Revista Textando

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Jornal-laboratório Universidade de Caxias do Sul Segundo semestre de 2015 Nº 13

Volume alto, carro baixo

Entre o amor e o ódio, carros rebaixados avançam na Serra gaúcha P. 14 AIDS Desconstruindo um dos maiores tabus da sociedade moderna

TRANSEXUAL Jovem caxiense compartilha história de força e transformação

ECONOMIA SOLIDÁRIA Conheça uma maneira mais humanizada de consumo

(IN)SEGURANÇA Crimes virtuais exigem cuidado redobrado de quem navega na internet

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P. 10

P. 16

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Nosso recado

H

mas de expressão da juventude. Mas, afinal de contas, o que é ser jovem? Para nós, isso não tem relação com a cronologia, como prega o senso comum. Acreditamos que ser jovem é uma maneira de encarar a vida, de se posicionar frente aos dilemas de uma sociedade em constante transformação. Ser jovem é se “jogar de cabeça” nas experiências que a existência proporciona. É entender que a vida pode ser levada de forma mais leve e menos carrancuda. Ser jovem é ser rebelde, mas também consciente. É se importar com o destino sem esquecer de apreciar a jornada. Ser jovem é lutar por mais direitos, mas, sobretudo, ter consciência dos seus deveres. Ser jovem é, acima de tudo, uma escolha. Não pretendemos criar uma fórmula para definir atitudes que rotulem o que é ser jovem ou não. O intuito dessa publi­ cação é permitir ao leitor pensar acerca do significado da juventude. Para isso, pretendemos retratar o comportamento, os gostos, medos, as perspectivas e os desafios de uma geração que não se propõe um objetivo único, mas luta em diversas frentes. Para isso, elencamos alguns temas que mostram a realidade dos jovens que constroem o Brasil do presente e o do futuro. A partir do momento em que assumimos o compromisso de produzir essa edição do Jornal Textando, desejamos criar um vínculo com nossos leitores, que vai além das páginas de um jornal. Como futuros jornalistas, queremos estimular o senso crítico e possibilitar a reflexão sobre os temas abordados nesta publicação.

Expediente

reitor Evaldo Antonio Kuiava

diretora do Centro de Ciências Sociais Maria Carolina Gullo

4 Juliana Girelli

á mais de uma década, o Jornal Textando é produzido semestralmente por acadêmicos do curso de Jornalismo, da Universidade de Caxias do Sul. A proposta da prática jornalística é uma oportunidade de os estudantes conhecerem a realidade da construção de um produto para a mídia impressa. A cada edição, ele se reinventa, como uma espécie de camaleão, refletindo as ideias e preocupações de cada turma. A árdua missão de produzi-lo somente é superada pelo prazer de vê-lo nas mãos dos leitores. Nesta edição, a juventude será o fio condutor de nossas reportagens. Segundo Censo de 2010 do IBGE, o Brasil tem 51 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos. Mas quantas dessas pessoas realmente são jovens? E quantos jovens fogem a essa estatística? É certo que dentro dessa parcela da população existem disparidades. Enquanto alguns têm as melhores condições para se desenvolver e chegar à vida adulta com voz ativa para exercer seu papel na sociedade, outros enfrentam dificuldades todos os dias e sequer possuem acesso aos direitos básicos, como alimentação, saúde, moradia e educação, que são fundamentais para o desenvolvimento humano. A mudança desse cenário é uma tarefa cotidiana de todos nós, mas cabe aos jovens assumir o protagonismo dessa revolução. Nós, na condição de estudantes de Jornalismo, acreditamos que a comunicação tem papel central na transformação dessa realidade. Percebemos que o modo como o jovem é retratado pela mídia, muitas vezes, não condiz com as diversas for-

Transformações tecnológicas têm feito professores repensarem métodos de ensino

EDUCAÇÃO

16 ESPECIAL 14 Gerson Felippi Jr

coordenador do curso de Comunicação Social - Jornalismo Alvaro Fraga Moreira Benevenuto Junior professora responsável Marlene Branca Sólio turma de Laboratório de Jornalismo Impresso 2015/4 Calebe Andrade De Boni Cláudia Palhano Diúlit Bernart Oldoni Gabriel da Rosa Rodrigues Gerson Felippi Junior Giovana Barcarolo Ivone Maria Montanari Jaqueline Mostardeiro Pereira Juliana Girelli Laura Silveira de Souza Luciane Karen Modena Luísa Biondo Mayara Zanella da Rosa Michele dos Santos Natália Catusso Lessa Pâmela Pelizzaro Priscilla Breda Panizzon Ricardo Augusto de Souza Taís Pellenz

Onda dos automóveis modificados invade a Serra gaúcha


COMPORTAMENTO

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Leite materno ajuda o bebê a ficar imune a doenças

Débora Siqueira

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Entenda a transexualidade pelos olhos de quem a vive

12 Natália Lessa

Aids ainda é um tabu, e número de infectados volta a crescer no Brasil

SAÚDE E se alguém disser que ser jovem não passa de uma sensação de espírito?

ECONOMIA 16

SEGURANÇA

Solidariedade e sustentabilidade como mantenedoras da economia

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ESPORTE 22

18 Divulgação

Divulgação

Empreendedorismo: o aprendizado constante para o próprio negócio

Hoje em dia é impossível pensar o mundo sem a internet. Mas estamos seguros?

Criar uma rotina de exercícios não é fácil, mas pode fazer toda a diferença

23 Paradesporto ajuda pessoas com deficiência a conquistarem autonomia


educação

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textando Juliana Girelli| jgirelli@ucs.br Pâmela Pelizzaro | ppelizzaro@ucs.br

NOVAS TECNOLOGIAS

O grande desafio da educação As transformações tecnológicas têm feito os professores repensarem os novos métodos de ensino

A

educação clássica está em transformação. A exemplo do retroprojetor, substituído pelas aulas em power point, a folha de papel vai dando lugar aos computadores e, mais recentemente, o texto escrito a giz no quadro é trocado pelas lousas digitais. A inclusão das novas mídias na educação é uma tendência crescente e tem sido cada vez mais utilizada nas salas de aula. As escolas vêm apostando nas novas tecnologias, incluindo essas

ferramentas no aprendizado dos alunos desde as séries iniciais. Os avanços tecnológicos chegam com rapidez e, em meio a tais modernidades educativas, surge como consequência uma provocação tanto para as escolas como para os professores: como aliar educação e tecnologia no aprendizado do aluno? Os educadores têm pela frente o desafio de fazer com que a educação seja eficiente e atraente para uma geração que já nasceu conectada e espera ter em sala de aula os

recursos de que dispõe em casa. para tornar o ensino mais interativo Levantamento feito pela Funda- e despertar um interesse maior dos ção Leman em paralunos, vindo a ceria com o Instituto Pesquisa revela que melhorar o desempara 92% dos pro- penho escolar. Paulo Montenegro e com o Ibope InOs educadores, fessores o uso de teligência mostra tecnologia em sala em sua maioria, que para 92% dos aprovam a aprende aula é positivo e dizagem personaprofessores o uso de tecnologia em sala auxilia no aprendiza- lizada e o acomdo do aluno de aula é positivo. panhamento pelo Os dados reveprofessor com o lam que utilizar tecnologias aliadas apoio de tecnologias. à aula é percebido como recurso Eles ainda consideram positivos

os estudos sobre o estado da arte da educação e defendem a formação para melhorar o seu trabalho. A pesquisa intitulada Conselho de Classe - A Visão dos Professores sobre a Educação no Brasil foi realizada no segundo semestre de 2014 e contou com a participação de profissionais do Ensino Fundamental de escolas públicas. Foram feitas mil entrevistas em 50 municípios das cinco regiões brasileiras. A margem de erro é três pontos percent­u­ ais­, e o nível de confiança, 95%. Pâmela Pelizzaro

A professora Carmen Nadir Grison, 46 anos, atende a aproximadamente 550 alunos e acredita que as lousas digitais deixam o clima em sala de aula mais interativo e prende a atenção dos alunos por mais tempo

“Eu costumo brincar que queria mais uma” Visando a qualificar o processo educativo, todas as escolas da rede municipal de ensino de Flores da Cunha contam, desde julho deste ano, com lousas digitais. O equipamento está disponível nas sala de geografia ou ciências, conforme preferência de cada instituição. Carmen Nadir Grison, 46 anos, leciona Geografia para o turno da manhã e trabalha com as quintas séries à tarde, na Escola Municipal de Ensino Fundamental São José.

Depois de 20 anos usando os tradicionais quadros negros, há três passou por um treinamento e adaptou suas aulas para a lousa digital. Atendendo a aproximadamente 550 alunos nos dois turnos, a professora acredita que o recurso acrescenta ao aprendizado e deixa o clima em sala de aula mais interativo, prendendo por mais tempo a atenção dos estudantes. “Acho que a aula ficou mais atrativa. Eles têm muita tecnologia,

livre acesso, mas não sabem pesquisar. A escola está aqui para mostrar como se faz a pesquisa e como usar a tecnologia para o benefício deles”, explica. Adaptar o conteúdo das disciplinas que ministrava no quadro para a lousa foi difícil num primeiro momento para Carmen. Logo que recebeu o recurso ficou um pouco resistente. Mas, rapidamente, percebeu os benefícios que teria ao utilizar a lousa em aula e, atualmente, faz uso

do giz em raras situações. “Hoje, eu não sei se saberia ainda dar aula sem ela. Eu chego, ligo, abro a internet, coloco a aula lá e já estou muito bem habituada. O mapa, por exemplo, não uso mais o tradicional, apenas na lousa”, pontua a professora que, em reuniões, costuma brincar com as colegas que gostaria de mais uma lousa a sua disposição. A maneira de lecionar, segundo a professora, não passou por grandes mudanças. As modernidades são

bem-vindas na educação, pois proporcionam novas formas de apresentar os conteúdos. Desde que elas tragam benefícios para os estudantes, Carmen não vê problemas em fazer uso da tecnologia em sala de aula. “É bom ter uma boa escola, uma boa estrutura com tecnologia, mas a aula em si continua a mesma. O aluno vem para aprender e nós estamos aqui para passar os conteúdos. A lousa é mais um instrumento.”


educação

textando

5 Juliana Girelli

As novas tecnologias tornam o ensino mais atrativo, mas a diretora Vania Arcari Orso acredita que ainda é necessário utilizar o quadro negro e o giz para ensinar algumas disciplinas para Séries Inciais

“Seria um recurso mais atrativo, porém há outras alternativas” Os novos recursos da educação oferecem diversas ferramentas para colaborar no processo de ensino, incluindo a lousa digital. Para três das 22 escolas municipais de Bento Gonçalves, a realidade, infelizmente, não é esta. Vania Arcari Orso, 51 anos, é educadora no município há 26 e atual­mente ocupa a direção da Escola de Ensino Fundamental Fenavinho. A instituição é uma das escolas municipais que não contam com lousas digitais em sala de aula. Conforme Vania, a escola chegou a receber a lousa, mas o equipamento apresentou falhas e precisou ser removido. A diretora acredita que para os alunos a lousa seria mais um atrativo, mas não é fundamental para o ensino. Segundo Vania, as crianças que frequentam a escola são, em sua maioria, de famílias carentes, que não têm acesso às novas tecnologias e aos eletrônicos, como computadores, notebooks e celulares de última geração. Como consequência, ela acredita que os alunos não sentem falta da tecnologia que já está implantada, na maioria das escolas de Bento Gonçalves. Para Vania, os laboratórios de informática são ferramentas relevantes na motivação dos alunos. “Semanalmente, eles frequentam o laboratório, onde utilizam os computadores para reforçar atividades vistas em sala de aula, por meio de atividades lúdicas como jogos”, explica. A lousa digital é uma aposta para

tornar as aulas mais dinâmicas e interativas, além de ser considerada uma aliada do professor como ferramenta de trabalho; porém, há outras maneiras de suprir a falta do equipamento, garante Vania. “Acredito que a lousa seria um recurso mais atrativo, que auxiliaria muito os professores em seu trabalho educativo; porém eles buscam novas alternativas para suprir as expectativas dos estudantes.” Na comparação entre o aprendizado tradicional – considerado as aulas em quadros de giz – e o moderno – lousas e demais recursos interativos –, a diretora acredita que as novas tecnologias auxiliam e facilitam o trabalho do professor, mas, em muitos momentos, o uso do método mais antigo ainda é muito necessário. A educadora aposta nos novos recursos digitais para o crescimento da educação, mas acredita que os alunos devem ser orientados a utilizá-los de maneira correta. Caso contrário, o uso incorreto das ferramentas pode contribuir para um retrocesso no ensino. “Creio que se deve incentivar e orientar os alunos sobre o uso do computador e da internet em prol da educação, mas mostrando que essa ferramenta, quando usada adequadamente, nos proporciona um grande aprendizado, por meio do incentivo à leitura, de jogos pedagógicos, de bate-papo, despertando, também, o interesse quanto à escrita de palavras”, conclui.

“Negar o uso da tecnologia é negar a evolução humana” “Não devemos ter medo.” É com este pensamento que a psicopedagoga Eroni Mazzocchi Koppe, 63 anos, em entrevista ao jornal Textando, afirma que a tecnologia pode ser agregada para auxiliar a educação, apesar de não crer ser este o fator preponderante para melhorar os problemas de ensino. Há 45 anos exercendo a profissão, Eroni esclarece que a qualidade das aulas não depende dos novos recursos, mas do conhecimento que os profissionais da educação possuem e da maneira como se empenham para repassá-lo aos alunos. Textando: Com o advento da globalização, a educação tem se transformado e podemos acompanhar a influência da tecnologia nas escolas. Qual a verdadeira contribuição disso para a educação? Eroni Mazzocchi Koppe: Estamos sempre em evolução. Do papiro às novas tecnologias aprendemos muito, mas, aprendemos também que as tecnologias são apenas ferramentas utilizadas para melhorar as nossas aprendizagens. Não devemos ter medo delas, tão pouco achar que elas por si fazem a diferença. Textando: A inclusão tecnológica nas salas de aula traz apenas aspectos positivos à educação ou pode apresentar pontos negativos? Eroni: Não vejo aspectos negativos na tecnologia se ela for bem-utilizada. Ela é a ferramenta dos tempos modernos, porém, não posso dar uma aula de Educação Física cujo objetivo seja o movimento do corpo apenas com a lousa eletrônica. Mas, quem sabe, a lousa possa ser útil para melhorar

a conceituação e memorização das regras do jogo. Ainda estamos aprendendo a utilizar estas novas tecnologias pedagogicamente, mas certamente elas são muito úteis. Textando: O que fazer se o aluno tem dificuldades para aprender com as novas tecnologias? Eroni: Acredito que as aprendizagens não se realizam pelo uso da tecnologia, mas pela interação entre o desejo de aprender e aquele que nos auxilia nas aprendizagens. Portanto, não creio que o uso das lousas tenha uma influência tão grande. É preciso usá-las em aulas bem planejadas. Da mesma forma que alguns não aprendem com aulas expositivas e precisam de outros estímulos, a lousa pode dificultar ou não os que têm atenção flutuante. Ao professor cabe identificar esses alunos e propor-lhes atividades diversificadas. Textando: Qual a sua opinião sobre as escolas que adotam recursos tecnológicos para ensinar e as que continuam apenas com o quadro em sala de aula? Eroni: A seu tempo, todos compreenderão que não podemos ignorar a tecnologia. É importante utilizá-la levando em conta nossos objetivos, a idade dos aprendentes, sua cultura e sua individualidade. Negar o uso da tecnologia é negar a evolução humana. Textando: Qual a participação do pedagogo na instituição escolar? De que forma ele vai ajudar professores e alunos nessa nova visão do conhecimento?

