Revista Entrelinha 2018/2

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Entrelinha Revista-Laboratório da disciplina Design de Notícias e Planejamento Visual no Jornalismo 2018/2

sétima edição do Festival Brasileiro de Música de Rua reúne mais de 150 atrações Página 8 1


Novas possibilidades a experimentar Reitor: Dr. Evaldo Antonio Kuiava Diretora da área do Conhecimento de Ciencias Sociais: Dra. Maria Carolina Rosa Gullo Coordenador do Curso de Jornalismo : Me. Marcell Bocchese Professora responsável: Dra. Marlene Branca Sólio

Entrelinha denota aquilo que não é propriamente dito. As palavras e expressões encontradas nas entrelinhas nos ajudam a interpretar a realidade sob uma nova perspectiva; permitem compreender o todo e alcançar um ponto antes não conhecido. É o exercício de perceber os detalhes, de enxergar além do óbvio, que diferencia uma boa pauta das demais. Ainda que aprendizes, cada aluno da disciplina Design de Notícias e Planejamento Visual em Jornalismobuscou construir sua pauta sob um olhar diferente, tentando fugir de clichês já estabelecidos. Dos festivais de música à produção de webséries, das crises na vida universitária ao aumento das agências de ecoturismo, da crise política regional ao futebol do interior gaúcho, a revista propõe alguns temas que o grupo entendeu pouco comuns. O projeto gráfico de um veículo não é menos importante e este foi planejado para proporcionar fácil e agradável leitura, ampliando a percepção da informação, utilizando técnicas para afirmar a ideia central de cada matéria. Entrelinha oferece, portanto, não somente mensagens textuais, mas também visuais. Trata-se de uma revista experimental, engajada na oferta de conteúdo reflexivo, ético e com valor social. Esperamos que tenham todos uma boa leitura.

Disciplina: Design de notícias e planejamento visual no jornalismo Projeto Gráfico: Juli Marroni Miller Hoff Alunos: Bárbara Guidolin Morello Bernardo da Silva de Barcellos Carlos Eduardo Carissimi Vinade Carolina Freitas da Rosa Daniel Ribeiro Cararo Daniela Farenzena Affonso Djeison da Silva Érick Godoi de Oliveira Fábio Bielscki de Matos Gisiele Pimel da Costa Igor Ismael Panzenhagen Janaine Cristina Bagatini Jonnathan Lucas Tibes Mryczka Juli Marroni Miller Hoff Karen Boldrin Leandro Luís Zampieri Schiavon Lucas de Souza Marques Maiara Zanatta Gallon Milton Cesar de Campos Gonçalves Paola Ferreira de Castro Patrícia Dal Picol Raiane Martininghi Ricardo Gatelli da Costa Rodrigo Rauber Coltro Vanessa Barbosa Pegoraro Foto de CAPA: banda catavento Breno Dallas

Sumário Aventura

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Esporte

4

Política

6

Cultura

8

Aumenta número de agências de ecoturismo e aventura

Categorias de base na formação de atletas

Esquerda e direita além de meras direções

7ª edição do Festival Brasileiro de Música de Rua

Comportamento

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Redes

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Bem-estar

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Vida universitária provoca ansiedade

Rede sociais e intolerantes

Animais associados ao tratamento de humanos


aventura

Aumenta número de agências de ecoturismo e aventura na Serra e região

Foto: Augusto Gobatto

O que as pessoas buscam é o bem-estar físico e psicológico aliado à sustentabilidade

Conheça agências de ecoturismo da região: Parque de Aventuras Gaspar Casa Verde Ecoturismo Trilha do viajante aventura e ecoturismo Bicho do Mato Trekking Trilhas do Sul - Turismo de Aventura Além da Trilha Eco Parque Cia da Aventura Cheiro de Mato Eco Camping Trilheiros Adventure

JONNATHAN TIBES “O prazer é incomparável ao usar uma mochila e aventurar-se pelo desconhecido, na companhia do meio ambiente.” Assim o aposentado Rodrigues, 60, define a prática do ecoturismo, mais especificamente, a modalidade do trekking. Seja para sair da rotina, exercitar-­ se ou contemplar lugares, o ecoturismo é acessível e possibilita a superação de obstáculos. É também o que atrai diversas pessoas a buscarem conhecimento sobre atividades em meio à natureza, gerando no setor turístico a aposta de que o ramo somente tende a crescer. Empresas ou agências podem especializar-se em uma das modalidades, como o trekking, ou oferecer diversos tipos de experiências aos seus usuários, mas todas prometem contato constante à natureza. Trilhas de quadriciclo, canoagem, rapel, cavalgada, voo livre e até bungee jump são algumas das opções. Ainda há muito o que explorar na natureza e no setor. Em uma pesquisa rápida pela in-

ternet, é possível encontrar 10 agências que oferecem algumas dessas atividades, em Porto Alegre, Caxias do Sul e região (ver final da matéria). A Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC), por meio da Diretoria de Política Turística e Enogastronomia, desenvolve um relatório de indicadores na área do turismo, ainda em fase inicial. O Sindicato das Empresas de Turismo do Rio Grande do Sul (Sindetur) não tem dados de quantas agências de ecoturismo o estado possui. Entretanto, a Organização Mundial do Turismo (OMT) mostra que, enquanto o turismo convencional cresce 7,5% ao ano, o ecoturismo cresce mais de 20%. A estimativa é que mais de meio milhão de pessoas no Brasil pratiquem, por ano, o turismo de aventura. Segundo a OMT, com 5.000 empresas e instituições privadas no ramo, é possível empregar cerca de 30 mil pessoas. Uma agência que começou no ramo recentemente, e prevê bons frutos para o futuro, é a Bicho do Mato Trekking. Criada em 2016, por Daniel

Missaglia e Lucas Tomazzoni, a Bicho do Mato teve sua primeira atividade em novembro do mesmo ano, levando cerca de 35 pessoas até a Ferrovia do Trigo, entre Guaporé e Muçum. Até hoje, realizaram 11 trekkings e um rapel, o que permitiu a cerca de 200 pessoas estreitaram laços ou conheceram o ecoturismo.

“Mercado é pouco explorado e população está procurando esse tipo de serviço” A prática trouxe experiência para os empreendedores. “As pessoas precisavam entrar em contato conosco para fazer a inscrição; agora contratamos uma plataforma de organização de eventos e é tudo feito por lá (Inscrição e pagamento). Sempre calculamos o valor, de acordo com o preço do frete (ônibus, van) e nosso lucro mínimo; assim chegamos ao valor por pessoa”, explica Missaglia. “Aumentar o número de viagens, realizar parcerias e eventos sociais e se tornar reconhecida na região pelo serviço que oferece” fazem parte dos planos da Bicho do Mato Trekking.

