Verbo - Março/Julho 2010

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Informativo semestral do curso de Comunicação Social da Universidade de Caxias do Sul 1o semestre de 2010


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21 27 Folha em branco. Cursor pisca. Escreve. Apaga. Escreve. No princípio era o verbo - acho que isso soa familiar para você. Foi assim que começou pra gente também. O Verbo, a publicação do semestre da turma de Mídia Impressa, é resultado da união de uma linha do tempo da comunicação. Os verbos que marcam cada matéria representam a essência de cada período identificado pela nossa turma. Fazem parte da evolução que estamos acompanhando dia após dia; que se reinventa cada vez que o cursor pisca e uma ideia ou uma mensagem precisam ser transmitidas. O único verbo inaceitável é o parar. Siga e boa leitura!


INTEGRAR



INTEGRAÇÃO: O NOVO DESAFIO DA COMUNICAÇÃO texto por ALISSON ANDRIGHETTI AUGUSTO BELLINI MAURÍCIO ZANON

A comunicação integrada nada mais é do que a interação das atividades de áreas afins da Comunicação, para fortalecer o conceito institucional, mercadológico e corporativo em todos os públicos de uma organização e da sociedade como um todo. A comunicação integrada é uma realidade do mercado, e essa união das áreas ocorreu tanto por exigência dos anunciantes, quanto pela demanda de informação que o consumidor exige atualmente.

Em um ambiente de trabalho, a relação dos profissionais pode ocorrer de forma egoísta. “O jornalista não pode ditar regras para o trabalho de um designer ou então vai gerar grandes conflitos”. Nisso acreditam Patricia Heuser e Lidia Ribeiro, da agência Arquivo Design. A região da Serra gaúcha se caracteriza por agências especializadas, seja de propaganda, relações públicas ou design gráfico, sem uma maior integração dos profissionais. Essas áreas são ferramentas de comunicaçåo integrada, que geram um produto específico e, geralmente, não contêm um enfoque da comunicação de uma empresa ou de um produto/serviço como um todo. A professora Daiane Scheid, do Centro de Ciências da Comunicação, da Universidade de Caxias do Sul (UCS), acredita que todos ganham com a visão estratégica e abrangente da comunicação integrada. “Em minha opinião, uma visão mais abrangente da comunicação condiz mais com realidade de globalização e de múltiplos fluxos de comunicação em que nos encontramos. O contexto atual pede profissionais que tenham uma visão ampla dos processos de comunicação.” É exatamente o que propõe a comunicação integrada: profissionais com uma visão ampla, trabalho com integração, que gera uma mensagem aos públicos, sem distorções, única e em coro, para soar mais forte. Por prevalecer um formato expresso de agência das áreas da comunicação, com clientes que procuram serviços rápidos, e agências que entregam esses serviços sem um enfoque real ao produto do cliente, esse processo torna o trabalho meramente técnico. Além disso, em uma agência com vários profissionais de comunicação, muitos competem entre si, o que gera conflitos, dos quais todos


saem prejudicados, principalmente o cliente final. A comunicação integrada sugere um planejamento conjunto, uma tomada de decisões mais dinâmica do que a simples aprovação de um chefe. Uma das responsáveis pela comunicação integrada existir foi a convergência de mídias, que consiste não somente em utilizar vários meios digitais em uma campanha, como fazer com que o consumidor saia das mídias tradicionais e procure as novas mídias. O jornalista Roberto Hunoff diz que “o processo de integração dos diferentes meios de comunicação, especialmente com o advento da internet, tem se dado de forma gradual e natural. Tem exigido, basicamente, o entendimento do que cada mídia quer de informações e o seu formato de apresentação”. Por isso a necessidade de profissionais cada vez mais preparados, informados e atualizados. Os acadêmicos de Jornalismo, Relações Públicas e Publicidade e Propaganda vivem na universidade essa integração, com o currículo dos três cursos atualizados para as exigências do mercado. Até a metade do curso, todas matérias são as mesmas e as turmas reúnem alunos das três habilitações. Tudo isso, posteriormente, torna a comunicação mais eficiente, pois cada área apoia suas ações na outra e, desde a vida acadêmica, já se vive a integração. Adaptar-se a isso é não somente importante como necessário. Certamente as agências especializadas terão espaço no mercado, pois sempre existirão clientes com necessidades específicas de comunicação. Porém, a tendência do mercado é a integração das áreas, com profissionais que trabalham juntos e transmitem uma mensagem única e forte para todos os públicos.

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EVOLUIR


Fotos shutterstock.com


EVOLUÇÃO DAS MÍDIAS texto por ALESSANDRO LUCIETTO, DIGIANE CUNHA, MAURICIO DE BONI

Os pioneiros do rádio e da televisão no Brasil trabalhavam de maneira diferente do modelo atual: de um lado, o material instantâneo que, na corrida contra o relógio, não se submetia a uma revisão de qualidade; de outro, a produção administrada por uma grande equipe – que hoje resume-se facilmente a uma pessoa – e, por isso, melhor observada e qualitativamente superior em relação ao acabamento. Luis Artur Ferrareto e Álvaro Benevenutto, ambos professores – das disciplinas de Rádio e Televisão, respectivamente – da Universidade de Caxias do Sul (UCS), atuaram, na prática, em suas respectivas áreas. Hoje, com extensa experiência, lecionam sobre a importância da identificação com o meio midiático para o novo profissional acostumar-se com a constante atualização, a circulação de informações e a evolução das mídias. Pontos necessários em um espaço onde o desatualizado pode vir a ser tanto o equipamento quanto o profissional.

No princípio existia o Caos

Ferrareto, antes de lecionar, trabalhou em uma emissora de rádio em 1986. Naqueles anos, as notícias de última hora eram editadas às pressas, momentos antes de irem ao ar, aí era um corta daqui, cola dali, estica de lá, remenda acolá. “Muito material que hoje não passaria por falta de qualidade, na época ia ao ar por falta de tempo ou recurso”, lembra. A saída a campo, atrás dos acontecimentos e das pessoas que os viviam, era outra via sacra. Nessa situação, as opções para se comunicar com a emissora eram três: ligar do te-


lefone de uma residência próxima do local; usar equipamento de comunicação da unidade móvel (sempre com problemas de sinal, seja por interferência ou pelo veículo estar em movimento); ligar de um orelhão, último recurso se você pensar que o repórter iria se prestar à correr pela cidade atrás de um aparelho. Em sua vivência com tecnologias que evoluíram em benefício do rádio, Ferrareto afirma que equipamentos e ferramentas acoplaram-se, desenvolveram-se e tornaram tudo muito mais prático e rápido. Entretanto, um merecido destaque deve ser dado para o surgimento e o enorme avanço de um desses aparatos: o aparelho celular, que tornou-se sinônimo de instantaneidade para o trabalho. Gravar, editar e distribuir notícias ficaram a uma tecla de distância – e, mais recentemente, a um toque. Basta ter um desses para que os pesados equipamentos e até a unidade móvel se revelem supérfluos.

