Encarte Resenha

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Crítica nos filmes de terror - pgs 10 e 11

Defesa da cultura em Farroupilha - pg. 5

“Quem não tem memória, não sabe quem é” O desafio de preservar a história e a paixão pela arte marcam a vida de Frei Celso Bordignon Aliar a vida religiosa ao gosto pelas artes plásticas e a história. Esse é o compromisso diário de Celso Bordignon, frei capuchinho de 57 anos, que atua na direção e organização do Museu dos Frades Menores Capuchinhos do Rio Grande do Sul (Muscap), localizado no bairro Rio Branco, em Caxias do Sul. O religioso mora na Fraternidade (nome dado às casas dos frades) São Maximiliano Kolbe, do bairro Desvio Rizzo, também em Caxias. Doutor em Arqueologia Cristã, pelo Pontifício Instituto de Arqueologia Cristã (PIAC), de Roma, Itália, ele conta nesta entrevista como começou a gostar de desenho, pintura e restauro. “Não fiz faculdade na área das artes plásticas, mas procurei vários cursos com os artistas que mais me interessavam”, afirma. Frei Celso relata também que a vocação religiosa, alimentada desde a infância, em Cachoeira do Sul, só foi concretizada na maioridade. “Quando eu tinha nove anos, já dizia que queria ir pro seminário. Só que o meu irmão menor queria ir também, aí eu disse: ‘se tu vai, eu não vou’”, relembra. Além do trabalho na diretoria do Museu, ele também auxilia nas atividades pastorais da Paróquia Imaculada Conceição. A seguir, os principais trechos da conversa, realizada em seu escritório junto ao Muscap: TeXtando: Como é o trabalho realizado pelo senhor atualmente no Museu dos Capuchinhos? Frei Celso Bordignon: Nosso trabalho aqui no museu é um pouco invisível, no sentido de que não dá para quantificar em termos econômicos. Geralmente quase tudo que chega ao museu é coisa descartada ou que não serve mais, e muitas vezes apenas fragmentos. Nós procuramos registrar a entrada desses objetos, fazendo o tratamento de conservação, depois tem a catalogação, a descrição, a relação com a nossa história (da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos), e o significado desse objeto. Às vezes as pessoas pensam de forma romântica que os museus são um lugar aonde se vai lá para ver um monte de coi-

sas velhas, que alguém fica cuidando para outras pessoas irem conhecer também. Mas não. Tem todo um trabalho de museologia e museografia, que tem que ser feito de uma forma técnica e correta. É um trabalho de memória, saber a origem daquele objeto específico, de quem foi, quem fabricou, para o que servia, onde foi usado, de que convento dos capuchinhos veio, etc. TeXtando: Qual a estrutura que vocês têm no Muscap, em termos de recursos humanos e de acervo? Frei Celso: Nós trabalhamos com vários tipos de acervos, muitas coleções, e para cada um tem um tipo de conservação, de armazenamento e de catalogação. Mas para fazer isso ainda faltam recursos humanos. Contamos com quatro funcionários fixos, uma estagiária e um grupo de 10 voluntários. Como são na maioria aposentados, só umas cinco pessoas vêm constantemente para nos ajudar. Hoje nós contamos no Muscap com uma biblioteca de livros antigos e raros; acervo de documentos, principalmente cartas; acervo completo do Jornal Correio Riograndense, com todas as edições dos 102 anos de existência da publicação; coleções de estátuas e ícones religiosos, objetos pessoais dos frades, como fotos, móveis, vídeos, obras de arte; a discoteca de três rádios dos Capuchinhos, que somam cerca de 30 mil discos que estavam nas emissoras de Caxias, Garibaldi e Soledade, além de equipamentos antigos das rádios. Enfim, milhares de objetos históricos ligados à Ordem. TeXtando: Como surgiu o envolvimento e o gosto pelas artes plásticas? Frei Celso: A história é longa (risos). Tenho uma formação bem eclética. Até os meus 21 anos, morei com a minha família em Cachoeira do Sul. Trabalhava de dia e estudava o segundo grau (ensino médio) à noite. Cumpri carreira militar com 18, fiquei um ano no exército. Depois, com 21 completos, entrei no seminário, fui para Flores da Cunha e comecei o estudo da Filosofia, em 1976, na Universidade de Caxias do Sul (UCS), mas sempre gostei de pintar e desenhar, por

Fotos: João Carlos Romanini

LUCAS GUARNIERI

influência de uma das minhas irmãs, a do meio de três mulheres entre meus nove irmãos. Ela cursou Belas Artes e eu a via fazendo os trabalhos de aula e fazia também. Sempre gostei e ela me dava os materiais para também mexer. Isso quando eu

“Tento conciliar as duas atividades (arte e história). Quando diminuem as tarefas do Muscap, me dedico aos meus trabalhos.” tinha meus 15, 16 anos. Depois fui bastante incentivado pelos superiores da Ordem a continuar com este meu gosto. Quando fui para Porto Alegre cursar Teologia, comecei a estudar artes paralelamente, no Ateliê Livre da Prefeitura da Capital. Tive gran-

des mestres como Clébio Sória, Wilson Alves e Eliane Santos Rocha. Segui estudando o que me interessava ao mesmo tempo em que me preparava para a vida religiosa. Não fiz faculdade na área das Artes Plásticas, mas procurei vários cursos com os artistas que mais me interessavam. Morei um tempo no Rio de Janeiro (RJ), onde estudei restauro e artes. Na Itália, durante os períodos em que cursei o Mestrado e o Doutorado em Arqueologia Cristã, tive contato com a pintura e a arte antiga, e me especializei na arte das catacumbas, na pintura greco-romana, além de ter feito cursos de iconografia. Só depois é que assumi o compromisso de retomar o Museu dos Frades Menores Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Desde 1984 existia o acervo, que ficou por 10 anos, em uma sala sem condições em Veranópolis. Eu comecei a organizar tudo em 1994, quando retornei da Itália para Caxias.


Mais tarde, em 2000, logo após eu voltar do Doutorado, inauguramos o Muscap. Nesse período atuei ainda por cinco anos como professor de artes da UCS. TeXtando: Então o senhor sempre aliou arte e história? Ainda mantém esses trabalhos simultâneos? Frei Celso: Sim. Tenho alunos que participam de cursos (de desenho, pintura e restauro) no meu ateliê (que funciona junto ao Museu). Trabalho também com restauro de materiais históricos para particulares, que procuram o meu trabalho. Além disso, aproveito o tempo para pintura de ícones e bestiários. Mas não descuido do Museu. Tento conciliar as duas atividades. Quando diminui a quantidade de tarefas do Muscap, me dedico aos meus trabalhos. TeXtando: Como foi a escolha pela vida capuchinha? Frei Celso: A família dos meus pais era muito religiosa. Meu avô, agricultor comerciante, vendeu tudo e foi pra cidade. Eu nasci na cidade, mas nós conservamos essa religiosidade. Meus pais foram muito bons pra nós, 10 filhos. Quando eu tinha nove anos, já dizia que queria ir pro seminário. Só que o meu irmão menor queria ir também, aí eu disse “se tu vai, eu não vou”. Eu era o nono e ele o décimo irmão (risos). Mas era muito difícil naquele tempo ir para o seminário. Os pais tinham que gastar muito dinheiro e naquela época nós não tínhamos como pagar. Cresci e aos 16 entrei para um grupo de jovens na paróquia lá em Cachoeira. Tinha uns padres italianos que eram muito amigos dos jovens, animavam a gurizada e não usavam batina – o que era uma novidade para a época. DaCRÔNICA

DOUGLAS BARRETO Hoje, um dia normal. Aqueles dias azedos. Você “pega” um ônibus lotado, olha para o lado e vê uma senhora com um guarda-chuva. E pensa: será que vai chover? Corro o olho atentamente para o relógio eletrônico, da praça, que além de informar as horas, fornece a temperatura, que no momento é 27° graus. Fico escutando o meu “radinho” para amenizar a situação. Me desconecto, fujo do calor. As janelas estão abertas, está abafado. Tento me concentrar, mas reparo que as pessoas reparam-se. Reflito intensamente, e disparo um reparo através das

quela turma, eu e mais um outro viramos padres e outra menina se tornou irmã religiosa. Depois desse período do grupo, comecei a pensar no assunto, e passado o serviço militar, veio o promotor vocacional dos Capuchinhos, Frei Raul Susin, que conversou comigo, me deu uns livros para ler e daí eu entrei. Tive minhas crises, mas segui em frente. Estou contente com a minha vocação. É um amadurecimento, é um discernimento, a vocação não

