TEXTANDO Caxias do Sul, maio de 2017
LABORATÓRIO DE JORNALISMO IMPRESSO UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL SEMESTRE: 2017/2 2º EDIÇÃO MENSAL
Chuva que não abala a fé A 138ª Romaria a Nossa Senhora de Caravaggio ocorreu nos dias 26, 27 e 28 de maio e reuniu milhares de fiéis. O mau tempo não impediu que os peregrinos caminhassem quilômetros para chegar ao santuário em Farroupilha PÁGINA 3
Foto: Renata Chies
1º CONGRESSO NACIONAL DE ESPIRITUALIDADE OCORRE NA UCS
LARGO DA ESTAÇÃO FÉRREA É ATRAÇÃO CULTURAL NA SERRA GAÚCHA
NOVA FORMA DE EMPREENDER DOMINA O MERCADO CAXIENSE
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Foto: Lucas Lermen/Divulgação
Foto: Gabriel da Rosa Rodrigues
Foto: Divulgação
TEXTANDO EXPEDIENTE
EDITORIAL
País empreendedor Em meio à crise, muitas pessoas precisaram se adaptar e buscar novas alternativas para garantir o sustento familiar
O
s números não deixam dúvidas sobre a atual situação econômica do Brasil, muito embora o governo tente mascarar a crise com declarações enganosas dando ao povo a ilusão de um falso crescimento. Como resultado dessa recessão, mais de treze milhões de postos de trabalhos foram fechados, fazendo com que os brasileiros tenham que recorrer a alternativas para garantir o sustento familiar. Desemprego, empresas fechando, preços subindo e dificuldades diversas são naturais em um período de transformações e ajustes sociais e econômicos. Enquanto uns se preocupam e aterrorizam os demais, há pessoas se ocupando
em melhorar suas condições de vida e, mais especificamente, o conforto de sua família. Mas, como ver oportunidades em um cenário tão desfavorável? Resiliência, criatividade e motivação são peças-chave para as pessoas que pretendem enfrentar a crise abrindo o próprio negócio. Hoje, cada dia mais, novas propostas surgem no mercado englobando os mais diversos segmentos: produção de doces artesanais, babá para cachorros e gatos e, principalmente, as vendas independentes têm sido uma boa aposta. Sim, as famosas “sacoleiras” estão conquistando seu espaço ao oferecer produtos de qualidade, com preços acessíveis e atendimento diferenciado. Trabalhan-
do dignamente, essas pessoas mostram que é possível fazer de um momento crítico uma ótima oportunidade de crescer, prosperar, fazer o próprio horário e ganhar dinheiro. Ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, as sacoleiras não são pessoas despreparadas e sem estudo. Muitas delas têm curso superior e optaram por esse mercado devido às condições e acessibilidade que ele oferece. A determinação e boa vontade dessas pessoas precisam ser levadas como exemplo para aqueles que simplesmente desistem e se entregam perante a crise. Nem tudo está perdido. É como dizem: enquanto alguns choram, outros vendem lenços”.
REITOR Dr. Evaldo Antonio Kuiava DIRETORA DA ÁREA de CONHECIMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS Dra. Maria Carolina Gullo COORDENADOR DO CURSO DE JORNALISMO Me. Marcell Bocchese PROFESSORA RESPONSÁVEL Dra. Marlene Branca Sólio PROJETO GRÁFICO Pedro Henrique dos Santos LABORATÓRIO DE JORNALISMO IMPRESSO TURMA 2017/2 Adroir da Silva Alessandro Manzoni André Sebben Ramos Daniela Aline Basso Danielle Zattera Frizzo Diélen Fontana Felipe Souza Brambatti Jerônimo Diogo Portolan Filho Jorge Rafael Teixeira Soares Juliana Baú Morás Leonardo da Silva do Amaral Marina Lima Nunes Milene Rostirolla Naira Rosana Albuquerque Pedro Henrique dos Santos Renata Chies Paschoali Tiago Fernando Guerra
ENDEREÇO: Campus Sede, R. Francisco Getúlio Vargas, número w1130 Petrópolis, Caxias do Sul - RS TELEFONE: (54) 3218-2100
COMPORTAMENTO
Espiritualidade como saída O Primeiro Congresso Nacional de Espiritualidade, com o tema “Propagando experiências de paz”, ocorreu no dia 13 de maio, na UCS e contou com a participação da Monja Coen que palestrou e autografou livros para os participantes do evento falas e correntes de pensamento. Por essa razão, não havia ligação com qualquer religião específica. Cada convidado palestrou a partir do seu horizonte de
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SE CONHEÇA, PARA ENCONTRAR A SUA FORMA DE VIVER A ESPIRITUALIDADE. SE AUTO RESPONSABILIZE PELA VIDA QUE TEM
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Rélim Hahn, organizadora do evento
A palestra da Monja Coen era uma das mais aguardadas do dia. (Foto: Lucas Lermen/Divulgação) DANIELLE FRIZZO dzfrizzo@ucs.br
NAIRA ALBUQUERQUE
nralbuquerque@ucs.br
A
crise financeira, social e humana que aflige a sociedade foi o pano de fundo para o Primeiro Congresso Nacional de Espiritualidade, realizado no dia