Qualidade por quantidade

Tanto a televisão quanto o rádio significaram saltos gigantescos na maneira de informar as pessoas. Enquanto apenas os jornais eram fontes de informações, o rádio despontou com notícias mais enxutas e com maior credibilidade do que estava sendo veiculado. Exemplo é o Repórter Esso, que tornara-se propagador da verdade e ganhara o respeito do brasileiro. Em seguida, surge a televisão, agora trabalhando o meio audiovisual. A fácil aceitação do público se daria pela mensagem, já montada, pronta para ser absorvi-

da. Novamente tem-se o exemplo do Repórter Esso: agora, além da voz já cativa, um rosto para aproximar-se ainda mais do grande público – “testemunha ocular da história”, para quem não lembra. Dos dois lados, o que enfraqueceu, em contrapartida, os avanços e a síntese de aparatos foi a qualidade do material produzido e do profissional responsável. Segundo Ferrareto, não importa o quão próxima do homem a tecnologia pode chegar, ela nunca substituirá a astúcia, a emoção, o ponto de vista único do ser humano. O homem será sempre o diferencial. Contudo, revela que profissionais como os pioneiros da radiodifusão, os quais lhe despertaram o prazer em ouvir rádio, estão em escassez no mercado. “As pessoas estão cada vez menos qualificadas para esse tipo de trabalho”, lamenta. Benevenutto, atual coordenador do curso de Jornalismo da UCS, também trabalhou nos bastidores da televisão, e conceitua veemente uma tendência geral: o profissional está se tornando multimídia, apesar de seu salário continuar sendo monomídia. A sintetização dos aparatos das emissoras fez com que sejam necessárias menos pessoas para a construção de um material audiovisual. O lado negativo é que as antigas – e numerosas – equipes de produção davam uma garantia maior por se tratar de muitos olhos sobre aquilo que vai ser montado. “Quanto mais gente está mexendo em um determinado produto, em um determinado objeto, mais gente tem possibilidade de ver erro, situações inadequadas, acabamentos malfeitos... quanto menor o número de pessoas envolvidas nesse produto, informação, menor é o ângulo de visão delas”, explica o professor.

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Internet: cachorro, gato e rato dentro da caixa

A plataforma midiática, que profetizada por muitos, seria o próximo grande salto evolutivo das mídias, é a internet – algumas vezes amigável e outras maléfica. Profissionais costumam dividir opiniões sobre as reais intenções desse novo meio em relação aos tradicionais. Ferrareto e Benevenutto encaram de frente essa revolução e dizem não se intimidar. Afirmam, ainda, que a rede é uma nova ferramenta para incorporação e não para destruição, como alguns defendem. Para o professor Álvaro, a teoria de que a televisão terá seu fim frente ao avanço da internet não procede. O que acontece e realmente trará mudanças é a realização dos conteúdos audiovisuais em multiplataforma. “Cada vez mais, estes meios, televisão, cinema, rádio, jornal, revista, livro, etc., assumirão características existentes só neles próprios, cada um se especializando em si mesmo”, cita. Ou seja, a distribuição do conteúdo de cada meio deverá abranger todas as plataformas de divulgação; contudo, cada qual a sua maneira. O lado bom disso é que a veiculação multiplataforma visará cada vez mais à qualificação do conteúdo nas características de cada veículo. Exemplo disso é a internet contra o mercado cinematográfico, que pode ameaçar os moldes de distribuição tradicionais, mas nunca eliminará o prazer de assistir a um filme em uma sala de cinema. A luta do rádio contra o esquecimento sempre foi sofrida, mas desde sempre alcançou bons resultados: sobreviveu à televisão e adapta-se à rede mundial. Veicular-se à internet não foi difícil, o que saiu do controle foram os moldes tradicionais do fazer rádio. A solução seria remode-

lar-se e livrar-se de antigos hábitos. A publicidade, por exemplo, que antes era facilmente veiculada para públicos específicos, agora, sem poder delimitar quem ouve nem onde ouve, estaria perdida. O professor Ferrareto, também assíduo ouvinte de rádios de outros países, conta que ouvia uma emissora do Canadá – exclusiva do gênero rock – e se perguntava: “O que eles poderiam vender para mim? Nada!”, conclui. Entretanto, diz que já existem pistas para esse tipo novo de comércio. Algumas rádio ouvidas no mundo todo pela internet veiculam publicidade de produtos globalizados, ou seja, de necessidade comum ao redor do mundo. Se vão vender, isso é outro problema, mas, pelo menos, o “monstro” da internet não assusta mais. A propaganda multiplataforma achou seu espaço cativo no grande público. Atualmente, grande parte do lucro das empresas de produtos para os mais diversos fins vem de sua publicidade na internet. A real vantagem, segundo Patrícia Nora, graduada em Pedagogia e funcionária da instituição, é o preço dos produtos, sempre menores que os da loja. Entretanto, Patrícia ainda reluta em comprar de tudo pelo meio virtual, diz não confiar na segurança do serviço. No final de contas, é a confiança na marca que define a opinião na compra. O cinegrafista do Laboratório de Televisão da UCS, Alexandre Alves da Silva, escolhe produtos por esse viés. As empresas que atuam no setor há mais tempo, e que recentemente migraram para a internet, mantêm a credibilidade. Em contrapartida, a vantagem para as grandes companhias é o fracasso para as pequenas e novas no ramo. Construir uma identidade e uma aproximação com o cliente torna-se tarefa árdua em um mundo cada vez mais concorrido e impessoal.


