Informativo-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade de Caxias do Sul/ Semestre 2017/2
A visão da população sobre a cultura em Caxias página 8
Jogos digitais como profissão e tecnologia como fonte de renda página 14
Editorial
Mudar para permanecer “Nada é permanente, exceto a mudança.” Exposto nesta frase do filósofo Heráclito está um dos sentimentos que mais movimentam a sociedade: o anseio por transformação. Dentre os vários aspectos que poderiam ser citados, como as mudanças necessárias no âmbito político ou educacional, está a situação cultural. Caxias do Sul, eleita capital da cultura em 2008 e 2012, nos traz um bom exemplo de como uma “quebra” do raciocínio social presente é necessária. A Serra gaúcha, reconhecida como a “Europa brasileira”, frequentemente peca ao não receber bem culturas alheias ao histórico cultural da região. Nos últimos anos, por exemplo, recebeu uma grande quantidade de imigrantes vindos de países riquíssimos culturalmente, como o Haiti e o Senegal. Quanto dessa cultura é repassada ou vista com bons olhos pela sociedade? Com exceção de alguns coletivos, pouquíssima. O mesmo se reflete no não incentivo a manifestações tipicamente brasileiras, como o carnaval. Segundo alguns artistas, não falta apenas o incentivo por parte do Poder Público, mas também da própria população. A Festa da Uva, evento cultural símbolo de Caxias do Sul, também vem enfrentando dificuldades. Ao ter seu foco transferido das tradições para o comércio, acabou tornando-se insustentável. A comissão responsável pela realização das festividades pediu transferência da data e alegou também que o formato da festa precisa ser repensado. Por mais que tal anúncio tenha causado indignação à parte da comunidade da região, mostra sinais de que, de fato, é hora de mudar. O mundo se altera a cada minuto e podemos apontar a tecnologia como uma das grandes responsáveis pelo novo cenário. A desigualdade social, acompanhada pela injustiça e pelo preconceito, tão bem representada pela intolerância, porém, ainda marca nosso cotidiano. A receita mágica para aprender a lidar com o novo mundo ainda não é conhecida, mas um bom primeiro passo pode ser tentar acompanhá-lo. Enquanto o mundo se transforma, temos também que nos transformar.
Sumário Violência
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Política
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Realidade
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Direitos da mulher garantidos também em relações homoafetivas Os desafios de Daniel Guerra na Prefeitura de Caxias A vida como ela é: moradores de rua
Cultura
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Caxias da cultura
Solidariedade
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Muito além da caridade
Meio Ambiente
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Respeitar o meio ambiente
Tecnologia
Jogos digitais como profissão
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Reitor: Dr. Evaldo Antonio Kuiava Pro-Reitor Acadêmico: Dr. Marcelo Rossato Coordenadora da Área do Conhecimento de Ciências Sociais: Dra. Maria Carolina Rosa Gullo Coordenador do Curso de Jornalismo: Ms. Marcell Bocchese Professora responsável: Dra. Marlene Branca Sólio Disciplina: Design e planejamento visual da notícia em jornalismo Projeto Gráfico: Gabriela Bento Alves Repórteres: Alessandra Teixeira Brenda Luísa Dalcero Carolina Canton Caroline Santi Eliana Aparecida Elisa Ambrosi Gabriela Bento Alves Maurício Carvalho Natália Zucchi Pedro Rosano Thamires Bispo Campus-sede R. Francisco Getúlio Vargas, 1130 B. Petrópolis, Caxias do Sul - RS, 95070-560 Telefone: (54) 3218-2100
Mulher tem direitos garantidos em relacionamentos homoafetivos Em Bento Gonçalves, o Centro Revivi prestou atendimento a mulheres vítimas de violência doméstica por suas parceiras, em 2016. A procura por ajuda é tímida, segundo a coordenação.
