Para fortalecer a cultura em Caxias Atividades, nos Pontos de Cultura, começam no segundo semestre CASSIANE OSÓRIO
cassiane.osorio@ucs.br
Em 2005, o Ministério da Cultura (Minc) lançou o projeto Pontos de Cultura, com o intuito de difundir as mais diferentes culturas pelas cidades do Brasil. Organizações sem fins lucrativos encaminham seus projetos a Brasília, por meio de editais nacionais, abertos para selecionar os melhores trabalhos que visam à propagação de cultura em algumas localidades. Com o projeto aprovado, a organização recebe o valor estipulado no edital, dividido em parcelas, para ser investido no Ponto de Cultura. Em contrapartida, deve prestar contas diretamente com o Ministério. O fato de os pontos estarem subordinados apenas ao Minc, as distâncias serem consideráveis, em termos físicos, e existir falta de diálogo com a organização desses pontos, sem contar com as diferenças culturais entre as cidades, tornou o processo grandioso. “Então, o Ministério tomou a iniciativa de propor convênios aos governos estaduais e aos governos municipais”, diz o secretário-geral da Secretaria Municipal da Cultura de Caxias do Sul, João Tonus.
Vendo a oportunidade de ingressar nesse projeto e fortalecer ainda mais a cultura na cidade, a Prefeitura de Caxias do Sul assinou no final de 2009 um convênio direto com o Ministério. Após a assinatura do contrato, a prefeitura abriu, no início de 2010, o primeiro edital para a escolha dos Pontos de Cultura do município. Nele, foram inscritos oito projetos, e somente cinco tinham características e condições de serem aprovados. Então abriu-se outro edital, no segundo semestre de 2010. “Cinco foram contemplados e, aí, completou-se o número de 10, que é o número que foi conveniado”, comenta Tonus. Conforme o secretário, cada Ponto de Cultura escolhido tem um foco diferente, mas todos os envolvidos buscam a participação do cidadão na sua comunidade ou no seu tipo de fazer cultural, “seja na área do vídeo, da cultura popular, como capoeira, na área do circo ou na formação de agentes da cultura”. Em 2011, os Pontos de Cultura escolhidos começaram o processo de organização e foram oficialmente apresentados à comunidade no dia 20 de junho. Nesse mesmo dia, foi empossado
o Conselho Gestor dos Pontos de Cultura. Segundo Tonus, esse conselho irá trabalhar para que, coletivamente, se busque o melhor resultado. “E cuidar para que a meta de cada um dos 10 pontos possa realmente ser atingida”, diz. Os pontos irão começar suas atividades no segundo semestre de 2011. Caliandra Paniz Troian, coordenadora do projeto Teia Cultural, no bairro Kayser, já tem uma data prevista. “Pretendemos lançar nosso trabalho na segunda quinzena de setembro”, afirma. Caliandra foi convidada a desenvolver o projeto junto com a Associação dos Moradores do Bairro Kayser (Amob Kayser). O objetivo é formar agentes culturais. “O curso é aberto ao público e temos a expectativa de trazer tanto pessoas que já trabalham na área como aquelas que desejam trabalhar”, diz. Ela comenta que essa é uma oportunidade de profissionalização dos trabalhadores da cultura e que sua meta é formar 150 agentes em três anos. Os Pontos de Cultura têm locais específicos para acontecer, mas pessoas de toda a cidade podem participar, independentemente do bairro onde residem.
Pontos de Cultura ■ Capoeira, Cultura que Une Rua Tarumã, 437 (Centro Comunitário), Loteamento Santos Dumont Jocimar Maciel Nunes professormacaco@hotmail.com ■ Casa das Etnias Rua Luiz Antunes, s/n (ex-Albergue Municipal), Bairro Panazzolo Ivone Marin braspolcaxiasdosul@gmail.com ■ Comunitário Zona Sul Rua Giovanni Berton, 170 (Centro Educativo Anjinhos da Comunidade), Bairro Bom Pastor II Cassiano Fontana judy_oya@hotmail.com ■ Costurando Sonhos Luis Franciosi Sério, 350, Bairro Forqueta Felipe Giron / felipe@forqueta.com.br ■ História nas Mãos Estrada do Imigrante, 575, 3ª Légua Luiz Alberto Hockele luho@terra.com.br
■ Música para Todos Av. dos Metalúrgicos, 654 (Centro Comunitário), Bairro Belo Horizonte José Pascual Dambrós amucaxienses@gmail.com ■ Núcleo Audiovisual TME – Teatro Moinho da Estação Rua Coronel Flores, 810, Sala 103, Bairro São Pelegrino Carolina Campos teatromoinhodaestacao@gmail.com ■ Teia Cultural Rua Vergínio Tonietto, 1290 (Salão Paroquial), Bairro Kayser Caliandra Paniz Troian cali.troian@gmail.com ■ UAB Cultural Rua Luiz Antunes, 80, Bairro Panozzolo Tom Costa / uabcultural@hotmail.com ■ Vila Seca em Cultura Rua Ângelo Balbinotti, s./n. (Salão Paroquial), Vila Seca Jairo José Rech / di.rech@hotmail.com
ONG independente
A Associação Artística Cultural Agosto 17 foi fundada em 1998 e é uma associação com características de ONG. Desde sua fundação, a Agosto 17 visa a estimular, incentivar e possibilitar trabalhos relativos a questões artístico-culturais em Caxias do Sul e região. Segundo a vice-presidente da ONG, Liliane Maria Viero Costa, sua trajetória cultural se dá no entendimento de que houvesse um espaço de debate e reflexão. “Isso não significa só artes visuais, só música, só literatura, mas que todos os trabalhadores da arte pudessem estar conversando independentemente de reunir só segmentos”, afirma. Mas nem sempre a Agosto 17 teve representantes de todos os segmentos, devido a má-compreensão da sociedade, que tinha a visão de que a cultura deveria ser segmentada. “A Agosto, na sua estrutura de origem, nunca enten-
deu a arte como segmentada. Ela pode ser segmentada na produção, mas qualquer manifestação artística tem que dialogar com a outra manifestação”, diz Liliane. Em 2005, quando foi aberto o primeiro edital pelo Ministério da Cultura (Minc), a Agosto 17 encaminhou seu projeto, mas só conseguiu ser contemplada com o título de Ponto de Cultura em 2009. Foi a primeira entidade de Caxias do Sul a participar do processo, sem nenhuma ligação com a prefeitura. De acordo com Liliane, a ONG se sustenta, hoje, apenas com o dinheiro arrecado com os cursos oferecidos por ela. “Isso é outra coisa que as pessoas não entendem. Veem a Agosto de uma outra forma, e não é, temos altas dificuldades”, diz. O dinheiro recebido pelo Ponto de Cultura é investido em atividades artísticas na cidade.
