Textando Julho 2018

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Jornal-Laboratório do curso de Jornalismo/UCS Edição 2018/2

Olhar de estudante sobre Bienal do Mercosul Foto: Sara Fontana

Mostra, que ocorreu do dia 6 de abril ao dia 3 de junho, explorou tema O Triângulo Atlântico

O valor da arte é de ordem subjetiva

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Bruno Caldart ainda precisa de contribuições para transplante de células-tronco

Página 10

Estímulo precoce melhora desenvolvimento de crianças com Síndrome de Down

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A história do Penta

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Refúgio certo para quem procura um pouquinho de alegria

Reitor: Dr. Evaldo Antonio Kuiava

Diretora da área do Conhecimento de Ciencias Sociais: Dra. Maria Carolina Rosa Gullo

Diariamente, somos bombardeados com informações que nos chegam por todos os lados. A internet é isso: um turbilhão de notícias. A ficção que se mistura com a realidade, que misturada com a mentira mescla-se ao cotidiano. Perdemos a noção do que pode ser levado a sério e do que devemos descartar. Nossa peneira virtual, está com rombos enormes. A violência, sombra que nos assombra, se impõe. A sociedade que pede por segurança, ao mesmo tempo senta frente aoseu televisor, sacudindo suas bandeiras e torcendo freneticamente por uma vitória do Brasil. E as notícias seguem chegando, polêmicas, meias verdades... Mas quem liga pra isso? Já estamos na metade do ano, e as eleições estão logo ali, com candidatos indefinidos e indefiníveis. Mesmo assim, o que rouba a cena é o “tombo” do Tite. Esse fenômeno do meio do ano faz isso, ainda mais quando Copa do Mundo se mistura a eleições. Não podemos ser hipócritas ao afir-

mar que a Copa do Mundo não é o evento mais importante de 2018. Pode até alguém não gostar de futebol, não torcer para algum time, mas, em época de Copa, acaba torcendo para a seleção. Todos param para ver a “Seleção Canarinho” jogar, nem que seja aquela espiadela de soslaio. No fundo, futebol serve para isso mesmo, uma fuga dos problemas diários, um refúgio certo para quem procura um pouquinho de alegria, desde o humilde ambulante que vende suas camisetas e bandeiras, até aquela famosa celebridade que viajou para ver os jogos de perto. Com a desmoralização política pela qual o país está passando, pra que pensar em eleições? Adeus problemas! E o gol que o Jesus não fez! Não daquele Jesus, o tal Cristo. Em tempos de Copa, esse é bem mais importante fazer gol. E já que não trouxe a taça, pode ser crucificado tal qual seu xará.

Coordenador do Curso de Jornalismo : Me. Marcell Bocchese

Sumário

Professora responsável: Dra. Marlene Branca Sólio

Estudantes:

Infraestrutura Caxias do Sul entre as melhores cidades em saneamento

Caroline Santi Pegoraro Juli Hoff

Violência

Maurício carvalho

Brasil atinge maior índice de homicídios

Milton Gonçalves

pela primeira vez em sua história

Projeto gráfico:

Cultura

Juli Hoff

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O valor da arte é de ordem subjetiva

Especial Bienal O olhar do estudante sobre a Bienal

4 5-6 7-9

A opinião de acadêmicos

Foto: Luiz Schmitz

As obras mais citadas

Solidariedade Bruno Caldart precisa de contribuições

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para transplante de células-tronco Maurício, Caroline, Juli e Milton

Saúde

12 - 13

Esporte

14 - 15

Estímulo precoce melhora o desenvolvimento de crianças com Síndrome de Down

A história do Penta 2


Caxias do Sul entre as melhores cidades em saneamento

Infraestrutura

Com população oficial de quase 500 mil habitantes, Caxias do Sul ocupa a 37ª posição no ranking de saneamento das cidades brasileiras, segundo dados do portal Trata Brasil Foto: Acervo Samae

Estação de Tratamento de Esgoto Tega, a maior das 10 estações existentes, responsável pelo tratamento de mais de 40% dos efluentes de Caxias do Sul

Milton Gonçalves Caxias do Sul é uma das quatro únicas cidades do Rio Grande do Sul a figurar entre as 100 mulhores do País e, dentre elas, é a melhor posicionada, o que a torna motivo de orgulho para a população. As outras cidades gaúchas que aparecem na lista são: Santa Maria(62), Pelotas (71), Canoas (84) e Gravataí (94). Para manter esse bom posicionamento, em termos de saneamento, a cidade adota políticas ambientais bastante avançadas, as quais envolvem proteção de mananciais, realização de tratamento de efluentes domésticos e segregação e destinação correta de resíduos. Nesse contexto, a Prefeitura de Caxias do Sul, por meio do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae), da Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Codeca), da Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos (Smosp) e da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma), tem papel fundamental para manter qualidade de vida e desenvolvimento sustentável. Criado em 1966, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Samae) é uma autarquia, ou seja, uma personalidade pública, criada por lei, com autoridade jurídica, sendo o órgão operador responsável por cuidar do saneamento na cidade. Ele contribui com 98,5% do atendimento do sistema, e conta com tratamento de esgoto e tratamento e abastecimento de água potável. Os investimentos na área, em 5 anos, somam 421,43 milhões, o que impulsionou a cidade no ranking dos municípios melhor sucedidos neste quesito.

O tratamento de esgoto é essencial para garantir mais saúde e qualidade de vida à população, e o Samae conta com dez Estações de Tratamento de Esgoto (ETE), que tratam os efluentes produzidos na cidade. Com isso, é possível devolver a água limpa à natureza, o que garante o almejado equilíbrio ecológico. Uma ETE é, na verdade, um conjunto de unidades de tratamento, equipamentos e estruturas auxiliares, que visam a remover os poluentes presentes no esgoto, para que possamos devolver ao ambiente a água livre de contaminantes.

