Nossa Senhora de Lourdes”. Ele lembra que os pais deixaram de comprar um apartamento para adquirir a padaria da qual eram clientes. “Nós aceitamos o desafio e, não entendíamos absolutamente nada de padaria, a não ser comprar o pão e comer”, diz Sady. A família Spiazzi sentiu a necessidade de entender o processo de como funcionava a padaria. Em meados dos anos 80 os filhos se matricularam no primeiro curso, na escola Fleischmann sobre panificação. Sady recorda que havia poucas oportunidades para aperfeiçoamento e que eles aproveitavam as que surgiam. “Já que não havia uma escola específica de formação, apenas um caminhão itinerante, um caminhão-carreta lá do Senai, e uma vez a cada ano ou cada dois anos vinha pra cidade, eram turmas pequenas, doze alunos. Sempre que possível a gente fazia os cursos.”
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E o que pensa o padeiro? são bolos recheados, em camadas”, comenta Rudimar. Sem o mesmo encantamento que a confeitaria, fazer pão é mais difícil na hora de agradar os clientes, porque cada um tem um gosto e uma opinião sobre o produto. Para o padeiro, há uma diferença em escolher o pão de um supermercado ou de uma padaria “Um pão da padaria é para clientes não tão refinados, mas mais críticos”. Com alegria, o padeiro lembra do primeiro elogio que ganhou. Ele limpava algumas formas para não restar sobras de pão, quando um fabricante de máquinas passou e observou o que ele fazia. Depois de um certo tempo, ele disse que realmente Rudimar sabia limpar uma forma. “Ninguém nunca me disse que sou um bom padeiro, mas que sei limpar formas”, descontrai
Fotos Aline Ponzoni
atural de Giruá, Rudimar Ehlert, 51 anos, padeiro e confeiteiro, herdou a profissão da família. O avô, o pai, os tios e os primos seguiram o mesmo caminho: ser padeiro. Mesmo tendo herdado o dom, ele buscou se aperfeiçoar com viagens e cursos de confeitaria e mecânica para saber trabalhar com as máquinas. Faz quatro anos que Rudimar trocou a noite pela madrugada. Em nove anos de trabalho na Padaria Pão Quente, as principais mudanças positivas que ele sentiu com a troca do horário estão relacionadas com a família e com o lazer. No setor da confeitaria, o que encanta são os variados recheios e coberturas feitos para destacar o bolo, conhecido como torta. “O Sul tem uma característica muito diferente que eu gosto de salientar; aqui que faz tortas, que lá em cima
O padeiro Rudimar na máquina que produz quibe recheado com requeijão
Dos fornos à ajuda voluntária A Legião Franciscana de Assistência aos Necessitados (Lefan) é uma organização não governamental (ONG) que atende aos necessitados. A instituição prioriza a capacitação e oportuniza a inclusão do jovem na sociedade, com cursos em diferentes áreas, como informática, artesanato e... panificação. Neste setor, os profissionais da Pão Quente ministram cursos sobre panificação às pessoas atendidas pela Lefan para formar novos padeiros, já que há escassez de profissionais no mercado de trabalho. Para 2011, ainda não há um calendário definido. Os proprietários da Padaria Dona Morena ainda auxiliam a instituição com doações, sempre às segundas, quartas e sextas, semanalmente.
Consumo de pão no mundo 1º Alemanha 2º Dinamarca 3º Áustria 4º Itália 5º Bélgica
6º Países Baixos 7º França 8º Noruega 9º Espanha 10º Inglaterra 11º Brasil
– Os brasileiros consomem 33,5 quilos/ano. – Em 2010, as empresas de panificação e confeitaria cresceram 13,7%, maior que o atingido em 2009 (12,61%).
Fonte: Abip
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Segredos de uma boa festa Franciele Luza francieleluza@gmail.com
O
bom profissional da noite “não vê, não sabe, não fala nada”. Palavras da promoter Betânia Mosena, 29 anos, quando questionada sobre histórias vivenciadas durante seu expediente noturno. Formada em Economia, sempre atuou no ramo de eventos. Desempenhou durante quatro anos a atividade de economista, até que em 2009 decidiu dedicar-se apenas a sua carreira de promoter. Para ela, um dos pontos mais positivos desta atividade é não ter rotina, além de conhecer novas pessoas a todo momento. Atualmente, as casas noturnas valorizam muito estes profissionais, pois diante de tanta concorrência, vence quem for mais criativo e tiver a capacidade de fornecer o que o cliente procura. Conforme Betânia, uma festa de sucesso é resultado de um excelente atendimento e boa música. Betânia ainda destaca que, mesmo diante de tantos boatos, esta profissão não e fácil, pois agradar a todos é
Experimente Drink Shrek (sem álcool): Maracujá, limão, couve, gelo e água. Dama de Vermelho: Iogurte de morango, suco de abacaxi e leite condensado. Blue and Blue: Licor de curaçau blue, refrigerante de limão e gelo seco. É Nóis: Refrigerante de limão, grenadine (xarope de groselha) e gelo seco. A dois é bem melhor: Leite de coco, leite condensado, rum, suco de abacaxi, grenadine. * * O barmen também ministra cursos para pessoas que desejam ganhar dinheiro com essa profissão ou até mesmo seguir essa carreira. Esse cursos são disponíveis na Microlins Caxias do Sul.
Qual a receita de uma boa festa? Música, dança, grupo de amigos? Conheça alguns profissionais por trás deste cenário? uma tarefa quase que impossível. Apesar de gostar muito do que faz, ela reconhece que sua carreira tem alguns fatores negativos como a exposição, o pouco contato com a família por causa dos seus horários e o cansaço físico, A casa noturna onde Betânia atua lhe dá a possibilidade de participar de diversos eventos de abrangência nacional. Ela sempre aproveita estes momentos para se atualizar e ficar por dentro das novas tendências desse universo. Vale destacar que os promoters trabalham semanas ou até meses para a organização de um evento e não podem ser identificados apenas como distribuidores de convites ou sorrisos. Este profissional, que se dedica plenamente para a realização de uma festa, certamente também e responsável pela alegria de muitas pessoas, que buscam entretenimento após um longo e cansativo dia de trabalho.
