Revista Força Campolina 20

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Ano 07

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nº 20

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Setembro/2013

Matérias Haras Luanda Jupter de Passa Tempo

Campolina Gourmet Mercearia 130 Crônica

Foto: Ivan Machado

Os cavalos de Tiradentes

P Top










Índice

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Matéria Haras Luanda

ABCCCampolina Poeirões

O sonho que se tornou realidade

70

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Matéria Jupter de Passa Tempo

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Convenção Campolina

57

Campolina Gourmet Mercearia 130

90

Crônica Os cavalos de Tiradentes

O número 1 da raça Campolina

Raça Campolina se movimenta em Minas Gerais Tiradentes/MG recebeu o encontro nacional da raça

Boa comida, chopp gelado e ambiente aconchegante

Ano 07

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nº 20

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Setembro/2013

Matérias Haras Luanda

P TOP (Favacho TOP x Leopoldina TOP)

Jupter de Passa Tempo

Capa

Haras TOP

Campolina Gourmet

Nova Friburgo/RJ

Mercearia 130 Crônica

Foto: Ivan Machado

Os cavalos de Tiradentes

P Top

Foto Capa: Ivan Machado

(22) 2522.7691 www.harastop.com.br

Expediente Edição e Diagramação Marco Livrão Tiago Martins Direção Marco Livrão livrao@cheiodeideias.com.br

Jornalista responsável

Direção de Arte Tiago Martins

Bianca Costa MT 10619

tiago@cheiodeideias.com.br

10 Força Campolina | Setembro 2013

Fotos Duarte Hamilton Silvester Ivan Machado Nilo Coimbra Pedrão Pedro Viotti Roberto Pinheiro Sérgio Teixeira Sidney Araújo

Agência e Produção

(31) 2555.8900 www.cheiodeideias.com.br Rua Angustura, 210 | Sala 2/C Serra | Belo Horizonte/MG CEP: 30.220-290


Editorial

“Caminhar com bom tempo, numa terra bonita, sem pressa, e ter por fim da caminhada um objetivo agradável: eis, de todas as maneiras de viver, aquela que mais me agrada.” Jean-Jacques Rousseau

Muitos sonhos se configuram em sonhos apenas, outros se materializam em coisas que ficam muito mais no ideário do que em matéria propriamente. Sonhei que podia fazer uma revista da raça Campolina, sonhei que este veículo de comunicação poderia ter corpo e contar além da atualidade, com fatos da história do cavalo Campolina. Certamente naquele momento, há quase dez anos, eu não tinha a dimensão de onde poderia chegar. Primeiro com o incentivo de meu amigo e padrinho Yuri Engler, fizemos a revista Toada Campolina, uma versão de uma que existia voltada para o Mangalarga Marchador, formam duas edições que serviram de laboratório para um veículo que realmente teria a minha forma de pensar o cavalo Campolina - Forte, daí veio a expressão e o nome: Força Campolina. Agora quando chegamos a 20ª Edição, no mesmo palco que lançamos a primeira revista, emoções são revividas, histórias passam em nossa retina, rostos são retratos saudosos de um passado e o cavalo evoluiu muito mais que o próprio tempo. Também tivemos erros, mas sempre com o objetivo de fazer o melhor. Acertamos pelo embalo que a raça provoca em meu coração que sempre pensou no coletivo muito mais que simplesmente num instrumento de negócios. Se é hora de reviver, também é momento de agradecer a todos que de alguma forma entenderam e entendem a proposta, me desculpar com outros que não me compreenderam bem, dizer a todos que continuo apaixonado pelo Campolina, e saibam é um amor crescente. E agora, sob a bruma que esfumaça meu olhar, penso como melhorar esta revista que é privilégio em minha vida. Força Campolina Sempre!

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Matéria

Haras Luanda O sonho que se tornou realidade

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mbalado por um sonho de infância em 2003, Paulo Rocha titular do Haras Luanda, decidiu criar Campolina. Passados nove anos, o criador baiano chegou ao título de Melhor Expositor Nacional, durante Nacional de 2012,sendo responsável pelo retorno de um criatório nordestino ao topo da tabela, desde a Era Angelim. Na seção Haras em Destaque desta edição, vamos conhecer mais sobre a história e a estrutura deste haras que esbanja competência e qualidade. Estrutura A atual estrutura do Haras Luanda está montada na Fazenda Bela Vista,