13 de maio, na Universidade de Caxias do Sul. O evento contou com a presença dos palestrantes Jorge Trevisol, Fernando De Lucca, Frei Jaime Bettega, Anmol Arora, Gustavo Arns e a mais esperada do dia: Monja Coen. Para a organizadora do congresso, a psicóloga Rélim Hahn, o objetivo inicial foi cumprido: “propagar
experiências de paz na coletividade”. Ela acrescenta que, no âmbito individual, o objetivo era propor experiências de espiritualidade para que, a partir disso, ocorresse uma transformação pessoal. ENCONTRO DO DIÁLOGO A proposta do encontro era dialogar diante da pluralidade de
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significados. A união de diferentes vertentes, como Coen, mestre zen budista, missionária oficial da tradição Soto Shu e Frei Jaime Bettega, capuchinho; além de representantes de outras religiões, mostrou que para encontrar o equilíbrio interno no caos externo, precisamos encontrar a fé em pequenas coisas e cultivar o amor. É o que enfatiza a psicó-
loga: “As pessoas estão muito desesperançosas de um amanhã melhor. A retomada da fé auxilia a ancorar a confiança no melhor, mesmo que com momentos de tormentas.” Rélim, que também está à frente da Spiritualitá, instituto de ensino, defende que o mundo está em mutação. “Tempos novos, pensamentos novos. Estamos vivenciando um período de indefinição, com um desenho de mundo cada vez mais complicado, com cada dia mais incertezas. Nesse sentido, a busca pela espiritualidade eleva e amplia o ser humano para o melhor de si. Por exemplo: espiritualizado, acima de tudo é alguém com uma capacidade amplaida de amar.” Rélim conclui que o importante é o encontro consigo. “Se conheça, para encontrar a sua forma de viver a espiritualidade. Se responsabilize pela vida que tem. Silencie. Abdique da reclamação. Seja grato. Amplie sua capacidade de amar e assim encontrará a paz”, recomenda.
TEXTANDO VARIEDADES
Um espaço para o cidadão Desde 2008, o Largo da Estação Férrea passa por grandes mudanças urbanísticas que transformaram não somente a região, mas também a cultura e o turismo no município
Largo da Estação Férrea, no bairro São Pelegrino, em Caxias do Sul. (Foto: Gabriel da Rosa Rodrigues) DIÉLEN FONTANA
dfontana2@ucs.br
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idades que fecham ruas priorizando o pedestre, ou revitalizam espaços ociosos, transformando-os em locais de encontro, integração e convivência. Para alguns isso parece utopia, para outros, é o sonho de uma geração, e para outros ainda, principalmente os que que se permitirem olhar melhor o lugar onde vivem,
pode ser realidade. Mudanças como essa melhoram a qualidade de vida, incentivam a relação dos moradores com o meio ambiente, presevam a natureza e valorizam o espaço urbano.
ESTAÇÃO FÉRREA Em Caxias do Sul, um exemplo prático dessas mudanças culturais e urbanísticas é o Largo da Estação Férrea, no Bairro São Pelegrino. Desde a vinda da Secretaria
Municipal da Cultura para o antigo prédio da Via Férrea em 2008, o espaço passa por mudanças urbanísticas que transformaram não somente a região, mas também a cultura e o turismo no município. A primeira mudança foi a revitalização do próprio prédio da Estação, seguido pela reforma da Casa das Máquinas, e a do espaço hoje ocupado pela Biblioteca Parque Largo da Estação. Após, o entorno começou a se transformar, chegando ao estágio atual,
que consolida o Largo da Estação como o principal ponto de bares e festas da cidade. As duas mudanças mais recentes são a Praça do Trem, inaugurada em julho de 2015, e a Praça das Feiras, inaugurada em julho de 2016. Com o intuito de preservar e manter esse patrimônio, a comunidade conta com a Associação Amigos do Largo da Estação (AALE). Ela tem por finalidade apoiar atividades sociais, culturais, turísticas e esportivas em todo Largo da Estação. Além disso, busca incentivar o uso do local pela comunidade. Na opinião de Alexandre Fasoli, membro da Associação, a vinda de muitos empreendimentos e empresários tornou o local atrativo para o público e também para os turistas, que podem aproveitar lazer e gastronomia em um só local. Quanto ao futuro do Largo da Estação Férrea, Fasoli acredita que o lugar ainda passará por muitas revitalizações. “É tendência que o espaço vá modernizando com o passar dos anos”, afirma. Ele salienta ser fundamental que a comunidade esteja atenta às informações do que acontece nos espaços públicos do município. “As pessoas precisam acompanhar o trabalho dos vereadores na Câmara e na Prefeitura”.
