Textando

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Jornal-Laboratório UCS - Universidade de Caxias do Sul

Textando Maconha

Especialistas opinam sobre os benefícios e os riscos da liberação da droga. (p. 6 e 7) Caxias do Sul - Primeiro Semestre de 2015 - No 12

Sancionada lei do feminicídio

Presidente Dilma Rousseff aprova lei que torna a violência contra a mulher crime hediondo. A medida já está em vigor desde março deste ano. A tentativa é coibir o aumento constante do número de casos e identificar os principais agressores, já que mais de 83% das ocorrências se dão dentro do lar. (p. 3)

Trânsito

O Brasil passa por uma crise na mobilidade urbana. A previsão é de que até 2050 o número de automóveis no País quadruplicará, saltando de 36 milhões para 130 milhões (p. 18 e 19)


Editorial

U

ma questão de grande relevância e cuja ampliação se faz cada vez mais necessária é a descriminalização e legalização da maconha. O contexto histórico que permeia o assunto em diversos países e que, ainda é vivenciado no Brasil, já demonstrou ser financeiramente de alto custo e com pouca eficiência em termos de resultados. A guerra contra as drogas além de tornar a temática um tabu, gerando ainda mais preconceito por parte da sociedade, traz inúmeras marcas na vida de milhares de brasileiros. Em países como a Holanda, Portugal, alguns estados dos Estados Unidos e, mais recentemente, em nossos vizinhos uruguaios, a discussão da devastadora guerra contra as drogas, que além de ceifar um número altíssimo de vidas a cada ano, apenas afasta uma efetiva solução, já foi mais além e, hoje, a maconha é legalizada, descriminalizada ou liberada. Em alguns países, onde a cannabis já é legalizada, comprovou-se que houve uma redução nos índices de criminalidade e consumo. Legalizar ou descriminalizar a maconha não significa que não existam regras que permeiem o uso. Pelo contrário, liberar a cannabis significa abrir um novo diálogo sobre o seu consumo. Sobretudo, descriminalizar a maconha significa afastar de preconceitos e situações de risco, diversos brasileiros, usuários da planta. Cientificamente, já é comprovado que a cannabis sativa causa menos danos à saúde do que o álcool e o cigarro, por exem-

plo, que são drogas legalizadas. Além disso, como mostra a reportagem de capa desta edição do Textando “Maconha é droga?”, a maconha possui substâncias que podem ser usadas no tratamento de doenças. Além da descriminalização da maconha, outro debate essencial para o Brasil, que mesmo com alguns avanços já alcançados, ainda faz muitas vítimas diariamente é a violência contra a mu­lher. Mesmo após nove anos de aprovação da Lei 11.340/2006, a popularmente conhecida Lei Maria da Penha, o Brasil ainda possui grandes estatísticas a respeito da violência contra a mu­lher. “Lei para o feminicídio”, aborda esse tema, com a nova lei do feminicídio, que qualifica crimes contra as mulheres como hediondo, um grande passo na batalha diária contra esses abusos. A reportagem “Crise da mobilidade” traz números que são alarmantes para o País, estado e a região. No Rio Grande do Sul, atualmente, existe um veículo circulando para cada 1,8 habitan­ te. Como consequência, vivenciamos frequentemente, congestionamentos, acidentes e situações de estresse. Em contrapartida a essas situações, existem possibilidades de uma mobilidade mais eficiente, tanto nos grandes centros urbanos, como nas pequenas cidades, é o transporte público coletivo e alternativas como o uso de bicicletas, por exemplo. O outro lado dessa crise da mobilidade nos centros urbanos é o êxodo rural. Segundo a reportagem “Na contramão do êxodo rural”, a população ru-

Crédito Vagner Lovera

ral diminuiu drasticamente nos últimos cinquenta anos. Sabe-se que a agricultura é de primordial importância para o abastecimento dos centros urbanos e essa redução no número de habitantes, sobretudo, jovens no campo, pode trazer como consequências a carência de suprimentos e a concentração de terras, entre outros elementos. Em contrapartida ao êxodo rural, estão sendo criadas as escolas técnicas rurais, que oferecem o Ensino Médio juntamente com o Ensino Técnico. Além desses assuntos, importantes para uma reflexão e o debate crítico da sociedade, esta edição do Textando traz o exemplo de uma escola que busca a conscientização de seus alunos quanto ao meio ambiente. A partir da Revolução Industrial, a cultura do consumo passou a se propagar na sociedade. Hoje muito do que se adquire faz parte da cultura de consumo; pelo consumo, portanto, muitas vezes sem necessidade. Dessa forma, se faz essencial uma abordagem que busque a conscientização desde os primeiros anos de vida quanto aos atos de consumir, reaproveitar e descartar o “lixo” corretamente. O Textando traz também a situa­ ção do SUS em Caxias do Sul; o funcionamento da fiscalização da Lei Seca na cidade; um panorama sobre os principais pontos turísticos da Serra gaúcha, e ainda o debate sobre a volta do Mercado Público de Caxias. Na editoria de esportes, co­ nheça o projeto Remadas Solidárias. Este é o Textando que chega às suas mãos.

Expediente Reitor: Evaldo Kuiava Diretora do Centro de Ciências Sociais: Maria Carolina Gullo Coordenador do curso de Jornalismo: Álvaro Bevenuto Júnior Professora: Marlene Branca Sólio Alunos Alana Pereira Vencato Camila da Costa Camila dos Santos Valentini Fernanda Prado da Silva Lais Alende Prates Lilian Donadelli Lucas Borba Maria Luiza Grazziotin Brites Roberto Nichetti Ronaldo Dilnei Daros Schaiane Maria do Sacramento Laboratório de Jornalismo Impresso Primeiro semestre de 2015 Universidade de Caxias do Sul


Lei para o feminicídio

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A presidente da República assinou lei que define assassinatos cometidos contra as mulheres como crime hediondo. Outros tipos de violência, como agressões e ofensas também receberam aumento de pena, na tentativa de coibir casos Roberto Nichetti robertonichetti@gmail.com Crédito LMAP / Creative Commons

A cada doze segundos, uma mulher sofre violência fisica ou verbal, no Brasil

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Lei 13.104/15, sancionada em nove de março de 2015, torna mais severas as penas por crimes de violência contra a mulher. A ação, conhecida como lei do feminicídio, entra em vigor para coibir de forma veemente casos de violências, agressões e assassinatos. A pena para o feminicídio será aumentada se o crime for praticado durante a gravidez ou nos três meses posteriores ao parto, contra pessoa menor de 14 anos, maior de 60 anos ou com deficiência e também na presença de filhos ou pais da vítima. Segundo dados do Instituto Avante Brasil, uma mulher morre a cada hora no País. Quase metade do número de homicídios são dolosos, ou seja, quando há a intenção de matar, e praticados em violência doméstica ou familiar. O mesmo instituto esclarece que nos assassinatos são empregados diversos meios desde o uso de armas de fogo até a asfixia decorrente de estrangulamento.

Em briga de marido e mulher... A Frente Parlamentar dos Homens pelo Fim da Violência Contra a Mulher apresentou um importante docu­ mento que traz estatísticas e artigos a respeito de violência contra a mulher, o Relatório Lilás. O documento foi publicado pela Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. O relato apontou que 90,9% dos agressores de mulheres mantêm ou mantiveram relações com a vítima. Os assassinos são maridos, companheiros, namorados e até familiares. Os dados apontam que maridos e companheiros representam 50,4% dos assassinos de mulheres; ex-maridos e ex-companheiros, 25%, enquanto familiares são 15%. O local dos crimes é, em 83,48% dos casos, na residência da própria vítima que, em quase metade das situações, já havia registrado queixa. Um estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelou que 82% dos entrevistados concordam com a afirmação de que “em

briga de marido e mulher não se mete a colher”. Informação alarmante, levandose em consideração que mais da metade dos feminicídio são cometidos pelo parceiro ou ex-parceiro.

Violência contra a mulher Segundo informações da Delegacia de Polícia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), de Caxias do Sul, em 2014 foram registrados mais de 5.700 casos de violência contra a mulher no município. Para frear esse número alarmante, a Câmara de Vereadores de Caxias do Sul instaurou a Frente Parlamentar pelo Fim da Violência Contra as Mulheres. O objetivo do grupo é debater ações para reduzir os índices de violência contra a mulher. A frente tem como prazo de atuação os próximos dez anos. O grupo irá fiscalizar casos de violência contra a mulher e trabalhar para a conscientização do homem para a mudança de comportamento. Já está prevista para a Frente a alocação de recursos no orçamento para o

desenvolvimento das políticas públicas municipais de acolhimento às vítimas, além de atividades e assistência para a ampliação da rede de atendimento à mulher no município.

Onde procurar ajuda Delegacia de Polícia Especializada no Atendimento à Mulher de Caxias

Endereço: Rua Doutor Montaury, 1.387, 1º andar (em frente à Praça Dante Alighieri) Telefone: (54) 3202.1921

Horário de atendimento: 8h30min às 12h e 13h30min às 18h. Coordenadoria da Mulher de Caxias do Sul Telefone: (54) 3218.6140


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As mulheres vão prá briga Cada vez mais as atividades de lutas em academias geram interesse ao sexo feminino.Seja para buscar a boa forma,ou aprender a autodefesa,elas estão tomando conta dos tatames e colocando muitos marmanjos na lona Roberto Nichetti robertonichetti@gmail.com Crédito Andressa Schiavo / Arquivo Pessoal

Um exemplo a seguir A americana de 28 anos Ronda Jean Rousey é a atual campeã do peso galo feminino do Ultimate Fighting Championship (UFC); ela também é considerada a melhor lutadora no ran­king peso por peso. Agora Ronda está se aventurando nos cinemas, sendo estrela de diversos filmes, por enquanto , de ação. Além do cinturão e de ser a nova queridinha das telonas, Ronda detém uma beleza admirada por homens e mulheres. Ronda ganhou uma medalha olímpica no judô, nas olimpíadas de 2008 em Pequim. Nem mesmo a sua fama nos

ringues a livra de “machões” que tentam intimidá-la. Em entrevista ao jornal The New Yorker, Ronda contou sobre uma dessas situações. “Uma menina colocou os pés onde eu estava sentada, no cinema. Eu tirei a bota dela e joguei. O namorado da menina me encarou e disse que eu tinha que ir buscar a bota. Então eu disse: ‘ela que busque a bota e sua educação também’. Tentei sair e ele me empurrou para trás. Tentei sair e ele me empurrou. Eu o agarrei pela camisa e comecei a bater com uma mão”, revelou Ronda. Crédito: Arquivo pessoal / Facebook

Andressa (primeira à esquerda) é faixa azul de Muay Thai e disputa campeonatos da modalidade

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pesar de as artes marciais parecerem muito violentaas, as mulheres as estão buscando, cada vez mais, como atividade física. Entre as modalidades preferidas estão Boxe, Caratê, Muay thai e Jiu-Jitsu. A quantidade de calorias despendidas durante os treinos, cerca de 1.200 em meia hora no boxe, é um dos maiores atrativos para quem busca a boa forma, assim como a autodefesa. Segundo Fernanda Pazini, professora de Mixed Martial Arts (MMA) na academia Fight Center de Caxias do Sul, e treinadora profissional de boxe, as mulheres perderam o medo e agora utilizam os treinos de artes marciais para brigar contra os quilinhos a mais. “Aqui na academia, nós disponibilizamos três turmas exclusivas para as mulheres. No começo, elas chegam com um pouco de medo de sair machucadas com hematomas, mas depois que veem os resultados, esquecem isso”, brinca Fernanda. Outro motivo que leva mulhe­ res a buscarem esse tipo de atividade é o

alto poder desestressante das lutas. Em cima do tatame, entre socos e chutes, os proble­mas vão embora. Fátima Oliveira, atendente na academia Vilmar Oliveira, afirma que, nas modalidades de luta que a academia oferece, as mulheres já repre­ sentam 20%. “ Já na chegada, na porta, dá para notar quando elas estão tensas e estressadas. Depois do treino saem rindo e brincando. Deixam todos os problemas lá no tatame”, afirma Fátima.