Thay Andrade
Betânia dedica-se há quatro anos à atividade
E “pra” beber? Fernanda Testolin fertestolin@yahoo.com.br
Q
uem não aprecia uma bebida diferente? Mais do que um garçom convencional, esse profissional precisa ter sensibilidade, sagacidade, bom gosto e criatividade para preparar os tradicionais drinques. Precisa também testar suas próprias receitas para surpreender o cliente que procura bebidas diferenciadas. Diz a lenda que os coqueteis surgiram no final do século 18 nos Estados Unidos, criados pelo irlandês Flanagan. Ele vendia bebidas misturadas com bracer (estimulante e revigorante). Um dia, Flanagan sacrificou um dos animais do vizinho e utilizou as penas do rabo do galo para enfeitar os copos. Os clientes aprovaram esse coquetel e passaram a pedi-lo frequentemente. Hoje em dia, o barmen passou a ser fator indispensável para o sucesso das baladas, e, quanto mais criativo com suas variadas misturas, mais desperta o desejo do público em experimentar seus coqueteis. Elias de Castilhos Duarte, 40 anos, é barmen há 24; ele exerce, também, consultoria de hotelaria. Diz que “a noite proporciona melhores condições para desenvolver o trabalho e o público é mais receptivo”. Descreve que no decorrer de sua carreira nunca sentiu nenhum sintoma físico por trabalhar à noite. Tem o apoio de sua família, desde que o irmão, que já tinha conhecimento da profissão, o convidou para trabalhar. A partir de então, nunca mais deixou de praticar a atividade. Segundo Elias, o segredo para preparar um bom drinque varia, desde a utilização de utensílios de qualidade e insumos de primeira linha, até o bom gosto do barmen. De acordo com ele, os homens, na maioria, preferem drinques cítricos e, as mulheres, drinques doces; mas, relativiza, há exceções.
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De frente “pro” crime Noele Tavares Scur ntscur@ucs.br
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er atribuições noturnas é sinônimo de experiência para o policial rodoviário federal Celso Luiz Turella, 46 anos, lotado na 5ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Com cinco anos de polícia, Turella destaca que o exercício policial da madrugada, além de ser de alto risco, traz momentos complicados. “O crime não tem hora marcada para ocorrer, mas a noite propicia muito mais”, considera. Segundo ele, identificar veículos, placas e quantidade de pessoas dentro dos carros, torna-se muito mais difícil, especialmente no momento da abordagem, quando os riscos envolvidos são diversos. “A reação das pessoas pode ser passiva, de fuga ou armada. Na semana anterior à reportagem, quando os colegas foram abordar um veículo suspeito de furto, “acabaram tomando tiros”, conta. No entanto, ele ressalta que um policial só dispara em legítima defesa. “Nosso objetivo maior é a preservação da vida. A utilização da arma é o último recurso”, afirma. Caxiense, formado em Direito e Administração, estudou Engenharia alguns anos e trabalhou como supervisor noturno em empresas durante 20 anos. Decidido a mudar de vida, resolveu fazer
Saiba que... * 191 é o telefone do plantão da Polícia Rodoviária Federal. * A 5ª Delegacia está localizada no quilômetro 147 e atua especialmente no trecho do km 97 ao 218, isto é, desde a ponte do Rio das Antas até Dois Irmãos.
Preservar vidas ao combater o crime é o principal objetivo do policial; nas madrugadas, o trabalho se intensifica inscrição para o concurso da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no último dia da prorrogação. “Fiz o concurso porque não sabia o número de candidatos”, lembra, ao afirmar que ser policial é o que gosta de fazer e, mesmo com o perigo da profissão, existe o ponto positivo de realizar plantões de 24h e, após, folgar 72h. “Em empresas, você precisa fazer esse horário, mas de cinco a seis dias diretos; eu já não faria mais.” Entre as vantagens do trabalho noturno, Turella aponta a facilidade de perceber um motorista alcoolizado na estrada. “Muitas vezes, o que vemos é a pessoa embriagada derrubar cones, parar à distância porque não consegue discernir o espaço ou já vem com a iluminação apagada. O cidadão desce do veículo e nós temos que segurá-lo porque ele começa a cair e a sair andando para a pista.” Turella destaca que, à noite, não precisa enfrentar o sol forte nas longas jornadas e, além disso, consegue fazer um trabalho mais apurado pela diminuição do tráfego nas ruas.
Isis Cornelli
Turella, 24 horas em ação
A farda pesa As dificuldades enfrentadas pelos policiais são diversas. Turella diz que a atividade é a que mais apresenta problemas de estresse e depressão. “Usamos um colete com bastão, rádio, algemas, que pesa de oito a dez quilos. Bastante pesado, mas é o equipamento de segurança que pode ser o diferencial entre estar vivo ou não. É comum, na abordagem, você sinalizar para o veículo parar e o veículo acelerar. Já tivemos um colega atropelado, que ficou 12 dias em coma”, lamenta. Casado e pai de dois filhos, Turella diz que o horário não atrapalha em nada sua relação familiar. Acredita que o mais importante não é a quantidade do
tempo para a família, mas a qualidade. “O que realmente arrebenta é chegar às seis da manhã, já bastante estressado, clareando o dia e você vai deitar com sol. A qualidade do sono é terrível”, aponta. Para ele, o fato de o policial vestir uma farda atrapalha a relação com a comunidade que, por anos, vivenciou o uso do uniforme para fins de repressão. No entanto, ele salienta ser a preservação da vida o maior objetivo dos oficiais. “Que a comunidade não veja a polícia como opressora ou como uma indústria de multa. Ainda carregamos esse peso porque alguns tiranos rotularam assim. Mas não somos militares, somos civis.”
