Revista Literatura Caxiense Recente

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ARevista


Expediente Reitor:

Isidoro Zorzi

Diretor do Centro de Ciências da Comunicação Jacob Raul Hoffmann

Coordenadores dos Cursos de Comunicação Social: Jornalismo - Álvaro Benevenutto Júnior Publicidade e Propaganda Marcelo Wasserman Relações Públicas Jane Rech

Professor:

Paulo Ribeiro

Diagramação e arte:

Amanda Bertóglio Dorneles Ana Cláudia Cislaghi Mutterle

Fotografia:

Pauline Gazola

Redação:

Amanda Bertóglio Dorneles Ana Cláudia Cislaghi Mutterle Andressa Pegoraro Scudiero Camila dos Santos Valentini Daniele Ramos Balejo Dinara Tondo Diúlit Bernart Oldoni Gabriela Bregolin Grillo Gabriel Buffon Bordin Karina Catuzzo Rodrigues Liliane Fernandes de Oliveira Marina Vita Compagnoni Mayara Pires Zanotto Paola Dalla Chiesa Pauline Gazola Rafael Fandinho Amaral Tarciana Teles Thailize Fontoura Brandolt da Rocha

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Editorial

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por Paulo Ribeiro partir de iniciativas como, primeiramente, o

Fundoprocultura, que se transformou depois

em Financiarte, e o Programa Permanente de

Estímulo à Leitura (Ppel), além do salto qualitativo que a Feira do Livro alcançou nos últimos anos, a literatura caxiense contemporânea encontrou um terreno fértil para o seu desenvolvimento. Percebe-se que se publica mais do que nunca, ao mesmo tempo que também é perceptível que aumentou o número de leitores na cidade. Há ainda editoras que se consolidaram em Caxias do Sul. Diante de tal cenário, os alunos da disciplina de Mídia Impressa Vespertino decidiram que era oportuno registrar a literatura caxiense recente, o que significava radiografar a produção dos escritores dos últimos dois anos. Para isso, sem distinção de gêneros, foram elencados cerca de 20 livros, que passaram pela leitura atenta e posterior avaliação crítica e contextual. Além disso, a turma também promoveu o evento Literatura Caxiense Recente, que constou da presença e depoimento de 20 autores, que falaram não só de suas obras, mas deram suas impressões sobre o panorama literário da cidade. O resultado da leitura dos alunos, somados às falas do evento são promissores. Eles indicam que afora a distribuição das obras, os demais fatores de um sistema literário está a pleno vapor em Caxias do Sul. Espera-se que esta publicação seja um retrato mínimo deste momento produtivo e de relevância para o futuro cenário de uma literatura caxiense cada vez mais qualificada.


A Turma

FOTO: Flora Simon da Silva

Literatura Caxiense Recente é um produto da disciplina de Mídia Impressa 1º semestre de 2013 da Universidade de Caxias do Sul

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Panorama da Literatura de Caxias do Sul 2012/2013

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m Caxias do Sul, o movimento literário que se espalha pela cidade também mostra um pouco da diversidade dos escritores. Atualmente, são várias obras, de muitos jovens e não tão jovens escritores, mas que no meio de uma saudável diversidade compõem o cenário literário. As obras variam no gênero, na escrita, na abordagem. No entanto, há um consenso entre os autores: existe a carência de divulgação e distribuição na literatura como um todo. . Quem é que dá vida à recente literatura caxiense? São estudantes, jornalistas, docentes na área de letras, arquitetos, publicitários, e até agrônomos, entre tantos escritores que estão formando literatura a caxiense recente. Muitos são nascidos em Caxias, outros adotaram a cidade

por Camila Valentini e Tarciana Teles

serrana como lar. Autores muito jovens, que estão começando agora e outros que se dedicam há anos à produção literária. Alguns que sempre almejaram a escrita e outros foram inseridos no ramo literário pelas oportunidades que a vida possibilitou. Todas essas particularidades formam o mosaico do atual cenário literário. O trabalho dos escritores sempre existiu, mas hoje, mais do que nunca, eles estão expondo seus trabalhos e deixando, assim, os leitores apreciarem as suas obras. Os formadores dessa recente literatura estão de fato mostrando a sua cara, divulgado seus pensamentos, suas histórias, suas escritas, que antes ficavam guardadas, escondidas, engavetadas. O que proporcionou, nas últimas décadas, o aumento de publicações foi o fomento à leitura e às

Autores reunidos no evento Literatura Caxiense Recente, que pode ser conferido na página 57.

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artes como um todo. A cidade se destaca pelos programas que tem desde a década de 80. Com o advento do “PROLER”, Passaporte da Leitura, projetos governamentais, a participação das escolas como auxiliadoras na difusão literária, entre outros incentivos, estão desenvolvendo cada vez mais os projetos literários. Dessas iniciativas, muitas são de permanência, o que acaba por resultar em uma reposta positiva para formação de leitores e também para o aumento do índice de leitura em Caxias. O incentivo O escritor e jornalista Marcos Fernando Kirst acredita que através do Concurso Anual Literário, da Lei de Incentivo à Cultura, dos grupos literários, como por exemplo, o Órbita Literária, que acontece na livraria Do

FOTO: Pauline Gazola


Panorama da Literatura de Caxias do Sul 2012/2013

FOTO: Pauline Gazola

Marcos Kirst lembra que a literatura é um prazer.

Arco da Velha e a Confraria Reinações, além do próprio Financiarte, proporcionaram instrumentos para a disseminação da literatura na região. “A organização da Feira do Livro também desempenha um papel fundamental transformando em patrono os escritores locais. Esses são alguns fatores que transformaram Caxias em uma cidade literária” – destaca Marcos. Marcos Kirst, começou a publicar seus livros em 2007, comenta que é necessário concretizar o apoio aos autores, à compra dos livros de fato. Os autores têm espaço na mídia, a imprensa local acompanha os trabalhos. O escritor acredita que o leitor caxiense deve ler os autores locais. ’’Ainda há preconceito com o autor local. Muitos ainda acreditam que “santo de casa não faz milagre”,

diz Marcos. O autor comenta a necessidade de incentivo para os autores, para que eles busquem cada vez mais haja a produção literária e, ao mesmo tempo, incentivem a aproximação dos jovens com a leitura. “O grande desafio é manter os leitores na adolescência, pois hoje eles se dispersam muito com as novas tecnologias”, ressalta Marcos. Apesar dos incentivos, é consenso entre os produtores de conteúdo literário em Caxias que a distribuição e divulgação editorial deixam a desejar. As grandes distribuidoras estão situadas em Porto Alegre, e essa questão faz com que haja uma maior burocracia, prejudicando os autores locais. A comercialização fica assim carente em encontrar mecanismos que não dependa exclusivamente da capital. As ramificações É perceptível a existência de uma ramificação da literatura caxiense. O segmento infanto-juvenil é um dos gêneros que se destaca no cenário caxiense, mas também em nível nacional. Existe uma linha tênue entre literatura infanto-juvenil e adulta, pois muitas obras foram escritas para o público adulto e depois adaptadas. A literatura infanto-juvenil também vem sendo muito trabalhada nas escolas. Corpos docentes e

programas de apoio têm sido valorizados em sala de aula. A professora do PPGEd (Programa de Pós-graduação em Educação) e do PPGletras (Programa de Pósgraduação em Letras) da Universidade de Caxias do Sul e doutora em Letras, Flávia Ramos, acredita que se o gênero infanto-juvenil está mais focado, pode ser em virtude da colocação das obras no mercado consumidor. “O artista gosta de ser lido, comprado e a escola acaba sendo um espaço certo de colocação da produção. Há ainda editais do Governo Federal que podem comprar obras para escolas como o (PNBE) Programa Nacional Biblioteca da Escola. Se a produção para infância é maior deve ser porque o consumo tem sido maior também”, comenta Flávia. Daniela Ribeiro, coordenadora do departamento do livro e da leitura da Prefeitura de Caxias do Sul concorda com Flávia, acreditando que esse é o gênero mais publicado pelo fato de o escritor conseguir inserir sua obra facilmente nas escolas, com as crianças que estão tendo os primeiros contatos com a leitura. Desta forma, no momento em que decide publicar, já tem a certeza de que irá conseguir trabalhar com a obra. A literatura deve ser desde cedo inserida em um universo de

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Panorama da Literatura de Caxias do Sul 2012/2013 brincadeira. Nunca como imposição, mas, sim, buscando utilizar a palavra como objeto de descoberta para os jovens e crianças. “Cultivar o hábito da leitura é uma semente, que se deve regar, cuidar e florescer. A ideia da leitura “fácil” de ser assimilada é menosprezar a criança, pois ela entende e interpreta e necessita de subsídios que desperte o interesse da leitura, nunca trabalhando a leitura no imperativo, mas conquistando a criança aos poucos por esse universo”, relata a escritora, jornalista e avaliadora de projetos do CASF (Comissão de Avaliação, Seleção e Fiscalização do FINARCIARTE), Adriana Antunes. A formação do leitor é algo que necessita de subsídios prematuros. Segundo Salete Susin, coordenadora de ações de incentivo à leitura da prefeitura de Caxias do Sul, a melhor maneira de formar

um leitor é através de seu gosto pessoal. A leitura, quando introduzida na vida de uma criança nos primeiros meses, possibilita a apreciação pelas palavras desde cedo. Até os 11 anos a criança aceita a leitura facilmente. Com a chegada da adolescência tornase mais difícil este contato com o livro. Mas não é só a ramificação no infanto-juvenil que o cenário caxiense tem ganhado destaque. A poesia e o romance são outros gêneros que têm se destacado na literatura caxiense recente. Essas ramificações tem demostrado o talento de grandes autores, no entanto, ainda há poucos publicados. Muitos gostam de poesia, mas o acesso é debilitado. Segundo o escritor Marco de Menezes, o romance tem ficado em segundo plano na recente literatura caxiense, pelo fato de se tratar de um gênero que traz textos mais “pesados” e difíceis de

FOTO: Pauline Gazola

A relação dos autores com a produção literária discutiu principalmente a publicação e divulgação das obras.

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introduzir no leitor. Ter uma relação mais próxima dos escritores facilita a inserção destes nas escolas. “O batepapo com os autores é algo que vem sendo trabalhado nos ambientes formadores de leitores e propicia que haja uma aproximação tanto da leitura com os jovens, quanto dos jovens com os autores, deixando esses de ser encarados como entidades”, comenta a contadora de histórias Heloisa Carla Coin Bacichette. Ela discorda de quem diz que poesia não é lida. “O que pode estar acontecendo é que as pessoas não têm acesso, há um receio de trabalhar com textos. As pessoas gostam, talvez falte acesso”, relata a contadora de histórias. Ler sempre A manifestação literária está crescendo significativamente em Caxias. Muito está sendo publicado e escrito. Mas também há outro tanto que precisa ser aperfeiçoado. E para isso, ler é fundamental. Ninguém escreve sem antes ser um bom leitor. “O hábito da literatura te dá formação humana. Abre os horizontes para conhecer mais do mundo e mais do que a vivência física permite. Te instrumentaliza para ser um ser humano melhor, e assim a vida mais rica mais interessante, porque você vai ser um ser humano melhor”, exemplifica Marcos Kirst.


Adriana Antunes

A poesia está prosa

Adriana Antunes apresenta na sua obra “Poesia na Escola” a beleza de uma princesa chamada Poesia que nasceu com o dom de encantar o mundo pela sua magia poética por Dinara Tondo

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m seu livro intitulado “Poesia na Escola”, lançado em 2012, Adriana Antunes pretende aproximar o leitor do fazer poético. No primeiro momento faz uma apresentação da teoria e posteriormente busca fazer um passeio pela poesia brasileira, passando por escritores como Mário Quintana, Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Morais, dentre outros. Uma obra rica em detalhes e referências que tende a auxiliar na compreensão das particularidades da poesia. Adriana Antunes de Almeida, 36 anos, nasceu na cidade de Caxias do Sul e é conhecida pela sua formação jornalística, Coordenadora de Jornalismo da UCSTV, é professora universitária, mestre e doutoranda em Letras, além de possuir especialização em Literatura Infanto-juvenil. Nesta obra, a autora aborda a poesia de uma forma muito curiosa e até mesmo atraente, inserindo um contexto onde o gênero literário não só apresenta o significado bonito da palavra, como atua diretamente na história da poesia brasileira, nos oferecendo uma nova percepção mais íntima dessa literatura peculiar.

Poesia ganha vida como uma personagem, uma princesa que nasceu com o dom de encantar o mundo pelo poético e que se destaca pela breve e profunda magia falada em versos. Poesia inicia sua caminhada na Grécia Antiga e ao chegar ao Brasil passa por um reino repleto de figuras intrínsecas da literatura brasileira, os poetas, aqueles que a veneram e propagam sua beleza, porém nesta jornada ela acaba encontrando um vilão, o Senso Comum, que tenta destruir seu poder. É delicioso observar como Poesia se desloca despreocupada de um povo a outro, conhecendo as diferenças regionais e seus súditos. A autora nos permite conhecer intimamente cada um destes poetas que descrevem emoções profundas, como o mineiro Carlos Drummond de Andrade, ao sugerir um poema farto de significado, ou como convida Vinícius de Moraes a embarcarmos em uma rítmica e apaixonante dança em seus poéticos sonetos. A proposta deste livro faz despertar o interesse quando a autora nos oferece um passeio na companhia de Poesia pelos arredores do mundo e o desejo de

seguí-la para redescobrir essa fantástica história poética. Desta forma nos permitimos a brincar contando histórias e a passá-las adiante, pois Poesia pede para estar no centro das atenções e conhecendo-a intimamente podemos ver que lhe devemos um espaço especial, merecido por ocasionar uma transformação, quando passamos a ser eternas crianças inquietas e sedentas desta magia que desabrocha a todo o momento diante de nós. Ler é arte e a literatura existe para nos encantar mostrando sua beleza singular através das palavras e, quando bem transmitida, se faz apreciar facilmente e, desta forma, conquista desde os leitores calouros até os mais veteranos. LiteraturaCaxiense Recente

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Adriana Antunes

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driana Antunes de Almeida, 36 anos, nascida em Caxias do Sul, é jornalista de formação, Coordenadora de Jornalismo da UCS TV, possui mestrado e agora é doutoranda em Letras em um convênio entre UCS e UniRitter, especializada em Literatura Infanto-Juvenil e professora universitária. Apaixonada pela leitura desde criança, especialmente pelo escritor Álvares de Azevedo, teve influência de escritores como Mario Quintana, Florbela Espanca, Sérgio Capparelli, Jorge Amado, dentre outros tantos. Diz que não possui um estilo de escrita, pois ainda está se descobrindo. Eis então que surge um contrato com a Editora Paulus de São Paulo, que propõe à autora escrever sobre Poesia, e assim o enredo se constrói e tem sua aprovação. Exigente quando se põe a escrever, Adriana escreve e retorna para o texto diversas vezes e ressalta que a escrita não ocorre naturalmente e , sim, é construída aos poucos, da mesma forma deve ser prazerosa mesmo sob a pressão de um contrato. Ao falar de sua visão literária de uma forma geral, a autora destaca a maior acessibilidade à publicação nos dias atuais, o que possibilita a muitos autores realizar seu sonho. A partir dessa explosão editorial se faz necessária a busca de um estilo diferenciado, tanto em âmbito nacional quanto local. Para ela, não basta publicar um livro para ter nome, é preciso ter estilo, estudo, apuro linguístico, dedicação e muita leitura. Todavia, ela observa que isso tende a roubar um pouco da aura romântica, apesar de ser a realidade. Há convenções que precisam ser respeitadas, e se houver interesse em rompê-las, é preciso ter muito conhecimento. Em virtude de seu doutorado, vêm lendo Clarice Lispector e acredita que seja uma grande influência para estar escrevendo alguns contos com foco no universo feminino, porém nada publicável, apenas está se aventurando. Sem muitas pretensões, sempre escreve deixando o texto sair livremente, pois como dizia Drummond de Andrade, “a poesia já existe dentro de nós, a gente só precisa ouvi-la”. Desde 2009, vem escrevendo uma longa poesia, baseada em um conto da Lígia Fagundes Telles, onde volta e meia acaba repousando. Adriana estima que talvez possa render algo a ser publicado.

