Revista Expressão 2016/2

Page 1




A Rua: início, meio e fim

“Ainda vão me matar numa rua. Quando descobrirem, principalmente, que faço parte dessa gente que pensa que a rua é a parte principal da cidade.” Leminski; Toda Poesia - [quarenta clics em Curitiba; 1976]


A RUA: INÍCIO, MEIO E FIM

O

poema de Leminski, no livro Toda Poesia, pode ser considerado uma espécie de síntese daqueles que, ao nascer, escolhem o lado de fora das coisas. O lado de fora sempre vai ser a rua, talvez um dos locais mais democráticos da existência pós-moderna, onde todos ainda - salvo algumas exceções, - podem ir e vir, ou só ir ou só vir. O sentido não importa.

Ocupar as ruas é um aspecto histórico. Desde o surgimento das civilizações, as ruas, consideradas as veias das cidades, passaram por diversas mudanças de caráter estrutural - de chão, paralelepípedo e asfalto - mas há algo que se mantém: a rua é um espaço de convivência, de protesto, de exercer a cidadania e a humanidade. Em Caxias, as ruas, obviamente, surgiram antes mesmo da cidade. Oficialmente, a primeira planta de Caxias do Sul é datada de 1876. Ela contava apenas com oito ruas, que se cruzam de forma vertical. A mais importante delas era chamada Silveira Martins, que atualmente corresponde à Avenida Júlio de Castilhos. O historiador Rodrigo Oliveira esclarece um aspecto acerca das ruas na região central de Caxias. Para ele, as vias formam uma espécie de tabuleiro de xadrez. “É interessante observar que, aqui em Caxias, ao menos no centro, as ruas são somente na horizontal e na vertical. Tu não vê uma rua que atravesse a cidade de noroeste a sudeste, por exemplo”, destaca. Além disso, ele também comenta sobre a principal rua da cidade, que tornou-se uma avenida. “A Júlio de Castilhos é um pedaço da história de Caxias. Foi ao redor dela que a cidade praticamente se forjou. Comércio, escolas, prédios. A Júlio tem de tudo. Até por isso ela é mantida e revitalizada até hoje, com a utilização de paralelepípedo ao invés de asfalto”, comenta. Atualmente, Caxias tem cerca de 1.660 quilômetros de ruas. Se fosse em linha reta, essa distância correspon-

deria à distância de Nice, na França, até a cidade do Porto, em Portugal. Dentro do país, em linha reta as ruas de Caxias chegariam até Brasília, que fica a 1.527 quilomêtros da cidade da Serra. Deste total, 388 quilômetros são asfaltados, 582 quilômetros são pavimentados com paralelepípedos e, a maior parte, 690 quilômetros, são de estradas de chão.

Os quase 700 quilômetros de estradas de chão de Caxias despertam a indignação dos moradores dessas ruas. No interior da cidade, é comum presenciar a reclamação sobre a poeira e até mesmo a falta de estrutura das estradas não pavimentadas. Para o arquiteto e professor da Universidade de Caxias do Sul Paulo de Mori, a pavimentação da via não traz consigo somente uma estrutura diferente pela qual as pessoas e os veículos passam, mas significa uma série de questões que envolvem uma rua. “Quando se pavimenta uma rua, se está fazendo muito mais que asfaltar ou colocar paralelepípedo. Há uma questão de organização. O meio-fio, por exemplo, é um sinal de civilidade. Agora a largura dessa rua está clara, as redes de esgoto que passam por ela também estão instaladas. A pavimentação da rua significa tudo isso”, esclarece. O arquiteto também reclama da falta de sensibilidade do poder público em relação à pavimentação da rua. Para De Mori, há uma preocupação exacerbada com os carros na hora de optar pelo asfaltamento ou a colocação de paralelepípedos. “Essa mudança precisa ser mais pensada. Se vai pavimentar, vai mudar a velocidade do trânsito. É preciso tomar precauções necessárias, como as faixas de segurança. O espaço do pedestre e dos outros modais de transporte precisam estar garantidos nas ruas”, defende o profissional.

Oficialmente, a primeira planta de Caxias do Sul é datada de 1876. Ela contava com apenas oito ruas, que se cruzam de forma vertical. 5


Por que dar nome à rua?

A

definição de rua, numa cidade, também é mais complexa que uma simples ligação entre um local e outro. Eli Pessuto Sartor, auxiliar de serviços legislativos da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, é a responsável por receber e analisar parte dos projetos de nomeação das ruas caxienses. “Não é qualquer logradouro, travessa de um terreno entre outro que é uma rua”, defende. Mas o que torna um logradouro, uma travessa, uma rua? O primeiro passo é o espaço ser reconhecido pela prefeitura como um lugar público, uma via pública. Depois, a rua “se transforma” efetivamente em rua com a criação de uma lei, que determinará, ao mesmo tempo, o batismo e o parto da rua. Cerca de 30% dos projetos de lei criados na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul durante o ano de 2015 foram referentes à nomeação de rua. À primeira vista, nomear uma rua parece uma atitude supérflua, mas uma rua sem nome esconde dos moradores uma série de serviços básicos. “Muitas vezes as pessoas ligam para os Correios pedindo um CEP para a rua, porque sem nome a rua fica sem CEP, e sem CEP nenhuma correspondência chega ao local. É como se o local não existisse”, afirma Eli. O Loteamento Villa Lobos é um exemplo disso. Fruto de

uma ocupação, o loteamento fica na zona sul de Caxias do Sul, próximo ao bairro Santa Corona. O bairro existe há 30 anos, mas somente em 2011 as ruas do Villa Lobos foram regularizadas. Os nomes das ruas, no entanto, não homenageiam pessoas. “Aqui no bairro, quando a gente começou o processo de nomear as ruas, todas eram nomeadas pela letra, porque é assim que fazem quando criam um loteamento”, diz. A ideia dos moradores foi batizar as ruas com nomes de pedras preciosas. “A rua ‘A’ virou Rua das Ametistas. A rua ‘B’, dos Brilhantes; a ‘C’, dos Cristais. A ‘D’, dos Diamantes e a ‘E’ das Esmeraldas. Na letra F, no entanto, a população não encontrava nenhuma pedra para nomear a rua. A comunidade então optou por batizar a rua ‘F’ de Rua da Felicidade”, conta Tania. A nomenclatura da rua, para o historiador Rodrigo Oliveira, pouco importa. “Se é nome, se é número, se faz referência a um acidente. O que eu acho importante é que as pessoas que vivem naqueles locais se sintam representadas por aqueles nomes, porque nos nomes das ruas também está a memória”, finaliza.


Como dar nome às ruas?

P

ara nomear uma rua, basta que qualquer cidadão procure um vereador da cidade para apresentar o projeto. Nessa primeira etapa, é preciso que a pessoa que deseja nomear reúna um abaixo-assinado por todos ou pela maioria dos moradores da rua a ser nomeada, além de

apresentar a certidão de óbito e uma breve biografia do homenageado. O vereador então recebe o processo e verifica se a pessoa em questão ainda não foi homenageada. Depois disso, o parlamentar protocola o pedido com mapa da rua e a certidão de óbito da pessoa que dará nome à

Ricardo de Souza rasouza6@ucs.br

Ricardo Augusto de Souza tem 23 anos e é quase jornalista. Quando pequeno, tinha apreço pela leitura de dicionários. Na vida adulta, prefere as palavras em sequência colocadas por Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira e Fernando Pessoa. Procura manter o olhar aguçado e ouvir.

rua. O pedido protocolado é lido em sessão uma única vez e encaminhado para a comissão competente da Câmara de Vereadores. Se aprovado pela comissão, o projeto é enviado para a Secretaria de Planejamento para a criação do projeto de lei. Depois, o projeto segue os trâmites normais, volta para a Câmara, onde é lido uma única vez em sessão novamente e, se aprovado, vai para a sanção do prefeito. Se sancionado, o projeto de lei é encaminhado para a empresa competente, que realiza a confeccção das placas que serão colocadas na rua.

7


iniciativas sociais

ganham as ruas Música, arte, esporte e diversas outras manifestações estão presentes no dia a dia dos caxienses


RUA SOLIDÁRIA

V

ocê sabe o que é uma iniciativa social? Em muitos países essa prática tem sido muito utilizada para que a comunidade possa interagir mais entre si, além de gerar mudanças em seu meio. Mesmo que o termo continue em discussão por parte dos estudiosos, em geral é uma contribuição comunitária que procura auxiliar na melhoria do bemestar, seja com ações relacionadas à saúde, até a parte de entretenimento para todos os públicos. As ações são as mais variadas, às vezes nem nos damos conta que estamos ao redor de uma iniciativa. Todos os dias vemos chamadas para auxiliar ONGs, entidades carentes, não somente com objetos materiais, mas com amor e carinho ao próximo. Na Espanha, por exemplo, foi criado o movimento15M, quando a população, insatisfeita com seus governantes, começou a realizar manifestações pacíficas, que incluíam apresentações musicais e artísticas ainda vigentes na praça principal de Madrid, a Puerta Del Sol. Mesmo com o notável crescimento econômico brasileiro até 2012, a desigualdade social ainda se faz presente no dia a dia dos brasileiros. Mesmo nas grandes cidades, as diferenças econômicas convivem lado a lado e iniciativas da sociedade civil são criadas para auxiliar a complementar renda, educação e alimentação. Um exemplo é a BrazilFoundation, uma ONG que financia projetos que proponham soluções criativas para desafios enfrentados no país. Também encontramos O Gife (Grupo de Instituições, Fundações e Empresas), que faz uma ponte entre empresas e projetos. Seu principal papel é o de reunir investidores sociais para que as ideias apresentadas saiam do papel. Outra opção é a ActionAid, ONG inglesa com sede no Rio de Janeiro, que combate a pobreza há 40 anos; e no Brasil atua há 13 anos, em 13 estados. Aqui no Estado, também vemos diversas manifestações culturais e sociais, dentre elas destacam-se: Projeto Girassol, de funcionários da empresa Agrale S/A, de Caxias do Sul. Tem o objetivo de estimular, no espaço escolar, ações que proporcionem ao aluno desenvolver habilidades de planejamento de seu futuro, juntamente com os professores, colegas, familiares e

todos os interessados em evitar problemas ambientais e dificuldades sociais. Assim como Comitê da Juventude, de Sapucaia do Sul, e o Projeto Semente, da Associação Chimarrão da Amizade, de Canoas.