O contato com o Samae por meio do 115 é diário, incluindo domingos e feriados, com atendimento 24 horas. No 156/ Alô Caxias, o cidadão pode ligar de segunda a sexta, das 7h30min às 18h30min Além do Samae, a cidade conta com os serviços da Smosp (Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos), a quem cabe consertos e reparos da rede pluvial, bem como implementação de bocas de lobo, bueiros e demais obras ligadas ao saneamento. Não raramente, vemos Samae e Smosp trabalhando em conjunto, seja em consertos de rede de esgoto, ou na implantação de novos sistemas, com o apoio fundamental da Codeca e Semma. O Samae atende às solicitações da população pelo telefone 115, enquanto a Smosp, tem o 156 (Alô

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Caxias) como canal que repassa as demandas do cidadão para aquele setor. Tanto o Alô Caxias quanto o 115 são atendidos pela mesma empresa terceirizada, a Adma, o que pode facilitar o entendimento entre os órgãos. Segundo dados do Alô Caxias, houve um total de quase 6 mil pedidos, desde o início de 2017 até o final do mês de abril de 2018, encaminhados para a Smosp. “A maioria dos pedidos, da área de saneamento trata de consertos e limpeza nas redes de esgoto, além de consertos em bocas de lobo. Em media, recebemos cerca de 12 pedidos diários, diretamente relacionados ao sistema de saneamento,” enfatiza a coordenadora do Alô Caxias, Bruna Forlin. Pelo lado do Samae, a supervisora do 115, Juliana Pinheiro, informa que, em 2017, foram atendidas 240 mil ligações, aproximadamente. “Diariamente, atendemos cerca de 800 ligações, que abrangem desde informações sobre serviços, até denúncias de ligações clandestinas de esgoto e denúncias de desperdício de água. O maior volume mesmo é no que se refere à falta de água, principalmente quando estamos com manutenção nas estações de tratamento. Aí o telefone não para,” informa Juliana. O contato com o Samae, por meio do 115 é diário, incluindo domingos e feriados, com atendimento 24 horas. No 156/ Alô Caxias, o cidadão pode ligar de segunda a sexta, das 7h30min às 18h30min, ou fazer contato pelo site da Prefeitura, no endereço:

<https://sac.caxias.rs.gov.br/>


Violência

Brasil atinge maior índice de homicídios pela primeira vez na história Rio Grande do Sul está entre os sete estados onde assassinatos de jovens aumentaram Maurício Carvalho O Brasil chega à taxa de 30 assassinatos a cada 100 mil habitantes, em 2016, segundo o Atlas da Violência 2018, com base em dados do Ministério da Saúde. Com 62.517 homicídios, a taxa chegou a 30,3, que corresponde a 30 vezes a da Europa. Antes de 2016, a maior taxa havia sido registrada em 2014, com 29,8 por 100 mil habitantes. Segundo estudo elaborado pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, nos últimos dez anos 553 mil pessoas perderam a vida vítimas de violência no Brasil. Em 2016, 71,1% dos homicídios foram praticados com armas de fogo. O documento mostra dados estudados de 2006 a 2016. É possível ver que as taxas de mortes violentas são muito mais altas nas Américas do que no restante do mundo. A Europa e a Oceania têm os índices mais baixos, sem alterações entre 2000 e 2013. Considerando os números de alta qualidade, a OMS traçou dados para ver a evolução das mortes nos continentes e verificou os países mais violentos em 2012. Dos 14 destacados, 13 pertencem à América, sendo um deles o Brasil. A taxa de homicídios no Rio Grande do Sul aumentou 58% entre 2006 a 2016. Passou de 18,1 para 28,6 vítimas a cada 100 mil habitantes. Em comparação com outros estados, o RS fica na 20ª posição entre aqueles com o maior índice. Em 2006, o estado estava em 22º no País, segundo dados do Atlas da Violência, divulgado em unho de 2018.

JOVENS E ESTUPROS A taxa de homicídios de jovens por 100 mil habitantes é ainda pior: 65,5, com 33.590 jovens assas­ sinados em 2016, aumento de 7,4% em relação a 2015. Se levarmos em conta apenas homens jovens de 15 a 29 anos, a taxa vai a 280,6. De acordo com o Atlas, os homicídios respondem por 56,5% da causa de óbito de homens entre 15 a 19 anos. Em dez anos, de 2006 a 2016, 324.967 jovens foram assassinados no Brasil. Há uma tendência de perfil da vítima: 7 em cada dez vítimas são negros, a maioria jovens e do sexo masculino. A taxa de homicídios de negros equivale a 2,5 vezes a de não negros. Em 2016, a taxa de homicídios de negros foi de 40,2 enquanto a de não negros não passou de 16. É possível dizer que 71,5% das pessoas assassinadas, a cada ano no País, são pretas ou pardas. De 2006 a 2016, enquanto a taxa de homicídio de negros cresceu 23,1%, a taxa entre não negros teve redu-

Telefones Úteis para emergências BRigada Militar 190 Guarda Municipal de caxias do sul 153

Polícia civil - caxias do sul 54 3221 8722 54 3221 4222

Conselho Tutelar - Caxias do Sul 54 3216 5500

Delegacia da Mulher 54 3220 9280 (Caxias do sul) 51 3288 2172 (porto alegre)

Central de Atendimento à mulher 180

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ção de 6,8%. O mesmo acontece entre mulheres negras, quando em 10 anos a taxa de homicídio aumentou 15,4% entre elas e mostrou queda de 8% entre as mulheres não negras. Segundo o estudo, 68% dos registros no sistema de saúde se referem a estupros de menores de idade e quase um terço dos agressores das crianças (até 13 anos) são amigos e conhecidos da vítima, e outros 30% são familiares mais próximos, como pais, mães, padrastos e irmãos. Quando o algoz era conhecido da vítima, 54,9% dos casos são de estupros que já vinham acontecendo e 78,5% dos casos ocorreram na própria residência. O Atlas mostra que, entre 1980 e 2016, cerca de 910 mil pessoas foram mortas por perfuração de armas de fogo no País. Na década de 80, a proporção de homicídios girava em torno de 40% e o índice cresceu ininterruptamente até 2003, quando atingiu o patamar de 71,1%, mantendo-se estável até 2016.


Cultura

O valor da arte é de ordem subjetiva

Não é algo que se possa medir. É relativo, depende da época, da cultura e de outros fatores

Foto: reprodução

Guernica, obra de Pablo Picasso (1937)

Milton Gonçalves Estamos em um período de incertezas na área politica e econômica, inclusive de deturpação de valores. A própria verdade é posta em xeque, justamente por isso a educação adquire um papel essencial. A arte por sua vez, como parte dessa educação, é responsável por nos fazer refletir, instigar e aguçar, não somente nosso senso estético, para enxergar o belo. Ela nos ensina a ver o valor cultural, histórico e social no qual estamos inseridos. A importância é inegável, mas a sociedade parece pouco importar-se com o valor e o papel da arte na educação, e coma forma como ela pode ser explorada. Diante disso, cabe a pergunta: Qual o valor da arte? Um exemplo simples, e que pode ser usado para melhor demonstrar o valor da arte na sociedade, é o de uma pintura de Salvador Dali. Para muitos, o quadro Os Elefantes(1948) tem um valor inestimável, tanto financeira quanto culturalmente. Mas para uma tribo Inuits, do Alasca, por exemplo, o valor da obra não terá o mesmo efeito que uma obra feita por eles.