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Alessandra Rech O misterioso caso do canário

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livro nos traz o mistério envolvendo o sumiço de um velho canário. A história é narrada por Lívia, uma menina que convive com o conflito da separação dos pais O sumiço do canário é o livro de estreia da escritora caxiense Alessandra Rech em infanto-juvenil, lançado em 2012. A obra também contou com o trabalho de ilustração de Carla Pitta, que fez uma arte rica em detalhes e de forma artesanal. Alessandra Rech além de escritora é professora na Universidade de Caxias do Sul no curso de jornalismo. O livro foi baseado em um caso real. Inicialmente a história era uma crônica escrita por Aleh em seu espaço semanal do jornal Pioneiro, que resultou em 32 páginas escritas e ilustradas. Durante a narrativa de Lívia conhecemos a vida de um canário velho que vivia na casa da avó da narradora. Ao mesmo tempo, ela explica como era sua vida desde o relacionamento familiar, envolvendo o divórcio dos pais e seus relacionamentos familiares mas, em um dia normal como todos os outros, em torno da correria das crianças e o cotidiano de sempre, algo inesperado

por Daniele Ramos Balejo

ocorre na casa da avó de Lívia: o canário de estimação da avó sumiu. Como uma menina criativa que é, Lívia tenta descobrir uma verdade qualquer para solucionar o mistério do desaparecimento do canário E este é o grande fato do livro, quando o canário que se encontrava em sua gaiola simplesmente desapareceu. Certamente, esta leitura lhe fará pensar e imaginar o que houve de fato com o canário, e como diz a própria autora: “Nem todas as perguntas têm respostas. Mas toda história pode ter um fim melhor – nem que seja inventado.” E isso nos mostra um pouco o que o livro tenta nos transmitir, de forma que instigue e dê asas à imaginação das crianças, e certamente dos adultos que o lerem também.

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Alessandra Rech

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FOTO: Pauline Gazola

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lessandra Rech nasceu em 06 de fevereiro em Mundo Novo, cidade localizada em Mato Grosso, no Norte do Brasil. Atualmente, Alessandra mora em Caxias do sul e é professora na Universidade de Caxias do Sul. Ela é Graduada em Jornalismo e fez Doutorado em Letras/ Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Alessandra acredita que a literatura caxiense se beneficiou amplamente com a criação do Fundo Procultura e, em seguida, o Financiarte. Em nível nacional, ela indica que há editais interessantes para buscar apoio à criação artística de forma geral. Ale Rech lançou, além de O Sumiço do canário (infanto-juvenil), Na entrada das águas – Amor e liberdade em Guimarães Rosa (estudos de literatura) e Aguadeiro (livro de contos e Crônicas). Em breve, lançará seu segundo livro de contos e crônicas, que terá uma parceria nas ilustrações.


Alexandro Lima A estima como sentido da vida

O enredo, que começa triste, traz um simpático cão como personagem principal e uma grande lição para todas as crianças leitoras através de alegres surpresas por Amanda Bertóglio Dorneles

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livro Meu Amigo Dick, de Alexandro Lima, foi lançado em 2012 e faz parte da literatura que mais vem crescendo em Caxias do Sul: a infantojuvenil. Foi belissimamente ilustrado pelo próprio autor e é seu primeiro livro. O que mais chama atenção na obra é o fato do autor ter quebrado o paradigma de que os livros infantis devem ser fictícios e fantasiosos para trazer a história da sua própria vida. Alexandro Lima é um jovem cheio de ideias e criatividade. É publicitário e ilustrador com larga experiência neste mercado, porém como escritor está estreando. E que grande estreia! O livro Meu Amigo Dick, que é a história de sua vida e foi ilustrado por ele mesmo, traz a importância das crianças terem seu animal de estimação e como isso ajuda na evolução e crescimento delas. Seu primeiro livro nasceu junto com sua filha Laura, quando ele começou a esboçar as ilustrações ainda no hospital. O livro, que teve “conselhos” do amigo e editor Marcos Kirst, é uma homenagem ao cachorro Dick que foi companheiro de Alexandro em suas aventuras por 12 anos. O nome do seu amigo de estimação veio do cachorro de seu pai

que também se chamava Dick. Alexandro afirma que aprendeu a amar e a ser mais extrovertido com Dick e é esse o aprendizado que quer passar às crianças leitoras deste livro. Meu Amigo Dick é a história de um menino muito triste que via tudo cinza e se sentia muito sozinho mesmo estando em meio a muitas pessoas. Para ele, nada tinha cor ou brilho. E o mundo só começou a ter cor e a fazer sentido para ele quando o seu pai lhe deu de presente um cachorro chamado Dick. Os dois eram inseparáveis e muito felizes. Brincavam muito e eram parceiros de muitas aventuras, como por exemplo a aventura de se apaixonar. O menino virou adulto e, um dia, Dick se despediu. Ele, então, volta a ser triste até o dia em que sua esposa lhe diz que está grávida. Com o nascimento da filha o mundo volta a ter cor e a fazer sentido! O autor finaliza o livro com um gancho para uma nova história, pois no fim o personagem dá a sua filha uma caixa de presente de aniversário, mas não conta o que tem dentro. Assim, a criança pode imaginar o que há na caixa e também terá vontade de esperar pela próxima história para descobrir efetivamente o que há. Alexandro Lima ressalta o quão

gratificante é encontrar uma criança que leu seu livro e gostou. Ele diz que todo o trabalho valeu a pena quando uma menina lhe disse que queria ter uma cãozinho de estimação igual ao Dick. Alexandro pretende continuar na literatura infanto-juvenil com o prosseguimento do próprio Meu Amigo Dick, pois todos já estão ansiosos para descobrir o que havia naquela caixa.

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Alexandro Lima

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FOTO: Pauline Gazola

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lexandro Lima é um jovem cheio de ideias e criatividade. É publicitário e ilustrador com larga experiência neste mercado, porém como escritor está estreando. Considera como seus “mestres inspiradores” Will Eisner, Jack Kirby, John Buscema e Canini. É um apreciador de quadrinhos e utiliza desta que é considerada a nona arte como fonte de referência para muitos de seus trabalhos. Em suas ilustrações, mescla trabalho à mão com vetorização e colorização digital. Realiza ilustrações, caricaturas, logotipos, pinturas e, agora também, escrita. Seu primeiro livro, Meu Amigo Dick, é a história de sua vida e foi ilustrado por ele mesmo. Seu primeiro livro nasceu junto com sua filha Laura, quando ele começou a esboçar as ilustrações ainda no hospital. O livro, que teve conselhos do amigo e editor Marcos Kirst, é uma homenagem ao cachorro Dick que foi companheiro de Alexandro em suas aventuras por 12 anos. Seu próximo projeto será a continuação do Meu Amigo Dick, aproveitando o gancho que deixou no fim deste livro.


Bernardethe Pierina Ghidini Zardo O arco da reflexão

A obra da autora Bernardethe Pierina Ghidini Zardo, “A Menina do Arco”, é repleta de poemas os quais são reflexos de generosidade e conhecimento e que falam sobre a vida e sobre a arte

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obra “A Menina do Arco” de Bernardethe Pierina Ghidini Zardo é composta por 43 poemas. A obra é permeada de encantos poéticos que se justapõe em aberturas infinitas, pois “encantada com a lente transparente a menina da linha procura os segredos nos versos afogados e encontra o seu rosto espelhado no espelho do lago”. A poética de Bernardethe tinge as páginas poéticas com suavidade e com destreza poética que se assemelha à de Cecília Meireles. O texto possui ritmo, através das rimas, mas sem se mostrar sisudo ou excessivamente formal; pelo contrário, as palavras surgem como rimas e um ritmo cadenciado, o que contribui ainda mais para um valor poético para as poesias de “A Menina do Arco”: a musicalidade. Carregada de musicalidade, de magia pelo jogo de palavras e sons, a linguagem poética da obra encanta o leitor e o conduz a uma leitura fluida, que se derrama proficuamente em sua sensibilidade. Os poemas são delicados, autênticos, intensos, plenos de luminosidade. São poemas que se desdobram em movimentos de leveza, de emoção, de imaginação sensível,

por Andressa Pegoraro Scudiero

de estética do belo, incitando o leitor a adentrar nesse universo de encantamento e nele permanecer. Um dos aspectos mais importantes de “A Menina do Arco” é a expansão dos poemas, que terminam em questionamentos (perguntas retóricas), que remetem à Filosofia. São perguntas que fazem pensar, como podemos perceber nos poemas “De que história tu vens?”, em que o poema finaliza com a pergunta: “O espírito responde, de que história tu vens?”. “Em que me transformarei agora?”, termina com o seguinte trecho: “Eu vi uma criança indo adiante mundo afora, quando ela para diante de um objeto, eu me pergunto: em que me transformarei agora?”. Estas perguntas abrem caminhos para os pensamentos, são consideradas causas para suas próprias ações. O arco da menina dá sentido estético porque é uma roda, um ciclo que a menina participa, mas isso somente quando se vive o perfeito e o imperfeito das coisas da vida. O círculo, para a autora, é um símbolo solar. O ser humano é um símbolo radial. O cíclico das coisas é a roda da vida, onde as coisas existem uma dentro das outras e não desaparecem. Sobre a capa do livro, percebe-se que é uma capa de cor neutra e sem muita escrita e com

apenas uma figura. A ideia era ao invés de escrever, transcrever. Há na obra “A Menina do Arco” também alguns poemas que se referem a aspectos da natureza, como por exemplo, “O velho do mar” e “O que fazer com o mar”, os quais remetem à imensidão do oceano. Estes e outros estão ali para que o leitor justamente se desloque para o imaginário, para esta possibilidade de nos deslocarmos sem sair do lugar. É viajar através da imaginação. E isso nada mais é que uma forma de proteção ao nosso espírito, como forma de obstrução das coisas, para um “passeio imaginário”, que permite que você se sinta mais leve. A autora consegue transparecer em sua obra a paixão pela literatura e pela leitura. A leitura do livro é doce e leve e isso fica LiteraturaCaxiense Recente

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Bernardethe Pierina Ghidini Zardo evidente. Este livro é um exercício de prazer que faculta sermos profundamente tocados pela beleza que envolve a existência, levando-nos a resgatar “coisas” sensíveis que a dureza do dia-adia encobre. Os poemas de Bernardethe deixam entrever a artista que explora a carga inspiradora da palavra com a qual constrói um mundo pleno de poesia e presenteia seus leitores com imagens só possíveis pela visão sensível de quem consegue captar a beleza estética das “coisas”. A poetisa Nina brinca com as palavras e transformaas na mais pura poesia, buscando a imanência de cada imagem, para urdir universos coloridos repletos de infância, de natureza, de memória, de essencialidade. Percebe-se após a leitura do livro, que a autora Bernardethe constitui uma obra repleta de maturidade, íntimo, profundo, um caminho de sensibilidade. A obra “A Menina do Arco”, para a autora, foi um processo de maturação literária, pois sua principal intenção era descobrir o tom da sua voz literária. É interessante falar sobre “A Menina do Arco”, pois o leitor consegue capturar a importância de se ter imaginação sobre as coisas da nossa vida. É percebido o contato intenso da relação entre as palavras dos poemas com os acontecimentos da vida. Entende-se que a leitura e a literatura hão de caminhar juntas, pois uma é complementação da outra. A literatura vai dando vida às imagens, onde é possível se transformar através de uma ficção e a literatura lida o tempo todo com a imaginação.

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Bernardethe Pierina Ghidini Zardo

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ernardethe Pierina Ghidini Zardo é natural de Nova Prata, no Rio Grande do Sul. É graduada e pós-graduada em Educação Artística Desenho e Filosofia. Foi professora por aproximadamente 30 anos. “A Menina do Arco” é fruto de um desejo da apaixonada pelas artes, letras e filosofia, comprovando-se esta sua predileção pelo exercício da sua profissão, Arte-educadora. Atualmente, Bernardethe ocupa a cadeira de número 31 da Academia Caxiense de Letras. Ao longo de sua carreira, recebeu diversas premiações literárias e participou de antologias. Este é seu primeiro livro. Bernardethe relata que além de ler, escrever e desenhar, o que mais gosta de fazer é largar poemas em folhas soltas em lugares públicos. A autora entende que um poema solto não significa que ele está perdido, mas que ele FOTO: Pauline Gazola finalmente está livre. Algumas de suas influências literárias são: Cecília Meirelles, que a autora elogia, considerando-a uma artista de uma vanguarda imensa; outro autor lembrado pela autora é Walt Whitman, que em sua obra “Folhas de Relva”, escreveu mais de 600 poemas. A autora se inspirou neste autor para escrever o poema Havia uma criança indo adiante; Emily Dickison (obra: Loucas Noites); Arthur Rimbaud, que a autora demonstrou reconhecimento, por ter ensinado os poetas a ter coragem (obra: “Eu sou o vento”); Manoel de Barros é o artista brasileiro lembrado pela escritora. A visão literária de Bernardethe em vista de âmbito internacional e também nacional, como fundamento primordial é a busca constante dos efeitos literários, ou seja, é um jogo que se faz o tempo inteiro, considerado pela autora, um jogo com efeitos realizantes. Os efeitos crescem, reagindo um sobre os outros, até chegar a um mecanismo complexo. E ainda observa que para se fazer literatura não existe receita, o que existe é um mecanismo de trabalho. O fundamento é, quando você lê ou escreve, você dá vida às imagens. A publicação da obra “A Menina do Arco” partiu de um projeto apresentado ao Financiarte.