“É um amadurecimento, a vocação não cai pronta do céu. Estou realizado como frei, com o trabalho que eu faço.” cai pronta do céu. Tu tens aquela intuição, mas tem que cultivar. E tem que ver se realmente é isso. Estou realizado como frei, com o trabalho que eu faço. TeXtando: Quais são os maiores desafios do trabalho realizado pelo senhor, principalmente junto ao Muscap? Existe um entendimento de que é importante a preservação da memória? Frei Celso: É preciso batalhar para formar consciência, primeiro nos funcionários, que o trabalho deles é importante. Depois, tem que criar gradativamente com os meus confrades o entendimento sobre a importância para a conservação da própria história da Ordem. Quem não tem memória, não sabe quem é. Se nós, freis, não preservarmos a nossa história, o que as gerações futuras vão saber de nós? Mesmo os fra-

des que virão no futuro, eles vão saber como é que começou a ordem, as dificuldades iniciais, etc.? Meu grande desafio é preservar a história, sendo fiel àquilo que aconteceu, sem deturpar, não colocar a minha ideologia, mas tentar relatar essa história como foi

realmente. Se tu não conheces a tua história, não sabe quem é, da onde veio e pra onde vai. Vale para qualquer pessoa. Hoje um grande mal das pessoas é não saber a história da própria família. lguarni1@ucs.br

Reparo que reparam lentes dos meus óculos escuros. Reparo-me, faço analogias estranhas, sem sentido nenhum. Contextualizo a estética das pessoas, com a direção do olhar que as mesmas metralham. Um cabelo diferente, muitos livros nas mãos, são sinais de reparo fortíssimos dentro de um ônibus. Ainda bem que estou de pé. Reparo que entra uma senhora bem velhinha com um guardachuva. E agora? Quem vai sair de seu lugar para a senhora se sentar? A senhora “passa” a roleta, e está aproximando-se de mim, e eu ali “esmagado” pelo bafo do calor. E as pessoas continuam reparando entre si. E a velhinha ainda de pé.

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Sinto que tem algumas pessoas que fogem desse “jogo de reparo”. Elas se teletransportam para dentro de um livro, dentro de um pensamento, ao olhar penetrante através do vidro do ônibus. Começo a rir por dentro, pois ninguém sabe que estou sem almoço, que estou sem grana, que estou com sono, que estou sem água em casa, que estou reparando todo muito. Convenço-me que é melhor parar de rir, pois, vá que descubram. Não quero que ninguém repare nesses fatos, da minha singela vida. Está chegando a hora de descer, já avisto a minha “parada”. Peço licença para a se-

nhora, que ainda está de pé, cheia de sacolas em uma mão, na outra um belo guarda-chuva (aqueles que demoram um pouco mais para quebrar). Ela olha para mim, e abre uma brecha, por onde mal passa meu braço. Desço. Desculpo-me pelas esbarradas que dou no trajeto de saída. Caminho e reflito: “Tenho que relatar isso”. “Um dia azedo, torna-se em um dia engraçado”. “E o pior, num pegar de ônibus”. Sigo caminhando sob o sol, ameaçando chuva, e reparo que cabelos estranhos devem ser sim reparados, e a falta de cabelo também. Acho que me reparam, pela falta deles. dbo.douglas@gmail.com


Uma história de resistência Dribando dificuldades, secretário de Cultura garante que obras no Museu do Imigrante vão continuar município. Eu acho que é um local excelente para uma empresa ter visibilidade e não só em Bento, mas para todos os turistas. Então esse é um dos dilemas que a gente enfrenta.

Secretário Juliano Volpato

caminhadas durante este ano. Nós temos outro relatório, onde de todas as visitadas algumas já disseram que não e outras estão analisando e até dezembro dariam uma resposta. É uma ação muito desgastante, que dá muito trabalho e realmente a questão dos empresários investirem pela Lei Rouanet é difícil, não foi por falta de insistência. TeXtando: O projeto pode se perder se a verba necessária não foi captada? Volpato: O projeto de restauro é um só, que tem ações diversas. O edital de modernização do Museu é uma das ações que a gente faz pra restaurar o prédio, o projeto

“Patrimônio é show” é outra ação, e o projeto de Lei Rouanet é outro. Enquanto não dá certo a captação pela Lei Rouanet que é federal, a gente tem tudo isso de investimentos municipais, porque o município tem que dar exemplo e está fazendo isso. O prazo de captação encerraria em 31 de dezembro, mas é possível prorrogar. Inclusive, estive no mês passado em Brasília, na Secretaria de Fomento ao Incentivo a Cultura, conversando com o coordenador de projetos de Lei Rouanet e aproveitei para conversar sobre o Museu. Então por nós termos uma verba captada e por não termos conseguido utilizá-la ainda não tem problema nenhum em prorrogar o prazo, e não tem perigo de acabar o projeto. Se nós não tivermos apoio de empresários na captação, eu nao vou condenar ninguém, porque cada um tem a sua razão. Nós fizemos a nossa parte em tentar capacitar os que quiseram. TeXtando: E o que será feito? Volpato: Então se não conseguirmos captar, vamos manter o restauro de etapa em etapa com os recursos, como a gente vem fazendo e como tem dado certo. E não adianta querer apressar isso, porque é restauro, não é ir lá e derrubar a parede e fazer novo. Estamos fazendo o restauro como deve ser. E os principais problemas nós estamos resolvendo, que era a parte do telhado e parte das alvenarias. Tomaz dos Santos

A captação de verbas para o restauro do Museu do Imigrante, localizado em Bento Gonçalves, através da Lei Rouanet não surtiu o efeito esperado pela Secretaria Municipal de Cultura, já TeXtando: Quanto foi captado que poucas empresas aderiram a até o momento, através da Lei causa. Com o risco de as obras fi- Rouanet? carem paradas, o órgão precisou Volpato: Até o final do mês de buscar outras soluções para dar outubro as únicas empresas que andamento ao projeto. As men- apoiaram foram a Dell Anno e a salidades de oficinas da Fundação Única, através do intermédio do Casa das Artes, o projeto “Patri- Sr. Tarcísio Michelon, do Hotel mônio é show” e alguns recursos Dall’Onder. Essas foram as únicas do próprio Museu foram suficien- que manifestaram esse interesse. tes para finalizar a primeira e a Temos que chegar a R$ 250 mil para usar as verbas da Lei Rouasegunda etapas. A partir de agora, o secre- net, que é um projeto de R$ 975 tário municipal de Cultura, Julia- mil, e nós não chegamos nem a no Volpato, diz que continuará R$ 50 mil de captação. tentando angariar recursos para o projeto e buscando o apoio de TeXtando: Quais as ações que mais empresas. A secretaria pre- foram feitas para captar verbas? cisa arrecadar até o “Se não conseguirmos Volpato: A gente contratou uma final do ano captar, vamos manter empresa especípelo menos 25% do va- o restauro de etapa em fica de captação com um chamalor do projeetapa, como a gente mento público. to, que é de vem fazendo e como Exigimos inúmequase R$ 1 tem dado certo” ros critérios para milhão, para ter uma empresa conseguir top de linha, e prorrogar o prazo de captação da Lei de in- conseguimos uma de Porto Alecentivo à cultura. O TeXtando gre, essa empresa trabalhou todo conversou com o secretário para ano de 2010, em 2011 e ainda obter mais informações sobre a está trabalhando. Então tem uma série de empresas que foram visituação do projeto. sitadas, além das propostas enTeXtando: Como está o andamento do projeto de restauro do Museu do Imigrante? Juliano Volpato: O trabalho de captação é bastante complicado, durante o ano de 2009 eu mesmo visitei empresas colocando a situação e buscando recursos. É um projeto de Lei Rouanet, tanto para pessoas jurídicas como para pessoas físicas. Por isso, fizemos quatro oficinas de capacitação com empresários, pois tem empresário que tem medo de doar, e não é nem doar, ao invés do empresário pagar o imposto para a receita federal, ele financia projetos culturais. Qual a vantagem disso? O recurso fica dentro do município e o empresário faz uma boa ação na questão cultural e econômica. No entanto, Bento perde muito com isso, porque o empresário tem medo e acha que tem “malha fina. Tem muitos que acham que Museu é um local que não dá visibilidade, o que é um grande erro, porque antes de nós termos que interditá-lo, ele era o segundo lugar mais visitado do Segunda etapa de obras no Museu do

Maikeli Alves

MAIKELI ALVES

Imigrante, que inclui as 44 aberturas, já possui recursos para iniciar

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te vai pegar a tipologia original do prédio e todas vão ficar iguais, substituindo as que foram colocadas parecidas em 1988. Considero a parte das janelas e aberturas uma das mais complicadas, por isso, já queremos emitir a ordem de serviço para iniciar. Nós também estamos inscrevendo o Museu em um outro edital do Ministério da Cultura, que é o de modernização, que consiste na parte do elevador panorâmico, climatização, parte elétrica, logíca, internet, telefone e câmeras de monitoramento.Então toda essa parte, que inclui projetos complementares, a gente quer que fique tudo novo. Estamos pleiteando pelo terceiro ano uma verba para essa etapa, que será de repasse direto.

