Tempo Livre Janeiro/Fevereiro 2017

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DIRETOR - FRANCISCO MADELINO JORNAL BIMEStrAL 3.a SÉRIE • 1€ N.0 3• Jan-fev 2017

José Afonso

Homenagem no Trindade a 21 de março



ÍNDICE

TL jan-fev 2017 3

4 6 Opinião de A. M.

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22 23 Passatempos //

Aldeia histórica: Monsanto

Páscoa em Entre-os-Rios

Teatro da Trindade – 150 Anos

Coluna do Provedor // Musicando

Contos do Zambujal

Galopim de Carvalho

Entrevista: Nuno Lopes

Entrevista: Valdemar Bastos

Volei Clube de Setúbal

Na mesa com Miguel Castro e Silva

Nós, Trabalhadores

Agenda

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Editorial

N Inácio Ludgero

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“Zeca Afonso – Coro da Primavera”

capa

Fotografia

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Turismo Sustentável

ascido na Amadora em 1950, considera-se alentejano por adoção e cidadão do mundo por opção. Frequentou o curso de Escultura da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, ingressando no vespertino “A Capital”, em 1972. Daqui passou para “O Jornal”, onde foi repórter-fotográfico, desde o primeiro número, em 1 de maio de 1975, até à extinção daquele semanário em 1992. Atualmente é free-lancer, desde que saiu da revista “Visão”, em 2008. Colabora na Sociedade Portuguesa de Autores, sua casa desde sempre. Em 1994, publicou, juntamente com José Jorge Letria, no Círculo de Leitores, um álbum fotográfico a preto e branco, com textos poéticos, intitulado “Lisboa, Capital do Coração”. No ano de 1994, ganhou o 1.º prémio do 8.º Concurso de Fotografia do Meio Ambiente da Câmara Municipal do Barreiro, na categoria de preto e branco. Também em 1994, ganhou o Prémio Gazeta (Prémio Nacional de Fotorreportagem de 1993, do Clube de Jornalistas) com a fotografia de capa do primeiro número da “Visão”, efectuada no Huambo (Angola), com o título “Pietá Negra”, que viria a ser distinguida como uma das 50 fotos do século XX, pela Associated Press, em 1999. Nesta dura experiência, contou com a amizade e a camaradagem do seu companheiro de reportagem, José Plácido Júnior. O mesmo aconteceu com o seu companheiro Filipe Fialho numa reportagem que ambos fizeram em Timor e da qual resultou uma exposição que percorreu Portugal e o mundo, sob o tema “Os Mártires do Silêncio”. Sobre Timor, publicou também um álbum fotográfico, em 2000, com o título “12 Dias com os Mártires do Silêncio”. Em 2003, participou no livro dos 20 anos do “Tribunal Constitucional”. Inácio Ludgero ama a vida, as pessoas e os lugares. Acredita que o secretismo, a clandestinidade e a cumplicidade são uma via interior, por isso solitária, do Homem para reencontrar a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade.

FRANCISCO MADELINO Presidente da fundação inatel

Zeca Afonso, um Exemplo

E

ste ano faz três décadas que morreu José Afonso. Em Zeca há o poeta-cantor, o militante político, o símbolo de resistência ao Fascismo e a utopia da Revolução cantadas. É impossível ouvir o cantor sem que as imagens desse tempo nos venham, nos arrepiem a memória e nos reenviem para esse imaginário. Há, porém, uma outra e grande dimensão deste artista. A dimensão que, numa Fundação como a Inatel, não podemos secundarizar, sendo mesmo a de maior importância na vertente cultural de José Afonso. Ele foi às fontes da nossa música popular, incorporou na sua voz a alma daquelas, contudo, não simplesmente as reproduziu, dando somente dimensão nacional a muitas das obras do nosso cancioneiro popular. Ele foi muito mais além. Partiu deste universo de sentimentos do País popular e recriou-o, inovou, cruzou com as heranças e os ritmos africanos e brasileiros, onde nos embrenhámos através dos tempos, e pôs neles as palavras certas que compõem esta alma, ou utilizou as já existentes que bem traduzam os sentires portugueses. Canções como a Terra do Bravo, de matriz açoriana, ou a Canção de Embalar, onde nos envolve pelas estrelas e afetividades beirões, passando por Maria Faia, cântico épico-romântico, com tons andaluzes, de Malpica, são símbolos desta veia inovadora, que arranca da profundidade da nossa portugalidade a grandeza e a dignidade da Nação. Partir da tradição dos nossos valores culturais nacionais, renovando-os e ligando gerações, regenerando as raízes que constituem Portugal, é o lema desta administração da Inatel. Este número do Jornal Tempo Livre lembra este ano de aniversário da morte de Zeca, evoca-o, precisamente para ilustrar o exemplo de homem cívico e de cultura, e destacando assim aquilo que é a Missão da Inatel. Também em relevo, neste número, os 150 anos do Teatro Trindade Inatel, a par da homenagem a este cantor-poeta-símbolo. Afinal, Inatel, Teatro da Trindade e Zeca estão unidos pelo mesmo fado: a cultura portuguesa.

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TURISMO SUSTENTÁVEL A Organização das Nações Unidas (ONU) declarou 2017 como o Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento. Objetivos fundamentais: o setor turístico contribuir para os três pilares da sustentabilidade – ambiental, económica e social –, e ajudar à construção de um mundo melhor.

Um ano para despertar “Turismo é morte do preconceito”

“V

iajar é fatal para o preconceito, a intolerância e as ideias limitadas”, escreveu Mark Twain, pseudónimo de Samuel Langhorne Clemens, autor d’As aventuras de Tom Sawyer (século XIX). Estas palavras do escritor norte-americano trespassam e perduram no tempo porque dirigirem o olhar para longe, abrem para a amplitude do mundo, para o conhecimento dos homens e das mulheres. Próximos e distantes. A compreensão, a tolerância e a empatia pelo outro começam sempre por uma viagem. A decisão de se celebrar o Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento surge na sequência de os líderes mundiais reconhecerem, no âmbito da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio + 20), que um turismo “bem concebido e

bem gerido” pode ajudar nas três dimensões do desenvolvimento sustentável. A celebração deste ano visa aprofundar a consciência da herança das várias civilizações e conduzir a uma melhor apreciação das diferenças culturais, fomentando assim a paz no mundo. Em suma, o turismo pode contribuir para fazer deste um mundo melhor. “Todos temos de trabalhar em 2017 para que se deixe um legado nas atividades da fileira do turismo. Este é um ano de chamada de atenção. Que não seja apenas uma comemoração que se esgota no dia em que encerra”, alerta Fernando Perna, coordenador do Centro Internacional de Investigação em Território e Turismo da Universidade do Algarve (UAlg). “Estamos mais despertos para o tema da sustentabilidade. Tornou-se, definitivamente, a consciência de que qualquer atividade que não seja sustentável acaba, a médio ou longo prazo, por ser contra o desen-

volvimento da sociedade. Não é possível ser-se neutro”, afirma perentoriamente.

Reflexão e debate Este é o ano oportuno para se promover maior reflexão e debate sobre turismo e desenvolvimento sustentável. Um assunto que, apesar de não ser novo, estará, em 2017, na ordem do dia. Os organismos públicos, as entidades privadas, as populações locais e os turistas vão olhar com mais atenção para estas temáticas durante os próximos meses. “A atividade turística movimenta muitos milhões de pessoas para fora do seu ambiente habitual e torna-se fundamental a concertação de estratégias público-privadas para que o desenvolvimento turístico esteja permanentemente assente numa base de sustentabilidade”, considera Jorge Marques, coordenador do mestrado em Turismo e Hospitalidade da Universidade Portucalense (UPT). Quando se fala em turismo sustentável,

há quem apenas veja pela lente ambiental – porém, o conceito é multifocal: “Quando se discute sustentabilidade, fala-se em equilíbrios sociais, económicos e ambientais. Estes três vértices têm de funcionar em conjunto”, esclarece o investigador da UAlg. O foco está centrado nos três pilares, que não vivem uns sem os outros: sustentabilidade ambiental, económica e social. Mas, como sustentar esta espécie de ‘três em um’? Na prática, como é que isso se pode fazer? “O desenvolvimento de políticas de turismo sustentável deverá ter em conta a preservação e valorização dos recursos naturais, a dinamização das atividades económicas locais e a preservação e valorização da cultura e identidade locais. Neste contexto, assume um especial relevo a participação das populações locais para a valorização da própria experiência turística do visitante, através do artesanato local, das artes e ofícios, das tradições, da gastronomia típica local e do contar es-


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José Frade/arquivo

de fora. “O turista avalia as condições de trabalho não só no hotel, mas também no próprio destino. Se há alguém que avalia de forma independente uma região é o Valorizar o que nos diferencia A Agenda 2030 de Desenvolvimento Sus- turista – não perdoa. Quando chega e vê tentável, constituída por 17 objetivos, condições de trabalho inferiores ao seu aprovada por unanimidade por 193 Es- país de origem, ao seu standard habitual, tados-Membros da ONU, “para acabar ele nota e comenta. Hoje, com o poder com todas as formas de pobreza”, real- das redes sociais, essas falhas não poçando que “ninguém seja deixado para dem acontecer ”, salienta o investigador trás”, aborda, inevitavelmente, o turismo da UAlg, que faz notar a necessidade de sustentável. No objetivo 8, por exemplo, “haver um equilíbrio entre os visitantes e aponta-se para a promoção do trabalho os visitados; ambos têm de ganhar com a digno e crescimento económico. Até 2030 presença do seu similar ”. O turista está, cada vez mais, ambienhá que “elaborar e implementar políticas talmente (não esquecer para promover o turisaqui as tais três dimenmo sustentável, que cria sões), exigente. Há regras emprego e promove a Pessoas mais e princípios inerentes ao cultura e os produtos loturista, para que também cais”. Para a concretizainformadas, ele se sinta responsabilição desta meta, Portugal esclarecidas e zado para a sustentabili“terá necessariamente que valorizar os recursos sensibilizadas ajudam dade e desenvolvimento. “Ao longo dos anos tem-se locais dos territórios de a mudar o mundo verificado uma alteração forma integrada, envolno comportamento dos tuvendo a população local ristas, com tendência para e os conhecimentos e valores culturais que podem dar às gerações uma maior sensibilização relativamenfuturas, de forma a preservar e, em muitos te às questões ambientais, às diferenças casos, recuperar heranças culturais identi- culturais, à preservação do património, à identidade local e à sustentabilidade. Cada tárias”, defende o docente da UPT. “Cada vez mais”, continua, “as pessoas vez mais se fala em turismo de nichos em viajam pela experiência, pela autenticida- detrimento do turismo massificado. Ou de, pela diferenciação e aquilo que torna seja, o turista é cada vez mais informado, Portugal único é precisamente a sua cultu- esclarecido e exigente relativamente aos lura, a sua identidade, o seu património. Não gares que pretende visitar e também relapodemos cair no erro de ‘turistificar’ ex- tivamente às questões de sustentabilidade cessivamente o nosso país ao oferecer mais nos destinos”, constata Jorge Marques, que do mesmo aos visitantes. Devemos, sim, aponta que a responsabilidade do visitante apostar na valorização daquilo que nos di- para a sustentabilidade e desenvolvimenferencia e daquilo que diferencia cada um to se “deverá verificar não só através do dos territórios nacionais. A melhor forma comportamento que adota nos locais por de o fazer é mostrar o artesanato local, as onde passa, mas também nas escolhas que tradições e culturas locais e a gastronomia faz antes da viagem ter início, por exemtípica que valoriza os produtos endógenos, plo, através da escolha do alojamento, dos integrando em todo este processo o contri- transportes e outros prestadores de serviços que revelem práticas e políticas sustenbuto da população local”. Nesta senda de argumentos está também táveis”. “Um destino que não seja ambientalFernando Perna, que fala num “caminho longo” a percorrer na oferta de produtos mente amigável, não terá clientes no fulocais que dinamizem a economia das re- turo. A própria procura vai exigir que a giões. Exemplifica com um caso eloquente: oferta tenha essa qualificação ambiental”, “Se um turista estiver sentado numa espla- resume, por sua vez, Fernando Perna. nada do Algarve e, em vez de beber uma água Evian, consumir, a metade do preço, Promover a inclusão uma água de Monchique, terá um efeito Pessoas mais informadas, esclarecidas e muito superior na economia.” sensibilizadas ajudam a mudar o mundo. Perto e longe. Junto à porta ou nos antípodas. Voltando aos passos que estão a ser Turistas mais atentos Há, ainda, muitos outros aspetos a ter dados até 2030, um dos objetivos (o 16.º) em linha de conta, designadamente as indica a necessidade de se promoverem condições de trabalho de quem lida, em sociedades pacíficas e inclusivas para o diferentes âmbitos, com os que chegam desenvolvimento sustentável. “Se há atividade que não aceita a não-inclusão é o turismo. Quando chegamos a um destino onde as mulheres têm um papel inferior aos homens na sociedade, este aspeto e outros tão graves tocam-nos. E aí há uma excelente hipótese de o turismo contribuir para a sociedade. Se tivéssemos de apostar num setor que promove a inclusão e a igualdade social seria o turismo”, sublinha o investigador da UAlg. “O turismo permite-nos abrir horizontes, conhecer diferentes povos, culturas e religiões, quer quando viajamos para outro país ou quando recebemos os turistas”, complementa Jorge Marques. Uns e outros ficam mais ricos quando aprendem a conhecer-se, a partilhar aquilo que até então desconheciam. Neste Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento há discussões que vão estar em cima da mesa para se promoverem sociedades mais pacíficas e inclusivas. Contributos para o “fortalecimento da paz no mundo”. Sílvia Júlio tórias associadas aos locais de visitação”, responde Jorge Marques.