AGENDA CULTURAL ■ 3 AGO Abertura da Exposição Linha de Partida Gravuras de Iberê Camargo Horário: 19h Local: Galeria de Artes do Centro de Cultura Ordovás ■ 4 AGO Filme: Cartas para Julieta Horário: 15h Local: Sala de Cinema Ulysses Geremia Centro de Cultura Ordovás Entrada franca
■ 5 AGO Quinteto de Sopros da Orquestra Municipal de Caxias do Sul 120 anos da Capela São Caetano Horário: 20h30m Local: Igreja do Bairro São Caetano Entrada franca Sexta Cultural Show com os Seresteiros do Luar Local: Palco do Zarabatana Café/Bar Centro de Cultura Ordovás Entrada franca ■ 6 AGO Roda de Leitura para Jovens Horário: das 10h às 11h Local: Telecentro e Sala do CONTAPETE – 2o andar da Biblioteca Pública Municipal Entrada franca Cinema no Bairro Filme: Alvin e os Esquilos Horário: 14h Local: Loteamento São Pedro Entrada Franca ■ 7 AGO Hip Hop Caxias Shows locais com e shows com D’conceito Moral e Revolução RS Horário: às 14h e 17h Local: Centro Comunitário do Bairro Vale da Esperança Entrada franca Domingueira Zarabatana Set com DJs Horário: 17h Local: Palco do Zarabatana Café/Barentro de Cultura Ordovás Entrada Franca ■ 8 AGO Concertos Didáticos Horário: 10h e 15h Local: Auditório do Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendoza Entrada franca Roda de Leitura para Adultos Horário: das 14h às 16h Local: Telecentro e Sala do CONTAPETE – 2’ andar da Biblioteca Pública Municipal Entrada franca
■ 11 AGO Filme: Cidade dos Anjos Horário: 15h Local: Sala de Cinema Ulysses Geremia, Centro de Cultura Ordovás Entrada franca ■ 12 AGO Sexta Cultural Show com a Banda Blues Heads Horário: 21h30m Local: Palco do Zarabatana Café/Bar Centro de Cultura Ordovás EntradafFranca ■ 13 AGO Quinteto de Metais da Orquestra Municipal de Sopros de Caxias do Sul Horário: 9h Local: Salão Paroquial Terceira Légua Entrada franca Show com Camila e Bruno Horário: 21h30m Local: Palco do Zarabatana Café/Bar Centro de Cultura Ordovás Entrada franca
■ 17 AGO Palestra “Fluxo de Trabalho e diagramação de álbuns fotográficos” Horário: 19h30m Local: Sala C – 103 – FSG ■ 20 AGO Cinema no Bairro Filme: As férias de Mr. Bean Horário: 14h Local: Bairro Cidade Industrial Entrada franca
Show com a Banda Blues de Bolso Horário: 21h30m Local: Palco do Zarabatana Café/Bar Centro de Cultura Ordovás Entrada franca ■ 21 AGO Espetáculo Teatral In Heaven Teatro do Encontro Horário: 19h Local: Sala de Teatro – Centro de Cultura Ordovás Ingressos: R$ 20,00 e R$ 10,00 estudante e idosos
Quarteto de Saxofones da Orquestra Municipal de Sopros de Caxias do Sul Horário: 10h Local: E.M.E.F. Giusepe Garibaldi Entrada Franca Cinema no Bairro Filme: A Fada do Dente Horário: 14h Local: Bairro Parque dos Vinhedos Entrada franca
■ 15 AGO Abertura Oficial da IV Semana de Fotografia de Caxias do Sul Abertura da Exposição “Lições de um Jovem Fotográfo” Horário: 20h Local: Sala de Exposições Temporárias do Museu Municipal Entrada franca Abertura da Exposição Naturezas, dos alunos de Fotografia da UCS Horário: 19h Local: Shopping Iguatemi Entrada franca ■ 16 AGO Abertura da Exposição Nosso Olhar Horário: 19h30m Local: Sala de Exposições do Centro de Cultura Ordovás Entrada franca Oficina Trama de Imagens Fotografia e Arte Contemporânea Horário: das 9h às 12h Local: Mezanino do estúdio CETEL – Bloco T – UCS
■ 25 AGO Série Grandes Nomes Horário: 21h30m Local: Palco do Zarabatana Café/Bar Centro de Cultura Ordovás Entrada Franca ■ 26 AGO Sexta Cultural Show com a Banda Canteriando Horário: 21h30m Local: Palco do Zarabatana Café/Bar Centro de Cultura Ordovás Entrada franca ■ 28 AGO Concertos ao Entardecer Horário: 18h Local: Capela do Santo Sepulcro Av. Júlio de Castilhos, s./n. Entrada franca Domingueira Zarabatana Set com DJs Horário: 17h Local: Palco do Zarabatana Café/Bar Centro de Cultura Ordovás Entrada franca ■ 29 AGO Roda de Leitura para Adultos Horário: das 14 às 16h Local: Telecentro e Sala do CONTAPETE – 2o andar da Biblioteca Pública Municipal Entrada franca
Fotos: Divulgação
Uma lição de (não) jornalismo ao longo do tempo Em A montanha dos sete abutres,Wilder dá um “puxão de orelhas” na mídia DINARTE A. FILHO dafilho@ucs.br