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“Elas nos chamam para dar um ‘susto’”
Ocorrências de violência contra a mulher nem sempre são verídicas Isis Cornelli
om a Lei Maria da Penha, algumas mulheres consideraram-se facilmente protegidas, até quando não há necessidade. Que o diga o soldado Douglas Lisboa Rodrigues, 27 anos, que relata ser o chamado mais comum da madrugada: mulheres que reclamam de agressões. No entanto, quando os brigadianos chegam ao local, constatam que a reclamação não convence. “Vamos atender e elas explicam : meu marido e eu começamos a brigar e eu chamei vocês para dar um ‘susto’ nele. O que acontece é que nós não somos bicho-papão”, conta, descontraído. Em compensação, as mulheres que realmente se beneficiariam da lei, se calam. E a Brigada Militar (BM) acaba por atender inúmeras ocorrências do gênero e deixa de atender causas mais graves. Para o brigadiano, natural de Vacaria, trabalhar só se for durante a noi-
te. Ele inicia sua jornada às 19h e finaliza às 7h. “Sempre solicitei trabalhar de noite, eu conheço o ritmo. Quem anda na rua
depois das 22h... todos são suspeitos.” (risos). Rodrigues explica que a comunidade caxiense não é habituada a colaborar com a Brigada. Ele conta que em uma abordagem feita a um flanelinha, foi solicitado revistar também o cidadão que estava próximo. “Ele se negou sentindo-se ofendido. Gerou um transtorno para uma coisa simples, um procedimento que está dentro do nosso perfil de trabalho porque a Brigada não deve discriminar e, à noite, não conseguimos distinguir quem está trabalhando, quem é morador da redondeza e quem não é.” Outro problema apontado é a maneira como o cidadão trata a questão da criminalidade. “Tem cidadão que quer que mate o ‘vagabundo’, nós não estamos aqui para isso porque o bem maior é a vida. Querem a polícia para os outros, mas não para si”, define.
Segundo o delegado Endrigo Veiga Marques, o plantão da Delegacia Civil de Caxias recebe ocorrências relacionadas à Lei Maria da Penha diariamente. O delegado diz que as denúncias são feitas após muitos anos de silêncio. “Muitas mulheres
denunciam, chamam a Brigada, chegam até aqui e depois não querem mais dar procedimento ao processo”, diz. Marques explica que, posteriormente à edição da Lei Maria da Penha, a pena por lesão corporal em âmbito domés-
tico aumentou. Além de as chamadas “medidas protetivas”, permitirem o afastamento judicial do agressor da residência. Se acaso for pego em flagrante, a pena varia de três meses a três anos de detenção; entretanto, há a possibilidade de pagar fiança.
Sd. Rodrigues tem preferência pela noite
Denúncias todos os dias
Saiba que... . 190 é o telefone da Brigada Militar . Polícia é um vocábulo de origem grega, “politeia”, e derivou para o latim “politia”, ambos com o mesmo significado: forma de governo, administração, governo de uma cidade. . Em 1842, tanto os prédios das chefias de polícia quanto os das delegacias eram pintados de branco com janelas, portas e detalhes em preto. A ideia é que fossem identificados com facilidade. Até hoje, muitas viaturas da Polícia Civil mantêm as cores branco e preto. Fonte: site Uol
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Taíse Klippel Paim tkpaim@ucs.br
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om vozes graves e aveludadas, em um timbre macio e até mesmo sensual, os locutores de rádio tornam-se verdadeiros cartões de visita das emissoras. Acompanhados ainda de uma boa dicção, articulação e interpretação o apresentador, produtor ou radialista é o responsável pela transmissão da informação correta cada vez que pegar o microfone. Júlio César Vieira de Souza, 26 anos, iniciou sua carreira de radialista em Camaquã, de onde é natural, e desde então a rádio e a comunicação têm sido seu objeto de trabalho e estudo. Estudante de Jornalismo na Universidade de Caxias do Sul (UCS) e com vários cursos na área do rádio, escolheu a noite para desenvolver a profissão diante da necessidade de adaptar seus horários de trabalho e estudo. Hoje está à frente de dois programas na rede Mais Nova FM: o Madrugada Mais Nova, que vai ao ar à meia-noite, com música, dicas e informação, e, na sequência, o Tá na Hora, quando são transmitidas as primeiras notícias da manhã, hora, previsão do tempo e temperatura. Com um timbre de voz marcante, Júlio menciona as peculiaridades da profissão, como a responsabilidade de transmitir ao ouvinte credibilidade e de como ele cresce profissionalmente ao perceber as necessidades de seu público. Sobre os contras em trabalhar à noite, o radialista menciona o cansaço físico, uma vez que não costuma dormir muito, pois os compromissos do dia a dia, como ir ao banco e pagar contas, têm que ser realizados em horário comercial, o que impossibilita a compensação de uma noite de sono.
Vozes da noite
O som que faz companhia aos solitários pela rádio, também informa e diverte os ouvintes das madrugadas Milena Leal
Júlio interage com seu públuico por meios virtuais e contato telefônico
Certo desgaste psicoló- audiência, na madrugada entre gico também faz parte da rotina 1h e 3h. Os ouvintes geralmendo radialista; a falta de interati- te são os próprios trabalhadores vidade com os colegas da rádio, da noite, adolescentes e insones, já que fica sozinho no estúdio, é entre outros. Quando a cidaum ponto negativo por trabalhar de começa acordar, Júlio ainda à noite. “Falo para milhares de está lá, entre 4h e 6h; agora, ele pessoas, as quais estão me ou- transmite, com renovada empolvindo, mas aqui no estúdio es- gação, os fatos e primeiras notou só”, tícias de comenta um dia “Falo para milhares de o locutor. que mal Mas, Júcomeçou pessoas (...), mas aqui lio é enpara a no estúdio estou só.” fático ao maioria, argumenmas que tar que para o raesses “detalhes” o desafiam ain- dialista simboliza o fim de mais da mais, por isso a simplicidade uma noite de trabalho. e o comprometimento o tornam Esses anos na rádio tamcada vez mais capaz de dialogar bém fizeram com que o radiacom o ouvinte. lista colecionasse algumas hisEle conta que seu pú- tórias interessantes. Talvez por blico, apesar de diversificado, carregar a herança do romantismantém uma certa fidelidade de mo das programações noturnas,
os solitários têm como companhia o locutor, que com voz suave e apaixonada, instiga e impulsiona os ouvintes a procurar suas almas gêmeas. Foi assim que um casal, segundo Júlio, ao trocarem cartas, começaram um relacionamento que resultou em noivado. Nem tão romântico, um outro episódio, protagonizado agora por Júlio, o deixa um tanto satisfeito quanto preocupado. Ao chegar no estúdio para mais um turno de trabalho, por volta de meia-noite o locutor é abordado por uma ouvinte que o esperava para conhecê-lo; provavelmente mais uma mulher que encantou-se pela sua voz. O radialista procurou ser simpático, trocou algumas palavras, em seguida despediu-se e seguiu em direção ao estúdio. E nunca mais a viu.
