Informativo Janela - 2011

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Um novo olhar sobre arquitetura e paisagismo Informativo de Mídia Impressa Universidade de Caxas do Sul – 2011

Uma Caxias mais verde

Muitos habitantes de Caxias do Sul pensam que sua cidade não é suficientemente arborizada. Desmitificar essa visão é o que a prefeitura, por meio da Secretaria do Meio Ambiente pretende, por meio de projetos e conscientização da comunidade. Um dado interessante: a Organização Mundial da Saúde considera município bem arborizado aquele que tem de 10 a 12 metros quadrados de mata por habitante. Pelos últimos estudos feitos, Caxias é uma cidade bem arborizada, com uma média bem acima da nacional. São 42 metros quadrados por habitante, perdendo somente para Curitiba, em uma pesquisa extraoficial. Os dados são animadores, mas é preciso ressalvar que na área urbana, a realidade é totalmente diferente. Com exceção de poucos locais, como o Mato Sartori, que ficou por vários anos abandonado, mas recentemente foi readequado

Divulgação

para educação ambiental. Foi retirado o lixo do local, e se iniciaram as obras, que duraram quase dois anos. O tempo foi maior do que o previsto, pois houve problemas com furtos; então, tudo tinha que ser refeito. Partindo de um muro baixo, tiveram que adicionar uma grade e depois da grade a serpentina. Câmeras de vídeo também foram instaladas para melhorar a segurança no local, já que o mesmo estava sendo alvo de vândalos constantemente. Depois de prontas as obras, o Mato Sartori foi aberto à visitação. É uma escola de Educação Ambiental da qual qualquer pessoa pode participar, desde que sejam formados grupos de 15 a 40 pessoas. Com o acompanhamento de monitores, é feita uma trilha pelo mato.

Plantio Desde 2009, foram plantadas mais de 60 mil árvores em Caxias do Sul. O Projeto Plantando uma Nova Caxias, instaurado em 2009, visa ao plantio de mudas de árvores nativas em ruas da cidade e também à substituição, quando necessária, de outras árvores. As plantas retiradas são encaminhadas para abrigos, como Lar de Idosos, Casa da Criança e viram lenha. Um caso bastante polêmico na cidade foi o dos ligustros. Muitas pessoas eram contra o corte, pois não entendiam o benefício de uma árvore ser retirada. “É uma árvore que se multiplica muito, a semente vai longe e toma conta das matas ciliares, no interior, e isso é um problema, porque quanto mais ligustros, menos árvores nativas. Principalmente temos que preservar o que é nosso, o que é nativo”, diz

Elemara Borguetti dos Reis, diretora da Divisão da Educação Ambiental.

Reposição A Educação Ambiental tem feito um trabalho em conjunto com as comunidades, com parcerias em eventos nos quais se reúne a população e se fazem plantios. Para plantar a árvore, é feita uma classificação de pequeno, médio e grande portes. Onde há fiações e tubulações, só são plantadas árvores de pequeno porte, como araçá, que é a mais vista no centro de Caxias. Já em áreas sem essas restrições são plantados ipês, chauchaus, árvores de grande porte. O processo de arborização é considerado permanente. As mudas que são plantadas têm em média 1,2 metro, o que significa que elas já viveram cerca de um ano. O crescimento varia de acordo com a espécie e os cuidados que são tomados. Oscila em torno de cinco a seis anos para começar a dar uma sombra significativa.

Vantagens da arborização • Conforto térmico e de umidade; • Melhoria na qualidade do ar, com a redução dos riscos da poluição; • Abrigo e alimento para os animais, principalmente aves; • Conforto acústico, pois a vegetação na área urbana abafa o som de veículos; • Embelezamento.


