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N.º 29 | Novembro 2015
Jardim dos títulos // Alice Vieira
Entrevista // Sónia Reis
“Uma estátua baseada na ‘Alice’…”
“A violência nunca é resposta”
Yoga para todas as idades
Turismo e Voluntariado
Abrir novos caminhos em São Tomé e Príncipe
Inatel assina Código Mundial de Ética do Turismo
Novas modalidades no Desporto em Setúbal
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TL Novembro 2015 // FUNDAÇÃO INATEL // 3 // SUMÁRIO
4 Notícias 8 Entrevista // Sónia Reis
// EDITORIAL
INATEL, pelo Turismo Responsável e Sustentável para Todos
10 “O Chiado e os seus Teatros”
11 Novo Gabinete de Avaliação Física no 1.º de Maio
12 Reportagem // Turismo e Voluntariado em São Tomé
14/15 Tema de capa Yoga para todas as idades
16 A viagem da minha vida Pedro Lima
18 Mesa partilhada com… Chef Duarte Madeira
19 Jardim dos títulos Alice Vieira
20 Os Contos do Zambujal 21Culturando
A
realização em Portugal do Fórum Europeu 2015 da Organização Internacional do Turismo Social, no mês de outubro, conferiu uma relevante marca internacionalista às comemorações dos 80 anos da Fundação INATEL que decorrem em 2015. A partir do conceito genético de Turismo Social, de que a INATEL comunga desde os tempos da adesão da FNAT à OITS, o Fórum trabalhou, como neste TL damos nota, tendo em vista o grande desígnio do Turismo para Todos, sustentado em dois pilares fundamentais: o direito universal à fruição de experiências turísticas, independentemente da condição económica e social de cada um; e o respeito pela diversidade dos interesses de cada pessoa, construindo propostas turísticas diferenciadas com preocupação humanista de desenvolvimento pessoal e de inclusão social. O tema da inovação nas diferentes áreas do turismo social, com especial atenção à Responsabilidade Social das Organizações, às Novas Tecnologias e à Inovação em programas e produtos turísticos, como não podia deixar de ser. Pela nossa parte, pudemos apresentar neste
Fórum alguns dos nossos projetos mais inovadores: o Portal PortuGo – que vai tornar acessível a toda a gente a oferta de turismo responsável e sustentável existente em Portugal; o Projeto Refood com o qual assumimos nos nossos hotéis a responsabilidade social na batalha contra o desperdício alimentar – em 2015 vamos doar 10.600 refeições, evitar 4 toneladas e meia de resíduos e reduzir a pegada carbónica em 18 toneladas de CO2; e o programa de integração AYLAN, em que procuramos integrar refugiados de guerra para que estes tenham novas oportunidades de vida em liberdade e segurança, com novas ferramentas para se tornarem uma mais-valia para a comunidade. Estamos há anos a trabalhar no Turismo Sustentável e Responsável e, por isso, foi com toda a naturalidade que subscrevi, em nome da Fundação INATEL, o Código Mundial de Ética no Turismo da Organização Mundial do Turismo, à qual também pertencemos. I
Presidente da Fundação INATEL
22 Em cena no Trindade-Inatel // TOME NOTA
23 Arquitetura dos Tempos
Aldeia dos Sonhos
cultural com a região do
Povo de São Miguel do
Alentejo”. A visita ao Porto,
Pinheiro ganha viagem
de acordo com os
ao Porto e ao Minho
argumentos apresentados
Livres
na candidatura, é justificada A escolha, pelo júri, de São
pela “grandiosidade e
24 Língua Nossa// Tempo
Miguel do Pinheiro
imponência da segunda
Digital
(concelho de Mértola),
maior cidade do país, pelos
como a nova Aldeia dos
seus monumentos e
25 Ecrãs: novos filmes
Sonhos da Fundação Inatel,
contacto com o meio
vai permitir aos 87 habitantes
meio rural do interior do país,
urbano”.
26 Motor// Palavras Cruzadas//
concretizar o desejo de conhecer
acalentam essa vontade por ser
A Aldeia dos Sonhos – recorde-
Sugestões
a região norte do país, em
“a região com maior distância
se – é um programa dirigido aos
especial o Minho, e o Porto.
geográfica entre o sonho e a
habitantes de aldeias ou lugares
Estas pessoas, maioritariamente
aldeia de São Miguel” e por ter o
em Portugal com 100 ou menos
idosas, a viverem num isolado
“maior contraste paisagístico e
residentes permanentes.
Jornal Mensal e-mail: tl@inatel.pt | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Fernando Ribeiro Mendes Vice-Presidente: José Manuel Soares; Vogais: Jacinta Oliveira e Álvaro Carneiro Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Diretor: Fernando Ribeiro Mendes Coordenação editorial: Teresa Joel Logótipo:Fernanda Soares Design: José Souto Fotografia: José Frade, Isabel Santiago Henriques (colaboradora) Redatora principal: Sílvia Júlio Redação: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169062 LISBOA, Telef. 210027000 Colaboradores: Carlos Blanco, Ernesto Martins, Eugénio Alves, Gil Montalverne, João Cachado, José Baptista de Sousa, Joaquim Diabinho, José Lattas, Mário Zambujal, Sofia Tomaz Publicidade: Comunicação e Marketing/Vanda Gaspar Tel. 210072392; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA., Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Queluz de Baixo, 2730-053 Barcarena. Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade na D.G.C.S. nº 114484 Preço: 1,00 euro Tiragem deste número: 86.657 exemplares
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4 // NOTÍCIAS // TL Novembro 2015
// COLUNA DO PROVEDOR
“Amor à Primeira Tarte” Clara Azevedo
C Manuel Camacho provedor.inatel@inatel.pt
A
pós um ano de atividade, a Academia INATEL provou com os seus resultados ser uma interessante e motivante experiência – e continua a evoluir em todas as suas vertentes. Desde a formação fundamentalmente direcionada para o Turismo, Hotelaria e Teatro, desenvolvida no espaço natural da Fundação, até ao vasto leque de atividades em outras áreas, a Academia INATEL está a promover um meritório trabalho junto de jovens e menos jovens. Apesar de ser possível e desejável que os formandos adquiram experiência no interior da Fundação, a sua certificação habilita-os a exercerem a respetiva atividade em qualquer parte, dando um forte contributo para o tão necessário combate ao desemprego. A Sala de Estudo e as Explicações são mais uma forma encontrada para motivar os alunos nas suas tarefas do dia a dia, ajudando a fomentar o sucesso escolar. As Festas de Aniversário, bem como outro tipo de festas com ou sem animação e reuniões diversas, fazem também parte da ação alargada da Academia. Chamo por isso a Vossa atenção para a oferta de todas as atividades da Academia, porque é sem dúvida uma aposta ganha. É bom ver como aos 80 anos a Fundação INATEL diversifica ainda mais a sua oferta, abrangendo, também, a tão importante área da formação e da educação. E, como sempre, ao serviço da comunidade. I
50
na Anos EL INAT
om texto e encenação de Claudio Hochman, letras e músicas de Clorinda Gatti, e interpretado por José Lobo e Soraia Tavares, “Amor à Primeira Tarte” é um delírio poético-musical, à volta do amor, inserido num ciclo de espetáculos de teatro musical de pequeno formato, que serão apresentados nas unidades hoteleiras de Inatel Caparica, dias 13 e 14 e Inatel Oeiras, 20, 21, 27 e 28 de novembro, e também no Inatel Foz do Arelho Hotel, dias 4 e 5 de dezembro. A peça fala-nos de uma mulher que entra num bar com a intenção de lanchar e encontra um empregado muito especial. A relação vai crescendo entre textos humorísticos-reflexivos e canções com músicas inspiradas em ritmos latinoamericanos. “Escrevi este texto – conta o
encenador – em 2008, depois duma visita a Buenos Aires para festejar 25 anos de teatro. Encontrei-me com um grupo de atores com quem tinha trabalhado há muitos anos. Aí nasceu a vontade de escre-
ver uma peça para eles. Clori Gatti, cantora de tangos, fez as músicas. Os atores continuam a fazer o espetáculo nos bares da capital da Argentina e já passaram sete anos!”. I
Kantina Inatel – Chaminés do Palácio
Gastronomia e tradição
A
nova ementa da Kantina Inatel é composta por pratos tradicionais de diversas regiões do país, nomeadamente, de Entre Douro e Minho (Bacalhau lascado, com envolto em legumes e batata, gratinado com broa de milho), Ribatejo (Trouxa-de-ovos), Estremadura (Sopa de marisco no pão), Alentejo (Encharcada), Algarve (Carapaus alimados) e Madeira (Carne de vinhos e alhos). De segunda a sábado, entre as 12h e as 22h, é possível sentir os sabores de cada região que representam a gastronomia tradicional portuguesa, num espaço emblemático de Lisboa – Palácio da Independência, Largo de S. Domingos. Reservas: 213420391/ 931616173. I
Completam, no mês de novembro, 50 anos de ligação à Fundação INATEL os associados: Armando Pedro Paiva, de Seia; António Joaquim Daniel, da Moita; Eugénio Ramos Ventura, de Tomar; António Ferreira Gomes, do Porto.
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TL Novembro 2015 // NOTÍCIAS // 5
App o Tempe Livr
l.pt .inate polivre m e /t :/ http
Veja o vídeo e a galeria de imagens do Fórum Europeu de Turismo para Todos, que decorreu entre 21 e 23 de outubro, em Albufeira. Leia também a reportagem na íntegra da primeira viagem Turismo e Voluntariado em São Tomé e Príncipe. Através do seu tablet ou smartphone, acompanhe a versão on line do TL e aceda a outras informações de turismo, lazer, cultura e desporto para toda a família.