A narrativa cinematográfica de Billy Wilder, comparado com a linguagem de hoje, é desproporcionalmente subjetiva. Mas, a construção temática que ele apresenta ao espectador, compensa rever A montanha dos sete abutres, que tem Kirk Douglas no papel principal. Ao representar Charles Tatum, um jornalista de grandes trabalhos feitos no passado, que precisa retirar-se para o interior onde espera recuperar o prestígio, Douglas captura a atenção de quem assiste ao filme, mesmo que apenas pelo prazer estético ou curiosidade. Para os profissionais da área de Comunicação, no entanto, a mensagem é mais intensa. Wilder procura mostrar – e consegue – como a mídia pode se transformar em um “grande circo”. Cínico, interesseiro, arrogante e vaidoso, o jornalista aproveita-se de uma situação inesperada, na modorra do seu primeiro ano no jornal
de Albuquerque, no Novo México, para conseguir o retorno aos grandes veículos estadunidenses. Para que isso ocorra, ele fere prin-
cípios éticos básicos, como o compromisso com a verdade, ao controlar a situação, para seu interesse. Ao deixar morrer uma pessoa, Leo Minosa, vítima de um desmoronamento em uma mina, em busca de “relíquias indígenas”, ele deixa a descoberto a face menor de um jornalista: quando a sede por um “furo” corrompe o espírito cívico e solidário que permeia o ideário da Comunicação Social, inclusive corrompendo o xerife e a esposa de Leo. Ao retardar o salvamento de “explorador”, ele transforma o resgate em assunto nacional, que atrai curiosos, cinegrafistas de noticiários e comentaristas de rádio – daí a ideia de “circo”, inclusive com a presença de um no local. Mas, embora seja a mensagem principal da obra de Wilder, há trechos que passaram a fazer parte do relicário das redações, devidamente reformuladas, como “notícia não é o cachorro morder o carteiro, mas o carteiro morder o cachorro”, entre outras, que dão um sabor de atualidade ao discurso.
Comentários O filme é sensacional; mostra como é realmente a vida de um jornalista. O jornalista do filme, Charles Tatum, era inteligente, conhecia a vida jornalística, mas, por uma ambição muito grande, acaba centralizando todo os fatos que fora cobrir e prejudicando algumas pessoas. Para conseguir o tão almejado título de jornalista reconhecido pela sociedade, acabou chantageando alguns, usando artifícios pessoais e até provocando a morte de Leo, que se encontrava soterrado na montanha, para que pudesse ter cada dia mais noticias para escrever em seus artigos. A frase mais marcante do filme é que jornalismo se faz nas ruas, na prática; é o que ouvimos constantemente na universidade. Fica a dica de filme. (Cassiane Osório).
O filme mostra tudo que um bom jornalista deve e também o que não deve fazer, propondo diversas reflexões. Fica até a sensação que poderia ser mais longo. Especialmente para nós, futuros jornalistas, a produção traz nas entrelinhas dicas valiosas de como se deve (ou não se deve) tratar a notícia. Devemos escrever sobre o fato, e não produzi-lo. Até que ponto vale a pena se promover com a desgraça alheia? Resumindo, recomendo a todos que assistam ao filme; é uma ótima produção, do tempo que um bom roteiro era a alma do negócio. Soluções criativas para contornar as limitações tecnológicas da época também são interessantes de serem observadas, como alguns enquadramentos que não existem mais hoje em dia. (Geremias Orlandi).
Assistir à Montanha dos Sete Abutres é mergulhar nas origens do jornalismo diário e de conceitos que jamais serão antigos. O filme é de 1951 e, no papel principal, vemos o lendário Kirk Douglas dar vida ao jornalista Charles Tatum. A título de curiosidade, Kirk é pai do talentoso Michael Douglas, que seguiu os passos do pai. No desenrolar da trama, a ânsia de fazer a notícia vender e tentar controlar os rumos dela pode causar um grande impacto na vida de muitas pessoas, levando alguns à morte. Do jornalismo responsável ao sensacionalismo. Não conto o filme porque vale a pena ver; principalmente deveem fazê-lo aqueles que pretendem ser jornalistas. Assim como temos livros da bibliografia obrigatória, esse filme deveria entrar para a lista de filmes obrigatórios. (Letícia Kirchheim).