MAIS ESPORTE O vereador Felipe Gremelmaier (PMDB), está sempre envolvido em diversos projetos realizados em Caxias do Sul, e ressalta a importância da prática do esporte nas mais variadas faixas etárias. Como o projeto Conviver, Ritmo em Movimento, Caxias ativa, que são projetos voltados para a terceira idade. A ideia principal é incentivar a prática esportiva, melhorando a qualidade de vida e dando melhor condição física e mental aos participantes. “Hoje todos esses projetos voltados para a terceira idade movimentam em torno de 7 mil pessoas praticantes de algum esporte. Além disso, temos também as olimpíadas escolares que incluem 11 mil jovens e crianças. Tudo com a supervisão de profissionais qualificados”, destaca o vereador. Segundo Gremelmaier, a ideia principal é incentivar esses diversos públicos sobre a importância do esporte, já que nos dias atuais vivemos em um mundo bastante tecnológico. O vereador busca aumentar o acesso da comunidade a tantas variedades de esporte, diversificando o número de dias e horários, para que todos consigam participar. Ele destaca também que Caxias possui o FIESPORTE, que auxilia o município nas mais variadas modalidades esportivas, na qual são apresentados ideias que passam por uma aprovação antes de serem lançados. Segundo Gremelmaier, esse apoio é de grande importância por valorizar os esportistas da cidade. Incentivando-os a seguir em frente. O basquete caxiense é um exemplo, que entrou para liga nacional, além da canoagem e handebol. No mês de setembro vai ocorrer a segunda meia maratona de Caxias do Sul, que é são organizada pela Prefeitura em parceria com o Clube de Corredores, que será realizada no dia 11. O trajeto e a extensão da maratona ainda não foram definidos, mas o vereador destaca que para os próximos meses todas as informações serão divulgadas.

“Incentivar esses diversos públicos sobre a importância dessas práticas”

9




A RUA COMO

palco da arte

Música, artesanato e teatro são vertentes artísticas que dialogam com a cidade e evocam a sensação de pertencimento


RUA DA CULTURA

L

ugares de passagem, de passo apressado e olhar desatento. Paradas de ônibus. Praças. Parques. Calçadas. Seja pela insegurança ou a excessiva demanda diária de afazeres, o fato é que, enquanto estão na rua, as pessoas raramente olham para cima – quanto mais para outro indivíduo – pois permanecem submersas no seu universo particular, enquanto deixam em segundo plano um olhar que possa guiar uma sensibilidade diferente para algo.Em um desses pontos da cidade, na Rua Pinheiro Machado, nas proximidades da Estação Ópera,, o músico Cris Romagna realizava seu show. A apresentação dele contrastava com a apatia de um local normalmente enrustido, oprimido diante de sua natureza em potencial, abafada pela força de interesses econômicos. A poucos metros de onde se apresentava, estava a Estação Ópera, um lugar simbólico que carrega o nome do outrora legendário teatro que teve sua estrutura demolida para dar lugar a um estacionamento. Esse emblemático roteiro com final trágico, tal como os grandes espetáculos que fizeram a história daquela estrutura, pode servir de guia para mostrar o quanto podemos nos acostumar com realidades que não representam um ideal justo a ser perseguido. Como se nos permitíssemos tolerar o pior e gradualmente acreditar que isso é normal, que faz parte da realidade posta. A notória vocação da arte para com os ambientes públicos é uma dessas questões. A maioria das pessoas entra em um giro que não observa mais o que está acontecendo aqui e ali. Interessante que a música tem o poder de tirar dessa inércia e pensar, ou ao menos prestar atenção, e não passar de cabeça baixa, uns passam, mas a maioria não. A cultura pode despertar isso e deve despertar isso – afirma Cris Romagna. Romagna, que possui um estilo próprio de música folk, com canções autorais acústicas cantadas em inglês, foi uma das atrações do 5º Festival Brasileiro de Música de Rua, que ocorreu em diversas cidades da região entre os dias 15 a 24 de abril. A iniciativa foi desenvolvida com financiamento público e visa reconstruir essa espécie de conexão afetiva do espaço público com a comunidade. Em Caxias do Sul, o festival passou por instituições de ensino, estações de transbordo, centros culturais e praças, em sua

maioria, ambientes situados em meio ao furor da movimentação de pessoas. Muitos dos profissionais não estavam habituados a esse contexto, como é o caso do experiente músico de mais de 20 anos de estrada Fábio Chagas, que forma um duo de música erudita com Rodrigo Maciel. - É super curioso, é muito legal, até as orquestras hoje em dia realizam esse tipo de concerto. Tocar em locais como paradas de ônibus é muito interessante, é um outro contato, uma outra dimensão de música. Esse tipo de atitude de música de rua, de surgir em todos os lugares e todos os tipos de gêneros musicais, contribui para educar mais a população em geral – aponta Chagas, após realização de show em Farroupilha. Questionado se a densidade das composições eruditas não seria muito elevada para o público multifacetado da rua, ele responde que não: - A gente aproxima mais (a música das pessoas) e vê como ela pode ser agradável. Colocamos outros sons possíveis de serem executados com o violoncelo, como Beatles, e outras músicas rock’ n roll, além de clássicos da música erudita. Dá pra tocar músicas de todos os gêneros, do rock’n roll à MPB, destaca. O desempenho do músico gera surpresas positivas em públicos dos mais diversos, mesmo naqueles que não se dizem habituados a um formato de música mais refinada. A jovem Josiane Menzen acompanhou um dos shows do festival, em Farroupilha. As suas expressões diante de formatos de música afastados do mainstream variavam da desconfiança à admiração. - Eu não conheço as músicas e costumo vir para esses eventos que têm música alternativa por curiosidade, pra ter um outro estilo – avalia Reações mais calorosas também podem advir da apreensão de músicas que estão sendo ouvidas pela primeira vez. É o caso de Jeane Soares da Cunha, que, após ser entrevistada pela reportagem, fez questão de retornar para reiterar os elogios feitos ao festival. - Tem que existir mais desses eventos por aqui. Realmente esse tipo de iniciativa merece parabéns, de trazer música para próximo da comunidade, diz ela. Se para alguns profissionais a rua se coloca como um novo desafio a ser superado, para outros é um palco indispensável à prática da arte, como é o caso

“A rua traz a mensagem de liberdade, as pessoas percebem isso. Transcende qualquer ideologia, é micropolítica, tu alcança o diferente e ele o alcança” 13


do Grupo Uêba Produções Notáveis, que acumula 12 anos de experiência em montagens desse tipo. O grupo possui 12 peças no currículo (nove delas ainda como parte do repertório) muitas realizadas na rua, como é o caso do circo ZeZ, cujos personagens Zão e Zoraida – interpretados por Aline Zilli e Jonas Picolli – realizam um espetáculo que faz a alegria da criançada. - As crianças precisam ser estimuladas a imaginar, a brincar. E o teatro é uma poderosa ferramenta pra isso, usa o lúdico para se relacionar com a criança e apresentar novos “mundos” para ela - destaca Aline. A atriz aponta que o teatro cumpre uma função importante, de promover a renovação da sensação de “pertencimento” ao espaço público, além de gerar a aproximação com as próprias comunidades: - Fazer teatro de rua é, sem dúvida, um resgate e uma aproximação das pessoas e comunidades. O espaço urbano tem, em geral, virado espaço de passagem. Quando instalamos ali um pouco de arte, também estamos criando uma brecha nessa relação, de modo geral, dando novos significados e chamando o público a exercitar sua imaginação e, dessa forma, exercitar o “pertencimento”. Para outra atração do Festival de Música de Rua, o compositor folk uruguaio Molina, a experiência de tocar nos espaços públicos se somou à riqueza do intercâmbio cultural. - No meu caso, só me apresentei na rua no Brasil, eu me

apresento em teatro, festivais e bares, então é experiência nova para mim, comecei no ano passado e neste ano estou retornando a Caxias. Gostei muito daqui. Isso me faz pensar que seria muito bom prosseguir com apresentações de rua em outras partes do mundo. Essa experiência tem sido melhor que tocar em qualquer teatro. A também uruguaia Phoro, que compõe música eletrônica indie, avalia a experiência de tocar para públicos diferentes no espaço público estrangeiro: - Uma das virtudes desse festival é de não precisar comprar um ingresso, as pessoas passam nos lugares em que a música está tocando e decidem “ir no escuro” acompanhar algo novo. Se está tocando num bar ou discoteca, lugares em que me apresento, já sabem o que vão encontrar, e aqui temos a oportunidade de mostrar nosso trabalho para gente nova, que não conhece a nossa música – arremata. Uma das bandas mais surpreendentes do festival, que mescla música eletrônica com guitarras, a Supervão, de São Leopoldo, revela que a música de rua faz parte da “micropolítica” que visa praticar com a arte de rua: - A rua traz a mensagem de liberdade, as pessoas percebem que isso é liberdade. Transcende qualquer ideologia, é micropolítica, onde alcança o diferente e ele o alcança, e essa ligação é mais forte que qualquer ideologia. Isso é que é um transformador social”, afirma.



artesanato

que colore as ruas Trabalho manual chama atenção de quem passa pelas calçadas da avenida Júlio de Castilhos. Artesãos escolhem as ruas em nome da liberdade que ela proporciona