Eroni: O pedagogo, por estudar com mais profundidade os métodos e as técnicas de aprendizagem, é o profissional mais preparado para auxiliar não somente as escolas e os alunos, mas também a sociedade como um todo. Somente com a inclusão de toda sociedade, priorizando a educação, conseguiremos dar o passo que nos permitirá ver que o respeito à cultura, o conhecimento e a atitude cidadã são fundamentais para a evolução humana. Textando: As crianças estão preparadas para lidar com essa tecnologia também nas salas de aula? Eroni: Nossas crianças nasceram apertando botões, então elas estão preparadas, nós é que devemos nos preparar para sermos mediadores desse processo. Textando: A qualidade de ensino do País deve melhorar a partir do investimento em novas tecnologias? Esse é o caminho certo a seguir? Eroni: Não creio que a tecnologia por si resolva os problemas da qualidade de ensino. Existem países muito avançados tecnologicamente que não apresentam bons níveis de aprendizagem, enquanto outros, com sofisticação tecnológica ainda em curso, apresentam resultados excelentes. A questão da qualidade de ensino passa por muitos fatores. A melhoria da educação depende de múltiplos deles. Creio que devemos olhar para a educação brasileira dentro de um contexto histórico e então pensar que sempre estaremos no caminho, construindo a cada passo uma possibilidade de avançar.


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saúde

textando Giovana Barcarolo |gbarcarolo@ucs.br Ivone Montanari | immontanari@ucs.br

amamentação

Doação de leite salva vidas Elisângela Dewes

Caxias do Sul é a primeira cidade da Serra gaúcha a oferecer esse serviço para crianças de até seis meses

A sala especial do Hospital Geral tem capacidade para receber seis mães por vez para a amamentação dos filhos. O espaço é pequeno, mas, bastante confortável

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lgumas mulheres por diferentes motivos não produzem leite ou não podem amamentar seus filhos.Por outro lado,há mulheres que produzem leite materno em excesso e, se possuirem hábitos saudáveis, tais como não fumar, não ingerir bebidas alcóolicas nem tomar medicamentos incompatíveis com a amamentação, podem ser doadoras de leite materno. A doação é feita em um banco de leite. É fundamental a doação do leite, pois o mesmo é destinado principalmente a bebês prematuros que estão nas UTIs neonatais. Caxias do Sul não conta, atualmente, com um posto de doação de leite materno. No Hospital Geral, o prédio para abrigar o posto está em construção, sem data determinada para a inauguração. A doação de leite beneficia tanto quem doa quanto quem recebe; de acordo com a pediatra Maira de Carli, há benefícios que estão incluídos na doação de leite materno. De acordo com a pediatra Maira de Carli, os bebês que mais precisam de doação de leite são aqueles que nascem prematuros e estão em processo de recuperação, e aqueles com dificuldades para mamar própria mãe.

“Os bebês que mais precisam de doação de leite são sempre aqueles que nasceram prematuros e estão tendo dificuldade para mamar diretamente o leite da sua mãe. É neste momento que a doa­ ção do leite materno faz toda a diferença”, explica. Ao doar o leite, a mãe está dando chances para o bebê poder sobreviver e ficar imune a várias doenças. Ainda segundo a pediatra, procurar a doação de leite materno é mais vantajoso do que amamentar o bebê com leite em pó. “Os bebês que forem alimentados com leite em pó correm sérios riscos de sofrer com infecções, que surgem devido ao seu sistema imunitário não estar recebendo ajuda dos anticorpos encontrados no leite materno’’, explica. Maira de Carli destaca que não existe leite fraco. “Muitas mães pensam que o seu leite é fraco, mas isso não passa de um mito, algo que há muito tempo foi inventado. O que acontece é que, no início da mamada, logo que o bebê suga o bico do seio, o leite sai mais ralo, pelo fato de conter água, açúcar e todos os fatores de proteção. A mãe deve continuar oferecendo o leite ao bebê, pois na mamada seguinte ele já sairá

do modo normal.” Muitas mães têm o costume de parar a amamentação do seu bebê logo que ele completa seu primeiro ano de vida, e passa a oferecer alimentos que são prejudiciais à sua saúde, como doces, refrigerantes e até biscoitos recheados. “O recomendado pelo Ministério da Saúde é que a amamentação siga até os dois anos de idade, quando o leite deve ser o único alimento a ser oferecido pela mãe. A partir do primeiro ano até o segundo ano, o leite pode ser intercalado com outro tipo de alimento, mas a amamentação deve continuar presente na vida da criança,’’ recomenda a pediatra. A amamentação é muito importante para o bebê. A mãe que amamenta seu bebê imediatamente após o parto, ajuda a reduzir até 22% da mortalidade neonatal, ou seja, aquela que ocorre até o 28° dia de vida. A gestante pode comer de tudo durante a gravidez, não há alimentos que sejam proibidos, porém deve dar prioridade a frutas, verduras, legumes, feijão e arroz, alimentos que possuem nutrientes e vitaminas necessários para esta fase. É importante também o consumo de líquidos, tais como: chás, água, sucos, e leite, pois

ajudam a produzir o leite.

PROBLEMAS AO AMAMENTAR A pediatra Maira de Carli destaca os problemas mais comuns que ocorrem na amamentação e o que pode ser feito para preveni-los: Fissura ou Rachadura: Quando a posição do bebê e o modo como ele pega o mamilo, estão errados. Para prevenir, a mãe deve secar muito bem o mamilo e posicionar o bebê para mamar mais vezes e retirar o leite de modo manual. Ingurgitamento: A mãe acaba produzindo mais leite do que o bebê é capaz de mamar, fazendo com que as mamas fiquem endurecidas e empedradas. Neste caso, a prevenção é colocar o bebê para mamar mais vezes e retirar o leite de modo manual. Mastite: Inflamação de um dos seios. A mama fica avermelhada, quente e muito dolorida. A mãe pode ter febre e calafrios. A solução, nesse caso, é: retirar manualmente o leite. Caso não houver melhora em até 24 horas,

a mãe deve procurar imediatamente o serviço de urgência.

POSIÇÃO PARA AMAMENTAR A posição correta da mãe ao amamentar cabe exclusivamente a ela. Tanto pode ser de pé, sentada ou deitada. A mãe deve estar calma na hora de amamentar e não apressar o bebê. O aleitamento materno aumenta os laços afetivos do bebê com toda a família. A amamentação logo após o parto diminui o sangramento e previne a anemia materna. Quando suga corretamente o peito da mãe, ela produz dois tipos de substâncias: prolactina, substância que faz os peitos produzirem o leite e faz com que o útero se contraia e reduza o sangramento. Além de ser saudável para o bebê, o aleitamento faz com que se constitua um modo de evitar uma nova gravidez, através de três condições: a mãe ainda não menstruou após o parto, o bebê ter menos de seis meses e a amamentação ser exclusiva sempre na hora que o bebê quiser. A pediatra Maira de Carli salienta ainda que o aleitamento materno previne doenças graves.


saúde

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Elisângela Dewes

No Hospital Geral, as mulheres enfermas também amamentam

A amamentação é saúde para o bebê

“Existem muitas doenças que as mães não sabem como podem ser evitadas, mas a resposta é simples: aleitamento materno”, alerta ela. No caso de doenças tais como otite, alergia, pneumonia, bronquite e meningite, o aleitamento materno é a primeira vacina da criança”, lembra a médica.

CAMPANHA NACIONAL DE AMAMENTAÇÃO A campanha nacional de amamentação foi lançada em 1999, pela Sociedade Brasileira de Pediatria. A campanha é uma parceria entre o Brasil e uma entidade americana, e ocorre desde 1992. No Brasil, a semana é coordenada pelo Ministério da Saúde. No

Alimentos durante o período de amamentação Segundo o Ministério da Saúde, existem alimentos que devem ser intercalados de acordo com a idade do bebê: Entre seis e sete meses: papas de fruta e uma refeição salgada. Entre oito e 12 meses: refeição salgada e frutas picadas. A partir dos 12 meses: refeição salgada, três lanches de frutas, podendo ser complementados com cereais ou, ainda, pão e biscoito com recheio. Quando a criança for desmamada, precisará de aproximadamente 600 ml de leite por dia. A orientação deve ser individual e realizada por um médico ou nutricionista.

“Mães de leite não são mais utilizadas, pois havia riscos para as crianças quando este ato era realizado”

ano de 2015. o objetivo foi discutir o importante apoio que deve ser dado à mulher, para que mesmo que esteja trabalhando possa amamentar, com licença-maternidade de seis meses, sala de apoio no local de trabalho, alimentação apropriada e a retirada do leite com todas as condições necessárias. O casal padrinho dessa campanha foram: Fernanda Vogal Molina Groisman, e seu marido Serginho Groisman.

Há uma sala localizada no Hospital Geral onde mães com algum tipo de doença, ou mesmo as que tiveram gravidez de risco, podem amamentar seu bebê. Enfermeiras auxiliam as mães no que for necessário. O aleitamento, neste caso, deve ser realizado somente na sala especial. Rosângela Silva, responsável pelo setor Pediátrico do Hospital Geral, explica que as mães de leite, mulheres que amamen-

tavam bebês que estavam com a sua mãe incapacitada de realizar o aleitamento, já não existem mais. “Mães de leite não são mais utilizadas, pois havia riscos para as crianças quando este ato era realizado. Hoje contamos somente com o banco de leite”, conclui.


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saúde

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cOTIDIANO Luísa Biondo e Taís Pellenz

Precisamos falar sobre a Aids Descoberta nos anos 70, a Aids ainda é um dos maiores tabus da sociedade e apesar de o tratamento ter evoluído com o tempo, muitos ainda acreditam que a doença seja uma sentença de morte. Luísa Biondo | lbiondo1@ucs.com.br Taís Pellenz | tpellenz@ucs.com.br

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corda. Levanta. Toma banho. Come. Trabalha. Almoça. Trabalha. Janta. Sai com os amigos. Transa. Sonha, etc. e etc. O vírus HIV não impede uma vida normal, um cotidiano rodeado de pessoas­e afazeres. Entretanto, é indiscutível que o Vírus da Imunodeficiência Humana tornou-se uma pandemia desde os anos 80, quando foi diagnosticado o primeiro caso de infecção nos Estados Unidos. Segundo o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/ Aids (Unaids), cerca de 37 milhões de pessoas no mundo vivem com o vírus. O Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais estima aproximadamente 734 mil pessoas vivendo com o HIV/Aids no Brasil, no ano de 2014. Em Caxias do Sul e na região, estão cadastradas

no Serviço de Infectologia do Centro Especializado em Saúde quase três mil pessoas portadoras do vírus do HIV. Somente em Caxias do Sul são 2. 054 pacientes. Todas essas pessoas têm acesso gratuito ao tratamento antirretroviral pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Com base nesses dados, fica visível como o vírus ainda faz parte da vida de milhares de brasileiros. E mesmo que o contágio ocorra – a maioria dos casos após relações sexuais desprotegidas – por que a Aids ainda é tratada como um tabu pela maior parte da população mundial? O professor e coordenador do curso de Antropologia da Universidade de Caxias do Sul, Rafael José dos Santos, explica, a partir dos ensinamentos do filósofo Michel Foucault, que a história da

civilização ocidental é a história da disciplina do corpo, ou seja, todo o esforço dessa civilização foi feito para disciplinar e docilizar esses corpos. “O que eu vejo é que a Aids coloca os corpos e a sexualidade a nu. Ela acaba expondo esses corpos. É como se aquilo que foi recalcado, sublimado, aquilo que foi disciplinado durante anos, começasse a se rebelar. Porque é o corpo que está em questão”, completa. Assim, para Santos, não há dúvida de que o grande estigma da Aids seja por ela estar diretamente ligada à sexualidade. Segundo o professor, é uma coincidência que a doença tenha se manifestado primeiramente em homossexuais; além disso, conforme ele explica, quando a doença apareceu, existia muito a visão da homossexualidade

como uma perversão. “Não tem dúvida nenhuma que o estigma da Aids vem com o estigma da sexualidade e da homossexualidade, ligada a uma visão falsa e este“NÃO TEM DÚVIDA reotipada de que NENHUMA QUE O os homossexuais seriam as pessoas ESTIGMA DA AIDS VEM mais promíscuas e COM O ESTIGMA DA sem controle do seu SEXUALIDADE E DA corpo”, acrescenta HOMOSSEXUALIDADE, o professor de AnLIGADA A UMA VISÃO tropologia na UCS.

FALSA E ESTEREOTIPADA DE QUE HOMOSSEXUAIS SERIAM AS PESSOAS MAIS PROMÍSHá pouco mais CUAS E SEM CONTROLE de 20 anos, ao faDO SEU CORPO” zer um exame para DIAGNÓSTICO INESPERADO

doação de sangue, André (nome fictício), 43 anos, recebeu a notícia que mudaria sua vida: ele era portador do vírus do


saúde

textando HIV. “Foi um susto, eu pensei: ‘vou que tomar as medicações no horário morrer!’ Eu descobri justamente em certo, todos os dias. Você é um esuma época em que a doença ainda cravo do tratamento, tudo vem deera novidade. Tinham várias pesso- pois e você precisa adaptar sua vida as famosas morrendo, como o Fre- ao tratamento”, comenta. ddy Mercury, vocalista do Queen,­ Além disso, ele ressalta os efeiCazuza... Então, aquela foi uma tos colaterais que a medicação pode época bem-assustadora para mim. causar. Apesar disso, ele não exclui Mas tive que aceitar o problema e a possibilidade de que os portadoir tocando a vida do jeito que dava, res do vírus tenham uma vida com né?”, relembra. qualidade, assim como ele. “Eu teAndré não tem certeza de quando nho uma vida dentro do normal. Eu exatamente contraiu o vírus, entre- trabalho, eu sou um cara que tem tanto, suas suspeitas apontam para saúde, também, e se eu estiver gosduas ocasiões: a única vez em que tando de alguém, não vou deixar de consumiu drogas me envolver. Eu “QUANDO TU DESCOBRE QUE uso preservatie, mesmo levando uma agulha TU TEM UMA DOENÇA QUE vo e se precisar descartável, aca- PODE TE LEVAR À MORTE, A contar eu conbou comparti- PRIMEIRA COISA QUE TU VÊ to. Meu melhor lhando a agulha É A FAMÍLIA. EU SENTIA QUE amigo (portador de um conhecido de HIV), por EU IA PERDER A MINHA, ERA exemplo, tem ou quando foi a um consultório UMA SENSAÇÃO ESTRANHA. uma namorada, dentário que se EU PENSAVA QUE IA MORRER ela sabe de tudo encontrava em LOGO, MAS EU DEI A VOLTA e eles moram péssimas condijuntos e têm uma POR CIMA.” ções de higiene. vida normal”, reAtualmente, apenas três pessoas lata. sabem sobre a condição de André: Depois de descobrir a doença, sua mãe e duas tias. De acordo com André conta sobre o quanto a foro Ministério da Saúde, ninguém é ma de enxergar o mundo mudou. obrigado a contar sua sorologia, se- Depois de receber a notícia, comenão em virtude da lei, que obriga a ça-se a dar valor para coisas que realização do teste apenas em casos passavam despercebidas. “Quando de doação de sangue, órgãos ou es- tu descobre que tu tem uma doença perma. que pode te levar à morte, a primeiConforme André relata, o início ra coisa que tu vê é a família. Eu do tratamento só começou muito sentia que ia perder a minha. Era tempo depois de descobrir que ti- uma sensação estranha. Eu pensanha a doença, depois de contrair va que ia morrer logo, mas eu dei a uma meningite, por volta dos 27 volta por cima. Então, assim, depois anos, e quase ter morrido. Entre- que acontece contigo tu pensa muitanto, segundo ele, a demora para to diferente. Tu não esquenta muito começar a tomar os retrovirais foi a cabeça com coisa material, não é devido à inexistência de tratamen- de não querer conquistar as coisas, tos eficazes no Brasil. mas tu vê que o que vale mesmo são Desde então, graças à evolução os amigos, a família e esse tipo de do tratamento, de 16 comprimidos coisa”, relata. diários, André toma, hoje, apenas cinco por dia. Apesar da evolução ACEITAÇÃO E TRATAMENTO das medicações e da melhora da qualidade de vida, o paciente alerta A dificuldade em aceitar a doença sobre as diferenças de alguém que é comum nos pacientes que recebem seja portador do vírus em relação a notícia. Conforme afirma a psicóàs pessoas que não o possuem. “O loga do Centro Especializado em tratamento é muito rigoroso, tu tem Saúde de Caxias do Sul, Fernanda

