Textando 2017/4

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TEXTANDO

Atelier de Jornalismo Impresso Universidade de Caxias do Sul Número 1 de 2017/4

Divulgação: Prefeitura Municipal de Santa Maria do Herval

Divulgação: Prefeitura Municipal de Sapiranga

Divulgação: Prefeitura Municipal de Estância Velha

Divulgação: Prefeitura Municipal de Morro Reuter

Representatividade feminina na política no Rio Grande do Sul

O futuro e a revolução da energia alternativa PÁGINA 4

Educação em crise no estado e no município

direita reage no cenário internacional político

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Na área da saúde tratamentos alternativos PÁGINA 14


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OPINIÃO

Da complexidade ao paradoxo, um caminho de difícil traçado

A

tualmente, pode-se observar como tudo é extremo. Na política, há diversos conflitos que englobam desde a corrupção e interesses próprios envolvidos na esfera pública, até protestos que buscam parar imoralidades no governo. Pensando no aspecto econômico, o desemprego se mantém e, por isso, muitos precisam de novas alternativas para buscar seu sustento, tendo como única alternativa, muitas vezes, partir para o comércio informal. Além do mais, o preconceito com as diferenças tem se mostrado ativo, ao mesmo tempo em que há uma luta acirrada contra ele. Vários outros fatores nos levam a extremos. Grande parte da população vive diariamente em busca de uma solução para os problemas que norteiam não apenas o Brasil, mas o mundo. Graças à tecnologia e à evolução, há maior conhecimento, o que resulta em facilidade e criatividade para a resolu-

ção dos impasses que vivemos no dia a dia. Zygmunt Bauman criou o conceito modernidade líquida para definir o presente tempo. Para ele, as formas de vida contemporânea se assemelham pela vulnerabilidade e fluidez; pela incapacidade de manter a mesma identidade por muito tempo. Além disso, as relações humanas, no que Bauman define como modernidade líquida, tendem a se romper a qualquer momento, causando disposição ao isolamento social; fazendo com que um grande número de pessoas decida viver uma rotina solitária; enfraquecendo a sociedade e estimulando a insensibilidade em relação ao sofrimento alheio. Todos os dias, deparamos-nos com grupos de indivíduos que buscam encontrar meios de resistir a esse estado de fluidez – desde o estilo de vida até os modos de produção. A tarefa,

porém, não é fácil. Esse fato se deve principalmente ao fator cultural, que influencia a forma de viver de cada um. Essa influência cultural é um obstáculo, pois mudança de opinião e de ação não são algo que se conquiste com facilidade, apesar de todo esforço. Por isso tudo, é difícil encontrar uma completa solução para todos os problemas de extremismo com os quais estamos fadados a conviver. Ao pensar com otimismo e esperança, é preciso acreditar que, com persistência, um dia essas questões serão solucionadas. Tentando fazer nossa parte, buscamos mostrar, nesta edição do jornal Textando, a complexidade existente no mundo atual. Fazemos isso expondo os embates que hoje vivenciamos, as diferentes e novas formas de lidar com os problemas na contemporaneidade, e a problematização de dilemas ainda não solucionados.

EXPEDIENTE

Reitor: Evaldo Antonio Kuiava Diretora da Área de Ciências Sociais: Dra. Maria Carolina Rosa Gullo Coordenador do curso de Jornalismo: Me. Marcell Bocchese Professora responsável: Dra. Marlene Branca Sólio Atelier de Jornalismo Impresso Turma 2017/4: Alessandra Teixeira Brenda Luísa Dalcero Carolina de Barros Pereira Canton Elisa Oliveira Ambrosi Gabriela Bento Alves María Fernanda Morales Ramírez Thamires Rodrigues Bispo Universidade de Caxias do Sul Campus-Sede Rua Francisco Getúlio Vargas, 1130 Petrópolis, Caxias do Sul CEP 95070-560 Telefone: (54)3228-2100 Facebook: UCS Oficial Twitter: @UCS_Oficial

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Profissionais como seres invisíveis Energia para o futuro

Educação não é mais prioridade

Conservadorismo altera o mundo

Representatividade feminina na política ainda é pequena A Caxias anfitriã

Terapias naturais transformam a medicina Veganismo não é modinha


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SOCIAL

Profissionais como seres invisíveis

Hoje, muito do status dos indivíduos está relacionado ao cargo que ocupam no trabalho. Mas, em algumas situações, esse mesmo cargo pode ser motivo de invisibilidade social

Elisa Oliveira Ambrosi eoambrosi@ucs.br

N

a sociedade capitalista, o trabalho é o principal meio para sobreviver e buscar uma vida digna com, pelo menos, o mínimo necessário. A divisão do trabalho, outra característica do capitalismo, é a responsável por diferenças abissais, quando se fala em remuneração. Somase a isso, em muitos casos, um padrão já naturalizado de invisibilidade social. Algumas profissões impingem essa marca aos trabalhadores. O expressão invisibilidade social abriga grupos de trabalhadores desprovidos de status, reconhecimento e remuneração digna. Normalmente, esses profissionais sofrem tanto preconceito quanto total indiferença, principalmente por executarem tarefas consideradas inferiores e rejeitadas por classes

Foto: Israel Sartori

Carolina de Barros Pereira Canton cbpcanton@ucs.br

sociais mais elevadas. Nessas profissões invisíveis, estão os garis, as faxineiras, as cozinheiras, os seguranças e os estagiários, entre muitos outros, na maioria das vezes vinculados a tarefas de caráter operacional, que fazem parte do cotidiano diário, mas poucas vezes são percebidos. Uma dissertação de mestrado do psicó-

Como são vistos logo da USP Fernando Braga da Costa analisou essa questão. Em seu estudo, ele vestiu-se com uniforme e fingiu ser gari, varrendo as ruas da Universidade, no período de meio turno, ao longo de oito anos. Com isso, conseguiu comprovar que um profissional invisível, como o gari, é visto apenas como uma função, e não como uma pessoa. Uniformizado, ele circulava pelos mesmos lugares que frequentava na condição de professor, sem jamais ser reconhecido, identificado ou cumprimentado por alguém. Apesar de a sociedade recusar seu olhar a esses profissionais, alguns acreditam que são vistos de forma positiva. O estagiário Israel Sartori afirma que, na sua visão, a sociedade julga os estagiários como sem experiência por terem entrado há pouco tempo no mercado de trabalho, mas que ele se vê como uma pessoa com energia e pronta para aprender, capacitada a realizar o trabalho. “Infelizmente, na maioria das vezes, os estagiários têm que realizar tarefas além das suas e, ainda sim, não têm seu trabalho devidamente reconhecido” conta o estudante-­ estagiário. A cozinheira Deise Nunes conta que, mesmo não tendo convívio com os clientes por trabalhar em um restaurante a quilo, sente-se muito bem quando alguém a elogia por seu trabalho. “Não trocaria de emprego, pois adoro o que faço. Eles me dão parabéns pelo meu serviço e isso me

Israel Sartori, estagiário de marketing, realiza suas tarefas no trabalho.