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localizada no município de Araçás, a 100 km de Salvador. Em uma área de 100 hectares, possui 54 baias e 16 piquetes, além de uma capineira para produção de volumoso. Porém, o criatório já prepara nova estrutura, mais adequada à sua atual realidade, em uma propriedade recém-adquirida, de 350 hectares, no município de Cardeal da Silva, localizado a 160 km da capital baiana. “Trata-se de uma propriedade crua, onde estamos montando uma estrutura planejada para nossas necessidades”, conta o campolinista, Paulo Rocha. Com uma central de reprodução montada dentro do haras, sob coor-

denação do médico veterinário Paulo Vasquez, o criatório consegue uma produção anual média de 50 animais, oriundos de transferência de embrião e prenhezes. Equipe Capitaneada pelo gerente Ideídes, mais conhecido como “Deí”, a equipe do Luanda é formada por três treinadores: Dum, João e Wagner, além de uma equipe de apoio responsável pela alimentação dos animais e limpeza das baias. A consultoria técnica fica por conta de Teófilo Soares, que faz visitas mensais e acompanha a tropa durante as exposições.


||| Pista de apresentação

||| Piquetes

||| Centro de Treinamento Força Campolina | Setembro 2013 25


Matéria

Haras Luanda

Reprodutores O time de reprodutores hoje é liderado pelo Grande Campeão Nacional, Dimitri de Luanda (Design da Hibipeba x Agitada das Duas Marias), que vem produzindo uma potrada com bons resultados nas pistas. Em tempo, já começa a ser testada uma nova geração de jovens garanhões, que conta com o negro Garoto de Luanda (É Top x Hadija de São Judas) e o Grande Campeão Brasileiro Hamon de Luanda (Hamon da Hibipeba x Vitória da Fronteira). “Além do desempenho em pista e características, procuramos selecionar os reprodutores

por suas genéticas maternas. Vejam que temos hoje filhos de três grandes matrizes: Agitada, Hadija e Vitória”, explica Rocha. Em breve, esse time receberá o reforço do atual Grande Campeão Nacional Jovem, Instinto de Luanda. Doadoras O plantel de doadoras do haras é liderado, hoje, pelas supercampeãs de marcha, Década e Dúvida de Luanda. Além delas, se destacam nomes como Daslu de Luanda, Honra de Luanda, Linda de São Judas e Uli do Chiribiribinha.

Novas gerações As novas apostas do Luanda, nas fêmeas, são: Honra, Hacienda, Importância, Idéia, Itália, Jabulani, Jamanta, Kilinda e Janne. Entre elas, se destacam: Honra, Reservada Grande Campeã Jovem de Barbacena em 2012, e Importância, Campeã Brasileira em 2013. Nos machos, os destaques das novas gerações são: Instinto, Insano, Incêndio, Jivago e Jaguar, dos quais roubam a cena Instinto, Grande Campeão Nacional no convencional e no pampa em 2012, e Incêndio, Grande Campeão Brasileiro em 2013.

||| Garoto de Luanda

||| Dimitri de Luanda

||| Dúvida de Luanda

||| Década de Luanda

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Haras Luanda faz história na Nacional 2012 O desempenho da Nacional 2012 escreveu o nome do Luanda em capítulos importantes da história do Campolina. O principal responsável por isso foi o potro Instinto de Luanda, primeiro animal de pelagem pampa a se sagrar Grande Campeão Nacional no julgamento convencional. Um feito, além de inédito, indiscutível, já que Instinto conquistou a primeira posição em ambos os quesitos de avaliação. “É fantástico ver em um animal a síntese de tudo aquilo que você busca: beleza, andamento e pelagem. O primeiro cavalo que me deu vontade de comprar foi um Campolina pampa. E, hoje, realizo também esse sonho através dele”, comemora Paulo Rocha. Em 2012, o Luanda

conquistou o título de Melhor Expositor Nacional. Ao completar 10 anos de criação, o Haras Luanda soma a história de Instinto a outras conquistas marcantes, como o Grande Campeonato Adulto de Dimitri de Luanda, em 2010 e o título de Grande Marchadora conquistado por Década, em 2011. Também já conquistaram títulos nacionais com o sufixo Luanda os exemplares Dúvida (Campeã de Marcha em 2013) e Hamon (Reservado Campeão Potro em 2012). “Agora, o desafio é olhar para o futuro e planejar o que queremos das próximas gerações. E que venham mais gerações vitoriosas. Afinal, quem ganha é a raça Campolina e o Nordeste”, finaliza Paulo Rocha.