MISSISSIPPI Uma das grandes atrações da Estação Férrea é o Mississippi Delta Blues Bar. Desde 2006, quando foi inaugurado, o local costuma receber um bom público. Além disso, todos os anos, o Largo da Estação Férrea é o anfitrião do Mississippi Delta Blues Festival. Toyo Bagoso, dono do local e idealizador do evento, salienta que não o imagina sendo realizado em um lugar que não a Estação Férrea. No entanto, de acordo com ele, por ser um dos locais mais badalados da cidade, alguns problemas fazem parte do pacote, como baderna, insegurança e o acúmulo de lixo. Segundo Toyo, é fundamental que haja fiscalização e acompanhamento por parte da Guarda Municipal, além de blitze em pontos estratégicos. Uma das apostas da atual administração da Prefeitura tem sido o Domingo na Estação. A iniciativa abriu o calendário cultural do município em 2017. Segundo a secretária da Cultura de Caxias do Sul, Adriana Antunes, o propósito é realizar ações a cada dois meses. “O objetivo é criar uma identificação da população com a área, promovendo a ocupação desse espaço e oferecendo opções de lazer e cultura.”
RELIGIÃO
Chuva cai sobre Caravaggio
Mesmo com mau tempo, milhares de fiéis se reuniram no santuário, em Farroupilha, para a 138ª Romaria em honra à santa mlnunes3@ucs.br
RENATA CHIES
rcpaschoali@ucs.br
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Missa lotou o santuário em Caravaggio. (Foto: Renata Chies)
á 138 anos, Nossa Senhora de Caravaggio recolhe pedidos e graças. Num percurso de 20 quilômetros, assiste a dores e expectativas. Milhares são os passos dos romeiros e infinita pode ser a sua fé. Caminhantes e peregrinos vivem a Romaria a Caravaggio todos os anos, seja por tradição ou total devoção. Incontáveis pegadas marcam a Estrada dos Romeiros; alguns, descalços, entregam, na chegada ou no próprio trajeto, um agradecimento, um perdão, o cumprimento de uma promessa. No dia 26 de maio de 1832, em Caravaggio, na Itália, os católicos acreditam que a virgem Maria apareceu no céu. Em 1875, um imigrante italiano trouxe, na mala, uma imagem da santa.
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Há 138 anos, milhares de fiéis percorrem o caminho que leva ao santuário de Nossa Senhora de Caravaggio, em Farroupilha. “Uma família trouxe aquele
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VAI COM UM DESEJO E VOLTA COM GRATIDÃO
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MARINA NUNES
Everaldo Cescon, doutor em teologia
quadro da Itália como se fosse um tesouro, mas trouxe, também, – e principalmente – a devoção”, declara o bispo da Diocese de Caxias do Sul, Dom Alessandro Ruffinoni. Com os pés calçados, descalços ou de joelhos. Há mais de uma forma de chegar ao santuário. Everaldo Cescon, doutor em teologia, destaca que também há
mais de um modo de ser romeiro. “Existe uma diferença entre o romeiro caminhante e o romeiro peregrino. O caminhante passa por um lugar e, no caso do peregrino, é o lugar que passa por ele”, explica. Conforme Cescon, o peregrino leva a fé para a caminhada e traz os ensinamentos para a vida. “Vai com um desejo e volta com gratidão”, relata. Os romeiros que fizeram a caminhada saindo de Caxias do Sul enfrentaram, além dos 20 quilômetros de estrada, chuva forte e constante. As missas, que seriam campais, foram celebradas dentro da igreja. O público da romaria de 2017, portanto, foi diferenciado: era raro encontrar alguém que veio somente como caminhante, e não como peregrino. O número de pessoas foi menor, mas a chuva não abalou a fé dos devotos Nossa Senhora de Caravaggio.