AV. JÚLIO DE CASTILHOS

O

artesanato é uma atividade que ganha destaque nas ruas de Caxias. Quem costuma passar pelo centro da cidade não demora a encontrar diversos artesãos sentados nas calçadas realizando trabalhos manuais e deixando as ruas mais coloridas com sua arte. Colares, pulseiras, pingentes, filtros dos sonhos são alguns dos artigos produzidos por essas pessoas que deixaram de lado a ambição pelo trabalho formal, e nas ruas encontram a sensação de liberdade. Desde outubro de 2015, a profissão de artesão é regulamentada e reconhecida pelo Ministério do Trabalho. Com a publicação da lei nº 13.180, foram estabelecidas diretrizes para as políticas públicas de fomento à profissão, como a instituição da carteira profissional para a categoria, que autoriza o poder Executivo a dar apoio profissional aos artesãos. A lei, sancionada pela então presidente Dilma Rousseff, beneficia cerca de dez milhões de artesãos brasileiros. Fabiano Suliani é um beneficiados pela regulamentação da profissão. Artesão há mais de 20 anos, ele já participou de muitas feiras de artesanato pelo Brasil, mas é nas ruas que encontra o prazer de trabalhar. Para ele, a vida com regras e imposições, normalmente exigidas em um ambiente de trabalho formal, não combina com seu estilo de vida. “Na rua faço meu horário, tenho liberdade e posso viver como gosto”, explica Suliani. Suliani é cadastrado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Emprego (SDETE) da Prefeitura Municipal de Caxias do Sul e possui a carteirinha de Artesão, oferecida na cidade pela Casa do Artesão. Com o documento, o artesão pode participar das feiras que são realizadas periodicamente em Caxias do Sul e em outras cidades da região, além de ter acesso aos direitos trabalhistas. Para conseguir uma aposentadoria digna, Suliani conta que recentemente decidiu cadastrar-se para ser Microempreendedor Individual (MEI). Uma das maiores dificuldades de trabalhar com arte na rua é o preconceito que os artesãos enfrentam. Mesmo com todos os incentivos, benefícios e suportes oferecidos pelos órgãos públicos, há ainda quem prefira trabalhar irregular, fazendo com que haja uma descrença da sociedade na profissão. “Muitas pessoas que trabalham na rua se dizem ar-

tesãos, mas na verdade produzem pouco material e de má qualidade”, comenta Suliani. Para ele, é em função da comodidade que o trabalho nas ruas causa, que muitas pessoas não procuram se regulamentar.

ARTESÃO DE RUA A tecnologia trouxe muitos avanços para a sociedade. Mesmo com toda a evolução, algumas profissões permaneceram inalteradas em seu modo de produção, como é o caso do artesanato. Essa profissão preserva o crescimento da cultura de cada região, e é através do trabalho manual que se produz peças únicas, que fogem do acelerado processo de produção em série das indústrias. O artesão é dono do processo de produção, pois ele planeja, produz, finaliza e vende sua própria mercadoria. O fato de trabalhar vendendo sua arte na rua ainda é o que motiva esses artesãos em seu dia a dia. Enaldo Jorge Brito de Freitas enaltece a rua como o seu local de trabalho ideal. Foi ali que conquistou clientes, fez amizades com outros artesãos e é na rua que se sente mais feliz. “Pra mim é uma satisfação passar para as pessoas o macramê, que é uma arte de linhas inventada pelos incas, é uma arte milenar. A gente sobrevive usando a imaginação, e inventando coisas com as linhas”, explica Freitas. A técnica do macramê não utiliza nenhum tipo de máquina ou ferramenta. É trabalho totalmente manual, no qual as linhas vão se cruzando, formando cruzamentos geométricos, franjas e uma infinidade de formas decorativas. Muitos artesãos utilizam essa técnica e Freitas conta que aprendeu a arte com linhas nas ruas, com os próprios vendedores que ali trabalham. “São várias raízes de muitos lugares, e há uma troca de conhecimentos”, afirma. Freitas conta que mesmo o artesanato sendo uma profissão de trabalho manual, que pouco ou nada se modificou com os avanços tecnológicos dos últimos anos, ele utiliza a internet para pesquisar novas técnicas e fazer contato com clientes. “Muitas pessoas fazem encomenda pelo Whatsapp, clientes que conheci nas ruas que admiram meu trabalho. Eu utilizo a internet para estudar artesanato e outras coisas também”, conta o artesão.

“Na rua faço meu horário, tenho liberdade e posso viver como gosto.” Fabiano Suliani, artesão há 20 anos

17


FILOSOFIA DE VIDA A filosofia de vida do artesão em ser livre, ser dono do processo de produção de seu trabalho são características que essas pessoas têm em comum. O amor pela arte e pelas ruas faz deles uma família, como afirma Cristofer da Silva. “Nós somos uma família, não somos concorrentes. Um vai ensinando o outro. Apesar de termos a mesma técnica, cada artesão realiza um trabalho diferente, as pedras têm formatos diferentes. É uma energia diferente que brota em cada artesão”. Cristofer veio de Santa Catarina para Caxias do Sul, e conta que na Praia dos Ingleses, cidade onde morava, aprendeu a respeitar o artesanato como profissão. “Por ser uma cidade também de pescadores, que utilizam rede de pesca artesanal, o artesanato é mais valorizado do que em Caxias do Sul”, afirma Cristofer. Ele também é adepto da técnica do macramê e diz que foi aprendendo o trabalho pelas ruas, onde ele gosta de estar. Cristofer afirma que se interessou pelo trabalho do artesão

por amor à arte. Apesar de estar trabalhando com artesanato há poucos meses, é um amante da filosofia de vida possibilitada por esse trabalho. “Antes eu tinha só uma filosofia, uma vontade de ser artesão. Mas é preciso lutar pra isso, ter atitude. Estou bem satisfeito, pois não faço isso por dinheiro, não gosto de luxo, tenho dinheiro pra sobrevier. Sou bicho solto”, afirma Cristofer, que ainda não se considera um artesão, pois acha que tem muito para aprender. As ruas, palco para a demonstração do artesanato, são também o maior atrativo para quem tem esse estilo de vida. Assim como a maioria dos artesãos, Cristofer acha muito bom poder estar em contato com as pessoas nas ruas e viver a sensação de liberdade. “A maior vantagem é ser livre, não precisar ficar dependendo do sistema, esperando do governo que não faz nada pela gente. Aqui eu faço meu horário, tenho liberdade de expressão, é uma coisa minha. Fujo um pouco do capitalismo pra viver da maneira que eu gosto”, explica.



sabores

da acolhida

Comer na rua pode ser uma experiĂŞncia muito positiva se nos despirmos do preconceito

Fotos: Adriano França


nça

RUA JÚLIO DE CASTILHOS

C

axias do sul se destaca por ter um vasto cardápio de comidas regionais e tipicamente italianas em seus diversos estabelecimentos e restaurantes espalhados pela cidade. Bem mais acessível que um jantar em um desses restaurantes, uma boa opção pode ser comer em um dos quiosques que se encontram nas esquinas de Caxias. O hábito de comer na rua está associado a vários fatores. O tempo de preparo e o valor da comida são os mais lembrados pelos transeuntes e consumidores das famosas carrocinhas de cachorro-quente, churros e outras tantas delícias que a avenida principal de Caxias do Sul, a Júlio de Castilhos, oferece. No entanto, existe um fator que se sobrepõe aos anteriores: o vínculo cultural e afetivo que o consumidor acaba criando com os vendedores dessas carrocinhas.

SABOR E AFETO Dona Antônia, 46 anos, vende acarajé e tapioca na cidade colonizada por italianos. E dona Antônia garante que faz sucesso. A barraquinha da tapioca, como é chamada, é itinerante, e fica ou na praça Dante Aliguieri ou na praça João Pessoa, e funciona de terça a quinta, das 8h às 17h. O acarajé é feito na hora, assim como a tapioca, e o valor varia entre R$ 5 e R$ 7. A barraquinha também oferece bebidas como sucos e refrigerantes. É com a venda desses alimentos que dona Antônia tira o seu sustento. Sempre bem-humorada, ela ainda conta que a freguesia é muito tranquila e que fez amizades com a maioria das pessoas vem experimentar suas iguarias. Na Avenida Júlio de Castilhos, o Quiosque da Yasmim está presente há vários anos. Do começo com crepes, passou a servir cachorros-quentes e outros lanches. Com muita simpatia e cordialidade, serve os lanches sempre com um sorriso no rosto. Há os dias em que o fluxo de clientes aumenta e o trabalho fica maior, precisando de mais dedicação, porém, a alegria em servir não diminui. ‘’Não tem coisa melhor do que servir as pessoas e ver o sorriso no rosto delas. Isso é muito gratificante. É isso

que quero fazer até quando eu puder’’, afirma Yasmim Santos. que vende cerca de 500 lanches por dia. Marcos da Silva, 50 anos, é um dos clientes que vem todos os dias ao quiosque para fazer seu lanchinho. ‘’Como trabalho próximo ao quiosque, consigo dar uma escapadinha para fazer um lanche. Vir aqui é sagrado. Se não venho meu dia não fica bom. Não me alegro, não tem jeito’’ , afirma Marcos. ”cliente e merece nosso melhor, não importa se vão comprar só um churros de dois reais”, enfatiza a vendedora.

