Textando Junho 2018

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Textando

Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo/UCS edição 03 junho 2018

Sebos se reinventam para continuar no mercado

Livreiros da cidade procuram alternativas Foto: Caroline Pegoraro

Uma cidade de imigrantes Como comemoração, mais de 40 atividades foram destinadas à comunidade caxiense. A Prefeitura organizou ações descentralizadas, com objetivo de integrar diversos pontos do município e envolver mais cidadãos.

O Dia do Imigrante é comemorado no Brasil em 25 de junho. A data é uma homenagem a todos os que encontram uma nova casa, distante do seu país de origem.

Caxias do Sul celebra 128 anos de emancipação


Quem bate? É o frio E o frio finalmente chegou. Todo mundo feliz tirando seus casacos, toucas, luvas e cachecóis dos armários. Como é bom o frio, como é bom o inverno. Com lareira ou fogão a lenha, lendo um bom livro ou degus­ tando um vinho, o inverno remete a proximidade, a aconchego e a romantismo. Quer clima melhor para comemorar o Dia dos Namorados? A Copa do Mundo também combina com inverno, família e amigos ao redor da televisão, comendo pizza, pipoca, pinhão, bebendo quentão. Enquanto isso…

Caxias do Sul comemora aniversário Juli Hoff

Município celebra seus 128 anos de emancipação

Foto: Juli Hoff

No mês em que é comemorado o aniversário de Caxias, entre a para­ lisação dos caminhoneiros que estabeleceu o caos, e mais um pedido de impeachment (o quarto do Prefeito Guerra), nem o festejado frio fez o preço do combustível congelar. Junho é mês de promessas para São João, Santo Antônio, e das promessas dos políticos, já que as eleições se aproximam. Pulamos foguei­ra, subimos no pau de sebo, e assistimos quadrilhas. Muitos estraga-prazer vão dizer: “Mas, espera aí. Isso é o que acontece diariamente com o brasileiro”. Verdade, mas em junho é especial, com Copa e Eleições chegando, nem se fala. Não vamos nos preocupar com educação de qualidade, com aumentos abusivos, ou com aquele morador de rua que passa frio, sem nem mesmo um cobertor para se proteger. A preocupação maior é o cabelo do Neymar, ou a neve que não cai. Nada de pensar no próximo que não tem abrigo, ou naqueles que não têm acesso à educação. O inverno junino esfria tudo, e os gritos tímidos de “Muda Brasil” são abafados pelos gritos de “É do Brasil”… E segue o jogo!

Textando Evaldo Antônio Kuyava Reitor Maria Carolina da Rosa Gullo Diretora Área de Conhecimento

Marcell Bocchese Coordenador do Curso de Jornalismo Marlene Branca Sólio Professora Caroline Santi Pegoraro Juli Hoff Maurício Carvalho Milton Gonçalves Alunos Universidade de Caxias do Sul - UCS Campus-Sede: Rua Francisco Getúlio Vargas, 1130 CEP 95070-560 - Caxias do Sul Fone: +55 54 3218-2100 www.ucs.br

Foto: Luiz Schmitz

Maurício, Caroline, Juli, e Milton

Na data oficial, população se reuniu no Largo do Centro Administrativo Municipal

Caxias completa 128 anos como a segunda maior cidade do Rio Grande do Sul. O município cresceu por meio da diversidade de povos e é reconhecido pela determinação de seus habitantes. O lugar ainda mantém a tradição na produção agroindustrial de uvas e carrega o título de prosperidade no empreendedorismo. Como comemoração, mais de 40 atividades foram destinadas à comunidade caxiense. A Prefeitura organizou ações descentralizadas, com objetivo de integrar diversos pontos do município e envolver mais cidadãos. Diferentes secretarias se uniram na celebração, que se estendeu do dia 06 ao dia 30 de junho. Palestras, filmes, exposições, apresentações artísticas, jogos, feiras e outros eventos já integrados ao calendário mensal de atividades do município, integraram a programação alusiva à data.