Conferência sobre Turismo acessível e inclusivo em Évora
‘T
urismo acessível e inclusivo’ é o tema da conferência que se realiza a 17 de novembro, entre as 9h e as 18h, no Palácio do Barrocal (Inatel Évora), inserida no âmbito das comemorações do 80.º aniversário da Fundação Inatel. A Fundação, representada pelo vice-presidente, José Manuel da Costa Soares, é a anfitriã desta iniciativa, que conta com a presença do presidente da autarquia, Carlos Pinto de Sá, Entidade Regional de Turismo do Alentejo, António Ceia da Silva, Direção Regional da Cultura do Alentejo, Ana Cristina Pais, Turismo de Portugal, Helena Pereira Ribeiro e Maria José Coelho, Universidade de Évora, Maria Noémi Marujo, Escola Superior de Educação de Coimbra,
Eugénia Lima Deville, entre outros. A Inatel apresentará temas da sua área de atuação, sobre o turismo acessível e inclusivo no contexto da Hotelaria, Inovação social, e formação profissional na Academia. Durante a conferência serão
ainda apresentados casos de boas práticas, nomeadamente, pela Associação Salvador e Associação Terras Dentro. Para mais informações: tel. 266 730 520/ email: inatel.evora@inatel.pt. I
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6 // FUNDAÇÃO INATEL // TL Novembro 2015
Fórum Europeu de Turismo para Todos
Inatel assina Código Mundial de Ética do Turismo A Fundação Inatel, como entidade de referência nacional na área do Turismo para Todos, assinou, em conjunto com nove organizações internacionais, o Código de Ética da Organização Mundial do Turismo (OMT)
A
assinatura teve lugar no âmbito do Fórum Europeu de Turismo para Todos, que se realizou de 21 a 23 de outubro em Albufeira, e que contou com a presença de Márcio Favilla Luca de Paula, diretor executivo da OMT, Jean Marc Mignon, presidente da OITS (Organização Internacional de Turismo Social), e de Fernando Ribeiro Mendes, presidente da Fundação Inatel.
// Assinatura pela Ética no Turismo • Respeito pela diversidade das
• Rejeição ativa de qualquer forma
• Privilegiar a criação de emprego
crenças religiosas, filosóficas e
de exploração do ser humano.
direto ou indireto local e regional,
morais dos turistas e da
• Salvaguarda do ambiente e dos
em caso de iguais habilitações,
comunidade.
recursos naturais, defendendo,
dando prioridade à mão de obra
• Respeito pelas leis, usos,
nomeadamente, a preservação da
local.
costumes e tradições da região
água e da energia.
• Assegurar a transparência nas
onde estamos inseridos.
• Respeito pelo património natural
relações comerciais com
• Respeito pelos turistas que nos
constituído pelos ecossistemas e a
fornecedores e turistas.
visitam, os seus modos de vida,
biodiversidade, preservando a
• Assegurar os direitos
gostos e expectativas.
fauna e flora locais.
fundamentais dos trabalhadores,
• Respeito pela igualdade entre
• Respeito pelo património artístico,
nomeadamente o direito a um
homens e mulheres, promovendo a
arqueológico, cultural e religioso.
salário digno, a uma formação
inclusão e os direitos dos grupos
• Incentivo às produções culturais e
ajustada, inicial e contínua; a uma
mais vulneráveis, nomeadamente
artesanais tradicionais, e não
proteção social adequada e a uma
crianças, idosos, deficientes e
procurando a padronização e o
precariedade limitada ao máximo
minorias étnicas.
empobrecimento cultural.
possível.
Para além da fundação, o código foi subscrito pela Joie et Vacances (Bélgica), Federazione Italiana di Turismo Sociale (Itália), Pasar (Bélgica), Family Holiday Association (Reino Unido), Russian International Academy for Tourism (Rússia), SESC (Brasil), Conseil Québécois du Loisir (Canadá), UNAT (França) e Hungarian National Foundation for Recreation (Hungria). Na qualidade de anfitrião deste Fórum internacional, realizado por ocasião da celebração dos 80 anos da Inatel, Fernando Ribeiro Mendes sublinhou, na sua intervenção de boas vindas aos participantes, a longa experiência da Fundação que “há muito está a trabalhar no turismo responsável e sustentável, uma componente essencial do Turismo para Todos”. “Temos feito inúmeras obras”, lembrou o presidente da Inatel, “nos nossos hotéis para melhorarmos a eficiência energética e as acessibilidades para os que têm deficiências motoras. Criámos projetos na nossa área social para integrar desempregados no mercado laboral, e um passaporte para os nossos turistas com as boas práticas do Turista Responsável, entre outros projetos”. Ribeiro Mendes anunciou, ainda, que está a ser criado um gabinete de sustentabilidade para observar estes aspetos de forma integrada e global. Os pilares do Turismo para Todos assentam, essencialmente, na promoção do acesso ao turismo a todos os cidadãos, incluindo jovens, famílias, seniores e pessoas com necessidades especiais, no respeito pelo património natural e cultural, e no estímulo a um turismo sustentável em benefício das populações locais e do desenvolvimento pessoal. I
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8 // ENTREVISTA // TL Novembro 2015
Sónia Reis “A violência nunca é resposta” A 25 de novembro celebra-se o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres. A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), que está a celebrar 25 anos, assinala a efeméride com diferentes iniciativas em todo o país, alertando “para a necessidade de não se tolerar qualquer forma de violência exercida contra as mulheres, em particular a violência doméstica”. O TL falou sobre prevenção da violência com Sónia Reis, gestora da Linha de Apoio à Vitima (116 006) aber é poder. “A pessoa quando está mais informada, fica menos vulnerável.” Palavras de Sónia Reis, também psicóloga criminal e do comportamento desviante, que não se cansa de repetir a mensagem de que “a violência – física e psicológica – não poderá ser tolerada de forma alguma”. O medo das vítimas chega a ser paralisante. Mas a informação é uma aliada contra o fenómeno da violência doméstica que abrange vítimas de todas as condições e estratos sociais e económicos. A data de 25 de novembro alerta a sociedade para os vários casos de violência contra as mulheres. Portugal está sensibilizado para eliminar este flagelo? As pessoas estão cada vez mais sensibilizadas e alertadas para este tipo de problemas. Há cada vez mais informação. Se estamos preparados para combater? Ainda há muito trabalho a fazer, quer da sociedade civil quer do próprio sistema. Acredito que estamos num caminho mais à frente do que estávamos há uns anos. Já houve evolução mas ainda há muito para fazer. É isso que a APAV tem tentado ao longo destes 25 anos de existência.
S
Que caminho ainda falta percorrer? Falta que todos tenham consciência de que isto é um problema da sociedade. Todos temos um papel a desempenhar nestas situações. Que não viremos a cara para o lado como se não nos dissesse respeito, ou porque não conhecemos ninguém que esteja a passar por isso ou porque a pessoa que conhecemos não é da nossa família. É um problema de todos nós. É um crime público. Na dúvida, há sempre um contacto que pode ser feito para se perguntar como é que se deve agir nessa situação para se proteger aquela vítima. Que respostas concretas faltam para enfrentar o fenómeno da violência? Que se tenha consciência de que é um crime bastante grave, que pode ter consequências trágicas e que há possibilidade de prevenir algumas dessas situações com medidas preventivas, penas que façam com que aquele agressor não volte a cometer o mesmo tipo de crime. É o que falta fazer. A nossa lei é muito boa. É preciso saber aplicá-la cada vez melhor, pensando sempre numa perspetiva de prevenção, quer em
relação àquela vítima quer com outras. É gestora da Linha de Apoio à Vitima. As chamadas têm vindo a aumentar? Esta é uma linha telefónica de âmbito nacional e o número de chamadas tem vindo a aumentar. Ao longo destes 25 anos da APAV, os processos são cada vez mais complexos. O trabalho que é feito nos gabinetes e na Linha de Apoio à Vítima vai mais além do que no início. Cada processo são vários atendimentos. Temos diferentes tipos de apoio: jurídico, psicológico, social… Trabalhamos em rede com outras entidades. As respostas são cada vez mais profícuas para as vítimas. Qual o tipo de queixas mais recebidas? As situações que chegam à nossa linha, maioritariamente, são de violência doméstica. Também temos situações de bullying, em que os pais nos pedem ajuda para
situações que se estão a passar com os filhos. Ainda se surpreende com todos os casos de que tem conhecimento? Já trabalho nesta área há muitos anos e já ouvi muitos relatos ligados ao crime de violência doméstica. Todos me surpreendem. Porque todos representam um crime contra as pessoas. Apesar destes anos todos, ainda me surpreendo, porque é suposto evoluirmos como sociedade. Não basta a lei evoluir, as pessoas também têm de evoluir… Tento sempre olhar para cada situação como sendo única, fazendo o que é possível da nossa parte. Há situações inacreditáveis do ponto de vista físico que ainda se passam no século XXI. A violência psicológica, que está sempre presente na violência física, consegue reduzir uma pessoa a quase nada. Para além das questões legais, a APAV tenta
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TL Novembro 2015 // ENTREVISTA // 9
DR
“O comportamento dos pais é fundamental. As crianças estão constantemente a aprender pela observação. O exemplo tem de começar em casa” recuperar esta pessoa. O horror do medo leva a que ela deixe de ter uma vida normal. Deixa de ter autoestima, vontade de viver... O nosso trabalho tem de ser feito com cada situação que é única – não é mais uma. Quais os fatores de risco para ocorrer violência? Há vários fatores, quer do lado da vítima quer do lado do agressor. A vítima tem muitas vezes fraca autoestima, poucos recursos e está isolada pelo próprio agressor, o que aumenta o risco da violência. Relativamente ao agressor, a posse de armas e as dependências
associadas potenciam a agressividade. O que tem sido feito pela APAV na prevenção da violência nas escolas? E que dificuldades sentem nesse trabalho? A APAV faz diferentes ações de sensibilização junto das escolas. Este trabalho tem o objetivo de fazer prevenção primária. É difícil trabalharmos com crianças quando a realidade em casa é completamente diferente daquela que queremos transmitir e que é a correta. São barreiras que temos vindo a enfrentar. Desconhecemos que a violência já existe. Daí que seja importante trabalharmos com as crianças cada vez mais cedo, com metodologias aplicadas a essas idades, para que consigamos fazer uma verdadeira prevenção primária. Em famílias ditas normais, embora a normalidade varie em cada estrutura familiar, como se pode prevenir que os filhos levem para a escola comportamentos de violência? Em primeiro lugar, o comportamento dos pais é fundamental. As crianças estão constantemente a aprender pela observação. O exemplo tem de começar em casa. Quando a violência acontece à frente das crianças é difícil que consigam assimilar a mensagem de que a violência não é a resposta. Não é por acaso que atendemos vítimas adultas que nos dizem que era o que acontecia em casa. O que deve ser ensinado às crianças e aos jovens para intervirem, caso assistam a uma cena de violência entre os seus pares? Há que perceber que quando assistirem a cenas de violência, têm de falar. É importante perceberem o que está bem e o que está mal, diferenciarem as duas coisas e, ao mesmo tempo, saberem com quem podem falar. E podem falar com os pais em casa ou com os professores responsáveis por eles nas escolas. Porque a violência nunca é a resposta. I Sílvia Júlio
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10 // PATRIMÓNIO CULTURAL // TL Novembro 2015
Visita-percurso “O Chiado e os seus Teatros”
Uma oficina para escrever a imaginação Para aqueles que ambicionam entrar no
N
o passado dia 3 de outubro teve lugar a visita-percurso “O Chiado e os seus Teatros”, integrada na atividade Ciclo de Visitas Guiadas a Museus promovida pela Direção de Cultura da Fundação Inatel. Em diálogo direto com as Conferências do Trindade, parte do Projeto Comunidade do Teatro da Trindade-Inatel, a visita-percurso teve como inspiração a conferência de outubro denominada “O Chiado e os seus Teatros no tempo da Belle Époque”. Esta teve a orientação de Paula Gomes Magalhães, doutoranda do Centro de Estudos de Teatro e jornalista, também responsável pela conferência de 6 de outubro. Como assinala a sinopse da visita, “a viagem começa no São Luiz Teatro Municipal (antigo D. Amélia e República), segue até ao elegante Teatro da Trindade, relembra o já desaparecido vizinho Teatro do Ginásio (do qual resiste apenas a fachada), prossegue pelo Teatro de São Carlos, lugar de peregrinação obrigatório da Lisboa elegante e termina na Baixa da cidade, no Teatro Nacional D. Maria II, palco que Almeida Garrett projetou para dignificar a arte dramática nacional.” Recebido por um colaborador de cada um dos quatro teatros, o grupo teve a possibilidade de visitar os respetivos espaços e conhecer um pouco mais das suas histó-
mundo da escrita para cinema de ficção de uma forma rápida e eficaz e aprender a colocar por escrito as imagens e histórias que povoam a imaginação, a Inatel organiza a Oficina “Escrever Imagens: introdução à gramática audiovisual” no próximo dia 28 de novembro das 9h30 às 13h30 no Espaço INATEL Mouraria em Lisboa.