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Esporte

Categorias de base na formação de atletas Do sonho à realidade, veja a importância das categorias de base para futuros atletas Carolina Freitas Daniel Ribeiro e Maiara Gallon tica, mesmo construtiva, preciso tomar muito cuidado, porque isso tem um peso grande na cabeça deles.” Ele conta, enfatizando que “a formação de base de um clube é como a de um filho. Quando tu cria um filho precisa saber o momento de puxar a orelha, mas tem que saber o de apoiar, de dizer que está com ele”. Dentro de campo, e trabalhando diariamente com Lauro, encontramos Deivid Alan. O jovem de 16 anos já atuou pela seleção brasileira e, mesmo com a pouca idade, tem muitas histórias para contar. Foi Campeão Gaúcho em 2015 e tem duas convocações no currículo: “É difícil viver longe da família, mas a gente pensa que lá na frente vai compensar essa saudade”, garante ele. Além disso, todo o trabalho desenvolvido pelo clube reflete-se no cenário social. As equipes têm rotina regrada, com cuidado médico e suporte psicológico: “É um jeito de

impulsionar nosso sonho (jogar no Juventude), tentar dar uma condição melhor pra nossa família que está longe”, relata o jovem Deivid Alan (foto). Foto: Gabriel Tadiotto

O Brasil é escola de grandes atletas, inclusive Pelé, o melhor da História. Contudo, para viabilizar isso, são necessários planejamento e estrutura de categorias de base. O Esporte Clube Juventude é exemplo disso. Com orçamento menor do que o de clubes de elite, ele é referência na formação de atletas. Sua história revela jogadores como o zagueiro Thiago Silva, multicampeão por clubes europeus e seleção brasileira, e o zagueiro Dante, diversas vezes campeão alemão. O preparador físico da equipe sub-17 do Juventude, Lauro da Silva, Laurinho Guerreiro, como ficou conhecido, construiu sua história de jogador no Alfredo Jaconi e agora passa suas experiências para a garotada, que sonha em ter uma carreira profissional: “Muitos se identificam com a minha história e trajetória no clube, para construir a carreira deles. Então, o que eu falo, como a parte crí-

Com a integração dos jovens no clube, mesmo aqueles que não seguem para o futebol profissional têm oportunidade de conhecer uma realidade diferente e mais saudável que a habitual. Além disso, a vivência nesse espaço pode estimulá-los a projetar sua vida em grandes desafios.

Aumenta procura por grupos de corrida Profissionais acreditam que interesse dos caxienses em abandonar o sedentarismo cresceu Carlos Carissimi, Maiara Gallon e Carolina Freitas keting da Kenpo, Nicole Machado, conta que, com o passar do tempo, as pessoas começaram a demonstrar maior interesse pela atividade: “Começamos em dezembro de 2012 com 10 pessoas, contando funcionários da loja. Hoje, temos de 80 a 100 pessoas fiéis que toda semana correm conosco.” Assim como a Kenpo Sports, a Equipe de Corrida Life Company também incentiva a prática de corridas. Ela existe há cinco anos e valoriza a prática com perfeição, ensinando os princípios básicos da corrida. Inicialmente, a procura era pequena, uma média de cinco a 10 alunos, mas, a

partir de 2015, as equipes aumentaram, chegando à média de 130 alunos. Os praticantes são divididos em cinco grupos: Iniciante 1 e 2, Intermediário, Avançado e Competição. Sobre esse aumento na procura, o sócio-proprietário Alexandre Silvestrin conta que o exercício pode moldar o corredor: “Hoje, você se condiciona para correr ou correro condiciona.” Foto: Nicole Machado

Há dois anos, com a iniciativa da prática de um esporte aeróbico frequente, toda quarta-feira às 19h30min, em frente ao Shopping San Pelegrino, reúnem-se pessoas para correr pela cidade em trajetos de 3 km, 5 km e 10 km. Criada pela loja Kenpo Sports, a programação inclui alongamento antes de iniciar o percurso, nutrição e hidratação pós-treino, e acompanhamento de professores de academia. Há uma estrutura completa e gratuita para qualquer um que queria participar dos treinos e não é necessária inscrição. Basta comparecer usando roupas leves e querer correr. A analista de mar­

Grupo da Kenpo Sports no ponto de partida


Esporte

Prestigiado desde os tempos de interior gaúcho Hoje, entre os melhores técnicos do mundo,Tite é parte da história de alguns clubes do interior gaúcho

Tite, 56 anos, alcançou o posto de técnico da seleção brasileira há dois anos, e o desempenho da equipe impressionou até aqueles que já conheciam seu potencial. Na década de 90, no interior gaúcho, sua capacidade de organizar um time e torná-lo vencedor já era vista. Em 1992, foi o primeiro técnico do recém-fundado Veranópolis Esporte Clube. No segundo ano de trabalho, em 1993, levou o clube à elite do futebol gaúcho. Segundo Dirceu Salla, na época diretor de Futebol, isso se deve à estrutura e ideologia que Tite forneceu ao time. “Ele representa a existência do clube até os dias de hoje. Parece ser uma escola montada por ele, com outros personagens dando continuidade ao que ele deixou. Muita coisa que ele falava nós continuamos usando”, revela. Anos mais tarde, em 1999, Tite

foi contratado pela Sociedade Esportiva e Recreativa Caxias, em que conquistou seu primeiro título como técnico. Gilmar Dal Pozzo, goleiro na época, relembra sua chegada ao clube. “O Ênio Costamilan (presidente em 1999) chamou eu, Paulo Turra e o Ademir e pediu o que a gente achava do Tite. Foi unânime. Dissemos ‘é o melhor treinador do interior do estado’. Convencemos o Ênio a contratá-lo”, recorda. No ano seguinte, o Caxias consagrou-se Campeão Gaúcho pela primeira vez, o maior título da sua história. Para o presidente do Caxias no ano da conquista, Nelson D’Arrigo, não fosse a representatividade e vínculo de Tite com seus jogadores, o desfecho não teria sido o mesmo. “Aquele título ninguém tirava do Caxias, o grupo estava junto, unido. Mas, sem a figura do Tite como técnico, ele não teria acontecido”, afirma. Já nessa época, Tite sonhava com

Foto: Agência ANDES

Carolina Freitas e Daniel Ribeiro

Tite: parte na história de clubes do interior gaúcho

a seleção. “Ele tinha muito potencial para ser um grande técnico. Mas daí ,para se tornar o que é hoje, ninguém poderia imaginar”, diz D’Arrigo. Segundo Dirceu Salla, “ele falava que iria ser técnico da seleção nas nossas conversas no VEC, mas confesso que a gente levava mais na brincadeira”, conta, rindo. Mesmo em passagens menos destacadas por clubes do interior, sua figura é muito bemquista. “É uma pessoa com valores definidos, com princípios, e é isso que ele leva para as equipes dele”, diz Laurinho, jogador do Juventude de Tite, em 1997.