MIDÍA MULTIPLATAFORMA: NOVA PROPAGANDA

A

TENDÊNCIA

DA


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CENSURAR

VER



CORTANDO AS ASAS DA CRIATIVIDADE texto por CRISTIANA FERRETTI REIS, DEMITRIUS MENEGHETTI DE PIERI, POLIANA PERSON CARDOSO


mais informações sobre a censura na Veja: veja.abril.com. br/idade/exclusivo/regime_ militar/abre.html Censura é o método que um grupo de poder utiliza para controlar e impedir a liberdade de expressão. Na Comunicação, ela suprime informações e opiniões, com o intuito de evitar conflitos e alterações de pensamento de um determinado grupo em relação ao outro. Isso aconteceu na Ditadura Militar em 1964, quando um forte regime utilizou essa repressão para inibir as notícias ruins do governo, a fim de controlar o estado mental da população. O meio de comunicação mais atingido na época foi a revista Veja, que publicou fatos a respeito do Regime Militar que governou o Brasil durante 17 anos. Ela redigiu fatos a respeito dos governantes e foi proibida de publicá-los por assumir uma postura a favor do povo, além de transmitir as informações corretas sobre o que acontecia no Brasil durante esse período. Na década de 70, o governo federal pensava em sancionar uma lei que criava uma espécie de censura prévia à propaganda, o que seria um retrocesso à liberdade de expressão reconquistada no fim da Ditadura Militar. Foi então que surgiu, em 1980, o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), que visa a impedir que a publicidade enganosa ou abusiva causasse constrangimento ao consumidor ou às empresas; a zelar pela liberdade de expressão comercial e a defender os interesses das partes envolvidas no mercado publicitário, inclusive os do consumidor. Constituído por publicitários e profissionais de outras áreas, é uma organização não governamental que atende a denúncias que são julgadas pelo conselho de ética, com total e plena garantia de direitos de defesa aos responsáveis pelo anúncio. Quando

comprovada a procedência da denúncia, é sua responsabilidade recomendar a alteração ou suspender a veiculação do anúncio. O Conar não exerce censura prévia sobre peças publicitárias, já que não se ocupa somente do que está sendo ou foi veiculado. Os agenciadores de propaganda não precisariam mais de um carimbo “De Acordo”, mas seguir preceitos básicos que definem a ética publicitária. Conforme o Código de Ética dos Profissionais da Propaganda a que se refere o art. 17, da Lei 4.680, de 18 de junho de 1965, a agência de propaganda, o veículo de divulgação e o publicitário, sem prejuízo de outros deveres e proibições previstos nesse regulamento, ficam sujeitos, no que couber, aos seguintes preceitos: a) não publicar textos ou ilustrações que atentem contra a ordem pública, a moral e os bons costumes; b) não divulgar informações confidenciais relativas a negócios ou planos de clientes-anunciantes; c) não reproduzir temas publicitários, axiomas, marcas, músicas, ilustrações, enredos de rádio, televisão e cinema, salvo por consentimento prévio de seus proprietários ou autores; d) não difamar concorrentes e depreciar seus méritos técnicos; e) não atribuir defeitos ou falhas a mercadorias, produtos ou serviços concorrentes; f ) não contratar propaganda em condições antieconômicas ou que importem em concorrência desleal; g) não utilizar pressão econômica, com o ânimo de influenciar os veículos de divulgação a alterarem tratamento, decisões e condições especiais para a propaganda.

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BO VER

A CENSURA NOS OLHOS DE QUEM ENTENDE texto por CRISTIANA FERRETTI REIS, DEMITRIUS MENEGHETTI DE PIERI, POLIANA PERSON CARDOSO

Discutida por leigos e especialistas, a censura é constantemente vinculada à polêmica, e isso nos levou a conversar com as agências Studio Design e Sta. Propaganda. Para Augusto Bellini, diretor criativo da Studio, existem algumas atividades que merecem cuidado e um controle maior. ‘’Por exemplo, as propagandas de cigarros e produtos alcoólicos tiveram algumas restrições muito bem-vindas. O poder da propaganda é grande e se não houver critérios para o controle desses produtos, podemos ser coadjuvantes na disseminação de produtos nocivos.’’ A web trouxe outro item forte para o bate-papo com Bellini, que disse o seguinte: ‘’A web tornou possível a publicação e o acesso a qualquer tipo de conteúdo; seria justo permitir que crianças tivessem acesso a conteúdo reprovável?” A Studio Design nunca teve uma peça censurada, mas, na opinião da agência, o Conar sempre pareceu transparente e correto, e outras áreas da indústria deveriam seguir o exemplo da autorregulamentação que o meio publicitário fez acontecer. Mas nem tudo são rosas. Conversando com João Batista José Salim, o Jomba, diretor proprietário da Santa Propaganda, percebemos uma visão mais crítica da censura. Veja abaixo a entrevista na íntegra. Verbo: A Santa já teve alguma peça censurada? Se sim, como foi a experiência? João Batista José Salim: Apenas um caso com o cliente Pizzaria Giordani, censurado pelo veículo, no caso, a rádio São Francisco. A rádio, por ter uma postura mais conservadora, recusou-se a utilizar a palavra ‘’pistolim’’ em uma coleção de spots bem humorados sobre os persona-


gens Zupo e Bino. Verbo: A polêmica da censura se torna a peça mais famosa e contribui para o sucesso da divulgação? Salim: A polêmica joga no time do cliente se o cliente estiver interessado nela, e a agência é um espelho da ousadia do cliente. Devemos ser conservadores ou ousados dependendo da imagem que o cliente busca passar; para algumas marcas, a censura acaba contribuindo, para as mais conservadoras nem tanto. Verbo: Você acha que a censura contribui para melhorar a sociedade? Salim: A propaganda é um reprodutor dos costumes da sociedade, e a censura acaba tendo um papel, no mínimo, coadjuvante. Quando se tem uma sociedade furada como a nossa, a censura é como um bobo da corte, imagine quanta coisa temos de censurar para fazer valer a moral e os costumes. A censura é um agente da sociedade, ela funciona para combater alguém que vai contra os costumes da sociedade. Porém, há o efeito multiplicador da quebra. Ela acaba promovendo a exposição do problema. Verbo: Fale um pouco mais sobre a censura e a sociedade atual. Salim: A censura está na cabeça das pessoas, na educação. A censura contribui para a exposição, principalmente com os consumidores, que são protagonistas hoje em dia; eles que fazem a notícia, todos estão online, todos têm celular. Ele tem a mídia na mão dele, é um gerador de conteúdo, gravador, divulgador. A ética dispensa a cen-