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Matéria

Jupter de Passa Tempo O número 1 da raça Campolina

S

e na mitologia latina ele é o principal Deus do Céu, e como astro é o maior dos planetas em nosso sistema solar, na raça Campolina ele é o número 1. A história de Jupter de Passa Tempo Nascido em um dos berços da raça o castanho batizado Jupter era resultado do trabalho seletivo da família Andrade, mais especificamente de Bolívar e Márcio Andrade. O ano de 1970 iniciava a produção do Grande Campeão Nacional: Expoente de Passa Tempo, que era fruto da introdução do sangue do Mirai Rififi na base do plantel. Jupter foi seu primeiro filho e galgou desde novo a sina herdada de seus pais. Em sua genética encontramos o celebre encontro do Expoente nas filhas do Campeão Nacional de Marcha de 1967 - Xerife de Passa Tempo, mas lembramos que a mãe

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do Expoente tinha por duas vezes a presença da Inglaterra de Passa Tempo, mãe do próprio Xerife e que na base a mãe de Jupter tinha o sangue da marca “D” - Palmeira, tornado o animal com a presença das linhagens formadoras da raça. Inicialmente o jovem Jupter foi comercializado para um criador em Campos/ RJ e depois vendido para o criatório Sans Souci de Roberto Cantelmo, durante seis anos serviu ao criatório. Deixou vários filhos Campeões Nacionais com destaque para: Frevo de Sans Souci) por Gás Elke, que foi Grande Campeão Nacional e serviu por muitos anos o plantel de Jaime Figueredo - Rancho 70/RJ, Coca Cola de Sans Souci - Grande Campeã

Nacional, Herói e Sans Souci - Campeão Nacional Júnior e Ciumenta de Sans Souci - Grande Campeã Nacional, dentre outros. Posteriormente Jupter de Passa Tempo foi negociado com Sérgio Cantidio Ferreira, criatório Graipú em Governador Valadares/MG, onde o animal conquistou o Bi Grande Campeonato Nacional da Raça, no Graipú, ele deixou vários e importantes exemplares com destaque para o Campeão - Fadú do Graipú e Herau do Graipú.


||| Jupter de Passa Tempo, no dia da sua compra por Jamil Saliba

||| Jupter de Passa Tempo, em 1984

A ida de Jupter na Ilha da Chapada Em 1983 na ocasião da Semana Nacional do Cavalo Campolina, realizada em Governador Valadares/MG, o cavalo foi negociado com o criador Jamil Saliba, criador do sufixo - Alfenas, por um valor elevado, recorde em todas as raças criadas no país até então. O negócio foi fechado com a condição de o cavalo ser entregue no dia 1º de março de 1984, há quase 20 anos atrás. A escolha era tão acertada que Coca Cola e Frevo de Sans Souci sagram-se os Grandes Campeões em 1983. Na Ilha da Chapada - Jupter deixou prole considerável, com vários filhos e filhas Campeões Nacionais, com destaque para o extraordinário Grande Campeão Nacional e Campeão Nacional de Marcha: Iluminado de Alfenas (foto), um cavalo que já merece uma história e que será contada na próxima edição desta revista, gerou a fantástica marchadeira: Fada de Alfenas, que com Iluminado gerou o Campeão Nacional de Marcha Pharaó de Alfenas, tudo isto perpetuando o sangue do fenomenal Jupter. Também é necessário destacar Madonna de Alfenas, irmã inteira de Iluminado e Hércules de Alfenas, este, filho-neto de Jupter com a Campeã das Campeãs, Ciumenta de Sans Souci. Além das cocheiras virtuosas da Ilha da Chapada, Jupter colheu frutos vindouros de sucesso, com destaque para o Octa Campeão Nacional - Desacato da Maravilha (foto), que já teve sua história destrinchada neste veículo, dentre outros. Nos registros da ABCCC constam perto de 250 filhos diretos, do Jupter, além de descendentes de perder a conta. Nos registros existem filhos registrados em 26 sufixos diferentes - Arabias, São Pedro, Alfenas, Salnor, JB, Tiguara, LV, LC, Porto Alegre, Sans Souci, JHR, Graipú, Santa Paula, Santa Rita, Filó, Maravilha, Capão Seco, Vista Linda, Chaparral, Auxiliar, Limirio, Marcaio, Gran Ville, Mima, Paloma e Cassorotiba. Em 1987, passou a ser conhecido como o número 1 da raça por ter sido o primeiro animal da Raça Campolina a ser inscrito no Livro de Elite.