KREP’S E CHURROS PARA SACIAR A FOME Já seu Jucelino, 53, dono do Krep´s & Churros, também localizado na Avenida Júlio de Castilhos, se diz realizado com seu negócio. Seu quiosque funciona das 18h até “madrugada afora”, conforme ele mesmo conta. É na noite que ele vende sua comida e acaba sendo um excelente ouvinte de seus clientes. “Na madrugada o povo é mais sociável e, enquanto eu preparo crepes ou churros, eles acabam contando suas tristezas e angústias, sou uma espécie de conselheiro, principalmente amoroso” (risos). Tanto um como outro custam R$ 4,50. Seu Jucelino também vende água e refrigerante. “Não penso em fazer outra coisa, trabalhar com comida e com as pessoas é o que me faz feliz, e por mais crise ou problemas que ‘tiver’, as pessoas sempre vão ter fome e vontade de serem ouvidas,”conlui. É inegável a importância cultural e social das barraquinhas espalhadas pela cidade. Elas acabam caracterizando e dando mais vida às ruas de Caxias. É no aroma da comida, na risada farta, na camaradagem e na simplicidade desse meio que conseguimos perceber uma cidade mais vibrante, um povo mais caloroso, menos sisudo, despreocupado e muitas vezes até boêmio, aliás, boemia é quase que um sacrilégio na cidade “da fé e do trabalho”. Essa gente batalhadora está aí com sua boniteza sua simpatia, fazendo o melhor que pode para atender os seus clientes, sem distinguir raça, credo, cor, ou profissão:

“Na madrugada o povo é mais sociável e, enquanto eu preparo crepes ou churros, eles acabam contando suas tristezas e angústias, sou uma espécie de conselheiro” 21




a rua dos trilhos

O Largo da Estação Férrea é um dos principais pontos de encontro dos jovens em Caxias do Sul. A agitada vida noturna do local é um atrativo para quem busca diversão


RUA DR.AUGUSTO PESTANA

O

relógio marcava pontualmente meia-noite anunciando o fim de mais um dia ou então o início de outro, isso é apenas uma questão de ponto de vista, não é mesmo? Mas isso pouco interessa para Luan Kremer, 22 anos, e Arthur Krammer, 25 anos, para eles era apenas o começo de mais uma madrugada na companhia dos amigos no Largo da Estação Férrea, em Caxias do Sul. O frio de 10°C (a sensação térmica era muito menor) não foi capaz de intimidar uma boa quantidade de pessoas, principalmente jovens que resolveram sair de suas casas para se divertir na rua. Pode até soar estranho, mas fique sabendo que a rua, nesse caso a Dr. Augusto Pestana, que abriga o complexo do Largo da Estação Férrea, no bairro São Pelegrino, aos finais de semana se torna a “balada” ou “bar” de muitas pessoas na cidade.

Como se a vida fosse um filme, apertamos o botão stop do controle remoto. Calma, logo mais voltaremos com as aventuras noturnas de Luan e Arthur. Mas no momento vamos fazer uma breve viagem ao passado. Na história do Brasil e do mundo existem diversas ruas, avenidas, becos e vielas que tiveram papel determinante para o desenvolvimento, seja de um vilarejo, município, cidade ou até mesmo de toda uma região. Quem nunca ouviu falar da famosa “Abbey Road”, a rua de Londres que ficou famosa mundialmente, após servir como plano de fundo para a capa do CD dos Beatles, que leva o mesmo nome do local? Nos Estados Unidos temos a Hollywood Boulevard e sua “Calçada da Fama”, conhecida internacionalmente. Em terras tupiniquins, podemos citar a Avenida Paulista, que é considerada um dos principais cartões postais da capital paulistana.

A RUA QUE TRANSFORMOU CAXIAS DO SUL EM CIDADE Guardadas as devidas proporções e comparações, a rua Dr. Augusto Pestana também teve um papel importante para a evolução do seu entorno. Ela está situada no local escolhido para que fosse construída a Estação Férrea de Caxias do Sul, obra que elevaria o patamar do ainda pequeno município gaúcho. A Diretora da Divisão de Proteção ao Patrimônio Histórico e Cultural de Caxias do Sul, Liliana Henrichs, conta que o crescimento da cidade está intimamente ligado à construção do Largo da Estação Férrea. Ela explica que tudo começou em 1897, com a visita do então presidente da Província do Rio Grande do Sul, Júlio de Castilhos. A missão do político no município era convencer a sociedade e, principalmente, o empresariado local de que para mostrar a pujança da região o projeto da Viação Férrea Rio Grande do Sul, que inicialmente contemplaria apenas a região Metropolitana e do Vale dos Sinos, deveria se estender até Caxias do Sul. A iniciativa de Júlio de Castilhos deu certo, e Caxias do Sul entrou no projeto. Mas a conclusão da obra foi uma tarefa árdua, o terreno acidentado da Serra Gaúcha trouxe muitas dificuldades para

a finalização da ferrovia, que só ficou pronta em 1910. Porém, a sua inauguração foi um marco histórico para a comunidade local, como explica Liliane. “A Estação Férrea foi inaugurada no dia 1°de junho de 1910. Naquele mesmo dia Caxias foi elevada à categoria de cidade. Já era município desde 1890, mas ganhou o título de cidade pois estava se tornando um núcleo urbano”, salienta. A estação, como havia pensado Júlio de Castilhos, fez com que a economia caxiense crescesse e mostrasse toda sua força. Agora, os comerciantes não precisavam mais se deslocar até Porto Alegre com seus produtos no lombo de burros, como tradicionalmente era feito, tudo isso podia ser realizado com o auxílio da nova linha de trem. A facilidade para enviar os produtos a outras regiões do Estado fez com que vinícolas se instalassem no complexo que hoje conhecemos como Largo da Estação Férrea. “No prédio onde hoje temos fica a Faculdade da Serra Gaúcha, antigamente funcionava a Companhia Vinícola Riograndense, que tinha vários prédios em Caxias, no Rio Grande do Sul e pelo Brasil. Onde atualmente está localizada

“A Estação Férrea foi inaugurada no dia 1° de junho de 1910. Naquele mesmo dia Caxias foi elevada à categoria de cidade.”

25


rua dr. augusto pestana a Secretaria da Cultura, era a Cooperativa Vinícola São Victor. Elas se instalaram ali pois a proximidade com a estação favorecia a logística para distribuir o vinho”, recorda Liliana. Tudo parecia ir bem até que nos anos 60, quando o Brasil decidiu adotar uma política de construção de estradas, apostando no transporte rodoviário, em detrimento do ferroviário. Com isso a estação foi perdendo espaço e uso, até ser desativada na década de 70. Sem a movimentação de trabalhadores e trens, o local foi ficando esquecido pela população caxiense, que por muito tempo associou a Rua Dr. Augusto Pestana com as ruínas da Estação Férrea. A mudança começou em 2002, quando o Sítio Ferroviário de Caxias do Sul foi tombado como patrimônio histórico e cultural do Rio Grande do Sul. Nos anos seguintes o local passou por uma revitalização e voltou a ter vida, mas dessa vez, ao contrário do passado, não era o trabalho que motivava as pessoas a se deslocarem até a estação e, sim, a diversão. Esse é o momento perfeito para ajustarmos nossa viagem no tempo novamente para 2016. Muita coisa mudou na Estação Férrea mas por mera coincidência, ou não, podemos ver alguns elementos que se misturam à história da velha estação. Na mão de Luan, um copo plástico regado com o melhor vinho tinto seco que se pode comprar com 15 reais. Arthur divide o mesmo copo com o amigo sem se importar, entre goles da bebida, tragadas no cigarro e conversas, a Estação Férrea vive noites em que a temperatura pode ser fria, mas o ambiente é quente.

Visitar a Estação Férrea é ir a um lugar onde podemos observar a maior concentração de diversidade, em um único lugar de Caxias do Sul. Do início ao fim da Dr. Augusto Pestana se espalham bares e casas noturnas que vão do sertanejo universitário até o rock e blues. Mas o som não está restrito aos ambientes fechados: na rua, carros disputam o volume mais alto na batida do funk nacional. Rodas de rima se formam como num passe de mágica e o rap improvisado dá o tom. Tudo isso, para Luan, faz com que a Estação Férrea seja um dos lugares mais democráticos de Caxias do Sul. “Aqui nos trilhos (como alguns jovens chamam a Estação Férrea) você pode vir com muito dinheiro entrar em uma festa, gastar e se divertir igual a uma pessoa que ficou à noite toda andando por aqui conversando, bebendo e dando risadas”, observa. Arthur segue a mesma linha do amigo. “O bom de vir para os trilhos é que você reencontra amigos, conhece novas pessoas e tem a liberdade para escolher se vai entrar em uma festa ou se vai ficar na rua. Quem vem aqui com frequência já tem até seu lugar favorito na estação”, complementa. O depoimento dos jovens se comprova com a sequência da noite, amigos vão chegando, o grupo vai crescendo, o vinho na garrafa diminuindo e as histórias se desenrolando. Por volta de 3h30min, os amigos resolvem voltar para casa, com o movimento caindo no Largo da Estação, aumentam os perigos do local.

Fotos: Gerson Felippi Junior


DIVERSÃO OU PERTUBAÇÃO? Mas nem tudo são flores, ou melhor, vinho, na Estação Férrea. Apesar de o ambiente ser considerado democrático pelos seus frequentadores, a mesma democracia não pode ser aplicada quando a questão se refere ao sono das pessoas que moram nas redondezas. De acordo com o Capitão Turra, do 12° Batalhão de Polícia Militar, as principais reclamações e ocorrências policiais atendidas pela Brigada Militar no Largo da Estação são relacionadas à perturbação do silêncio. Crimes como tráfico de drogas e roubos, assim como tumultos e brigas que ocorrem na estação, também preocupam as autoridades. Durante o mês de abril de 2016, um homem foi baleado no local, aumentando o alerta da Brigada Militar em relação à segurança de quem frequenta o lugar apenas para se divertir.

“Estamos desenvolvendo ações para coibir os delitos no Largo da Estação. Nossa estratégia é realizar um patrulhamento ostensivo na região do bairro São Pelegrino, principalmente no entorno da estação. No passado, tínhamos uma dupla de policiais fixa durante as noites de sextas e sábados por lá, mas vimos que isso inibe as ações somente próximo de onde os policiais estão”, explica. Outro ponto que também gera desconforto nos moradores das redondezas é o lixo que fica acumulado após as noites, principalmente nos finais de semana. Da pujança e trabalho, à diversidade e diversão, o Largo da Estação Férrea ainda vive mesmo sem os trens passando por lá. Os desafios agora são os de uma Caxias que cresceu, que passou de município para cidade com a chegada dos trilhos, e que busca resolver seus problemas enquanto caminha para se tornar metrópole. Uma coisa é certa: a história de Caxias do Sul passa (e para muitos fica) pelos arredores da Rua Dr. Augusto Pestana.

rap na estação

Gerson Felippi Junior gfjunior1@ucs.br

Estudante de jornalismo, repórter de rádio, 24 anos, gaúcho e “bon vivant”. Ansioso por viver novas experiências e conhecer lugares. Interesses viagens, esportes e política.

