Revista Expressão

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eneralizações. Desde que o mundo é mundo as pessoas fazem generalizações sobre comportamentos ou características de outros. Elas deixam que uma impressão se solidifique. Essa “rotulagem” que acontece de forma tão corriqueira se define como estereótipo e essa é a abordagem da Revista Expressão. Estereótipos são pressupostos sobre determinadas pessoas, baseados de forma infundada em situações que aconteceram, mas sem ligação com a atual. Somos rotulados por causa da aparência, de condições financeiras, de comportamentos, da sexualidade, da cultura e de mais uma gama de “eteceteras”. Esse julgamento inicial pode ser considerado uma forma de preconceito. É uma noção preconcebida e, muitas vezes, automática que fica no subconsciente e é reproduzida. Assim, como futuros jornalistas, conscientes da nossa responsabilidade social de formadores de opinião, deci-

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dimos intervir nessa situação. Pesquisamos alguns estereótipos que estão à nossa volta e procuramos formas de desmitificá-los a partir da informação. Na edição 2015/4 da Expressão, serão abordadas questões que vão desde a criação de personagens para redes sociais até a influência da sociedade de consumo na formação das crianças. Pretendemos quebrar estereótipos formados com o padrão de moda e com a história de deficientes físicos que encontraram no esporte uma forma de reconstruir a vida. O perfil preconcebido de aventureiros e turistas, do empreendedor de startups e de dançarinos de diversos estilos também está na pauta dessa edição. Além disso, a revista faz uma reflexão sobre o preconceito em suas diversas formas, desde o sofrido pelos moradores de rua até o que imigrantes haitianos e senegaleses vivem em Caxias do Sul. Desse modo, nosso objetivo é esclarecer algumas ideias da sociedade que acabam estereotipadas. Afinal, ninguém é um refrigerante rotulado.

Reitor: Dr. Evaldo Kuiava Diretora do Centro de Ciências Sociais: Dra. Maria Carolina Gullo Coordenador do Curso de Jornalismo: Dr. Álvaro Benevenuto Júnior Disciplina: Projeto Experimental II – Revista Docente: Dra. Marlene Branca Sólio Segundo semestre de 2015 Universidade de Caxias do Sul – UCS Rua Francisco Getúlio Vargas, 1130 Bairro Petrópolis – CEP 95070-560 Caxias do Sul – RS Telefone: (54) 3218-2100 www.ucs.br

Acadêmicos:

Alana Vencato Camila Valentini Cássia Aline Gebert Daniele Sfair Chiamenti Gisele de Oliveira Nozari Juliana Girelli Laís Alende Prates Laura Silveira de Souza Lucas Borba Maiara Calgaro Maria Luiza Grazziotin Brites Michele dos Santos Roberto Nichetti Ronaldo Daros Samantha Cecília Hunoff


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Geração Z

Mundo da moda

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Bastidores do teatro

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Basquete sobre rodas

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Mundo da dança

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Siamo partiti

Fuja para o mato

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omportamento

Como criar um estereótipo Por Michele dos Santos

Através do olhar, podemos traçar o “perfil” de alguém. Esse processo se dá por meios cognitivos que nem sempre podem ser considerados algo ruim.

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nquanto você aguarda ser chamado para uma consulta médica, eis que entra um jovem usando roupas pretas e com seus coturnos desamarrados. A observação se amplia. Os julgamentos começam. Você não se dá conta, mas está julgando a pessoa ao seu lado. Quando o jovem começa a conversar, ele fala sobre política - não como um leigo, mas, sim, como um pesquisador do assunto. Ao olhar para alguém, o ser humano é capaz de traçar um perfil, com base em seu comportamento, suas roupas ou até mesmo as características culturais que mostra. Segundo o Dicionário Aurélio, o estereótipo é algo que não varia: fixo e inalterável. Para a professora de Psicologia da Universidade de Caxias do Sul Cristina Lhullier, os estereótipos não são generali-

zações, mas algo que as pessoas constroem. “São modos de perceber e classificar os indivíduos que compõem o ambiente social. Esse tipo de classificação, que ocorre a partir de esquemas sociais, é algo inerente à cognição humana, acontecendo com todas as pessoas,”­ ressalta a professora. Segundo Cristina, as pessoas avaliam umas às outras, com base em esquemas sociais estereotipados. O ato de estereotipar ocorre por meios cognitivos e para “poupar tempo” no processamento cognitivo. Ela explica que os estereótipos não têm, necessariamente, carga negativa: são automáticos. Eles são uma característica do processamento de informação. De acordo com a professora, os estereótipos fazem parte de nossa realidade e são formados a partir de fragmentos de informações.


Foto: Dan Cronin

Ao olhar para o diferente, muitas vezes o julgamos e o tachamos com alguns “padrões” preestabelecidos Para Cristina, eles não distorcem a realidade, mas a integram. Ela explica que algumas características se sobressaem às outras. De acordo com o professor e antropólogo Rafael José dos Santos, os estereótipos passam por dois processos. “Primeiro quem cria os estereótipos o faz a partir de seus próprios valores e crenças, desconhecendo valores e crenças do outro. Segundo, alguns traços do outro são ressinificados e passam a transitar no imaginário como sendo verdades sobre o outro”, ressalta o professor. Santos define os estereótipos como uma falsa imagem, que se apropria da realidade e que por vezes é mal-interpretada. Segundo o professor, os estereótipos podem gerar discriminação e ódio nas pessoas. Para Santos, existe uma for-

te relação entre antropologia e estereótipo, pois, segundo o pesquisador, esses “padrões” nascem no século XX, sob a influência do evolucionismo social e das teorias ligadas à Antropologia. Com isso, aconteceram algumas mudanças capazes de transformar o progresso da Antropologia, influenciando o conhecimento de novas culturas e até mesmo o conhecimento de novos povos. Em nossa região, o estereótipo comum é o do italiano. A colonização italiana deixou costumes e parte de sua cultura em Caxias do Sul. Um exemplo é a celebração da Festa da Uva, recheada de hábitos dos italianos da época. O ato de amassar as uvas, ou, então, as vestimentas que remetem às roupas de quem trabalha nas lavouras: o colono. O que se pode dizer do estere-

ótipo criado para os senegaleses, que, ao chegarem ao Brasil, foram tachados por sua cor e perseguidos pelo estereótipo de preguiçosos. Mas, muito pelo contrário, eles conseguiram se sobressair, e hoje se escuta de empresários o quão trabalhadores eles são. Algumas vezes, os estereótipos dizem respeito a grupos étnicos. Quando se classifica alguém por ser de determinado grupo, se o está estereotipando. Não existe apenas um “padrão”, mas, sim, vários. Alguns estereótipos beiram o preconceito e generalizam um determinado grupo. Quando se olha para alguém, logo se traça um breve perfil, mesmo que superficialmente, e o colocamos em determinados grupos. Algumas vezes, esses “padrões” nos impedem de enxergar além do que se pode imaginar. 5


Fotos: Lucas Borba

O limite do real Estagiário da Agência Experimental da UCS relacionando-se virtualmente

Vivemos o eterno conflito alimentado pela tríplice equação de quem somos, de como queremos que os outros nos vejam e de como os outros, de fato, nos veem. Com o constante aumento do acesso à internet e às redes virtuais, cabe a cada indivíduo definir seu relacionamento com o mundo Por Lucas Borba

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[...] o que mais diferencia dependentes e não dependentes de internet é o autocontrole diante do mundo digital e a solidez das conexões reais e virtuais.” A conclusão a que chega o artigo “Dependência de Internet: Um Estudo com Profissionais e Estudantes da Área de TI em Belo Horizonte”, de 2012 e de autoria de Isabel Pedrosa, com sua orientadora, Marlene Melo, para o mestrado em Administração da Faculdade Novos Horizontes, levanta questões inquietantes para uma “realidade” que apenas começa a ser estudada: Como e até que ponto o digital interfere em nossa vida? Quão sólidas e reais são nossas relações? Apesar de haver quem se julgue só em meio à multidão, segundo pesquisa divulgada pelo IBGE, em abril (2015), o acesso à internet em domicílios chegou a 85,6 milhões de brasileiros (49,4% da população). Pela primeira vez, a pesquisa incluiu o acesso por outros aparelhos além de computadores e notebooks (como o celular, tablet ou mesmo a televisão). Um levantamento do instituto americano Pew Research Center, que reúne dados de 32 países emergentes ou em desenvolvimento, aponta que o Brasil fica em sétimo no ranking global de uso da internet, com a socialização como o principal interesse dos usuários. Notícias, informações de saúde, serviços públicos e empregos aparecem em seguida.

Também a Dell, em parceria com o Ibope Conecta, realizou uma pesquisa em junho com mil internautas maiores de 18 anos de todas as regiões do país e chegou a uma média de 5,3horas por dia passadas no computador pessoal.­ A ONU estimava que a internet chegaria a 3,2 bilhões de usuários até o fim do ano. Esses números justificam pesquisas acadêmicas como a de Isabel, que teve como objetivo identificar e descrever diferenças e semelhanças entre o dependente e o não dependente da internet. Isabel analisou profissionais da área de Tecnologia da Informação (TI) em quatro empresas que trabalham com prestação de serviços na área de informática e estudantes de três IES (Instituto de Ensino Superior), com maior concentração entre jovens de 18 até 30 anos. No total, foram 230 respondentes do questionário e 10 entrevistados (cinco profissionais e 5 estudantes). Tomando por base a obra “Dependência de Internet: Manual e Guia de Avaliação e Tratamento”, de 2001, que reúne grandes nomes, a administradora classificou a maioria dos estudantes como dependentes, entre os níveis leve (40%), moderado (16%) e grave (7%). Já o grupo dos profissionais foi classificado em sua maioria como usuário comum (51%). Isabel conta que a ideia da pesquisa surgiu do seu cotidiano profissional. “Apesar da formação acadêmica em administração,


Conexões Como e o quanto estamos conectados com o outro, com a vida, conosco mesmos? Para a secretária Daiane Pilonetto Dariva, 27, usuária do Facebook quase todos os dias, as redes sociais podem aproximar ou distanciar as pessoas.­ “Encontrei familiares de longe. Antes, a gente não se comunicava tanto, e agora se consegue por essa ferramenta. Mas muita gente usa o Face pra dar indireta, pra magoar, pra ofender. Quando algo me aborrece, fico meio afastada por um tempo, excluo quem eu não gosto.” A secretária afirma que trazer pessoas do virtual para um encontro cara a cara é difícil, mas observa que a internet ao menos possibilita manter um contato. “Em agosto, com muito sacrifício, consegui me encontrar com colegas de formatura de dois anos atrás, e nos formamos em mais de noventa”, compara Daiane. Já, no caso da atendente Ma-

sempre trabalhei na área de Tecnologia da Informação. Apesar de identificar algum tipo de dependência em pessoas de convivência fora da área de TI, os profissionais ou alunos ligados a essa área pareciam ter mais tendência a ficarem conectados praticamente durante todo o dia, podendo ser confundido com trabalho ou estudo”.