||| Iluminado de Alfenas, Grande Campeão Nacional da Raça - 1991 Força Campolina | Setembro 2013 41


Matéria

Jupter de Passa Tempo

Nos anos de 1993, 1995 e 1998, a Ilha da Chapada realizou os memoráveis Leilões “A HERANÇA DE JÚPITER”, quando pela primeira vez em nossa raça, leilões tiveram como base, um só garanhão, um só perfil. Esses leilões serviram para difundir e perpetuar o DNA de Jupter no criatório Nacional. Embora fosse considerado de porte mediano para época, produzia animais de alta e forte estrutura, e transmitia com consistência suas características principais que eram aprumos exemplares, conformação de garupa, dorso-lombo perfeitos e principalmente transmitia seu pescoço longo e rodado. Sua cabeça era harmoniosa, bem proporcional ao corpo,e suas orelhas se destacavam por serem finas e bem paralelas. Mas, hoje, a carac-

terística mais marcante, mais influente de Jupter, e que sem dúvida nenhuma ocasionou a difusão de sua genética foi a qualidade de sua marcha. O Número 1 aliava rendimento com uma comodidade invejável. Além de ser um excelente Campolina, era um excelente cavalo. Jupter nos deixou em 1990, tendo que ser infelizmente sacrificado após duas cirurgias motivadas por uma fratura. Sua história se confunde com os próprios destinos da raça Campolina, ele vem como referência básica de uma linhagem que pensava os animais de sela como princípio básico da seleção e encontraram principalmente na Ilha da Chapada e em destaque com a prole do citado Iluminado, um legado que tem o caminho do futuro da raça como destino.

Uma curiosidade descoberta recentemente: embora no registro do Livro de Nascimento da ABCCC, conste escrito como JÚPITER, no registro do animal esta grafado Jupter, assim sendo, vários de seus descendentes tem em seus pedigrees o nome grafado dessa forma. Os novos pedigrees, carregam a grafia de Júpiter, mas optamos por manter o nome que foi usado por anos e anos, tanto em registros como em material publicitário e que inclusive, está na placa, em que a Ilha da Chapada homenageou seu inesquecível reprodutor.

Da vida para a história

Um Cavalo, uma lenda O número 1 da raça Campolina Para sempre...

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Campolina Gourmet

Mercearia 130, restaurante ou boteco?

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Entre as charmosas ruas do tradicional bairro Serra encontra-se a Mercearia 130, um misto de tudo aquilo que agrada o belo horizontino: boa comida, chopp gelado e ambiente aconchegante.

naugurada há pouco mais de um ano a Mercearia 130, dos sócios Franco e Marco Lucchese, Raoni Ribeiro e Rafael Campos inovou o mercado gastronômico de Beagá levando para dentro da casa a proposta de fazer uma cozinha de qualidade a preços justos. “Queremos apenas a liberdade de poder servir torresmo, ostra, cerveja e vinho no mesmo local. E sem “assaltar” o freguês” explicou Raoni. A mercearia não tem cardápio impresso, os pratos e petiscos ficam escritos em lousas pregadas nas paredes do local. As receitas são elaboradas pelos sócios Franco, Raoni e Rafael e são a chave para o destaque que o empreendimento vem tendo junto aos botequeiros. “Pratos como o torresmo de costela (conhecido como picolé mineiro por ter ossinho para segurar) o ceviche, as bruschettas, assim como a forma de servir os pratos executivos (todos contam com arroz, feijão, salada, carne e guarnição de acordo com o gosto do cliente), além das caipis diferenciadas já se tornaram assinatura da casa e estarão sempre presentes no menu” disse Raoni. A carta de bebidas conta com chopp claro, chopp escuro, toda a linha de cerveja da Backer (10 tipos), caipis, carta de vinhos simples e bem atrativos. “É muito prazeroso, para a gente, receber famílias inteiras, já observamos em uma mesma mesa três gerações se divertindo juntas já que se trata de um local onde perfis de clientes diferentes consomem com a mesma satisfação sem se sentir deslocado” comentou Rafael. O local é bastante agradável. É uma mistura de um boteco descolado com toques rústicos, conta com lugares na calçada e simpáticas mesas de madeira, mas o serviço é de restaurante. A cozinha é muito bonita, com paredes de vidro que permitem aos clientes acompanharem a preparação e montagem de seus pedidos. Força Campolina | Setembro 2013 59