Se a comunidade quiser patrocinar como pessoa física, pode destinar seu imposto de renda par o projeto de Lei Rouanet. “Para mais informações sobre como funciona é só ir até a Casa das Artes para saber como doar. É uma forma de ter sua empresa associada a nossa memória, a nossa história e aos bens do Museu”, assegura Volpato, que convocou os secretários e o prefeito do municipio para doar seu imposto de renda para o restauro do Museu.

Etapas do restauro *Projeto: elaborado por William Pavan Xavier, um dos melhores arquitetos do país no âmbito de restauro. *Telhado: concluída. *Aberturas: em andamento.

O valor do tempo CAROLINA DALLEGRAVE O tempo dura o bastante para aqueles que sabem aproveitá-lo. Hoje, para muitos de nós, o pensamento de Leonardo da Vinci parece algo impossível de ser compreendido na prática. No século XXI, com o advento de novas tecnologias e o ritmo alucinante de vida que temos, a moda é não ter tempo. Sair com os amigos, permanecer com a

família e realizar tarefas relacionadas ao lazer são deixadas de lado, em função da carga de trabalho ou dos estudos. O stress toma conta de nossas relações, sejam elas pessoais ou profissionais. A desorganização é cada vez mais vista e se tornou uma consequência de nossas vidas atribuladas e recheadas com uma infinidade de atividades diárias.

A escassez de tempo parece afetar as mais diversas classes sociais, não tendo nenhuma distinção quanto à idade ou profissão. Crianças reclamam da falta de tempo para assistir seus desenhos animados favoritos. Adolescentes reclamam que não há mais tempo para as festas, que a carga de estudos está demais. Querem tempo para dormir também. E os adultos, então? Com uma quantidade de demandas e compromissos ainda maior, são os que menos reclamam. A palavra-solução para isso talvez seja organização. Contudo, não apenas ela poderá nos livrar do encargo de não ter disponibilidade para o que realmente gostamos de fazer. Precisamos lembrar-nos de viver. Entender a importância de uma leitura sem obrigações, ou de um simples almoço na companhia de amigos e familiares. Descansar é também tempo de viver. Precisamos aprender a

agendar horários para as tarefas que exigem mais atenção e tendem a ser mais tediosas. Desenvolver responsabilidade para delegar e realizar as tarefas em seus respectivos prazos. Sermos felizes com nossas obrigações. Ouvir pessoas reclamando de falta de tempo se tornou algo banal. Não ter tempo agora é normal. Uma espécie de “válvula de escape” para o “não estou com vontade de fazer”. Mas, ainda há esperança. O amanhã está repleto de coisas boas. Cabe a nós dar prioridade a tudo que nos comprometemos a fazer, vendo o tempo não como um empecilho, mas, sim, como o meio que possibilita aproveitar o que há de melhor na vida. Ter tempo para si e para tudo é possível! Que tal começar agora?

TeXtando: A causa do Museu acabou se tornando sua também? Volpato: Eu gosto de falar sobre isso porque comecei sozinho. Eu sou o coordenador do Museu também, pois não adiantava ter um coordenador sem ter o Museu na mão para trabalhar. E estou tendo o maior prazer em trabalhar no restauro, como gestor público e como cidadão. Porque acho uma coisa importantíssima o Museu, ele é um local que eu visitava quando estudava na terceira e quarta séries. As professoras levavam a gente para conhecer e quando eu era criança isso ficou marcado. Lembro da loba romana, que é a única réplica do mundo e temos uma aqui em Bento. E hoje tenho a oportunidade de trabalhar com o restauro. É recompensador saber que eu estou colaborando com outras gerações.

A comunidade pode ajudar? Segundo secretário de Cultura de Bento, Juliano Volpato, se alguma empresa não quiser apoiar com aporte financeiro pela Lei Rouanet, ela também pode apoiar na parte de logística. “Por exemplo, uma empresa que trabalha com ar condicionado pode fornecer os equipamentos e a instalação. Uma empresa que trabalha com cimento, areia, pode fornecer esta parte, enfim, quem quiser contribuir dessa forma também pode”, explica.

CRÔNICA

Divulgação

TeXtando: Quais ações a Secretaria Municipal da Cultura está desenvolvendo para dar continuidade ao projeto? Volpato: Enquanto a gente não consegue captar esses 25% nós não desistimos, fizemos ações da Casa das Artes e da Secretaria de Cultura. Utilizamos alguns recursos próprios do Museu, pois como ele está interditado, alguns custos diminuíram. Essas poucas verbas que sobraram, porque os recursos do Museu também são mínimos, a gente está investindo no restauro, junto com todas as mensalidades arrecadadas nas oficinas e com os cursos da Casa das Artes, que também não são muito altos. Além dos recursos do projeto “Patrimônio é show”, que vem funcionando muito bem, sendo que já participaram Oswaldo Montenegro, Tom Zé, Serginho Moah e a banda 14 Bis. Na 1a etapa, que já foi concluída, de todo telhado foi investido R$ 55 mil, tudo com recursos nossos, arrecadados. A 2a etapa, que já foi terminada toda parte de licitação, também é com recursos próprios, e vai custar em torno de R$ 60 mil. Ela compreende 44 aberturas, aquelas janelas que vão ser restauradas, e todas as portas, internas e externas. E isso não é um trabalho tão simples, porque a gente não pode colocar novas. O processo de restauro é bastante delicado, porque tudo que tem deve ser preservado na íntegra e é um prédio que já tem mais de meio século. Relembrando que esse Museu já foi restaurado em 1988 e muitas das características originais do prédio foram perdidas na época. A gen-

*Entrepisos e drenagens: em captação de verbas. *Rebocos externos e internos: captação. *Modernização: em captação. *Pintura: captação.

maikeli.alves@hotmail.com

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cldalle1@ucs.br


“Cultura por toda parte” Slogan do Sesc no Estado é levado ao pé da letra por Luciana Stello, gerente em Farroupilha Divulgação

EGUI BALDASSO Apontada por muitos no passado como cidade onde a cultura não vingava, Farroupilha hoje, além de ter derrubado tal estigma, tornou-se referência quando o assunto é consumo de shows e espetáculos teatrais. E boa parte dessa mudança observou-se a partir da chegada do Serviço Social do Comércio (Sesc) ao município, em 2005. A mudança no hábito do farroupilhense neste aspecto também foi possível por meio de uma figura que tem trabalhado para oferecer à comunidade novas opções de entretenimento. À frente da unidade desde abril de 2006, Luciana Stello, 39, conseguiu em cinco anos emplacar diversas programações culturais, colocando a cidade no roteiro privilegiado de espetáculos trazidos ao Estado. Relações públicas formada pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), a gerente do Sesc Farroupilha e funcionária da entidade desde 1991, aposta na receptividade do público, principalmente quando a temática é o humor, para manter a trajetória de sucesso. TeXtando: Qual o principal incentivo para impulsionar a cultura em Farroupilha? Luciana Stello: São três os grandes motivos que me impulsionam a trabalhar com cultura, em Farroupilha. Primeiro é a paixão pela arte e por acreditar que a cultura é o alimento da alma. Segundo é a possibilidade de trabalhar numa entidade que

Show da banda O Teatro Mágico, em 2009, foi um dos grandes sucessos de público dos últimos anos tem como missão a promoção da qualidade de vida das pessoas, através de ações de cultura, lazer, saúde, esporte e educação. Por último, o grande potencial que Farroupilha tem, também na área cultural.

de das ações cria a expectativa nas pessoas com relação às próximas atrações. Com essa estratégia, temos mesclado os espetáculos mais “cults” e os que possuem um apelo mais popular. Essa fórmula tem dado certo, pois estamos conseguindo inserir novos gêneros nas apresentações artísticas. O apoio incondicional da imprensa local também tem sido muito importante.