A música é uma das atrações do Largo da Estação Férrea, desde o final de 2013 a cada último domingo de mês acontece a Batalha da Estação. O evento que consiste em duelos de rima entre MCs, reúne um bons público e movimenta a cena do rap caxiense. Mariana Campos, 32 anos, é uma das organizadoras da Batalha da Estação conta que a ideia surgiu da união de várias pessoas ligadas ao movimento hip hop em Caxias do Sul. O grupo promoveu 25 “batalhas”, e já tem suas próximas edições agendadas, mesmo com o sucesso do evento seus organizadores ainda encontram dificuldades. “Contamos com o apoio de alguns colaboradores que nos ajudam com premiações para os participantes, mas todo o resto é feito por nós sem apoio algum. É difícil conseguir caixa de som, microfone, nossa aparelhagem é um pouco ruim, isso sem falar na repressão que acontece lá tanto por parte da Brigada Militar como da Guarda Municipal”, relata Mariana. Apesar dos problemas Mariana e seu grupo segue firme revelando talentos e fomentando a cultura hip hop no município.

27


GALERIA

MERlin

A história de Farroupilha passa inevitavelmente pelas ruas Júlio de Castilhos, Pinheiro Machado e República: um convite ao lazer no centro da cidade


RUA COBERTA

P

ela década de 1910 a cidade de Farroupilha possuía poucas ruas e muita gente vivendo da agricultura. A principal delas era a Júlio de Castilhos, que na realidade não era exatamente uma rua, e sim uma estrada que cortava praticamente todo o Estado, e que ligava a região até a capital, Porto Alegre. Nessa estrada havia um imenso “Secos e Molhados” que vendia de tudo. Lã de ovelha, carnes, queijos, munição para armas, verduras, frutas... enfim, era um mercado que recebia uma grande quantidade de pessoas que vinha de todo o país, e que parava no local para comprar insumos para sua viagem, ou para trocar as mercadorias com o dono desse estabelecimento. Nascia ali a Galeria Merlin. Quem conta um pouco a história desse local é o neto do proprietário do estabelecimento, Alcides Merlin. Ele diz que o prédio “sempre recebeu muitas pessoas”. A família morava no segundo andar (onde hoje tem um grande restaurante, uma escola de informática e um brechó de roupas infantis). No primeiro andar, onde hoje existe essa rua que corta todas as demais, funcionava o Secos e Molhados, uma área de muitos metros quadrados, que hoje abriga os mais diversos tipos de negócios (cafés, escola de música, escola de dança, loja de cosméticos, lojas de vestuário, etc..) e no térreo era onde a família fazia alguns dos produtos que revendia no local, e também funcionava como um depósito para os insumos. Com o passar dos anos, o pai de Alcides (Alcides Pedro Benjamim Merlin), filho do proprietário do local (Ludovico Merlin), começou a produzir óleo e a comercializar secos e molhados. Fazia óleo de todos os tipos, e para as mais diversas utilidades. Vendo ali uma oportunidade de negócio, Alcides rumou para capital, atrás de novos negócios e, pelo fato de a cidade de Farroupilha não oferecer energia elétrica trifásica, que era necessária para fazer óleo em quantidade, viu em Porto Alegre a oportunidade de fazer seu negócio prosperar, e conseguiu. Já na década de 1950, levou seus pais para Porto Alegre, deixando o estabelecimento para um de seus parentes, a tia Alda Raquele Merlin. Os pais de Alcides (Ludovico e Emma Merlin) faleceram, e ele (Alcides Filho) nasceu e começou uma nova linha da família Merlin. O Secos e Molhados já não dava mais tanto dinheiro como antigamente, devido à abertura de mercados e lojas segmen-

tadas e Alda foi diminuindo esse espaço, dividindo o prédio em salas para alugar. Montou uma loja de eletrodomésticos que vendia e consertava aparelhos, e continuou com o Secos e Molhados. Com o passar do tempo, o antigo estabelecimento acabou fechando e outras diversas salas foram locadas. Ao todo são 20 estabelecimentos, mas a galeria é mais do que salas para alugar: já foi a alma da cidade, um ponto que, como diz Alcides, “sempre recebeu muitas pessoas” e ele sonhou em continuar recebendo esses transeuntes, mesmo que seja só para cortar o caminho.

DO SECOS E MOLHADOS AO COMÉRCIO GERAL A antiga estrada virou rua, e a galeria hoje está no coração da cidade de Farroupilha, corta as ruas Júlio de Castilhos, Pinheiro Machado e República. Dos dois andares originais, hoje são quatro. Para Alex Sandro Finimundi, proprietário do Pip´s restaurante, terceiro andar, o fato de a galeria ter uma história ajuda a contribuir para o bom funcionamento do restaurante. “Diariamente, recebemos diversas pessoas aqui no Pip´s, dos mais diversos gêneros e tipos. Temos os clientes que vêm e almoçam todos os dias, mas muita gente vem porque a galeria é central, e acaba sendo um local para almoçar, encontrar os amigos, e passar o tempo entre um afazer e outro”.

Foto: Maurício Belarmino

“...a galeria está aí para isso, acho legal a ideia de multipluralidade de estabelecimentos”, afirma Alcídes Merlin

29


Já para João Pedro de Souza, dentista, “a galeria é um espaço que frequento todas as quartas-feiras. Saio do meu local de trabalho, e cruzo a galeria para encontrar amigos que também são dentistas e trabalham no centro. Por ser próximo dos locais de trabalho de todos nós, usamos a galeria como ponto de encontro, para tomar um cafezinho e falar sobre os clientes e o nosso mercado de trabalho.” Ao contarmos um pouco sobre a história para o entrevistado, ela nem acreditava que a galeria tivesse todo esse tempo de vida: “Sempre pensei que a galeria tivesse sido isso, um monte de salas com os mais diversos tipos de empreendimentos.” E não deixa de ter certa razão. Alcides diz que sempre foi muito criterioso ao escolher os estabelecimentos do local. “Antigamente, eu era ciumento. Se achava que o negócio não fosse legal, não deixava ninguém entrar na sala. Hoje, perdi um pouco esse “ciúme”, trabalho como um negócio mesmo, mas gosto da ideia de ter um pouco de tudo na galeria, assim, as pessoas podem entrar, almoçar, comprar algum cosmético ou peça de roupa, convidar os amigos para um café... a galeria está ai para isso, acho legal a ideia de multipluralidade de estabelecimentos.

Foto: Maurício Belarmino

Para Aléferson Menezes, publicitário e produtor de conteúdo na Agência Pixel, também situada na galeria, “A minha semana acontece toda aqui. Trabalho na agência, almoço no restaurante... até nos momentos de ócio criativo utilizo as sacadas e ruas da galeria para refletir e colocar as ideias em ordem. Hoje posso dizer que eu vivo a galeria diariamente.”

Foto: Maurício Belarmino

Foto: Maurício Belarmino


Já para as amigas Liliane Cristina de Vargas e Maria Luiza Trivelin, a galeria é o local que elas se encontram para almoçar “Por estar bem no centro, fica mais fácil de nos encontrarmos para almoçar. Se uma não pode, sempre acabamos encontrando alguém que conhecemos aqui, assim, nunca almoçamos sozinhas”.

A galeria mostra que realmente tem todos os tipos de públicos, seja para almoçar, tomar o café, comprar algum presente para alguém, ou para simplesmente cruzar a rua de um lado para o outro. No que depender do proprietário e do movimento, a tendência é que a Merlin continue sendo o coração da cidade por muitos anos.

Assinatura mmaioli@ucs.br

Foto: Maurício Belarmino De acordo com Alcides, é legal ver que a galeria possui variados públicos. “É tanta gente que passa por aqui que sinto que o legado da família continua. Gosto de passar durante o dia pelos estabelecimentos e ver que tem movimento, que as pessoas param para olhar as vitrines, faz eu me sentir realizado e dando continuidade ao espaço que já foi utilizado pelos meus pais e avós”, fala Alcides.

Foto: Maurício Belarmino

Um amante das ruas farroupilhenses, fã de músicas que ninguém gosta, viciado em café, em falar com pessoas das mais diversas opiniões. Estudante e apaixonado por Relações Públicas, comunicação e E-commerce. Ahhh, gremista fanático e maluco por todo tipo de loucura que a vida oferece. Faz teu mundo sonhador!

31


ó abre

De uns anos para cá, uma nova cultura carnavalesca ganha força em Caxias do Sul. Agora, os bailes do clubes e os desfiles das Escolas de Samba têm um novo companheiro: o Carnaval de rua.

alas

Fotos: Tuany Areze


CARNAVAL DE RUA

S

e antigamente a melhor opção para o feriado de Carnaval era fugir para a praia ou para outra cidade, hoje em dia Caxias oferece opções para todas as noites do feriado. São diferentes blocos e desfiles que buscam entreter o morador da cidade, mostrando que o Carnaval, símbolo de paganismo para a religião, pode envolver todo mundo: crianças, jovens e adultos. Os bailes de Carnaval dos clubes, que costumavam ser animados por bandas como o grupo Imagem e a Banda do Garrafão, eram os eventos mais aguardados na época do feriado, principalmente pelo público infantil, que participava dos concursos de fantasia no Clube Juvenil e Recreio da Juventude. Quem não ia viajar, aproveitava a folia dentro dos clubes. Hoje, as comemorações foram para as ruas e atraem cada vez mais foliões. O objetivo principal? Se divertir.