Brenda Luísa Dalcero Thamires Bispo Natália Zucchi
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Foto: Natália Zucchi
Lei Maria da Penha, 11.340/06, em vigor desde 2006, busca a proteção contra agressões domésticas e familiares a mulheres, em qualquer relacionamento, seja ele heterossexual ou homossexual. De acordo com a delegada Maria Isabel Zerman, da Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam), de Bento Gonçalves, a mulher que agride a companheira pratica, em tese, o delito de lesão corporal, cuja pena é detenção de três meses a três anos. A violência pode ser física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral. Já em relacionamentos homossexuais entre homens, a Lei Maria da Penha não se aplica. A agressão é processada pela regra geral do Código Penal Brasileiro. Conforme determina a Lei, a agressora passará pelo mesmo processo adotado em relação ao agressor masculino. As medidas podem incluir suspensão ou res trição de posse de armas, o afastamento do lar e a proibição de condutas como a aproximação da vítima e de testemunhas e contato com a vítima por quaisquer meios de comunicação. Além disso, a visita a dependentes com menos de 18 anos é suspensa. Se a agressora for reconhecida como principal provedora do lar, ela também será responsabilizada pelo pagamento de pensão alimentícia.
cipal tipo de violência é a psicológica, Em Bento Gonçalves, além do amparo normalmente motivada por ciúmes e jurídico, a vítima recebe acompanhapela ideia de propriedade da parceira. mento psicológico e social, realizado Segundo a diretora, “os casais homoafpelo Centro de Referência da Mulher que etivos femininos ainda são invisíveis, Vivencia Violência – Revivi. O centro ao contrário dos casais homoafetivos atende vítimas de violência, além de promasculinos. Por isso, pouquíssimas promover ações e campanhas de consciencuram auxílio quando acontece qualquer tização voltadas a vítimas e agressores, violência contra uma delas”, observa. independentemente da orientação sexual. De acordo com a diretora do Centro Revivi, Regina Zanetti, são atendidas, em média, de três a quatro vítimas violência de em relacionamentos homo afetivos por ano, enquanto a média mensal corresponde a 115 atendimentos de vítimas de violência em relaciona m e n t o s heterossexuais, conforme levantamento sobre o período de janeiro a dezembro de 2016. Ainda segundo Regina, o atendimento é prestado a mulheres com faixa etária entre 18 e 30 anos, período em que o prinRegina Zanetti, coordenadora do Centro Revivi
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Os desafios de Daniel Guerra na Prefeitura de Caxias Novo gestor de Caxias do Sul enfrenta “intempéries” nos primeiros meses de governo. Saude e transporte lideram as frentes de batalha Foto: Petter Campagna Kunrath
Prefeito Daniel Guerra em reunião com profissionais do programa “Mais Médicos”do governo federal
Gabriela Bento Alves Maurício Carvalho Pedro Rosano
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ão há dúvidas de que os ínicio de governo do prefeito Daniel Guerra têm sido polêmicos. Crise na saúde e no transporte público, redução de investimento nos eventos culturais da cidade, brigas com o vice-prefeito,
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reclamação de vereadores sobre a falta de diálogo do Poder Executivo com o Legislativo dão um indicativo do cenário. Caxias do Sul vive um momento político delicado. O prefeito foi eleito com o discurso de ser um gestor e não um político e que atenderia todas as demandas da população, tais como saúde, segurança pública e educação. Na prática, as coisas não ocorrem como o planejado. Divergências entre a Prefeitura, o Sindicato dos Rodoviários e a Visate, em-
presa prestadora do transporte coletivo, causaram diversos problemas à população. Desde os primeiros dias do ano, a nova administração deu sinais de que não pretendia aumentar a tarifa de ônibus. A postura deixou em alerta o Sindicato dos Rodoviários, pois a demora pela definição estaria atrasando a negociação do dissídio da categoria. Em fevereiro, a Visate informou à Prefeitura que o valor da passagem deveria ser de R$ 4,25. Entre as justificativas estava um déficit de pouco mais de R$
2 milhões em 2016, em função da tarifa atual. O prefeito Daniel Guerra classificou como surreal o aumento sugerido e, na mesma semana, o Conselho Municipal de Trânsito votou pela manutenção do valor vigente. A sanção acarretou manifestações e paralisações orientadas pelo Sindicato. No dia 20 de fevereiro, nenhum ônibus saiu da garagem. A Prefeitura reprovou a decisão e alegou não caber a ela resolver um problema que é de uma empresa com seus empregados. Disse, ainda, que a empresa sofreria multa de R$ 5.000 por dia de greve. Guerra afirmou, também, estar procurando empresa alternativa para assumir o transporte coletivo, para não deixar de prestar o serviço, em caso de rompimento contratual com a Visate ou em um eventual prolongamento da greve dos funcionários. No dia seguinte, os ônibus voltaram a circular. Depois de duas assembleias, a greve chegou ao fim. A proposta votada por mais de 400 funcionários manteve a reposição salarial de 6,57%, bem como o valor da passagem do transporte coletivo, que permaneceu em R$ 3,40. Decorridos poucos meses, o prefeito foi notificado de que o aumento da pas-
sagem seria legítimo. No último dia 3 de maio, a Visate anunciou que a passagem de ônibus passaria a custar R$ 3,70, a partir do dia 5 de maio. A Prefeitura não concordou com o aumento e prometeu recorrer à justiça sobre a decisão, que não poderá entrar em prática antes da determinação judicial. Em nota, a Visate afirmou que aguardará uma definição. Enquanto isso, as secretarias municipais e a Procuradoria Geral de Caxias do Sul se reuniram para analisar o valor sugerido pela Visate e, nessa reunião, a Prefeitura decidiu contestar na justiça o fato de não ter sido ouvida, antes da decisão de ajustar e, também, buscará demonstrar que não há desequilíbrio econômico, o que foi demonstrado no mês de fevereiro pelo Conselho Municipal de Trânsito e pelo prefeito Daniel Guerra.