2 Editorial Uma equipe composta por 24 alunos dos cursos de Comunicação Social, Publicidade e Propaganda, Relações Públicas e Jornalismo traz por meio do informativo Janela um olhar diferenciado sobre a cultura regional a partir da arquitetura e urbanismo. Nesta edição o leitor encontra, entre outras matérias, espaços destinados à arte e à cultura em Caxias, memória e identidade ligadas aos sótãos e porões, crescimento do mercado imobiliário e alteração do perfil das construções. O Janela traz pontos de vista peculiares, dando ao leitor a possibilidade de envolvimento com a história e os rumos da região. Uma leitura que pretende definir e ampliar a visão de um povo, por meio de suas construções.

Universidade de Caxias do Sul Centro de Ciências da Comunicação Mídia Impressa Reitor: Isidoro Zorzi Diretora de Centro: Marliva Gonçalves Docente: Alessandra Rech

Planejamento Gráfico e Diagramação: Cristiane Motta Débora Nunes Katiane Beal Cardoso Treissa Fagundes Revisão: Bruna Scheifler Romani Lisiane Pires da Cruz Sabrina Costa Silva Textos: Adriane Amantino Machado Anderson da Costa Oliveira Cristiano Machado Daros Francine Spiller Luan Moraes da Luz Luis Claudio Giani Marros Magali Bascheira dos Santos Mateus Lanzoni Ohana Catarina de Almeida Matias Rosangela Moreira Crestani Sabrina Comerlatto Talita Maria Camello Fotos: Adriane Amantino Machado Camila Sorgetz Charlene Uez Mônica Zanela Tiragem: 250 Exemplares

Ramon Munhoz

Coordenação: Vanessa Honorina Mallmann Burgin Vitória Maria Rubbo Lovat

Cultura

ZICA STOCKMANS E OS ESPAÇOS CULTURAIS

Caxias do Sul já foi a Capital Nacional da Cultura, em 2008, o que levantou polêmica na época, em parte devido à baixa frequência às promoções culturais. Para a diretora da Companhia, Escola e Casa de Teatro ‘Tem Gente Teatrando’, Zica Stockmans, que atua há 25 anos na área, Caxias do Sul tem, sim, uma boa estrutura, mas um desafio pela frente: discutir a melhor ocupação desses espaços. Janela: Quais os principais espaços culturais de Caxias? Zica Stockmans: Espaços convencionais para a apresentação de espetáculos: Teatro São Carlos, Casa da Cultura, UCS Teatro, Sesc e Casa de Teatro. Mas a arte pode surgir em qualquer ambiente, não necessariamente em casas de espetáculos; por isso não posso deixar de citar o Ateliê Bruno Segalla, o Centro de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho e a Casa da Cultura Percy Vargas de Abreu e Lima. Janela: Quais as necessidades mais urgentes de Caxias em relação aos espaços culturais? Zica: Com certeza mais espaços e uma boa

política de ocupação dos mesmos. Já temos bons teatros com capacidade para 400, 600 pessoas, mas que, pela necessidade de manutenção, ficam com um valor de locação inacessível. Então, é a hora dos teatros de menor capacidade, de menor valor para sua utilização, que facilitem o agendamento de temporadas. Janela: O que você gostaria de ver num futuro próximo no município? Zica: Gostaria que o movimento cultural que já vem acontecendo crescesse, que tivesse mais incentivos e que decolasse, pois já está na hora de Caxias crescer mais nesse sentido. Eu espero que, no futuro, além de sermos reconhecidos como um polo metal-mecânico,tambémentremosdefinitivamente no seleto grupo das cidades que respiram arte. Janela: Considerações finais? Zica: Hoje, a cidade de Caxias do Sul tem seis espaços para apresentações teatrais, três formas de financiamento, muitas pessoas vivendo do teatro, temos um festival que leva o nome da cidade, o ‘Caxias em Cena’. Por tudo isso acho que estamos no caminho certo. Estamos construindo, e com um caminho já preparado às novas gerações, que têm tudo para continuar neste caminho tão rico que é o da arte.