À esquerda, Fernando Perna, coordenador do Centro Internacional de Investigação em Território e Turismo da UAlg, alerta: “Todos temos de trabalhar em 2017 para que se deixe um legado nas atividades da fileira do turismo”. À direita, Jorge Marques, coordenador do mestrado em Turismo e Hospitalidade da UPT, defende que Portugal “terá de valorizar os recursos locais dos territórios de forma integrada”


Opinião

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INTERESSE DA GEOLOGIA NO TURISMO DE natureza Territorialmente pequeno, Portugal tem grande diversidade geológica o que determina uma igualmente grande variedade geomorfológica e elevada diversidade de geossítios e geomonumentos, sendo insignificante o número dos oficialmente reconhecidos e classificados. Por A.M. Galopim de Carvalho

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ais de mil milhões de turistas percorrem o mundo, fruindo o que cada um deles procura, gerando um potencial económico de valor amplamente reconhecido, nomeadamente, no emprego, no comércio e indústria e serviços que o suportam. Consciente desta onda que tem vindo a caracterizar a sociedade dos nossos dias, a Organização das Nações Unidas declarou 2017 como o Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento. Devido ao clima, à História e à cultura, ao bom acolhimento e à simpatia natural e espontânea do povo português, à gastronomia regional e, ainda, à sua posição geostratégica, Portugal é atualmente um dos destinos turísticos mais procurados. O número de turistas que anualmente recebe nunca foi tão grande. Só no primeiro semestre do ano que passou, bateu todos os recordes, com mais de 8,5 milhões. Entre as diversas motivações dos que nos visitam, debruço-me, em particular, sobre o turismo de natureza que, por razões ambientais, culturais e económicas, entendo dever ser sustentável, no respeito pela biodiversidade e, a par dela, pela geodiversidade que a suporta. Nesta classe de turismo em assinalável desenvolvimento no nosso país, compete-me chamar a atenção para a vertente abiótica da na-

tureza sempre arredada das preocupações de quem decide nestas matérias. O convite oficial a esta vertente turística que, naturalmente, inspira as agências de viagem, não deve ficar-se, pois e apenas, como tem sido a prática entre nós, pela tónica na elevada diversidade de habitats naturais, com observação de aves e outras espécies. Territorialmente pequeno, Portugal tem grande diversidade geológica o que determina uma igualmente grande variedade geomorfológica e elevada diversidade de geossítios e geomonumentos, sendo insignificante o número dos oficialmente reconhecidos e classificados. Há pois que dar relevo condizente com as respetivas importâncias a ocorrências como, entre outras, o Complexo Metamórfico da foz do Douro, o Polje de Mira-Minde (Alcanena), as Buracas do Casmilo (Condeixa-a-Nova), o Vale do Lapedo (Leiria), os Monumentos Naturais

do Cabo Mondego, das Portas de Ródão e das Pegadas de Dinossáurio da Serra d’Aire, o Campo de Lapiás da Granja dos Serrões (Sintra), a Rota da Conheiras de Vila de Rei ou a Discordância Angular da Praia do Telheiro (Vila do Bispo). Criado sob a égide da Comissão Nacional da UNESCO, em 2011, o Fórum Português de Geoparques Mundiais tem apoiado a entrada de Geoparques Nacionais que pretendam integrar a Rede Mundial de Geoparques. São membros deste Fórum, sob a coordenação da Comissão Nacional da UNESCO, o Geoparque Naturtejo da Meseta Meridional, o Geoparque Arouca, o Geoparque Açores e o Geoparque Terras de Cavaleiros. Como membro observador, há, ainda, o projeto de Geoparque Estrela. Tendo por objetivos promover o desenvolvimento de novos Geoparques em Portugal, fornecendo-lhe apoio técnico e científico, coordenando iniciativas conjuntas e promovendo projetos tendo em vista a valorização do nosso património geológico, o Fórum Português de Geoparques Mundiais da UNESCO é uma importante mais valia na incrementação do turismo de natureza. Uma outra mais valia à componente geológica nesta vertente do turismo nacional, de relevância científica e pedagógica, são os Centros Ciência Viva do Alviela, de Estremoz e do Lousal.


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No dia da poesia sobe ao palco o espetáculo “Zeca Afonso – Coro da Primavera”, no Teatro da Trindade, às 21 horas. Um concerto dirigido por Carlos Alberto Moniz, produzido por Miguel Ferraz, com cenografia de António Casimiro, para manter a chama das palavras de um homem irrequieto, que morreu há 30 anos.

José Afonso Homenagem no Trindade a 21 de março

É

na estação do ano do renascimento, em que que as folhas das árvores ficam viçosas e as flores se abrem para o sol, que se vai celebrar a vida do cantor, músico, compositor e poeta que escreveu o Coro da Primavera. “Da matinal canção/ Ouvem-se já os rumores/ Ouvem-se já os clamores/ Ouvem-se já os tambores/ Livra-te do medo/ Que bem cedo/ Há de o sol queimar.” Estas e outras palavras ecoam ainda nos dias de hoje. É na sala Eça de Queiroz que se vai ouvir a vasta e diversificada obra de Zeca Afonso, as composições, populares e eruditas, e a poesia cantada e declamada. À Capela de Coimbra (fados de Coimbra), Francisco Fanhais, Ana Lains e Paulo Loureiro (piano), Rumos Ensemble (piano, violino e clarinete), Vitorino, Lúcia Moniz, Diogo Leite, Silvestre Fonseca, Samuel, Filipa Pais, Carlos Alberto Moniz, Tuna Académica Feminina do Instituto Superior Técnico e a Banda Filarmónica Matos Galamba (Alcácer do Sal) dirigida pelo maestro João Neves fazem parte do elenco confirmado até ao fecho desta edição. Cândido Mota apresenta o espetáculo, uma parceria da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) e Fundação Inatel. “Fui incumbido pelo presidente da SPA, José Jorge Letria, há quase um ano para fazer uma grande homenagem a José Afonso. Houve um encontro de vontades com a diretora artística do Teatro da Trindade, Inês de Medeiros, que também queria fazer uma festa para assinalar a poesia. O dia da primavera assinala a perenidade da obra de Zeca Afonso”, esclarece Carlos Alberto Moniz ao TL. A entrevista com o maestro, que o acompanhou vários anos na guitarra e lhe fazia segundas vozes, decorreu no edifício da SPA, junto da mostra “O que ficou por dizer – A censura na cultura e nas artes – 1936-1974”. Pegamos no título desta exposição (patente até maio) e perguntamos: O que ficou por dizer sobre o génio do autor de Grândola, Vila Morena? “Será sempre difícil dizer ‘está tudo dito!’, porque vamos sempre descobrindo José Afonso na sua globalidade. Comprei, na Associação José Afonso, um livro com os textos do Zeca, não só as canções mas também o que ele escrevia para ser lido, é uma parte da sua obra pouco conhecida. Vamos aproveitar alguns desses poemas, de belíssima qualidade, para incluir no espetáculo”, conta.

Património cultural Evocar esta memória é realçar parte do património cultural português antes e depois da madrugada de Abril. José Afonso

Foto: Inácio Ludgero-SPA em 04-03-1980

deixa um legado que as novas gerações especial destaque na outra margem do rio parecem não querer deixar morrer. Pelo Tejo: Baixa da Banheira, Laranjeiro e Seixal. menos, a avaliar pela reação dos estu- A maior parte dos espetáculos “era de bordantes que Carlos Alberto Moniz tem en- la”. Outros havia em que dizia “Ó Moniz, contrado pelas escolas por este país fora. vai lá tu receber”. Um dia, já depois do 25 “Encontro sempre rapaziada que quer de Abril, deram um concerto numa esplatocar uma canção dele ou, então, toda a nada, no Algarve. Zeca comentava: “Se caassistência começa a cantar. A música de lhar, o homem não fez dinheiro para nos paZeca Afonso é bastante cogar…” Moniz respondeu: nhecida e espero que haja “A esplanada está cheia!” “Será sempre sempre juventude a agarE lá foi receber o cachê. rar a obra dele.” difícil dizer ‘está “Fui buscar o dinheiro em “Inventou melodias tão de vinte e cinquenta tudo dito!’, porque notas originais que, basta ouvir [escudos]. E ele disse: ‘Agoum bocadinho, já sabemos ra divide lá metade para vamos sempre que são do Zeca, mesmo um.’ Respondi-lhe: descobrindo José cada sendo muito diferentes ‘Ó homem, não é assim. umas das outras. Todas O cantor és tu, eu só vim Afonso na sua têm uma chama especial”, acompanhar.’ Depois de globalidade” sublinha Carlos Alberto grande discussão lá aceiMoniz, que confessa ter tou receber duas partes. aprendido muito com este mestre, de- Ele tinha esse desprendimento material.” signadamente a verticalidade na defesa Recorda-se ainda de outra história, das convicções. O maestro considera que também com humor, que nos ajuda a cohoje, se ele ainda estivesse entre nós, qua- nhecer melhor o homem que faz parte do se 43 anos depois da democracia, não esta- imaginário coletivo português: “Estávaria sentado numa cadeira quieto. Tentaria mos na Baixa da Banheira, e ele cantava descobrir “outras formas de ação”. Tinha “eu fui à terra dos bravos”. Esqueceu-se um espírito irrequieto e disponível para da segunda quadra e disse: ‘Agora canta o estar entre as pessoas, levando, à sua ma- Moniz, porque ele é que é dos Açores.’ Deneira, palavras de intervenção. sataram-se todos a rir porque perceberam que se esqueceu da letra.”

Episódios curiosos com dinheiro

Zeca Afonso e Carlos Alberto Moniz andaram por todo o mundo a cantar e a tocar juntos. Por cá, atuaram de Norte a Sul, com

Atualidade da mensagem Com e sem brancas, num ou noutro espetáculo, tal como acontece a qualquer artis-

ta, a mensagem de Zeca Afonso permanece para lá do tempo. Ontem, tal como hoje:“Tudo o que seja consciência e vontade de alertar o poder para o que, eventualmente, está mal ou se pode melhorar, é sempre atual. Como uma balança, se tirarmos o peso de um lado, o outro sobe. Se nos descuidamos, o outro prato da balança ganha força. Os que não querem o bem-estar de quem tem menos, voltam a ter o poder que tinham quando Zeca e outros começaram a contestar. Ele sempre defendeu os trabalhadores.” “Antes sabíamos quem eram os vampiros, eles andavam perto. Agora podem entrar pela Europa, pela net… A forma de luta hoje será diferente da do Zeca, mas há que estar atento. Antes, os vampiros falavam português, agora falam as línguas todas da Europa e do mundo”, acrescenta. Há palavras escritas e cantadas ainda a ressoar em dias de céu cinzento: “Eles comem tudo/E não deixam nada.” Ou, ainda, noutros contextos, “a gente ajuda, havemos de ser mais/ Eu bem sei/ Mas há quem queira, deitar abaixo/ O que eu levantei”. Haverá sempre o “Tiriririri buririririri, Tiriririri paraburibaie”, do Venham mais cinco, para cantar em todas as estações do ano... E no dia 21 de março, na primavera, valerá a pena repetir mais alguns dos seus versos: “Semear o amor/ Ergue-te ó sol de verão/ Somos nós os teus cantores/ Da matinal canção.”

Sílvia Júlio


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Entrevista

Nuno Lopes “O São Jorge é um filme muito abrangente” O ator é protagonista do filme São Jorge, de Marco Martins, com estreia prevista nas salas de cinema a 9 de março. Jorge é um pugilista desempregado que luta contra o desespero, para manter o filho junto dele, e que a mulher não regresse ao Brasil, aceitando um trabalho numa empresa de cobranças. Para a construção da personagem, Nuno Lopes fez pesquisas em bairros sociais, treinou boxe e ganhou peso (20 quilos). Teve um treino intenso para aprender técnicas de combate, durante cerca de seis meses.