sura. Houve uma revista para um cliente de CVC houve uma tirinha que dizia “Quando Maomé chegou à montanha, pegou ela na cama com outro”. Quando os clientes nos contratam, eles esperam algo surpreendente. E devemos fazer isso usando de ética empresarial, com um certo limite. Cuidar o que podemos dizer e quanto menos sofisticado for o discurso, mais restrito ele é. Se a pessoa for ética, menos sujeitos à censura você está. A força do denunciante tem que bater contra a força do denunciado; é difícil brigar contra grandes anunciantes, a não ser quando uma “casas bahia” te denuncia. Se eu sou a Sta. Propaganda e sou denunciado por um grande anunciante, seria uma briga de foice. Quanto mais presente a marca estiver na cabeça do consumidor, mais força ela tem sobre todo o sistema, e o Conar faz parte do sistema. Exemplo: houve um case da OI, que quando entrou afirmou que a concorrência estava usando a mesma tipologia e identidade visual; essa é uma questão de mercado. Não concordamos com qualquer tipo de controle à liberdade de expressão. Porém, existem algumas atividades que merecem cuidado e um controle maior. Por exemplo, a propaganda de cigarros e as restrições estabelecidas para as campanhas de produtos alcoólicos são muito bem-vindas. O poder da propaganda e grande e se nao houver critérios para o controle desses produtos, podemos ser coadjuvantes na disseminação de produtos nocivos. Outros meios, com a web, tornaram possível a publicação e o acesso a qualquer tipo de conteúdo. Seria justo permitir que criancas tivessem contato com sites de conteúdo reprovável? Penso que, nesses quesitos, o governo deveria atuar. Em demais atividades, o meio publicitário sempre agiu de forma correta, estabelecendo formas de autorregulamentação, nas quais a ética é o fator preponderante.

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Janete Maria Bonfant

Vista com outros olhos, a ética e o bom senso são interpretados de mandeiras diferentes por diversos especialistas. Segundo a professora de filosofia, Janete Maria Bonfant, ética e bom senso se resumem em: “Acredito que deva se referir ao bom senso no fazer publicitário. Não digo que deva haver censura, em hipótese alguma. Há que se defender a liberdade sempre e em todas as instâncias, mas, muitas vezes, o que se vê, isso falando como consumidora, é um descaso e desrespeito à nossa capacidade de discernimento. As propagandas não respeitam determinados valores, e seu único e exclusivo objetivo é vender, vender e vender, sem estar atentas a tantos problemas sociais e desigualdades socioeconômicas da nossa sociedade. Isso cria um fosso ainda mais amplo na sociedade como um todo, porque as pessoas, sobretudo as crianças, que penso serem as mais atingidas no bombardeio publicitário, não entendem as diferenças, as dificuldades e a limitação para aquisição dos produtos. As propagandas e os produtos publicitários não são no sentido de proporcionar o bem-estar e a saúde (em todos os sentidos) das pessoas mas somente em “empurrar” seus produtos, sob a chancela da promessa da felicidade, o que não passa de uma ideologia. São oferecidos como uma pseudofelicidade. Creio que, por não haver censura, o bom senso deveria ser o norteador das ações publicitárias no sentido de, também a mídia, ser propagadora de ações éticas integradas à natureza e ao respeito ao homem.”


No ano de 1976, nascia a Gang – Comércio do Vestuário Ltda. Desde o início, a empresa teve como principal objetivo atender o público jovem, com a oferta do melhor em roupas e acessórios para o seu dinâmico dia a dia. Hoje, ela já conta 27 filiais no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, com mais de 150 pontos de venda. Para ajudar nesse crescimento, a empresa contou com uma forte aliada, a propaganda. Pelo sexto ano consecutivo, a Gang foi a loja de moda jovem mais lembrada entre os gaúchos, segundo pesquisa Top of Mind, da revista Amanhã. Porém, nem tudo são rosas. “A Gang sabe que a moda é um dos principais canais de comunicação do público jovem que, em todas as épocas, sempre busca transformar o mundo com suas novas ideias. Dessa forma, a empresa leva para as ruas, por meio de suas campanhas, tudo aquilo que os adolescentes querem dizer, mas não encontram espaço”, consta no site da loja. A publicidade da marca é muito focada no cotidiano adolescente, com campanhas jovens, diferentes, descoladas e, principalmente, polêmicas. Como a campanha Fuck you 2005, que foi censurada devido à reclamação de consumidores, que descreveram a mensagem como desrespeitosa e ofensiva. A defesa alegou que a linguagem não é imoral nem ofensiva, e que a expressão utilizada na campanha tem por finalidade exprimir indignação, raiva e surpresa quanto aos eventos ocorridos em 2005, como a crise política que abateu o país. O Conselho de Ética seguiu o entendimento do relator, que apontou que a mensagem faz uso de calão e desrespeita o Código, e recomendou o cancelamento definitivo das peças. Marcelo Aimi, da agência Conjunto Soul, que cuida da conta da Gang, comenta que a ação já era esperada e que já havia um “plano B” : “Tínhamos um outdoor pronto e produzido dizendo ‘CENSURADO’ bem

grande e com as mesmas cores e fontes.” A campanha chamou ainda mais a atenção, o que resultou no prêmio Top of Mind daquele ano. Outra situação ocorreu em Erechim, onde a campanha do Dia dos Namorados, veiculada na rádio local em 2008, foi retirada do ar. Em entrevista, Aline Bohn, da mesma agência, lembra como foram os fatos. Aline Bohn, da agência Conjunto Soul, de Porto Alegre, comenta sobre a campanha do Dia dos Namorados veiculada em 2008, em todo o estado e em Santa Catarina. Verbo: A respeito da propaganda do Dia dos Namorados, qual foi o motivo de ela ter sido retirada do ar? Aline Bohn: Ela foi censurada em Erechim, pois havia sons que remetiam a sexo, e o pessoal de lá é muito conservador. A reclamação foi que incentivava o sexo. Verbo: Vocês haviam pensado na possibilidade de ela ser censurada? Bohn: Pensamos sim. Verbo: Vocês tinham um “plano B”? Bohn: Sim, já tínhamos outras peças da campanha no PDV (ponto de venda) e na web, e dessa forma, a campanha não chegou a perder força. Verbo: O que aconteceu depois? Bohn: Com certeza, a repercussão sempre é maior quando uma propaganda é censurada, acaba sendo mais comentada.