rias. Tiveram a oportunidade de visitar os bastidores do Teatro S. Luiz, entrar pela porta dos artistas do Teatro da Trindade, contemplar a magnífica sala do Teatro de S. Carlos, sendo presenteados com música de fundo de um ensaio que decorria no edifício, e pisar o palco do Teatro Nacional D. Maria II. Temas recorrentes abordados foram, por exemplo, a vida social que se sentia nos teatros lisboetas no final do séc. XIX e inícios do séc. XX. Outro assunto recorrente depreendeu-se com os vários incêndios que deflagraram em todos os teatros visitados, exceto o Teatro de S. Carlos. Muitos incêndios foram, historicamente, motivadores de alterações profundas a nível da arquitetura, gestão e reportório dos teatros. No percurso de teatro para teatro, através das movimentadas ruas do Chiado e do Rossio, Paula
Gomes Magalhães chamou a atenção dos participantes para os vestígios de espaços desaparecidos como foi o caso do Teatro do Ginásio, na Rua Nova da Trindade, e do Animatógrafo Chiado Terrasse, que existiu na Rua António Maria Cardoso. Na esquina da Rua Garrett com a Rua Serpa Pinto tomou-se atenção ao ainda existente armazém Paris em Lisboa, fundado em 1888, e que nesse tempo fazia as delícias dos consumidores burgueses ávidos por copiar as modas e o estilo de vida da capital francesa. No final da visita ficou a vontade de voltar aos quatro teatros, e de continuar a explorar a colina do Chiado sob a lente de uma intensa vida social, enraízada na identidade dos diversos teatros e casas de espetáculos tão bem descrita por cronistas e escritores da altura, como é o caso de Eça de Queirós. I
A Oficina será ministrada pela coordenadora pedagógica da Escrever Escrever, Conceição Garcia, entidade que reúne um leque de mais de 40 formadores e consultores, profissionais especializados nas suas áreas de ação e que tem atividade aberta desde 2008. A formadora afirma que “…esta será uma formação com uma forte componente prática, com exercícios orientados para um primeiro contacto com o mundo da narrativa audiovisual”. Esta formação está ao alcance de todos (maiores de 16 anos). Mais informações: Tel. 210 027 148 | email: cultura@inatel.pt
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TL Novembro 2015 // DESPORTO PARA TODOS // 11
MoveWeek 2015 Combater o sedentarismo
Novo Gabinete de Avaliação Física Um novo gabinete adaptado para a realização de alguns testes diagnósticos, no
P
elo segundo ano consecutivo a Fundação Inatel associou-se à campanha europeia NowWeMove e, em especial, ao evento MoveWeek Portugal que se realizou no final de setembro. Com a missão de atingir os mais de 100 milhões de europeus ativos em desporto e atividade física em 2020, a campanha europeia NowWeMove pretende combater e contrariar o crescimento do sedentarismo consciencializando tanto as entidades como os cidadãos europeus da importância de um estilo de vida ativo. O evento MoveWeek é um dos eventos-bandeira desta campanha procurando promover os benefícios da atividade física a todos os cidadãos europeus, bem como dar destaque e visibilidade a esta cam-
Parque de Jogos 1.º Maio, vai permitir identificar o estado de saúde geral dos utentes. Após o diagnóstico cada pessoa será encaminhada para a atividade adequada, com base nos resultados obtidos. Diagnóstico e Avaliação Final Nestas avaliações são realizados diversos testes: anamnese (rastreio de hábitos alimentares,
panha e aos seus objetivos. Em 2014, mais de 1000 cidades europeias, de 38 países, participaram e associaram-se a esta causa. A Inatel esteve, tal como em 2014, associada a esta campanha dinamizando cerca de 20 atividades especialmente dedicadas à
MoveWeek. Com atividades realizadas em quatro capitais de distrito – Évora, Lisboa, Santarém e Vila Real – foram mais de 300 pessoas que se juntaram a esta causa e que participaram em mais uma edição da MoveWeek Portugal. I
atividade física, doenças hereditárias, patologias, cirurgias, lesões), avaliações antropométricas (composição corporal – IMC; % massa gorda, peso, altura, perímetro abdominal) e pressão arterial, entre outros.
INATEL Business Cup 2015/16
Novas modalidades no Desporto em Setúbal
Avaliação Premium Nesta avaliação acrescem os seguintes parâmetros: % massa gorda, % massa
Desde o final do
As modalidades Taekwondo e Stand Up Paddle,
muscular e % massa óssea
passado mês de
integrarão, em parceria com outras entidades, a nova
por segmento corporal
outubro que a Inatel
época desportiva da Inatel no distrito de Setúbal.
individualmente (pernas,
Business Cup está de
O Taekwondo é uma arte marcial muito difundida
braços e tronco), gordura
regresso com uma nova
mundialmente, é um desporto de combate para todas
visceral, nível de hidratação
edição da competição
as idades. Contribui para o aumento da coordenação
(% água), idade metabólica,
de Futebol de 7.
motora e de reflexos – excelente exercício para defesa
dose diária recomendada de
Disputada no Parque de Jogos 1.º Maio, esta nova
pessoal. O Stand Up Paddle é um desporto de origem
calorias, metabolismo em
edição reúne 10 equipas de empresas que, até maio de
havaiana para qualquer pessoa, independentemente da
repouso, avaliação postural
2016, vão disputar duas provas: o Campeonato e a
idade. É de fácil aprendizagem, divertido, ideal para
e avaliação
Taça.
toda a família.
cardiorrespiratória.
A terceira edição desta competição contará com a
Na época 2014/2015, a Inatel teve, no distrito de
participação de sete equipas de CCD, ADCR Policia
Setúbal, 23 equipas a disputar o Campeonato Distrital
Treino Personalizado
Judiciária, Casa do Pessoal da RTP, Clube BBVA
de Futebol de 11, com a participação de cerca de 600
Serviço altamente
Portugal, GDCT da Casa da Moeda, INATEL,
atletas, com passagem à final nacional do Convívio e
especializado e adequado
Metropolitano de Lisboa e Sociedade Portuguesa da
Desportivo de Vale Milhaços e do Centro Cultural e
às características de cada
Autores e três equipas não associadas, Queijos
Desportivo Breijos de Azeitão.
pessoa, para alcançar os
Lactimonte, Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da
Com o início da nova época será dada continuidade à
objetivos mais rapidamente.
Aviação Civil e Ventalaca.
modalidade, assim como ao Yoga e Pilates, atividades
De realçar que esta época irá coroar novos vencedores
bastante procuradas pelos seus efeitos benéficos
Mais informações:
da Inatel Business Cup | Futebol 7, já que, das dez
sobejamente conhecidos.
Tel. 218 453 470
equipas participantes nenhuma deles venceu, até ao
Mais informações: Tel. 265 009 780 | email:
email: pj.1maio@inatel.pt
momento, esta competição.
ag.setubal@inatel.pt
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12 // REPORTAGEM // TL Novembro 2015
Turismo e Voluntariado em São Tomé e Príncipe
Abrir novos caminhos De olhos cheios. De peito aberto. De pessoas. De azuis. De verdes. Imensos. Tudo é intenso. E denso. Emaranhado de árvores que parecem chegar ao céu. Fartura de frutos. Vegetação rica. Conjugações de cores e flores. Os sons da natureza. Os sons do silêncio. Paradoxos. Tudo à volta inquieta. É-se pequeno aqui. Ficase maior ali. Foi o que sentiram as pessoas que integraram o primeiro grupo de Turismo e Voluntariado
N
este pedaço de terra há contrastes que não deixam ninguém indiferente. O país é extraordinariamente belo, e, inversamente, pobre. Mas respira esperança. É neste cenário que o primeiro grupo de Turismo e Voluntariado, uma iniciativa da Fundação Inatel e da Associação Alma Mater Artis (AMA), se entrega a diferentes missões de solidariedade, nas áreas da educação, saúde, empreendedorismo e direitos das mulheres. Manuela Massena, 65 anos, jurista, integra este grupo e vem falar de igualdade de género. De deveres e direitos. Depois de ter sido recebida na comunidade Anselmo Andrade, numa cantina cheia, prometeu às mulheres de todas as idades ali presentes que iria contactar o Centro de Aconselhamento Contra a Violência Doméstica (CACVD), em São Tomé. Sem marcação prévia, nem burocracias. Fala-lhes das mulheres que não têm meios para vir à cidade e não sabem o que fazer em caso de violência doméstica, um problema sério naquela comunidade – e também noutras. Os técnicos re-
portam-lhe as dificuldades sentidas para se deslocarem a todas as roças. “Vou com uma enorme gratidão por me terem recebido. Oxalá o Governo lhes dê os apoios necessários para erradicarem esta desgraça da violência na família”, diz à saída do CACVD. Manuela Massena transmite à comunidade Anselmo Andrade a mensagem principal que trouxe de lá: “Se assistirmos a qualquer cena de violência na família, contra uma criança, mulher ou idoso, qualquer um pode denunciar ligando para o 113 ou 150. A chamada é gratuita. No centro comprometeram-se que até ao final do ano viriam para escutar as preocupações da população. Mas se tiverem dúvidas, telefonem.” Missão cumprida. Por agora. Será que uma ação pontual, como esta que foi realizada no âmbito do projeto Turismo e Voluntariado, pode mudar alguma coisa? “É sempre útil, ainda que seja um abanão pequenino. É fundamental dar continuidade...”, realça. Educar Helena Cabral, 40 anos, analista de crédito, está satisfeita com a missão que desempenhou em São Tomé: “A mensagem que quis passar é que
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À esquerda: a enfermeira Ana Matilde Cabral na roça Bombaim a tratar de feridas. Rapidamente formou-se uma fila para se ouvir falar sobre cuidados de saúde.