Copa do Mundo 2018, sonho e realidade A matéria foi produzida antes da copa, mas vale conferir o que disseram os jornalistas De Bona e Baldasso sobre o momento de recuperar hegemonia Patrícia Dal Picol

Foto: Nicole Machado

Durante o Mundial, na Rússia, a seleção enfrentará a Suíça, a Costa Rica e a Sérvia. Mesmo que o grupo não apresente grandes dificuldades, a tarefa não será fácil, especialmente com a possibilidade de pegar, logo em seguida, a Alemanha: carrasca dos 7 a 1, mas a mesma de 2002. Surge a pergunta: 2018 será ano de vexame ou de hexa? Todos estamos esperançosos. É isso que diz o jornalista e narrador da Rádio Gaúcha, Marcelo De Bona. Em relação aos motivos para o brasileiro estar tão empolgado, após o vexame de 2014, De Bona comenta: “A esperança au-

tomaticamente se renova em ano de Copa, por ser a grande Seleção em todas as edições”, garante. Já para Fabiano Baldasso, jornalista, palestrante e influenciador digital, “os torcedores vêm de um trauma

“O que acontece é que o futebol brasileiro é o melhor mundo” inesquecível, os 7x1, consequência de um processo malconcebido, de uma filosofia malpensada. Mas o que acontece é que o futebol brasileiro é o melhor do mundo”, diz ele. Baldasso relembra que “em 2014,

pensamos que com nossa qualidade técnica, ou alegria nas pernas, ganharíamos da Alemanha, exemplo cabal do que é uma organização tática. A ficha caiu na medida em que Tite foi contratado”, garante. De Bona, mesmo considerando a ótima campanha nas eliminatórias, afirma: “Não é pela campanha das eliminatórias que o Brasil chega como um dos favoritos, é pelo trabalho, consistência tática, qualidade individual e coletiva dos jogadores; pelo bom time, por ter Neymar, Philippe Coutinho, Willian, uma dupla de zaga importante; por ter dois laterais que talvez sejam os melhores do mundo.”

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Esquerda e direita além de meras direções Juli Hoff

Confusão sobre ideologias, presença desde o surgimento dos conceitos

Dentre os temas abordados diariamente na internet, um ganha destaque no cenário brasileiro: a política. As discussões polarizam na timeline entre quem é de esquerda, de direita e, inclusive, quem declara seu posicionamento político como neutro. Com o debate constante, é fundamental esclarecer cada ideologia. Historicamente, esquerda e direita apresentaram modificações, de acordo com seu contexto, mas sempre seguiram tendência racional. Os conceitos iniciaram sua estruturação ainda na Revolução Francesa (1789), por causa da disposição dos liberais girondinos (direita) e extremistas jacobinos (esquerda), no salão da Assembleia Nacional. Para o Dr. João Ignacio Pires Lucas, professor e sociólogo especialista em política, dois autores podem servir de referência para a orientação dos significados ideológicos: Norberto Bobbio e Albert Hirschman – fi-

lósofo político italiano e economista político alemão, respectivamente. “Bobbio fundamenta a esquerda, historicamente, como os grupos que lutam pela questão de igualdade social, enquanto a direita prega pela liberdade, especialmente a econômica. Hirschman incide sobre a discussão definindo três correntes. A primeira, de esquerda, é o grupo progressista,

A confusão de conceito sempre esteve presente. São questões culturais e cíclicas. que luta pela evolução dos direitos. A segunda e a terceira, de direita, se dividem em conservadores, que apoiam a manutenção da situação como está, e reacionários, que gostariam de retroceder as conquistas”, explica João. A falta de reconhecimento das definições está presente em diferentes momentos da História, mas as redes sociais têm exposto ainda mais o pro-

Ilustração: Milton Gonçalves

Política

blema, que se mostra estrutural. “Não é novidade. A diferença é que hoje existem ferramentas que permitem a qualquer um de nós opinar. Mas, mesmo assim, se voltarmos 100 anos nos círculos mais intelectualizados, encontramos em livros e discursos a confusão de conceito sempre presente. São questões culturais e cíclicas”, afirma o sociólogo. A economia é fundamental na caracterização da ideo­logia. Enquanto a esquerda prevê a equalização econômica, distribuição igualitária de renda e propriedade, a direita se baseia na livre-iniciativa, no mercado livre e na propriedade privada. Essas diferenças também se manifestam nos partidos políticos brasileiros. De acordo com sua ideologia, o partido buscará desenvolver e compartilhar propostas. Portanto, é necessário que o eleitor conheça a ideologia do(s) seu(s) candidato(s), sem confundir ideais de esquerda e direita.

Mudar nome torna-se tendência entre partidos Com aproximação das eleições, siglas viram slogans na conquista do eleitor Daniela Affonso e Lucas Marques Infográfico: Daniela Affonso

Desde meados de 2017, partidos políticos assumem a intenção de mudar nomes e siglas. Em alguns casos, a mudança já se concretizou. Uma das trocas mais comentadas foi a do PMDB, que se tornou o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) nome que utilizou durante a ditadura militar de 1964 a 1985. PP, PTdoB e PSL, entre outros, trouxeram propostas de slogans, que podem enunciar ou não a ideologia que o partido quer resgatar para se recuperar da atual crise política. O PP se tornou apenas Progressistas, o PTdoB agora se chama AVANTE e o PSL é o novo Livre.

Segundo o Dr. João Ignacio Pires Lucas: “Partidos políticos de centro ou conservadores escolhem slogans para mostrar consistência e ideologias, porém, alguns utilizam a troca de nome apenas para parecerem rejuvenescidos. O MDB dá uma demonstração de ‘volta às raízes’, porém troca de nome não garante confiança.” Com o desgaste da política brasileira, os partidos tentam encontrar soluções para se renovarem. As mudan­ças, porém, dificilmente terão efeito nas eleições. Segundo o soció­ lo­­go: “Em eleições municipais, o no­ me pode pesar, mas nas eleições nacionais, pesam histórico, referência”.

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Política

Os pedidos de impeachment contra o prefeito Daniel Guerra

maior atenção voltada para aqueles que realmente necessitam de atenção, que é o povo de Caxias do Sul. Obrigado!” (Daniel Guerra).