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Cesar Mateus & Maikel de Abreu Couro, pele, vidas legítimas

Tão múltiplas quanto cruéis, tão teimosas quanto apaixonadas, tão singulares quanto melancólicas, são as histórias de uma periferia caxiense evidenciada em Couro Legítimo. por Thailize Brandolt

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ersonagens reais com histórias imaginárias levam a uma Caxias do Sul terrivelmente urbana e cheia de incríveis protagonistas em seu cotidiano. Este é ocenário do livro Couro Legítimo e outros contos, escrito por Cesar Mateus e Maikel de Abreu. Com 11 contos produzidos por cada um deles, e um último escrito a quatro mãos, a obra revela dois jovens escritores dispostos a romper com as barreiras da mesmice e buscar uma literatura renovada para a região. Nascidos em Caxias do Sul, Cesar e Maikel foram apresentados por amigos em comum e se tornaram próximos depois de uma bebedeira em um posto de gasolina. Unidos pela música, inicialmente criaram uma banda e mais tarde começaram a escrever no extinto blog Interurbanos, que serviu de berço para os contos do livro. Percebe-se essa ligação entre os autores em cada linha de Couro Legítimo. Apesar de Cesar ter um estilo mais poético e lírico, e Maikel optar por uma escrita mais crua, ambos levam personagens urbanos com uma leitura alternativa e leve de se acompanhar. Couro Legítimo, conto que inicia

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e dá nome ao livro, narra a trajetória de um casal numa madrugada fria de Caxias do Sul, em uma lanchonete, em que mentes e destinos se encontram depois de mais um dia de trabalho, para pensar em como chegaram até lá e perceber o sinal do tempo em suas vidas. O conto serve de abertura para os outros 10 escritos por Cesar, que apesar de serem curtos, são bastante intensos e profundos, parecendo combinar com a vida cotidiana, em que muitas coisas podem acontecer de forma veemente em um curto espaço de tempo. O romântico Tamires de costa a costa lembra-nos que em cada esquina de uma cidade tumultuada, sempre haverá um amor do passado para nos assombrar, e fugir disso é praticamente impossível. Ler os contos escritos por Cesar é viajar por uma cidade mais lírica e poética, se identificar com cada ponto de sentimentalismo que, às vezes, se escondem no frenético urbanismo e que sempre estarão lá no interior de cada um. Mercito Bad Bass é um metalúrgico do parque industrial de Caxias do Sul que vive uma rotina de trocar de emprego com facilidade, se drogar com frequência e ir para Florianópolis no final do ano. Um

personagem criado por Maikel, mas que facilmente é encontrado em um ambiente urbano como o de Caxias. Assim como a misteriosa Vanessa, que ao invés de visitar túmulos de parentes , revive os seus falecidos casos amorosos durante o feriado de Finados. Drogas, vida noturna agitada, sexo e romances, tornam os contos escritos por Maikel tanto quanto melancólicos, mas não menos vivos e significativos para o leitor. Uma linguagem mais crua e corriqueira que a de Cesar, faz com que nos deparemos com pensamentos que passam facilmente por nossas cabeças e que sempre precisam de um ponto de escape para a liberdade. Em 11 contos muito bem escritos, Maikel explora as inquietações e sonhos de uma juventude engolida pelo cenário industrial e louca para ter seu lugar marcado na história caxiense. O último conto é escrito a quatro


Cesar Mateus & Maikel de Abreu mãos. Cesar e Maikel unem personagens distintos em uma só história, fazem a ligação surpreendente e nos levam a perceber que todos são arte da mesma vida de um homem, Breno, cujas lembranças amorosas se confundem com as Pequenas Falsidades e decisões insanas que tomou ao longo de sua trajetória e que, a cada dia que passa, ficam mais claras para o seu futuro. Ao fim da leitura de Couro Legítimo, percebe-se que o livro apresenta uma linguagem bastante lírica e uma visão intensamente poética de coisas rotineiras da sociedade caxiense. Essa visão de altos e baixos, com um sentimentalismo aflorado sobre o cotidiano de um polo industrial, nos faz curar a cegueira para certas coisas em nosso caminho.e dá voz a quem geralmente não é ouvido nas esquecidas periferias urbanas. As histórias de Cesar e Maikel nos levam a crer que nunca uma noite fria e cinzenta estará imune a personagens reais, viçosos e ardentes, capazes de aquecer até mesmo a brisa fina de uma cidade da Serra Gaúcha.

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Cesar Mateus & Maikel de Abreu A cegueira cinza e fria de Caxias do Sul

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esar Mateus nasceu em Caxias do Sul em 1983, e Maikel de Abreu em 1981. Ambos residem na cidade e escrevem no blog Invernos Cegos, onde produzem contos inspirados em histórias caxienses, por puro prazer de escrever. Os dois jovens escritores começaram a parceria em um posto de gasolina, na época em que a juventude se encontrava em tais estabelecimentos para tomar, não apenas cervejas, mas também um pouco mais de liberdade. Encontraram afinidades nas músicas que ouviam e amavam, trocaram discos e formaram uma banda, para mais tarde colocar suas histórias em um blog chamado Interurbanos. De lá saíram os contos selecionados para o livro Couro legítimo e outros contos, o primeiro livro publicado pela dupla. São claras as influências da geração Beatnik em cada linha de suas produções. O gosto aventureiro, anti-materialista é evidenciando em seus contos. Roberto Bolaño, Philip Roth são apenas alguns dos escritores que levaram Cesar e Maikel a escrever histórias com personagens reais em situações, que provavelmente poderiam acontecer com qualquer um que vive em um cenário urbano frio e úmido, mas mesmo assim bastante intenso como o de Caxias do Sul. Para os dois jovens escritores, a literatura caxiense ainda está presa às academias, às raízes culturais da imigração italiana, o que torna o meio bastante "perverso". Mas também há o ponto positivo, destaca Maikel, em um mundo onde as redes sociais e o virtual permitem aos jovens um acesso mais fácil à literatura, faz com que a juventude se interesse também por escrever livros e divulgar suas obras. Blogs também são literatura, que concretizam o anseio de se publicar um livro. Foi assim que aconteceu com os dois, Cesar e Maikel, e possivelmente acontecerá com muitos outros jovens que buscam essa identidade pessoal e cultural em cada linha que escrevem.

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Cláudio Abreu

Contrastes do Cotidiano

Pequenas Indulgências, de Cláudio Abreu traz sábias alfinetadas ao moralismo superficial tão presente no cotidiano, quando se permite julgar a todos, mas ser indulgente consigo próprio

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screver é uma arte que requer muitas faculdades, das quais destaca-se como primordial a habilidade de observar. Não há como ter uma boa história sem um olhar diferenciado com relação ao mundo e às pessoas que se têm ao redor. Em Pequenas Indulgências, Cláudio Abreu domina essa arte com maestria, mostrando as constantes contradições e falsos moralismos do homem no cotidiano e várias histórias, sem deixar nenhuma atitude passar despercebida. Cláudio Abreu, nascido em Caxias do Sul, transitou pelas áreas da comunicação durante a carreira, trabalhando em diversos jornais caxienses e criando sua própria agência de publicidade. Pequenas Indulgências é seu primeiro livro, retomada de um antigo projeto que visa mostrar o hábito social que se tem de alardear valores que não são praticados. Ao longo do livro, nos deparamos com histórias ao mesmo tempo corriqueiras e marcantes, apresentadas nas figuras de seis diferentes personagens, cada qual com seus dilemas moralísticos. Marta, Vitor, Bira, Fagundes, Flanelinha e Andarola nos mostram os impasses e

por Gabriela Bregolin Grillo

disconcordâncias constantes do homem, em busca de uma conciliação entre o agir politicamente correto, e as reviravoltas pelas quais se passa nas 24 horas do dia. O primeiro episódio que nos é apresentado traz Marta, ilustre arquiteta, dona do próprio escritório, líder de equipe e inflexível em relação a seus valores. Preocupada com questões como sustentabilidade e responsabilidade social, aplica aos princípios de sua empresa soluções que possam melhorar a relação entre progresso e meio-ambiente. Essa preocupação desmorona na busca por um lugar para estacionar numa rua lotada, onde saídas de garagem e vagas para deficientes são sempre uma opção. Mais curioso ainda é o dilema de Vitor, publicitário bem-sucedido, seguro de si mesmo e de suas atitudes, ativo na busca por um mundo melhor, e que se considera inabalável. Em uma viagem de férias acompanhado de sua mulher e um casal de amigos, ele se depara com experiências totalmente desconhecidas, incentivadas por sua mulher e uma amiga, que estão sempre um passo à frente na busca por novos horizontes. Ele percebe quão frágil é o controle de si e das situações que os cercam.

O policial Bira traz uma contrariedade conhecida a todos nós: a vontade de mudar o mundo, começando pelos outros, nunca por nós mesmos. Inimigo declarado dos bandidos, é admirado por colegas, chefes e amigos. Despende o esforço que for preciso para coibir o crime, mas ausenta-se quando a própria família precisa de ajuda. Fagundes, o mecânico, utiliza seu tempo livre para discutir com Seu Andrade, ex-sindicalista, sobre a corrupção existente na política, e as mordomias de que desfrutam os sindicatos, enquanto os trabalhadores que eles representam têm condições de trabalho cada vez piores. Ao passo que defende veemente o sindicato, Seu Andrade reflete sobre as falhas do corpo sindicalista, e os princípios impostos aos que o incorporam. O Flanelinha traz em suas discussões o preconceito existente com relação à classe LiteraturaCaxiense Recente

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Cláudio Abreu social e econômica. Ele chama a atenção, também, à falsa ideia de que a classe mais abastada é maior detentora de conhecimento na sociedade. Tendo como tema a religião, apresentase a história de encerramento da obra. No cenário da missa de fim de ano da comunidade, o Andarola traz, se não a maior, uma das mais inquietantes contradições humanas. Ele observa, em seus pensamentos de adolescente, o contraste entre as figuras que vê na missa, compenetradas em sua relação com Deus, e as mesmas pessoas, seus vizinhos, no dia-a-dia, praticando ações totalmente contrárias à doutrina cristã. Com observações apuradas que só o bom escritor sabe fazer, Pequenas Indulgências traz grandes reflexões acerca do moralismo no convívio social. Através de uma abordagem contemporânea, Cláudio Abreu consegue tratar de assuntos como hipocrisia e ética, com muita leveza, e um tanto de ironia. Leitura muito indicada para fazer pensar sobre muitas atitudes que são tomadas no decorrer do dia.

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Cláudio Abreu

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FOTO: Pauline Gazola

láudio Abreu, 62 anos, nasceu e reside em Caxias do Sul. Apaixonado por comunicação, se interessou pela área desde pequeno, ouvindo o programa Venha Prá Cancha Amigo, na Rádio Caxias. Jornalista e publicitário, atuou por mais de 30 anos na imprensa caxiense, e foi dono do próprio escritório de publicidade. Ele trabalhou no jornal Pioneiro como gerente de circulação e assinaturas, no Jornal do Comércio como repórter e redator, e na revista Gente in Foco, como diretor e editor. Também participou das rádios Princesa, São Francisco e Rádio Difusora Caxiense, tanto como repórter quanto na área comercial. Além disso, foi presidente da TV Caxias e âncora no programa Vitrine, da mesma emissora. Pequenas Indulgências, seu primeiro livro, é a retomada de um antigo projeto literário. Observando as tantas contradições das pessoas, em uma época na qual muito se fala de preconceito, ética e cidadania, sem uma noção correta do significado destas, ele havia pensado num projeto chamado Limites da Sensibilidade. No decorrer da produção do livro, as ideias foram aprimoradas, dando origem às seis histórias reunidas sob o título de Pequenas Indulgências. O autor trabalha, atualmente em outros três projetos. Ninho do Condor e Escravos Modernos, duas obras literárias, além de O Poço, um roteiro que será adaptado para a televisão. LiteraturaCaxiense Recente

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Fernando Bins O assassino do Monumento Imigrante

A obra Contagem dos Inocentes de Fernando Bins prende o leitor por apresentar uma incrível história que mistura um assassinato com um suposto personagem esquizofrênico por Pauline Gazola

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ernando Bins, 22 anos, é novo no ramo da escrita. Estudante de Psicologia, ele escreveu seu primeiro livro, Contagem dos Inocentes, 314 páginas, no gênero policial, em apenas 13 dias. O enredo do livro é um misterioso assassinato que ocorre em Caxias do Sul, em frente ao Monumento Imigrante. A história envolve Flavio Cunha, um detetive aposentado, Erik Robbins, um gênio de 20 anos filho de assassinos, Brenda Menegaro, uma jovem médica legista muito talentosa, apesar da pouca idade. Em paralelo a isso, acontece a história de Miguel e Rafael Eyng, dois irmãos que sofrem com a perda do pai. O autor descreve Miguel como um personagem perturbado, triste e solitário, que não se interessa por mulheres, não tem amigos e nem parentes, somente o irmão Rafael. Ainda pequeno Erik Robbins viu seus pais serem condenados por múltiplos assassinatos e, nesse dia, no tribunal, conheceu Flavio Cunha e começa uma grande amizade. Passaram-se alguns anos e ocorre o assassinato no Monumento Imigrante. O departamento de polícia recorre a Flavio Cunha para desvendar o acaso. Ele chama então sua “equipe”, Erik

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Robbins – sabendo que ele tem um talento incrível para desvendar cenas de crimes - e Brenda Menegaro, a médica legista. Até eles desvendarem o crime, outros assassinatos ocorrem em locais diferentes da cidade: todas as mortes são de mulheres. Eles passam a investigar o que estas mulheres têm em comum. Enquanto isso, Miguel levanta de manhã, se entope de remédios e vai para o trabalho. Sem interesse nenhum em conhecer as pessoas que o cercam, ele não sabia nem o nome de sua própria secretária. Quando ela tenta conversar, Miguel simplesmente a ignora com um sorriso falso que lhe cobre o rosto. O irmão de Miguel é esquizofrênico e fica em casa comendo e dormindo. Aí é que está a surpresa do livro: na verdade este irmão, de 38 anos, que se chama Rafael, só existe na imaginação de Miguel. Depois da morte de seu pai, o protagonista ficou louco e solitário, criando a imagem desse suposto irmão como forma de superar a perda. Certo dia, a polícia bate na porta de Miguel e encontra o corpo de uma mulher morta no andar de cima. Miguel, então, transtornado e não sabendo que sempre viveu sozinho, acha que o

culpado da morte era Rafael. Finalmente é revelado que ele não tem irmão algum, e que na verdade o assassino é ele próprio. Fernando Bins, em Contagem dos Inocentes se revela um excelente criador de situações próprias do romance policial. É uma boa estreia. Espera-se que continue nesta trilha.