À direita: Manuela Massena na comunidade Anselmo Andrade à conversa com mulheres, de todas as gerações, sobre direitos e deveres.
coisa. Como diz o Evangelho, somos servos inúteis.” Silvina Benigno, 62 anos, também docente aposentada, ficou surpreendida com o interesse demonstrado pelos professores que estiveram nas suas sessões de formação: “Vou criar uma conta de facebook para entrar em contacto com eles, e ajudar no que for necessário”, afiança. Empreender Para Eduardo Oliveira, 72 anos, “os próximos grupos que vierem devem vir imbuídos num espírito de tolerância e bem informados daquilo que os espera aqui. Quem faz voluntariado, beneficia mais do que dá. E mais beneficia quem melhor dá.” O que o Eduardo veio dar foram algumas dicas de empreendedorismo e ajudar um jovem car-
“Aqui há futuro…” Cecília Oliveira, 63 anos, considera que esta ação ambiental simbólica “vai dar frutos”. “Verem-nos a recolher lixo é estranho e causa impacto. Esta sensibilização é importante tanto para os naturais como para os que vêm de fora.” Esta professora que veio no grupo acabou por transmitir conhecimentos de Matemática nas escolas por onde passou. Queria dar mais. Muito mais. E concluiu que os professores que encontrou são “muito superiores a nós, porque têm condições de trabalho que não nos passam pela cabeça. Não têm material, não têm internet, não têm fotocopiadora e fazem um trabalho extraordinário. Sabem o que estão a fazer. São uns heróis.” Esta mulher que vem a São Tomé pela segunda vez, tem vontade de regressar a este “país maravilhoso”, onde o melhor que tem são as pessoas: “Aqui há futuro!” Joaquim de Jesus, 60 anos, engenheiro informático, diz ter encontrado “uma geração de vinte e poucos anos que tem muita vontade de progredir”. Confessa ter ficado impressionado com a
atenção e a vontade dos sãotomenses em receber formação, em especial no campo da informática. “Aprendo com eles esta humildade e ânsia de saber.” Partilhar Alice Ligeiro, 60 anos, trabalhou na área da Língua Portuguesa, designadamente na estrutura de textos. Habituada a fazer voluntariado em Portugal, esperava poder dar um contributo em São Tomé que a satisfizesse: “Pensava que tinha resistências suficientes para encarar qualquer situação. Senti-me em choque com o que encontrei. É uma zona paradisíaca, mas há o contraste com a forma como as pessoas vivem em algumas roças que me fez desabar.” Nem toda a gente está preparada para fazer este tipo de voluntariado. Mas que até poderá vir a estar num outro momento. Por sua vez, para Ana Matilde Cabral, 47 anos, esta experiência deu-lhe a certeza de que quer prosseguir aqui a sua área profissional. Entre lágrimas e silêncios, a enfermeira desabafa: “O meu caminho passa por ser voluntária em África. Fiquei surpreendida com a importância que deram àquilo que fui falando. Eu, aqui, fui enfermeira educadora, ajudando as pessoas a perceber que pequenas coisas podem fazer a diferença. Aprendi que ser voluntária não passa só por dar. Quem recebe tem de ter o papel de ser responsável por aquilo que lhes é proposto fazer.” Para os organizadores do projeto, um dos objetivos foi cumprido: “As pessoas vão inquietas. Muitas perceberam que o que fizeram foi muito pouco comparativamente com aquilo que pode ainda ser feito. Mas com pouco fizeram muito”, diz Alexandre Teixeira, da AMA. Elisabete Claro, da Inatel, acrescenta, “a recetividade foi muito boa e pedem-nos para voltar. Este trabalho deixa consequências positivas.” I
Sílvia Júlio (texto e fotos)
M
há muitas pessoas que dizem não ter jeito para o desenho, mas tudo se aprende e aperfeiçoa. Através das figuras geométricas, por exemplo, é possível desenhar coisas e pessoas.” Em algumas formações notou que os alunos – professores e educadores de infância – diziam não conseguir desenhar e nem sequer experimentavam fazer o traço. “Havia medo de fazer mal. Mas era isso mesmo que eu queria contrariar para se desenvolver a criatividade, o que se aplica a todas as áreas da nossa vida.” No fim, o balanço é positivo, faz notar com um sorriso sereno. Marie France Tisserant, 72 anos, entendeu como se tenta ali fazer algumas omeletes sem ovos. “Vi como é que as pessoas se desenrascam para tentar educar as crianças. Com muito pouco material, apenas com a imaginação. Acredito que seja muito difícil. Marcou-me bastante.” Esta docente aposentada considera que o mais necessário em S. Tomé é, tal como em qualquer outro país do mundo, a educação. Esta experiência de contacto com outros professores foi para Marie “muito enriquecedora”, embora lhe saiba a pouco: “Não me parece que tenha feito grande
pinteiro a pensar numa prensa artesanal para o esmagamento de latas de refrigerantes. Ali não há indústria para transformação do lixo. “Esta prensa simples pode ser usada nas escolas pelos alunos, com auxílio dos professores, para posterior recuperação dos resíduos”, conta. Outro dos aspetos da viagem foi a consciência ambiental, também dos turistas. Em Anambó, no lugar de desembarque dos portugueses na ilha, em 1470, as nove pessoas do grupo de Turismo e Voluntariado recolheram lixo. De saco na mão, apanharam latas, cartões e até fraldas. Quando chegaram ao Padrão dos Descobrimentos, cheios de lixo, cruzaram-se com uma equipa de reportagem da Televisão São-Tomense (TVS) que entrevistava uma ministra de Cabo Verde em visita. A iniciativa da AMA e Inatel não passou indiferente ao olhar dos jornalistas que quiseram saber o que ali se passava.
Leia esta reportagem na íntegra em:
http://tempolivre.inatel.pt
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14 // TEMA DE CAPA // TL Novembro 2015
Yoga para todas as ida José Frade
S
eniores, pessoas com mobilidade reduzida, grávidas e crianças podem praticar Yoga. Muitas vezes, esta prática é considerada difícil e apenas as pessoas em excelentes condições físicas parecem ser capazes de fazer certas posturas. Joana Oliveira, presidente da Federação Portuguesa de Yoga, dissipa as dúvidas: “Qualquer pessoa, de qualquer idade pode praticar, no entanto, há que adequar a prática às necessidades e especificidades de cada uma. É por isto que a formação de professores de Yoga é tão importante.” Há professores especializados em cada um dos grupos. “É uma mais-valia e uma segurança que as aulas sejam conduzidas por professores com formação específica. Só um professor sensibilizado, e que tenha estudado esses casos particulares, está apto a corresponder de forma positiva às necessidades individuais”, acrescenta. A partir daqui, não há nenhum limite de idade para o Yoga. A rainha-mãe da Bélgica, por exemplo, começou a praticar com 84 anos. E aprendeu a fazer Sirsasana, a famosa postura invertida sobre a cabeça. “A idade não é um problema para a prática do Yoga se se souber adaptar cada postura à constituição, capacidades e circunstâncias de cada pessoa. Quem pratica Yoga sabe utilizar a energia do corpo e da mente de acordo com cada
“A idade não é um problema para a prática do Yoga se se souber adaptar cada postura à constituição, capacidades e circunstâncias de cada pessoa” Elsa Faria Professora de Iyengar Yoga
situação. Essa é a beleza do Yoga!”, faz notar Elsa Faria, professora de Iyengar Yoga. José Manuel Faria e Santos, de 87 anos, é um exemplo de vitalidade. Na aula da professora Elsa, está alguns minutos de cabeça para baixo a fazer um dos exercícios mais emblemáticos do yoga: Sirsasana. O octogenário pratica a modalidade há mais de vinte anos, porque notou que a mulher tinha outra “postura física e mental” quando se iniciou no Yoga. José Manuel, que foi engenheiro químico, encontra aqui uma ciência que lhe dá mais sentido para a vida: “O cuidado que se põe na respiração é importantíssimo para que o resto do corpo funcione perfeitamente. Ajuda ao equilíbrio mental, e às articulações.” Perguntamos-lhe, em jeito de provocação, se não lhe é difícil estar a fazer uma invertida. Respondenos bem-humorado: “Quando era miúdo não conseguia estar de cabeça para baixo. Agora faço-o durante três minutos e sinto-me bem. E quando saio daqui, tenho muita energia.” A Sirsasana tem benefícios para o sistema respiratório, circulatório e linfático. Palavras de um octogenário que diz estar “perfeitamente bem”. Sónia Silva, 35 anos, pratica Yoga há mais de dois anos. Tem escoliose congénita e conta que já estava a perder mobilidade, sentia dores fortes diárias e dormência: “Melhorei imenso com o Yoga. Tinha uma escoliose de quase 50 graus, tinha uma bolsa enorme e agora estou mais direita, respiro e mexo-me melhor. Tenho menos dormência e mais resistência. Já consigo fazer uma vida mais normal. Diminuiu o nível da dor, o que é bastante bom para a minha qualidade de vida. Fui à procura de alternativas e ouvi dizer que o yoga fazia bem, vim experimentar, e
José Manuel, 87 anos, na postura Sirsasana, com o apoio da professora Elsa Faria
Inatel promove a prática do Y O Desporto Laboral, uma
bom. Fico tão zen que naquela
iniciativa da Fundação Inatel,
tarde tudo corre às mil
está acessível a todos os
maravilhas.”