Mãe e campeã de Muay Thai Andressa Schiavo, 33, é mãe de dois filhos e lutadora amadora de Muay Thai. Andressa começou a lutar por indicação de uma amiga, como forma de perder peso, mas logo estava apaixonada pelo esporte. “Não tenho como explicar. Quando eu subo no ringue tenho uma sensação muito boa”, revela Andressa. Ela diz que nunca precisou usar os conhecimentos em Muai Thay fora do ringue mas garante: “Se precisar, o sujeito vai sair muito mal.”

As melhores modalidades de luta para defesa pessoal

Muay Thai - significa algo como “arte dos oito membros”. O Muay Thai para autodefesa possui um ritmo rápido que busca confundir o oponente e procura todas as aberturas possíveis. Se o atacante tem uma faca e você está no alcance dela, é isso que ele vai usar. Quem está se defendendo possui mais armas: mãos, pés, joelhos, cotovelos e cabeça. Caratê - A maior parte dos socos e facadas dos atacantes são retos em direção à vítima, não em arco. Os movimentos de caratê se concentram em desviar os ataques. Os contragolpes buscam neutralizar qualquer outro movimento do agressor com poucos golpes. Jiu-Jitsu - O estilo mais universal, nesta lista, é um híbrido verdadeiro, incorporando elementos de agarramentos, golpes fortes, dedos nos olhos, estrangulamentos, mordidas, travamento de articulações, bem como o controle do centro de gravidade do defensor versus o do atacante. É possível arremessar seu atacante para longe se você baixar o centro de gravidade abaixo do centro de gravidade do oponente, desequilibrando-o sobre você, ou em torno de você. Isso é simples e efetivo. Krav Maga - Esta é a arte marcial nacional de Israel, desenvolvida por Imi Lichtenfeld e dedicada à incapacitação sem limites, com o objetivo de sobreviver na rua. O Krav Maga incorpora o box ocidental, chutes e joelhadas do caratê, golpes da luta greco-romana, luta no solo, arremessos e agarramentos do jiu-jitsu, e o mais importante: golpes explosivos. Ele é ao mesmo tempo defesa e ataque: em vez de bloquear um ataque e então responder com outro, o praticante bloqueia e ataca ao mesmo tempo.


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Caxias do Sul

SUS atende mais de1 milhão O município é referência no atendimento pelo SUS para 49 cidades do estado e atende tanto a modalidade, hospitalar quanto a ambulatorial. Do total de atendimentos, 30% são oferecidos para residentes de outros locais Fernanda Prado ferprado29@gmail.com Foto: Wikimedia Commons

Hospital Geral de Caxias do Sul é o único 100% SUS do município.

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A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) é responsável pela formulação e implantação de políticas, programas e projetos que visem à promoção de uma saúde de qualidade aos usuários do SUS. Seu papel, na prática, é dedicar atenção integral à saúde da população, abrangendo desde problemas e necessidades mais comuns até o atendimento aos casos mais complexos e assistência hospitalar. Essas responsabilidades não se restringem à população do município, pois a SMS é responsável pela gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), na cidade de Caxias do Sul, e integra a 5ª Coordenadoria Regional de Saúde, cuja abrangência é de 49 municípios. Caxias do Sul é referência para atendimento na alta Complexidade para a Macro Região da Serra, o que representa um milhão e cem mil habitantes. A cidade oferece atendimento na especialidade hospitalar: cardiologia adulto e infantil, oncologia adulto e in-

fantil, com tratamento de quimioterapia e radioterapia, neurologia, traumatologia vascular e endovascular, nefrologia com TRS, parto de alto risco, leitos de UTI adulto, pediátrico e neonatal; e ambulatorial: ambulatório de alto risco, reabilitação física e auditiva, lábio-palatal, ambulatório de infectologia com atendimento de DST/Aids, hepatites virais e doença respiratória infantil. O acesso a esses atendimentos se dá por meio do complexo regulador, formado pela Central de Regulação Ambulatorial (Cra), Central de Regulação de Leitos (CRL), Central de Regulação de Urgência (Samu). O fluxo para regulação, ou seja, o cami­nho a ser percorrido para acessar os serviços, foi definido e pactuado pelo serviço prestador (executante da assistência), pelos gestores de cada município (secretários de saúde) e pelo serviço contratante (SMS de Caxias do Sul). Conforme Salete Dachery, diretora do Departamento de Avaliação, Controle, Regulação e Auditoria, (Dacra), da

Secretaria Municipal da Saúde, em 2014 foram gastos R$86.861.824,59 (valo­res de tabela SUS). Desses atendimentos, 30% foram realizados para residentes de outras localidades. Para cobrir esse valor, a SMS recebe R$68.679.776,76 do Mi­­ nis­ tério da Saúde, gerando um déficit de R$18.182.047,83, que a Prefeitura de Caxias cobre integralmente. O Dacra presta atendimento ao gias público para autorização de cirur­ eletivas; autorização de exames de média e alta complexidade, exames laboratoriais e de imagem; autorização de procedimentos ambulatoriais especializados, reabilitação física e auditiva e cirurgias oftalmológicas; necessidade de deslocamento para tratamento fora do domicílio, conforme Portaria/SAS/ 055, de 24 de fevereiro de 1999; regulação de leitos e atendimento ambulatorial. Em Caxias, quatro hospitais são contratados para atender os usuários do SUS, sendo um 100% SUS (Hospital Geral), dois filan­

trópicos (Pompéia e Virvi Ramos) e um privado (Clinica Paulo Guedes). No Centro Especializado de Saúde (CES) ocorrem os atendimentos especializados de média complexidade aos usuários encaminhados dos serviços da rede pública municipal e dos municípios pactuados. No CES, são ofere­ cidas diversas especialidades médicas, como angiologia, cardiologia adulto e infantil, cirurgia geral pediátrica, dermatologia, endocrinologia, fisioterapia respiratória adulto e infantil, fonoaudiologia, gastroenterologia adulto e infantil, ginecologia, hematologia, homeopatia, infectologia, oftalmologia, ortopedia, otorrinolaringologia, pneumologia adulto e infantil, proctologia, reumatologia, terapia ocupacional pediátrica, urologia. O Hemocentro Regional de Caxias do Sul (Hemocs) presta atendimento, além de Caxias, aos 48 municípios que fazem parte da 5ª Coordenadoria Regional da Saúde. O Hemocs


Foto: SES/Divulgação

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Hospital Pompéia de Caxias do Sul conta com 301 leitos, e oferece ao Sistema Único de Saúde um total de 196 vagas

é responsável pela captação de doadores, coleta, processamento, testagem e distribuição do sangue doado, ou seja, é ele que abastece de sangue todos os hospitais que atendem o SUS, de Caxias e dos outros 48 municípios da região da Serra. Conforme Cristina Lúcia Alberti Lisot, diretora geral do Hemocs, cerca de 60% do total do sangue coletado abastece os leitos SUS de Caxias do Sul e 40% leitos dos municípios da região nordeste do estado. Em 2014, 63,5% das doações de sangue foram realizadas por pessoas de Caxias, ou seja, 11.097 caxi­enses foram doadores, enquanto, 36,5%, ou 6.344, foram de outros municípios. Além disso, o Hemocs abastece três hospitais da cidade e 14 de outras localidades. A demanda em Caxias, que hoje é praticamente o único centro de refe­ rência, é grande, uma vez que essa região reúne mais de 1 milhão de pessoas. Conforme a secretária municipal de saúde, Dilma Tessari, já foram realizadas capacitações em alguns hospitais de Gramado, Bento Gonçalves, Farroupilha, Vacaria, Veranópolis, Nova Prata e São Marcos, que passariam também a ser centros de referência, para os municípios mais próximos, sem necessidade de todos os pacientes serem encami­nhados a Caxias. Para os casos mais graves, como os de alta complexidade, poucas vezes esses municípios têm estrutura, mas dentro da média complexidade alguns municípios já possuem condições de oferecer atendimento no local para que a população não precise vir a Caxias. Outro serviço oferecido às 49 cidades foi inaugurado ano passado: a Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon), do Hospital Geral.

A Unacon passa a oferecer tratamento quimioterápico e radioterápico, bene­ ficiando pacientes com câncer por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). A Unacon foi inaugurada em maio e desde então ofereceu apenas tratamento quimioterápico. O serviço de radioterapia levou três meses para ser liberado por motivos de ordem técnica e burocrática. Até então, pacientes com câncer, que dependiam de radio­terapia, eram encaminhados para

Porto Alegre, Bento Gonçalves e Lajeado. Caxias também é referência na região em leitos de UTI pediátrica pelo SUS. O Hospital Geral possui nove leitos, enquanto o Hospital Tacchini, de Bento Gonçalves, disponibiliza apenas três. Conforme a assessoria de imprensa do Hospital Geral, a média de ocupação da UTI Pediátrica, nos quatro primeiros meses do ano, foi de 51%. A lotação é justificada pela condição de

tempo mais frio, que favorece a ocorrência de doenças respiratórias. Além disso, no primeiro quadrimestre deste ano, o Hospital Geral teve 78,85% das internações de pacientes de Caxias, e 21,15% de outras localidades da região.

Foto: André Gustavo Stumpf

Caxias do Sul é referência para atendimento na alta complexidade para a Macro Região da Serra


Maconha é droga?

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A Anvisa aprovou o uso medicinal controlado da maconha, mas isso não significa que a discussão em torno da legalização e da descriminalização esteja menos acirrada. Ao que tudo indica, a questão está muito longe de um consenso Camila Valentini camilavalentini.jornal@gmail.com Foto: Google Imagens/Divulgação

Segundo o Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), em 2012 mais de 1,5 milhão de brasileiros consomem maconha todos os dias. Ainda de acordo com o estudo, 3,4 milhões de pessoas entre 18 e 59 anos usaram a droga no período de um ano e 8 milhões já experimentaram maconha alguma vez na vida, o equivalente a 7% da população brasileira.

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popularmente conhecida “maconha” é uma planta que contém diversas substâncias, entre elas o canabidiol (CBD), existente na folha da Cannabis Sativa. Ela é uma preparação obtida da Cannabis, composta pela planta inteira com proporções variáveis de folhas em flores, caules e frutos. Segundo a professora do curso de Farmácia da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Ângela Maria Moro, ainda não estão completamente elucidadas todas as substâncias contidas na maconha. “Existem mais de 400 substâncias químicas, sendo que os principais compostos são os canabinoides. Dentre eles, o delta-9-THC é tido como principal composto químico com efeito psicoativo”, relata. O fato de a maconha poder causar dependência abre ainda mais a

discussão sobre o assunto. “A maconha é estudada na área de toxicologia social, que reúne todos os fármacos ou drogas que podem causar dependência, tida como uma doença em que o individuo é levado a um estado de uso compulsivo do fármaco ou da droga, de maneira incontrolável”, explica a professora.