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INOVAR

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“Criatividade é uma folha em branco pedindo para ser preenchida.” MARCELO WASSERMAN, COORDENADOR DO CURSO DE PUBLICIDADE E PROPAGANDA DA UCS

INOVAÇÃO É O DESAFIO DO CRIATIVO texto por AMANDA ASSUMPÇÃO, DAIANE DE GASPERI E DÉBORA DE LEMOS RAMOS


Criatividade e inovação formam a base do pensamento humano, e passaram a dominar o mercado mundial A criatividade e a inovação se tornaram elementos essenciais da cultura existente nas organizações, e ganharam grande relevância na atual “Era da Comunicação”, e, consequentemente, permitem ao mercado enxergar o presente com a visão de futuro. Por meio disso, a propaganda sofre mutações, decorrentes do comportamento da nossa geração. O tradicional já não tinha espaço na propaganda, agora menos ainda. Nesse ambiente, as definições do que é ser criativo e o que é ser inovador se confundem e exigem que paradigmas sejam rompidos, antes de escolher seguir uma ou outra definição. A necessidade, que já é perceptível no mercado de trabalho, deve ser assimilada logo cedo por aqueles que ainda estudam. Até onde vai uma e começa a outra Os conceitos de criatividade e inovação parecem bem-claros para a maioria das pessoas, palavra puxa palavra. No entanto, se confrontam. E, ainda mais, na hora de colocar um trabalho na rua e obter resultados positivos. Para o redator da agência Novacentro, de Porto Alegre, Marcelo Firpo, inovação tem se revelado a palavra da moda e se justifica graças ao desgaste da palavra criatividade. Porém, define: “Atualmente, acho que o conceito de criatividade estaria ligado a fazer coisas diferentes dentro de uma determinada área, enquanto que inovação teria mais a ver com trazer coisas realmente novas, que inclusive abram novas áreas e fronteiras.” Criatividade e inovação formam a base do pensamento humano, e passaram a dominar o mercado mundial. Seja em Cannes ou na sua

TV nova de tela LED. É a partir dessa esfera de atuação na comunicação, com ênfase na Publicidade e Propaganda, que a criatividade está em evidência, sendo considerada, assim, uma das ferramentas básicas para realizar um bom trabalho e se destacar frente ao dia a dia do consumidor. Já a inovação, na maior parte das vezes, necessita da criatividade para poder emergir, uma vez que nem sempre é o resultado da criação de algo totalmente novo, porém, sendo, com muita frequência, o resultado da combinação original de coisas já existentes. Conforme Martim Haas, integrante da Agência Escala de Porto Alegre, “inovação e criatividade fazem parte do mesmo assunto, mas com objetivos diferentes. A inovação pode ser medida, monitorada, aperfeiçoada como processo. A criatividade é um termo muito vago. Deve haver criatividade para haver um processo de inovação. E também se diz que é o resultado de um processo.” É preciso entender a criatividade como um processo social e não apenas de um indivíduo iluminado. Ao contrário de mensurar seu alcance apenas no que diz respeito à comunicação ou às artes, por exemplo, devemos expandi-la e ver que é possível ser criativo e inovador sem participar desse cenário específico. Dentro das agências Cada vez mais a indústria criativa mostra um amplo potencial de crescimento e trabalho. Com isso, ganha espaço nas grandes empresas e coorporações, que se mostram preocupadas com a economia de cultura e criatividade. Esse setor engloba desde a mais pura publicidade até a utilização dos mais avançados softwares.

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Algumas agências já assimilam transformações decorrentes do comportamento da sociedade. Como cita Gustavo Mini, gestor de Conexões da Escala, “o grande trabalho que está sendo feito na agência é de mudanças de cultura e estrutura, para permitir que a criatividade das pessoas e a euforia com as novas ferramentas e visões façam sentido no dia a dia de uma agência do porte da nossa, com os clientes que a gente possui”. Como ação realizada pela agência, foi desenvolvido um trabalho de gestão muito forte, com o objetivo de otimizar a criatividade natural das pessoas. Mini, por exemplo, tem como função coordenar as conexões possíveis de uma campanha, especialmente em meios não tradicionais e inovadores. No entanto, não adianta fazer parte de um harém de uma era tecnológica se não souber usá-la. A empresa de tecnologias multimídia Urizen Technology, de Caxias do Sul, vê o mercado com olhos de fornecedor e consegue perceber a transição da propaganda ainda predominantemente tradicional, para uma mais inovadora. Conforme Fausto Araujo, diretor da empresa, “as novas mídias acertaram mais o público do que as agências em si”. Pelo fato de a empresa ser formada basicamente por pesquisadores, sentem que o que as agências oferecem, principalmente em nossa cidade, está muito aquém do que a tecnologia já é capaz de oferecer. Também salienta que a procura por serviços de tecnologia parte mais de clientes diretos do que agências de publicidade e propaganda e demais empresas envolvidas com o segmento de criatividade e inovação.

Endireita o passo A capacidade e a facilidade de gerar novas ideias ou soluções diferentes podem classificar a pessoa como criativa. Para Silvana Boone, coordenadora do curso de Tecnologias Digitais da Universidade de Caxias do Sul (UCS), “criatividade é uma forma de resolver situações que fogem do comum, daquilo que a maioria das pessoas fariam. Não é um conceito retirado do dicionário ou de nenhuma teoria, mas é o que diferencia alguém que precisa agir de forma destacada do senso comum”. É nesse contexto que nos deparamos diariamente com inúmeros desafios e colocamos à prova a capacidade de resolver problemas de forma criativa ou inovadora. Para Marcelo Wasserman coor– denador do curso de Comunicação Social, habilitação Publicidade e Propaganda, a criatividade e inovação são fundamentais para resolver tais problemas, pois é por meio delas que se “irá buscar o modo mais eficaz de solucionar o desafio”. É, a partir disso, que, cada vez mais, as graduações em Publicidade e Propaganda devem preparar seus estudantes para as áreas das novas tecnologias e do empreendedorismo. Podemos observar que o cenário do que é inovador em nossa área sofre mutações quase que diárias. Dessa forma, questiona-se o quanto é perecível uma grade currícular de um curso superior. A possibilidade de não deixar restrito o conhecimento somente na formação acadêmica, passa a ser chave de futuro promissor. Conhecimento em novas mídias, leituras mais aguçadas ou especializações extracurriculares fortalecem o conhecimento de inovação. Ainda que possa virar 2.0 logo no mês seguinte.


Conhecimento em novas mídias, leituras mais aguçadas ou especializações extracurriculares fortalecem o conhecimento de inovação.