Fernando Bins

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FOTO: Pauline Gazola

escritor Fernando Bins Sandi, 22 anos, é natural de Maravilha (SC), mas mudou-se para Caxias do Sul ainda jovem. Desde os 14 anos se interessou por livros e foi assim que amadureceu a sua futura escrita. Os primeiros livros que ele teve contato foram O Caso dos Negrinhos, de Agatha Christie e Juízo Final, de Sidney Sheldon. Foi então que além de escrever, surgiu o hábito da leitura. Acadêmico do curso de Psicologia, Fernando desde muito cedo se interessou pelas peculiaridades da humanidade e da leitura. A partir dessa primeira produção, escrever se tornou um hábito cada vez mais presente em sua vida, uma paixão cada vez mais pulsante. Estimulado pela namorada, Stefany Godoy, surge então o livro Contagem do Inocentes. LiteraturaCaxiense Recente

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Ione Grillo

As intrigas das bruxas

Um distante reino encantado que se chama Abeceus, habitado por bruxas e seres mágicos, é um universo onde manter a paz é prioridade e castigar os malfeitores também por Paola Dalla Chiesa

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Reino de Abeceus, de Ione Grillo, é um livro de gênero infanto-juvenil, de linguagem simples e objetiva, que explora o universo mágico das bruxas. As ilustrações são de Karen Basso e o livro foi lançado em 2012. Formada em Relações Públicas pela Universidade de Caxias do Sul desde 2004, Ione Grillo é escritora por teimosia, afinal, segundo ela, sempre foi apaixonada pela leitura desde seus quatro anos de idade. Escreveu, em 2007, Minhas Memórias Contam Histórias e, logo após, no ano de 2009, escreveu o Armazém de Versos. Em breve será lançado sua nova obra, O Verso da Fotografia, que contém imagens fotografadas por ela mesma e poemas escritos no verso da folha, refletindo o que diz na imagem. Ione Grillo veio de uma família humilde, morava juntamente com suas irmãs na casa de sua avó, uma velha senhora contadora de histórias sobre bruxas e gnomos. Foi a partir das lembranças daquela época que as ideias foram surgindo para a construção do enredo, que durou aproximadamente dois anos para ser concluído. Dentro deste contexto, O Reino de Abeceus conduz o leitor a

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um passeio pelo mundo das bruxas, repleto de lições e intrigas, versos e poesias, onde a bagunça e a fantasia andam juntas. Na obra, que transcorre em uma montanha mais alta que as demais, um reino chamado Abeceus, habitado por bruxas e feiticeiros, vivia na paz absoluta, graças às regras impostas pelo rei. Quem ousasse desrespeitar e devastar a boa convivência dos que ali viviam, era mandado para a floresta, lugar mais temido pelos bruxos, onde diziam que qualquer um que entrasse, nunca mais retornaria. Certo dia, por causa da rebeldia de uma tribo de bruxelunos da Escola Grimoire, a professora Graméthica resolveu criar um projeto, chamado As Abecenas, que envolvia todos aqueles que a desobedeceram. Neste trabalho, os alunos deveriam criar um livro de poemas sobre as bruxas que moravam no reino, descrevendo suas profissões, hábitos e aparências. A tribo que, antes só cometia erros, tornou-se correta e amável como todos os outros bruxelunos, trazendo novamente a paz ao reino de Abeceus. Apesar das poucas páginas e a leitura ser de um só fôlego, Ione Grillo, ao criar o projeto As Abecenas, teve a intenção de auxiliar as crianças a

descobrirem o que cada profissão faz e o que, principalmente, a mulher pode fazer, facilitando de certa forma na escolha da carreira que os jovens leitores irão exercer futuramente. As lembranças da escritora são relatadas com tanta minúcia, que o leitor consegue passar pelas mesmas sensações já vividas por Ione na infância, criando um forte vínculo entre ambos. Enfim, por mais que os leitores da obra não acreditem em contos de bruxas, a autora conduz o enredo de maneira tão convincente que largar a leitura não é uma opção. O Reino de Abeceus é um excelente livro para aqueles que adoram magia, poemas e pretendem adentrar por inteiro no universo fictício criado por Ione Grillo de forma tão inventiva.


Ione Grillo

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FOTO: Pauline Gazola

ormada em Relações Públicas pela Universidade de Caxias do Sul, Ione Grillo sempre foi apaixonada por leitura desde seus quatro anos. De criança sonhadora à mulher corajosa, Ione não nega que teve uma infância humilde, porém, rica em histórias e brincadeiras. Erudita de poesia, Ione publicou a obra Minhas Memórias Contam Histórias e, logo após, em 2009, escreveu o livro Armazém de Versos. Em 2012, divulgou O Reino de Abeceus, muito elogiado pela SMED (Secretaria Municipal da Educação) e, em breve, pretende lançar O Verso da Fotografia. Divulga suas obras por meio de redes sociais e nos encontros que realiza em escolas, onde conta histórias e poemas para as crianças. Ione Grillo tem como escritores favoritos Jorge Amado, Gregório de Matos, Mario Quintana, Paulo Leminski, Machado de Assis, Gabriel García Márquez, Pablo Neruda, entre outros. Sobre a literatura caxiense, a autora afirma que ela está ganhando espaço no mercado, mas defende a ideia de que deveria ser melhor conhecida pelos leitores de todo o Brasil e, principalmente, mais incentivada por todos. “Aprender a ler qualquer pessoa pode te ensinar. Aprender a gostar de ler só você pode te ensinar”. Segundo Ione, é com esta reflexão que ela gostaria de atingir a todos os admiradores da literatura. LiteraturaCaxiense Recente

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José Otávio Carlomagno A Poética Corrosiva

O principal norte do livro “Desacreditações Recreativas”, de José Otávio Carlomagno, conta que tudo na vida muda a todo instante e o que é agora não é mais daqui a um minuto: somos a realidade

Desacreditações Recreativas” é um livro de poemas do cotidiano e dos mais variados temas. Seu autor, José Otávio Carlomagno é natural de São Paulo, mas mora em Caxias do Sul desde 2002. Em um ramo de atividades completamente diferente, Carlomagno é engenheiro agrônomo, mas já publicou contos (“Bodas de Ouro”) e outros poemas (“Antropologia de Mim”). Em “Desacreditações Recreativas”, o autor escreve a verdadeira realidade: “Gosto de histórias que iniciam por 'um belo dia'... Um belo dia apareceu-lhe um câncer...”, e conta que não teve uma influência literária para escrever, que sua inspiração vem do aprendizado diário. Sendo engenheiro agrônomo, nada teria a ver com a literatura. No entanto, a grande empatia pela natureza fez com que a inspiração de Carlomagno se tornasse ainda maior. Em um dos trechos do livro, logo se percebe isso: “O boi, o sapo, o gafanhoto, a cobra... Enfim, todas as espécies animais, incluindo o homem...” “Desacreditações Recreativas” é escrito em minuciosos detalhes que fazem parar a leitura e ficar imaginando a cena dentro do

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por Karina Catuzzo Rodrigues poema. (“Já acabou a distração sem rumo: o trinco da porta da casa ao lado fez barulho, passos saem...”). Carlomagno conta que escreve no seu dia a dia e, para a criação de “Desacreditações Recreativas”, juntou vários poemas prontos e guardados. O ambiente dessa obra foi basicamente o jardim e a horta que possui em casa. Os títulos muitas vezes são criados antes dos livros, na leitura de uma frase, por exemplo, por isso, nem sempre o título fica coerente com a escrita. A estratégia de escrita de José Otávio Carlomagno é muito interessante. Lemos um poema na página 58, “mas se o dia é belo, ou não, deve-se rir do câncer...”, e ele é retomado na 127, “cura do câncer: nunca. Não se iluda...”. Assim, não se passa despercebido cada página da obra. Se realmente ler, lembrará da anterior. Para o autor, poesia não é só de amor, romance e ficção. Poesia é realidade, é o formato, como música, um rótulo. Os poemas de Carlomagno fazem também com que o leitor o conheça melhor e possa interpretá-lo, como neste trecho da página 75: “Se eu souber que morrerei amanhã, mando tudo às favas: não perderei tempo com poemas. Sentarei no chão e passarei

esse derradeiro dia a observar as formigas, as lesmas...”. Como uma obra realista, “Desacreditações Recreativas” conta o impacto da morte e reflete para outros problemas atuais que muitas vezes não são percebidos e, não são menos importantes, mas a mídia só dá a devida importância quando o desastre mata milhares de pessoas. “Quanto mais estrondosa a morte, tanto mais sorte: maior o valor comercial: mais valorosa a notícia... Se os sobreviventes de desastres morrerem aos bocados, durante um mês, a notícia não tem a mínima graça. Deve ser por isso que ninguém liga para as epidemias da África.” Carlomagno escreve para sacudir as pessoas, para mostrar a realidade e não para passar despercebido. Adora a mistura de humor e tragédia. Conta que nunca escreveria


José Otávio Carlomagno algo que o leitor leu, passou e desapareceu. Gosta que seus livros tornem-se um bordão, que quando a pessoa vê o livro, lembre de um trecho, de alguma frase. José Otávio Carlomagno explora ainda aspectos temáticos recorrentes, como a preocupação e interação com as forças do cotidiano (“A preguiça é uma grande virtude: faz-nos concisos e claros...”), interrogações sobre questões sociais da atualidade (“O que mais me irrita nas religiões não é a arrogância dos ministros, ou as mentiras com segundas intenções...”), a natureza (“Mas há o porco, a galinha, a cobra, o casal...”), aproximações com filosofia (“A filosofia se mantém. Os filósofos se findaram. Tornaram-se prisioneiros dos conceitos e teorias acadêmicas...), entre outros. Pode-se dizer que “Desacreditações Recreativas” é uma obra bastante abrangente. Carlomagno é um autor que gosta de mostrar a realidade, que escreve para o leitor enxergar, escreve de forma visual, gosta das segundas intenções, da ironia e do sarcasmo. Ele confessa que não gosta da forma psicológica, que não sabe escrever como Machado de Assis e Clarice Lispector, por exemplo. Pensa que literatura é para poucos, já que é necessário saber interpretá-la. “Poesia é a música da palavra”, diz.

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José Otávio Carlomagno

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osé Otávio Carlomagno é natural de São Paulo, Capital, mas mora em Caxias do Sul desde 2002. É autor do livro de contos “Bodas de Ouro” (Editora Argos – Universidade de Chapecó, Santa Catarina), dos romances “Espelho”, “Sangue Nosso de Cada Dia”, “Brisal”, “O Fotógrafo do Silêncio”, “O Arrumador de Ossos”, dos livros de poemas “Desacreditações Recreativas” (Editora Modelo de Nuvem), “Antropologia de Mim” (Editora Multifoco, Rio de Janeiro), “Exercício de Impregnação” e do volume de novelas “RemoReino”. Além disso, possui um blog, o “Mania de Escrever.”. Também já participou da “Antologia Poética” da Flipoços. Antes de ser escritor, Carlomagno FOTO: Pauline Gazola formou-se em Agronomia pela Unesp/Botucatu em 1980, tendo trabalhado em fazendas, plantações de soja e exportação de cítricos. Só depois de um tempo mudou sua maneira de viver, dedicando-se à produção textual. Não possui uma influência literária para escrever. Sua inspiração normalmente é a natureza e o cotidiano. As comparações com a escrita de José Otávio são muitas, principalmente com o escritor matogrossense Manoel Barros. Mas, para ele, essa comparação é apenas dedutiva, já que Barros tem sua vivência no Pantanal e conversa com jacarés, bois, e ele dialoga com insetos e formigas. Costuma escolher os títulos dos livros antes de escrevê-los. Por ser realista, afirma que as pessoas vêm buscando uma vida perfeita, que tudo vai dar certo e na verdade não vai. O final é sempre trágico, sempre o mesmo. Vai acabar num hospital, com alguma doença. “O mundo cor de rosa não existe. Existe na imaginação das pessoas.”. Para ele, poesia é a música da palavra e é o formato do texto. Costuma escrever à noite, na varanda, olhando para a horta e o jardim de sua casa.

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Lourdes Curra Uma história cheia de encantos e lições

As crianças leitoras irão divertir-se e aprender muito com os personagens desta obra que são sapos muito bacanas vivendo num povoado chamado Sapolândia por Amanda Bertóglio Dorneles

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livro Sapolândia, de Lourdes Curra, foi lançado em 2012 e faz parte da literatura infanto-juvenil. Traz belíssimas ilustrações da ilustradora Karen Basso e é apenas um dos vários livros infantis da autora. O que mais chama atenção no livro é o fato da autora trazer toda a estrutura familiar e social para dentro de uma comunidade de sapos, aproximando a criança ao mundo de fantasias. Lourdes Curra é uma senhora extremamente simpática e atenciosa. Um verdadeiro ser de luz com quem se tem muito a aprender e com quem se tem vontade de passar uma tarde inteira só ouvindo-a contar histórias. Aliás, ela parece adorar contar uma história, assim como o faz o Vovô Verdão, um dos personagens de seu livro Sapolândia. Lourdes ocupa a cadeira 26 da Academia Caxiense de Letras e é autora de mais de 10 livros pela Editora Maneco, obras infantojuvenis e de mensagens canalizadas, que são poemas e romances escritos mediunicamente com o auxílio de espíritos desencarnados. Além disso, está sempre no meio de discussões literárias e o que mais aprecia são os encontros escritor-aluno, pois o objetivo de seus livros é despertar nas

crianças os bons valores morais e espirituais e também a vontade de ler e aprender. A história de Sapolândia se passa em um povoado de sapos que fica às margens da Lagoa Dourada e traz como personagens uma simpática família de sapos que são: Vovô Verdão, papai Verdinho, mamãe Verdinha e os filhos Plimplim, Nina, Pop e Soc (os dois últimos sendo gêmeos). A história toda se desenrola através das histórias do vovô Verdão que é o maior contador de histórias do povoado. Trata-se de uma homenagem da autora aos avôs, avós, pais e mães que ainda contam histórias para seus netos e filhos, e é uma forma de chamar a atenção para a importância que isso tem na educação das crianças. Os temas das histórias contadas por vovô Verdão são os mais variados, desde temas mais didáticos, como a vida dos sapos, o uso da internet, as obras de grandes escritores brasileiros, até temas mais morais, como acontecimentos que ilustrem as grandes lições que as crianças devem levar consigo como amor, respeito e solidariedade. Duas coisas muito peculiares do livro são: a inserção das obras de Ferreira Gullar e Mario Quintana no

meio da história, que tem o objetivo de aguçar a curiosidade da criança sobre quem são estes autores e o que mais produziram; e, no fim do livro, duas páginas que ensinam a fazer um sapo de origami, com o objetivo de fazer a criança se envolver mais e também se divertir. Lourdes Curra ressalta o quão gratificante é encontrar uma criança que leu seu livro e gostou. Ela diz que todo o trabalho vale a pena quando as crianças se identificam com as histórias, quando aprendem com as histórias e até quando querem fazer parte das histórias. Ela continuará na literatura infantojuvenil com uma continuação de seu livro Esperança (seu primeiro livro, escrito ainda quando ela estava no magistério e publicado tempos depois), onde abordará o método de alfabetização de Glenn Doman e as experiências das crianças com a Espiritualidade. LiteraturaCaxiense Recente

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Lourdes Curra

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FOTO: Pauline Gazola

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ourdes Curra é uma senhora extremamente simpática e atenciosa. Ocupa a cadeira 26 da Academia Caxiense de Letras e é autora de mais de 10 livros pela Editora Maneco. São eles obras infanto-juvenis e de mensagens canalizadas mediunicamente (poemas e romances auxiliados por espíritos desencarnados). Além disso, está sempre no meio de discussões literárias e o que mais aprecia são os encontros escritor-aluno, pois o objetivo de seus livros é despertar nas crianças os bons valores morais e espirituais e também a vontade de ler e aprender. Lourdes começou a escrever para crianças quando alguém lhe falou sobre a importância de escrever para este público, para ajudá-lo a evoluir desde cedo. Suas obras são Esperança (infantil - 2005), Um Sonho de Esperança (infantil – 2007), Heitor Curra (sobre a trajetória de seu pai – 2006), O Jogo da Vida (infanto-juvenil – 2008), A Princesinha Marta (infantil – 2007), Rapa Nui (infanto-juvenil – 2001), Autobiografia de Titi (infantil – 2011), Sapolândia (infantil – 2012), Saga do Caminhante do Céu, A Luz dos Anjos, O Coração Vê Além do Horizonte e Primavera do Coração. Seu próximo projeto será uma continuação de seu primeiro livro, Esperança. Ela o escreveu quando estava no magistério e publicou-o tempos depois. Neste projeto, ela abordará o método de alfabetização de Glenn Doman e as experiências das crianças com a Espiritualidade.