Denominações Para melhor compreender os temas que permeiam a maconha, é necessário fazer uma distinção entre os termos legalização e descriminalização. Quando se fala em descriminalização, associa-se àqueles países onde a legislação existente não permite o plantio e a comercialização, sendo isso um crime; porém, o usuário da substância não é criminalizado. Assim, se a pessoa for pega comercializando, isto é um crime,

mas se a pessoa for pega consumindo, ela não é criminalizada, ou seja, não sofre um processo penal. Um exemplo da situação é o da Holanda, onde a maconha não é legalizada, porém ela foi descriminalizada e regulamentada. É possível comprar e consumir a substância em lugares apropriados, que são os Coffe Shops, permanecendo um crime consumir e vender a maconha em locais que não sejam esses. Portugal, em 2001, se torna pioneiro no mundo a descriminalizar não apenas a maconha, mas também todas as outras drogas. Já a legalização trata de países onde a legislação permite o cultivo, a comercialização e o consumo da maconha. Exemplo disso é o Uruguai. Na regulamentação, o Estado uruguaio passa a ser o responsável pelo plantio e pela comercialização, e as pessoas pre-

cisam preencher certos pré-requisitos para poder comprar, como ser maior de 18 anos, uruguaio e comprar somente até 40 gramas por mês. Aos turistas é proibida a compra. No Brasil, em 14 de janeiro de 2015, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu pela retirada do Canabidiol (CBD) da lista de substâncias proibidas. Com isso, ele passou a ser uma substância controlada e enquadrada na lista C1 da Portaria 344/98, que regula e define os controles e as proibições de substâncias no País. No entanto, a prescrição é restrita a neurologistas, neurocirurgiões e psiquiatras. O CBD deve ser prescrito para pacientes com epilepsia ou que sofram de convulsões e não respondam bem a tratamentos convencionais.


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Divisão de opiniões Apesar da liberação da maconha por governos e dos efeitos positivos no uso medicinal, a questão ainda é bastante controversa entre diferentes setores da sociedade. O psiquiatra caxiense Eduardo Sassi crê que a psiquiatria atende as situações nas quais o uso da maconha, tanto recreativo como medicinal, foge do controle. “Estou falando de surtos psicóticos, de crises graves depressivas, muitas vezes nas quais o uso recreativo foi inicial e que se tornou progressivamente uma dependência. A maconha é a maior causa de internações psiquiátricas de adolescentes e jovens adultos pelas consequentes síndromes depressivas”, relata o médico. Partindo do mesmo pressuposto de Sassi, o pneumologista Dagoberto Godoy argumenta: “Eu gostaria que a sociedade se desse conta de que nenhuma droga mata tanto quanto o cigarro, o tabaco. Ele é responsável por cinco principais causas de morte no mundo todo. Com a maconha, será a mesma coisa. Ela vai produzir essas determinadas substâncias, e o que vai diferir é o efeito mental.” O pneumologista traz, também, a questão da dependência. “Uma pessoa que fuma maconha diariamente tem 50% de chance de se tornar dependente”, finaliza. Já a psicóloga membro do Conselho Federal de Psicologia, Loiva de Boni Santos, acredita que pessoas têm a ideia de que a legalização é algo desorganizado, e isso não é bem assim. “Não é liberar geral. É criar uma lei, uma regulamentação. É uma redução de danos,

assim como o uso do cigarro. Você deixa usar, mas regulamenta o uso”, relata. É esse o intuito da política de redução de danos: “Uma redução de danos é uma estratégia que hoje é a diretriz na política de álcool e drogas no Brasil, que busca não a abstinência, mas a redução dos danos decorrentes do uso da substância. Não é simplesmente trocar uma droga por outra. É ampliar e discutir o que é a droga”, defende a psicóloga. A psicóloga Manuele Monttana­ r i Araldi comenta que os componentes da maconha agem sobre a fissura do crack e que hoje há estudos de sucesso sobre a substituição de drogas mais fortes pela maconha. Manuele atua em um serviço chamado Consultório de Rua, vinculado ao Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo ela, a ligação do uso da maconha com drogas mais pesadas está relacionada ao local onde é vendida. Segundo ela, maconha e drogas mais pesadas têm efeitos opostos. Elas são apenas comercializadas em pontos comuns. A história da liberação, legalização e descriminalização no Brasil ainda é está longe de ter um ponto final. O assunto é complexo e tem inúmeras variáveis. De acordo com Manuele, a possível solução está no diálogo e na informação. “Nós não podemos querer dar respostas simples para questões complexas, e a questão das drogas é muito complexa. Não podemos querer uma única intervenção de resultados imediatos porque, afinal, estamos falando da vida das pessoas. Elas somente podem se salvar quando elas são acolhidas, respeitadas e ouvidas. Essa é a fórmula”, conclui.

Nas telas O filme “Ilegal”, que estreou em outubro de 2014 e foi diri­ gido pelo jornalista Tarso Araújo, conta a história de uma mãe brasileira que luta na Justiça pelo direito de importar legalmente medicamentos para sua filha. O debate fica por conta da matériaprima desses remédios: cannabis sativa. Katiele Fischer, precisava importar ilegalmente – ou “traficar”, em suas próprias palavras, um medicamento à base de maconha; figurou em uma edição especial da Revista SuperInteressante e, que depois, serviu de ins­ piração para o filme.

Mais dados Segundo dados da ONU, 147 milhões de pessoas fumam maconha no mundo, o que faz dela a terceira droga psicoativa mais consumida no mundo, depois do tabaco e do álcool. De 6% e 12% dos usuários (dependendo da pesquisa) desenvolve uso compulsivo da maconha (menos que a metade das taxas para álcool e tabaco). Atualmente, quem produz, transporta ou vende a erva no Brasil pode pegar de 5 a 15 anos de reclusão. Isso inclui quem for flagrado plantando em casa para consumo próprio. Segundo estudo do Instituto Sou da Paz, em 2013 eram 138 mil presos por tráfico de drogas no País, cerca de 25% da população carcerária. No Colorado (EUA), um ano e meio após a descriminalização e, com 6 meses de liberação para uso recreacional, houve uma redução de 10,1% na criminalidade em geral e de 5,2% nos crimes violentos.

Fonte: SuperInteressante/UPF/Banco de Saúde


Se beber não dirija

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Quando a embriaguez chega ao volante, é hora de procurar alternativas para combater o alcoolismo, como grupos de ajuda. Mas para quem não vai dirigir e mesmo assim não quer beber muito, a cerveja artesanal é uma opção Alana Vencato alanavencato@gmail.com Crédito Fiscalização de Trânsito

Equipe da Fiscalização de Trânsito autua motoristas embriagados em Bliz da Lei Seca na BR 116, em Caxias do Sul

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ebida e direção não andam juntas. Porém, é quase estranho não encontrar uma turma bebendo no posto de conveniência após uma festa. Os dados confirmam e são alarmantes: mais de 50 mil mortes anuais, no trânsito, são provocadas pelo álcool, que, assim, torna-se uma das principais causas de acidente. Como tentativa de combater o hábito de beber combinado com a direção, a Lei Seca surgiu no País em 2008. Anteriormente, o policial precisava constatar sinais de embriaguez nos motoristas. Com a Lei Seca, foi estabele­cido um nível de álcool no sangue, ou seja, 0,33 miligramas por litro de sangue, para que seja considerado uma infração. Com a aprovação de uma resolução em 2011, a lei tornou-se mais rígida e a tolerância, zero. Dirigir sob o efeito de qualquer quantidade de álcool transformou-se em crime, mesmo se o motorista negar-se a fazer o teste do bafômetro. Entre as penas para quem

for flagrado, estão o recolhimento da CNH, a retenção do veículo e até prisão.

Fiscalização rigorosa Em Caxias, as blitz da Lei Seca ocorrem rotineiramente desde 2011, reunindo a Fiscalização de Trânsito com a Brigada Militar, a Polícia Civil, a Polícia Rodoviária Federal, a Polícia Rodoviária Estadual e a Guarda Municipal. O principal objetivo da força-tarefa é justamente a mudança de comportamento dos motoristas caxienses que acreditam na impunidade de quem combina álcool e direção. Além disso, garantir a segurança das pessoas que saem, principalmente à noite, é fator essencial. Conforme a Fiscalização de Trânsito, as regiões em que acontecem as blitz são escolhidas de forma aleatória, em locais com aglomeração de jovens, geralmente próximas a casas noturnas. Na opinião de um membro da Fiscalização de Trânsito que não quis se identificar, o resultado é positivo. “Após

a implementação das blitz de Lei Seca, houve grande redução dos acidentes e de mortes no trânsito do município, principalmente no período noturno, horário em que acontecem as operações de trânsito”, afirma. Os motoristas estão mais conscientes de que a combinação de bebida e direção pode ser fatal e estão­ apoiando a fiscalização. Apenas uma pequena parcela insiste no consumo de álcool. Dentre esses, os mais recorrentes são os jovens. Para a Fiscalização de Trânsito, os homens entre 20 e 35 anos estão entre os principais envolvidos em flagrantes de embriaguez ao volante.

O remédio é pelo ouvido Há quem consiga beber apenas nos finais de semana. Mas quando a vontade de beber cresce para os demais dias, é preciso ficar alerta. Essa é uma das principais características do alcoolismo. E para ele não há um perfil definido. “Hoje em dia não tem mais a cultura de

que beber é coisa de homem. É igual para os dois”, acredita Rui S, representante de serviços gerais do grupo Reencontro de Alcoólicos Anônimos (AA). Para Rui, que também é ex-alcoólatra, antigamente enquanto o homem crescia com a cultura de que é ‘bonito’ e ‘aceitável’ beber em público, a mulher preferia esconder o vício e beber em casa. Algo completamente diferente do que é visto hoje em dia, pois tornou-se natural para o jovem ser visto bebendo, independentemente do gênero. Segundo Rui, o jovem e as mulheres, em geral, são mais relutantes em procurar ajuda. Há um número míni­ mo que participa das reuniões de AA. Mas são essas reuniões, aparentemente simples, que contêm a melhor solução para quem possui a doença. “Alcoólicos Anônimos é uma irmandade de homens e mulheres que compartilham suas experiências, a fim de combater o alcoolismo. O único requi­sito para par-


ticipar dos grupos é o desejo de parar de beber”, informa, mesmo que inicialmente você não queira expor o seu problema. “Tem gente que ficou sete anos assis­tindo reunião pra depois ter vontade de falar. Já, para outros companheiros, faz bem contar a mesma história sempre”, diz Rui. Ao ingressar no grupo, cada um tem o direito de escolher um padrinho, que irá acompanhá-lo durante a trajetória. Além disso, o apoio dos familiares e amigos também é muito­importante para a recuperação. Rui afirma que anteriormente a cidade possuía o Grupo Al-Anon para atender somente os familiares. Apesar de o grupo ter sido extinto, no Grupo Reencontro há as chamadas reuniões abertas, em que é possível a entrada de familiares. “Uma reunião aberta é mais informativa, pois vêm visitantes. Já a reunião fechada é somente para membros”, explica. Independentemente do estilo da reunião, Rui garante que o trabalho­em conjunto é o que faz toda diferença no combate ao alcoolismo. “O remédio do grupo é pelo ouvido. Se você está com algum problema dificilmente vai sair como entrou”, finaliza.