A VELHA E O CARNAVAL O Bloco da Velha foi o primeiro a surgir em Caxias do Sul. Organizado pelos proprietários da livraria Do Arco da Velha, entre eles Marion Martinatto, a ideia de criar o bloco surgiu de uma conversa entre amantes do Carnaval e do samba. “Estávamos num bate-papo eu, o pessoal da livraria e alguns clientes e amigos, e percebemos que todos nós iríamos estar na cidade durante o feriado. Resolvemos bolar alguma coisa para nos divertir!”, explica Marion. Então, alugaram um carro com um som potente no porta-malas, colocaram alguns sambasenredos e marchinhas para tocar e decidiram sair pelas ruas. “Percebemos que muitos amigos e conhecidos queriam participar e pediram camisetas. Acabamos confeccionando 40 camisetas e, no dia, mais de 200 pessoas apareceram”, conta, extasiada. Isso foi lá em 2011. Hoje, cinco anos após a ideia, o Bloco recebeu 20 mil foliões na Estação Férrea. Desde o início, o Bloco da Velha sai no domingo de Carnaval. Segundo a organizadora, não foi necessário um consenso entre eles e os outros blocos, todos foram se encaixando e aumentando as opções de festas para os caxienses. Para realizar o Bloco, Marion explica que a maior dificuldade que encontram é conseguir o apoio dos órgãos públi-

cos. “Enfrentamos problemas porque temos que fechar as ruas, providenciar os banheiros químicos, distribuir água. Além disso, precisamos ir atrás do policiamento, das ambulâncias, tudo por nossa conta. É uma novela todo o ano!”, desabafa. Todos os anos, o número de foliões dobra, e o Bloco da Velha tem que atender todos os participantes por conta própria. Para o Bloco da Velha, o Carnaval sempre foi sinônimo de diversão, e eles acreditam ter feito algumas pessoas da cidade encararem a folia com outros olhos. “Essas festas populares sofrem um preconceito muito grande, pois as pessoas não se sentem fazendo parte disso. O Bloco, acredito que sem querer, mostrou que as pessoas podem vir com suas famílias e se divertir independentemente das classes sociais, cor ou dinheiro “, diz Marion. “As pessoas estão com olhares diferentes para a cidade nessa época. Percebemos também que pessoas de outras cidades vêm para cá festejar”, conta a organizadora. Para o próximo ano, as metas são entregar um evento de qualidade ao público e manter o número de foliões. “Alguns detalhes deixaram a desejar em 2015, como o som, então já estamos revendo essa questão e também o trajeto que faremos”, explica Marion.

O BLOCO DA PARALELA O Bloco da Ovelha, organizado pela Casa Paralela, surgiu há pouco tempo, em 2015. De acordo um dos organizadores, Leonardo Ferrolho, a ideia do bloco surgiu da vontade de ter mais festas durante o Carnaval em Caxias. Para o criador, até mesmo o processo de organização do bloco foi bem “carnaval”. “Estávamos reunidos em volta de uma bateria falando ‘a gente podia fazer um bloco de carnaval, né..?’. Daí começamos a batucar ‘Mamãe Eu Quero’ e tinha uma ovelha sintética jogada num canto. Aí surgiu a primeira marchinha e o nome do bloco, Bloco da Ovelha”, explica. A Tédio Produtora é quem está por trás da organização do evento. Ferrolho relembra que a primeira vez que o bloco foi às ruas, ano passado, tudo foi muito espontâneo, e a organização durou menos de três semanas. “A

“Essas festas populares sofrem um preconceito muito grande, pois as pessoas não se sentem fazendo parte disso”, afirma Marion Martinatto 33


banda na verdade foi formada por membros de bandas da cidade, e foram apenas três ensaios. O car ro de som foi improvisado, a bateria também. Mas tivemos muito sol e muita festa”, afirma, feliz. Além disso, foram pouquíssimos imprevistos e, como não sabiam o que esperar, Ferrolho brinca que foi tudo melhor que o esperado. O primeiro ano de bloco teve aproximadamente 500 pessoas. Este ano, segundo os organizadores, foram mais de 3 mil pessoas. Para não atrapalhar os blocos mais antigos da cidade – como o Bloco da Velha -, o Bloco Da Ovelha organizou-se para acontecer no sábado, e para sua versão reloaded – quando voltam às ruas – acontecer na segunda-feira. Assim, o Bloco da Ovelha acrescenta mais dois dias de festa aos foliões. Em relação às dificuldades encontradas para realizar o Bloco, Ferrolho afirma que elas sempre existem, porém, o clima de organização do evento é positivo. “Tanto que agora nem consigo pensar em problemas específicos”, declara o organizador. Segundo Ferrolho, o clima de Carnaval em Caxias do Sul está passando por mudanças. “Tem uma movimentação bem maior em torno do Carnaval desde o surgimento do Bloco da Velha, quando o Carnaval saiu dos clubes e chegou às ruas do centro”, explica. Para ele, o motivo do crescimento é simples. “Caxias é Brasil, é mundo... não é mais aquela cidade `italiana’ que o pessoal insiste”. Porém, ele ressalta que ainda há pessoas que não recebem as comemorações muito bem, e enxergam o Carnaval com preconceito. “Mas isso é porque elas não se abrem e não vivem o Carnaval, mas tenho certeza que cada vez mais o Carnaval vai ser uma marca da cidade”, afirma, otimista. Para 2017, o pessoal da Paralela já está pensando sobre o Bloco da Ovelha. “Mas é tudo surpresa ainda!”.

A TRADIÇÃO MAIS ANTIGA Apesar de atualmente uma das grandes marcas do Carnaval em Caxias ser os blocos de rua – como o Bloco da Velha e o Bloco da Ovelha –, a cidade conta também com diversas Escolas de Samba, que se empenham ano a ano para manter a tradição da data. Cleberton de Aguiar Ribeiro é um dos filhos do Carnaval. Sua experiência com a festa começou desde pequeno, por influência da família. Sua mãe foi madrinha de bateria da escola Incríveis do Ritmo, seu pai fazia parte da harmonia musical da mesma escola e seu tio é um dos mestres de bateria mais antigos de Caxias. “Nasci e me criei dentro dos barracões das escolas. Com seis anos fui repinique mestre na Incríveis do Ritmo, e passei por diversas agremiações durante os anos, como mestre de bateria, carnavalesco e puxador”, conta Cleberton. Na bagagem, Cleberton leva o título de responsável pela criação do CD dos samba-enredos da cidade, e também o cargo de comentarista dos desfiles de rua por cinco anos. Agora, ele é presidente da Assencar – Associação Carnavalesca de Caxias do Sul - que, juntamente com a secretaria da Cultura, organiza o carnaval. O presidente guarda na memória os Carnavais de rua de antigamente. “A proposta era mais simples, alguns blocos eram formados por amigos que saíam às ruas e se divertiam”, explica. Ele relembra que também existiam os tradicionais bailes de Carnaval nos clubes, como o Guarani, o Recreio Cruzeiro, e o Juvenil. Hoje em dia, clubes como o Recreio da Juventude ainda fazem as festas de Carnaval, que são frequentadas, em sua maioria pelos sócios de cada clube.

Crédito: Pioneiro


o

Uma das memórias mais marcantes para Cleberton foi quando sua escola, os Incríveis do Ritmo, saiu do grupo de acesso. “A Escola havia sido rebaixada, e eu assumi como carnavalesco sem condições de colocá-la na Avenida. Criei um tema e um samba-enredo em uma noite, que falava sobre os grandes nomes gaúchos que fizeram sucesso no Brasil e no mundo”. Orgulhoso, ele conta que a Escola recebeu título de melhor samba e foi campeã do Carnaval, voltando ao grupo especial. Atualmente, Cleberton participa do processo para colocar as 10 Escolas de Samba de Caxias na Avenida. O primeiro passo, de acordo com ele, é organizar o espaço ou barracão, onde os materiais necessários ficarão guardados. Depois, o carnavalesco apresenta para a diretoria da escola as pesquisas de um no enredo e, quando isso é definido, são distribuídas as sinopses aos compositores para a criação do samba. “E aí são apresentados para a comunidade os desenhos das alas”, finaliza. Cleberton afirma que as escolas constroem o Carnaval junto à comunidade, resultado de um esforço coletivo. “Essas manifestações populares não podem cair no esquecimento. Ao longo dos anos, derrubamos barreiras e mostramos para Caxias que o Carnaval é de todos”, ressalta.

Rhaysa Santos rrsantos6@ucs.br

Seguiu um dos blocos do Carnaval de Rua de 2016, achou genial e espera que a festa não perca a força em Caxias do Sul.