Da mesma forma, o valor de uma obra Inuits não será o mesmo para as tribos do Vale do Omo, ao leste da África, que usam elementos da natureza para formarem uma enorme paleta de cores e fazerem pinturas corporais. Isso também pode ocorrer dentro de um mesmo círculo, e o que para uns é arte, a grafitagem por exemplo, para

Nos dias de hoje, diversos artistas, conhecidos, ou não, representam a sociedade na sua forma de expressar a arte muitos é vandalismo, não merecendo nem mesmo ser discutido. A grafitagem é um tipo de arte que ressalta e transmite muitas vezes o sentimento politico e social do artista. Mas podemos atribuir um valor politico à arte? Estudando mais a fundo, não faltarão exemplos de arte engajada, bem como artistas que só buscavam expressar sensações e ideais de beleza. Apenas como um breve exemplo, podemos citar a tela Guernica, de Pablo Picasso, feita durante a guerra civil espanhola.

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Uma obra que se destaca não somente pala beleza, mas é um documento histórico daquele período. Picasso deixa ali registrada a sua visão da situação política da Espanha, na época. Nos dias de hoje, diversos artistas, conhecidos, ou não, representam a sociedade na sua forma de expressar a arte. São pinturas, esculturas, desenhos, grafites que nos entregam um pouco do ambiente do País. Talvez, se pararmos para pensar, atualmente,

Com Guernica, Picasso deixa registrado um período da situação política da Espanha quem melhor retrata os problemas políticos e sociais são os chargistas e cartunistas, com suas tirinhas e charges que saem diariamente em jornais. Para alguns é arte, para muitos, subversão ou politicagem. Mas seja na França com o Charlie Hebdo ou no Brasil com o Pasquim, a arte se espalha e tem um valor imensurável para a humanidade, tanto cultural quanto histórico.


Cultura

Enquanto isso, em Caxias do Sul…

Brasileiro, 56 anos, nascido em Caxias do Sul, Leonel Camargo, ou Le Cam, como assina suas obras, mostra sua arte para qualquer um que queira parar e admirar Na Rua Sinimbu, quase esquina com a Av. Angelina Michelon, no tradicional Bairro Nossa Senhora de Lourdes, um artista expõe sua arte. Ali, junto à parede de um supermercado, o desconhecido artista se mostra e apresenta seu trabalho. São inúmeros desenhos feitos com caneta esferográfica e grafite, retratando pessoas, paisagens e animais. Viver da arte em um país como o nosso não é fácil, e isso todo mundo sabe, embora, muitos, como Le Cam, teimem em remar contra a corrente, o que acaba se tornando grande dilema para a maioria dos artista: “Viver da arte ou sobreviver com arte?” Entre os sons de buzinas, freadas e vozes, ele responde que “ Viver já é uma arte” e sorridente ele completa: “Assim vou levando, riscando, arriscando, sobrevivendo e vivendo com arte.” Le Cam começou trabalhando com pintura de letreiros. Passou por diversas empresas como a Pink e a Cegonha Letreiros. Depois de um tempo, percebendo que tinha uma certa habilidade com o desenho, passou a investir no desenvolvimento do seu traço. Ficava de-

aquela lentidão era um duplo problema, pois o retorno financeiro era muito demorado, e consequentemente a produção, o que gerava certa ansiedade no artista: “Eu sentia vontade de produzir algo mais rápido, com mais frequência, e o óleo não te entrega isso, além do que, sempre notei que a maioria das obras famosas possuem uma efusão muito grande de cores” revela.

Viver da arte ou sobreviver com arte? “ Viver já é uma arte” Dessa necessidade de fazer algo inédito e que fosse rápido, nasceu a ideia de trabalhar com caneta esferográfica. “Me senti bem fazendo esse trabalho, me dá mais liberdade, é mais artístico, e as pessoas estão gostando” diz Le Cam, enquanto dá uma riscada no papel. Mesclando a caneta Bic com o lapis 6B, ele cria suas obras, como A Caçada ao Javali, Dia na Fazenda, A Botina Velha e uma reprodução de um cartaz de

valeria mais do que eu cobro, mas a nível de Caxias tem que ser assim,” fala com certa tristeza. Sobre o valor que caxiense dá para a arte, Le Cam é taxativo: “Acho uma discrepância. Certa vez um senhor idoso me disse que o caxiense é de origem italiana, por isso valoriza o trabalho, e a arte não se encaixa nesse quesito. Isso me faz pensar: Se o berço do Renascimento foi lá, por que aqui, onde as pessoas sempre falam da origem italiana, não valorizam a arte?” e ressalta: “Seria lindo se em Caxias existisse uma rua como a Montmartre, de Paris, onde a arte é livre e existem compradores, mas aqui é complicado.” Artistas que vivem assim são muitos, nas sombras, à margem da sociedade. Dificilmente são figuras reconhecidas pelo seu talento, mas sim pelo esforço de teimar em vive disso. Leonel trabalha há 20 anos com desenhos, e diz que enfrenta resistência por parte dos familiares em aceitarem a forma de trabalho dele. “Não concordam muito. Alguns acham que eu deveria trabalhar de uma maneira formal, esquecer esse negó-

Foto: Milton Gonçalvez

Leonel Camargo, o Le Cam, e suas obras, no Bairro Nossa senhora de lourdes

contato com Leonel pode ser pelo FONE (54)98119-0516, ou pessoalmente, de segunda a sexta no endereço citado na matéria

Caçad

vali a ao Ja

Dia na

senhando na rua, no centro da cidade, em frente ao antigo Eberle, onde permaneceu durante muito tempo, até perceber que precisava desenvolver algo diferente. Nessa época, Leonel desenhava retratos. O artista, insatisfeito com o retorno financeiro e também com sua realização pessoal, decidiu montar uma minimarcenaria em sua casa, onde confeccionava miniaturas de móveis. “Mas ainda não era aquilo que eu queria” diz. “Esse trabalho não tinha apelo artístico, e nem mesmo era funcional.” Entrou de vez na arte propriamente dita, deixando de lado a marcenaria e aquele trabalho com móveis em miniatura. Passou a se dedicar a pintura, mais precisamente ao óleo sobre tela, embora esse fosse um processo lento. Para ele,

um filme dos Três Patetas. “Gosto do que faço agora, e algumas obras eu gosto bem mais que as outras, por exemplo, A Caçada ao Javali é uma que eu gosto muito