Borges de Medeiros, esse momento de não aceitar o diagnóstico é muito perigoso, pois assim o paciente não consegue comparecer em consultas e fazer os exames regularmente. “O trabalho da psicologia é muito de ajudar nesse processo, tanto da parte de informação, de aprender, entender o que é isso e qual a finalidade do tratamento, e tem a parte de dar o apoio psicológico, mesmo”, esclarece. Conforme ela indica, o processo de luto e de entristecer após o diagnóstico é normal; entretanto, é preciso que essa pessoa dê a volta por cima e, muitas vezes, os pacientes que têm um maior apoio da família e amigos recuperam-se com mais facilidade. Apesar de a melhora depender de cada pessoa infectada, o contexto social também influencia muito o modo como cada paciente vai enfrentar a situação. “A parte da informação ajuda o paciente a entender e desconstruir esses estigmas, porque o que mais ameaça ele é o fato de não fazer o diagnóstico. Somente nesse caso ele vai estar ameaçado”, explica. Para ajudar este paciente a lidar com o diagnóstico, o CES oferece assistente social, psicólogo e atendimento individual ou em grupo. O importante é que este paciente não abandone o tratamento. Conforme indica Grasiela Cemin Gabriel, o tratamento deve começar a partir do momento que se recebe o diagnóstico. “Eles (pacientes) vão fazer o acolhimento, exames de rotina a cada quatro meses para controlar a questão da imunidade e das células de defesa e também da carga viral”, explica. Além disso, a coordenadora ressalta sobre o quanto o tratamento evoluiu com o passar dos anos. “Uma vez era um coquetel de medicamentos e hoje a gente já tem comprimidos que são tomados uma vez ao dia”, relata. Quando a pessoa faz uso correto dos retrovirais e continua cuidando da saúde, a carga do vírus fica em um limite mínimo no sangue, a ponto de ela não causar tantos danos no sistema de defesa do organismo, conforme indica Grasiela. “Tem

MULHERES portadoras do vírus HIV cadastradas no Serviço de Infectologia do município.

dados de 2013

COMO O VÍRUS AGE Quando transmitido ao organismo de uma pessoa, o vírus HIV ataca tipos específicos de células, conhecidas como células com receptor CD4. Essas, por sua vez, infectadas, vão migrar e atacam os linfonodos, que possuem células do sistema imunológico. Dessa maneira, as células imunológicas, que têm o papel de combater os diversos vírus, são destruídas, pois possuem receptor CD4. E, assim, ao invés de as células de defesa conseguirem matar o vírus HIV, ele se multiplica. Primeiros sintomas A multiplicação do vírus HIV em grande quantidade se dá nos primeiros 10 ou 15 dias da infecção. É a partir desse período que surgem os primeiros sintomas como diarreia, dores gastrointestinais e vômito. Somente então, o sistema imunológico começa a reagir, com uma resposta adaptativa, produzindo anticorpos específicos para neutralizar o vírus HIV. Resposta do organismo Com os anticorpos “em ação”, a carga viral no organismo vai diminuir e entrar em um longo período de equilíbrio. É em torno

de dez anos, nos quais, ao mesmo tempo que o vírus se multiplica, ele é combatido pelo sistema. Avanço para Aids Após o longo embate entre vírus e organismo, o sistema imunológico entra em exaustão, e a infecção se torna crônica. O número de células de defesa diminui. A pessoa infectada pelo vírus começa a contrair doenças que pessoas com a imunidade normal não contraem. São as chamadas doenças oportunistas como pneumonia, tuberculose ou infecções. Dessa forma, a pessoa soropositivo (que tem HIV no sangue) se torna portadora de Aids. De acordo com a farmacêutica bioquímica Andrea Vanni, outra forma de detectar se o HIV evolui para Aids é a contagem de células. A quantidade inferior a 200 células de defesa em um organismo é considerada Aids. TRATAMENTO Até 2013, o tratamento para pessoas infectadas com o vírus HIV começava quando o sistema imunológico debilitava. Foi quando, em dezembro daquele ano, o Ministério da Saúde lançou um Novo Protocolo Clínico de Tratamento de Adultos com HIV e AIDS, no qual ofer­ ta-se­­tratamento ao paciente HIV positivo já a partir do diagnóstico. Andrea afirma que essa medida é uma tendência mundial, pois há grandes chances de diminuir a transmissão. Isso porque, quando o paciente está em tratamento e o medicamento está agindo, a quantidade de vírus não é detectável, ou seja, a possibilidade de transmissão é muito baixa. “Uma forma de conter a epidemia é tratando todo mundo para diminuir o número de transmissões e para preservar a saúde do paciente. Quanto antes começar o tratamento, menor será a probabilidade de evolução para a AIids, e o sistema imunológico não vai entrar em exaustão”, explica a farmacêutica bioquímica, Andrea.

na SERRA GAÚCHA

na SERRA GAÚCHA

1.312

muitos pacientes que são aderentes ao tratamento e acompanhamento médico e estão bem há anos, com a carga viral indetectável, que é quando o vírus não está em uma quantidade significativa em circulação do organismo, a ponto de destruir as células”, conta. Entretanto, apesar de hoje em dia ser possível que os pacientes que contraíram o HIV tenham uma vida normal, a coordenadora atenta sobre os riscos da doença. “Lembrando que, por mais que ele tenha tratamento, o HIV é uma doença crônica, que é para o resto da vida; então a pessoa precisa consultar, fazer seus exames, tomar os medicamentos e continuar se cuidando para não vir a se infectar com outras doenças”, comenta Grasiela.

734

MIL pessoas vivendo com HIV/Aids no BRASIL. dados de 2014

9

1.643

HOMENS portadores do vírus HIV cadastrados no Serviço de Infectologia do município.

dados de 2013


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comportamento

textando Mayara Zanella| mzrosa@ucs.br Priscilla Panizzon | pbpanizzon@ucs.br

QUESTÃO DE GÊNERO

O conflito entre mente e corpo Em uma sociedade rodeada de preconceitos, a transexualidade ainda não recebe a atenção merecida Débora Siqueira

U

Zion Raphael Alves é o nome social de Jéssica Alves, jovem que nasceu há 18 anos e que se descobriu transexual. A troca do nome foi a primeira de muitas mudanças que virão em sua jornada

ma pessoa transexual nasce com uma percepção diferente, sabendo que há algo errado com o corpo, pois ele não corresponde àquilo que ela queria, e o mundo à sua volta a faz agir como alguém que ela não é.” É dessa forma que Zion Raphael Alves descreve sua condição. Raphael, como prefere ser chamado, é transexual. Ele nasceu há 18 anos no que considera o “corpo errado”. Sua mãe o chamou de Jéssica, nome que carrega uma identidade feminina com a qual ele nunca se identificou. Mesmo como Jéssica, seu lado masculino falava mais alto e isso se refletia externamente, por meio de seu estilo. O fato de se sentir desconfortável no próprio corpo fez com que ele começasse a pesquisar sobre casos parecidos. “Eu descobri a transexualidade ao procurar sobre disforia de gênero. Essa pesquisa tem uma ramificação bem-ampla, e por isso acaba-se procurando a respeito de outras coisas. Então, só conheci o que de fato eu era em 2010”, afirma Raphael. A partir da descoberta da transexualidade e dos esclarecimentos em relação ao que significa ser um transgênero, o foco da jornada de Raphael se tornou equilibrar a rela-

ção do interior com o exterior. relata. É nessa fase que o paciente “Comecei a pesquisar como eu recebe testosterona ou hormônio poderia fazer para adequar meu feminino. corpo à minha mente, à minha “Eu pulei a parte do psiquiatra e alma”, relembra. Cinco anos de comecei sozinho”, relembra. O rapesquisa antecederam o início da paz procurou uma medicação que “transformação”. não afetaria sua saúde. A primei“Demorei, pois estava buscando ra aplicação do hormônio ocorreu a melhor maneira de na presença de uma fazer tudo”, conta, enfermeira. Somente “Precisamos ser referindo-se ao início dois meses depois do do tratamento para a tratados como seres início do tratamento alteração de gênero. humanos e não como por conta própria, ele De acordo com Raprocurou médicos. aberrações, como phael, não há faciliCom as injeções, doentes.” dade no tratamento, cresce a ansiedaprimeiramente porde pelas mudanças que Caxias do Sul corporais. “É a parnão conta com médicos especia- te que todos mais querem”, conta lizados na mudança de sexo e, em Raphael,­que descreve as transforsegundo lugar, porque a opção pelo mações como lentas. No caso dos SUS implica uma demora demasia- homens trans, uma das primeiras da. diferenças é o aumento de pelos no corpo. Tratamento e mudanças “Com eles vem junto a sonhada barba”, relata. Além disso, a mensRaphael optou por uma solução truação é interrompida, a voz eneficaz e rápida, mas não a mais in- grossa, a gordura corporal é redisdicada: tratar-se por conta própria. tribuída – resultando em um corpo O processo normal, de acordo com mais masculino –, há aumento da ele, seria consultar um psiquiatra, libido e, consequentemente, do cliresponsável por diagnosticar a dis- tóris. Para Raphael, as mudanças foria de gênero. “Com esse laudo de humor constantes são o único se vai ao endocrinologista para o desconforto. início do tratamento hormonal”, O rapaz usa uma medicação in-

jetável a cada 15 dias. Sua transformação cumpre agora um ano e três meses e continuará pelo resto de sua vida. “A base do tratamento são os hormônios. Como o corpo feminino foi feito pra ter o nível de estrogênio maior que o de testosterona, se o tratamento for interrompido, alguns fatores já mudados voltariam ao estado original”, explica. Família e sociedade Quando decidiu enfrentar a transformação, Raphael encontrou resistência por parte das pessoas mais próximas. “Minha mãe não quis aceitar no começo, e a minha avó também ficou meio chocada quando contei a ela que faria o tratamento”, recorda. Na época em que descobriu a transexualidade, em 2010, Raphael­ também tinha uma namorada. “Quando contei sobre o tratamento ela surtou, disse que não namoraria um homem, que ela havia ficado com uma mulher que gostava de ser masculina, mas que eu não era um homem e que jamais seria”, conta. E assim o namoro terminou. O tempo fez com que a família mudasse de opinião em relação à transexualidade. “Hoje minha mãe

e minha avó aceitam, já se corrigem em relação aos pronomes”, afirma. A antiga namorada de Raphael,­ que agora é sua noiva, também entendeu a situação. “Ela me apoia em tudo. Escolheu meu nome social (que em breve será o civil), aplica as injeções, me incentiva quando penso em desistir. Ela é meu alicerce”, relata. Porém, enquanto aqueles que convivem diariamente com um transexual compreendem a situação, os que estão à margem têm mais dificuldade. As lacunas que não são preenchidas pelo conhecimento acabam gerando preconceito. Raphael acredita que esse assunto, no geral, é novo para a sociedade. Apesar disso, ele afirma que os transexuais exigem e merecem respeito. “Precisamos ser tratados como seres humanos e não como aberrações, como doentes”, enfatiza. Ele afirma que já sofreu preconceito, até mesmo antes de começar o tratamento. “As pessoas achavam que eu era um menino gay. Eu sempre ria da situação e ficava até feliz, porque já estava sendo visto como um homem”, recorda. Hoje, mesmo com a aparência mais masculinizada, certas situações do cotidiano ainda lhe geram desconforto. Ir ao banheiro é uma delas. “É


textando

comportamento

11 Débora Siqueira

Como parte do tratamento, Raphael recebe uma injeção, a cada 15 dias, de hormônio masculino. A aplicação de testosterona continuará pelo resto de sua vida

um sacrifício saber que se está no banheiro certo, outro cara olhar e querer te espancar porque aquele ali não é teu lugar”, revela. Ir ao banco também é descrito pelo jovem como um trauma. “Em alguns lugares ainda sou chamado pelo meu nome de batismo”, afirma. Com o resto, Raphael sabe lidar bem. “Temos que ter cabeça

aberta e um sorriso no rosto. Não adianta ficar triste ou depressivo, isso não vai me beneficiar em nada. Pelo contrário, vai me fazer pensar em desistir, coisa que não quero e não vou”, garante. Com o processo, sua maneira de pensar e agir mudou. “Estou ajustando meu corpo à minha alma, não estou trocando de caráter, nem de modo de sentir

algo. Continuo a mesma pessoa, porém, no corpo correto”, finaliza. Raphael agora arrecada verba para realizar a mastectomia, cirurgia para a retirada das mamas. O processo antecede o último passo da transformação: a cirurgia de redesignação sexual.