deixa muito feliz”, conta Deise. Além disso, ela relata que a melhor parte do trabalho é criar um vínculo de amizade com as colegas, o que a ajuda todos os dias. O mesmo ocorre com Iracema Boniato, colega de Deise. “Escolhi esse trabalho não só por necessidade, mas sim porque realmente gosto do que faço”, garante ela. Deve-se ressaltar que profissões invisíveis não são menos importantes do que outras, e que ser um profissional dessa área não significa ser infeliz por isso, destacam Deise e Iracema. O que realmente importa é o bem-estar do profissional naquela função. Acredita-se que a sociedade notaria com maior facilidade esses profissionais, se eles parassem de realizar o trabalho. Se os garis parassem de limpar as ruas, as pessoas começariam a notar a sujeira e, aí sim, se lembrariam deles para realizar aquele trabalho. Ou os seguranças, que fazem seu trabalho tão discretamente que apenas os notamos quando ocorre alguma falha. Isso significa que falta tanto reconhecimento pessoal quanto do trabalho. Essa carência de reconhecimento provoca sentimentos que prejudicam a saúde física e mental de parte desses grupos de trabalhadores. O aumento dos distúrbios depressivos é constante, pois a valorização de cada função é uma das variáveis que faz com que as pessoas se sintam cada vez mais parte do todo. O modo como a coletividade impulsiona o outro faz com que cada

indivíduo se sinta responsável por ser bom em alguma tarefa, e quando não existe o reconhecimento, chegam as frustrações. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o crescimento no índice dessas doenças tem superioridade na América Latina: 5,8% da população brasileira apresenta casos de depressão, e 3,6% sofrem de ansiedade, por exemplo. Essas dificuldades afetam o rendimento das tarefas, o que resulta em lentidão e falta de concentração, na contramão do que seria importante no capitalismo: mais trabalho para a geração de mais riqueza. A negligência no reconhecimento já está cotidianamente estabelecida na sociedade, visto que os dados compro-

“Escolhi esse trabalho não só por necessidade, mas sim porque realmente gosto do que faço” vam a importância de um trabalho na vida do ser humano e como ele afeta drasticamente o aspecto psicológico. O enaltecimento da profissão tem um acréscimo importante, quando esta não é valorizada apenas por si, mesmo que o corpo social a ignore.


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ECONOMIA

Energia para o futuro

Cada vez mais valorizadas, fontes sustentáveis de produção de energia avançam na matriz energética nacional. Estimativas preveem salto na produção, nos próximos anos. Fonte: Delatfrut/WikiCommons

Parque eólico em Parnaíba, Piauí. O estado é um dos maiores produtores de energia eólica do País

Brenda Luísa Dalcero bldalcero@ucs.br Thamires Bispo trbispo@ucs.br

O

uso de painéis solares, para a geração de energia em residências e indústrias, cresceu nos últimos anos, enquanto a construção de parques eólicos movimenta diversos municípios nordestinos e emprega cerca de 50 mil pessoas. As causas do crescimento podem ser atribuídas a diversos aspectos, entre eles os crescentes impostos sobre as tarifas de energia e a conscientização quanto aos benefícios da prática para a preservação do meio ambiente. Entre 2009 e 2015, conforme o Ministério de Minas e Energia, houve no Brasil uma demanda crescente por energia, fato que incentivou altos investimentos em fontes alternativas de obtenção energética. Em 2015, os investimentos em energias renováveis no Brasil atingiram 268 bilhões de dólares, valor recorde até hoje. Com a recessão econômica dos últimos dois anos, no entanto, não houve novas contratações de usinas eólicas ou solares vindas da iniciativa pública, nem foram cedidas novas concessões de área. Alguns contratos que não saíram do papel já foram rescindidos e alguns leilões de venda devem ocorrer até o final do ano (2017). O alto custo dos investimentos sem necessidade influencia também o valor das tarifas de energia no País. Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica, as tarifas de eletricidade subiram em média 61% entre 2013 e 2017. O Instituto Acende Brasil, principal observatório do setor elétrico brasileiro, é o realizador do Brazil Energy

Frontiers, maior congresso brasileiro de especialistas na área. O evento, que ocorreu no dia 20 de setembro, reavaliou algumas das previsões apresentadas nos painéis da última edição. De acordo com o boletim da edição de 2015, a dominância da energia hidrelétrica na matriz energética brasileira, historicamente predominante, havia caído para 80% naquele ano. A parcela de emissão de gases de efeito estufa (GEEs) atribuída à produção de energia era equivalente a apenas 3,5% no total do País. “O Brasil criou dificuldades para a exploração hidrelétrica de áreas próximas ou internas a reservas indígenas, de proteção permanente e parques nacionais”, afirma o especialis-

A parcela de emissão de gases de efeito estufa (GEEs) atribuída à produção de energia foi equivalente a apenas 3,5% no total do País em 2015 ta em setor energético e ex-secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia Altino Ventura Filho. “Estamos abrindo mão de 80 mil MW, e nenhum país do mundo faz isso com energia renovável”, completou. A conferência de 2017 apresentou propostas de descentralização que devem tornar o mercado elétrico mais competitivo. O Professor Alfredo Garcia, da Universidade da Flórida, foi o principal palestrante do evento. Sua proposta pode “transformar um

monopólio de fios em uma plataforma de mercados”, explicou. O especialista Richard Lee Hochstetler apresentou diversos modelos possíveis de integração do mercado, buscando maior facilidade de acesso aos meios. A Agência Internacional de Energia (AIE) projeta que a participa-

ção da energia hidrelétrica caia para 60% até 2035. A fonte eólica deve subir de 1% para 9%; fontes de biomassa de 5% para 8% e de gás natural de 5% para 15%, enquanto a solar não representará percentual significativo. Nesse cenário, a AIE prevê aumento da emissão de GEEs com a produção de energia.

A CASA DO FUTURO, HOJE No âmbito nacional de produção renovável de energia, a produção solar representa, atualmente, meros 0,01% da matriz energética brasileira. Mesmo sem expressividade no mercado nacional, a energia solar se destaca como individual, já que pode ser instalada na própria residência. A relação custo-benefício das placas vem melhorando, conforme pesquisas de mercado. O Ministério de Minas e Energia prevê que, até 2024, 700 mil casas poderão contar com seus próprios painéis fotovoltaicos de obtenção de energia solar. Mas e se, ao invés de simplesmente

adicionarmos painéis às casas, a produção de energia solar fosse, literalmente, parte de nossa casa? Essa é a proposta da Tesla, empresa americana especialista no desenvolvimento de tecnologias sustentáveis. A marca, reconhecida mundialmente pela produção de carros solares, recentemente lançou sua linha de telhados solares. Com placas fotossensíveis instaladas sob telhas de vidro ultrarresistente, os telhados se destacam pelo custo-benefício: o preço de um telhado solar é menor do que seria o preço de um telhado regular somado ao consumo de energia.

100% autossustentável, a casa Tesla conta com telhado solar e sistema de baterias de armazenamento para períodos noturnos ou de pouca exposição ao Sol. Além de abastecer as necessidades da casa, a energia gerada abastece também o carro elétrico. Diversos modelos de carros e de baterias já estão à venda. Dos quatro tipos de telhas solares já anunciados pela empresa, dois estão disponíveis no mercado americano. Os outros têm previsão de lançamento para 2018.


Aposta nos ventos No ramo da energia elétrica, a fonte eólica é a que apresentou melhores resultados. Conforme dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), a produção de energia apresentou aumento de 24% no primeiro semestre do ano, em comparação com o mesmo período de 2016. A média de produção foi de 15,8 TWh. De acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), cada megawatt instalado gera 15 postos de trabalho. No momento, as usinas eólicas acumulam 180 mil empregos diretos e indiretos. Em agosto, o País atingiu capacidade de produção instalada de 12 GW, saltando para o 9º lugar no ranking mundial e ultrapassando a Itália. Dados da ABEEólica indicam, ainda, que os mais de 500 parques eólicos abasteceram cerca de 18 milhões de residências no último ano. A organização estima ainda que, até 2020, mais 211 novos parques

Sustentabilidade

Em agosto, o país a­tingiu a capacidade de produção instalada de 12 MW, pulando para o 9º lugar no ranking mundial, ultrapassando a Itália. ta, com 1960 MW, seguido pela Bahia, com 1750 MW. Piauí, Pernambuco, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Sergipe completam a lista dos dez principais estados na produção eólica.

o desenvolvimento de etanol, a partir de resíduos lignocelulósicos, como plantas, gramíneas e alguns tipos de resíduo industrial”, explica. “Esses materiais são constituídos de fibras compostas por celulose, hemicelulose e lignina. A celulose é um polímero formado de glicose, o açúcar necessário para a fermentação. A lignina atua como uma espécie de barreira, fazendo com que a fibra seja difícil de ser quebrada. Por isso, nossos trabalhos buscam pré-tratamentos que consigam desestruturar essas microfibrilas, facilitando a ‘quebra’ da celulose”, elucida. O material mais utilizado para os estudos na Universidade é o capim-elefante, gramínea encontrada em abundância na região. Seu uso é vantajoso, já que a Serra não tem condições climáticas para produzir cana-de-açúcar. Além disso, o capim tem crescimento rápido, o que permite que também seja utilizado na entressafra da cana. Outros materiais utilizados são o bagaço de cana-de-açúcar, a casca de arroz e a serragem de eucalipto.