Feito em casa

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Parreiral bom pra cachorro! Não é somente no famoso ponto turístico da cidade de Caxias, a Casa de Pedra, que se vê parreirais. É surpreendente quantas casas em zonas centrais contam com essa planta, que imaginamos estar somente no interior A Casa de Pedra foi construída no final do século XIX pela família Luchesi, que morou na mesma até 1913. Depois, várias outras famílias moraram ali. Ela também serviu de residência, albergue, comércio, açougue, serraria, estoque de secos e molhados (armazém) e sede do Grêmio Esportivo Gianella. Ela foi desapropriada em 1974, tornando-se um ponto histórico em março de 1975. Os telhados, as janelas, a escada e o reboco das paredes não são os originais. Com a desapropriação, a família que ali morava construiu uma casa em frente para viver, que mais tarde daria lugar a um parreiral. O tombamento do museu pela prefeitura aconteceria apenas em 2003. Mas não é bem com a cultura italiana que o aposentado Luis Ibê Shultz está preocupado. Ele saiu de Porto Alegre e há 12 anos vive

Divulgação

em Caxias do Sul. Tem uma casa com um parreiral em pleno Bairro Cruzeiro, zona urbana da cidade. Porém, sua história é curiosa. Ele conta que há cerca de quatro anos foi comer em uma lancheria da cidade que tinha parreiral, e gostou da ideia. Então foi até uma agropecuária e comprou cinco mudas de videira. Ele mesmo as plantou e também montou a estrutura de madeira. Mas Shultz não queria a planta pelas frutas que

ela daria, e sim para fazer sombra no pátio onde tem um canil para quatro cachorros. Segundo ele, no verão os bichos sofriam muito com o sol, então encontrou no parreiral uma boa solução para o problema. O melhor é que, mesmo sem esperar, o parreiral sempre dá muitas uvas. O cachorro Zeus, um rotweiller, é o que mais se beneficia com a boa ideia de seu dono – claro, além da paisagem, que fica muito mais bonita.

A cultura preservada nos sótãos e porões Caxias do Sul: a soma de folclore, de pratos típicos, da convivência harmônica de técnicas artesanais com tecnologia de ponta e a hospitalidade ítalo-gaúcha. Esses aspectos se encontram nas antigas casas que ainda preservam sótãos e porões como territórios para guardar as lembranças e os costumes ainda mantidos. No distrito de Fazenda Souza, que une a cultura campeira com a dos imigrantes italianos, algumas moradias como a de Waldemar Bascheira, 83 anos, mantêm esse aspecto arquitetônico que é um traço singular da cultura: ter nos espaços subterrâneos e superiores da casa o local de conservação de alimentos que fazem parte do cotidiano rural e, com eles, boas histórias para contar.

Janela: Há quanto tempo o senhor reside em Fazenda Souza? Bascheira: Eu moro aqui há mais de 75 anos, essa casa era dos meus pais, logo depois casei e reformei a casa e formei minha família aqui. Tenho seis filhos, mas um veio a falecer muito jovem. Janela: Quem mora com o senhor hoje? Bascheira: Nesta casa só moro eu, pois minha esposa faleceu há cinco meses, mas tenho meu filho mais velho, a esposa e o neto, de 22 anos, como vizinhos. Janela: As tradições de seus pais são seguidas nos dias de hoje? Bascheira: Sim, com menos intensidade, mas ainda temos o costume de fazer o próprio vinho, o vinagre que guardamos nos garrafões, secar

amendoim e feijão no sótão, fazer a própria marmelada e pão no forno à lenha. Janela: Cite uma das lembranças boas da infância que sempre vêm à mente? Bascheira: Lembro que gostava muito de pegar a funda e sair no meio do mato para caçar passarinho e também quando trançava as cestas de vime no sótão da minha casa. Janela: O que o senhor guarda no porão da sua casa? Bascheira: Hoje tenho alguns garrafões de vinho e vinagre, cestos de vime para colher uva, ferramentas(balança, tesoura, enxadas, pás...). Guardo a banha de porcos que serve como alimento, seco salames e tenho um pequeno tratorzinho. Costumes que ainda permanecem aqui em casa.


