P
ossivelmente a melhor parte em estudar jornalismo é a certeza de que não importa o semestre ou disciplina cursada, não haverá rotina. Não é um daqueles cursos regrados, com provas complexas, gente surtando e professores vilões. Está bem, vez por outra alguém até surta e alguns professores até assustam um pouquinho, mas não chega a ser um estigma do curso. Acima de qualquer coisa jornalismo é um curso prático. Estudar comunicação é algo que precisa ser prático. Não se aprende jornalismo teorizando e esperando o momento certo de aplicar o que aprendeu. Claro, a teoria é imprescindível etc, etc e tal, contudo jornalismo se aprende fazendo. Testando recursos, buscando novas possibilidades e principalmente se experimentando. A proposta de fazer um jornal em um período aproximado de quatro meses, parece simples. Fica mais fácil ainda quando você descobre que vai fazer apenas uma matéria. Afinal no mercado de trabalho
a missão é produzir uma ou até mais matérias em um dia. As vezes em horas. Mas, porém, entretanto e contudo não é bem assim. Embora soe como heresia, o excesso de prazo é um vilão e tanto. Sonhamos em ter todo tempo do mundo para fazer uma boa matéria, bem apurada, com infográficos e diversas fontes. Como já disse, prazos longos são vilões, uh, e dos piores. Ele começa te dando a falsa sensação de segurança: “Está tudo sob controle. Temos todo tempo do mundo. Amanhã eu faço.” E quando você se dá conta o “amanhã” durou meses. Você mal foi atrás das fontes. Resolve abrir mão do infográfico, e começa até rezar pra pauta escolhida não cair. E a duas semanas do prazo final. A pauta cai. Nem toda teoria do mundo te salva disso. Mas, vale cada segundo da experiência – isso claro, se tudo terminar bem. Roger Busetti Torres
B
runo e Bianca vivem juntos há 15 anos. Ele é advogado. Ela é analista de sistemas. Naquela noite eles se arrumaram com esmero para ir à festa. Vieram de Porto Alegre até Caxias do Sul, juntamente com um casal de amigos para participar de uma balada liberal, como também são chamadas as festas que ocorrem nas casas de swing. A equipe do Textando acompanhou uma dessas festas, que são realizadas semanalmente em Caxias, e mostra como se desenrolam esses encontros, onde muitos casais experimentam novas formas de se relacionar. O evento ainda é novidade na cidade onde “caxias” não é apenas o nome do município.
O conservadorismo ainda faz com que práticas, como o swing, sejam vistas com receio por grande parte dos moradores e ocorram sem muita divulgação. A reportagem, que pode ser caracterizada pelo estilo de Hunter Thompson, o jornalismo gonzo, nos permitiu uma liberdade narrativa onde abandonamos a objetividade para nos misturarmos ao ambiente para narrar de forma mais pessoal a nossa experiência. Desejamos uma prazerosa (individual, a dois, a três, a quatro...) leitura a todos. Sol Maia Vagner Barreto
GABRIELA ROSSETTI gabi-rosseti@hotmail.com
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entro do contexto de crescente urbanização global, podemos destacar o aumento das construções civis e a verticalização das cidades. Construções de grandes edifícios, que antes eram associados com as metrópoles, hoje também modificam o visual de cidades interioranas. Caxias do Sul também faz parte desta realidade. Conforme dados da prefeitura e do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon),
Em Caxias do Sul, a altura máxima de um edifício é calculada pela soma da largura da via com o afastamento frontal efetivo multiplicado por 1,5. Ou seja, quanto mais distante da via, mais andares podem ter. Assim a arborização e a ventilação não ficam prejudicadas. Além do cálculo aplicado, a altura máxima permitida depende da zona de construção que pode ser residencial, industrial ou comercial. As zonas residenciais também podem interferir no tamanho do edifício. Por exemplo, os bairros Cinquentenário e Colina Sorriso, conforme o Plano Diretor, são estritamente residenciais. Isso limita a altura dos prédios que não podem ultrapassar dez metros.
Como calcular a altura máxima permitida de um prédio em Caxias do Sul: * h (máx) = 1,5 x (L(via) + A(fe) * h (máx) = altura máxima permitida * L(via) = largura da via
GABRIELA ROSSETTI
* A(fe) = Afastamento frontal efetivo
em 2009, foram quase 900 mil metros quadrados de construções aprovadas. Em 2012 esse número aumentou para mais de um milhão. Basta observarmos ao redor da cidade. São construções e mais construções, principalmente de prédios que já extrapolaram as áreas centrais. Somente até abril deste ano mais de 320 mil metros quadrados de área já tinham sido aprovados. Mas, isso seria um problema? Segundo o secretário de Urbanismo de Caxias do Sul, Fabio Scopel Vanin, o excesso de edificações seria um problema apenas se fosse associado com o aumento populacional. Porém, o número
de construções que mais cresceu foi na área comercial. O aumento foi de 13,81%, comparado ao ano de 2009. “Se aliarmos a construção de prédios com a sustentabilidade urbana não há problemas”, diz o secretário. Por isso, é preciso trabalhar o projeto de construção em harmonia com a situação do transporte público e arborização das cidades. Para evitar danos, existe o Plano Diretor Municipal onde constam algumas regras que os construtores devem seguir. Por exemplo, antes de erguer um prédio, uma construtora precisa da aprovação do projeto.
MIRNA MESSINGER mirna.messinger@gmail.com
O
simples fato de ouvir uma música causa sensações de diferentes formas e níveis a um indivíduo. Independentemente do gênero, a simplicidade de cada melodia nos afeta de maneira particular, e traz benefícios comuns a qualquer um. Mas, mais do que divertir, entreter ou meramente servir de companhia, a música, em alguns casos, também serve como terapia. Muitas pessoas têm escolhido o embalo de algumas canções para buscarem a cura de seus males. Assim, alia-se o gosto pela música à necessidade de obter resultado em algum transtorno específico. Em Farroupilha, a Maria Carolina Musicoterapia e Escola de Música, em funcionamento desde 2010, além de oferecer aulas de canto e instrumentos, também recebe pacientes que buscam solucionar problemas psiquicos. De acordo com a proprietária, a musicoterapeuta Maria Carolina Grazziotin Brites, de 22 anos, o motivo de maior procura na clínica é para encontrar soluções para déficit de atenção e falta de limites. “A música
é uma linguagem universal que pode auxiliar qualquer pessoa”, afirma. Além disso, conforme explica a profissional, as canções podem servir de remédio para pessoas de qualquer idade, como bem exemplifica a própria clínica, onde o menor deles tem um ano e cinco meses, e o mais velho 75. “Não tem limite de idade”, reforça a musicoterapeuta. Maria Carolina explica que não é possível delimitar uma quantia específica de sessões necessárias para alcançar um resultado efetivo. “O tratamento depende do objetivo que queremos alcançar e das respostas obtidas nas sessões”, explica. Segundo ela, as consultas possuem uma sequência semelhante, mas cada paciente recebe um atendimento específico. Antes de dar início à sessão, o especialista preenche uma ficha onde constam informações como: as músicas de preferência do paciente, se existe, ou não, algum músico na família, as canções ou instrumentos que a mãe ouvia durante a gestação, a idade, a causa da procura pela musicoterapia, se o paciente toma alguma medicação, entre outros dados. A partir deste parecer, é formada a denominada ISO (identidade sonora) do pa-
MATEUS BRITES
Atualmente, cerca de 900 profissionais em todo o País estão aptos para atuarem na área, em diversos segmentos
ciente. Assim, com estas informações, Maria Carolina prepara cada sessão. “Não existe uma fórmula de cura, cada paciente é diferente”, salienta. Conforme detalha a musicoterapeuta, durante as sessões, os pacientes tocam ou cantam – conforme o objetivo a ser atingido –, tendo a possibilidade de utilizar os instrumentos de percussão, teclas, cordas e sopro. “É legal deixar claro que o paciente não precisa saber tocar ou cantar, basta apenas gostar de música”, destaca.