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DIZER

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O PODER DAS RELAÇÕES NA COMUNICAÇÃO texto por CHAYANE BOPSSIN DA SILVA, GABRIELA PEGORINI E PRISCILA DE OLIVEIRA SANTOS

Fábio Melotto Júnior concluiu o curso de Relações Públicas no final de 2007, na Universidade de Caxias do Sul (UCS) e, atualmente, cursa o segundo e último ano do MBA em Marketing da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Sua trajetória profissional começou em 2001, na Infoco Propaganda, como designer gráfico. Em 2006, transferiuse para a Free Design Propaganda, como diretor de criação e, em junho de 2008, chegou ao departamento de Marketing da Guerra S.A.

foto: arquivo pessoal


Verbo: Sabemos que, dentro da comunicação integrada, os departamentos de RP, PP e Jornalismo, competem entre si e definem instâncias particulares de decisão dentro das empresas. Como você vê esse quadro? Fábio Melotto Júnior: Esta rivalidade entre as áreas da comunicação sempre foi muito discutida. A meu ver, nem deveríamos mais falar desse assunto, pois somos todos profissionais de Comunicação com habilitações diferentes. Muita gente relata essa experiência de competição na área de comunicação das companhias. Eu, particularmente, percebia isso na faculdade; na vida profissional sempre foi tranquilo. Na primeira agência em que trabalhei, tínhamos uma estrutura bastante enxuta: dois redatores (um publicitário e outro jornalista), um diretor de criação (publicitário), dois designers (um RP e outro publicitário) e dois atendimentos (ambos RPs). Talvez pelo fato de a estrutura ser pequena e cada peça ser fundamental para o andamento do trabalho, nunca tivemos problemas, funcionávamos com muita sinergia e colhemos bons resultados. Hoje o departamento de marketing da Guerra conta com cinco pessoas: eu (RP), um profissional formado em marketing, um publicitário, um administrador e uma pessoa sem formação acadêmica. Nosso jornalista é terceirizado, temos contrato com uma empresa de assessoria de imprensa, e nosso jornalista nos visita periodicamente. Em alguns assuntos pontuais entramos em contato com uma agência de propaganda.

Verbo: Quais a ações que foram tomadas para se adequar à nova realidade em termos de mídias? Melotto: A nova realidade de hoje não é a nova realidade de amanhã, as coisas mudam em uma velocidade incrível. Na verdade, é até clichê falar isso, pois todos sabemos. Ora a estratégia é pautada acerca de uma crise e, em outro momento, o mercado está tão aquecido que a empresa não tem produtos para atender à demanda. Para o setor de implementos rodoviários, a utilização da mídia deve ser muito dirigida. Por não ser um bem de consumo e, sim, uma ferramenta de trabalho, nosso público é muito específico. Utilizamos veículos de comunicação do segmento ou anunciamos em programas bem-específicos. Por exemplo, a revista Transporte Mundial e Siga Bem Caminhoneiro (programa televisivo do SBT). Verbo: Qual o papel do RP em um planejamento estratégico dentro de uma empresa? Melotto: Não fundamental quanto o papel do PP e do jornalista. Penso que o RP tem uma visão mais ampla, talvez o RP seja quem suba na árvore e olhe a floresta, PP e jornalismo podam um galho aqui, plantam uma muda ali. Um trabalho de RP bem feito pode colocar uma empresa lá em cima ou lá embaixo, mas nada é possível sem as ferramentas das outras áreas.

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foto: Chayane Boppsin

INOVAÇÃO DEPENDE DA PERSISTÊNCIA texto por CHAYANE BOPPSIN DA SILVA, GABRIELA PEGORINI E PRISCILA DE OLIVEIRA SANTOS

Ismael Rogério Chedid é Publicitário há 17 anos. tem Especialização em Branding/Gestão de marcas pela ESPM/ RS, hoje é sócio da Agência de Publicidade Laymark Propaganda, na qual segue atendendo contas dos seguintes clientes: Randon, Dicorpo, Rinaldi, Sindilojas Caxias e TVD Info. Ele nos recebeu na sala de reuniões de sua agência para uma conversa descontraída sobre as ações de comunicação integrada nas quais trabalha e sobre outros projetos da Laymark.


Verbo: A agência Laymark trabalha com comunicação integrada? Ismael Chedid: Todo cliente da gente trabalha com comunicação integrada aqui na agência, não que a gente faça todo o processo de comunicação integrada aqui dentro. O que a gente faz, na verdade, é parte do planejamento da comunicação macro do cliente grande. A gente define que ele tem que fazer o trabalho apenas de gestão de marca, que ele tem que fazer trabalho adicional, relatório promocional, assessoria de imprensa, se tem que ter jornalismo, ou se tem que fazer mídia online que é uma coisa nova que está surgindo, na qual o cliente não entende ainda como funciona. A gente precisa agregar tudo isso com os clientes que a gente atende, pois tem clientes com possibilidades financeiras e demanda para trabalhar com comunicação integrada, e tem clientes que não precisam de tudo isso. Na agência tem duas jornalistas (redatoras) internas e são formadas. Se A gente vê que a demanda é pouca, a gente faz aqui dentro mesmo. Ou, quando a coisa é macro, a gente tem empresas enormes e não podemos apresentar uma assessoria de imprensa “chula”; assim sugiro que converse com assessoria de imprensa e indico parceiros. Verbo: O que você pensa sobre a competição entre PP, RP e Jornalismo? Chedid: A gente não percebe muito, mais. Eu percebia quando tinha uma agência menor, quando o cara de PP quer pegar o trabalho do jornalista, porque ele acha que o jornalista vai pegar o cliente todo para ele, e esse jornalista vai pensar a mesma coisa sobre o PP e, assim, fica aquela competição o tempo todo. Isso já aconteceu no mercado e

já aconteceu comigo. A agência já passou dessa fase, porque a gente atende clientes que acreditam no trabalho da gente, eles passam a ter um contrato de assessoria de comunicação, e eu indico o que é bom e o que quê não é bom, qual é o profissional bom ou qual profissional que não é bom. A gente trabalha com o processo que a gente chama de gestão de marca, em que explica para o cliente o que ele precisa entender Verbo: Então a relação ficou mais unificada e sem disputa? Chedid: Para nós não acontece mais isso de disputa. Os profissionais de propaganda viraram nossos parceiros e nos dão muitas ideias e até projetos. Tem agências que trabalham com toda comunicação integrada dentro da agência, que tem jornalismo, assessoria de imprensa. Verbo: Quais são as dificuldade do mercado caxiense e região? Chedid: A dificuldade caxiense é que o cliente não está acostumado a receber coisas novas, não que a agência não tenha capacidade criativa para isso. A verdade é que o cliente do meu cliente é que não está acostumado às novas tendências de expor a propaganda pelas novas mídias, ou utilizar novas estratégias. O cliente pede: “Eu quero tecnologias novas, ideias novas de mídias novas”, e que, na verdade, não entendem nada e ficam com medo, a gente apresenta para ele e, como não entende, o cliente volta para a mídia comum. Tem alternativas mil, e depende do foco, do nicho de mercado, da ideia e, assim a gente abre o leque de opções. Onde isso funcionaria? Pacotes que vou oferecer? Mídia de marca, mídia online e mídia diferenciada? Merchandising para essa situação? E o cliente vai “cortando”, porque

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ele tem medo. A agência insiste com essas novas ideias com os seus clientes, até que eles, numa terceira oportunidade, confiam e aceitam inovar. E assim vão fazer eternamente.

tende daquilo, e decide se vai ou não censurar. Ou que dissesse: pode ter isso ou não pode ter aquilo ou não pode ter aquele outro ou entrasse em acordo com as agências num check list.