“Viver disso é como pescar, a pessoa passa e olha, outro dia olha e para, e um dia olha, para e compra” e quem passa por aqui e vê também gosta,” diz ele com orgulho mostrando o quadro. “Esse é o melhor método para ter um retorno rápido, quase que uma pronta entrega e por um preço popular. Na minha visão, o trabalho que eu faço até

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Fazen d

a

cio de desenho e tal, mas eu prefiro ser persistente no meu sonho.” Viver disso não pode ser uma meta. Deve ser encarado quase como um passatempo por quem o faz. “É como fazer uma pescaria,” descreve o artista. “A pessoa passa e olha, outro dia olha e para, e um dia olha, para e compra.” Como recado final, Le Cam reflete: “Sou do pensamento antigo, de expor a arte para as pessoas, ao vivo, e não em galerias, onde algumas pessoas não irão por não se sentirem incluídas. Minha arte é pra qualquer pessoa, de qualquer classe. Como canta Milton Nascimento, ‘todo o artista tem que ir onde o povo está.’ É assim que eu vivo.”

Fot


Especial Bienal

Olhar de estudante sobre a Bienal do Mercosul Mostra provocou reflexão de assuntos que não são explorados em grandes exposições Foto: Juli Hoff

O Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) foi um dos espaços que abrigou obras da 11‘ Bienal do Mercosul

Juli Hoff ta) reuniu obras de 70 artistas e coletivos — 21 da África, 19 do Brasil, 20 da América Latina, 11 da Europa e seis da América do Norte — em prol da fusão cultural. A mostra se estendeu do dia 6 de abril ao dia 3 de junho. Durante esse período, foram recebidos mais de 600 mil visitantes, superando o público da última Bienal. Atividades paralelas, como oficinas, palestras, seminários, mostra de filmes e apresentações artísticas, também fizeram parte da programação e aprofun-

Foto: Juli Hoff

Desde 1997, a Bienal do Mercosul ocupa os principais museus de Porto Alegre. Promovida pela Fundação Bienal de Artes Visuais do Mercosul, a mostra internacional de arte contemporânea oportuniza a milhares de pessoas contato com arte de forma gratuita. Tema deste ano, O Triângulo Atlântico explorou a ligação triangular que une, há mais de 500 anos, a América, a Europa e a África. A curadoria de Alfons Hug (curador-chefe) e Paula Borghi (curadora adjun-

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daram o debate acerca do Triângulo Atlântico, com entrada franca em todas as ações. Excursões foram realizadas para a capital (POA), oportunizando ao público de outras localidades interação com a mostra. É o caso dos acadêmicos de Artes Visuais da UCS. A ideia de visitar a Bienal surgiu dos próprios estudantes, que decidiram se unir para conhecer as obras. “Sempre que tem eventos artísticos nós mostramos intenção de ir. No caso da Bienal, um aluno do curso falou que gostaria de ir e perguntou quem mais tinha interesse. Então, muita gente se manifestou favorável e, como sou do Diretório Acadêmico, propus de organizarmos uma viagem em grupo. Já havia bastante gente interessada, então foi bem fácil”, afirma Ketlim Favero, estudante de Artes Visuais. Acadêmicos de Jornalismo também tiveram a oportunidade de conhecer a 11ª Bienal. A ideia de organizar uma excusão para a capital partiu do professor do curso de Jornalismo Alvaro Benevenuto. O objetivo foi proporcionar uma aula diferenciada na disciplina Oficina de Fotojornalismo. Os estudantes levaram câmeras e fotografaram tanto os espaços destinados à Bienal, quanto a Fundação Iberê Camargo. “Foi bem legal e produtivo, pois ocupamos esse dia para relembrar a utilização da câmera e testar novas funções naqueles espaços. Foi um momento dos estudantes, com a câmera, em um local diferente da universidade. Eu nunca tinha visitado uma Bienal. Achei incrível. Fiquei impressionada com a pluralidade de artistas, pois havia desde esculturas até fotografias em torno de um mesmo tema. Eram obras críticas, com contribuição social, diversidade cultural e representatividade”, afirma Sara Fontana, estudante da disciplina Oficina de Fotojornalismo.


Especial Bienal

Foto: Tainara Alba

A opinião de acadêmicos de diferentes áreas “Gostei bastante da Bienal. Foi a primeira vez que

fui, então tive uma experiência bem-interessante. Havia uma quantidade gigantesca de arte para ver, isso me impressionou muito. O tema chamou minha atenção: a relação América –­­­Europa – África. Em especial, o que mais me atraiu foram as obras de arte africana, feitas por pessoas africanas, sobre a África, algo completamente ignorado no mundo da arte, ainda mais quando se trata da África negra. Também estava presente a questão indígena, obras desses povos e suas identidades. Simplesmente não existe isso nas grandes exposições, e nessa Bienal era o principal foco. A identidade, em geral, foi muito bem trabalhada. Quando há um tema bem escolhido, com boas obras, mostrando artistas de diferentes partes, como foi esse ano, se torna algo muito mais relevante. Esse evento de grande porte é muito importante na formação de público para a arte. É uma ótima forma de fazer com que as pessoas se empolguem e tenham vontade de ir ver [a mostra].”

Augusto Schmitt, estudante de Licenciatura em Letras Português - Inglês “Estava muito bacana, principalmente por causa do tema. Era possível ver a questão da cultura indígena e africana sendo bem trabalhadas. Pude perceber a proposta de uma nova visão desses assuntos, que não têm muita visibilidade na arte. Também havia a questão da escravidão, da colonização e do mar – que estava muito presente por causa das navegações nesse triângulo continental. Todos esses elementos propiciaram uma imersão completa no tema. Gostei que a Bienal apresentou diversas linguagens artísticas, como performance, videoarte, esculturas, etc, dando espaço a todos os tipos de produção.”