Quando acordo, a primeira coisa que faço é dar uma olhadinha no Face, pelo celular

riangela Tomas, 43, o acesso às redes veio de outra necessidade. Ela conta que começou a usar o computador para pesquisar sobre a cegueira do filho, primeiro com a ajuda do esposo e do outro filho adolescente, até que fez um curso básico de informática. Acabou descobrindo o Orkut em meados de 2005 e, como veio da fronteira com a família, resolveu criar um perfil para se comunicar com os parentes distantes. Em 2013, migrou para o Facebook, que acessa todos os dias, e também criou uma conta no Instagram. “Gosto de postagens de receita e de mensagens de otimismo. Também adoro fotos. Em cada evento de família, gosto de postar pra integrar quem está longe”, explica a atendente. Mariangela passa as manhãs em casa e diz, sorrindo, que se alterna entre as atividades do lar e uma espiadela no Face. “Quando acordo, a primeira coisa que faço é dar uma olhadinha no Face, pelo celular”, conta. O ilustrador Thiago Danieli,

31, por outro lado, foge completamente ao estereótipo do adepto da cultura pop no quesito redes sociais. Apesar do portfolio, que inclui a arte de uma história em quadrinhos, é totalmente desprendido do Facebook, Twitter e companhia. Danieli relata que chegou a usar o Orkut, mas principalmente para conversar com a namorada e com pouca frequência. Até criou uma conta no Facebook, mas nunca a acessa. “Até hoje, não tive essa necessidade extrema de conversar com algum parente distante ou mesmo para fins profissionais. Se alguém quer falar comigo, tenho e-mail e WhatsApp. Posso estar falando bobagem, mas com essas redes parece que as pessoas sentem necessidade de mostrar às outras o que estão fazendo”, acusa o ilustrador. Quanto ao lado profissional, Danieli acredita que outros canais valorizem mais seu trabalho, como o Pinterest. “No Face, parece menos profissional”, argumenta.

Integração sem telas de estagiários da Agência Experimental de Comunicação

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Uma geração em frente às telas Com idades diferentes, Kimberlly e Kamilly possuem a mesma facilidade para acessar a internet

São ágeis, curiosos e estão sempre dispostos a aprender. Essas são algumas das características de uma geração que registra e compartilha com o mundo cada momento de sua vida Por Laura Silveira

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ssistir à televisão enquanto se pesquisa assuntos na internet, estudar com os fones no ouvido, falar no celular e ao mesmo tempo estar conectado são cenas cada vez mais presentes na atualidade. De acordo com estudiosos, pessoas nascidas entre a década de 90 até o ano de 2010, ou seja, fase onde houve uma acelerada criação de aparelhos tecnológicos, integram a chamada Geração Z. Essa geração é também chamada de nativo digital ou net. Net devido à sua grande familiaridade com computadores, programações, telefones móveis, canais de TV, videogames e a internet. Também possuem várias opções entre canais de televisão, videogames­ e internet. “Surfar” pelo mundo digital é uma das atividades que absorvem grande parte de seu tempo. A psicóloga e mestre em Educação, Cristina Maria Pescador, desenvolveu

sua dissertação sobre a aprendizagem dos nativos digitais e sua interação com recursos hipermidiáticos. A psicóloga conta que estudos que traçam um perfil comparativo entre a Geração Z e a anterior apontam os nativos digitais como mais intuitivos e exploratórios. “Eles preferem experimentar e testar como algo funciona em vez de ler o manual. Por isso, muitas vezes observamos os mais velhos entregando seus equipamentos novos para um filho, neto ou sobrinho e pedindo a eles ajuda para aprender a usá-lo”, relata Cristina. De acordo com a pesquisadora, a principal diferença entre as pessoas que nasceram entre 1990 e 2010 e a geração anterior está no modo de aprendizado. Enquanto esses jovens aprendem fazendo, a geração dos seus pais (migrantes digitais) aprendia lendo, ouvindo ou escrevendo e precisa imprimir tudo para ler. Já os nativos digitais preferem ler na tela do smar-


Foto: Laura Silveira

Multi-informados

tphone, tablet ou computador. Sua primeira fonte de consulta é online. Contudo, também se caracterizam por estar constantemente conectados à internet. A mestre em Educação menciona que o perfil dessa geração não está ligado a uma classe social específica. “Isso não se aplica apenas às classes com poder econômico maior. Atualmente, é muito comum ver alunos de escolas públicas com smartphones de boa qualidade e providos de planos de dados a preços acessíveis”, explica Cristina. Outra característica marcante é a utilização de recursos visuais para se comunicar. A estudiosa descreve que essa é a primeira geração que tem a possibilidade de registrar quase tudo em fotos e vídeos. “Eles fotografam e filmam muito! Muitos deles inclusive têm seus próprios canais no YouTube, onde publicam vídeos de sua produção sobre os mais diversos assuntos e temáticas”, expõe a psicóloga.

A também pesquisadora do Observatório em Docência, Inclusão e Cultura Digital da UCS, Cristina Pescador, explica que vários estudos apontam diferenças significativas na estrutura do cérebro destes jovens, como também comportamentos específicos dessa geração. Algumas dessas pesquisas apontam que os nativos digitais estão permanentemente conectados e participam ativamente de múltiplos contextos simultâneos de interação, e suas ações e relações se caracterizam basicamente pelo imediatismo, o que dificulta sua concentração e foco. Estudos também afirmam que essa geração pensa de forma diferente. Eles possuem um pensamento e organização de ideias não linear, o que facilita sua capacidade de fazer associações entre os mais variados assuntos. Na opinião da mestre em Educação, “isso também parece ajudá-los a construir estratégias de leitura e concentração diferenciadas – hiperlinkadas – muitas vezes baseadas em informações multiculturais, as quais têm acesso por meio de seus contatos nas redes sociais”, menciona Cristina. Com base nisso tudo, a psicóloga acredita que uma das mudanças observáveis nessa geração é a sua conexão e a vida que os jovens levam constantemente ligados às telas de aparelhos. Nesse sentido, a psicóloga e pesquisadora do Instituto de Tecnologia de Massachussets, Sherry Turkle, alerta que pais e educadores devem prestar atenção ao modo de vida desses jovens. A autora descreve a conexão com a internet como um “espaço de crescimento e de aprendizagem, que permite a essa geração exercer alternância de papéis, sendo ora autores, ora consumidores, construindo com isso novos “eus””, explica Turkle.

O lado bom de ser Z Diferentemente do que muitos pensam, os jovens dessa geração, mesmo permanecendo muitas horas em frente a aparelhos eletrônicos, o que faz com que pareçam inertes e antissocias, são criativos e ligados em tudo o que acontece ao seu redor. A pesquisadora, Cristina Pescador conta que essa gera-

ção além de ter a capacidade de fazer muitas tarefas ao mesmo tempo, se interessa por causas sociais de forma engajada e participativa. “Encontrei vários autores destacando a pró-atividade como uma característica dessa geração, como uma manifestação de um interesse genuíno­ em contribuir para “fazer a diferença”. Parece-me que essa geração se destaca pela emergência de uma aprendizagem mais autônoma: eles não querem ficar horas ouvindo o que alguém tem a dizer sobre um assunto. Eles querem é “colocar a mão na massa”, ou seja, tentar entender e aprender fazendo e não ouvindo”, relata a psicóloga. A psicóloga explica que essa geração não percebe a tecnologia como tal. Fala-se em inserir a tecnologia no cotidiano deles, mas, na verdade, esses jovens já nasceram e cresceram em uma sociedade permeada por tecnologia. “Ela está tão presente no nosso cotidiano que, muitas vezes, nós nem a percebemos, dentro ou fora de nossas residências: por assinatura, no caixa do supermercado, na tela tipo touchscreen, na previsão do tempo na TV”, cita a educadora.

Geração Net As diferenças nos processos de aprendizado e percepção podem acontecer em uma mesma geração e não somente com pessoas de gerações diferentes, como conta a atendente de farmácia Vanessa Erdmann, mãe de Kimberlly, 13 anos e Kamilly, 6 anos. As irmãs pertencem à geração Z, porém Vanessa vê algumas diferenças entre elas. “A mais nova teve acesso à tecnologia desde cedo. Sempre teve muita facilidade. Mas, Kim, a mais velha, cresceu em um ambiente muito mais fechado”. Vanessa afirma que a filha mais velha cresceu em uma cidade menor e a tecnologia chegou pouco mais tarde, assim, é mais “ativa” em outras áreas, afirma. “Acho que a tecnologia pode ser muito boa para o aprendizado. Hoje, temos mais facilidade para buscar informação. Tudo depende, também, de como a gente utiliza essa tecnologia. Eu sempre tento orientar as gurias, porque acho que essa é uma boa ferramenta”, expõe Vanessa. 9


A geração do consumo No Brasil, o poder de compra da sociedade aumentou nos últimos anos. Até que ponto isso modifica a forma como os pais criam os filhos atualmente? Por Cássia Gebert

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geração Z, formada por crianças e adolescentes nascidos a partir do ano 2000, é conhecida por sua notória habilidade em lidar com as tecnologias. Tanta conectividade leva a uma avalanche de informações e, apesar de ainda não possuírem grande poder de compra, esses consumidores acabam intervindo na aquisição de bens e serviços, e influenciando no orçamento familiar. Essa parcela da população costuma procurar as marcas consideradas mais divertidas e inovadoras. Aqui nos deparamos com uma questão: Com o aumento do poder aquisitivo e o acesso a facilidades, como cartões de crédito, crediário, parcelamento, como os pais lidam com os filhos que desejam tudo? O tênis da moda, o celular de última geração, a viagem com os colegas. É muito difícil para alguns pais dizer “não” a seus filhos: hoje as crianças são bombardeadas por tantas op-

ções, querendo tudo de forma ágil e se cansam de maneira muito rápida de tudo o que têm. Para a psicóloga Tatiana Rocha Netto: “Toda criança desenvolve-se observando o modelo do adulto, absorvendo suas falas, ensinamentos, brincadeiras, repreensões, ações. Somos responsáveis por elas e devemos reconhecer que o universo no qual estamos inseridos também as impacta. Tatiana ainda alerta “neste sentido, a crescente velocidade com que consumimos e descartamos produtos faz-se presente no desenvolvimento das crianças, que alteram sua relação com o lúdico, com seus brinquedos e com objetos.” Ela entende que os pais são o espelho dos filhos e que sua forma de consumir influenciará a geração seguinte, mesmo que de forma inconsciente. Ela acredita que os pais incitam os filhos à busca por novos produtos, e isso pode trazer consequências para a personalidade que está se


Foto: Daniel Lobo / Creative Commons

moldando. “A criança está tão inserida quanto seus pais no mundo do consumo e do constante desejo pela novidade material. Então, como será possível transmitir uma mensagem ou modelo diferente para ela, se este é o nosso próprio modelo? A resposta não é simples, pois envolve uma transformação geral do tipo de sociedade em que vivemos”, frisa. É importante que os pais deixem seus filhos desenvolverem habilidades referentes à tecnologia, explorando o potencial da criança, instigando a descoberta e a criatividade. Isso os ajuda a moldar uma visão crítica avaliando se tudo o que eles desejam é realmente necessário. Tornar a vida dos filhos mais fácil, oferecendo tudo o que pedem, acaba criando jovens que não toleram frustrações e que tendem a ter problemas na vida adulta. É preciso que eles sofram as consequências de seus erros, para que haja o amadurecimento, que resultará em aprendizado.

Foto: Ricardo Villar / Creative Commons

A compreensão do consumismo Para retratar o assunto e buscar entender melhor como se desenvolve o consumo, conversamos com a Doutora em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pesquisadora no Observatório do Trabalho da Universidade de Caxias do Sul, Ramone Mincato, que garante: “A compreensão das causas objetivas e das razões subjetivas, que levam os indivíduos a serem da forma como são, é o primeiro movimento (necessário, porém ainda insuficiente) que todos nós devemos fazer para a construção de um novo projeto político de sociedade.” Para a entrevistada “não basta o sentimento de frustração pós-consumo. É necessário ir além da compreensão da dialética do desejo e da frustração, para produzir mudanças efetivas”. A socióloga analisa, ainda, que “a relação entre consumo e as futuras gerações é determinada culturalmente pela técnica que domina a economia. A morte da política, sua crise sem precedentes, e do Estado, gera o mundo em que vive a geração Z”, afirma Ramone.

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Vista aérea de Caxias do Sul

A formação da cidade de Caxias do Sul, conhecida pela colonização italiana, recebeu povos de diferentes lugares. Carrega um esteriótipo de cidade próspera de empregos e favorável ao enriquecimento, mas o consumo e a violência são fatores em evidência na sociedade caxiense.