F

oi muita expiração, [em vez de inspiração, como defendia Jean Cocteau], no seu caso, também associada a transpiração... Que memórias guarda desse período? Guardo várias memórias. Ainda no outro dia fiz uma produção de moda com o Marco Martins em que me vestiram de boxeur, e foi incrível, porque mal comecei a pôr as ligaduras, de repente o meu corpo transformou-se no corpo do Jorge. Tenho uma memória física muito forte, devido ao facto de ter treinado cinco horas por dia, durante quase seis meses. Há uma memória muito física do filme. Depois há uma memória destes cinco anos de trabalho, desde a ideia, à pesquisa, de todas pessoas com quem falámos. Acabámos por conhecer um outro Portugal e outras famílias, não só a família do boxe, que é muito particular e surpreendente. Ao contrário do que se pensa, é uma família muito mais unida e menos violenta e mais amigável do que é de esperar. E também as famílias que vivem nos subúrbios de Lisboa, que visitámos praticamente todos. Tenho a memória desse tempo que passámos na pesquisa, e a quantidade de pessoas que conhecemos, que muitas delas fazem de personagens no filme, mas algumas não estão no filme e são quase tão importantes como as que estão. Essa memória física tão forte foi algo que o surpreendeu? Sim. Quando me despeço das personagens do cinema, ao contrário do

teatro, em que as personagens morrem, é como se continuassem a viver e eu é que sigo outro caminho. Por isso foi engraçado quando pus as ligaduras, de repente percebi que o Jorge tinha voltado. Isso foi muito surpreendente. Que significado tem na sua carreira trabalhar novamente com o realizador Marco Martins? Começámos a trabalhar no [filme] Alice, onde fui escolhido através de casting, foi quando conheci o Marco Martins, e percebemos que temos o mesmo tipo de gostos, que queremos falar mais ou menos das mesmas coisas. Têm cumplicidade artística... Sim, cumplicidade artística e cumplicidade pessoal também. Na verdade, desde Alice não parei de trabalhar com o Marco. É uma continuidade de trabalho. A única coisa diferente é que é o regresso ao cinema. E isso foi uma alegria. Filmar com o Marco é uma experiência dura, mas libertadora. Ao contrário daquilo que se diz dos realizadores, que sabem exatamente o que querem, o Marco Martins tem a grande vantagem de não saber exatamente o que quer. Dá grande liberdade... Dá-nos muita liberdade. E, sobretudo, discute muito os projetos connosco. O São Jorge foi construído desde o início comigo, portanto sinto que não participo no projeto só como ator. É um projeto meu também. Foi muito importante esta colaboração. O Marco tem esta vantagem,

quando digo que ele não sabe exatamente o que quer, é um realizador muito instintivo, há qualquer coisa de vital na maneira como o Marco filma. Em todas as etapas do processo de fazer um filme há liberdade criativa, não há predefinição do que se quer ver. É muito agradável trabalhar com o Marco nesse sentido, é duro, é difícil, porque nunca estás seguro... Havia um ator que dizia: “As pessoas não sabem, mas quando estão a filmar com o Marco Martins, na verdade ainda estão a fazer o casting.” O filme fala de pessoas que habitam em bairros sociais da margem sul de Lisboa, que enfrentam os pesadelos do desemprego e precariedade devido às políticas de austeridade. Pessoas com aspirações por uma vida que as trate melhor. Em que país é que vivemos? Agora acho que vivemos num país onde já existe uma luz ao fundo do túnel, em comparação ao momento que é retratado no São Jorge. Lembro-me perfeitamente de estar de carro com o Marco Martins, para procurar locais de filmagem, do outro lado do rio, onde as pessoas vivem mal, muitas delas quase passam fome, e de estar a ouvir na rádio que “andávamos a viver acima das nossas possibilidades”... Havia qualquer coisa que não fazia sentido nestas duas realidades. Essa foi a grande motivação para construir o filme. Começou por ser um filme de boxe, mas a crise entrou pelo filme adentro. Quando dei a ideia ao Marco de fazer um filme

sobre boxe, em parte tinha esta ideia de uma pessoa que luta literalmente pela vida. Ao contrário de outros países, em que és campeão e ficas multimilionário, em Portugal um campeão ganhará uma miséria. Esse país entrou pelo filme. E era do que queríamos falar. As políticas estão a mudar ligeiramente. Ainda não estamos num sítio feliz, mas há luz ao fundo do túnel, pelo menos. Ainda há esperança num futuro melhor? Há alguma. Quando de repente temos um governo que começa a mudar as políticas sociais por uma coisa mais justa, e que tenta terminar com a austeridade, no momento em que Trump está a fazer a sua tomada de posse, a Le Pen pode ganhar em França... Portugal tem a sorte de estar num momento ao contrário do resto do mundo. Aqui há uma luz ao fundo do túnel, na maior parte dos países acabaram de entrar no túnel. São Jorge teve estreia mundial no Festival de Cinema de Veneza, onde foi distinguido com o prémio especial de melhor ator, na Secção Orizzonti. Quando recebeu o galardão dedicou-o às pessoas dos bairros da Bela Vista e Jamaica... Considerou-os os “verdadeiros heróis”. O que de mais importante aprendeu com eles? É-me difícil falar deles, na verdade. É uma memória emocional. Quando disse que eram os meus heróis, são verdadeiramente, porque a sua vontade de seguir em frente, a vontade de ajudar o próximo... Dando


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Beatriz Maduro

um exemplo, eu ia para o bairro muitas vezes vestido de personagem. Havia um dos moradores do bairro que nunca percebeu que eu era ator, deixei que isso continuasse assim porque queria ter uma reação normal. Ele trabalha como sucateiro, apanha coisas do lixo para vender, e de repente, propunha arranjar-me trabalho a seguir ao filme. Lembro-me que uma vez olhou para os meus ténis e disse-me: “Se calhar consigo arranjar-te uns ténis melhores.” Esta generosidade vinda de pessoas que não têm nada, literalmente nada, é tocante. É muito tocante, sobretudo a persistência e a coragem que as pessoas têm, de não tendo nada, continuar a acreditar, continuar a lutar e continuar esperançosas, sobretudo na Bela Vista... Vivendo num sítio assim, e nas condições em que vivem, é muito gratificante perceber que essas pessoas conseguem ter esperança e que conseguem ser generosas. E isso é uma lição. No seu discurso, em Veneza, chamou a atenção desta Europa “cobradora de dívidas”, como referiu, para que olhe menos para os números e mais para as pessoas. A mensagem política do filme despertou-o para alguma tomada de posição que não tinha pensado antes? Não, isso já existia em mim. Sou um cidadão e gosto de perceber politicamente o que se está a passar no nosso país. Muitas vezes não expresso a minha opinião porque acho que não é o meu lugar. O lugar da cultura não tem a ver

“Há uma data de exemplos de realizadores e atores extraordinários que tivemos no cinema. Infelizmente não foram muito vistos em Portugal. Temos este problema de separação entre o cinema português e o público”

com poder, tem a ver com antipoder. Muitas vezes gosto de estar afastado, mas estou atento sempre. Aliás, a prova disso é que criámos o São Jorge. Em relação ao discurso em Veneza, achei que era fundamental ter um discurso político. Senti que tinha de dizer ‘atenção, não está tudo bem como parece’. Há uma diferença enorme entre a arte e entretenimento. E o festival de cinema de Veneza supostamente é sobre arte, e a arte tem de estar atenta ao mundo. Todos os festivais, Veneza, Cannes, deviam ter um papel importante na crítica em relação ao que se está a passar no mundo e na Europa, em particular. Fiquei muito contente que o [filme] I, Daniel Blake, de Ken Loach, tenha ganho em Cannes, porque é uma tomada de posição: ‘Atenção, nós estamos atentos ao que se passa na Europa. Estamos atentos ao que estamos a viver. E estamos contra.’ Depois seguiram-se mais apresentações em festivais, entre outros, Chicago, São Paulo, Estocolmo, Macau... Os prémios internacionais são fundamentais antes da estreia em Portugal? Infelizmente, não devia ser necessário. Temos milhares de filmes antes do São Jorge e milhares de interpretações e que são tão meritórias de um prémio, ou mais ainda, do que a minha. Se calhar foram filmes pouco vistos porque não ganharam prémios lá fora. É uma pena. O cinema português está agora na moda, com Miguel Gomes, João Pedro Rodrigues... Finalmente a Europa começa a olhar para o cinema português duma maneira diferente, mas os realizadores que estão a aparecer agora não são génios em relação aos que já existiram. Já tivemos tão bons ou melhores no passado, Manoel de Oliveira, João César Monteiro, José Álvaro Morais... Há uma data de exemplos de realizadores e atores extraordinários que tivemos no cinema. Infelizmente não foram muito vistos em Portugal. Temos este problema de separação entre o cinema português e o público. Espero que o São Jorge ajude, nem que seja minimamente, a resolver porque é um filme que fala sobre uma realidade que é conhecida de toda a gente. Qualquer pessoa que tenha vivido em Portugal nos últimos quatro anos, ou que tenha sido obrigada a emigrar, por causa da política de austeridade, vai rever-se de certa forma. O São Jorge é um filme muito abrangente. Espero que ajude a colmatar essa distância que existe entre o público e o cinema português. Acha que em Portugal não se ama muito o teatro e o cinema, ou são outros amores que ocupam os corações dos portugueses e depois sobeja pouco para estas artes? Acho que começa logo por uma questão política. A cultura em Portugal não tem sequer 1% do Orçamento de Estado (OE). Acho que começa tudo aí. É como a Educação, desde que passámos a ter escolaridade obrigatória até ao 9.º ano, passámos a ter muito menos analfabetismo. Tem de haver vontade política. Infelizmente essa vontade ainda não existe em números suficientes. É ridículo que no nosso país a cultura tenha 0,4% do OE, quando temos exemplos de que a cultura portuguesa não só vinga cá dentro, como vinga lá fora. O número é ridículo... E ainda assim existem pessoas que vêm com o discurso dos subsídiodependentes, como se cuidar da cultura e oferecer cultura ao público, não fosse uma obrigação e um dever do Estado. Na primeira edição do festival de Macau recebeu o prémio de melhor ator,

[também Marco Martins venceu o prémio de melhor realizador]. O filme será distribuído comercialmente na República Popular da China. Que importância atribui ao facto dos espectadores asiáticos poderem ver este filme? É muito engraçado o filme ser distribuído num país que nunca visitei. Um dos júris do festival de Veneza, depois da atribuição do prémio, veio dizer-me que havia membros do júri da Ásia que não faziam a mínima ideia do que se estava a passar na Europa. Nós sempre quisemos fazer o filme para levar a voz dessas pessoas, que passaram o que passaram durante a austeridade, lá fora. Se mais pessoas os ouvirem, tanto melhor para nós, pode ser que alguma coisa mude, por lá e por cá. Iniciou a carreira há 20 anos, no espetáculo Os Sete Infantes (Lenda dos sete infantes de Lara), no Teatro da Cornucópia. Foi naquele palco que levantou as asas da juventude... Trabalhar com o ator e encenador Luis Miguel Cintra foi determinante na sua formação. Porquê? O Luis Miguel Cintra ensina-me não só a representar, como a perceber como se tira a personagem do texto, como aprender a respeitar esse texto, como também me ensinou uma ética profissional. Quer seja através dos ensinamentos que me foi passando, quer seja do exemplo que ele próprio é para mim, passou-me uma ética profissional da qual me lembro todos os dias e que tento seguir à letra. É uma pedra basilar na minha formação não só como ator mas também como homem. E sente-se grato por isso... Muito, muito grato. Se sou alguma coisa de jeito, hoje, é graças a ele. Ainda no outro dia, em que a Cornucópia fechou, escrevia sobre isso: ‘Tenho muitos defeitos, mas as poucas qualidades que tenho, foi lá que as aprendi.’ Que importância tem para as várias gerações de espectadores conhecer peças de Gil Vicente, Shakespeare, Racine, Molière? Acho que não se deve construir o futuro sem conhecer o passado. Revisitar os clássicos parece-me uma coisa fundamental. O conhecimento das grandes obras literárias faz-nos olhar de uma maneira diferente para o futuro. E faz-nos construir coisas novas de outra maneira, mais certa, mais assertiva em relação ao que se passou e ao que queremos que se vá passar. Agora estou a fazer A Noite da Iguana, de Tennessee Williams, e no outro dia uma pessoa dizia-me: “Não conhecia este texto e o tema interessa-me tanto.” É uma pena que textos como este, não sejam vistos e postos em cena mais vezes. Nuno Lopes, o “Chato” da série televisiva Os Contemporâneos, que aos convidados, Camané, Zé Pedro [Xutos], entre outros, dizia “vai mas é trabalhar”, mas ele não fazia nada... Não tem parado. O ano passado fez um filme no Brasil, depois participou num filme francês, em Marselha, recentemente subiu ao palco de um teatro de Lisboa. Não há ninguém que lhe diga: Vai mas é descansar? Sou o primeiro a não dizer isso. [risos] Odeio estar de férias. Preciso de férias constantemente, todos os dias penso: ‘Eu devia ter férias, eu devia tirar férias.’ Porque tenho trabalho acumulado e estou sempre numa correria de um lado para o outro. Todos os dias penso nisso, mas, na verdade, assim que tiro férias ao fim de dois dias digo: ‘E agora o que é que eu faço?’ [risos]. Eu gosto mesmo é de trabalhar. Teresa Joel


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Aldeias históricas

Pedras que contam A Fundação Inatel apoiou, em 1999, um “processo de desenvolvimento regional integrado”, lançando a Carta do Lazer das Aldeias Históricas. Nos finais do século XX, algumas localidades receberam o título de Aldeias Históricas. A curiosidade de saber o que mudou a partir de então leva-nos a percorrer essas terras. Primeira paragem: Monsanto, que recebeu, em 1938, o galardão de “aldeia mais portuguesa de Portugal”. O galo de prata na Torre do Relógio evoca essa memória.

O

fumo das lareiras serpenteia o céu de Monsanto, no concelho de Idanha-a-Nova. O frio que se faz sentir não demove quem circula vindo do baluarte para o núcleo histórico. O caminho para o castelo aquece o ânimo dos que gostam de percursos ascendentes. Os que não gostam de seguir os trilhos sempre a direito, cruzam outras ruas estreitas e sinuosas, com o casario granítico, e procuram a ampla paisagem campina. Miradouros não faltam para encher os olhos. Ninguém se perde se entrar por aqui e sair por ali. Há placas de identificação dos locais a visitar espalhadas por todo o lado – quase que se estranha, se lembrarmos a fraca sinalética existente por outras paragens. Nada parece ser pensado ao acaso. Até os sanitários existentes, em diferentes pontos daquele lugar com história, denotam a preocupação com os visitantes. Pormenores que não são de somenos importância. O turismo é a aposta desta terra de penedos de mil formas. O escritor Fernando Namora, que exerceu ali medicina, chamava-a de “nave de pedra”. Uma metáfora que aludia à dureza do lugar, e às débeis condições de vida dos aldeões, em oposição à felicidade propagada pelo Estado Novo da ruralidade da “aldeia mais portuguesa”, como se lê na placa identificativa do antigo consultório do médico.

Cada pedra fará parte da história de vida dos monsantinos. E até de quem ali vai, nem que seja por parcas horas. “Quem aqui vem leva para casa uma lembrança visual. Há paisagens impressionantes e construções graníticas que fazem de Monsanto um sítio único”, afirma Paulo Monteiro, 38 anos, presidente da junta da União de Freguesias de Monsanto e Idanha-a-Velha, que aqui nasceu, aqui foi criado e aqui vive “com orgulho”. Alguns visitantes terão a perceção de que Monsanto é pouco mais que a zona histórica – Paulo Monteiro faz questão de pôr os pontos nos is: “Há uma ideia errada do que é Monsanto. Trata-se de um conjunto de 21 lugares, que vemos à volta, como Relva, Eugénia, Devesa, etc. Tudo agregado é que é Monsanto. A freguesia estende-se por uns 10/12 quilómetros.”

