Textando Outubro 2017

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TEXTANDO

Atelier de Jornalismo Impresso Curso de Jornalismo Universidade de Caxias do Sul Número 2 | 2017/4 - outubro

Solidariedade em prol da vida Foto: arquivo pessoal

Centenas de pessoas já colaboraram com a vakinha do estudante Bruno Caldart para transplante de células-tronco. Página 3

Foro:wikimedia commons

Foto: Caroline Santi

Feira do Livro de Caxias do Sul celebra a diversidade dos leitores e tem aumento das vendas na Praça Dante Página 2

Grupo de intercambistas cria campanha para ajudar vítimas do terremoto no México Página 4


EDITORIAL

A solidariedade pode salvar

“O que eu faço é uma gota no meio de um oceano. Mas sem ela, o oceano será menor.” (

Foto: Lucimara Pezenti

Na contemporaneidade, a Por meio do compartilhamento em solidarie­dade é algo cada vez mais redes sociais, divulgação em sites, dentre necessário. Enquanto alguns conseguem outras plataformas, as informações sobre construir uma vida melhor, outros dequem precisa e como se pode ajudar chependem de ajuda para sua sobrevivência gam a qualquer lugar do mundo, alcane bem estar. Porém, o tempo do dia a dia çando diversas pessoas e grupos. está cada vez mais curto, o que algumas É necessário incentivar a solivezes impossibilita momentos para pensar darização por meio de instituições, nas pessoas que estão em situação de campanhas,­mobilizações para que se carência. possa viver em um ambiente cercado de Apesar de termos diversos movibondade e generosidade. mentos contra o preconceito, ele ainda é O despertar da solidariedade está um dos fatores que em sentir a dor do impedem as pesoutro, e no esforço soas de ajudar, pois para enxergar com alguns acabam foos olhos de quem cando as diferen­ precisa. É claro que ças do outro, o que não se pode ajudar barra o desejo e a todos de uma vez, Madre Teresa de Calcutá) porém, o pouco de o empenho de se solidarizar. Além uns é imensidão disso, o índice de violência está em crescipara outros. Auiliar com doações, mesmo mento, o que denuncia cada vez mais a limitadas, de roupas, alimentos, afeição, dificuldade em ajudar e ser ajudado, ao dentre outras coisas como o respeito, deve mesmo tempo em que dissemina o medo. afetar a vida de quem recebe e de quem Mas, esses aspectos não têm que ser ledoa positivamente. Madre Teresa de Calvados em consideração, pois uma minocutá explicou bem a importância do ato ria não pode atingir a maioria desprovida. de se solidariz­ar, dizendo que: “o que eu Mesmo com tais limitações, a faço, é uma gota no meio de um oceano. solidariedade pode ser um facilitador da Mas sem ela, o oceano será menor.” cooperação.

EXPEDIENTE

Atrás, da E para a D, Thamires Rodrigues Bispo, Gabriela Bento Alves, Carolina

de Barros Pereira Canton, Brenda Luísa Dalcero. Na frente: María Fernanda Morales Ramirez, Elisa Oliveira Ambrosi. Alessandra Teixeira (ausente) Reitor Dr. Evaldo Antônio Kuiava Diretora da Área de Ciências Sociais Dra. Maria Carolina Rosa Gullo Coordenador do Curso de Jornalismo Me. Marcell Bocchese Professora da disciplina Dra. Marlene Branca Sólio Atelier de Jornalismo Impresso Turma 2017/4

Universidade de Caxias do Sul Campus-Sede Rua Francisco Getúlio Vargas, 1130 Petrópolis, Caxias do Sul CEP 95070-560 Telefone: (54) 3218-2100 www.ucs.br Twitter: @UCS_Oficial Facebook: UCS Oficial

CULTURA

Feira do Livro agrada a todxs Temática da diversidade ilustra a 33ª Feira do Livro de Caxias do Sul, que foi sucesso

Thamires Bispo trbispo@ucs.br María Fernanda Moralez mfmramirez@ucs.br Há 33 anos, a Feira do Livro brinda Caxias do sul com o colorido dos livros, o som da cultura e as cores do conhecimento. Após a polêmica da última edição, que girou em torno da transferência do evento para a praça das feiras, junto à antiga estação férrea, a Feira do Livro retorna suas atividades principais para a Praça Dante Alighieri, na área central da cidade. A mudança parece ter surtido bons resultados: durante os 17 dias do evento, mais de 230 mil pessoas visitaram o local e suas atrações. Ao todo, as 45 bancas de livros comercializaram 57.172 exemplares, o que representa um aumento de 38% em relação à Feira do ano passado, conforme dados da Secretaria Municipal de Cultura. No entanto, o total de vendas ficou abaixo da expectativa da Associação dos Livreiros Caxienses (ALCA), que estimava cerca

de 100 mil unidades. A edição deste ano trouxe uma proposta descentralizada: as bancas de livreiros continuaram centralizadas na praça, mas outras atividades ocorreram em diversos pontos da cidade. A Biblio­ teca Parque, localizada junto à antiga estação férrea, a Biblioteca Municipal, o Recreio da Juventude, o Teatro Municipal Pedro Parenti, o Museu Municipal e a Casa da Cultura abrigaram oficinas, lançamentos, sessões de contação de histórias, apresentações, exposições e muito batepapo. Outra novidade foi a interdição da rua Dr. Montaury, entre a avenida Júlio