interessados em praticar Yoga
“Tem-me feito imenso bem –
no local de trabalho.
sublinha – obriga-me a esticar o
É o caso de Telma Mendes, 41
corpo, o que para a minha
anos, colaboradora da REN, que
situação, na cadeira de rodas, é
pratica Yoga há cerca de um
bastante benéfico. Ter
ano, durante a hora de almoço.
mobilidade reduzida não me
“Quando a própria empresa nos
impede de fazer nada. A cabeça
dá hipótese de fazer Yoga,
é que nos impede, por vezes, de
dentro das instalações, é muito
fazer algumas coisas – não são
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TL Novembro 2015 // TEMA DE CAPA // 15
ades
A prática do Yoga contribui para diminuir o stresse, desenvolver a concentração, flexibilidade, bem-estar e vitalidade Por Sílvia Júlio e Teresa Joel (texto) DR
Professora Joana Oliveira orienta uma aula ao ar livre
Yoga as condições físicas. Reaprender a respirar tem sido também muito útil. Os exercícios ajudam a fazer introspeção. O Yoga tem até contribuído para tomar decisões na minha vida. Tenho pena de não ter começado a praticar há dez anos.” As empresas interessadas neste projeto podem obter mais informações: tel. 210 027 133/ email: desporto@inatel.pt
resultou. Houve uma evolução muito grande em pouco tempo.” A artesã faz Yoga duas vezes por semana e diz que sai dali com a energia reposta: “Há pessoas que ainda acham que o Yoga é uma coisa esquisita, mas é uma prática física que também nos exercita mentalmente.” A partir do momento em que aceitou o seu problema, encontrou o caminho que a levou a sentir maior autoestima e a querer experimentar outras coisas. “Aqui temos de interiorizar os exercícios e perceber as posturas para as fazermos corretamente.” As posturas têm nomes estranhos, que ela não consegue dizer, mas isso pouco lhe importa. Também Maria Visani, 35 anos, grávida de três meses, não sabe os nomes dos exercícios, porém, acha graça à sonoridade dos nomes das posturas. Esta brasileira é tradutora de profissão, mas apenas lhe interessa a tradução dos exercícios nos benefícios no corpo e na mente. “Sinto-me muito bem depois destas aulas. Sinto-me mais aberta, respiro melhor e mais bem-disposta. Tem sido muito bom. Eu já frequentava o ginásio, mas a obstetra disse-me que já não podia fazer os exercícios comuns e sugeriu yoga ou pilates.” União do corpo, mente, coração e espírito Yoga, étimo do sânscrito védico, uma antiga língua indiana, significa juntar, religar. Para quem não está familiarizado com esta prática, importa entender o que se procura unir. Joana Oliveira, da FPY, explica: “Através do Yoga pretende-se a união do corpo com a mente, coração e espírito e, quando isto acontece, a pessoa sente-se completa.” Por sua vez, Elsa Faria, acrescenta que “o Yoga promove a paz interior e abarca a totalidade do ser
humano, por isso tantos ocidentais procuram esta disciplina universal, onde encontram a harmonia, o equilíbrio e a paz interior”. Os médicos ocidentais reconheceram o valor terapêutico do Yoga, uma vez que analisaram os seus benefícios e a sua eficácia, lembra Elsa Faria. O Yoga promove o bem-estar e a saúde, a nível físico, mental, emocional e espiritual. A prática de exercícios físicos combinados com a respiração adequada ajudam a relaxar e a acalmar. “O Yoga assenta na respiração. A cada expiração relaxamos o corpo e libertamos a mente dos problemas, das preocupações. A cada inspiração revitalizamo-nos. Não há nada mais natural e mais simples”, elucida Joana Oliveira. Para muitos, o Yoga ainda é visto como algo esotérico. A professora Elsa Faria desmistifica a ideia: “Tal como a anatomia ou a fisiologia, o Yoga não tem nada de esotérico é uma ciência prática cujo objetivo e interesse é o desenvolvimento humano. O que o Yoga ensina é a disciplinar a mente e a controlála. Mas, como sabemos, é mais difícil controlar a mente do que o corpo, pois a mente é facilmente atraída pelos objetos exteriores.” Há dificuldade em silenciar os pensamentos. “Este silêncio meditativo é muito difícil e implica treino, perseverança e ausência de expectativas”, corrobora a presidente da FPY. Para os que querem experimentar uma aula de Yoga, Joana Oliveira recomenda que se procure um local de prática e um professor certificado. “Deve conversar com o professor e comunicar-lhe alguma especificidade a nível de saúde ou de hábitos de vida. Depois, basta vestir uma roupa confortável, levar um colchão ou uma toalha de praia e entregar-se à experiência.” I
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16 // MEMÓRIAS // TL Novembro 2015
// A VIAGEM DA MINHA VIDA
Pedro Lima “Gosto da maneira de ser dos angolanos” É uma conversa sem guião. Lançamos-lhe algumas deixas para o ator discorrer sobre as memórias da viagem que fez dele o homem que é. É numa varanda do Teatro de Almada, de onde se avista uma nesga do Tejo, que se fala de horizontes que se abriram no início da adolescência em que descobriu um outro mundo diferente do seu. Rumamos até Angola
É
por aqui que começamos um percurso que ainda não conhecemos nem sabemos por onde vamos andar. Não há programas definidos. Partimos à descoberta sem coordenadas. Surpreendemo-nos, espantamo-nos, deslumbramo-nos, tal como se também tivéssemos feito aquela viagem. E partimos com o espírito de aventura, de quem está pronto para absorver o que vê, o que ouve e o que sente, para depois escrever sobre o que os sentidos devolveram ou interpretaram. Pedro Lima olha nos olhos, mas deambula com eles para outro lugar, como se fosse o infinito, quando se recorda de Luanda de outros tempos. Nasceu em Angola, mas veio para Portugal em criança. Teria uns doze, treze anos quando, numas férias de Natal, voltou lá numa viagem que o iria encher de memórias de gratidão. “A ilha de Mussulo, próxima de Luanda, era, naquela altura, praticamente virgem. Era só areia e coqueiros. Tinha umas 10 ou 12 casas sem energia elétrica. Recordome de me perder a caminhar por ali à volta. Na minha cabeça, instalouse a ideia de que a ilha seria de pequena dimensão. Um dia atravessei-a na diagonal. Era manhãzinha e a areia estava fresca. Pusme a caminhar, a caminhar… e percebi que a ilha era mais extensa do que eu imaginava. Resolvi voltar para trás. Entretanto, já passava do meio-dia e a areia estava a escaldar. Lembro-me de ter feito esse percurso e, em cada dez ou doze passos, atirava a toalha para o chão para arrefecer os pés até chegar ao outro
lado da ilha”, conta, olhando para longe ao recordar um episódio que lhe deu novas proporções do espaço. Há muito para lá daquilo que o perímetro do olhar alcança. É com esta consciência que as vistas se alargam. E o mundo interior torna-se espiral. Absorvia tudo o que via com a curiosidade de um menino que tinha a noção clara de que era um privilegiado por estar ali: “Tenho memórias de passear num catamarã desportivo ao longo da ilha de Mussulo até ao morro dos Veados. Cruzávamo-nos com barcos de pescadores que pescavam com linha à mão e tinham os dedos calejados. Eram canoas escavadas
em troncos de árvores, coisas muito primitivas, mas que serviam para o efeito.” Foi naquelas férias que lhe deram a primeira prancha de surf, “não em segunda mão, mas talvez em décima e já muito cansada”. O surf tem grande importância na vida do ator, que já procurou ondas nos Açores, Brasil, Cabo Verde, Indonésia, Maldivas e no Senegal.
Pedro Lima olha nos olhos, mas deambula com eles para outro lugar, como se fosse o infinito, quando se recorda de Luanda de outros tempos José Frade
Mais tarde, voltou a Angola para praticar surf em Cabo Ledo. Outra boa onda que encontrou naquela viagem, ainda menino, foram as pessoas: “Um amigo mais velho levou-me a casas de pessoas onde havia festas, comezainas, convívios. Tinha o fascínio de conhecer pessoas novas, de uma civilização diferente, com outra maneira de estar na vida. Gosto da maneira de ser dos angolanos, da capacidade que têm de construir do nada um acontecimento de festa." Do alto dos seus 12 ou 13 anos, apreendeu outra maneira de estar na vida. Não estranhou nada do que viu. E era tudo tão diferente daquilo que estava habituado. Mas queria receber as lições extraídas da viagem. Lembra-se de um amigo que levou um cesto de bolas de ténis para um musseque (bairro de lata) e distribuiu-as pelas crianças. Marcou-o o entusiamo e o sorriso delas ao receberem-nas: “Foi o centro de alegria daqueles miúdos. As crianças já estavam habituadas a fazer os seus brinquedos a partir de arames e latas de refrigerantes e cervejas, usando a imaginação para construírem os seus próprios jogos. Aprendi muito novo o que era uma realidade diametralmente oposta àquela a que eu estava habituado na Europa. Passamos a relativizar tudo e ganha-se muito mundo. Esta viagem teve uma grande influência na pessoa que me tornei. Percebi que era possível viver relativamente em paz, com um sorriso e com manifestações exteriores de felicidade não tendo praticamente nada.” I Sílvia Júlio
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18 // SABORES // TL Novembro 2015
// MESA PARTILHADA COM...
Duarte Madeira Chef responsável pelo Catering lnatel, influenciado pela mão materna, decidiu recriar um prato
Receita // Açorda de Bacalhau à Alentejana Para 4 pessoas: 4 Lombos de bacalhau (150gr cada); 4 Fatias de pão alentejano (5 mm de espessura aprox.); 4 Ovos; 4ml de Vinagre; 8cl de
“F
ilho de pais alentejanos, cedo começou em mim a influência gastronómica daquela região, apesar da dificuldade em encontrar alguns dos ingredientes em Macau, onde passei grande parte da minha infância e adolescência. Na cozinha da minha mãe sempre falou mais forte a comida com pão, azeite, alho e coentros. Hábitos e paladares que ajudaram a moldar a minha personalidade, apesar de todas as outras influências, posteriormente adquiridas, académicas e profissionais, e que me inspiraram na recriação de um
Azeite; Coentros q.b.; Alho q.b. Esmague num almofariz, os Demolhe bem o bacalhau e
dos pratos mais conhecidos da gastronomia do Alentejo. Apresento um prato de execução simples e ao alcance de qualquer pessoa. Decidi estilizá-lo, introduzindo-lhe alguns dos meus conceitos, mas mantendo todos os sabores originais”. I
coentros, o alho e o sal, até
coza-o em água suficiente para
ficarem em pasta. Escalfe o ovo
o caldo, até 2 minutos depois de
em água com o vinagre.
levantar fervura. Retire e reserve
Coloque o bacalhau num prato
a água. Com o rolo da massa
fundo, a pasta de alho e
estique as fatias de pão, sem
coentros, a água de cozer o
côdea, até ficarem com 2 mm de
bacalhau, bem quente, a tosta
espessura. Toste o pão no forno,
em cima do bacalhau e o ovo de
colocando cada fatia enrolada
forma a segurar a tosta. Terá
num recipiente (tigela), para que
assim um prato rico em cores e
fique com a forma visível na foto.
sabores.