SAÚDE EM PAUTA Além do transporte público, a saúde também está em crise. Os médicos do SUS e a prefeitura não entram em acordo, e quem sofre é a população que necessita do serviço. O valor do salário exigido atrasa essa negociação, en-
Foto: Camila Valentini
quanto a prefeitura cobra dos médicos o cumprimento da carga horária. Atualmente, os servidores atendem cotas de pacientes por dia. Para registrar o ponto, a categoria pede a redução nas horas trabalhadas e no número de consultas. Um médico que trabalha 12 horas passaria de R$ 3.417,78 a R$ 4.782,53. A categoria justifica o aumento amparada no piso nacional da Federação Nacional dos Médicos, utilizado em todo o País. A Prefeitura, em um primeiro momento, disse que esta greve é “ilegal e imoral”, o que não parece consenso, na medida em que o secretário da Saúde, Fernando Vivian, teria, segundo a imprensa, manifestado sua concordância com a parali sação. Os médicos ainda afirmam que o Sindi cato dos Servidores Municipais (Sindiserv) não dá a devida atenção a eles e não se preocupa com a melhora em seus salários. A presidente do Sindicato, Silvana Piroli, declarou à mídia local que a greve dos médicos não é boa, pois favorece a ideia da privatização do SUS e das terceirizações de serviços de saúde. O prefeito Daniel Guerra, ao perceber a crise na saúde pública da cidade, con tratou médicos por meio do programa “Mais Médicos Nacional”. A cidade já conta com 18 profissionais contratados através do programa. No dia 17 de maio, a greve dos médicos completou um mês. No dia 15 de maio, a adesão à greve foi menor do que o esperado. Dos 119 médicos escalados para trabalhar, apenas 18 não compareceram, percentual que representa 15% dos profissionais.
Greve dos rodoviários, no dia 2 de fevereiro, em que nenhum ônibus saiu da garagem
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Sem nome, sem família, eles circulam sós pelas ruas da cidade Homens, mulheres, jovens e idosos. O perfil dos moradores de rua varia em caxias do Sul, mas a solidão é sentimento comum a todos Foto: Alessandra Teixeira
Centro Pop Rua, em Caxias do Sul (RS)
Alessandra Teixeira Caroline Santi Eliana Aparecida
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m Caxias do Sul, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, há cerca de 233 moradores de rua. Desses, 82% são homens e 18% são mulheres. Conforme dados de infográfico publicado pelo jornal Pioneiro, Caxias do Sul tem 37 pontos que servem de moradia improvisada ou dormitório para essa população. A maioria dos moradores de rua busca abrigo em marquises
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e calçadas da cidade. Outros procuram viadutos, terrenos baldios, áreas verdes, praças, canteiros, prédios abandonados ou parcialmente demolidos e uma pequena parcela procura os prédios públicos. Segundo o infográfico, a maior parte se concentra na área central e leste da cidade e é usuária de drogas.
A RUA É SEU LAR Natural de Caxias do Sul, 20 anos, morador de rua. Lucas vive embaixo do via duto Mario David Vanin e, segundo ele, está na rua há tanto tempo que já não sabe precisar. Sem família, sem sobrenome, a rua é seu lar. Quando recebe ajuda, o ra-
paz faz em média uma refeição ao dia. O Centro de Referência Especiali zado para a População de Rua, sob a adminis tração da Fundação de Assistência Social Pop Rua, oferece café da manhã e banho. “Isso é muito bom”, comenta Lucas. “Já é uma grande ajuda para nós.” Ele gostaria de almoçar no restaurante popular a um real, mas nem sempre tem dinheiro para pagar. Caxias não tem uma organização que represente os moradores de rua, “mas há muito respeito”, garante ele. Sobre trabalho, o jovem é realista: “quem vai dar...?,” desafia. Lucas não gosta de ir para o albergue que a Prefeitura oferece e fala com revolta sobre
Foto: Eliana Aparecida dos Santos
imigrantes haitianos: “Há mais de 40…”, reclama, mostrando que preconceito não tem lugar nem classe. “A Prefeitura não está nem aí para nós”, protesta, alegando que os que vêm de fora recebem melhor assistência.
