Expressão - Ano 17 N 36

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Expediente Caxias do Sul municação Universidade de do curso de Co rio tó ra bo La ast Expressão Revi 36 - 2011/02 Ano 17, número ro Zorzi Reitor: Prof Isido che . José Carlos Kö of Pr r: Vice-Reito tonio Kuiava An o i ald Ev êmico: ofa. Marliva Vant Pró-Reitor Acad Comunicação: Pr da as ci ên Ci ro de Diretora do Cent es varo Benevenutto alv Gonç rnalismo: Prof. Al Jo de o rs Cu Coordenador do a. lene ratório: Prof Mar Júnior rimental III - Labo pe Ex o et oj Pr Disciplina de i Branca Sólio e Francine Ghigg i, : Rafael Poletto Nascimento Ghigg do e cin Projeto Gráfico an Fr s, ide ist Ar lo ce de ton Mar Josiane Reportagem: El stos Stecanella, nine Aparecida Ba Ja e, Rafael er , ell iro be Gh a Ri Daros Gabriel ari Pavan, Rafaela sm Sabrina Jo , a, iro zz be ea Ri dr a An Almeid , Ronei Diogo to let Po el fa Ra Fagundes Brand, iorin gner Adilio Espe Hoffmann Reis, Va igo Dedecek

Foto da Capa: Gu

ca da UCS Impressão: Gráfi Caxias do Sul Universidade de túlio Vargas, 1130 Rua Francisco Ge Bloco T - CETEL Caixa Postal 1352 Cep: 95070-560 Caxias do Sul - RS 2587 Fone: (54) 3218

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O tempo deixa marcas, sinais percebidos nas ruas, nos prédios, nos rostos das pessoas. Mas paradoxalmente à concretude de suas consequências, nada

Marcas

Roberta da Silva

Editorial

do Tempo

pode ser mais abstrato do que o tempo. Passado e futuro são simples projeções, da realidade, apenas o presente. A História, porém, nos conta que o presente de outros momentos tem influência significativa sobre as mudanças da atualidade. Da técnica à cultura; da arte à psicanálise; da se-

Índice

xualidade à fisioterapia; nada parece ficar imune às transformações impostas pela marcação do relógio. Aliás, nessa época pós-moderna, o relógio parece andar mais rápido do que nunca. Tendências na moda e o desenvolvimento nas ciências modificam a realidade a toda hora. Algumas profissões, antes populares, por exemplo, tornaram-se raras. As antigas costureiras cederam lugar aos antenados estilistas. Os sapateiros, antes encontrados aos montes, hoje

Antigo

dificilmente são vistos. Na ciência, as energias poluidoras saíram de moda. Fontes energéticas limpas e capazes de manter a saúde ambiental são o alvo nos principais países do

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mundo. Se, do ponto de vista social, lidar com temas ambientais se tornou necessário, no aspecto pessoal, problemas psicológicos parecem atingir um número cada vez maior de pessoas. Mas o tempo não trouxe apenas problemas. Ele demonstrou que preconceitos, e tabus antigos precisam ser extintos. O fim à discriminação aos homossexuais ainda encontra resistência, mas os avanços são inegáveis. E quando o assunto é avanço, fica impossível não tratar do desenvolvimento do cinema e da imagem. A sétima arte se transformou drasticamente com as

Moderno 28 a 37

décadas, e os sistemas tecnológicos de projeção em 3D aos poucos se popularizam. Paralelamente a isso, os enredos cinematográficos abusam da ficção como se quisessem prever o futuro; artistas e diretores brincam de ser Deus. E no mundo de brincadeiras, aquele da diversão ingênua, a tecnologia tomou o lugar dos tradicionais artigos de madeira, pano e corda, presentes na infância de muitas gerações. Mas longe de qualquer brincadeira, o que mais assusta no tempo é a sua capacidade de modificar tudo a todo instante. O tempo que espera pelo nascimento

Pós-Moderno 38 a 50

é o mesmo que espera pelo fim, e nem mesmo a morte fica imune à tecnologia.

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A


MARI HOFFMANN

Antigo A história é uma forma de a humanidade analisar o passado, polir seus acontecimentos e transformá-los de realidade em narração. “Visitar” o passado é uma forma de entender o presente, glorificar nossas conquistas, verificar nossos erros e, assim, quem sabe, consertar nossas falhas.


Profissões antigass

A moda so Grandes marcas, croquis, modelos magérrimas, roupas extravagantes e desfiles imponentes que revelam as novas tendências da próxima estação. O universo da moda está, cada vez mais, sob os holofotes. Nessa mesma área, os tradicionais alfaiates, sapateiros e costureiras, onde os avós mandavam fazer as roupas e calçados que compunham o vestuário, estão virando raridade Por Francine Ghiggi Janine Stecanella

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mundo da moda é cercado de glamour e de prestígio. Mesmo com toda visibilidade, há profissões que trabalham neste ramo e que estão virando raridade. É o caso do alfaiate Celeste Marinello. Aos 77 anos, 57 dos quais dedicados à profissão, ele afirma que a procura por seus serviços nem se compara com a de tempos atrás. Antigamente, as pessoas que moravam no interior iam para a cidade comprar os tecidos e levavam para as costureiras e os alfaiates. “Era muita coisa. Para dar conta eu che­guei a ter quatro ou cinco ajudantes”, relembra. Com a popularização das lojas, a demanda diminuiu. Há pessoas que ainda buscam rou­ pas sob medida. Segundo o alfaiate, nem todos conseguem encontrar uma vestimenta que lhes sirva ou que fique bem. Algumas vezes, as medidas fogem do padrão. “Atendi um homem há pouco cuja cir-

cunferência chegou a 1,57m. Onde ele iria encontrar um terno que servisse? Seria muito difícil”, comenta. Nascido em Veranópolis, trabalhou por dois anos de graça com um tio de sua mãe, no município de Cotiporã. A escolha da carreira veio porque tinha problemas de saúde e não podia trabalhar na roça. Aprendeu e se apaixonou pelo ofício. “Sempre adorei. É uma coisa de que gosto muito”, declara Marinello, sorridente. Por 12 anos foi chefe de seção em uma fábrica que montava em torno de 1.200 peças por dia. Entre os produtos estavam calças, camisas e jaquetas. Para o alfaiate, foi um momento de muito aprendizado. “Tinha que estar pronto para o que viesse. Foi uma grande escola”, recorda. De quando iniciou a carreira aos nossos dias não houve muitas mudanças na forma de trabalhar. De acordo com Marinello, a principal ferramenta foram os moldes. Antes todas as medidas eram feitas com o metro. “Claro que para calça, por exemplo, precisamos tirar as medidas individualmente, mas as modelagens prontas facilitam o trabalho”, explica. Os anos de ex-

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ob medida Ele acredita que está na hora de parar, mas não consegue negar quando alguém o procura. Além de ternos completos, realiza alguns consertos nas roupas. “Não gosto de ir em bar e essas coisas. O que vou ficar fazendo parado?”, salienta. A profissão virou um passatempo.

De hobby a profissão A costura sempre foi uma paixão de Juliana Maria Carteri, 37 anos. Na infância, ela costumava confeccionar as roupinhas de suas bonecas. Na adolescência, fazia algumas de suas rou­ pas e depois passou a costurar peças para as amigas. A vida profissional trocou de ramo e a moda ficou como lazer. Uma das lembranças de suas primeiras criações foi a vez em que ga-nhou uma boneca da vizinha. Como corpinho dela tinha alguns defeitos, Juliana resolveu refazê-lo de pano. Missão cumprida, faltava o figurino. “Minha mãe havia tirado as cortinas de renda para lavar e precisou sair. Quando ela voltou eu tinha cortado toda a cortina e feito um vestido para a boneca. Ficou lindo”, lembra. Tecnóloga em móveis, pós-graduada em Design de Produto, Juliana tra­ balhou durante alguns anos na área da metalurgia. Há cerca de cinco anos decidiu mudar de rumo e o que era apenas um passatempo se transformou em atividade profissional.

atividade. “Desenvolvi minha própria técnica de corte e costura”, explica. Ela ainda alia outras habilidades no desenvolvimento das roupas. “Gosto de coisas artesanais, como pintura, bordados, tricô e crochê, e aproveito isso para aplicar nas peças”, acrescenta.

FOTO FLORA SIMON DA SILVA

periência refinaram seu olhar. “De longe, percebo se a roupa está bem cortada e a modelagem correta”, afirma. Na rua ou em festas ele fica atento aos ternos, automaticamente.

“Não basta gostar de fazer, é preciso aptidão”, sentencia a designer. Juliana pretende fazer um curso para aprimorar o desenho. “Não que tenha sido algo que atrapalhe o desenvolvimento do meu trabalho, mas quero poder melhorar”, acredita. Os mo­ delos de festa são suas principais criações, incluindo vestidos de noiva. Em tempos de comprar pronto, o ateliê de costura Julia Maria cresceu rapidamente. “Mesmo sendo recente, tenho uma clientela fiel”, afirma a costureira, segundo quem “existem pessoas que têm receio de mandar fazer a roupa e que não fique como planejado”. Para que isso não aconteça, ela tem a preocupação de conversar com a cliente, entender exatamente a expectativa e sugerir as mudanças necessárias, deixando abertura para modificações durante o processo. Para a designer, é importante mostrar o que ficaria melhor e mais adequado ao perfil da cliente. A maneira como cada uma sonha com a peça é levada em conta. “Se não tivéssemos estilos e gostos diferentes faríamos uniformes”, ressalta. Além das peças sob encomenda, estão disponíveis roupas para aluguel.

Juliana não fez curso referente à atual

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FOTO EDSON CORRÊA

Profissões antigas

Uma vida dedicada aos

calçados

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ão se pode negar que a tecnologia é a grande aliada do homem no século XXI. Depois da Revolução Industrial que teve início no século XVIII, na Inglaterra, o processo de produção evoluiu cada vez mais. Não somente pela substituição do homem pela máquina, como também pelo aperfeiçoamento de quem a produz. Serviços manuais são quase inexistentes, uma vez que existem máquinas segmentadas para cada necessidade industrial ou doméstica. Nessa realidade, profissões tradicionais vêm perdendo espaço. Muitas nem mesmo se renovam e acabam desaparecendo. Benjamin Nodari tem 75 anos, 35 deles trabalhando como sapateiro. Ele conta que começou em uma fabriqueta porque não existia outra opção de trabalho na região onde morava, em Antônio Prado. E com o passar dos anos, transformou a necessidade de sustento em profissão. Ele conta que no iníco apredeu a trabalhar com calçados individualmente. Por etapas. Primeiro descobriu como

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se faz chinelos. Em seguida sapatos e tênis. A cada nova tarefa cumprida, um novo calçado estava pronto. Depois disso, eram os consertos. Uma profissão aprendida em primeiro lugar com o olhar e em seguida na prática. Prática que mesmo aos 75 anos mantém, hoje, como hobby e necessidade de quem preza pelo conserto de sapatos. Diferetemente do que se pensa, a procura ainda é grande, para o número pequeno de sapatareios que existem hoje. Passados 35 anos trabalhando com sapatos de todos os tipos como os tênis, os chinelos e as botas, passando por bolsas e cintos, Nodari não pretende parar. “Enquanto eu tiver força para trabalhar, eu vou continuar”. Sua rotina é como a de qualquer outro trabalhador. São cerca de oito horas por dia com intervalo para o almoço. “Se eu não fizer, que faz?” questiona. Não apenas porque se tornou uma referência em conserto de sapatos, bolsas e cintos, mas também porque os sapateiros estão desaparecendo. Os

antigos falecem. Novos, não surgem. Perguntado sobre o que acha do futuro de sua profissão, o sapateiro é rápido em responder: “Acho que vai acabar. Não existe interesse dos jovens em aprender, principalmente porque não é algo rentável”. Ele lamenta a situação e acredita que, quando isso acontecer, os sapateiros farão falta. A procura pelo serviço de conserto de sapatos, bolsas e cintos ainda é grande. Isso explica as oito horas diárias de trabalho de Nodari. “Existem casos que é mais fácil comprar um sapato novo, mas cada um tem um motivo para manter aquilo que já tem”. Entre esses motivos, existe o apego pelo calçado ou pela bolsa, o tempo de uso ou a falta de condições financeiras. Realidades que acabam parando na porta de um dos poucos sapateiros da cidade. Benjamin Nodari é um dos poucos exemplos de profissional que nossos filhos ou netos podem não conhecer, mas mesmo sabendo desse futuro, faz sua parte para manter algo que é parte de sua vida: o ofício de sapateiro.


Profissões Antigas

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arte de fazer doces FOTO SXC.HU

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empre que se pensa em festa a primeira coisa que vem à cabeça é bolo, docinhos e todas essas delícias. Uma atração a parte de qualquer comemoração, os doces e todas as guloseimas com açúcar fazem sucesso entre os convidados de qualquer idade: de criança, adultos e idosos. Embora muitas empresas já tenham se especializado na produção industrial de doces e bolos, consumidos em todos os tipos de comemorações, ainda existe uma procurar muito grande pelas confeitarias artesanais. Cassiano Bertin tem 24 anos e trabalha com a mãe, Maria Helena Bertin, de 54 anos, na Confeitaria Helena. O negócio da família tem 25 anos de tradição no ramo. Para Cassiano, crescer em meio a confeitaria, e junto com ela, já que ambos têm praticamente a mesma idade, foi fundamental para estimular seu interesse em seguir a profissão da mãe. Ele acredita que o principal diferencial para da confeitaria continuar atendendo muitos clientes é oferecer um produto clássico e de qualidade. Para o jovem, a industrialização da produção de doces não é um problema para os confeiteiros. Cassiano acredita que a profissão não deve acabar nos próximos anos, principalmente porque existem cursos (particulares e públicos) para confeitaria que estimulam o interesse de novos profissionais. Para ele a grande diferença é que as pessoas continuam querendo um produto clássico.