TeXtando: Desde a sua chegada, o que mudou no modo como a comunidade consome as iniciativas do Sesc? Luciana: Observamos uma demanda crescente. A continuidaEgui Baldasso

TeXtando: É difícil trabalhar a cultura no interior? Luciana: A receptividade do público é muito boa. O que dificulta, um pouco, é falta de estrutura adequada para a realização destas ações. Temos feito apresentações em clubes, auditórios. Quando a estrutura é boa, confortável para o público, para o artista o espaço é restrito, palco pequeno, com camarins adaptados. Esses espaços também não dispõem de equipamentos de som e luz necessários para as mais simples produções. As dificuldades, por vezes, inviabilizam a apresentação de determinados grupos e/ou espetáculos TeXtando: O humor é o gênero que mais tem apelo junto ao público? Luciana: Sim, sem dúvidas, é o de maior aceitação junto à comunidade. TeXtando: Por que acredita dar mais resultado? Luciana: Há uma grande necessidade de descontração, de rir

Há 20 anos no Sesc, Luciana assumiu a unidade local em abril de 2006

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dos próprios problemas, das situaçãoes do dia a dia. Isso faz com que o humor tenha uma resposta mais imediata de interesse do público. TeXtando: Qual foi o espetáculo que mais marcou? Luciana: “O Homem Inesperado”, com Paulo Goulart e Nicette Bruno. Esse foi um marco das ações culturais do SESC no município, sendo um dos primeiros espetáculos com atores de renome da dramaturgia brasileira que se apresentaram por aqui. Além do que o espetáculo não estava previsto para a cidade, e após grande insistência com a gerência de Cultura, conseguimos realizar a apresentação. TeXtando: Qual é a sua perspectiva para a cultura no município nos próximos anos? Luciana: A proposta do Sesc é apoiar, cada vez mais, a cultura em todo Rio Grande do Sul. Para Farroupilha, especificamente, almejamos, além de criar o hábito nas pessoas de frequentar teatro, apresentações musicais e de dança (que ainda não pode ser trabalhada por falta de estrutura física), ter um local adequado a essas realizações, com capacidade para atender as mais variadas formas de apresentações artísticas, tanto para quem se apresenta quanto para quem prestigia o evento. e.baldasso@gmail.com


A cultura em cada Ponto da cidade Em parceria com a União, Caxias abre espaço para as mais variadas manifestações culturais

Elaine Cavion

CAROLINA DALLEGRAVE

Valorizar a diversidade cultural e suas mais variadas formas de manifestação no país. Foi com este fim que os Pontos de Cultura foram criados no Brasil. Em Caxias do Sul, a rede formada por 10 pontos, lançada em junho de 2011, é resultado de um convênio firmado entre a Prefeitura de Caxias do Sul, a Secretaria Municipal da Cultura e o Ministério da Cultura. Para que o projeto dos pontos se desenvolva no município, um grupo de trabalho orienta as atividades desenvolvidas nos pontos, fornecendo todo o suporte necessário. “Um Ponto de Cultura surge da necessidade de se valorizar a diversidade cultural que a gente tem no nosso país. De trazer à luz esses grupos e suas manifestações culturais, para todo o ambiente no qual eles estão inseridos”, destaca Claudete Terol Travi, um dos membros da equipe de coordenação dos Pontos de Cultura. Claudete ressalta que por serem iniciativas vindas da sociedade, os Pontos geram um sentimento de pertencimento e fomentam a inclusão social. “Com isso, passa-se a refletir sobre outras áreas e a ver a cultura além do que é erudito”. Na cidade, o investimento nos Pontos totaliza R$ 1,8 milhão, R$ 600 mil correspondentes ao investimento do município. O restante é fornecido pelo Ministério da Cultura. Desta forma, a cada ponto é destinado um total de R$ 180 mil, para as atividades programadas e a construção do ambiente cultural. “Cada ponto tem pré-requisitos a cumprir, como a sala multiuso, para que sejam organizados eventos. Isso

colabora para que o fazer cultural de cada ponto apareça e tenha mais divulgação. Com Caxias circulando seus eventos nessa rede de Cultura, nós a estamos disseminando ainda mais”, ressalta Elaine Pasquali Cavion, coordenadora dos Pontos de Cultura no município. Segundo ela, a partir da ideia do Ponto “Teia Cultural”, que elaborou um curso de Agentes de Cultura, pretende-se estabelecer uma rede, em que cada agente seja um multiplicador. “Fazendo com que cada Ponto divulgue suas ações em Rede, criando fóruns, redes sociais, isso vai fomentar a troca de ideias. E é a partir disso que começa a se pensar que a cultura pode ser sustentável”, explica Elaine. De acordo com o DiretorGeral da Secretaria da Cultura de Caxias do Sul, João Tonus, que é um dos grandes incentivadores dos Pontos de Cultura, eles são um desafio novo para fazer a cultura em Caxias do Sul se enraizar mais na sociedade. “Com o trabalho dos Pontos se espera construir a adesão do cidadão comum para participar da cultura, para que se interesse, participe e entenda a sua importância para a criação de uma cultura cidadã”. Tonus destaca que devido a cada Ponto trabalhar com questões culturais referentes ao seu ambiente, isso fortalecerá o papel dinamizador da cultura. “Os Pontos vão gerar o fortalecimento da diversidade cultural da cidade porque cada um deles têm um foco de trabalho”. Cada ponto de Cultura tem um convênio de três anos com o município. Confira a rede contemplada em 2011 (tabela ao lado). cldalle1@ucs.br

1 – Capoeira Cultura que Une (Santos Dumont Foto) Realiza oficinas de capoeira, maculelê, danças afro-brasileiras, com a capacitação de oficineiros e monitores para realização dessas e de outras atividades. 2 – Casa das Etnias (Bairro Panazzolo) Cultivo e preservação da cultura das etnias que formaram Caxias do Sul, por meio do teatro, artesanato, música e outras atividades. 3 – Comunitário Zona Sul (Bom Pastor II) Oficinas de artesanato, dança, capoeira e exibição de filmes para as comunidades da região.

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6 – Música para todos (Belo Horizonte) Cursos na área musical, estúdio de gravação semi-profissional e oficinas de produção de áudio e técnica musical. 7 – Núcleo Audiovisual Teatro Moinho da Estação (São Pelegrino) Cursos na área audiovisual, com experiências práticas e discussões teóricas. 8 – Teia Cultural (Kayser) Cursos de formação de “Agentes de Cultura”, realização de oficinas e apresentações, exibição de filmes, mostras fotográficas e encontros de literatura.

4 – Costurando Sonhos (Forqueta) Preservação da cultura da região, com oficinas e a formação de guias de turismo da comunidade.

9 – UAB Cultural (Panazzolo) Oficinas de circo, cinema e ação Griô, para a preservação dos saberes dos mestres da comunidade. HipHop e grafite também integram as atividades do Ponto.

5 – História nas Mãos (3ª légua) Seminários, oficinas de educação ambiental, teatro em dialeto vêneto, coral italiano, entre outras atividades.

10 – Vila Seca em Cultura (Vila Seca) Promoção de atividades relacionadas ao turismo e à educação ambiental. Além de oficinas que visam ao resgate das raízes culturais.


Apreciação ainda moderada Desafios das microcervejarias são criar cultura de consumo e rever tributação do segmento

DOUGLAS BARRETO A independência financeira do Brasil vai além do nosso mercado futebolístico. A paixão por um hobbie faz “florescer” uma nova perspectiva de empresas, em um cenário ainda repleto de obstáculos. Um exemplo desse empreendedorismo está no ramo de microcrevejarias. Ao falar da bebida preferida dos brasileiros, não se pode confundir quantidade consumida com qualidade. Embora a “cesta básica de fim de semana” inclua carne para churrasco, carvão e cerveja”, principalmente no Sul, uma cultura de apreciação mais sofisticada, que contemple as variedades desse produto, ainda é o grande desejo dos que investem nesse mercado, além, é claro, da revisão tributária. Para Augusto Luz, proprietário da Rasen Bier, uma microcervejaria de Gramado, na Serra Gaúcha, a maior dificuldade de manter o negócio são os impostos abusivos. O empresário salienta que a unidade da Companhia de Bebidas das Américas (Ambev) - integrante da maior plataforma de produção e comercialização de cervejas do mundo: a AnheuserBusch InBev - em Viamão, produz 300 mil litros de cerveja em 6h. Já as 35 microcervejarias gaúchas reunidas não alcançam essa quantidade em um mês. Augusto destaca ainda que os mesmos tributos são exigidos em ambas

as categorias empresariais, sendo que 67% sobre o faturamento dos produtos são recolhidos pelo governo, ou seja, se uma cerveja custa R$10, R$ 6,70 é imposto, os outros R$ 3,30 sobram para pagar funcionários, matéria-prima, energia, água, taxas, certificados e ainda lucrar alguma coisa, conforme Augusto. A alta tributação sobre a cerveja faz com que o setor contribua com 1% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Além disso, a indústria brasileira de cerveja conquista, aos poucos, lugar no cenário internacional, graças à qualidade. Segundo Augusto Luz,

a exportação é ainda tímida, se comparada com a importação. “As cervejas importadas estão chegando a um valor relativamente baixo por ter alguns benefícios fiscais que não existem para nossa própria producão. Também temos a questão da legislacão do Ministério da Agricultura. Eles permitem cervejas com insumos de origem animal para importadas, mas não permitem que sejam produzidas cervejas desse feitio aqui no Brasil”, diz. Contrariando essa dificuldade de mercado, as microcervejarias artesanais estão crescendo em média 70% ao ano. Isso