De ficar com os olhos em bico Em Monsanto estão recenseadas cerca de 900 pessoas; o núcleo histórico tem entre cinquenta e sessenta habitantes. No entanto, o responsável pela junta gosta de incluir os que vivem grandes temporadas ali, mas que fizeram vida nos grandes centros urbanos. “Residentes serão uns 1000/1100. Consideramo-los monsantinos”, realça. De março a setembro, quando há mais turistas, chegam, em média, 500 pessoas por dia à aldeia. A maior parte dos visi-

tantes vem da vizinha Espanha (houve um hermano que disse, em jeito de brincadeira, à equipa do jornal TL, que vinha de Madrid e era amigo de Cristiano Ronaldo, outro símbolo bem português, este do desporto). Outros vêm do centro da Europa e até da Ásia. Nos últimos tempos, os japoneses têm afluído a este recanto rural, depois de Monsanto ter sido eleito, por um conjunto de agências de turismo nipónicas, como um dos 25 lugares mais bonitos da Europa. É de ficar com os olhos em bico com os penedos, as vistas e as gentes. A grande maioria dos turistas está apenas de passagem. Mas outros escolhem ficar mais dias. “Nos últimos anos, para dar apoio ao turismo, foi incentivado o comércio, hotelaria e restauração. Pelo ano 2000 havia apenas uma unidade hoteleira em Monsanto, hoje existem 60 ou 70 camas que podem ser postas à disponibilidade dos turistas, há também mais restaurantes... Por haver maior incremento do turismo, houve necessidade de satisfazer as necessidades dos turistas e de as pessoas criarem o seu próprio trabalho, e gerar riqueza a partir daí.”

Histórias fecundas Alice Gabriel, 85 anos, é proprietária da casa mais antiga aberta ao público, em 1954. No seu alojamento local e na loja de artesanato regional fala com muitos foras-


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Fotos: Beatriz Maduro

tografias e um galo que me foi oferecido, de Monsanto.” A representação histórica daquilo que se diz que aconteceu é reproigual ao de prata.” Alice conta outras histórias das coisas da duzida no domingo a seguir a 3 de maio, terra. A protagonista que se segue é a ma- um ponto alto da Festa de Santa Cruz. O rafona, a famigerada boneca de trapos, sem que se atira hoje da muralha é um pote de olhos nem boca, feita a partir de uma cruz barro com flores (as flores representam o de madeira. Diz-se que as marafonas “dão trigo, o pote o bezerro). sorte” – simbolizam a fertilidade. “Há uns oito, dez Acolhimento de braços Cada pedra fará anos, uma senhora brasiabertos leira, que estava casada há O que também tem traparte da história muito tempo, nunca tinha zido muita gente de fora de vida dos tido filhos. Leu a história é a curiosidade de uma da marafona e comproucasa entalada entre dois monsantinos. -me uma. Um dia, estava AproximamoE até de quem ali vai, penedos. eu aqui empinada ao bal-nos de lá, depois de descão, como estou agora, e cermos do castelo. Um nem que seja por chega uma senhora com gato mia com frio. Bateparcas horas um carrinho de bebé. Enmos à porta para o felitrou e abraçou-me para no ir para o quentinho. agradecer. Disse que ao fim de quinze dias, Vem uma senhora à janela. O gato trepa depois de lá ter a marafona, engravidou.” pela árvore despida. Metemos converJá a avó de Alice fazia essas bonecas. A pas- sa com ela. É Isaura Amaral, de 66 anos, sagem de testemunho da arte foi passada que já nasceu naquela original casa. Deià filha e à neta. Tradições que se mantêm xa-nos, generosamente, entrar pelos seus para lá do tempo. aposentos. A casa já pertencia aos bisavós maternos. Fala com orgulho: “Esta casa já foi filmada umas tantas vezes – não há cá “Arquitetura interessante” A russa Erzhena Dondokova, 29 anos, pas- nenhuma como esta. Agora vêm cá filmar seia pelas ruas de Monsanto. Ainda não uns russos, não sei quando é que vêm”, comprou nenhuma marafona mas confessa começa por contar. “De fora ninguém diz a casa que é. A estar “impressionada” por tudo o que tem visto. “As pedras e a arquitetura são muito casa é grande. Se eu quisesse vendê-la já interessantes. É muito diferente da Rússia.” a tinha vendido, mas não a vendo porEstá ali de passagem depois de ter ido à Ser- que não é só minha [eram quatro irmãos, a mais velha já faleceu], e também para ra da Estrela. A seguir vai a Coimbra. Luís Abreu, 54, é brasileiro. Vem de onde é que eu ia? Tenho muito amor à Pernambuco. Pesquisou na internet as 12 casa!” Perguntamos-lhe se não é fria. Isaualdeias históricas de Portugal. Já conhece ra tem uma lareira antiga para a aquecer. sete. Hoje foi a vez de visitar Monsanto. E retorque com uma sonora gargalhada: Vai, vigoroso, a caminho do castelo com “Estou muito bem, estou quentinha.” De“muita curiosidade”, depois de ter comido pois de saciar a nossa curiosidade, despede-se, dizendo que não costuma abrir as bacalhau num restaurante local. Reza a lenda que as pedras do castelo portas da casa a qualquer pessoa. Agratambém assistiram a histórias “curiosas”. decemos a confiança e despede-se de nós Conta o presidente de junta: “Os mouros com um sorriso aberto: “Saudinha!” São vieram invadir Monsanto. Os monsanti- as gentes que fazem os lugares, já se sabe. nos, que viviam fora das muralhas, quan- São, sobretudo, as memórias das pessoas do se sentiram invadidos, foram para que uns e outros levam quando ali vão. dentro do castelo e levaram os seus bens. Durante sete anos estiveram cercados. Os recebe bem quem por bem vem mouros nunca tomaram o castelo. Quan- Descemos à Torre de Lucano. Um pouco do havia poucos mantimentos, os mon- mais abaixo estão as instalações da Rádio santinos, que já só tinham meio alqueire Clube de Monsanto. A passar por ali está teiros. Lá se vai queixando que não têm nária conta, à sua maneira, a história do (medida agrária) de trigo, e sem saberem o Joaquim Fonseca, 71 anos. Trocamos dois comprado muito: “Não há dinheiro para galo, que toca com a sua história de vida: que fazer, deram esse trigo a uma bezerra. dedos de conversa com ele. Casou há 40 compras, a crise é igual por todo o lado”, “Em 1938 as aldeias foram a concurso, a Subiram à muralha e mandaram-na por anos com uma monsantina, e ficou. É da constata do seu posto de observação. “De nossa ganhou. Teve como prémio um galo ali abaixo. Quando chegou ao chão, reben- Beira Alta e, desde que assentou em Monvez em quando compram um postalinho, de prata do tamanho de um galo normal e tou e ficou com a comida toda à vista. Os santo, diz que não tem notado grande evouma miniatura para pôr no frigórico que o título de ‘aldeia mais portuguesa de Por- mouros pensaram: ‘Estamos aqui há sete lução naquele lugar. Lamenta que o turisdiga Monsanto…” À venda tem, entre ou- tugal’. Uma réplica do galo está na Torre. anos e ainda não conseguimos invadir o mo seja breve: “Há necessidade de investir tras coisas, queijos de ovelha e de cabra da Eu tinha sete anos e, na altura, fui vestida castelo. Se eles ao fim deste tempo ain- num turismo de quatro, cinco dias.” E conregião, mel, compotas, pão caseiro, bicas à Mocidade Portuguesa. Era uma quanti- da estão a mandar vacas pelas muralhas sidera que deveria haver homogeneidade, de azeite, cestos de verga, adufes (típico dade de miúdos da Mocidade Portuguesa abaixo, nunca mais vamos sair daqui.’ Le- por exemplo, nas caixas dos contadores da instrumento musical de percussão da Bei- e, como eu era a mais pequena, ia à frente vantaram cerco e foram embora. Foi com água e eletricidade, e nas cores das portas ra Baixa) e galos de Monsanto. A octoge- com a bandeira de Portugal. Tenho ali fo- este bluff histórico que apareceu a lenda das casas, para que tudo se enquadre na rusticidade de Monsanto: “Se é a aldeia mais portuguesa de Portugal, se é uma aldeia histórica, há aqui uma dupla responsabilidade. Estas duplas classificações obrigam a uma certa consciencialização para a preservação do património edificado.” “Por vezes, as pessoas fazem obras de alteração e deveria haver um acompanhamento técnico, a nível da gestão autárquica, para haver mais harmonia”, justifica. Conta que é por gostar tanto de Monsanto que vai dizendo o que pensa, para que se preservem as características do conjunto arquitetónico da aldeia. Há palavras que podem ter o condão de mudar as coisas. E outras há, também, que podem fazer os visitantes sentirem-se em casa, como lembra Joaquim Fonseca: “As poucas pessoas que vivem no núcleo histórico são afáveis, gostam de receber bem quem por bem nos visita.” É uma aldeia portuguesa, com cerPaulo Monteiro, presidente da junta, Alice Gabriel, dona da loja mais antiga, e Joaquim Fonseca, professor aposentado, monsantino de coração teza. Sílvia Júlio

histórias


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Entrevista

Waldemar Bastos. Cidadão do mundo nascido em Angola em 1954. Cantautor atlântico há 35 anos. Assegurou a primeira parte do concerto surpresa do maliano Salif Keita no Grande Auditório do ISCTE e encerrou com chave de ouro o Ciclo Mundos de 2016, no Teatro da Trindade Inatel com o mais recente espectáculo acústico “Cores do Sentimento”. Em 2017 deverá lançar novo disco de originais no qual promete cantar repertório de Mercedes Sosa. Por Luís Rei

Waldemar Bastos Ouro moldado em alta temperatura


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m 2002 fez questão de comemorar os seus 20 anos de carreira de músico. Em 2017 completa 35 anos de actividade. Está a planear algo especial para assinalar esta efeméride? Irá lançar disco novo este ano? Estou a trabalhar actualmente num disco acústico no contexto daquilo que é a minha alma atlântica. A viagem da língua portuguesa pelos diferentes países: Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, passando pela América Latina e pelo Mundo. É um trabalho de cantautor. Vou interpretar composições minhas e de outros autores da América Latina, Brasil e Portugal. E que autores são esses? Não queria adiantar muito. Ainda estamos em contacto. Mas do Brasil serão autores da nova geração. Da América Latina, uma ou duas daquelas canções referenciais que a Mercedes Sosa interpretava. É coisa que me toca esse tipo de canções de alma. Estamos a fazer a escolha dos temas e acredito que dentro de três meses começamos a gravar. Vai ser uma gravação em directo. Quando fala em acústico refere-se ao formato reduzido de trio com que se tem apresentado nos últimos espectáculos com mais uma guitarra acústica do Rui Meira e com as percussões do Mick Trovoada? A base é essa. Claro que depois poderei acrescentar um ou outro instrumento mas a estrutura é essa. A sua música nunca foi 100% angolana. Sempre fez questão de frisar que a sua música não é regional, é cosmopolita. Reflecte a sua vivência no Brasil, Holanda, França, Portugal e Estados Unidos. É por isso que a sua música parte de Angola e abraça esse berço atlântico? É verdade. Isso a posteriori dessas viagens que a vida me tem proporcionado. Antes disso, tenho formação de músico de baile. Tocava em grupos de baile. Também, a rádio no tempo colonial, passava todo o tipo de música. Ouvia Amália Rodrigues e Zeca Afonso quando era criança. O lado cosmopolita da minha música tem a ver com o “antes” e o “depois”. Ao tocar em grupos de baile, abrangia todo o leque de música internacional, seja ela tango, valsa, marcha, marchinhas e por aí fora até ao pop, rock, jazz, Pink Floyd, Bee Jees, Beatles... Tocávamos tudo isso nos tempos de escola. Por falar em rock e sendo o Waldemar oriundo de uma zona de Angola muito próxima do antigo Zaire, conhecido pelos exímios guitarristas como Franco: na altura em que gravou com orquestra o “Secrets Of My Soul” e versões de temas dos U2 [“Love Is Blindness” para a compilação “In The Name of Love -Africa Celebrates U2”], falou-se na possibilidade de o Waldemar fazer um disco eléctrico. Não pensa também ir buscar este legado de guitarra zairense? Vai entrar nesse disco. Este trabalho é electro-acústico. A alma é mais acústica. As músicas mais mexidas vão ter naturalmente essa dimensão. É um voltar ao orgânico, ao centro de gravidade. Quando fala em música da alma parece que faz aqui uma distinção entre música para fazer pensar, para exultar o sentimento e uma música mais dançável, mais para entretenimento. É isso? Com certeza. Mas gostaria ainda de dizer o seguinte: a música da alma contempla também a dimensão espiritual. Sou cristão, acredito e tenho a certeza que somos espírito e matéria. A música foi um dom que me foi dado e tento sempre dar-lhe a

dimensão humana da nossa existência: as nossas ansiedades, as nossas preocupações sociais. A questão dançável ou não, até poderei dizer que a música mais ritmada em África também pode ser espiritual. Primeiro as pessoas sentem, depois é que dançam e quando estão a dançar, estão a reflectir. É essencial para si pôr em prática os valores cristãos na sua vida, na sua obra artística? É natural. Fui educado assim e ao longo dos anos tudo indica que estou bem. Não vejo a vida de outra forma. Sou uma pessoa que erra como as outras, mas tenho estes princípios. Sempre acreditando na beleza da pátria celestial. Não é comum vermos um músico por sempre em prática os ensinamentos divinos da humildade e do agradecimento como o Waldemar… Posso dizer que aprendi muito com o meu pai. Foi enfermeiro e era humilde. Estudou desde o curso elementar até ser supreintendente de enfermagem e sempre foi a mesma pessoa. Dizia que era superintendente de enfermagem até às 18h, depois era Carlos de Almeida Bastos. É esse lado que aprecio e que passo para os meus filhos e fico muito feliz porque todos eles exercem… nós somos todos seres humanos, não temos que ter complexos de superioridade em relação aos outros. Por conseguinte, devemos saber agradecer e estar em confraternidade com as outras pessoas. Isso nem sequer é pensado, para mim é natural. Acredito que muita gente tenha sido educada assim, mas com as apetências da sociedade de consumo puseram de parte esses valores. Mas eu não. Não abdico porque acho que é o lado belo da vida. As suas composições têm sempre várias nuances. Na altura em que gravava o “Pretaluz”, o produtor Arto Lindsay pensava que uma canção eram duas diferentes porque variavam muito. Havia momentos de tensão, de relaxamento. Será que pensa a música como uma peça para uma orquestra? Quando comecei a compor nunca tinha pensado nisso. Quem me alertou para isso foi mesmo o Arto Lindsay. Foi uma surpresa para ele e não foi muito agradável no primeiro contacto. Ele achava que eram duas músicas, foi para casa, esteve a pensar e que viu que era de facto uma música com vários andamentos.