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Não se brinca com coisa séria
Muitas pessoas que necessitam do auxílio do guinhco são prejudicadas pela falta de consciência de alguns
apenas para carros particulares sem envolvimento com o Departamento Estadual de Trânsito Gilce Walter (Detran). gylwalter@yahoo.com.br Ao receber uma ligação são feitos vários questionamenuitos só percebem a tos ao cliente quanto à situareal importância de ção atual do veículo e também um auxílio noturno quanto ao local, para que ocorquando necessário. Situações de ra o deslocamento do veículo trotes que envolvem prestações apropriado para a operação. Serviço de Identificar uma chamade serviços 24 horas são constantes e isso atrapalha o trabalho da de risco é na maioria das de muitas empresas que auxi- vezes impossível. Na Guinchos liam no socorro de pessoas que Caxiense, empresa especializa- contra, é possível burlar o idenrealmente necessitam. Também da em soluções para transporte tificador. De acordo com Gevalnão se pode deixar de relatar a desde de 1987, todas as ligações grande insegurança e preocupa- são levadas com altíssima serie- dino Valente, 53 anos, atual ção que estes profissionais têm dade pela equipe. Essas ligações gerente da empresa, houve uma situação de ao realizarem suas atividades ocorrem com maior frequêndeslocamento noturnas. da equipe de Mas, trabalhar no turno cia aos finais Ao realizar semana, plantão para o da noite também tem suas van- de atendimento, os local informatagens. Segundo Claudiomiro em função das do e, ao cheValente, 38 anos, que trabalha festas e de viairmãos foram gar lá,era uma em turnos durante o dia, concor- gens. surpreendidos Hoje, tentativa de da que fazer turnos à noite tem assalto. “Muilá as suas vantagens sim, pois por questões de por assaltante tos ficam com além de ser mais tranquilo com segurança e na o pé atrás antes menos movimento, as condi- tentativa de filtrar as ligações falsas, a empresa de saírem para atenderem seus ções de trabalho são melhores. A empresa dispõe de optou pelo serviço de identifica- clientes.” Já o irmão, Claudiouma frota de veículos que pos- ção de chamadas, o que restrin- miro, tem em sua lembrança um sibilita operar nas mais diversas ge e facilita a identificação de episódio do qual recorda: ao resituações. O trabalho da equipe sua origem. Mas, mesmo assim, alizar um atendimento a cliente, na realização dos socorros são com o avanço da tecnologia a ambos foram surpreendidos por planejados com atendimento favor das pessoas, muitas vezes um assaltante. O medo também passa a ser um dos principais companheiros desses colaboradores que se dispõem, ara quem não conhece, a lenda do Gritador se resume a um rapaz de mámuitas vezes, a índole, muito perverso o qual gostava de maltratar seu cavalo. Em um deoptar pelo turno terminado dia, a mãe do rapaz ficou penalizada com os maus-tratos sofridos da noite como um pelo o cavalo e decidiu dar-lhe água e comida e após resolveu soltá-lo, para que adicional em sua o animal pudesse fugir. Quando o jovem acordou e tomou conhecimento do que renda no final do ocorrera, amarrou a mãe, colocou nela o arreio, montou e passou a esporeá-la mês. É o caso de com força, enquanto a coitada chorava de dor e de humilhação. A pobre velha Marcio Monsani, senhora não suportou e o amaldiçoou: “Quando você morrer não irá para o 38. Há um mês, ele céu, mas ficará vagando sem rumo pelas matas, gritando de dor.” Isso é o que faz parte da equipe contam os moradores da redondeza. E mais, dizem que na mesma noite em que o homem morreu, os moradores dos arredores ouviram gritos vindos da escuridão, o que continua a se repetir principalmente nas noites de lua cheia.
Fotos Daniela Fochesatto
Daniela Fochesatto danifoches@hotmail.com
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O Gritador
remoção do veículo
como recepcionista do Caxiense: “Trabalho durante o dia em outro local e à noite sou recepcionista na empresa. Como o trabalho é tranquilo, no final do mês posso contar com um dinheirinho extra.” Mas não são todos que possuem uma rotina que possa ser chamada de tranquila. Como o serviço é prestado também em cidades vizinhas, uma situação de pavor que envolveu uma lenda do Gritador (ver box abaixo), vivenciada por um ex-funcionário, hoje falecido. Esse fato ocorreu no turno da noite, quando o funcionário saiu para socorrer uma chamada próximo à Vila Seca. Ao chegar ao local, o funcionário que conhecia e muito a tal lenda, resolveu, na presença do vigia noturno, gritar, como acontece com muitos que duvidam da lenda. O guarda, no exato momento, o repreendeu e pediu que parasse imediatamente; porém o colaborador resolveu gritar ainda mais alto. Como toda história sempre tem um pouco de verdade, a resposta não demorou a retornar. O guarda foi sua real testemunha e, hoje, na empresa todos recordam com saudades daquele funcionário que em uma certa noite voltou amedrontado.