Fonte: Creative Commons

A produção de energia vai além da produção elétrica. O futuro da obtenção de fontes combustíveis também sofreu uma transformação nos últimos anos. A gasolina, principal combustível para automóveis e outros meios de transporte, é derivada de um material não renovável: o petróleo. O álcool etanol e o biogás são exemplos de alternativas aos combustíveis fósseis. A Universidade de Caxias do Sul tem projetos de desenvolvimento de pesquisa na produção de gás hidrogênio, a partir de resíduos industriais, produção de biogás e tecnologias para produção de etanol. A doutoranda em Biotecnologia Andréia Toscan destaca as vantagens da produção do etanol de 2ª geração. “Os principais produtores de etanol no mundo são os Estados Unidos, que produzem a partir de milho, e o Brasil, que utiliza cana-­ de-açúcar. Além de serem fontes de energia para combustíveis, também são alimentos, então nós trabalhamos com

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estejam instalados, gerando mais 4,79 mil GW de produção. O Rio Grande do Norte é o estado que mais produz energia eólica, com média de 1087,6 MW mensais. Em seguida, está a Bahia, com 678 MW, e o Rio Grande do Sul, com 533 MW mensais. O estado potiguar tem a maior capacidade instalada, 3.209 MW. O Ceará aparece como segundo da lis-

Cana-de-açúcar é a principal fonte de combustíveis sustentáveis no Brasil


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EDUCAÇÃO

Educação não é mais prioridade

Crise na educação pública no RS tem índices assustadores. Crianças sem vagas e professores não recebem salários Foto: Alessandra Teixeira

Na Escola Estadual Técnica de Caxias do Sul, os professores protestam contra o parcelamento de salários

Alessandra Teixeira astexeira@ucs.br Gabriela Bento Alves gbalves1@ucs.br

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esde 2016, os professores do estado do Rio Grande do Sul recebem salários parcelados. Crianças estão sem vagas nas creches municipais, e o governo não toma as providências necessárias. Em Caxias do Sul, pelo menos 19 escolas estaduais estão em greve total, 20 em greve parcial e apenas 10 atendem normalmente. Os professores, convocados e representados pelo Cpers-Sindicato, receberam 350 reais como salário no mês de setembro e devem seguir paralisados até o final do mês. Já as creches municipais, que estão lotadas, recebem, todos os dias, novos pedidos de vaga. Em abril deste ano, a prefeitura havia notificado que compraria mil e trezentas vagas em creches privadas, mas isso não ocorreu. O servidor estadual Ivonei José Lorenzi Junior, monitor no Colégio Estadual

Salários Imigrante, colégio que aderiu totalmente à greve, comenta que o clima nas escolas é de desvalorização. “As famílias viam nas escolas um mero depósito de crianças e não um local de aprendizagem e formação cívica. Viam a falta de um projeto educacional para o povo, não visando às próximas eleições”, afirmou. Lorenzi diz que o sindicato (Cpers) cumpriu um papel muito importante de ir até as escolas e debater com os professores e funcionários sobre o momento vivido, mas afirma que a escolha por aderir à greve foi inteiramente dos professores, que decidiram lutar

por seus direitos. “Dessa vez, o esgotamento levou a aderir muita gente que nunca tinhe feito greve.” A situação dos servidores estaduais é tão grave que muitos precisaram pegar empréstimos no Banrisul, porque o salário recebido não era suficiente para pagar as contas do mês. Ivonei comenta que o salário parcelado quebra o orçamento do mês. “Tem que pagar as contas mais urgentes e falta para, por exemplo, sair no final de semana. Tu deixa de comprar uma roupa para garantir as compras de supermercado. Muitos professores têm empréstimos no Banrisul

“Tem que pagar as contas mais urgentes e falta para, por exemplo, sair no final de semana” e nunca se sabe em qual parcela virá o desconto.” Por conta da pressão da greve , o governador José Ivo Sartori, do PMDB, anunciou no dia 25 de setembro (2017) que, no mês de outubro, os servidores que ganham menor salário seriamos os primeiros a receber. Ainda afirmou que ele e o vice seriam os últimos a receber os salários. Segundo a Secretaria Especial de Comunicação Social do Rio Grande do Sul, a decisão foi motivada pelo acirramento da crise financeira no estado. Além disso, centenas de ações por dano moral, por parte dos servidores com salários atrasados tramitam na justiça. Essa decisão não contempla a maior parte dos servidores da Educação, uma vez que somente receberam salário em dia 47% dos professores. O Cpers convocou, no dia 29 de setembro (2017), uma assembleia no ginásio Gigantinho, em Porto Alegre, onde

A greve dos professores estaduais segue e não tem previsão de término. Entenda os motivos de paralisação:


Foto: Cpers Caxias do Sul

7 Foto: Alessandra Teixeira

No Colégio Estadual Imigrante, todos os professores aderiram à greve

mais de 8 mil servidores determinaram a continuidade da greve dos professores e funcionários da Educação pública estadual. Após a reunião, os servidores seguiram em caminhada ao Largo Glênio Peres.

O sonho da vagas Nas propostas de pré-candidatura do atual prefeito, Daniel Guerra, um dos objetivos principais seria a compra de vagas à Educação. Em sua proposta, comentou a necessidade de ampliação das vagas na Educação Infantil. “É umadas

primeiros meses de 2017, a compra de 1.300 vagas, mas sem contemplar integralmente lista de crianças de 4 e 5 anos. Em julho, diversas creches e escolinhas de Educação i\Infantil da cidade ofereceram, juntas, 1.700 vagas para venda. Cerca de 6 mil crianças aguardam vagas que o prefeito prometeu em campanha. No dia 25 de julho (2017), a Prefeitura de Caxias do Sul anunciou que 400 vagas na Educação Infantil já estavam aptas para contratação. Apesar da licitação, Caxias descumprirá a meta do Plano Nacional de Educação, que seria contemplar todas as crianças na lista

Professores de escolas estaduais continuam a manifestar descontentamento

cum­primento da legislação e das determinações do Conselho Municipal de Educação. O processo de inscrições das crianças, na Educação Infantil, é realizado na central de matrículas da Smed. São credenciadas com a Prefeitura de Caxias do Sul, 162 escolas particulares. Todas aprovadas e com categorias A e B, pela Secretária da Educação, segundo dados divulgados pela prefeitura. Já o número de escolas públicas é 46 emFoto: Peter Campagna Kunrath

Poucas crianças foram contempladas com as vagas compradas pela Prefeitura de Caxias do Sul, apenas 400 estão nas creches

prioridades nossa e deve ser um dos pilares da nossa gestão. Caxias é uma das cidades que mais tem processos de judicialização na Educação Infantil e isso revela descaso do governo atual. É preciso ampliar as parcerias público-­ privadas. Precisamos construir mais escolas de Educação infantil, otimizando os espaços já existentes para suprir a carência de vagas. O impacto social de não ter vagas pa­ra as crianças, na Educação Infantil é extremamente da­noso para as famílias”, comentou na época da eleição. O processo de licitação da Prefeitura de Caxias do Sul previa, nos

de espera. Segundo a Secretaria de Educação da cidade, são 6.632 crianças aguardando uma vaga na Educação Infantil e 3.729 que já estão matriculadas. Além das crianças que aguardam a vaga, há um total de 3.614 que já foram atendidas e estão sendo encaminhadas. Ainda assim, há outras crianças inscritas no programa da Prefeitura e que desistiram da vaga. Elas somam 995. O total geral de crianças é de 14.970. A Secretária de Educação de Ca­xias fiscaliza e a­va­lia as instituições públicas e particulares da ci­dade, observando o