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Cinema

O futuro

revisitado Por Vagner A. Espeiorin Janine Stecanella

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arros que voam, máquinas que teletransportam pessoas, catástrofes naturais devastadoras. As telas dos cinemas, não raro, estampam filmes que buscam prever o futuro da humanidade. Colocadas sob o guarda-chuva da ficção científica, as obras ilustram um cenário de grandes transformações urbanas e tecnológicas. Como o presente é resultado do passado, o futuro retratado pelos filmes se apoia nas tendências do momento. Para o jornalista e roteirista, Nivaldo Pereira, essa característica é emblemática no cinema. Segundo ele, o presente exerce significativa influência nos filmes futuristas. “O cinema, graças à junção de imagem, movimento e som e na projeção do real, é uma ‘fábrica de sonhos’. É, talvez, a arte que melhor forma dá aos sonhos No entanto, como qualquer outra forma de arte, o cinema trabalha com material simbólico do presente. Todo filme, mesmo a ficção científica

mais radical, fala dos valores de seu momento histórico de produção.”

filmes, parece atender a uma vontade humana de controle e satisfação.

Os filmes de ficção, no entanto, mexem com as sensações dos espectadores e geram neles expectativas com relação aos tempos que se aproximam. Tecnologias, por exemplo, dominam o imaginário cinematográfico. Em Inteligência Artificial, o diretor Steven Spielberg, projeta uma família do futuro. Nela, o filho é um robô programado com sentimentos para amar seus pais. O resultado, no final, é desastroso. A criança-robô passa a desenvolver uma paixão verdadeira pelos pais, especialmente pela mãe. Não preparados para essa forma de amor, eles repudiam o robô e o abandonam numa floresta. O filme, além de uma projeção futurista, reflete sobre sentimentos universais e que não se perdem independentemente de época.

Segundo Pereira, o imaginário social é remexido por filmes que tentam retratar o futuro, mas nem sempre o previsto se concretiza. “No nível do imaginário, o cinema pode ajudar a construir imagens coletivas de futuro. Numa mão dupla, ao mesmo tempo em que formata no presente uma idéia de futuro, o cinema gera uma expectativa real pela sua ficção, ou tendências de imaginários. A história, contudo, tem um fluxo distinto de manifestação.”

Ainda em “Inteligência Artificial”, pessoas são substituídas por máquinas. Atividades que demandam força são realizadas por robôs. O futuro, nos

Por mais que se tente, nenhum filme conseguiu acertar todas as previsões sobre o futuro. Carros ainda não voam, o trabalho de casa ainda é realizado por humanos e os alienígenas sequer deram sinais de que pudessem baixar pela Terra aqui. Resta, porém, uma contínua busca por projetar o futuro. Está aí uma inquietação humana que não descansa. Tentar descobrir o que nos espera no futuro. FOTO CLÁUDIA VELHO

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O cinema além do t em p o

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s ficções científicas apresentam cada vez mais tecnologias capazes de criar um cenário real, mas que de fato não passam de computação gráfica. Os avanços dos últimos anos demonstram o poderio da indústria cinematográfica. Uma produção de alto nível custa, hoje, milhões. E não é por causa do orçamento que a quantidade de filmes em cartaz diminui. Toda semana estreiam mundialmente várias obras.

custou cerca 70 milhões de dólares, mas a arrecadação com bilheteria não alcançou os 22 milhões. Resultado: o diretor Roger Christian foi banido dos grandes estúdios. No lado oposto, “Pequena Miss Sunshine” custou 8 milhões de dólares, orçamento considerado baixo para os padrões americanos. O enredo original garantiu boa bilheteria e rendeu ainda dois Oscars, além de reconhecimento da crítica.

de se fazer uma produção audiovisual. Em outras questões, atualmente quase tudo é cópia da cópia da cópia. A maioria das grandes ideias já foi filmada. O esqueleto está lá o que muda é o roteiro”.

Segundo o cinéfilo e produtor audiovisual, Pedro Nora Ferreira, a qualidade tecnológica auxiliou na criação de novos filmes, porém o que ainda se observa são filmes com pouca originalidade. “Acho que a grande evolução é tecnológica. Hoje, com o equipamento digital está mais fácil

Blade Runner

Minority Report

Matrix

Washington, 2054. O assassinato foi banido, pois há a divisão pré-crime, um setor da polícia onde o futuro é visualizado através de paranormais, os precogs, e o culpado é punido antes do crime ter sido cometido. Quando os três precogs, que só trabalham juntos e flutuam conectados em um tanque de fluido nutriente, têm uma visão, o nome da vítima aparece escrito em uma pequena esfera e em outra esfera está o nome do culpado. Também surgem imagens do crime e a hora exata em que acontecerá. Estas informações são fornecidas para uma elite de policiais, que tentam descobrir onde será o assassinato, mas há um dilema: se alguém é preso antes de cometer o crime, pode esta pessoa ser acusada de assassinato, pois o que motivou sua prisão nunca aconteceu?

Em um futuro próximo, Thomas Anderson, um jovem programador de computador que mora em um cubículo escuro, é atormentado por estranhos pesadelos nos quais encontrase conectado por cabos e contra sua vontade, em um imenso sistema de computadores do futuro. À medida que o sonho se repete, Anderson começa a ter dúvidas sobre a realidade. Por meio do encontro com os misteriosos Morpheus e Trinity, Thomas descobre que é, assim como outras pessoas, vítima do Matrix, um sistema inteligente e artificial que manipula a mente das pessoas, criando a ilusão de um mundo real enquanto usa os cérebros e corpos dos indivíduos para produzir energia. Morpheus, entretanto, está convencido de que Thomas é Neo, o aguardado messias capaz de enfrentar o Matrix e conduzir as pessoas de volta à realidade e à liberdade.

FOTOS DIVULGAÇÃOÇÃo

Nem sempre, porém, os investimentos significam qualidade e bilheteria. O filme “A reconquista” é um exemplo disso. A história se passa no ano 3000, quando a Terra está dominada por alienígenas. A obra, com um enredo clássico para as ficções científicas,

O cinema prova que além de um grande investimento, o mais importante são as ideias. Para o produtor, a qualidade de uma obra depende mais da capacidade dos realizadores em criarem boas produções. “Tem gente que nem com todo dinheiro do mundo consegue fazer um bom filme em contrapartida há diretores que com pouco fazem muito. Assim como tem gente que faz muito com muito e pouco com pouco. A questão mesmo é ter uma boa ideia”.

No início do século XXI, uma grande corporação desenvolve um robô que é mais forte e ágil que o ser humano e se equiparando em inteligência. São conhecidos como replicantes e utilizados como escravos na colonização e exploração de outros planetas. Mas, quando um grupo dos robôs mais evoluídos provoca um motim, em uma colônia fora da Terra, este incidente faz os replicantes serem considerados ilegais, sob pena de morte. A partir de então, policiais de um esquadrão de elite, conhecidos como Blade Runner, têm ordem de atirar para matar em replicantes encontrados na Terra, mas tal ato não é chamado de execução e sim de remoção. Até que, em novembro de 2019, em Los Angeles, quando cinco replicantes chegam à Terra, um ex-Blade Runner é encarregado de caçá-los.

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Em cartaz

Luz, câm Matinês e sessões embaladas ao som do piano. Pessoas que tinham como único entretenimento as imagens projetadas. Pessoas recordam os primórdios do cinema em Bento Gonçalves e Caxias do Sul e relembram com carinho os bons momentos que passaram diante da telona. Em histórias que parecem ter sido vividas em preto-e-branco, um ponto comum: todos são apaixonados pela Sétima Arte

No escurinho do cinema, chupando drops de anis. Longe de qualquer problema, perto de um final feliz.” Hit nos anos 80, os versos da música Flagra, de Rita Lee, ilustram a dimensão do cinema na época. Com as crescentes facilidades tecnológicas, muitos abrem mão da imagem na telona e preferem não sair do conforto do sofá da sala. Mas, por muito tempo, a história foi bem diferente. Os cinemas de rua nas décadas de 50 e 60, por exemplo, eram extremamente populares entre a juventude e, para muitos, a única opção de lazer. Em Bento Gonçalves, a cada dia da semana era exibido um filme, com reprises programadas em dias que

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variavam conforme a casa. Eram conhecidos como cine-teatros, com a tela no fundo do palco coberta por uma cortina. No horário vespertino ocorriam as matinês, permitidas para os jovens sem acompanhamento dos pais. Aos domingos, por exemplo, as moças ganhavam um ingresso para o dia da dama. Também havia a noite dos namorados, com sessão depois da escola para que ninguém faltasse à aula para namorar. Bento chegou a ter quatro salas de cinema em funcionamento ao mesmo tempo: Cine Serrano, Cine Popular – posteriormente Marcopolo, Cine Aliança e Cine Ipiranga. Hoje são apenas duas: o Cine Marcopolo, que passou a ser no Shopping Bento, e o


FOTO GUIGO DEDECEK

mera, ação Por Francine Ghiggi Josiane Ribeiro Josmari Pavan

Movie Arte, no Shopping L’América. Porém, antes disso, houve tempo em que os bento-gonçalvenses sentavam-se diante da tela de projeção para assistir a películas sem som algum.

O menino do cinema Ele acompanhou de perto a construção do Cine Ipiranga em frente à casa onde morava e conta que, inclusive, ia brincar na obra. José Luis Marenzi, hoje com 66 anos, lembra das sessões de cinema em 1952, quando assistia às projeções ainda na parte de baixo da casa canônica Cristo Rei. Depois de inaugurado o cinema, virou uma espécie de office-boy. “Era

o menino do cinema”, lembra. Suas atividades incluíam buscar os rolos de filmes na rodoviária. “Esperava o ônibus chegar de Porto Alegre. Às vezes ia de bicicleta, outras vezes pegava carona com o ônibus que ia para Santa Tereza e parava próximo à igreja Cristo Rei. Os rolos eram pesados”, lembra. Encerrada a temporada, ele encaixotava os filmes e despachava para outras cidades. Juntamente com cada rolo vinha o material para a propaganda, utilizado na montagem dos cartazes, função que também passou a exercer.

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FOTO JOSMARI PAVAN

Silva ajusta os detalhes do filme para mais um sessão na sala Ulysses Geremia, onde trabalha há mais de 10 anos

O cinema recebia imagens do filme e o design escolhido para a escrita dos horários acompanhava o gênero. “Se era um filme sobre velocidade, as letras empregadas e a disposição das palavras davam a ideia de movimento”, explica. O cartaz era montado em um fundo de veludo protegido por um vidro. “As informações precisavam estar escritas num tamanho bom para ler de dentro de um automóvel passando na frente do local e não tão grandes a ponto de roubar a atenção do nome do filme”, explica. Como menino do cinema, Marenzi também recolhia tickets e selava os bilhetes. Como morava em frente ao Cine Ipiranga, o menino era encarregado de colocar os cartazes para fora e acender as luzes. “Era um interruptor grande, que às vezes soltava faíscas. No começo, morria de medo, mas depois perdi o medo da eletricidade. Quem sabe não foi por isso que virei engenheiro elétrico”, brinca. Ele exerceu as vezes de menino do cinema durante três ou quatro anos. Depois, saiu da ci-

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dade para estudar na Capital. Mesmo assim, continuou por dentro do mundo da Sétima Arte. Se não ia às sessões, com o advento do videocassete, gravava os filmes exibidos durante a madrugada para assistir durante o dia. Hoje, ele não é mais um menino, mas nem por isso deixou de ir ao cinema todas as semanas.

Da película à telona Jones Paulo Rodrigues da Silva, 58 anos, trabalha há mais de 30 anos com cinema. Não, ele não é diretor, produtor, roteirista nem ator, mas seu papel é fundamental. Ele é projecionista! O gosto pelo cinema surgiu ainda muito jovem. “Gostava de ir assistir à matinê. Era uma das únicas diversões que se tinha”, lembra. Na adolescência começou a trabalhar como ajudante de projecionista, rebobinando os filmes. “Fui aprendendo de tanto olhar”, comenta.

Silva acredita que enquanto os filmes forem em película seu trabalho está garantido. A mudança de carvão para lâmpadas xenon, segundo o projecionista, foi um dos principais avanços. “Ela deixa a projeção mais nítida na tela, o carvão precisava de mais cuidado porque ia deixando a imagem amarelada”, explica. Em Caxias do Sul ele trabalhou em três cinemas. Por dois anos no Ópera, no Imperial durante 15 anos e na sala de cinema Ulysses Geremia, que fica no Centro Municipal de Cultura Dr. Henrique Ordovás, desempenha a função desde que o cinema abriu, há cerca de 10 anos. O fim do cinema foi anunciado por muitos, mas, para Silva, o público que gosta de filme não deixa de ir ver. Ele lembra que “Dança com lobos”, drama de 1990 dirigido por Kevin Costner, ficou três meses sendo exibido, sempre com a casa cheia. “Tendo filme bom em cartaz tem público, caso contrário não”, enfatiza.


Fotografia

O registro da modernidade Negativo e digital, passado e presente se reúnem para contar histórias por meio da fotografia

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ecordar a vida, lembrar momentos que foram especiais ou marcantes, mas que não voltam mais. Para todas essas ações, um gesto: rever fotografias. Lá estão guardados os mais variados sentimentos. Com elas podemos recordar o que a memória já esqueceu. O avanço tecnológico aperfeiçoou. As câmeras tornarem-se digitais. A fotografia digital ganhou espaço a partir do século XXI e, cada vez mais, se consolida. Hoje, é permitido fotografar sem necessidade de revelação; contudo, essa é a maior preocupação dos fotógrafos. Para eles, é muito importante a revelação, pois assim é que se constroem lembranças no papel.