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Vida de taxista
Um pouco da história de quem é apaixonado pelo que faz
Jaqueline Fiorio
Jaqueline Fiorio jaquefiorio@terra.com.br
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uitas vezes a vida dos taxistas, é considerada fácil, porém e-xistem algumas adversidades: os cuidados com o trânsito, com assaltos, com o carro, com o bom atendimento aos clientes, devem ser levados em consideração. Para ser um taxista, é preciso disposição para os mais diversos tipos de serviços; além de dirigir o táxi e transportar os passageiros, é preciso carregar cadeiras de rodas, doentes, idosos, ou ajudar com as compras em dias de chuva. É preciso gostar do que faz, Eurico Gehlen, 30anos, fala com entusiasmo sobre sua profissão e sobre o horário que escolheu. O turno da noite foi uma opção pois, para ele, o trânsito é melhor, mais tranquilo, com exceção no horário entre 3h e 6h, pois muitos motoristas saem de festas embriagados e em alta velocidade. Outra qualidade de um taxista é saber ouvir. Com 30 anos de profissão, Orlando de Castro, 53, ouve muitas histórias dos
Rui Rodrigues da Luz é taxista há 16 anos
passageiros. Diz que sempre é bom estar com um sorriso estampado e disposto a ouvir reclamações, sejam elas profissionais ou pessoais dos passageiros. Seu Rui também conta que o táxi é um verdadeiro confessionário: muitas pessoas choram, riem, contam as mais diversas histórias, é preciso ouvir e, ainda, aconselhar. Uma das maiores preocupaA história do táxi no mundo remonta à Antiguidade e está intrinsecamente ligada à história ções é com dos veículos de rodas. Com o aparecimento das grandes cidades da civilização humana e com o a segurança. advento dos carros sobre duas rodas, surgem os primeiros meios de transporte em que a locomoção É possível se fazia pela força do homem, e o táxi assumia um papel ainda hoje primordial nas grandes cidaperceber que des da China, com o riquexá. Este era um meio de transporte selecto e habitualmente usado pelas o traba-lho classes dirigentes ou pela população abastada, sendo muitas vezes puxado por escravos. dos taxistas Com o progresso que as carruagens sofreram na Idade Média, desta vez puxadas por anié consideramais, inicia-se um novo período de desenvolvimento para os meios de transporte que irá dar inído perigoso, cio ao moderno serviço de transporte de aluguel. Surge em 1605, na então populosa Londres, as e que já não é primeiras carruagens de aluguel, que se intitulavam hackey. O sucesso desse meio de transporte mais privilégio comercial dissemina-se pela Europa fora, sempre em grandes urbes como espaço privilegiado de somente da noiadesão. França e Alemanha, vêm surgir esta comodidade citadina com diferentes nomes mas com te. Todo cuidado idêntico sucesso e crescimento. A evolução e o aperfeiçoamento da carruagem puxada a cavalos é pouco, todos fomenta a evolução e o crescimento desse serviço de transporte, que atinge números elevados para têm família e a época, sendo um dos principais motores do crescimento destas cidades. precisam voltar Com o surgimento dos primeiros automóveis também aparecem os primeiros táxis motoripara casa. Porém, zados; a primeiro ocorrência é na Alemanha, em Estugarda, 1896. Daí ao nascimento do famoso a justificativa mais taxímetro vai uma curta distância; em poucos anos, o serviço vulgariza-se e rapidamente é adapusada por eles é de tado por outras cidades europeias. que em qualquer Fonte:http://taxigal.pt/book/export/html/5 horário do dia, e que em qualquer profissão, corre-se algum risco (leia mais na pagina 41).
A história do táxi
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Ponto de táxi, Av. Julio de Castilhos esquina Rua Feijó Junior
O risco de assalto não é o único que correm os taxistas. O trânsito também faz suas vítimas, as ruas estão cada vez mais parecidas com uma selva, cordialidade no trânsito é coisa que ficou esquecida, a pressa agora é regra, saber que a pressa de um não é a pressa do outro, que todos querem chegar em algum lugar. É o que confirma Orlando: “ Dirigir de noite de certa forma é mais tranquilo porém as pessoas andam muito em alta velocidade.” Em Caxias do Sul, a população está cada vez mais consciente de que o táxi não é o meio de transporte de maior valor. Pois, além da comodidade, o táxi chega ao destino mais rápido. Devido a isso, existem algumas reclamações de que na cidade faltam táxis em alguns pontos. Um exemplo é a rodoviária, porém Lindonês A. Boeira, 45 (abaixo), acredita que é importante Fotos Jaqueline Fiorio
Lindonês Boeira trabalha no ponto de táxi da rodoviária
que os meios de comunicação transmitam informações corretas sobre os táxis. “ Fico triste porque a maioria (dos meios de comunicação) faz propaganda ruim, fala que não tem táxi suficiente na rodoviária. Isso não é verdade. Em horários de pico pode atrasar um pouco, mas em muitos horários ficamos aqui, as vezes até uma hora parados, sem fazer corrida alguma.” Para Rui Rodrigues da Luz, 62, a profissão traz muitas vantagens. Para ele, é bom trabalhar em local aberto, pois assim pode manter contato com quem quiser a qualquer horário do dia, principalmente com a família, pois sua esposa inspira cuidados diários e precisa de sua disponibilidade 24h. Antes de sair para o trabalho, seu Rui ajuda a esposa, que é cadeirante, nos afazeres domésticos, depois sai para mais um dia, ou uma noite de trabalho.
Da boleia ao ponto
Uma curiosidade sobre os taxistas é que a grande maioria, antes de exercer essa profissão era motorista de caminhão. É o caso de Nereu de Oliveira, 52, para quem a profissão de taxista é melhor pois permite que ele fique mais horários com a sua família. Trabalhar como taxista também é diversão, nos pontos de táxi, quando não estão no trânsito, usam diversos meios para se descontrair: tomam chimarrão, jogam cartas, leem jornais, revistas, livros, assistir televisão (aqueles que tem em seus pontos acesso televisão). Como diz Eurico: “ A coisa funciona mais ou menos da seguinte forma:Faz uma corrida e lê um jornal. Faz outra e toma um chimarrão. Faz mais uma e conversa um pouco com os colegas.Arranca de novo e tira um cochilo, e assim passa a noite.”
42 Comunicando
Graziela Casara
Táxi, passageiros e muitas tramas
zyzi.c@terra.com.br
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uitos trocaram a noite pelo dia, dispostos a não mais sofrer com a insegurança e a incerteza do que poderia acontecer durante uma corrida. Segundo alguns taxistas, o medo de assaltos aumenta durante a noite, quando os bandidos se sentem mais livres para agir devido à pequena quantidade de pessoas nas ruas. Em cada ponto de táxi da cidade há pelo menos um profissional que já foi vítima de roubo. Nereu de Oliveira, 52 anos, foi uma delas. Quando estava em seu ponto, para “pegar” passageiros, dois homens mandaram-no seguir em direção ao Centro, quando, em questão de minutos, os bandidos sacaram suas armas e colocaram na cabeça do condutor. “Fui obrigado a parar onde eu estava, e entregar praticamente tudo, leva-ram o carro, dinheiro, celular, documentos, etc. Mas graças a
Mesmo sendo uma profissão de risco, profissionais encaram os perigos
Jaqueline Fiorio
Rui (e) e Nereu preferem trabalhar à noite
Deus estou vivo”, relatou. Ele acredita que, por ser uma atividade em que o prestador do serviço trabalha diretamente com o cliente, os assaltantes sabem que o condutor sempre está com dinheiro, seja uma soma alta ou não. Taxista há 16 anos, Rui Rodrigues da Luz, 62, também possui um certo medo
da violência que hoje existe, até mesmo contra a categoria, mas diz que não pode largar a atividade. “Esta é a minha profissão, meu trabalho, o que gosto de fazer e o que me dá o dinheiro que preciso para sobreviver. Nenhum trabalho do mundo me dá a liberdade que tenho com o táxi. Faço meu horário, trabalho nos dias que
quero e não sou demitido”, avalia Rodrigues. A segurança num todo está precária. Mesmo com todos os esforços da Brigada e da Polícia Civil, estamos à deriva, complementa. O serviço é útil, porém, quem o presta exerce uma profissão de risco. Assim, é considerada a profissão do taxista. Para muitos que trabalham nessa função, torna-se complicado selecionar os passageiros, pois além de ser impossível identificar um prová-vel assaltante, pode até mesmo perder no lado financeiro. É o caso do taxista Orlando de Castro, que há 30 anos atua como motorista. Ele alega que esse tipo de profissão é muito vulnerável, principalmente no turno da noite. “Na verdade, não sabemos quem é o nosso passageiro, mas também não podemos negar transporte para essas pessoas. Não podemos simplesmente julgar uma pessoa pela aparência. Sabemos que o serviço é perigoso, mas não há o que se possa fazer”, explica Orlando.