É preciso ampliar parcerias público-privadas, construir escolas de educação infantil, otimizar espaços existentes e suprir a carência de vagas

São 6.632 crianças que aguardam uma vaga na Educação Infantil no município toda a cidade. No dia 19 de setembro, foram publicados na súmula da Prefeitura municipal o nome das 25 primeiras escolas contratadas para a disponibilização de vagas. A Secretária da Educação iniciou o chamamento de 282 crianças para as vagas, entre zero e cinco anos. Segundo a Prefeitura, ao todo, serão ofertadas 1.300 vagas na rede privada, preenchidas gradativamente. No momento, a Smed realiza entrevistas com as famílias, para o encaminhamento às escolas. A previsão da Perfeitura é contratar mais 600

vagas até o final de 2017 e chamar mais 320 crianças Para isso novas escolas que estão licitadas serão contratadas ainda em 2017.

Escolas com adesão parcial à greve Cristóvão de Mendonza, Alexandre Zattera, Irmão José Otão, Evaristo de Antoni, Silvio Stalivieri, São Caetano, José Generosi, Pena de Moraes, João Triches, Olga Maria Kayser, Maria Luiza Rosa, Silvio Dal Zotto, Abramo Eberle, Hercilia Petry, Abramo Randon, Santa Catarina, EETCS, Maguary, Ismael Chaves Barcelos, Província de Mendonza, Ivone Maria Triches (Caxias do Sul); Estadual Farroupilha, São Tiago, Vivian Manggioni (Farroupilha); Padre Werner, Escola Piá, 1º de Maio, Padre Amastad (Nova Petrópolis); Estadual São Marcos e João Pollo (São Marcos).

Apesar da licitação, Caxias descumprirá a meta do Plano Nacional de Educação, que seria contemplar todas as crianças na lista de espera Escolas com adesão total à greve Imigrante, Emílio Meyer, Presidente Vargas, Clauri Flores, Ivanyr Marchioro, Rachel Graz­ ziotin, Dante Marcucci, Irmão Guerini, Maria Aracy Rojas, Kalil Sehbe, Victório Webber, Melvin Jones, Érico Veríssimo, Assis Mariani, Apolinário, José Venzon Eberle, João Pilati e Antonio Avelino Boff (Caxias do Sul). Monteiro Lobato e Maranhão (São Marcos).


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POLÍTICA

Conservadorismo altera o mundo Países europeus e os Estados Unidos elegeram presidentes e parlamentares conservadores para novos mandatos e demonstram que a extrema-direita ganha força perante a população Foto: Gage Skidmore

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, demonstra o avanço do conservadorismo

Alessandra Teixeira astexeira@ucs.br Gabriela Bento Alves gbalves1@ucs.br María Fernanda Ramíres mfmramirez@ucs.br

U

ma onda conservadora vem tomando o mundo, nos últimos anos. Figuras como Donald Trump, eleito presidente dos Estados Unidos, demonstram que, cada vez mais, o preconceito e a desigualdade social ganham visibilidade. O segundo turno das eleições francesas, com Emmanuel Macron e Marine Le Pen e o avanço do nacionalismo de direita, na Alemanha, também chamam a atenção para um­novo fenômeno na política mundial: o conservadorismo. Além disso, o plebiscito constituinte na Vene­zuela­e as polêmicas com o presidente Nicolás Maduro causam comoção

mundial. O doutor em ciência política João ­Ignácio Pires Lucas, professor na Universidade de Caxias do Sul, explica que a onda conservadora no mundo tem vários motivos. “Em primeiro lugar, nem todos os eleitores de Trump, ou de partidos conservadores da Europa, se consideram ‘conservadores’ – apenas uma parte. Os demais têm votado contra a globalização e outras propostas que eles julgam prejudiciais aos seus países. Na verdade, grupos social-democráticos e liberai-democráticos estão em baixa, até porque eles não têm conseguido resolver problemas sérios, como o da imigração, o da pobreza e o da degradação ambiental.” Lucas ainda afirma que “políticos que posam de não políticos, ou populistas de direita, como Trump, surfam no descrédito dos partidos políticos mais tradicionais. Na Alemanha, o partido nazista conseguiu cerca de 15% dos votos – muito acima de resultados anteriores. É uma fase muito antiglobalização, pois os votos, especialmente de traba-

“Todos são sempre políticos, mas têm predominado um discurso antipolítico”

lhadores, têm sido contra os políticos que eles julgam pró-globalização”. Para o cientista político, a onda conservadora no mundo pode avançar ainda mais, porém não apenas por conta da eleição de Donald Trump. “A onda favorável a candidatos ‘não políticos’, como João Dória em São Paulo e Daniel Guerra em Caxias do Sul, pode influenciar. É um erro, ou muita ingenuidade, porque todos são sempre políticos, mas têm predominado um discurso antipolítico. E o Trump é mais um que embarcou nessa onda, não a sua causa. Nesse sentido, sim, podem ter boas chances eleitorais partidos políticos e candidatos que se apresentem como não políticos.”

Trump x Peña Neto Desde que Donald Trump anunciou sua candidatura, escolheu o México como um dos grandes vilões dos Estados Unidos. Já em suas primeiras declarações, mostrou sua antipatia pelo país. A história de Trump com o México começou anos antes de sua candidatura presidencial, com o fracasso de um hotel de apartamentos de luxo chamado Trump Ocean Resort Baia México em Tijuana, Baja California. Juntamen-

te com a empresa imobiliária Irongate, investiu num projeto de três torres que, em 2009, acabou sem fundos. Os futuros proprietários dos apartamentos de luxo fizeram depósitos de mais de 32 milhões de dólares, mas, em dezembro de 2006, receberam uma carta informando que as negociações para um empréstimo com o banco alemão WestLG AG não tiveram sucesso e que restavam apenas 556 mil dólares para a construção. Em 2009, os compradores processaram Trump e a Irongate. Quatro anos depois, o caso foi resolvido com um acordo cujo valor se mantém secreto. Após seu triunfo, antecedido de campanha com forte discurso antimexicano e xenofóbico, Trump falou em renegociar o Acordo de Livre Comércio da América do Norte, deportando 11 milhões de imigrantes sem documentos. Como se não bastasse, prometeu construir um muro que atravessaria a fronteira entre México e Estados Uni­dos –­3.141 km, de acordo com a Comissão Internacional de Limites e Águas. Trump está convicto de que com ela aumentará a segurança e recuperará o controle das fronteiras. “O México envia pessoas, mas não envia o melhor.


9 Eles estão enviando pessoas com muitos problemas. [...] Eles estão trazendo drogas, crimes e estupradores. Eu suponho que há alguns que são bons”, foi uma das declarações do então candidato a presidente em campanha. O Doutor Israel León O’Farril, jornalista do jornal mexicano La Jornada, fala sobre um sério problema que está acontecendo no México. Segundo ele, a questão não está em o presidente dos Estados Unidos querer pagar o muro ou renegociar o Acordo de Livre Comércio, porque ele não beneficia sua nação. “O verdadeiro problema é o racismo que está descarado.” Desde sua campanha, grupos xenófobos e racistas estão de volta. O ódio e a violência de outros que estavam adormecidos nos Estados Unidos despertaram. Trump despertou para esse caos, tirou o legado de Martin Luther King. “A Casa Branca é atualmente ocupada por um homem racista, misógino e xenófobo”, declara o jornalista. O’Farril enfatiza que, se continuar assim, o nível de violência aumentará em seu país, provocando ódio entre os países vizinhos o que deve afetar a economia e a estabilidade que sempre existiu. “O México está unido, forte e confrontado com as adversidades que acontecerão. Sempre verá o bem comum”, avisa ele.