BEBIDA E DESILUSÃO Luciano Constante tem 42 anos e mora na rua há mais ou menos seis anos. Ele aponta três motivos para estar nessa situa ção: drogas, bebida e desilusão. A desilusão está relacionada à perda da guarda do filho. O morador de rua passa seus dias em frente à Igreja do Bairro Nossa Senhora de Lourdes. “Eu me dou bem com todos por aqui, o pessoal sempre me ajuda e eu sou educado com todos, isso é do caráter”, garante, lembrando que há também pessoas que os maltratam. Com animação, ele relata seu relacionamento com as pessoas do
de rua. O Centro Pop Rua é um deles. Oferece assistência social no SUS, ajuda na higiene, encaminha para preparar documentação, e dispõe café da manhã para os moradores de rua, além do acolhimento e abordagem nas ruas. Todos os dias, o Centro recebe vários moradores de rua, e seus integrantes garantem que
o número vem aumentando. O Caxias Acolhe trabalha em conjunto com o Pop Rua. Há, ainda, casas conveniadas como as casas Carlos Miguel, a São Francisco, recentemente o Celeiro de Cristo, e o restaurante popular com a refeição gratuita, após o horário de almoço. Foto: Alessandra Teixeira
“Nunca se sabe se vou conseguir acordar no outro dia. É uma questão de sobrevivência. Toda noite é uma aventura”
Lar de vário moradores de rua
bairro, seu novo “namorico” e seu mais recente relacionamento com o filho. A vontade de ter uma vida melhor para poder participar da vida do filho é sua prioridade. Luciano mostra tristeza ao relatar, também, os riscos que corre morando na rua, a vez que foi espancado pela polícia, o medo de dormir toda noite, o quase atropelamento que ele e o amigo sofreram há algumas noites no local onde dormiam: “Nunca se sabe se vou conseguir acordar no outro dia. É uma questão de sobrevivência. Toda noite é uma aventura”, relata.
SERVIÇOS PÚBLICOS A Prefeitura de Caxias do Sul disponibiliza alguns serviços para os moradores
Luciano com seu companheiro de rua
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CULTURA
Um diagnóstico da vida cultural em Caxias do Sul A principal reclamação dos artistas locais é a falta de reconhecimento de parte da população Foto: Daniel Bianchi
“Domingo na Estação”, evento promovido pela Secretaria de Cultura do Município
Carolina Canton Elisa Ambrosi Gabriela Bento Alves
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cidade de Caxias do Sul foi eleita a capital nacional da cultura em 2008 e novamente em 2012. Porém, os investimentos do Poder Público diminuíram e o município perdeu seu posto. Colonizada basicamente por italianos, conhecida como cidade da fé e do trabalho, tem sua economia voltada para a indústria, e não
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cultiva o hábito da cultura. A história conta que, na colonização, as pessoas tinham que trabalhar muito. Não sobrava tempo para se dedicarem a atividades culturais. O conceito de cultura é bastante específico e se resume a um complexo que inclui crenças, tradições, conhecimento, arte e costumes de uma sociedade. Tratando-se dos caxienses, e abrindo um pouco mais o conceito, a cidade tem poucos atrativos que se destaquem. Contudo, ela recebe, sim, investimento cultural. Por meio de alguns projetos públicos e de outros privados, áreas como música, dança, teatro,
cinemae vídeo, literatura e arquitetura são amparadas pela Prefeitura. Os projetos que a Prefeitura cria e os que a Prefeitura apoia, em parceria são disponibilizados na agenda cultural, que também é divulgada por meio de um aplicativo criado pela Prefeitura. De acordo com a Secretaria de Cultura, alguns eventos já são periódicos, como o Domingo na Estação, que engloba todos os segmentos da arte em um só espaço e ocorre uma vez por mês. Há inclusive os eventos com parcerias externas, que também estão na agenda, por serem projetos que acontecem na cidade. Os artistas
Sul, em todos os bairros, no teatro do Sesc, no Sesi, no Teatro Murialdo, no Teatro São Carlos, peças no Teatro da UCS também é a cultura da cidade; peças de teatro, stand-up, shows, palestras. Exis te um setor, na Secretaria da Cultura, responsável somente por levar a cultura
“Caxias não vê a arte como um trabalho de fato. Geralmente, quando tem crise, a primeira coisa que é cortada é o entretenimento, a cultura” para os bairros, que é aquela cultura popular, com atividades, por exemplo, hip hop em determinados bairros, o sam-