Lúcio Saretta, Marcos Kirst, Tiago Marcon & Uili Bergamin

Um múltiplo olhar

A obra que reune quatro cronistas de Caxias, Tetraedro, de Lúcio Saretta, Uili Bergamin, Marcos Kirst e Tiago Marcon, revela um olhar diversificado para a cidade por Mayara Pires Zanotto

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obra Tetraedro é a junção de quatro escritores caxienses, que, embora tenham uma maneira bem particular de se expressar em suas crônicas, e propriamente, influências literárias por vezes muito diferentes, possuem uma mesma paixão: a literatura e a escrita. Composto por 48 textos, Tetraedro é capaz de divertir e informar ao mesmo tempo. Você pode viajar ao universo do esporte, em especial ao mundo do futebol, ao ler as crônicas de Lúcio Saretta, que relata através de experiências vividas ou induzidas, algumas passagens das vidas de grandes craques dos anos 80 e 90, em especial. Além da viagem futebolística, Saretta nos situa em diversos acontecimentos históricos, e insere neste cenário pela riqueza de detalhes com a qual descreve cada gesto ou ação dos personagens. Na crônica Pedra Viva, por exemplo, Saretta revela que, ao longe, percebeu que o artesão trabalhava madrugada adentro, fazendo um busto de algum rosto conhecido. Nisto, ele viaja para a década de 20, quando Neco,

jogador do Corinthians recebe um busto em sua homenagem, alocado no Parque São Jorge. Lembra ainda, que, do outro lado da metrópole, anos depois, Waldemar Fiúme, popular jogador do Palmeiras nos anos 40, também recebera seu busto feito por um artista. Na sequência, estão as crônicas de Marcos Kirst, nas quais podemos encontrar um final interativo. Inspiradas na Divina Comédia, de Dante Alighieri, Kirst retrata ao longo dos textos situações corriqueiras, vividas por seus personagens Virgílio e Beatriz. Com uma pitada de humor, tais cenas nos levam a refletir os fatos que acontecem em nossas vidas e que, desatentos, perdemos a oportunidade de aprender com eles. Na crônica “Esconde-esconde com o motoboy”, Virgílio e Beatriz se sentem muito descontentes com o atendimento prestado pelas empresas que oferecem o serviço de teleentrega em Caxias do Sul, pois embora expliquem cada detalhe de como chegar até sua casa, recentemente adquirida em um bairro novo da cidade, nunca recebem seu lanche como o esperado. Ao final, quem decide é o leitor: se quer interpretar no “inferno de Dante” é acreditar que nunca vai melhorar tais

serviços; no “purgatório de Dante”, induz a optar por dois ou três fornecedores específicos, na esperança de que esses dois ou três acertem a localização de sua residência; ou no “paraíso de Dante”, que é entender como uma conspiração do universo, e quer ver os dois partilhando momentos de romantismo, preparando seus próprios pratos, vivendo momentos a dois na cozinha. Tiago Marcon é quem assina as doze crônicas seguintes. Em um estilo bastante misto, ele busca trazer reflexões bem humoradas do cotidiano, como na crônica “A inocência cruel das crianças”, onde retrata uma pérola da filha, Brenda, de três anos, em uma conversa normal, até certo ponto, com sua tia, irmã de Tiago, que deu um ursinho à Brenda, e pensou agradar a sobrinha LiteraturaCaxiense Recente

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Lúcio Saretta, Marcos Kirst, Tiago Marcon & Uili Bergamin ao simular uma conversa entre a pelúcia e ela. Por parte da tia a conversa vinha evoluindo, mas a menina não dava bola, até que resolve levantar, dar umas batidinhas no ombro da tia e mandar: “Dinda, ele não fala...”. São crônicas de tal leveza e pitadas de mundo real que Tiago nos apresenta, e esse caráter volta a ser reproduzido na crônica “Como comprar absorventes femininos”. O nome é bastante sugestivo, e Tiago faz uma crítica à complexidade do mundo moderno, propondo uma analogia com o tempo da idade das cavernas, onde era tudo tão mais simples. Mas, como o progresso não oferece opção, depois do baque inicial da chegada à farmácia e conversa inicial com o atendente, ele resolve ir embora sem fazer a compra solicitada por sua namorada, porém, em algum momento se dispõe a aprender sobre tal alienígena, acessório indispensável na vida feminina. Adotando um estilo diferente dos demais cronistas de Tetraedro, Uili Bergamin expõe em suas crônicas, falando na primeira pessoa do singular, suas visões de mundo. Voltado em muitos momentos à literatura e ao valores humanos, propriamente ditos, ele procura falar em uma linguagem que fique impregnada, que dê teor de conhecimento para aqueles que buscam por suas crônicas. Nos textos “A implosão da ética” e “A implosão da ética II”, ele enfatiza o quanto esta questão vem ganhando espaço em nossas vidas nos últimos anos, e embora muito se fale nela, parece que nunca ela esteve tão sumida, ao se analisar as ações de muitos políticos, em especial, e demais profissionais em geral. Ele nos leva a refletir o quanto nós deixamos de ser éticos pela própria facilidade com a qual determinadas coisas chegam até nós. Através destes pequenos trechos do livro Tetraedo, é possível compreender porque este livro é tão especial para aqueles que o escreveram, compondo com um pouco de cada um, e podendo atingir leitores com gostos diferentes, visto que a composição destes textos é abrangente e encantadora. Quando se tem em mãos um livro com o qual é possível se imaginar vivendo as situações que o mesmo retrata, ele deixa de ser apenas uma leitura corriqueira. É como uma mágica ver-se vivendo aquelas histórias, imaginando o diálogo ali ocorrendo, fazendo entonações de voz diferentes a cada novo parágrafo, e é isso que a literatura, como um todo deve proporcionar: experiências de vida fictícia em uma vida real e cada dia menos controlável.

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Lúcio Saretta, Marcos Kirst, Tiago Marcon & Uili Bergamin

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Marcos Kirst, Lúcio Saretta e Tiago Marcon

FOTO: Pauline Gazola

través do cronista Uili Bergamin, reuniram-se os amigos Lúcio Saretta, Marcos Kirst e Tiago Marcon. A ideia de reunir os quatro cronistas e produzir um livro eclético, por isso, inédito, surgiu na cerimônia de entrega de troféus do Concurso Anual Literário de Caxias do Sul e foi imediatamente comprada pelos demais envolvidos, que já escreviam para veículos e em blogs pessoais. Baseados em personagens reais e fictícios, Tetraedro retrata Caxias do Sul sob o ponto de vista de cada um de seus autores, e busca informar e divertir ao mesmo tempo, misturando humor, história (local, regional e nacional) e com o toque pessoal desses autores, que atuam há cerca de dez anos, em média, no cenário literário caxiense. Os autores possuem influências literárias bastante diversificadas, como os clássicos Cervantes e Machado de Assis até contemporâneos como Saramago e García Márquez. Destacam ainda Luis Fernando Veríssimo, Sérgio Faraco, Rubem Braga, Julio Cort’Azar, Borges, Kafka, Philip Roth, Jimmy Rodrigues, Fabrício Carpinejar, Moacyr Scliar, Edgar Allan Poe, Érico Veríssimo, entre outros, e destacam que estamos sendo diariamente influenciados pelas mais diversas fontes, basta abrir os horizontes e se permitir vivenciar as experiências que batem à nossa porta. De um modo geral, pode-se dizer que todos são unânimes ao afirmar que a literatura brasileira, em especial a literatura caxiense, se encontram em plena expansão, e nessa chuva de autores e produções, vem surgindo muita gente realmente boa. Porém, embora hoje não seja como antigamente, os autores e artistas em geral, como podemos dizer de um modo mais abrangente, podem se destacar através da internet, e ter sua obra publicada ou reconhecida de um modo diferenciado tem um sabor especial. Destacam ainda que produzir um livro é de fato como gerar um filho, desde seu planejamento, passando pela sua concepção até o momento em que nasce. Os autores vêm se mantendo no ritmo, no sentido de que não pararam por aí. Embora para alguns tenha sido o primeiro livro, para nenhum deles será o último, pois consideram escrever uma paixão, e alimentam seu fogo constantemente. Uili está lançando A Mordaça. Tiago pretende lançar um livro de crônicas ainda em 2014, e também vem “cozinhando em fogo brando” um romance. Marcos Kirst vem produzindo em conjunto com o artista plástico caxiense, Antônio Giacomin, o livro intitulado Serra Gaúcha: O Passado Presente. Lúcio Saretta deve lançar seu terceiro livro de crônicas esportivas ainda nesse ano, e em paralelo, segue colaborando com o site "Olá! Serra Gaúcha". Os quatro autores cogitam ainda o lançamento de um livro de contos. LiteraturaCaxiense Recente

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Luis Narval

A Convivência dos Contrários

Composto por três histórias de âmbito político, com personagens marcantes e realistas, o livro Era em Pleno Dia a Ascensão da Noite conquistou o Prêmio Vivita Cartier por Diúlit Bernart Oldoni

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livro Era em Pleno Dia a Ascensão da Noite, escrito por Luis Narval e lançado em 2012, conquistou neste ano o Prêmio Vivita Cartier, como livro do ano, no 47º Concurso Anual Literário de Caxias do Sul. A obra é composta por três histórias que trazem a política como pano de fundo e retratam os conflitos internos vividos pelos personagens. O objetivo é incitar o leitor a refletir sobre suas ideologias e mudar sua forma de ver a vida. Luis Narval já publicou dois livros. Além disso, está trabalhando em um romance, um livro de poesias e dois livros de contos, um independente e um coletivo. Decidiu não cursar faculdade, pois crê que a vida é a melhor professora que alguém pode ter. Narval é um grande admirador de livros que engrandeçam a mente dos leitores, e é com essa finalidade que escreve. A primeira história, que leva o mesmo título do livro, retrata de forma singular os horrores da 2ª Guerra Mundial através da amizade inabalável entre um judeu e um alemão “puro”. Essa afeição proibida entre eles incita o leitor a pensar sobre como é difícil manter a lealdade com os outros e consigo mesmo em

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situações em que a sobrevivência está em jogo. A história seguinte chama-se O que Agora o Ensurdece, e trata do drama vivido pelo padre Paolo Romani, que se culpa pelo assassinato de seu tio e por ter dado às costas a um amor de infância. O cenário da trama é composto pelos impactos da 2ª Guerra Mundial no Brasil, e Narval ilustra perfeitamente a submissão das pessoas ao governo e a terrível e inevitável convivência de uma pessoa com seus demônios internos, que faz com que cada dia se torne uma batalha. Abaixo da Linha D'Água é a história que encerra o livro, e tem como foco a raiva que o protagonista, Alejandro Nierbes, sente de sua cidade, pois credita ao espaço o suicídio de seu idolatrado tio. O modo de interpretar as pessoas, revelado na última fala do tio de Alejandro, é indubitavelmente regido por profundas ideologias e fatos implícitos da sociedade, que estimula o leitor a questionar o rumo de sua vida e o comodismo que marca seu cotidiano. Com suas três novelas multifacetadas e consideradas como as melhores do ano, Narval alcança o objetivo de construir uma literatura séria e que agregue conhecimento aos leitores. Os dilemas vividos pelos

personagens fazem com que a leitura seja, além de prazerosa, uma experiência de vida. Ela amplia os horizontes e convida o leitor a sair do comodismo e da alienação.


Luis Narval

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escritor Luis Narval tem 47 anos e nasceu em São José dos Ausentes, antigo distrito de Bom Jesus. Há 30 anos mora em Caxias do Sul. Narval não tivera contato com um livro até começar a frequentar a escola. Ele optou por não adquirir uma formação acadêmica, tendo, então, a vida e a literatura como suas únicas professoras. Narval tem dois livros publicados, Era em Pleno Dia a Ascensão da Noite e A Mansão da Rue Lafayette, e tem trabalhado em um romance, dois livros de contos, um independente e um coletivo, e um livro de poesias, que julga ser o mais difícil de elaborar, pois afirma que a poesia deve ser a representação escrita da alma de quem a escreve. FOTO: Pauline Gazola Sua obra Era em Pleno Dia a Ascensão da Noite, publicada em 2012, foi a vencedora da principal categoria, Vivita Cartier, conquistando, merecidamente, o título de livro do ano. Narval também é um grande admirador de filosofia, literatura francesa, russa e norte americana, ou seja, prefere manter contato com livros que, além de adicionar conhecimento aos leitores, também os estimulem a questionar a vida, as pessoas e a sociedade, acarretando, consequentemente, em uma mudança positiva em suas formas de interpretar o mundo. Seus livros caracterizam-se pelos seus cenários, nos quais a maioria das histórias acontece fora do Brasil. Narval justifica essa preferência por outros países dizendo que os livros devem ser como uma porta para o resto do mundo, fazendo com que seus leitores viaMem e vivam novas experiências. Ele ressalta que a mente do ser humano, ao contrário de seu corpo, não tem limites, e é isso que o torna poderoso.