Um terço do mandato e três tentativas de impeachment Foto: Matheus Teodoro

Bernardo Barcellos

Infográfico: Bernardo Barcellos

O ano de 2018 será marcado pelas eleições dos novos deputados estaduais e federais, governadores, senadores e presidente da República. As datas que levarão milhares de brasileiros às urnas já estão no calendário do Tribunal Superior Eleitoral, 7 de outubro para o primeiro turno, e 28 de outubro para o segundo, caso ocorra. Em Caxias do Sul, mais de 300 mil eleitores estão aptos ao voto. Quem ainda estivava com o título de eleitor pendente teve até o dia 9 de maio para regularizar o documento. Pouco mais de um ano e meio se passou da última eleição municipal, em Caxias do Sul, onde 148.501 eleitores votaram pela eleição do prefeito Daniel Guerra, que arrecadou 62,79% do votos. Diversas das decisões capitanea­ das pelo prefeito neste período tiveram forte repercussão negativa e chegaram a gerar revolta em algumas instituições e organizações. Desde que assumiu a administração municipal, o prefeito vem respondendo a diversos pedidos de impea­ chment contra o seu mandato. Procurada por esta edição, para prestar depoimento sobre os pro-

cessos, a assessoria de imprensa do prefeito passou o número do seu advogado e representante legal juridicamente, Heron Grohler Fagundes. O advogado orientou o prefeito a não falar sobre o caso, dizendo que o mesmo já se manifestou por carta, e esta seria a única forma de comunicação com a imprensa. A seguir, a carta na íntegra. “Dia histórico para o povo de Caxias do Sul. A Câmara de Vereadores demonstrou, mais uma vez, maturidade com a democracia, respeitando o voto de 148 mil caxienses. Este governo tem como marca trabalhar sempre respeitando a legalidade. Não tínhamos dúvidas quanto ao resultado da improcedência da denúncia, considerando que a mesma foi construída sem qualquer comprovação do que alegava. Agradecemos o apoio de milhares de caxienses que se manifestaram externando a sua solidariedade contra esse injusto e descabido processo, arquitetado por uma minoria, com objetivos obscuros, que não aceita a decisão do processo eleitoral ocorrido e tem como único objetivo gerar transtornos às instituições e prejuízos à imagem da cidade, num constante e cansativo olhar para o retrovisor. Manteremos sempre a nossa

Na Câmara de Vereadores, as opiniões se dividem; há vereadores que veem os processos de impeachment como instituto banalizado: “Depois do pedido de impeachment que nós entendemos ter sido um golpe parlamentar em 2016, contra o mandato da presidenta Dilma, o instituto do Impeachment foi banalizado no País. Em Caxias, tanto o primeiro, quanto o segundo pedido, foram resultados desse efeito cascata, porém o terceiro deve ser analisado com maior delicadeza”, afirma Rodrigo Beltrão - bancada do PT. Já o relator, integrante da comissão processante do último processo de impeachment, Velocino Uez (PDT), vê como algo negativo para a cidade todos esses processos: “Enquanto se gasta todo esse tempo em cima desses pedidos de impeachment, não se produz nada de bom pra cidade, isso é muito negativo, porque se deixa de produzir algo para avançar.”


cultura

7ª Edição do Festival Brasileiro de Música de Rua O evento artístico atingiu cerca de 20 mil pessoas, com mais de 150 atrações culturais Foto: Maurício Palma

Leandro Schiavon O Festival Brasileiro de Música de Rua leva arte e cultura a cidades da Serra gaúcha. De junho a outubro, Bento Gonçalves, Gramado, Flores da Cunha, Garibaldi e São Marcos são palco dessa programação multicultural. Com mais de 150 atrações relacionadas à música, dança, a oficinas, a debates e ao cinema, o evento carrega a diversidade como bandeira. Em 2018, foram desde apresentações nas ruas da cidade, palestras e exibições de documentários nas escolas, atividades culturais nas comunidades e shows, até visitas a entidades como Apae e Apadev. O evento, criado para incentivar e ocupar a Serra gaúcha com música, marca o encontro de estilos que vão do popular ao erudito, além de conectar a região com outras culturas brasileiras e da América Latina. “Estamos no meio do caminho, com apenas sete anos de festival. Temos muito para percorrer, evoluindo edição a edição.” Segundo Luciano Balen, idealizador, “este festival tem muitos objetivos. O principal é retornar à música,

Grupo Maracatu integrou a programação do festival

aimportância que ela sempre teve, tanto social como econômica, lúdica. A forma que escolhemos para fazer isso é colocar a Serra gaúcha no mapa da música brasileira e latino-americana”, explica ele. “A importância social do festival talvez encontre reverberação no futuro. Hoje, vivemos um tempo em que a música artística perdeu sua importância. A música é ligada à diversão e não há problema nisso. Porém, as pessoas em geral, especialmente os mais jovens, têm dificuldade de entender que a música pode servir para várias coisas, inclusive para ouvir”, acrescenta ele. Neste ano, mais de 20 mil pessoas foram atingidas pelo evento, contando com escolas, entidades e shows em lugares públicos, mesmo com dias chuvosos. O apoio da UCS e do SESC-RS foi essencial. Além disso, a mescla de músicos renomados, como Vitor Ramil e Otto, com nomes que estão começando no cenário atual, traz um amadurecimento especial ao ramo artístico.

Para artistas que estão iniciando seus trabalhos, o Festival tem uma importância de caráter extremo. Jonas Bender, músico da Banda Catavento, destaca a relevância do evento. “Acredito que foi criado para dar foco maior a artistas independentes que estão longe dos holofotes dos grandes meios de comunicação, que têm seu trabalho impulsionado pelas redes, por selos e produtoras focadas em determinados gêneros.”

“com apenas sete anos de festival, Temos muito a percorrer” Sobre a experiência obtida acrescenta: “Participar do festival como músico foi muito bom, o som estava ótimo, a organização e a recepção aos artistas também; além disso, o público na hora do show da Catavento estava bem grande, todos atentos, pois foi o penúltimo do festival. Sempre é bom participar de festivais, pois muita gente acaba conhecendo a banda, mesmo ela tendo seis anos de existência e sendo de Caxias.”