Mesmo sendo em preto-e-branco e legendado, o filme me surpreendeu. Sem efeitos especiais, humanoides azuis ou naufrágio de um navio, o longa foi capaz de provocar meu próprio ego. Algumas passagens foram marcantes ao longo do filme, como esta: “As más notícias são as que mais vendem, pois as boas notícias não são notícias.” Esta colocação me fez refletir sobre o que é notícia em si; enfoque debatido na primeira aula da disciplina. Lembrei de imediato da frase do jornalista Leandro Fortes, da revista
Carta Capital, em uma palestra na Universidade de Caxias do Sul, que dizia o seguinte: “O que as pessoas querem que seja divulgado é publicidade; notícia é o que elas não querem que seja divulgado.” É possível traçar um comparativo entre as duas afirmações, uma da ficção e outra da realidade. O uso de releases, de matérias pré-prontas, por jornalistas é algo que preocupa muito, devido ao fato de não haver seleção rigorosa conforme os critérios de notícia ensinados nas universidades. Outra passagem marcante no filme é quando o Tatum, o protagonista do filme, diz ao seu assistente que o tempo que ele
passou na universidade foi tempo perdido. Quanto a isto não concordo, pois acredito que nada substitui uma instrução teórico-reflexiva, tanto de conteúdo como dos efeitos que reportagens geram nos receptores. O desenrolar da história demonstra exatamente isso. Ele, o jornalista sem formação, acabou saindo de Albuquerque, mas indo para a paz eterna, e não para uma cidade maior. A cobertura e as ações de Tatum foram totalmente contra o princípio básico do jornalismo: não alterar os fatos. (Marco Matos).
Viver em outro tempo pode ser uma armadilha Há alguns dias assisti ao novo lançamento de Woody Allen, Meia-noite em Paris, que já faz história. É o filme do diretor que mais levou público ao cinema mundial, quebrando o recorde Hannah e suas irmãs, de 1986, e é apontado como o melhor trabalho do cineasta em anos. Woody encabeça a minha lista de diretores e roteiristas prediletos. Em tempos de filmes hollywoodyanos, com excesso de efeitos visuais e especiais, os roteiros ficam esquecidos e as discussões acerca da existência humana, um pouco novelescas para a realidade, tudo para atrair milhões às salas escuras. Discussões à parte, voltemos ao filme. Antes de ver Meia-noite em Paris, havia lido uma matéria na qual Woody declarou: “Querer viver em outras épocas é uma armadilha”, e essa frase não saiu da minha cabeça desde então. O longa tem belas imagens e uma fotografia encantadora, que refletem a poesia e a história que permeia a capital francesa, locação escolhida para dar vida ao personagem de Owen Wilson (de Marley & Eu), Gil, um escritor apaixonado por Paris e prestes a se casar. Nostálgico, ele acredita que a melhor época para se viver teria sido nos anos 20 do século passado, ao lado de gênios da música, da arte, da literatura e de outras personalidades. Mas, ao voltar ao passado, percebe que não é bem assim, que, na verdade, cada época tem as suas vantagens e desvantagens. Com esse roteiro, singular e bem-amarrado, entramos no túnel do tempo, literalmente. Por um instante, diante de personalidades, como a de Ernest Hemingway, Scott e Zelda Fitzgerald, do cineasta Luis Buñuel, do fotógrafo Man Ray, a grande mecenas da arte de vanguarda Gertrude Stein, o pintor Pablo Picasso e sua musa inspiradora, Adriana, fugimos com o personagem e nos transportamos a um ambiente de magia, e é praticamente impossível recusar seu convite. Devido a essa sensação de nostalgia e vontade de ficar em outro tempo, nos sentimos questionados. Engraçado como, no geral, as pessoas acreditam que seriam mais felizes em outra época que não no presente. A grande maioria vive relembrando o passado e pensa que se ainda fosse de tal maneira, seria mais feliz. Dificilmente se concentram no presente, no agora, é mais fácil outro tempo que não o atual, seja no passado ou no futuro. Há aqueles que, assim como Gil, pensam que em algum tempo distante viveriam melhor. Dessa forma, ouvimos certas comparações: “Naquela época sim era boa de viver, não tinha violência, nem estresse, as pessoas eram mais saudáveis”, eis um exemplo. Acontece que, como Woody define, todas as épocas têm seus problemas. “Os anos 20 parecem incríveis, mas quando as pessoas iam ao dentista não tinham Novocaína. E também não havia ar-condicionado.” Assim, nos damos conta de que não existe época nem tempo perfeitos. E será mesmo que se pudéssemos escolher em qual tempo viver, seríamos felizes? Independentemente de tempo, ano, se foi na época de ouro do cinema, da arte, da música, se foi quando os Beatles ou Elvis despontaram, a felicidade pessoal depende de cada um de nós e, ainda assim, ela não é plena. Afinal a vida é feita de momentos bons e ruins, alguns mais e outros menos, simples assim. A insatisfação é um mal, não interessa o tempo em que se viva. Algumas coisas não mudam e cabe a cada um permanecer no presente, para dar-se conta de que as épocas poderiam ser outras, mas as angústias e indagações são as mesmas, e sempre será assim, afinal, seres humanos são insatisfeitos por natureza, lembra? E tendem a deixar a felicidade e a realização na mão de outros, ou então, buscam uma desculpa para justificar a sua insatisfação, em vez de encarar que somos nós os responsáveis pela nossa vida, realização, felicidade, ou seja lá o que for, e que ela nos segue, onde quer que estejamos, nas décadas de 1920, 1940, 1950 ou no século 21. Tudo muda o tempo todo. E são dessas equenas coisas, que Woody Allen contempla em seus roteiros e filmes, que nos fazem refletir, cada um a sua maneira. Mas adoro as lições e pegadinhas que ele expõe na grande tela, como se fosse um exímio conhecer da alma e do comportamento humano, ora brincando, ora revelando aspectos dos quais nem nos damos conta. ( Letícia Kirchheim).