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Márcia Tolotti A base do sonho é a determinação

A lenda da gralha azul de Márcia Tolotti oferece a oportunidade de pensar sobre sua independência financeira e afetiva, como defender um sonho e buscar sua realização por Rafael Fandinho

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livro A lenda da gralha azul, de Márcia Tolotti, lançado em 2012, é uma obra destinada ao publico adulto, mas com uma pequena diferença na linguagem: é mais lúdica, ela retrata através de uma metáfora a relação do homem com a vida financeira e afetiva. Na obra se abordam valores como persistência, coragem, determinação e a defesa de um sonho. Márcia tolotti é professora, psicanalista, escritora e fundadora da empresa MODDO, que oferece soluções inovadoras de gestão para escolhas pessoais. A Lenda da Gralha Azul e baseado em uma história já escrita em outro livro, O desafio da independência. A editora acreditou ser interessante fazer um livro somente da lenda e com gravuras. A lenda narra que a gralha tenta conquistar o sonho de se tornar azul, porém passa por alguns desafios, como a derrubada de sua floresta e a grande dificuldade de realizar seu sonho. Apesar das dificuldades encontradas a gralha não desiste do seu sonho, continua voando o mais alto que pode, dia após dia, sem desistir e ainda encontra

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tempo de plantar a esperança que é simbolizada pela reconstrução da floresta. Assim, quando a gralha conquista seu sonho, ela se depara com seu bando que também ficou azul. Isso quer dizer que nossos desejos podem alcançar outras pessoas, ainda que não tenhamos noção disso. Um grande empenho pode gerar grandes ganhos, para além de nós. Outra mensagem importante do livro é a relação que a gralha tem com seu alimento. Ela come assim que o encontra, outra parte armazena nas fendas dos pinheiros, e alguns grãos ela planta com suas bicadas. Esse fato pode ser traduzido para a relação do homem com sua situação financeira, demonstrando o consumo em curto prazo, que se armazenar estará poupando e, quando planta, está investindo. Conclui-se então que A Lenda da Gralha Azul é uma história que faz o leitor refletir sobre a busca dos seus sonhos, mostrando diversos valores dessa trajetória. Ressalta que não se deve desistir nas primeiras dificuldades, que sempre se deve manter determinado e focado na conquista. É uma interessante forma que Márcia Tolotti encontrou para que reflitamos sobre a situação financeira de nossas vidas.


Márcia Tolotti

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árcia Tolotti é fundadora da empresa MODDO conhecimentos estratégicos, que oferece soluções inovadoras de gestão para escolhas pessoais sustentáveis integrando os conhecimentos da psicanálise, psicologia, empreendedorismo e economia, sendo a primeira empresa a ter programa continuado de educação financeira com metodologia especialmente desenvolvida. Responsável pela implementação dos primeiros programas de educação financeira in company do Brasil, Márcia Tolotti é Pós-Graduada no MBA em Marketing pela FGV, Psicanalista pelo CEL e EEP (vinculada a Associação Lacaniana Internacional – ALI), graduada em psicologia pela UCS e Mestre em Letras e Cultura pela UCS. Leciona em MBAs, é palestrante, e escritora com mais de 20 mil exemplares vendidos. Dentre suas obras estão: O Desafio da Independência, Passageiros do outono, A lenda da gralha azul, Empreendedorismo – Decolando para o futuro, As armadilhas do consumo. LiteraturaCaxiense Recente

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Marcos Fernando Kirst Silêncio em poemas

Obra do escritor Marcos Fernando Kirst, vencedora do Concurso Anual Literário de Caxias do Sul de 2011, apresenta poesias que revelam o que acontece com quem vive momentos de total silêncio

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ausência de som em certos momentos pode dizer muito. Para perceber essa mensagem, é necessário abrir mão dos cinco sentidos e compreender o que acontece em situações de silêncio. É isso que a coletânea de poemas Em Silêncios, do escritor gaúcho Marcos Fernando Kirst, consegue fazer. De uma forma sólida, realista e às vezes até irônica, o escritor traz à tona fatos por trás do silêncio cotidiano que, muitas vezes, passam despercebidos em uma sociedade barulhenta. O livro com 79 poemas foi o primeiro de poesia de Kirst, e mesmo sendo estreante no gênero, ganhou o Concurso Anual de Literário de Caxias do Sul, promovido pela Biblioteca Pública Municipal Dr. Demetrio Niderauer em 2011. Como prêmio, teve a obra publicada em 2012. A ideia de escrever um livro de poemas não foi feita deliberadamente. Segundo o autor, os primeiros 20 poemas da obra vieram de uma espécie de 'surto criativo' que ele teve durante uma noite, há alguns anos. Ao acordar, passou a limpo do caderno para computador e, ao longo da semana, surgiram os demais que completaram a coletânea.

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por Ana Cláudia Mutterle

Por ter sido a primeira experiência com poesia, Kirst não se deteve na estrutura poética. Segundo ele, optou por versos livres e levou em conta o ritmo, a temática única e a imagem que os versos iam formando. De certo modo, a forma irregular combina com as histórias diferentes que se ligam apenas pelo tema, de uma forma bem sutil. Forma-se um bonito conjunto, entre ritmo, conteúdo e formato. No entanto, o que mais se destaca na obra é a profundidade em que o autor mergulha ao narrar fatos corriqueiros que acontecem durante momentos de silêncio. O simples cair da última pétala de uma rosa morrendo se transforma, no mesmo poema, em algo sublime, ao olhar sob o ponto de vista da flor, e algo cotidiano, se olhado pelo homem que está atrasado indo pegar ônibus. Além de revelar o que ocorre por trás do silêncio, essa contradição apresentada nos poemas Florais e Florais II critica a correria do homem moderno, que não se encanta mais com os espetáculos da natureza. Outra contradição interessante que Kirst revela são os momentos de certeza que o ser humano tem. Está narrado no poema In/Certeza o ato da pessoa dizer algo confiante, mas que

dentro da alma se lança a um imensurável vazio cheio de dúvidas. Da mesma forma ocorre no poema Discurso, em que alguém desabafa com raiva, mas em frente a um espelho. Por mais que o sujeito tenha conseguido colocar para fora o que ela queria dizer, o desabafo tratou-se apenas de um ensaio em frente ao espelho. Em Devoção, o autor percebe um silêncio cheio de significados que sempre é despercebido. A fé que está implícita nas frações de segundos de silêncio, após todos pronunciarem no fim da missa o último 'Amém'. No poema Insight, Kirst destaca a substituição da fala por um olhar como forma de aprovação de uma nova ideia ou de um sentimento que dois indivíduos estavam gerando. A poesia mais surpreendente da obra talvez seja Obrigação. A chama da vela é


Marcos Fernando Kirst colocada em quatro situações totalmente diferentes em que ela ganha distintos significados: em um corte de luz, em um velório, em um bolo de aniversário e em um jantar romântico. Situações importantes e absolutamente diversas da vida do ser humano, em que a vela tem o mesmo papel: fornecer luz. Kirst foi motivado a escrever sobre coisas tão imperceptíveis aos olhos e ouvidos por gosto pessoal. “Aprecio o silêncio e defendo que o mundo moderno anda proporcionando cada vez menos espaço para ele, o que é uma perda humana muito preocupante. É no silêncio que nos encontramos com nós mesmos e é nele que refletimos sobre o que somos, o que fazemos. E as pessoas hoje fogem muito disso”, coloca o escritor. Em silêncios revela que, por trás das ações humanas, há o subconsciente humano, que dota tudo o que faz de sentido e de significado. Olhar sob o ponto de vista dele é uma experiência reveladora. Kirst comprova em seus poemas que, para entender o que acontece em momentos de silêncio, só com reflexões, tempo e, talvez, muito silêncio.

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Marcos Fernando Kirst

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arcos Fernando Kirst é escritor e jornalista, nascido em Ijuí, em 1966, e radicado em Caxias do Sul desde 1992. Na município, trabalhou no jornal Pioneiro como editor, durante 10 anos. Em 2002,ajudou a criar o impresso Diário de Santa Maria, veículo da RBS na cidade. Nos anos seguintes, até maio de 2004, foi editor do jornal O Farroupilha e, após, encerrou sua atuação em redações. Em 2007, publicou seu primeiro livro A História nas Estantes: 60 Anos da Biblioteca Pública Municipal Dr. Demétrio Niederauer. Em seguida, publicou oito resgates históricos, uma biografia, um infanto-juvenil, um romance, um de poemas e uma antologia de crônicas, além de continuar publicando crônicas em jornais e revistas. Em 2010, foi Patrono da Feira do Livro de Caxias do Sul e, desde dezembro de 2012, ocupa a cadeira 11 da Academia Caxiense de Letras. Atualmente, Kirst está escrevendo uma obra com o artista plástico Antônio Giacomin, chamada Serra Gaúcha: O Passado FOTO: Pauline Gazola Presente. Os autores visitaram toda a região da Serra, registrando a arquitetura, os utensílios e os hábitos antigos que seguem vivos nos dias de hoje. Além da obra, a pesquisa resultará em uma mostra de aquarelas de Giacomin. O livro tem previsão de ser publicado no início de 2014. Kirst pretende escrever, no segundo semestre de 2013, uma pesquisa sobre a vida da poetisa Vivita Cartier, que morreu em 1919, em Criúva, onde se tratava de tuberculose. Ela morreu aos 26 anos. Vivita é patrona da cadeira que Kirst ocupa na Academia Caxiense de Letras. Kirst conta que, como leitor e produtor, no âmbito da literatura ficcional, é um grande apreciador de prosa, como romances, contos e crônicas. Suas referências de poesia são Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, Manuel Maria Du Bocage e Carlos Drummond de Andrade. Na opinião do autor, a produção literária atual é formada por obras boas e ruins, como em todas as épocas. A facilidade da publicação tornou mais fácil circular o que tem pouca qualidade. No entanto, cabe aos leitores saberem separar o joio do trigo.

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Maristela Scheur Deves Os biscoitos com sabor de infância

Contando um pouco de sua própria história, Maristela Scheuer Deves publica o seu terceiro livro, o qual ela diz ter iniciado como uma brincadeiras entre amigos e que logo virou um novo projeto

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aristela Scheuer Deves traz em sua nova obra, Os deliciosos biscoitos de Oma Guerta, uma história carregada de lembranças da infância, que encanta não só as crianças mas também aos adultos. De forma simples, Maristela consegue despertar sentimentos que remetem ao tempo das nossas avós. Publicado em 2013,o livro é a realização do sonho da escritora que começou por acaso, em um grupo de amigos que gosta de literatura. Formada em jornalismo pela Universidade Federal de Santa Maria, Maristela trabalha no jornal Pioneiro . Ela nasceu em Pirapó, na região das Missões, e retrata no livro parte da sua infância vivida em meio a descendentes da cultura alemã. A delicadeza das memórias infantis são destacadas no livro, que acaba remetendo ao tempo de criança de muitos moradores da região Sul. A história fala de Mariazinha, uma menina que adorava visitar a avó e deliciar-se com as guloseimas que a “Oma” preparava. Durante uma dessas visitas a menina descobre o grande segredo dos quitutes da avó serem tão bons. Ao entrar na cozinha,

por Liliane Fernandes de Oliveira

Mariazinha se depara com Kerb, o gato da avó, lendo as receitas do livro enquanto ela prepara a comida. A garota, espantada, questiona a avó sobre o felino, que por sua vez fica indignado com a menina. A avó, com muita calma, explica que esse era o segredo dos doces que prepara. Contou-lhe que se tratava de um livro de receitas mágico escrito com tinta invisível e que o gatinho, que vinha de uma linhagem especial de gatos poderia ler, e que somente ele conhecia as palavras mágicas para finalizar as guloseimas. Percebendo que Mariazinha ficara encantada com tudo que estava vendo, a Vó achou que já era hora da menina aprender a fazer os doces e a ter seu próprio gatinho. Todo esse “conto de fadas”, segundo a autora, é parte de sua vida, e bastante familiar à região da Serra Gaúcha. A história é curta e de fácil entendimento, o que facilita a compreensão das crianças, e também muito didático, já que vem carregada de expressões em alemão como “ Oma”, que significa avó, “kinder” é criança, entre outras que se encontram em um glossário no final do livro. Apesar das palavras em língua estrangeiras o livro tem uma linguagem

fácil, o que o torna singelo, porém dá abertura para muitas possibilidades de discussões e trabalhos em sala de aula. Maristela Deves pretende trabalhar a obra em escolas de forma pedagógica , com o intuito das novas gerações valorizarem e manterem vivas as tradições dos povos que ajudaram a colonizar nossa região.

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Maristela Scheur Deves

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FOTO: Pauline Gazola

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screver sempre foi o sonho de Maristela Scheuer Deves, 38 anos, que desde pequena fazia dos livros seus grandes companheiros. Ela nasceu em Pirapó, nas Missões, e há mais de dez anos está radicada na Serra Gaúcha. Por meio da formação em jornalismo, fez da escrita sua profissão, já que , segundo ela, não havia faculdade para escritor. Trabalha desde 1997 no jornal Pioneiro, de Caxias do Sul. Nesse período, já atuou como repórter e editora dos mais diversos assuntos, e atualmente atua como editora assistente de Variedades . Desde 2009, mantém o blog Palavra Escrita, voltado ao mundo dos livros.Começou escrevendo contos, crônicas e poesias até, finalmente, chegar aos romances. Fã dos bons romances policiais como os de Agatha Christie, estreou na literatura em 2010 com o livro deste gênero, A Culpa é dos Teus Pais, e depois O caso do Buraco lançado em 2012, voltado para o publico infanto- juvenil. No seu terceiro livro Os deliciosos biscoitos de Oma Guerta, voltado para as crianças, Maristela Deves retrata partes de sua vivência, e diz que no livro há mais elementos verdadeiros do que fictícios. Maristela Deves pretende trabalhar a história junto com escolas, para divulgar a cultura alemã e despertar o gosto pela leitura nas crianças. Sobre a nova obra, Maristela diz que houve bastante aceitação da história, apesar de não abordar a cultura italiana, que é predominante na região, e que escrever para crianças é apostar na formação de uma nova geração de leitores.


Pedro Guerra

Revelando o mistério

O jovem escritor Pedro Guerra conseguiu realizar o sonho que almejava desde os 12 anos. O romance policial Você pode guardar um segredo foi a sua primeira obra publicada por Camila Valentini

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uspense, crimes, perseguição, mistério. É praticamente senso comum a curiosidade, querer saber o segredo alheio, principalmente se este esconde um enredo que não deveria ser revelado. É nesse contexto de romance policial que o autor do livro Você pode guardar um segredo, Pedro Guerra, constrói o cenário da sua obra. Pedro é estudante de Jornalismo e de Letras pela Universidade de Caxias do Sul e, desde seus 12 anos almejava publicar um livro. Seu desejo se concretizou em 2012, quando lançou oficialmente sua obra. Apesar da pouca idade, 21 anos, essa não é a primeira vez que escreve para o público. Pedro já havia escrito “O menino debaixo da minha cama”, em 2010, o qual o autor encarou como um teste, para verificar se conseguiria organizar de forma clara suas ideias e gerar um material uniforme. O livro não foi publicado, mas o jovem escritor disponibilizou, em 2011, a obra para download em seu blog santacretinice.com. Pedro relata que teve um feedback positivo e isso lhe incentivou ainda mais a continuar a escrever. O que realmente aconteceu e, assim, Você pode guardar um segredo foi publicado.