É assim que sinto a minha música. Como a natureza sempre a alterar-se. Chegámos aqui com sol e já está escuro, já é de noite. É uma forma de abordar a música. Os momentos das suas músicas, ora pianíssimo, ora fortíssimo, dão-lhe maior liberdade para gerir os momentos do espectáculo? A forma como se apresenta em palco, seja em trio, seja sexteto, com diferentes formações? A minha mulher sempre achou que a minha maior rentabilidade é com acústico, ao violão. Porque a minha entrega é maior. Não faço isso pensado para gerir, para ser sincero. Quando componho não estou a pensar em nada, estou a compor. Agora, acredito que o que acontece em palco não é mais do que o espelho da minha própria música. Mas não é uma coisa pensada. É natural. Voltando às efemérides, faz este ano 20 anos que foi editado o “Pretaluz”. Disco editado pela Luaka Pop de David Byrne que lhe abriu as portas do mundo. É um disco que poderia ser editado em 2017. Continua contemporâneo. Como é que o vê? Quando a arte é feita com profunda sinceridade, revitaliza-se. Vejo o “Pretaluz” como um trabalho que pode ser reeditado. É fresco. Para ser sincero, todos os meus trabalhos têm essa dimensão. Nunca entrei em estúdio para fazer um disco para ir para o comércio. “Pretaluz”,

“A música foi um dom que me foi dado e tento sempre darlhe a dimensão humana da nossa existência: as nossas ansiedades, as nossas preocupações sociais”

grande trabalho que me lançou a nível internacional, foi um trabalho onde houve uma entrega verdadeira e por isso meio mundo o aceitou. Espero que agora num “segundo round” possa voltar a abrir caminhos. Penso que a minha música ainda precisa de ser conhecida. Já está em alguns lugares, já atingiu alguns patamares, mas precisa de encontrar um caminho de maior visibilidade. Quando fala em “segundo round” referese a uma possível reedição do “Pretaluz” ou a esse disco que vai gravar em breve? Esse disco de 2017 também. Mas esta ideia de pegar no “Pretaluz” não está fora de causa. Uma coisa não anula a outra. É uma questão de ser ver o que se pode fazer. Como estou agora a trabalhar com a Gindungo [produtora de espectáculos do Carlos Seixas [director artístico do FMM de Sines]... a ver vamos... Até foi bom teres alertado para isso. Sei que sempre acompanhaste o meu trabalho. Vou falar com eles sobre isso. Acho que era muito interessante, sem dúvida. Que relação tem actualmente com o David Byrne? Num contexto em que está a haver cada vez mais reedições em vinilo de álbuns “clássicos” seria muito pertinente ver o “Pretaluz” reeditado em LP pela Luaka Pop. Temos uma boa relação de amizade. Convidou-me algumas vezes, nem sempre consegui aceder por causa da minha vida… isto que acabámos de falar... as coisas não por acaso. Este “input”... quem sabe se poderemos fazer alguma coisa em relação a isso. São 20 anos. É verdade. Em 2016 foi um espectador assíduo dos espectáculos que ocorreram, quer no Festival de Músicas do Mundo de Sines, que no Ciclo Mundos do Teatro da Trindade INATEL. O que é que lhe encheu verdadeiramente a alma? O próprio título diz tudo. Quem assiste a estes espectáculos são pessoas abertas ao mundo. Ouvir sentimentos, emoções e perspectivas de outros artistas é extremamente enriquecedor. Falando de forma geral, foi sempre muito gratificante assistir a colegas de outros continentes, com outra visão estética. Claro que tudo isso acaba por influir na minha própria música. De que forma estes espectáculos influem na sua música? De muitas formas. Uns subjectivos, mas uma coisa é certa. A pessoa ao ver outras abordagens, se tiver o coração aberto, tudo o que for bonito será absorvido. Vou para esses espectáculos com as antenas bem abertas, receptivas. Depois, o processo de composição, o processo interior... às vezes não podemos definir por palavras. A nossa música acaba por sair com alguma coisa que sentimos de belo. Não é novidade para si pisar os mesmos palcos de alguns “monstros” das músicas do mundo. Mas em 2016 teve um gostinho especial de partilhar em Lisboa o palco do ISCTE com o Salif Keita. Como é que foi a sua relação com ele? Gostei dele. É uma pessoa simpática. Já estive com ele em Sevilha. É um dos artistas africanos que mais aprecio. Gostei imenso de estarmos juntos. No caso do Salif Keita, acha que as contrariedades da vida, o facto de ser-se albino, dos pais não terem aprovado a sua carreira musical, o tornou mais forte, mais autêntico na sua mensagem? Ele naturalmente já veio predestinado e ele soube receber esse dom. Naturalmente que as contrariedade acabaram por moldar mais a sua arte. Não tenho dúvida. O ouro é moldado em alta temperatura.


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Quinta da aveleda/dr

Entre-os-Rios Dias verdejantes em abril Da janela do quarto sente-se chegar a manhã. Vem devagar. Os raios de luz incidem nas frondosas árvores dos jardins. O ar é leve. Inspiramos, expiramos, descontraímos. Ouvem-se os sons dos pássaros. E algumas vozes fascinadas com a beleza da paisagem.

L

onge do bulício. As horas matinais são tranquilas e retemperadoras. Tudo a postos para passear. Uma visita guiada à Quinta da Aveleda, uma das principais quintas de produção de vinho verde do país, é um programa que não queremos perder. O património arquitetónico de estilo neoclássico, do início do século XIX, tem uma envolvência paisagística de grande beleza. Espraia-se o olhar nos parques e jardins onde florescem raras espécies de árvores, algumas centenárias, como o cipreste dos pântanos ou o cedro japonês. O primeiro período do dia fica completo com uma prova de vinhos e um almoço. Depois do jantar assistimos à procissão das Endoenças. Esta procissão, com anos

António Pinto

de história, é associada à celebração do Senhor dos Passos. A sua imagem é retirada da paróquia de Entre-os Rios, na noite de quarta-feira, pelas gentes do Torrão, população vizinha, de onde parte no dia seguinte de regresso ao local de origem. As margens dos rios Douro e Tâmega são ornamentadas com milhares de velas. Há velas nas pontes, nas margens dos rios, nas janelas, nas fachadas, nas encostas das duas localidades, e também nos barcos que fazem o antigo trajeto. Uma curiosidade desta procissão é que o fornecimento de eletricidade é cortado durante a festividade, para que sejam apenas as velas a iluminarem a travessia. O cenário noturno fica completamente brilhante e mágico.

Sabores regionais

Na terra de Amadeo A tarde abre-se para outro destino. Imaginamos seguir o itinerário do rio Tâmega para admirar as paisagens. Depois percorremos o centro histórico de Amarante. Há muito para ver. O casario, a Igreja de São Domingos, o Solar dos Magalhães, a Casa da Calçada, a Igreja e o Convento de São Gonçalo, a Varanda dos Reis, com as estátuas dos monarcas, ao centro D. João III e D. Catarina, ladeados pelas estátuas de D. Sebastião e Filipe I de Portugal. Para visitar, ainda, o Museu Amadeo de Souza-Cardoso, que segundo o seu diretor, António Cardoso, “congrega um conjunto de artistas fundamentais para o entendimento da arte moderna e contemporânea em Portugal”. Além do interessante espólio de Souza-Cardoso, que revela as diferentes fases artísticas da sua

tudo há-de passar, enfim,/ O homem, o próprio mundo passará/ Mas a Saudade é irmã da Eternidade” (in Marânus). Recorde-se que o Grand Palais, em Paris, entre abril e julho do ano passado, expôs uma grande retrospectiva da obra de Amadeo de Souza-Cardoso. O artista viveu na capital francesa entre 1906 e 1914, regressando ao norte de Portugal, antes de romper a Primeira Guerra Mundial, onde morreu prematuramente aos trinta anos. Atualmente o Museu do Chiado acolhe a exposição “Amadeo de Souza-Cardoso/ Porto Lisboa/2016-1916”, patente ao público até final de fevereiro.

obra, há também um conjunto de obras de artistas consagrados, como Júlio Pomar, Nadir Afonso, Manuel Cargaleiro, Vieira da Silva, entre outros. O espaço é agradável para circular serenamente. De uma das janelas admiramos a escultura do escritor Teixeira de Pascoaes que parece observar o casario junto às margens do Tâmega, dizendo: “Pois tudo,

Páscoa em Entre-os-Rios De 12 a 16 de abril Partidas de Évora, Setúbal, Lisboa e Coimbra Tel. 211 155 779 | turismo@inatel.pt | www.inatel.pt

Depois de visitarmos o centro histórico amarantino cabe-nos decidir se nos deixamos cair em tentação, quando formos confrontados com alguns exemplares da doçaria conventual daquela região. Como o programa inclui também uma ida ao Porto, partimos de autocarro para aproveitar a visita panorâmica pela cidade Invicta. Segue-se o embarque num cruzeiro que nos leva a conhecer as seis pontes que unem as margens do rio Douro. Durante a tarde há tempo ainda para passear pelas ruas do Porto, mas vamos escapar às ‘francesinhas’ porque ao jantar, no hotel de Entre-os-Rios, teremos os incontornáveis sabores da gastronomia local. Chegamos ao último dia da nossa viagem. É domingo de Páscoa. Pela manhã saímos em direção ao Luso, onde nos aguarda um almoço em que o leitão será o protagonista da boa mesa portuguesa.

Teresa Joel


TL jan-fev 2017 15

Contam com 26 anos de “ataques à rede”, e têm na equipa sénior feminina um caso sério de candidatas a campeãs nacionais da liga de voleibol da Fundação Inatel. O Volei Clube de Setúbal começou a época a liderar a 1.ª fase da Zona Sul.

Volei Clube de Setúbal Equipa feminina com remate certeiro

“A

vitória no campeonato, nunca foi um sonho, nem um objetivo”, quem o diz é o treinador da equipa, Jefferson Serra, que vê na humildade e seriedade os melhores dos objetivos, valores que transmite nos dois treinos semanais da equipa e em dias de jogo. Conquistar o título é possível e ocupar o lugar de líder na primeira fase não surpreende quando têm novos reforços. A equipa cresceu com aquisição de cinco novas atletas e três regressos. Deixaram de ser apenas oito jogadoras para formarem uma equipa de 16. Sílvia tem 16 anos, é a mais nova da equipa. Está em Portugal há um ano, veio ter com a irmã que já vive cá há 15 anos. Joga voleibol desde os 12 e quando teve oportunidade juntou-se à equipa de Setúbal. Entrou no início da época e confessa que tem sido uma mais-valia para o clube, sem falsas modéstias. Mas também sabe para o que veio. “As pessoas são muito sérias, vêm aqui treinar, não vêm aqui passar o tempo. Estão a dar tudo, e é isso que eu faço.” Sara, ex-federada, escolheu jogar na Inatel e quando a compara às equipas federadas confessa: “Pensava que ia sentir uma grande diferença, mas não senti.” Sandro Silva, fundador, presidente, treinador e jogador conta que o clube já está na liga da Fundação há mais de dez anos e entrou quando sentiu necessidade de acompanhar a idade e a vida de quem sempre se dedicou ao clube e ao voleibol. “Os nossos atletas mais velhos começaram a entrar na casa dos 30 e 40 anos, e em vez de pararmos de jogar entramos para a liga Inatel que é também muito competitiva.” Os jogos e os treinos deixaram de ser apenas encontros para praticar desporto, mas para criar afetos. Quando na mesma equipa joga Jefferson, o treinador, com 53 anos, e alguém com 15 anos, há frases inevitáveis: “Tenho idade para ser teu avô, vê lá se fazes alguma coisa de jeito.” Quem não esconde o afeto de ter sido bem recebida é Isabel, brasileira, residente em Portugal há 8 anos, e que é uma das ex-atletas que regressou ao clube. Não esconde que é muito difícil ser mãe, trabalhar e ainda vir aos dois treinos semanais, mas a paixão pelo voleibol e a união da equipa incentivam-na a vestir a camisola. Quem desistiu da modalidade e regressou de novo ao campo foi Sandrine, atleta profissional tinha ficado cinco anos sem jogar por motivos profissionais depois de épocas em clubes como o de Santo Tirso e Belenenses. Sandrine regressa aos jogos numa equipa onde encontrou o equilíbrio que procurava: “Aqui há tempo para tudo, para treino, bem-estar e convívio.”