Apoio psicológico é fundamental

Todas as pessoas, em maior ou teralmente viver um conflito muito menor escala, precisam lidar com grande”, diz. problemas e desafios. Para um transexual, no entanto, a realidaAvanços e desafios de é ainda mais difícil. De acordo com a psicóloga e sexóloga VirgiEm relação a como a sociedade nia Toni Felippetti, o transexual é vê a transexualidade, Virginia acretodo o indivíduo que, apresentando dita que houve avanços, mas que um corpo masculino ou feminino, ainda se está muito longe de lidar se sente ao contrário. bem com esse contexto. “Há muito “Geralmente, a pessoa se dá preconceito, muitas vezes velado. Para um transexual, a cirurgia de visa a feminização –, começa com ção de um neofalo [novo pênis] conta dessa diferença muito cedo, Em um primeiro momento, tudo redesignação sexual é o momento a ressecção dos testículos e da com retalhos cutâneos”, salienta. ainda criança”, explica. Com con- está aceito. Porém, a compreensão mais esperado: enfim ele poderá se estrutura interna do pênis. Após, Em todas as cirurgias, as equi- sultório em Caxias do Sul, Vir- não vem tão facilmente”, diz. sentir livre. É pelo tratamento hor- uma vagina é confeccionada com pes são formadas por um cirurgião ginia diz que, conforme a pessoa Nos grupos com os quais convimonal, no entanto, que as mudanças a pele do pênis, a qual é introduzi- e dois auxiliares, além de uma vai crescendo e se desenvolven- ve, o trans ainda é alvo de críticas e começam. De acordo com o profes- da no períneo. “A cirurgia, reali- instrumentadora. “Os cirurgiões­ do, começa a alimentar um de- discriminação, inclusive em relação sor de urologia da Faculdade de zada em um turno único, leva, em devem ser especializados em sejo muito forte de algum pro- à busca de emprego. “Precisamos Medicina da Universidade de São média, quatro horas”, relata. plástica genital. Na nossa equipe, cedimento cirúrgico para que avançar muito nesse sentido, para Paulo e chefe da Unidade de UroloNo transexual feminino, que contamos com urologistas, gine- reverta sua situação. que a pessoa não se sinta tão acuagia Pediátrica e da Unidade de Dis- tem como objetivo a masculini- cologistas, cirurgiões plásticos e “O trans não quer apenas a da, porque a situação em si já é bastúrbios de Diferenciação Sexual e zação, Dénes explica que, inicial- pediátricos”, destaca. mudança de sexo na carteira tante difícil”, explica. Transexualismo do mente, são remoO pós-operatório, conforme de identidade ou no registro de Em função do tabu que a tranHospital das Clíni- “os pacientes devem vidos os ovários, o Dénes, leva de sete a 10 dias em nascimento, mas também uma sexualidade ainda enfrenta, muitos cas da USP, Fran- ser acompanhados útero (por via lapa- todas as etapas cirúrgicas. Du- c i r u r g i a transexuais têm receio em “O IMPORTANTE É QUE procurar consultórios de cisco Tibor Dénes, roscópica) e a vagi- rante a recuperação do paciente, para que em longo prazo ESSA PESSOA ESTEJA a hormonioterapia na, por via perineal. a cicatrização e integração dos passe a se psicologia. De acordo com no período pósdeve ser iniciada O clitóris, previa- retalhos exigem cuidados. Podem sentir da AMPARADA TANTO PELA Virginia, quando chegam operatório.” após a avaliação e mente estimulado ocorrer complicações, como fis- m a n e i r a até os psicólogos já apreFAMÍLIA QUANTO POR o diagnóstico psihormonalmente, é tulas urinárias (quando há uma a d e q u a sentam quadro depressivo e MÉDICOS.” cológico, antes da cirurgia. “Ela alongado para formar um pênis, comunicação anormal entre um da”, desbaixa autoestima, nutrindo deve ser feita sob uma criteriosa ao passo que os grandes lábios órgão do sistema urinário e ou- taca. até pensamentos suicidas. orientação médica por parte de en- formam o escroto. Todas as etapas tro órgão) e necrose de retalhos. A psicóloga é incisiva ao afir“O mais importante é que essa docrinologistas, devido aos efeitos da cirurgia também duram cerca Nesses casos, é necessário reali- mar que, para lidar com a tran- pessoa esteja amparada tanto pela colaterais que são variados, para de quatro horas. O médico diz zar procedimentos adicionais para sexualidade, é extremamente família quanto por médicos. O peambos os sexos, particularmente ainda que, em um segundo tem- correção. “Todos os pacientes de- importante o acompanhamento diatra é talvez o primeiro médico nos casos de supra ou infradosa- po, é confeccionada a uretra e im- vem ser acompanhados em longo psicológico – não apenas do in- que vai olhar para essa criança, gens”, explica. plantadas as próteses testiculares. prazo no período pós-operatório, divíduo, mas também da família. conversar com ela, com os pais e, Conforme o urologista, o passo “Alguns casos sem aumento sig- para avaliar eventuais alterações “É muito difícil para os pais e fami- de repente, orientar a escola e a proa passo do procedimento cirúrgi- nificativo do clitóris, é necessário tanto no aspecto clínico como ci- liares dessa criança ou adolescente fessora”, salienta. co no transexual masculino – que posteriormente realizar a constru- rúrgico”, finaliza. entenderem e aceitarem. A própria Os professores, conforme a pessoa também passa por isso”, res- psicóloga, são profissionais que salta. observam muito o comportamenEnquanto uns se sentem mui- to das crianças nas séries iniciais. to mal, discriminados, e tendem Por isso, geralmente identificam ao isolamento e à depressão, que algo não está legal e devem outros colocam para fora e mos- conversar com os pais. “Quanto tram sua questão, tornando-se, antes ocorrer o encaminhamento A expressão mudança de sexo refere-se à tipo no País. Para ambos os gêneros, a idade mínima muitas vezes, alvos de bullying. psicológico do transexual, mealteração das características físicas sexuais de uma para procedimentos ambulatoriais é de 18 anos. “Em quaisquer das situações, é lhor. Sem dúvida, a qualidade pessoa, por meio de cirurgia ou de tratamento Para realizar cirurgias é preciso ter, no mínimo, 21 importante a terapia. Sem dúvi- de vida dele será infinitamente com hormônios. De acordo com o Portal Brasil, a anos. da, a pessoa está sofrendo, por li- maior”, conclui.

O antes e o depois do bloco cirúrgico

Cirurgias de mudança de sexo são realizadas há sete anos no Brasil

partir de informações do Ministério da Saúde, em 2008 o governo brasileiro oficializou as cirurgias de redesignação sexual – mais recentemente chamadas de cirurgias de confirmação de sexo –, por meio da publicação da Portaria 457, implantando o Processo Transexualizador por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Até 2014, foram realizados 6.724 procedimentos ambulatoriais e 243 procedimentos cirúrgicos do

Também é preciso atender à lei, que exige um laudo psicológico/psiquiátrico favorável e diagnóstico de transexualidade. No Brasil, são cinco os hospitais aptos a realizar a cirurgia pelo SUS. Um deles é o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mais informações podem ser obtidas no site brasil.gov.br.

Participação no ENEM aumenta De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), o número de transexuais e travestis que fizeram o Enem em 2015 quase triplicou em relação a 2014. Houve 278 solicitações de uso do nome social nos dias do exame. Em 2014, foram feitos 102 pedidos.


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comportamento

textando Natália Lessa| nclessa@ucs.br Cláudia Palhano| cpalhano1@ucs.br

IDOSOS

Se a alma dança, o corpo rejuvenesce Quando a juventude ultrapassa barreiras da idade, oportuniza novas expectativas e disposição para viver Natália Lessa

Natália Lessa

Cada vez mais ativas, as alunas das oficinas de dança do Programa UCS Sênior dão exemplo de como é possível descobrir uma nova atividade depois da aposentadoria

O

Brasil será um país com cada vez mais idosos. Segundo o IBGE, as pessoas com mais de 60 anos somam 23,5 milhões de brasileiros desde o última censo demográfico, em 2010. Segundo dados do IBGE, hoje os idosos vivem mais e melhor, com expectativa de vida de 74,9 anos. Isso prova que cada vez mais estamos postergando a velhice. Em comparação a esse crescimento, a ONU estima que, em 2050, o número de idosos no mundo alcance 2 bilhões de pessoas, ou seja, 22% da população global. É nesse cenário que os órgãos públicos de defesa do idoso tentam se encaixar. A demanda de serviços é alta e tende a crescer cada vez mais. O Conselho Municipal do Idoso é o órgão que fiscaliza, atende, avalia e coordena a política municipal do idoso em Caxias do Sul. Toda a atividade que estimule a melhoria na qualidade de vida dos idosos passa pela avaliação do Conselho, que também realiza programas específicos para atendimento ao idoso nas áreas de saúde, assistência social, educação, cultura, lazer, esporte e justiça. Ainda que a qualidade de vida do idoso tenha aumentado por meio das políticas públicas, a realidade é que muitos deles ainda sofrem com o descaso e a violência – física e psicológica. “Cada vez mais queremos demonstrar que o Conselho está aqui para acolher as denúncias, para que as pessoas saibam que existe esse serviço de auxílio e que o procurem quando necessário. Muitas pessoas escondem os problemas e violações de direitos”, explica a assistente social do Conselho Municipal do Idoso, Letícia Wollmann Willke.

Para que as políticas públicas, os as palavras. “Eu me expresso com serviços e benefícios aos idosos se- meu corpo. A dança fala por mim”, jam de conhecimento geral, é pre- explica ele. Mas a falta de intimiciso apostar na divulgação para a dade com as palavras não significa comunidade. Letícia afirma que o despreocupação com as “coisas” que tem se mostrado mais eficaz é a que o rodeiam. Gregori se mantém interação com a população, levar os atento à política e ao comportaserviços relacionados ao bem-estar mento das pessoas. Por trabalhar com crianças, adoe à qualidade de vida cada vez mais próximos de seu público. “Além lescentes e, inclusive, pessoas mais disso, é preciso atuar em parceria velhas, ele observa que há um descom as entidades do município, as leixo em relação ao que acontece no casas asilares, os centros de aco- mundo. “A gurizada não se preo­ lhimento, para que as pessoas co- cupa muito com o que está acontecendo. Eles não leem nheçam as inciativas de inclusão para a terceira “SER JOVEM É TER jornais. A primeira idade”, destaca a assis- AQUELA VONTADE, ação quando acordam é abrir o face como se tente social. SE ENTREGAR PARA o que realmente fosse Para formar idosos conscientes, responsá- AQUILO QUE VOCÊ relevante estivesse lá”, QUER FAZER” justifica Gregori. O veis e ativos, é preciso profissional da dança pensar na sociedade como um todo. Para a assistente so- ainda comenta que, em relação à cial, o jovem de hoje é o idoso de juventude atual, o que preocupa é amanhã e, por isso, é essencial que a vontade de ultrapassar seu tempo. se trabalhe com a orientação desde “Eles já têm a ‘manha’. Não querem a infância. “Hoje se perdeu a ques- ter a idade que têm e, consequentetão da educação, valores e princí- mente, não vivem o hoje”, explica. Mas a visão que o propios. De que adianta criar uma série de coisas pro idoso, se não se po- fessor de dança tem sobre tencializa e não se tem uma política si e sua atuação, em relação efetiva na infância? Se a gente não à sociedade, não é a mesma que a moldar o jovem, eles poderão fazer sua mãe teve. “Ela não acreditava escolhas erradas e não planejarão que isso fosse dar certo. Danço desde os 10 anos e sempre quis fazer seu futuro”, prevê Letícia. disso a minha profissão”, diz ele. Segundo o educador, a mãe somenARTE SEM IDADE te valorizou e apoiou suas escolhas Seja por meio de protestos, ou nos últimos anos. “Ela começou a mesmo por meio da arte, os jovens ver que eu me mantenho com esse do século XXI estão engajados no trabalho, é isso que me sustenta e cenário social do País. Geovani de me deixa feliz. Agora, até ela quer Gregori é professor de dança. Ele fazer aulas comigo, me acompanha ensina breaking em diversas esco- e me dá apoio”, completa. las e centros educativos da cidade Geovani tem notado, a partir de Caxias do Sul. Com 23 anos de desse interesse da própria mãe, idade, o garoto de família humilde que o público mais velho carece de não se diz muito confortável com mais atenção. “A vontade que mi-

nha mãe tem é a vontade de muitas outras pessoas mais velhas. Ser jovem é ter aquela vontade, se entregar para aquilo que você quer fazer”, termina ele, que diz não ter medo de envelhecer.

vas, como uma forma que eles encontram de preencherem seu dia a dia, e o resultado dessas escolhas é uma maior integração. Fazem novos amigos e sentem prazer em compartilhar a companhia um do outro”, conclui a chefe.

ATIVIDADE FÍSICA Entre diversas iniciativas que visam incluir e proporcionar conforto para aqueles que, em sua maioria, já podem ser avós, a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer de Caxias (SMEL) tem pensado e executado ações para beneficiar a vida dos idosos. Quando surgiu o primeiro Projeto (Grupo de Convivência) em 1998, atualmente Projeto Conviver, o pensamento foi de oferecer a população acima dos 60 anos a oportunidade de realizar atividades físicas, orientadas por profissionais de Educação Física, além de promover maior convívio social. Conforme a chefe da Seção para Adultos e Terceira Idade da Smel, Maria Luiza Bedin, são perceptíveis as transformações na vida dos idosos que frequentam os programas. “Novos planos, sonhos são construídos a partir das possibilidades que eles percebem que ainda podem realizar, sem medo de ser feliz. Um dos maiores benefícios é a percepção de que a vida esta à sua disposição, basta uma atitude, um primeiro passo, uma escolha”, observa Maria. A profissional explica, ainda, que nos últimos anos a procura por atividade física tornou-se mais significativa, pois os usuários dessa faixa etária descobriram suas possibilidades e cada vez mais estão buscando desafios. “Atribuo essa busca pelas atividades alternati-

SERVIÇO A Secretaria Municipal de Esporte e Lazer de Caxias do Sul (Smel) oferece diversos projetos voltados para o público com idade superior a 60 anos, como: •

Projeto Conviver

Projeto Mat Pilates

Projeto Dança Educativa Sênior

Projeto Jogos Adaptados

Projeto das Academias da Melhor Idade – AMEIs

A Smel está localizada na Rua Vinte de Setembro, nº 2.721, no Bairro São Pelegrino, em Caxias do Sul. Mais informações sobre os projetos podem ser obtidas por meio do telefone (54) 3901.1265. Site: www.caxias.rs.gov.br/ esporte_lazer/


comportamento

textando Ser jovem não significa apenas ter pouca idade. A juventude é um estado de espírito, um jeito de enxergar a vida e encarar os desafios. A Universidade de Caxias do Sul, por meio do programa UCS Sênior, incentiva a participação da terceira idade no ambiente acadêmico e oportuniza que esses alunos possam aprender e ainda socializar, criar amizades e conhecer uma vida nova na melhor idade. O formato atual do UCS Sênior é novo, incluindo o seu nome. Até 2014, o projeto, que tem 25 anos, era chamado de Unti (Universidade da Terceira Idade). Para adequar-se a padrões internacionais, adotou-se o nome UCS Sênior – Educação e Longevidade. Hoje, o programa atinge a região de Canela, Bento Gonçalves e Vacaria. A partir de janeiro de 2016, serão ofertadas atividades também em Guaporé, Nova Prata, São Sebastião do Caí e Farroupilha. Atuante no ensino, na pesquisa e extensão, o UCS Sênior foi um dos primeiros programas nesses moldes a ser criado no País. De acordo com o coordenador, Delcio Antonio Agliardi, o espaço da universidade estimula as capacidades dos alunos que se inscrevem no projeto. “A ideia é ser um programa universitário com o uso da estrutura acadêmica. Os alunos estão felizes por compartilhar esse ambiente com jovens. O sonho de fazer uma faculdade não acaba”, observa Agliardi. A convivência e a troca de experiências oportuniza histórias de vida interessantes. Agliardi se orgulha quando recorda dos alunos que conheceu através do programa e que tiveram uma nova chance, na vida, de estudar e se socializar. “Nós tínhamos uma professora da universidade que se aposentou e no dia seguinte estava inscrita no UCS Sênior, como aluna. Isso comprova a credibilidade e a relevância acadêmica que o programa tem. Tivemos muitos casos de alunos que concluíram a graduação pois se deram conta de que não era tarde”, lembra o coordenador. Uma das atividades mais procuradas pelos alunos do UCS Sênior

Natália Lessa

VIDA NOVA

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são as aulas de dança e expressão corporal. Geralmente compostas por mulheres, as aulas são animadas, dinâmicas e permitem que as alunas liberem energia e interajam umas com as outras. “A atividade está relacionada a uma nova maneira de viver a vida, reinventá-la após a aposentadoria, sem deixar de lado o contato com as outras pessoas”, destaca a educadora física e professora de dança, Natália Garibaldi. A aula de dança é temática e sempre traz um aprendizado sobre alguma cultura diferente. Na semana em que nossa reportagem esteve na UCS, as alunas tiveram uma aula sobre Dança do Ventre e Dança Cigana. Vestidas com a indumentária característica – véus, saias longas, lenços e flores na cabeça –, as mais de 20 alunas da turma encanta­ramse­com os movimentos e ainda se divertiram com as coreografias. A importância de fazer uma atividade física está relacionada também com a habilidade desses alunos em desenvolver suas capacidades motoras, evitando o processo degenerativo do corpo. “Ao longo dos anos, um dos maiores índices de óbito corresponde a quedas, as quais desencadeiam outros problemas de saúde. Dessa forma, o fortalecimento da musculatura, treinamento de flexibilidade e a agilidade podem auxiliar o cotidiano dos idosos”, explica Natália. A mudança no corpo e na disposição é um dos resultados percebidos pela aluna Suzana Boff em sua rotina. Hoje, com 58 anos, ela dedica-se duas vezes por semana às aulas de dança e acredita que a atividade promove seu bem estar. “Estar aqui me alimenta a alma, o corpo. Eu não abro mão da dança. Eu me renovei, sou mais extrovertida, feliz, criei molejo no corpo”, conta a aluna. Quando jovem, a aluna Marilise Barea, 58 anos, não teve oportunidade nem tempo de dedicar-se a uma atividade física como a dança. Ela casou-se aos 20 anos e por conta da rotina com os filhos, acabou deixando a vontade de dançar de lado. Depois de perder o marido, descobriu na dança uma nova maneira de enxergar a vida. “É a minha válvula de escape”, conta Marilise. A melhora da autoestima é uma das vantagens percebidas por quem deixa a rotina de lado e se dedica à uma atividade física Divulgação Internet

Sempre há alternativas , mesmo que muitas vezes elas não estejam dentro dos planos

A necessidade de migrar A dança serve para alguns como uma injeção de ânimo, já que a vida precisa desse tipo de inovação. Mas, para outras pessoas, a atividade alternativa não é suficiente, e é nessas ocasiões que algumas pessoas se deparam com a necessidade de migrar, e muitas vezes migram da própria casa. Na cidade, o Lar São Francisco de Assis atua como uma casa de repouso permanente para os idosos carentes em diversos sentidos. Sem fins lucrativos, a sociedade civil, com finalidade filantrópica, que atualmente abriga 24 homens e 46 mulheres com idade entre 60 e 97 anos, foi fundada pela Ordem Franciscana Secular. O local, cuja finalidade pri-

mordial é abrigar e amparar a velhice, fornece gratuitamente habitação, alimentação, vestuário, assistência médica, psíquica, dentária e farmacêutica, além de possibilitar, para aqueles que desejam, assistência espiritual. Conforme o administrador do Lar, Paulo Cassol, o serviço oferecido é constantemente procurado na cidade por familiares, mas há todo um procedimento a seguir. Primeiramente, é feita visita ao idoso e a familiares. Depois, a enfermeira da Casa avalia a situação desse idoso. Entre outros procedimentos e entrevistas, é verificada a real necessidade de institucionalização e a veracidade de que o idoso não tem como se manter. Ele salienta ainda que

o idoso deve realmente apresentar carência em todos os sentidos. O administrador relata que o vínculo criado entre os idosos e os funcionários é como o de uma família. “A equipe de cuidados busca interagir com o público de maneira informal, para, justamente, tornar o ambiente mais agradável”, destaca o administrador. Aproximar-se de um lar é uma missão muito difícil, independentemente de qual seja o segmento, mas o desafio é uma motivação para Cassol. “Independente da mudança de humor que faz parte da rotina dos habitantes da casa, eles se sentem felizes’’, diz ele.