QUEM E DE QUE FORMA ATENDE
O
musicoterapeuta pode atuar individualmente ou junto à equipe de saúde, em atendimento a pacientes na clínica, no ambulatório, na internação hospitalar ou ainda em centros voltados a clientelas específicas, de acordo com a presidente da Associação Gaúcha de Musicoterapia (Agamusi), Maria Helena Rockenbach. “É o profissional que atua na promoção, prevenção e reabilitação de pessoas, seja no campo da saúde mental, da reabilitação física em outras áreas e seus desdo-
De acordo com a presidente da Associação Gaúcha de Musicoterapia (Agamusi), Maria Helena Rockenbach, em 1975 foi graduada a primeira turma do Curso de Graduação em Musicoterapia, no Brasil, no Conservatório Brasileiro de Música do Rio de Janeiro. Segundo ela, os cursos de graduação em Musicoterapia têm reconhecimento do Ministério da Educação (MEC), mas a profissão não é regulamentada, somente consta no Código Brasileiro de Ocupações. Segundo Maria Helena, oito
- Pacientes em longos períodos de internações hospitalares - Saúde do trabalhador bramentos”, diz Maria Helena. - Oncologia-Hemato - UTIs São eles: - Dependentes químicos - Saúde mental - Pessoas com transtornos alimentares - Capacitação de profissionais (anorexia, bulimia) - Pessoas portadoras de transtornos de - Portadores de hemofilia, pacientes de desenvolvimento e síndromes em geral hemodiálise - Gestantes e bebês - Pessoas em situação de risco Social - Reabilitação motora e global (indiví- (moradores de rua, presidiários, entre duos portadores de deficiências, lesa- outros) dos medulares, TCE, AVC) - Estresse e depressão - Portadores de AIDS - Terceira Idade
instituições de ensino superior no País oferecem o curso de graduação em Musicoterapia. No Rio Grande do Sul, a graduação é ofertada somente nas Faculdades EST (Escola Superior de Musicoterapia), em São Leopoldo. Atualmente, estima-se que haja cerca de 900 profissionais em todo o País, habilitados para atuar na área. Maria é musicoterapeuta da AACD, doutora em Letras pela PUC/RS e especialista em musicoterapia pelo Conservatório Brasileiro de Música do Rio de Janeiro.
ROGER BUSETTI TORRES roger.busetti@gmail.com
O
vocábulo “deficiente” é pesado. É uma daquelas tais palavras ambíguas que mesmo sendo fortes ao mesmo tempo carregam um estigma de delicadas. Não é o conjunto de fonemas tampouco a grafia. É o significado. Ser “deficiente” contrapõe-se a eficiente, palavra mais leve e que serve até como elogio. Deficiente embora também adjetivo, vem na contramão. Quase sempre usado como rótulo, o sentido empregado sugere que a palavra está correlacionada a insuficiente. O termo e sua aplicação não estão errados. Mas, também não estão certos. Por quê? Já explico. Vamos falar primeiro sobre Lucas Borba, 21 anos, estudante de Jornalismo da UCS e cego desde o nascimento. Ele nunca enxergou. Sabe que o conceito de cores existe, mas não sabe o que elas representam. Sabe o que são formas, mas ele não precisa delas. O rapaz está imune a todo estímulo visual que o mundo ostenta e usa como atrativo. Podemos até acrescentar que ele está acima disso. Lucas aprendeu a não precisar da visão. Pode dar-se ao luxo de sentir o mundo, não só enxergá-lo. E isso já é mais do que muita gente consegue. No quarto semestre do curso de jornalismo, afirma que tem sido muito bem recebido pelos colegas e professores. Em nenhum momento, sentiu-se limitado. Sim, teve medo. Receio de encarar um mundo novo, cheio de desconhecidos. Mas, nada que o tenha convencido a desistir. Elogiado por todos professores, Lucas participa mais nas aulas do que muitos outros alunos videntes – denominação dada a quem enxerga. Nas apresentações em grupo e seminários de aula mostra uma poder de memória e domínio do conteúdo fora do comum. É capaz de citar trechos inteiros de livros e artigos lidos sem se perder, gaguejar ou confundir informações. Isso é
tudo? Não. Lucas é estagiário da Agência Experimental de Comunicação da UCS a quase seis meses, e está dando conta do recado. Redige notícias. Entrevista. Produz conteúdo para o portal da agência. Produz textos de todos tipos e assuntos. E, quando convidado, até já participou de um programa de rádio – também parte da agência – dando dicas de filmes. Sim, filmes. Lucas não se deixou dobrar pelas aparentes limitações ou como alguns definem, deficiência. Reuniu forças. Se manteve aberto. E adaptou-se. Para a assistente social Kátia Pasquali Dosso, 54 anos, pessoas com baixa visão ou cegas não são incapazes. Precisam sim de adaptação e atenção específica em alguns momentos. Mas de forma alguma possuem menos capacidade de ação. Muitas vezes, não é que um deficiente visual não pode realizar determinada tarefa, ele pode, só que de uma forma diferente. Na sua trajetória de 20 anos prestando auxílio a cegos, ela afirma que é gratificante ver a superação e evolução pessoal de pessoas com deficiência visual.
“Não tem satisfação maior do que ver alguém, antes deprimido e com dificuldade de se encaixar no mundo, conquistando um emprego, casando, tendo um projeto de vida”, acrescenta ela. O preconceito ainda é o maior vilão. Para Kátia, capacitar e incluir socialmente pessoas com deficiência visual é uma batalha. Ela diz: “São muitas as formas de preconceito, as pessoas são fechadas de mais e não querem se abrir para novas possibilidades.” A assistente social ainda aponta também a falta de acessibilidade urbana. É pouco e quase nenhum o investimento público e também privado na implementação de padrões de acessibilidade. Ainda há muitas batalhas a serem vencidas. Uma pessoa cega, que fala bem, tem bom nível intelectual e está dentro do ambiente acadêmico, chama sim muita atenção. Entretanto o preconceito ainda impede que um cego ou deficiente visual seja considerado capaz – pelas pessoas a sua volta – de executar atividades cotidianas tais como vestir-se sozinho, alimentar-se, interagir socialmente de forma ade-
quada, competir no mercado de trabalho, casar-se e ser um cidadão realmente ativo. Desenvolvimento intelectual é importantíssimo. Mas, ainda há muito a crescer nas ativi-
Quer ajudar? Saiba como:
go pela rua Ao guiar um ce tente não puxe, nem ovimentos. m us se ir conduz pessoa em da Coloque a mão ado - que br do lo ve to seu co o á ar ela acompanh seu corpo. movimento do
Trate com iguald ade. O deficiente vis ual faz as mesmas coisas que você, mas usa técnica s diferentes.
No convívio social ou profissional, não exclua as pessoas com deficiê ncia visual das atividades nor mais. Deixe que elas decida m como podem ou querem par ticipar. Proporcione às pessoa s cegas ou com deficiência vis ual a mesma chance que voc ê tem de ter sucesso ou de falhar.
dades da vida diária. Isto é, respeita-se a pessoa como ser intelectual, mas ainda há muita dificuldade em enxergar o cego, como alguém capaz e independente.
om essoas c pre as p Nem sem visual precisam ia deficiênc o encontrar .A de ajuda a estar ue pareç q m é u lg a , s e ldad em dificu e, faça-a e-s u q fi ti n e está id que você reça r e b e fe perc o e om ela falando c Nunca ajude io. seu auxíl tar antes como un sem perg . -lo ê z fa e dev
Fique a palavr vontade par as a "olhe". como "veja usar "e As pes as usa s m com oas cegas natura lidade . z um tom de vo Ao falar, use a cego é um normal. Ser outra. o rd su a, cois
CAMILA BAGGIO c.baggio@hotmail.com
U
ma forma de organização que tem como diferencial promover o desenvolvimento econômico e bem estar social simultaneamente, o cooperativismo é baseado na união de pessoas, sendo esse o seu maior capital. No setor vitivinícola, as pequenas cantinas fecharam as portas devido à dificuldade na venda dos estoques, que aumentam a cada ano. A solução está na união e gestão - no cooperativismo. No Brasil, a prática do cooperativismo teve início no final do século 19, mas a cultura já poderia ser observada desde a época colonial. Ela se desenvolveu tanto
LARISSA VERDI
no meio urbano quanto no rural, tendo forte influência das culturas alemã e italiana, principalmente na área agrícola. Os imigrantes trouxeram de seus países de origem a bagagem cultural, o trabalho associativo e a experiência de atividades familiares comunitárias, que os motivaram a organizar-se em cooperativas. A Cooperativa Nova Aliança tem mais de 80 anos de experiência no cooperativismo. São cinco tradicionais cooperativas vitivinícolas da Serra gaúcha: Aliança e São Victor (de Caxias do Sul), Linha Jacinto (de Farroupilha), Santo Antônio e São Pedro (de Flores da Cunha), que juntas decidiram se transformar em uma única família, reunindo pessoas e valores. Hoje a cooperativa agrega mais de 800 famílias associadas.