“A literatura nos leva para terras distantes, lugares em que nossa capacidade de compreensão, inclusivo do outro, é testada.” de Castilhos e a Rua Si­­­­­n­imbu, durante o período da feira. A área, que funcionou como uma espécie de lounge, facilitava a transição entre a praça e a casa da cultura.

Foto: divulgação

Brenda Luísa Dalcero bldalcero@ucs.br

Livros ocuparam a Praça Dante Alighieri

O Café do Arco da Velha funcionou como o “Café da Feira”. Outra novidade dessa 33ª edição foi a “cápsula do tempo”. Um baú foi disponibilizado em um dos estandes na Feira. Nele, os leitores puderam depositar bilhetes, depoimentos sobre seu sentimento ao abrirem um livro pela primeira vez e como se sentiam ao transitar pela Feira. A cápsula foi fechada no último dia de Feira e será reaberta daqui a 17 anos,

na comemoração do centenário da Feira do Livro. “A ideia da cápsula do tempo é registrar o que as pessoas pensam, já que estamos trabalhando com uma feira que busca a relação de afetividade entre livro, leitura e leitor”, explicou a então Secretária de Cultura de Caxias do sul, Adriana Antunes, que destacou: “A literatura nos leva para terras distantes, lugares em que nossa capacidade de compreensão, inclusivo do outro, é testada”, conclui.


SOLIDARIEDADE

Jovem caxiense faz arrecadação online para transplante Em apoio ao estudante Bruno Caldart, centenas de pessoas aderem à arrecadação monetária para seu transplante de células tronco

Thamires Bispo trbispo@ucs.br María Fernanda Moralez mfmramirez@ucs.br O estudante de jornalismo Bruno Rober­to Caldart, de 26 anos, é de Caxias do Sul e está em uma batalha contra a doença de Crohn, inflamação no intestino que causa cólica, diarréia, febre, anemia, perda de peso, entre outros sintomas. Em casos mais graves, há a necessidade da retirada de partes do órgão afetado. Foi o caso de Bruno, que aos 14 anos descobriu a doença e em 2008 fez sua primeira cirurgia. Depois de três cirurgias, o jovem caxiense usou a bolsa de colostomia de 2008 a 2011. Até o ano de 2015, ele passou bem, mas a medicação começa a não fazer mais efeito, e seu quadro de saúde impossibilita nova cirurgia. “Fiz um tratamento com comprimidos por três anos, até 2008, quando tive a primeira recaída e passei por uma cirurgia. De 2008 a 2011, foram três cirurgias. A partir de 2011, comecei a tomar medicações biológicas, que eram novas, e me dei bem com esse tratamento de 2011 a 2015. Porém, a medicação não fazia mais efeito. Nessa época, surgiram novos remédios. Troquei ano passado e também nesse ano, e não fez o efeito esperado. Então o médico me chamou no consultório e falou que eu teria que operar de novo, mas que eu estava com anemia, peso baixo e a cirurgia seria de alto risco. Para evitar a cirurgia, ele sugeriu que o tratamento de células tronco em São Paulo, na cidade de São José do Rio Preto”, relatou Caldart. O médico de Bruno, Eduardo Brambilla, explica que “a Doença de Crohn é uma patologia que provoca processo inflamatório contínuo do tubo digestivo, o que pode causar estreitamento e perfuração do intestino e pode ser