Fotos: Divulgação

Ingredientes da cerveja

Lúpulo confere amargor à cerveja - O lúpulo sai de flores de uma planta trepadeira existente em apenas algumas regiões do planeta. O lúpulo confere personalidade à cerveja. Suas resinas e óleos são responsáveis tanto pelo sabor amargo como pelo aroma que caracterizam a bebida. Originado de uma planta trepadeira, que pode chegar a sete metros de altura, o lúpulo precisa de longos períodos de luz solar no verão. Condições climá-

mostra um crescimento na aceitacão dos consumidores a produtos de maior valor agregado. Segundo o Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv), o mercado de cerveja do Brasil só perde, em volume, para a China (35 bilhões de litros/ano), Estados Unidos (23,6 bilhões de litros/ano), Alemanha (10,7 bilhões de litros/ano). Quanto ao consumo per capita, no entanto, o Brasil, possui uma média de 47,6 litros/ano por habitante. A terra do samba está abaixo do total registrado por vários países, como por exemplo, México (50 litros/ano) e Japão (56 litros/ano).

Água: ingrediente fundamental

ticas e geográficas que não existem no Brasil. Por isso, todo o suprimento do País é importado dos Estados Unidos e da Europa. Os americanos são os maiores produtores mundiais, mas as espécies mais aromáticas, de um amargor mais fino e delicado, vêm da Alemanha e da República Tcheca. Apenas flores fêmeas são utilizadas na fabricação. Bastam algumas gramas para produzir 10 litros de cerveja. A forma mais comum de uso do lúpulo é em pellets, pequenas pelotas de flores prensadas. Esse formato reduz o volume de lúpulo, gerando ganhos logísticos, sem alterar suas características originais.

Sem água não tem cerveja. É desse recurso natural que sai pelo menos 90% da composição da bebida. Não por acaso, entre o final do século XIX e o início do século XX, a procedência da fonte era decisiva. Influenciava no sabor da cerveja Malte - O malte usado em cervejaria é obtido a partir de cevadas de variedades selecionadas Proveniente da cevada, o malte é resultado da maltagem, processo que transforma o amido, abundante na cevada, em açúcares como maltose e glicose na primeira etapa de elaboração da bebida. O malte usado em cervejaria é obtido a partir de cevadas de variedades selecionadas especificamente para essa finalidade - os chamados blends

“A água corresponde a pelo menos 90% da composição da cerveja.”

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A cevada é uma planta da família das gramíneas, nativa de climas temperados, cujos grãos são muito similares aos do trigo. No Brasil, é produzida predominantemente no Rio Grande do Sul. Na América do Sul, a Argentina é grande produtora, seguida pelo Uruguai. Após a colheita, os grãos de cevada são enviados para as maltarias. Os grãos de cevada são submetidos à germinação controlada, um processo de umedecimento que forma enzimas fundamentais para o processo de fabricação de cerveja. Esse “malte verde” tem seu processo de germinação interrompido por meio de secagem.


Fotos: Divulgação

Fermento transforma açúcares em álcool - O fermento é essencial para a produção da cerveja O processo de fermentação da cerveja acontece por meio de micro-organismos chamados leveduras. Os levedos são essenciais na produção de cerveja. Transformam açúcares, como a maltose, em álcool e gás carbônico. O fermento também é responsável por conferir sabor e aroma ao produto final. Fonte: Ambev

“Cervejabem” Os mais variados tipos de cerveja combinam com a baixa e alta gastronomia. Queijos, massas, carnes vermelhas e brancas, saladas, e sobremesas harmonizam com diferentes cervejas. A cerveja chega a ser mais versátil que o vinho, que não harmoniza muito bem com pratos apimentados, por exemplo. A cerveja deve ser servida com algo equivalente a dois a três dedos de espuma. O “colarinho” faz parte da composição da bebida e contribui para preservar melhor o aroma e o sabor da cerveja. Cerveja não pede envelhecimento, como o vinho. Quanto mais jovem o produto, melhor. Ao contrário do vinho, as garrafas de cerveja devem ser armazenadas verticalmente. O que pode influenciar no aroma e no sabor do produto é o modo de resfriar, conservar, e transportar, além da idade da bebida. A exposição ao sol e ao calor e o congelamento são os maiores inimigos da boa cerveja.

Sady: Engenheiro químico de formação, músico de profissão, e mestre cervejeiro por adoração

Burgomestre: o Mestre Cervejeiro do Nenhum de Nós O baterista do Nenhum de Nós, Sady Hömrich é um dos idealizadores do projeto Extra Malte: por um mundo cervejeiro melhor, que ocorre no Espaço StudioClio em Porto Alegre. Sady é um dos maiores incentivadores da cultura cervejeira. Como surgiu sua apreciação pela cerveja? Sempre respeitamos muito a cerveja na nossa família. Meu tio-avô contava o que aprendera com seu avô, que veio da Alemanha com seus irmãos. Dois deles abriram a cervejaria Rodolpho Homrich, em Cachoeira do Sul. No curso de Engenharia Química conheci o processo e as viagens com a banda me ensinaram a diversidade de estilos. Na sua opinião, quais os fatores para que a cerveja seja tão adorada mundialmente? A história da cerveja se confunde com a da humanidade, pois ela surgiu como alimento, ao lado do pão. É uma bebida gregária, dificilmente alguém bebe por prazer sozinho. Tem alguma nacionalidade de cerveja que você curte mais? Por que? Há ótimas cervejas em muitos países, mas fiquei impressionado com a Pilsner Urquell produzida artesanalmente nos túneis subterrâneos da fábrica em Pilsen (Rep. Tcheca), da mesma maneira como foi criada em 1842. Seu equilíbrio entre o malte e o lúpulo é perfeito! Sua formação em Engenharia Química contribuiu na tua sen-

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sibilidade cervejeira? Como já falei, durante o curso me aproximei do processo. Visitei fábricas, estudei fermentação e fiz cerveja em casa, de forma rudimentar. Com as ferramentas da engenharia foi mais fácil distinguir certos atributos das cervejas. Mas foi com treinamento sensorial que comecei a diferencia-las. O quanto ser baterista, e integrante do Nenhum de Nós, contribuiu com este hobbie cervejeiro? Comecei minha coleção de garrafas durante as gravações do disco Cardume, de 1989, em SP, ao encontrar um Brahma Porter, que nunca havia tomado. Experimentei e comecei a colecionar, sempre com a intenção de degustá-las pra aprender as diferenças. Também havia a Porter Nacional, da Antarctica e uma série de cervejarias regionais, que foram vendidas e/ou desativadas. Depois, nas viagens, vi um mundo fascinante que combina muito com música! Não importa o estilo, tem que ser boa e sincera! Por ser músico, em sua opinião, qual estilo/banda tem a ver mais com a cerveja? Este mês está sendo lançada a Bamberg Camila Camila, em homenagem à música. É um presente dessa cervejaria de Votorantim (SP) ao Nenhum de Nós, por considerar que as qualidades de uma boa música não passam com as modas, não se perdem com o tempo, como uma receita original de cerveja. Usando um tipo

especial de malte e pronunciado lúpulo tcheco, Camila Camila é uma pilsen clássica, tradicional da região da Bohemia Tcheca. Harmoniza bem com a história da banda! Mas não confunda com as pilsens comerciais de ocasião... Na sua avaliação como está o mercado de cerveja nacional? Cada vez melhor, especialmente pra quem procura cervejas com aroma, sabor e diversidade. Já temos mais de 130 microcervejarias em todo o país com vários estilos sendo produzidos. Está sendo talhado um estilo próprio nacional, com adição de ingredientes regionais. Hoje temos opções para várias ocasiões. As cervejas artesanais, por não usarem aditivos químicos, são muito saudáveis e deixam a ressaca longe. Esta invasão de cervejas importadas, na sua opinião, prejudica o mercado brasileiro, ou há espaço para ambos os mercados? Considero sua presença importante no mercado, elevando o nível geral das cervejas. Desleal é a tributação imposta às microcervejarias. Elas deveriam ser enquadradas no simples nacional, mas pagam impostos como os gigantes conglomerados, mais altos do que os de importação. Se continua assim elas vão acabar. Ou sonegar. É triste ver os olhos fechados pra isso. QUE A FONTE NUNCA SEQUE! dbo.douglas@gmail.com