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cultura

Desenvolvimento de webséries em Caxias do Sul Dificuldades e oportunidades em novo nicho comercial da região

Convergência digital, velocidade de criação e aprimoramento de plataformas midiáticas levam a novas formas de produção de conteúdo, principalmente pela internet. Um desses formatos são as webséries – com episódios lançados pela plataforma online. Esse novo meio é grande oportunidade para marcas e, portanto, para content marketing, uma vez que o entretenimento permite criar envolvimento efetivo com o consumidor. Internautas ligados às mídias sociais, em Caxias do Sul, devem conhecer a produtora de entretenimento livre 1quarto. Idealizada por Diogo Severo, a produtora audiovisual surgiu em 2013, a partir de atualização do aplicativo Instagram. “Na época, o único site que bombava com audiovisual era o Vine, que produzia vídeos de seis segundos, e o Instagram atualizou sua plataforma, para que vídeos de 15 segundos pudessem ser compartilhados”, comenta Diogo. “Queria fazer algo que ninguém fazia, e vi

potencial nos vídeos curtos. Com eles é possível fazer comerciais e transmitir informações rápidas,” explica o jovem, que se antecipava a uma demanda na cidade. Consolidada no mercado, a 1quarto, que completa cinco anos, ficou reconhecida pelo trabalho que realiza, atraindo marcas pela forma como são feitas as produções. A exintegrante da equipe Amanda Schulz cita um momento que pode ser considerado divisor de águas: “A gente tinha um programa ao vivo, por exemplo, que sempre tinha uma audiência bacana, com bastante interação. Nosso auge foi quando fizemos o Foda-se a Ciência. Esse vídeo rolou 153 mil views. A partir daí, começaram a surgir oportunidades com grandes marcas como Lojas Colombo e Unisinos.” Outra websérie que obteve sucesso foi a Batalha das Bandas, apresentada até no programa o The Noite!, apresentado por Danilo Gentili. Além disso, a produção concorreu no Rio Webfest, que premia os melhores trabalhos audiovisuais do Brasil.

Foto: Acervo Diogo Severo

Ricardo Gatelli da Costa

Por ser um coletivo de produções e estar sediada na Casa Paralela, a equipe da produtora é mutante e está sempre se atualizando, de acordo com as demandas exigidas. Amanda Schulz e Erik Clepton de Oliveira, que fizeram parte da equipe em 2016 e hoje fazem produções autorais de humor em Porto Alegre, explicam como são as produções e para quem elas são direcionadas. “A gente trabalhava com muitos formatos de mídia. Dependendo do formato, nosso público mudava. A gente fazia vídeos só pro Insta Stories, vídeo só pro feed, vídeo só pro YouTube e assim vai”, explica.

Cidadão caxiense “consome” pouca arte Uma das causas para esse comportamento pode ser o preço das obras

Rodrigo Rauber Coltro Em Caxias do Sul, a procura por arte tem sido pequena, principalmente frente aos preços, se considerarmos classes sociais menos favorecidas, segundo o músico Roberto Niederauer. Destaca que “em um mundo cada vez mais materialista, a busca pela arte é a alternativa para sair da rotina, para ir ao encontro da beleza e da fantasia; porém, a música em Caxias do Sul tem baixa procura. As pessoas­ buscam música pelo princípio da diversão. Somente uma parcela pequena procura a música como forma de cultura. Isso é fruto do pouco envol-

vimento dos setores de educação no quesito cultura”, conclui o músico. A procura por arte pelo cidadão caxiense tem sido muito tímida, é o que diz Elói Frizzo, vereador e presidente da Liga Carnavalesca de Caxias do Sul, que declara: “A frequência a

“busca pela arte é alternativa para sair da rotina, para ir ao encontro da beleza e da fantasia” museus e galerias de arte, bem como a participação pública em projetos, como Festival Brasileiro de Música de Rua, CineSerra, Cinema de Rua e Órbita Literária, indicam uma procura e

consumo de arte baixos para o que a cidade oferece. Se levarmos em consideração o poder aquisitivo médio da população, essa procura ainda está aquém do que poderia ser”, garante Frizzo. Para Fábio Balen, artista plástico da região: “A procura por arte tem tido um aumento com o auxílio da tecnologia.” Segundo Balen, com seuuso e, principalmente, com a facilidade de acesso, aumenta a procura por museus, galerias e exposições. Mas, devido ao alto preço das obras, e mesmo de ingressos, somente as classes mais favorecidas têm acesso aos produtos.

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cultura Foto: Luciana Corso

Tem gente “teatrando” na Serra gaúcha

Há quase 30 anos, a companhia é referência em fazer e ensinar teatro no estado Djeison Silva Fundada em 1989, a Tem Gente Teatrando é uma empresa cultural de Caxias do Sul, que propícia à região diferentes conteúdos relacionados às artes cênicas. A TGT, como é conhecida, conta com quatro pilares: escola de teatro, companhia teatral, teatro para empresas e casa de teatro. A diretora e fundadora, Zica Stockmans, participava de um grupo tea­tral na década de 80, chamado “Em Cena” e em 1989, propôs a criação da Associação Caxiense de Artes Cênicas (Acac). A fundadora ministrava aulas de teatro em diversos lugares e pensou centralizar as aulas e os ensaios do grupo do qual participava em um espaço físico. Foi a partir deste momento, e de forma espontânea, que nasceu a proposta da Tem Gente Teatrando. O coordenador de projetos culturais da TGT, Sandro Martins, que ingressou na companhia em 2001, como aluno, ressalta

a importância da instituição como guia de formação de novos atores e atrizes. “A TGT oferece o único curso de formação profissionalizante no interior do Rio Grande do Sul e temos grande procura de alunos de outras partes do estado. Dessa forma, a TGT oportuniza disseminação do teatro, já que, depois de formados, os alunos retornam às suas cidades e tornam-se produtores de teatro.” A acadêmica de Jornalismo Sara Fontana também ingressou na TGT como aluna e hoje atua na assessoria de imprensa. O curso oferecido pela companhia conta com professores pós-graduados e um excelente acervo de livros presentes na biblioteca do espaço. “A TGT representa um grande papel cultural na região, não só como formadora de novos atores, mas também pelo Teatro-empresa que oferece à região e ao País um vasto conteúdo lúdico e de qualidade”, ressalta. Zica Stockmans esclarece que o nome Tem Gente Teatrando apareceu

de maneira espontânea, sem visar ao mercado e que, apesar de criativo, não é fácil “capturar” como marca, mas ressalta o papel de qualidade e competência que a companhia conquistou durante os anos. “No início não tínhamos pretensão de gerar uma grande empresa. Hoje, temos uma unidade em Bento Gonçalves também. A TGT começou tímida e foi conquistando espaço, mas a humildade se mantém porque é um grãozinho de areia perto do que o País precisa para firmar sua identidade cultural.” Para Zica, a TGT, durante esses quase 30 anos, contribuiu na formação de uma numerosa plateia por bairros e cidades que receberam apresentações. Além disso, ela acredita que o papel da companhia é manter vivo o desejo de seguir com a arte e apoiar as pessoas que buscam adquirir conhecimento como aluno ou espectador e até mesmo gerar empregos de forma direta ou indireta qualificando o mercado teatral da região.