Mais conservadorismo Desde 2005 na chefia do governo alemão, a chanceler Angela Merkel se reelegeu para o quarto mandato, no mês de setembro. Apesar da quarta vitória, a entrada da direita nacionalista no Parlamento demonstra que a extrema-direita ganha poder no país. A Alternativa para a Alemanha (AfD), partido político nacionalista de extrema-direita, de acordo com a boca de urna, ficou com 13% dos votos, tornando-se o terceiro maior partido do país e garantindo seu lugar no Parlamento. A AfD tem como líder Alexander Gauland, que afirmou que irá trazer o país de volta aos alemães. “Esse governo que se proteja, porque iremos atrás dele. Recuperaremos o nosso país e o nosso povo. Mudaremos esse país”, foi a fala de Gauland nas eleições. Pelo Twitter, o partido já recebeu elogios da líder da extrema-direita da França, Marine Le Pen, que ficou em segundo lugar nas eleições: “Bravo aos nossos aliados do AfD por este resultado histórico! É um novo sinal de que o povo da Europa está despertando.” Le Pen avançou para o segundo turno das eleições com um discurso anti-islâmico e antiunião europeia. Em sua candidatura, a conservadora prometeu seguir a linha de Donald Trump e proteger o país da globalização. Além disso, prometia controlar e reduzir a migração em 80% e, ainda, reduzir impostos. O partido conservador nasceu em 2013, e tem como ideologia o nacionalismo alemão, a mesma do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, que teve Adolf Hitler como um dos seus fundadores.


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POLÍTICA

Representatividade feminina na política ainda é pequena Mulheres ainda são minoria em todos setores, mas na política elas tratam de modificar esse quadro Divulgação: Prefeitura Municipal de Morro Reuter

Divulgação: Prefeitura Municipal de Estância Velha

Divulgação: Prefeitura Municipal de Sapiranga

Divulgação: Prefeitura Municipal de Santa Maria do Herval

Da E para a D: Carla Chamorro, prefeita de Morro Reuter; Ivete Grade, prefeita de Estância Velha; Corinha Molling, prefeita de Sapiranga; Mara Stoffel, prefeita de Santa Maria do Herval

Brenda Luísa Dalcero bldalcero@ucs.br Gabriela Bento Alves gbalves1@ucs.br Thamires Bispo trbispo@ucs.br

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o cenário atual, pode-se observar que a representatividade da mulher no meio político ainda não está equiparada à do homem. Apesar dos ganhos por conta dos movimentos feministas no País e das mudanças feitas a partir da Lei 12.034/2009, que exige que os partidos promovam e propaguem a participação feminina na política, a igualdade entre elas e eles ainda não é completa. Nas eleições de 2016, na esfera do Executivo, apenas 2.150 mulheres concorreram ao cargo de prefeitas. Em contrapartida, 14.418 homens lançaram sua candidatura. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, no total, apenas 641 (11,57%) municípios

elegeram prefeitas. Já o número de municípios com prefeitos eleitos foi de 4.898 (88,43%). As regiões do País que mais tiveram mulheres eleitas foram o Norte e o Nordeste, enquanto o Sul e o Sudeste registraram a menor margem de prefeitas escolhidas. Dos estados do sul, Santa Catarina teve 8,2%, o Paraná

“Apesar de o estado gaúcho ter a menor representatividade feminina do País na área política, há uma região dele que contradiz essa regra” 7,4% e por último, o Rio Grande do Sul, com somente 6,1% de vencedoras nas prefeituras. Apesar de o estado gaúcho ter a menor representatividade feminina do País na área política, há uma região dele que contradiz essa regra. Diversos municípios do Vale do Rio dos Sinos

têm a figura feminina no mais alto posto do Poder Executivo. Os eleitores de Morro Reuter, Dois Irmãos, Ivoti, Santa Maria do Herval, Sapiranga, Nova Santa Rita, Novo Hamburgo e Estância Velha, dentre outras cidades, elegeram prefeitas no pleito de 2016. De acordo com Mara Susana Schaumloeffel Stoffel (PDT), prefeita de Santa Maria do Herval, é uma conquista para as mulheres ter representantes na prefeitura de cidades do Rio Grande do Sul. Ela afirma que “a questão de gênero é um tanto preposto no atual cenário político, mas oportuniza e impulsiona a mulher para tomar frente na gestão, seja municipal, estadual ou na nacional”. Mara ainda aponta que o cenário político atual influenciou os municípios em questão que elegerem mulheres. “Na gestão passada tínhamos o exemplo de Dois Irmãos, Ivoti e Sapiranga, onde as gestoras eram mulheres, e isso contribuiu para termos gestoras mulheres nos sete municípios do Vale. Temos a confiança e sensibilidade que podemos evoluir e contribuir para o crescimento da querida Santa Maria do Herval.” Para Carla Cristine Wittmann

Chamorro, que na legislatura passada foi vereadora, e atualmente é prefeita de Morro Reuter, estar à frente da prefeitura é resultado de esforço e trabalho árduo. “Sinto-me uma mulher privilegiada. Não pela questão de gênero em si, mas pelo fato de ter tido uma educação que ratifica o respeito pelo

“...a questão de gênero é um tanto preposto no atual cenário político, mas oportuniza e impulsiona a mulher para tomar frente na gestão, seja municipal, estadual ou nacional” outro, a partir do qual nos constituímos. Consegui estudar. Sou professora da rede pública e da rede privada. Fui Secretária de Educação por 16 anos. Trabalho muito e ter chegado neste posto de prefeita é apenas resultado de um trabalho que teve visibilidade


pela seriedade e compromisso com que se deu.” Carla também salienta que o respeito e igualdade à mulher são questões de cultura e educação, e relembra como foi sua criação. “Há uma pesquisa que aponta esse sucesso como fruto de uma educação de descendência germânica. Nossa região foi colonizada por imigrantes alemães, cuja educação sempre foi severa, tanto com as meninas quanto com os meninos. Sou de uma geração em que os pais nos apontavam o que era uma ação correta ou incorreta. A família, como primeira instituição social da criança é muito valorizada. A luta da mulher por espaços de liderança na sociedade vem crescendo. Sou mais uma mulher que conquista, com muito trabalho, esse espaço.”

“...a luta da mulher por espaços de liderança na sociedade cresce. Sou mais uma mulher que conquista, com muito trabalho, esse espaço” A prefeita de Sapiranga, Corinha Beatris Ornes Molling, foi reeleita nas eleições de 2016, quando concorria com três homens. “Se no nosso País já é difícil uma mulher conseguir ser eleita, ser reeleita é a prova de reconhecimento do trabalho e da competência, mostrando que não importa se é melhor ter uma mu­lher ou um homem no comando de um município; o que importa é sua capacidade de gestão. Por isso, não me sinto representante apenas das mu­lheres. Represento toda a população de Sapiranga. Passada uma eleição você tem que administrar para todos”, salienta. Corinha também diz que “é preciso ressaltar que uma prefeita no comando de um município é diferente de um prefeito. “Quando assumi, em 2013, via que muitos homens se sentiam incomodados com o fato de uma mulher estar comandando a cidade, dando a palavra final sobre as questões da Administração. Tive que me impor e mostrar que o fato de ser mulher não me colocava em uma posição de fragilidade. E a todo momento

“...a todo momento é preciso comprovar nossa capacidade de sermos firmes em um momento de decisão. Infelizmente, ainda vivemos em um mundo machista, mas penso que o fato de uma mu­lher estar no comando de um município seja um bom exemplo” é preciso comprovar nossa capacidade de sermos firmes, em um momento de

decisão. Infelizmente, ainda vivemos em um mundo machista, mas penso que o fato de uma mulher estar no comando de um município seja um bom exemplo de que podemos e devemos assumir de forma mais efetiva o nosso direito a uma posição de igualdade. Sinto orgulho de fazer parte desta mudança”, relata. A prefeita de Estância Velha, Ivete Grade, declara: “Sou a primeira mulher prefeita em Estância Velha. É um orgulho poder estar nesse cargo, mas, gostaria de deixar claro que me preparei há anos. Fiz graduação em Gestão Pública e pós-graduação em Gerência de Cidades. Esta conquista foi possível com muito trabalho e dedicação, e continua até agora, pois os desafios são constantes como para qualquer gestor. Acredito que as pessoas estão se voltando para a questão do olhar feminino, independentemente da região. O que importa para nossa gente é o trato com as demandas, desde o atendimento inicial, e com as propostas que podem de fato melhorar a qualidade de vida das pessoas”, menciona.