Por Ronaldo Daros

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s primeiros registros sobre a população de Caxias do Sul, indicam que era habitada por índios da Região Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul, predominantemente da tribo Caingangue. Os tropeiros, que subiam em direção ao norte do País, para levar mercadorias, perceberam o grande número de viajantes que passavam pela região, ali viram a possibilidade de abrir um comércio local. Então expulsaram os índios e começaram a se instalar e formaram povoados. No Brasil, em 1870, iniciava-se a tentativa de povoar locais pouco habitados e improdutivos para a economia. Nesta época, a Itália sofria com o pós-guerra. Os italianos não tinham muitas alternativas para solucionar seus problemas. A economia ainda era dependente de poucas indústrias e muitos latifundiários. A base de sua produção envolvia esquemas econômicos medievais. Isto fez com que vênetos, lombardos e trentinos, saíssem de sua pátria para procurar novos territórios em busca de sua sobrevivência. O Brasil que tentava expandir sua economia em terras impro-

dutivas, foi uma alternativa para este povo. A Serra gaúcha, como é hoje conhecida, foi uma dessas escolhas. As correntes migratórias da Itália vieram para a região em 1875, e criaram as primeiras colônias: Caxias, Dona Isabel e Conde D’Eu. As regiões foram divididas na sua maioria por mapas; analisando os acidentes geográficos, essas divisões eram feitas por Travessões e Linhas. Os colonos recebiam lotes dentro dessas divisões que eram numerados pelo governo. Desse período até 1950, as correntes migratórias da Itália não pararam, o que ocorreria somente nos anos 60 do século XX. O filósofo e padre Roque Grazziotin conta que Caxias do Sul atraía muitas pessoas nos anos 70, pois o desenvolvimento da indústria metalomecânica era muito forte, figurando o setor que comandava a economia do País. As pessoas pensavam que ficariam ricas na cidade, mas o que acontecia não era o esperado. Muitos não tinham conhecimento na área e, por isso, havia poucas oportunidades de emprego. A violência aumentou consideravelmente naquela época. Grazziotin lembra que, então, surgiram novos bairros, principal-

Foto: Andréia Copini

Consumo e Violência


mente na periferia. A primeira periferia a ser organizada por bairros foi o setor sul da cidade, nos atuais bairros Planalto, Bela Vista, Vila Leon, Cristo Redentor, Panazzolo, Salgado Filho. “No bairro Planalto foi feito, na época, um levantamento sobre o número de filhos que cada família tinha para, posteriormente, saber se eles sobreviveriam até a idade escolar. Justina Onzi foi a coordenadora deste trabalho,” lembra Grazziotin.

A falta de segurança é um dos problemas enfrentandos pela população da cidade de Caxias do Sul. Alguns proprietários de residências e estabelecimentos, além de contar com a segurança pública, recorrem à contratação de segurança privada. Principalmente no comércio caxiense. É o caso do dono da Joalheria Bonato. Jattir Bonato de 49 anos, há 30 trabalhando no ramo de ótica e joalheira, conta que já pensou em desistir várias vezes e fechar a loja, devido ao número elevado de assaltos. Ele perdeu a conta de quantas vezes foi assaltado; teme pela segurança de sua família e de seu patrimônio. Para ele, Caxias do Sul não é uma cidade segura. Nos últimos anos, optou trabalhar de portas fechadas, segundo ele para sua segurança e segurança de seus clientes. “Caxias do Sul é uma cidade á qual vem bastante gente de fora, e por isso está em risco de assalto constantemente. As pessoas vêm aqui e acham que, por ser uma cidade rica, todo mundo é rico”, entende Bonato.

Comércio de portas fechadas

Caxias do Sul é considerada rica por seu PIB e não pelas pessoas.

Para o antropólogo Rafael do Santos, o que faz as pessoas pensarem que uma cidade é rica, é o seu produto interno bruto e Caxias do Sul por muitos anos foi referência em seu PIB. Para ele, isso faz com que uma parcela da população tenha grande poder aquisitivo, mas não toda a população. Santos entende que num primeiro momento as imigrações acabam contribuindo para o crescimento da cidade. Ocorre que, ao passar do tempo, quanto maior é a quantidade de mão de obra disponível, menor é o valor pago pelo serviço. Para o antropólogo, o reflexo disso é uma adesão muito grande ao mercado informal. As pessoas deixam de trabalhar nas grandes indústrias e montam seus próprios negócios. Quanto maior a população tanto maior o consumo.

Consumo

O poder de aquisição é um fator importante para a consolidação do capitalismo. A socióloga Vania Herédia entende que nesse sistema, para as pessoas mostrarem poder, precisam ter consumo. Existe uma relação entre consumo e violência, pois ele expõe aqueles que podem ou não podem consumir. Para ela, as pessoas se sentem superiores por aquilo que elas possuem, adquirem, vestem, e isso cria um impacto na sociedade, em relação ao status social. Num estado de desigualdade social, isso gera violência, porque aqueles que não têm também desejam ter. “Essa relação entre consumo e violência está ligada ao sistema e também como a própria sociedade responde a isso. Se a sociedade não respondesse à demanda consumo consumindo, a violência não seria tanta, mas ela responde com mais consumo”, explica a socióloga. Vania Herédia entende que é muito difícil, no sistema capitalista em que vivemos, explicar para as crianças as diferenças de valores existentes na sociedade, principalmente para aquelas que estão fora dos padrões preestabelecidos pela sociedade.

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Não é uma situação, mas uma condição Por Samantha Hunoff

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iscriminação, violência, privação dos direitos humanos básicos e generalização de conceitos reproduzidos pelo senso comum, sobre a situação de quem vive nas ruas, são o ponto de partida para uma reflexão acerca do complexo dia a dia dos indivíduos em situação de rua. As dificuldades enfrentadas por essa população estão longe de ser resolvidas. Fome, frio, exposição ao calor e à chuva, doenças dependem do capital, um bem que também está fora do alcance dela. No entanto, é preciso que se observe o contexto individual dos sujeitos nessa situação, para compreender que cada um traz uma história diferente. Os motivos são diversos. Desemprego, vícios e outros fatores que desencadeiam rupturas de laços familiares, doenças, e, até mesmo, catástrofes em moradias ou ordem de despejo levam muitas pessoas a viverem nas ruas. Existem, também, casos em que o indivíduo opta, sem imposições externas, por essa forma de viver.

Serviço Social Em todo o Brasil, estão distribuí­ das 219 unidades do Centro de Referência Especializado para Popu14

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Uns querem, outros não. Morar na rua pode ser uma situação passageira ou permanente, mas dolorosa de alguma forma, certamente. lação em Situação de Rua (Centro POP); uma delas em Caxias do Sul. É um espaço de integração e de ações de convívio, com foco no desenvolvimento de relações de solidariedade, afetividade e respeito entre os indivíduos na mesma situação. A ideia é oferecer aos frequentadores experiências que estimulem sua autoestima, organização, mobilização e participação social, além de auxiliar com alimentação, higiene, orientações na emissão de documentos, encaminhamentos para cursos, vagas de emprego, e atendimento psicossocial e de inclusão. De acordo com a Diretora de Proteção Social Especial da Fundação de Assistência Social (FAS), Inez Camargo Soso, o Centro tem como princípio respeitar a escolha individual da pessoa em situação de rua. “Nós oferecemos o auxílio. Mas quando há risco para o indivíduo, quando ele estiver colocando alguém em risco, ou quando há doenças mentais e psiquiátricas,

é necessário fazer uma intervenção mais profunda, mas sempre respeitando a escolha de cada um.”.Quanto aos desafios do processo de ajuda à população em situação de rua, Inez destaca o resgate da autoestima, na resistência em aderir a programas ou tratamentos de saúde e em reconstituir vínculos rompidos. Existe, ainda, por parte do Centro POP, a orientação de que a comunidade em geral não auxilie com dinheiro ou comida, uma vez que isso contribui para a permanência das pessoas nas ruas, reforçando o desinteresse por acolhimentos e tratamentos terapêuticos, no caso de pessoas com doenças mentais. “Se for possível, pedimos que a comunidade tente estabelecer um diálogo, no sentido de orientá-las a procurar os serviços de assistência e de saúde”, explica Inez. Em Caxias do Sul, o Centro Pop Rua funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h às 17h. No local, a população têm diversos atendimentos e pode aces-


Ilustração: Mazé Leite sá-los diariamente de maneira gratuita. Há também as abordagens que ocorrem à noite, em decorrência de solicitações da comunidade em geral, com atuação direta em locais onde se sabe que há pessoas em situação de rua. A Fundação de Assistência Social pode ser contatada por meio do telefone (54) 3220.8700.

O outro lado As ações de recuperação da população de rua, em geral, prezam pelo respeito à individualidade de cada um. No entanto, os processos acabam uniformizando as situações, ao reunir pessoas com diferentes origens e culturas em um único lugar. Assim, são dados rótulos e conceitos ao grupo, condicionando os indivíduos a um mesmo tratamento. Esse fato diverge dos princípios da maioria das instituições assistenciais, que reforçam a premissa do respeito e da individualidade. Chuck, 31 anos, vive nas ruas de Caxias do Sul há 10 anos e prefere dormir na rua do que no albergue. “Com o tempo, tu vai criando teus laços fora de casa, vai criando tua própria família, mesmo que não seja de sangue. Nos albergues, tu é obrigado a conviver com quem tu não conhece, não gosta”, conta o homem que prefere não revelar

seu nome. Chuck, como é conhecido na Zona Leste da cidade, não teve uma vida fácil. Natural de Viamão, RS, e filho de mãe solteira, cresceu em um ambiente hostil. Alcoólatra, a mãe o agredia e Chuck­passou a maior parte da infância na casa de familiares e amigos até conhecer, em Caxias do Sul, Márcia (nome fictício), vendedora ambulante que veio a ser sua companheira. “Ela também não era fácil. Muito ciumenta, pegava muito no meu pé. Eu não podia nem sair com meus amigos”, conta Chuck, que na época tinha 17 anos. Ele se virava como podia. “Fazia meus corres”, limita-se a dizer. Após o rompimento com a companheira, Chuck ficou sem lar, uma vez que morava com Márcia e os irmãos dela. “Tive sorte de não ir pras drogas, mas acabei roubando pra me manter na rua. O bom é que tu vai conhecendo pessoas e elas vão te ajudando. Não é do jeito que o povo acha certo, mas é do jeito que eu preciso. E sempre que eu posso, ajudo um ‘irmão’”, explica. Hoje, Chuck sobrevive com o auxílio de doações, mas sonha em ter uma mecânica. “Se as pessoas vissem que eu também sou gente, acho que eu teria uma chance”, desabafa. Já, Jones, 39 anos, vive nas ruas desde os 16 anos e não se incomoda nem um pouco em dizer que é por vontade própria. “Tenho família, tenho dinheiro, mas moro na rua porque eu gosto. Passo perrengue? Passo. Mas ninguém me diz o que eu tenho que fazer, quando ou como”, explica Jones. “As pessoas costumam achar que a gente é tudo coitado, ladrão, doente,

mas a gente é gente. A gente é muito mais gente do que uns aí.” Natural de Caxias do Sul, Jones vive no centro da cidade e já recebeu ajuda de ONGs e o Centro POP já tentou levá-lo ao abrigo. “Eles vêm, ajudam e vão embora, achando que mudaram muita coisa. Só que eles esquecem que a vida continua e que dali meia hora é capaz da gente ser chutado pelos ‘homi’ (polícia). Daí eu pergunto, de que lado ‘os cara tão’?”, indaga Jones. “Eu moro na rua porque gosto e não adianta querer me tirar daqui. Eu não incomodo ninguém, não roubo, não uso droga. Por que não vão atrás de quem tá matando em vez de expulsar a gente das casas abandonadas que têm ‘aos monte’?”, questiona o homem. Chuck e Jones são pequenos recortes de uma realidade muito mais ampla e complexa. A sociedade continua a olhar para essa população de forma limitada, preconceituosa e, embora se diga o contrário, sem respeitar suas escolhas. Uns querem, outros não. Morar na rua pode ser uma situação passageira ou permanente, mas dolorosa de alguma forma, certamente. Onde está o problema? Qual sua origem? É possível aplicar uma mesma solução a todos os indivíduos em situação de rua? Provavelmente, o primeiro passo é a favor da equidade, tanto entre a população de rua quanto entre a sociedade e essas pessoas. Esse equilíbrio inclui, principalmente, respeito e a consciência social de que cada um tem uma história e a única opção que se tem é a de viver, seja qual for a condição.