Daniel Almeida, estudante de Artes Visuais “Eu achei bem interessante, porque foi a primeira Bienal que participei. Consegui interpretar e interagir com as obras de maneira intelectual, que me fez refletir sobre o tema. Também pude fazer correlação entre meus conhecimentos, o que aconteceu na História e o que ainda, de certa forma, acontece. O tema abordado foi superinteressante, pois trou-

xe o olhar de três lugares distintos e, ao mesmo tempo, semelhantes. Algumas obras me impactaram muito. Teve bastante destaque para a arte negra e para a questão das mulheres. Essa ênfase foi muito satisfatória. Gostei de ver esses assuntos sendo representados nas obras. A Bienal foi muito importante para agregar conhecimento. Eles trouxeram a questão histórica, polemizando assuntos e provocando análise sobre o reflexo do passado em nosso presente. O principal é trazer cultura e arte para pessoas que, normalmente, não têm esse contato. Ainda mais com um evento assim, que reúne muita diversidade, mas com o mesmo linguajar.”

Cristiane Schneider Delfes, estudante de Publicidade e Propaganda “Gostei muito da Bienal. Achei tudo bem-organizado, principalmente no sentido de orientação ao público, pois em nossa visita a mediação foi extremamente bem-feita. Acredito que o tema foi bem-explorado e trouxe os aspectos do Triângulo Atlântico de diversas formas, mostrando diferentes tipos de arte, com reflexão e contemporaneidade. Eu, inclusive, esperava menos do tema, mas quando vi a história e o contexto, tudo ficou claro, representativo e bonito. Como estudante de Artes, acredito que um evento como esse é essencial. É de extrema importância porque, querendo ou não, sensibiliza as pessoas e provoca reflexão sobre as obras, o contexto, o assunto e o motivo de sua existência. Essas obras mostraram que nada existe por acaso, sem uma pré-disposição. A Bienal acontece agora, com esse tema, porque é importante lembrar e trazer fatos históricos que também nos projetam para pensar sobre o futuro. O período de duração da Bienal também deve ser destacado como positivo, pois permitiu que muita gente de fora se programasse para visitar a mostra. Infelizmente, acredito que o evento foi pouco divulgado. O ideal é difundir em todos os meios — artístico, cultural e midiático — com bastante antecedência e de forma convidativa, para que todos os públicos sejam atingidos.”

Luana Lemos, estudante de Artes Visuais

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“A Bienal tem problemas de recursos financeiros desde a edição de 2015, com contenção de despesas. Essa 11ª Bienal (2018), que era para ter ocorrido no ano passado, estava ainda menor. Na edição anterior (2015), além dos espaços utilizados esse ano, também tinha Bienal no Gasômetro inteiro e, inclusive, no Instituto Ling. Então, se formos analisar, o número de obras foi reduzido quase pela metade. Mesmo assim, certamente é melhor ter ela pequena do que não ter. Sobre o tema, acredito que foi bem trabalhado. Acho superimportante tratar as navegações, a dominação de povos, os caminhos percorridos pelos navios, etc. É crucial as pessoas refletirem essas questões por meio da arte. Talvez, dessa forma, seja possível perceber que a a situação atual é uma reverberação do nosso passado. Com a Bienal, temos obras dos três continentes, de diferentes culturas e pontos de vista, explorando como esse triângulo afetou todos nós

“a arte, assim como qualquer outro conhecimento, precisa ser estudada” A Bienal do Mercosul, depois da Bienal de São Paulo, é a maior aqui no Brasil. A mostra é necessária para aproximar as pessoas da arte. Ainda se tem muito preconceito com a arte contemporânea e a ideia polarizada de que ela é difícil demais ou muito fácil. As Bienais geralmente provocam essa aproximação do público, porque vai ter um monitor lá para ajudar e proporcionar uma visão diferente. Porque a arte, assim como qualquer outro conhecimento, precisa ser estudada. Não se resume a falar: “Se não entendi, isso não é válido”. Essa consciência deve existir: a arte, assim como matemática, não vai ser aprendida se não for alvo de estudo. Uma coisa que me chamou atenção, nesta edição, foi o fato de o curador não ser do Mercosul. Ele é alemão, e isso é algo que me incomoda, particularmente, pois a curadoria é outro problema na arte do Brasil. É importante valorizar os curadores aqui do Mercosul, principalmente porque tem muita gente boa. A arte europeia já é muito valorizada por aqui. Como o evento leva esse nome — Bienal do Mercosul — é preciso valorizar o curador daqui.”

Ketlim Favero, estudante de Artes Visuais


Especial Bienal

Obras da Bienal mais citadas pelos estudantes Alguns trabalhos ganharam destaque entre os preferidos da mostra

Foto: Sara Fontana

Adad Hannah: The Raft of the Medusa (Saint-Louis), 2016

A obra é um vídeo que faz referência à pintura canônica A Balsa da Medusa (1818 - 1819), de Théo­ dore Géricault. Originalmente, a pintura traduz o sofrimento dos sobreviventes do naufrágio da fragata francesa La Méduse, que afundou em 1816 perto da costa do Senegal. Na 11ª Bienal, a releitura audiovisual de Adad Hannah apresenta senegaleses em um quadro vivo, contextualizando o acontecimento histórico e a atual situação dos refugiados. O vídeo foi discutido, produzido e realizado em colaboração com a comunidade de Saint-Louis (Senegal).

Foto: Tainara Alba

Foto: Sara Fontana

ANDRÉ SEVERO: ALCANCE, 2018

Héctor Zamora: Capa-Canal, 2018

A obra é sequência da linha em produções audiovisuais e de registro de ações vivenciadas diretamente na paisagem. Em imensa parede longitudinal, são projetados cinco vídeos digitais (P&B) com paisagens marinhas —­o mar em confronto com rochedos (filmes apropriados, cedidos por colaboradores de vários continentes). No lado oposto, estão nove marinhas de artistas atuantes em meados do séc. XX (cinco pinturas do MARGS e quatro da coleção Oscar Cardoso Saraiva). Filmes, pinturas e espaço de articulação que têm a imagem, o tempo e a memória como elementos latentes.