CLAUDIA VELHO

Apesar de toda a tecnologia e do surgimento de novos profissionais, é possível encontrar fotógrafos da primeira geração. Osvaldino Rodrigues de Castilhos, fotógrafo desde 1970, iniciou sua carreira em tempos analógicos, onde tudo era bem mais complicado. As fotos demoravam dias para ficar prontas, as possibilidades de manipulação eram bem

menores e não tinha como vê-las antes de estarem impressas. “Minha vida mudou completamente”, define Castilhos ao falar das novas tecnologias. A fotografia sempre esteve presente na vida dele. Teve estúdios fotográficos em vários pontos da cidade de Caxias do Sul e hoje está na Avenida Itália, bairro São Pelegrino. Ele diz que o local é ótimo e que ali fez sua clientela. Também especializado em filmagem, trabalha com eventos e fotos de documentação. Como todo bom fotógrafo, descreve a luz como “tudo” na fotografia. “Ela traz um bom planejamento, é fundamental”, descreve. Com um equipamento bastante simples, suas fotografias são todas coloridas, “não sou fã de pretoe - branco”, afirma o fotógrafo que não se assustaria se o analógico voltasse. “Cresci profissionalmente com ele, não gostaria, mas se vier a gente faz. Para o profissional, o ditado “fotografar vale mais que mil palavras” é uma verdade. “Muitas vezes, as palavras não são bem aplicadas, diferentemente da fotografia que é sempre a recordação de algo que aconteceu, bom ou ruim”, explica. Mais ponderada, a fotógrafa são-marquense Gabriela Brochetto, 23 anos, formada em Publicidade e Propaganda pela Universidade de Caxias do Sul e também em fotografia pela Escola Superior de Propaganda e Markentig – ESPM, acredita que um complementa o outro. “Imagem retrata a vida em todas as suas fases,

Por Rafaela Daros Sabrina Reis

não pode andar sozinha. Precisa de um complemento para se sustentar”, ressalta. A fotografia, inicialmente um hobby, tornou-se sua profissão. Há cerca de um ano ela montou seu estúdio. O espaço, ainda pequeno, revela os anseios da jovem que pretende, em breve, ampliar seu local de trabalho para melhor atender e também aumentar o número de clientes. Neste curto período, Gabriela já trocou de equipamento uma vez. Hoje trabalha com uma Canon 7D. Ela ressalta, porém, que para um bom fotógrafo o mais importante não é o equipamento, mas o conhecimento. “Nós não precisamos sempre de um equipamento TOP. A experiência é mais importante”, define Gabriela. Em sua opinião, o sistema digital aprimora ainda mais o trabalho do profissional. Esse novo método permite ao fotógrafo manipular com mais facilidade as imagens, ao gosto do cliente. A luz, outro aspecto essencial, cria volume, texturiza a foto. É o principal, a base para um bom trabalho. “Uma boa jogada de luz faz tudo na foto, descartando a necessidade de manipulação, luz é o mágico da fotografia”, garante. Em seu trabalho, Gabriela procura usar mais o colorido, que, segundo ela, traz alegria à foto, sentido à vida. Ela fotografa crianças, books, eventos, e está se aperfeiçoando no que realmente gosta: fotos publicitárias. A cor, para a profissional, é muito importante porque ambienta a imagem. O P&B, método bastante utilizado nesta área, segundo ela, “quebra todo o sentido, é mais dramático, pesado e não traz o que realmente o ambiente quer passar”, finaliza.

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Fotografia

O tradicional mais sofisticado

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otografar, desde o analógico, sempre foi a melhor maneira de registrar momentos, mesmo tendo outros meios. A cada década, a fotografia se aprimora. O digital proporciona isso. Os registros de família, na sua maioria, começam por um álbum de casamento. Pois bem, quem, ao casar, não quer ter um álbum contando os melhores momentos de seu casamento, com imagens? Quem não quer recordar a lágrima no olho, o momento das alianças, as fotos da festa, dos convidados ?... No início, a possibilidade de ser fotografado, principalmente no casamento, era privilégio apenas das classes mais altas da sociedade, pois a fotografia era muito cara. Após o analógico, esse privilégio se alargou, e mais pessoas puderam registrar seus melhores momentos, mas, mesmo assim, ainda permanecia caro. A chegada do digital, permitiu adaptação ao bolso de todas as classes. O photoshop trouxe a manipulação eletrônica da imagem tornando tudo mais viável. Com isso, alavancou o crescimento econômico no setor fotográfico. Do álbum com folhas em papel manteiga separando uma foto da outra, ainda em sépia ou P&B, ao livro-álbum, a fotografia avança gradativamente. A modernidade tomou espaço tornando esse momento, cada vez mais inesquecível. No ramo fotográfico, o mais procurado, certamente, são as fotos de casamento. Profissionais dessa área precisam estar sempre de olho nas novidades. Jogar o vestido no lixo ou, mais conhecido como Trash the Dress, é a nova tendência em fotografia de casamento. Exige uma certa ousadia tanto da noiva quanto do noivo, que também participa das fotos com a roupa usada no casa-

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mento, por isso quem topa fazer o ensaio precisa estar disposto a se soltar. O local escolhido para o ensaio deve permitir, de preferência, ambientes variados e inusitados. Uma praia com mata, por exemplo, ou uma fábrica abandonada com um lago por perto. O elemento água é importante, pois, em geral, o Trash the Dress termina com o vestido molhado. A moda já se espalhou pelos quatro cantos do país e, na sua maioria, as noivas querem fazer o ensaio, mesmo que o lindo vestido, sonhado, planejado e caro acabe sujo e, em alguns casos até rasgado, vale tudo para tornar o momento ainda mais sedutor. O fotógrafo são-marquense, Rogerio Formighieri, 48 anos, já trouxe a novidade para a cidade. Há mais de 20 anos no mercado, busca sempre inovar seu trabalho. Formighieri é adepto ao Trash the Dress, apesar de não serem todos os noivos que querem esse tipo de ensaio. “O custo, a ideia de locar um vestido de noiva, por exemplo, assunta e afasta. Mas, gradativamente, se vai conseguindo divulgar e realizar belos trabalhos”, relata. Um de seus últimos ensaios realizouse há dois meses, em Torres. Os noivos Manuela Scodro, 25 anos e Fagner Casal, 32 anos, toparam o convite do fotógrafo e partiram rumo à praia para captar imagens românticas e abrilhantar ainda mais o álbum. Os noivos casaram no último mês de maio. Para o profissional, esse tipo de ensaio é apaixonante. “O Rio Grande do Sul é um dos maiores polos fotográficos do Brasil; portanto, esse tipo de ensaio se difundiu muito por aqui. A ideia do diferente, do fora de regra me seduz, gosto muito”, finaliza.


ROGERIO FORMIGHIERI

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Carros

Quando o passado movimenta o presente Conheça as origens do automóvel, símbolo da sociedade contemporânea

Por Rafael Fagundes Brand Sabrina Reis

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s olhos do caxiense Euclides Smider­le brilham quando fala de seu “caso de amor” com o Ford “A” ano 1929, totalmente restaurado. No último encontro de carros antigos de Nova Milano – Farroupilha, o carro recebeu prêmio de melhor exemplar exposto na cate­ goria “Década 20 a 30”. Smiderle conta que sua história com o Ford começou há 18 anos: “Um amigo colecionava diversos carros antigos, porém tinha interesse em vender alguns modelos. Assim que vi a ‘baratinha’ modelo “A”, me interessei imediatamente”, revela. O primoroso processo de restauração teve início há cinco anos, com a reparação total da parte mecânica, lataria­ e acabamentos. Smirderle afirma que a sensação ao dirigir o carro é de alegria: “Não existe outro carro que chame tanto a atenção das pessoas. É algo incrível p o i s

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aplaudem e abanam, admirados ao ver o carro passar”. A restauração permite que Smirderle conduza o carro até os eventos com total segurança e ­tranquilidade. Enquanto ­“outros chegam com o carro no reboque e estacionam ­ apenas nos eventos, eu chego dirigin­ do mesmo”,­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­ afirma. Foram 52 meses de traba­lho apenas na funilaria do Ford A, em processo totalmente artesanal, desenvolvido pela família Kremer, em São José do Sul. A família é reconhecida nacionalmente pelo trabalho e dedicação na restauração de carros antigos. Ido Kremer começou a trabalhar com ­carros aos 14 anos de idade e hoje, aos 59, acumula conhecimentos e experiência no processo de restauração: “cada carro que passa pela oficina leva um pouco da gente, tamanha é a energia que depositamos em cada um deles“. Desmentindo a fama de “milagreiro“, Kremer explica que tudo começa com avaliação do estado do veículo, que, em alguns casos, beira literalmente o sucateamento: “Em situações extremas não é

possível manter a originalidade, pois são muitas as adaptações necessárias, como é o caso de carros que sofreram acidentes graves: não há o que fazer“. Porém, quando as condições são favoráveis, Kremer indica que o processo de restauração pode ser realizado em qualquer modelo fabricado, não importando a marca: “Trabalho com carros da Chevrolet, Ford, Volks, enfim, já fiz mais de 400 ­trabalhos que estão circulando pelo ­Brasil, e quando encontramos dificuldades para achar peças e componentes, o último recurso é a importação mesmo”.

Raridades expostas em São Marcos Muitos apaixonados por automóveis dos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo se reuniram em São Marcos (RS) e apresentaram grande diversidade de anos e modelos em um Encontro de Carros Antigos do município. Foi na Praça central Dante Marcucci que as relíquias automobilísticas, todas com mais de 25 anos de fabricação, puderam ser vistas. O evento é ­realizado na cidade desde 1999, organizado pelo Veteran Veículos Clube, que tem 30 sócios e cerca de 100 veículos cadastrados. A Federação Brasileira de Veículos Antigos e a Secretaria Municipal de Cultura, D ­ esporto e Turismo de São Marcos apoiaram a mostra.


RAFAEL BRAND

A placa preta indica que o carro é de colecionador

Paralelamente ao evento, ocorreu o mercado de pulgas e a minifeira de peças e acessórios para veículos, que, neste ano além de gaúchos, reuniu comerciantes de São Paulo e Santa ­ Catarina. Em mais um ano foi alcançada a expectativa dos organizadores do 13º Encontro. Foram aproximadamente 400 veículos expostos e o público visitante ultrapassou 15 mil pessoas. O presidente do Veteran J­ uliano Sbabo, em clima de ­otimismo afirma “que o evento tem bastante procura, tanto na exposição como na mini feira e no mercado de pulgas. Como sempre, tivemos um belo encontro”, define Sbabo. O Encontro de Carros Antigos é um evento que movimenta toda a cidade. “Nasceu de uma brincadeira de amigos e se tornou algo sério. Hoje ­movimenta o comércio local, divulga o município e ainda é um lazer para a comunidade”, destaca o presidente do Veteran.

Placa preta identifica carro de coleção O emplacamento de veículo antigo consiste na mudança de placa da ­categoria particular (cinza) para a ­catego­­ria coleção (preta) nos automóveis com mais de 30 anos e que mantêm conser-

O limite mínimo de idade para que o carro seja considerado como antigo é de 30 anos

vadas suas características originais de fabricação. As características do veículo são determinantes para a concessão da certidão de originalidade, necessária para a obtenção da “placa preta”. Silvana Scheneider, do Detran de Farroupilha, explica os critérios para a obtenção da placa: “O certificado de originalidade é concedido por clubes credenciados de carros antigos, que preservem suas características e itens originais de fábrica, tais como mecânica, elétrica, tapeçaria, estrutura, acessórios­ e itens de controle e segurança”. De posse do Certificado de Originalidade, é necessário procurar uma das ­unidades de atendimento do Detran para retirar a autorização para a confecção da nova placa em um dos fabricantes credenciados e retornar para a vistoria. “A placa preta não é obrigatoria para que o veículo circule pelas estradas, mas a documentação precisa estar em dia como em qualquer ­­carro”, finaliza.

Sugestões de vídeos Ao lado estão duas sugestões de vídeos para assistir na internet: O ­vídeo nº1 mostra uma réplica funcional

O humor também marca presença nos encontros de carros – na imagem um boneco chora pelo Passat

do primeiro veículo autopropulsionado do mundo: a máquina de Cougnot, replicada por entusiastas franceses. ­ No vídeo nº2 estão imagens históricas da linha de montagem do Ford Modelo T, em que os diversos estágios de produção do carro podem ser observados, em um interessante registro do processo de montagem no começo do século XX.

1 www.youtube.com/watch?v=JQfm6qYADw4

2 www.youtube.com/watch?v=S4KrIMZpwCY

RAFAEL BRAND

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WIKIMEDIA.ORG

Como nasceu o automóvel Atrever-se a contar a história do automóvel em tão pouco espaço na revista já pode ser considerado um desafio: seriam necessárias várias edições para dar conta cabalmente do recado. Sem a menor dúvida, ele é uma das invenções mais importantes da História, resultado concreto do desenvolvimen­ to paralelo de várias tecnologias. Esta “gênese” automotiva encontra-se na criação do engenheiro militar francês Nicolas Joseph Cougnot, que projeta e constrói, em 1769, o primeiro veículo autopropulsionado do mundo: a carruagem de Cougnot. A invenção tinha fins militares, e consistia na adaptação de um motor a vapor em uma carruagem reforçada por três rodas, capaz de transportar os canhões do Exército francês, que pesavam até quatro toneladas. O modelo é também responsável pelo primeiro registro de acidente automobilístico, quando em 1777, nos arredores de Paris, bate em uma parede de tijolos, causando leves ferimentos ao condutor. Quase 100 anos depois, surge um personagem importantíssimo: Karl Benz. O inventor alemão foi respon-

O primeiro carro do mundo, criado em 1888

sável pela criação do primeiro veículo chamado automóvel (com registro de patente que batizava o invento de Motorwagen) em 1885. O refinamento tecnológico do modelo era claramente identificado na construção do motor e peças criadas por Benz. A maravilha tecnológica nasceu completa, com acabamento primoroso em madeira e ferro e assentos de dois lugares em couro. A produção do modelo teve início em 1888, com aprimoramentos que facili­ tavam a condução do modelo, porém, o maior problema encontrava-se na falta de disponibilidade do combustível, vendido apenas em lojas de produtos farmacêuticos. A gasolina, naquela época, tinha apenas como finalidade a limpeza de objetos, o que, por sua vez, acelerou o refinamento dos processos de produção de petróleo para acompanhar a demanda. Houve, então, uma verdadeira explosão de criatividade com o automóvel de Karl Benz, servindo de inspiração para muitos fabricantes de todas as partes do mundo. As primeiras fábricas de automóvel foram as francesas Panhard & Levassor (1889) e Peugeot (1891). Nos Estados Unidos, a Oldsmobile desenvolve o primeiro modelo em 1901, seguida de perto por outro eterno nome na história dos carros: Ford. WIKIMEDIA.ORG

Réplica em tamanho real da máquina de Cougnot

Ford modelo T - 15 milhões de unidades vendidas

Ford transforma carros em sucesso Ford é o sobrenome do americano Henry Ford nascido em 1863. Filho de agricultores no estado de Michigan, tinha o sonho de ser ­maquinista, inventando e construindo máquinas. Com o falecimento da mãe, Mary Ford em 1876, deixa a vida no campo e parte para a cidade de Detroit, em busca de conhecimento. Os anos seguintes marcaram importantes conquistas que possibilitaram o nascimento, em 1903, da Ford Motor Company. Depois de intenso t­rabalho de ajustes e aperfeiçoamento de projeto, a fábrica lança em 1908 um ícone automotivo: o Ford modelo “T”. Até 1918 metade dos carros nos Estados Unidos eram do modelo “T”. A cor preta não era apenas uma questão estética: a tinta secava mais r­apidamente que outras cores, portanto era a e ­ scolhida como base no processo de fabricação do carro. A produção final em 1927 foi de 15 milhões de unidades vendidas, recorde que permaneceu na indústria automobilística por 45 anos, e estabeleceu a Ford, naquela época, como a maior fabricante de carros do mundo.