Campolina Gourmet

Mercearia 103

Em sua inauguração a casa contava com 70 lugares, para a comemoração de um ano a estrutura do local foi modificada, o cômodo ao lado foi integrado ao ambiente criando mais 30 lugares além da expansão do bar e também da cozinha. “A casa está sempre cheia, por isso nos acostumamos a trabalhar com fila de espera, mas nossos clientes não ficam em uma espera desagradável. São oferecidas opções de um chopinho no balcão, ou em um banquinho na calçada. Buscamos sempre alternativas para tornarmos a estada da pessoa o mais agradável possível” contou Marco Lucchese. A variedade do cardápio e o capricho com que são elaboradas as receitas são os grandes responsáveis pelo destaque da Mercearia 130 em meio a cidade dos botecos. “As receitas são criadas pelos sócios, que imprimem criatividade e personalidade às mesmas” comentou Raoni.

Endereço: Rua Ivaí, 130 Bairro:Serra Telefone: (31) 3658-3395 Horário:11h30 a 00h (dom. 12h a17h; fecha seg.) Cartões: American Expess, MasterCard, Diners, Visa, MasterCard Maestro, Redeshop, VisaElectron 60 Força Campolina | Setembro 2013













Matéria ABCCC

Poeirões Raça Campolina se movimenta em Minas Gerais

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Foto: Alex Andell

participação do cavalo Campolina nas provas multirraciais, ou “Poeirões” como são mais conhecidas, está dando o que falar no mercado de cavalos de sela. A raça experimenta uma nova fase e surpreende o grande público não só pela beleza e porte, mas também pela funcionalidade. E melhor: em confronto com outras raças marchadoras. Nos cinco primeiros Poeirões dos quais participou houve grande mo-

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vimentação de pequenos, médios e grandes criadores, além de usuários e novos investidores. Só para relembrar, a ABCCCampolina concede uma premiação especial, em dinheiro, aos melhores da raça. “Trinta e nove mil reais já foram distribuídos em prêmios nesses Poeirões, sendo que campeões e campeãs passam por coletas de amostras de DNA feitas por inspetores de registro da ABCCCampolina”, informam os membros da comissão responsável,

Reynaldo Zapalá, Cristiano Azevedo e Janor Santana. A estreia ocorreu na 9º Festa de Cavalos e Muares de Viçosa, com 23 éguas, dez garanhões e dois cavalos castrados da raça Campolina, de 19 criadores. Os animais estavam perfilados e foram apresentados um a um aos cerca de 3.000 espectadores. Dentre as melhores éguas, estavam Ferrara da Hibipeba, Rod Rebeca,


Meiga de São João, PROR Formosa e Campeã do Calais, classificadas nessa ordem. Nos garanhões, os melhores foram Quincas de São João, Peralta do Atalho, Urano da Dona Flor, Diplomata do Reig e Atroz do Porto Rico. No castrado, a primeira colocação ficou com Portento do Porto Rico, seguido por Apolo do Engenho. A segunda competição foi durante o Encontro de Cavaleiros de Marimbondos, no mês de maio, na cidade de Carmo do Cajuru. Foram

142 inscrições, com a presença de 23 exemplares Campolina. Houve divisão, em especial, entre éguas e cavalos nas modalidades Marcha Batida e Marcha Picada. As éguas campeãs de andamento mais avante foram Uiara da Dona Flor, Valentina da Dona Flor e Fag União. Nos garanhões, destaque para Brasão da Dona Flor e Xodó da Dona Flor, primeiro e segundo colocados. Na marcha picada, a campeã foi Loteria do Camparal, acompanhada de Majestade do Mosteiro e Ventania da Dona Flor. Apenas dois cavalos participaram nessa modalidade. Em São Brás do Suaçuí , o Poeirão foi realizado no dia 16 de junho, no parque de exposições do município,