Muitos optam pela madrugada Alexandre Souza de Vargas, 30 anos, tem apenas quatro meses de táxi em Caxias do Sul. Foi o tempo suficiente para optar por trabalhar à noite. Conta, também, que a maioria das corridas feitas nesse horário vem das chamadas recebidas pelo rádio e de pessoas que estão aleatoriamente nas ruas e necessitam deste serviço. O taxista Eurico Gehler, 34, dois deles dedicados ao táxi, não pensou duas vezes antes de optar por fazer parte do trabalho na madrugada. “É a opção que fiz para ficar com a família”, conta. Um dos motivos, também, foi fugir do trânsito caótico durante o dia. Rui Rodrigues da Luz, 62, afirma que “à noite, os clientes são mais alegres, estão saindo do happy hour. Não são estressados”. “Gosto de ficar nos finais de semana mais perto das baladas”, acrescentou o ta-xista, que disse trabalhar de sexta a domingo das 19h às 6h. Questionado se compensa trocar a noite pelo dia, respondeu: “Sim. Eu descanso, du-rmo bem, faço uma boa leitura, passeio com a família, converso com os amigos, nas horas vagas”, disse Rui.
Graziela Casara
Comunicando 43
Caxias tem problema com a falta de “placas” Taxistas e cooperativas dizem que o número de carros precisa ser ampliado Jaqueline Fiorio
Apesar do número de empresa, Adão Guaranha. moradores de Caxias ter au“O maior problema é em dias mentado em mais de 60 mil de chuva e horários de pico. nos últimos 10 anos, nenhum Em alguns casos, a demora táxi a mais entrou em circulaultrapassa meia hora. Quem ção desde 1999. A cidade pasmora mais longe acaba sendo sou de 360 mil habitantes em punido, porque quando tem 2000 para mais de 424 mil, muito movimento, acabamos contabilizados até agora pelo não conseguindo atender aos Censo 2011. Atualmente, há bairros”, explica a adminis277 táxis e 673 taxistas, entre tradora da companhia, Luciaproprietários e motoristas aune Eunice da Rosa. xiliares. O presidente da CooperatiA necessidade de mais va de Consumo dos Condutáxis pode ser comprovada tores Autônomos de Veículos pelos pedidos que demoram Rodoviários (Coocaver), Joou deixam de ser prestaaquim Bueno dos Reis, tamdos. A empresa de Sistema bém admite que a frota está Empresário Adão Guaranha é proprietário da empresa Teletáxi de Transporte e Passageiros defasada. “Realmente, é neRádio Táxi Ltda. (Teletáxi) cessário que se conceda mais trabalha com 71 veículos associados; consequentemente, con- algumas permissões, porque a população aumentou bastante.” segue atender em média 24 mil corridas por mês. Porém, esse A Coocaver tem convênio com 150 motoristas. No mês passanúmero poderia ser ainda maior. A empresa deixou de prestar do, atendeu cerca de 25 mil pedidos por meio do serviço Rádiomais de 10 mil solicitações no mesmo mês, revela o diretor da Táxi.
Mulheres chegam ao mercado e querem espaço Cada vez mais, as mulheres conquistam seu espaço no mercado de trabalho. E neste setor, não podia ser diferente. Segundo levantamento do Sindicato dos Ta-xistas do Município de Caxias do Sul (Sinditaxi), cerca de 2% dos 673 taxistas da cidade são conduzidos por mulheres. Além de demonstrar capacidade e cordialidade ao volante, um dos desafios que elas conseguem vencer é conciliar a vida profissional com a vida pessoal. Esse é o caso da taxista Ana Paula Lemos, 33 anos. Ana Paula conta que gosta do contato com o público, não gosta de ficar presa sempre em um mesmo local, mas sim de liberdade, principalmente no trabalho. “Com táxi, isso é possível, pois continuo em contato com as pessoas e tenho a oportunidade de ver a cidade, conhecer novos lugares”, explica. Atualmente, Ana alterna sua jornada de trabalho entre os turnos diurno e noturno. No período da noite, atende a públicos diversificados e faz amizade com todos. “Não tenho público preferencial”, afirma. Para ela, as mulheres ocupam, aos poucos, seu lugar no mercado de trabalho. “Alguns pas-sageiros ainda se espantam, mas depois se acostumam”, relata. A taxista afirma sentir-se feliz com a profissão. “Gosto do que faço e quero melhorar sempre”, finaliza.
Saiba mais Primeiro táxi a circular em Caxias: 1910. A cidade tem, em média, um carro para cada 1,5 mil pessoas. O Sindicato do Taxista de Caxias do Sul foi fundado em 2005. Número de associados: cerca de 347 Benefícios dos associados: assistência jurídica, médica, dentária, despachante, representatividade diante da Secretaria de transportes e convênio com plano de saúde. Número de carros que rodam pela cidade: 277 Pontos de táxi: 62 Benefícios para os passageiros: todos os táxis têm seguro, carros novos e identificados, motoristas cadastrados na secretaria do transporte, comodidade e segurança. Caso necessite de serviço de táxi 24hs, ligue: 54 3215.1313.