A performance e instalação refere-se ao modelo de telha de barro artesanal capa-canal, também chamada de “colonial”, pelo período em que foi criada. A capa-canal era modelada com uma lâmina de barro diretamente na coxa e, muitas vezes, por mão escrava. Desta prática vem o termo brasileiro “feito nas coxas”. A obra foi resultado de uma performance, realizada por duas horas, no espaço do Memorial do RS. Na ocasião, 13 performers sentados em bancos de madeira, tiveram alcançadas 512 lâminas para a modelagem. Informações: Catálogo 11º Bienal do Mercosul / 2018

Foto: Gabriella de Paula

Camila Soato: Presente, 2018 Soato apresenta 11 obras que, em sua maioria, recriam pinturas da história da arte unidas a imagens do Brasil atual, propondo a junção de figuras antagônicas e afastadas no tempo. Destaca-se na série a obra “Presente!”, em homenagem a Marielle Franco, vereadora no Rio de Janeiro, socióloga, feminista e militante dos direitos humanos, brutalmente assassinada em 14 de março de 2018. Soato também realizou residência artística no Quilombo do Areal (POA). Os trabalhos de colaboradores da comunidade foram exibidos como parte da Bienal, na sede da Associação Comunitária do local. Foto: Sara Fontana

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“Gostei muito das obras da Soato por diferentes motivos. Primeiro, pela ideia de unir símbolos históricos brasileiros com símbolos atuais, fundindo eles na pintura. Ficou legal por causa do anacronismo, claro, mas também porque muitas imagens do passado tinham ligação com racismo e escravidão, enquanto as atuais representavam pessoas negras ou a cultura das periferias. Segundo, pela técnica da artista. Havia mistura de materiais e estilos, do realista ao cartunesco e ao abstrato. Os esboços visíveis talvez sejam meu ponto favorito. Havia sentido na escolha do que ficou a lápis nas obras”, afirma Augusto Schmitt.


Solidariedade

Bruno Caldart precisa de contribuições para transplante de células-tronco Tratamento do caxiense com doença de Crohn iniciou em junho deste ano (2018) Caroline Santi Pegoraro O estudante de Jornalismo Bruno Caldart, 27 anos, convive, desde 2005, com uma doença crônica inflamatória intestinal autoimune, a doença de Crohn. Agora, um transplante de células-tronco é crucial para sua saúde. Para custear o procedimento são necessários cerca de R$300 mil, dessa maneira familiares e amigos têm contribuindo por meio de vakinha e rifas, para que Bruno possa realizar todo o tratamento. Bruno conseguiu parte do valor para começar o tratamento, que iniciou no dia 21 de junho deste ano (2018), mas ainda precisa de contribuições. “O valor que tenho já deu pra iniciar o tratamento, mas não temos tudo, até porque, além do custo todo, vai ter moradia pra mim e pra minha mãe e, nos primeiros tempos, vou ter que que voltar a São José do Rio Preto, onde foi realizado o transplante, para uma vez por ano, fazer todo check-up”, explica Caldart. No Brasil, o procedimento é realizado somente em São Paulo, e por ser recente, não há cobertura pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nem por planos privados. A alternativa que sobra é pagar pelo tratamento de forma particular.

A vakinha A vakinha, criada por uma prima de Caldart, garantiu auxílio de $52.372 mil até 3 de julho, equivalente a 17,46% do valor necessário. “Minha prima deu a ideia da vakinha, mas no começo eu não fui muito fã da ideia. Pensei que uma liminar judicial pudesse sair rápida. No mesmo período que entrou o processo da liminar, ela insistiu tanto na vakinha que eu aceitei, então começamos. Só que o processo está ainda lá, desde setembro do ano passado. E a vakinha foi dando resultado, porque colegas e amigos começaram a me perguntar sobre como contribuir, e a ideia foi se difundindo. Outras pessoas também quiseram ajudar de outras formas, e assim outras campanhas também foram feitas”, conta o rapaz. A vakinha tem sido o principal meio para as contribuições, mas diversos projetos de arrecadação foram criados por colegas de trabalho, de faculdade e até professores, desde que o estudante soube que teria que fazer o transplante, em 2016.

De 2005 a 2018 Desde 2005, Bruno enfrentou dores e perda de peso, por conta da doença que provoca inflamação no

intestino. A partir do período, o estudante passou por quatro cirurgias. “Uma maior, em 2011, e as outras em decorrência da primeira”, explica. Devido à doença, ele teve que utilizar uma bolsa de colostomia de 2008 a 2011. Em 2016, a medicação parou de fazer efeito. O caxiense mudou o tratamento e não obteve resultado. Foi aí que a esperança de Bruno se tornou o transplante de células-tronco. Segundo o hematologista Milton Artur Ruiz, que fez o transplante de Bruno, “nas doenças autoimunes de forma geral e no Crohn especificamente, ocorre um desarranjo no sistema imune que tem como função defender o organismo; esse sistema imune deficitário começa a não reconhecer as células e tecidos do próprio paciente atacando-os. O procedimento do transplante de células-tronco hematopoiéticas, conhecido também como transplante de medula óssea, é um procedimento clínico que visa a deletar o sistema imunológico doente e reiniciar um novo sistema saudável. Isso ocorre com o uso de imunossupressores em altas doses e o resgate com as células-tronco coletadas do próprio paciente, após uma sessão de imunossupressores”.

Foto: Acervo pessoal de Bruno Caldart

Como ajudar?

Pela Vakinha

Por depósito

Acesse o link:

Os depósitos podem ser feitos pela conta na Caixa Econômica Federal, em nome de Roberto Caldart

https://www.vakinha.com.br/vaquinha/ transplante-de-celulas-tronco-e0734c504089-497c-90a3-200dbe15b2fb

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Agência: 3112 Conta: 008066 - 6 Operação: 013


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Saúde

Estímulo precoce melhora desenvolvimento de crianças com Síndrome de Down Terapia ocupacional contribui para o ampliar a autonomia Fotos da matéria: Caroline Santi Pegoraro

Antonella iniciou as atividades na terapia ocupacional com aproximadamente um ano de idade

Caroline Santi Pegoraro Sem dados oficiais, a população estimada de pessoas com Síndrome de Down,no Brasil, está perto de 300 mil, segundo matéria publicada no portal R7, em 21 de março de 2018, assinada por Gabriela Lisbôa. Ainda assim, o conhecimento da população, em relação a trissomia , é muito raso e superficial. A SD é causada pela presença de

um cromossomo extra no 21, somando, assim, 47 cromossomos. Além disso, a Síndrome não é uma doença, mas uma condição da pessoa, associada a diversos aspectos, que exigem atenção dos pais desde o nascimento do bebê. Nesses cuidados estão o estímulo e o incentivo que devem ser oferecidos à criança, para que seu desenvolvimento

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e autonomia sejam os maiores possíveis, já que, afinal, as pessoas com SD têm muito mais semelhanças do que diferenças em relação às que não têm a síndrome. O incentivo nos primeiros anos de vida pode ser um fator determinante para desenvolver diversas capacidades e habilidades.