Sétima Arte, do Apollo ao Ópera A história some junto às pessoas que se vão. Deve, então, ser documentada antes que momentos sejam apagados CLARISSA DE ANTONI surgem com mais força na cidaclarissa.biasuz@ucs.br de. Dentre todas as salas, o Cine
É dia de footing O dia de ir ao cinema também era dia de paquerar. Aos domingos, era costume dos jovens se reunirem em torno da praça. As moças caminhavam pela rua como em um desfile. Os rapazes às rodeavam. Se elas correspondessem ao olhar, era feita a “abordagem”. Essa prática era conhecida como footing. Dora Faé conta as lembranças deixadas por seu sogro, Darcy Faé (foto, com a esposa). “Ele conta que conheceu minha so-
gra, Elsa Bigarella Faé, em um feriado de 7 de Setembro. Ela caminhava na praça com uma amiga, ele a viu e foi amor à primeira vista. Ele a olhava, mas ela não correspondia, pois a amiga dizia que ele estava olhando para ela. Até que, no final de semana seguinte, o seu Darcy fez um sinal; ‘Como é? Posso ir até aí, ou não?’ Nesse dia, eles começaram a conversar. Iam para a missa, para o cinema, até que namoraram, noivaram e casaram.” Arquivo pessoal
Em Caxias do Sul, dos anos 20 aos anos 80, a grande diversão era o cinema. A alegria, o choro, o riso e o deslumbramento do público faziam parte dos espetáculos. “Em alguns cinemas no interior, tinha gente que dava até tiro na tela”, revela a pesquisadora e professora Kenia Pozenato sobre a carregada emoção dos espectadores durante os filmes de faroeste. De acordo com ela, a cidade conheceu o cinema por volta de 1900, no chamado Teatro Velho, que iniciou-se como uma casa de espetáculos teatrais, onde algumas vezes eram exibidos vídeos. Com o tempo, os cinemas
Teatro Apollo foi especial: durou mais tempo do que todos os outros e deu espaço a diversos espetáculos, como óperas, peças de teatro e à Sétima Arte, o cinema. Independentemente da época, os cinemas sempre deram chance ao romance. O frequentador e admirador da arte, cardiologista e escritor Francisco Michielin, explica que o cinema abriu aos jovens um espaço de encontro e paquera. “Nós tentávamos segurar a mão da moça, se fôssemos rejeitados os amigos vaiavam, era o maior vexame. Mas ali você podia fazer sua “vidinha” de namorado dentro do cinema, longe das sogras e das mamães”, relembra sorridente.
Arquivo pessoal de Maria Noeli Biasuz
Apresentação do antigo Coral Municipal de Caxias do Sul, que participou da ópera dramática Cavalleria Rusticana, de Pietro Mascagni, no Cine Teatro Ópera, em 1984, o último grande espetáculo no local
A queda, o sucesso e o fim do Cine Teatro Uma tragédia iria interromper a história do cinema caxiense, em 28 de maio de 1927. Um incêndio pôs o Cine Teatro Apollo abaixo. A causa: um ferro à brasa esquecido por uma camareira descuidada. Mas o Apollo iria se reerguer em 1928, porém, sem outras modificações, o que ocasionou sua deterioração. De acordo com Francisco Michielin houve uma época em que o cinema foi conhecido como um verdadeiro “pulgueiro”. “Nesse período, quem gostava de ir ao Apollo eram os jovens. A programação priorizava filmes de aventura, mocinhos e bandidos, faroeste, superherois. A garotada ia mesmo é fazer bagunça. Tínhamos uma brincadeira. Dizíamos que na saída deveríamos devolver as pulgas ao pulgueiro”, conta o escritor. Em 1953, o Apollo foi reinaugurado com o nome de Ópera. A partir de então obteve o status de cinema e casa de apresentações de primeira classe. Estavam garantidos anos de sucesso. “Diziam até que o nosso Ópera tinha a acústica melhor que a do São Pedro, de Porto Alegre”, diz Maria Noeli Biasuz, que também foi soprano em apresentações do Coral Municipal no Cine Teatro. A década de 1990 chegou, e trouxe consigo os cinemas nos shoppings e o fim das grandes salas. Em 1993, era exibido o último filme no Cine Ópera, O Drácula, de Bram Stoker. Não se pode negar a influência do cinema na vida das pessoas. Mas há diferenças em relação à antigamente. É o que destaca a professora e artista plástica Sônia Regina Adami. “Temos filmes de ação, muito rápidos, as pessoas nem percebem o que está lá. Os filmes antigos eram mais calmos, davam importância à arte cinematográfica. Hoje em dia os filmes estão submetidos à técnica, não mais a arte”, opina. O término das atividades foi cercado de polêmicas sobre a importância do prédio ser tombado como patrimônio histórico. Porém, o tombamento não se concretizou. Em 23 de
Clarissa Biasuz De Antoni
Local onde foi o grande Cine Teatro Ópera hoje é estacionamento cercado por lojas populares e paradas de ônibus
dezembro de 1994, um novo incêndio, agora de causas incertas, consumiu o cinema. Hoje, o local onde foi o grande Cine Ópera é um estacionamento, cercado de lojas populares e paradas de ônibus. Atualmente, os cinemas da cidade estão apenas em salas pequenas e idênticas, nos conglomerados dos shoppings. O fim do Ópera foi também o fim de uma era, mas a essência do cinema permanece. “Não esqueçam que o cinema nos mostra uma realidade além na nossa. A gente conhece outros países, outros costumes, hábitos, sem ter estado em outro lugar. O cinema nos transporta”, explica Kenia.
Sugestão de filme: Cinema Paradiso Em 1988, na Itália, o cineasta Giuseppe Tornatore lançou sua grande obra, o Cinema Paradiso. Vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 1990, foi uma verdadeira homenagem a magia das grandes salas de cinema. A história se passa em uma Itália pós-guerra. Em um lugar pequeno, onde todos se conhecem, a única diversão é ir ao velho Cinema Paradiso. Parece pretensioso, mas Tornatore poderia ter baseado seu filme na trajetória do Cine Apollo. Caxias do Sul era uma Vila de descendentes italianos, onde todos também se conheciam. O cinema era o grande ponto de encontro e diversão. Tanto o Cinema Paradiso do filme como o Apollo, da vida real, enfrentaram a mesma infeliz tragédia. No filme, o drama tem início quando uma película pega fogo, incendiando o cinema e cegando o projetista, Alfredo. Em Caxias, um incêndio também pôs o Cine Teatro Apollo abaixo. Mas ambos são reconstruídos e ganham sucesso. Vale a pena assistir.