O segredo é união e confiança Para o diretor-presidente da Cooperativa Nova Aliança, Alceu Dalle Molle, o cooperativismo é a única solução para as pequenas cantinas, uma cooperativa acompanhada de confiança e união. “A alternativa para que o pequeno agricultor continue trabalhando e produza otimizando a estrutura que já tem é de forma associativa. O modelo cooperativista seria o mais fácil e inteligente para esse processo. O que o produtor precisa é se organizar, como fazer compras conjuntas, utilizar uma estrutura de contabilidade, técnica e enológica em comum”, explica o empresário, que também é presidente CAMILA BAGGIO
da Federação das Cooperativas Vinícolas do Rio Grande do Sul (Fecovinho) e integrante do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin). A confiança e a união são pontos fundamentais na formação de uma cooperativa – é o que o diretor da Nova Aliança chama de “gestão confiança”. “Se você não tem gestão e não tem confiança no seu parceiro é melhor fechar as portas. É preciso ter essa capacidade de trabalhar em sociedade, caso contrário, fica realmente muito difícil”, acredita. Atualmente, a venda do vinho a granel sofre com a baixa do preço, o que poderá mudar nos próximos anos, mas que depende dessa organização para ter benefícios. “Essa futura melhora na rentabilidade vai beneficiar quem estiver mais organizado. Essa é a lógica de unir esforços: gastar menos e procurar ganhar mais”, orienta Dalle Molle.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Flores da Cunha e Nova Pádua, Olir Schiavenin, destaca o cooperativismo como fundamental para a sobrevivência e crescimento do setor vitivinícola. “A organização do pequeno produtor em cooperativas é um dos únicos caminhos para fazer com que o agricultor tenha sucesso e uma atividade de futuro. Se não for em grupo e com organização é muito difícil a sobrevivência”. O presidente cita o exemplo da safra 2012/2013, onde muitos produtores ficaram sem colocação de suas uvas no mercado, em uma cooperativa isso não aconteceria. “A força não está somente na comercialização, mas também na compra de insumos, na própria produção e na dificuldade de mão de obra. É através da cooperação, da união e da organização de grupos que teremos mais potência. São passos mais largos para o futuro. Sozinho o agricultor fica prejudicado”, destaca o sindicalista.
S
er sócio de uma cooperativa garante ao agricultor outro fator importante: a tranquilidade. Esse é um ponto fundamental para o produtor Gilberto Verdi, 51 anos, morador da comunidade de São Vítor, em Flores da Cunha. Há mais de 25 anos ele é sócio da Cooperativa Nova Aliança e faz uma lista de vantagens no sistema cooperativo. “Temos três grandes pontos fundamentais: o primeiro é o preço. Em uma cooperativa temos um preço definido para nossa uva, o que no mercado livre infelizmente não existe. O segundo fator é o acompanhamento profissional. São agrônomos e engenheiros que visitam a propriedade periodicamente, garantindo a qualidade dos produtos. O terceiro e mais importante é o lugar garantido para entregar a produção”, garante Verdi. Juntamente com a esposa Neide, 48 anos, o produtor trabalha com três hectares de uvas americanas. Para Verdi, o cooperativismo está conquistando muitos agricultores, diferente de alguns anos atrás. “A confiança e tranquilidade na cooperativa está crescendo. Antigamente quem fazia parte de uma cooperativa era taxado de ignorante, mas hoje quem é cooperativo está garantido. E essa visão que está mudando pode até conquistar outros produtos vindos da uva, agregando ainda mais produtores, mais qualidade e mais consumidores”, acredita o agricultor. Verdi tem como carro chefe a uva, mas conta também com a produção de mel, criação de gado e reflorestamento.
Empresas e agências de comunicação descobrem um novo canal de mídia, com mais impulso à publicidade nas redes sociais, para consumidores na Internet
ANA ROMANI ana.romani@gmail.com
A
internet soma mais e mais adeptos e abre as portas para um universo de possibilidades de negócios. Na América Latina, nenhum país gasta mais tempo online que o Brasil. Os brasileiros passam em média 27 horas na Internet por mês. Os dados são da empresa ComScore, líder global em medições e análises digitais. “O cenário digital brasileiro mostrou uma mudança significativa em 2012, causada pela forte ascensão das redes sociais”, declara Alex Banks, diretor executivo da ComScore para o Brasil e vice-presidente na América Latina, em nota no site da empresa. “À medida que esses veículos continuem a crescer, estarão promovendo novas e excitantes oportunidades para meios de publicação que querem atrair audiências e empresas que desejam alcançar consumidores.” Outro enorme potencial da web é a interatividade, o que faz a cabeça de anunciantes e consumidores. “Hoje os consumidores não querem mais ser passivos das marcas, esperando uma oferta ou um contato”, afirma Eduardo Pezzi, professor e consultor de marketing. “Eles querem produzir junto, ter voz e falar sobre suas experiências, ou para a marca ou para seus amigos”. As ferramentas da chamada Web 2.0 deram impulso à interatividade na internet ao garantir ao internauta acesso a serviços de fácil uso e a maioria deles gratuitos. A ideia da Web 2.0 é tornar o ambiente online mais dinâmico e fazer com que os
usuários colaborem para a organização de conteúdo. Estão nessa categoria blogs, sites de compartilhamento de fotos e vídeos, publicação de comentários em portais de notícias e sites de comércio eletrônico. Planejamento O usuário brasileiro é interativo e busca diversas formas de acessos constantemente. Para Patrícia Claus, mídia da Laymark Propaganda de Caxias do Sul, o maior desafio de fazer um planejamento de mídia digital é acertar os canais para criar o maior número de impactos no público alvo desejado. “Para uma atuação de sucesso no meio digital é preciso planejamento, estratégia e conhecimento de mercado. Embora ainda pequeno se comparado ao valor destinado a mídias tradicionais, o investimento dos anunciantes em internet tem crescido. “Em janeiro e fevereiro de 2013 os investimentos publicitários em internet já ultrapassaram o montante veiculado em revistas. Enquanto o faturamento do bimestre em revistas foi de R$ 188,42 milhões, a web recebeu R$ 189,7 milhões, excluindo deste montante redes sociais e buscadores”, afirma Patricia. Segundo ela, “neste mesmo bimestre o investimento já garantiu o terceiro lugar no ranking de participação de mercado com 4,74% do share de investimento total. Até o fim de 2013, acredito que os investimentos em mídia digital já terão alcançado o segundo lugar entre os anunciantes”, defende Patricia.
O crescimento da mídia digital no Brasil O Brasil deve chegar ao fim de 2013 com cerca de US$ 20,3 bilhões investidos em publicidade online, e isso vai dobrar até 2016, afirma estudo do eMarketer. Estima-se que o investimento em publicidade digital este ano será 13,7% maior que o de 2012, o que colocaria o meio digital na segunda colocação entre os anunciantes, atrás apenas da TV aberta. Esse crescimento no volume de anúncios nos meios digitais tem como explicação o crescimento do uso de internet nas residências brasileiras e o aumento do poder aquisitivo das famílias. *Fonte: Digital Signage Brasil
cio do ano e costuma receber muitas visitas à noite. Tínhamos horário marcaVAGNER BARRETO vgnrbrrt@gmail.com do com os sócios da casa, dois casais. Chegamos uma hora antes do início da festa para conversármos tranquilamen– Posso ir vestida assim? te. E lá estávamos parados na rua, entre a discrição do local – De vermelho? Claro que e a luz forte que irradiava da não! Esqueceu as aulas de se- lancheria, quando um homem miótica? nos abordou e perguntou se éramos os universitários. alerta de amigo e, naA primeira impressão ao quela noite, par, fazia entrar na casa era de uma festodo sentido. ta tradicional, impressão essa Não era exatamente algo que se prolongaria por toda a chamativo. Na verdade, era noite. Fernando Martines, 33 uma blusa vermelha muito anos, um dos sócios, se encarbem comportada e de gola regou de nos apresentar o loalta. Por cima, um blazer pre- cal, que, não fosse pelo andar to. superior, passaria como uma Acabamos indo com rou- balada qualquer. pas parecidas. Ela, uma caSubindo as escadas, os miseta preta (que, mais tarde, quartos nos davam uma pernos explicaram não ser a blusa cepção mais próxima do que mais segura, pois botões são iríamos presenciar. Um devulneráveis e fáceis de abrir), les, sem porta, abrigava uma uma calça preta, um casaco grande cama redonda que, verde musgo e cabelo pre- mais tarde, descobrimos conso. Ele, blusão listrado roxo ter uma regra bem rígida: e azul, blazer verde musgo e sentou, está disponível. Ainda uma calça jeans azul. O namorado dela emprestou a aliança. A intenção era parecermos um casal. E ainda com algum receio, saímos em direção a uma casa no mesmo quarto, havia duas de swing em uma fria noite de cabines que poderiam abrigar sábado. com conforto dois casais em A casa, que fica curiosa- cada. Buracos na parede permente a 50 metros de uma mitem que voyeurs (pessoas das mais conhecidas igrejas que sentem prazer em olhar de Caxias do Sul, é muito bem outros fazendo sexo) obserlocalizada, fugindo um pouco vem de fora ou até participem. do Centro da cidade. O local Outro quarto (esse com discreto contrasta com a luz porta) tinha uma cama ainforte de uma lancheria, do da maior, com uma cabeceira outro lado da rua, onde olhos adaptada que incitava o pocuriosos ainda buscam pistas pular “de 4”, algemas presas à do que se trata a casa cercada parede, uma iluminação baixa com madeiras, aberta no iní- e vermelha e espaço para, com SOL MAIA
solmaia@rocketmail.com.br
O
um pouco de boa vontade, uns dez casais. Além dos buracos que também permitiam o voyerismo e interação entre quem está dentro e fora. Um terceiro quarto, oferece a opção de privacidade para quem não estiver a fim de ser visto e pode ser alugado por hora – sim, mesmo no swing existe privacidade.