Catering lnatel – www.inatel.pt – Tel. 211 155 495/ email: catering@inatel.pt
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TL Novembro 2015 // AUTORES // 19
// JARDIM DOS TÍTULOS
Alice Vieira “Uma estátua baseada na ‘Alice’…” ovembro traz as cores outonais aos jardins. O vento sopra nos ramos das árvores que se agitam. Múltiplos tons de folhas soltas caem num rumor suave, junto dos nossos passos. Percorremos alguns metros, com livros, memórias e imaginação. Passeamos no Central Park, em Nova Iorque, onde vemos a estátua de “Alice, o Chapeleiro Maluco e o Coelho Branco”, do escultor espanhol José de Creeft, mas não é lá que estamos. Nestas páginas que se descobrem, sem proferir “Abre-te, Sésamo”, encontramos Alice Vieira, jornalista e escritora, com mais de 80 livros publicados. A autora iniciou a sua carreira de jornalista aos 18 anos, no Diário de Lisboa. Em 1979 publicou o seu primeiro romance juvenil – Rosa, Minha Irmã Rosa – que nesse ano ganhou o Prémio de Literatura do Ano Internacional da Criança. Desde então tem publicado regularmente romances juvenis, poesia, teatro, recolhas de histórias tradicionais, livros infantis. Desloca-se frequentemente a escolas e bibliotecas de todo o país, e também de países onde os seus livros estão traduzidos, entre outros, Espanha, Alemanha, Holanda, Itália, Suécia, Sérvia, Bulgária.
José Frade
N
Tem um jardim em Lisboa? O jardim Amália Rodrigues. Antes de ele existir, o Parque Eduardo VII, de que ele é, afinal, o prolongamento… Moro nesta freguesia há 71 anos. Imagine que está rodeada por muitas crianças. Que palavra lhes transmitiria?
Palavras essenciais que devem viver no coração de qualquer criança: alegria, imaginação, bondade, afecto. E sobretudo aquelas expressões mágicas que os nossos dias parece terem abolido do seu vocabulário: com licença, se faz favor, obrigada e desculpe. Essas palavras seriam semeadas nos
corações das árvores e das crianças. Que ideias poderiam florir? A ideia da solidariedade e da aceitação normal (e não imposta) do outro. O jardim teria uma alameda dedicada aos poetas… D. Dinis. Camões. Camilo Pessanha. Cesário Verde, maior entre os maiores. Fernando Pessoa. Herberto Helder. E aqueles a quem eu chamo a “minha santíssima trindade”: Ruy Belo, Tolentino Mendonça e Daniel Faria. E muitos, muitos outros… Se escolhesse uma estátua? Uma estátua baseada na “Alice”, do Lewis Carroll. Porque servia para crianças e adultos, e é a vitória da alegria, da imaginação e da inteligência sobre o cinzentismo e os tecnocratas que abundam por aí. Tal como um dos seus títulos, continuam a existir [As] árvores que ninguém separa? Felizmente. E ai de nós quando isso deixar de acontecer. Deixaria livros nos ramos das árvores para gerarem flores e frutos? As flores e os frutos que os livros geram são a capacidade de tornarem os seus leitores pessoas mais felizes. E nunca sabemos que livro é que vai tocar o coração de quem o lê… I Teresa Joel
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20 // FICÇÕES // TL Novembro 2015 // OS CONTOS DO ZAMBUJAL
Testamento
E
u, Elviriano Luís Pastorim de Sousa, por este meio registo a decisão testamentária, documento com reconhecimento notarial e acompanhado por relatório de junta médica, atestando que me encontro na posse de perfeita lucidez. Pareceu-me conveniente juntar este esclarecimento clínico, porquanto sempre se corre o risco, após a morte, quando já não é possível contrariar argumentos pérfidos, como o de pôr em causa o perfeito juízo de quem bateu as botas batendo em retirada, sempre se corre o risco, dizia, de alguém fintar com malícias a validade do testamento. Tanto mais que todas as pessoas, sobretudo por parte da Herdeira, estarão longe de esperar a decisão irrevogável que tomei. Irrevogável por duas razões: a primeira por me ter ausentado definitivamente da vida terrena quando se proceder à cerimónia de revelar o conteúdo deste testamento; a segunda porque eu e ela, a Herdeira, caprichámos em encontrar uma relação algo tumultuosa, todavia longa e permanente, inicia-
da logo que o humano e real desejo de viver cada vez melhor me fez pisar o caminho de pequenos mas crescentes negócios. Outros, nas mesmas circunstâncias, não terão merecido a firme atenção que a Herdeira me dedicou e bem posso dizer que nos uniu, durante décadas, uma intensa troca de razões. Cedo nos tornamos íntimos. Causará surpresa, admito, mas é em perfeita consciência que identifico a minha herdeira universal. É certo que tivemos as nossas brigas, amuos, discórdias, mas também reconciliações. Confesso, na hora da verdade definitiva, que muito me esforcei para que ela, a Herdeira, me deixasse em paz. Mas ela, a Herdeira, notoriamente enamorada por este seu humilde servidor, seguia-me de perto. Desconfiada como sempre foi, bisbilhotava os meus papéis, sempre à cata da mínima infidelidade que eu, por distracção, pudesse ter cometido. Lá ia descobrindo – e as rosas eram coimas, os beijos juros de mora e os abraços traduziam-se em hipotecas de que fui escapando no penoso
exercício de escorregar dos braços dela. Tudo por junto, eram o sal e a pimenta da nossa relação indestrutível. E as cartas! Quantas cartas recebia, naqueles admiráveis envelopes, que se abrem rasgando as tirinhas laterais! Sofregamente as lia. Um tipo com os pés para a cova atinge o píncaro da sinceridade, a franqueza absoluta, a coragem perante as consequências. Não escondo que ao decifrar aquelas missivas algumas vezes fraquejei e não resisti a tombar em linguagem ordinária, zangado pelo que ela queria de mim. Momentos inesquecíveis. Todavia, essa relação estreita, contínua, plena de surpresas – creio bem que surpresas de
Desconfiada como sempre foi, bisbilhotava os meus papéis, sempre à cata da mínima infidelidade que eu, por distracção, pudesse ter cometido José Frade
um lado e de outro – tornou-se um jogo com o seu quê de sentimental e imparável. Ela é mais teimosa, eu, Elviriano Luís Pastorim de Sousa, se bem que persistente, acabava por mostrar o meu carácter generoso: toma lá. Fechámos agora as nossas contas e se lá no Céu se sentem saudades, terei saudades dela, minha Herdeira, e das suas missivas breves mas expressivas. Dou por certo que o correio não chega lá. Adivinhando o espanto com que será recebida esta decisão, aqui revelo que designo como Herdeira Única a companheira insuperável que desde há muitos anos me dedicou todas as atenções. É ela a Senhora Dona Autoridade Tributária. Não seria justo esquecê-la. Deilhe intenso trabalho, num desafio constante ao seu zelo e sabedoria, e assim, carta para cá, carta para lá, notificações, reclamações, desconfianças e explicações, mais desconfianças quanto às explicações, fomos mantendo este quase romance que só vai chegar ao fim pela minha falta de comparência. Parto lembrando como ela, minha Herdeira Universal, se dedicou ao estudo das operações aritméticas que lhe fui apresentando. Sempre colada a mim, a glutona, a reparar nos meus esquecimentos, de uma verba ou de um dígito, às vezes dois, a emendar lapsos matemáticos – quem é que os não tem? – a chamar-me a atenção para prazos ultrapassados – quem não padece, ocasionalmente, de falhas de memória? Assim, e sem a menor dúvida ou hesitação que declaro Dona Autoridade Tributária a legítima herdeira de todos os meus bens legalmente transmissíveis. Infelizmente, não tenho nada em meu nome. I
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TL Novembro 2015 // HORIZONTES // 21
// CULTURANDO
As Mil e Uma Noites da crise ou os dias intermináveis dos nossos tempos arte de contar histórias que implicam e comprometem o leitor na sua construção, representada por autores como Henry James, Virginia Woolf e William Faulkner, constitui um dos prazeres maiores da chamada literatura moderna. São narrativas que anulam a ordem cronológica, recusam a reprodução naturalista da realidade e, convocando o monólogo, o paradoxo, a dúvida, a memória, colocam o leitor, à deriva, no furacão de uma prosa tão real quanto imaginária. É também à deriva, entre a necessidade poética de fazer cinema e a urgência pragmática de falar do Portugal contemporâneo, que Miguel Gomes (Aquele Querido Mês de Agosto, Tabu) nos conduz ao longo das suas Mil e Uma Noites, interrogando todos os clichés cinematográficos e convocando novos modos de contar histórias no cinema. Conjugando, como método de trabalho, a investigação de casos reais mediáticos ou de notas de rodapé de jornais, e a estrutura narrativa dos contos e canções populares, inspirada no clássico conto persa narrado por Xerazade, esta é uma obra extensa que colige cerca de seis horas de película, divididas em três volumes, por onde desfila um retrato-experiência da vida na sociedade portuguesa actual, marcada pela intervenção da troika, sobre desemprego, austeridade, justiça e luta sindical. São ficções inspiradas em factos e relatos verídicos, ou fantasias e delírios imbuídos de um tom de denúncia, inquietude,
A
conflito, profundamente alicerçados na nossa língua vernácula, contados por atores e não actores, com contornos de descrição etnográfica e de épico social, tomando como epígrafe as palavras da contadora de histórias original: “Escuta, ó venturoso rei, fui sabedora de que há um triste país de entre os países, onde assomavam as ruínas e o povo andava à míngua…” Da coexistência destas duas dimensões nasce um verdadeiro evento do cinema português, que reflecte olhares diversos sobre Portugal, a várias vozes e formas plurais de contar o presente histórico de um país socialmente desesperado, onde reina o insólito e o descontentamento. Depois de nos deixarmos inquietar com o primeiro volume de As Mil e Uma Noites e de nos desolarmos ao fim do segundo, a experiência de “ir ao cinema” é uma aventura que nos convida à perdição e à liberdade, ao prazer de esperar até à noite seguinte.I Sofia Tomaz [A autora escreve de acordo com a antiga ortografia]
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22 // PALCOS // TL Novembro 2015
// EM CENA NO TRINDADE-INATEL
Famosa série televisiva revisitada Este mês, destaque para o espetáculo “Allo, Allo!” e a reposição da “Bela e o Monstro”, com o selo da Yellow Star Company. Na Sala Estúdio, um texto teatral do jornalista Rodrigo Guedes de Carvalho, que tem no elenco Sara Prata e Sofia Nicholson
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aseado na série televisiva de Jeremy Lloyd e David Croft, a ação passa-se durante a ocupação alemã no decorrer da II Grande Guerra Mundial, no Café René, que está, a partir de agora, novamente aberto! O Café vai ficar cheio de alemães para com quem René tem de ser simpático, depois chega a sua mulher com quem René tem de ser também simpático, depois as suas empregadas de mesa, Mimi e Yvette com quem René gosta de ser simpático (principalmente quando a mulher não está por perto). No piso de cima está a sogra de René com quem ninguém gosta de ser simpático. Um Café bastante normal, no tempo da Guerra em França, podem alguns achar. Mas não se deixem enganar. Na adega do Café estão escondidos dois oficiais britânicos, aviadores. Se os Alemães os descobrem, René será fuzilado. A encenação junta novamente Paulo Sousa Costa com o ator João Didelet que também estará em cena, com Elsa Galvão, Mariana Monteiro, José Carlos Pereira, Bárbara Norton de Matos, Suzana Borges, Filipe Crawford, Sissi Martins, Ruben Madureira, Pedro Pernas, José Neto e Luís Pacheco. Sala Eça de Queirós, de 11 de novembro a 27 de dezembro, de quarta a sábado, às 21h30, domingo às 18h.