Pedro Guerra teve sua inspiração na autora Agatha Christie, que é considerada a "Rainha do Crime”, por aliar uma imaginação brilhante à sua grande habilidade como narradora, que conquistou gerações com suas histórias de mistério e suspense. A escritora inglesa recebeu a mais alta condecoração do Reino Unido em 1971, tornando-se "Dame Agatha Christie". Você pode guardar um segredo é um livro que transmite a personalidade do autor. O leitor que prestar atenção percebe que número “13” está presente em todo o livro. Nos capítulos, nas datas, inclusive no número das páginas. Como se deve imaginar, essa questão é alusiva ao número da sorte do escritor. Percebe-se também que o título dos 13 capítulos são nomes de cores, fato também observado no sobrenome dos personagens. O suspense que desperta a curiosidade em saber o enredo da história está presente desde o inicio do livro, no primeiro capítulo intitulado “vermelho” e segue até o capítulo “outro tom de cinza”, em que se dá o desfecho da obra. Nos primeiros capítulos o leitor quer saber o porquê que uma moça visita frequentemente o psicoterapeuta

Giles Brown, e assim percebe-se uma relação “diferente” entre ambos. As lembranças já começam aí. A personagem principal da história, uma mulher de 27 anos, Christine Reed, trabalha no laboratório fotográfico Revelando Sorrisos, no Condado de Greenpack, apelidada carinhosamente de “Avelã”, em virtude de seus cabelos castanhos, pela amiga e chefe Rebecca White. O suspense se intensifica na história quando a laboratorista começa a receber fotos de um suspeito cliente. Ao revelar as fotos, Reed percebe que as imagens trazem mensagens que a deixam receosa e a faz pensar se alguém descobriu o seu segredo. Em meio a perseguições, Avelã conhece (em um encontro às escuras, que em certo momento articulou de escapar pela janela do toalete de um restaurante), uma pessoa LiteraturaCaxiense Recente

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Pedro Guerra pela qual se encantou, o charmoso John Gray. E ao que tudo indica, existe a reciprocidade desse sentimento. Mas na situação em que se encontra Christiane não pode se envolver e correr o risco de mais alguém se machucar. Para desvendar o mistério, Christiane Reed, depois de passar um período em uma clínica de reabilitação, pede ajuda à Rebecca White. Elas precisam saber quem está enviando as fotos antes que algo ruim possa acontecer, ou voltar a acontecer. Mas para tanto, Reed precisa confessar o que fez em 13 de março. Mas até quando se pode guardar um segredo? O desejo de saber o que vai acontecer nos capítulos é algo que prende claramente o leitor. Os detalhes são muito bem escritos, o que faz com que se possa imaginar toda a cena e, muitas vezes, questionando-se sobre o que se faria se estivesse na mesma situação. O desfecho só se dá no último capítulo e é realmente surpreendente. Pedro anuncia que este ano vai lançar um novo livro. A obra é intitulada como A Rainha está Morta. É um romance policial que conta a história da Rainha da Festa da Uva de Caxias do Sul que foi assassinada. O autor foi contemplado em um projeto de literatura no Financiarte, que financia projetos relacionados à cultura de Caxias do Sul e ajuda os diversos meios artísticos. Pedro Guerra é um dos nomes que compõem a Literatura Caxiense Recente, e não é segredo para ninguém que ainda ouviremos falar muito sobre ele.

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Pedro Guerra

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FOTO: Pauline Gazola

edro Guerra, 21 anos, natural de Caxias do Sul, é estudante de Jornalismo e de Letras pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Desde pequeno, o autor se interessa muito pelo universo literário. Autores consagrados como Ágata Christie, Stephen King e Sidney Sheldon são suas inspirações. Desde os 12 anos Pedro nutria a vontade de publicar uma obra. Em maio de 2012, em formato digital para download, lançou seu primeiro livro chamado “O menino debaixo da minha cama”. A história relata a vida de uma adolescente com problemas incomuns que, de repente, se depara com uma situação inusitada: esconder um garoto fugitivo debaixo da sua cama. A obra foi bem recebida pelos leitores e recebeu críticas positivas. Desde então Pedro escreveu outros livros. O primeiro intitulado O atalho para uma mente compilada é uma reunião de crônicas, contos e poesias. O outro é um romance policial publicado, Você pode guardar um segredo? O próximo livro do autor será A Rainha está Morta. LiteraturaCaxiense Recente

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Pedro Suita Ekman A Escuridão de Ekman

A obscura e surpreendente trilogia 'Cidade das Trevas', recente obra da literatura de terror de Caxias do Sul, apresenta aos fãs do gênero uma história de proporções inimagináveis

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literatura de terror/horror nacional nunca conseguiu obter um profundo apreço entre o público, ou mesmo em grandes casas editoriais. Apesar de influentes nomes internacionais como Edgar Allan Poe, Lovecraft e, talvez, o maior ícone do gênero, Stephen King, inovarem e transformarem a categoria, além de terem conseguido ganhar imensa notoriedade com suas brilhantes histórias de horror, a realidade brasileira para com esse estilo não é das mais favoráveis. Contudo, Rochett Tavares e André Vianco são bons exemplos de que é possível, sim, no Brasil, fazer literatura de terror com qualidade, trabalhando muito para contribuir com a classe. E é seguindo esse caminho, com muita serenidade, que vem o ainda muito jovem escritor, Pedro Suita Ekman. Ekman, de imediato, tem a seu favor um grande diferencial: não só criou e lançou um livro de terror, como em pouco tempo, publicou três — uma extensa e interessante trilogia denominada “Cidade das Trevas”. A trilogia de Cidade das Trevas foi toda lançada em apenas dois anos pela editora Novo Século, em Caxias do Sul, terra natal de

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por Gabriel Buffon Bordin

Ekman, que está presente no livro em determinados momentos. Percebendo que as pessoas estão cada vez mais interessadas em publicações nacionais, Ekman viu uma boa oportunidade de mostrar sua capacidade em uma obra carregada de magia, mortes, criaturas malignas, sangue e batalhas. A história que conduz a trilogia acompanha um grupo de campistas que, acidentalmente, entra em uma misteriosa cidade tomada pela destruição e pelo mal, e se veem ali presos, em meio a uma intensa guerra que dura séculos. Com isso, o grupo de jovens é levado aos mais altos perigos, procurando sobreviver em território inimigo consumido de poder e magia, para poderem enfim saírem da Cidade das Trevas, ou morrer tentando. O primeiro livro “Cidade das Trevas: A Busca ao Espírito do Bem”, lançado oficialmente em julho de

2011 é, sem dúvida, o que mais perfeitamente se enquadra dentro da categoria terror/horror. Afinal, aqui o leitor vai se deparar com muito sangue, duelos, mortes, perigos, criaturas mortais, além de uma boa dose de suspense. O ponto alto dessa primeira parte é ver como a narrativa evolui prendendo o leitor a cada capítulo, criando uma atmosfera de tensão e mistério, apesar das várias bizarrices que vão surgindo no caminho do grupo de campistas. “A Busca ao Espírito do Bem” também não escapa de alguns clichês, algo que é compensado ao introduzir muito bem seus personagens e inseri-los na Cidade das Trevas. Ao final dessa edição, a incógnita deixada em aberta, com a história dividindo-se em dois núcleos, certamente provoca de imediato o desejo de ler o volume seguinte. A continuação da trilogia, publicada logo três meses depois da divulgação do primeiro volume, recebeu o nome de “Ataque dos Vampiros”. E é nessa


Pedro Suita Ekman segunda parte que Ekman amadurece em sua escrita, focando mais no relacionamento de seus personagens diante de todo o mal existente. As cenas que fazem jus ao terror, diminuem, mas consequentemente os poucos momentos realmente assustadores trazem um bom volume de suspense e temor ainda maior do que em relação à Busca do Espírito do Bem, deixando a história ainda mais eficiente. O marcante dessa parte é o surgimento, surpreendente e inesperado, da grande vilã da Cidade das Trevas, Phantomas, que contribui para um melhor desenvolvimento da trama, dando início para grandes e futuras reviravoltas e questionamentos. Publicado em 2012, “Cidade das Trevas: A Terra Sagrada”, conclusão da saga, é certamente o melhor e mais complexo livro, estabelecendo ao longo de seus 18 capítulos perguntas que vão sendo respondidas, amarrando devidamente as pontas soltas, até então, da história, com o auxílio de interessantes flashbacks. Aos poucos a derradeira batalha vai se aproximando, testando seus personagens emocionalmente e fisicamente, deixando tudo ainda mais dramático, emocionante e apreensivo. A trilogia chega ao fim com muita simplicidade e delicadeza, dando ao seu protagonista um destino gratificante e ao leitor uma sensação de vazio. Depois de tantos acontecimentos e reviravoltas desta apreciável literatura de Ekman, infelizmente, tudo acaba. O grande destaque de toda narrativa fica por conta dos excelentes personagens e suas características. No decorrer da leitura fica difícil não se importar com Dambros, Tebaldi e Jordana, por exemplo. Apesar da história deixar de ser tão assustadora em relação ao início e focar mais nas relações e conflitos dos personagens, os quais procuram ultrapassar cada obstáculo em busca da sobrevivência, isso acaba contribuindo impecavelmente para a trama, mostrando o quanto Ekman amadureceu e cresceu no desenrolar de cada capítulo. Contando com mais de um núcleo a partir do segundo livro, tudo é muito bem estruturado para provocar ainda mais curiosidade. Afinal, não é fácil prender o leitor do início ao fim em uma longa história com quase 1000 páginas. Pedro Ekman pode não ter um forte reconhecimento e ser ainda pouco conhecido pelo público, mas seu livro de linguagem fácil, contribui e muito para a recente e nova literatura caxiense, e a nível nacional também. É admirável e respeitável ver um jovem de muito potencial ir aos poucos buscando seu lugar ao sol, ou talvez nas sombras, considerando a escuridão de sua obra-mestra. O caminho de Ekman ainda é longo. Resta aguardar e torcer para que o seu novo, e já em andamento projeto, firme seu nome como escritor.

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Pedro Suita Ekman

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edro Suita Ekman é natural de Caxias do Sul – Rio Grande do Sul. Estudante de Publicidade e Propaganda na Universidade de Caxias do Sul, nasceu em 8 de outubro de 1991, e ainda muito novo, com apenas 12 anos, começou a escrever por puro prazer pequenas histórias de terror, sua verdadeira paixão. Tem profunda admiração pelo escritor e roteirista Sidney Sheldon, seu autor favorito, por conseguir deixar sempre em suas obras aquele gostinho de quero mais ao final de cada capítulo. Segundo o próprio Ekman, sua escrita absorveu um pouco do estilo do paulista André Vianco. Viciado em mangás e animes, exerce a função de crítico no site Elfen Lied Brasil, resenhando sobre a cultura pop asiática, em especial a japonesa. Suas reviews levam a assinatura de Critico Nippon, como é gentilmente chamado. Aprecia também o melhor do cinema, da literatura e da televisão, que o influenciaram a ter profunda admiração por histórias de terror/horror. Ekman, com todas estas referências, tinha em mente escrever uma grande narrativa de terror. Na época, só lhe ocorriam duas locações: a famosa “Casa Mal Assombrada” ou a “Cidade Fantasma”. Acabou optando pela segunda opção por parecer claramente mais ampla. Sendo assim, não demorou muito para escrever uma grande história, que depois de três anos da sua conclusão, foi lançada para todo Brasil em forma de trilogia, intitulada “Cidade das Trevas”.

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Regyna de Queiroz Gazzola Emoção, graça e requinte

A Arte de Conviver de Regyna Gazzola oferece experiências em etiqueta e ensina como se comportar em diversas situações, desde festas de casamento a reuniões de negócios. por Marina Compagnoni

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Arte de Conviver é uma série de crônicas que foram publicadas por Regyna de Queiroz Gazzola na revista caxiense Acontece nos ultimos quatro anos. A coletânea, em sua maior parte, traz dicas de etiqueta, que podem ser usadas em qualquer situação pelos leitores. O livro é complementado por experiências do seu cotidiano e sentimentos da autora. Regyna faz parte da academia caxiense de letras onde ocupa a 7ª cadeira e foi presidente nas gestões de 96 e 97. Também é fundadora da Confraria da Etiqueta A Arte de Conviver há mais de 6 anos com um grupo de alunas. Além dessas atividades, Regyna ministra aulas e palestras sobre etiqueta em entidades, particular e em grupos. O livro A Arte de Conviver mostra dois lados da autora. Um deles, expõe a sua profissão e paixão que é ensinar como se portar diante de situações como jantares, entrevistas de emprego, visitas e reuniões de negócios. São dicas de etiqueta para não cometermos gafes quando estamos entre amigos ou colegas. As crônicas também trazem seus sentimentos mais íntimos e

histórias que vivenciou, como o falecimento de seu marido, que fez com que escrevesse sobre seu luto e a saudades que tinha naquele momento. Ela desabafa o que sentiu naqueles momentos de solidão, porém compreende que sua dor não era maior ou menor do que de outra pessoa que passasse por situação semelhante. As crônicas de Regyna ajudam em situações que geralmente geram constrangimentos. A forma com que ela escreve é leve e de fácil compreensão. Suas experiências foram bem refletidas provocando a sensação de que o leitor faz parte das situações narradas.

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Regyna de Queiroz Gazzola

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egyna de Queiroz Gazzola é natural de Caxias do Sul, filha de professora, em quem se inspirou na vida e aprendeu português. Regyna se formou em francês na escola Dinaci na França e no curso de Letras na Universidade de Caxias do Sul, possui mais de nove livros publicados. Suas maiores influencias literárias foram Leo Buscaglia e Roberto Shinyashiki, ambos escrevem sobre afeto. Já o Dr. Claudio Rhein, com quem fez um curso de auto conhecimento por quase13 anos, foi quem lhe inspirou a falar de como vivemos em um mundo onde existe os outros a quem devemos respeitar e saber conviver. Regyna escreve semanalmente crônicas para a revista caxiense Acontece há mais de quatro anos. Ministrou aulas para candidatas à rainha e princesas da Festa da Uva e frequentemente é convidada para ensinar às debutantes do Clube Juvenil e Recreio da Juventude de Caxias do Sul.