TEXTANDO ECONOMIA
Sacoleiras ganham espaço Modalidade conquista o mercado diante da praticidade da venda a pronta entrega e vira a principal fonte de renda de muitas mulheres. Com preços competitivos e atendimento personalizado, as sacoleiras garantem lucratividade
Para melhor organização dos produtos, Elis Camargo transformou um dos cômodos da casa em depósito. (Foto: Divulgação)
jrtsoares@ucs.br
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Me compra barato como se fosse... Sacoleira, sacoleira”. Já dizia um verso da canção Rumba de La Pasión, da cantora Gil Melândia, referindo-se ao próspero mercado de trabalho das vendedoras independentes. As sacoleiras, como também são conhecidas, levam até seus clientes, onde eles estiverem, os produtos de que precisam, pelo valor que podem pagar. Além disso, oferercem mobilidade e horários flexíveis. Com a intenção de aumentar as vendas, essas profissionais utilizam estratégias como selecionar os produtos que serão apresentados aos seus clientes de acordo com os seu gosto e levar artigos complementares aos solicitado, podendo comercializar vários itens em vez de vender apenas um por consumidor. Muitas revendedoras fizeram da atividade de sacoleira a sua principal fonte de renda diante da crise financeira que assolou o País nos últimos anos, desempregando e criando instabilidade. Por esse motivo, algumas pessoas trocaram de ramo profissional, como é o caso da vendedora independente Elis Regina de Camargo, 28, de Caxias do Sul. Há cinco anos ela largou o emprego como controladora de estoque de um hospital da cidade para virar autônoma. Formada há dois anos em administração de empresas, Elis viu na comercialização de roupas e acessórios femininos uma nova e promissora fonte de renda.
“Com a rotina das pessoas é cada vez mais corrida, o papel da sacoleira é fundamental para quem precisa de economia e praticidade, pois muitos não têm tempo de pesquisar preços e comprar”, comenta ela. Elis iniciou na operação de venda independente em 2010, quando percebeu a oportunidade de oferecer seus produtos em sua página do Facebook, transformando-a em uma loja virtual, e criando álbuns de fotos a cada remessa adquirida. Tudo começou numa brincadeira, quando ela fez uma viagem e trouxe peças para si, além de presentes para a
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COMPREI COISAS A MAIS PARA MOSTRAR PARA AS AMIGAS E, QUANDO VOLTEI, VENDI TUDO EM MENOS DE UMA SEMANA, ATÉ O QUE TINHA TRAZIDO PARA USO PESSOAL
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JORGE RAFAEL
Elis Camargo, sacoleira
família. “Comprei coisas a mais para mostrar para as amigas e, quando voltei, vendi tudo em menos de uma semana, até o que tinha trazido para uso pessoal”. Atualmente, Elis tem um grupo fechado no Facebook, o Flor de Lis, com quase 1000 membros. Ela conta que a propaganda boca a boca foi se espalhando, fato que a obrigou a carregar muitos dos produtos dentro do carro
para facilitar as vendas a pronta entrega. A empreendedora costuma separar lotes de vendas para levar em empresas e pequenas lojas. Para garantir que seus produtos sejam entregues a tempo e com atendimento personalizado, ela conta com o auxílio de algumas revendedoras. Assim, consegue dar mais atenção às clientes que precisam de ajuda com dicas do que usar em determinadas ocasiões.
FORMALIZAR COM O MEI O retorno financeiro a curto prazo é um dos maiores atrativos da profissão. Essa forma de empreender também faz com que as sacoleiras sintam-se donas do seu próprio negócio, pois podem disponibilizar o horário mais viável para atender suas clientes. Esses são alguns dos motivos que levam essas profissionais com espírito empreendedor a formalizarem a profissão. Para as que se encaixam nesse perfil, existe o programa do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) chamado MEI (Microempreendedor Individual). O registro da empresa nessa modalidade possibilita a criação de um CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica), emissão de nota fiscal isenta de impostos, contribuição para a previdência social (INSS), e oportunidade de negócios com empresas. Também dá acesso a benefícios como auxílio maternidade, auxílio doença, aposentadoria, crédito com taxas especiais e pré-aprovado
em bancos, além de aumentar a credibilidade junto aos clientes cativo. Todo o processo de formalização por meio do MEI é gratuito. O único custo da formalização é o pagamento
mensal de R$ 44,00 (INSS), mais R$ 5,00 (Prestadores de Serviço) e/ou R$ 1,00 (Comércio e Indústria) por meio de carnê emitido exclusivamente no Portal do Empreendedor.
Elis largou o emprego para ser autônoma (Foto: Divulgação)