Tempo Livre Dezembro 2015

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to emen Supl págs. 16

HOTÉIS INATEL Preços 2016 para associados

N.º 30 | Dezembro 2015

Humberto Lopes

Barcelona Momentos ‘sagrados’ na Sagrada Família

80 Serra da Estrela

Sonata de outono A Viagem da minha vida // Soraia Tavares “Era como se estivesse no estrangeiro”

Mesa Partilhada com... // Sónia Carocha Uma entrada para os dias festivos

anos com vida

Entrevista // Maria João Valente Rosa “A sociedade mudou”


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TL Dezembro 2015 // FUNDAÇÃO INATEL // 3 // SUMÁRIO

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Notícias

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Entrevista

// EDITORIAL

Lazer e práticas de cultura

Maria João Valente Rosa

10

Comemorações

80 anos com vida

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Viagens: Barcelona

14

Reportagem

Serra da Estrela

16

A viagem da minha vida

Soraia Tavares

17

Mesa partilhada com…

Sónia Carocha

19

Jardim dos títulos

Pedro Eiras

20

Os Contos do Zambujal

21Culturando 22

Em cena no Trindade-Inatel

23

Arquitetura dos Tempos

Livres

24 Língua Nossa// Tempo Digital 25

Ecrãs: novos filmes

26

Motor// Palavras Cruzadas//

É

lançado este mês um importante estudo intitulado OS REFORMADOS E OS TEMPOS LIVRES que a Professora Maria João Valente Rosa realizou para a INATEL retomando, quase duas décadas depois, o tema e os resultados de estudo anterior pela mesma autora. Ao convidar a autora, quis responder a duas preocupações. A primeira foi a de atualizar o conhecimento sobre a realidade da vida dos idosos reformados, em Portugal, no domínio da ocupação dos seus “tempos livres” e quanto ao consumo de bens culturais, consciente da importância de tal conhecimento atualizado para melhor desenvolvermos a ação da INATEL junto do público sénior. A segunda preocupação resulta de sentirmos que é necessário reequacionar as propostas de ocupação dos tempos livres da INATEL, nomeadamente as que se dirigem aos idosos perante este mundo fragmentário em que as atividades de tempos livres se reinventam na economia pós-industrial e à medida que as tecnologias de informação e comu-

nicação da nossa época anulam os limites da distância física. Este é o tempo das indústrias dos bens culturais cujas ofertas se baseiam no conceito de “experiências” individualizadas de consumo cultural, dispensando muitas vezes qualquer interação presencial com as audiências, podendo realizar-se no recato solitário dos lares através do audiovisual, dos sítios e das redes sociais da internet. Perante tudo isto, a cultura popular resiste, querendo transformar audiências passivas do entretenimento em coautores de práticas culturais diferenciadas. Bandas de garagem, rap das ruas suburbanas, vídeos amadores no You Tube, pichagens de graffiti na paisagem urbana, são algumas das respostas de resistência ao domínio do mercado, que exploram também as possibilidades da revolução tecnológica em curso. Como se posicionam nesta evolução os reformados idosos nossos contemporâneos? O presente estudo confirma que, entre 1998 e 2014, houve o reforço de um modo de vida menos ativo e de consumo individualizado entre os idosos, com maior sedentarização na ocupação dos tempos livres. Tal evolução não pode deixar de inquietar pelas potenciais consequências de exclusão e de menor qualidade de vida na velhice cada vez mais longa que a humanidade vem conquistando. A resistência cultural aos efeitos anestesiantes das indústrias do entretenimento passa pela ocupação cada vez mais ativa dos tempos livres. O que a Fundação INATEL vem promovendo com entusiasmo e sucesso, através das nossas Oficinas dos Tempos Livres (que estão para as Universidades Seniores como o Ensino Profissional está para as Universidades), do Desporto para Todos, do apoio aos nossos Centros de Cultura e Desporto e do nosso Turismo, designadamente, Sénior. Boas Festas! I

Sugestões

Presidente da Fundação INATEL

Jornal Mensal e-mail: tl@inatel.pt | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Fernando Ribeiro Mendes Vice-Presidente: José Manuel Soares; Vogais: Jacinta Oliveira e Álvaro Carneiro Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Diretor: Fernando Ribeiro Mendes Coordenação editorial: Teresa Joel Logótipo:Fernanda Soares Design: José Souto Fotografia: José Frade, Isabel Santiago Henriques (colaboradora) Redatora principal: Sílvia Júlio Redação: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA, Telef. 210027000 Colaboradores: Carlos Blanco, Ernesto Martins, Eugénio Alves, Gil Montalverne, Humberto Lopes, João Cachado, José Baptista de Sousa, Joaquim Diabinho, José Lattas, Mário Zambujal, Sofia Tomaz Publicidade: Comunicação e Marketing/Vanda Gaspar Tel. 210072392; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA., Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Queluz de Baixo, 2730-053 Barcarena. Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade na D.G.C.S. nº 114484 Preço: 1,00 euro Tiragem deste número: 89.241 exemplares