Crédito Grupo Reencontro de Alcoólicos Anônimos

Sala onde ocorrem as reuniões do Grupo Reencontro de Alcoólicos Anônimos, localizado no bairro São Pelegrino.

O álcool no organismo

Como surgiu o Alcoolicos Anônimos

Foi a partir de uma conversa aparentemente despretensiosa, em 1935, que o corretor da Bolsa de Valo­res de Nova Iorque, Bill Wilson e o Dr. Bob Smith, cirurgião da cidade de Akron (EUA), deram início à irmandade que reúne quem luta contra o alcoolismo, hoje conhecida em todo mundo. Ambos com histórico da doença, ao se conhecerem perceberam­o poder e o efeito de

conversar com quem está passando pela mesma situação­ . Eles resolve­ ram trabalhar com os alcoólicos internados no Hospital Municipal de Akron. Quando o primeiro paciente alcançou a sobriedade, os três deram início ao primeiro grupo dos Alcoólicos Anônimos no mundo. A partir desse grupo, outros foram surgindo. Hoje, calcula-se que o AA possua mais de 2 milhões de membros em todo o mundo.

Crédito Google Imagens/ Divulgação

Google Imagens/ Divulgação

Bill W. e Bob S., criadores do primeiro grupo de Alcoólicos Anônimos

Alternativa para diminuir a quantidade de álcool

Crédito Google Imagens/ Divulgação

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Para quem não quer abrir mão da cervejinha do fim de semana, existe uma opção que vem ganhando a preferê­ ncia dos consumidores: a cerveja artesanal, feita somente com ingredientes puros e naturais, como malte, lúpulo, água e fermento. Com mais de 50 estilos, ela ainda tem vantagens, como não precisar ser servida gelada. Quem prova garante: tem mais qualidade e sabor que as normais. “A cerveja normal, por ter milho e outros adjuntos, causa dor de cabeça se a pessoa beber demais. A cerveja artesanal você não sente necessidade de beber em grande quantidade e é raro causar dor de cabeça”, explica Álvaro Oliveira, sócio do GigaBeer, pub especializado em cervejas artesanais. Apesar de o local ainda ser novidade, ou justamente por isso, o movimento e a procura pela bebida vêm crescendo. Segundo

ele, o público que prefere as artesanais geralmente conhece a bebida e tem mais de 25 anos. Oliveira conta que muitos que resolveram experimentar começaram a frequentar o local. Para Rafael Losso, sócio da Bier Haus, o fator ‘artesanal’ contribui para a venda. “As artesanais têm, atualmente, destaque no mercado em função do surgimento de novas microcervejarias. Isso faz com que a procura por esse produto sempre resulte em curio­sidade”, destaca. Apesar disso, explica que as industriais ainda são mais procuradas, já que a Bier Haus trabalha com outros tipos e estilos de cerveja. Com experiência de oito anos nesse meio, Losso define que mercado das cervejas artesanais está em constante evo­ lução. “Tem muita cerveja artesanal de ótima qualidade no mercado. Quem conhece­ uma boa cerveja artesanal sempre vai procurar repetir o consumo dela”, conclui.


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Pela volta do Mercado Comissão Temporária Especial Pró-Mercado Público da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, estuda proposta de implantação de um novo Mercado Público na cidade, a fim de atender a demanda da população no setor alimentício Maria Luiza Grazziotin Brites |

marialubrites@gmail.com

Crédito: Maria Luiza Brites

O antigo Mercado Púbico, que hoje sedia o Postão, costumava receber, diariamente, consumidores de Caxias do Sul e região, a fim de fazerem compras no setor alimentício ou apenas por lazer

P

ara as cidades, os mercados públicos vão muito além de um serviço à comunidade. Muitas vezes eles retratam histórias e resgatam as origens do município. Em Caxias do Sul, não foi diferente. O município de 415.822 mil habitantes possuía, a partir do ano de 1967, um mercado público, na Rua 20 de Setembro, conhecido pela grande variedade e diversidade deprodutos do gênero alimentício. Os mercados em geral são espaços de convivência entre turistas e moradores, e acabam criando um verdadeiro local de encontro. Muitas cidades de médio ou grande porte possuem ou possuíram um Mercado Público, como Porto Alegre, que estima receber mais de 100 mil pessoas por dia. Em Caxias do Sul, Alguns políticos lutam pela volta do Mercado. Criou-se criou uma Comissão Temporária Especial Pró-Mercado Público, da Câmara de Vereadores Caxias. O futuro Mercado deve ser instalado no complexo da Maesa. Por enquanto, esse é o único destino discutido publicamente.

Saudoso Mercado A comunidade caxiense entende que a implantação de um novo Mercado é de suma importância. De acordo com a caxiense Vanderbele Neusa de Lima, 44 anos, o Mercado Público traz uma aproxi­ mação maior entre produtores e consumidores. Além disso, apresenta produtos hortifrutigranjeiros frescos e com maior variedade. Vanderbele ainda acredita em uma oportunidade para o turismo caxi­ ense, apostando em cafés, lanchonetes ou restaurantes, nos moldes dos Mercados existentes em outras cidades. “Conheci o antigo Mercado, onde hoje funciona o Postão, quando era criança. Sempre me encantei pelo cheiro das mercadorias expostas, além de poder provar frutas e embutidos na hora”, afirma a caxiense. Marlene Maria Nicoletti Pereira, de 70 anos, também frequentou o antigo Mercado Público. A caxiense tinha entre sete e 12 anos quando visitava o local para comprar os alimentos para a sua mãe preparar a comida. “Procurava os produtos em várias bancas, buscan-

do sempre os melhores e também os de menor preço”, explica Marlene, que ainda comenta com pesar o fechamento do mercado: “Causou tristeza para todos, pois a população que frequentava o local perdeu os produtos de qualidade e bom preço, num mesmo espaço. Não só isso, o Mercado Público ajudava os pequenos produtores rurais a aumentar sua renda familiar”. Saimon de Oliveira, 32 anos, também relembra a notícia: “Eu era crian­ça quando isso aconteceu, mas lembro que minha avó ficou muito triste.”

Comissão A possível reabertura do Mercado Público ainda não está definida. Por esse motivo, há o apoio institucional do Legislativo caxiense à sua implantação. Integrantes da Comissão Temporária Especial da Câmara afirmam que, se o projeto de lei que prevê a transferência, em forma de doação, do antigo complexo da Metalúrgica Abramo Eberle (Maesa) para Caxias do Sul, for aprovado pelos

deputados da Assembleia Legislativa, o local onde, atualmente, está instalada a fundição da Metalúrgica Voges, será o ideal para a implantação do Mercado Público. “Defendo o Mercado Público por ser um local de encontro de pessoas, pois além das pessoas poderem comercializar produtos, esse deve ser um local com restaurantes típicos, lancherias, bares, cafés, enfim, um local para as pessoas se encontrarem para conversar. Aposto também no Mercado como espaço cultural. Se formos analisar, quase todas as grandes cidades possuem o seu Mercado Público, portanto está mais do que na hora de Caxias do Sul ter o seu”, conta o vereador e presidente da Comissão, Raimundo Bampi. Além de Bampi, os integrantes da Comissão Temporária Especial PróMercado Público em Caxias do Sul são os vereadores: Daniel Guerra (PRB), Felipe Gremelmaier (PMDB), Henrique Silva (PCdoB), Neri, O Carteiro (SD), Rodrigo Beltrão (PT) e Zoraido Silva ­(PTB).


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Serra gaúcha e

Um Brasil com cara de Europa – frio, lindas paisagens, gastronomia rica, bons vinhos. Um clima romântico e aconchegante e idades você encontra no Sul do Brasil, na Serra gaúcha. O roteiro inclui cidades como Nova Petrópolis, Gramado, Canela, C Camila da Costa camimiladacosta@gmail.com Crédito Miriam Cardoso de Souza

Vinícola Miolo em Bento Gonçalves , no Vale dos Vinhedos.

Paisagem, cultura e determinação. Valores expressos nos diversos encantos da Serra Gaúcha. Seus caminhos conduzem a ares diversificados, herança da colonização ita­ liana e alemã, expressa em sua arquitetura e em seu povo. A Serra gaúcha é um mosaico de cenários.” É assim que a define o site da Secretaria do Turismo do Estado do Rio Grande do Sul. Durante todo o ano, especialmente no inverno, a região atrai mi­ lhares de turistas. São pessoas que apostam nesse destino para suas férias ou passeios, a fim de encontrar lindas paisagens, uma boa gastronomia e, principalmente, um clima frio, com probabilidade de geadas e neve, fenômenos raros nas demais regiões do Brasil. Conforme Pesquisa – Sonda­gem do Consumidor – Intenção de Viagem, realizada pela Fundação Getúlio Vargas e Publicada no site do Observatório do Turismo do Rio Grande do Sul, 23% dos entrevistados pretendem viajar nos próximos meses e, destes, 77,4% para destinos nacio­nais, sendo que, 26,6% pretendem viajar dentro do seu próprio estado.

Ainda, 14,3% tencionam viajar para o Sul do Brasil, movimentando o turismo do Rio Grande do Sul e da Serra gaúcha. A Região Serrana do RS é dividida, turisticamente, em cinco microrregiões: Rota das Araucárias, Campos de Cima da Serra, Região das Hortênsias, Vale do Paranhana e Região da Uva e Vinho. A Rota das Araucárias fica na região nordeste do estado e é composta pelos municípios Água Santa, Barracão, Cacique Doble, Caseiros, Ibiaçá, Ibiraiaras, Lagoa Vermelha, Machadinho, Maximiliano de Almeida, Paim Filho, Sananduva, Santa Cecília do Sul, Santo Expedito do Sul, São João da Urtiga, São José do Ouro, Tapejara, Tupanci do Sul e Vila Lângaro. Essas cidades compõem uma região marcada por belezas naturais admiráveis: araucárias centenárias, quedas d’água, rios e lagos. Aqui, a cultura gaúcha ainda está muito presente nas festas de capela, no churrasco, no chimarrão, na gastronomia típica gaúcha e nos rodeios de laço. Fazem parte da microrregião dos Campos de Cima da Serra os municípios do nordeste do Rio Grande do Sul: Bom

Jesus, Cambará do Sul, Campestre da Serra, Capão Bonito do Sul, Esmeralda, Ipê, Jaquirana, Monte Alegre dos Campos, Muitos Capões, Pinhal da Serra, São José dos Ausentes e Vacaria. Essa região está localizada no nordeste gaúcho, na parte mais alta do Rio Grande do Sul. Ao leste, ficam os cânions dos Aparados da Serra e, ao norte, a Serra Catarinense. Nessa região, o turista tem a chance de conhe­cer de perto obras primas da natureza: c­ ânions, cachoeiras, rios, imensos campos verdes e florestas de araucárias formam o cenário. O lugar também é perfeito para quem busca aventura com esportes, onde são oferecidas atividades de rapel, passeio de bote, travessias de cânions, trilhas de jipe e passeios pelas belas cachoeiras, além da pesca de trutas e ou­tras espécies de peixes. Essa região não sofreu influência europeia. Na gastronomia, encontramos comidas campeiras, preparadas com charque, pinhão, mandioca, o típico churrasco e sobremesas de origem portuguesa, como o doce de gila, fruta característica da região. A microrregião das Hortênsias fica na área central da Serra gaúcha e