44 Comunicando Carlos Boff
Um olhar seguro Brigada utiliza câmeras de monitoramento para dar maior segurança à população Para ele, o período da noite altera muito a rotina, pois atrapalha na questão de ter certa tranquiTiago Tramontin lidade ao dormir. A escolha pelo turno da noite foi opcional, mas t.tramontin@gmail.com existe remanejamento nos horásegurança da cidade rios; ainda assim, ele consegue está nas mãos da Bri- conciliar os assuntos de ordem gada Militar, que hoje pessoal nos momentos de folga. disponibiliza 200 soldados para Em relação ao medo duCaxias do Sul, divididos em três rante o trabalho noturno, Branturnos – de seis, 12 e 24 horas co comenta que o período é que atuam no Centro Integra- mais tranquilo devido ao baixo do de Operações de Segurança movimento e fluxo de pessoas Publica (CIOSP). A Brigada que transitam pela cidade, o que Militar utiliza um circuito de facilita as abordagens quando é câmeras para monitorar as vias solicitado. Além disso, o solpublicas da cidade. dado ressalta que “medo não é O monitoramento atual uma palavra que aprendemos a conta com 18 câmeras, espa- usar em nossa profissão, mas, lhadas pelas ruas do município, sim, a termos precauções pordoadas pel Câmara de Dirigen- que cada atendimento é um tes Lojistas (CDL). O objetivo encontro com o inesperado. é, durante Em 2007, 2011, instapassei Período é mais lar mais 20 por uma câmeras, situação tranquilo devido ao para dar delicada. baixo movimento e mais seguDurante fluxo de pessoas rança aos um atendicidadãos mento de caxienses. ocorrência fui baleado em uma No efetivo responsável tentativa de prisão, pois o mepelo monitoramento está o sol- liante disparou um tiro que me dado José Luiz Branco Silva, acertou e, assim, fiquei afastanatural de Rio Grande, que in- do por um bom período.” gressou na Brigada Militar em Quanto à família, Bransua cidade natal há 21 anos, co diz. “Minha esposa sempre sendo que, em março de 2011, teve uma certa restrição com completa seis anos de atuação este horário, porque não tenho em Caxias, onde reside com a como estar presente para paresposa e uma filha. ticipar de eventos sociais, ou Durante sua carreira seja, ter um horário ‘normal’, atuou em diversos turnos e seto- porque tudo em nossa profissão res na corporação. Atualmente, é de acordo com escalas. Mas Branco está no setor adminis- procuro sempre conciliar para trativo e, à noite, faz horas ex- evitar se tornar algo maçante ou tras como monitor de câmeras. cansativo”, finaliza. Morgana Daniel mdaniel@ucs.br
A
Monitoramento no CIOSP em Caxias do Sul
História da BM
A Brigada Militar, foi criada em 18 de novembro de 1837, devido a sua participação nas principais revoluções e movimentos armados dos séculos 19 e 20 ocorridos no Rio Grande do Sul e no Brasil. Com características militares, como nas Forças Armadas, assim eram realizados os treinamentos e a formação do efetivo; a partir dessas características recebeu a denominação de Força Policial, mas a partir de 1967 a Brigada Militar assumiu uma nova missão: empregar nas ruas seus policiais militares, por meio do Policiamento Ostensivo, atribuição que era caracterizada pela presença nos principais locais de público na modalidade de duplas conhecidas como “Pedro e Paulo”. A Brigada Militar conquista, após a Constituição de 1988, a competência de defender o Estado de Direito, as Garantias Individuais e os Direitos Humanos. Na década de 1990, surge a filosofia de Polícia Comunitária, hoje institucionalizada pelo projeto “Polícia Cidadã”, pelo qual se busca a excelência na prestação dos serviços de segurança pública e o aprofundamento das relações junto às comunidades organizadas.
Comunicando 45 Fotos Carlos Boff
Brigada Militar (36º BPM) e Sindilojas. A Brigada oferece o ponto de fiscalização e a parte operacional, enquanto o Sindilojas é responsável pela manutenção e aquisição de equipamentos. Atualmente, contam Soldado Daiana acompanha o monitoramento com 19 câmeras e, no início de 2011, foram A soldada Oraides exercer a profissão. instaladas mais quatro câmeDaiana Vieira Santana, 27 Quando abordada so- ras. anos, natural de Santa Maria, bre a questão de interesse para A soldado Giovânia é oficial da Brigada há quatro a troca de turno, Daiana co- da Silva Suzin, que trabalha anos e meio, e há dois reside menta que já pensou em passar no posto de Farroupilha e atua em Caxias juntamente com para o dia. “Claro que no verão na Brigada Militar há 17 anos, seus pais. Nos horários de fol- prefiro à noite, porque o calor natural de Lagoa Vermelha a ga, ela aproveita para conciliar é bem mesoldado os seus compromissos pesso- nor (risos). comenta “As ocorrências ais, e comenta que seus pais Não noto que não não dormem até que ela não diferenças consegue ocorrem no turno da chegue em casa, pois mesmo em relação se ver em noite,mas ainda na parte interna da corporação, aos horáoutra proassim, a noite é boa.” os familiares de Daiana man- rios, mas fissão. A tém a preocupação com a filha. gosto do família Por trabalhar à noite, no iní- noturno. Claro que as ocor- tem certa preocupação, porém cio, a soldada consumia uma rências acontecem no turno da já está acostumada devido ao grande quantia de cafeína, o noite, mas ainda assim, a noite tempo de que afetou a sua saúde, assim é boa”, argumenta. exercício como a insônia, mas nada que O sistema de vigilân- na Brigaabalasse o seu psicológico, fa- cia em Farroupilha foi criado da. “Meu tor que ela julga essencial para em 2003 com a parceria entre pai sempre
gostou e admirou a Brigada Militar, foi ele quem me incentivou a seguir a carreira de militar”, relata. Giovânia tem preferência por atuar durante o dia, pois à noite o trabalho se torna mais cansativo, mas, mesmo com escalas tão diferenciadas, ela nunca pensou em deixar a Brigada. Ela trabalha em escalas e sabe dos seus horários apenas com um dia de antecedência; normalmente, o seu turno de atuação é de seis horas e também pela flexibilidade de negociação dos seus horários. Questionada sobre algum medo que ela possui por trabalhar nessa profissão, a soldada Giovânia relata que o único receio é nas abordagens de assaltos que envolvem reféns, pois o medo é de que alguma pessoa inocente seja ferida. “Não se trata somente da sua vida, mas sim a dos outros, pessoas inocentes”, conclui.