No sábado 9 de junho, mais de duas mil pessoas reuniram-se no Parque da Lagoa do Desvio Rizzo para prestigiar as atividades comemorativas. Foi possível desfrutar de serviços de saúde, plantio e manejo de sementes, educação ambiental, adoção de pets, brinquedos infantis, aulas de dança e até mesmo aulas de canoagem na lagoa. Na data oficial do aniversário (20/06) realizou-se solenidade em frente ao Largo do Centro Administrativo Municipal. Na ocasião, diversas autoridades manifestaram satisfação com a celebração. Em seguidas houve distribuição de bolo aos presentes. “Essa comemoração faz relembrar a cidade, sua história e conquistas. Nosso município também é o povo e sua luta, precisamos celebrar essa data sem esquecermos disso”, afirma Augusto Benedetti, que saía do trabalho e decidiu prestigiar a solenidade.

Uma cidade de imigrantes Juli Hoff

Apesar das dificuldades, é época de valorizar os novos habitantes No Brasil, o Dia do Imigrante é comemorado em 25 de junho. A data é uma homenagem a todos os que encontram uma nova casa distante do seu país de origem. Há oito anos o empresário Cheikh Mbacke Gueye (Cher) deixou sua cidade Dakar, no Senegal, para morar no Brasil. “Eu sempre quis sair e conhecer outros países. Conheci muita gente, aprendi muitas coisas e fui a diferentes lugares. Acho que se eu ainda estivesse em meu país não saberia tudo que sei agora”, afirma. Cher também iniciou o movimento “Senegal, Ser Negão, Ser Legal”, criado em 2015 com objetivo de integrar caxienses e senegaleses. O coletivo Ser Legal promove diversas ações, dentre elas aulas de português para senegaleses e valorização da cultura desses habitantes que, agora, também têm Caxias do Sul como lar. Historicamente, o desenvolvimento do município é marcado pela imigração. Mesmo assim, a xenofobia — medo ou aversão de estrangeiros — e o precon-

ceito impedem a recepção solidária por parte de alguns caxienses. “Eu procuro olhar o outro lado, porque senão eu não estaria aqui. Caxias do Sul é uma cidade de imigrantes, mas sempre tem pessoas que não gostam de imigrantes africanos ou dos novos imigrantes, como chamamos”, explica Cher. Em maio de 2017, foi estabelecida a lei nº 13.445, que regula a situação doimigrante no Brasil. Dentre seus princípios estão acolhida humanitária, igualdade de tratamento e de oportunidade, repúdio e prevenção à xenofobia, ao racismo e a quaisquer formas de discriminação com imigrantes. Apesar das dificuldades, é época de homenagem. As comemorações são tanto para os novos imigrantes, quanto para os caxienses, pois há muitas oportunidades de crescimento nessa aliança. “Algumas pessoas acham que quem vem de fora estraga o Brasil, mas é como se fosse um supermercado. Se você quiser tirar todos os produtos que não são nacionais, vai deixar as prateleiras quase vazias”, completa Cher. TEXTANDO 2


Sebos se reinventam para continuar no mercado Milton Gonçalves

Sebos são estantes fora de casa, nos devolvem livros raros, gibis antigos, aquele exemplar de uma revista que marcou época Foto: Caroline Pegoraro

No garimpo dos sebos, encontramos o tesouro da sabedoria Disse um dia Érico Veríssimo: “Geralmente, quando termino um livro, encontro-me numa confusão de sentimentos, um misto de alegria, confusão e vaga tristeza. Relendo o livro mais tarde, quase sempre penso: – Não era bem isso que queria dizer.” Partindo desse princípio, podemos deduzir que o livro, o bom livro, não é algo para ler uma vez apenas e depois jogar em um canto, esquecido numa estante ou numa gaveta. O bom livro deve ser lido e relido, e toda vez que o lemos fazemos descobertas. Há muito tempo, os sebos são suporte para isso. São nossas estantes fora de casa, guardando aquele livro especial, que marcou nossa infância, que virou raridade, que nos entregou aquela história inesquecível que queremos contar aos nossos filhos, que ouvimos de nossos pais, ou que um amigo sugeriu. Os sebos nos devolvem aquele livro raro, aquele número de gibi antigo, aquele exemplar da revista que marcou época, aquela matéria importante para uma pesquisa. Mas, como encontrar sebos nos dias de hoje, quando a internet, como trator desenfreado, atropela o tempo e aqueles que se perderam nele? Os pobres livreiros que não se adequaram aos novos tempos, sobreviventes de uma época em que as pessoas lotavam seus sebos garimpando raridades, vivem de raros e fiéis frequentadores, O mesmo vale para aqueles donos de ban-