Voz pra quem não tem O Projeto Boca de Rua é uma publicação feita e vendida por pessoas em situação de rua, em Porto Alegre, desde 2000. O conteúdo é elaborado e comercializado pelos próprios sem-teto e o valor arrecadado reverte para eles. “Não se trata de uma ação assistencial, com o objetivo de remover os integrantes das ruas. O destino de cada um é uma decisão própria e tentar interferir nessa caminhada é subestimá-los”, explica uma das coordenadoras de Alice, ONG responsável pelo projeto, Margareth Rossal. A proposta, segundo Margareth, é propiciar o conhecimento dos vários ângulos da realidade, e não apenas sob a perspectiva da grande imprensa, promovendo o desenvolvimento de uma visão mais crítica e completa de mundo. 15


Empreendedorismo inovador Para os inovadores de plantão que possuem ou querem ter uma startup, mentorias e especializações fazem parte da rotina.

No universo empresarial, o termo startup ganhou destaque, mesmo que muitos não saibam exatamente do que se trata. Realmente, é complicado rotular o que é uma startup. As definições apontam muitas divergências. O consenso fica por parte da ideia inovadora Por Alana Vencato

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lguns dizem que toda empresa em seu período inicial pode ser considerada uma startup. Outros defendem a ideia de que é uma empresa com custos baixos que consegue arrecadar lucros rapidamente. Muitos acreditam que o termo diz respeito apenas a empresas de tecnologia administradas por jovens empreendedores. Mas afinal, o que é uma startup? No dicionário, startup significa o ato de começar algo novo. Porém, não há um único conceito. Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), startups são, na realidade, companhias iniciantes que trabalham com uma ideia inovadora e em condições de extrema incerteza. Somente no estado gaúcho, há, atualmente, cerca de 199 startups ativas, conforme dados da Associação Brasileira de Startups (ABStartups). Em Caxias do Sul, o assunto atrai cada vez mais o interesse de jovens, conforme o professor

Evandro Schenal, da Faculdade de Tecnologia de Caxias do Sul (Ftec). Além de promover e organizar treinamentos e mentorias para auxiliar os empreendedores, a Ftec sediou a 1ª edição do “Startup Weekend­ na Serra Gaúcha”, em maio de 2015. O evento ocorre nos mesmos moldes em diversos locais do mundo. Os times precisam criar uma startup e a que estiver mais desenvolvida no final de 54 horas, será a vencedora. “Os participantes se unem em torno de ideias que surgem na primeira noite e avançam o máximo que puderem até o final do encontro para a construção do negócio. Rapidez na execução é fundamental”, conclui Schenal.

Perfil criativo Facebook, LinkedIn, Twitter, YouTube e Instagram. Para quem está sempre conectado nas redes sociais, integrar todos os canais em único aplicativo seria perfeito. Pois saiba que isso saiu do papel,


Unifica, vencedora da 1ª edição do “Startup Weekend na Serra Gaúcha”, já deu um grande passo. A empresa foi selecionada recentemente para o programa de aceleração da Startup Farm, localizada em São Paulo, uma das maiores aceleradoras da América Latina. Com uma equipe de cinco integrantes, o grupo criou uma ferramenta virtual de integração direta entre cliente e prestador de serviço, sem passar pelo call center. “Eram três ideias parecidas. Depois de algumas conversas entre nós e os mentores do evento, chegamos à quarta ideia que hoje é a Unifica. O curioso é que todos nós nos conhecemos durante o evento, e desde então vamos seguindo com a startup”, conta o designer da Unifica, Lucas Castro. Ele ressalta que para uma startup dar certo é preciso pessoas

de várias áreas e que pensem diferente. “Para se dedicar ao projeto, cada um do time tem que sonhar e querer o sucesso da startup igualmente. Assim, é possível ter diferentes visões do mesmo assunto e chegar a um resultado mais satisfatório”, destaca. Apesar de ter apenas 24 anos, ele afirma que não se sente diferente por ser um jovem empreendedor. “Não muda nada ao meu redor, tudo normal. O que muda é para onde direciono meus esforços e minhas prioridades”, afirma. Para quem deseja montar uma startup, Castro dá a dica: “Se esse assunto te anima, procure saber mais e participar de eventos que o fomentem. Neles há excelentes mentores que estão lá realmente para ajudar você a tirar sua ideia do papel”, finaliza.

Foto: Startup Unifica

ou melhor, do computador. Esse é o objetivo do Wikipass, aplicativo criado por uma startup caxiense. “A Wikipass nasceu em 2012 para ser um agregador de redes sociais, que permite ao usuário priorizar perfis de interesse, postar e colecionar conteúdos”, explica o fundador Diego Boufer. O aplicativo chegou a ter 25.000 usuários em 34 países e hoje possui uma unidade no Vale do Silicio/ EUA. Porém, há sempre desafios pelo caminho. No momento, o Wikipass passa por uma revolução. Segundo Boufler, para o amadurecimento e transformação de uma startup em empresa é preciso fazer ajustes ou mudar completamente o modelo de negócio original. “É o que acontece com 100% das startups. A maioria nasceu para ser uma coisa e só cresceu ou ‘explodiu’ após ajustar ou mudar o seu negócio”, observa. Para os empreendedores da área, é preciso estar sempre conectado e informado sobre as tendências do mercado. Ainda iniciante no universo dos startups, a

Foto: Startup Unifica

A maioria das startups nasceu para ser uma coisa e só cresceu ou ‘explodiu’ após ajustar ou mudar seu negócio.

A Startup Unifica venceu a 1ª edição do Startup Weekend Caxias do Sul 17


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ultura

Ritmos de expressão Por Laís Alende Prates

A dança é um universo de sentimentos e experiências que ganham vida em passos e coreografias

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rte, movimento, texto, poesia, sentimento, expressão, conexão e interação são alguns dos elementos que definem a dança. Essa forma de expressão, que utiliza o corpo para comunicar, teve sua origem nos primórdios da humanidade, quando os povos antigos dançavam para a chuva, o sol e os deuses, em rituais religiosos e místicos. A professora de dança Carla Barcellos ressalta que “a dança é originária dos gestos e movimentos naturais do corpo humano. Ela é também utilizada para expressar emoções e sentimentos, a partir da necessidade de comunicação entre os indivíduos”. Ao longo do tempo, a dança desenvolveu-se de acordo com as diferentes culturas existentes, caracterizando-se por estilos e formas de cada povo, tor-

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nando-se parte importante da tradição de muitos povos.

Movimentos a dois Um estilo de dança que adquiriu grande popularidade nas escolas de dança e agrega diferentes ritmos é a dança de salão ou, como também é conhecida, dança social. A origem dessa dança está ligada aos bailes das cortes reais na Europa. “O termo dança social é atribuído pela característica desse tipo de dança, em que se necessita de um casal para dar sentido aos movimentos”, afirma Carla. Ainda segundo a professora, antigamente a dança de salão era mais comum em ambientes mais elitizados. Por outro lado, as danças folclóricas estavam ligadas às classes econômicas mais baixas. Com o passar dos anos, a

dança de salão também adquiriu novos ritmos e movimentos, conforme se expandia pelo mundo. “No Brasil, a dança de salão chegou por meio dos colonizadores portugueses e logo se mesclou a diferentes contribuições dos povos indígenas e africanos, ganhando muita popularidade”, afirma Carla. Após esse período de grande notoriedade, a dança de salão foi estereotipada e passou a ser vista como um hábito “fora de moda”. Entre os estereótipos que barram a entrada da dança de salão em muitos ambientes, Carla identifica que ela é muito atribuída a uma prática de pessoas mais velhas, conservadoras ou até mesmo de camadas mais populares da sociedade. “Essa é uma desconstrução que tentamos promover nas escolas de dança e levar pra diferentes lugares. A dança de salão integra diferentes rit


As danças sociais abarcam diversos ritmos musicais e são denominadas dessa forma por serem executadas com casais mos. No Brasil, por exemplo, nós temos: samba de gafieira, pagode, bolero, forró, entre outros”, ensina a professora de dança. As danças gaúchas são consideradas parte das danças populares brasileiras mais antigas. A professora Carla Barcellos afirma que esse estilo de dança é originário da Espanha, entre os séculos XVII e XVIII. Inicialmente, a dança tradicionalista gaúcha era vista apenas em comemorações regionais do Rio Grande do Sul. “Hoje, além dos Centros de Tradições Gaúchas (CTGs), ela é cultivada em competições pelo estado, e até mesmo no Brasil. Existem CTGs não apenas no RS, mas em diferentes estados e também em países como Portugal e Paraguai”, afirma Carla.

a mulher. A vestimenta gaúcha é uma característica importante para a dança, variando de acordo com a região. Entretanto, elementos tais como: vestidos, chapéus, bombachas e lenços são predominantes nas apresentações. A dança tradicionalista gaúcha reúne diversos ritmos, variando coreo-

grafia e partes da indumentária. Dentre outros, encontramos ritmos como: anú, balaio, cana verde, caranguejo, chimarrita alazão, chimarrita balão, chula, maçanico, pezinho, tirana do lenço, xote carreirinha, milonga, vanera, bugio.

Expressões da tradição As danças tradicionalistas são movidas por músicas típicas gaúchas, em que se destaca o som do acordeon, também conhecido como gaita, violão e alguns outros instrumentos de corda e percussão. Pela tradição, essa também é uma dança de pares, em que o homem, denominado “peão” ou cavaleiro, conduz a dama ou “prenda”, como é chamada

O peão veste pilcha (lenço, bota, bombacha) e a prenda vestido com saia de armação 19


Conexões culturais Assim como a dança de salão que contou com a contribuição de elementos da cultura africana, o samba surgiu do encontro de estilos musicais de origem africana e brasileira. O som é caracterizado por instrumentos de percussão, violão e cavaquinho. “Assim como outros estilos, o samba no Brasil é marcado pelo contexto de seu surgimento: a época do Brasil colonial, com a vinda da mão de obra escrava”,

conta Carla. Ainda dentro desse estilo, podemos encontrar várias modificações, que dão origem a subcategorias, tais como: o samba-enredo, samba de partido alto, pagode, samba-canção, samba carnavalesco, samba-exaltação, samba de breque, samba de gafieira e sambalanço. Segundo Carla, parte do estereótipo que rodeia o estilo está ligado ao fato de que, na década de 20, por exemplo, quem fosse pego

Samba de gafieira, uma das categorias do ritmo samba 20

dançando ou cantando samba poderia ser preso. Naquela época, o samba era ligado fortemente à cultura negra e, para resumir de maneira branda, a cultura afro era desprezada pela sociedade. “Dessa forma, o samba ficou atrelado a um sentimento negativo por muito tempo. Ele só foi revisto e amplamente divulgado como símbolo nacional nos anos 40”, afirma.