Leia mais:

Sites internacionais costumam ser os mais completos ao contar a história do automóvel. ­ Visite-os e amplie informações! www.themuseumofautomobilehistory.com/ www.motorera.com/history/history.htm www.yourdiscovery.com/cars/timeline/ www.artoftheautolifestyle.com/

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Diversão

Os brinquedos não são mais os mesmos Francine Ghiggi

A brincadeira sempre esteve ligado à ideia da diversão e do jogo. Do ponto de vista cultural, as formas de brincar foram se alterando ao longo do tempo. Dos utensílios produzidos pelas próprias crianças aos mais modernos videojogos, as brincadeiras têm a capacidade de liberar emoções e de fazer com a que as crianças se socializem e aprendam a conviver entre si

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xistem diversos tipos de artesanato. Eles podem ser trabalhados em uma variedade de materiais. Há, porém, um trabalho que encanta e diverte gerações: os brinquedos de madeira. Podendo ser passados de pai para filho ou mesmo comprados em alguma feira, os objetos mexem com a imaginação de adultos e crianças. Em uma época em que o digital está na moda, os brinquedos de madeira ainda são apreciados, talvez por incentivo dos pais, que relembram com os filhos a própria infância. Foi a partir dessas recordações de quando era guri que Jacob Luiz Pezzi, 60 anos, resolveu desenvolver o trabalho que via seu pai fazer. Depois de trabalhar como matrizeiro e professor em um curso profissionalizante, decidiu se dedicar ao artesanato em madeira. Pezzi não precisou fazer nenhum curso na área. As técnicas foram aprendidas vendo o pai confeccionar as peças na marcenaria. “Éramos oito irmãos e fazíamos os nossos próprios brinquedos”, recorda. O

artesão

FOTO VAGNER ESPEIORIN

Por Vagner A. Espeiorin

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caxiense morou por alguns anos em Novo Hamburgo, mas sempre teve a marcenaria como hobby. Aposentado, atualmente vive em Criúva, interior de Caxias do Sul. É em casa que desenvolve sua criatividade com os objetos de madeira. “Às vezes, vejo alguma coisa interessante e reproduzo adaptando para a madeira, outras eu mesmo imagino e faço”, explica. A procura pelos objetos é um tanto restrita. É nas feiras de artesanato que as vendas aumentam. “As pessoas que participam dos eventos estão mais interessadas em conhecer os produtos e é um local onde podemos mostrá-los”, afirma. Além dos brinquedos, Pezzi faz lembranças turísticas e para festas religiosas, enfeites e utilitários para cozinha. O marceneiro comenta que fica feliz de ver quando as crianças se interessam pelos brinquedos de madeira. “Outro dia um menino pediu para a avó um trenzinho. Pegou o brinquedo e saiu imitando o som de um trem” lembra contente. Esses momentos tornam o trabalho do profissional mais gratificante.

A brincadeira além do tempo O jogo e as brincadeiras fazem parte do dia a dia das crianças. É a partir deles, que os pequenos desenvolvem suas habilidades e também expressam seus sentimentos. Para a pedagoga Larissa Araújo Santos, esses momentos de diversão garantem uma infância saudável. “As brincadeiras sempre fizeram parte das relações humanas. É

através delas que a criança liberta sua imaginação, é um estímulo ao desenvolvimento cognitivo, social e afetivo. A criança desenvolve seu processo de aprendizagem e socialização, respeitando a si próprio e o outro”, explica.

criativo, mas que possamos como pais e educadores, observar se realmente é o que estamos procurando para nossas crianças”, salienta a pedagoga.

entanto, também pode ser uma reação precoce. Embora alguns jogos eletrônicos não atendam a todas as características das antigas brincadeiras, eles desenvolvem novas habilidades, conforme explica a pedagoga. “A tecnologia é inevitável. Não podemos esquecer que as crianças estão vivendo o agora e dominam, desde cedo, controles remotos e jogos eletrônicos. Isso quer dizer que se desenvolvem habilidades também. Não estou dizendo que é menos

Para a professora, os jogos eletrônicos não substituem as brincadeiras convencionais. “Os jogos e brincadeiras tradicionais geralmente necessitam de um ou mais parceiros. Sendo eles presenciais, expõem suas opiniões imediatamente e buscam valer suas ideias. Os virtuais podem se desconectar ou buscar novos parceiros na net”, ressalta. A utilização das brincadeiras digitais deve ser um complemento nas atividades em grupo e em outros jogos presenciais.

De acordo com a professora de informática Maria Luiza Martins, o ensino pode utilizar os ambientes virtuais como O tempo, no entanto, se encarregou de uma ferramenta de auxílio na aprentransformar a forma de brincar. Com dizagem. “A criança gosta da cor, do as revoluções tecnológicas, surgiram movimento, do som. A escola possibiformas digitais de entreter as crianças. lita esses recursos para fazer com que Computadores e dispositivos móveis, ela desenvolva como celulares, outras habilidasão muito atratides. O contato vos às crianças. O computador tornou-se algo com o computa“Antes alguns banal para as novas gerações. dor ocorre como dos brinquedos É difícil imaginar o mundo sem complemento eram confecciodas atividades os equipamentos digitais. E as nados pela pródesenvolvidas”, pria criança, o crianças costumam lidar meesclarece. que desenvolvia lhor com essas tecnologias. a imaginação, O computador criatividade, cotornou-se algo ordenação motora, raciocínio, solidabanal para as novas gerações. É difícil riedade e conceitos de cooperação. imaginar o mundo sem os equipamenHoje, com a diversidade dos brinquetos digitais. Segundo a professora, as dos, temos que analisar se está adecrianças costumam apresentar uma faquado à faixa etária, qual o objetivo cilidade maior de lidar com a tecnologia que queremos atingir”, alerta Larissa. do que os adultos. “Isto ocorre porque a criança já nasce imersa neste munDesconsiderar por completo a impordo tecnológico”, afirma Maria Luiza. tância das novas formas de brincar, no

FONTE: WWW.SXC.HU

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O Viola Bass

Por Rafael Poletto

DANIELA SCHIAVO

Instrumentos Musicais

Paul McCartney dos Beatles deu notoriedade ao Viola Bass, baixo com design em forma de violino; o instrumento é leve, resistente e mantém a mesma estética para canhoto

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Hofner Viola Bass é sem dúvida o instrumento mais emblemático de todos os tempos. É o baixo do front man dos Beatles, Paul McCartney. Macca, como é conhecido, era canhoto e tinha dificuldade de encontrar instrumentos que se adequassem ao seu estilo e a sua estética. A dificuldade de encontrar um baixo mudou quando encontrou o “baixo dos sonhos” e que mudou a história da música em 1961. O baixo era um alemão Hofner 500/1. Paul sempre buscou qualidade sonora, foi criado no meio de músicos e já era um grande talento aos 16 anos. Sem dúvida, o Hofner e Paul tinham seus destinos traçados. O modelo tinha o corpo em forma de violino, escala curta, acabamento sunburst de dois tons e dois captadores montados perto um do outro, próximos ao braço. O braço possui três peças de madeira. Os captadores não têm polos aparentes, e suas capas metálicas apresentam estampado um logotipo em forma de losango (diamond logo). No headstock, o logotipo fica na vertical. As tarraxas são individuais, com as extremidades ovais de plástico. O painel dos controles, em celuloide imitando madrepérola, é estreito. Paul estreou o baixo, nos estúdios, nas gravações com Tony Sheridan, nas músicas My Bonnie, The Saints, Cry For A Shadow, Why, Nobody’s Child, Ain’t She Sweet e Take Out Some Insurance On Me, Baby. O fiel Hofner Bass acompanhou Paul através da história dos Beatles. Inseparável nos palcos, o baixo respondia com um som grave, aveludado e marcante.

Esse instrumento se transformaria na marca registrada de Paul e seria oficialmente chamado de Hofner Beatle Bass. A história dos Beatles, do Hofner e de Paul se assemelha. McCartney sempre foi considerado o melhor músico entre os quatros fabulosos. Foi fiel até o término da banda em 1970. Essa história de que Paul saiu da banda por causa da japonesa Yoko tem suas contradições. John Lennon queria ser família, tinha o filho pra cuidar e Macca seguia forte com a sua principal arma nas mãos. Paul foi responsável por canções empolgantes na trajetória dos Beatles, se fundamentava como gênio musical, tanto pelo sua flexibilidade em tocar diversos intrumentos, como pela sua técnica e inovações sonoras. Foi Macca quem teve a ideia de gravar Sargent Peppers Lonely Hearts Club Band, o álbum consagrado, o melhor disco de rock de todos os tempos pela revista Rolling Stones. O Hofner viola permaneceu no último segundo com os Bealtes, na famosa despedida no telhado, e permanece até hoje nas apresentações que Paul faz. Macca esteve pelo Brasil em 2010, e lá estava ele, com seus 68 anos e com o Hofner Bass em punho. O sentimento que Paul Mccarteny tem pelo seu baixo é incrível, nunca na história da música um homem e um instrumento foram tão unidos pela mesma causa. Sem dúvida, a vibração das cordas, da madeiras, o dedilhar, as notas, a empolgação, a vibração,se transformaram na fórmula certa, e que tanta gente busca e muitas vezes não encontra: amor e Rock and Roll.

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Instrumentos Musicais

A Arte de tra matĂŠria em s MARIANA HOFFMANN

Por Rafael Poletto

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ansformar som J

ules cresceu ouvindo os boleros de seu pai, entendia que aquele som produzindo pelas mãos humanas, era natural e puro. Admirava o formato dos instrumentos musicais, o oco da madeira, a rigidez do aço; o som fazia daquela matéria bruta uma sensibilidade que somente podia ser tocada na alma. Tinha um violão Giannini Seresta. Tão normal quanto caminhar, foi aprender aquelas notas musicais com seu pai, mestre paciente. O ouvido treinado do velho músico percebia cada nota tocada pelo menino. Do quarto podia escutar o pai gritando: - Tá errado, guri. - E como eu faço? - Te vira, aprenda a escutar. O treinamento era intenso. O campo de batalha era estreito e as mãos mal seguravam a arma em punho. A musicalidade crescia com o passar dos anos. Na mesma proporção, o velho Giannini quase não tinha condições de seguir no front. A manutenção era necessária. O antigo violão necessitava de alguns reparos. Na pequena cidade litorânea quase não havia lojas de instrumentos, tampouco oficinas que os

consertassem. Jules não pensou duas vezes em consertar o antigo violão com as próprias mãos. O menino aprendeu com seu avô que era marceneiro, a conhecer cada espécie de madeira: canela, cedro. Tinha o desejo de fazer seu próprio violão. Analisava que aquele universo onde a arte de transformar matéria em som podia lhe trazer felicidade. Queria ser luthier. Não tinha dinheiro pra fazer um curso. Tinha suas limitações. Aprendeu marcenaria por correspondência. Seu antigo SP2, uma relíquia de carro, foi vendido para a aquisição de ferramentas para seu trabalho. Não media esforços, queria se tornar um criador, viver a magia de criador e criatura. Michelangelo foi ao extremo quanto terminou David e disse: Parla? Era tão perfeita escultura. Jules queria brincar de Deus, dar vida ao bruto. Jules aprendeu com mestres, mas seu dom falou mais alto. Autodidata na criação começou consertando seu próprio violão foi desenvolvendo sua prática com o tempo, a cada lasca tirada, cada canto lixado, cada tarraxa colocada foram moldando sua forma e sua arte. O luthier Andrellis, como gosta de ser chamado é Jules André Raupp da Rocha,

que veste um avental, que considera um manto sagrado. Ao entrar em seu ateliê, assume essa postura de criador, conectando mãos e mente. Ao som do Eric Clapton, Andrellis alisa as curvas de uma guitarra e dá a ela suspiros de vida. A guitarra depois de pronta vai ser a ferramenta de trabalho de um guitarrista, que em cada nota entoada carrega o peso de um legado de conhecimento do mestre luthier. Fazer a magia acontecer requer tempo e paciência. Uma guitarra pode levar, em média, de cinco a seis meses para ficar pronta. O dinheiro muitas vezes não interessa a esse tipo de profissional. Seu trabalho é dar vida ao instrumento. É uma realização a cada feito. Encontrar o equilíbro é fundamental pra esse tipo de tarefa, muitas vezes o mago se desliga do mundo real para entrar em sintonia com as notas musicais e a música flui infinitamente. A alma precisa encontrar esse caminho. Andrellis retira a costela e sussurra: Parla! Como se o impossível acontecesse. Nas mãos habilidosas desses grandes mestres luhtiers é que percebemos o dom magnífico que o ser possui: a arte de transformar matéria em vida.