Abraço ao Ópera Em 1993, um grupo de jovens caxienses reuniu-se em frente ao prédio do Cine Teatro Ópera. As portas da grande sala de apresentações já haviam sido fechadas permanentemente. O objetivo dos manifestantes era garantir o tombamento do prédio como patrimônio histórico, que, por fim, não se concretizou.
O concorrido “Dia da Dama” Cada sala de cinema da cidade elegia um dia da semana para ser o “Dia da Dama”. Era quando as moças tinham privilégio, entravam e assistiam ao filme sem pagar; as salas lotavam e as filas dobravam as esquinas. Para entrar, as mulheres precisavam de um ingresso que pegariam na bilheteria durante a semana, mas algumas das damas davam um jeito de “fabricar” suas próprias entradas. É o que conta a antiga frequentadora dos cinemas,
Maria Noeli Viega Biasuz, 84 anos. “Nem sempre conseguíamos ir para o centro durante a semana para pegar as entradas, não dava tempo”, lembra. Então, diz ela, “nós pegávamos um papelzinho e escrevíamos ‘Dia da Dama’, com caneta tinteiro, dobrávamos e entregávamos. Acho que mesmo se não estivesse escrito nada no papelzinho o pessoal da bilheteria também nem olhava”, brinca, ao recordar.
O “desenho” da 27 Feira do Livro a
Luiz Chaves/Divulgação
Praça Dante Alighieri, no centro de Caxias do Sul, servirá novamente de cenário para a 27ª Feira do Livro 2011, com atividades extras que ocorrem em outros pontos da cidade
RAQUEL ALMEIDA critores que ainda devem ser acer- duas obras, três meses antes do raquel.almeida@ucs.br tadas. Mas já é possível visualizar o evento, para culminar no encontro, Ledo engano para quem pensa que a Feira do Livro acontece somente quando vai para a praça na data específica de cada ano. A magia, até pode ser, mas o processo de realização do evento é amplo e contínuo. Ou seja, quando uma feira termina começa-se a pensar e a planejar a próxima edição. Como acontece com a 27ª edição da Feira do Livro de Caxias do Sul, que está sendo preparada para receber os visitantes no período de 30 de setembro a 16 de outubro, na tradicional praça Dante Alighieri, no centro da cidade. Parte dessa pré-preparação está no projeto Passaporte da Leitura, que serve como um chamariz de público à Feira. Mesmo com patrono e homenageado definidos, a programação oficial da 27ª Feira do Livro de Caxias do Sul (no fechamento desta edição o tema ainda não estava definido), está em aberto, para ser divulgada somente dois dias antes do início do evento, que ocorre de 30 de setembro a 16 de outubro. Entre os motivos, as confirmações de participação de alguns autores e es-
que vem por aí antes do fechamento de todas as atrações do evento, com a presença confirmada de autores que integram os projetos Passaporte da Leitura e Proler. Além disso, o evento vai oportunizar bate-papos literários com autores nacionais e internacionais, sessões de autógrafos, oficinas, seminários, palestras, lançamentos de obras e, claro, muitos livros com descontos e preços acessíveis para renovar a biblioteca pessoal. Sob o comando do patrono Marco de Menezes, a organização tem expectativa de superar o número de visitação e de vendas em relação ao evento anterior, quando cerca de 300 mil pessoas passaram pelo local e cerca de 70 mil livros foram vendidos. Inserida no Programa Permanente de Estímulo à Leitura (PPEL), da Secretaria Municipal da Cultura, desde 2005, a realização da Feira do Livro é o ápice de um pré-trabalho desenvolvido em vários projetos educacionais com estímulo à leitura nas escolas públicas do município, meses antes da grande festa literária. Como é o caso do projeto Passaporte da Leitura, em sua sétima edição, que une toda a comunidade escolar na leitura de
na Feira do Livro, com os autores dos temas estudados. Outro exemplo é o Proler, seminário que reúne professores de Ensino Fundamental e Médio, bibliotecários, equipes diretivas e pedagógicas, alunos do curso Normal, dos cursos de Graduação em Letras e Pedagogia e comunidade interessada na promoção da leitura.
AUTORES CONFIRMADOS Doze escritores estarão na sétima edição do Passaporte da Leitura (ver quadro). Este ano, dos 45 trabalhos inscritos, 24 escolas foram contempladas. Cada escola recebeu um kit com 30 livros para trabalhar duas obras em atividades literárias junto com a comunidade escolar e no bairro onde a escola está inserida. De acordo com a diretora do PPEL, Luiza Motta, o resultado é a aproximação de pais com a escola e também a melhora do relacionamento entre alunos e pais. “Diante desse quadro positivo, estamos alcançando o objetivo da Secretaria da Cultura, que é o de promover o interesse da comunidade pela leitura e incentivar o público-leitor a participar da Feira do Livro”, observa.
7º Passaporte da Leitura Autores e obras selecionadas ■ Annie Muller Obra: A turma do Meet ■ Cléo Busatto Obras: O florista e a gata Pedro e o Cruzeiro do Sul
■ Jonas Ribeiro Obras: Circo faz-de-conta Palavra de filho ■ Márcia Leite Obras: A menina sereia Eu sou assim, viu?