é composta por cinco cidades: Canela, Gramado, Nova Petrópolis, Picada Café e São Francisco de Paula. Quem passa por essa região logo entende o que levou os moradores a dar-lhe esse nome: há hortênsias para todo lado, até mesmo costeando a estrada. No verão, a região é marcada pelas festas de Natal, com muita luz e decoração natalina. No inverno, a visita de turistas se dá por causa da neve e do frio, pelo apelo romântico das cidades e pelo Festival de Cinema, que acontece em agosto. Na gastronomia, destacam o chocolate quente, o chocolate artesanal em barras, os fundues e os tradicionais cafés coloniais, que mantêm vários aspectos da colonização alemã. Entre essa região e a planície dos Vale dos Sinos acontece a Rota Romântica. Um charmoso e irresistível roteiro, cercado de vales, campos, cascatas e jardins coloridos, acompanhados de deliciosa culinária colonial. A microrregião Vale do Paranhana compreende seis municípios: Igrejinha, Parobé, Riozinho, Rolante, Taquara, e Três Coroas. Essas cidades ficam próximas ao Rio Paranhana, afluen­


seus encantos

e, com passeios e roteiros para todos os gostos Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Garibaldi

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Crédito Miriam Cardoso de Souza

te do Rio dos Sinos. Nessa região, há forte predominância da etnia de origem alemã. A preservação da Mata Atlântica e a valori­zação do ambiente rural é muito forte. Na região, é possível encontrar, ainda, moendas de cana, descascadores e debulhadores manuais. Além das belezas naturais e históricas, o Vale do Paranhana apresenta muitas opções de lazer e turismo, com destaque para os esportes de aventura e culinária é típica alemã. A Região Uva e Vinho é composta pelos municípios: Antônio Prado, Barão, Bento Gonçalves, Boa Vista do Sul, Carlos Barbosa, Casca, Caxias do Sul, Coronel Pilar, Cotiporã, Fagundes Varela, Farroupilha, Flores da Cunha, Garibaldi, Guabiju, Guaporé, Montaury, Monte Belo do Sul, Nova Araçá, Nova Bassano, Nova Pádua, Nova Prata, Nova Roma do Sul, Paraí, Pinto Bandeira, Protásio Alves, Santa Tereza, Santo Antônio do Palma, São Domingos do Sul, São Jorge, São Marcos, São Valentim do Sul, Serafina Corrêa, Uni­­­ ão­da Serra, Veranópolis, Vila Flores, Vila Maria, Vista Alegre do Prata. Essa região tem forte colonização italiana, com a economia voltada para a cultura da uva e do vinho. Sua beleza é constituída por morros, colinas, vales, rios e também por videiras. Na culinária local encontramos pratos típicos da Itália, como massas, polenta, sopa de capeleti, radiche com bacon, acompanhados de bons vi­ nhos regionais. Nas cantinas e vinícolas é possível conhecer todo o processo da produção de vinhos e espumantes, desde a colheita até o produto final e degustar o resultado dessa elaboração, como na Rota Vale dos Vinhedos, entre Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul, onde é possível aproveitar, também, um emocionante passeio de Maria Fumaça. São 23km de percurso e 1h30min de muita aventura, com música italiana, degustação de vinhos e espumantes. Deu vontade de desfrutar das delícias da Serra g aúcha? Diversas agências de viagens oferecem pacotes para todos os gostos e idades: viagem romântica, de lua de mel, de aventura, de passeio, tradicional, viagem de férias e de final de semana. A Região Serrana é maravilhosa. Venha conhecer e se encantar.

Parreirais em São Marcos

Crédito Miriam Cardoso de Souza

Cânion Fortaleza em Cambará do Sul

FIQUE LIGADO NAS DATAS DOS PRÓXIMOS EVENTOS Antônio Prado - 4ª Fenamassa - Festival de Massas de Antônio Prado (9 a 18 de outubro) Bento Gonçalves - Natal Bento (4 de dezembro a 6 de janeiro de 2016) Canela - 6º Sabores de Canela (29 de maio a 9 de agosto) Carlos Barbosa - 26º Festiqueijo (2 a 26 de julho) Carlos Barbosa - 19ª Feira de Compras (3 a 26 de julho) Caxias do Sul - Mercopar 2015 (6 a 9 de outubro) Garibaldi - Fenachamp 2015 (1º a 25 de outubro) Gramado - 43º Festival de Cinema de Gramado (7 a 15 de agosto) Gramado - 30º Natal Luz de Gramado (30 de outubro a 17 de janeiro) Guaporé - 14ª Mostra Guaporé (31 de julho a 9 de agosto) Picada Café - 6ª Festa do Café, Cuca e Linguiça (1º a 30 de agosto)


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Serra gaúcha

Elvis ainda vive

Em breve, no interior de Farroupilha, fãs de Elvis Presley poderão prestigiar diversos itens que lembrarão a época em que o Rei do Rock arrancava suspiros da plateia e fazia as garotas desmaiarem Camila da Costa camimiladacosta@gmail.com Crédito Eder Tondello

O Museu Café do Rock terá mais de 3mil ítens relacionados a Elvis

S

e você é fã de Elvis Presley, prepare-se! Em breve o empresário e artista farroupilhense Fabiano Feltrin vai inaugurar o Museu Café do Rock. “Estamos trabalhando para que possamos inaugurá-lo dia 16 de agosto, data da morte de Elvis, pois no mundo inteiro é realizado a Elvis Week – Semana Elvis.”

1967, máquina de costura de 1920, juke box, centenas de miniaturas e souvenirs da Elvis Presley Enterprises, lambreta de 1960, modelo do último Cadillac adquirido por Elvis: Sedan de Ville, de 1976, totens explicativos, fotos raras, discos... Enfim, são cerca de três mil itens que estarão à disposição dos visitantes.

Fabiano sempre gostou de música e teve banda na adolescência. Quando tinha trinta anos de idade, se interessou por Elvis Presley, e isso o transformou em um grande colecionador e estudioso do músico, além de impulsioná-lo na carreira artística, como Cover do Rei. O Elvis Gaúcho, como é conhecido, faz turnês por todo o mundo, especialmente no Brasil, e participa de exposições que percorrem os shopping centers de vários estados brasileiros, onde seu acervo é levado para a alegria dos fãs.

Além de apreciar diversos itens, o público poderá aproveitar as delícias oferecidas no local: “O museu será um restaurante temático. Ali, as pessoas poderão degustar pratos típicos da nossa história e apreciar peças relacionadas à música, especialmente no que se refere à história de Elvis Presley, maior ícone da música internacional”, assegura Fabiano. Ele salienta, ainda, que não serão cobrados ingressos: “Quem for almoçar e jantar no Museu Café do Rock poderá apreciar toda a decoração e ambientação temática”.

Com o intuito de colocar à disposição do público o maior acervo da América Latina relacionado a Elvis, surgiu a ideia de criar o Museu do Rock, onde será possível encontrar diversas raridades, como vitrola de 1919, rádios dos anos 40, violão de 1957, violino de

A localização do Museu, que fica no 4º distrito de Farroupilha, também foi bem pensada: “Escolhemos uma das mais promissoras rotas turísticas do estado, Caminhos de Pedra entre Bento Gonçalves e Caravaggio”, afirma Fabiano.

E

nquanto o Museu do Rock não é inaugurado, você pode conferir dicas do Cover de Elvis sobre o que visitar em Farroupilha: Santuário de Cara­ vággio, por onde passam dois milhões de visitantes e turistas por ano; Elvis Café, a única cafe­ teria em homenagem ao Elvis, no país; Nova Milano, comunidade que cultua as tradições e onde é realizado o Encontro das Tradições Italianas (Entrai); Cascata do Salto Ventoso; Praça da Imigração Italiana. Crédito Eder Tondello

O Museu contará com ítens raros, colecionados pelo Cover do Rei


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Caxias e a sétima arte Com pouco mais de 480 mil habitantes, a cidade tem quatro salas de cinema e uma oferta que se equilibra entre o cinema-arte e o comercial. Se o número é pequeno, os frutos não são, que o diga o grupo independente Sala 2 Lucas Borba lborna1618@hotmail.com Crédito Lucas Borba / Fotomontagem

O cinema não tem fronteiras nem limites.” Essa entusiasmada declaração do diretor Orson Welles colide com o crescente debate quanto ao equilíbrio do fazer cinema na balança, que pende entre o artístico e o comercial. Num dos pratos, a questão financeira; no outro, o vínculo com o papel educador. Como resolver a equação? Por um lado, não há fronteiras entre o cinema e o comércio, por mais artístico que ele seja – como imaginar um filme que, mesmo exibido ou distribuído gratuitamente, não dependa de um orçamento na produção? Por outro, a proposta de um filme frente aos custos envolvidos nele é um fator determinante para se saber se há ou não limites – esclareça-se, pois, o preconceito de que filmes caros são necessariamente de boa qualidade, e de que produções de orçamento inferior são obrigatoriamente de qualidade inferior. Questões financeiras à parte, as salas de cinema, privadas ou públicas, são o ponto de convergência do público que não se contenta em esperar que certo filme chegue aos canais de TV ou às suas mãos, seja por qual meio ou plataforma for. Além da novidade e da experiência única de se assistir a um filme no cinema, cabe às salas de exibição da sétima arte buscar um equilíbrio entre a demanda do público da região onde atua e as tendências do mercado cinematográfico como um todo, processo que naturalmente se dá com maior ou menor eficiência. Caxias do Sul possui dois

grandes cinemas privados: o GNC Cine­ mas – rede gaúcha iniciada em 1991 e que chegou à cidade em 1996 –, no shopping Iguatemi, e o Cinépoles – outra rede, essa mexicana, que atua em sua terra desde 1971 e abriu as portas na cidade há pouco mais de quatro anos, no shopping São Pelegrino e daí para outras partes do Brasil. Outra opção é a Sala de Cinema Ulysses Geremia, da Unidade de Cine­ ma e Vídeo da prefeitura, fundada em 2002, no Centro Municipal de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho, que oferece sessões inéditas por R$ 8,00 (normal) e R$ 4,00 (meia entrada) e sessões especiais gratuitas, além de cursos e outras atividades. Segundo Marcelo Finger, geren­te da unidade de Caxias do GNC, a empresa busca atender à procura do público por “blockbusters” – filmes populares, badalados, segundo definição do próprio gerente. “Em Porto Alegre, nossa programação é bem diferente em relação a Caxias. Lá oferecemos filmes mais alternativos (cult) para um público diferenciado. Procuramos seguir o que o mercado absorve”, esclarece. Já Conrado Heoli, publicitário e coordenador da Unidade de Cinema e Vídeo do Ordovás, afirma que a sala não está presa à espera do lucro financeiro e por isso tem a liberdade de exibir títulos menos conhecidos – como o sueco “Nós somos as melhores” – , mas que nem por isso deixa de competir em qualidade com filmes populares. “Também lutamos para desfazer o preconceito de que a sala exibe filmes difíceis de

compreender e, com a aplicação de nosso recente projeto de comunicação externa e atividades como as sessões comentadas, nosso público tem crescido”, completa Heoli. Alessandro Mascarelo, gerente do Cinépoles São Pelegrino, declara a dependência da empresa em relação aos filmes que as distribuidoras ofere­ cem. “Conforme o título que recebemos, planejamos ações de divulgação para a­trair público”, salienta.