Daniela é capitã, está na equipa há 10 anos e diz que o lugar na primeira fase não a surpreende. “Eu acreditei sempre que a equipa tinha potencial, aliás, eu já acreditava antes. A equipa também cresceu muito a nível da união.” Como capitã sente apenas a responsabilidade acrescida de motivar nos momentos de quebra, porque em campo estão todas para o mesmo e sabem que é em grupo que conseguem as vitórias. Campeãs 2016/2017? “Acreditamos sempre que é possível mas este ano esse sonho tem mais forma. Vamos continuar

a trabalhar e entrar com humildade em campo. E vou continuar a levar a família para todos os jogos e treinos. Nós como não temos possibilidade de treinar de outra forma, temos filhos, e trazemo-los connosco.” Daniela sabe como conciliar o voleibol com a família, ela como outras jogadoras não deixam os mais novos em casa e fazem com que eles façam parte da família Volei Clube de Setúbal. Atualmente o clube joga no campeonato de Lisboa mas isso não incomoda, pelo contrário, fazer parte de “um campeonato de 14 equipas é mais motivante para nós

do que estar a jogar aqui só com 3 equipas. Mas não é de descartar”, explica o presidente. É visível o crescimento da liga Inatel, que neste caso se explica porque as jogadoras que terminam a carreira não querem parar de jogar, e pelo facto de ser dispendioso pertencer a uma equipa federada. O campeonato 2016/2017 ainda está no início, mas já surpreende, já emociona, e é isso que faz sentido para quem joga e apoia o desporto da Inatel.

Maria João Costa


16 TL JAN-FEV 2017

Francisco Palha, empresário teatral, dirigiu o Trindade desde a sua fundação até ao final da sua vida. À direita, fachada principal primitiva (1867) do Teatro da Trindade [Fotos publicadas em O Teatro da Trindade, 125 anos, de Tomaz Ribas]

O

Teatro da Trindade foi aberto ao público dois anos depois do início da sua construção. O historiador contemporâneo Victor Pavão dos Santos (conhecido ainda como biógrafo de Amália Rodrigues) chamou ao Trindade “o sonho de um empresário”. Francisco Palha era o tal empresário teatral, de quem se falava. Palha, reconhecido na Lisboa oitocentista também como jornalista, dramaturgo, escritor e tradutor, teve a ideia de construir um “novo e moderno teatro – o Trindade – de que se tornou o principal impulsionador e que inteligentemente dirigiu desde a sua fundação, em 1867, até ao final da sua vida”, escreveu Tomaz Ribas há um quarto de século no livro O Teatro da Trindade, 125 anos de vida. A fundação do Teatro da Trindade, que celebra 150 anos em 2017, no coração de Lisboa, assumiu uma relevância capital na cultura portuguesa da época. Em declarações ao jornal Tempo Livre, o olisipógrafo António Valdemar, jornalista, investigador e membro da Academia das Ciências, leva-nos a uma viagem pelo tempo que se cruza com outras curiosidades históricas: “O espaço da Trindade foi sempre privilegiado antes e depois do terramoto de 1755. A Academia da Trindade teve um papel bastante significativo. Foi instalada nas dependências do Palácio de Fernão Alves de Andrade, onde é hoje o Largo Rafael Bordalo Pinheiro. Existiu desde 1735 a 1739. Já a ópera ita-

Trindade

150 anos Um teatro que atravessa a História

O edifício, inaugurado em 1867, ergue-se, altivo, no coração de Lisboa, entre a Trindade, o Carmo, o Chiado e o Bairro Alto. Lugares que remetem para a cultura, o convívio e o charme de outros tempos. Ali respira-se História, a que já se escreveu e a que ainda se faz nos dias e nas noites fervilhantes de hoje.

liana estava no teatro da rua dos Condes, mas o Teatro da Trindade, construído por iniciativa do empresário Francisco Palha, um dos maiores colecionadores das edições d’ Os Lusíadas e outras obras de Camões, felizmente salvas e depositadas nos Estados Unidos, na biblioteca do congresso em Washington, teve uma importância fundamental para sucessivas gerações. Ficava no antigo Palácio Paim, mesmo ao pé do Ginásio, a sociedade que deu lugar a este teatro, que, no Carnaval de 1867, abriu para um baile de máscaras.” “Eram as máscaras”, prossegue António Valdemar, “do fim do romantismo e anunciavam várias máscaras que iam acompanhar e demolir as Conferências do Casino, que principiaram aí ao pé da porta, com a grande geração de Antero, Eça, Batalha Reis. Ficaram registadas nos jornais, nas revistas, nas primeiras caricaturas de Rafael Bordalo, e abriram caminho para o que podemos chamar a sociedade moderna”.

Outro dinamismo no Chiado Os tempos modernos caracterizam-se, entre outras coisas, pela busca do conhecimento, pela cultura próxima das pessoas. No sonho de Francisco Palha estava um

teatro de qualidade, com uma programação diversificada, em teatro e em música, mas mais acessível que os teatros nacionais, D. Maria II e São Carlos. Paula Gomes Magalhães, investigadora do Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, realça ao TL que “o Trindade veio criar uma centralidade e uma dinâmica teatral muito intensa no Chiado”. Uma das grandes apostas foi a ópera cómica e a opereta: “Com um espetáculo retratado no livro de Eça de Queiroz A Tragédia da Rua das Flores, o Barba Azul, a opereta explodiu, também por ‘culpa’ do Trindade – era uma forma teatral com bastante público na altura. Vários outros teatros também optaram depois por esse género teatral.” “O Trindade era um espaço intermédio, constituía uma bissetriz entre o São Carlos e o Ginásio. Talvez por isso Eça de Queiroz o elegeu n’ Os Maias para a realização de um sarau, e ali estavam frequentadores do Grémio Literário, da Casa Havaneza, dos ministérios e secretarias de Estado, uns de gravata branca, outros de jaquetões”, complementa António Valdemar. É nas obras de Eça de Queiroz que se encontram mais referências sobre o Trindade.

Teatro à francesa A visão de Francisco Palha para o teatro abre para o mundo. “Ele queria que este fosse um teatro diferente, que chegasse ao público. Não existia, na altura, um teatro para a burguesia em ascensão, elegante, ostensiva, que gostava de se mostrar e de passear no Chiado, com os últimos modelos vindos de Paris, que comprava ou mandava fazer às costureiras daqui. O Trindade é um teatro à francesa. A sala, quando foi inaugurada, foi a principal estrela e não criava as distinções por exemplo do São Carlos”, explica a investigadora. Conta-se até que o edifício e a sala do Trindade é que foram as vedetas no espetáculo inaugural, na noite de 30 de setembro, A Mãe dos Pobres e o Xerez da Viscondessa, o drama em cinco atos e um na comédia espanhola. No elenco estavam, entre outros, Delphina do Espírito Santo, Emília Adelaide, Rosa Damasceno, Tasso e Izidoro. O público e crítica não ficaram satisfeitos. O caminho foi sendo percorrido com altos e baixos até à atualidade. Muitas outras histórias deste teatro há ainda para partilhar. O pano fecha por ora, para ser levantado nas próximas edições.

Sílvia Júlio


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Na mesa com

Miguel Castro e Siva

Fotos: Jorge Simão

“F

az 26 anos que passeava pelo País Basco. Por lá comi algumas versões de marisco com feijão. Daí surgiu a ideia de misturar as amêijoas à Bulhão Pato com feijão. Testado o feijão manteiga resultou melhor. E a acidez que normalmente é dada pelo limão, aqui tem o toque de tomate. Ficou um clássico!”

Amêijoas com feijão manteiga Ingredientes (para 2 pessoas) 240 g de amêijoas; 50 ml de azeite; 2 dentes de alho; 1 tomate maduro, sem pele, triturado; 500 g de feijão manteiga, cozido; 10 g de coentros, picados.

Preparação Abra as amêijoas com o azeite e o alho esmagado, num tacho tapado e em lume brando. Sacuda e, quando as amêijoas abrirem, adicione o feijão (com um pouco da água em que o cozeu) e o tomate. Envolva bem e deixe apurar um pouco. Finalize com os coentros.


18 TL JAN-FEV 2017

Teatro da Trindade Nova temporada para comemorar 150 anos

Alertas da Deco

Consumidor informado é consumidor respeitado “R

ecebi um telefonema de alguém, que se identificou como sendo técnico do centro de saúde a que pertenço, informando-me que estava convocado para participar num rastreio da diabete. Disseram-me ainda que de acordo com o meu quadro clínico e a minha idade teria mesmo de fazer este rastreio, que era gratuito. Na data em questão dirigi-me ao centro comercial indicado e, após um simples teste ao nível da glicemia, saí deste falso rastreio com um aparelho médico que não sei para que serve e que custou 2.500 euros. Preciso da vossa ajuda para resolver este problema! Não posso pagar este aparelho, nem tão pouco preciso dele!”

Caro leitor

, o relato que nos faz coincide com centenas de reclamações recebidas na nossa associação, casos em que rastreios de saúde que seriam gratuitos se revelam graves armadilhas do consumo. Tal como este leitor nos descreve, os consumidores são influenciados a adquirir determinados produtos e/ou tratamentos de valor bastante elevado e, caso não disponham da quantia solicitada como sinal, são muitas das vezes acompanhados pelo comercial a uma caixa multibanco para efetuarem o levantamento do montante em causa. O público-alvo destas campanhas são frequentemente pessoas com mais de 60 anos, para que a necessidade de “a partir de determinada idade ser importante fazer exames regulares” seja credível e leve estes consumidores ao engano, forçando-os a comprar aparelho ou equipamentos relacionados com a saúde, como sejam os medidores de tensão arterial ou da glicémia. Para além da abordagem enganosa, estamos também perante vendas agressivas, na medida em que chegados ao local indicado e perante a insistência e pressão dos vendedores, os consumidores vêm a sua liberdade de escolha limitada, acabando por assinar um contrato que não querem e/ou que nem entendem na totalidade. A Deco alerta os consumidores para este tipo de práticas comerciais desleais e informa que estes contratos podem ser cancelados no prazo de 14 dias, prazo de livre resolução, devendo para tal contactar, através de carta registada com aviso de receção, a empresa reclamada, devendo guardar cópia da carta e dos registos de envio. Não esquecer que devem sempre o reembolso dos montantes já pagos. Caso a situação não seja resolvida, com o cancelamento do contrato e a devolução dos montantes que tenham sido pagos, pode recorrer aos nossos serviços. Quando o prazo de 14 dias, a contar desde a assinatura do contrato, já foi ultrapassado mas o consumidor não recebeu em sua casa o equipamento ou não tem cópia do contrato e respetivas condições, poderá ainda resolver o seu conflito. Os 14 dias só começam a ser contados a partir da entrega do produto (neste caso o aparelho médico). Mais, se o comercial não informou claramente o consumidor sobre os seus direitos na livre resolução do contrato, o prazo para cancelamento do negócio é alargado para 12 meses.

A “Poesia em…” Açores recebe homenagem a Natália Correia

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poetisa é homenageada em Ponta Delgada, cidade natal, entre os dias 21 e 24 de março, no âmbito do evento cultural de referência da Fundação Inatel “Poesia em…” Depois do tributo, em anos anteriores, a José Régio, Sophia de Mello Breyner Andresen e Fernando Pessoa, é a vez de se celebrar a obra de Natália Correia. Escritora, dramaturga e poetisa, preconizou que a intervenção política era uma “obrigação dos poetas”. Para além da vasta obra literária que produziu (onde se inclui a letra do Hino dos Açores), o seu nome está associado a várias intervenções parlamentares nas áreas da cultura e direitos humanos. “Poesia em…” é um momento de partilha e de contributo coletivo para a importância do património literário português.

Concurso “Novos Textos” Vencedores anunciados no Dia Mundial do Teatro

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o próximo dia 27 de março são anunciados os vencedores da XX edição do “Novos Textos”, no Teatro da Trindade. A concurso estão 49 textos. O júri é constituído pela atriz e encenadora Natália Luiza, a escritora Dulce Maria Cardoso e o crítico teatral João Carneiro. A Fundação Inatel, com o intuito de estimular a escrita dramatúrgica e aparecimento de novos autores, criou em 1991 o Concurso Inatel | Teatro Novos Textos. É um dos concursos mais antigos na área da escrita para teatro, tendo duas vertentes, Grande Prémio Inatel e Prémio Miguel Rovisco, destinado a jovens dramaturgos até aos 25 anos.

verba disponibilizada para a comemoração do 150.º aniversário do Teatro da Trindade ronda os 350 mil euros, revelou a administração da Fundação Inatel, no passado dia 12 de janeiro, data em que foi apresentado o programa que assinala o ano festivo. “Nos tempos que vivemos, a Inatel faz um esforço e tem uma duplicação do orçamento [para o teatro]. Este esforço financeiro justifica-se pela importância das comemorações”, disse Francisco Madelino, presidente do conselho de administração, no salão nobre do Trindade, repleto de gente da cultura. Alexandra Lencastre, Beatriz Batarda, Cláudia Vieira, Cucha Carvalheiro, Diogo Infante, João Perry, Vitorino foram algumas das personalidades presentes e que estão associadas a espetáculos das celebrações dos 150 anos. “Pensou-se recuperar o espírito do fundador, Francisco Palha, que quis criar um teatro com uma programação diversa, popular e de qualidade, desde o início. O Trindade teve uma história muito variada, mas há uma constante. Há uma figura que personifica isto, o Francisco Ribeiro, conhecido por Ribeirinho, que esteve nesta casa longos anos, tendo aqui grande parte da sua obra criativa, e que foi uma inspiração para nós na construção da programação”, assinalou Inês de Medeiros, diretora artística do Trindade.