“Espero que as pessoas não esqueçam nossa causa e continuem nos ajudando, porque a população caxiense é grande e sei que ainda podem nos ajudar muito” acompanhado de fístulas”. O médico relembra, também, o início do tratamento. “Atendi o Bruno, pela primeira vez, em uma crise em que o intestino perfurou e

ele teve um quadro de peritonite grave. Necessitou de cirurgia com ressecção intestinal e colostomia. Desde aquela primeira intervenção, o Bruno precisou realizar outras cirurgias por fístulas abdominais, passou um período de melhora em que recuperou sua condição física e pôde fechar a colostomia. Além de cirurgias, ele passou por vários tratamentos e se manteve em bom estado por até dois anos, quando as medicações perderam efeito. Foram tentados vários medicamentos neste período, sem que se interrompesse a inflamação e surgissem novas fístulas abdominais, comprometendo seu estado geral”, relatou. No Brasil, o procedimento de transplante de células tronco apenas pode ser feito em São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Após a realização, o paciente pode voltar a viver uma vida normal, com muito mais facilidades no dia a dia. Porém, nem o SUS, nem convênios particulares cobrem o transplante, e o custo total para que o processo seja feito é de cerca de 300 mil reais. Somente a cirurgia custa R$ 275 mil. É preciso computar, ainda, a exigência de hospedagem por dois meses, para preparação e exames, o que leva os gastos

“Eu quero poder estudar, concluir meu curso, sair com meus amigos. Voltar a ter uma vida normal” à casa dos R$ 300.000,00. Brambilia afirma que há benefícios para Caldart no transplante. “No momento não existem no mercado drogas que poderiam ser usadas e novas cirurgias poderiam comprometer a absorção dos alimentos, pois ele já tem um intestino no limite de extensão. A indicação de transplante de células tronco para o Bruno seria uma terapia em que se procura retirar as células inflamatórias doentes e reinserir células normais que respondam ao tratamento da doença”, esclareceu

MOBILIZAÇÃO Na tentativa de ajudar, Aline Rodrigues Maria, prima do universitário, criou uma conta em um site de arreca­ dação. Por meio dele, as pessoas podem se solidarizar, fazendo suas doações. “Conhe­ci a vakinha através do meu namorado, que me deu a ideia de fazer uma para meu primo, pois ele estava convivendo com a minha angústia em querer ajudá-lo mas não encontrar maneiras. Foi então que tudo começou. Conversei com o Bruno sobre a possibilidade e a criei. Eu estou muito feliz com a proporção

Foto: arquivo pessoal

Brenda Luísa Dalcero bldalcero@ucs.br

Grupo arrecaou fundos no centro de Caxias do Sul

que essa mobilização tomou na cidade de Caxias do Sul, e a cada depósito em nossa vakinha a esperança se renova e as forças para continuar lutando se recarregam. Espero que as pessoas não esqueçam nossa causa e continuem nos ajudando, porque a população caxiense é grande e sei que ainda pode nos ajudar muito”, conta Aline. O caxiense Bruno também relembrou como a campanha de arrecadação teve início: “Minha prima teve a ideia de fazer essa campanha. Eu concordei, mas sem esperar nada pois eu não tinha muita expectativa no início”, recorda o estudante. A “vakinha” repercutiu em vários meios de comunicação regionais e estaduais, o que proporcionou um ritmo de arreca­ dação superior ao esperado. “Fiquei um pouco surpreso com a repercussão. Onde eu trabalho, o pessoal entrou em contato com outros meios de comunicação e, prontamente, muitas pessoas vieram falar comigo e oferecer apoio. Hoje, a expecta-

tiva é de pelo menos conseguir o dinheiro para as despesas que a gente está tendo com todos os exames, viagens, suplementos e acomodações”, revela. Após perder cerca de 15 quilos, Caldart fala sobre suas dificuldades em trabalhar e em estudar. “O tratamento não é o problema. A questão é que os remédios não estão fazendo efeito. Então tem dias que tu tem febre, tem dias que tu tem bastante dor, e todas essas complicações que a gente precisa conciliar com os estudos e o trabalho”, diz. Ele também fala sobre sua expectativa após o procedimento: “Após o transplante, eu espero voltar a minha rotina, porque a necessidade de ir ao plantão e ao hospital é contínua. Eu quero poder estudar, concluir meu curso, sair com os meus amigos. Voltar a ter uma vida normal”, finaliza, esperançoso, o estudante.

Para doações, o site de arreadações de Bruno Caldart é https://www.vakinha.com.br/vaquinha/transplante-de-celulas-troncoe0734c50-4089-497c-90a3-200dbe15b2fb Além disso, há possibilidade de doação por meio da da Caixa Econômica Federal, em nome de Roberto Caldart: Agência: 3112 Conta: 08066 - 6 Operação: 013