Saúde

Antonella e a terapeuta ocupacional Deise Lima

Para Liamara Salvani, educadora infantil e especialista em estimulação precoce e educação especial, que está na coordenação pedagógica da APAE de Caxias do Sul, “o estímulo se dá desde o nascimento. Como a gente estimula uma criança? Apresentando o mundo pra ela. Isso pode ser feito mostrando e nomeando tudo ao redor da criança; assim, ela começa a criar conceitos pelas repetição e pelas nomenclaturas.” Essa etapa de apresentação do mundo e criação de conceitos pode ser somada à ajuda de profissionais, como terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e fisioterapeutas. O suporte desses profissionais é essencial na criação de programas de apoio, que possam atender às necessidades específicas de cada criança. Dentre as terapias e atividades de estímulos, está a terapia ocupacional, ainda pouco conhecida por muitas pessoas e que trabalha na recuperação de habilidades do dia a dia. Uma das características de pessoas com SD é o desenvolvimento mais lento das funções motoras e intelectuais. Dessa forma, o terapeuta ocupacional vai ajudar no desenvolvimento dessas funções em cada situação da realidade e ambiente, onde se passa a rotina da pessoa com a trissomia do 21. Esse profissional trabalha com o objetivo de ampliar a autonomia do sujeito, enfatizando o máximo do potencial de cada um. Quando essa atuação ocorre na infância, todas as etapas do desenvolvimento são estimuladas, para que haja ganhos funcionais. Segundo a terapeuta ocupacional Deise Lima, “é por meio de brincadeiras que a criança adquire habilidades motoras e cognitivas, para realizar suas atividades de vida diária, atividades pedagógicas e de lazer.” Deise acompanha a pequena Antonella Capelini Boff, 2 anos, e sua família, desde que a criança tinha aproximadamente um ano. Para a terapeuta ocupacional, “as evoluções em relação ao desenvolvimento da Antonella são observadas e avaliadas de forma contínua e por meio de atividades realizadas no cotidiano. Por exemplo, no início do tratamento, foi avaliado como eram o manuseio e o direcionamento da colher até a boca; depois disso, foram realizados treinos e, semana após semana, reavaliado o desempenho na tarefa, por meio da observação direta. Isso é realizado com todas as atividades desenvolvidas durante a terapia ocupacional. Além disso, o feedback da família é muito importante para verificar os ganhos ou dificuldades do tratamento”. A mãe de Antonella, Marcele Capelini, destaca a terapia ocupacional na rotina da criança: “Depois da terapia ocupacional, percebemos uma diferença muito grande no desenvolvimento dela. Ela aprende muita coisa. A Antonella é outra criança depois da terapia ocupacional. Ela tem uma motricidade muito boa; encaixa os brinquedos e quando consegue ela bate palmas. E além dessas coisas, dos encaixes, tem as questões do dia a dia, como levar garfo na boquinha, tomar água sozinha, lavar a mão, são coisas importantíssimas que a terapia ocupacional traz”, completa. Os pais, Marcele e Alexandre Boff, receberam o diagnóstico da filha, um mês e meio após o nascimen-

to, por meio do exame de cariótipo. O casal havia feito pré-natal regularmente, mas os exames não apontaram anormalidade. “Levamos um susto e foi difícil, muito pela falta de informação. Depois, buscando por informação nas fontes corretas, percebi que era só uma bebê, não era outro ser. Então, fui aceitando, convivendo e me apaixonando pela minha filha. Eu não trocaria ela por nenhum outro bebê, assim como tenho meu outro filho, o Enrico, eu tenho a Antonella”, conta Marcele. A família de Antonella, depois de descobrir a síndrome, buscou conhecimento e, a partir desse momento, dedicou-se a incentivar a criança, de forma intensa, a descobrir o mundo ao seu redor e a estimulá-la precocemente. “Depois de tudo que já li e conversei com as terapeutas dela, com outras famílias, percebo claramente a importância do estímulo precoce. Eu não abro mão disso por nada”, afirma a mãe Marcele. Além da preocupação com os estímulos precoces, a família de Antonella também pensa na difusão de informações corretas. A irmã de Marcele e madrinha da criança, Fernanda Capelini, criou um blog chamado O Mundo de Antonella, em uma disciplina, na faculdade. “A minha intenção foi mostrar como é conviver com uma criança com SD, que na verdade é tão igual quanto uma criança sem a síndrome, e assim formar uma rede de relacionamento. Esse tipo de informação é muito rasa na internet. As pessoas ainda têm um certo medo de expor as crianças com Síndrome de Down, e essa é, também, uma forma de mostrar como somos apaixonados pela “Fofonella’’ e que todo mundo vai se apaixonar por uma criança com SD também’’, explica

Fernanda. O blog é alimentado por ela e por Marcele e conta com conteúdos que falam da adaptação da família às terapias que Antonella faz.

“minha intenção foi mostrar como é conviver com uma criança com SD, que na verdade é tão igual quanto uma criança sem a síndrome” Confira o blog em:

https://omundodeantonella.wordpress.com/

Print screen: blog O mundo de Antonella

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A história do Penta

meio século Maurício Carvalho

De 14 de junho a 15 de julho, a Copa do Mundo Fifa 2018 movimentou a Rússia. O Brasil, como de costume, esteve na competição. Falar de Copa do Mundo é falar de futebol e falar de futebol é falar

da principal paixão do brasileiro. Vale lembrar um pouquinho das participações do Brasil ao longo da história da Copa do Mundo o maior torneio futebolístico. Com total de 20 edições

e p c c N g

1958 Foto: Acervo da CBF

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1962 Foto: Acervo da CBF

Após aquela Copa, o Brasil ainda disputou outras quatro, para somente então ganhar seu primeiro título, em 1958, na Suécia, quando foi campeão com um time que tinha “apenas” Pelé e Garrincha, dois dos maiores jogadores brasileiros de todos os tempos. A campanha do Brasil foi tranquila (também, olha quem estava no time), depois do primeiro jogo, uma goleada diante da Áustria (3 a 0) e o empate diante da Inglaterra – 0 a 0. A seleção brasileira se classificou depois da suada vitória sobre a forte União Soviética (2 a 1). Nos mata-mata, o Brasil enfrentou o País de Gales (1 a 0) e na semifinal pegou a França e passou por cima, 5 a 2 diante dos franceses. Cada vez mais o menino Pelé, de 17 anos, se mostrava ao mundo. Já na final, pegou os donos da casa, Suécia. A adversária chegou até a assustar, nos primeiros minutos, mas o Brasil decretou mais uma vitória de goleada, outro 5 a 2 e a Jules Rimet veio para o Brasil.