em Festa s máscaras Após conhecer o local, iniciamos a entrevista sentados ao redor do bar. Nos apresentamos brevemente e começamos uma conversa informal, que sanou nossas primeiras curiosidades. Dois casais de Santana do Livramento que perceberam a necessidade e, principalmente, a capacidade de Caxias em absorver o negócio. Nos contaram que não praticam swing, nem dentro nem fora da casa, mas gostam de observar. - No teu dia a dia tu tens uma máscara, que aqui no meio do swing não existe – afirma Rafael Fontoura, 23 anos, sócio do local. Enquanto conversávamos, chegaram os dois primeiros casais, vindos de São Leopoldo e Porto Alegre. A noite era de integração com outras casas da região metropolitana do Estado, que realizaram excursões para seus clientes. Eram pessoas jovens e realmente bonitas, daquelas que trabalham ali na mesa ao lado da sua. Uma coisa que realmente surpreendeu foi o quanto eles foram simpáticos e receptivos. Nos pareceram tão sinceros que optamos por não fingir ser um casal, o que,
O amor livre e longe de padrões pauta o cotidiano daqueles que criam uma no
na nossa visão inicial, facilitaria a aproximação com os participantes e resolvemos esclarecer quem éramos e o porquê estávamos ali. Incentivados pelos donos passamos para a pista de dança, ainda vazia, para conversarmos. Anderson e Ana (nomes fictícios) contam que namoram há nove anos e a curiosidade surgiu quando a irmã dela comentou, em um almoço familiar, a naturalidade que as relações sexuais deveriam ser tratadas. Eles pensaram no assunto e resolveram criar um perfil em uma rede social específica para troca de casais. As primeiras tentativas não deram certo e foram seguidas de um período de dois anos sem que se relacionassem com outros casais, mas a vontade voltara há alguns meses e lá estavam eles.
O segundo casal, Bruno e Bianca (nomes fictícios) teve um início mais intrigante. Estão juntos há 15 anos e são praticantes de swing há nove. Ela perdeu a virgindade com ele, aos 24 anos e, após seis anos de relação, descobriram as casas de swing: – O nosso acordo começou da seguinte forma: ela queria ir para uma casa noturna dançar. Eu detesto dançar, mas eu gosto de ver filme pornô, então eu descobri que havia lugares que poderia ver sexo ao vivo – comenta Bruno em meio a risos. – Ele ia ver as pessoas fazendo sexo e eu ia dançar – completa Cláudia. Quando, um dia, Bruno a surpreendeu com uma pergunta: – Como você sabe que sexo é
ova forma de relacionamento onde o que importa é a confiança, o prazer e a entrega mútua dos parceiros
bom comigo se você não tem nenhum parâmetro? O questionamento inesperado os levou à pratica da troca de casais. – A autoestima dela melhorou muito – afirma Bruno. Eles defendem a ideia de que a prática faz muito bem para a relação e aproxima o casal, pois propicia o autoconhecimento. – O melhor sexo é o do casal depois que chegam da festa – aponta Ana. Enquanto conversávamos, a música começou a tocar e a pista a lotar, sem que notássemos. Em minutos, estávamos imersos em uma balada bem tradicional. Música, flertes, pessoas dançando, dificuldade de locomoção. Tudo caminhava como de costume. A festa começou a apresentar suas peculiaridades
quando um grupo de mulheres subiu ao pole dance. Lá, há um certo endeusamento das mulheres. Pouco a pouco seus companheiros as colocavam lá, onde dançavam, se beijavam e trocavam carícias quentes com direito a pequenos strips. – Toda a festa gira em torno das mulheres – nos explicavam. E, de fato, elas provocam, flertam, fazem a aproximação e ainda, segundo eles, têm a última palavra. – Normalmente o homem topa qualquer coisa, então, é a mulher quem decide – afirma André. Claro que o “topam qualquer coisa” é muito relativo. O bissexualismo feminino está por todos os lados. Mas o masculino, ao menos publicamente, não existe. A todos que
xual questionada está muito presente no meio swing. Os anúncios da internet que incluem fotografias quase sempre retratam as mulheres em posições diversas e algumas vezes relacionando-se com mulheres, mas raramente os homens – reflete Olivia. Na casa, elas continuam no pole dance, onde vale destacar que, enquanto estão lá, nenhum homem toca nelas ou tira proveito da situação de alguma forma que não com os olhos. Alguns esposos orgulhosos tiram fotos de suas esposas que, mais tarde, irão para alguma rede social de swing com as identidades devidamente preservadas. Depois da performance, as mulheres já com poucas peças de roupa, dão lugar à banda. O show da noite fica por conta da dupla de rock swing BardoeFada. Sim, também nos perguntamos sobre o que seria um rock swing. A dupla também é um casal fora dos palcos e, mais do que isso, participa das trocas depois do show, mas Fada se relaciona apenas com mulheres. Eles, que se declaram o “primeiro casal pós-romântico”, cantam letras sobre liberdade sexual e fantasias que, na verdade, fizeram lembrar bandas de rock gaúchos como Cascavelletes e afins. O show, que ocorre no mesmo “queijinho” do pole dance, também provoca o público. A vocalista dança sensualmente enquanto mulheres a tocam e até tiram algumas de suas roupas.
fizemos esse questionamento ouvimos a mesma resposta: – Não, homens não ficam! Ninguém soube dar uma resposta convincente sobre o Mas é, após o show, porquê desse comportamento. Uns dizem que os torna me- que a festa realmente conos homens, ou que não seria meça. Em minutos, a pista de dança estava vazia e tão “bonito de se ver”. o andar superior lotado. Normalmente, as abordagens ocorrem durante o show e, quando ele termina, os pares de casais já estão formados. Nos quartos, não havia espaço para muitas cerimônias. No A antropóloga Olivia von quarto maior, conseguimos der Weid, ao pesquisar a prá- contar cerca de nove casais que tica do swing para sua disser- optaram por manter a porta tação de mestrado, teve esse fechada e a luz apagada, o que mesmo estranhamento sobre dificultava a vida dos curiosos como a feminilidade e a mas- que se revezavam para obserculinidade são vistos de forma var a ação pelos buracos, mas não impedia que se visse o que diferente entre os swingers: – O medo de ser acusado de estava ocorrendo lá dentro. ‘gay’ ou de ter sua posição se- Nos corredores que cercam os
Tudo éido permit ada é N obrigatório
quartos, a música alta dá lugar a um silêncio perturbador. A ideia é realmente não atrapalhar os casais. É como se fosse a apreciação de alguma arte exposta em um museu. No outro quarto (aquele onde não havia porta), a cama redonda permanecia vazia. Lá, a regra é clara e mais incisiva: não é um lugar de descanso. É o lugar para incitar aproximações e pedir por sexo. – A festa começa assim que o primeiro casal tomar a iniciativa – diz André. E foi o que aconteceu. Passado uns 30 minutos, cerca de cinco casais dividiam o espaço observados por cerca de dez pessoas. Nas cabines, nunca faltava casais, sempre de dois em dois, e a maioria do tempo permaneciam com as luzes apagadas. Os dois casais que nos acompanharam toda a noite, e ajudaram a entender as regras subliminares da festa, se entregaram à cama redonda no fim da noite, onde trocavam carícias entre eles e com a dupla/casal que fez o show. Era a nossa hora de sair, naturalmente, à francesa.