SOLIDARIEDADE

Brasileiros ajudam mexicanos após terremoto

Grupo de estudantes cria corrente de apoio após o terremoto que sacudiu o México e deixou centenas de mortos e feridos, assim como enormes danos materiais

moram no Rio Grande do Sul sentiu a tristeza que assola seu país, onde muitas pessoas sofrem por falta de comida, moradia e vestimenta, em luto pelos mortos e desaparecidos. Para tentar diminuir o sofrimento e não ficar de braços cruzados, eles iniciaram uma campanha chamada “Ajuda para MéUm terremoto de magnitude 7.1 xico do Brasil”. O objetivo na escala Richter sacudiu o México no é incentivar a comunidade último dia 19 de setembro, à 1h15min da gaúcha a contribuir com a tarde. A data merece destaque não apenas causa mexicana por meio pelo fato, mas também pela coincidência. de colaboração financeira. No mesmo dia, em 1985, outro terremoto A ideia foi acolhida por deixou milhares de mortos no país. Trinta colegas dos intercambistas e dois anos depois, a catástrofe deixou na Universidade de Caxias danos menores, mas ainda assim contado Sul, que ajudam na dibiliza mais de 200 mortos, 44 edifícios vulgação em redes sociais, desmoronados e centenas de moradores pedindo apoio e enviando desaparecidos. Apesar da dor, a tragédia manifestações de solidarie­ trouxe uma bela mostra de solidariedade dade. de todo o mundo. A coleta começou no dia 22 de A diferença entre o abalo sísmico setembro, com uma ação no centro de de 1985 e o de hoje é que, dessa vez, a Caxias do Sul. Os estudantes estiveram no ajuda veio de forma veloz, e o povo mexilocal das 11 das manhã até às quatro da cano se solidarizou. Profissionais das mais tarde, com cartazes, bandeiras e outros objetos representativos do México, para chamar a atenção dos cidadãos caxienses Todo o dinhei­ro arrecadado será destinado a algumas das instituições que abriram contas bancárias para receber depósitos de todo o mundo. Uma delas é a da brigada de resgate Topos Tlatelolco, que, por meio do Twitter indicou que as doações podem ser feitas no Santander em número de conta 92000709294. A Cruz Vermelha Mexicana é outra que forneceu nas redes sociais uma imagem para fazer os depósitos ao banco Bancomer em nome Colegas da Universidade de Caxias do Sul aderiram à campanha da IAP da Cruz Vermelha Mexicana conta 0404040406. Além diversas áreas, universitários, pedreiros, disso, o Banco Santander abriu uma conta empregadas e uma infinidade de diferen­ especial, sob o nome de Ajuda Santander, tes pessoas oferecem sua ajuda gratuita para receber doações em dinheiro. O para remover escombros, alimentar as número da conta é 65501821470, a chave equipes de resgate e ajudar as pessoas de pagamento referenciada é 00100 e a atingidas. chave a pagar é 001452315501821470. Um grupo de mexicanos que

Foto: María Fernanda Moralez

Brenda Luísa Dalcero bldalcero@ucs.br Thamires Bispo trbispo@ucs.br

Foto: María Fernanda Moralez

María Fernanda Moralez mfmramirez@ucs.br

Grupo arrecaou fundos no centro de Caxias do Sul

“Foi muito chocante ver os edifícios colapsados, as escolas desmoronadas. A primeira coisa em que eu pensava era como estava a minha família. Eu tinha muito medo de que algo acontecesse com eles” (Jesus Orduña, mexicano) A resposta dos gaúchos foi muito boa. Eles nos perguntaram se a nossa família estava bem e tudo, uma experiência incrível de solidariedade, de pessoas estranhas ajudando o meu país” (Sol Gonzalez) “O México é minha terra natal. Aquela que me viu crescer e não posso simplesmente vêlo colapsar. É por isso que eu decidi ajudá-lo, mesmo que distante”

(María Fernanda Moralez)

LUTO A DISTÂNCIA A estudante de Comunicação Fernanda Morales, mexicana, ressalta os motivos que levaram ao início da campanha. “O ponto mais importante para fazer a coleta é o espírito de patriotismo que eu tenho para o meu país, que está sofrendo. Não posso ficar de braços cruzados. Qualquer ajuda que puder oferecer ao meu país, mesmo de longe, vale a pena. Foi chocante ver os edifícios colapsados, as escolas desmoronadas. A primeira coisa em que eu pensava era como estava a minha família. Tinha muito medo de que algo acontecesse com eles”, explica. A mexicana Sol Gonzalez, fala sobre a reação da população. “Fiquei muito triste com a maioria dos mexicanos que ficaram sem nada e veio a ideia de ajudar apartir daqui. A resposta dos gaúchos foi muito boa. Eles nos perguntaram se nossa família estava bem e tudo, uma experiência incrível de solidariedade, de pessoas estranhas, ajudando o meu país”, destaca. O também mexicano Jesus Orduña sintetiza o sentimento. “O México é minha terra natal. Aquela que me viu crescer e não posso vê-lo colapsar. É por isso que decidi ajudar, mesmo distante”, relata.

Para mais informações, acesse a página no Facebook Ajuda para México do Brasil https://www.facebook.com/ Ajuda-Para-M%C3%A9xicoDo-Brasil-170251026859769/


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