com a presença de aproximadamente 2.000 pessoas e 160 cavalos e muares de raças distintas - 25 animais eram Campolina. As campeãs de marcha foram Ferrara da Hibipeba, Rod Rebeca, Ki-Bonita do Barulho, Luna do Vale Monte e Fada das Minas Gerais. Os melhores garanhões foram Enígma do RK, Diplomata do Reig, Lutero das Minas Gerais e Zeus Feirauto. O campeão castrado foi Apolo do Engenho Novo. A cidade de Manhuaçu também foi sede de uma competição, que ocorreu no dia 30 de junho, com 110 animais e um público de 1.000 pessoas. As campeãs de marcha foram Ferrara da Hibipeba, Tramela da Dona Flor, Valentina da Dona Flor, Pira de São João e Gaúcha de Ascensão. Os campeões foram Quicas de São João, Badulaque do Momento, Tissot Mandala, Quartzo de São João e Quantum de São João. No castrado Tornado das Plumas foi o campeão. Em Taquaraçu de Minas cerca de 2.000 pessoas prestigiaram esta competição. Os garanhões premiados foram Hip do Potrilho e Xodó da Dona Flor. Dentre as éguas, Valentina da Dona Flor, Tramela da Dona Flor, Gamela do Barulho, Uiara da Dona Flor e Pira de São João.

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Informativo ABCCC

Convenção Nacional discute futuro do Campolina Quais as biotecnologias reprodutivas mais recentes na equinocultura? Qual o padrão ideal para o Campolina? Quando a endogamia pode ser um problema? Essas e outras questões foram respondidas em Tiradentes (MG)

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sexta edição da Convenção Nacional Campolina ocorreu entre os dias 21 e 22 junho, reunindo 120 criadores e usuários de várias regiões do Brasil. O primeiro assunto da pauta foi o lançamento oficial da Escola Nacional do Cavalo Campolina, que pela relevância conquistada nos planos da ABCCCampolina ganha maior destaque nas próximas páginas do “Monarca”. Em seguida, Juliana Hayashi Tannura, veterinária da In Vitro Brasil, de Mogi Mirim (SP), falou aos presentes sobre as biotecnologias recém-chegadas à equinocultura, como por exemplo a Injeção Introcitoplasmática de Espermatozóide (ICSI), que permite a fecundação de um oócito utilizando apenas um gameta masculino. “As vantagens são muitas”, garantiu a veterinária, dando ênfase à obtenção de potros em éguas com problemas de fertilidade ou até mesmo que morreram num prazo de seis horas. O primeiro nascimento obtido com esta tecnologia aconteceu na Itália, em 2002.

||| Juliana Hayashi Tannura, apresentou novas tecnologias na equinocultura 86 Força Campolina | Setembro 2013

Outro tema apontado por ela foi a clonagem, já utilizada entre campolinistas. O método permite a produção de animais geneticamente idênticos de forma assexuada. “A clonagem deve ser vista como uma oportunidade de incremento à qualidade genética e não meramente como um simples multiplicador. Trata-se de um procedimento oneroso e com aplicações bastante restritas”, explicou, revelando que o custo pode chegar a R$ 200 mil por animal. Ainda no primeiro dia, José Renato da Costa Caiado, doutor em Produção Animal pela Universidade Estadual Norte Fluminense (UENF) e árbitro respeitado na equinocultura, prendeu a atenção do público por seu amplo conhecimento sobre morfologia funcional. “Quando falamos do Campolina temos de ter em mente que se trata de uma raça de sela e tudo em sua morfologia deve ser pensado no desempenho de suas funções”, afirmou.

||| Amyr Klink revelou já ter montado em uma égua da raça Campolina

||| “Ninguém administra aquilo que não mede”, disse o Prof. José Bento em sua palestra sobre genética


||| Luiz Roberto, José Caiado e Reynaldo Zapalá

||| Evento contou com a participação atuante de 120 criadores e usuários da raça Campolina

||| Grupos formados para discutir possíveis ações a serem implantadas pela ABCCCampolina

Costa também enfatizou o binômio proporção/equilíbrio, que segundo ele são evidentes em bons exemplares. Ainda deixou dicas aos criadores em relação à cabeça do Campolina, que deve ser o mais proporcional possível, com a fronte ampla e olhos bem afastados. “A região massetérica tem que ser forte e o perfil do chanfro não deve ter exagero na convexidade, que se muito acentuada pode prejudicar a respiração”, afirmou. Dando continuidade, o Prof. Dr. José Bento Sterman Ferraz, do Núcleo de Apoio à Pesquisa e Melhoramento Animal, Biotecnologia e Transgenia da USP, ressaltou o uso das DEPs (Diferença Esperada na Progênie) e de marcado-