ba, as festas, levando peças de teatro para esses bairros, shows. Isso tudo mobiliza não somente o centro, que seria o feudo cultural, mas todo o entorno da cidade.” Pode-se apontar, como exemplo de projeto desenvolvido pela Prefeitura, o Festival Brasileiro de Música de Rua, que ocorreu em março de 2017, evento que atrai artistas tanto de fora do estado como de fora do País. A cantora Victoria Limberger, que é sucesso nas redes sociaispor seus vídeos autorais e covers, foi uma das convidadas. “É um festival internacional. Vem gente de outros lugares da América Latina cantar aqui, no festival. É um festival que abre oportunidade para muitos artistas locais”, comenta. Victoria ainda afirma que este ano foi muito incentivada pela Prefeitura, e enfatiza que está bem mais reconhecida por causa dos investimentos culturais na cidade. Ela acredita que hoje existem bons profissionais e que, com empenho,
Foto: Branca Sólio
autônomos fazem parte do meio cultural, desenvolvendo atividades para a comunidade e, para incentivá-los, a Prefeitura oferece o Financiarte, financiamento para projetos individuais de pessoa física. O edital para o Financiarte é anual e avaliado por uma comissão que conta com artistas caxienses. Com o anúncio do corte de verbas em alguns setores mais populares e periféricos da cultura da cidade, como o Carnaval de Rua, a Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação, Cultura, Desporto, Lazer e Turismo da Câmara dos Vereadores de Caxias do Sul é uma das instituições que se esforçam para conseguir cada vez mais investimentos em cultura. O vereador Paulo Périco, do PMDB e membro da comissão, afirma que a cultura em Caxias do Sul não se resume, como muitos pensam, em à Casa da Cultura e ao Centro Cultural Ordovás. “O que nós temos ao redor de Caxias do
Toquinho na UCS
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conseguem ser reconhecidos. “Eu acho que Caxias tem muita gente boa, com potencial, só que o pessoal tem que investir mais em se ver como artista. Porque quando a pessoa se vê como artista, ela vai ser reconhecida assim”, afirma a cantora. Na visão dos artistas caxienses, não há dúvidas de que Caxias do Sul não é uma cidade em que a cultura prevalece. A opinião da atriz Maiara Cemin é clara: “Em Caxias, o povo não consome cultura.” Ela ainda afirma que as últimas duas gestões da Prefeitura Municipal foram vergonhosas nos investimentos em cultura, uma vez que só priorizaram a indústria. A atriz Louise Stefany destaca: “Caxias nunca viu a arte como um trabalho de fato. Geralmente, quando tem crise, a primeira coisa a cortar e o entretenimento, a cultura.” As duas atrizes apontam que a população caxiense não valoriza o teatro produzido na própria cidade e que para os caxienses é caro pagar dez reais para assistir a uma peça teatral. A escritora Maya Falks, autora do livro Versos e Outras Insanidades, afirma que na Feira do Livro, por exemplo, os visitantes são pessoas acidentais, que se deparam com a feira no caminho, mostrando, assim, que a vontade de participar é do momento e não algo culturalmente criado. “O que falta a Caxias, na verdade, é a ‘cultura da cultura’. Ela é uma cidade
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industrial, muita gente vem pra cá procurando emprego, então se criou a cultura do trabalho; as pessoas não criaram, de fato, o hábito de prestigiar eventos culturais”, comenta a escritora. Para isso, destaca que a única solução seria incentivar as crianças, desde cedo, a valorizarem a cultura riquíssima presente na cidade. Claramente, Caxias do Sul recebe um alto investimento em cultura. Seja financeiramente, seja com a criação de projetos e eventos ou ajudando os artistas autônomos a decolarem em sua carreira profissional. Contudo, falta a divulgação de seus feitos. Para piorar, o corte de verbas planejado pela Prefeitura preocupa a população e o futuro cultural do município. A opção por não investir no carnaval e nos rodeios afasta ainda mais a cidade de alcançar o mérito de capital nacional da cultura. “Nós não somos obrigados a gostar do carnaval, mas nós somos obrigados a respeitar a diversidade étni ca e cultural do nosso País e o carnaval talvez não seja a principal manifestação artística da nossa cidade, mas há quem gosta”, comenta o vereador Rafael Bueno.