Em Caxias do Sul, Festa da Uva e do povo Espaço de diversidade de culturas que há décadas transcende fronteiras e une nações Vanessa Pegoraro A Festa Nacional da Uva tem data e tema definidos. O evento, que ocorre entre os dias 22 de fevereiro e 10 de março de 2019, com enredo “Viva una bela giornada”, traz muitas novidades, entre as quais a presença do ator Thiago Lacerda. O ator conta, em vídeo divulgado nas redes sociais, o quão honrado e feliz se sente por ter sido escolhido embaixador da cerimônia. “A minha ligação com o esta-

do do Rio Grande do Sul é profunda, a minha ligação com a cultura gaúcha é profunda e isso me enche de orgulho”, completa. Lacerda ressalta a importância da comemoração para a colônia italiana no País. “Eu sei que a celebração da Festa da Uva é uma celebração em torno das boas coisas da vida; é uma celebração da cultura italiana, especialmente, da cultura do imigrante no Brasil, concentrada aí na Serra do Rio Grande do Sul”, diz ele.

O cartaz de divulgação também ganhou especial atenção. O intuito da ilustração é trazer ares retrô, resgatando gravuras feitas à mão, como referência às festas antigas, mas com o olhar no futuro, antecipando edições seguintes. Outro detalhe diz respeito à ortografia do anúncio. A opção por escrever “bela giornada” ao invés de “bella giornata” é para dar destaque à cultura do imigrante que, ao chegar no Brasil, criou seu próprio dialeto.

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Comportamento

Estudantes relatam experiências com depressão Ameaça de fracasso profissional e pressão pelo diploma são causas do transtorno Foto: Érick Godoi

Depressão atinge 5,8% da população brasileira

Janaine Bagatini e Érick Godoi “Eu sentia medo, angústia e não conseguia me alimentar. Cheguei até a perder sete quilos na época. Eu desejava estar em todos os lugares, menos na universidade. Depois que entrei para o estágio e para a gestão do Centro Acadêmico, passei a ter muitas responsabilidades e, por isso, acabei tendo episódios de crise de pânico. Acabei trancando a faculdade, pois não consegui superar as coisas que vivi e a pressão que sofri.” O depoimento é de Jéssica Rodrigues Jerônimo, 23 anos, ex-estudante na Universidade de Brasília. Em entrevista ao Entrelinha, ela conta que as pressões para ter o diploma, a ameaça do fracasso profissional, o medo de errar e as incertezas e inseguranças foram os principais desencadeadores desses transtornos. Além disso, o aumento da carga horária de estudos ao sair da escola e entrar para a faculdade exigiu muitas responsabilidades, fazendo com que não conseguisse o desempenho necessário. Jéssica ainda conta que a rotina desgastante desencadeou crises de pânico e depressão. “Cheguei num estágio em que eu nem levantava da cama porque eu não tinha forças para viver.” De acordo com um relatório global, publicado em fevereiro de 2017,

pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de pessoas com depressão aumentou 18% entre 2005 e 2015. A publicação Depression and other common mental disorders mostra que a depressão atinge 5,8% da população brasileira (11.548.577). As estimativas globais da OMS também apontaram que, em 2015, o suicídio foi a segunda principal causa da morte de pessoas entre 15 e 29 anos. A idade é predominante nas universidades do País, conforme microdados levantados pelo Censo da Educação Superior de 2015, elaborado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, o Inep. O Entrelinha conversou com Morgana Pauletti, 22 anos, aluna do curso de Química, na UCS. A estudante relatou que o excesso de atividades começou a atrapalhar sua vida social, fazendo com que se afastasse dos amigos, desencadeando quadro de depressão. “Depois de um tempo, parei de ver sentido em realizar as atividades do cotidiano. Tive falta de apetite, oscilações de humor e até insônia”, disse. Morgana ainda contou que, além do acompanhamento psicológico, a ajuda dos amigos e familiares foi essencial para a recuperação. “Recebi

apoio dos amigos e, com o passar do tempo, meus familiares compreenderam que um transtorno psicológico é como qualquer outra doença e precisa ser tratada. Ainda não me sinto totalmente recuperada, mas sei que com paciência e persistência é possível recuperar a qualidade de vida”, explicou. Segundo a psicóloga Fabiana Mez­zo­­­mo, muitos psicólogos também trabalham com a orientação de familiares dos indivíduos que passam por esses transtornos. “A partir do momento em que conseguimos orientar os familiares para desmitificar os transtornos e para que não minimizem o sentimento do paciente, conseguimos ter bons resultados. Afinal, não é somente o paciente que precisa de auxílio, muitas vezes os familiares querem ajudar mas não sabem como.” A psicóloga explica que o trabalho de recuperação de pessoas que sofrem com depressão muitas vezes é realizado em conjunto entre o acompanhamento psiquiátrico e a psicoterapia. “O acompanhamento é muito importante para que nós psicólogos possamos aplicar técnicas de enfrentamento aos pacientes. Somente ingerir medicamentos não poderá solucionar o problema por completo.”

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Comportamento Foto: Érick Godoi

Vida universitária provoca ansiedade Vários motivos levam estudantes ao sofrimento psíquico

Bárbara Morello e Raiane Martininghi Repercutida principalmente no Ensino Superior, a ansiedade é uma experiência pela qual muitos alunos já passaram ou irão passar. O sofrimento psíquico pode estar associado a uma crise do modelo de vida que muitos levam até chegar à universidade. Algumas situações caracterizam esse quadro, mas nenhum motivo é causa isolada do problema. Segundo informações obtidas no site do Ministério da Saúde, a influên­ cia de pessoas, no mercado de trabalho, pode ser um dos fatores que levam a indícios de ansiedade. O mercado exerce pressão forte e cobrança permanente por um profissional ideal.­Há, ainda, o fator desarticulação. Normalmente, os estudantes não se unem para enfrentar problemas. E o estilo de vida é mais um fator que indica possível ansiedade. Ainda segundo o site, muitas vezes os sinto-

mas começam ainda no Ensino Médio, quando professores estimulam o aluno a ser o melhor da turma para ingressar em grandes instituições de ensino. Muitas vezes, o jovem sai de contextos nos quais é destaque, com ótimo desempenho e, quando chega à universidade, percebe que é razoável. Uma carga de trabalho intensa na universidade e a privação de sono são extremos que deixam o aluno mais vulnerável a doenças como ansiedade, depressão e outros transtornos psicológicos. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 20% dos adolescentes brasileiros sofrem desse mal. A desconfiança do próprio desempenho, a insônia, o estresse psíquico e transtornos mentais menores podem evoluir para distúrbios mais graves entre os universitários. Conforme a psicóloga Maria Elisa Fontana Carpena, professora na UCS, no âmbito acadêmico a ansiedade se faz sentir nos adolescentes e

jovens adultos em variados contextos. “Desde o vestibular até as primeiras semanas de aula, provas e atividades grupais. Tudo que está relacionado com desafio pode desencadear ansiedade.” E, segundo a psicóloga, os principais motivos que geram sofrimento psíquico são quase sempre os mesmos: “Conciliar trabalho com estudo, dificuldades financeiras e dificuldades no curso”, ressalta. A professora ainda diz que o sentimento de ansiedade não é exclusividade de alunos de determinado curso. Porém, segundo ela, as gradua­ções, que lidam diretamente com o ser humano, são mais propensas a ter estudantes que passam por crises. “No início da graduação, a ansiedade se dá em razão de ser algo novo. Já no fim do curso, o aluno pode sentir algum desequilíbrio, por ter que começar a andar com as próprias pernas, trocando o auxílio dos professores pelo mercado de trabalho”, explica Maria.