A Bela e o Monstro Este clássico da literatura, baseado nos textos de Madame Beaumont e Madame D’Aulnoy, adaptado por Paulo Sousa Costa, numa produção da Yellow Star Company, volta a apresentar-se no palco principal. No elenco, para além de Joel Branco, Marta Andrino, Sissi
Martins, Ruben Madureira, José Neto, Carla Salgueiro, Pedro J. Ribeiro, Carlos Martins. De 21 de novembro a 27 de dezembro, para maiores de 4 anos. A história de um Príncipe que embora vivesse num palácio rodeado de rosas vermelhas vivia indiferente perante a beleza e a pureza das rosas, preocupando-se apenas com a sua beleza e em ter cada vez mais ouro. Aproveitando a ausência do seu pai, o Rei, vendia toneladas de rosas aos reinos vizinhos. Um dia, a Fada protetora das rosas receando que as mesmas acabassem no Reino, lançou uma maldição ao Príncipe transformando-o num Monstro. Todas as rosas do reino ficaram pretas, símbolo de tristeza, para que não as conseguisse mais vender. Para voltar a ter o aspeto de Príncipe, teria agora de
encontrar uma mulher que se apaixonasse por ele, e só nessa altura todas as rosas do Reino voltariam a ser vermelhas. Domingo às 15h, sábados às 16h e de quarta a sexta às 11h e 14h para escolas. “Os pés no Arame” de Rodrigo Guedes de Carvalho O encenador Renato Godinho traz-nos “Os Pés no Arame”, onde quatro atores vão dar vida às quatro personagens, adormecidas há quase 15 anos. Escrita em 2002, “Os
Pés no Arame” não é vista pelo autor como uma peça de teatro: “Começou por ser um romance encalhado. Mas precisava de gente a sério, que as palavras sozinhas no papel precisam tantas vezes de ajuda”, diz Rodrigo Guedes de Carvalho. Com Igor Regalla, Sara Prata e Sofia Nicholson e Renato Godinho. Sala Estúdio, de 19 de novembro a 20 dezembro, de quinta a sábado às 21h45, dom às 17h. Para maiores de 12 anos. I
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TL Novembro 2015 // OLHARES // 23
// ARQUITETURA DOS TEMPOS LIVRES
Pousada de Santa Maria de Terras do Bouro
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Pousada de Santa Maria do Bouro localiza-se em Amares, no distrito de Braga. O conjunto da Pousada inclui edifícios, uma piscina enquadrada pelo olival a Sul da Pousada, a pradaria e o laranjal que dá beleza e perfuma toda a área envolvente. A transformação do convento em Pousada foi realizada pelo Arquiteto Eduardo Souto Moura, que apresentou o projeto em 1989. As obras foram iniciadas em 1994 e em 97 a Pousada foi inaugurada. Souto Moura refere ter realizado a reconversão de uma ruína, com aproveitamento das pedras disponíveis para construir um novo edifício. O projeto cresceu assente num equilíbrio criterioso entre forma e programa, passando pela recuperação e adaptação dos espaços existentes e pela conservação da estrutura do complexo monástico. O programa foi concebido com a adaptação dos espaços existentes para funções similares: a cozinha manteve-se, a farmácia transformou-se em bar, a biblioteca em auditório, o refeitório em restaurante, o claustro manteve-se e as celas transformaram-se em quartos. Os conceitos de recuperação e adaptação utilizados serviram para sublinhar que o projeto da
Pousada conservou, genericamente, a estrutura do convento, patente no programa proposto por Souto Moura e criou condições de sustentabilidade ao edifício. Manteve as paredes exteriores maciças em alvenaria de pedra e criou-lhe um novo pano, originando uma parede dupla em betão que funciona como isolante térmico e acústico. Criou uma cobertura vegetal que permite reter e acumular a energia radiante, evitando o sobreaquecimento durante o dia e aquecendo o interior por radiação durante a noite. Criou uma superfície de água “espelho de água”, a nascente do edifício, que promove a amenização da temperatura no seu interior, por acumulação de energia e na envolvente por ação da evaporação. Manteve as árvores existentes e plantou novas que melhoram o conforto ambiental, protegem dos ventos dominantes e introduzem fontes de ar fresco no verão e quente no inverno. Ao dotar a Pousada destas condições, Souto Moura reduz a energia necessária para criar conforto no interior, tornando-a mais sustentável. Assim, hoje como amanhã, podemos desfrutar de tranquilos momentos de lazer, em harmonia. I Ernesto Martins
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24 // SABERES // TL Novembro 2015
// TEMPO DIGITAL
// LÍNGUA NOSSA
A ordem é comunicar
“Nem tudo são flores…” Teresa Joel
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ada vez mais os diversos acessórios ou dispositivos que usamos comunicam uns com os outros e facilitam o nosso dia a dia. Imaginem uma simples extensão de tomadas eléctricas onde são ligados vários dispositivos. Para quem não foi contemplado com a recente oferta pela EDP de uma tomada eléctrica inteligente por não ter feito a inscrição a tempo, a Hama, disponibiliza o sistema inteligente Xavax Master/Slave que oferece funcionalidades semelhantes e ainda uma tomada adicional (1+5 em vez de 1+4 da EDP). Este sistema inteligente que se assemelha a uma extensão eléctrica standard possui portanto seis tomadas onde ligamos o nosso computador e todos os restantes dispositivos, discos externos, impressora, etc. Até aqui teríamos de desligar um a um todos os equipamentos e deixá-los em stand-by, consumindo corrente claro. Nesta tomada inteligente é na master que se liga o equipamento mais importante do conjunto ou seja o computador e nas restantes ligam-se os outros dispositivos. Quando o principal, neste caso o computador, é colocado em stand-by, a tomada inteligente desliga automaticamente todos
os equipamentos secundários. Do mesmo modo, quando se liga o equipamento principal, todos os outros ficam a funcionar de imediato. O mesmo acontece no caso de se ligar à master um televisor e nas restantes a box de TV, consola de jogos e leitor multimédia, entre outros. Quando desligarmos com o comando a televisão, todas as outras tomadas que estarão em stand-by desligam automaticamente os equipamentos. Vejamos agora o caso de um medidor de tensão arterial e batimentos cardíacos para as pessoas que necessitam de a medir regularmente. Quem desejar acompanhar com maior rigor o seu estado de saúde, a Hama disponibiliza o Medidor de Tensão Scala que monitoriza a tensão arterial e verifica a existência de outros problemas como por exemplo arritmias. Os valores são apresentados no ecrã e armazenados no dispositivo, juntamente com a data e hora, mantendo-se o historial de todas as medições, até um máximo de 40 sessões. Mas não só. Este medidor integra a tecnologia NFC, que possibilita a transmissão sem fios de todas as informações relevantes, transmitindo-as por Wi-Fi para uma aplicação instalada no smartphone ou tablet. Graças a esta funcionalidade, os utilizadores podem ter sempre à mão todos os dados obtidos, estejam onde estiverem. I Gil Montalverne [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]
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epois de mostrar o jardim, o Senhor Augusto conduziu-me a um terreno amplo onde havia uma boa quantidade de árvores de fruto. Perante meia dúzia de exemplares muito bonitos, viçosos, sem que, aparentemente, se lhes pudesse apontar qualquer defeito, o meu amigo apresentava: “Isto são ginjeiras que plantei há seis anos. Até hoje, vá lá saber-se porquê, ainda não deram nem uma ginja para amostra…” Entretanto, reparando no seu olhar e na maneira como pegava em haste mais à mão, percebi que se preparava para tentar explicar as causas do fenómeno. Subitamente, interrompeu-se, para me interpelar: “Isto são ginjeiras, disse eu. Mas, agora reparo, se calhar, a frase não está correcta.“ Ficou à espera da minha reacção, provavelmente de uma emenda. Mas, tal como também passo a partilhar convosco, nada havia nem há para corrigir. Logo tendo decidido trazer o caso a estas páginas do Tempo Livre, por tanto me ter sensibilizado a sua atitude, imediatamente desfiz a dúvida que pairava. Naquela expressão, o verbo ser (são) não
concorda com o sujeito (isto) mas com o nome predicativo do sujeito (ginjeiras), pelo que se aplica perfeitamente a forma verbal da terceira pessoa do plural. Aliás, cumpre perceber aquela hesitação como totalmente justificável. Basta que nos lembremos do peso que, para todos os falantes, tem qualquer regra geral e, especificamente, a que determina se faça a concordância do verbo com o sujeito. No entanto, em muitas circunstâncias semelhantes às do episódio que acabei de referir, o verbo concorda, isso sim, com o predicativo do sujeito. É o que se passa também com os pronomes aquilo, isso, isto, nenhum, ninguém, tudo e expressões, muito correntes, de sentido colectivo, como o mais, o resto. Rematarei com outros exemplos de frases cujo enquadramento gramatical é precisamente este e que ninguém hesita quanto à sua correcção. Na vida, nem tudo são flores. Isso são loucuras da juventude. O resto são cantigas. O mais são desculpas de mau pagador. I João Cachado [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]
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TL Novembro 2015 // CARTAZ // 25
// ECRÃS
Os espiões atacam de novo No firmamento de Novembro reaparece a “estrela” 007, Spielberg recria episódio da “guerra fria”, e João Salaviza estreia a sua primeira longa-metragem, “Montanha” elogiada pela crítica e aplaudida em Veneza das curtas “Arena” e “Rafa” premiadas nos festivais de Cannes e Berlim.