Foto: Lisiane Sfair

Flamenco, cultura de vida Por Daniele Sfair Chiamenti

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Flamenco é uma manifestação admirável e muito rica, do ponto de vista de um povo que, acima de tudo, ama sua cultura e nunca perdeu a alegria, apesar de problemas e sofrimentos com perseguições e preconceitos. É uma arte popular, aplicada ao modo particular de dançar, cantar e tocar guitarra, proveniente da região da Andaluzia, no Sul da Espanha, que é formada pelas província de: Sevilla, Granada, Málaga, Córdoba, Jerez, Huelva, Cádiz e Almería. Os locais de origem seriam Sevilla, Jerez e Cádiz, as três cidades consideradas a “Santíssima Trindade” do Flamenco. Suas raízes estão calcadas num sedimento, artístico composto por civilizações diferentes e sobrepostas como a árabe, judaica, hindu-paquistã,

bizantina, cigana, entre outras. Em 2010, essa arte foi proclamada patrimônio cultural imaterial da humanidade pela ONU. Hoje em dia, o Flamenco é visto com outros olhos, tanto no cenário nacional quanto no internacional. Como qualquer outra dança, é pouco valorizada culturalmente, mas também a cada ano cresce o número de pessoas que se apaixonam por essa arte e criam festivais. No Brasil, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro, o flamenco tem prestígio diferente. As pessoas leigas o valorizam muito mais do que no restante do Brasil. A bailarina flamenca brasileira, com raízes em Madrid, Lisiane Sfair Denardi, comenta que “o mais incrível é que os melhores artistas de flamenco brasileiros saíram de Porto Alegre e de Caxias do Sul. Outro fato estranho é que

sempre fizeram espetáculos com um nível bastante alto e sempre se levou pessoas importantes do mundo flamenco a Caxias do Sul, mas nunca foi possível “lotar” um teatro”. Em 2013, ocorreu o espetáculo “madera, cuerdas y clavos” em Caxias do Sul, com a participação da bailarina Carmen La Talegona e do cantor David Vasquez, uma produção internacional, da qual participavam artistas como Stefano Domit (coreógrafo), Lisiane Sfair Denardi (diretora), ambos bailarinos caxiense radicados em Madrid há 6 anos; porém mesmo com entradas “free”, o teatro não lotou. Já, em 2015, Carmen apresentou um espetáculo no Rio de Janeiro, com ingressos a R$ 100,00, e lotou o teatro, que tem 600 lugares. Percebe-se que o problema não é o flamenco e sim a cultura de cada região brasileira. 21


Sim, homens dançam ballet à cena. Se o ballet nasceu na Corte, e seus movimentos devem ser refinados para distinguir o plebeu do nobre, faz sentido seus movimentos serem refinados e com grau de dificuldade. Imagine-se sendo observado em um baile real, onde, com a dança, era possível saber se você tem boa educação. Atualmente, essa é uma das modalidades mais conhecidas do mundo, contudo não é difícil ouvir relatos de homens sofrendo preconceitos por serem bailarinos, seja por conhecidos ou pela família. Esse preconceito é infundado, mas mesmo assim os alunos homens são chamados de homossexuais, e chegam a perder oportunidades por causa da descriminação.

Foto: Divulgação

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les dançam muito e devem dançar muito mais. Aliás, foram eles os responsáveis pela criação do ballet. Essa dança nasceu na Corte europeia no ano de 1400 e somente homens podiam dançar, com o objetivo de entreter os nobres. Nesse período, saber dançar era um sinal de status elevado e de boa educação. Houve um tempo em que as mulheres tomaram conta da cena e da dança. Os homens foram deixados de lado por uma questão de estética. Nesse período, estabeleceu-se que os homens deixavam o ballet grotesco por causa do desenvolvimento muscular, e a estética da época exigia alguém etéreo. No século XX o ballet russo trouxe a figura masculina de volta

A arte da dança, inspirada na figura masculina

O ballet, inspirando a paz e a harmonia que a dança representa

Foto: Paul Kolnik / CCommons

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Foto: Divulgação Foto: Divulgação

Funk e racismo

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O funk, enquanto gênero musical, agrada e desagrada multidões. Já, enquanto manifestação social, é taxado como um movimento de grande importância para se entender os processos sociais dentro e fora das favelas. Nos anos 90, passou a ser febre em todo o Brasil; com o passar dos anos, cada vez mais o funk carioca passou a ser malvisto pela sociedade. Atualmente, o funk causa polêmica. É alvo de críticas e preocupam os efeitos das letras, consideradas inapropriadas por falarem de sexo e por supostamente fazerem apologias à promiscuidade, à criminalidade e promoverem o abuso sexual infantil, chamados proibidões. O alto índice de violência e sexo dentro dos bailes funk, assim como a desvalorização feminina nas letras das canções, são outros

agravantes que levam grande parte da sociedade a detestar esse tipo de música. Mas nem todo o funk é uma apologia às coisas ruins. Já na década de 90, as letras das canções falavam de favelas, como parte importante do contexto social das cidades. Os grandes sucessos daquele momento exaltavam as comunidades carentes, principalmente no Rio de Janeiro e levantavam questionamentos admiráveis com o preconceito à periferia. É evidente que há uma série de ações negativas vinculadas ao funk, mas não se pode negar a importância desse tipo de música para o debate social. Atuações positivas, como os próprios bailes funk nas comunidades, que são fruto da falta de acesso aos equipamentos de cultura e lazer, levantam a discussão aspectos interessantes sobre a cultura de massa, ideias, perspectivas, atitudes e

imagens ligadas às periferias, onde as pessoas querem ter o direito de se divertir e se identificarem com o som que escutam. Em meio a todo esse universo de estereótipos, há moralismo em excesso por parte da sociedade e falta dele por parte de quem faz o funk. É fácil notar, também, que existe uma enorme gama de preconceitos embutidos de ambos os lados. Seja na periferia seja nos bairros nobres, esses elementos de moralidade e discriminação estão presentes. É importante que a sociedade reconheça no funk a identidade de um povo. Há quem não se identifique dentro das comunidades com o som e muito menos com as letras dessas músicas, mas há também o inverso disso – quem se identifica e precisa, de alguma maneira mostrar que existe, que também faz parte daquela sociedade.

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Foto: Juliana Girelli

Moda e seus estereótipos Por Juliana Girelli

As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”, tascou Vinicius de Moraes, sem mais questionamentos. Mas que beleza é essa? A publicidade, as novelas e as revistas de moda reforçam esses clichês e fazem com que as mulheres cheinhas, com cabelos curtos ou crespos, com estilo diferenciado, sejam sub-representadas no imaginário nacional. Abençoadas são as que assumem o corpo e o estilo com profundo desdém pelos estereótipos. Hippies, peruas, patricinhas, piriguetis e nerds, cada um possui uma característica diferente, mas nenhum pode sofrer preconceito ou ser alvo de chacotas pelo estilo que escolheu seguir. Para o estilista e professor, Sérgio Lopes, que há 30 anos está Fotos: Douglas Berlato De Freitas

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no mundo da moda, antes de escolher um estilo a seguir, as pessoas devem passar por uma fase de autoconhecimento, pois segundo ele “se eu me conheço melhor, se vou atrás de uma busca interior eu também posso rever o meu estilo. A partir do momento que a pessoa se autoconhece ela vai descobrir com que roupa fica melhor; vai perceber que ela não precisa de tais coisas ou que ela realmente precisa daquilo”. Hoje existem muitos estereótipos dentro e fora do mundo da moda e, para Lopes, tudo o que envolve a questão da vestimentaé para a pessoa se identificar, pertencer a um grupo e ser aceita por aquele grupo; segundo ele, isso é o que mais acontece, pois a pessoa precisa fazer aquilo pra vender seu “peixe”. “Não é o hábito que faz o monge, mas ajuda a identificar” garante.

Os estilos Hippies, peruas, patricinhas, piriguetis e nerds, possuem gostos bem diferentes, seja na música, na forma de se vestir ou nas ideologias e, para desvendar os vários tipos de estilo, Sérgio Lopes deu algumas definições básicas dos mais conhecidos. Os hippies abusavam das cores até metade dos anos 70. “Hoje, quando se diz que determinada pessoa segue o estilo hippie, mesmo ela não sendo e não estando nos anos 70, usa roupa artesanal, enfeitada com crochê, feita à mão, desbotada ou tingida por

ela, pois ainda acredita na ideologia proposta no início dos anos 60”, salienta Lopes. Após o Hippie surgiu o estilo perua, totalmente diferente do paz e amor. Para Lopes, a pessoa que segue o estilo perua é a que usa tudo combinando. “Tudo é exagerado. Se tiver uma tendência de estampa com zebra ela tem a estampa


em tudo o que for usar. Cuida da cor do sapato, da bolsa, do cinto, do rosto, da maquiagem, das unhas, tudo deve estar combinando.” A patricinha, segundo Sérgio Lopes, é uma perua mais novinha e pode ser comparada com a famosa boneca Barbie, isso porque, assim como a boneca, as patricinhas gostam de andar bem vestidas, principalmente com roupas de grife ou marcas famosas, além de terem bom gosto, assim como as peruas.­ “Quanto mais feminina for, quanto mais rosa usar, mais vai parecer patricinha”, acrescenta ele. Já para o etilista, o estilo das piriguetis está ligado ao funk carioca, aos bailes, e o ponto forte desse estilo é a sensualidade, marca muito forte no Brasil. “As adeptas deste estilo costumam usar shorts bem curtos e sandália de salto alto. Usam também miniblusas que deixam a barriga de fora”, acrescenta. Já quando o assunto são os nerds, Lopes garante que este praticamente não é um estilo. “A gente identifica, mas a palavra certa para eles seria fora de estilo”, diz ele. Quem segue esta linha, são aquelas pessoas que não combinam roupas e geralmente usam peças bem fechadas, no caso das mulheres, as roupas são muito parecidas com o guarda-roupa masculino. Para os seguidores deste estilo, não é necessário mostrar sensualidade e sim o intelecto. “É preferível que o indivíduo se anule em contrapartida a sua inteligência”, garante o estilista.

Apesar de todos estes estilos serem bem diferentes, existem algumas peças-chave que podem transcender para todos os gostos. Para o estilista, camisa branca, e um jeans básico, um cinto de boa qualidade e um sapato bem feito, são fundamentais para que o look de qualquer um esteja bom. “A pessoa irá escolher o modelo que mais combina com seu estilo, pensar aquilo que vai ficar bem no meu corpo”, disse. Para Lopes, a moda brasileira passa por ciclos onde as coisas vão acontecendo. “A moda é um reflexo do nosso

tempo e a indústria da moda brasileira tem passado por um sufoco, em função dos incentivos fiscais. Muitas empresas estão fechando as portas em função disso, e os empresários já estão pensando em uma revitalização deste setor”, finaliza.