ca de revista que vendiam muito até a chegada do novo milênio. Naquela época, eles enfrentavam a concorrência apenas dos vendedores de assinaturas, que ameaçavam roubar-lhes fregueses com uma sedutora proposta de valor menor e entrega em casa. As bancas tiveram que se readequar, se remodelar. Hoje, temos um verdadeiro bazar no lugar daquelas simpáticas banquinhas. Vendem de tudo, desde o jornal diário, passando por balas, chicletes, recargas telefônicas, canecas, meias, até cigarros. Assim como elas, alguns sebos buscaram sobrevida na diversificação, e em Caxias do Sul não foi diferente. Livro combina com frio, que combina com café Atualmente, existem alguns sebos em atividade na cidade, como o Sebo da Marquês, O Colecionador, o Do Arco da velha e o Só Ler. No Do Arco da Velha, três ambientes se complementam, com espaço onde funciona o café, o espaço dos livros novos e o sebo. A loja começou com a ideia de um sebo, em 2005, impulsionada pela novela Laços de Família, em reprise na época. A novela tinha um personagem livreiro, interpretado pelo ator Tony Ramos. “Ao mesmo tempo, eu e meu sócio, Guilherme, tivemos a ideia de oferecer um cafezinho para o cliente. Foi então que

evoluímos para a cafeteria. Fizemos um projeto piloto em Capão da Canoa, e tivemos oportunidade de passar a contar também com livros novos” explica o proprietário do local, Germano Weirich. Sobre a internet e seu impacto sobre os sebos, Germano é enfático: “Quando falamos em livros usados, a internet revolucionou o mercado, acabando com aquele sistema de sebos espontâneos, onde cada um expunha os livros com valores que bem entendia. Hoje os valores são padronizados e o livreiro avalia dessa forma, pois tem em mãos uma fonte de pesquisa do mercado”. Após uma pausa e um olhar reflexivo, Germano prossegue: “ Existe uma tendência de eliminar a loja física, mas também existe uma vertente que defende a ideia de ter uma loja bem pequena, com uma porta aberta para a rua, para o contato com o leitor, que é o nosso caso. Pra mim, esse é o modelo ideal.” Internet como aliada de grandes corporações O Colecionador foi o primeiro sebo do nordeste gaúcho, na ativa desde 1990, direcionado ao segmento de revistas em quadrinhos, mangás e card games, bem como enorme quantidade de livros, contando com um acervo de cerca de 50.000 títulos, entre novos e usados. Fernando Berti, o proprietário, fala sobre as mudanças com a chegada da internet: “Tí-

nhamos três lojas físicas há uns seis anos e fechamos duas por acreditar na internet, pois tínhamos ideia de que ela seria uma aliada. Foi então que migramos para a loja virtual, mantendo somente uma loja física”. Sobre o impacto da internet no universo livreiro, Fernando tem opinião clara: “a internet é contra a livre concorrência. Só o ‘tubarão” ganha com ela. Os pequenos não têm chance”. Ele fundamenta sua posição com exemplo: “Nos Estados Unidos, a Amazon é responsável por 80% do mercado interno. Então, que concorrência é essa? Ela define o preço dos fornecedores, e o livro é um produto subalterno, usado para fazer comercial, ou seja, tu entra lá e acaba comprando uma geladeira, um notebook, algo que, do ponto de vista de estratégia de vendas, é fantástico, mas para o mercado dos livreiros, ter o seu produto como subalterno é péssimo.” Sobre a migração do físico pro virtual, o livreiro explica: “A migração para a internet, acabando com as livrarias físicas, a grosso modo pode parecer boa, mas para o ambiente do livro é muito ruim. As livrarias, na verdade, são formadoras de leitores; nelas se troca quantidades enormes de informações, influenciando a conhecer vários produtos e universos, experiência que, sentado na frente de um computador, você jamais terá”. TEXTANDO 3