4 Arte e patrimônio

Espaços destinados à arte na Capital N

As edificações são testemunhas de acontecimentos históricos e culturais de uma cidade. Cax transformados em espaços destinados à cultura, monumentos de resistência em meio a u “Apesar da mobilização de alguns setores da comunidade caxiense, nas quatro últimas décadas do século XX, muitos prédios de valor histórico e cultural foram demolidos. Antigas residências, templos, cinemas, prédios industriais... referências da cidade perderam-se e com elas um pouco da identidade local.” Mirante – Caderno do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami

Estação Férrea Foi inaugurada, em 1910, para ser a estação do trem que ligava Caxias à capital Porto Alegre. No pavimento térreo ficavam as salas de espera, encomendas, telégrafo, bagagens e guichê de bilheteria. No andar superior, ficava a residência do chefe da estação. O prédio fica no centro de um grupo de quatro construções históricas que compõem o chamado Largo da Estação Férrea – além da Estação de Passageiros, tem a Casa do Administrador, o Depósi-

to de Cargas e o Depósito de Locomotivas. As construções formam um único conjunto arquitetônico, com grande valor histórico. O antigo prédio da Estação de passageiros abriga a sede da Secretaria Municipal da Cultura e o antigo depósito de cargas foi transformado num espaço alternativo para a realização de oficinas, ensaios e apresentações de dança, teatro e música, com palco e poltronas para cerca de 120 pessoas.

Casa da Cultura A Casa da Cultura, inaugurada em 23 de outubro de 1982, abriga o Teatro, a Galeria de Arte e a Biblioteca Municipal. Posteriormente, recebeu a denominação oficial de Casa da Cultura Percy Vargas de Abreu e Lima, em homenagem ao ilustre cidadão caxiense. Ao longo dos anos, a Casa da Cultura mostrou ser o principal suporte cultural de Caxias e da região, abrigando, desde o iní-

Centro Municipal de Cultura D cio, momentos das artes em suas mais diversas manifestações. Com o desgaste natural de uma casa de espetáculos, associado à necessidade de modernizar os equipamentos, o Teatro Municipal passou por uma reforma em 1999. Em 2004, foi ampliada para instalar a Galeria Municipal de Arte, com espaço amplo e moderno. Atualmente, a Casa da Cultura tem capacidade total de 402 lugares entre plateia e mezanino.

Instalada em Caxias em 1910, a Cantina Antunes teve uma trajetória complexa. Desenvolveu várias atividades em diversos prédios. Explorando inicialmente o comércio de vinhos e de produtos suínos, mais tarde começou a produzir seus próprios produtos. Entre 1930 e 1950, o empreendimento teve seu apogeu. Nos anos que seguiram a empresa enfrentou uma crise que causou o encerramento de suas atividades em 1980.Inaugurado em 2001, o Centro Municipal de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho é um amplo espaço totalmente destinado a promover a cultura. Teatro, dança, cinema e artes plásticas são algumas das manifestações artísticas que


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Nacional da Cultura

xias do Sul, município fundado por imigrantes italianos, tem alguns desses cenários de época um cenário em que muito pouco se preservou. A seguir, um breve relato sobre alguns deles Fotos: Divulgação

Dr. Henrique Ordovás Filho fazem parte do complexo. Oferece Sala de Cinema, Salão de Artes, Sala de Exposições de artes plásticas, salas para oficinas, Memorial da Cantina Antunes, Zarabatana café-bar e o Tele Centro com acesso gratuito à internet. Ainda nas dependências do Centro funcionam o Acervo Municipal de Artes Plásticas (Amarp), a Unidade de Música, a Unidade de Teatro, a Cia. de Dança, a Escola Preparatória de Dança e a Academia Caxiense de Letras.