Geração Y é vítima de crises de ansiedade

Jovens desta geração enfrentam as consequências de nascerem e crescerem na era digital Érick Godoi e Gisiele Pimel A geração Y é também chamada popularmente de geração do milenial. O conceito se popularizou por meio do livro do pesquisador Don Tapscott, Grown up digital: como a geração net está mudando seu mundo. No livro, o autor traz o conceito “geração Y”, formada por nascidos entre 1980 e 2000. Para Tapscott, a geração é idealista, conectada e preo­cu­pada com o bem-estar comum. A ansiedade nasce com a criança contemporânea. De acordo com a psicóloga Marina Marcon, a rotina universitária, em paralelo com o cotidiano de trabalho está entre os principais fatores que desencadeiam ansiedade

nos jovens. Embora ela faça parte da vida do ser humano e por vezes possa ser usada como mola motivacional, afeta os jovens dessa geração muitas vezes como um estado. É importante estar atento à diferenciação entre os dois, a doença incapacita o indivíduo, enquanto o estado está relacionado ao momento específico de sua vida. A distinção é necessária, mas não significa que o estado deve ser desconsiderado, pois a doença pode evoluir para ansiedade. Na Universidade, a busca por auxílio psicológico aumentou cerca de 20% em relação ao último semestre de 2017, segundo informações do Sepa, Serviço de Psicologia Aplicadada Universidade de Caxias do Sul.

Marina também sentiu o aumento de demanda em seu consultório. Segundo ela, é comum atender a pessoas apresentando quadro de ansiedade e que buscam auxílio na psicoterapia. De acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2010 a 2017, 33% da população mundial apresentam quadro de ansiedade. O Brasil é o país com maior taxa de ansiedade do mundo, 9,3% da população são vítimas da doen­ça. Em 2018, a revista científica Nature, do Texas (USA), entrevistou três mil estudantes, em 26 países, de áreas diferentes do conhecimento. Ao todo, 41% dos entrevistados afirmaram ter ansiedade moderada ou grave.

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Redes

Facebook e a sua constante mudança nos algoritmos

Mudanças inicialmente foram temidas, mas acabaram agradando maioria dos usuários Foto: Fábio Bielscki

“O Facebook muda constantemente os algoritmos da página. Agora é necessário investir mais para ser notado, ou seja, posts orgânicos praticamente não funcionam”

Fábio Bielscki O Facebook anunciou, no início deste ano, mudanças nos algoritmos da página. O comunicado foi feito pelo próprio Mark Zuckerberg no seu perfil oficial. Mas, antes de tudo, vamos entender o que são algoritmos e para que eles servem. Algoritmo é usado para tudo na computação. Ele é baseado em uma fórmula que determina sempre o próximo passo a realizar, ou seja, é como uma receita de bolo: você vai seguindo o próximo passo para chegar ao resultado final, que é o bolo. Sendo assim, o algoritmo é a base de tudo. Ele sempre é utilizado para realizar uma operação. No Facebook não é diferente, o uso desses algoritmos funciona com base nas interações, curtidas, nos comentários e também com base no que nossos amigos curtem. As mudanças realizadas no início do ano foram significativas. As principais mudanças foram na maneira como o usuário vê sua linha do tempo, ou seja, o que ele vai ver agora está muito mais ligado ao que ele faz, interage, curte ou comenta. Percebe-se que a página prioriza as intera-

ções pessoais. Sendo assim, as propagandas de empresas e publicações de páginas diminuíram, aparecendo cada vez menos na linha do tempo do usuá­rio. As mudanças foram feitas, segundo o CEO da empresa, a partir de um grande número de reclamações de quem usa a rede social, alegando que apareciam mais posts de publicidade do que informações real­ mente relevantes ao usuário. A partir disso, as empresas que trabalham com Facebook se viram prejudicadas, na medida em que suas publicações passaram a ter menor alcance. Para falar um pouco melhor sobre isso, entrevistamos Júlia Biondo, designer, que atua na área das mídias sociais. Segundo ela, a mudança teve reflexos negativos para empresas que trabalham com a rede social. “Além da redução do alcance, o Facebook está constantemente mudando os algoritmos da página. Agora é necessário investir mais para ser notado, ou seja, posts orgânicos (que são posts que atraem público sem nenhum tipo de investimento para impulsionar a publicação) praticamente não funcionam mais”, destaca. Uma solução que ela cita é que

as empresas façam publicações que provoquem mais engajamentos e discussões, “porque o Facebook gosta muito de que as pessoas interajam nas publicações; sendo assim, quanto mais engajamento na sua publicação mais pessoas vão ver a mesma”. Ela cita também que a rede não fez essas mudanças visando a prejudicar quem vive disso, mas sim foi como uma forma de combater os famosos “caça cliques” e as fake news. “A rede se tornou muito rigorosa para combater esses aspectos”. Mas, apesar das dificuldades encontradas com a mudança desses algoritmos, o Facebook disponibiliza uma série de ferramentas para ajudar a impulsionar as publicações, destaca a designer. Segundo Júlia, o efeito colateral da mudança foi a migração para outras plataformas. “O Instagram está sendo muito utilizado para divulgar marcas, pois a plataforma está possibilitando bastante fazer anúncios.” A dificuldade apontada pela designer é o perfil do público, que muda em cada rede. Ao ponderar vantagens e desvantagens, o que permanece é, de fato, “a necessidade de uma certa ordem na rede social”.