Apesar da tentativa de passarmos despercebidos, houve duas abordagens – de um homem e de uma mulher (de casais diferentes). As duas situações foram resolvidas de forma tranquila e ambos respeitaram a negativa. Vale ressaltar que nunca nos sentimos tão seguros em uma festa. Diferentemente de festas tradicionais, os homens não são agressivos nem invasivos e souberam perfeitamente respeitar o espaço e a opção de estarmos ali como meros expectadores. A impressão que fica é de muito respeito e de uma grande “festa de família”, a diferença é que você não levaria a sua mãe. Fotos: Sol Maia Produção: Vagner Barreto
As imagens utilizadas nesta reportagem são ilustrativas e produzidas pelos alunos
LUANA MARQUES PAIM luanapain@yahoo.com.br
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elegacia de Polícia para Mulher. São 14 horas de uma quarta-feira. Uma senhora de aproximadamente 45 anos entra na sala e declara que seu filho a espanca. “Eu gostaria de fazer uma denúncia contra meu filho”. E começa a chorar. A atendente pede a ela que se acalme, que logo será atendida. Até o mês de abril deste ano, 768 inquéritos foram instaurados e 412 é o número de termos circunstanciados (crimes de menor potencial ofensivo com pena inferior a dois anos), na Delegacia para Mulher de Caxias do Sul. Em 2012, três mil procedimentos foram encaminhados ao juiz e o mês que mais houve denúncias foi dezembro. A delegada Carolina Valentini Tomiello, 34, está no município há pouco mais de um mês. Antes de assumir a Delegacia de Polícia para a Mulher de Caxias do Sul ela era a única delegada de Guaporé - RS. Segundo Carolina, mesmo que ela tenha vindo para uma área específica, o volume de ocorrências é grande. “Não lidamos com crimes complexos. Neste meu primeiro mês aqui não houve nenhum caso chocante, mas temos um número expressivo de ocorrências e é importante destacar que aproximadamente 70% dos casos são relacionados ao uso de drogas e ao alcoolismo”, explica. O trabalho de delegada é mais burocrático, mais “atrás da mesa”, para cuidar do andamento das investigações. “O contato direto com as vítimas só acontece quando é necessário que eu auxilie a policial que cuida do caso, ou quando se trata de um caso de maior g r a v i d a d e “, explica. Os crimes contra a mulher são variados. Os mais denunciados são: ameaça, lesão corporal, vias de fato (agressão que não deixa marcas), perturbação da tranquilidade e crimes contra a honra (agressão verbal, que
inclui injúria, calúnia e difamação). Destes, o de maior gravidade é o crime de lesão corporal, que pode resultar em uma pena de até 12 anos.
Depois que uma mulher decide abrir uma ocorrência na Delegacia de Polícia para a Mulher, os passos do inquérito são: registro da ocorrência, quando a vítima relata o que aconteceu; pedido de medidas protetivas;
envio da ocorrência para a Coordenadoria Municipal da Mulher; procedimento de ouvir as testemunhas, se houver; arrecadação de provas; e, por fim, o encaminhamento do relatório feito pela delegada para o Judiciário. Deve-se destacar que, de acordo com a Lei Maria da Penha, não é possível como pena de crime contra a mulher o pagamento de multa, nem cesta básica. Em janeiro de 2012 ficou decidido que a vítima de lesão corporal não poderá mais retratar-se, ou seja, desistir da denúncia. O que, segundo a delegada, é muito comum que aconteça. “Temos um problema muito grande com isso, que desestimula nosso trabalho. A maioria das mulheres acaba desistindo de prosseguir. Penso que isso aconteça principalmente por dependência emocional e financeira”, lamenta. De acordo com a delegada, as denúncias normalmente são feitas em momentos de raiva e depois há arrependimento. Porém, quando há seguimento na investigação, a mulher é encaminhada ao Centro de Referência para a Mulher, que é vinculado à Coordenadoria Municipal da Mulher. O Centro de Referência tem como objetivo pro-
mover o atendimento a mulheres em situação de violência, orientando-as nas áreas psicológica, social e jurídica, buscando a reintegração da mulher e orientá-las sobre seus direitos. Até junho de 2013, 42 mulheres foram assassinadas no RS. “Falta para as mulheres entender o tamanho da seriedade da violência doméstica e denunciar”, finaliza Carolina.
COMO IDENTIFICAR A VIOLÊNCIA - Ter medo do homem com quem se vive. - Ser agredida e humilhada. - Sentir insegurança na sua própria casa. - Ser obrigada a manter relações sexuais. - Ter seus objetos e documentos destruidos ou escondidos. - Ser intimidada com arma de fogo ou faca. - Ser forçada a “retirar queixa”. Conviver com siontomas como esses é ser vítima da violência!
LIGUE:
3221-1357/ 3202-1921 e denuncie!
ANDRESSA GALLO dessa_mllo@hotmail.com
E
le não é um esporte apenas de meninas. Entretanto, elas predominam entre os praticantes. Ele não é um esporte de corrida ou luta, porém exige força e resistência. O esporte caiu nas graças dos brasileiros entre 2007 e 2008, quando era exibida, pela Rede Globo, a novela Duas Caras. No folhetim, a personagem de Flávia Alessandra era uma respeitada enfermeira durante o dia, porém à noite dançava em um bar e despertava o fascínio masculino. A dança que encantou o público e ascendeu como esporte é o pole dance. Muito mais que uma simples dança, hoje o pole dance é um esporte em crescimento no Brasil e a cada ano ganha novos adeptos. Em 2009, devido ao grande número de praticantes e de estúdios voltados para a prática do pole, a modalidade esportiva ganhou uma federação nacional, responsável pela formação de instrutores e atletas, além de organizar e participar de competições internacionais. De acordo com a presidente da Federação Brasileira de Pole Dance (FBPOLE), Vanessa Costa, a entidade foi pioneira mundial na elaboração do Livro de Regras, criando um código de obrigatoriedade de movimentos e seus níveis de dificuldade, além de um Livro de Arbitragem com fundamentos básicos da estrutura do esporte. “Além da elaboração de regras, a nossa federação também é responsável por organizar a Pole World Cup, anualmente, no Rio de Janeiro”, afirma. A última edição do Pole World Cup ou Copa do Mundo de Pole Dance ocorreu em novembro de 2012 e reuniu mais de cem atletas da modalidade de 26 países. “A 1ª Pole World Cup, que ocorreu em 2011, foi um marco no esporte, por ter sido o primeiro Campeonato Mundial totalmente direcionado para o aspecto desportivo da modalidade. O evento é considerado como um ponto de partida para a criação do Primeiro Ranking Internacional de Pole”, ressalta Vanessa. Após ter vencido muitos preconceitos e conquistados diversos adeptos, o desafio da Federação Brasileira é tornar o pole dance um esporte olímpico, mas esta luta ainda pode ser longa.
Atração na Serra Em 8 de outubro de 2012 foi aberto o primeiro estúdio de pole dance em Caxias do Sul. O Rosa Studio, além de ser o primeiro da cidade, também foi o primeiro do Rio Grande do Sul federado. O local surgiu com dois grandes desafios: atender as pessoas que tinham interesse e quebrar com preconceitos sobre a prática do pole na cidade. A mineira, casada com um caxiense, Emilia Del Guadio viu na cidade a chance de expandir sua paixão pela modalidade e compartilhar conhecimento. Sabendo das inúmeras cobranças e discriminação que poderia enfrentar em Caxias do Sul, a decisão foi seguir as exigências à risca. “A ideia de fazer o estúdio regulamentado surgiu para evitar preconceitos e mostrar que é uma coisa correta e que segue padrões. No sudeste as escolas são grandes e reconhecidas, diferente do que ocorre em Caxias”, explica. A federação do Rosa Studio traz benefícios para quem deseja abrir um espaço para a prática de pole dance. No local são oferecidos cursos de especialização e formação de instrutores em parceria com a Federação Brasileira. “Tivemos visitas de pessoas de Canoas, Vacaria e outras cidades do interior que também pretendem abrir estúdios de pole dance, então quem tem interesse pode procurar esses cursos para se profissionalizar”, esclarece Emília. Além das aulas de profissionalização de instrutores, semanalmente, são ministradas 50 aulas para atender cerca de 60 alunos que se dividem na prática do pole dance flex, fitness, mastil e glamour. As três primeiras modalidades são voltadas para a formação de atletas, já o pole dance glamour auxilia na elaboração de coreografias.