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Profissão do passado

O show da vida Palhaço de coração e circense de profissão, o pernambucano José Agnaldo da Silva dedicou toda sua vida a arte de divertir, durante quase 30 anos acompanhou o circo Zatara por todo o Brasil, aposentado desde 1987, passa seus dias a espalhar a alegria do circo pelas ruas e parques. Por Ronei Andreazza

RONEI ANDREAZZA

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m humorista do mundo. É com essas palavras que o pernambucano José Agnaldo da Silva, 73 anos, mais conhecido como Zé da Burra se apresenta para a platéia nas ruas e praçasdo Brasil. Aos

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anos maravilhado pela magia do circo, deixou a pequena Maracaípe para seguir a trupe do circo Zatara durante quase 30 anos, em seu tempo na estrada conheceu cerca de 400 cidades em todos os estados brasileiros além de outros cinco países. A cultura circense tornou-o um dos grandes artista da estrada, mas desde 1987 quando o circo se desfez, Zé da Burra é uma dos muitos artistas de rua do Brasil. Com sua inseparável burra Atolina, passa os dias divertindo e levando sorrisos a praças e parques com brincadeiras puras e simples. Quem é o palhaço Zé da Burra? Eu sou um palhaço folclórico. Hoje o palhaço de circo já não tem mais a mesma graça, porque os trapalhões já levaram isso à televisão. Eu transformei Zé da Burra em um palhaço folclórico. Eu uso a burra Atolina e dela a gente tira o som do jumento – tipo ÁÁÁ, ÉÉÉ, Iiii, Óóó, Uuuu.

No ruído da jumenta, a criança apren as vogais. Uso também o jogo do chif Ao invés de passar o chapéu, eu pas um chifre. Quem dá R$ 5, eu abençôo digo que ele vai ficar cinco anos sem var chifre. Eu procuro usar o trejeito d bêbados, dos doidos da rua. Quando c mecei, eu usava o estilo do Charlie Ch plin. Agora eu uso os trejeitos de pesso engraçadas que vejo na rua e vou imp visando.

Existe muita diferença entre palha de circo e palhaço de rua?

A vida no circo era bastante difícil. Trab lhavamos muito, viajavamos muito e condições de vida eram horríveis. M tas vezes tomávamos banho de cane e ficávamos sem luz durante dias. M em compensação, existia o glamour d noites de apresentação, a casa cheia e felicidade que sentíamos de ter uma p fissão para se orgulhar. Já na rua é mu mais próximo, nem sempre as pesso esperam nos encontrar, então quan conseguimos tirar um sorriso, sabem que aquilo foi feito porque nós agradam mesmo essa pessoa.

Por que você escolheu ser palhaço?

A gente não escolhe. Ser palhaço já na ce com a gente. Não tem universidade palhaço. Assim como as pessoas têm dom para ser médico, professor, eu ten o dom para ser um palhaço. Então eu n escolhi. Acho que Deus me colocou nes caminho e eu não tenho outra profissã É o palhaço Zé da Burra que me susten

Profissão Palhaço

A profissão de palhaço é uma das mais antigas da humanidade. Historiadores afirmam que nas cortes dos imperadores chineses já haviam sinais de palhaços, assim como em muitas tribos indígenas da América do Norte. O palhaço clássico, que pinta o rosto de branco e exagera suas expressões, apareceu no teatro Grego há mais de 2.000 anos. Naquela época ainda não existia eletricidade, então os atores pintavam seus rostos de branco para que o público conseguisse enxergá-los melhor. Na Idade Média muitos artistas passaram a vagar pelas cidades apresentando números cômicos em feiras livres, e os melhores conseguiam empregos como os famosos bobos da corte, cuja função era animar o rei.

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nde fre. sso oe ledos cohaoas pro-

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A Reinvenção do Circo E eu como José Agnaldo, cidadão, tenho que honrar esse personagem.

O que mais te ofende na sua profissão? Ah, ofende quando alguém chama você de pedinte. O cara que está ali só pintando, só com o nariz vermelho, não vai sentir nada. Mas quem dá alma a seu palhaço, esse sente. Eu já fui chamado de “vagabundo” e senti. Daquele sentimento, você melhora e vai tentando se superar. É preciso dar alma ao palhaço. tenho que honrar a vida que escolhi. O que seria “dar alma ao palhaço”, como se faz isso? Dar alma é você incorporar por amor. Por exemplo, eu gosto muito de fazer espetáculos na rua. Quando estou nesses locais, eu sinto que o palhaço está ali. Até a voz muda. Quando você está somente por estar, é apenas alguém ali pintado. Dar alma é fazer os outros felizes, mesmo que seja uma pequena platéia de só uma criança. Não trabalho pelo dinheiro, preciso dele para viver, mas faz muito tempo que não ganho mais de 50 reais por dia de trabalho, trabalho porque gosto, essa é minha vida, nasci pra isso. È o maior espetáculo da terra e o show não pode parar.

Desde sua criação, em 1984, o Cirque du Soleil não para de crescer, tornando-se uma das empresa mais rentáveis do mundo. Um picadeiro de US$ 1 bilhão. Assim podemos definir o exótico Cirque du Soleil, um legítimo ícone do mundo do entretenimento. A fascinante história começou em Baie Saint Paul, um vilarejo a leste da cidade de Quebec. Ali, no começo dos anos 80, esta trupe de coloridos personagens literalmente chacoalhava a cidade, dançando e se equilibrando em pernas de pau, soprando fogo e tocando músicas. Eles eram até então o Les Échassiers de Baie Saint Paul, um grupo de teatro de rua fundado por Gilles Ste Croix. Em 1982, eles começaram sua formação com uma trupe de artistas performáticos de rua conhecidos como “Le Club des Talons”. Em 1987, o circo aventurou-se, pela primeira vez, a fazer uma turnê fora do Canadá. Com o espetáculo O Circo Reinventado apresentou-se na cidade de Los Angeles na Califórnia. Em 1990, foi a vez do continente europeu conhecer este espetáculo. A expansão internacional continuou em 1992, quando em parceria com o famoso Circo Knie, apresentou um espetáculo em mais de 60 cidades da Suíça. O sucesso da trupe no velho continente fez com que, em 1995, o Cirque du Soleil instalasse uma sede social na cidade de Amsterdã. O sucesso era tanto, que em 1999 mantinha espetáculos simultâneos em quatro continentes. De 1990 a 2000, o Cirque du Soleil, passou de um show com 73 artistas em 1984, para mais de 3.500 empregados, em mais de 40 países, com 15 espetáculos apresentados simultaneamente e lucro anual estimado em US$ 600 milhões. Ao abolir diálogos, o Cirque du Soleil mudou o modo como os circos eram apresentados baseando seus espetáculos na linguagem corporal, na sofisticação intelectual do teatro e do balé e na utilização de tecnologia, garantiu que qualquer pessoa do planeta pudesse entender o que se passa no palco. O moderno circo tirou de cena leões, zebras, macacos e angariou a simpatia de defensores dos direitos dos animais. Por tabela, reduziu as despesas de logística e manutenção. Ao fazer tudo isso, também reinventou o modelo de preços das entradas. Alguns dos membros da formação original, ainda estão ativos à frente do Cirque du Solei, como Guy Laliberté, hoje o Presidente Fundador e Gilles Ste-Croix, que atua como o Diretor de Criação. E também Guy Caron, que dirige algumas produções da trupe. Leia mais : www.cirquedusoleil.com

A trupe de palhaços surgiu pelo século 16, nos territórios que viriam a formar a Itália. Conhecido como “Commedia Dell’arte”, o movimento foi responsável pelo surgimento dos palhaços clássicos, dos quais destacam-se Arlequim e Pantaleão. A partir daí a fórmula utilizada nesses espetáculos espalhou-se pela Europa e ganhou o mundo. Os circos no formato que conhecemos hoje, com malabaristas, trapezistas, mágicos e palhaços, surgiram no século 18. Mas os palhaços conseguiram se popularizar e alcançar outras mídias, como aconteceu com o Bozo, na televisão.

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Moderno Diversos saltos tecnológicos marcaram o século XX e transformaram significativamente o mundo. Exemplos deles são os aprimoramentos na saúde pelos avanços científicos, em fontes de energia renovável, cremação e realidade 3D,


Nuclear

Depois da energia atômica Por Gabriela Ghellere Josiane Ribeiro Josmari Pavan

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ais de uma vez, a humanidade presenciou as consequências de incidentes nucleares, e sofreu com elas. Com origem em catástrofes naturais, falhas humanas ou em ambos, fato é que o assunto causa temor. A energia nuclear é responsável por 16% da eletricidade consumida no mundo, mas também por algumas das piores catástrofes da história. Afinal, não e difícil vislumbrar o nível de destruição causado pela fumaça de uma usina.

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ROBERTA DA SILVA

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dia 26 de abril de 1986 ficou marcado na História e na lembrança dos moradores da cidade de Chernobyl, ao norte da Ucrânia (URSS). Nessa data, um teste malsucedido no sistema de armazenamento da Usina de Chernobyl acabou ocasionando um superaquecimento no reator quatro. Após romper as barras de combustíveis, liberando substâncias radiotivas em quantidade letal, a explosão deu início ao maior desastre nuclear de que se tem notícia. A demora de um dia e meio para o alerta à população agravou ainda mais o quadro. Cerca de 300 mil pessoas deixaram a região. No entanto, não foi o bastante para evitar a morte de milhares de cidadãos. Organizações não governamentais denunciam que o número de mortos ultrapassa os 15 mil anunciados oficialmente pelas autoridades soviéticas. O desastre não se limitou aos aproximados 80 mil mortos informados pelas ONGs. Centenas de pessoas sofreram ou ainda sofrem de alguma doença ou deformidade provocada geneticamente pela radioatividade. Até hoje, os níveis de radioatividade são dez vezes maiores do que o considerado normal para seres humanos. E, em virtude do desastre, Chernobyl se transformou em uma cidade-fantasma. A energia nuclear é centro de estudos desde 1930. No início, os estudiosos a desenvolviam como uma alternativa de armamento militar. Posteriormente, com o avanço das pesquisas, a energia nuclear passou a ser a nova fonte de geração de energia elétrica. Em linhas gerais, usina nuclear é uma usina térmica que usa o calor produzido na divisão do núcleo do átomo de

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WWW.SXC.HU/DIVULGAÇÃO

Nuclear

urânio enriquecido (material em que se baseia a energia nuclear), para movimentar vapor de água, que, por sua vez, movimenta as turbinas, produzindo eletricidade. Na época, muitos cientistas acreditavam que os problemas com a geração de energia estavam resolvidos. Segundo o físico bento-gonçalvense Nasser Meneghetti Lanza, as reservas mundiais de urânio são maiores do que as reservas de combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás natural. “As usinas nucleares possibilitam maior independência energética para os países importadores de petróleo e gás”, afirma. O físico salienta, ainda, que, dentro dos padrões de segurança, usinas nucleares não contribuem para o aumento do efeito estufa, diferentemente da energia termoelétrica, por exemplo, cuja base é o carvão. Porém, o sistema também apresenta desvantagens. Os altos custos de construção e operação das usinas dificultam a implantação do sistema nuclear de produção energética. “O armazenamento de resíduos resultantes do trabalho das usinas nucleares é um problema sério para os países que investem nesse tipo de energia”, ressalta Lanza. Para se ter uma ideia, o plutônio, resíduo altamente radioativo, pode levar cerca de 50 mil anos para tornar-se inofensivo ao ser humano. “O desafio é como armazenar esse tipo de material de forma segura por tanto tempo”, finaliza.

Episódio de Goiânia As consequências da irresponsabilidade no manuseio desse tipo de material já atingiram o Brasil no passado. Conhecido como o acidente com Cé-

sio-137, o episódio, envolvendo contaminação por radioatividade, ocorreu em Goiânia, no ano de 1987. Na época, um aparelho utilizado em radioterapias nas instalações de um hospital abandonado foi encontrado e manuseado por um grupo de catadores de ferro velho. Eles pensaram que fosse sucata e repassaram o objeto a terceiros. Foi o maior acidente radioativo do País e o maior do mundo ocorrido fora de uma usina nuclear, fruto de um descuido. Também de grandes proporções foi o desastre na usina nuclear de Fukushima Daiichi, Japão, ocorrido neste ano. O terremoto de nove graus na escala Richter, acompanhado de um tsunami (terremoto no mar), arrasou boa parte da península na madrugada de 11 de março. O desastre natural, que deixou aproximadamente 30 mil mortos e incontáveis desaparecidos, danificou a estrutura da usina. Vazamentos radioativos foram registrados, sinalizando a iminência de um acidente nuclear. Tentativas de resfriamento precederam as três explosões nos dias seguintes ao terremoto. Autoridades registraram o vazamento de nível 7 na escala de acidentes nucleares, mesmo índice verificado no desastre de Chernobyl. Apesar de recente, não é difícil imaginar o tamanho da tragédia para a população, que além de reconstruir boa parte do país, por gerações terá que lidar com as consequências da radiação. No fim da década de 60, o governo militar brasileiro começou a desenvolver o Programa Nuclear Brasileiro, destinado a implantar a produção de energia atômica. O País possui a central nuclear Almirante Álvaro Alberto, constituída por três unidades: Angra 1, Angra 2 e Angra 3. As usinas estão localizadas no município de Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro.


Outras alternativas Segundo dados do Ministério da Ciência e Tecnologia, apenas 3% de nossa energia vêm da tecnologia nuclear. No Brasil, predomina a energia de origem hidroelétrica, devido às condições geográficas e ambientais favoráveis. Outras fontes, como o gás natural, carvão e diesel, também compõem o quadro de produção energética nacional; porém, como acontece em outras partes do mundo, há uma tendência ascendente de investimentos nas chamadas fontes limpas de energia, que ganha força também no Brasil. Meios alternativos surgem como nova opção de fontes não renováveis de energia, como é o caso dos combustíveis fósseis. Além disso, eles podem, de certa maneira, amenizar a concentração de gases poluentes na atmosfera, o que é ocasionado, por exemplo, pelas usinas termoelétricas. Segundo o físico Lanza, para que o País ganhe destaque na produção de energia limpa, é preciso incentivo federal, e o Rio Grande do Sul também precisa investir nessa realidade. “A energia eólica me parece a mais perto de ser implantada. Já temos alguns exemplos aqui em nosso estado. Mas acho que em nível nacional não há um movimento intenso para implementação desse tipo de energia. Tenho a impressão de que falta vontade política”, destaca.