007 Spectre, de Sam Mendes | EUA/GB, 2015, 2h30 Com: Daniel Craig, Christoph Waltz, Léa Seydoux. Estreia a 5.
O regresso da maior saga de espionagem da história do cinema (faz 53 anos) corporizada no implacável agente 007 dá novo fôlego à espectacularidade do cinema de acção e aventura. A reter: boa invenção visual e efeitos especiais de grande requinte.
A Ponte dos Espiões, de Steven Spielberg | EUA, 2015 Com: Tom Hanks, Alan Alda, Austin Stowell. Estreia a 26.
Spielberg revisita o período da ‘guerra fria’ para recriar a história de um advogado enviado pela CIA numa missão impossível: a de resgatar o piloto de um avião espião (U2) capturado pela União Soviética.
Steve Jobs, de Danny Boyle | EUA, 2015, 2h02 Com: Jeff Daniels, Kate Winslet, Michael Fassbender. Estreia a 12.
As Sufragistas, de Sarah Gavron |
O cineasta de “Trainspotting” e “A Praia” evoca a personalidade genial e assaz controversa do criador (falecido em 2011) do Macintosh /Apple, do iPod, do iPhone e outras tecnologias enraizadas no nosso quotidiano.
GB, 2015,1h46 Com: Carey Mulligan, Helena Bonham Carter, Meryl Streep. Estreia a 5.
Tudo Vai Ficar Bem, de Wim Wenders |
Montanha, de João Salaviza |
Alemanha/Canadá/França/Suécia,
Portugal, 2015,1h30
2015, 1h58
Com: Carlotto Cotta, Maria João
Com: Rachel McAdams, James
Pinho, Cheyenne Domingues.
Franco, Charlotte Gainsbourg. Estreia a 12.
Um escritor – responsável pelo atropelamento de uma criança – à procura da redenção. Wenders
retoma os temas da culpabilidade e perdão num melodrama intimista surpreendentemente hipervalorizado pelo potencial técnico das novas tecnologias – 3D.
Estreia a 19.
De dores do crescimento e dos afectos familiares trata a primeira longa-metragem do promissor jovem cineasta português, autor
Drama histórico centrado na luta do movimento feminino pelo direito de voto em Inglaterra nos inícios do século passado com destaque para as consequências da repressão que sobre ele se abateu. Boa parte do crédito do filme vai para as comediantes “sénior’s” com méritos bem firmados, Bonham-Carter e Meryl Streep.
Joaquim Diabinho [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]
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26 // LAZER // TL Novembro 2015
// MOTOR
// SUGESTÕES
Novo Peugeot 208
João A. Fonseca (Professor na Faculdade de Medicina da UP/Centro de Investigação em tecnologias e serviços de saúde)
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rês anos após o seu lançamento, o Peugeot 208 - modelo mais vendido da marca apresenta-se num novo visual. O estilo impõe-se mais desportivo e com raça, sublimado por dois feixes de faróis 3D LED de série, cores inéditas, como o brilhante Orange Power e novos conteúdos de personalização. A oferta completase com as versões GT Line e GTi by Peugeot Sport, sublinhando a subida em gama da Marca. O equipamento evolui para facilitar a condução urbana. As motorizações PureTech e BlueHDi adoptam as mais recentes evoluções Euro 6, obtendo-se o motor térmico mais comedido do mundo, com um consumo de apenas 3 litros aos 100 e 79 g/km de emissões de CO2! O novo Peugeot 208 tem um preço-base de 14 mil euros. Com níveis de acabamento superiores, a marcação cromada a quente da nova grelha dálhe um efeito 3D inédito. Aliada a faróis de nevoeiro separados, esta nova identidade transforma o veículo tornando-o mais largo, mais dinâmico e melhor "plantado" na estrada. No interior do novo 208 encontramos o Peugeot i-Cockpit, o posto de condução inovador plebiscitado pelos clientes desde o seu lançamento. Em 2012, o Peugeot 208 inaugurou este conceito totalmente inédito, gerando uma condução estimulante, incisiva e segura, retomada nos Peugeot 2008 e 308. O Peugeot i-Cockpit compõe-se por um volante compacto (e curiosa-
Exercício versus asma O exercício físico regular é benéfico e recomendado para o asmático, porque melhora o quadro de inflamação alérgica que está na base da doença e em alguns casos diminui mesmo a
mente pequeno em relação ao normal), um painel de instrumentos elevado e um grande "touchscreen". O painel de instrumentos elevado coloca todas as informações úteis à condução directamente no campo de visão do condutor, para um conforto e uma segurança acrescidas. O seu design sóbrio e elegante, a sua ambiência luminosa branca e o seu ecrã central asseguram precisão e lisibilidade das informações de condução. O interior do novo Peugeot 208 beneficia ainda de um ambiente luminoso inédito. A cor branca pura e moderna, é utilizada também na instrumentação, nos seus ponteiros e no conjunto de comandos, qualquer que seja o nível de equipamento. As lâmpadas do tecto em LED e as guias luminosas azuis, associadas ao teto panorâmico em vidro, participam no conjunto deste ambiente tecnológico, sereno e refinado. I Carlos Blanco
gravidade da asma. No entanto, o exercício físico é frequentemente um dos estímulos que induz sintomas respiratórios no doente asmático. Mais de 80% das pessoas com asma podem ter sintomas com o exercício. Por outro lado, algumas pessoas podem ter sintomas de asma apenas quando praticam uma atividade física. É importante enfatizar que em crianças e adolescentes, os sintomas apenas com o exercício podem ser as primeiras manifestações da asma. Mas tal não deve constituir motivo para se abster da prática desportiva. O programa de exercício deverá iniciarse após a estabilização clínica e farmacológica da asma, se necessário com o uso de fármacos preventivos e, obviamente, reduzir a sua intensidade em fase sintomática ou de agudização.
// PALAVRAS CRUZADAS // Por José Lattas
VERTICAIS: 1-Concelho de distrito de Portalegre; Cara. 2Pisarem; Cidade espanhola, na fronteira com a França. 3Miscelânia; Rádio (s.q.). 4-Rubídio (s.q.); Época; Disse. 5Misantropo; Respeito. 6-Tratamento genérico, que se dá a qualquer pessoa de certa idade, por quem se tem alguma consideração; Sufixo que traduz a ideia de ocupação, ofício ou emprego; Preposição. 7-Um dos apelidos do primeiro Nobel português (medicina); Certa camada de nuvens espessas, que se desfazem em chuva ou neve (pl.). 8-Cálcio (s.q.); Camareiras; Prefixo designativo de oposição ou de inversão. 9-Enredavas; Variação do pronome pessoal da 2ª. pessoa do singular. 10-Folias; Hinos. 11-Actuavas; Corpo simples, gasoso, de cor amarelo-esverdeada, que se obtém com o bióxido de manganês sujeito à acção do ácido clorídrico.
Em relação a medidas de prevenção é 1
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importante ressaltar que a escolha de um ambiente quente e húmido será menos asmogénico que treinar em
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ambiente frio e seco, e são úteis
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períodos de aquecimento. Por outro
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lado, a função nasal providencia
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contributo significativo para o
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condicionamento do ar inspirado, pelo que deve ser prestada atenção ao tratamento também da obstrução
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nasal, pois assim evita-se que se
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respire exclusivamente pela boca.
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Quer se trate de desporto recreativo ou de alta competição, a asma não constitui uma limitação à sua prática,
Soluções 1-EMBRUTECIDA. 2-LO; BRIGA; AG. 3-VÊS; SOA; UNI. 4-ARADO; SARÇA. 5-SELA;O; IDAS. 6-MATERNAIS. 7-G; DÁS; ISA; C. 8RIA; TEM; SOL. 9-AR: LIMBO; DO. 10TURIM; OBTER. 11-ANA; AIS; ISO.
HORIZONTAIS: 1-Que se tornou semelhante ao bruto (feminino). 2-Lado do navio virado para o vento; Altercação; Prata (s.q.). 3-Assistes; Bate; Acasalei. 4-Raia-bicuda; Silva. 5Espécie de assento que se coloca no dorso do cavalo; Partidas. 6-Mátrios. 7-Distribuis; Sufixo formador do feminino de certas palavras. 8-Zombava; Nutre; Resplendor. 9Fisionomia; Esquecimento; Nota musical. 10-Cidade italiana, capital do Piemonte; Achar. 11-Nome feminino; Lamentação; Prefixo que se usa em palavras científicas, com o sentido de igualdade.
porque com um controlo da asma e treino apropriados, o doente asmático pode e deve praticar a sua atividade desportiva preferida sem limitações!
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DESCONTOS
8 cent/litro em todos os combustíveis às 4as feiras 8 cent/litro em combustíveis BP Ultimate 6 cent/litro em todos os outros combustíveis Quota anual = 1000 Pts BP premierplus 3000 Pts ou 1000 Pts + 30€ = 1 noite num Hotel INATEL Os Associados INATEL têm descontos 5 estrelas sempre que abastecem na BP. Poupe nos combustíveis e acumule pontos para pagar a sua quota anual ou passar uma noite no seu Hotel INATEL favorito. Descontos não acumuláveis com outras promoções.