FOTOS: GABRIEL VENZON

Por filmes, livros e redes sociais, a população conheceu a profecia de 2012

GABRIEL VENZON Fortes terremotos, erupções vulcânicas, tsunamis e derretimento de geleiras polares. Essas são algumas previsões para o ano de 2012. O Planeta Terra sofrerá mudanças geográficas e a raça humana estará sujeita a ser extinta. Essas catástrofes foram profetizadas,primeiramente, pela cosmologia Maia, que anuncia o fim do mundo para o dia 21 de dezembro de 2012. Mas essa não é a primeira vez que anunciam o “Armagedom”, o “Apocalipse”, ou o “dia do juízo final”. Em 1840, se começou a falar que o mundo ia acabar e Cristo regressaria, prevendo um grande incêndio entre 21 de março de 1843 e 21 de março de 1844. Outra data mais recente apontada foi dia seis de setembro de 1994, baseada em cálculos de acontecimentos Bíblicos. A diferença destas profecias com a de 2012 é o apoio científico que a atual veem recebendo. Em 2006, o ex-presidente americano Al Gore lançou o livro “Uma verdade inconveniente”, onde apresentou dados e transformações que o planeta estava sofrendo, em razão do aquecimento global. Dois anos antes, em 2004, a Indonésia recebeu um Tsunami, até então, um desconhecido fenômeno natural. O número de mortos passou de 280 mil. A costa litorânea foi totalmente modificada. Em 2011, a vítima foi o Japão. Um terremoto atingindo 8,9 graus na escala Richter criou ondas gigantescas, ocasionou a explosão de usinas nucleares, destruição de prédios, pontes, e matou cerca de 16 mil pessoas. Apesar dos fatos terem proporções gigantescas, ainda são considerados, para alguns meteorologistas, como casos isolados. Cléo Kuhn, responsável pela Central de Meteorologia do

Grupo RBS destaca que as mudanças que estão ocorrendo não afetarão drasticamente o ano de 2012. “As estações do ano estão cada vez mais misturadas, mas as mudanças que ocorrem são muito lentas e o ser humano está se moldando a elas”, explica Kuhn. A religião católica, fonte de grande influência para a população, também não acredita nesta profecia. Segundo o padre Paulo Gasparetto, 2012 será um ano como qualquer outro. “A escrita bíblica, como de outras religiões, deve ser interpretada simbolicamente. Pode, sim, haver um grande acontecimento nesta data, mas não será o fim dos dias”, afirma Gasparetto, assessor de comunicação do bispado de Caxias do Sul. A mídia como Nostradamus O que os Maias não haviam imaginado é o alcance que suas profecias ganhariam diante do cinema e da opinião pública,

muitas vezes divulgadas via redes sociais. Essa profecia virou mais uma grande comédia para a população. Muitas vezes enriquecida pela ficção hollywoodiana, como no caso do filme de 2009, intitulado: 2012, o ano da profecia. Uma obra de ficção do diretor Nick Everhart. Para o montador de filmes e professor de cinema Giba Assis Brasil, o misticismo sempre fascinou o ser humano. “Cada vez mais a ficção científica está tornando o imaginario em real, e quando essa técnica é apoiada ou baseada em fatos reais se torna mais interessante”, resume o cineasta. Já no twitter, uma rede de compartilhamento de opiniões e notícias, o assunto é sempre tratado com ironia. Para manter o assunto na rede, cerca de 19 usuários utilizam seus nomes referentes a 2012, ou fim do mundo. Uma forma de discutir, polemizar e brincar sobre o assunto. gvenzon@ucs.br

Usuário prepara uma contagem regressiva para o 21 de dezembro de 2012

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MAIKELI ALVES Um tema que sempre me chamou atenção foram as pin-ups. É interessante perceber a sensualidade dessas bonecas e como elas foram apaixonantes no século XIX, a ponto de fazer sonhar os soldados americanos da segunda guerra mundial em pleno campo de batalha. As pin-ups girls ou “garotas penduradas” marcaram a década de 40, quando viveram o ápice de seu sucesso, e ganharam este nome justamente porque os soldados costumavam pendurar seus pôsteres em armários. No entanto, apesar de toda a sensualidade ligada à sua imagem, essas mulheres carregavam também um toque de inocência, ou seja, elas jamais eram vulgares, apenas convidativas. Outro traço importante eram suas pernas suntuosas e as cinturas bem marcadas, que aguçavam ainda mais a imaginação dos homens. As pin-ups mais célebres foram Betty Grable, Rita Hayworth e Marilyn Monroe. No teatro, várias delas surgiam como ícones do feminismo e, atualmente, são símbolos da cultura pop. DIVULGAÇÃO

Realidade que virou ficção

Garotas do calendário

Mas, por que eu resolvi falar das pin-ups? Deve ser porque estamos no tempo da liberdade sexual, onde tudo é exposto de forma escancarada e sem nenhum pudor. Acredito que o mundo atual precisa dessa “sensualidade recatada”, precisa da inocência, precisa de uma beleza diferente, sem vulgaridade, precisa de um toque de encanto nos calendários. Pensem bem, ia ser um mundo muito mais romântico se os homens só imaginassem. Se bem que na época em que vivemos, dificilmente essa moda voltaria sem se tonar kitsch. E se voltasse, as pin-ups se tornariam capas da Playboy, como foram em outros tempos, e de nada adiantaria. Aquele encanto mágico, que nos faz refletir sobre conceitos de beleza e ficar imaginando como era a vida dessa garota cada vez que olhamos para uma foto ou um quadro com uma pin-up, não teria sentido, ela seria só mais uma mulher vulgar com roupas diferentes. Melhor deixar como está, as garotas do calendário são muito mais interessantes no imaginário das pessoas do que se saíssem do papel e viessem para esse mundo louco em que vivemos. Melhor assim, apenas convidativas. maikeli.alves@hotmail.com


Polêmicos, indigestos – e críticos Mais do que chocar e assustar, os filmes de terror podem conter críticas sociais e reflexões JEFEERSON SCHOLZ Em “A Casa do Terror” de 1974, o personagem Paul Tombes, interpretado pelo ícone dos filmes de terror Vincent Price, ao ser perguntado do porque esse tipo de produção faz tanto sucesso responde: “Acho que por não se tratar deste mundo que vivemos. É um mundo preso dentro de nós. De instintos e impulsos que não admitimos, impulsos que às vezes nem sabemos que temos. Crueldade animal, violência brutal e sangue, estão domados e presos. Às vezes ficam rondando presos dentro de nós e uma hora eles suspiram que querem sair e nós não os libertamos. Os filmes fazem sucesso pois os libertam”.

TeXtando: Como a tua ligação com o gênero cinematográfico de terror foi estabelecida? Desde quando você gosta deste estilo de filmes? Felipe M. Guerra: Essa é uma história que eu sempre gosto de contar. Na verdade, eu morria de medo de filmes de terror quando era moleque. Os tempos eram outros, e passava muito filme do gênero na TV aberta. Lembro que, em época de férias, a Globo exibia Tubarão e suas continuações em plena Sessão da Tarde. Meus irmãos, muito mais novos que eu, adoravam assistir a esses filmes, mas eu não conseguia, ficava apavorado. Sempre que o tubarão se aproximava de uma possível vítima, por exemplo, eu virava a cara ou saía correndo da sala! Até os comerciais de filmes como Halloween 2 me deixavam com medo. Então, certa noite, quando eu tinha oito ou nove anos de idade, a família toda estava reunida na sala e o SBT começou a exibir Um Lobisomem Americano em Londres, do John Landis. E havia algo naquela mis-

Marcelo Millici

Mas falar de um assunto tão controverso quanto este gênero cinematográfico não é uma tarefa fácil. Para isso, conversamos com Felipe M. Guerra, um gaúcho de Carlos Barbosa formado em jornalismo e apaixonado por cinema, especialmente por aqueles longa–metragens mais assustadores. Em um bate-papo descontraído e esclarecedor, nosso entrevistado, que também é cineasta independente de produções sangrentas, falou um pouco mais sobre sua ligação com o cinema fantástico, e o impacto que estes filmes tem na sociedade.