Verbo: Qual o foco de modernização de mídias na agência? Chedid: A gente está tentando conhecer tudo e entender e encarar a ferramenta certa. É claro que vamos tentar suprir a necessidade para atender o cliente. Algo é desenvolvido aqui na agência em mídia online, mas o trabalho tem que ser todo específico para fazer não só mídia online ou outros meios de comunicação, esses trabalhos em rede sociais, e tem que ter equipe que faça isso, tem que conhecer o cliente e explicar que esse serviço não faz parte do pacote inicial dele. Ainda tem que pagar aquilo à parte, e essa é a parte mais complicada. Para isso, temos que conhecer bem nosso cliente, para saber se podemos utilizar para este ou aquele cliente, e como utilizar. Essa pulverização de mídia causa um efeito um pouco estranho para as empresas, que não sabem se exatamente dá resultado e se o resultado dá impacto casado com a imagem que ela quer transmitir.

Verbo: Foi divulgado, na internet, que a Laymark havia “plagiado” a campanha institucional de outra agência. O que realmente ocorreu? Chedid: O erro, na verdade, foi de pesquisa, e realmente aconteceu. Nós pesquisamos todas as campanhas que conhecíamos de agências da região para ver se a nossa iria causar algum impacto, ou casar, ou ter alguma peculiaridade específica com algumas delas e não encontramos nada. Primeiro, porque a agência não possui site com o seu nome. Nós não conseguimos buscar informação local. Mas o erro foi nosso, porque poderíamos ter pesquisado mais a fundo, nunca vi mídia da outra agência nas ruas, mas resolvemos de uma maneira mais prática e rápida possível: falar com quem é o responsável. Falei com o dono da agência, foi uma conversa muito tranquila e tudo foi resolvido. Nós, da Laymark, mudamos o foco da nossa campanha, e todas as mídias utilizadas já foram modificadas.

Verbo: A respeito da censura, como no caso da cerveja Devassa, que teve seu comercial proibido de ir ao ar. Qual sua opinião? Chedid: Quem censura é quem tem senso crítico ou não tem senso crítico. Acredito que a internet é o caos da propaganda, perversão e não se tem muito controle. Deveria existir canais onde o próprio cliente ou o consumidor participasse desta decisão, e não só o órgão do governo X o que entende ou não en-

Verbo: A agência Laymark já sofreu alguma espécie de censura? Chedid:Naregião,édifícilalgumórgãooumídiacontrolarascampanhas. O próprio cliente avisa, comunica. Nunca tivemos censura de campanha alguma dos clientes da agência. Só o cliente censura algum projeto de propaganda, mas por medo. Utiliza o senso comum e cresce rápido.


“A internet é o caos da propaganda, perversão e não se tem muito controle.” Verbo: Fale um pouco sobre o Projeto UFO. Chedid: A Escola de Comunicação UFO é um embrião, é uma ideia que eu e meu sócio, Sandro Broilo, que é formado em jornalismo tivemos há quatro anos, e o que acontece é que aqui na região existe uma dificuldade enorme para profissionalizar pessoas para a área específica de propaganda para a agência. Ensino é diferente de profissionalizar. E se abre o leque de opções para aquele nicho especifico e transmitir conhecimento para essas pessoas que querem aprender especificamente propaganda. Não quero ensinar jornalismo, assessoria de imprensa, quero ensinar propaganda. Queremos ver como vai funcionar. É um embrião. É feito workshop e são convidados o pessoal de marketing das empresas, e profissionais falando sobre assunto diversos. Verbo: O que você diria para os novos profissionais? Chedid: São dois lados. Ruim: trabalhar com propaganda em Caxias não é fácil, para se dar bem em Caxias, é preciso aprender a se destacar, encontrar onde você possa trabalhar e colocar as suas ideias em prática. E tem dono de agência que poda a tua ideia. Ganhar dinheiro em Caxias não é fácil. Tem que ter relacionamento, “politicagem”, relacionar-se com todo mundo. Relacionar-se com teus colegas, fornecedores, clientes, parceiros, meios, jornal, veículos. Bom: Não precisa trabalhar pressionado, 24 horas por dia. A comunicação é provida de ideias, de informação. O relacionamento se dá com muita gente boa; o mercado tem gente muito alegre e divertida: rádio, jornal... Pessoa criativa e empenhada se dá bem e falta profissional no mercado.

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foto: Luiz Chaves

FORMATO IDEAL PARA UM TRABALHO EFICAZ texto por CHAYANE BOPSSIN DA SILVA, GABRIELA PEGORINI E PRISCILA DE OLIVEIRA SANTOS

Simoni Schiavo é formada em Jornalismo e sócia-diretora da Enter Consultoria em Comunicação, em Caxias do Sul, que presta serviços para grandes empresas da região, como também para a maior festa da cidade, a Festa da Uva. A jornalista nos concedeu uma entrevista por e-mail a respeito de como sua agência se posiciona diante da nova situação dentro da área de Comunicação.


“A censura nunca deve ser uma alternativa aceitável pois atinge diretamente a liberdade das pessoas”. Verbo: Sabemos que, dentro da Comunicação Integrada, os departamentos de RP, PP e Jornalismo competem entre si para definir instâncias particulares de decisão na empresa. Como você vê esse quadro? Simoni Schiavo: Essa competição, que eu entendo como saudável para um melhor resultado, é apenas teórica. Na prática, pelo menos nas várias empresas atendidas pela Enter Comunicação nestes sete anos no mercado, não há competição. E o motivo é simples: não existe um trabalho de Comunicação Integrada nas empresas. Se as áreas trabalhassem juntas e tivessem a oportunidade de confrontar e defender suas posições e estratégias, seria uma atividade bastante produtiva, mas o que vemos são trabalhos individualizados. A agência de Publicidade e Propaganda desenvolve uma campanha e a apresenta para o cliente, geralmente para o departamento de marketing, no qual estão os profissionais de RP, que executam as ações aprovadas pela diretoria. À assessoria de imprensa cabe a divulgação na mídia espontânea. Tudo se dá de forma segmentada, quando o ideal seria a reunião de todas as áreas para as definições das ações. O resultado é um subaproveitamento de ideias e possibilidades, pois a união de todos poderia render estratégias diferenciadas e mais efetivas para todos os públicos, além de fortalecer a linguagem e, assim, a imagem da empresa.