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T lo o

c c o m Na Copa seguinte, o Brasil conquista o bicampeonato. Realizada no Chile, a Copa de 1962 foi marcante. Sem Pelé, que se machucou, a seleção brasileira foi liderada por Garrincha, que teve a melhor competição de sua história e garantiu a segunda taça. Mas ainda teve mais uma baixa. Em plena forma física, Garrincha teve uma febre no dia da final. A seleção tinha Vavá, Didi, Zito e Amarildo que não deram chance para a Tchecoslováquia e venceram tranquilos por 3 a 1. Garrincha, com 28 anos, tomou conta do Mundial. O cardápio não foi apenas de dribles impossíveis de conter: Mané fez gols, cruzamentos perfeitos, cobrou faltas magistrais, escanteios perigosíssimos... Foi completo a ponto de o jornal chileno El Mercurio perguntar em manchete: Garrincha, de que planeta vienes? Pela última vez, a Fifa permitiu num Mundial que um jogador defendesse outra seleção que não a do país onde nasceu e pela qual já atuara. Foi o caso do argentino Di Stéfano, do húngaro Puskas e do uruguaio Santamaria, que atuaram pela Espanha; do brasileiro Mazola e dos argentinos Maschio e Sivori, todos atuando pela Itália.

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esporte

o de glória e cinco títulos, o Brasil é o único país que participou de todas as competições e, para não perder o costume, na de 2018, com Tite, Neymar e companhia, foi um dos grandes favoritos.

A Copa do Mundo começou em 1930, no Uruguai, mas foi criada em 1928, pelo francês Jules Rimet, ao assumir o cargo de presidente da Fifa. Na primeira edição, apenas 13 seleções partici-

1970

param do evento, que consagrou a própria dona da casa como campeã. Naquele ano, a seleção brasileira passou por uma crise, não foi bem e terminou em sexto lugar. Confira a linha do tempo.

2002

Foto: Acervo da CBF

Foto: Wilson de Carvalho

1994 Foto: Wilson de Carvalho

Copa do México, 1970, Brasil tricampeão... Pelé, Tostão, Rivelino, Gérson, Clodoaldo, Jairzinho, Carlos Alberto e Zagallo. Uma das maiores seleções que o Brasil já viu. Em seis jogos, seis vitórias, seis resultados de encher de água os olhos dos amantes do futebol. Com certeza, essa foi uma das melhores Copas nas quais o brasileiro viu um time jogar. A seleção de 70 ficou marcada na história e ainda hoje inspira e emociona. O Brasil começou seu atropelo diante da Tchecoslováquia e goleando por 4 a 1, depois passou por Inglaterra (1 a 0), Romênia (3 a 2), Peru (4 a 2), Uruguai (3 a 1) e na final com o gol antológico do capitão Carlos Alberto em cima da Itália (4 a 1). Sem sombra de dúvida, essa foi uma das maiores Copas, com jogadas históricas. Por exemplo: o gol que Pelé não fez, quando chutou do meio de campo contra a Tchecoslováquia e a grande defesa de Gordon Banks depois da cabeçada do Rei, considerada a defesa mais difícil de todas as Copas. Com certeza, foi a melhor maneira de o maior jogador de futebol de todos os tempos se despedir da seleção. Pelé jogou sua última Copa pelo Brasil com 29 anos e deixou marca histórica para nosso futebol.

Depois da Era Pelé na seleção, o Brasil ficou 24 anos sem ganhar uma única copa. Estava em um momento de muita desconfiança por parte da torcida e imprensa quando, em 1994, nos Estados Unidos, o tetra veio. Liderada por Romário e Bebeto, a seleção de 94 foi entrando na briga pelo título a cada fase que passava. O resultado determinante para a reviravolta dos “canarinhos” foi a vitória diante da Holanda (3 a 2) nas quartas de final. Com Taffarel e Dunga sendo os principais nomes defensivos, sobrava para Romário e Bebeto serem decisivos para a conquista. Romário, inclusive, foi eleito o craque da competição, fazendo cinco gols e sendo soberano na grande área. Já na decisão, uma pedra no sapato brasileiro: a Itália de Baggio. Zero a zero no tempo normal e na prorrogação deixaram os ânimos à flor da pele, principalmente considerando o calor daquela tarde. A decisão foi para os pênaltis. Cada um dos jogadores foi acertando sua cobrança até que Baggio, o astro italiano, isolou a bola para cima e consagrou o tetra brasileiro, cunhando a frase que nos marca ainda hoje: “É tetra, é tetra!”

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Oito anos depois, era a primeira vez que dois países sediavam a Copa do Mundo: Coreia do Sul e Japão dividiram os jogos e mostraram uma grande festa para todo o público. O Brasil estava com grandes nomes como Marcos, Cafu, Lúcio, Roberto Carlos, Kaká, Ronaldo, Rivaldo, Ronaldinho gaúcho e Luiz Felipe Scolari como técnico. Uma grande seleção com grandes jogadores. Logo de cara pega três equipes que não passaram medo para os brasileiros: Turquia (2 a 1), China (4 a 0) e Costa Rica (5 a 2). Nas oitavas, o Brasil enfrentou a Bélgica sem sustos; 2 a 0 tranquilo com gols de Rivaldo e Ronaldo. Quartas de final e a Inglaterra seria a próxima vítima. Ronaldinho gaúcho foi o destaque dessa partida fazendo um golaço de falta, quando encobriu o goleiro inglês, e deu uma assistência para Rivaldo liquidar o jogo. Na semifinal, uma surpresa: a revelação Turquia (1 a 0) fez um jogo duro para o time de Scolari, surpreendendo todos os jogadores. O jogo foi duro, mas o Brasil passou e estava na final, contra a Alemanha de Oliver Kahn, o grande goleiro, eleito o craque daquela Copa; mas ele errou, e errar contra o Brasil não tem volta. Em um chute de Rivaldo fora da área, Kahn soltou e deixou nos pés de Ronaldo, que não desperdiçou. O segundo gol foi numa linda jogada do craque Rivaldo, que fez um corta-luz, tirando a marcação do artilheiro Ronaldo, que ficou livre e chutou no canto do gol alemão e matou a partida. Os alemães não tiveram mais fôlego para jogar, e o Brasil conquistava mais uma taça. O penta é nosso.


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