Museu Municipal de Caxias do Sul O prédio foi a residência da família Morandi-Otolini, no final de 1880. Naquela época, a construção de alvenaria e cal de dois pavimentos se destacou em meio às predominantes casas de madeira. Em 1894, foi a leilão e arrematado pelo poder público. Abrigou a Guarda Municipal e a DP. Em 1913, agregou o funcionamento da Escola Complementar. Em 1919, recebeu a administração pública, então denominada Intendência Municipal. Sediou a prefeitura municipal até 1974. A histórica edificação da Visconde de Pelotas foi destinada à revitalização do Museu Municipal. Atualmente, cerca de 11 mil peças compõem

o acervo – exposto ou armazenado na reserva técnica –exclusivamente obtidas por meio de doação. A exposição de longa duração está distribuída em seis salas. As peças e objetos são testemunhos materiais que permitem o reconhecimento da cultura. O Museu dispõe, ainda, de sala para exposições de curta duração e/ou eventos. Integrado pelo pátio interno, o prédio anexo abriga: reserva e processamento técnico do acervo, biblioteca de apoio e atividades de educação patrimonial, incluindo sala de projeção audiovisual que exibe documentários.

Casa de Pedra Os imigrantes europeus na região nordeste do Estado utilizaram madeira e pedra e criaram uma arquitetura diferenciada. Foi a moradia do imigrante italiano Giuseppe Lucchese, no final do século XIX, na então denominada nona légua de Caxias. A construção apresenta pedras assentadas e rejuntadas com barro, aberturas em pinho falquejado e janelas afixadas em tijolos artesanais. Pertenceu a Jacob Brunetta de 1913 a 1946, quando tornou-se propriedade de David Tomazzoni. Ao longo do tempo, em construções de madeira, outras atividades foram ali desenvolvidas,

como abatedouro de suínos, armazém, ferraria e outros. Com a expansão urbana naquela região, especialmente dos bairros São José e Santa Catarina, a antiga edificação estava ameaçada. Em 1974, aproximando-se o centenário da imigração italiana no Rio Grande do Sul, o Município de Caxias do Sul negociou com a família Tomazzoni. Tornou-se proprietário da área e instalou o Museu Casa de Pedra, inaugurado em 14 de fevereiro de 1975, durante a Festa da Uva. Desde então, é um espaço de referência para a comunidade e para os visitantes.


Criatividade

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Arquitetura responsável

A reutilização de materiais de demolição na construção é um tema que mescla modernidade e consciência ambiental. A arquiteta Jéssica de Carli, formada pela UCS em 2005, já é conhecida por projetos que valorizam a sustentabilidade como protesto ambiental. Sou vegetariana há oito anos e sei que isso não vai mudar o problema ambiental, porém serve de aviso às pessoas da minha convivência. Se cada um de nós fizer sua parte, teremos um mundo melhor e mais saudável.

Fotos Divulgação Boteco 13

Janela: Conte um pouco sobre sua carreira profissional e como tudo começou. Jéssica de Carli: Durante a época da faculdade, fiz vários estágios não remunerados em alguns escritórios de Arquitetura. Isso foi fundamental pelo fato de adquirir experiência prática daquilo que estudava na universidade. Sendo assim, quando me formei, senti plena segurança em ter um escritório próprio. Janela: Como surgiu a ideia de trabalhar com a reutilização de materiais de demolição? Jéssica: Na realidade, sempre fui uma pessoa muito ligada às questões ambientais. E a reutilização de matérias-primas faz parte dessa consciência pessoal. Não acredito mais em uma boa arquitetura desconectada do valor do patrimônio natural. O mundo atual necessita que sejamos mais conscientes das escolhas que fazemos no nosso