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especial

textando

carros modificados Fotos: Gerson Felippi Jr

Volume alto, carro baixo Carros rebaixados e com som automotivo ganham as ruas da Serragaúcha. As modificações atraem reações que vão do amor ao ódio. Os apreciadores se reúnem em grupos e investem grandes quantias para personalizar automóveis. Calebe De Boni | caboni@ucs.br Gerson Felippi Jr | gfjunior1@ucs.br

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os domingos à tarde, a Avenida Independência, principal rua do município de Garibaldi-RS, em nada lembra os cenários bucólicos de uma típica cidade do interior gaúcho com pouco mais de 30 mil habitantes. O brasileiro é apaixonado por carro, já pregava o slogan de uma famosa rede de postos de combustíveis. Esse pode ser um dos motivos que leva dezenas de motoristas a exibirem seus automóveis modificados nos quase 2 km da florida avenida, que mais parece uma enorme passarela. Ao longo da via, há carros com o assoalho encostado no chão, faróis de xênon, vidros com película, porta-malas entupidos com equipamentos sonoros e pinturas de todas as cores imagináveis. Entre goles de cerveja e batidas que variam nos ritmos do funk ao psy, os jovens encontram amigos e contam suas aventuras. O adesivo “é de menina” retrata a crescente presença feminina nestes grupos de motoristas.

Atualmente, possuir um carro rebaixado ou provido de som automotivo é o sonho de muitos jovens, mas para entrar nesse mundo existe um preço a pagar. Uma das principais lojas que faz esse serviço em Caxias do Sul é a Baggio Sound Suspension. O estabelecimento marca presença com adesivos em muitos carros modificados na Serra gaúcha. O proprietário da loja, Ivan Nunes, explica que existem vários níveis e valores para modificar os automóveis, desde pequenas alterações até sofisticados incrementos na máquina. Antes de qualquer coisa, Ivan salienta a importância de buscar assistência profissional para qualquer mudança automotiva. “Às vezes um serviço menos especializado e profissional pode trazer transtornos. Os maiores problemas no caso de som automotivo são instalações malfeitas, que podem trazer danos elétricos e panes. Em relação à suspensão, caso seja malfeita, pode resultar

em perda da estabilidade do carro”, destaca o empresário. Quem quiser se aventurar nesse mundo de carros baixos e sons altos, terá de colocar a mão no bolso. O kit mais simples de suspensão a ar de oito válvulas, para subir e descer o carro, sai pelo valor de R$ 2,8 mil. Entretanto, o carro somente ficará completo com um potente sistema de som. O investimento básico, conhecido por “Trio Elétrico”, conta com dois alto-falantes de 12 polegadas, duas cornetas, dois twitters e um módulo (espécie de central do equipamento) e seu preço não baixa de R$ 1,5 mil. Agora, se o motorista optar por um upgrade e partir para um nível mais alto, pode comprar um kit de suspensão a ar de oito válvulas com meia polegada cada. Nesse caso o valor cresce e fica na faixa de R$ 4 mil. Com esse investimento, o condutor fará seu carro pular pelas ruas. Para aumentar o volume, também é preciso botar a mão no bolso. Um som automotivo com oito alto-falantes, quatro

a seis cornetas, quatro a seis supertwitters, dois módulos e mais uma bateria extra, que fornecerá a energia necessária para fazer tudo funcionar no estágio máximo, sai pela bagatela de R$ 5 mil a R$ 6 mil. Se o chão é o limite na hora de rebaixar um veículo, na hora do som o limite é a quantidade de O ASSOALHO ESTÁ GRUDADO caixas de som e NO CHÃO, O SOM ATINGE equipamentos QUALQUER OUVIDO E O que seu carro ADESIVO IDENTIFICA O HOBBY, possa carregar. Paredões de QUASE TANTO QUANTO O caixas de som, PRECOCEITO DE QUE SÃO ALVO que são dignos NO TRÂNSITO de fazer inveja em muitas baladas, porta-malas estilizados com painéis e alto-falantes para dar e vender iniciam no valor de R$ 5,5 mil e podem chegar a valores acima de R$ 20 mil. Segundo o empresário, quem pensa que são poucos os dispostos a gastar milhares de reais para equipar suas máquinas está enganado. “Existe uma procura muito


textando de dois anos e promove encontros mensais entre apaixonados pelo carro da montadora francesa. Eles se reúnem para exibir seus veículos e trocar experiências em um domingo por mês. As afinidades não acabam no modelo preferido de carro, mas passam também pelas modificaPARA CURTIR ções realizadas no Clio. O metalúrO ano de 2015 é marcado pelos gico caxiense Marlon Sene, um dos rumores de crise financeira que cinco fundadores do Clio Clube, acarreta o controle de gastos dos pondera que modificar o veículo brasileiros. Apesar do cenário eco- não é uma unanimidade no grupo, nômico, o jovem Maicon Lira Fer- mas agrada boa parte dos integrannandes procurou a Baggio Sound tes. “Realmente, a maioria dos parSuspension para realizar alterações ticipantes do clube tem o Clio reem seu veículo. Maicon deseja baixado. Não é algo planejado, ou equipar seu Celta vermelho, fabri- forçado. É difícil explicar o motivo cado em 2007, com um imponente disso, mas rebaixados ou não, todos som automotivo. No estabeleci- são bem-vindos”, salienta Marlon. Entretanto, o custo de um carmento, o jovem se assustou com o investimento financeiro necessário ro rebaixado não se resume às cipara realizar as modificações que fras investidas. Em alguns casos, almeja. “Infelizmente, não vou o carro rebaixado pode despertar conseguir colocar o som automoti- o ódio gratuito de outros condutovo que gostaria no meu carro, mas res. O metalúrgico, que já está no terceiro carro pretendo voltar em dois meses “EU FAÇO O CARRO PARA MIM, rebaixado, cone realizar meu DO JEITO QUE EU GOSTO, MAS ta que a opção em modificar o sonho de conAINDA TEM MUITAS PESSOAS carro é estética. sumo”, planeja QUE JULGAM UMA PESSOA PELA Ele defende que Maicon. CONDIÇÃO DO SEU CARRO.” se trata de um O equipagosto pessoal, mento sonoro desejado por Maicon custa R$ 2,2 mas acaba sofrendo julgamentos mil. Ele defende que se trata de um de outros usuários do trânsito. “A investimento no seu principal ho- verdade é que existe muito prebby. “Desde criança aprecio carros conceito. Tem aqueles que chegam e sempre quis ter um som legal para mais na boa e falam que respeitam curtir. Vou juntar todo dinheiro e e acham bonito, mas dizem eu não depois investir. O som automotivo teria. Só que outros chamam de é uma prioridade na minha vida”, marginal, bandido e todo tipo de xingamento. Eu faço o carro para relata Maicon. O Clio Clube é um grupo de mim, do jeito que gosto, mas ainmotoristas que tem como único da tem muitas pessoas que julgam requisito possuir um Renault Clio. uma pessoa pela condição do seu Criado em Caxias do Sul por cin- carro”, avalia o jovem. A situação parece não intimidar co amigos, o clube existe há mais grande em relação aos kits de som automotivo personalizados. Nos últimos meses, o crescimento das ações fiscalizatórias freou um pouco o mercado de som automotivo, mas mesmo assim é maior do que se imagina”, revela Ivan.

Marlon e seus companheiros de clube. Os encontros vêm crescendo e atraem cada vez mais a atenção de outros proprietários do modelo Renault. De acordo com o metalúrgico, eles contam com a participação de curiosos. Os administradores do grupo criaram camisetas personalizadas e relatam que os encontros chegam a reunir 100 pessoas. LEGISLAÇÃO PERMISSIVA No último ano, o Departamento Estadual de Trânsito do Rio Grande do Sul (Detran-RS) emitiu 61 mil multas em função de modificações irregulares de veículos. O Gerente de Educação Para o Trânsito da Secretaria de Trânsito, Transportes e Mobilidade (SMTTM) de Caxias do Sul, Carlos Beraldo, aponta que a resolução 479, de 2014, abriu a possibilidade para rebaixamento de veículos com suspensão a ar. O gerente reconhece que a regularização do rebaixamento enfrenta uma burocracia em série e recolhe taxas para o governo. “O processo legal passa pelo Detran-RS, mecânicas de automóveis e uma instituição técnica licenciada (ITL). Em Caxias, temos somente duas instituições credenciadas. Nestas ITLs, é realizado um teste de dirigibilidade para verificar se a alteração da suspensão não prejudica a segurança do veículo. Aprovado o carro, o motorista recebe um documento que autoriza a troca do Certificado de Registro e Licenciamento (CRLV) do veículo. Na nova versão do certificado, consta a alteração aprovada pela instituição. O documento deve ser apresentado sempre que requerido por agentes de trânsito”, explica Beraldo. O Código de Trânsito Brasileiro

especial 15 (CTB) permite o rebaixamento do Marivanda Silveira Ló. A profiscarro até uma distância de 10 centí- sional, que há mais de uma década metros entre o ponto mais baixo do acompanha adolescentes em situaveículo e o chão. Além disso, é ne- ção de abandono e jovens que lutam cessário que o farol do carro fique a contra o vício das drogas, sugere pelo menos 50 cm do piso. Em caso que a faixa etária é propícia para a de irregularidades, o motorista é formação de grupos com hobbies autuado pelo art. 230 por conduzir em comum. “O movimento de grupo estio veículo com a cor ou características alteradas. A medida acarreta mula no jovem a sensação de pertencimento. Na infração grave com a perda O CTB PERMITE O REBAIXA- transição entre a de cinco pon- MENTO DO CARRO ATÉ UMA adolescência e a tos na carteira DISTÂNCIA DE 10 CENTÍME- vida jovem, é necessário que o ser de motorista e multa no valor TROS ENTRE O PONTO MAIS humano se lance de R$ 127,69. BAIXO DO VEÍCULO E O CHÃO a toda sociedade. Nesta fase, surO veículo é guinchado e somente poderá trafe- gem as incertezas e inseguranças, gar depois de sanadas as irregula- seguidas da formação de grupos onde se sentem aceitos. Muitas veridades. Por outro lado, a fiscalização do zes, a individualidade é sacrificada som automotivo é mais complexa. em prol das ideias do grupo”, relata Beraldo explica que os limites em a psicóloga. Os altos investimentos finandecibéis são diferentes em zonas urbanas e rurais. Segundo apurou ceiros no carro e a parcela de cona reportagem, o limite gira em tor- dutores que realizam alterações no de 90 decibéis, o equivalente a irregulares despertam a reflexão um liquidificador ligado. Ele alega da profissional. “O jovem é movique a medição também necessita do por testar seus próprios limites, que o veículo se encontre isolado as regras da família e as leis que de outras fontes de ruído. O gerente regem a sociedade em geral. Muiinforma que os agentes de trânsito tas vezes, a própria vida é colocapodem agir somente nos casos em da em risco nessa ânsia de superar que o carro, com o som automoti- barreiras”, opina Marivanda. O trânsito, frequentemente, é vo, esteja trafegando em via pública. “O carro estacionado com som classificado como uma zona de automotivo não é enquadrado no conflitos emocionais e provoca CTB. Para configurar infração de brigas que chegam, inclusive, a trânsito, o veículo precisa estar tra- homicídios. Os carros rebaixados e o som automotivo também lefegando”, justifica Beraldo. vantam discussões acaloradas de condutores. SENSAÇÃO DE PERTENCIMENTO Segundo a profissional, um convívio saudável é possível quando Os fortes vínculos de relaciona- se entende que o direito de um momento, formados por esses jovens torista vai até a linha em que coapreciadores de carros modificados meça o direito do outro motorista. são objeto de análise da psicóloga

O reboque é uma opção de transporte para o paredão de som. O custo do equipamento vai de R$ 10 mil a R$ 100 mil. Os projetos são ambiciosos e a estrutura pode chegar até cinco metros

“O CARRO ESTACIONADO COM SOM AUTOMOTIVO NÃO É ENQUADRADO NO CTB. PARA CONFIGURAR INFRAÇÃO DE TRÂNSITO, O VEÍCULO PRECISA ESTAR TRAFEGANDO.”


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economia

textando Diúlit Oldoni | dboldoni@ucs.br Laura Silveira | lssouza1@ucs.br

SOLIDARIEDADE

Para consumir sem degradar A economia solidária representa uma esperança diante do capitalismo e a humanização do consumo Andréia Copini

Todos os sábados, das 6h às 12h, o Largo da Estação Férrea, recebe a Feira Orgânica. Os consumidores vão ao local em busca de opções mais saudáveis e livres de químicos para inserir em sua alimentação

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e toda a economia fosse solidária, a sociedade seria muito menos desigual.” A frase de Paul Singer, economista e doutor em Sociologia, sintetiza a configuração econômica que rege a organização do meio no qual estamos inseridos. Enraizado, o sistema volta-se, principalmente, para os lucros em detrimento da humanidade. Nesse caótico panorama no qual o capitalismo se sobrepõe a outros aspectos inerentes – e fundamentais – à vida em sociedade, há pessoas, felizmente, que buscam soluções alternativas para humanizar e otimizar os processos econômicos. Um desses caminhos é a economia solidária que, ainda como propõe Singer (2002), tem seu valor atribuído à igualdade e à democracia nos empreendimentos, bem como o repúdio ao caráter assalariado. Inclusão é a resposta Os conceitos de inclusão social e de igualdade são propostos aos indivíduos desde a infância. Entretanto, é no momento da prática que o ser humano consegue compreender sua grandeza e seu poder de ação. A doutora em educação Vera Schmitz explica que, sob essas propostas, a economia solidária consiste em uma ação de fronteira, na qual são criadas não apenas alternativas econômicas, mas também sociais. Por meio desse sistema, o

desenvolvimento torna-se local, e as propositivas apresentam maior alcance e, por consequência, beneficiam uma gama maior de pessoas. Ao estimular o exercício da cooperação, da troca de conhecimento e habilidades, é possível exercer a equidade e facilitar a inclusão de mulheres, idosos, portadores de necessidades e demais grupos que comumente encontram dificuldades e preconceitos, ao tentar se inserir no mercado de trabalho. Dessa forma, não apenas a economia é alavancada e melhor compreendida; os estímulos morais também podem ser considerados como benefícios: obtenção de maiores ganhos – sejam econômicos ou pessoais –, alternativa ao desemprego, fonte complementar de renda, desenvolvimento de atividades por meio do compartilhamento e a oportunidade de contato com um meio de trabalho humanizado e preocupado com o ambiente. Segundo Vera, esses são alguns dos principais motivos que atraem o interesse de, cada vez mais, pessoas que partilham do desejo de fugir dos padrões. Solução que alimenta Por se basear na cooperação e na valorização dos indivíduos, a economia solidária pode ser encontrada sob diversas formas na sociedade, desde que haja uma nova proposta e um novo ideal de vida na mente de seus colaboradores.