A energia eólica é a energia obtida pelo movimento do vento. Sua transformação em energia elétrica ocorre por turbinas eólicas, também conhecidas como cataventos.

Desde o final do século XX, as nações mais desenvolvidas passaram a se preocupar com a necessidade de diversificar suas matrizes energéticas. O aumento da atenção com o meio ambiente também direcionou muitas pesquisas e investimentos em fontes de energia menos poluentes. O ano de 1999 marca o início do desenvolvimento dos Parques Eólicos de Osório, quando foram feitas as primeiras gestões e estudos prévios pela Enerfin Enervento para projetos eólicos no Estado do Rio Grande do Sul. Dois anos depois, em 2001, a empresa assinou um protocolo de intenções com o governo estadual para a implantação de parques eólicos. Na sequência, foram instaladas torres anemométricas para medir os ventos da região de Osório. Os Parques Eólicos de Osório formam o maior complexo gerador de energia a partir do vento da América Latina e estão localizados no município de Osório, no Rio Grande do Sul. O empreendimento tem uma potência instalada de 150 megawatts. São 75 aerogeradores, de dois megawatts cada. Essas estruturas estão distribuídas ao longo dos três parques que integram o projeto: Osório, Sangradouro e Índios. A energia eólica é a energia obtida pelo movimento do ar (vento).

Em termos acadêmicos, é denominada como a energia cinética contida nas massas de ar em movimento. Trata-se de uma energia inesgotável, renovável e limpa. A sua geração não emite dióxido de carbono (CO2), um dos gases formadores do efeito estufa (GEE), que, no caso de um agravamento, pode originar aquecimento global. A transformação em energia elétrica ocorre por meio de turbinas eólicas, também denominadas de aerogeradores (cataventos). É uma fonte alternativa de energia que mais cresce no mundo, pois, além de ser limpa, complementa as demais fontes energéticas e permite economizar outros recursos, como a água. De acordo com o Ministério de Minas e Energia, cada 100 megawatts médios produzidos por parques eólicos no Brasil, são economizados 40 metros cúbicos por segundo de água na cascata do rio São Francisco. No caso do sistema de abastecimento de energia elétrica do Estado do Rio Grande do Sul, a energia eólica tem ainda maior complementaridade e importância estratégica, pois a época dos ventos coincide com o período de seca no estado. O acréscimo na capacidade de geração de energia, provocado pelo parque ajuda a diminuir a dependência do RS da importação de energia de outros estados.

WWW.SXC.HU/DIVULGAÇÃO

O Rio Grande do Sul investe em outras fontes de energia limpas e renováveis. Um exemplo é o Parque Eólico de Osório. O complexo é composto por três parques que contêm uma infraestrutura de 75 aerogeradores de dois megawats cada, distribuídos proporcionalmente nos três parques.

Uma saída limpa

É uma fonte de energia renovável e limpa, pois seu processo de transformação é isento de contaminações e de resíduos radioativos. O projeto contribui para que o estado se torne menos dependente de recursos não renováveis, como a água e o carvão. Luiz Antônio Muniz, professor responsável pelo Núcleo de Inovação e Desenvolvimento em Agroenergia da Universidade de Caxias do Sul afirma que o mundo ainda está muito pautado no petróleo. “O problema é que é uma matéria-prima que leva bilhões de anos para ser formada e a gente consome em apenas um segundo”, salienta.

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Tecnologia

Descanse em paz A procura por cremações tem aumentado gradativamente no país. Atualmente é possível “programar” a cremação realizando uma compra financiada para pagar em até cinco anos Por Elton Aristides Sabrina Reis

cremação é uma prática cada vez mais comum. As primeiras cremações podem ter ocorrido ainda na idade da pedra na Europa. Atualmente, alguns países a adotam também por questões ambientais. Um deles é o Japão. Lá, a cremação é obrigatória por falta de espaço. Algumas exceções são famílias que já possuíam túmulos em cemitérios. Por sua vez, nos Estados Unidos o serviço representa cerca de 37%. O país é considerado a “indústria da cremação”. Na Inglaterra, por volta dos anos 70 já se registravam cerca de 300 mil cremações anuais, representando quase a metade do total das mortes. No Brasil, o primeiro crematório, chamado Vila Alpina, foi construído em 1974 no município de São Paulo. No Rio Grande do Sul, São Leopoldo foi o município pioneiro do serviço no ano de 1997. Em Caxias do Sul, os primeiros serviços ocorreram em outubro de 2006 e, até 2011, foram cerca de 2.000 processos de cremação de corpos e restos mortais.

Como funciona De acordo com o assessor de direção do Grupo L. Formolo, Mateus Formolo, de Caxias do Sul, o processo ocorre em diversas etapas. Ao iniciar o procedimento o aparelho leva aproximadamente 20 minutos para aquecer. Em seguida, o corpo e o caixão são cremados por pouco mais de uma hora a uma temperatura de 1000 graus. Formolo explica que ocorre uma sublimação, ou seja, o corpo passa do estado sólido diretamente para o estado gasoso, sem a formação de líquidos. Após esse processo, o resfriamento ocorre em 20 minutos. Para que o procedimento esteja dentro das normas que visam à redução dos riscos ambientais a Fepan exige que o caixão não tenha revestimento em verniz e que os componentes em met-

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al e vidro sejam retirados. Além disso, baterias de marca-passo ou outros­ aparelhos, que estejam no corpo são retirados. Finalizado o processo de cremação, os restos mortais passam por um aparelho que ‘tritura’ os fragmentos de ossos. As cinzas de uma pessoa adulta pesam cerca de 2,5kg a 4kg. Os corpos somente podem ser cremados após 24 horas do horário assinalado no Atestado de Óbito, quer sigam o rito do velório, quer permaneçam acondicionados em câmaras frias. Hoje, a evolução tecnológica do processo permite até 340 cremações/mês, número que a t é recentemente se restringia a 120. Formolo explica que a compra de um túmulo e a realização de velório superam os gastos com a cremação. Atualmente, existe venda antecipada para quem deseja “programar” seu adeus. É possível pagar em até cinco anos. O preço médio do serviço sem velório é de R$ 2.260 e, com funeral completo, pode chegar a R$ 6 mil.

E as cinzas? No Memorial Crematório de Caxias do Sul, que possui 36 mil m², a funerária dispõe de um jardim para as famílias que desejam espalhar as cinzas sobre as flores. Após o quinto dia da cremação, é possível também os familiares levarem as cinzas, acondicionadas em uma

urna. Porém, para quem deseja sepultar no Memorial, existem os chamados “lóculos cinerários”: pequenos túmulos, alugados por R$14 ao mês, onde os restos mortais podem ser depositados.


Por que cremar? FOTO: ELTON ARISTIDES

A cremação apresenta-se como uma tendência e, principalmente, como uma solução para o problema da lotação e da falta de segurança nos cemitérios tradicionais. Além disso, é isenta de custos futuros, como anuidade ou manutenção cemiterial.

Saiba mais O corpo cuja morte seja por violência somente pode ser cremado com autorização judicial ou transcorridos 20 anos da data do ocorrido. Corpos já sepultados também podem ser cremados desde que obedeçam ao tempo mínimo de exumação (retirada dos restos mortais), conforme legislação de cada cemitério. A cremação não dispensa velório, pois ele é sempre realizado respeitando as tradições e crenças dos familiares.

O destino O destino das cinzas é uma decisão da família. Podem ser espalhadas em um local escolhido ou mesmo guardadas em lóculos cinerários (espaços destinados à guarda da urna, que podem ser locados por períodos determinados ou mesmo comprados definitivamente). As urnas são recipientes destinados à acomodação dos restos cremados. Possuem formas e tamanhos variados e podem ser fabricadas em diferentes materiais.

Faz bem ao meio ambiente A cremação é o processo que oferece menor risco ao meio ambiente. Hoje existem tecnologias modernas que limitam a emissão de gases e atendem a padrões específicos de qualidade.

Onde cremar O ataúde (caixão) é cremado juntamente com o corpo. Os ataúdes utilizados para esse processo seguem uma determinação do Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama, que os tornam “ecologicamente corretos” com a utilização de tintas e vernizes a base d’água e sem a utilização de plásticos, vidros e metais. Isso evita a liberação de possíveis poluentes durante a queima. Devido ao fato de a madeira ter densidade leve, ao final do processo resta apenas 0,01% de seus resíduos.

Declaração em vida O desejo de ser cremado pode ser expresso ainda em vida. A maior parte dos crematórios disponibiliza a documentação necessária e encaminha ao cartório de registro de títulos e documentos, para que desejo tenha valor legal.

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Novo

Realidade Por Rafal Poletto

Realidade em três dimensões. Você já ouviu falar sobre esse conceito. Os efeitos em terceira dimensão são cada vez mais comuns em nosso cotidiano e, para um futuro próximo, parecem estar encaminhando para se tornar a nova febre do mundo do entretenimento.

M

as o que poucos sabem é que, embora essa tecnologia só agora tenha iniciado, seus princípios e as primeiras experiências já têm mais de meio século. Para se ter uma ideia, em 1952, nos Estados Unidos, foi exibido o primeiro filme em 3D nos cinemas. Claro, nada como é apresentado hoje, em modernas salas, mas a ilusão de ver as imagens saindo da tela – ainda que precária – causou furor no público. Assim, durante toda a década outras experiências foram feitas, mas à época as prioridades eram outras. Era preciso aprimorar o som, o formato de exibição de imagem, reformar as salas de cinema e aprimorar os óculos de papel – com uma lente azul e outra vermelha – que, além de serem desconfortáveis, causavam dor de cabeça e enjoo em algumas pessoas. Afinal, como é feito o 3D e por que vemos em três dimensões? O tecnólogo Wikerson Landim explica que a terceira dimensão não existe, ”é apenas uma ilusão da sua mente. Literalmente. E isso é possível graças a um fenômeno natural chamado estereoscópica. Apesar do nome complicado, trata-se apenas da projeção de duas imagens, da mesma cena, em pontos de observação ligeiramente diferentes. Seu cérebro, automaticamente, funde as duas imagens e, nesse processo, obtém informações quanto à profundidade, distância, posição e ao tamanho dos objetos, gerando uma ilusão de visão em 3D.” Para que isso seja possível, no en-

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tanto, a captação dessas imagens não é feita de uma forma qualquer. Lembre-se que o efeito 3D é composto por duas imagens projetadas em pontos distintos. Logo, na captação, devem ser filmadas duas imagens ao mesmo tempo. Essa correção de enquadramento é feita por softwares específicos, em tempo real, que reduzem as oscilações na imagem, deixando a composição mais realista. A percepção é que faz a diferença no 3D, a câmera estereoscópica simula a visão do olho humano. Cada lente é colocada a cerca de seis centímetros uma da outra (já que essa é a distância média entre os olhos de uma pessoa). E nesse processo ainda devem ser controlados zoom, foco, abertura, enquadramento (que deve ser exatamente o mesmo) e o ângulo relativo entre elas. Não é tarefa fácil ou que você possa fazer na sua casa. Ou melhor, até é possível, mas é um processo bem trabalhoso. Um truque utilizado pela indústria é filmar através de uma lente e usar um espelho para projetar uma imagem deslocada em uma segunda lente. A imagem refletida é girada e invertida antes da edição do filme. E, por se tratar de um espelho, é preciso fazer ainda as correções de cores e brilhos necessárias, para que não deem a impressão de imagens distintas. Grande parte das tecnologias desenvolvidas para as áreas de entretenimento nasceram de experiências realizadas primeiramente no mundo do

cinema. E o cinema, por sua vez, “brinca” de ser laboratório apenas quando se sente ameaçado. Quando a TV se desenvolveu, por exemplo, o cinema procurou aperfeiçoar a qualidade das projeções. Quando a TV começou a crescer, com o home vídeo, vieram as novidades em termos de som e imagens digitais. E agora, quando ter um cinema em casa já não é mais novidade e o acesso a qualquer produto de entretenimento ficou mais fácil graças à internet, os efeitos em 3D surgem como uma salvação para a indústria.


JORGE ALISSON

3D

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Pós-Moderno

STOCKX.ORG

O século XXI está sendo esculpido pela ­junção do passo e da tecnologia. Entre os tópicos abordados estão, a busca pela saúde do corpo e da mente, os transtornos psicológicos, ­cultura urbana e a homossexualidade


Tecnologia

Anatomia perfeita A tecnologia aplicada ao corpo humano é capaz de melhorar o funcionamento do organismo, inclusive com a correção de deficiências causadas por traumas ou traços genéticos. Mas não apenas isso: pode transformar o corpo em cenário de ficção científica.

Por Josmari Pavan

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m 2006, a descoberta de um tumor na perna esquerda anunciou as mudanças que atingiriam a vida de Yuri Batista de Moraes. Na época com 14 anos, o rapaz enfrentou Osteosarcoma, um tipo de câncer ósseo que, ao atingir o fêmur, prejudicou os movimentos da perna esquerda de maneira irreversível. Yuri já não caminhava direito quando, em 2008, os médicos detectaram outro tumor, dessa vez no quadril. Em setembro 2010 mais uma ocorrência, no ombro direito, que culminou com uma cirurgia para a colocação de uma prótese interna. Quando foi descoberto o quarto tumor, de novo na perna esquerda, já não havia mais como evitar a perda total de mobilidade no membro. A amputação, em janeiro deste ano, deu lugar a uma prótese hidráulica computadorizada, que está entre as mais modernas, disponíveis no mercado. A cirurgia foi bem-sucedida e a adaptação, rápida. Yuri esclarece que, no caso dele, ter o membro mecânico trouxe apenas benefícios. “Pra mim, deu tudo certo. Antes eu tinha muitas dificuldades. Depois que coloquei a prótese, consigo caminhar bem melhor”, explica.