dia a dia. E como arquiteta, posso fazer isso nas minhas obras, desde a reutilização da água da chuva, captação de energia solar, utilização de materiais de demolição como tijolos, madeiras, azulejos, móveis antigos que tenham uma história... Janela: Qual a sua relação com o cliente sobre reutilização de materiais? A proposta surge de você ou dele? Jéssica: Normalmente a proposta parte de mim. Porém, muitas pessoas já estão informadas e buscando essa valorização ambiental. A imprensa atual faz um papel importante de conscientização. Como já tenho muitas obras de referência nesse campo, os clientes já me escolhem, muitas vezes, por esse motivo específico. Janela: Ligando a sustentabilidade a seu trabalho, qual a contribuição para o meio ambiente? Jéssica: A contribuição vem de duas formas: uma palpável mesmo, que é a contribuição da reutilização física dos materiais. E a segunda, e que considero a mais importante, é o fato de poder fazer uma discussão crítica sobre esse assunto tão importante. Só o fato de você estar abordando este assunto em um trabalho acadêmico é maravilhoso. Só por curiosidade, na minha vida pessoal também adquiri hábitos que servem

Janela: Como você vê essa mudança de conceito, quebrando a tradição de decorar e montar um ambiente com móveis novos e utilizar materiais “velhos” e usados? Jéssica: Essa mudança não será mais uma escolha daqui a alguns anos, será obrigatório sermos mais conscientes no nosso dia a dia, e não só na área da Arquitetura. Esse paradigma de que a reutilização de materiais que necessariamente sejam velhos e usados é um preconceito. Na realidade, muitas indústrias do setor moveleiro investem muito em móveis novos, que no seu processo de fabricação utilizam energias renováveis e “limpas”. No setor da construção civil também se começa a pensar em alternativas mais conscientes no canteiro de obras. O que é preciso que se entenda é que o cliente pode ter um espaço moderno, contemporâneo ou clássico utilizando esses materiais. Não existem regras fixas, existe sim criatividade e vontade de fazer um projeto interessante, funcional, estético, que valorize o patrimônio principal: nosso ambiente natural. Jéssica tem escritório no Moinho da Estação (Rua Coronel Flores, 810/sala 301 – São Pelegrino, Caxias do Sul).


7 Cultura

Por que Galópolis? Um bairro distante do Centro de Caxias, Galópolis também parece distanciada na vida cultural Fotos: Divulgação

Enquanto a preservação ambiental e do patrimônio ainda é um desafio na área urbana, o bairro se torna um destino interessante, desde o charme da Vila dos Tecelões a iniciativas comunitárias, como o churrasco coletivo que acontece periodicamente na praça. O Janela conversou com o empresário Sidnei Roberto Canuto, 46 anos, um entusiasmado morador de Galópolis. Janela: Quais os principais atrativos de Galópolis? Sidnei Roberto Canuto: A praça, típica de uma vila do interior; a igreja, com seus vitrais magníficos e a torre que sustenta a imagem de Nossa Senhora de Pompeia; a Vila dos Tecelões, com suas casas em estilo inglês; a cascata Véu de Noiva, avistada por quem passa pela BR 116 e o Morro da Cruz. Visitar o interior do bairro, conhecer a Quarta-Légua, São Francisco, São Brás... Janela: Os jovens são bastante atuantes na comunidade. Quais as principais iniciativas que promovem? Canuto: Ações isoladas, como as realizadas pelo grupo Matéria Prima (que busca alternativas de lazer ao bairro), revelam os ideais de alguns dedicados e persistentes jovens, que promoveram mostras fotográficas, peças de teatro no salão paroquial, sessões de cinema, sarau gaudério. Louvável também é a ação da Escola de Ensino Fundamental Ismael Chaves Barcellos, que promoveu a Feira do Livro na Semana de Galópolis. Janela: O que muda da época em que o senhor era criança? Canuto: Os tempos são outros, muitas coisas mudaram, algumas não existem mais. Falta mais vida social e cultural. Por décadas, o

Vila dos Tecelões, tradicional ponto turístico do bairro Lanifício despejou seus efluentes no arroio Pinhal. A Cootegal, fundada em 1999, passou a tratar seus efluentes logo em seguida, quando entrou em funcionamento sua Estação de Tratamento de Efluentes. Também algumas atitudes voltadas para o consumo controlado de água, evitando ao máximo o desperdício. Adoção de medidas que visem à não poluição dos recursos hídricos, como o arroio Pinhal que, por incrível que pareça, voltou a ter peixes.