■ Gláucia de Souza Obras: Quem quer lamber panela? Do alto do meu chapéu
■ Márcio Vassallo Obras: A fada afilhada Da minha praia até o Japão
■ Ilan Brenman Obras: As 14 pérolas budistas As 14 pérolas da Índia
■ Roger Mello Obras: Carvoeirinhos Zubair e os labirintos
■ Índigo Obras: O colapso dos bibelôs A maldição da moleira
■ Stela Maris Rezende Obras: Esses livros da gente Matéria de delicadeza
■ Jane Tutikian Obras: Fica ficando Por que não agora?
■ Rosa Amanda Strausz Obras: Fábrica de monstros Uma família parecida com a da gente
Também participam a Penitenciária Industrial de Caxias do Sul e turmas do EJA das escolas E.E.E.F. Victório Weber, E.E.E.M. Melvin Jones e E.M.E.F. Guerino Zugno, com os escritores caxienses Leandro Angonese (Pá de cata-vento e Orações de um ateu); Paulo Ribeiro (As luas que fisgam o peixe) e Rejane Romani Rech (Sê como sândalo).
Patrono foi vencedor do Prêmio Açorianos em 2010 O médico Marco de Menezes, poeta e editor, é o patrono da 27ª Feira do Livro. Vencedor do Prêmio Açorianos de Literatura em 2010, com a obra Fim das coisas velhas, é natural de Uruguaiana, mas adotou Caxias do Sul por cidade. A homenageado é a livreira Maria Helena Lacava, que também já foi madrinha. Patrono e homenageada foram escolhidos em reunião, dia 29 de julho, da Associação dos Livreiros de Caxias do Sul, Secretaria Muncipal da Cultura e Programa Permanente de Estímulo à Leitura (PPEL). O tema do evento literário ainda não estava definido no período de fechamento deste jornal. Conforme a diretora do PPEL, Luiza Motta, a escolha do representante da Feira do Livro e do homenageado é consenso entre livreiros, PPEL e Prefeitura, após um processo minucioso de observações sobre os indicados. Mas reitera que o patrono não precisa ser necessariamente um escritor. “Um dos critérios considerados para entrar na lista de indicados é a ligação que a pessoa tem com a literatura e seja também uma encentivadora da leitura”diz. O argumento é endossado por Cristiano Bartz Gomes, livreiro há 18 anos na Feira do Livro e presidente da Associação dos Livreiros. “A pessoa eleita patrono tem que estar disponível para atuar na Feira”, conclui. De acordo com Gomes, na reunião definitiva, os dois nomes mais defendidos dos apresentados vai
para votação final. Há 26 anos atuando como livreira na Feira do Livro de Caxias do Sul, 16 pela Mercado de Ideias, Maria Helena Lacava diz que adora seu trabalho, alegando que, além de ser uma fã da literatura, a atividade lhe possibilita estar em contato com pessoas. “Gosto de trabalhar com gente, estar no meio dos acontecimentos. É gratificante tirar os livros de quatro paredes e levar até o povo.” A livreira recorda o expatrono Mario Gardelin como um de seus indicados no ano de 1992. Já que todos os anos sempre leva nomes para apreciação, vê as indicações dos livreiros como colaboração importante na escolha do representante da Feira. Trabalho de destaque na Feira do Livro, a função dos livreiros vai além do atendimento nas bancas que expõem. Além de indicarem nomes de pessoas a patrono, eles também indicam escritores para a sessão de autógrafos, auxiliam no processo de definições e temática para a Feira do Livro, fomentam a leitura, assessoram bibliotecas e entidades, entre outras atividades que envolvem a leitura. Com cerca de 15 associados, a entidade dos livreiros completou um ano em junho. Outro fator importante para a criação da associação é o de promover o fortalecimento das livrarias independentes, segundo Gomes, presidente da Associação dos Livreiros. Neste ano 28 livreiros estarão na praça.
Proler, de 6 a 8 de outubro Em sua 18ª edição, o Proler traz 10 escritores para a 27ª Feira do Livro. O evento terá oficinas práticas para professores, bibliotecários, agentes de leitura que atuam nas suas comunidades e leitores.
Fotos Divulgação
Público de diferentes idades vai poder conferir as novidades literárias nas bancas de 30 de setembro a 16 de outubro
SERVIÇO O quê? 27ª Feira do Livro de Caxias do Sul Quando? De 30 de setembro a 16 de outubro Onde? Praça Dante Alighieri Pietro Carlucci de Campos/Divulgação
■ Adriana Antunes - Caxias do Sul ■ Cléo Busatto - Curitiba ■ Dilan Camargo - Porto Alegre ■ Eliane Moro e Lizandra Estabel - Porto Alegre ■ Fabiano Tadeu - Erechim ■ Lizandra Estabel - Porto Alegre ■ Nóia - Porto Alegre ■ Peter O’ Sagae - São Paulo ■ Rosa Amanda Strausz - Rio de Janeiro ■ Sérgio Napp - Porto Alegre Antonio Lorenzetti/Divulgação
Passaporte da Leitura promove o encontro da comunidade escolar com escritores na Feira
Talento feminino que encanta a todos Acadêmicas de cursos de Comunicação Social são destaques no cenário da música tradicionalista gaúcha
É de Caxias do Sul uma das poucas mulheres que estrelam o cenário nativista, ao dedilhar com maestria sua gaita-piano. Jéssica Thomé, 20 anos, desde pequena demonstrou afinidade com a música e hoje se notabiliza no meio tradicionalista pela sutileza caracteristicamente feminina de tocar acordeão. Certa vez, na impulsividade de uma criança, ao ver um acordeão na televisão, a jovem Jéssica disse que iria aprender a tocá-lo. A brincadeira foi levada a sério pelo avô, que, uma semana depois, presenteou a neta de 12 anos com o instrumento. As primeiras aulas desenvolveram o gosto da menina. Dois anos depois, Jéssica aproveitaria os preparativos dos bailes organizados pelo pai no Clube Minuano para aprender com a experiência dos artistas convidados. Logo, Jéssica começou a chamar a atenção. Primeiramente, por ser uma menina que gostava de tocar acordeão e, na sequência, pelo talento com o instrumento. O caminho na-