Elas no Legislativo Nas cidades da Serra gaúcha, a representatividade feminina nas câmaras de vereadores é pequena. Em Caxias do Sul, por exemplo, dos 23 vereadores eleitos, apenas três são mulheres. Em Flores da Cunha, dos nove vereadores, apenas uma é mulher. Farroupilha elegeu 15 vereadores e entre eles apenas uma mulher. A cidade de Bento Gonçalves tem ainda menos representatividade no Legislativo. São 17 vereadores eleitos e nenhuma mulher. Na última legislatura, Bento ainda contava com duas vereadoras, que não se reelegeram. Pensando na importância da mulher para a história política, a Mesa Diretora da Câmara de Vereadores do município criou uma Galeria de Vereadoras. Será um espaço com 11 fotos de mulheres que, um dia, representaram a Câmara Municipal, desde 1964. Esse tipo de homenagem existe já em Caxias do Sul. Além disso, em outubro realizou-se uma Sessão Solene em homenagem a todas as ex-­ vereadoras, com o intuito de valorizar a importância que o trabalho de cada uma teve para a Capital do Vinho. O atual presidente da Câmara, vereador Moisés Scussel Neto (PSDB) ressalta a importância da presença feminina e explica o porquê da criação da galeria. “Como não temos vereadoras nessa legislatura, pretendemos, com o projeto, principalmente, resgatar o trabalho que cada uma delas fez pelo Município de Bento Gonçalves enquanto representante de parte da população. E também fomentar a participação da mulher na política, valorizá-la, e, como consequência, fazer que em breve voltemos a ter representantes femininas na Câmara de Vereadores.” Scussel acredita, também, que a mulher não é valorizada no meio político, mas a inclusão dela é dever da sociedade. “Eu acho que não há a valorização da mulher; basta que nós vejamos em todos os parlamentos do

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12 País sejam municipais, estaduais, ou nacional, que não temos uma participação muito grande de mulheres na política. Em Bento, é importante que se diga que essa falta de valorização não parte do Legislativo, e sim da própria

“Construir um mundo em que as diferenças de gênero, raça, credo e orientação sexual não sejam legitimadores da opressão é a tarefa de todos(as)” sociedade. Nós tivemos no pleito eleitoral várias candidatas, e nenhuma se elegeu. A Câmara busca mostrar que é importante esse debate e que é importante ter mulheres aqui”, salienta. Se no passado muitas vezes faltou interesse ou coragem à mulher para ingressar na política, as novas gerações modificam esse cenário. Um exemplo é o Projeto Vereador Mirim, iniciativa também da Câmara Municipal de Bento Gonçalves. Nele, crianças e adolescentes de escolas municipais participaram de eleições que elegeram 17 vereadores dentre os alunos.

Retratos do machismo Para concorrer, muitas meninas se inscreveram. Além disso, nove dos eleitos são estudantes do sexo feminino, o que representa 52,9%. Na escolha da Mesa Diretora, houve igualdade. Duas meninas e dois meninos foram escolhidos para ocupar os cargos mais importantes do Legislativo. Essa mudança é sobremaneira importante, para que em breve o quadro de desigualdade de gênero na política tenha uma reviravolta. Da mesma maneira, o projeto é fundamental para o resgate do interesse da população pela política. Para a vereadora caxiense Ana Corso, do PT, o pensamento machista que perpassa toda a sociedade está ligado ao baixo número de mulheres na política. “A maioria das mulheres fica em casa cuidando dos filhos e do trabalho doméstico, enquanto os homens saem para a vida pública. Não é raro, hoje em dia, ouvirmos que muitos homens impedem sua mulher de trabalhar fora”, comenta a vereadora. Além disso, Ana afirma que sente muita felicidade em estar representando as mulheres na Câmara dos Vereadores. “Me sinto gratificada. Procuro, na minha atuação parlamentar, lutar por políticas públicas voltadas às mulheres e minorias marginalizadas e oprimidas de nossa sociedade. Somos a maioria da população, e acredito que só teremos democracia plena, se incorporarmos as mulheres na política”, afirma. “É fundamental desenvolver políticas de inclusão das mulheres; proporcionar políticas específicas para a saúde da mulher; desenvolver políticas de combate à

violência contra as mulheres”. Para a vereadora, é preciso atuar com muita força e dar continuidade à luta contra a cultura patriarcal que existe hoje. “A cultura patriarcal continua fazendo vítimas. Superar a assimetria na relação entre homens e mulheres é um grande desafio para todos aqueles e aquelas que sonham com uma sociedade justa e igualitária. Construir um mundo em que as diferenças de gênero, raça, credo e orientação sexual não sirvam como elementos legitimadores da opressão é a tarefa de todos(as)”, comenta. A vereadora Gládis Frizzo, do PMDB, também de Caxias do Sul, foi a quarta candidata mais votada nas eleições de 2016. Para ela, a pouca participação feminina na política se dá porque muitas mulheres foram criadas e educadas em lares machistas, criação que inibe a vontade da mulher de lutar por seus direitos e representar o povo na política. Gládis revela que representar as mulheres na Câmara é um processo desafiador, e que se sente muito feliz. “O Brasil tem números vergonhosos de representação feminina­na política, e eles ficam ainda mais vexaminosos se analisamos quantas mulheres negras ou indígenas estão presentes nesse espaço. E isso nos prejudica, porque a falta de pluralidade e o fato de a representação política não traduzir minimamente o povo mantêm parte da população à margem das decisões, que continuam sendo tomadas por esse grupo seleto, que tem muito pouco a ver com o que o povo é. Além disso, mantêm intocada a menta­lidade­ de que determinados espaços não são ideais para determinados grupos sociais”, desabafa.

“Somos a maioria da população, e acredito que só teremos democracia plena, se incorporarmos as mulheres na política” A vereadora ainda comenta: “No Brasil, a representação das mulheres na política não tem acompanhado os avanços conquistados em outros setores da sociedade, como no mercado de trabalho e, sobretudo, na educação. Hoje, o número de mulheres no ensino superior supera o de homens. Já o resultado da última eleição municipal é revelador. A principal causa ainda é o fato de que há uma resistência institucional dos poderes políticos estabelecidos no Brasil, que, mais do que masculinos, são machistas”. Com o desenvolvimento dos movimentos sociais em defesa do sexo feminino, e ao analisar dados e estatísticas, nota-se que a média de mulheres na política tende a crescer. Hoje, a desigualdade ainda é notória, mas cada vez mais a mulher prova, por meio de esforço e trabalho árduo, sua competência e capacidade de tomar posse de cargos que outrora pertenciam apenas a homens.