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No procedimento normal, a porção de osso danificada é substituída pela prótese de titânio, o material mais usado. Pompeu explica que o desgaste de articulações traz duas características: dor e limitação de movimentos. Assim, utiliza-se a prótese quando a articulação estiver bastante danificada e o paciente já for idoso, já que o procedimento não é capaz de restaurar integralmente a mobilidade. O ortopedista reforça que um implante artificial deve ser considerado apenas quando todas as outras opções de tratamento não surtirem efeito. É um procedimento definitivo e pode haver riscos no percurso. “Quem faz uma vez, é candidato a uma segunda cirurgia, até por problemas decorrentes da operação, como cicatrização irregular e infecção, muito comuns. A necessidade de substituição da prótese também ocorre com frequência,” explica.

ILUSTRAÇÃO: CASSIANO MORONI

O aprimoramento da qualidade de vida, por meio de próteses, é atestado pelo ortopedista e traumatologista Paulo Pompeu Correa, de Caxias do Sul. O médico acompanha a utilização de implantes internos, as chamadas endopróteses. Elas não substituem membros, mas são usadas no tratamento de alterações degenerativas nas articulações, quase sempre causadas por desgaste ósseo.

Quadril e joelho são as áreas de maior incidência.


REPRODUÇÂO

Natureza biônica

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esde a Antiguidade egípcia, o homem substitui, anatomicamente, partes de seu corpo. No início de 2011, arqueólogos descobriram dois grandes dedos artificiais em tumbas do Egito. Um deles, segundo os pesquisadores, data de 600 a.C; o outro, feito com madeira e couro, foi construído entre 950 a.C. e 710 a.C. São as próteses mais antigas de que se tem notícia. Antes dos dedos do Egito, a prótese mais antiga, reconhecida pela comunidade internacional, era uma perna artificial romana feita de bronze, que data de 300 a.C. Mas foi a partir do século XX que os implantes artificiais de membros começaram a ter êxito. A Segunda Guerra Mundial e, com ela, um contingente de soldados mutilados, fizeram com que estudos de melhoramentos do movimento corporal se desenvolvessem. A partir disso, mais do que substituir um membro pela estética, foi incluída a funcionalidade no desenho das próteses. Luiz Roberto Stigler Marczyk, professor de Ortopedia e Traumatologia na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), elogia o desenvolvimento de membros artificiais propiciado pela tecnologia. Ortopedista do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, Marczyk lamenta, porém, que essa evolução não alcance a mesma velocidade no campo da biomedicina. O ideal, segundo o médico, seria que os materiais utilizados hoje, artificiais, dessem lugar a próteses biodegradáveis, com inserção de células-tronco do próprio paciente. “A tecnologia já garante a funcionalidade. O desafio é conferir sensibilidade, deixando as próteses com características cada vez mais humanas, vivas”, defende.

Até aonde podemos chegar As formas simetricamente impecáveis do homem de Vitrúvio, de Leonardo da Vinci, são consideradas o modelo de beleza estética e perfeição das formas humanas. Há quem diga, porém, que o novo conceito de corpo humano ideal deve aliar tecnologia.

O Pós-Humanismo trata desse aspecto, ao defender, de certa forma, a necessidade de o ser humano evoluir ultrapassando fatores biológicos. De maneira geral, o pós-humano é definido pelo hibridismo: a união de dois elementos, o humano e o tecnológico, que permite ao homem ultrapassar limitações físicas ou mentais, expandindo suas próprias capacidades por meio de recursos tecnológicos. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche, na primeira metade do século passado, chegou a abordar a superação da espécie humana por esse ângulo. A dúvida, porém, é se teria sentido a vida humana sem um corpo essencialmente humano, como prevê o imaginário dos filmes e demais obras de ficção científica. Muitos acreditam que, em uma sociedade que investe, de forma crescente, em tecnologia de inteligência artificial, a valorização do corpo humano, natural, poderia ficar em segundo plano.

O professor titular no Departamento de Educação Física da Universidade Fe deral do Rio Grande do Sul e pesquisador do movimento humano, Adroaldo Gaya, acredita que o discurso do pós-humanismo se destaca ao subvalorizar o corpo humano devido a possíveis limitações. Porém, como qualquer discurso, precisa ser relativizado. “O corpo humano é complexo, não redutível a um instrumento. Neste sentido, as próteses que a tecnologia pode nos ceder, jamais saberão o que é amar, sorrir, sentir saudade. Não podemos imaginar que próteses, por mais inteligentes que possam ser, substituam o corpo humano”, considera o professor. Nesse aspecto, Gaya duvida que o desejo de aprimorar o ser humano pela tecnologia alcance níveis realmente prejudiciais. “Os humanistas ainda são maioria. Nenhuma máquina sofisticada chega sequer perto da complexidade do humano”, sentencia.

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Identidade Cultural

Por Gabriela Ghellere Vagner Espeiorin

A

s primeiras cidades datam ainda do período neolítico, mas foi na Idade Antiga que elas passaram a ganhar maior importância. Os gregos foram os que mais as desenvolveram. A eles devemos espaços como a praça pública, ponto de manifestações democráticas. Hoje, as cidades apresentam uma estrutura muito mais grandiosa. Prédios gigantescos ostentam os avanços arquitetônicos. A arquitetura, aliás, tece um cenário urbano que aproxima sobre o mesmo terreno o velho e o novo. Prédios antigos contrastam com os mais modernos projetos desenvolvidos. As cores e os tons das construções se juntam às intervenções publicitárias. A poluição visual é acrescida das pichações, dos cartazes publicitários e das ruas abarrotadas de carros. O movimento de hoje, por sinal, em nada se parece com as grandes cidades-estados gregas. Se Sócrates permanecia horas em praça pública em diálogos intermináveis, hoje, o tempo reduzido não permite tais manifestações. A velocidade é a principal marca das cidades contemporâneas. Os meios de comunicação sofisticados permitem conexão em tempo integral com o mundo virtual. A praça pública parece ter ido para dentro do computador ou do iphone.

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Assim como muda a arquitetura, a cultura também é ressimbolizada. A professora da Universidade de Caxias do Sul, Liliane Stanisçuaski Guterres, explica que as práticas culturais que se manifestam dentro das cidades são objeto de estudo da antropologia urbana. Na contemporaneidade, estudos sociais apontam para a fragmentação social, com a formação de grupos de pessoas que se unem por meio de gostos e interesses comuns. “No meio social, se trabalha muito, atualmente, o conceito de tribos. Esses grupos se criam a partir de gostos e interesses comuns; haveria muito mais uma identificação entre as pessoas que o compõem do que uma identidade cultural”, explica a professora. Essa diferenciação entre uma identidade e uma identificação cultural realça as mudanças na forma como o homem transformou a convivência com o outro, ao longo do tempo. Antigamente, no início da modernidade, destaca Liliane, as pessoas se reuniam a partir de características quase inatas. Então, as “tribos” da época eram definidas a partir da etnia, dos laços familiares. Vigorava aí o conceito de comunidade, cujos laços se davam de forma mais sólida. Hoje a fluidez parece ter tomado

conta das relações sociais. Liliane, numa comparação, afirma que no passado as pessoas permaneciam quase que a vida toda num mesmo grupo social, atualmente, a realidade é diferente. As pessoas trocam de tribos com muita rapidez, caracte rística típica da pós-modernidade. “Formamos uma sociedade migrante. Temos a vontade de desenvolver ferramentas de diferenciação. Por meio da roupa e do estilo, principalmente. Há uma grande tendência à customização. Isso é até mesmo paradoxal. Precisamos nos diferenciar de outros grupos, mas para isso caímos numa padronização dentro do grupo”, destaca a antropóloga. O estilo, aliás, é a marca da sociedade contemporânea. Assim como prédios e lojas expõem nas fachadas as marcas da publicidade, as pessoas acabam utilizando o corpo para disseminar as tendências da moda. As roupas funcionam para simbolizar desejos, classificar os grupos e diferenciar as pessoas. Afinal, nada mais contemporâneo que comunicar ao outro o seu estilo, a sua tribo. Como explica a professora Liliane, “somos seres sociais. É no contato com o outro que construímos quem somos, num determinado tempo e espaço.”

VAGNER ESPEIORIN

A cidade como cenário


CASA BRASIL DIVULGAÇÃO

A cultura urbana

Possivelmente por descender da pichação, o grafite seja visto como um depredação, mas a realidade não é bem assim. Mairon, por exemplo, destaca que nem sempre pichadores e grafiteiros têm uma boa relação. “A rivalidade existe e é por parte dos pichadores. O grafite envolve informação, troca de ideias. Na pichação os pichadores querem aparecer mais que o outro, eles desrespeitam o desenho do outro, picham em cima.” O grafite se popularizou e se tornou cult. Muitas galerias de arte expõem trabalhos que utilizam as técnicas típicas dos grafiteiros. Para Mairon, embora o grafite tenha tomado as galerias, a essência dele continua nas ruas e nos muros das

VAGNER ESPEIORIN

Os jovens são os grandes responsáveis pelas transformações das culturas urbanas. Prova clara disso é a cultura Hip Hop, que domina os gostos dos jovens. A cultura emergiu nas periferias dos centros urbanos americanos e hoje se globalizou. Mairon Uridion Moccelin de Car valho, 23 anos, é apaixonado pelo Hip Hop. Além da dança, ele pratica há sete anos o grafite, intervenção urbana que estampa nos muros desenhos com mensagens que representam principalmente a periferia.

invadisse as galerias, mas não tem os mesmos detalhes de um muro por exemplo, é só a essência.”

cidades. “Na rua existe a integração, é uma forma de arte urbana, mas a evolução do grafite permitiu que ele

Adolescência colorida

A espera de mais de 16 horas denuncia o gosto pela cultura jovem que se dissemina entre a garotada. Além da adoração pelos ídolos, os adeptos dessa nova moda usam roupas extravagantes e coloridas. A mistura de tonalidades não segue regras. Calças vermelhas com camisetas verde-limão formam um look perfeito. Roupas roxas e cor-de-rosa, em tons vivos também são bastante usadas pelos adeptos da moda. Os adolescentes de Novo Hamburgo aderiram ao estilo descon-

traído há cinco anos. O que os levou a isso? O amor à banda e a procura por uma identidade própria foram alguns dos motivos. Vitória acha legal. VAGNER ESPEIORIN

Fernando, 15 anos, Vitória, 14 anos, Eduarda, 14 anos, viajaram mais de três horas de Novo Hamburgo a Veranópolis para assistir ao Show da Banda Restart. Eles aguardavam desde das quatro horas da madrugada para ver a apresentação dos seus ídolos adolescentes que subiram ao palco por volta das 22h30min.

“O estilo combina muito comigo”, expressa a garota. O preconceito da família foi um obstáculo a ser vencido. “No começo, eles não gostavam, mas com o tempo passaram a aceitar.”

Tatiana, Elisa e Paola, todas com 13 anos, também adotaram o visual alegre diariamente. Para o show da banda, elas trouxeram presentes diferenciados. Elas criaram bonecos miniaturas dos jovens artistas. A expectativa era entregar as lembranças em mãos. Segurando alguns cartazes coloridos, a menina Natália, 15 anos, carregou o pai para ver de perto os ídolos. A garota conta que a maioria dos amigos dela não gosta do estilo Restart. Mas com muita personalidade, ela diz que isso não faz muita diferença. “Muitos deles não gostam, mas eu não ligo pra isso”, esclarece. Desde que conheceu a banda adotou o visual colorido e despojado.

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Psicologia

Uma ĂŠpoca de transtornos Por Vagner A. Espeiorin Janine Stecanella

FOTO VAGNER A. ESPEIORIN

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Q O tempo é escasso, a informação é dinâmica e as emoções se tornaram completamente efêmeras. A pós-modernidade e toda sua gama de opções disseminou uma nova onda de doenças. Nessa era informatizada, os problemas psicológicos se proliferam em rede. A ansiedade generalizada se tornou a grande problemática contemporânea. Síndromes como a do pânico atingem cada vez mais pessoas. Além da ansiedade, a tristeza se prolifera como nunca. A depressão lota os consultórios psicológicos. A falta de capacidade de lidar com a realidade parece ser o maior problema atual. Essa onda de transtornos prolifera sintomas diversos. A dificuldade de aceitar o próprio corpo é um deles. Outros apresentam um quadro de pânico e não conseguem sair, sequer, de casa. Valores perdidos ou apenas características de uma nova época? Apontar uma certeza para a contemporaneidade parece ser a maior dificuldade de todas.

uando Einstein criou a teoria da relatividade, entrou para História por revolucionar a física. O que o cientista talvez não previsse é que suas descobertas transformariam profundamente o campo social. Os estudos de Einstein questionaram os conceitos de tempo e espaço da física newtoniana. Para Newton, o tempo e o espaço são duas variáveis isoladas. Para Einstein, ao analisar a velocidade da luz, essas variáveis se tornaram apenas uma entidade. A Teoria determinou ainda que espaço e tempo são relativos e variam conforme o observador. Depois de Einstein, tudo se tornou relativo e o pensamento moderno, alicerçado na ciência objetiva, sofreu um baque. A objetividade, a partir daí, cede lugar à subjetividade. A modernidade avança no tempo e chega à pós-modernidade. A relatividade afugenta a segurança moderna, e a contemporaneidade divaga por aí proliferando uma onda de incertezas. Esse terreno líquido, como diria Bauman, é fértil à ascensão de dúvidas psicológicas. Transtornos psiquiátricos ou psicológicos atingem, cada vez mais, a rotina das pessoas. O início da pós-modernidade demonstra que a velocidade do dia a dia, a necessidade de afirmação, o culto demasiado ao corpo modificam e afetam a saúde mental. A psicóloga Simone De Antoni Perini, 45 anos, lembra que a depressão, o estresse, a bipolaridade, entre outros transtornos, são as chamadas doenças do século. A depressão é a mais comum entre elas e se caracteriza por um quadro de tristeza profunda, que dificulta a convivência social do indivíduo afetado. Simone explica que há diferenças entre os momentos em que nos deprimimos e a depressão como transtorno psicológico. No primeiro quadro, a recuperação é quase imediata. A pessoa logo retorna ao dia a dia normalmente. No segundo caso, a história é diferente. “A depressão te leva ao fundo do posso. Ela é mais profunda que a tristeza e passa a te impedir, em um determinado grau, a convivência”. A psicóloga ressalta que o quadro depressivo ocorre com mais frequência em quem já apresenta uma predisposição à doença e não tem uma organização emocional saudável. “Cada

um encara as mudanças de forma diferente. No quadro depressivo, qualquer mudança é encarada com maior dificuldade. E isso depende também de uma predisposição dos indivíduos”, explica a psicóloga.