res moleculares. Segundo ele, ao se converter os objetivos de seleção em dados estatísticos tem-se nascimentos de melhor precisão. Logo em seguida, introduziu o ponto mais esperado da convenção: a divulgação da pesquisa encomendada pela ABCCCampolina para avaliar se a raça Campolina é endogamia. “O coeficiente não está em uma região tenebrosa, cerca de 5%, mas exige um pouco mais de atenção. Muito acima disso, os criadores começam a experimentar altas taxas de mortalidade”, explicou. Outro problema causado pela endogamia é a transmissão de genes recessivos de doenças. A associação vai se aprofundar no assunto. União e Solidariedade Na noite do dia 21 de junho, os criadores que participavam da Convenção reuniram-se no luxuoso Santíssimo Resort para a realização do Leilão do Bem. Trinta e nove aspirações renderam um faturamento de R$ 600 mil, dos quais 10% do valor foram doados ao Hospital Cassiano Campolina - patrimônio da raça - e o restante destinado às ações de fomento da ABCCCampolina. “Estamos muito felizes com o apoio que a associação tem nos dado e esperamos sempre contar com a colaboração de todos na preservação desse grande patrimônio cultural da raça Campolina. Essa doação veio em boa hora, já que estamos com um projeto para trocar o telhado do hospital, serviço orçado em R$ 300 mil”, diz Afonso Miranda, procurador da instituição. Acertando a Marcha No dia 22 de junho, o respeitado jurado Roberto Coelho Naves explanou sobre os diferentes andamentos das raças marchadoras. Segundo ele, quem seleciona animais pela marcha, possivelmente, escolhe os de melhor morfologia. “Mesmo sendo provado que a marcha é um controle neuromotor relacionado à genética, a morfologia permitirá ao animal desempenhar facilmente suas funções”, explicou. Falou também sobre a famosa marcha de centro, vista com certo equívoco pelo mercado. “Esta marcha é o centro entre macha picada e a batida. Não entre andadura e trote. Dela, podemos explorar uma infinidade de outros andamentos, mas entendo que devemos preservar o passo natural do cavalo”, explicou. Finalizando com chave de ouro, Amyr Klink, um dos mais respeitados velejadores do mundo, contou sobre suas proezas no mar, revelando já ter montado numa égua Campolina de nome Mulata, que pertencia a seu pai. “Criar cavalos e fabricar barcos tem algo em comum. Faço uma espécie de “melhoramento genético” nos barcos, que normalmente são ruins e planejados mais para o aspecto comercial do que para ter eficiência e performance”, disse. Klink deixou mensagens de otimismo, determinação, foco e planejamento aos criadores. Força Campolina | Setembro 2013 87






Crônica

Os cavalos de Tiradentes

A

* Por Evandro Meirelles Santos Criador de Campolina

migos, vocês não imaginam o que se passou comigo. Somente Machado de Assis poderia contar-lhes o ocorrido. Ele sim encontraria o estilo e as palavras capazes de traduzir a aura de encantamento que tomou conta da pequenina Tiradentes/MG, por ocasião do último leilão promovido pelo Norival Siqueira. Embora já estejamos um pouco distantes do evento, ainda assim sinto que, até os dias de hoje, qualquer assunto, fora o leilão da Hibipeba, tenha nascido morto na hospitaleira cidade mineira. Antes de prosseguir, quero lembrar-lhes que aqueles que me conhecem sabem como os bondes, as botas de cano longo, os cavalos de aluguel da Praça Xavier de Brito e o refrigerante Crush volta e meia ainda fazem parte de meus pensamentos. No entanto, em minhas crônicas, jamais citei a paixão que mais profundamente toca meu coração operado. Refiro-me aqui aos trens movidos a vapor. Na minha imaginação, antes da primeira revolução industrial e do próprio mártir de nossa Independência já existia a Maria Fumaça e a cidade de Tiradentes/MG. Acho incrível e indesculpável que alguém, vivo ou morto, possa ficar indiferente ao trenzinho dessa pequena cidade colonial. As gerações futuras deveriam pelo menos uma vez ao ano passear em seus vagões de madeira. E os mortos, também eles, deveriam obter permissão para levar lá suas almas, com o fim de se purificar. Junte-se a tudo isso o cavalo Campolina e entenderão por que eu não poderia estar ausente no leilão do meu amigo Norival, mesmo tendo me desligado da ABCCCampolina há exato um ano. Só Deus e os pardais de Santos Dumont sabem o quanto corri para chegar a tempo de ver a velha locomotiva chegar à estação. E se nada mais houvesse para ver ou fazer, eu me daria já por satisfeito. Mas passemos ao assunto principal desta crônica: as charretes de aluguel, estacionadas ali, ao lado da estação. E todo esse universo provinciano me deu a sensação de que eu já fora mineiro algum dia. E natural de Tiradentes/MG. Sem vacilar, atravessei correndo a linha do trem e fui me enfiar entre os charreteiros que conversavam. O assunto era um só em toda a cidade: o leilão da Hibipeba. E o que se passou a seguir foi sublime. Antes, porém, um parêntese: Confesso-lhes que não estou sabendo começar o que lhes