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A Caxias anfitriã

Oportunidades de trabalho e de estudo atraem novos habitantes para a cidade

Brenda Luísa Dalcero bldalcero@ucs.br

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o quilômetro 150 da BR 116, em Caxias do Sul, está localizado o Monumento Nacional ao Imigrante. Inaugurada em 1954, pelo presidente Getúlio Vargas, durante uma das edições da Festa Nacional da Uva, a estátua tem 4,5 metros de altura e foi moldada em bronze por Antonio Carangi. A descrição do projeto afirma que a obra “retrata o heroísmo e a luta dos imigrantes que abandonaram sua terra e vieram construir Caxias do Sul”. A chegada dos primeiros imigrantes

italianos data de 1875. Mais de 140 anos depois, a promessa de bonança continua a atrair forasteiros. Mas a cara da imigração agora é outra. De acordo com a Polícia Federal, 12.881 senegaleses e haitianos têm registro para morar e trabalhar no Rio Grande do Sul. Desses, 2.415 estão em Caxias do Sul. Além de atrair imigrantes em busca de trabalho, Caxias do Sul também atrai estudantes. Entre universidades, faculdades e instituições que oferecem cursos superiores, a cidade conta com mais de 20 opções de locais de estudo. Mais de 10 mil alunos prestaram Vestibular, buscando ingresso nas faculdades caxien-

relatam suas O que ELES Intercambistasexperiências de intercâmbio pensam de NóS no Brasil

ses em 2016. O polo universitário em Caxias atrai também estudantes de fora do País. A estudante mexicana María Fernanda Moralez fala sobre os motivos que a trouxeram à cidade. “A razão mais importante é o fato de ter uma experiência de aprendizagem diferente, no melhor sentido da palavra, tanto para meu crescimento profissional quanto para meu desenvolvimento pessoal. Tenho a satisfação de conhecer uma cultura diferente, outro estilo de vida e ideologias para desenvolver um ambiente mais aberto e enriquecido sobre a percepção da abor­dagem de comunicação científica”, declara.


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BEM-ESTAR

Terapias naturais transformam a medicina Tratamentos alternativos são considerados nova perspectiva e mudam a visão sobre a medicina tradicional

Foto: Andrea Valencia

Tratamento de acumputura da profissional Andrea Valencia

Carolina de Barros Pereira Canton cbpcanton@ucs.br Elisa Oliveira Ambrosi eoambrosi@ucs.br Fernanda Morales mfmramirez@ucs.br

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ão se sabe ao certo quando os tratamentos alternativos começaram, mas se percebe que eles ganham espaço cada vez maior na sociedade. É comum ver-se pessoas optarem por terapias do tipo reiki, yoga, fitoterapia, acupuntura, entre uma série de outras, ao invés de continuarem somente na medicina farmacêutica. A diferença essencial entre a medicina convencional e a alternativa está essencialmente nos métodos utilizados para a cura. Existem três principais classificações, quando se fala em tratamentos alternativos: em primeiro lugar estão os produtos ou remédios naturais; em seguida, os tratamentos que incluem e medicina corporal e, em terceiro, as práticas de manipulação do corpo. Os remédios naturais contemplam plantas e elementos da natureza para prevenir e curar doenças. Gengibre, alho, cebola, aloe, camomila, anis e senna são

alguns exemplos, todos amplamente utilizados na cozinha. Os tratamentos relacionados à mente e ao corpo normalmente recorrem à meditação, preocupando-se principalmente com posturas e métodos de controle do corpo, ou acupuntura, que utiliza a inserção de agulhas em pontos estratégicos, para estimular músculos, tecidos e órgãos. Já a manipulação do corpo inclui massagens e homeopatia, por exemplo. Medicamentos ou remédios homeopáticos são preparados por meio de misturas de água e álcool, de modo que os efeitos da doença são reduzidos a uma quantidade infinitesimal. Uma pesquisa do Royal London Homeopathic Hospital com profissionais da saúde de Londres, mostrou que há um interesse considerável por parte dos pacientes e dos especialistas em saber mais sobre terapias alternativas e em se submeter a elas. Muitos deles responderam ser favoráveis à associação da medicina tradicional a essas terapias milenares. “Em 1999, quando comecei a atender, era bem mais difícil o reiki ser aceito, mas hoje as pessoas já estão mais adeptas à mudança”, afirma Isabel Roveda, profissional de reiki. Acredita-se, também, que depois que o SUS incorporou o reiki como terapia complementar, o incentivo à população foi bem maior, mas ainda não excelente. “Acredito que vai demorar um pouco, porque as pessoas não são imediatistas. Não é fácil mudar de repente, mas comparado a quando comecei, já está bem melhor”, conta Isabel sobre a adesão das pessoas

ao tratamento. As práticas alternativas de meditação, aromaterapia, reiki, musicoterapia, tratamento naturopático, tratamento osteopático e tratamento quiroprático começaram a ser integrantes do SUS em 2006. Segundo dados do Ministério da Saúde de Integrativas Complementares, atualmente cerca de 1.708 municípios têm acesso a esses benefícios, o que significa 28% das Unidades Básicas de Saúde (UBS). Algumas ati-

“Acredito que vai demorar um pouco, porque as pessoas não são imediatistas. Não é fácil mudar de repente, mas comparado a quando comecei, já está bem melhor” vidades anteriores já eram oferecidas como práticas de medicina tradicional chinesa, terapia comunitária, oficina de massagem e massoterapia. Além dessas práticas, outros tratamentos são incluídos cada vez mais no cotidiano das pessoas.

Acreditar é tudo A mestre de yoga Salete Teresinha Canton fala que Caxias já tem um mercado grande que oferece esses serviços e que quando ocorre alguma falha no trata-

mento convencional, muitas pessoas procuram tratamentos alternativos. “Tenho absoluta certeza que a yoga será muito mais utilizada e procurada num futuro próximo. Várias pessoas buscam tratamentos alternativos, quando não encontram resposta para suas dores ou doenças nos tratamentos convencionais”, afirma a mestre. Os profissionais de tratamentos alternativos falam que o mais importante nos pacientes é a crença de que dará certo. Dessa forma, as energias estão mais propensas a circular e ajudar na cura. A mestre em reiki, Silvana Bampi, afirma que o primeiro passo é estar aberto ao novo, e que esse é o diferencial em relação à medicina tradicional. “Estar aberto a esse tratamento de imposição das mãos, acreditar que a energia vital que circula do profissional ajudará a pessoa que necessita de cura. É um tratamento natural, de cura de muitas doenças em nível emocional, espiritual e até físico. Depende da predisposição da pessoa. Já na primeira sessão, o paciente sai mais leve energeticamente, com os chacras alinhados, e percepção mais positiva de seus problemas”, afirma Silvana. Entretanto, é comum as pessoas sentirem mais confiança quando ingerem algum medicamento. Para elas, é mais fácil se medicar e acreditar que aquilo irá resolver, do que ter fé em algo mais abstrato, como são os tratamentos alternativos. “É mais fácil tomar remédio e não precisar mudar padrões de pensamento e comportamento”, explica Isabel Roveda.


“Estar aberto a esse tratamento de imposição das mãos, acreditar que a energia vital que circula do profissional ajudará a pessoa que necessita de cura” serviços destinados à saúde sempre se valeram da terapia alopática para o tratamento da maioria das doenças, e esse modelo remete a funções mecanizadas, analisando o corpo humano como uma máquina com peças separadas. Assim, o tratamento das complicações passou a ser visto como um problema específico, sem relação com outros fatores, e o “conserto” deve ser somente do incômodo isolado. Essa visão faz muitos especialistas da área tratarem situações sem levar em conta aspectos emocionais do paciente.

Mil e um benefícios

“Os medicamentos só ‘mascaram’ ainda mais o problema ao invés de resolvê-lo. Nosso corpo é perfeito, inteligente demais e capaz de autocurar-se sem a ajuda de drogas Medicações fitoterápicas produzidas pela estudante Michele Trentin

Aula coletiva de Kriya Yoga de Babaji, na escola Rakaça Templo de Dança

Foto:Salete Canton

de vida natural, menos agressivo ao organismo, pessoas que evitam tomar tantos remédios químicos. Muitas pessoas se tratam com chás, com alimentação balanceada, e evitam os remédios químicos”, afirma Michele. Os tratamentos alternativos são usados por um número crescente de pessoas em todo o mundo, às mais diversas patologias. É necessário esquecer alguns tabus, preconceitos, indiferença e subvalorização de formas não convencionais e práticas de cura.