Atletas caxienses Dentre tantos alunos do estúdio não existe um perfil específico das pessoas que buscam praticar o pole dance. Porém, entre os homens a modalidade ainda é um tabu na cidade. Em maio, apenas seis homens praticavam o esporte. Um dos alunos que treina no Rosa Studio é o consultor Ismael Vicente Spadetto Rosa, 26 anos. Ele iniciou no pole dance em novembro de 2012 por gostar de atividades físicas diversas. “Eu já gostava de ginástica e assistia campeonatos de pole dance. Então, eu vi que tinha a modalidade masculina e fui para Porto Alegre fazer uma aula experimental, porém quando vi que tinha um estúdio em Caxias decidi fazer aqui”, recorda. Ismael, no entanto, não pretende ficar apenas em treinos. Ele afirma que pretende competir até 2014. Para isso treina no estúdio de duas a três vezes por semana. Além dele, a instrutora do Rosa Studio, Tisiane Tieppo também pretende participar de competições, mas isso
ainda deve demorar mais alguns meses. “Pretendo competir no futuro, mas não num futuro tão próximo. Até porque as meninas que competem praticam o pole há quatro ou cinco anos, então preciso aprimorar muita coisa ainda”, sintetiza. Mesmo que não programe participar de competições num período próximo, Tisiane possui uma rotina puxada, entre aulas e treinos. Por semana, ela ministra entre 15 e 17 aulas de pole dance. Além disso, treina em separado para aprimorar os movimentos e aplicá-los em aula. “Eu treino à parte umas três vezes por semana e a cada três meses faço cursos de especialização e capacitação”, esclarece. Tisiane começou a praticar o pole dance diariamente em outubro de 2012. Contudo, desde 2011 já participava de cursos e qualificações no sudeste do país. Formada em educação física, ela atuava na área de musculação e decidiu buscar um novo esporte para praticar. A escolha pelo pole dance, segundo ela, é simples. “É uma atividade diferente, desafiadora, benéfica e trabalha a parte artística e física”, destaca.
Exercício sem academia Não existe um perfil das pessoas que praticam o pole dance em Caxias do Sul, mas a maioria afirma que procurou a modalidade pelo simples fato de não se adaptar ou não gostar da rotina de uma academia. Diferente dos exercícios puxados e resultados demorados das academias, o pole dance gera resultados rápidos, dando resistência, força e eliminando as gorduras tão indesejadas. Entre as praticantes que corroboram com essa opinião está a analista de recursos humanos Jéssica Flores Locks, que há oito meses viu no pole dance a “fuga” da academia. “Na verdade odeio academia e o pole é como se fosse uma, porque trabalha tudo. É um esporte completo, passa autoconfiança, é diferente e inovador”, ressalta. Na mesma linha de Jéssica, está a desenvolvedora de sistema Nicole Rocha, que há cinco meses descobriu uma nova paixão e três vezes por semana treina pole dance. “Nunca fui fã de academia, faço por necessidade, pois tenho problema no joelho. Mas, descobri uma paixão, não largo por nada e faço isso por mim”, afirma. Nicole ainda está no início dos treinamentos, porém não descarta totalmente a possibilidade de um dia tornar-se atleta. “Para competir não sei se tenho força, agora não penso nisso. Já treinamos coreografias, mas é muito difícil, é muita força. As meninas que competem fazem tudo no alto, então a força fica duas ou três vezes maior”, finaliza.
TAIS SILVA tsilva7@ucs.br
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ode parecer coisa de ficção, mas muitas mulheres acabam na mira de relacionamentos infelizes, ao se envolverem com parceiros que levam uma vida perigosa. O assunto já virou tema de minisséries, filmes e outros produtos culturais. As mocinhas que se apaixonam por bandidos estão cada vez mais ganhando as telas e garantindo a audiência, mas esse dilema não é apenas coisa de novela e nem sempre tem um final feliz. Tatiana (o nome é fictício, mas a história é verdadeira) já viveu as consequências de um relacionamento desse gênero. Eles se conheceram em uma festa, por meio de amigos em comum. Segundo ela, o rapaz parecia ser um homem romântico, culto e de posses. Quando começaram a se envolver ela descobriu quem realmente se tratava. “Ele começou a ficar agressivo, sem motivos aparentes. Bebia muito. Eu imaginava que também se drogava. O pior não era isso: eu descobri que, além de tudo, ele se envolvia com tráfico e lavagem de dinheiro. Foi aí que entendi porque ele sempre estava com a carteira cheia de dinheiro”. Tatiana conta que diversas vezes ele chegou a agredi-la, tanto verbalmente quanto fisicamente, mas ela tinha vergonha de contar para a própria família sobre a situação. O medo também foi o que fez com que continuasse sustentando essa relação. ‘’Eu contava para poucas pessoas o que acontecia. Ele quebrava minhas coisas, dirigia em alta velocidade e não sei como não nos matou. No fundo eu tinha esperança que ele mudasse, pois apesar de tudo gostava dele. Mas confesso que o medo é o que fez com que eu resistisse por mais tempo a tudo.’’ Segundo a mãe de Tatiana, o rapaz nunca chegou a frequentar a casa da família. Quando soube de tudo, ficou agoniada pela filha. “Eu temia que ele matasse ela. Não dormia enquanto não chegava, e fazia questão de buscá-la na faculdade e ligar diversas vezes para me certificar de que realmente estava bem. Foi um pesadelo”.
O pesadelo só acabou por que Tatiana se formou pouco tempo depois e resolveu se mudar para o Rio de Janeiro. Mesmo assim, o medo de que ele fosse atrás ainda lhe preocupou por algum tempo. Felizmente isso não aconteceu e ela está feliz e cheia de planos ao lado do novo namorado. “Eu consegui sair daquela relação, graças a Deus. Percebi a loucura na qual eu havia me metido. Meu atual namorado é uma pessoa de bem. Agora sinto que realmente estou no caminho certo. Não vale a pena insistir no que só faz mal”. Mesmo após mudar de Estado, ela ainda toma precauções sempre que vem visitar os familiares em Caxias do Sul. Deslumbrada pelo perigo Mas e quando a atração nasce e a mulher já conhece os antecedentes do homem pelo qual está apaixonada? É o caso da Roberta (nome fictício). Ela conheceu o namorado através de uma página policial. Era 2006 quando Roberta folheava o jornal e viu a foto de um estuprador que havia sido preso e cumpriria pena também por mais dois assassinatos. Foi paixão à primeira vista. Ela ficou encantada pela beleza do rapaz e decidiu visitá-lo na penitenciária. A jovem, com 23 anos na época, se declarou para o rapaz e começaram a se corresponder por cartas. Sempre que tinha tempo ela ia lhe visitava, inicicalmente, como amiga, e com o tempo as visitas se tornaram íntimas. Foi quando o casal começou a namorar. “Ele era encantador. Não combinava em nada com o que diziam dele nos jornais, sempre me tratou muito bem, inclusive se arrependeu de tudo que fez e mudou de vida, minhas orações deram certo”. Roberta relata que foi muito difícil enfrentar a sociedade e que foi recri-
minada por ter escolhido amar um preso. “As pessoas me condenavam, me achavam louca, mas o que elas não entendem é que o amor supera qualquer barreira e que as pessoas podem sim mudar quando realmente encontram um amor de verdade. Eu tive que passar por cima de muitas barreiras para ficar com ele, mas não dei ouvidos às más línguas, o que importava era o que sentíamos um pelo outro”. Apesar de passar por cima do preconceito, a relação do casal terminou dois anos depois quando a moça teve de mudar de cidade para cuidar do pai que estava doente. “A distância começou a pesar demais e decidi por um ponto final no nosso namoro. Ainda assim não me esqueço dele. Acho que foi um dos homens que mais amei na vida”. Quanto a ele, Roberta conta que a última notícia que teve é que ele está quase cumprindo a pena e deve deixar o presídio em breve, mas que mesmo em liberdade não pensa em revê-lo. “É uma página virada em minha vida. Foi importante mas passou”. Vínculo que dura para sempre Nem sempre é possível quebrar o vínculo com uma relação, muitas vezes por conta dos filhos que acabam unindo para sempre o casal. A vendedora Andreia (nome fictício), 27 anos, é um exemplo disso. Ela conheceu o primeiro namorado durante um show em Caxias do Sul. O romance engatou rapidamente e quando viu já estavam namorando. Ela observava que ele tinha algumas atitudes estranhas, mas o que não imaginava é que se tratava de um ladrão e que seria pego pela polícia. Andreia ficou grávida e sozinha. Tem passado uma vida difícil para criar a filha que hoje tem 5 anos de idade. “Sempre que posso vou vê-lo no presídio e recebo uma ajuda para as despesas, que nem sempre é suficiente, por isso trabalho em