Foto: Branca Sólio
Foto: Luana Folchini
Peça “A mágia do livro”, da Foco3 Produções
Muito além de caridade Trabalho voluntário tem peso na efetiva muito transformação social. Na ONU são mais de 7.500 voluntários em cerca de 100 campos. Foto: Daniel Mioranza
Brenda Luísa Dalcero Thamires Bispo
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trabalho voluntário, no Brasil, tem ajudado muitas pessoas. Apesar de ter a participação de apenas 30% dos cidadãos, aqueles que são beneficiados podem provavelmente ter sua vida transformada por simples ações. Não apenas se beneficia quem recebe a ação voluntária, mas também quem a pratica. Atualmente, o voluntariado é considerado em currículos profissionais, algo de extrema importância. Há diversas organizações, tanto em nível nacional como internacional, que reúnem esforços em prol da ação voluntária. Diversas ONGs, Igrejas e instituições filantrópicas possuem voluntários “permanentes”, que dividem suas ações em diferentes áreas de atuação na sociedade. A ONU conta com mais de 7.500 volun tários por todo o mundo e desenvolve ações em mais de 100 campos profissionais. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Brasil lançou em abril deste ano a Plataforma de Filantropia. O Brasil é o oitavo país a ativar a plataforma-piloto. O objetivo é facilitar a parceria entre organizações filantrópicas e outros atores, como gover nos, sociedade civil e o setor privado. A meta é o cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, propostos na Agenda 2030, adotada pelos países da ONU. Os trabalhos da ONU e de tantas outras organizações são, contudo, apenas uma pequena parcela de todo o trabalho que ainda precisa ser feito para uma transformação real em nossa sociedade. O
Voluntários doam roupas arrecadadas para pessoas carentes
trabalho voluntário ainda é uma medida paliativa e denuncia a existência de um problema grave: a desigualdade social.
PODER DE MUDAR
O economista Henrique Cavagnoli, que participa de ações voluntárias pelo LEO Clube Flores da Cunha, há mais de dez anos, ressalta a importância do voluntaria do na transformação social. Para ele, a atuação de instituições locais é tão importante quanto a de organizações mundiais, já que as ações podem ser planejadas com mais especificidade e, consequentemente, maior eficácia. Além disso, o envolvimento da comunidade local também é importante na fiscalização dos problemas, e faz com que o trabalho adquira ainda mais significado
para o voluntário. “Acredito que o ato de ajudar alguém vem da percepção de ter mais condições que os outros, perceber a desigualdade que é inata no nosso mundo e tentar fazer justiça com as próprias mãos, nem que seja uma migalha perto do necessário, tendo apenas o amor ao próximo e a gratidão como combustível”, observa.
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Cada vez mais, o meio ambiente exige respeito do homem Trabalho voluntário pode ter grande peso na efetiva muito transformação social. Na ONU são mais de 7.500 voliuntários em cerca de 100 campos Foto: Caroline Santi
Alessandra Teixeira Caroline Santi Eliana Aparecida
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cada vez mais comum encontrarmos grupos organizados, especialmente nas médias e grandes cidade, para cuidar do meio ambiente por meio da coleta de lixo seletivo. Cresce a preocupação com o meio ambiente e o consumo consciente. Grupos de catadores organizados sustentam sua família e ajudam o planeta. Em Caxias do Sul, esse trabalho ocorre de forma bem organizada e envolve diversos grupos. Diferentes associações que têm objetivos comuns: deixar a cidade limpa e dar destino certo a cada item descartado, se localizam nos bairros Fátima, Serrano, Reolon, Desvio
Grupos de catadores organizados sustentam sua família e ajudam o planeta Rizzo, Planalto, Consolação, São Víctor Cohab e Vila Maestra. Outras organizações envolvidas nessas questões são as Cooperativas, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma), a Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Codeca) e o Movimento Catador Legal, além de grupos não regularizados. Jorge Pontes, de 49 anos, casado, desempregado, com dois filhos pequenos,
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Daniel, diretor da Clean reciclagem