Sonho conjunto Se fazer cinema tem um preço, há quem esteja disposto a pagá-lo do próprio bolso. É o caso do grupo comunitário Sala 2 – Caxias em Ação. A história do Sala 2 começou quando o diretor Celso Perotto ministrou um curso sobre produção audiovi­ sual à comunidade do Bairro Serrano, em parceria com o produtor Juliano Valim Soares. O curso levou à criação do grupo em 2013, composto por pessoas distintas, de diversas áreas de trabalho, e nenhum integrante exerce profissão diretamente ligada à produção cinematográfica. Como uma confraria, reúnem-se para aprender e fazer cinema, com estudos voltados para todas as instâncias de uma produção: iluminação, preparação do set, operação de câmeras e demais equipamentos, até mesmo a criação e interpretação de personagens. Segundo Soares, o grupo é a

realização de um sonho conjunto de pessoas simples, que querem provar que nenhum movimento artístico é limitado pelas condições de profissionalização do segmento, mas por não se tentar viver este sonho. “Quando o grupo começou, éramos aproximadamente trinta pessoas. Hoje, somos dezesseis, mas quando estamos em processo de gravação sempre é aberto o convite à comunidade para figurantes”, relata o produtor. Soares frisa que o grupo ainda não obteve ganho financeiro com o material produzido, que todos trabalham voluntariamente e que todas as despesas ficam a custeio de cada membro do Sala 2. Quanto à divulgação do trabalho do grupo, ela se dá principalmente via internet: “[...] é um meio gratuito e não recebemos qualquer tipo de apoio para divulgação em outros veículos, mas quando lançamos nosso primeiro filme concedemos entrevistas a jornais, revistas, rádios e TV”, comemora o produtor. Quando questionado pelo Textando sobre o público que o Sala 2 busca atingir, Soares afirma: “O público que queremos atingir não se define, pois nossa missão é levar cultura a todos os públicos.” No começo do ano, o Sala 2 lançou seu primeiro projeto: a ficção de terror média metragem “O mato do gritador”, disponível no Youtube. Em junho, lançou o curta humorístico “Como matar um suicida”, baseado no conto de mesmo nome de Uili Bergamin.


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A conscientização Empenhada em fazer a diferença, uma escola farroupilhense , a 1º de Maio, trabalha, desde cedo, o tema do reaproveitamento e com isso tirou do papel o grande sonho de ter sua própria usina de reciclagem Schaiane Sacramento schaianesacramento@gmail.com Crédito Schaiane Sacramento

Ladeada pelos alunos, Ester esbanja alegria ao ver a participação dos jovens na busca de melhorias ao meio ambiente, além de levar para toda a comunidade a ideia de conscientização no assunto lixo

A

cada ano que passa, gover­ nos e ONGs buscam maneiras de diminuir o excesso de lixo pelo mundo. Sempre vemos campanhas de reciclagem e economia de energia, mas mesmo assim estamos longe da mudança. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), uma pessoa produz em média 400 quilos de lixo por ano, em muitos casos sem destino adequado. Na esperança de me­lhorias e conscientização da comunidade, a escola 1º de Maio, no bairro de mesmo nome, em Farroupilha, é um bom exemplo quando o assunto é reciclagem. Depois de anos de discussão, direção e professores tiraram um sonho do papel e criaram uma usina de reciclagem na instituição. O projeto foi desenvolvido para a redução do lixo produzido. Na usina, os alunos aprendem como funciona a separação e preparação dos materiais a serem reciclados. Num segundo momento, os produtos podem ser utilizado para a confecção de cartões, pastas e capas para livros, entre outros. Foram criados, também, uma horta e um minhocário, que servem para o plantio de chás e hortaliças utilizadas na meren­­da dos estudantes, sem contar as flores pelo pátio. A professora responsável por todas essas ideias é Ester Baseggio Troes, que se empe­

nha há 20 anos na mudança e cons­ cientização de alunos e comunidade. “Sempre gostei de trabalhar os temas do meio ambiente. É algo que me fascina. As ideias iniciais surgiram em parceria com a professora Carmem Zanonato, e perduram até hoje, mesmo que ela não esteja mais conosco”, destaca Ester. A educadora ainda comenta que todos os materiais, como papéis de trabalhos, cartazes e rascunhos, são fornecidos pela escola. Os restos de alimentos que sobram da cozinha são colocados na horta como adubo. Tudo é reaproveitado de alguma forma. Durante todo o mês, são realizadas oficinas com os mais jo­ vens, para que também possam ter contato com a usina e todo o procedimento. “É gratificante ver o empenho e o interesse deles em participar das oficinas, e dos teatros que realizamos. Estamos no caminho, mas ainda falta muito para que todos estejam cientes da situação do planeta”, comenta.

Baile da Primavera Em sua 34ª edição, o Baile da Primavera é uma tradição em Farroupilha. E neste ano novidades aguardam o público, como os convites confeccionados com o papel reciclado produzido na escola. Sob o comando da professora Ester, os alu-

nos já começaram a produzir as folhas. “Ficamos felizes ao receber o pedido dos organizadores do evento. Estamos produzindo papel em tom envelhecido. Acredito que ficará lindo”, aposta a professora.Os ajudantes são alunos do 9º ano, e desde pequenos têm contato com projetos da escola. “Faço parte desse grupo desde o ano passado. Gostei da ideia do projeto. Além de auxiliar a escola, mostra para a comunidade que é possível reciclar e criar novos objetos com o lixo. Aprendizado que, com certeza, vou levar para sempre e, como digo, pequenos começos geram grandes conquistas”, comenta o estudante Pedro Jerônimo Carvalho. Felipe Soares, colega de Jerônimo, começou na usina aos sete anos e continua a auxiliar na preparação de trabalhos, com entusiamo e dedicação. “Tudo o que fazemos é para a conscientização sobre a importância de separar e reciclar o lixo, dentro e fora da escola. Ficamos muito felizes quando vemos nossos trabalhos expostos, como os papéis para o convite do baile. Gosto de trabalhar com artesanato também. Para mim um projeto se encontra com o outro”, destaca Felipe.

Produção de sabão Após ler dezenas de notícias e re­ clamações sobre o descarte do óleo de coz-

inha, Ester teve uma ideia: Por que não reutilizar esse material fazendo sabão? E foi em 2011 que mais uma iniciativa tomou corpo. Com a coleta de óleo de co­zinha trazida pelos alunos, a professora deu início à fabricação do produto. “Tivemos essa ideia depois de muitos pais e moradores nos procurarem para saber onde poderiam descartar o óleo. Foi aí que demos início à produção”, revela a professora. Ester destaca que o óleo não utilizado é vendido para uma empresa de biodiesel, cerca de 300 litros por mês. O dinheiro arrecadado com a comercialização é revertido em investimentos para a escola, como melhorias na usina e compra de materiais para a horta, mudas de flores e chás. “Essa é uma forma de termos um lucro a mais, sem mexer no nosso orçamento. Assim, conseguimos nos virar. Queremos que para o futuro nossa usina fique melhor, com um espaço maior e mais organizado”, relata. A idealizadora de todo o projeto destaca que o procedimento é realizado pelas cozinheiras da escola, todas com experiência.


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o pode vir do lixo Projeto Plano Cartesiano Didático Física, Química e Matemática saem do papel para o dia a dia dos estudantes. O resultado é criatividade e engajamento em sala de aula A busca por reinventar a cada dia a metodologia em sala de aula é o grande objetivo dos professores atua­l­mente. No ano passado, o professor Sandro Trevisan, do Colégio Estadual Farroupilha, criou, em parceria com alunos do Ensino Médio, o projeto Plano Cartesiano Didático. A ideia principal era montar um sistema todo de materiais reciclados, no qual os alunos conseguissem aprender e compreender o conteúdo de uma forma diferente. A proposta busca aplicar ideias de Física, Química e Matemática, como condutores elétricos, voltagem, sentido da corrente elétrica, resistência elétrica, circuitos em série e paralelo, redutores, transformadores, eletroímã, oxidação, montagem do equipamento e o uso dos diferentes materiais. No dia 6 de março, o professor e os alunos Alisson Rosanelli e Eduardo Slipp, apresentaram o trabalho durante o Seminário de Encerramento da II Etapa do PNEM, que ocorreu no Personal Royal Hotel, em Caxias do Sul. Trevisan comenta que pretende levar a proposta adiante para a conscientização de outras instituições de ensino. “O último evento contou com a participação de professores e orientadores de todas as escolas da 4ª CRE, 11ª CRE e 18ª CRE. Queremos que o nosso projeto cresça e leve maior aprendizado aos alunos”, finalizou.

Ingredientes

Crédito Schaiane Sacramento

A invenção foi produzida pelos próprios alunos, com materias trazidos por eles e encontrados na escola para a confecção do projeto

Receita para fazer sabão em barra Crédito Schaiane Sacramento

4 litros de álcool 2 litros de água 1 quilo de soda 1 quilo de sebo 4 litros de azeite de cozinha usado

Modo de fazer

Em um balde coloque a água, acrescente a soda e mexa. Em outro balde (grande) adicione a gordura e o álcool e mexa devagar; acrescente a água e a soda mexendo sempre devagar. Quando ao levantar a colher a mistura formar um fio, coloque nas formas e aguarde.

Rendimento

25 pedaços de sabão de meio quilo cada. A venda do sabão é realizada para professores e pais. Interessados podem entrar em contato com a escola pelo fone (54) 3268-1007.

Produzido com óleo de cozinha trazido por alunos e moradores, o sabão é comercializado dentro e fora da escola


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A crise da mobilidade

O crescimento do número de veículos no Brasil, inclusive em pequenas cidades, tem provocado um transtorno no trânsito. O país necessita de um planejamento urbano adequado para suprir e atender à população Lilian Donadelli liliandonadelli@gmail.com

Crédito: Lilian Donadelli

Trânsito das seis da tarde na Rua Jacob Ely, uma das principais e movimentadas vias de Garibaldi, apresenta lentidão costumeira enfrentada pelos motoristas que passam pelo local em horário de pico

O aumento no número de veículos no Brasil tem causado problemas para os moradores de pequenas e grandes cidades. De acordo com a previsão oficial do Ministério de Minas e Energia, até 2050 o número de automóveis no País vai quadruplicar, saltando de 36 milhões em 2013 para 130 milhões. Segundo divulgação do Departamento de Trânsito do Rio Grande do Sul (Detran), até março de 2015 a frota de veículos chegou a 6.081.464, ou seja, atualmente há uma moto, carro, caminhão ou ônibus para cada 1,8 gaúcho, colocando o estado na quarta posição do País com maior frota. Ainda conforme dados do Detran, analisados pelo Observatório de Metrópoles do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia, o aumento em porcentagem do número de veículos, na última década, foi onze vezes maior do que o da população, em apenas dez anos. De acordo com a psicóloga Rafaela Fava de Quevedo, a facilidade de compra é um dos motivos para o crescimento descontrolado do número de veí­ culos e pode ser considerada sinônimo de geração de emprego e renda. No entanto, para Rafaela, a qualidade dos serviços não acompanhou o desenvolvimento do País, causando problemas como congestionamento e estresse. Além disso, conforme estudo da psicologia social, o sentimento

de possuir um veículo remete a poder e status dentro de uma comunidade, onde o indivíduo ganha autonomia de ir para onde quiser, com quem quiser e quando quiser, despertando, assim, o consumismo. Motorista há 25 anos, o empresário Renato da Campo, morador de Garibaldi, dirige de segunda a sábado até Bento Gonçalves pela BR-470, onde trabalha. Renato, que tem três automóveis, explica que a opção pelo carro, em detrimento do ônibus, se dá pela má qualidade dos serviços e pela falta de estrutura, além das péssimas condições das estradas. “Indo trabalhar de carro em dias com congestionamento, que são frequentes, levo 20 minutos para fazer 16 km. A quantidade de carros é realmente absurda, mas acredito que a falta de estrutura é mais absurda ainda. Como utilizo o carro para serviço, preciso de maior mobilidade”, declara o motorista. Do mesmo modo Paula Dal Pupo, 32 anos, faz todos os dias 20 km de Marcorama, interior de Garibaldi, até chegar ao centro da cidade, pela ERS-453. “Apesar do grande movimento da Rota do Sol e das condições da estrada, acabo sempre indo de carro, pois a linha de ônibus não oferece opções de horários que fechem com a minha rotina”, afirma a condutora. Tanto Renato quanto Paula transitam por rodovias consideradas peri­

gosas. Conforme o Grupo Rodoviário de Bento Gonçalves, no ano passado, 63% dos acidentes nas estradas da Serra foram registrados na BR-470, seguido da RSC-453, que é considerada a segunda com maior índice de acidentes.