dois empregos”. Ela diz que não teve coragem de abandonar o companheiro mesmo sabendo o que ele cometeu: “Eu não defendo. Sei que cometeu um crime e tem que pagar por isso, mas ainda assim gosto dele, é o pai de minha filha e lhe devo fidelidade”. A mulher também evita eventos sociais e se dedica exclusivamente à casa. “Eu acho chato eu ir para uma festa sozinha. Sei que ele tem amigos aqui fora que podem contar e eu acho que ele certamente não iria gostar”. As aparências enganam Marília (nome fictício), universitária, 23 anos, também viveu há pouco mais de um ano, um intenso amor bandido. O casal se conheceu em uma balada sertaneja de Caxias do Sul e começaram a sair. Segundo a moça, ele era perfeito, se vestia bem, era simpático e doce. “Ele me comprava chocolate, me levava para passear no parque e me mostrava as casinhas de João de Barro”. Um dia o rapaz ligou dizendo que iria caçar com o pai e sumiu por alguns dias. Em um dos encontros que tiveram ela viu algumas armas no carro, mas não deu importância. “Ele fazia questão de me deixar em casa, dizia que poderia ser perigoso e por isso também andava armado”. Quando completou um mês que estavam juntos, ele sumiu novamente, desta vez sem voltar a dar notícias. Mais tarde ela abriu o jornal e ficou surpresa ao ver a foto do amado estampada em uma página policial acusado de nove crimes, como assalto à mão armada em residências. “Meu mundo caiu. Tenho ótimas lembranças dele, mas sei que não presta é um marginal que assaltou pais de família e não sou cega para não reconhecer que o lugar dele é na cadeia’’. Quando soube, a estudante entendeu porque o namorado sempre tinha dinheiro e o motivo dos sumissos sem explicação. “Os dias que ele sumiu foram justamente os que assaltava. Num deles, inclusive, ele me ligou contente dizendo que havia conseguido algo que queria muito. Claro que não me contou o que era. Para comemorar sugeriu que fóssemos jantar”.
RAQUEL FRONZA
MARCELI DUTRA DA SILVA marceli_ucs@hotmail.com
O
Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves – RS, localizado na Serra Gaúcha, é o cenário perfeito para passear e admirar belas paisagens. Por isso, foi pensado na criação de uma ciclovia para atender o sonho de tantos moradores da cidade. A via Também proporcionará mais uma atividade aos visitantes, já que a região é beneficiada pelo turismo, devido às grandes vinícolas presentes no trajeto. O início das obras para criação da ciclovia ainda não tem data marcada, já que o projeto não foi aprovado no orçamento do governador do Estado, Tarso Genro. Sendo assim, a Aprovale (Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos), com o intuito de que os governos estaduais e federais tirem o projeto do papel, criou um abaixo-assinado com o objetivo de recolher 400 mil assinaturas. O projeto inclui 8,25 km de ciclovia para que as pessoas possam pedalar com segurança em um ambiente propício para esse tipo de atividade. A construção deve começar no entroncamento com a RSC470 e seguir em direção à cidade de Monte Belo do Sul, finalizando na Vinícola Cave de Pedra. No sentido, a pista ficaria na direita e com
um canteiro de 0,5 metro de largura entre a ciclovia e a pista de carros. A obra já entrou em licitação duas vezes: em maio de 2010, sendo anulada em outubro do mesmo ano e, depois, em dezembro de 2010, desta vez, tendo uma empresa vencedora. O valor estimado ficaria em R$ 5,4 milhões. Segundo o Daer – Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem – o assunto proposto está em análise na Diretoria de Infraestrutura Rodoviária. Segundo Juarez Valduga, presidente da Aprovale, as diretorias da associação mudam, mas as reivindicações e os sonhos continuam os mesmos. O pedido da ciclovia foi um dos primeiros pensado pela associação, há 17 anos, e aprovado também por todos que fazem parte do Vale, produtores, agricultores, hoteleiros e proprietários de restaurantes. A ciclovia poderia funcionar não só para os ciclistas como também para aqueles que desejam ter um local para caminhadas, importante aliado do bem estar e saúde humana. Faz parte do projeto, os hotéis disponibilizarem bicicletas para os turistas passearem pelo Vale e depois devolverem no mesmo local. Quem for a favor da obra da ciclovia também podem participar do abaixo-assinado. Para mais informações, acesse: www.valedosvinhedos.com.br.
Vinhedos O Vale abrange áreas dos municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul Bento Gonçalves: 60% Garibaldi: 33% Monte Belo do Sul: 7% Altitude média: 742 metros Perfil territorial Área total: 81,123 km² Área com vinhedos: 26% Área com florestas: 43% Área para plantio: 31%
VITÓRIA LOVAT vitoria.lovat@gmail.com
A droga consumida pelas classes média e alta financia o mercado clandestino dos narcóticos Fumar um baseado ou cheirar uma carreira, há muito tempo são práticas que deixaram as favelas e também estão presentes no cotidiano da classe média e alta. Esta classe, que Artur, como vamos o chamar, conhece bem, ele trafica maconha de Porto Alegre para Farroupilha e conta como é a realidade dos adolescentes e adultos consumidores da droga. “A grande maioria das pessoas para quem eu vendo trabalha e sustenta seu vício. Alguns adolescentes fumam apenas para aparecer, mas estes têm pais que os sustentam e financiam a droga sem ter o conhecimento. A faixa etária da galera que compra é bem variada, de 13 a 50 anos, então há todos os tipos de consumidores”, relata Artur. O rapaz não é um traficante que lida com crimes ou que é foragido da Polícia, ele trabalha, estuda e leva um vida normal, mas
também busca maconha em Porto Alegre para vender na cidade apenas sob encomenda. Artur conta que é apenas maconha que ele traz para a serra gaúcha e não drogas mais pesadas. “Na favela o que predomina é crack e cocaína, aqui não. Os usuários da classe média normalmente têm preconceito com essas drogas, mesmo que sejam semelhantes e com o mesmo processo químico. O que ocorre com alguns usuários de maconha é a opção por drogas sintéticas como Ecstasy e LSD”, destaca. Artur lembra que a demanda é sempre maior do que a oferta, principalmente porque
os compradores sabem que o produto que vai chegar é de qualidade. Ele não se considera traficante, mas um terceiro, aquele que compra do traficante e vende para os usuários diretos, pois é difícil que cada usuário vá até a boca, que é o local da venda, para efetuar a compra. “Os terceiros normalmente são usuários comuns, apenas se disponibili-
zam para buscar e distribuir, porém alguns traficantes vivem desse mercado e estão neste meio para ganhar dinheiro, são capazes de comprar qualquer briga com um possível concorrente ou um usuário que seja um mau pagador”, relata o rapaz. Sobre a legalização da maconha no Brasil, Artur destaca que não apenas o consumo deveria ser liberado, mas também o cultivo da planta. “Acredito que uma empresa já possui a patente de uma marca de maconha chamada Marley para comercializar os cigarros legalmente. Certamente o governo iria se beneficiar com esta medida referente à alta taxa de impostos aplicados e o valor de uma carteira de baseado seria inacessível, sendo assim não diminuiria a ilegalidade e o tráfico continuaria sem controle”, explica. Porém, ele lembra que apenas algumas pessoas estariam preparadas para a mudança, como quem fuma com consciência, paga o seu baseado e não parte para as drogas mais pesadas, mas a cultura italiana, como temos aqui na região e as famílias conservadoras não saberiam como lidar com a inserção da maconha livre na sociedade.