tenho a dizer. Na verdade temo que, ao beirar os 70, os senhores pensem que estou ficando gagá. Vai ver é por isso que o Vadinho nunca me convidou para entrar na Academia do Cavalo Campolina. Ou então é porque eu não escrevo bem o suficiente para ser digno de sentar-me em alguma cadeira de sua Casa, que foi criada tendo como referência a Academia Brasileira de Letras. Quero crer que seja isso e não algo pior. 92 Força Campolina | Setembro 2013


Agora sim vamos aos fatos: enquanto conversava com os charreteiros, deparei-me com um murmurinho próximo, vindo não sei de onde. Apurei os sentidos e percebi que vinha da direção dos cavalos. Isso mesmo, eram as vozes dos cavalos, que conversavam entre si. Dirão todos que os cavalos não falam. Bobagem: as pessoas é que não se dispõem a conhecer seu dialeto. Aproximei-me lentamente para ouvi-los melhor. O assunto era o mesmo: o leilão que aconteceria horas mais tarde. Falavam sobretudo do Estoril. Ninguém entendia o porque de um animal tão belo ter sido castrado. Embora um tanto afastado, dei-lhes toda a razão. Todos me olharam e disseram: “chegue-se a nós, chegue-se a nós...” A maioria tecia elogios ao Ogro, a Nila, a Sintonia do Tadeu. Disse um tordilho: “se desfilassem na Avenida Rio Branco jogariam papel picado das sacadas”. Todos rimos. Não uma, mas muitas vezes. Percebi então que a opinião unânime dos cavalos de charrete sobre o Campolina era a melhor possível. De repente veio a pergunta fatídica: “Os Campolinas também se acham o melhor cavalo do mundo?” _ Claro que não, caso contrário não copiariam tanto o Mangalarga - disse eu de bate-pronto. _ Então, seus criadores aceitariam que eles trabalhassem, puxando charretes? falou o alazão sobre baio. _ Bem, se vocês querem um cavalo de andamento diagonal, penso que seria melhor buscar em outra raça. Mas se interessarem aos senhores (se é que posso chamá-los de senhores) as vantagens da docilidade e da beleza, penso que sim. Interrompeu-me outro tordilho, meio que menorzinho: _ E o Norival? Dizem que o homem xinga, fala grosso... _ É verdade. Confesso-lhes que em toda minha vida não houve ao menos um que me xingasse tanto. Mas, asseguro-lhes, é da boca para fora. Ninguém tem o coração tão grande. Estou certo de que ele adoraria estar aqui conosco, entre risos e palavrões. _ E como seria ele com um chicote na mão? _ Certamente estalaria alto e forte muitas vezes, causando impressão. Mas jamais açoitaria suas pernas. Conto-lhes um fato: certa vez fui visitar o Norival em sua fazenda. Os peões disseram-me que estava caminhando pelos pastos. Eu o vislumbrei ao longe. Ele ia calmamente. Se meus olhos não me enganaram, vi que havia um passarinho em cada um de seus ombros, em seu passeio solitário. Eis como eu o vejo. Ficamos em silêncio por um instante. Até que o pampa propôs: _ Se é assim, traga-o aqui para uma volta. E de graça. Também gostaríamos de conhecê-lo. _ Isso seria impossível nestes dias, por causa do leilão. Mas prometo a vocês que irei convidá-lo para que retorne comigo num fim de semana. Viremos em família, para passearmos em suas charretes e no trenzinho a vapor também. Então todos os cavalos relincharam e bateram suas patas dianteiras seguidamente no chão, como se fossem palmas. E esse som maravilhoso ecoou por toda a cidade de Tiradentes. Minha filha, Alice, que estava comigo o tempo todo, é testemunha de que tudo que lhes conto é a mais pura verdade.

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