ralmente não são discutidos em produções de outros gêneros. Recentemente, o filme A Serbian Film foi censurado no país por abordar, entre outros temas fortes, a pedofilia. Um partido político brasileiro, com embasamento de advogados e juízes desinformados, conseguiu proibir o lançamento comercial da obra nos cinemas brasileiros alegando que a trama incitava a pedofilia, quando na verdade é justamente o contrário! Aí, ao invés de deixarem o filme chegar aos cinemas até para motivar um debate sobre esse crime hediondo que é a exploração sexual de crianças, os caras simplesmente proíbem, tentam esconder, como se a pedofilia não fosse uma triste realidade em nosso país. Enfim, o que estou tentando dizer é que você pode assistir algo como A Noite dos Mortos-Vivos, do George A. Romero, simplesmente como um filme de terror com zumbis, mas também pode olhar além e perceber que o diretor aproveitou o tema - e o gênero - para criticar aspectos da nossa sociedade, como o racismo e a intolerância. E mesmo obras mais rasas e “comerciais”, como recentemente a série Jogos Mortais, podem levar o espectador ao questionamento. Nesse caso específico, a maneira como algumas pessoas não valorizam suas vidas enquanto outras fazem o impossível para viver mais um dia, uma “lição” que o vilão Jigsaw tenta aplicar nas suas vítimas expondo-as a tenebrosas armadilhas, das quais só sairão vivas se fizerem algum sacrifício. Aliás, é bom destacar que a proibição de A Serbian Film no país acabou se revelando um tiro no pé para os responsáveis por essa atitude imbecil. Porque muitas pessoas que anteriormente não teriam o menor interesse pelo filme agora estão procurando-o por meios “ilegais” (leia-se download) justamente para ver o que ele tem de tão forte para merecer a censura no Brasil (algo que não acontecia com uma produção cinematográfica desde 1986). De certa forma, isso comprova aquilo que tentei dizer no começo dessa minha resposta: você sabe que vai ficar incomodado, sabe que não vai gostar, mas mesmo assim quer ver só para saber porque foi proibido, muitas vezes como uma forma de superação dos próprios medos, do tipo “Eu tive coragem de ver com meus próprios olhos o tal filme polêmico”.

tura de horror gráfico com humor negro que me deixou hipnotizado. A transformação do David Naughton em lobisomem, marcante até os dias atuais, deveria ter me deixado traumatizado na época. Mas o Landis me ganhou, taí um diretor que eu respeito muito até hoje. Inclusive acho que os molequinhos deveriam ser “alfabetizados” para o gênero horror vendo Um Lobisomem Americano em Londres. A partir de então, virei um fanático por horror, mas nunca deixei de lado outros gêneros. Na verdade, sou amante de cinema em geral. Com o terror tenho mais afinidade, mas gosto de tudo, de comédias bobonas e filmes pornográficos. TeXtando: O que mais te chama a atenção nestas produções? Felipe M. Guerra: O que mais me chama a atenção em filmes de horror é que você voluntariamente se entrega a 1h30min de desconforto: quando você vai ao cinema ou assiste uma obra do gênero em casa, já o faz sabendo que aquilo vai te provocar medo, repulsa, ansiedade, enfim, esses sentimentos que normalmente você não gosta de sentir. E você espera por isso, ou então se queixa que o filme é fraquinho. Eu sempre achei algo muito curioso, porque as pessoas geralmente não gostam de ter pesadelos; acordam assustadas no meio da noite e às

vezes até têm dificuldades para voltar a dormir depois. Mas você procura voluntariamente pelo filme de horror, que pode ser considerado um pesadelo filmado. Eu acho que, de certa forma, o terror cinematográfico funciona como uma válvula de escape para esses sentimentos ruins. Eu não gosto de sentir medo ou ficar tenso na vida real, caminhando por uma rua deserta e perigosa à noite, por exemplo. Eu odeio a violência na vida real, fico chocado quando assisto ao noticiário e mostram essas cenas de pancadarias entre torcidas de jogos de futebol. Mas, ao ver um filme de horror, esses medos do cotidiano se diluem. É como uma volta no trem-fantasma: você sabe que aquilo não vai te fazer mal, que o medo e a repulsa são parte da brincadeira.

“O que me chama a atenção em filmes de horror é que você voluntariamente se entrega a 1h30min de desconforto” TeXtando: E qual é a importância social do gênero? Felipe M. Guerra: Eu também vejo o gênero terror como uma oportunidade de enfocar temas sociais delicados e tabus que ge-

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TeXtando: Por que você acha que o cinema fantástico em geral é tão discriminado e incompreendido? Em sua opinião, quais os elementos que ele carrega que mais incomodam o espectador? Felipe M. Guerra: Eu não acho que o gênero seja discriminado, mas há filmes e filmes. Por exemplo, ao mesmo tempo em que uns políticos e juízes sem noção proíbem A Serbian Film no país, você pode ir tranquilamente a um cinema de shopping ver filmes como o já citado Jogos Mortais ou o recente Doce Vingança, produções que tratam de temas igualmente fortes, como estupro e tortura. Inclusive, ambos são obras muito mais violentas e escabrosas que o polêmico A Serbian Film, mas passaram batido, sem provocar polêmica, e eram exibidas nos cinemas de shopping ao lado de Harry Potter ou Homem de Ferro 2. O que acontece é que muitas vezes a polêmica ou as discussões em torno de algumas obras acabam se tornando maiores do que os filmes em si. OK, Jogos Mortais pode ter as cenas mais explícitas de violência, mas esse excesso de sangue e mutilações não incomoda tanto quanto, por exemplo, a sugestão de pedofilia de A Serbian Film (sugestão mesmo, porque nada é exibido escancaradamente na tela, ao contrário do que pensam algumas pessoas que nem viram o filme). Além disso, há outros fatores que ajudam a transformar o terror num gênero um pouco mais marginalizado: não é todo tipo de espectador que aguenta cenas sangrentas explícitas, e muitos filmes de horror trazem essas cenas; não é todo tipo de espectador que encara cenas de brutalidade contra mulheres ou crianças, outro elemento comum no cinema do gênero. Também há aqueles que não suportam a visão de fantasmas ou monstros melequentos, por mais que saibam que são criaturas absurdas e muito menos ameaçadoras que os perigos da vida real. Tudo isso contribui para que o horror fique “à margem” da produção cinematográfica, um gênero para um público bem seleto e pré-disposto a ele. TeXtando: Além de jornalista formado, você também é crítico e diretor independente de produções de terror. Você pode comentar um pouco mais sobre esses trbalhos? Existem dificuldades para desempenhar essas funções? Felipe M. Guerra: Para mim, trabalhar com cinema fantástico é mais difícil em função das limitações que tenho. Como minhas produções são totalmente independentes, improvisadas até, não tenho recursos

Polêmica justificada?

para fazer tudo que gostaria. Um filme de zumbis, por exemplo, seria inviável pela quantidade de efeitos, figurantes e dinheiro que exigiria. Fora isso, não vejo muitas dificuldades. Nos meus filmes, eu costumo enfocar o cinema fantástico por um viés mais satírico e autorreferencial, mas acho que há muitos temas e histórias tipicamente brasileiras que poderiam render belos filmes de horror, inclusive o sincretismo religioso tão comum no país. Todo mundo tem medo de macumba, e é uma pena que existam tão poucos filmes de horror brasileiros enfocando esse tema (enquanto no exterior existem inúmeras histórias sobre vodu, por exemplo). Em uma hora de conversa com alguma pessoa bem idosa, você conseguiria histórias assustadoras e 100% brasileiras suficientes para uns dez filmes de horror. Portanto, é uma pena que estejamos tão ocupados reverenciando o terror estrangeiro e suas criaturas ao invés de tentar criar nosso próprio universo fantástico, baseado no folclore. Até existem filmes brasileiros com o chupa-cabras, a pomba-gira... O próprio Zé do Caixão é um personagem brasileiro. Mas ainda é pouco pela riqueza e diversidade da nossa cultura popular. Há muitas histórias para contar, e eu mesmo pretendo fazer, nos próximos meses, um filme em episódios sobre uma famosa criatura do folclore da Serra gaúcha. TeXtando: Pode nos contar um pouco mais sobre esse projeto... Felipe M. Guerra: Estou produzindo um longa-metragem dividido em três episódios sobre o Sanguanel, um diabinho que sempre amedrontou os imigrantes italianos que colonizaram o interior do Rio Grande do Sul. Originalmente, eu ia fazer um curta-metragem chamado A Maldição do Sanguanel, mas aí resolvemos ampliar para um longa. Meus amigos Eliseu Demari e Rafael Giovanella vão escrever e dirigir as outras duas histórias. O interessante do projeto é a valorização de uma figura do nosso folclore, praticamente desconhecida no resto do Brasil, e que está meio esquecida até mesmo na Serra gaúcha, pois as novas gerações foram deixando de temer o Sanguanel desde a metade do século 20. Bem, nossos antepassados viviam por aqui quando essa região era uma gigantesca floresta, e aí é compreensível o medo de um diabinho circulando entre as árvores. A ameaça do Sanguanel pode ter sido esquecida, mas queremos resgatá-la e reapresentá-la para o público do século 21. Esperamos que o projeto vingue e incentive o resgate de outras histórias fantásticas do nosso Estado e do nosso país!