começaram a convidar a “jovem promissora” para “fazer uma palhinha” em suas apresentações no Clube. Na companhia de grandes nomes da nossa música, como Os Tiranos, Os Mirins e Os Bertussi, Jéssica tomou gosto pelo palco, e a carreira artística tornou-se um caminho natural. Conforme a menina se tornava mulher, a artista também amadurecia. Aos poucos Jéssica passou a compor e cantar juntamente com o acordeão. O próximo passo era registrar o talento em forma de disco. Para juntar dinheiro para as gravações, Jéssica não mediu esforços. Um exemplo foi um baile, organizado em Fazenda Souza, quando ela iniciou os trabalhos ao varrer o chão e terminou no palco com suas músicas. O dinheiro conquistado custeou um estúdio em Canoas, para onde a estudante de Jornalismo, se deslocava quase toda a semana, durante dois meses. A opção pelo curso de Comunicação ocorreu porque a primeira opção, a Licenciatura em Música, ainda não era oferecida pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Porém os conhecimentos adquiridos na faculdade também voltaram-se para a carreira artística: Jéssica se responsabiliza por toda di-
pessoal e o da gravadora. O resultado de todo o esforço pôde ser visto em 28 de outubro de 2010, no show de lançamento do álbum Simplicidade, para um público aproximado de 400 pessoas, no Teatro São Carlos, logo seguido por uma turnê de 40 dias, que incluiu 21 cidades gaúchas. “Este CD é o maior exemplo de que eu posso conquistar tudo que eu quero. Sempre que o escuto consigo dizer que ele é meu, que fui eu que gravei, que tem todo o meu sentimento nele”, comenta a orgulhosa acordeonista. Como toda artista em ascensão, Jéssica sonha em viver da música. Algo possível, guardadas as devidas proporções. Além do curso de Jornalismo, a acordeonista iniciou paralelamente as aulas de Licenciatura em Música, finalmente disponibilizado em Caxias. Para viver da música, ela acredita ser necessário um aperfeiçoamento constante e, com os conhecimentos conquistados com a vida artística e a faculdade, espera futuramente, pelo menos, dar aulas. No futuro, Jéssica pretende repetir os passos de Renato Borghetti, o Borghetinho, e protagonizar recitais fora do País, espalhando e mesclando culturas.
A estudante do curso de Relações Públicas, da UCS, Tatiéle Bueno, 23 anos, começou a cantar ainda adolescente. Tudo teve início em uma brincadeira
com um colega de escola que, na época, já era músico. Ela sempre gostou de cantar, porém nunca tinha pensando em ser realmente uma cantora profissional. Até
que o colega, Jonatam Dalmonte, a escutou cantar nos corredores da escola e perguntou se gostaria de se apresentar; mais do que depressa, ela disse sim. Após al-
geremias.orlandi@ucs.br LEONARDO LOPES leonardo.lopes@ucs.br
Divulgação
GEREMIAS ORLANDI tural se seguiu e os antigos mestres vulgação do CD e atualiza seu blog
Jéssica Thomé no show de lançamento do seu primeiro CD, no Teatro São Carlos
Tatiele Sperry Monteiro
Da brincadeira surge um sonho: viver da música
Tatiéle Bueno, ganhadora do Enart 2010, lançou seu primeiro disco no Teatro da UCS, em show realizado no ano passado
gumas apresentações, a menina de 16 anos já tinha seu interesse consumado pela carreira artística. Para isso começou a estudar, se aprimorar e apostar no canto como profissão, pois era isso que realmente gostava de fazer. Sobre a importância da música em sua vida, Tatiéle não tem dúvidas: “A música é minha vida, é o que me faz feliz! Vivo a música diariamente não me imagino sem ela.” Acredita que a vida é baseada numa trilha sonora, que todos têm aquela música que relembra um momento especial de sua história. Gosta da sensação que ela proporciona, principalmente quando, pelo seu trabalho e seu canto, pode propiciar esse sentimento a outras pessoas. Em 2010, venceu o Encontro de Arte e Tradição Gaúcha (Enart), maior festival amador de arte da América Latina, organizado pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), na categoria Intérprete Solista Vocal. Sem sombra de dúvida, após essas conquistas no festival, sua carreira impulsionou-se. “Ter vencido o Enart serve como uma referência para a qualidade e garantia do meu trabalho”, afirma Tatiéle.
Com isso, muitas propostas de trabalho surgiram, abrindo diversas portas para uma promissora carreira musical. Ela acredita que a carreira musical, assim como qualquer outra atividade, é uma junção de muito trabalho e dedicação. Em outubro, lançou seu primeiro disco, Do Rio Grande do passado ao Rio Grande do futuro, em parceria com Anderson Oliveira. “Felizmente, a aceitação do trabalho foi muito boa, tanto pelo público em geral quanto pela imprensa, o que gerou uma grande repercussão dentro e fora do estado”, comenta orgulhosa Tatiéle. E ela arrisca uma receita para o sucesso. É necessário, segundo a intérprete, muita dedicação, disciplina e perseverança. Esse parece ser o segredo para quem tem interesse em seguir uma carreira profissional. Além de tudo isso, é claro, ter amor pela música e pelo que ela proporciona. “A música também é uma forma de trabalho, e tenho muito orgulho em dizer que hoje a música é o meu trabalho, minha profissão”, finaliza. E adianta que um segundo disco está sendo planejado.