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Foto: Michele Trentin

A eficácia da medicina alternativa não foi 100% demonstrada. No entanto,seus adeptos mais frequentes oferecem aval a esses tratamentos, pois garantem que sejam eficazes, atendam às suas necessidades e sejam seguros por não causarem efeitos colaterais. Por isso, é necessário considerá-los uma opção para melhorar o bem-estar integral do indivíduo. A especialista em auriculopuntura Dra. Rosalda Chávez diz que cada pessoa pode escolher o tratamento alternativo que a favorece, mas uma coisa a ter em mente é que o melhor medicamento é o que cura com menos efeitos colaterais e gera equilíbrio interno. Contudo, é preciso ser claro: Como na medicina tradicional, há nas práticas alternativas profissionais bons e maus, e dado que muitas práticas ainda não estão regulamentadas, é frequente que pessoas com pouca ou nenhuma formação façam desses medicamentos apenas um negócio. Como em todas as demais atividades, é preciso cercar-se de profissionais de confiança e se afastar de fraudadores. O desafio para os tratamentos alternativos é a criação de políticas, o aumento da biossegurança, da eficácia e da qualidade ao acesso. A quiropraxista Lívia Munhós explica que a quiropraxia faz a coluna vertebral alinhar-se corretamente, o que permite que a transmissão dos impulsos nervosos seja sem interrupção, livre de subluxações. Esses tratamentos não envolvem medicação, somente movimentação corporal. “Os medicamentos só ‘mascaram’ ainda mais o problema ao invés de resolvê-lo. Nosso corpo é per-

feito, inteligente demais e capaz de autocurar-se sem a ajuda de drogas. Temos que tirar um tempo para cuidar da nossa saúde, pois senão teremos que encontrar tempo para cuidar da doença”, garante Lívia. Segundo a Associa­ção Britânica de Medicina Holística, os tratamentos alternativos são uma tentativa de curar a ciência médica, por meio da integração de aspectos psicológicos e espirituais aos tratamentos da saúde. Outro tratamento inteiramente natural, sem riscos de efeitos colaterais e contraindicação, e por esse motivo muito procurado, é a fitoterapia. O tratamento consiste em curar e prevenir doenças usando florais, ervas e plantas. Um medicamento causar outro problema no corpo é muito comum nos tratamentos tradicionais, e por isso a fitoterapia é muito indicada. Além disso, a rapidez e a duração dos efeitos são diferencial importante. A profissional e estudante de fitoterapia Michele Trentin tem Sessão de quiropraxia da profissional Lívia Munhós com paciente visão positiva sobre o alcance da terapia na cidade. “Acho que hoje em dia já tem muitas pessoas que buscam um estilo

Foto; Lívia Munhós

A quiropraxia e a reflexoterapia também são métodos eficazes de tratamento alternativo. O principal objetivo desses métodos é fazer as pessoas procurarem cada vez menos hospitais, tratando dos seus incômodos corporais de maneira mais natural e menos industrializada. Ao longo da história da medicina, os


SAÚDE

Veganismo não é modinha

Cresce a população vegana em Caxias do Sul, apesar da forte tradição gaúcha de comer carne vermelha Foto: Vinícius Pistor

Buffet vegano de saladas do restaurante Gaia’s House

Carolina de Barros Pereira Canton cbpcanton@ucs.br Elisa Oliveira Ambrosi eoambrosi@ucs.br

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alimentação vegana ganha muitos adeptos, pois não se trata somente de jeito de alimentar-se, mas de um estilo de vida que visa a excluir todas as formas de crueldade animal, tanto na alimentação, quanto no vestuário ou em qualquer outro hábito. Com isso, restaurantes e lojas se voltam para este público. Esse tipo de dieta considera uma larga variedade de alimentos vegetais que possuem os principais nutrientes necessários para uma alimentação saudável. Ao fazer uma escolha de vida, as pessoas podem encontrar dificuldades, inclusive sociais. “Existe curiosidade e discriminação disfarçada, porque as pessoas ficam meio que te forçando a mudar de opinião, mudar de diretriz. Quando você vai num restaurante, não existe muita opção. Na maioria

“Quando você vai num restaurante, não existe muita opção. Na maioria das vezes, há uma única. Então você fica muito restrito” das vezes, há uma única. Então você fica muito restrito”, lamenta a vegana Rafaela Stradella. No Rio Grande do Sul, ainda é muito forte a tradição do churrasco com todos os tipos de carne, além de outros produtos animais. Daí certa resistência

na adaptação ao veganismo. “Muita gente acredita que a carne animal é essencial pra vida. Por isso, é difícil desvincular a proteína animal da alimentação, ”,afirma Rafaela. Apesar do forte tradicionalismo, a população vegana tem aumentado. A demanda fez aumentar também servi-

“Muita gente acredita que a carne animal é essencial pra vida humana; por isso, é muito difícil desvincular a proteína animal da alimentação ” ços que atendem essas pessoas. Fornecedores de alimentos específicos como Tudo em Grãos e Mundo Verde, entre outras franquias especializadas em alimentação saudável, ganham clientes. O fato de certos alimentos veganos serem mais caros do que a média não define a decisão de compra de quem abraça realmente esse estilo de vida. Para quem pensa em aderir ao veganismo e para os que não conhecem claramente a proposta, alguns sites oferecem dados esclarecedores. O site <http://www.sejavegano.com.br> destaca o que é ser vegano, explicando com pesquisas como maus tratos aos animais prejudicam o Planeta e a vida humana. Documentários e dicas do que comer, receitas veganas e mapas de restaurantes próximos são disponibilizados, para uma transição suave na direção do veganismo.

Saúde é o principal Um dos principais questionamentos para quem quer se tornar adepto é como compensar as deficiências nutricionais que essas formas ali-

mentares podem causar, devido à falta de produtos lácteos e carne. A nutricionista Diordia Piccoli fala que, na alimentação vegana, é muito mais difícil ter o equilíbrio das vitaminas de que precisamos como, por exemplo, o ferro e a B12. Por isso, é necessária a suplementação, além de acompanhamento nutricional, para a reposição de alimentos, dietas e exames. No entanto, os alimentos de origem vegetal são ricos em minerais e substâncias antioxidantes; facilitam a digestão e alcalinizam o pH do sangue, afastando doenças como câncer e Alzheimer, e contribuindo muito para uma alimentação saudável e para mais qualidade de vida. Contudo, não devemos assumir que o veganismo seja sinônimo de saúde. A vegana Rafaela fala que deve existir equilíbrio. “Não é por ser vegano que os benefícios surgem. Não adianta você ser vegano e se encher de gordura vegetal. O que conta é o estilo de vida em si. Tem gente que é vegana, mas come muito doce, muita massa. O principal é você se alimentar bem, dentro do que você acredita”, alerta. O vegano Alfredo Morales também acredita que é importante ter alimentação balanceada e,

acima de tudo, sentir-se bem com o que come. “Te acostumbras a tu nueva alimentación respetando los ideales por los cuales te sometiste a ser vegano. El principal beneficio es depurar tu cuerpo de alimentos que comías en exceso y sentirte mejor contigo mismo.” Formas de viver que quebram o que a sociedade está acostumada trazem novas maneiras de pensar, que movem e moldam o todo. Sentir-se­bem é o principal objetivo desse e de outros grupos que se formam. “O principal benefício é você tá de bem com aquilo que você acredita. Não pode ser uma coisa que vá contra os seus princípios; tem que ser uma coisa que te faça bem, pois eu acho que ser vegano é uma consciência, não é uma moda”, afirma Rafaela. Por mais que sejam recentes, a adequação e inserção desses novos princípios possibilitam que mais pessoas vivam de acordo com sua opinião.


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