O longa de Srdjan Spasojevic divididiu opiniões. A história foca em um ator de filmes adultos, que recebe uma proposta de atuar numa produção secreta, e mergulha num mundo sádico e cruel. Com um enredo simples apoiado em cenas chocantes, o longa foi proibido em vários países além do Brasil, acusado de incitar crimes como a pedofilia e a violência gratuita. Porém para a crítica, este filme é uma produção artística, que tem o direito de existir baseada na liberdade de expressão, e condena de maneira incisiva todos os crimes que mostra. CRÔNICA

Banalidades sangrentas

JEFERSON SCHOLZ Observar o mundo é uma coisa engraçada e assustadora. Quando me peguei pensando sobre isso, enquanto lia algumas críticas de cinema, percebi o óbvio: estamos cercados por produções que até não muito tempo atrás seriam dignas do questionamento da sanidade mental de seus autores. Mas como a brutalidade e a violência física e verbal parecem ter se tornado naturais, isso fatalmente se refletiu na sétima arte, fazendo com que limites do comportamento humano fossem repensados e colocados em questão. Em 2011, dois filmes nos trouxeram o conceito mais visceral do terror gráfico e violento, naturalmente não sem polêmicas e proibições. Os longa-metragens A Serbian Film – Terror sem Limites, do sérvio Srdjan Spasojevic, e A Centopeia Humana 2, do norueguês Tom Six, reuniram uma coleção de cenas chocantes, como mutilações, estupros, degradações e pedofilia. Concordo com a arte ser sinônimo de liberdade de expressão e a visão do artista deve ser respeitada, mas qual é o objetivo de tanta escatologia e violência gratuita? Não me entendam mal, sempre fui fã do cinema fantástico. Mas mesmo que não seja velho, sou do tempo em que o terror prendia com sustos e uma trama bem construída, e o uso da violência era justificado. Mas enquanto o primeiro cineasta tenta argumentar que seu filme é uma metáfora para representar a situação atual da Sérvia, o segundo apenas parece se orgulhar com o quanto sua obra perturba e apavora pessoas. Sendo assim, comecei a acreditar que a violência extrema serve para preencher a falta de criatividade. Tudo bem que o bloqueio criativo não acomete só meros mortais, ele também é direito (ou problema) de grandes mentes inventivas. William Shakespeare amaldiçoava o palco por limitar sua imaginação e frustrar suas criações. Mas cineastas que fazem verdadeiros circos de horrores para tentar matar a sede de sangue de seus espectadores, mais parecem adolescentes rebeldes querendo chocar os outros. O diretor italiano Dario Argento, lenda do suspense e terror, declarou em uma visita recente ao Brasil que filmes de tortura são muito fáceis de fazer, e que o público sabe disso. O cineasta usa a violência de maneira surreal, como um personagem que conduz a trama de seus filmes. Seu conterrâneo, Rugero Deodato traz questões importantes por meio da violência, como sua banalização. O coreano Chan-wook Park metaforiza a violência em suas produções, fazendo com que as pessoas repensarem seus valores. Nestes casos, acredito que a criatividade prevaleça. Olhar para dentro de nós pode aterrorizar, e saber que suprimimos instintos sanguinários é ainda pior. Então, quando nos depararmos com a violência ao ligar a TV, ir ao cinema ou mesmo caminhar pela rua temos duas opções: aceitar passivamente o que estamos presenciando, ou nos questionar se ainda estamos vivendo dentro dos limites da racionalidade humana.

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jbscholz@ucs.br


Tradições milenares na integração cultural Cada vez mais difundido no mundo todo, o espírito cultural do Japão já está se consolidando na cidade Palavras da cultura oriental incorporadas no ocidente

JEFERSON SCHOLZ Um grande povo é caracterizado pelos seus feitos, suas conquistas sociais e econômicas, e também por seus valores. Assim, ao analisar a cultura marcante de um país como o Japão, que alia suas tradições milenares com um universo tecnológico e futurista, não é difícil perceber por que ela exerce tanto fascínio no ocidente. Em Caxias do Sul, uma cidade derivada de uma típica colônia italiana e cujo estilo de vida sério e regrado se baseia no trabalho, a presença do mundo oriental conquista mais espaço a cada dia.

Otaku – Termo utilizado para denominar um fã de qualquer assunto ligado à cultura japonesa. Mangás – São histórias em quadrinhos feitas no estilo japonês. Diferenciam-se dos ocidentais por seu conteúdo profundo e sua ligação com o espírito oriental.

O estilo de vida deste país considerado pouco convencional no ocidente está sendo recebido com admiração e respeito na medida em que é desmistificado. É cada vez mais comum notar restaurantes, escolas de idiomas e a incorporação de usos e costumes do Japão na cidade. A Associação de Cultura Japonesa de Caxias do Sul é uma fundação que consegue exemplificar este crescente aumento na integração entre duas culturas tão diferentes.

Ilustração: Emmanuel Rambo dos Santos

A instituição surgiu há mais de cinco anos, após um evento de divulgação do livro de ensinamentos de um ícone da identidade oriental no país, Sensei Jorge Kishikawa. Desde então, o local traz o espírito de um povo que se baseia na disciplina, caráter, educação e autoconhecimento. A diretora da entidade, Jussara Lima, afirma que a cultura oriental deriva de ensinamentos milenares, e encanta principalmente por ter sentido em tudo. “Todas as coisas que os japoneses fazem têm um significado, por isso o conteúdo de ícones como mangás e animes chama a atenção”. Ela destaca que a associação é o único lugar do Estado que traz anualmente professores diretamente do Japão, o que fortalece os ensinamentos orientais para os alunos.

Animês – São desenhos animados produzidos no Japão. Assim como os mangás, são histórias profundas e de caráter reflexivo.

Chiharu Ito, de 21 anos, é professora da instituição, e veio da cidade de Akita. Ela conta que para vir dar aula no Brasil, foi preciso estudar português durante um ano, ler 500 livros e ter lições de conversação quase diariamente. Chiharu comenta que, além de conseguir trazer para cá sua cultura e sua língua, quando voltar para seu país também quer levar algumas coisas daqui. “No Japão as pessoas têm que trabalhar muito

para viver, então quero levar para lá um pouco da tranquilidade dos brasileiros”. Além do trabalho realizado por essa associação, existem outras entidades que propagam a cultura japonesa na cidade. Formada em 2007 por uma turma de amigos, a Banzai é uma delas. Entre as atividades desenvolvidas pelo grupo, estão sessões de animes que são exibidos no segundo sábado de cada mês no Centro de Cultura

Cosplay – Denomina uma fã de desenhos japoneses que se veste como seus personagens favoritos. Kanjis - São caracteres típicos da escrita japonesa, baseados em símbolos. Ordovás com entrada gratuita. Emmanuel Rambo do Santos, de 19 anos, é um dos organizadores da instituição e acredita que sua importância vai além de propagar as tradições orientais. “A Banzai não é apenas um grupo de divulgação, ela é um grupo de amigos, o que aproxima ainda mais seus membros e quem quer conhecer mais sobre a cultura do Japão”, destaca. jbscholz@ucs.br

Algumas expressões em japonês: Dōmo arigato gozaimashita = Muito Obrigado Yoi gogo = Boa tarde (良い午後) (どうもありがとうございました)

Oyasumi = Boa noite (おやすみ)

Kon’ ninchiwa = Olá (こんにちは)

Gomene = Desculpe (ソーリー)

Sayōnara = Até logo (さようなら)

Shitsurei shimashita = Com licença (失礼しました)

Yoi ichi-nichi = Bom dia (良い一日)

Watashi wa anata o aishite = Eu te amo (私はあな たを愛して) 12


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