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4 // NOTÍCIAS // TL Dezembro 2015

// COLUNA DO PROVEDOR

Manuel Camacho provedor.inatel@inatel.pt

e novo chegados ao limiar de um ano que, como sempre, deixa para trás um cortejo de coisas boas e menos boas que, com o passar dos anos se vão sucedendo duma maneira quase vertiginosa. O que passou, passou, e atendendo a que a vida é irreversível, o melhor mesmo é projetarmo-nos no futuro e no novo ano de 2016 que já aí vem. Além da especificidade de se tratar de um ano bissexto, vamos ter três acontecimentos desportivos em que os portugueses estarão representados a nível internacional e que, normalmente, prendem a atenção da maioria. De 10 de junho a 10 de julho, em França, decorrerá o Europeu de Futebol, em que Portugal estará com o seu merecido estatuto de uma das melhores equipas europeias, contando com o melhor jogador do mundo na atualidade. O selecionador nacional quer finalmente oferecer um título ao País, uma possibilidade em que todos nós também acreditamos, com a chama da esperança a brilhar em cada coração. Depois, em agosto, “arrancamos” todos para o Rio de Janeiro. De 4 a 21 de agosto os Jogos Olímpicos e de 7 a 18 de setembro os Jogos Paralímpicos. Além das meritórias participações que temos tido em ambos os Jogos, não podemos esquecer que são os primeiros a realizar-se na América do Sul e ainda por cima “falam” português. Entremos, pois, no novo ano com aquela energia tão necessária para encarar a vida de forma positiva… E já agora aproveito para enviar a Todos(as) os meus votos de um Bom Natal. I

D

Protocolo Inatel/Routes du Monde

O

acordo celebrado entre a Fundação Inatel e ATCRoutes du Monde, entidade congénere francesa, vai permitir o acesso às ‘Residências de férias’ a todos os associados da Inatel, incluindo os portugueses que residem em França. A ATC-Routes du Monde, com sede em Paris, é uma associação turística dos ferroviários franceses que conta com 80 anos de experiência. Esta associação tem cinco “Résidences de vacances”, três na montanha, Bagnères de Bigorre (Pirinéus), Argentière-Chamonix e Saint-FrançoisLongchamp (Alpes), e duas na praia, La Grande Motte (Languedoc) e Saint-Raphaël (Côte d’Azur). As reservas devem ser efetuadas através do email boutique-atc@atc-

routesdumonde.com (com indicação do código de parceria nº 1270064). O correio eletrónico deverá ser redigido, por ordem de preferência, em francês, inglês, ou

português. Para conhecer melhor os serviços pode consultar o sítio www.atc-routesdumonde.com. Mais informações: Lojas Inatel/ www.inatel.pt I

Entrada livre

Parque de Jogos 1.º de Maio

Visita guiada ao Museu da Marioneta

Escola de Padel

No domingo, 13 de dezembro, pelas 11h, terá lugar

A funcionar desde outubro, a escola de padel tem aulas

uma visita guiada ao Museu da Marioneta, em Lisboa,

estruturadas pedagogicamente de acordo com as

integrada no Ciclo de Visitas Guiadas a Museus –

melhores práticas, orientadas por professores

Conhecer o Património da Fundação Inatel, dirigida a

credenciados e especializados. As aulas são limitadas

adultos e crianças – pais e filhos, avós e netos, tios e

a 4 adultos ou 6 crianças, para privilegiar o tempo de

sobrinhos – numa

prática útil e a qualidade

abordagem que propõe a

pedagógica.

descoberta coletiva,

O Parque de Jogos 1.º de

dinâmica e pedagógica

Maio, em Lisboa, tem

das coleções do museu

atualmente três campos

em exposição.

de Padel, inaugurados

Inaugurado em 2001, o

em maio deste ano, para

Museu da Marioneta possui no seu acervo marionetas

dar resposta ao interesse manifestado pelo público

de diversas proveniências (Portugal, Sri-Lanka, Peru) e

cada vez mais diversificado. As reservas podem ser

de diferentes formas de manipulação (de fios, de luva e

efectuadas por associados e não associados, todos os

de água), incluindo coleções de máscaras e de

dias entre as 8h e as 23h.

adereços. Esta visita promete ser uma viagem sensorial

O Padel, que atrai praticantes de todas as idades e

pelos materiais, cores e processos de manipulação das

géneros, tal como em outras modalidades de raquetes,

figuras animadas, mediadoras de histórias e mitos de

não exige imediatamente uma destreza técnica muito

diferentes culturas.

apurada. Mais informações: Tel. 218 453 470/ pj.1maio@inatel.pt

50

S NA ANO TEL INA

Completam, este mês, 50 anos de ligação à Fundação Inatel os associados: José Manuel Costa Bernardes, de Lisboa; Fernando Santos David, de Benavente; Maria Lourdes Dias, de Évora; António Santos Gaspar, de Odivelas.