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O mercado da moda Para quem vive da moda, o cenário ainda é de incerteza neste início de ano, já que a desvalorização do real, a alta do dólar e a desaceleração da economia vão pesar no comportamento do consumidor. A moda foi um dos setores que sentiu o baque da crise econômica que atinge o País, e os empresários já pensam em uma revitalização deste setor. O mercado da moda é movido pelas novidades e, para não sentir ainda mais os efeitos negativos, as indústrias tentam inovar também na gestão, para faturar mais gastando menos. Roupa nova é uma tentação para as mulheres, mas muitas peças do ano passado ficaram nas araras. Segundo pesquisa feita pelo Jornal da Globo, em fevereiro deste ano, o faturamento da indústria têxtil e de confecção caiu 5% no Brasil, em 2014, na comparação com o ano anterior. De janeiro a novembro, a produção de tecidos diminuiu 5,9% em relação ao mesmo período de 2013, a de roupas, 2,7% e a de calçados re-

cuou 5,2% no mesmo período. O resultado dessa queda foram vinte mil demissões na cadeia produtiva da moda. No mercado há nove anos, a estilista Franciele Hermoza iniciou no mundo da moda trabalhando na loja da própria mãe. Segundo ela, o mercado passa por uma evolução. “A moda tem evoluído de maneira versátil, crescendo em novos territórios e proporcionado aos jovens mercado e liberdade de expressão.” Uma das grandes vítimas da queda na confiança do consumidor, o varejo de moda se adapta à realidade econômica de 2015 com redução de investimentos e expansão de novas lojas, além do fechamento de algumas unidades. Conforme o site da Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings (Alshop) os planos de expansão ainda existem, mas estão contidos. Segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers (ABRASCE), quem agora puxa o crescimento não é o setor de moda, e sim o segmento de lazer. Conforme dados do site da associação, o crescimento do segmento de lazer no acumulado do

ano, em janeiro e fevereiro foi de 26,46%. O de vestuário foi de 2,9%. Fran Hermoza montou o próprio negócio após concluir sua formação em moda. “Sempre olhei minha profissão como negócio, então assim que me formei sabia que trabalharia por conta própria. Com planejamento e muito esforço, as coisas foram evoluindo” acrescenta. Fran acredita que, mesmo neste cenário de incertezas, o mercado está aberto, mas garante que é preciso inovar. “ É na crise que surgem as grandes descobertas, o segredo é ser criativo, se reinventar todos os dias”, acrescenta. Mais de 170 milhões de reais são gerados por ano com moda no Brasil. O setor é um dos que mais cresce nos últimos anos, e a internet impulsiona as vendas de grandes marcas, que passaram a anunciar seus produtos em lojas virtuais, mas também é um terreno fértil para empresas menores, que atuam também no mercado fashion. Fran acredita que o futuro da moda passa pela internet e pelas novas tecnologias. “A internet tem o poder de mover tudo hoje em dia, ela aproxima

Foto: Fran Hermosa

É neste ambiente inspirador que Fran Hermoza cria e comercializa suas peças exclusivas

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Foto: Fran Hermosa

as pessoas a uma realidade que talvez pudesse estar distante. Então para a moda é essencial usufruir dessas vantagens, valorizar o seu produto e atingir um público maior”. Para a estilista, o consumidor é um ser mutante e é preciso oferecer ao cliente o que ele deseja, no momento em que ele procura. Ela acredita que os desfiles e as semanas de moda influenciam no comportamento do consumidor. “O desfile é uma vitrine, onde a marca passa o conceito da coleção, as peças mais comerciais - interligada com a coleção. Essas peças estarão na loja para venda. Muitas vezes, o desfile nos dá a impressão de que a passarela está mais relacionada à criação artística do que à realidade cotidiana da moda, mas que graça teria um desfile sem sua atmosfera de magia e ilusão?” pergunta.

Os desafios Segundo a estilista Fran Hermosa a moda nacional encara desafios diários, seja na criação das peças ou mesmo no comércio. Para ela, o maior desafio no cenário atual é como inovar e buscar atualizações constantes para nos mantermos firmes frente à grande concorrência do mercado. “Investimentos em tecnologia, pesquisa e mão de obra especializada são altos, além do marketing e das próprias coleções, lançadas semestralmente. E a grande luta constante com peças prontas, vindas do Oriente, com preços mais competitivos”, garante. Ela acredita que entre as formas de inovação, a inclusão social pode ser muito bem explorada. “O uso da moda na inclusão social pode ser fundamental para melhorar a qualidade de vida de pessoas com deficiência. Confeccionar roupas ergonômicas e funcionais, voltadas para este público, proporcionará a eles mais conforto, independência nas atividades do cotidiano e dignidade no vestir”, salienta. Outro conceito que Fran Hermoza acredita que seja uma opção e está investindo é o conceito de “moda verde”, adotando práticas sustentáveis. “No meu atelier trabalhamos com peças exclusivas,

As criações da estilista adotam práticas sustentáveis criações numeradas, sem desperdícios. Na parte dos couros, são todos produzidos de maneira ecológica, ou seja, aproveitamos um produto que iria para o descarte. E os retalhos não vão para o lixo, criamos uma linha de presentes da marca”, destaca. O Brasil é um dos países com o maior número de escolas de

moda. Fran acredita que há espaço para todos no mercado. “Pelo que pude observar, tem muita gente boa chegando no mercado, são criativos, decididos e com muita força de vontade para fazer acontecer. O céu é o limite, mas é necessário muito trabalho e dedicação”, finaliza.

Os desafios da moda são diários na criação das peças ou mesmo no comércio 27


O espetáculo que quase ninguém vê Por Gisele Nozari

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inalmente, as cortinas se abrem… O público está com os olhos fixados no palco. O espetáculo começa e, junto com ele, diversas emoções ecoam por todo lugar. No ranking das artes, ele está em segundo lugar. O teatro é uma arte milenar que surgiu na Grécia antiga e tem o poder de fazer rir e até chorar quem vê e se identifica com as suas histórias. Porém, para que tudo saia em perfeita ordem, existe um grupo que trabalha arduamente nos bastidores e faz tudo funcionar. Nos grandes espetáculos teatrais são necessárias cerca de 200 pessoas trabalhando. São cenógrafos, iluminadores cênicos, sonoplastas, maquiadores, figurinistas, entre outras tantas pessoas que dão vida ao espetáculo. Mas, quem pensa que eles trabalham somente antes de os atores entrarem em cena está muito enganado! Uma produção teatral ocorre desde a montagem inicial do roteiro e dos cenários, até que as cortinas se fechem no término da apresentação. Mesmo os atores despedindo-se do público, os bastidores continuam a 28

todo o vapor com a desmontagem do espetáculo. Haja fôlego! Quando o roteirista coloca suas ideias no papel e o enredo de uma história toma forma, os papéis dos personagens são escolhidos, e os atores iniciam os incansáveis ensaios. Quem começa a materializar a história que até então só estava no papel são os cenógrafos, que têm a função de dar formas aos cenários que farão parte do espetáculo. Muito mais que decoração e ornamentação, a cenografia técnica trata de organizar todo o espaço onde as ações dramáticas serão encenadas. Ela tem a função de ambientar e ilustrar o espaço/ tempo, materializando o imaginário, aproximando o público da representação.

A arte toma forma De acordo com o cenógrafo André Gnatta, que trabalha com a criação e estruturação de cenários teatrais há quase duas décadas, a cenografia é um tanto complexa; somente a montagem de mecanismos que exigem movimentação pode levar até um mês para ficar

pronta. “Atualmente, eu trabalho com cerca de dez grupos de teatro e mais alguns grupos empresariais. Quando o trabalho é mais simples, ou seja, não exige muita produ ção, o próprio grupo de teatro faz o cenário, com a intenção de reduzir gastos”, comenta Gnatta. Mas, para que o cenário ganhe vida, é necessário que a iluminação do ambiente esteja de acordo com o contexto. É aí que entra em cena a “luz do espetáculo”: o iluminador cênico. A iluminação pode dar ênfase a certos aspectos do cenário, pode estabelecer relações entre o ator e os objetos, pode enfatizar as expressões do ator, pode limitar um espaço de representação a um círculo de luz e muitos outros efeitos. Por meio dela podemos ambientar a cena e ampliar as emoções nela exploradas. Para isso, é fundamental que o iluminador conheça bem o texto e as marcações cênicas determinadas pelo diretor do espetáculo. Segundo Marcelo Casagrande, que trabalha com iluminação cênica, na hora de criar um plano de iluminação é necessário levar em conta fatores, como a cor do cená-


Foto: André Gnatta

É nos bastidores que tudo ganha forma. A luz e os sons complementam o cenário que ganha vida e movimento, quando as estrelas principais entram em cena.

maquiagem artística é mais pesada em detalhes, em acabamento. A teatral, dependendo do tema, é mais suave”, explica a maquiadora. Mas, o que seria da maquiagem sem o figurino? Sim, eles se completam. O figurino é um elemento importante na linguagem visual do espetáculo, formado por acessórios, além das vestimentas. O figurino auxilia na compreensão do personagem. Ele é carregado de simbologia e pode acentuar o perfil psicológico do personagem, objetivos e características da história. Conforme a figurinista Raquel Cappelletto, que trabalha na área há dezoito anos, o processo de criação começa a partir de uma conversa inicial com o diretor, discussões sobre as necessidades do espetáculo e de cada ator, sobre a contextualização da época da peça, estética a ser seguida. Depois disso, há uma pesquisa de referências e apresentação de croquis do figurino. Tendo tudo sido aprovado, começa a confecção e todas as adaptações necessárias. “No meu caso faço todo processo, desde o croqui até o resul-

tado final. Geralmente tenho pouco tempo para realizar o trabalho e faço tudo sob pressão e na correria, essa é a parte trabalhosa”, comenta. A figurinista ainda fala que a importância de um profissional dessa área é a mesma que a de um profissional de qualquer outra área. “O conhecimento específico naquilo que se faz deixa o resultado com mais qualidade. Para ser um fgurinista, é necessário ter conhecimento dos elementos da cena, do trabalho de ator, da movimentação de corpo e dos elementos da dança, mesclando isso com o conhecimento da história da moda”, enfatiza Raquel. Muito além de conhecer o que está em cena, os profssionais que atuam nos bastidores mostram que, por trás das cortinas do espetáculo, é que tudo ganha forma e se transmorma. O show começa antes de as cortinas abrirem e não termina quando elas se fecham... Afinal de contas, o show deve continuar!

Foto: Renata Garibaldi / Arq. Pessoal

rio e dos figurinos. “Uma comédia pede uma luz diferente de um drama; por isso, o trabalho do iluminador se desenvolve junto ao diretor e sua equipe”, afirma Casagrande. A iluminação cênica, assim como o figurino e a cenografia, é uma linguagem que está a serviço do espetáculo. Conforme Casagrande, com a luz pode-se criar espaços e os cenários e figurinos podem ser valorizados. “Um iluminador, além de ter conhecimento de eletricidade, deve saber diferenciar um Fresnel de uma lâmpada par ou de um Elipsoidal e deve saber que cada tipo de refletor produz uma luz diferente”, complementa. Muito além de imagem, a arte teatral também é composta por sons. Para que o cenário e a iluminação se complementem em um espetáculo, a sonoplastia, que significa o conjunto de efeitos sonoros utilizados em uma produção, também é indispensável. Um sonoplasta trabalha os elementos sonoros ajudando a envolver o público na construção de imagens e sensações. As músicas e os sons utilizados devem estar intimamente ligados com o que acontece em cena. De acordo com a diretora cênica, Magali Quadros, da mesma forma que as produções audiovisuais em geral precisam de um sonoplasta, o teatro também. “Ele sublinha a ação e dá sentido a uma determinada cena. A sonoplastia é muito importante para dar sentido”,expõe a diretora cênica. Segundo Magali, atualmente, em um espetáculo teatral, são necessários no máximo dois técnicos de áudio, já que as mesas de som utilizadas, geralmente, são digitais. Porém, em alguns casos, os próprios atores fazem a reprodução de sons, ou pode haver música ao vivo. Outro elemento importante para a caracterização dos personagens de um espetáculo é a maquiagem. O maquiador atua junto com toda a produção do espetáculo. A jovem maquiadora, Renata Garibaldi, de 25 anos, atua na área há quase dez, e explica que o processo de criação de uma maquiagem é baseado no tema da peça teatral. A make para teatro traz vida aos personagens, comenta. Renata ainda explica a diferença entre a maquiagem artística e a teatral: “A única diferença é que a

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C

idadania

Del Senegal noi siamo partiti

D

Em 1875, os italianos do Vêneto (Itália) deixaram para trás sua casa e partiram rumo à América. Buscavam sair da pobreza. Quase 140 anos depois, uma nova onda imigratória, desta vez do Senegal, fez o mesmo, porém encontrou a resistência dos que aqui estão. Por Roberto Nichetti