Verbo: Como a agência se posiciona diante dessa nova situação na área da Comunicação?

Schiavo: Consideramos a Comunicação Integrada o formato ideal para garantir um trabalho eficaz, resultando no atendimento das necessidades de nossos clientes. Apesar disso, o modelo ainda é uma utopia, pelo menos em nossa região. A Enter já procurou promover parcerias com as demais áreas da Comunicação, visando a oferecer um atendimento completo ao seu cliente, mas há uma grande dificuldade em harmonizar os interesses e, principalmente, os perfis dos profissionais. Nas empresas atendidas, também já foram planejadas reuniões conjuntas das áreas e, quando acontecem, o que se vê são expectadores sobre o trabalho apresentado e não uma troca de ideias e sugestões. Há um comportamento de defesa excessivo e desnecessário, até pela falta de interação das pessoas envolvidas. Os clientes, por outro lado, afirmam que gostariam que apenas uma empresa pudesse suprir todas as suas necessidades na área da comunicação, mas também não criam oportunidades para que essa interação se estabeleça. É uma questão cultural, arrisco dizer. Nada disso, porém, deve servir de justificativa para que não busquemos o modelo ideal de trabalho, ou seja, a Comunicação Integrada. Verbo: A Comunicação Integrada, em seu processo efetivo de aplicabilidade, funciona em agências de que porte no seu entender? Schiavo: Mais importante do que o porte da empresa, a aplicabilidade da Comunicação Integrada depende do entendimento e desprendimento dos profissionais envolvidos. É claro que se faz necessário que a empresa contemple os profissionais de todas as

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áreas – Jornalismo, PP, RP e alguém que domine as mídias sociais, que, acredito, a melhor opção é o próprio jornalista –, mas esse é apenas o primeiro passo. O comportamento de todos esses profissionais e como eles encaram a sua função e a importância das demais áreas é o que definirá o conceito de Comunicação Integrada, ou seja, uma equipe aberta e afinada trabalhando em um mesmo projeto, para um mesmo cliente. Caso contrário, será apenas uma empresa que oferece todos os serviços de comunicação, de forma individualizada. Verbo: Qual sua idéia e/ou entendimento sobre o processo de integração/convergência no uso do twitter, de blogs etc., na área empresarial? Schiavo: As mídias sociais não podem ser ignoradas. Conquistaram um espaço importante no dia a dia das pessoas e, por isso, devem ser utilizadas pelas empresas como uma ferramenta importante para apresentar serviços e produtos, além de fortalecer sua imagem. O uso dessas mídias, no entanto, não deve acontecer de forma descuidada. Para que atinja o objetivo de reverter de forma positiva na área empresarial, faz-se necessário que os responsáveis por essas definições tenham um conhecimento profundo da empresa, o que parece óbvio, mas geralmente não condiz com a realidade. Muitas empresas não conhecem seus públicos internos e externos, e não tem bem claro onde querem chegar, que imagem querem passar para a comunidade e a quem atingir. Sem essas definições estarem claras, o uso de mídias de massa, como as

inúmeras que temos à disposição atualmente, pode ser apenas um desperdício de tempo e, pior, ter um efeito contrário do esperado. Verbo: Mudando um pouco de assunto, todos os anos discutese a censura nos meios de comunicação. Qual a sua opinião a respeito desta situação nos dias de hoje? Schiavo: A censura nunca deve ser uma alternativa aceitável. Atinge diretamente a liberdade das pessoas, e cercear esse direito não condiz com uma sociedade que se considere democrática. Tentar calar a imprensa, muitas vezes a única voz de milhares, através da censura é, no mínimo, repugnante. É claro que a imprensa, assim como todos os setores da sociedade, precisa de balizadores para uma convivência organizada e de respeito aos direitos de todos. A melhor forma para evitar abusos e distorções, que aparecem na imprensa – e eles existem em maior número do que gostaríamos de presenciar –, é capacitar os profissionais e, passando por isso, as faculdades. A dispensa do diploma para exercer a profissão foi um desserviço aos brasileiros. Não porque a faculdade ensine alguém a escrever, uma justificativa pífea de quem defende uma medida tão simplista. Uma boa faculdade orienta, dá base sobre o que é ser jornalista, o que faz parte da profissão, o que não pode ser esquecido na apuração de uma matéria, o que é notícia e, traduzindo todos esses aspectos, sobre ética profissional. Concordo que não é preciso ser jornalista para saber escrever: construir uma frase é apenas o básico para qualquer cidadão alfabetizado. Ser jornalista é muito mais do que isso.


Revista Laboratório do curso de Comunicação Social – Habilitação Publicidade e Propaganda Universidade de Caxias do Sul – UCS 1º semestre de 2010

REITOR: Isidoro Zorzi VICE-REITOR: José Carlos Köche PRÓ-REITOR ACADÊMICO: Prof. Evaldo A. Kuiava DIRETORA DO CENTRO DE CIÊNCIA DA COMUNICAÇÃO: Profª. Marliva Vanti Gonçalves COORDENADOR DO CURSO DE PUBLICIDADE E PROPAGANDA: Prof. Marcelo Wasserman DISCIPLINA: Mídia Impressa Prof. Dinarte Albuquerque Filho EDITOR GRÁFICO: Daiane De Gasperi e Cia. REPORTAGEM, PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: Os alunos FOTO DA CAPA: Maurício Melo de Boni e Cia. IMPRESSÃO: Gráfica da UCS

ALUNOS ALISSON ANDRIGHETTI, AUGUSTO BELLINI E MAURÍCIO ZANON ALESSANDRO LUCIETTO, DIGIANE CUNHA E MAURÍCIO DE BONI CRISTIANA FERRETTI REIS, DEMITRIUS MENEGHETTI DE PIERI E POLIANA PERSON CARDOSO AMANDA ASSUMPÇÃO, DAIANE DE GASPERI E DÉBORA DE LEMOS RAMOS CHAYANE BOPPSIN DA SILVA, GABRIELA PEGORINI E PRISCILA DE OLIVEIRA SANTOS



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