Crédito:Allan Casagrande

35


ESTRADA do

vinho

Feito musa em nĂŠvoa, a Estrada Municipal do Vinho guarda histĂłrias, aromas e sabores


ROTEIRO RURAL

U

m lugar de passagem, um caminho e muitos percursos. É uma terra que cultiva cachos, memórias e tradições, em uma pulsação muito distinta do centro urbano de Caxias. É um trajeto que desperta e atrai com seu perfume de uva. São rumos plantados na paisagem de serra, às margens do caminho. Entre montes e vales, parreirais e gente. Mas não só de uva prospera aquela terra. Tem vinho, comida boa, profissões milenares – já um tanto extintas nos dias de hoje. Os trilhos vão se construindo por uma rota com sabores das cozinhas tradicionais, de um cotidiano simples, mas com uma fartura de possibilidades. São rumos plantados na paisagem de serra, às margens do caminho. Entre montes e vales, parreirais e gente. Mas não só de uva prospera aquela terra. Tem vinho, comida boa, profissões milenares – já um tanto extintas nos dias de hoje. Os trilhos vão se construindo por uma rota com sabores das cozinhas tradicionais, de um cotidiano simples, mas com uma fartura de possibilidades. Na poda das videiras, o rito do eterno recomeço. Lá naquela estrada as nonas ainda estão nas cozinhas, enquanto os homens, avolumando a carretagem. Acordar no domingo e ir à missa. Depois da missa? Conversar, conversar e quem sabe cartear ou então, jogar bocha. Ah essa estrada... Além de vale de videiras e vinícolas, é terra de discendenti. Os parreirais – que sobrevivem às estações, estão localizados entre o Bairro São Caetano e o distrito de Vila Cristina. Eles enfeitam esse trajeto, que tem pouco mais de 16 quilômetros. A gente dali costeia divisa não só com outros caxienses, mas também com moradores de Vale Real e Feliz, na intersecção da estrada do Vinho com sua prima, RS 452. Eis que nessa estrada, não somente tem trabalho, suor e prosperidade. Como todo percurso, ela tem seus mistérios. Redes de telefonia móvel deixam de funcionar a poucos metros do Bairro São Caetano e somente voltam a dar o ar da graça ao viajante, quando é chegada a saída, o término do belo passeio – ou desvio. Muita gente, gente essa caxiense, toma esses trilhos quando quer evitar a BR 116, com muito mais movimento, cargas e turbulência. Quer, ao invés, aproveitar melhor o tempo e o caminho, inevitável, para chegar ao seu destino. Por que não,

Muita gente, gente essa caxiense, toma esses trilhos quando quer evitar a BR 116, com muito mais movimento, cargas e turbulência. Quer, ao invés, aproveitar melhor o tempo e o caminho, inevitável, para chegar ao seu destino. Por que não, trocar uma serra por outra?Por que não evitar um pedágio e, de quebra, ganhar um cenário tão natural?, sem tanta influência do homem, às vezes tão discreto e aparentemente seguro, que se torna balançante. É assim que a Estrada Municipal do Vinho se constituiu, tão antiga que é quase desconhecida – ou melhor, ligeiramente despercebida, pelos demais caxienses que bebem seu vinho, mas desconhecem sua paisagem.

DA PARREIRA À PIPA O tempo da colheita, ele muda. Muda não somente a paisagem, muda a colônia e mobiliza as famílias. As cestas de vime se carregam de cachos de chardonnay, isabel, moscato e moscatel. Tem também a famosa niágara. E ver os cestos cheios acalenta essa gente, que trabalhou em madrugadas frias, tardes de sol vigoroso e longos dias que pareciam não escurecer nunca. Os cachos bonitos e formosos saem do cesto para a caixa, e aí varia muito, pode ser grande, média ou caixinha. Já aqueles cachos não tão vicejantes assim, mas igualmente saborosos, ganham outro destino: a pipa. É dali, de um conjunto de vinícolas espalhadas pelo percurso, que surgem muitos dos famosos vinhos – e não somente vinhos, da Serra Gaúcha. A Estrada Municipal do Vinho, que foi batizada com um nome ao qual faz jus até os dias de hoje, hospeda as seguintes vinícolas: Cristale, Pagliosa, Arbugeri e Motter. Além de muitas produções caseiras de bebidas que partem de ensinamentos passados de geração em geração e emergem dos cachos de uva menos vistosos, mas não menos saborosos. Entre essas vinícolas que embelezam o caminho, a mais entendida do assunto, a partir dos índices de vendas apresentados pelo mercado, é a Vinícola Motter. Uma empresa familiar, fundada em 1974 por Guerino Motter, filho de um berço apaixonado pela arte da vinicultura. A vinícola da família Motter é famosa não apenas pelo seu produto final, mas

37


pelo seu cuidadoso tratamento desde as videiras. O zelo começa muito antes das pipas, vem desde a colheita e a seleção das uvas, para só então voltar toda a atenção sobre o processo de elaboração do vinho. Processo esse que, além de preservar a qualidade, se baseia no avanço a tecnologia e no respeito de toda uma tradição que vem de família. O que promete garantir o sucesso da empresa, além de preservar um aroma peculiar que sai dos trilhos da estrada e segue para dentro de cada garrafa de vinho, por eles elaborados. Ao passar pelo perímetro onde está instalada a vinícola, não é preciso conhecer a estrada para facilmente reconhecêla. Um extenso prédio, rodeado de pipas – já não mais de madeira, mas sim muito tecnológicas, e uma série de paletes e “garrafões” empilhados formam uma paisagem, inigualavelmente cercada por parreirais que abastecem toda essa indústria. A vinícola não só produz vinho, mas gera empregos e faz girar a economia dessa região.

DA PANELA À MESA Para uma boa cuca, a família Bonotto investe em uma receita muito antiga: usa ovos, farinha, açúcar, sal, gordura e fermento. “Onde tem nona no fogão, tem mesa farta de tradição”, já diria Fernanda, graduada em Ciências Contábeis pela UCS e braço direito de sua mãe na produção dos doces e quitutes que elas vendem. Noeli Bonotto virou referência em churrascos e festas, mas se engana quem pensa que ela abastece só a colônia. Tem gente que vem de longe buscar as sobremesas que a família produz. Reza a lenda da clientela que os pratos dela possuem algum segredo delicioso, isso porque são doces que não enjoam, que se conservam por muitos dias e que agradam a todos os paladares. Vai entender... Dona Noeli, a esposa do seu “Zecão”, zela pela profissão. Ama o que faz. Ela ensina, que depois de pronta a massa precisa descansar. Uma vez amassada ela já possui vida. Quer ver ela contente é quando alguém vai buscar sua encomenda e elogia a última leva. Diz que o bolinho era fofo, o recheio era fresco. É famosa por isso e orgulha a família, que acaba participando de toda a função.

As receitas são preparadas com muito amor. Cada agnolini tem a sua devida atenção. Quem olha diz que foram fechados no dedo minguinho, isso porque são tão pequenos e delicados que dá até pena de comer. E assim segue a vida dessa família, que é exemplo de tantas outras cujo sucesso rende bons frutos e vai promovendo o desenvolvimento da família. É o exemplo também da Nona Terezinha, que fica bem na entrada da estrada para quem vai no sentido Caxias x Vale Real. Quem já sabe, desce a serra carregando uma cuca em uma mão e uma torta na outra.

DA TERRA AO MERCADO Em terra de “gringo” muita coisa se planta. Às margens da estrada do vinho, também existem outras profissões. A maior parte dos moradores passa os dias embaixo das videiras, enquanto um grupo um pouco menor se dedica a atender outros mercados. Nesse outro grupo, tem gente que planta, mas não é uva não. Planta milho, planta pêssego, chuchu, maracujá, bergamota, orquídea... Até porque não é só uva que cresce em morro. Como diria o velho amigo Ricardo Bacchelli, “a agricultura é a arte de saber esperar”. Então, além de de uva e vinho, tem fruta in natura lá na propriedade da família de Rafael Potter. Assim como o dia se divide em turnos e o mês em luas, também ano se divide em estações. O ano, na agricultura, tem suas épocas. Tem época que dá isso e tem época que não adianta nem plantar. E é assim, de boca em boca e de pai pra filho, que a sabedoria da agricultura vai sendo conservada e desenvolvida. Tem ainda quem não goste tanto assim de lidar com a terra; quem aprendeu a cuidar de frangos. Porque ali o que não falta também é granja de ovos e frango de integração (parceria com empresas de avicultura). Claro que, aparentemente, essa gente tem uma rotina muito diferente daquela gente da uva. Mas nem tanto assim... Porque acorda cedo igual, trabalho duro também e pra completar, não para enquanto o sol não for embora. Bem assim, é a rotina de quem faz acontecer lá na granja de Ademir Pedroni.


E se tem vinho, se tem suco, se tem espumante... não podia deixar de ter uma distribuidora de bebida, já que, ali a oferta é grande. Então, além de colher a uva, amassar e produzir o vinho, ainda tem quem trabalha no outro lado do mercado, comprando de quem faz e vendendo pra quem também vende. Pra completar, não podia faltar quem produz a estrutura para erguer todas essas obras, esses galpões, essas confeitarias e essas vinícolas. A família de Leonardo Pedroni não trabalha nem com uva, nem com galinha, e nem com bebida. Lá a expertise é outra. É nos artefatos de cimento. E vende bem a propaganda, já que sua empresa é junto da propriedade familiar, tão bonita e bem localizada que é díficil passar sem perceber. E assim vai vivendo a gente da Estrada do Vinho. De valores, de tradições, de tranquilidade e serenidade. Também de trabalho, de uva e vinho e muitas coisas mais.

DO BARRO AO ASFALTO A Estrada Municipal do Vinho, ainda que pareça por sua descrição, já não é mais uma estrada qualquer ou uma estrada de chão. Mas o perímetro totalmente asfaltado ainda é notícia recente. A pavimentação foi concluída em fevereiro de 2015 e, desde então, recebe um público viajante, relativamente maior. Todo o trajeto, cercado por paisagens naturais, de parreirais a coqueiros, não tem acostamento e é repleto de curvas, umas mais e outras menos acentuadas. Nem sempre o percurso é plano, ele tem descidas e subidas.. E um perfume, inigualável. A vegetação também encanta. Ora, onde já se viu, no meio de tanto capim e flor do mato, ver coleções de cactus, que mais parecem recortados tal e qual os do sertão (?). E se engana quem pensa que é só de ervas que vai se fazendo o caminho. No trajeto há campos e neles muitos animais. Vacas, bois, terneiros e cavalos reinam naquele bocado de terra. Cercada de histórias, duas capelas, pelo menos quatro vinícolas e uma vida bem diferente do centro urbano caxiense, a Estrada Municipal do Vinho provoca o viajante a pensar em uma vida diferente. Quem foi que disse que precisa ter estrada de chão para ser interior? Aqui o desenvolvimento e o progresso estão

presentes, cada qual à sua maneira. E quem disse que não possuir rede de telefonia móvel em praticamente todo o trajeto precisa ser algo ruim? Às vezes parece propositalmente escolhido, para você realmente não ter outra ocupação que não seja apreciar a paisagem e pensar um espaço caxiense distinto do que as fotos nas exposições mostram como sendo o interior. Mas e se ocorrer uma emergência? Todos os moradores dessa região possuem telefone fixo. Lembra dele? Aquele que quase não se usa mais nas residências do centro. E transporte? Bem como você imaginou, ali não passam linhas urbanas. E será que faz falta para a população dessa via? Talvez sim, talvez não. Com a vida que se leva nesse lugar, quase diria que o barulho e a poluição das linhas do ônibus mais incomodariam os moradores, do que desenvolveriam o espaço. Pois é, Caxias ainda tem pontos de transição. Que não deixam de ser lugares de consolidação. Enquanto os centros se expandem, enquanto as periferias cada vez mais dialogam com ele, há pontos da cidade, como a Estrada do Vinho, onde a realidade é outra. E está bem que seja outra.