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e um país unificado poucos anos antes, partiram os bravos imigrantes, com o receio que o novo traz, em busca de um país do outro lado do oceano. Partiram para ganhar a vida. As novas terras desconheciam. Seus habitantes, somente imaginavam como seriam. Para o seu país de origem, sua partida foi um desafogo. O país, que tentava garantir a unificação de reinos e estados, tentava também unificar os seus cidadãos. Os cidadãos, por sua vez, não tinham terra para cultivar, e a renda referente ao seu trabalho era muito baixa. Em sua pátria-mãe, não tinham mais como sobreviver. Partiram. Os que embarcaram para as novas terras eram artistas, professores, artesãos, pessoas das mais variadas profissões. Não tinham muita habilidade com a terra, ou com outro tipo de trabalho que encontrariam em seu novo lar. Ao chegar, alguns foram despachados para o Sul. Encontraram terras já ocupadas, mas continuaram buscando seu lugar. Subiram a Serra. Aqui chegaram sonhando

com trabalho e prosperidade. Viram uma nova cidade, com esperanças de uma vida melhor. Ao primeiro olhar, este texto pode ser referente aos imigrantes italianos, que, em 1875, chegaram à Serra gaúcha. Vindos da Itália recém unificada, fugiam da pobreza que assolava o país, fruto da revolução industrial. “Eles comparecem na lista (para a migração) como camponeses, mas não são. São artistas, artesãos, alfaiates. Porém para terem direito a compra de suas colônias eles têm que ter o domínio do cultivo da terra. Que é o que o império precisa.” É dessa forma que, segundo a pesquisadora Cleodes Piazza, os italianos chegam ao Brasil. Os senegaleses que aqui aportaram nos últimos anos vieram para cá pelo mesmo motivo. Fugidos da pobreza do seu país, com o mesmo objetivo dos primeiros imigrantes italianos: ter condições para uma vida digna. Porém, encontraram nos descendentes desses imigrantes o preconceito. “As pessoas têm um medo, e esse medo alimentam a xenofo-


Foto: Cristina Sebastiani / CCommons

A sociedade tem que ter abertura para acolher esse ‘novo’, deve fazer uma releitura do que a gente tem como questão de identidade.

bia,” explica a Ir. Maria do Carmo coordenadora do Centro de Atendimento ao Migrante. No Brasil, os novos imigrantes ganham até seis vezes mais do que em seu país de origem. Muitos deles, inclusive com formação acadêmica, não se importam em trabalhar em condições muitas vezes desprezada pelos habitantes locais. “Muitos dos imigrantes entram no país de forma ilegal. No CAM nós auxiliamos para conseguirem a documentação necessária para permanecerem aqui”, relata Ir. Maria. Sem a documentação necessária para assumir postos de trabalho

formais, acabam no subemprego, recebendo por vezes metade do valor do salário-mínimo, ou trabalham como vendedores ambulantes, no centro da cidade. Orgulhar-se dos feitos dos seus descendentes, cantar a forma como desbravaram a terra e como superaram as adversidades não pode condizer com pessoas que renegam e estigmatizam outros imigrantes que, tal qual seus antepassados, vieram a essa terra por uma única razão: sobreviver.

Foto: John Atherton / CCommons 31


Basquete sobre rodas Em 2016, o Brasil vai sediar os Jogos Olímpicos. Essa será a segunda vez que o evento ocorre na América Latina, já que, em 1968, a tocha olímpica ficou acesa em solo mexicano. Depois da Copa do Mundo, a Olimpíada é o evento mais aguardado pelos apaixonados por esporte. No entanto, o que pouca gente se lembra é que, também em 2016, acontecem os jogos paralímpicos no País Por Camila Valentini

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ais de 45,6 milhões de brasileiros declararam ter alguma deficiência, segundo dados do último Censo Demográfico (2010), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse número representa 23,9% da população do País. A deficiência motora apareceu como a segunda mais relatada pela população, sendo que a primeira é a deficiência visual. Ela atinge o equivalente a 7% da população brasileira, e a deficiência motora severa foi declarada por mais de quatro milhões de pessoas.

Vidas em jogo De 7 a 18 de setembro de 2016, o Rio de Janeiro será o palco da 15ª edição dos Jogos Paralímpicos. Em mais de dez dias de programação esportiva, o basquete será uma das modalidades mais antigas de desporto no evento. Ele começou a ser praticado por ex-soldados norte-americanos feridos na Segunda Guerra Mundial, e o basquete em cadeiras fez parte de todas as edições dos jogos paralímpicos já realizadas.

O esporte, por si, possui um estereótipo de superação e conquista. E essa superação é maximizada quando existem histórias de atletas com limi­ tações. Exemplo disso é Adroaldo Texeira Branco, que hoje tem 39 anos e ficou paraplégico aos 22 anos, quando atingido por um tiro em uma discussão.Ele conta que passou muito tempo depressivo, pois, além do movimento das pernas, perdeu a esposa e amigos. A reviravolta na vida de Branco aconteceu quando conheceu o Centro Integrado das Pessoas com Deficiência (Cidef).“No centro fiz novos amigos, sou atleta, ando de ônibus sozinho. Tenho uma nova vida”, 14 atletas. Ramos tem uma deficiência motora que se resume a um encurtamento do fêmur, fato que não o impediu de praticar o esporte. Depois de dois anos em coma e 74 cirurgias, começou a computar outras façanhas, essas como representante da seleção brasileira. Ele ficou entre os dez melhores jogadores paraolímpicos do mundo, na categoria cestinha. E, ao que tudo indica, irá participar da Paralimpíada de 2016. Ramos explica que, para co­ meçar a praticar basquete sobre rodas, é necessário muito mais


Mudando o placar A luta dos portadores de deficiên­ cia física vai desde equipamentos, como cadeiras de rodas, até as questões de acessibilidade na cidade. As cadeiras custam em média cinco mil reais e se diferem das convencionais, utilizadas para passeio. “A gente veste a nossa cadeira, ela é feita sob medida para cada deficiência, como se fosse uma parte do corpo”, explica Ramos. Hoje, o portador de necessidades especiais conquistou espaço e políticas públicas para ter mais independência. No entanto, ainda falta superar muitos obstáculos para

respeito ao acompanhamento e à fiscalização do cumprimento da legislação que ampara as pessoas com deficiência. As ações do Conselho se destinam às pessoas com limitações auditivas, físicas, intelectuais, visuais e múltiplas. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de um quarto da população brasileira possui algum tipo de deficiência. Pedroso também ressalta a importância do respeito e do auxílio aos portadores de necessidades especiais. Para ajudar nesse processo, uma cartilha explicativa destaca informações sobre leis de acessibilidade. O material foi elaborado com o apoio da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e da Secretaria Municipal de Segurança Pública e Proteção Social (SSPPS). Assim, para vencer esse jogo da vida, é fundamental driblar o maior adversário: o preconceito.

Fotos: Camila Valentini

do que ser apresentado ao esporte. “Eu recebo pessoas calejadas da vida, talvez o esporte seja a última chance que elas têm de ser alguém. Há histórias muito tristes aqui e, ao mesmo tempo, de superação”, conta.

Recebo pessoas calejadas da vida, talvez o esporte seja a última chance que elas têm de ser alguém. Há histórias muito tristes aqui e, ao mesmo tempo, de superação. a igualdade de condições. “Temos cerca de 70% dos ônibus adaptados em Caxias do Sul, e isso é realmente um avanço. Mas buscamos os 100%, pois não se faz política pela metade”, conclui o presidente do Cidef. Com o objetivo de promover políticas públicas governamentais, medidas e ações voltadas ao atendimento das necessidades e garantia do direito das pessoas com deficiência em Caxias do Sul, foi criado o Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CMDPcD). Ele integra a estrutura administrativa municipal, como órgão auxiliar de caráter consultivo. De acordo com o presidente do Conselho, Silvestre Pedroso, as competências do CMDPcD dizem

O pernambucano natural de Recife João Lucas do Amaral, de 16 anos, vive em Caxias do Sul desde a metade de 2015 e, logo que chegou à Serra gaúcha, começou a participar do Cidef. Apesar da pouca idade, ele defende os direitos dos cadeirantes, pede conscientização da população e luta nos órgãos públicos, por melhores condições de acessibilidade.

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Foto: Maiara Calgaro

O começo da vida Por Maiara Calgaro

Noelci, 58 anos, é graduada em enfermagem, faz docência em Ciência da Saúde e mestrado em Educação

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izem que eles não são mais como antes. Dizem que eles não têm mais tanta agilidade. Dizem que eles esquecem facilmente. Dizem muitas coisas para as quais eles não ligam mais. O que eles querem mesmo é mostrar para o mundo que é “panela velha que faz comida boa”. Estamos falando dos idosos ou dos “experientes”, como preferirem. Parte da sociedade já tem um estereótipo definido das pessoas acima de 50 anos. Mas nem tudo é como se imagina. Claro que algumas coisas mudam: os filhos constroem famílias, nascem os netos e o que passa pela mente é que a vida deles se restringirá a cuidar da casa e do jardim. Porém, os números mostram que não é bem assim. Muitos idosos optam por curtir a velhice com uma rotina diferente da qual estavam acostumados e provam que a terceira idade é, sim, a melhor idade. As senhoras não ficam mais somente na cozinha fazendo biscoito para os netos; os senhores não ficam apenas cuidando do jardim. Muitos voltam a estudar e até para a faculdade vão. Outros praticam esportes, fazem caminhadas e canoagem. Conforme o geriatra Dener Li34

zot Rech, no passado as pessoas que tinham 60 anos eram consideradas velhas, doentes e se recomendava, inclusive, que se aposentassem, vestissem o pijama e fizessem repouso evitando qualquer esforço físico. “Hoje, vemos pessoas de 70, 80 e até 90 anos correndo maratonas, ministrando aulas, presidindo grandes corporações, participando ativamente da economia”, cita. Segundo Rech, estudos que mostram que benefícios globais à saúde, com atividade física regular quebraram o velho paradigma, ou seja, a crença da perda da capacidade laboral e do interesse pornovos conhecimentos. Diante do incremento da expectativa de vida nas últimas décadas, há, também, nessa população, uma preocupação maior com preservar-se de doenças crônicas degenerativas. A estudante Noelci Teresinha de Araujo Barea enquadra-se no novo estereótipo do idoso. Aos 58 anos, ela mantém vida ativa praticando esportes e frequentando a universidade. “Para mim não é vida ficar em casa. Na universidade tenho oportunidade de conhecer pessoas de todas as idades, conviver com diversos tipos de gente e, ainda, aprender. Se depender de mim eu nunca vou deixar de estudar e me

movimentar”, afirma Noelci. Ao conversar com a universitária, é preciso redobrar a atenção na hora de anotar a longa lista de cursos que frequentou além dos que frequenta, para não deixar alguns de fora. Ela iniciou no curso de Administração ainda quando morava em Antônio Prado, mas na época começou a namorar, casou, mudou-se para Caxias, vieram os filhos e a vontade de estudar foi ficando de lado. Em 2005, com 48 anos resolveu retomar os estudos e não parou mais. Nesses 10 anos, ela graduou-se em Enfermagem e possui pós em marketing. Atualmente, faz docência em Ciência da Saúde, mestrado em Educação, Graduação de Gestão de Micro e Pequenas Empresas, formação pedagógica (EAD) e, como se não bastasse, cursa algumas disciplinas isoladas da área de humanas. “Não sei se depois vou para o lado do Direito, Filosofia ou História, então estou cursando essas que são do tronco comum”, destaca. Mas não é somente de estudos que Noelci vive. Ela exerce a função de corretora de imóveis. Em meio à correria, ela ainda pratica hidroginástica, o que ajuda a manter, também, a saúde do corpo em dia, já que com a mente não precisa, efetivamente, preocupar-se.