Jonas Tondello, 24 anos, por exemplo, acredita que é possível propor à população uma nova – e melhor – forma de se alimentar. Quando se afirma que a economia tradicional visa – principalmente e em detrimento de outros aspectos – o lucro, é possível compreender que os meios que ela abrange também são afetados. Na alimentação, não raro nos deparamos com produções repletas de agrotóxicos e demais substâncias que normalmente não são conhecidas por quem as consome. É com base no repúdio a essa premissa que Jonas Tondello oferece aos consumidores opções orgânicas de alimentos. Tondello conta ainda que encontra nesse sistema a oportunidade de engrandecer seu espírito empreendedor, por meio de um negócio viável, e que ainda lhe proporciona experiências e aprendizados que fogem daquilo que o modelo tradicional comumente propõe. Quanto às dificuldades, o cooperativista menciona a falta de assistência técnica; aspecto que, segundo a professora Vera, se deve à relativa falta de visibilidade da economia solidária, apesar de que ela pode contar com o apoio de instituições públicas ou privadas, como universidades, ONGs e prefeituras. saúde na prática A economia solidária não possui

referências na economia tradicional, uma vez que apresenta outra lógica organizacional. De acordo com o Ministério do Trabalho, este modelo econômico pode ser identificado, principalmente, por sua autogestão. Os envolvidos com esse tipo de segmento partilham interesses e objetivos comuns, e ainda unem suas capacidades e desfrutam das propriedades coletivas de bens. Os resultados desses esforços também são compartilhados. No empreendimento do qual participa Tondello, há o apoio de outros 22 cooperativistas. Cada um deles é responsável pela produção dos alimentos e, após comercializados, o lucro é reinvestido na manutenção do negócio e distribuído para seus trabalhadores. Tondello e seus colegas vendem seus produtos na Feira Orgânica, que ocorre todas as quintas, das 12h às 19h na UCS. Aos sábados, os feirantes atendem no Largo da Estação Férrea, das 6h às 12h. Apesar de, com excelência, levar saúde aos consumidores, nem tudo é fácil no caminho de quem opta pela economia solidária, principalmente no início da trajetória. Vera explica que é fundamental o esforço dos cooperativistas, sobretudo quando não possuem experiência no gerenciamento. A carência de capital de giro e crédito, bem como a comercialização dos produtos, também pode se mostrar como dificuldades comuns no princípio.

Nesses casos, os empreendedores podem buscar auxílio nas entidades que apoiam o modelo cooperativo e que promovem programas para tornar a economia solidária mais visível, além de fortalecê-la. Amor SEM endereço Para que a economia solidária se prolifere em algum local, é necessária apenas a vontade de fugir dos padrões tradicionais e desenvolver um novo modelo de empreendedorismo. Tal negócio, por sua vez, deve funcionar de acordo com as premissas de inclusão social, equidade, solidariedade e preocupação com o meio ambiente. Dessa forma, não há locais propícios específicos para o surgimento de pontos desse sistema. Vera explica que as periferias de grandes cidades comumente são contempladas com esse tipo de iniciativa, porém, ela tem se desenvolvido em ambientes variados, como cidades pequenas e em outros espaços rurais e urbanos. No Brasil, ainda segundo Vera, há mais de 20 mil empreendimentos voltados para o cooperativismo. Se observado de forma individual, nota-se como este modelo permite não apenas a humanização do fazer econômico, mas também a humanização de cada viés de negócio. Tondello, por exemplo, acredita que uma alimentação natural e saudável ainda é possível e, se o Brasil


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economia 17 Fotolia.com/Divulgação

Cada vez mais recorrentes e espalhadas por todos os estados brasileiros, as feiras de alimentos orgânicos oferecem produtos mais saudáveis e com preços mais acessíveis aos consumidores

Ponto de partida Apesar de prezar pelo reinvestimento dos lucros em prol da comunidade, as organizações solidárias, assim como os demais empreendimentos, também costumam “começar de baixo”. É necessário, portanto, contar com recursos imprescindíveis à abertura de qualquer negócio como, por exemplo, a detenção de capital de giro. Para auxiliar os pequenos empresários do modelo ecônomico solidário, foi fundada em 2007, em Caxias do Sul, a Associação de Microcrédito Popular e Solidário, a Acredisol. Inspirados na ideologia de Muhammad Yunnus – vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 2006 –, ex-estudante da Escola de Formação Fé, Política e Trabalho, deram início à instituição sem fins lucrativos, que possibilita o acesso ao microcrédito como ferramenta de combate à pobreza, bem como viabilizar iniciativas que gerem trabalho e renda. Conforme Yunnus, inspirador desse projeto, o microcrédito não deve ser visto apenas como uma solução econômica, mas também como uma força de mudança social e política. Além disso, ele afirma que “não devemos assistir os pobres, assim os destruímos”. Desta forma, cada indivíduo desfruta de

seu direito de criar, bem como de reverter sua situação financeira e buscar mudanças em sua vida. Desde sua fundação, a Acredisol já contribuiu com o desenvolvimento de 18 microempreendimentos de diversos segmentos em todo o Estado. Cada projeto tem apoio e acompanhamento de um agente de crédito, responsável, entre outras tarefas, por realizar a cobrança mensal para restituição do valor e monitorar a evolução dos beneficiados. Atualmente, a instituição conta com mais de 100 associados. Para formação do fundo de empréstimo, cada um contribui, de forma solidária, com R$ 5 mensais, ou outro valor decidido em Assembleia Geral. Os participantes também podem indicar pessoas e projetos passíveis de receber o microcrédito. A administração da instituição contempla assembleia geral, diretoria e conselho fiscal. As modalidades de crédito, por sua vez, são categorizada em crédito individual, para pessoas físicas ou jurídicas; crédito solidário, para grupos com atividade econômica em comum; e crédito associativo, para grupos organizados legalmente de forma associativa. O valor é cedido aos beneficiados por, no máximo, 24 meses, com carência de seis meses. O modelo tradicional de trabalho ainda predomina; contudo, a cooperatividade tem sido cada vez mais discutida e inserida na economia. Tal fato se mostra não apenas na abertura de novos caminhos e oportunidades econômicas e trabalhísticas, mas também na conscientização de cada cidadão. A partir do momento em que um indivíduo se dá conta das amarras e engrenagens que sustentam o capitalismo, a necessidade de liberdade toma formas e rumos mais concretos, como a economia solidária.

Infográfico: Piktochart/Diúlit Oldoni

já conta com milhares de iniciativas espalhadas por seu território, certamente muitos setores já são contemplados com uma visão mais amorosa de consumo. Com essa perspectiva de crescimento, a concretização do desejo de Tondello se mostra iminente: “Espero que o modelo atual, um dia, já não sustente a classificação de tradicional, mas que a economia solidária se torne o maior modelo seguido pela população.”


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economia

textando Jaqueline Pereira | jmpereira1@ucs.br Michele Santos | msantos17@ucs.br

NEGÓCIOS

A arte de empreender Inovação, proatividade, determinação, iniciativa e trabalho: a possível “receita” do sucesso Rudimar de Alencar.

Mix Coffee Gourmet: para quem olha, uma empresa pequena e fácil de administrar. Puro engano: mesmo os menores negócios exigem dedicação e grandes responsabilidades

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m momentos de crise, é preciso enxergar além do horizonte. Para quem deseja ter o próprio negócio, perseverança é a pala­vrachave. O jovem empreendedor sonha em ficar rico assim que abre o seu negócio, mas, na maioria dos casos isso não acontece. Antes de conquistar o almejado sucesso, é preciso ter um planejamento e se preparar para as situações mais diversas que possam surgir. Segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e do Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP), 34,5% dos brasileiros têm o próprio negócio. Esse número revela que a cada 100 brasileiros, cerca de 34 possuem empresas. Em 2006, foi criada a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, que estabelece uma maior justiça tributária, simplificando o pagamento de impostos e diminuindo a burocracia para a abertura e o fechamento de pequenos empreendimentos. Além disso, a lei estimula as exportações, incentiva a cooperação e facilita o acesso ao crédito. Com essas melhorias, muitos aventuraram-se à independência profissional. A classificação na categoria de pequeno exige algumas características. Segundo o Portal do Microempreendedor do Sebrae, a primeira delas é que o indivíduo legalize a sua empresa. O faturamento do negócio também deve ser observado, gerando rendimentos de, no máximo, 60 mil reais por ano. Com o intuito de transformar a própria vida, Diego Rotini, 28 anos, começou a empreender. No

início de 2015, o jovem tornou-se sócio de um café em Gramado: o Mix Coffee Gourmet. Apaixonado por estética e por desenho, Rotini, inicialmente, queria montar uma estética capilar e um estúdio de tatuagens. Após algumas pesquisas de mercado, descobriu que o seu faturamento seria baixo e que não teria o sucesso desejado. Mudou para o ramo alimentício, na esperança de ter melhores resultados. “Mesmo com a crise, as pessoas não deixam de se alimentar. Por isso, o café tornou-se a minha nova opção”, justifica o empreendedor. No início, Rotini imaginava que o caminho escolhido seria fácil e que o lucro viria com certa rapidez. Mas, algumas dificuldades surgiram quando ele investiu mais profundamente em seu negócio: “os aluguéis em Gramado, cidade que eu escolhi para montar o café, são mais altos do que em Caxias do Sul. A distância também é um fator que nos faz pensar, pois a estrada, muitas vezes, me deixa desanimado. Hoje, só consigo manter o café, porque revezo o cuidado e os compromissos do dia a dia com Rudimar, que é o meu sócio”, relata Rotini. Apenas alguns meses após a abertura do café, Rotini diz que já pensa em vender sua parte. Embora não veja a atual experiência como aquilo que deseja seguir para o resto da vida, ele ainda almeja ter o seu próprio negócio. Diego Rotini é categórico: “O café é longe e não é um ramo que eu gosto. Mas, só pude descobrir isso tentando. Hoje, eu sei que para abrir um negócio é preciso ter um bom planejamento e

estar atento aos diferenciais que o empreendimento possa vir a exigir. O mercado requer muita atenção e as pesquisas são essenciais para entendermos a necessidade do público”, alerta. COMO começar?

sinceras sempre que nos forem solicitadas. Assim, parece um bom modo de criar-se o novo”, ressalta Paese. O Coletivo Labs é uma boa opção para quem quer melhorar seu projeto, recorrendo a um ambiente criativo. Mas para se fazer um bom trabalho é necessário buscar recursos financeiros, pois os gastos, são grandes, o que de imediato, remete a pensar em formas de financiamento.

Uma opção para quem deseja empreender é o Coletivo Labs. O projeto tem como objetivo incentivar jovens que têm uma ideia inovadora, mas que não sabem como colocá-la em prática. No espaço do em prática Coletivo Labs, é possível desenvolver o projeto pessoal e, depois Para quem deseja ter um projedisso, o pequeno emto financiado na presário pode conárea esportiva ou tinuar usando o am- “HOJE EU SEI QUE PARA cultural, o Finanbiente do Coletivo ABRIR UM NEGÓCIO É ciarte, o Fiesporte para fazer reuniões, PRECISO TER UM BOM – Financiamento encontros e até mesMunicipal de DePLANEJAMENTO E mo palestras. senvolvimento do ESTAR ATENTO AOS O espaço tem Esporte e Lazer DIFERENCIAIS QUE O suas bases voltadas de Caxias do Sul para o debate e para EMPREENDEDORISMO e o Fundel – Funo desenvolvimento POSSA VIR A EXIGIR.” do Municipal de de ideias. Lugares Desenvolvimento que, em uma casa, do Esporte e Lazer serviriam como descanso, no Cole- são boas opções. Com eles, os protivo Labs são utilizados para desen- jetos podem sair do papel. volver os mais variados projetos. O Financiarte foi criado em 2009 No local, explora-se o uso das e tem como finalidade incentivar a cores para aguçar a criatividade dos produção artística e cultural. O proempreendedores e todo ambiente é jeto começou com a Lei 6.967, de planejado de modo que as pessoas 30 de julho de 2009. Mas, antes do sintam-se à vontade. Financiarte, já existia o FundopróSegundo o Host do Coletivo cultura, que durou de 2003 a 2008 Labs, Vinicius Paese, o local é pro- , com edital anual. Com o surgipício às novas ideias, e o trabalho mento do Financiarte, passaram a é exposto a todos para receber as ser lançados dois editais por ano, mais diversas opiniões. “Nós ofere- contemplando as seguintes áreas da cemos um clima profissional e inti- produção cultural: cinema e vídeo, mista, café feito na hora e opi­niões dança, folclore e artesanato, músi-

ca, teatro e artes visuais. S e g u n do dados da Secretaria de Cultura de Caxias do Sul, no ano de 2014 foram inscritos 101 projetos no Financiarte, 58 deles aprovados. Os valores investidos na última edição chegaram aproximadamente a um milhão e setecentos mil reais. Apesar disso, 2013 carrega o título de ano com maior investimento em financiamentos culturais em Caxias do Sul, já que cerca de um milhão e novecentos mil reais foram repassados aos projetos. Já, para quem deseja investir em esporte e lazer, o Fiesporte e o Fundel podem ser um bom caminho a seguir. Os programas foram desenvolvidos em 2013 e têm como objetivo financiar projetos que proporcionem melhor qualidade de vida e inclusão social. Segundo dados da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (Smel), o Fiesporte já teve 11 edições e 1.244 projetos já foram financiados, totalizando cerca de 14 milhões de reais. O Fundel é responsável pela criação da Associação Caxiense de Esportes Náuticos. Cada contrato com a Smel dura cerca de dez meses e visa ao desenvolvimento de equipes de canoagem. Do projeto, podem participar crianças, adolescentes, adultos e até mesmo pessoas com deficiência. Atualmente, o grupo conta com quatro adultos que têm limitação física. Segundo o técnico da equipe, Jonatan Maia, os recursos são recebidos por meio da Prefeitura Municipal de Caxias do Sul: “Nós recebemos recursos para pagar as despesas dos atletas e Comissão Técnica nos campeonatos, como


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perto do sonho

unidade MÓVEL

ACREDITAR SEMPRE Mesmo com empecilhos, ainda são muitas as pessoas que se aventuram na abertura do próprio negócio. No entanto, é preciso ter responsabilidade. Estar sempre atualizado e participar de cursos e palestras permite que o microempreendedor tenha uma visão mais ampla sobre o seu ramo de trabalho. O conhecimento técnico é sem dúvidas essencial. Mas, também, é importante ter energia positiva e esperança. Acreditar que a empresa trará o resultado almejado é o início de uma carreira de sucesso. Os desafios serão diários. Ter fé, sob qualquer perspectiva, é uma forma de manter a força de vontade e autoestima necessárias para que o negócio dê certo. Tornar-se empreendedor é um aprendizado constante, mas, com tantas oportunidades no mercado, a realização do sonho pode estar mais perto do que nunca.