Francielle Arenhardt fapereira2@ucs.br

Jornalista, 22 anos, sempre pronta para viajar.

39


Foto: Calebe De Boni

boteco

é na calçada

Restaurante Zanuzi realizou pesquisa em todo Brasil sobre a liberação do passeio público para bares


Boni

RUA DA BOEMIA

A

cidade de Caxias do Sul, tão conhecida como território da fé e do trabalho, possui um contraponto na esquina em que a Rua Fermino Minghelli cruza com a Rua Santo Ceroni. No coração do bairro Panazzolo, o Bar Kerwald oferece cerveja gelada e mesas na calçada de seis metros que reúne admiradores da vida bohêmia. A iniciativa agrada a clientela que vê o boteco como um desafogo às pressões do cotidiano. Vera Rich conta que começou a frequentar o estabelecimento como cliente. Quando se deu conta, já estava ajudando o proprietário a servir os clientes. Ela saúda o clima de amizade e descontração que reina no local. “Esse clima de boteco de rua é encantador. Na minha vida, o Kerwald é como um vício, sempre que posso dou uma passadinha por aqui.” Se o cardápio não chega a ser um diferencial, o bar oferece intensa programação cultural. Nos finais de semana, os proprietários improvisam um palco para apresentações de banda ao vivo. Enquanto os músicos tocam, uma churrasqueira portátil produz o autêntico espetinho de rua para os clientes. O carnaval é outro ponto alto do Bar Kerwald. Na data reservada para a festa popular, um bloco de rua diverte quem passa pela esquina com serpentina e marchinhas de carnaval. O clima de descontração faz com que muitos desconfiem que essa esquina nem faça parte de um município tão materialista como Caxias do Sul.

PROPOSTA DE LEI Na região central da cidade, o Restaurante Família Zanuzi também se tornou ponto de encontro dos admiradores da mesa no passeio público. O estabelecimento, que irá completar 10 anos de funcionamento em 2017, serve mil refeições diárias e emprega 25 funcionários. Na Rua Alfredo Chaves, dezenas de clientes se reúnem nos finais de tarde para um bate-papo recheado pelos petiscos do estabelecimento. No entanto, a colocação de mesas e cadeiras na calçada não está liberada pela legislação municipal.

Em dezembro do último ano, a Secretaria Municipal de Urbanismo iniciou uma ação fiscalizatória que prometia “limpar” as calçadas em frente aos estabelecimentos comerciais. Na operação, a fiscalização municipal interditou alguns bares no Largo da Estação Férrea. Com o objetivo de regularizar a questão, o Restaurante Família Zanuzi realizou uma pesquisa em 11 cidades brasileiras onde a utilização do passeio público é permitida por leis ou decretos de prefeitos. Entre as cidades que regularizaram a situação estão Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR), Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ), São José del-Rei (MG), São Paulo (SP) e Vitória (ES). A pesquisa resultou em uma proposta entregue ao Poder Legislativo e o Poder Executivo caxiense. Atualmente, a sugestão está em análise pela Comissão de Desenvolvimento Urbano, Transporte e Habitação da Câmara de Vereadores. O documento, que foi reforçado por um abaixo-assinado com 400 assinaturas, argumenta que a liberação alavancaria a economia da cidade e fomentaria manifestações de arte e cultura. Além disso, o texto aponta a oportunidade de valorizar os artistas e músicos do município. O proprietário do restaurante, Sílvio Zanuz, defende que as leis municipais passem por uma revisão e atendam às solicitações de empreendedores e clientes que apelam por mesas nas ruas. “Não temos a intenção de obstruir o passeio público ou provocar transtornos nas ruas. Por isso, só colocamos as mesas nas ruas depois das 18 horas. Assim, evitamos o horário em que há maior fluxo de pedestres nas calçadas”, explica Zanuz. O empresário esclarece que a proposta visa auxiliar todos os estabelecimentos do município. O engenheiro civil Antônio Borges dos Reis afirma que o ideal é manter uma faixa de dois metros para a passagem de pedestres. No caso do Restaurante Zanuzi, a calçada possui uma largura de 4,05 metros. Assim, Reis entende que a colocação de mesas e cadeiras não prejudica os transeuntes. “A prefeitura não pode criar uma regra inferior àquela prevista na norma federal, mas pode manter os dois metros, que é o ideal para o trânsito de cadeirantes”, detalha o engenheiro.

A ocupação do passeio público por bares acende polêmica em Caxias do Sul. Por outro lado, municípios de todo Brasil já liberam o espaço para a colocação de mesas e cadeiras. 41


SOLUÇÃO FARROUPILHENSE O município de Farroupilha (RS) compreende a necessidade de ocupação das calçadas e já iniciou o processo que envolve a liberação dos passeios públicos para os estabelecimentos. A Prefeitura escolheu a Rua Júlio de Castilhos, principal via urbana da cidade, para iniciar a regularização das mesas e cadeiras nas calçadas. Um amplo estudo da demanda atual e dos próximos cinco e dez anos foi desenvolvido para amparar a criação da legislação, que recebeu o nome de Calçada Legal. O secretário municipal do planejamento, Luciano Zatti, relata que os estabelecimentos podem utilizar uma faixa de acesso em calçadas que superarem os dois metros. “A faixa de acesso visaagregar qualidade e atratividade para o espaço público, através áreas de permanência com a colocação de mesas e cadeiras neste local. A liberação depende de autorização da Secretaria Municipal

de Gestão e Governo”, destaca Zatti. Ele aponta que essa faixa normalmente tem cerca de um metro e vinte centímetros. Em Farroupilha, o prefeito sancionou a legislação em 16 de dezembro do ano passado. O artigo 15 da lei determina que a faixa livre de 1,5metro é a área da calçada reservada exclusivamente para a circulação do pedestre e deve estar desocupada de qualquer obstáculo. Enquanto a faixa de acesso é a área excedente entre a faixa livre e o lote. Assim, em calçadas com mais de dois metros fica liberado o uso dessa faixa. Segundo o secretário, a implantação do Calçada Legal tem provocado feedbacks positivos da população em geral e dos empreendedores. Zatti afirma que o propósito final da iniciativa é democratizar o espaço público. Para ele, o projeto também colabora com a sensação de segurança da população.

deficientes solicitam sinalização Enquanto a calçada é sinônimo de diversão para os frequentadores de botecos, os deficientes visuais encontram perigos no passeio público. O presidente da Associação Farroupilhense de Deficientes Visuais (Afadev), Pablo Barretti, pondera que é possível conciliar os interesses dos proprietários de bares e os deficientes visuais. Ele defende que uma faixa de 1,5 metro é suficiente para o trânsito de um deficiente. Barretti sugere que os estabelecimentos comerciais instalem cordas ao redor do espaço reservado para a colocação de mesas e cadeiras. “O deficiente visual se guia pela bengala e necessita de uma sinalização tátil para desviar de obstáculos”, explica o presidente da associação. De acordo com Barretti, as maiores dificuldades dos deficientes são o piso irregular, as construções não sinalizadas, o depósito de galhos, obstáculos aéreos e a exposição de produtos por lojas. O presidente cobra ações fiscalizatórias da prefeitura para garantir calçadas seguras aos deficientes. “Toda a semana tem uma loja expondo seus produtos no meio da calçada. A prática acaba prejudicando os cegos que podem se machucar ao esbarrar com objetos como manequins”, alerta Barreti. A Afadev foi fundada em 2004 e reúne 48 deficientes visuais do município de Farroupilha.

Calebe De Boni caboni@ucs.br

Parafraseando Humberto Gessinger, um jornalista por amor às causas perdidas. Viveu uma noite memorável em um boteco na calçada do bairro San Telmo, em Buenos Aires


www.ucs.br

O conhecimento ilumina

Na UCS, a qualidade do ensino reflete o compromisso de formar pessoas capazes de transformar o mundo e antecipar o futuro.

• 80 cursos de graduação • 70 especializações, 16 mestrados e 7 doutorados • TecnoUCS – Parque de Ciência, Tecnologia e Inovação • Intercâmbio internacional em instituições de 28 países


O

entre as décadas de caxias

s alunos da turma de Projeto Experimental I - Comunidade Fotografia coletaram imagens de Caxias do Sul, a partir da releitura das fotos antigas da cidade. A releitura e a atualização das imagens apresenta o crescimento da cidade nestas décadas que separam as imagens do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami e a captadas hoje. A ideia central foi provocar as leituras e

releituras da urbe, com as interferências da cultura urbana contemporânea, a partir das marcas dos “pixos” e grafites. Participaram os fotógrafos Bruno de Moura, Cláudia Palhano, Diélen Fontana, Felipe Souza Brambatti, Luiz Guilherme Francischini Schmitz e Marcelo Casagrande. A orientação foi do professor e doutor Alvaro Benevenuto Júnior, que programa exposição deste material.

Studio Geremia

Em 1952, o transporte público era realizado por ônibus da Vila Oliva Arquivo Histórico Municipal

A Avenida Julio de Castilhos é testemunha da modernização do Centro


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.