Foto: Rafaela Bins

Educação

A hidroginástica é o exercício preferido da maioria das idosas. Já os homens optam pela caminhada. Mas, na hora do exercício físico, os dois grupos, homens e mulheres, não têm preconceito e frequentam academias particulares e as Academias da Melhor Idade (Ameis). As academias de praças e parques são abertas à população e contam com aparelhos de ginástica que possibilitam a realização de movimentos corporais, com o uso de sobrecarga, movimentando os grandes grupos musculares e o sistema cardiorrespiratório. Em Caxias do Sul, um ponto fundamental desse trabalho é a existência de orientação aos praticantes. Assim, o projeto conta com aproximadamente 900 alunos inscritos, que participam de aulas semanais. Os professores atendem em média 5 mil/mês.

Foto: Luiz Chaves

Entre atividades voltadas para a educação dos idosos, a Universidade de Caxias do Sul (UCS) conta com o Programa UCS Sênior Educação e Longevidade desde 1995. Com o propósito de orientar pessoas a partir dos 50 anos, o projeto busca acompanhar uma tendência mundial sobre o processo de envelhecimento, que valoriza a aprendizagem ao longo da vida para que o indivíduo possa reelaborar, atualizar e ampliar saberes. Em 2015, o programa acolheu mais de mil alunos realizando 54 atividades acadêmicas. O curso mais procurado é o de informática, com aproximadamente 390 alunos. Segundo o coordenador da UCS Sênior, Délcio Antônio Agliardi, praticamente 100% dos alunos que iniciam concluem a(s) atividade(s) que frequentam. Os motivos que levam o idoso para a faculdade são variados. “Muitos ingressaram pela primeira vez. Outros, retornaram devido à necessidade de aprimorar conhecimentos. Não há dificuldades e, no geral, é uma festa vir para a UCS, depois contar em casa para familiares e amigos que frequenta um curso numa universidade”, comenta.

Esporte

Lazer Foto: Andrê Pereira da Silva

Superação do medo, adrenalina, amizades, desafios, conhecimento, lazer e muito mais é o que os idosos encontram no Projeto Canoagem destinado a pessoas acima de 60 anos. Desde o início, as turmas sempre foram lotadas e com fila de espera. O coordenador do projeto, Eduardo Costa, afirma que o estereótipo dos alunos, que totalizam 70 em 2015, não é o que estamos acostumados a ter dos idosos. A maioria (90%) é do sexo feminino, casadas, com filhos e netos. Até aí tudo bem. Mas, além disso, “são pessoas com grande autonomia e participam de outras atividades culturais e sociais”, destaca o coordenador. Durante o projeto, os alunos têm aulas duas vezes por semana e rea­ lizam aulas práticas de canoagem e atividades como caminhadas orientadas, exercícios de fortalecimento muscular, alongamento e jogos de salão. A modalidade traz inúmeros benefícios para a saúde do praticante, aumenta a autoestima e derruba barreiras psicológicas, como o medo da água. “Os alunos não apresentam dificuldades, eles têm bom nível de mobilidade, que melhora com a prática contínua das atividades”, afirma Costa. 35


L

azer

Fotos: Arquivo pessoal

Fuja para o mato

Por Maiara Calgaro

Márcio e uma das turmas que ele guia no Cânion Montenegro em São José dos Ausentes.

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pessoas que buscam aventurar-se e praticar esportes no final de semana, como forma de se desconectar. Independentemente do cargo que se exerce, os mais variados estereótipos de “segunda a sexta-feira” têm influenciado na “pré-definição” do aventureiro. Isso ocorre porque superar desafios é um dos melhores remédios para acreditar em si, elevar a autoestima, ganhar força para realizar sonhos, conquistar o que deseja, aproveitar e amar a vida.

tudo é programado ou controlado; adaptam-se às mudanças ou imprevistos mais facilmente. “Vejo como forma de encarar nossos medos e superá-los. No dia a dia, deixamos de procrastinar questões que temos receio de encarar e logo resolver”, explica. Ele teve seus primeiros contatos com a natureza ainda criança, quando ia caçar com os irmãos mais velhos e, assim, saia da zona de proteção dos pais rumo ao desconhecido. Márcio cresceu e quis

U

m jovem com chapéu na cabeça, mochila de acampamento nas costas, botas de trilha e alguns arranhões na canela. Esse é o estereótipo que vem à cabeça ao falarmos de aventureiro, mas não é bem assim. Eles podem ser o seu colega na empresa e você nem imagina. Hoje, não precisa ir muito longe para encontrar um aventureiro. Ele está logo aí, na cachoeira mais perto ou naquela beira de rio que separa a sua cidade de outra. No livro “Meu Everest”, o autor Luciano Pires conta o episódio em que decidiu trocar a gravata e o paletó, que usava diariamente no exercício de sua profissão como executivo de multinacional, pela mochila e botas e partir para o pico mais alto do mundo: o Everest. Quando decidiu percorrer as trilhas do Himalaia, Luciano não tinha a mínima experiência no assunto e não praticava qualquer esporte havia mais de dois anos. O propósito do autor era mais do que desligar-se do mundo, mas era provar ser possível a qualquer pessoa alcançar seus sonhos. Luciano viajou em 2001 e já entrou numa estatística que nos mostra o aumento do número de

Busco fazer com que as pessoas se desliguem do meio estressante urbano.

Trazendo essa história para mais perto, o guia de turismo de Caxias do Sul, Marcio Crestani, defende que pessoas que praticam esportes radicais ou em meio à natureza sentem-se mais dispostos física e mentalmente. Encaram com bom humor as rotinas de trabalho, já que em meio à natureza, nem

trabalhar com algo que lhe permitisse dividir esse sentimento com os outros, motivando-os a desvendar “o próximo morro”. Hoje, ele sente que a natureza é o seu refúgio. Como guia, Márcio busca despertar nas pessoas a necessidade de serem menos consumistas, focando-se na preservação das áreas


naturais. “Busco fazer com que as pessoas se desliguem do meio estressante urbano”, frisa. Para o guia, o estereótipo do aventureiro é o de uma pessoa que gosta de desvendar os mínimos detalhes de cada espaço natural. Não se conforma com a visão de outro que já esteve naquele local, mas quer ver e analisar com seus próprios olhos. Por isso, não há profissão ou idade para ser aventureiro.

Na prática Os caminhos para se desligar do mundo são muitos, sendo as atividades que envolvem o “perigo”, como esportes radicais, uma opção. A aventura atrai adeptos das mais variadas idades. São praticantes de escalada, montanhismo, rapel, paraquedismo, voo livre, rafting, entre outras atividades capazes de proporcionar bem-estar e prazer. A proximidade com o perigo funciona como motivação para superar o medo, desarmar as travas e, ainda, querer mais. O coordenador de Produção Samuel Sgarabotto Silva, é um exem-

Viagem Viajar é um deslocamento, um afastamento da zona de conforto, mas também uma reaproximação de nossa própria subjetividade. (Onfray, 2009).

plo disso. Ele praticou sua primeira aventura em Vespasiano Corrêa, em março de 2013, por convite de um amigo. Durante a trilha, tomou um banho de chuva por cinco horas e permaneceu molhado por mais tempo, já que não tinha roupa extra. “A chuva não me fez desistir. Tomei a situa­ ção como aprendizado e acabei sempre me preparando mais para os compromissos que eu teria pela frente”, comentou. Samuel não é esportista, mas busca ‘fugir” para o mato, uma vez por mês. Ele acredita não ter um estereótipo definido. “Acho que sou um pouco de tudo. Tenho que ter uma certa liderança para que as coisas fiquem organizadas no ambiente em que trabalho. Sou um pouco aventureiro, pois gosto de “quebrar rotinas”, afirma. Normalmente, as aventuras são praticadas em grupos e alguns contam com iniciantes. Juntos, eles enfrentam obstáculos e trabalham em equipe motivando o colega a não desistir na subida ou a enfrentar o medo de altura. “Busco, no meu trabalho,

Turismo Compreende as inter-relações e os fenômenos de viagens e estadias temporárias de pessoas, com o objetivo primordial de lazer ou recreação. (Pearce, 2003).

motivar as pessoas a irem além. Acho que, se consigo fazer meus amigos de trilha enfrentarem seus medos e superarem desafios, vou conseguir fazer meus funcionários superarem as metas. E, com eles vencendo seus desafios, acabo vencendo os meus também”, argumentou. A estudante de turismo Lúrian Puntel também usa a aventura e o esporte radical para se desligar da correria do dia a dia e respirar ar puro. “Essas aventuras também me fizeram perceber como temos lugares bacanas e de muita beleza bem perto de nós”, lembra. Além disso, ela aprendeu a enfrentar o seu medo de altura ao praticar rapel. O medo d’água ela venceu em uma caminhada entre o Passo da Ilha e Passo do S em Jaquirana quando teve que atravessar o rio várias vezes. Assim, Lúrian prova que não se precisa ter um estereótipo de aventureiro para ser um, e quem tem medo de altura, água, fogo, frio pode ser praticante de qualquer modalidade de esporte de aventura.

Aventura Não é um conceito absoluto, mas sim altamente pessoal; assume diferentes significados para diferentes pessoas. (Swarbrooke et. al., 2003).

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Colecionando histórias Por Maria Luiza Grazziotin Brites

A Carreteira Chevrolet 1939 faz parte da coleção de Mejolaro e seu pai.

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uitos são considerados obsessivos, outros enxergam o fato de colecionar como um investimento ou um meio para o lazer. Dificilmente será possível encontrar alguém que nunca colecionou algo na vida, seja na infância, com álbuns de figurinhas, ou depois de adulto, transformando o colecionismo em prática habitual. A lista de objetos de coleções mais comuns é tão extensa como a lista das razões que levam pessoas a iniciarem e ampliarem cada vez mais suas coleções. Augusto Mejolaro é engenheiro civil, 24 anos, e tem uma forte paixão por carros antigos. O jovem conta que seu interesse por colecionar esses objetos vem desde 38

criança. “Meu pai já era bem envolvido no mundo do antigo mobilismo, então eu cresci nesse meio. Toda oportunidade que eu tinha de ir com meu pai para algum encontro, ou na casa de um amigo que tivesse carros antigos, eu aproveitava, ia junto e ficava sempre admirando os carros”, conta Mejolaro. O incentivo de seu pai foi tão forte, que hoje ele possui oito carros antigos, entre os quais um Innocenti Mini 1972, um Carreteira Chevrolet 1939, um Caminhão Ford 1937 e um Fiat Uno Turbo 1995. Para Mejolaro, ele e seu pai são admiradores, não colecionadores, e explica: “Está no sangue. Acredito que não somos colecionadores, mas sim admiradores. No

meu ponto de vista, coleção envolve mais carros e é uma coisa mais estática. É um zelo muito maior pelo carro em relação ao seu uso, evitando tempo ruim e estradas esburacadas.” A psicóloga Kelly Borges também diferencia colecionadores de admiradores. Para ela, em geral, colecionadores são pessoas que buscam coisas que tenham um significado pessoal, seja por gostar muito de alguma coisa, seja por remeter a alguma lembrança ou momento do passado ou pela satisfação de possuir algo que para ela seja valioso. “Constantemente, buscamos o prazer e a satisfação em nossos atos e para algumas pessoas possuir e buscar objetos variados causa essa satisfação”,


Foto: Arquivo Pessoal explica Kelly. De acordo com Kelly, o ato de colecionar coisas pode ser extremamente saudável quando gera prazer e satisfação para aquele que coleciona, porém pode se tornar um problema quando acaba interferindo na vida pessoal e social do indivíduo. “Por exemplo, morar em um apartamento de 1 quarto

e colecionar caixas de sapatos. Também quando os objetos colecionados são inúteis e vazios de importância e significado inclusive para o colecionador, como palitos de fósforo, papel de bala, cartões telefônicos, baganas de cigarro, etc. Nessas situações, é possível detectar algo que não seja saudável”, explica.

Foto: Arquivo Pessoal

O Innocenti Mini 1972 é um dos favoritos da coleção de Mejolaro. 39



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