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TL Dezembro 2015 // NOTÍCIAS // 5

Entregas de Prémios ART-IN 2015

A

Fundação Inatel promoveu em 2015 mais uma edição dos Concursos de Artes – ART-IN: Concurso INATEL/Teatro Novos Textos, Concurso de Artes Plásticas e Concurso de Vídeo, como um incentivo à criação e produção cultural, nomeadamente, nas áreas da dramaturgia, artes plásticas e cinema e vídeo.

cinema e audiovisual e constitui-se como espaço de visibilidade e de reconhecimento público de filmes de qualidade inéditos, exibidos em estreia no Trindade. O júri deste ano, constituído pelos produtores e realizadores Fernando Vendrell, Marta Pessoa e José Barbieri, relevou a crescente qualidade das obras.

Vídeo No âmbito da 10ª edição do Concurso de Vídeo, decorrerá a 13 de dezembro no Teatro da Trindade-Inatel pelas 21h30, a Cerimónia de Entrega de Prémios, que divulgará os filmes vencedores nas categorias Ficção, Património Imaterial e Jovem Realizador. O Concurso de Vídeo reúne cada vez mais jovens realizadores formados em diversas escolas de

Artes Plásticas O Concurso de Artes Plásticas, que completa a 11ª edição, contou com um total de 130 obras concorrentes, nacionais e internacionais, nas categorias de pintura, escultura, desenho, instalação e fotografia, com a participação de artistas do Brasil e Espanha. O Júri foi constituído por Ana Reis Saramago Matos, Inês Almeida e Ilídio Salteiro.

Novos Textos O Concurso INATEL /Teatro Novos Textos, promovido com o objetivo de estimular novos autores para a escrita de textos originais em língua portuguesa e de divulgar novos valores literários na área do teatro, decorreu até 14 de outubro, tendo reunido 38 textos originais concorrentes, que serão apreciados por Albano Jerónimo, Miguel Real e Paulo Sousa Costa, membros constituintes do júri. A entrega de prémios dos Concursos INATEL/Teatro Novos Textos e Artes Plásticas decorrerá dia 16 de dezembro na Galeria da Associação Portuguesa de Escultura e Pintura, em Lisboa, em simultâneo com o lançamento das edições vencedoras e inauguração da Exposição das obras selecionadas. I

App o Tempe Livr

l.pt .inate polivre m e /t :/ http

Este mês, veja o vídeo da entrevista a Maria João Valente Rosa, autora do estudo “Os Reformados e os tempos livres”. Leia a versão integral do texto sobre as Comemorações dos 80 Anos, com galeria de imagens dos diversos eventos e, ainda, o texto completo de Viola beiroa: regresso ao futuro. Através do seu tablet ou smartphone, acompanhe a versão on line do TL e aceda a outras informações de turismo, lazer, cultura e desporto para toda a família.


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6 // FOTOGRAFIA // TL Dezembro 2015 // XX CONCURSO “TEMPO LIVRE” DE FOTOGRAFIA

Menção Honrosa Clara Rosário, Lisboa Associada nº 0233162

Prémio Amílcar M. Marques, Porto Associado nº 496538 Mais informações sobre o Regulamento: www.inatel.pt (Fundação/“Tempo Livre”/edição de abril) T. 210027000/ tl@inatel.pt


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8 // ENTREVISTA // TL Dezembro 2015

Maria João Valente Rosa “Os reformados e os tempos livres” é o título do mais recente estudo que a socióloga, especialista em demografia, realizou para a Fundação Inatel, neste 80.º aniversário, para se conhecerem os hábitos da população reformada nas atividades de lazer. A autora encontrou sinais de mudança “surpreendentes” comparativamente com os resultados de há 16 anos no estudo publicado em 1999 “Reformados e Tempos Livres” (edições Colibri-Inatel) tradição já não é o que era. É uma ideia que mais facilmente se associa ao comportamento dos mais jovens. Mas os tempos são outros. Nas sociedades modernas, a ocupação dos tempos livres vem mostrar que os seniores também podem surpreender os mais novos. “Mudam-se os tempos, mudamse as vontades, escreveu Camões. “Todo o mundo é composto de mudança,/ tomando sempre novas qualidades.” Teremos de desembaciar os óculos para ver melhor o que está a acontecer? Os seniores fecham-se mais em casa. É uma das conclusões do inquérito sobre a ocupação dos tempos livres dos reformados do continente português em 2014. Havendo uma maior sedentarização teremos mais pessoas isoladas? O facto de as pessoas hoje estarem mais em casa do que no passado não significa que não continuem a ter interação com os outros. A casa de hoje é diferente da casa do passado. Através dos meios tecnológicos conseguimos ir mais longe. Estar em casa não é sinónimo de solidão. As dicotomias do passado, como estar em casa ou na rua, viver na cidade ou fora dela, estar próximo ou distante, fazem hoje menos sentido. Conseguimos estar com os outros sem sair de casa, participar da cidade neste mundo muito cosmopolita sem nos mexermos muito. A sociedade mudou. Temos de entender as pessoas de uma forma diferente daquela que nos habituámos a entender no passado. Podemos