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Redes

Redes sociais e intolerantes Discurso​de ódio, aversão às diferenças e desrespeito aos direitos humanos são características comuns nas redes sociais dos brasileiros

Ilustração: Milton Gonçalves

Milton Gonçalves e Igor Panzenhagen Para a psicóloga Daviane Peruffo­, “a intolerância pode ser baseada tanto na discordância de opiniões, (alguém pode ser intolerante a quaisquer ideias de qualquer pessoa), assim como estar baseada no preconceito, podendo levar à discriminação e até a conflitos maiores e mais sérios”. A sensação de conforto e intocabilidade, dá aos internautas a “certeza” de que podem opinar sobre tudo sem medir palavras. A intolerância é atitude mental caracterizada pela falta de habilidade para ou vontade de conhecer e respeitar diferenças. A intolerância é a ausência da capacidade de aceitar os diferentes pontos de vista das pessoas, podendo ser visível na atitude expressa, negativa ou hostil, em relação às opiniões de outros. Nas redes sociais, as expressões de intolerância são observadas de diversas maneiras: em muitos mo-

mentos de forma direta e explícita, em outros dissimuladas, o que mascara e dificulta a responsabilização do desrespeito. “Existe a falsa crença de que a nossa livre-expressão verbal pode aguentar e suportar tudo; a empatia deixa de ser praticada, uma vez que o outro pode ouvir o que tenho a dizer, mesmo que isso machuque e cause danos psicológicos sérios,” afirma Daviane. As formas mais comuns de intolerância incluem, segundo a psicóloga, ações discriminatórias de controle social, racismo, sexismo, homofobia, intolerância religiosa e intolerância política. Daviane destaca que “o prazer e a satisfação em interagir na rede são constantemente alimentados, e a frustração surge como a pior experiên­cia. Parece que tudo conflui para podermos evitá-la e a inadaptação é generalizada”, pontua ela. Nesse mesmo sentido, destaca, ainda, que “adultos e crianças, por vezes, são incapazes de experienciar a frustração, porque não foram preparados para isso, são inundados

por falsas realizações, apegando-se ao conforto proporcionado artificialmente por eles”. Esse “despejo” de opiniões intolerantes pode trazer muitos aborrecimentos sérios e danos psicológicos irreversíveis. Diante disso, é necessário discutir a temática constantemente, problematizando-a e levando a sério os atravessamentos que ela carrega. Segundo levantamento do dossiê do “Comunica que Muda”, iniciativa digital da agência Nova/sb, somente entre os meses de julho e setembro de 2017 foram registradas 220 mil menções hostis em redes como Facebook, Instagram e Twitter. Racismo, misoginia, homofobia, xenofobia, neonazismo, intolerância religiosa, entre outras formas de discriminação são crimes e devem ser denunciados. Para fazer isso basta preencher um formulário na página da Safernet e colar o endereço do link suspeito. As denúncias são encaminhadas à Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos. É rápido, anônimo e seguro.

Memes, moda nova de história antiga Karen Boldrin A moda do momento é, sem sombra de dúvidas, a cultuação aos memes. Mas o que são memes? São imagens, vídeos ou gifs, às vezes muito engraçados, outras nem tanto, tendo como intuito fazer as pessoas rirem ou pensarem sobre determinado assunto. Existem inúmeras página voltadas ao humor e uma das que mais se destacam, hoje, é a HAHA, supervisionada por Walter Albuquerque, com mais de três milhões de seguidores. Nela são publicados conteúdos diversos, valorizando sempre o que o público mais gosta.

Segundo Albuquerque, os memes que mais se destacam são os referentes a Tulla Luana (youtuber que viralizou com alguns vídeos). “Quando publico um meme da Tulla Luana é impressionante a quantidade de curtidas e compartilhamentos que recebo.­O pessoal gosta bastante”, destaca.

“Estou postando sempre algo que vejo na televisão, algo que acontece no mundo, informações aleatórias mas que sejam sempre voltadas ao humor” “A seleção dos memes é bem ampla, mas sempre respeitando o que o público gosta e quer ver. De nada adianta ter um supermeme e, no fim

das contas, o público não achar graça” ressalta Albuquerque. Saber debochar das coisas do dia a dia e da vida é essencial. O jovem comenta que estar ligado e antenado no que mais está sendo discutido no momento é essencial.

Top 5 Melhor Páginas de Memes 01 - Haha 02 - 9GAG 03- Ajudar o Povo de Humanas a Fazer Miçanga 04 - Página Barroca Inovadora Vanguardista 05 - Uma Página Com o Intuito de Te Lembrar Todos Os Dias Que a Vida É Uma Merda

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bem estar

Animais associados ao tratamento de humanos

Prática da Terapia Assistida por Animais ganha espaço no meio acadêmico e profissional Foto: Paola Castro

Labradora Meggy brinca com sua dona nos Pavilhões da Festa da Uva

Paola Castro Motivada pela vontade de mostrar como os animais podem auxiliar as pessoas, a professora, especialista em deficiências múltiplas, psicomotricista e instrutora de equitação para equoterapia, Fabiana Maria Kintschner, 48, criou o Equocenter - Centro de Atividades Especiais.

A Terapia Assistida por Animais (TAA) atende À saúde humana O centro oferece serviços como equoterapia e terapia com cães. Ambas trabalham com diferentes patologias, como autismo, paralisia cerebral, avc, diversas síndromes e sequelas causadas por acidentes. A Terapia Assistida por Animais (TAA) é um recurso que atende à saúde humana. Segundo a proprietária, durante sessões de 30 minutos podem ser somadas 354.000 contrações musculares. “Na equoterapia, utilizamos o movimento tridimensional, que é 95% semelhante à marcha humana. É uma máquina de fisioterapia”, afirma.

TAA e saúde humana A técnica de laboratório, Mônica Valéria Marini, 48, conta que seu filho, Rafael Marini da Silva, 13, frequenta o Centro há 10 anos. Ele, que foi diagnosticado com paralisia cerebral e algumas características de autismo, pratica equoterapia para desenvolver equilíbrio, corrigir a postura e estabelecer contato. De acordo com Mônica, o adolescente começou a caminhar há cerca de 2 anos e meio. Ainda que não tenha a fala desenvolvida, ele também passou a estabelecer melhor comunicação. Além disso, Rafael convive com duas cachorras de estimação da família. “Ele acha engraçado o som delas latindo. Às vezes ele só olha e sorri”, acrescenta Mônica.

Cães de assistência facilitam rotina Cães de assistência são condicionados a obedecer comandos básicos que beneficiem a rotina. Treinados para o trabalho sem perder o foco, eles têm um tempo de vida menor.

Segundo a professora do curso de Medicina Veterinária UCS, Dra. Antonella Souza Mattei, o metabolismo deles acelera por conta das atividades desempenhadas o que os leva a ficarem livres de suas funções por volta dos 10 anos.

Bem-estar da família Com a intenção de fazer da cachorra uma companheira, a designer de interiores Ana Cristina Grabowski, 47, e seu marido, o representante comercial, Marcio Roberto Ruziska, 46, presentearam a filha, a estudante Beatriz Grabowski Ruziska, 18, com uma labradora chamada Meggy, 6. A ideia era que ambas crescessem juntas e, ao brincar, criassem um laço afetivo. Com distúrbio da atividade e da atenção, hiperatividade e um retardo mental, sem comprometimento do comportamento, Beatriz, de acordo com sua mãe, sempre interagiu bem, mas era agitada desde pequena. A cachorra conseguiu que a garota focasse seu interesse de modo mais intenso.

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