O espaço interno do ônibus da LPE é quase um “escritório sobre rodas”, com toda a estrutura necessária para atendimento Camila Borghetti

Além de ter uma unidade próxima e de fácil acesso, os caxienses ainda contam com um projeto diferenciado para auxiliá-los em seus negócios: a Linha da Pequena Empresa, uma parceria com a Prefeitura Municipal (por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Emprego) e também com a Visate. Desde 2012, um ônibus customizado funciona como atendimento móvel, percorrendo diversos bairros da cidade. Para os moradores de cada região, são levados orientadores especializados e informações sobre a formalização de pequenos negócios e microcrédito, concessão de alvarás, capacitação em gestão empresarial, crédito consciente e outras informações importantes. A Linha da Pequena Empresa também tem como foco reduzir a informalidade de negócios no município, descentralizar os serviços de apoio empresarial, desburocratizar o acesso às informações e promover a consciência para o uso

Unidade móvel possui layout diferenciado para chamar a atenção dos aspirantes a donos do próprio negócio Ademir Kuhn

Para o sonho tornar-se realidade, é necessário que haja dedicação e conhecimento adequado sobre os assuntos que rodeiam o universo dos empreendedores. Para auxiliar os aspirantes a empresários com os seus negócios, há mais de 40 anos existe o Sebrae. O objetivo dessa empresa privada é promover a competitividade e o desenvolvimento sustentável dos empreendimentos de micro e pequeno porte com faturamento bruto anual de até R$ 3,6 milhões. O Sebrae tem sede fixa no Distrito Federal e mais 27 unidades distribuídas pelo restante do País. Em cada uma das sedes, é possível esclarecer dúvidas sobre finanças, gestão de pessoas, competição de mercado e leis básicas para a abertura de uma empresa. Em Caxias do Sul, a sede do Sebrae fica na Rua Pinheiro Machado, 1276 — Bairro Centro.

racional do crédito. Alcir Cardoso Meyer, Técnico de Atendimento na Serra gaúcha do Sebrae, relata a importância do projeto: “Até agora tivemos 6.500 atendimentos na LDPE e 2.430 formalizações de Empreendedores Individuais. Em 24/10, segundo informações do Portal do Sebrae, havia 16.700 MEIs ativos, ou seja, em apenas três anos a LDPE formalizou 14,56% dos MEIs de Caxias do Sul.” Maria de Lourdes Lopes, dona de uma microempresa de roupa infantil, relata a importância que a LPE teve em sua vida: “Por muito tempo eu fui “sacoleira” e ia nas casas vender as minhas roupas. Mas, sem empresa registrada, eu perdi muito dinheiro. Logo que a Linha da Pequena Empresa iniciou, eu procurei atendimento. Com as orientações, formalizei meu negócio. Ainda estou me adaptando, mas com a ajuda do Sebrae tenho muito mais segurança em agir enquanto microempresária.” O atendimento neste projeto é gratuito. Para usufruir do benefício, os interessados devem comparecer no local em que o ônibus está, para uma consulta. No início de cada semestre, um novo cronograma de atendimento com as regiões de passagem do ônibus é estabelecido. No telefone 0800.5700800 você consegue mais informações.

19 Alcir Cardoso Meyer

gastos com transporte e alimentação. Também é possível prover nos projetos um salário por contratação. Já os materiais e equipamentos esportivos não conseguimos comprar com o dinheiro dos projeto”, relata Jonatan.

economia

Ônibus itinerante da Linha da Pequena Empresa percorre desde 2012 bairros de todas as regiões de Caxias do Sul

Conheça quais serviços são oferecidos por meio do Sebrae do Rio Grande do Sul - Cálculo de venda - Ponto de equilíbrio no negócio - Fluxo de caixa capital de giro - Redução de inadimplência e - Projeção de receitas, custos e despesas PESSOAS - Atribuições das pessoas na equipe - Seleção de bons funcionários - Avaliação de perfil retenção de talentos

MERCADO

Brasil Visual

FINANÇAS

- Aumento de vendas e metas - Prospecção e fidelização de clientes - Pesquisa de mercado - Registro de marca e patente e - Plano de marketing LEIS E NORMAS - Abertura de empresa - Emissão de certidões - Alvarás - Preenchimento de notas fiscais - Documento de Arrecadação do Simples Nacional (DAS)

Sede do Sebrae de Caxias do Sul possui três andares e fica na Rua Pinheiro Machado, no Centro


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segurança

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ENTRE O REAL E O VIRTUAL Ricardo de Souza

OS PERIGOS DA VIDA EM REDE Hoje em dia, é impossível pensar o mundo sem a internet. Mas a rede mundial de computadores, assim como o mundo real, está cheia de gente mal-intencionada. Portanto, ter cuidado com o que e com quem se compartilha conteúdo é fundamental. Ricardo Augusto de Souza | rasouza6@ucs.br

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esde o primeiro www, nos anos 60 do século XX, muita coisa mudou na sociedade. A partir dali, com o constante avanço tecnológico, a distinção entre o real e o virtual se tornou cada vez mais difícil. Segundo pesquisa divulgada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, atualmente, metade das casas brasileiras possui acesso à internet, e 47% dos brasileiros com 10 anos ou mais utilizaram a internet pelo smartphone em 2014. Esses quase 82 milhões de brasileiros utilizam a rede de formas distintas: pagam contas, compram produtos, compartilham fotos, trocam mensagens, e-mails... e criam uma espécie de rastro por onde passam ao compartilharem sua localização. Essa gama de informações deixada na internet facilita o nosso cotidiano, mas, em mãos erradas, pode se tornar uma vilã. Conforme dados do antivírus Bitdefender, a cada 15 segundos um brasileiro é

vítima de fraudes com documentos roubados ou informações furtadas na rede. A forma mais usada para se defender desse tipo de crime são as chamadas atas notariais. Em 2014, por exemplo, mais de 33 mil documentos, que comprovam abusos e crimes virtuais, foram registrados em cartórios brasileiros. O registro da ata serve como prova da agressão em um posterior processo. Para a estudante de Direito Denise Feldmann, todos são vulneráveis na internet. “A partir do momento em que compartilhamos nossos dados na rede, estamos sujeitos a eles serem usados por terceiros. Infelizmente, a legislação do País não acompanhou o avanço tecnológico”, afirma. O programador Tiago Fernando Centa segue a mesma linha. Para Centa, é praticamente impossível não sofrer algum tipo de rastreamento na Web. “A única forma de não deixar rastro na internet é não usar a rede. Somente um hacker, com muita experiência, con-

seguiria mascarar totalmente a presença online. E, com a geolocalização que a maioria dos aparelhos têm hoje, podem saber até a rua em que você está em tempo real”, diz. Com isso, é natural que todos se sintam vulneráveis ao compartilhar os dados na internet. Mas, para Denise, há um setor da sociedade que sofre mais com os crimes vir­ tuais. “Existem diversos crimes virtuais, que vão desde danos financeiros até morais. Mas gostaria de chamar a atenção para um aspecto em particular: o chamado ‘vazamento’ de fotos, em que a mulher é a vítima na maioria das vezes. A nossa sociedade é muito machista, e quem acaba sofrendo com isso são as mulheres”, destaca. Os números reforçam a fala da estudante. Somente no ano passado, segundo a organização de defesa de direitos humanos na Web SaferNet, 224 pessoas procuraram ajuda para denunciar o vazamento de fotos íntimas na internet. Um movimento jurídico interessante, no com-

bate ao vazamento de fotos íntimas, foi a criação da Lei 12.737. Conhecida popularmente como “Lei Carolina Dieckmann”, em virtude do vazamento de fotos da atriz, em maio de 2012, a lei foi sancionada em dezembro daquele ano. Entre as principais medidas do texto está a punição de seis meses a dois anos de “A TENDÊNCIA, NESSA reclusão e multa QUESTÃO DA INTERNET, É para quem inUMA MODERNIZAÇÃO DA vadir aparelhos LEGISLAÇÃO, DE MODO eletrônicos para a obtenção de inA ENGLOBAR AS NOVAS formações partiRELAÇÕES PESSOAIS.” culares. Para Denise, “é claro que a lei é um avanço, na medida em que pune alguns crimes virtuais. Mas ainda está muito longe do ideal, pois deixa brechas. Ela pune apenas a invasão, acredito que o envio de fotos também deveria ser penalizado”, defende. Outra legislação importante, no que se refere à prevenção contra crimes virtuais, é o Marco Civil da Internet. Após anos de debate, o documento foi aprovado e entrou


segurança

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Ricardo de Souza

em vigor em 23 de junho de 2014. armazenadas em servidores seguros Considerado uma espécie de “cons- e podem ser solicitadas em caso de tituição para a internet”, o Mar- trâmite judicial”, diz o advogado. co Civil propõe medidas práticas como a neutralidade na rede. Para Na escola Tiago Fernando Centa, programador e analista de sistemas, o marco O compartilhamento excessivo representa um avanço em várias de informações é ainda mais cofrentes. “Teoricamente aumentou mum entre adolescentes e jovens. É a transparência das empresas que muito comum, nos intervalos e até atuam na Web, protege os dados e mesmo durante a aula, ver os esa privacidade dos usuários e garan- tudantes entretidos com celulares, te a liberdade de expressão. Agora, como uma espécie de extensão do por exemplo, os conteúdos só pode- corpo. Isso se explica na medida rão ser retirados da Web mediante em que a maioria dessas pessoas apresentação de ordem judicial”, nasceu durante a popularização da esclarece. internet. É natural, portanto, que se O Marco Civil ainda prevê que sintam mais seguros ao expor sua os registros de conexão dos usu- vida na Web. ários devem ser guardados pelo Quem acompanha cotidianaperío­do de um ano, em local total- mente essa geração percebe o desmente seguro e sob total sigilo. Para prendimento dela em relação aos o advogado Roberto Ruoso Moares, seus dados na internet. Nilseu Paulo apesar da dificuldade na elaboração Tortelli é coordenador pedagógico e execução das leis que tratam da de uma escola de Ensino Médio de internet, o Marco Civil e outros pro- Caxias do Sul. Conhecido como cessos em andamento demonstram “Paulinho” pelos alunos, ele diz que que há um processo de construção e os jovens conhecem os riscos, mas discussão desse tema em andamen- mesmo assim acabam tomando a to. “A tendência, nessa questão da exposição como algo inerente à vida internet, é uma modernização da deles. “Eles sabem e até dizem ‘ah legislação, de modo a englobar as é errado eu me expor’, mas mesmo novas relações pessoais. Há vinte assim acabam postando as coisas”, anos não se precisava de legislação comenta. Lidar com esse novo perpara isso, porque não era um crime fil de estudante não é fácil. que existia.” Para o advogado, ao Para o professor, é importante longo do tempo as leis tiveram que que a escola esteja atenta às mudanse adequar à tecnologia e o mesmo ças trazidas pela internet, pois elas acontecerá com fazem com que o a internet. “Se “EU ACHO QUE AS PESSOAS processo de eduobservarmos a TÊM A IMPRESSÃO DE QUE A cação se dinamihistória, esse INTERNET É UM LUGAR SEGU- ze, na medida em processo é naRO, É UM LUGAR FECHADO. A que os alunos postural. Em 1500, suem muito mais não havia um INTERNET É CHEIA DE BURA- acesso à informacódigo de trân- COS, COMO UMA ESPÉCIE DE ção. Sou eu quem sito estabeleciPENEIRA.” deve se adaptar do porque não aos nativos digihavia tantos carros. As mudanças tais. Às vezes, durante as aulas, sociais é que vão gerar o surgimen- são os próprios alunos que trazem to das leis, prevendo a punição para temas que eles estão discutindo ou casos que não existiam até um pas- que viram justamente na internet, aí sado recente”, defende. a gente propõe o debate.” Para PauPara Moraes, o próprio Marco linho, tem duas formas de encarar Civil é um exemplo disso. Segundo o processo: fechando os olhos para ele, uma questão a ser destacada é o a tecnologia ou trazendo ela para o arquivamento dos dados, pois ele per- lado do professor. “O segredo é a mite a criação e a proteção das provas gente trazer isso como ferramenta no caso de crimes virtuais. “O Marco em sala de aula. O professor precisa Civil é realmente um marco, prin- utilizar isso a seu favor”, defende. cipalmente porque as provas ficam Outro aspecto importante nessa

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Segundo o Comitê Gestor da Internet no Brasil, mais de 82 milhões de brasileiros utilizam a internet todos os dias

relação dos jovens e adolescentes com a internet é o que eles acabam compartilhando. Para o coordenador pedagógico, é interessante observar que, mesmo com todo o conhecimento de tecnologia, os estudantes acabam pecando muitas vezes e cometendo gafes que prejudicam eles mesmos. “Muitas vezes eles criam uma prova contra eles mesmos. Às vezes, compartilham num grupo que o professor Paulinho é um mala, que isso e aquilo, mas não sabem que o próprio professor está no grupo ou tem acesso a ele”, conta. A fala dos jovens vai ao encontro da teoria do professor. Apesar de toda a informação a respeito dos riscos da Web, Pedro Henrique Boff da Silva, estudante do 2º ano do Ensino Médio, admite que não é muito temeroso na utilização da rede mundial de computadores. “A gente não sabe quem está do outro lado. Mas eu, diferente dos meus pais, que sempre tomam muito cuidado quando mexem na internet, sou mais relaxado. Para o estudante, a falsa sensação de invisibilidade faz com que as pessoas pensem que a internet é local no qual não há perigos. “Eu acho que as pessoas têm a impressão de que a internet é um lugar seguro, é um lugar fechado. A internet é cheia de buracos, como uma espécie de peneira”, compara. Ricardo de Souza

O Marco Civil da Internet, de 2014, amplia consideravelmente o nível de segurança dos internautas brasileiros

O estudante diz, inclusive, já ter uti- no não pune aquela pessoa, às vezes lizado a habilidade tecnológica que a própria comunidade vai punir”, tem para colocar um amigo em uma complementa Pedro Henrique. situação constrangedora. Tudo isso, é claro, de forma inocente. “DepenComo se proteger dendo o que tu sabe fazer no computador tu pode entrar num site e O cenário de segurança na Web pegar informações de contas e mais não é nem um pouco animador. contas. Eu mesmo já fiz isso. Uma Para o programador Tiago Fernanvez entrei num blog de um amigo do Centa, mesmo assim, é possível meu e fiquei zoando com ele”, re- adotar alguns comportamentos bálata. sicos na utilização da Com a pointernet para evitar a pularização dos “A CULPA [DO VAZAMEN- ação de pessoas malcelulares, o com- TO DE FOTOS] GIRA ENTRE in­tencionadas. p a r t i l h a m e nt o TODOS. A PARTIR DO MOConfira algumas de fotos também MENTO EM QUE TU PÕE EM dicas: evoluiu de forUMA NUVEM OU INTERNET - Manter um comma considerável putador com sistema na internet. É É MUITO FÁCIL ALGUÉM IR operacional e antivíPEGAR” muito comum rus atualizados. Isso vermos notícias é o básico para qualde vazamentos de fotos íntimas, quer computador que tem acesso à principalmente de meninas. Para internet. Se o antivírus ou o sistema os estudantes, nesses casos não é operacional estiverem desatualizapossível estabelecer somente um dos a ação dos criminosos fica muiculpado. A opinião de Thiago Ca- to mais fácil. tusso Lessa, estudante do 2º ano do - Não utilizar senhas pessoais em Ensino Médio, é de que esse tipo de computadores públicos. Isso parece foto deveria ser evitada, pois é uma óbvio, mas muitas pessoas não se das únicas formas de não “cair na dão conta de que computadores púrede”. “A culpa [do vazamento das fotos] gira entre todos. A partir do blicos podem estar com algum tipo momento que tu põe em uma nuvem de rastreamento de dados. Como foi ou na internet é muito fácil alguém dito, já é perigoso utilizar a internet ir lá pegar. E quando tu manda até no computador pessoal, o que dizer, mesmo por whatsapp, a pessoa que então, de computadores públicos. - Ao utilizar senhas em sites de recebe também pode ter culpa, porque ela pode espalhar essa foto em bancos verificar se o certificado de grupos…”, defende o estudante. segurança está em dia, pois existe “Ela errou enviando a foto para ele, o chamado sequestro de roteador, sabendo que ele poderia mandar no qual os hackers alteram as confipara os amigos. E ele errou porque gurações do roteador e direcionam foi um babaca, fazendo isso para se a navegação para páginas que rouvingar dela”, opina Gabriel Polido- bam os dados do usuário. ro, também estudante do segundo - Nunca abrir anexos de e-mail ano do Ensino Médio. de destinatários que você não coPor outro lado, os estudantes co- nhece. Se for de algum e-mail apanhecem bem o perigo de compartirentemente conhecido, consulte a lhar fotos que possam denegrir ou pessoa por outro meio antes de abrir expor a imagem de terceiros. Para o e-mail. Muitas vezes os vírus inPolidoro, é preciso ter responsabivadem contas e enviam mensagens lidade ao divulgar ou compactuar­ com algum conteúdo que está na para os amigos, a fim de atingir internet, para não se complicar mais gente. - Instituições públicas como depois. “O que a gente sabe é que, Polícia Federal, prefeituras, Suprehoje em dia, tu pode ser culpado de mo Tribunal Eleitoral não enviam uma coisa por menor que seja. Se solicitações de comparecimento e alguém vazar a foto de uma menina nua, por exemplo, e tu for lá e curtir, atualização de dados cadastrais por só de curtir tu já estará sendo cul- e-mail. Se você receber algo dessa pado”, comenta. “Eu já vi casos em natureza, ignore. outros países em que aconteceram crimes virtuais em que, se o gover-