Um dos motivos de regozijo é o regresso da produção própria, em paralelo com a coprodução e o acolhimento. Ao longo deste ano haverá, também, uma forte presença musical, com diferentes espetáculos, até porque “foi aqui a sede da primeira companhia de ópera portuguesa”, lembrou, frisando que “o Trindade volta a ser um centro nevrálgico e um centro criativo no coração de Lisboa, numa zona nobre que é o Chiado”. Foram recordados os 1800 associados da Fundação Inatel na área cultural, entre os quais, na música, desde bandas filarmónicas, grupos de música de câmara, tunas e grupos de música popular portuguesa. No teatro e na dança, os associados coletivos vão ter também, ao longo do ano, presença constante para dar a conhecer aos lisboetas a vitalidade do meio cultural da Inatel. “Somos o maior representante da cultura popular, mas não só, do país. Temos muito orgulho!”, enfatizou Inês de Medeiros. Outro motivo de contentamento reside no compromisso do teatro com o tema da inclusão, quer em espetáculos quer nas condições logísticas do Trindade. “Faltam pequenas obras para ser, provavelmente, a sala de espetáculos mais inclusiva do país, com todas as acessibilidades garantidas”, informa. “É um dever nosso e uma das nossas militâncias”, acrescenta.

Porto Inauguração de Unidade Local em Santa Catarina

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Porto recebeu uma nova unidade Inatel na rua mais movimentada da cidade, Santa Catarina. A inauguração aconteceu no passado dia 3 de dezembro e contou com a participação de figuras ilustres da região. António Fonseca, presidente da Associação de Freguesias do Centro Histórico do Porto, marcou presença e afirmou que a Inatel escolheu “o momento certo” para chegar ao coração da Invicta. Alírio Costa, secretário executivo (do CIM Tâmega) da Comunidade Intermunicipal do Tâmega enalteceu o lado cultural da fundação, reforçando que “o que mais atrai o turista é exatamente a nossa cultura (...) e é gratificante termos a Inatel, que tem a vocação natural de trazer a cultura para rua”. Homem do Porto, ícone do Boavista, Manuel Sousa, mais conhecido como Manuel do Laço, fez questão de visitar e elogiar

a nova loja Inatel na cidade, merecedora de um “laço”. Francisco Madelino, presidente da Fundação Inatel, lembra que o Porto está na moda e que “trazer a Inatel para o centro é dar a conhecer a riqueza natural do norte do país e do interior do país” a turistas e não só, e cumprir assim a missão da fundação, como completou José Alho, membro do conselho de administração. Quem visita este novo espaço tem ao dispor uma vasta variedade de programas de viagens e escapadinhas para descobrir Portugal e o mundo; encontra ainda propostas para melhor ocupar os tempos livres. O dia da inauguração contou com a animação de rua tradicional portuguesa, rancho folclórico, o tradicional vendedor de castanha e boa disposição do S. Pedro que contribuiu para um dia ainda mais festivo.


TL jan-fev 2017 19

Coluna DO provedor

Musicando Por Luís rei

A Música Portuguesa com elevada autoestima

Manuel Camacho

provedor.inatel@inatel.pt

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T

iago Pereira, realizador, documentarista, visualista, autor do filme Sinfonia Imaterial (edição 2011 em DVD, Fundação Inatel) que exibe o “património oral e musical, recolhendo as práticas existentes de norte a sul do país incluindo as ilhas”, acaba de assinalar seis anos de existência do projecto A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria (MPAGDP), não só com o lançamento de uma nova versão do site (acessível em http:// amusicaportuguesaagostardelapropria. org) que inclui de forma mais arrumada um mapa etno-musical de Portugal dividido por distritos, com mais de 2500 vídeos organizados por instrumento, região, e género, como também com a publicação do livro (edição 2016, Tradisom) de 92 páginas, cerca de 300 fotografias e 8 DVD com os 26 episódios da série documental O Povo Que Ainda Canta, produzida para a RTP2 em 2015. Mais do que a urgência de registar, catalogar e arquivar canções, orações sagradas, ritos de encomendação das almas, trava-línguas, décimas, paisagens sonoras rurais e urbanas de todo o tipo, transmitidas quer, pela pessoa mais conhecida e respeitada, quer pelo bobo ou pelo desafortunado da aldeia (ou do bairro), importa realçar a dimensão humana e o “efeito de contaminação” da MPAGDP. Sendo a obra física (Livro + 8 DVD) de O Povo Que Ainda Canta dedicada a Adélia Garcia, ilustre cantadeira de

Caçarelhos (Vimioso), falecida a 31 de Dezembro de 2016, que Tiago Pereira foi gravando durante 12 anos, à porta de casa, à lareira, na cozinha com o bico do fogão ligado. Ficar-nos-á para sempre na retina a aura de artista informal de uma “velhinha” que cantava porque sim, porque sempre soube cantar. Captada pela Nagra de Michel Giacometti, de Mário Correia, ou pela câmara de Ivan Dias e Manuel Rocha (da Brigada Victor Jara) na série documental O Povo Que Canta (RTP, 2005), por Né Ladeiras ou pela cantora e investigadora canadiana sefardita de origem judaica Judith Cohen, Adélia Garcia foi ao longo da sua vida uma figura tocante que, nas palavras de Tiago Pereira, “era como a Amália, por quem nutria profunda consideração. Agradava ao povo e aos intelectuais. Tinha este aspecto conciliador que vinha desde há muito tempo. Nunca nos podemos esquecer que a Adélia

vivia em Caçarelhos, fazia contrabando, obviamente tinha de fugir dos guardas e que havia um em Espanha que a deixava sempre passar pedindo-lhe uma música que era uma versão dela do Só Nós Dois É Que Sabemos do Tony de Matos, que ela tinha aprendido pela rádio. Acho isto incrível. Mesmo assim, foi presa. Esteve um mês no Porto e toda a gente lhe dava as maiores regalias porque ela cantava na cama. Toda a gente perguntava quem era aquela senhora. A Adélia Garcia “tinha esta coisa de flautista de Hamelim que encantava as pessoas”. A MPAGDP que sempre foi transversal à música tradicional e ao pop rock, ao rural e ao urbano tem sido ao longo destes anos uma ponte que estreita os laços entre gerações, que mostra a riqueza e diversidade das práticas musicais mais informais, rudimentares e em bruto. Que nos enche de orgulho de sermos o que somos. Portugueses. É por isso se ergue agora A Música Portuguesa a Gostar da Adélia Garcia. E que bom que é ver músicos e cantautores que tão bem tratam a nossa língua como Bernando Fachada, Manuel Fúria, Ana Deus (Osso Vaidoso), Domingos Gomes & Rini Luyks, Éme e Móxila, venerarem e cantarem a Sra. Dona Adélia. Como se costuma dizer em África, quando morre um griot (aquele que conserva a memória colectiva) é uma biblioteca que desaparece. Por isso, ponhamos a circular, de mão em mão, os “livros” que a Dona Adélia nos deixou. [O autor escreve de acordo com antiga ortografia]

urante o ano de 2016, muitos foram aqueles que nos deixaram. Ligados às artes, ao espetáculo, ao desporto, à ciência e à política, a sua partida acabou por ser sempre um motivo de tristeza. O irónico lugar-comum de que “a morte é a lei da vida” aparece-nos frequentemente como consolo para enfrentarmos, de forma mais ou menos racional, as surpresas que por vezes a tal “lei da vida” nos reserva. Não foi uma surpresa, dada a debilidade que a sua saúde já evidenciava, mas foi definitivamente a grande perda do início deste ano de 2017: a partida de Mário Soares. Tudo fazia prever que já não estaria entre nós muito mais tempo, sobretudo desde que Maria de Jesus partiu. Mário Soares, no entanto, tendo sido levado pela “lei da vida”, foi devolvido à vida, como dizia Camões, ao ter-se libertado da “lei da morte”. Alguém como Mário Soares, que a História de Portugal e da Europa registou e registará como figura incontornável do século XX, ficará para sempre ligado ao desenvolvimento, à democracia e à liberdade deste país tão pequeno como é Portugal – e tão grande como quando falamos daqueles que ajudaram a fazer dele o que hoje é. A dimensão de um ser humano é tão grande quanto o tamanho da sua esperança e da sua capacidade de se entregar aos outros e às causas em que acredita. Mário Soares teve tudo isso enriquecido por valores como a solidariedade, o respeito, a tolerância e a liberdade. Por tudo o que foi e continuará a ser – OBRIGADO Mário Soares.


20 TL JAN-FEV 2017

Nós, Trabalhadores,

100 anos de luta Musical retrata a conquista pelos direitos no trabalho

Nós, Trabalhadores, foi o musical que marcou o regresso do Teatro da Trindade Inatel à produção própria e que abriu as portas à temporada. Um espetáculo que surgiu das comemorações dos 100 anos do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.

O

Teatro da Trindade comemora 150 anos. Ao longo deste ano são muitas as propostas de espetáculos que vão desde o teatro, à música e dança. Nós, Trabalhadores, é um musical que marca o regresso do Teatro da Trindade Inatel à produção própria e que abre as portas à temporada, um espetáculo que surge também das comemorações dos 100 anos do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social. Nas palavras do ministro, José Vieira da Silva, “é um momento muito especial. É o final das comemorações dos 100 anos do Ministério, com uma passagem e ligação aos 150 anos do Teatro da Trindade”. Nós, Trabalhadores é uma peça que revisita a evolução do mundo laboral ao longo dos últimos cem anos até à atualidade. Para a diretora do Teatro da Trindade e vice-presidente da Fundação, Inês de Medeiros, é um espetáculo que tem “uma tripla função, reafirma a ligação com o ministério, de uma forma solidária; permite iniciar a temporada do Trindade com uma produção própria, com um espetáculo musical, que é uma linha mestra da programação do Trindade”.

Vicente Alves do Ó, realizador e encenador, foi o escolhido para conduzir Nós, Trabalhadores, uma escolha simples nas palavras de Inês de Medeiros pelo facto de ser um realizador “sensível com as questões das mulheres”, e por conseguir “abordar temas graves com leveza”. Os textos da peça resultaram de uma pesquisa de Inês de Medeiros, uma das suas paixões, o “procurar coisas”, onde acabou por encontrar “discursos do Diário da República verídicos; um relatório de um agente da PIDE aquando das greves da Covilhã, também ele verdadeiro, com quatro depoimentos de trabalhadores” da época e que foram reproduzidos em palco, entre outros excertos que preenchem o musical. “Nós fazemos poucas coisas assim em Portugal, coisas que falam muito diretamente da vida das pessoas, do seu quotidiano.” Para Alves do Ó era irrecusável não abraçar o desafio. A mulher é o centro da narrativa, por ter sido, e ainda o é, o elo mais fraco no mundo do trabalho, mas importa destacar o homem destes 100 anos. Pedro Pernas, único homem em palco, recorda que os homens também “sofreram quando foram obrigados a cumprir

o dever militar, iam para o Ultramar e sabiam que iam para a morte”. As músicas que acompanham os atores Joana Manuel, Sílvia Filipe, Sofia Marques, Joana Almeida e Pedro Pernas, são rearranjadas pelo diretor musical Miguel Tapadas, com originais do mesmo, como é o caso do tema Fado do Trabalho e do poema Calçada de Carris, “e aqui o Coro Menor fez um trabalho surpreendente, um coro amador”, afirmou o músico. Lara Li teve uma participação especial e também ela, assim como todos os atores, encenador e diretor musical, quis passar uma mensagem de esperança. “Que seja uma mensagem de esperança. Há testemunhos muito fortes, de torturas, mas o objetivo é olhar para trás com esperança, um olhar revolucionário e construtivo”, palavras da atriz Sílvia Filipe que emociona e deixa-se emocionar com a história que faz parte de cada um de nós, com uma luta que é nossa e “que é uma luta inacabada, que não faz sentido terminar”, como afirmou o ministro, Vieira da Silva. A peça esteve em cena nos dias 13 e 14 de janeiro mas o objetivo é fazer com que seja reposta no Teatro da Trindade e que chegue também a outros palcos e públicos. Maria João Costa


TL jan-fev 2017 21

Conferências do Chiado “Projetar Portugal. Quem decide sobre as nossas vidas?”, por António Sampaio da Nóvoa, com apresentação de Eduardo Paz Ferreira, no salão nobre do Teatro da Trindade, 21 de fevereiro, às 18 horas. Entrada livre.

VER

OUVIR

Sinais do tempo

D

Do fado ao romantismo dos trópicos

ois filmes, “São Jorge”, do português Marco Martins e “Paterson”, do norte-americano Jim Jarmush premiados internacionalmente chegam às salas envoltos em natural expectativa.

amor à poesia, centrada na história de um motorista de autocarros de New Jersey que escreve poemas num pequeno caderno. Um filme que é, nos tempos sombrios, um bálsamo, um sopro de esperança nas pequenas coisas belas e simples da vida.

Stefan Zweig – Adeus, Europa, de Maria Schrader | Alemanha/ França/Áustria, 2016 Com: Josef Hader, Barbara Sukowa e Aenne Schwarz. Estreia 23 de fevereiro. Evocação dos últimos anos de vida (no exílio) do célebre romancista – e pacifista – austríaco do século XX autor, entre outros, de “Carta de uma desconhecida” e “24 horas na vida de uma mulher”, que previu o declínio da Europa. Um olhar subtil sobre a responsabilidade intelectual e a política, em particular o fenómeno nazi.

Aquarius, de Kleber Mendonça Filho | Brasil/França, 2016 Com: Sonia Braga, Maeve Jinkings, Irandhir Santos. Estreia prevista 16 março. Uma jornalista e crítica de música aposentada resiste às invectivas de uma construtora decidida a transformar o prédio onde vive num empreendimento de luxo. Um olhar crítico sobre a sociedade brasileira, a hipocrisia social e a especulação imobiliária. Elogiado pela crítica norte-americana e europeia.