Saiba mais aqui: É importante lembrar que a população tem por direito ao acesso das imagens do sistema de câmeras, basta solicitar as mesmas pelos meios legais, ou seja, em busca dos órgãos de seguranca pública. Número de emergência Brigada Militar – 190 Soldado Giovânia atua em Farroupilha
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Para ser vigilante, é preciso mais que atuar; é preciso gostar Vigia da noite que está sempre de prontidão, Julio César é um exemplo de quem ama o que faz Luis Cláudio Giani Marros
O
gianicorretordeimoveis@gmail.com
vigilante Julio César da Rosa Vidal, 37 anos, natural de São Gabriel, é profissional. É o que se percebe quando ele afirma que “estar” vigilante não basta. Para Júlio César, é preciso amar a profissão e desenvolver outras habilidades para ocupar um cargo de tamanha responsabilidade. Mas, apesar de que trabalhar à noite seja mais calmo, ele reconhece: “A noite foi feita pra dormir. Esse é o problema. Então eu prefiro trabalhar de dia, pelo menos o sono é bem melhor”. Ele considera que o horário mais crítico para a sua atuação é a madrugada, entre duas e cinco horas da manhã. Depois que clareia o dia, diz, torna-se mais alerta; na madrugada, a companhia, para não dormir, é o rádio. Júlio César também caminha para não cochilar e afirma que a questão financeira é um fator importante na decisão de trabalhar na madrugada. Em relação à família, diz que fica tranquilo, pois sabe que a esposa faz companhia aos filhos e, além de tudo, compreende a profissão escolhida por ele. “Entendo que no casamento temos que aceitar certas coisas, certas condições, para poder conciliar tudo. Na minha profissão muitos casais têm atrito pelo fato de o marido trabalhar à noite. No meu caso, minha mulher é bastante compreensiva”, complementa. Situações inusitadas, cômicas e inesperadas fazem parte de algumas lembranças marcantes do vigilante. “Quando se inicia o trabalho, especialmente na madrugada, circulo olhando atentamente por todo o local, para evitar surpresas.” Em uma destas noites, lembra, entrou no banheiro masculino da empresa e ouviu murmúrios. “Fiquei bem quieto, saíram duas pessoas, eu fiquei ali quieto, para mostrar que não tinha ninguém. Quando fui ver, eram dois homens... Estavam lá fazendo altas e altas coisas, né!”; então, ele chamou a chefia da empresa e recebeu ordens para escoltar até a saída os dois namorados. De acordo com o entrevistado, o maior empecilho na madrugada é, sem dúvida, o sono: “Eu percebo esses danos (como cansaço em demasia) por conta da falta de sono. Chegava em casa de dia e não conseguia dormir direito. O sono do dia não tem nada a ver com o sono da noite, você chega em casa e até conseguir dormir. Demora um pouco e acaba não tendo aquele descanso mesmo!” Por conseguinte, a mensagem que o nosso personagem da noite deixa é a seguinte: “Trabalho nessa área porque eu gosto, se não gostar é complicado; se trabalhar só pelo dinheiro não vale a pena.” Perguntado sobre o fato de continuar nessa profissão, com os olhos emocionados e confiantes dispara: “Pretendo, sim,
trabalhar ainda um bom tempo na área.” Porém, desabafa “As pessoas acham que você, porque é um segurança, é um analfabeto, não tem condições de fazer nada, tá ali só por tá; acho que é isso que as pessoas vêem de fora.” Isis Cornelli
Julio, um vigilante responsável
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E, para terminar a noite.... Gostar de atender as pessoas com personalidades diferentes das do dia é a principal estratégia para se ter um estabelecimento que funcione durante a madrugadas Daniela D. Deves dani_deves@hotmail.com Lisiane Fiedler lisikarenf@yahoo.com.br
C
onhecer, gostar, trabalhar, ver o lado que as pessoas não mostram durante o dia, ter vivência noturna e um bom retorno financeiro foram os pontos positivos que fizeram o proprietário Fábio Assunção, 27 anos, abrir o Madrugadão do Peretti. Ele afirma que sua família dá apoio à sua escolha, porém, não gosta, pois preferia que ele tivesse um trabalho durante o dia. Fábio realizou uma pesquisa a fim de conhecer melhor as preferências da população caxiense, antes de inaugurar o local. O Madrugadão está em funcionamento desde dezembro de 2010 e atende pessoas da classe média alta das 20h às 6h, de segunda a segunda. O local conta com uma grande variedade de produtos, sendo mais vendidos os fast-food, os congelados, os chocolates, os energéticos, os refrigerantes, as cervejas, os preservativos e os cigarros. No entanto, trabalhar à noite também tem seus pontos negativos. Para o comerciante, deixar a vida social de lado, es-
Fábio, proprietário do Madrugadão do Peretti
Fotos Vinicius Ulian
colher para quem focar sua atenção, ver o lado que as pessoas não mostram durante o dia e a insegurança, são o principais fatores a se destacar. O Madrugadão do Peretti não é diferente dos outros locais da noite quando se trata de segurança. Fábio também adaptou-se a equipamentos que monitoram interna e externamente o estabelecimento, durante 24 horas, e ainda contratou um segurança que faz monitoramento com viatura. Fábio conta que em pouco tempo no local já possui histórias para contar. “Um empresário queria comprar um freezer cheio de cervejas, mas não acertou (pagou) na hora. Quando outros clientes chegavam e pegavam as cervejas daquele freezer, ele brigava comigo. Enfim, tive de convidá-lo a se retirar.” Para a divulgação do local, o empresário utiliza as redes sociais, principalmente o Twitter, além da comunicação “boca a boca”.
Qual o segredo?
Loja permanece aberta até às 6h
Como Caxias do Sul não têm muitas opções durante a noite, os postos de combustíveis fecham à meia-noite e os mercados às 22h, as pessoas que precisam comprar algo não possuem muita escolha. “Caxias é uma cidade censurada e a tendência é censurar cada vez mais”, acrescenta Fábio. O movimento é constante, porém é maior da meia-noite à 1h, horário em que as pessoas saem para as festas, e no retorno delas, das 4h às 6h. Fábio diz, ainda: “O segredo do movimento é conhecer pessoas.”
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