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esporte

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DISCIPLINA

Gabriel Rodrigues | grrodrigues@ucs.br

Atividade física como rotina O esporte pode ser considerado uma medicina preventiva, para doenças físicas e cognitivas Divulgação

Decó considera que o maior desafio é encontrar um tempo na rotina e se doar completamente à prática dos exercícios. “O indivíduo tem que se doar e encontrar uma atividade de que goste”

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reguiça e disciplina. A pri- sentadas na sala de aula”, opina. Entre os desafios encontrados meira, um dos sete pecados capitais; a segunda, uma das na realização da atividade física, virtudes fundamentais sugeridas Decó considera que o maior é enpara a solução dos problemas de- contrar um tempo na rotina e se rivados do pecado. A maioria da doar completamente à prática dos sociedade conhece a importância exercícios. “O indivíduo tem que que os exercícios físicos têm na se doar. Estar em um ambiente saúde física e mental de cada in- bom e encontrar uma atividade de divíduo. Sabe, também, que sem que goste são os primeiros passos disciplina a preguiça toma conta para começar e não parar”, explido corpo e a saúde fica fragiliza- ca o educador físico. Para superar da. Porém, o que falta para que as os desafios impostos pela rotina, pessoas valorizem cada vez mais uma das soluções pode ser estipua prática de atividades físicas? lar metas. Para o corredor, correr Uma grande parcela das pessoas mais rápido ou ir mais longe; para costuma dizer que a falta de tempo a pessoa acima do peso, emagrecer é o maior entrave para a inserção do até chegar ao ponto desejado. Pedro exercício físico na rotina. Porém, lembra que “o importante é que não quanto mais consistente uma ação, devemos esperar grandes mudanças mas fácil é torná­-la um hábito. Uma da noite para o dia. Paciência é a rotina de exercícios já é inicialmen- palavra-chave para qualquer peste estressante por fazer o organismo soa em todo tipo de treinamento”. É preciso persistência para obter agir fora da sua zona de conforto. Entretanto, a prática física não deve resultados satisfatórios. O ganho de ser uma luta constante entre o que- massa muscular magra e a perda de rer e o poder. Basta tornar esses mo- gordura são obtidos a longo prazo e mentos parte da rotina, para que se- com alimentação saudável. Estipujam prazerosos e benéficos à saúde. lar uma meta, e alcançar esse objePedro Decó, 23 anos, empre- tivo na atividade física, faz com que sário e educador físico, cita que o a pessoa leve esse aprendizado para além do ambiente gosto pela atividade física deve “O IMPORTANTE É QUE esportivo. “O esporNÃO DEVEMOS te auxilia a planecomeçar em casa; jar e alcançar seus porém, é na escola, ESPERAR GRANDES objetivos pessoais quando o trabalho MUDANÇAS DA e profissionais”, fica mais forte, que NOITE PARA O DIA. completa. Além do as crianças comePACIÊNCIA É A exercício físico, o çam a desenvolver PALAVRA -CHAVE.” esporte pode ser suas habilidades considerado uma esmotoras. “A educação física já teve, ou terá, uma pécie de medicina preventiva, para redução da carga horária nas es- doenças físicas e cognitivas. Tamcolas. Isso é ruim; afinal, as crian- bém auxilia no desenvolvimento ças passarão ainda mais tempo social, permitindo que as pessoas

desenvolvam capacidades de trabalhar em equipe, saibam perder e ganhar e, com isso, tornem-se cidadãos melhores. esporte em caxias Em Caxias do Sul, o mercado da atividade física, como ambiente de aperfeiçoamento estético, está em constante crescimento. Porém, Pedro alerta que ainda há muitas pessoas sem cadastro no Conselho Regional de Educação Física exercendo funções próprias dos profissionais da área em escolas, clubes e academias. Outras áreas que que crescem no município são os grupos de corrida, grupos de ciclismo e aulas de crossfit em parques, prática de movimentos funcionais, constantemente variados e executados em alta intensidade, respeitando os limites físicos e psicológicos de cada indivíduo. Ainda assim, Decó lamenta que “em todo o Brasil os esportes, com exceção do futebol, têm muita dificuldade em conseguir investidores. Mais ainda quando falamos em esportes individuais”. Um dos exemplos locais de maior relevância dos últimos meses foi a dificuldade do Caxias do Sul Basquete em buscar patrocínio para participar da maior liga de basquete do País o NBB, Novo Basquete Brasil. A estimativa para manter um time completo, e bancar as viagens para os jogos pelo País durante uma temporada, chega aproximadamente a R$ 2 milhões. Ainda assim, Pedro considera que

Caxias do Sul não é uma cidade mentares, antes, durante e depois da sedentária. “Quando olhamos para a prática esportiva. Uma boa nutrição terceira idade e o número de grandes ajuda a melhorar o desempenho e eventos esportivos, podemos permite maior evolução do atleta. afirmar que existe, sim, interesse Alimentar­-se bem permite a produda população na ção de energia estável “EXISTE SIM atividade física,­ no organismo, possiINTERESSE as Ameis são um bilitando que o corpo exemplo. DA POPULAÇÃO NA reaja positivamente às Infelizmente, ATIVIDADE FÍSICA, AS mudanças que ocorquan­do fala­mos em rem durante o treinaAMEIS SÃO alto rendimento, mento. UM EXEMPLO.” o resultado não é Confira al­gumas o mesmo. Somos di­­cas nutricionais imuma cidade com muitos talentos portantes para a sua alimentação: em todos os esportes; mas, sem os carboidratos são os alimentos que locais adequados de treinamento e devem estar em maior frequência incentivo necessário, as promessas no cardápio. Eles são importante não evoluem e ficam apenas na fonte de energia, que aliada à prática promessa de talvez serem grandes constante de exercícios permite um esportistas.” resultado melhor diante do esforço A prática da atividade física empreendido pelo atleta. Alguns está diretamente ligada à saúde, dos alimentos que podem ser inseja alimentação mais saudável, cluídos na dieta são massas, frutas, redução do estresse, socialização, cereais, batata e pães. Depois vêm as eliminação dos vícios como proteínas, carnes, aves, peixes, ovos, tabagismo e consumo de álcool, ou leite e derivados, soja e feijões, alia garantia de peso mais adequado. mentos importantes na construção A prática esportiva ajuda a e reparação dos músculos. reduzir os fatores de risco que levam Seguindo a lista, aparecem os lia doenças crônicas e é a porta de pídios, como azeite, abacate, peixes entrada para um hobby que poderá gordurosos, sementes, leite integral, se transformar em uma profissão queijos, manteiga, frituras e carnes em esporte de alto rendimento. A gordas. Esses alimentos devem estar realização das Olimpíadas no Brasil em menor quantidade no cardápio, é mais um impulso para a prática de mas nunca serem excluídos comatividades físicas bem-orientadas e pletamente, pois possuem funções a inclusão do esporte na rotina do essenciais no organismo e no meindivíduo tabolismo. Além dos alimentos, a ingestão de líquidos é de extrema dieta saudável importância. As vitaminas e minerais são responsáveis por organizar Todos que optam por inserir o o metabolismo, auxiliam na queima exercício físico em sua rotina pre- de gordura, na geração de energia e cisam ficar atentos aos hábitos ali- reforçam a resistência.


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Luciane Modena| lkmodena@ucs.br

paradesporto

Saúde

Água traz autoestima L’aqua oferece aulas de natação e de surf adaptado a PCDs Fotos: Luciane Modena

O

Brasil foi destaque nos Jogos Parapan-americanos de 2015. Isolado no quadro de medalhas, teve 257 pódios, sendo 109 de ouro. O anfitrião Canadá, segundo colocado, não chegou à metade das medalhas douradas brasileiras: 50. Cheio de lições a ensinar, o paradesporto está ativo também em Caxias do Sul. Fundada em 2006, a Organização Não-Governamental L’aqua promove aulas de natação e de surf adaptado a pessoas com deficiência, além de atividades culturais e de jogos como bocha. A entidade mantém parceria com a Universidade de Caxias do Sul (UCS) na locação de espaços e patrocínio. É na piscina da UCS onde ocorrem os treinos. Para Renata Goulart, professora de educação física e uma das fundadoras da ONG, o trabalho desenvolvido pela L’aqua é gratificante. “As aulas são a oportunidade de realizar o sonho de alguém. Você dá as ferramentas, mas a conquista é do aluno”, comenta.

Bombeiro aposentado, Pedro dos Santos frequenta AMEI no bairro Cruzeiro

Amor às Ameis

Robson Fortunatto atua na equipe de alto rendimento da L’aqua há seis anos

A procura pelos encontros é grande. Por isso, conforme Renata, é preciso seguir algumas regras para ter a vaga, como manter frequência. São 80 alunos, entre a turma de estimulação aquática e a de alto rendimento. A colaboração de cada um é de R$ 45 por mês, uma vez que, por ter registro recente, a L’aqua ainda não capta recursos para seus projetos. São atendidas pessoas com deficiên­

cia física, sensorial ou intelectual. “As aulas contribuem com a melhora do condicionamento físico. Também desenvolvem a autonomia, o que se reflete em aumento da autoestima”, observa. Além disso, o esporte gera um grupo de amigos. “Muitos com deficiência querem se isolar, mas nossos atletas não. A deficiência não é um fator limitante para a vida social”, ressalta a fundadora.

“Ela está surpreendendo todo mundo!” A exclamação é de Lory de Almeida Boeira, avó de Isadora Barbosa Boeira, de quatro anos. A menina tem microcefalia, que gera uma série de dificuldades no desenvolvimento. A condição acontece quando o cérebro não consegue se desenvolver o suficiente durante a gestação ou após o nascimento. “O médico disse que ela não iria enxergar nem ouvir, mas enxerga e ouve melhor que eu”, comemora Lory. A avó é uma mãe para Isadora. Há dois anos, detém a guarda da menina, mesmo tempo em que a neta está matriculada nas aulas de estimulação aquática da L’aqua. “Ela está surpreendendo todo mundo. Fica em pé, tenta se firmar, coisa que antes não conseguia”, orgulha-se Lory.

Aposentado saudável No final de tarde, é fácil encontrar o bombeiro e contador aposentado Pedro dos Santos, 72 anos, praticando exercícios na Amei do bairro Cruzeiro, onde mora. De aparência jovem, ele continua trabalhando, agora em seu escritório de advocacia. Isadora e a professora Maria Eduarda Battisti: estimulação aquática dá resultados

Paraplégico, Robson coleciona 28 medalhas Membro da equipe de alto rendimento da L’aqua, Robson Fortunatto tem mais medalhas que anos de vida. São 28 conquistas em campeonatos por todo o Rio Grande do Sul, com apenas 24 anos. Aos 18, sofreu um acidente de moto e ficou paraplégico. Passou os primeiros quatro me-

Espalhadas pelos bairros de Caxias do Sul, mais de 50 Academias da Melhor Idade ajudam a promover uma vida saudável aos habitantes. Cada uma abriga um conjunto fixo de 10 equipamentos, que não têm peso: utilizam apenas a força do corpo para exercícios de musculação e de alongamento. Segundo a Secretaria Municipal do Esporte e Lazer, cada Amei custa em torno de R$ 40 mil, vindos de recursos da própria pasta. Se fosse licitada, a obra poderia ser até três vezes mais cara. Infelizmente, muitas são alvo de vandalismo, o que aumenta o custo total da Amei, devido aos constantes reparos. A secretaria também oferece aulas funcionais com acompanhamento de profissionais nos aparelhos, especialmente nas regiões que concentram mais usuários.

ses de adaptação fazendo fisioterapia, mas logo entrou para a natação adaptada e depois para o surf. Com força nos braços e equilíbrio no quadril, Robson consegue sozinho sair e voltar para a cadeira de rodas. Nada nas modalidades peito, costas e crawl. Segundo o coordenador do surf adaptado Lucas Gil, a autono-

mia conquistada por Robson tem tudo a ver com aceitação. “A primeira recuperação é a psicológica, é aceitar a deficiência. Isso se reflete no desenvolvimento físico. A velocidade da adaptação, por sua vez, depende do tipo de lesão”, observa o professor de educação física da L’aqua.

Frequenta academia particular três vezes por semana e, diariamente, pratica exercícios no Parque Cinquentenário ou na Amei. Também não utiliza carro para ir ao trabalho: ou vai, ou volta a pé e anda de ônibus, num trajeto de sete quilômetros. Natural de São Pedro do Sul, Santos também indica que é imprescindível cuidar da alimentação. Para ele, os 30 anos de vida ativa e cuidados alimentares salvaram a vida. “Resolvi problema de cifose e de triglicerídeos altos. Também tive um problema no coração e precisei colocar marca-passo, há cinco anos. Os médicos garantiram que só não morri por conta da minha capacidade física”, conta. Segundo a Smel, a Amei onde o aposentado se exercita, no Bairro Cruzeiro, é uma das que menos precisa de reparos devido a danos. “Os equipamentos são bons. Apenas lamento que, aos finais de semana, muitas crianças brinquem nos aparelhos e outras pessoas fiquem sentadas neles, impossibilitando o uso”, reclama. Há placas indicando que os aparelhos são impróprios para uso de crianças.

Os 10 equipamentos das AMEIs - Esqui - Simulador de caminhada - Simulador de cavalgada - Pressão de pernas - Rotação dupla - Diagonal

- Multiexercitador - Alongador - Rotação vertical - Surf - Remada sentada

Paradesporto tem divisão própria em Caxias do Sul Desde 2015, o paradesporto ganhou mais atenção na Secretaria Municipal do Esporte e Lazer (Smel), em Caxias do Sul. Desmembrado de outras categorias, compõe uma divisão própria, junto ao lazer inclusivo. Segundo o coordenador, Tiago Frank, a divisão é necessária. “His-

toricamente, o esporte da pessoa com deficiência aparece menos. Como educador, sei que não é ideal­ dividir, mas assim conseguimos mais visibilidade”, entende. Frank atua com esporte inclusivo desde 2008, e foi chamado para treinar a seleção brasileira de basquete com cadeira de rodas, nas Pa-

raolimpíadas de 2016. Para ele, Caxias do Sul é referência no assunto. “Não existe planejamento assim em outros lugares do Rio Grande do Sul”, informa. A Smel desenvolve um calendário específico para o paradesporto, bem como capacita professores para atuarem com pessoas com deficiência.

Aparelhos das AMEIs não têm peso: utilizam apenas a força do corpo



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