Percebe-se aqui no bairro uma melhora siginificativa na conscientização das pessoas na separação do lixo doméstico (seletivo e orgânico) e atitudes pessoais e empresarias voltadas para a reciclagem de resíduos sólidos. Essa ação, além de gerar renda para muita gente, diminui a quantidade de lixo no solo. Não se percebe a exploração dos recursos vegetais, das matas de forma descontrolada. Há uma forte evidência da preservação das áreas verdes.

Janela: Fale um pouco sobre a cultura de Galópolis com relação à preservação da natureza. Canuto: Galópolis ainda tem muita mata nativa onde se respira ar sem poluição, as pessoas são hospitaleiras e todos se conhecem. É um lugar diferente, acolhedor, belo e singelo. A praça central, em frente à Igreja, é onde as pessoas se encontram nos dias de sol para um chimarrão, uma cerveja, um churrasco coletivo, e as crianças brincam no parquinho.

Arroio Pinhal voltou a ter peixes


8 Mercado imobiliário

Cidade em transformação A típica moradia de italianos cede ao estilo urbano de viver O mercado imobiliário vem sofrendo mudanças nos últimos anos, como pode ser facilmente visto na “geografia” da cidade. Antigamente, as pessoas buscavam casas amplas com pátio grande, ou apartamentos em que a cozinha ainda era um grande local de convívio. No entanto, o crescimento de Caxias do Sul acompanha a evolução dos grandes centros urbanos e o tão sonhado local para morar mudou. Para Alan Otávio Quadros da Silva, corretor e sócio-proprietário da Áhtual Imóveis, os espaços compactos estão em alta. As pessoas passam menos tempo dentro de casa devido às exigências do mercado de trabalho. Manter uma residência nos moldes antigos, cuidando do jardim, requer um tempo do qual os trabalhadores não dispõem. A cultura habitacional da região foi se ambientando às evoluções na mesma proporção do crescimento e importância que a cidade vem adquirindo ao longo do tempo. O crescimento industrial da região atrai pessoas de todo o Rio Grande do Sul e também de fora todos os dias, todos em busca de oportunidades de emprego que a cidade oferece e o sonho de uma vida melhor. Todo esse cenário acarretou, nos últimos anos, um crescimento enorme da construção civil. A Secretaria de Urbanismo já autorizou em 2010 a construção de 58,48% metros quadrados a mais que em 2009, exatamente pelo estatus adquirido pelo município e os investimentos do governo para construção de novas moradias. Segundo Alan Quadros, as construções de imóveis compactos geram novas preocupações: “Agora, as pessoas buscam qualidade no acabamento da construção, como me disse um cliente certo dia. Pequeno sim, mal-acabado não.” Mesmo assim, algumas construtoras acabam visando ao lucro e produzindo imóveis de má qualidade, em termos de acabamento e limpeza. Outras empresas adotaram gestões de qualidade e, com isso, oferecem um produto melhor ao cliente. Outro fator importante na era dos

Fotos Divulgação

“Um imóvel de 65 m² bem dividido aparenta ter de 70 a 75 m², dando ao cliente um conforto bem-estimado.” imóveis compactos é a gestão de espaço e divisão da área construída. “Um imóvel de 65 m² bem dividido aparenta ter de 70 a 75 m², dando para seu cliente um conforto bem-estimado”, destaca. Essa cultura deve ganhar força nos próximos anos, afinal, a facilidade para compra da casa pró-

pria está cada vez maior, seja por financiamentos longos ou pelo grande incentivo dado pelo governo à população, ou até mesmo pela “falta de espaços” para a construção de moradias nas grandes cidades. A única certeza é de que o mercado imobiliário tende a crescer e muito nos próximos anos.


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