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Rejane Romani Rech O valor de nossas antepassadas

Escritora caxiense lança seu primeiro romance através de uma mescla entre ficção e realidade, desvendando os mistérios e a força de uma geração de mulheres de origem italiana

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ulheres e destinos é a mais recente publicação de Rejane Romani Rech. Trata-se de um romance, um gênero que a escritora não havia publicado até então. O livro conta a trajetória de uma geração de cinco mulheres: trisavó, bisavó, avó, mãe e filha. A narrativa inicia contando a trajetória de Maria, a trisavó, vinda da Itália juntamente com seu marido, Ermino, um homem muito culto, que trouxe em sua mala livros e alfabetizou seus próprios filhos. Ermino foi um dos fundadores da maçonaria em nosso país. A maçonaria é uma organização discreta e restrita a algumas pessoas, que tem como um dos princípios a busca pelo aperfeiçoamento intelectual. Nessa primeira parte do livro, pode-se ver o que essa mulher, que teve o norte da Itália como berço, encontrou ao sair de seu país e encaminhar-se ao sul do Brasil, juntamente com aquele que fora seu amor e companheiro. Chegando à nova morada, sofreu com a falta de recursos. Mesmo assim, lidou com isso tudo e foi uma mãe muito preocupada com a criação de seus filhos e netos. Em seguida, surge Antônia, a bisavó. Antonia começa a narrativa

por Tarciana Teles

contando o quanto era admiradora de seu pai, um homem amoroso e dedicado com a família. Ela desejava que Deus colocasse em seu caminho um homem como ele e que pudesse ser tão feliz quanto foi sua mãe. Entretanto, ela sofreu com a mágoa de viver na colônia. Casou-se muito jovem e teve muitos filhos. Além de padecer com as dificuldades da época para conseguir criar seus filhos (seis filhos de sangue e um adotado) e cuidar de sua casa, também tinha que suportar o machismo daquele tempo. Naquela época, os homens tinham mais liberdade do que as mulheres, frequentavam bodegas, davam suas “escapadas” noturnas. Essas atitudes eram vistas com normalidade pela sociedade. Antônia sofreu com um casamento mal sucedido. Seu marido agia de forma indiferente, por vezes desumana. Além disso, acredita que não poderia oferecer a seus filhos menos do que lhe foi oferecido pelos seus pais. Ao final do relato, conclui que aprendeu a dançar conforme a música, e afirma que envelhecer trouxe, de alguma forma, paz de espírito. Durante a narrativa, Rejane torna-se íntima do leitor falando de características de Caxias do Sul. Exemplos disso são o momento em que

ela cita a fundadora do bairro Ana Rech, hábitos gaúchos, como o chimarrão, fala da religiosidade que os imigrantes italianos trouxeram, deixando claro o amor que existia entre os casais. A autora foca no romantismo, citando como os casais se conheciam e envolviam-se. A terceira mulher, Roma, vem para romper barreiras. Roma cresceu com a certeza de que não gostaria de levar uma vida sofrida como foi a de sua mãe. Então, agarrou-se ao amor que sentia pelo marido e à vontade de ter uma vida melhor. Após morar um tempo com a sogra, tempo esse em que passou por dificuldades na convivência, ousou vir à Caxias do Sul. Com Roma, não foi diferente: passou por necessidades financeiras para se manter na nova cidade. Ela e Nestor, seu marido, tinham pouco estudo e, em função disso, não conseguiam bons empregos. LiteraturaCaxiense Recente

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Rejane Romani Rech Tiveram quatro filhos. Sua morada era simples, sem luxos. Aos poucos, com muita dedicação e trabalho, essa forte mulher conquistou seus sonhos: primeiro uma casa própria, depois um banheiro com chuveiro e água encanada, em seguida uma máquina de lavar. Aos cinquenta anos, ela foi uma mulher realizada, conseguiu conquistar praticamente tudo o que almejou. Na sequência, conhecemos Roxane, a mulher característica dos dias de hoje. A personagem fala através de um diário. Para isso, a autora emprestou à personagem suas anotações pessoais, Rejane sempre foi uma grande leitora, além disso, guardou anotações de suas vivências. Roxane representa a mulher atual na fase em que passa por mudanças corporais e mentais. Conta como perdeu sua mãe para a diabetes e o quanto sofreu quando seu pai decidiu se casar novamente. Via a união dos pais como algo que não deveria acabar mesmo após a morte de um deles. No decorrer da história, ela vai citando acontecimentos importantes em sua vida, como foi a formatura de sua filha Emanuela. Suas anotações são devaneios de uma mulher que se sente sozinha e tenta entender o sentido da vida e dos acontecimentos ao seu redor. Emanuela é a quinta mulher da história, filha de Roxana, uma jovem que saiu de casa cedo para estudar na capital e se formou em medicina, fala vários idiomas e adora viajar. A jovem se compara às mulheres citadas anteriormente. Ela vem de uma grande evolução feminista, herdando muita força de suas antepassadas para chegar onde chegou. Emanuela finaliza o ciclo dessa geração de fortes damas, fazendo uma viagem à Itália, voltando para Canetos, a cidade de onde veio a primeira mulher da história.

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Rejane Romani Rech

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FOTO: Pauline Gazola

asceu em fevereiro de 1957, em Caxias do Sul onde reside, é formada em Letras pela Universidade de Caxias do Sul, atuou no magistério durante 15 anos, Rejane sempre foi uma grande leitora, além de apreciar um bom livro sentia a necessidade de manter-se atualizada para estar apta a ministrar aulas de qualidade aos seus alunos. Aposentou-se aos 35 anos, devido a um problema de saúde. Após ter parado de trabalhar precocemente começou a escrever, no início eram pequenos textos, que logo se tornaram crônicas e contos foi então que ela decidiu arriscar-se e participar de concursos literários. Após ser premiada em alguns concursos, sentiu-se à vontade para começar a publicar. Suas obras são: “Amor de Estudante” , novela de temática adolescente, publicado em 2004, “Antes que seja tarde” , coletânea de contos intimistas, publicado em 2006, “Sê como Sândalo”, traz uma dúzia de contos que percorrem caminhos da infância, maturidade e velhice, lançado em 2008, foram adotados em escolas no ensino fundamental e médio. Sua mais recente publicação é “Mulheres e Destinos”, lançado em 2012. Rejane é casada, mãe de dois filhos, uma pessoa simples e caseira que ama a literatura, jardinagem, enfim, sossego. LiteraturaCaxiense Recente

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Tiago André Vargas

Sangue e Amor

Uma faca. Um alvo. Um suspeito. Promessas, ciúmes e amores enlouquecedores. Um livro pra ficar na cabeça. Um vício. Relato de muito suspense que marca a boa estreia de Tiago Vargas

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ariposas no Útero é a obra de estreia do caxiense Tiago André Vargas. Um romance misterioso, aventureiro e emocionante. O envolvimento familiar, amor de pai pra filho, paixões e loucuras faz o leitor participar da história de forma intensa. Já no começo da trama um assassinato misterioso faz com que o leitor fique imaginando quem poderia ter cometido a maldade: “Com as mãos sobre o estômago o jovem caiu de joelhos no chão e sua boca que antes irradiava aquele belo e jovial sorriso agora era berço de um pequeno filete de sangue...” Vargas é minucioso, faz descrições em detalhes, e isso leva os leitores a se prenderem cada vez mais na historia: “Quando você acorda e a primeira sensação que tem é um objeto estranho dentro das suas narinas, antes mesmo de ser banhado com a claridade ou escutar algum som...”. Tiago Vargas teve inspiração para escrever desde quando leu uma obra e não gostou do final. Percebeu, ali, que ele próprio poderia criar uma história. Começou então a escrever o romance Mariposas no Útero, lançado em 2012, voltado para a fragilidade da

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por Karina Catuzzo Rodrigues

vida: “Coisas frágeis podem ser tristes, mas também bonitas, dependendo o ponto de vista.”. E o romance traz muitos personagens: Josh, Andréia, Débora, Mayara, Roberto, Afonso... Mariposas no Útero começa com um encanto por uma garçonete, passa por assassinatos, confusões, ameaças e quase “roemos” as unhas para descobrir qual o final deste enredo que hipnotiza. O interessante é que, na leitura, o autor volta no tempo para entender a historia dos personagens, da onde vieram, quem são, por que estão ali. No Capítulo XV, por exemplo, Vargas interrompe o relato da vida de Josh e sua loucura por uma garçonete para contar as trajetórias de Afonso e Roberto, que também são personagens chave no desfecho do romance: “Foi assim que o homem que não havia mais nome, o homem que se considerava uma sombra e atendia apenas por duas formas, filho e anjo, concebeu seu quarto ao acordar e permanecer sentado na cama”. Mariposas no Útero pode ser considerado um livro de certa forma confuso, pois o enredo é misturado de propósito pelo autor. Assim, o leitor deve redobrar a atenção ao ler. “Fora queimado o plano divino, descrente o

destino, restou apenas o acaso. E o acaso é um velho bêbado de revólver empunhando mirando nos teus rins, exigindo que uma música inexistente seja dançada.”. Em muitas vezes, o mistério ronda a historia, faz mergulhar em um misto de medo e curiosidade: “Tratava-se da mulher de cabelo castanho claro que apeava da moto. Tratavase de uma mulher que tinha a pele clara sem ser morta, uma mulher que tinha algum demônio dentro do corpo...”. Mas, o romance, também traz passagens que bem relatam as relações sentimentais. “Sim, ela era um doce. Olhou para Josh por um vasto momento enquanto ele babava sutilmente no canto do travesseiro e depois de um pequeno sorriso, decidiu fazerlhe um chá. Que tipo de mulher faz isso? Talvez uma mulher apaixonada.”. Mariposas no Útero filtra a


Tiago André Vargas imaginação, encanta, amedronta. Usa um acontecimento do cotidiano, que pode acontecer com qualquer pessoa e desvenda mistérios... um leitor que vai a um bar e esbarra em uma garçonete e, no fim, descobre que ela é peça fundamental na sua vida. O suspense prende a atenção e, como se fosse um filme, carrega no suspense: “Nenhum pintor mostra seu quadro inacabado. Se você entende o processo, o resultado perde o valor.”

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Tiago André Vargas

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FOTO: Pauline Gazola

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iago André Vargas é natural de Caxias do Sul, do distrito de Vila Cristina. É autor do livro Mariposas no Útero, um romance que traz humor, banalidade e, não raras vezes, o amor. Foi premiado no concurso nacional Associação Nacional dos Escritores, ANE – 50 Anos, com o conto O Violinista e contemplado no 4º Prêmio Literário Sérgio Farina com o conto E Assim se Fez o Mar. Tiago trabalha no seu segundo romance com previsão de lançamento para início de 2014. Sua inspiração para escrever surgiu quando leu um livro e o final o desagradou. Mesmo sendo imaturo na época, ele queria um outro final para a obra. Percebeu então que seria capaz de escrever quando sentiu que não poderia viver sem criar o “seu” final. Para Tiago, o importante não é poder escrever, e sim, querer escrever. É quando querer escrever não é uma escolha, é uma necessidade. É como amar alguém. Assim, as significativas aprendizagens acontecem somente durante a caminhada e toda escolha é certeira se feita com o coração. Para o autor: “Todos os livros que eu li, pessoas que eu conheci, eu acredito que todo e nenhum detalhe da minha vida me colocaria um dia em frente de uma página em branco dizendo: Seja agora quem tu és. Desde então, eu tento ser.”.


Divulgação é o entrave da literatura caxiense

por Diúlit Oldoni e Liliane de Oliveira Encontro inédito indicou a distribuição dos livros como a maior dificuldade para os autores de Caxias do Sul que publicaram obras nos últimos dois anos

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Os autores aguardam junto à plateia na abertura do evento.

riqueza de opiniões sobre o mundo da literatura foi o principal atrativo do evento Literatura Caxiense Recente, que ocorreu no dia 14 de junho, no auditório do Bloco E, na Universidade de Caxias do Sul (UCS). Promovido pelos alunos da disciplina de Mídia Impressa, ministrada pelo professor Paulo Ribeiro, o bate-papo contou com a presença de um público de cerca de 70 pessoas que prestigiaram 18 escritores de Caxias do Sul, que tiveram suas obras recentemente publicadas. A faixa etária dos escritores

era variada, o que tornou ainda mais interessantes seus depoimentos sobre a literatura de Caxias do Sul, o mercado atual e suas ideias com relação à criação literária de maneira geral. A paixão pela escrita foi evidente em todas as falas, visto que a maioria ressaltou que, apesar de o mercado ser difícil e de o retorno deixar a desejar, a necessidade de escrever fala mais alto. Lourdes Curra, uma das escritoras com mais experiência nesse mercado, afirmou em seu relato emocionante que escreve quase por teimosia, uma vez que o retorno

FOTO: Pauline Gazola

financeiro que recebe é muito pequeno. A autora, que escreve ha mais de 60 anos, diz que não pensa em parar de escrever, pois a literatura, que foi descoberta em seu magistério, é o que dá sentido a sua vida. Pode-se perceber que grande quantidade de obras do novo cenário da literatura caxiense são voltados ao público infantil, o que ocorre, de acordo com os autores, por existir maior incentivo à leitura e valorização das obras nas escolas para as turmas que se enquadram nessa faixa etária. Maristela Sheuer Deves relata que LiteraturaCaxiense Recente

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Divulgação é o entrave da literatura caxiense

Antes do evento, aconteceu um bate-papo entre os autores.

FOTO: Pauline Gazola

escrever para o público infanto-juvenil, é apostar em uma nova leva de leitores. As opiniões em relação ao mercado literário caxiense diferem entre si. Alguns dos autores afirmam que as livrarias não valorizam seus autores, dedicando suas vitrines apenas aos best-sellers. O jovem escritor Pedro Guerra, que terá seu segundo livro publicado em setembro, afirma que a culpa não é apenas das livrarias, visto que o próprio escritor também deve se responsabilizar pelo marketing de suas obras. Apesar da dificuldade que encontram para poder publicar suas obras, todos concordam que escrever é uma parte essencial de suas vidas. “Escrever me salva da mais completa loucura”. Foi com essa frase que o escritor Tiago André Vargas iniciou seu depoimento, explicando seu apreço pela criação literária. Ao longo do evento todos os escritores, além de ressaltar a importância do processo de escrita, também deram conselhos aos que pretendem escrever. No final, várias obras foram sorteadas. Após o bate-papo restou um sentimento generalizado da necessidade de uma segunda edição do evento. O bate-papo foi cercado de discussões sobre o mercado literário e o processo criativo.

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FOTO: Pauline Gazola

Lourdes Curra, a mais experiente do grupo, apresentou seu primeiro livro, escrito há 60 anos.

FOTO: Pauline Gazola


Bastidores

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Os Autores FOTO: Pauline Gazola

EM CIMA:

Marcos Fernando Kirst, Luis Narval, Lúcio Saretta, Lourdes Curra, Tiago Marcon, Maristela Scheur Deves, Rejane Romani Rech, Ione Grillo, Cláudio Abreu, Alessandra Rech e Bernardethe Pierina Ghidini Zardo EMBAIXO:

José Otávio Carlomagno, Tiago André Vargas, Pedro Guerra, Maikel Abreu, Alexandro Lima, Cesar Mateus, Fernando Bins e Tiago Marcon

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