São Jorge, de Marco Martins | Portugal, 2016 Com: Nuno Lopes, Mariana Nunes, David Semedo. Estreia 9 de março. No cume da crise, da ‘troika’ e das inversões sociais, um operário desempregado, pugilista nas “horas vagas”, aceita trabalho numa empresa de cobranças difíceis. Mais duro, denso e amargo do que este filme sobre uma realidade (recente) tão nossa não há memória, não. Excelente interpretação de Nuno Lopes, premiado no Festival de Veneza. Paterson, de Jim Jarmusch | EUA/ França/Alemanha, 2016 Com: Adam Driver, Golshifteh Farahani, Kara Hayward, Sterling Jerins. Estreia prevista: 9 março. Exuberante e ternurenta, – por vezes melancólica –, declaração de

A Bela e o Monstro, de Bill Condon | EUA, 2017 Com: Emma Watson, Dan Stevens, Luke Evans, Kevin Kline. Estreia 16 março. Nova versão, em imagem real, – “aprimorada” via 3D – do clássico musical de animação produzido pela Disney em 1991 e considerado um dos filmes do género mais rentáveis da história do cinema. Para todos. O Leopardo, de Luchino Visconti | Itália/França, 1963 Com: Burt Lancaster, Alain Delon, Claudia Cardinale. Exibição 18 março, às 16h, no CCB. É um dos acontecimentos cinéfilos do ano: a grande obra épica de Visconti – baseada no romance homónimo de Giuseppe Tomasi di Lampedusa – sobre o declínio da aristocracia na Sicília do ‘Risorgimento’ revisitada em cópia nova digital no ecrã gigante do grande auditório do centro cultural de belém. Música de Nino Rota.

Joaquim Diabinho

[O autor escreve de acordo com antiga ortografia]

T

alvez soe a clichet mas sempre gostei da frase “A música é a celebração da vida”. Li-a em tipos idos num local vandalizado junto de outras frases; umas mais impróprias outras em modo de declarações amorosas. Nesses mesmos tempos, aprendi que Platão afirmava que “A alma educa-se através da música” e desde aí que defendo esta ideia como uma forma de estar na vida. Por esse motivo, fiquei muito feliz por poder partilhar com os leitores espetáculos musicais, na expectativa de ir ao encontro de todos. Já no início de março teremos dois concertos em Lisboa cujo mote é a fusão do fado a dois universos sonoros bastantes distintos. O primeiro destaque vai para o disco de Júlio Resende “Amália por Júlio Resende”. Pianista conhecido no meio jazzístico português e aventureiro na experimentação apresenta este novo trabalho já no próximo 3 de março no Centro Cultural de Belém. Na mesma linha, de 9 a 12 no Teatro S. Luiz, Camané e a Orquestra Metropolitana juntam-se para uma apresentação dos maiores sucessos do fadista. Para os mais pequenos e famílias, sempre aos domingos de manhã, o Teatro da Trindade

apresentará a nova temporada da iniciativa Domingos com Música. No primeiro domingo, a 5 de março, poderão ouvir a Orquestra Geração e a 30 de abril para os mais novos haverá um concerto pedagógico. Para quem estiver mais a norte, a 18 do mesmo mês, Sérgio Godinho apresenta-se no Cine-Teatro António Lamoso em Santa Maria da feira e a 22 de abril no Teatro Municipal de Vila do Conde com o espetáculo “Liberdade”. Para os amantes do free jazz propomos a audição do projeto do saxofonista português e exímio improvisador, Rodrigo Amado Quartet no Centro Cultural de Belém, Lisboa. No mesmo local e ainda no campo jazzístico, o concerto do promissor João Barradas que se apresentará em trio no próximo dia 30 de março. Jovem talentoso munido de uma segurança que lhe permite tocar em várias formações e em diferentes géneros, é no momento um dos grandes nomes nacionais deste instrumento na música improvisada. No campo do rock psicadélico destaco o concerto dos Blue Pills, banda formada em 2011, cuja sonoridade caraterizo por um blues rock apimentado com influências diretas do jazz, metal e funk. Estarão na capital no Lisboa ao Vivo no dia 24 de março e no dia seguinte no Hard Club, Porto. O último destaque vai para o responsável pelo movimento do rock brasileiro, mais tarde o eterno cantor romântico Roberto Carlos. Irá apresentar-se a 24 de abril no pavilhão Multiusos de Gondomar. Penso que o filósofo Engles tinha toda a razão no aspeto prático da vida quando dizia “Um grama de ação vale mais que mil teorias” pelo que convido todos os leitores a celebrarem a vida!

Susana Cruz


22 TL JAN-FEV 2017

Os contos do zambujal

Nem sempre as árvores morrem de pé

E

ram adolescentes saboreando o sol da Primavera em dois bancos vizinhos do castanheiro bravo que se impunha num jardinzinho da cidade. Ele entretinha-se a dedilhar no telemóvel, ela lia um romance. Não se olhavam, eram simplesmente dois desconhecidos, com intenção de deixar de o ser. A meio da manhã ela fechou o livro e levantou-se, prenúncio de retirada, e ele desviou os olhos do visor do telemóvel. Reparou, então, que ela deixou os óculos de sol esquecidos sobre o banco, chamou: – Menina...! Menina! Ela dera já meia dúzia de passos e continuou a andar, desatenta de que o chamamento lhe era dirigido até que a voz dele soou mais próxima: – Menina, menina! Virou-se, então, e os olhos encontraram a figura do rapaz, agitando os óculos e sublinhando o evidente: – São seus, não? Deixou-os ali... Surpresa e agradecimento uniram-se no sorriso que iluminou o rosto bonito da jovem: – Ai a minha cabeça! Agradeço-lhe muito. – De nada – disse ele afastando-se sem se afastar dela e aperceberam-se que seguiam na mesma direcção. – Vou para o metro. – Coincidência, também eu. Espero não voltar a esquecer-me dos óculos, do livro, ou mesmo da carteira onde guardo o passe. Sou muito distraída. – Sinal de que pensa – ripostou ele. – Quando os Nada é seguro, andam por evitável, garantido, pensamentos longe nem cuidamos do que temos perto. Também eu sou nem mesmo a distraído, até o telemóvel e protecção de uma as chaves de casa deixo nas mesas dos cafés, uma vez árvore amiga deixei um computador portátil no chão, precisamente junto do banco onde me encontrava agora. Gosto do lugar, tornei-me amigo daquela árvore que nem sei que nome tem. Ela riu-se: – Castanheiro bravo. Foi o que me ensinou um homem de idade avançada e com cara de conhecedor. E mais: que se trata de uma raridade nos jardins de cidade e, ao contrário do castanheiro manso, não é pródigo a dar frutos. Este deve ter, no mínimo, um século de vida. Foi a informação que recebi e também sou amiga deste castanheiro. Tinham entrado no túnel do metro, ele hesitou antes de perguntar: – Para que estação vai? – Restauradores. Foi a vez de ele se rir com gosto: – Outra coincidência. Também vou

para os Restauradores e estarei atento para que não se esqueça de nada no comboio. Já agora, permite-me outra pergunta? – Pergunte. – Como se chama? – Bruna. E tu? Desculpa o tratamento mas não tolero o você... – Nem eu. E ficas a saber que o meu nome é Renato. – Ficamos apresentados e espero reencontrar-te no jardim do castanheiro bravo. – É muito possível, sou frequentadora.

A

ssim aconteceu poucos dias passados e foi acontecendo já em encontros previamente decididos, sem surpresa mas em crescente alegria, beijos de saudação, depois acomodados, já não em dois mas no mesmo banco próximo da velha árvore que parecia abençoar o parzinho de namorados em que cedo se tornaram. Um dia, tirando do bolso um pequeno canivete, Renato disse: – Espero que o nosso castanheiro não tenha cócegas. – Que fazes? – Fazemos os dois, à vez. Durante uma esforçada hora gravaram no tronco da árvore confidente uma declaração de amor eterno: Bruna – Renato. Entre os nomes um coração e, a fechar, uma certeza: Sempre. Nos imprevistos da vida tinham passado de desconhecidos a namorados e o galopar do tempo levou-os a marido e mulher. Todavia, a erosão da vida em comum amiúde desperta pequenos ou maiores conflitos e foram surgindo discórdias e afastamentos entre duas pessoas que, no fundo, não tinham

perdido o amor recíproco. Então, após cada desentendimento e como se os movesse um pacto sem palavras, caminharam até ao jardinzinho onde o tronco do castanheiro bravo lhes recordava a promessa: Bruna – Renato, coração, sempre. Nesse momento fitaram-se, olhos nos olhos, riam-se, abraçavam, pediam desculpa e voltavam a casa reconciliados e felizes. Tornavam-se cada vez mais frequentes, os desacordos e discussões, no entanto não desistiam de caminhar até à árvore das promessas registadas no tronco, em garantia de amor eterno. A inscrição gravada era um compromisso a tão longo prazo como é longa a vida dos castanheiros. Subsistia a convicção de que as palavras riscadas a canivete dotavam a árvore de uma protecção mágica. Nada é seguro, evitável, garantido, nem mesmo a protecção de uma árvore amiga. Há três dias, um conflito mais agreste fê-los hesitar mas, em silêncio, decidiram voltar ainda ao jardim dos seus primeiros encantamentos. Viram, então, que onde havia relva, canteiros, os bancos do seu primeiro encontro, máquinas poderosas e cruéis tudo revolviam para nascer um parque subterrâneo para automóveis. E o castanheiro bravo, arrancado à terra e às vidas de Bruna e Renato, teria ido morrer aos golpes de uma qualquer serração. Foi na Sexta-feira. No Sábado concordaram em separar-se, seguindo cada um o seu destino. Talvez se encontrem de fugida numa estação de metro e não deixarão de saudar-se com um aceno em memória dos tempos em que os unia o amor e um castanheiro bravo. [O autor escreve de acordo com antiga ortografia]

Mário Zambujal


TL jan-fev 2017 23

Passatempos

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Palavras cruzadas POR josé lattas 1

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ATIVIDADES CULTURAIS E DESPORTIVAS

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FOZ DO ARELHO

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Show Cooking, Saberes e Sabores – às sextas e sábados ao jantar e aos domingos ao almoço pode assistir à confeção das refeições. Contactar diretamente Inatel Foz do Arelho Hotel. Tel. 262 975 100.

9 10 11 Horizontais: 1-Troco; Nota musical. 2-Apreciação; Brancos. 3-Centena; Partido Socialista (sigla invertida); Tecido de malha, com que se calçam os pés. 4-Cravadas. 5-Bairro nobre da cidade de Rio de Janeiro; Frade, companheiro de Robin dos Bosques. 6-Tálio (s.q.); Região montanhosa, no norte de Marrocos. 7-Partícula que exprime exclusão ou alternativa (invertido); Albergadas. 8-Aquele que conhece e pratica astronomia. 9-Violino; Estanho (s.q.). 10-Ave pernalta, espécie de cegonha pequena; Biscalheiras. 11-Elemento de composição que exprime a ideia de ouvido; Aglomeração de casas.

coisas. 4-Promécio (s.q.); Lubrificaras. 5-Um dos pontos cardeais; Preposição, que exprime a ideia de, debaixo de. 6-Sanguissorba. 7-Tantálio (s.q.); Distribui; Furnas. 8-Força; Latada. 9-Enfarpelado; Consoante dobrada. 10-Importuna; Substantivo feminino, que usado em locução adverbial, tem o sentido de abundantemente, à larga, à custa alheia; Aparece. 11-Primeiro nome de Newton, ilustre matemático, físico e filósofo inglês; Ponderação.

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Mercado d’Aqui, Parque 1.0 de Maio, entre as 10h00 e as 18h00. Segundo a organização, é mais do que uma mostra de bens e serviços, promovendo novos conceitos de saúde e bem-estar. Entrada livre.

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Reservado, um espetáculo que é um tributo à poesia e língua portuguesa, a partir de colagens de Almada Negreiros, António Gedeão, Cesário Verde, David Mourão Ferreira, Dom Dinis, Eugénio de Andrade, Florbela Espanca, Fernando Pessoa, José Régio, José Paulo Sodré, Luís Vaz de Camões, Mário Cesariny, Mendes de Carvalho, Natércia Freire e Paula 4Cês, no Teatro da Trindade, de quarta a sábado, às 19 horas.

Parque de Jogos 1.0 de Maio 5 de março

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Problema n.0 1 Prencha a grelha com os algarismos de 1 a 9 sem que nenhum deles se repita em cada linha, coluna ou quadrado.

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Baile de máscaras com música ao vivo no Hotel Inatel Luso. A promoção de Carnaval inclui alojamento gratuito para crianças até aos 12 anos. Mais informações: Tel. 231 930 358.

PORTO

Até 28 de fevereiro

“Eureca”, exposição coletiva de pintura, na rua do Bonjardim, 501, de segunda a sexta-feira, das 9h00 às 18h00.

1-RESPOSTA; MI. 2-EXAME; ALVOS. 3-CEM; SP; MEIA. 4-EMBUTIDAS; A. 5-IPANEMA; TUC. 6-TL; T; P; RIF. 7-UO; ASILADAS. 8-ASTRÓNOMO; E. 9-R; RABECA; SN. 10-IBIS; LADRAS. 11-OTO; CASARIO.

Sudoku POR Jorge Barata dos Santos 9

Teatro da Trindade Até 25 de fevereiro

25 e 27 de fevereiro

Soluções:

verticais: 1-Fórmula. 2-Modelos; Térbio (s.q. invertido). 3-Dança popular brasileira; Grupo ou conjunto de três

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LISBOA

LUSO

VILA NOVA DE CERVEIRA Até 23 de fevereiro

O Inatel Cerveira Hotel oferece 20% de desconto para estadias de duas a três noites, 25% a partir de quatro noites. A promoção inclui o alojamento grátis das crianças até aos 12 anos, partilhando o quarto com os pais. Sujeito à disponibilidade existente. Informações e reservas: Tel. 251 002 080.



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