Alternativas Uma das alternativas criadas para auxiliar os brasileiros neste quesito é a Lei da Mobilidade Urbana (12.587/12), implantada em janeiro de 2012. Ela estabelece que até este ano os municípios com mais de 20 mil habi­tantes terão que dispor de um plano de mobilidade. Esse é o caso de Garibaldi, que implantou em 2014 a Secretaria de Segurança e Mobilidade Urbana. Na opinião do secretário de Segu­rança e Mobilidade Urbana de Garibaldi, Carlo Mosna, apesar de a imprudência ser a principal causadora dos acidentes tanto nas vias urbanas quando nas rodovias, o grande movimento de veículos colabora para o aumento deste índice. “As cidades menores estão aumentando rapidamente o número de veículos por habitantes, que na sua maioria tem mais de um carro por família. Em Garibaldi, por exemplo, a cidade conta com 12 mil famílias e 23.671 veículos, sendo 13.610 automóveis, 1.440 ca­ minhões, 759 caminhões e trator, 2.061

caminhonetes, 765 camionetas, 90 micro-ônibus, 2.318 motocicletas, 727 motonetas, 127 ônibus, 24 tratores de rodas, 221 utilitários e 1.528 do tipo outros. Ou seja, cada família possui, aproximadamente, 1.97 carros”, contabiliza Mosna. Diante dessa realidade, as ruas, que antes eram pacatas, hoje estão superlotadas com carros de variadas marcas e modelos. Mosna afirma que um dos motivos que colaboraram para esse crescimento é o incentivo do governo por meio de financiamentos. O secretário ressalta que apesar de ser um fator positivo, agora é necessário criar alternativas no trânsito para dar suporte à demanda de veículos. “É necessário criar soluções através de estudos para melhorar o trânsito, aumentar a sinalização e oferecer alternativas para facilitar a trafegabilidade dos veículos, como, por exemplo, a pavimentação da Av. Perimetral Leo Antônio Cisilotto, sentido Centro-Bairro”, explica o secretário. O município conta, atualmente, com uma ciclofaixa na principal avenida da cidade, com dois quilômetros de extensão; porém, o trajeto que é liberado nos domingos e feriados, tem como objetivo o lazer. Mosna ressalta que existem projetos para ampliar a ciclofaixa no sentido Borghetto e Linha Baú. No entanto, os garibaldenses têm apenas como opção para mobilidade ônibus e táxis.


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Mobilidade e novos olhares Arquivo Pessoal/ Márcio Sabei

O músico Márcio Sabei viveu na Europa durante cinco anos, morando na Itália e em Londres, países que investem na mobilidade urbana proporcionando alternativas de locomoção como a bike

Enquanto o Brasil enfrenta a falta de um plano de mobilidade urbana, as soluções adotadas por grandes metrópoles europeias incluem investimentos em linhas de metrô, ampliação de ciclovias e corredores de ônibus, além de ou­ tras alternativas como caronas solidárias. O músico garibaldense Márcio Sabei morou 2 anos em Londres, metrópole com cerca de 7 milhões de habitantes, além de outros milhões de turistas todo o tempo, e outros 3 anos numa cidadezinha de pouco mais de 8 mil habitantes, chamada Sandrigo, no norte da Itália. Segundo Sabei, existem muitos pontos que demonstram a organização do trânsito europeu, se comparado ao Brasil, “as placas de trânsito são padronizadas e presentes, sem vegetação cobrindo elas

e nenhuma depredação; a engenharia de tráfego é bem planejada, tudo funciona bem, inteligentemente rotatórias; desvios, semáforos, cruzamentos”. Outro ponto destacado pelo músico é que os motoristas, na europa, em sua maioria, são educados e respeitam os outros ocupantes das vias, sejam eles mais ou menos vulneráveis. Ainda conforme o brasileiro, tanto em Londres, quanto na cidadezinha italiana, as bicicletas são responsáveis pelo transporte de um grande percentual de pessoas. Desta forma, a mobilidade é pensada primeiramente nos usuários que transitam por todos os lugares com as bikes. “As bikes são parte da cultura europeia. Toda casa tem, no mínimo, uma bicicleta. Pessoas de to-

Família passeando em Sandrigo, na Itália, em um dos principais meios de transporte da cidade

Na opinião do jovem, o ser humano tem nos carros um amor que falta em relação às pessoas. Alguns querem mostrar que têm certo poder aquisitivo ou, ainda, são muito acomodados. As pessoas, principalmente na região da Serra gaúcha, ficam comprando carro, muitas vezes se endividando sem necessidade, para desfilar pelas ruas esburacadas com seus carros rebaixados ou com suas grandes SUV de sete lugares, que transportam uma pessoa por vez. Não acredito que esse problema de trânsito seja resolvido e que o País tenha um crescimento organizado, não nas próximas duas ou três décadas pelo menos”, critica.

Márcio Sabei

Márcio Sabei

das as idades andam de bike, de todas as classes sociais”, conta Márcio. Outras alternativas de mobilidade adotadas na Europa são motos e carros elétricos, mas o transporte urbano (metrô, ônibus, trens) é utilizado pela maioria das pessoas. Márcio explica que na metrópole, por exemplo, têm opções de transporte público 24 horas por dia, 7 dias por semana, para toda região metropolitana. Não há, assim, a necessidade de se ter um carro. “Na cidade pequena fica mais cômodo ter um carro, pois as opções públicas não são tantas depois de certa hora da noite; mesmo assim, tudo pode ser feito de bicicleta, sem problemas, pois, se a pessoa quiser utilizá-la à noite, pode ser instaladas luzes (faróis e lanternas) que auxiliam a visão”, destaca.

As bikes são parte da cultura europeia, pessoas de todas as idades e classes a usam diariamente


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Na contramão

Permanecer nas propriedades rurais não é tarefa fácil para os jovens, que cada vez mais mostram interesse por viver em centros urbanos. Uma alternativa que se mostra viável para reduzir esse movimento são as escolas técnicas rurais Laís Alende Prates laisalende@hotmail.com

Crédito Arquivo Pessoal/Bernardo Mattei

Bernardo (à direita) ao lado do professor da EFASERRA, durante visita do docente para avaliação da propriedade rural do aluno, que está situada em Coronel Pilar, interior de Garibaldi

N

os últimos 50 anos, um movimento vem preocupando especialistas no Brasil: o êxodo rural. Em 1950, a população brasileira era de 51,9 milhões de habitantes, sendo que 63,1% da população vivia em propriedades rurais. Já em 2014, com uma população de 190,7 milhões, o País possuia apenas 29,8 milhões de pessoas vivendo no campo, o que corresponde a apenas 15,7% da população brasileira. Além disso, o último Censo, realizado pelo IBGE em 2010, aponta para a situação da Serra gaúcha, em relação ao êxodo rural. Apenas 8% dos jovens de 10 a 25 anos reside no meio rural, 5% a menos que no Censo de 2000. Segundo a Emater, no Rio Grande do Sul, em torno de 30% das propriedades não possuem sucessor. Esses dados se justificam pelo forte atrativo que os centros urbanos oferecem aos jovens que, sem grandes perspectivas de ter uma vida melhor no campo, em função da falta de investimentos, sentem a necessidade de migrar para as cidades. Além da possibilidade

de crescimento profissional e acesso a uma formação especializada, os centros urbanos são, para alguns, a única opção para uma melhor qualidade de vida.

Formação no campo

Para deter esse movimento contrário à permanência das famílias no campo, nos últimos anos têm-se investido em escolas rurais com formação técnica para os jovens. É o caso da Escola Família Agrícola da Serra Gaúcha (Efaserra), atualmente localizada na região da 3ª légua, em Caxias do Sul. A escola surgiu a partir da iniciativa de agricultores de Garibaldi e Bento Gonçalves, que preocuparam-se com a falta de investimentos para a permanência dos jovens no campo. O objetivo da Efaserra é, além de oferecer aos jovens de famílias do campo o Ensino Médio juntamente com o Ensino Técnico, viabilizar a permanência das famílias em sua propriedade rural. Se­ gundo Fernanda Flores, monitora e coordenadora institucional, a Efaserratem como foco proporcionar a for-

mação cidadã, integral e personalizada de jovens do campo e de suas famílias, em harmonia com o meio ambiente, articulada com os valores humanos, espirituais, técnico-científicos e artístico-culturais, por meio da interação e a responsabilidade da escola e o contexto sociofamiliar do aluno. A Escola Família Agrícola da Serra Gaúcha trabalha com a metodologia da alternância. Assim, conforme Fernanda, durante uma semana um grupo de alunos fica na escola em regime de internato, com aulas durante a manhã e a tarde e, no período da noite, os alunos participam de atividades mais culturais. Durante essa mesma semana, outro grupo de estudantes fica em sua propriedade rural para aplicar os conhecimentos estudados em aula, que serão avaliados pelos professores em visitas regulares às propriedades. No período de internato, os discentes também são responsáveis pela limpeza e organização do espaço comum. A escola ainda não formou turmas desde a mudança para Caxias do Sul (antigamente era localizada em Garibaldi),

mas em sua atuação anterior, uma pesquisa constatou que 70% dos estudantes que passaram por ali permaneceram no campo. “Por muito tempo ,as principais causas da saída dos jovens do campo foram a falta de oportunidades e investimentos no setor. Porém, o que vemos ,hoje, principalmente aqui na escola, é que os jovens têm interesse em permanecer no campo e, recebendo esse apoio de conhecimento técnico, fica mais fácil a permanência”, afirma Fernanda.

Novo horizonte O estudante da terceira série do Ensino Médio, Bernardo Mattei, 16 anos, está concluindo seus estudos na Escola Família Agrícola da Serra Gaúcha. Bernardo é natural de Coronel Pilar e, juntamente com o Ensino Médio, cursa o técnico em Agropecuária. Ele afirma que, após o ingresso na escola, passou a visual­ izar uma oportunidade de permanecer na propriedade da família.