A legalização da maconha não é uma discussão recente e a sua tomada movimentaria muitos mercados e acarretaria mudanças no Brasil. O promotor de justiça Henry Wagner Vasconcelos defende que a legalização não pode acontecer pois o Brasil correria o risco de ficar sob o domínio dos traficantes, que então, seriam grandes empresários. “Quem quer a liberação da maconha é o intelectual ou o universitário, pessoas da classe média”, afirmou o promotor. Vasconcelos disse ainda que o Brasil é um Estado falido e a liberação seria o primeiro passo para que a total falência se concretizasse. A maconha, uma planta extraída da natureza, é utilizada como narcótico após passar por processos de secagem e se tornar uma pasta que é usada por meio do fumo e de ingestão. A planta se popularizou no Nordeste do Brasil nos anos 50, quando era consumida pela parcela pobre da população, negros, índios e mestiços. Foi a partir dos anos 60 que ela passou a ser consumida também pela classe média e como uma forma de protesto à situação política, assim a comercialização ficou popular. Conforme André Barros, ad-
vogado da Marcha da Maconha no Brasil, até os anos 80, a maconha era a única droga vendida nas bocas de fumo, mas logo se conheceria também a cocaína, heroína e o LSD. Foi com a chegada das novas drogas que a maconha saiu das bocas de fumo e passou a ser vendida nos portões de escolas e universidades. De acordo com um levantamento realizado pelo Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo e pelo Centro Brasileiro de informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) em mais de 100 cidades a maconha é a terceira droga mais consumida, ficando atrás apenas do álcool e do tabaco. A colocação é justificada devido a ilegalidade da venda do produto. Dos entorpecentes ilícitos e ilegais ela é a mais consumida e a mais presente entre os adolescentes de 12 a 18 anos. A diretora do Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas (CRATOD) defende que o uso ainda no início da adolescência traz danos maiores do que para um adulto por afetar o desenvolvimento do cérebro e por ter mais facilidade de causar dependência.
A
pesar das roupas sujas, resultado de um dia de trabalho, o sorriso era contínuo e simpático. O olhar combinava com o sorriso e transparecia sinceridade. O semblante brando ia além da barba por fazer e das reclamações de cansaço dentro do ônibus lotado das 18 horas. No trajeto de Bento a Farroupilha, Marco Antônio, como vamos chamá-lo, escolheu por espontânea vontade relatar a sua história. Talvez pela sensação de solidão, a qual citou algumas vezes possuir. Marco Antônio é pai de duas crianças e as educa sem auxílio da esposa, que é viciada em crack. Os filhos têm seis e quatro anos e, segundo
“Eu ia pra Porto Alegre aproximadamente duas vezes por semana, trazia maconha, cocaína e crack. Vendia tudo no mesmo dia. Às vezes eu conseguia vir pra serra bem carregado, aí começava em Garibaldi e Carlos Barbosa, passava por Bento Gonçalves, Farroupilha, Caxias Flores da Cunha e até São Marcos. Aqui sempre vendia bem”, lembra o ex traficante. Ele conta que foi nesse meio que conheceu a esposa e que passaram a viver juntos, em Farroupilha. Marco era reconhecido pela Polícia Civil de toda a Região por um apelido curto, quatro letras, mas suficiente para saber que se tratava de tráfico. “Eu só vendia, nunca tive intenções de roubar, matar
o pai, são as almas mais doces as quais ele já conheceu, e não se cansa de repetir que mudaram a sua vida. E mudaram mesmo. Marco já foi um dos principais traficantes de drogas da Serra Gaúcha. Foi preso duas vezes e tem diversas passagens pela polícia de todo o Rio Grande do Sul, porém mudou de vida a partir do momento que se tornou pai.
ou cometer qualquer dessas alucinações. Vender drogas me dava dinheiro, bastante dinheiro. Até já andei armado algumas vezes, mas por segurança, quando estava em Porto Alegre ou na Região Metropolitana. Sinceramente, eu mal sabia disparar aquilo. Nunca matei nem um animal, imagina uma pessoa”, relata Marco. Ele afirma que a venda era realizada para tra-
ficantes menores, nos bairros das cidades que repassavam a droga para os usuários. A cada frase dita, Marco lembrava dos filhos, contava que a menina tinha olhos azuis, iguais aos dele, e que a janta daquela noite seria macarrão instantâneo e, para a sobremesa, ele havia com-
prado mamão, fruta preferida da filha. O homem que antes vivia clandestinamente e fugindo dos olhos da polícia, hoje voltava de mais um dia de trabalho e falava com orgulho sobre a sua mudança de vida. “Quando minha mulher pariu, eu olhei para aquele bebezinho e soube que dali em diante eu viveria para ele”, lembra. Marco conta que, dois anos depois, o casal ainda vivia junto, porém ela não trabalhava e continuava a se drogar, o que impedia que ela cuidasse bem das crianças. “Peguei meus filhos, coloquei embaixo do braço e fui embora. Se ela não soube ser mãe, eu seria pai. Nessa época eu trabalhava e o pouco que ganhava era suficiente para deixá-los alimentados e bem cuidados. Eu não usava mais pó, mais nada, na verdade, não dava tempo, quando eu não estava trabalhando, estava dando banho nas crianças, comida e brincando”, resgata.
O homem conta que hoje as crianças estão saudáveis, passam o dia na escolinha e visitam a mãe a cada 15 dias. “Minhas crianças sabem que eu não posso oferecer luxo, mas eu faço questão de ensinar que o amor do pai é maior do que dinheiro. Eles entendem. No mês passado, aniversário do menino mais novo, eu tinha apenas 20 reais. Comprei uma pizza no mercado, um refrigerante e algumas frutas. Cantamos parabéns e, antes de dormir, ele me deu um abraço e disse que tinha sido o melhor aniversário da vida dele. Admito que chorei”, relata. O ex-traficante é mais um dos tantos que vivem clandestinamente trabalhando no mercado ilegal e sendo financiado pelos consumidores. As imagens são ilustrativas e produzidas pelos alunos. Os nomes dos entrevistados preservados.
VAGNER BARRETO vgnrbrrt@gmail.com
C
axias do Sul passa por um boom imobiliário. É uma cidade que cresce. Para os lados. Para cima. Prédios antigos caem para que novos cresçam, quase que da noite para o dia, ainda maiores que aqueles que sepultam. O fenômeno é visível, qualquer um que fizer um passeio pelo seu bairro, seja ele qual for, perceberá que pelo menos uma obra está em andamento. Incorporadoras, arquitetos, engenheiros civis, empreiteiras, designers de móveis, vivem seu momento de glória. Flyers, maquetes e outdoors mostram lugares espaçosos, arborizados, iluminados, com pessoas felizes passeando com os filhos e cachorros, que, teoricamente, morarão em apartamentos tão pequenos onde não caberão todos. Sorte dos cachorros que ocupam menos espaços que crianças. Casas antigas, que por décadas abrigaram famílias inteiras, de repente dão espaço para prédios com nomes suntuosos e distantes da realidade, como: Via Láctea, Antoine de Saint-Exupéry ou Cambridge. É o progresso que por meio de seu amigo, o capital, mobiliza fluxos e movimentos, nem sempre positivos. Certo dia, em um hotel, ouvi o gerente reclamar que a tentativa de comprar
algumas casas vizinhas não havia tido sucesso, a recusa de duas senhoras que ocupam aquele lugar – por elas chamado de “lar” há mais meio século – foram mais fortes que qualquer proposta financeira. As casas e as senhoras permanecem lá, altivas e de pé, o projeto do hotel foi alterado, deixando a obra em formato de “U”, obrigados a abraçar àquelas casas que queriam demolir. Vivemos um processo de verticalização da cidade onde a altura dos prédios parece ser fator importante para sua propaganda. Andares e mais andares, que afastam da rua, das pessoas, dos sons. Não à toa Caxias ostentou por muitos anos “o maior prédio do Rio Grande do Sul”. Na prática, morar neste prédio deve ser algo bem ruim: somos uma cidade fria e coberta de névoa boa parte do ano, os moradores dos andares mais altos devem se lembrar do sol de maneira difusa e distante ao longo do inverno. Interessante perceber que muitas dessas novas construções têm apartamentos com apenas um quarto, quando não são todas quitinetes. São as construtoras que estão determinando a nossa forma de nos relacionar, nos isolando em pequenas caixas de sapatos, cada vez mais apertadas? Ou são eles visionários que constataram antes de qualquer sociólogo que a solidão é o nosso futuro?
FOTOS: VAGNER BARRETO