Aula Pública debate, na comunidade universitária, consequências do golpe de 2016

Caroline Santi Pegoraro

Na Universidade de Caxias do Sul, bate-papo ocorreu em maio Foto: Caroline Santi Pegoraro

Alunos e professores participaram da noite de debate na UCS

Entender e debater o momento político que o Brasil vive desde 2016. Esse foi o objetivo da Aula Pública que ocorreu no Centro de Convivência da Universidade de Caxias do Sul (UCS) em maio último, no campus-sede. O bate-papo tinha como tema “O golpe de 2016 e a nova onda conservadora”. A conversa foi organizada pelos Diretórios Acadêmicos e Comitê pela Democracia na UCS e inspirada na Aula Pública que ocorreu no ano de 2016. Para o estudante de História Jean Lucas Forlin, 21, que integra o Centro Acadêmico de História e Diretório Central de Estudantes (DCE), “essa aula foi um

espelho da primeira aula pública, mas agora pós-golpe, para ver e discutir as consequências do golpe no Brasil”. Luciene Jung de Campos, do curso de Psicologia; Carlos Roberto Winckler, do curso de Sociologia; João Ignacio Pires Lucas, especialista em Ciência Política; Sergio Graziano, do curso de Direito; Álvaro Benevenuto Jr., do curso de Jornalismo; Vanderlei Carbonara, do curso de Filosofia; Daniela Duarte Dias, do curso de Psicologia; Patrícia Cruz, do curso de Arquitetura e Urbanismo e Caetano Sordi, professor de Antropologia foram os professores que se manifestaram sobre o tema. A aula foi condu-

zida pela acadêmica e diretora Centro Acadêmico dos Estudantes de História – CAEHe, Ramona Fagundes, e pelo professor e diretor do Sindicato dos Professores – Sinpro Caxias, Ramon Tisott. Na conversa debateram-se as dimensões política, penal e midiática do golpe. Além disso, foram abordados seus impactos e variáveis como educação, saúde, minorias e as perspectivas políticas latino-americanas. Para a estudante de História Raquel Pereira Braga, 23, que também participa do comitê organizador “a conquista que tivemos com a Aula Pública foi ter realizado uma atividade descentralizada, que não foi um

movimento partidário, mas, sim, com várias tendências. É muito bom fazer esses debates aqui na universidade em espaços abertos, porque esse debate não é feito em sala de aula. Após as manifestações de cada professor com os temas analisados, ocorreu, com alunos e professores que não tinham aula no período da noite, uma “roda de conversa”, que possibilitou o aprofundamento de algumas questões e a organização de uma agenda de atividades.

I Semana da Comunicação de Caxias do Sul

Maurício Carvalho

Psicologia, Comunicação e Pós-verdades foram temas debatidos no encontro A l Semana da Comunicação realizou-se na Câmara de Vereadores, nos dias 7 a 11 de maio, em Caxias do Sul. O evento teve como tema “Por uma comunidade conectada: Quais os caminhos?” O objetivo foi abordar os principais temas relacionados às disciplinas de comunicação das universidades e faculdades e temas atuais da sociedade caxiense e brasileira. No primeiro dia, o palestrante Pedrinho Guareschi, doutor em Psicologia Social e Comunicação, e professor da UFRGS, falou sobre “Psicologia, Comunicação e Pós-Verdade”. Diante de estudantes de universidades e faculdades de Caxias e demais pessoas ligadas à Comunicação que lotaram

a Câmara Municipal, Guareschi garantiu que “o ser humano é como um algoritmo”, ou seja, nas redes sociais, a vida das pessoas se torna um dado para as empresas, proprietárias desses meios de comunicação. O professor relatou que as redes sociais “digitalizam” nossa existência, como se na internet as pessoas fossem umas e na vida real outras. “Nas telas de celulares, muitos sorrisos e vidas boas, mas fora delas depressão e tristeza tomam o cenário.” Guareschi destacou com ênfase o poder das empresas proprietárias das redes sociais sobre nossas vidas. “Tudo o que move a internet é o dinheiro. Elas apostam que com ele nos tornamos algo que queríamos ser”.

Foto: Maurício Carvalho

Pedrinho Guareschi falou a professores, alunos e demais interessados na comunicação

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