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do êxodo rural “Quando entrei na escola minha ideia não era permanecer no campo, mas como a escola me abriu portas para isso comecei a mudar minha visão sobre o campo e, principalmente, a visão da minha propriedade. Hoje, enxergo oportunidades que antes não enxergava e que poderiam dar muitos resultados. Mudei também a relação com a minha família, que faz um papel muito importante na minha formação”, afirma Bernardo. O estudante aponta uma carac­ terística que considera importante na escola: “As escolas rurais nos possibilitam aprimorar os conhecimentos que já vemos em casa e também aprendemos a usar a

tecnologia em nossas propriedades”, ressalta. A propriedade da família de Bernardo foca a produção agrícola, e o jovem conta que a escola tem despertado mais interesse e motivação pela área e que pretende continuar trabalhando e aplicando seus conhecimentos para ajudar os fami­ liares. “Agora vejo como permanecer no campo é viável. Apenas devemos analisar as oportunidades que temos na propriedade para que possamos fazer estudos de mercado, podendo avaliar se as questões são viáveis para implantá-la na propriedade tendo retorno financeiro”, afirma.

PEDAGOGIA

DA ALTERNÂNCIA A Pedagogia da Alternância consiste em um método aplicado em áreas rurais para mesclar períodos em regime de internato na escola com outros em casa. A metodologia é reconhecida pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC). A Pedagogia da Alterância foi criada por camponeses franceses e trazida ao Brasil, no final da década de 60. Neste método, os alunos têm as disciplinas regulares do curso do Ensino Médio, além de outras voltadas à agropecuária. Quando os alunos retornam para casa, devem desenvolver projetos e aplicar as técnicas que aprenderam em hortas, pomares e criações,

Crédito Lais Alende Prates

As aulas, divididas em Ensino Médio pela manhã e técnico à tarde,fazem parte da Pedagogia da Alternância,nas quais o aluno conta os resultados que obtiveram durante a prática realizada em sua propriedade

Zona urbana

JOVENS DO CAMPO Segundo dados comparativos dos dois últimos censos do IBGE, o quadro ao lado aponta o número de jovens que vivem na Serra gaúcha no campo e nos espaços urbanos.

Municípios

Bento Gonçalves

Boa Vista do Sul

Carlos Barbosa

Caxias do Sul

Coronel Pilar

Farroupilha

Garibaldi

Total Serra gaúcha

2000

7510

29

1310

31707

-

3890

2029

52144

2010

7447

34

1536

33110

10

4502

2076

54707

Zona rural 2000

855

202

488

2310

-

1129

461

8268

2010

586

152

366

1331

90

673

257

5425


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Futuro dentro d’água Lei criada pelo governo federal incentiva pessoas e empresas a doarem parte do seu Imposto de Renda a entidades voltadas ao esporte. O programa busca descobrir talentos no esporte e quer garantir futuro melhor para estes jovens Ronaldo Daros ronaldoucs@gmail.com Crédito Ronaldo Daros

A canoagem foi incluída nos Jogos Olímpicos em Berlim, no ano de 1936, e se mantém até os dias de hoje. No Brasil, existem registos do início da prática do esporte no ano de 1941

A

Lei de Incentivo ao Esporte, aprovada pelo Ministério do Esporte (Lei 11.438/2006), concede a oportunidade para que empresas e pessoas físicas invistam parte do que pagariam de Imposto de Renda em projetos de desenvolvimento esportivo. A regra é que as empresas podem doar até 1% e pessoas físicas até 6% do imposto proveniente. O projeto está dividido em três formatos: participação, educacional e de rendimento. As iniciativas de participação têm como principal objetivo o lazer e o incentivo à prática de esportes, com atividades em parques, praças, caminhadas, corridas, jogos em comunidades. Os educacionaissão organizados por setores da sociedade civil; têm como principal característica apoiar jovens matriculados regularmente nas escolas e oferecer atividades esportivas como apoio curricular e social principalmente às crianças carentes. Já os de rendimento são para atletas que buscam competições, e para isso eles seguem regras preestabelecidas. Nessa modalidade não é autorizado o uso do recurso no pagamento de salário de jogadores de futebol e peões de rodeio. Em Caxias do Sul, existe um programa que é por essa Lei: o projeto Remadas Solidárias, que tem o intuito de oferecer aulas básicas de canoagem a jovens da periferia da cidade. O projeto se desenvolve na lagoa da sede esportiva do Sesi e atende a mais de 300 crianças,

com idade de 10 a 18 anos, de segunda a sábado, divididas em cinco turmas com diversos professores, alguns deles inclusive com participação em seleções nacionais. Além da prática da canoagem, são desenvolvidas atividades teóricas e práticas relacionadas a florestas, clima e água, trabalhando o espírito de cooperação, relações entre os jovens e palestras. Todos os alunos recebem transporte, lanche, conjunto de uniforme e acompanhamento técnico-pedagógico, duas vezes por semana, tudo de forma gratuita. Além de aulas de canoagem e atividades teóricas, os alunos desenvolvem atividades relacionadas à manutenção dos caiaques, por meio de uma oficina de fibras, além de oficinas de música, arte e outras modalidades esportivas. O programa tem duração de dois anos. A primeira edição ocorreu em março de 2012 até março de 2014, após esse período, ocorreu um recesso para captação de fundos. A segunda edição começou em março de 2015 e tem previsão de termino em março de 2017. Na segunda edição, oito escolas de Caxias do Sul estão cadastradas e fazem o encaminhamento dos alunos para o projeto. Exis­te a possibilidade de, ainda no primeiro semestre, expandir-se para 10 escolas. Alunos que não fazem parte do programa, por intermédio das escolas cadastradas, também podem participar do projeto e têm direito a todos os benefícios, exceto o trans-

porte gratuito. No projeto, os alunos que se destacam podem integrar a equipe de treinamento e participar de competições. Segundo o supervisor Jonatan Pimentel Maia, os professores avisam quando tem um talento: “É passado para mim quando algum aluno tem rendimento maior que os outros; a partir disso, conversamos com os pais e se eles têm o interesse de pôr o filho na equipe de treinamento, mesmo integrando o time de competição”, o aluno continua no Remadas Solidárias, conta Maia. A duração das aulas geralmente é de uma hora. Depois disso, os atletas lancham e em seguida permanecem nas oficinas, sempre em turno contrário ao currículo escolar. Com a escola, o contato é direto. Sempre que o aluno apresenta uma dificuldade ou um problema, os pais são chamados. Uma das mais novas professoras é Renata Santini. Ela conta que começou na canoagem por meio do curso de Educação Física. Depois de algumas visitas ao projeto, resolveu fazer parte dele, pois além de ser na área de sua formação profissional, existia o apelo social em auxílio dos jovens carentes. “Eu gosto muito de trabalhar com este público, pois tu percebe que não ajuda só na parte educacional. Tu também ajuda na vida deles. Quando eles saem daqui mais felizes, eu acabo ficando muito contente e isto me motiva a vir todo dia aqui fazer este trabalho”, disse Renata.

Prodígio Maia, natural de Santa Maria, iniciou na canoagem em 1998, em um projeto muito parecido com o Remadas Solidárias. Ele recorda que demorava uma hora e meia a pé para chegar e uma hora e meia para voltar do treinamento. O treino tinha a duração de uma hora. Em 2000, o treinador Álvaro, que a­tualmente é o coordenador do Remadas Solidárias, o convidou para fazer parte da Seleção Gaúcha. A sede da equipe e os treinamentos eram em Caxias do Sul e Maia mudou-se para a cidade. Em 2008, veio a convocação para a seleção brasileira e Maia conquistaria os sete títulos de campeão panamericano e os expressivos 35 títulos de campeão brasileiro. Depois disso, começou a trabalhar como auxiliar técnico da seleção masculina e fermina de canoagem. Em 2012, assumiu como treinador a equipe de Caxias do Sul, vencendo o campeonato brasileiro de canoagem do mesmo ano. Seu sonho de participar de uma Olimpíada permanece vivo. No futuro, ele pode se realizar como treinador. O convite já existiu, mas, deviao futuro nascimento, em breve, de sua filha ele resolveu adiar este momento. Segundo ele, há atletas de sua equipe com potencial para participar de uma Olimpíada, mesmo ele não sendo o treinador. Acredita nos seus alunos, e sabe que sua participação foi fundamental.


Basquete caxiense na elite brasileira

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A vitória contra a equipe do Sport, pelo placar de 70 a 62, na casa do adversário em Recife deu a vaga ao time gaúcho. A conquista coloca pela primeira vez um time de basquete do Rio Grande do Sul na competição principal dessse esporte. Ronaldo Daros ronaldoucs@gmail.com Crédito: Guilherme Peixinho / LNB/Divulgação

O time de Caxias do Sul foi campeão da competição nacional.

O time de basquete de Caxias do Sul conquistou o título da Liga Ouro contra o Sport em Recife, no Ginásio Marcelino Lopes. Ests título deu ao Caxias o direito a uma vaga na edição do Novo Basquete Brasil. A competição está prevista para começar ainda no mês de outubro deste ano. Mesmo com a conquista, o técnico Rodrigo Barbosa relata que é preciso um incentivo financeiro maior das empresas para a equipe montar

uma boa estrutura de equipe, logística e de espaço físico. “Nosso time ainda não está definido, também dependemos de garantias financeiras para podermos participar da Liga Nacional e ainda estamos para definir nossa nova casa”, aponta Barbosa. O Novo Basquete Brasil trouxe a possibilidade de os próprios clubes participarem da gestão. A intenção era organizar um campeonato que tivesse maior visibilidade nacional e maior interesse da

Juventude é Campeão Gaúcho de Futebol Americano

Crédito Geremias Orlandin

O Juventude FA é o Campeão Gaúcho de Futebol Americano em 2015. O título foi em cima do Porto Alegre Pumpkins pelo placar de 28 a 6. Em um jogo disputado, o time ergueu a taça na capital, dentro do Estádio da PUC. A equipe foi fundada em maio de 2014, vindo da antiga base do extinto time dos Gladiators. Destaca-se por ser a única equipe de futebol americano do interior do estado.

população. A primeira edição do NBB ocorreu em 28 de agosto de 2008. Hoje, o basquete está entre os esportes de maior destaque na mídia nacional. O Caxias do Sul Basquete foi fundado em 2005, a partir da ideia de Rodrigo Barbosa montar uma equipe profissional. O time foi montado 10 dias antes de estrear no Campeonato Gaúcho daquele ano, chegando na final da competição e ficando com o vice-campeonato. Já em 2006, nessa mes-

ma competição, ficou em terceiro lugar, mas, nos Jogos Intermunicipais do Rio Grande do Sul, foi vencedor. Em 2009, o tão sonhado titulo estadual foi conquistado. Repetindo a conquista em 2010, com Bicampeonato. Em 2013, o time foi pela primeira vez Campeão Sul- Brasileiro de Clubes, título que ganharia mais uma vez em 2014, além do Campeonato Gaúcho.

Dupla Caju Juventude e Caxias disputam a Série C do Campeonato Brasileiro em 2015. Os times foram montados com a base das equipes do Campeonato Gaúcho deste ano. Com o orçamento baixo, alguns nomes importantes deixaram as equipes e outros chegaram. Nos reforços, o destaque no lado do Juventude foi o meia-atacante Paulo Baier. No lado do Caxias, o destaque foi o centroavante Pedro Oldoni, destaque do Atlético Paranaense e que estava jogando no Anapolina de Goiás. A Série C é composta por 20 times, divididos em dois grupos. Em cada grupo, os times jogam todos contra todos. Os quatro melhores de cada chave se classificam para a segunda fase. Esses oito times se enfrentam em jogos de ida e volta em sistema “mata-mata”. Os quatro vencedores já garantem acesso à Série B do brasileirão. Os últimos dois de cada grupo serão rebaixados à Série D do campeonato.



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