A autoestima A pós-modernidade elegeu da Grécia antiga a democracia como regime político de governo, mas não foi apenas isso que se trouxe de lá. Os gregos, assim como nós, cultuavam o corpo. O esporte e os treinamentos de guerra faziam parte da rotina diária de um jovem grego. As Olimpíadas eram a marca maior desse culto que definia o corpo malhado como o ideal. Se, na Grécia antiga, as guerras do período exigiam corpos capazes de enfrentar esses conflitos, hoje, a procura por academias e cirurgias estéticas em nada tem um interesse utilitarista. Menos do que uma vida saudável, o corpo perfeito procura apenas atender aos padrões de beleza em destaque. Mais do que estar bem para si, a necessidade de se mostrar bonito/bem para os outros parece ser o grande interesse da maioria das pessoas na contemporaneidade. O problema, no entanto, ocorre no momento em que a busca por um corpo ideal se transforma em obsessão. Anorexia e bulimia são os quadros mais conhecidos com relação aos transtornos alimentares. A anorexia se caracteriza por uma dieta insuficiente, o consumido alimentar é praticamente zero. Já uma pessoa com bulimia, por exemplo, ingere grandes quantidades de alimentos e, em seguida, provoca vômito ou faz uso de laxantes e diuréticos para compensar o excesso de consumo. Não raro, esses transtornos afetam um mesmo indivíduo. E eles são produto da busca por um corpo perfeito. A psicanalista Margareth Kuhn Martta, de Caxias do Sul, alerta que tanto a bulimia quanto a anorexia normalmente estão associadas a um quadro psíquico mais grave. “As pessoas que apresentam os sintomas precisam de um tratamento terapêutico. Para se entender o porquê da bulimia e da anorexia é preciso uma análise mais soa. Se é um caso de psicose ou um

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Com a teoria da relatividade Einstein modifica as bases da ciência; Freud, no século XX,descobre o inconsciente e cria a psicanálise sintoma dentro de uma estrutura histérica”. Os distúrbios alimentares afetam principalmente mulheres. As adolescentes são as mais vulneráveis à anorexia e à bulimia e a mídia acentua essa propensão das jovens. Ao exibir corpos sarados, os meios de comunicação colaboram para a formação de um padrão de beleza que nem sempre é possível. “A relação com o corpo é uma construção e está ligada ao olhar que ‘outro’ projeta sobre ‘nós’. As mulheres, por uma questão cultural, utilizam mais o corpo para se sentirem atraídas. A subjetividade feminina está enlaçada ao corpo. A adolescente, que está com a identidade em formação, tem maior inclinação a se ‘colar’ na beleza que é padrão, o corpo sarado”.

O bullying Das ruas para as escolas, a violência parece ter se disseminado pelas instituições. Em algumas salas de aula, a agressividade se tornou rotina. O bullying é a forma mais comum da violência entre as crianças. Caracterizado por um comportamento agressivo de uma pessoa ou grupo sobre um indivíduo, o bullying não necessariamente ocorre fisicamente. As intimidações psicológicas também são enquadradas entre os casos.

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Algumas características da contem-

poraneidade explicam a ascensão do bullying no cenário atual. A insegurança associada a uma derrocada das figuras que representavam social e psicologicamente a lei. Para a psicanalista Margareth Martta, a grande diferença do bulliyng para as manifestações agressivas de outros momentos é que, agora, as pessoas têm uma relação menos ética. “Antes as pessoas, interferiam nessas situações de agressão. Hoje, pelo contrário, ao invés de tentar evitar, se unem para agredir”, alerta. “Vemos hoje

Transtorno de Ansiedade Generalizada, o Transtorno de Ansiedade Social e o Transtorno do Pânico. Conforme o psiquiatra e professor da UCS Carlos Ritter, esses casos estão ligados à genética de cada um, porém o comportamento ao longo da vida também contribui para o aparecimento do quadro clínico. “As doenças surgem a partir de uma soma de carga genética e fatores desencadeantes. A forma como o indivíduo viveu as etapas do ciclo vital são fundamentais para aumentar que os exemplos ou diminuir essa Essa forma de vio- ao invés de ensinarem, desvir- v u l n e r a b i l i d a d e . lência, ainda confor- tuam. Os políticos que trans- Fatores de gatilho como a vida moderme a psicanalista, gridem as regras, acabam in- na, as poucas oporpode ser atribuída a um enfraquecimen- fluenciando outras pessoas” tunidades, o medo de casar e ter filhos to do laço social. certamente imporPor analogia: na tam muito”, completa. estrutura familiar, o pai, enquanto personagem, carrega o poder da ordem e do controle. Na sociedade, o Estado tem esse papel, o de organizar as relações dentro de suas fronteiras. “Vemos hoje que os exemplos ao invés de ensinarem, desvirtuam. Os políticos que transgridem as regras, acabam influenciando outras pessoas”, demonstra a psicanalista.

A ansiedade As doenças relacionadas à ansiedade são as mais comuns na psiquiatria. Entre eles, estão doenças como o

O psiquiatra alerta que fatores contemporâneos colaboram para que a ansiedade latente se revele e se torne um transtorno com graves consequências. “Os grandes avanços na era tecnológica, como a internet, abortaram muitas etapas do desenvolvimento psicossocial. A frieza e a superficialidade dos relacionamentos são a parte mais notória da desumanização. A facilidade de comunicação permite que a informação chegue em segundos a todo lugar, mas sem a certificação de que haja interpretação, fato muito sentido por crianças e adolescentes que preferem teclar a conversar.”


A������������������������������������ Síndrome do Pânico assusta no prórpio nome, e não é para menos. Além do quadro de ansiedade aguda, os sintomas da doença envolvem taquicardia, taquipnéia, sudorese, palidez, tremores, medo intenso de morrer.

REPRODUÇÃO/EDVAR MUNCH

O pânico toma conta

A primeira crise traz as piores lembranças à estudante Fernanda*, 23 anos. O medo intenso desnorteou a garota que não sabia o que estava acontecendo. “O primeiro ataque de pânico ninguém esquece. É sempre o pior. A única coisa que vem à cabeça é que se está prestes a morrer”. Além de medo infundado, ela sentiu enformigar os braços. As pernas ficaram bambas e o coração batia aceleradamente. Fernanda descobriu a doença por meio de um psiquiatra. A mãe já havia passado pelos mesmos sintomas e achou melhor levá-la logo ao especialista. O quadro de pânico foi diagnosticado e logo depois começou o tratamento. A cada 15 dias, Fernanda tinha consulta

“O primeiro ataque de pânico ninguém esquece. É sempre o pior. A única coisa que vem à cabeça é que se está prestes a morrer” com o psiquiatra e tomava remédios para controlar as crises. As dificuldades, porém, não passam logo de início. A ansiedade e o pânico acompanham a paciente por um tempo, assim como as adversidades que envolvem o tratamento. “As dificuldades aparecem todos os dias. Você tem medo de ter uma nova crise, então tudo gera insegurança. Muitas vezes o medo é tão grande que te limita. Não te deixa avançar. E quando as crises surgem, do nada, você sabe o que é, mas nunca sabe o que fazer. É difícil manter o controle”, relata. Aos poucos, com o tempo, Fernanda retomou suas atividades normais. Voltou a sair de casa e a se divertir com os amigos. E a família tem um papel crucial para a reabilitação, pois ajuda a restabelecer o emocional do doente. “Amigos e familiares são muito importantes, pois te dão força, te motivam, e é muito bom conversar, desabafar, porque você fica desnorteado, sem esperança, precisa de alguém que ajude, te coloque pra cima”, lembra a garota que hoje vive normalmente. *nome fictício

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FOTO VAGNER A. ESPEIORIN

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Homossexualidade

Novos tempos, os mesmos tabus Por Vagner A. Espeiorin Janine Stecanella

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lexandre, o Grande, comandou na Antiguidade um dos maiores exércitos de que se tem conhecimento. Ele foi responsável, por volta de 334 a.C., por dominar boa parte do território da Eurásia. As conquistas desse Imperador macedônio serviram para difundir a Cultura Grega pelo mundo e, até hoje, ele é lembrado por suas aventuras. John Maynard Keynes foi um brilhante economista britânico. Por meio de seus estudos em macroeconomia defendeu a força intervencionista do Estado sobre o mercado. Ele viveu no final do século XIX e início do século XX e defendeu uma teoria avessa à escola liberal. Na recente crise econômica vivida pelo mundo, a teoria de Keynes foi fortemente revisitada, e se não fosse pela intervenção estatal, o mercado teria entrado num colapso geral. Tanto Alexandre, o Grande, como Keynes, embora vivessem em períodos bem diferentes, apresentavam características comuns: ambos foram gays e contribuíram de alguma forma para o mundo. Hoje, por mais que se fale em revoluções comportamentais, tabus relacionados à homossexualidade ainda dominam o imaginário das pessoas. Embora se tenha avançado, e o assunto esteja mais em

evidência, a aceitação e a tolerância ainda não são gerais. Os extremismos religiosos e o preconceito ainda barram uma discussão muito mais acalorada, e o assunto continua cercado de cuidados em público. Mas nem por isso gays e lésbicas se escondem atrás de aparências. Se antes muitos nunca assumiam sua condição, ou quando o faziam preferiam esconder da maioria, hoje isso acabou. Cada vez mais eles se sentem à vontade para aceitar sua condição sem medo de julgamento. Afinal, o importante é ser feliz, e para isso é indispensável ser você mesmo. Robinson Luis Kremer, 24 anos, conta que assumiu sua homossexualidade aos 18, depois de ter um caso com um primo e sua tia ter descoberto um bilhete trocado pelos dois e mostrado aos seus pais. Ele lembra que a notícia foi aceita, inclusive pelo pai. Mesmo assim, sua mãe pediu que ele visitasse um psicólogo. O jovem fez algumas consultas em respeito ao pedido, mas enfatiza que nunca foi rejeitado. Para Robinson, qualquer tipo de preconceito é repugnante. Principalmente porque alguns agem de má-fé e com violência. O jovem prefere viver no presente e não pensa nos próximos anos. Sobre a situação do Brasil em relação aos homossexuais ele des-

taca: “Com a nova lei aprovada pelo STF (regulamenta a união estável entre pessoas do mesmo sexo), parece que houve um grande avanço no País, porém lei é no papel, quero ver nas atitudes pessoais como a coisa vai acontecer. O problema maior é a vontade da população em querer rotular tudo, por isso tantas leis protetoras e tantas guerras”. A estudante Danielle Lopes Gomes de 24 anos assumiu sua homossexualidade há 11 anos. Ela conta que no início sua mãe pensou que era uma fase. Mas, com o passar dos anos, percebeu que não e aceitou bem. Contudo, para as demais pessoas Danielle foi cuidadosa. Primeiro contou para os amigos próximos e só depois de um tempo assumiu completamente para todos. A estudante acredita que a violência e o preconceito só vão terminar quando as pessoas tiverem conhecimento. E destaca que isso deve ser feito desde cedo, ainda com as crianças. Afinal de contas, a fase escolar é uma das mais difíceis para aqueles que não se enquandram nos padrões estabelecidos pela maioria. Para o futuro, Danielle espera mais respeito. “Falta uma lei, uma lei que veja a gente como pessoas comuns. Não quero cotas em universidades, nem hospitais especiais pra GLSs.

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Quero apenas ter exatamente os mesmos direitos”, desabafa. Em uma país onde a desigualdade é resolvida com medidas ainda mais separatistas, esse desejo pode chegar no futuro. Cada homossexual passa por uma experiência diferente, como se observa com Robinson e Danielle. Mas é nos consultórios que muitos buscam ajuda para algo insuperável. Victória Titton De Carli, psicóloga e psicanalista, acredita que pela discussão atual, as pessoas estão se acostumando com a homossexualidade e perce-

bendo que ela é mais comum do que se imagina. “A homossexualidade deixou de ter o estigma de doença”, afirma.

sexuais... mas medo do quê??? Pensar na homossexualidade do outro às vezes mexe com questões individuais do sujeito que pensa. Assim, para se proteger disso e não olhar para si, é supostamente melhor colocar o problema no outro, utilizar-se da projeção”, explica a psicanalista.

Um dos principais problemas nesse processo de assumir a homossexualidade é a aceitação. Vitória destaca que a dificuldade é tanto da sociedade em aceitar, quanto do sujeito em assumir, principalmente porque quebra com a norma social de que meninos ficam com meninas, e vice-versa.

Mas diferentemente do que se pensa, muito da procura pela ajuda nos consultórios é motivado pelos mesmo medos de heterossexuais, como dificuldades nos relacionamentos, dificuldades com a sexualidade, angústia, medo, insegurança, insatisfação.

A homofobia também é uma questão contraditória. “A palavra homofobia sugere que há uma fobia a homosFOTO VAGNER A. ESPEIORIN

Homossexualidade X Transexualidade a diferença O homossexual é aquele ou aquela que gosta, ou sente atração física e sexual, por alguém do mesmo sexo. Isso não quer dizer que ele (ela) quer ser de outro sexo (e os trejeitos não têm nada a ver com isso), o homem está bem sendo homem e a mulher está bem sendo mulher. Já o transexual é alguém que não está bem com o próprio sexo, com o próprio corpo, e tem vontade de mudar isso. Muitos fazem cirurgia de mudança de sexo. O transexual não é, necessariamente, homossexual.

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