encontrou, no trabalho informal de catar lixo seletivo nas ruas, uma alternativa para sustentar a família. Faz isso há cerca de um ano. Recolhe e seleciona nos fundos de sua casa, no Bairro Cruzeiro. A esposa ajuda como pode, nos horários de folga, pois trabalha em uma firma. Nos dias em que consegue algum “bico”,
Diferentes associações e objetivos comuns: limpar a cidaade e dar destino certo a cada item descartado
Foto: Eliana Aparecida dos Santos
Jorge Pontes, catador
po, e houve denúncias por causa do lixo que os catadores recolhem e deixam nas calçadas. Mas no fim da tarde, todos limpam o seu lixo e seu carrinho. As denúncias também se referiam à falta de cuidado por parte da comunidade na rua recém revitalizada, quando todo o lixo é retirado da mesma quando o sol se põe, e ainda é reciclado. Foto: Caroline Santi
Jorge não sai para recolher lixo nas ruas “mas está cada vez mais difícil conseguir trabalho”, desabafa. O catador conta que geralmente é bem tratado e as pessoas são educadas. A rua foi “Algumas entregam diretamente, em vez revitalizada há de colocar na lixeira”, pouco tempo, e diz. Nunca foi hostilihouve denúncias zado ou desrespeitado, mas um colega ouviu por causa do lixo de alguém que prefeque os catadores ria roubar a recolher deixam nas lixo. Jorge afirma calçadas que jamais faria isso: “considero esse um trabalho digno. Chego a ganhar em torno de R$ 1.500 por mês com a venda dos materiais que recolho”, pondera o catador que garante: “não quero trabalhar com isso por muito tempo. Apenas enquanto não consigo um trabalho melhor, não me viínculo com associações de recicladores.” “A educação ambiental começa na escola e em casa, não na reciclagem. Existe preconceito. As pessoas vêem um catador e acham que é ladrão. É um trabalho digno. São 55 famílias que tiram o sustento daqui. São mais de 300. Do material, 98% é reciclável, mas infelizmente hoje a gente aproveita mais ou menos 30%, porque vem muito rejeitado, e isso só acontece por causa da falta de conscientização das pessoas. Aqui chega de tudo, cachorro, gato morto, coisas que não dá nem pra imaginar.” Daniel, presidente da associação de recicladores de Caxias do Sul, Muita gente Clean, relata sobre o associa os preconceito e sobre a associação. France catadores a sujeira, associou-se na Clean desordem, mau faz um ano e três mecheiro e pobre za ses. “Para a cidade é muito bom porque pegamos esse material e reciclamos, sem contar que dá emprego para as pessoas”, destaca. O preconceito também está presente, “mas as pessoas olham de cara feia, mas não dá pra dar bola, porque isso aqui é uma coisa pra nós”. Muita gente associa os catadores à sujeira, desordem, mau cheiro e pobreza. Na rua Cristóforo Randon, onde os catadores informalmente, separam e organizam uma parte da rua e da calçada, o material que recolhem, foram mal-interpretados e hostilizados por muitas pessoas. A rua foi revitalizada há pouco tem-
Parte da reciclagem da associação Clean
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Jogos digitais já viraram profissão
Indiscutível avanço tecnológico modifica o perfil dos esportes, que ganham cada vez mais adeptos e faturam cada vez mais Reprodução Youtube
Augusto, o BitGamer, em um dos seus vídeos para o Youtube
Maurício Carvalho Natália Zucchi Pedro Rosano
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s jogos digitais há tempos deixaram de ser um passatempo para se tornarem um mercado que emprega e produz renda. No mundo, a indústria movimentou cerca de US$ 65 bilhões em 2015, e o Brasil desponta nessa área, movimentando cerca de 900 milhões de reais por ano e empregando 4 mil pessoas. O País é o 11º no ranking de
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maior mercado de games, “culpa” dos 61 milhões de brasileiros que usufruem dos jogos eletrônicos. Segundo a Associação Brasileira de Desenvolvedores de Games, umas das explicações para esses dados é a popularização de tablets e smartphones e o mais fácil acesso à internet. O reconhecimento e ascensão dos games abriram muitas oportunidades aos brasileiros, que tinham o objetivo de investir na área, sejam trabalhadores de indústria, desenvolvedores ou profissionais que disputam campeonatos. São exemplos os jogos League of Legends (LoL) e Fifa, que movimentam o mercado e o
universo dos games todos os anos, confirmando que a tendência de unir jogos digitais com profissão dá certo e veio para ficar.
EMPRESA CONTRATA ATLETAS DIGITAIS EM CAXIAS DO SUL Jogos online são uma nova tendência de esporte. Reúnem milhares de pessoas em campeonatos pelo mundo, muitas vezes realizados em ginásios e transmitidos online com uma audiência gigantesca. Times organizados, empresas sérias e
jogadores profissionais, com salários muito altos, fazem esse esporte ser muito disputado e adorado. Entrevistamos uma dessas empresas pioneiras, localizada na Serra gaúcha, a JFA Gaming, associada ao Esporte Clube Juventude e ao Juventude Futebol Americano. Recentemente criada, a JFA está realizando seletivas para escolher seus atletas nos seguintes jogos: FIFA 17, Counter- Strike: Global Offensive e League of Legends, os três jogos que têm maior número de compras no mercado entre os jovens. Em entrevista com o nosso repórter, a equipe observa a ascensão desse esporte no mundo, querendo que a JFA se torne, em Caxias do Sul e região um polo de e-sports. A empresa também considera e cita as dificuldades que enfrentará por ser pioneira nessa movimento na Serra, mas quer abrir o mercado para outros times se qualifica rem e impulsionar essa modalidade. Em um futuro muito próximo, a equipe gaúcha acredita, e afirma com convicção, que o e-sport será um esporte olímpico, como já vai acontecer na olimpíada de inverno em Tóquio. Mesmo pouco noticiados na grande mídia, os e-sports rendem
muito dinheiro e têm grande audiência no mundo todo. O avanço tecnológico é iminente e com isso os esportes também mudam, projeta o cofundador da JFA Gaming, Matheus Antunes.
YOUTUBER DE CARLOS BARBOSA APOSTA NOS VÍDEOS Augusto Pedruzzi Ferranti, 22 anos, é natural de Carlos Barbosa e estudante no curso de Design da Universidade de Caxias do Sul (UCS). Ele já participou de campeonatos regionais e estaduais de jogos digitais, mas investiu em outro segmento de games como profissão. Há três anos, trabalha com a produção e edição de vídeos sobre jogos digitais no Youtube. Entusiasta de games desde a infância, Ferranti encontrou na plataforma sua primeira profissão, como Youtuber e jogador de games. Dono do canal BitGamer desde 2014, Ferranti tem cerca de 145 mil inscritos, 500 vídeos publicados e mais de 21 milhões de visualizações. O canal é alimentado semanalmente pelo estudante, buscando jogos divertidos e
Foto: Camila Cunha/indicefoto
Equipe coreana lg Incredible Miracle na final do Inter Extreme Masters World Best Gamers League Of Legends - Campus Party - 02/02/2013
lançamentos para mesclar humor e entretenimento nas suas produções. Ele já publicou vídeos sobre o GTA 5 e explica que em 2017, o conteúdo do canal tem se voltado aos jogos Indies, produzidos de forma independente por pequenas empresas. As visualizações garantem ao Youtuber uma renda mensal. A plataforma identificou a popularidade do canal e passou a inserir anúncios na página BitGamer e na abertura e interior dos seus vídeos, gerando valores pagos por Networks, empresas que fazem a intermediação financeira e organizacional entre o Youtube e o proprietário do canal. As Networks cobram do Youtuber uma pequena
“No Youtube, o conteúdo de games é saturado, por isso, inovar e reinventar a maneira de gravar, editar, se comportar em vídeo, é essencial” taxa pela prestação de serviço, que pode variar de um canal para outro. Mas para o BitGamer, a parceria é vantajosa: “Essas empresas oferecem muitos recursos, como músicas sem direitos autorais, suporte, divulgações e consultoria”, afirma Ferranti. O canal também já teve patrocinadores. O BitGamer divulgou alguns jogos em troca de comissão. “No Youtube, o conteúdo de games é saturado, por isso, inovar e reinventar a maneira de gravar, editar, se comportar em vídeo, é essencial.” Sobre o futuro da profissão, Ferranti acrescenta: “Pessoas procuram entretenimento a toda hora e o Youtube é o maior site de entretenimento. Enquanto existirem pessoas assistindo, haverá vídeos.” revela.
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Há 50 anos, o conhecimento ilumina o
A história diz quem somos. O presente, quem queremos ser. Há 50 anos a excelência em ensino, pesquisa e extensão impulsiona o crescimento das pessoas e o desenvolvimento da região. E, tão importante quanto valorizar o passado, é saber que essa força transformadora vai iluminar ainda mais o futuro.
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