A

estar em casa e, através da internet, telemóvel e televisão, estarmos muito acompanhados pelos outros. Estes resultados surpreenderamna? Não imaginei que estas mudanças tão profundas já tivessem chegado às pessoas que estão na reforma e à forma como ocupam os seus tempos livres. Estava a contar que os resultados fossem mais na linha do anterior estudo. Estes resultados sinalizam que estamos a participar numa sociedade em profunda mudança – e que não tem só a ver com as pessoas mais novas e com os tempos de trabalho. As mudanças têm a ver com os tempos de lazer de pessoas de todas as idades. Todas estão a participar ativamente. A televisão tem uma posição hegemónica na vida dos seniores. Inclusivamente, passam agora mais tempo frente ao ecrã do que há 16 anos. A televisão por cabo ou satélite influencia estes

“As mudanças têm a ver com os tempos de lazer de pessoas de todas as idades. Todas estão a participar ativamente” “Tenho a convicção de que é importante perceber que qualquer linha ou decisão que se tome tem de levar em conta estas duas componentes de mudança: a busca do conhecimento e a intensificação do acesso às tecnologias”

resultados. Ou seja, ‘viajam’ dentro de casa com um comando na mão… Cada vez mais vivemos a partir do espaço doméstico e viajamos para sítios longínquos a partir daí. Isto está a comandar o presente e pode vir a dirigir o futuro. [Ver] televisão não significa passividade. Com a televisão e internet podemos aprender muito. Existem duas componentes essenciais aliadas do nosso tempo: a busca do conhecimento e a utilização de tecnologias. Este estudo permite, ainda, realçar que a prática das atividades não se distinguem tanto em função do sítio onde se vive, se é num meio urbano ou rural, mas ao nível de instrução das pessoas e das suas condições socioeconómicas. A partir daqui, o que fazer? Tenho a convicção de que é importante perceber que qualquer linha ou decisão que se tome tem de levar em conta estas duas componentes de mudança: a busca do conhecimento e a intensificação do acesso às tecnologias. Temos de deixar de pensar que estar em casa é mau e que é preciso que as pessoas saiam; que estar fora de casa é a única forma de estarmos com os outros e que ver televisão ou estar na internet é uma forma de as pessoas se alhearem do próprio mundo. Mudar o paradigma com que nos habituamos a olhar para os outros é o primeiro passo. Ser homem ou mulher faz diferença na escolha das atividades dos tempos livres? As diferenças entre homens e mulheres estavam muito mais

marcadas no passado. Continuam a existir diferenças entre sexos, nomeadamente no que diz respeito à participação regular em atividades religiosas, que é mais feminina, mas nota-se alguma convergência de comportamentos. Assim, apesar de ainda muito diferentes, homens e mulheres estão mais próximos do que no passado. Segundo o inquérito, a diversidade de interesses é reduzida por parte da população reformada, dedicando-se a menos de três modalidades de atividades de lazer. Como se explica a pouca diversidade de interesses? No âmbito deste estudo foram identificadas 18 atividades de tempos livres, que também já tinham sido referenciadas no estudo anterior [realizado em 1998 e publicado um ano depois]. Neste conjunto de atividades notou-se que há uma menor diversidade de interesses. Muitas delas caíram enquanto atividades de prática regular. Mas isso não significa que as pessoas tenham perdido interesse, só que porventura estão a tornar-se mais exigentes e seletivas. Poderá dizer-se que é mais interessante sair do que se recolher em casa… Não sei se é mais interessante. Há atividades que continuam a existir fora do espaço doméstico mas não temos que, à partida, conotá-las como mais ou menos interessantes. As pessoas ao saírem são hoje muito mais criteriosas. O importante a reter é que o isolamento não é necessariamente sinónimo de


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TL Dezembro 2015 // ENTREVISTA // 9

“A sociedade mudou” José Frade

solidão. Para estarmos com o outro não temos necessariamente de estar fisicamente – podemos comunicar de uma forma virtual e de variadíssimas maneiras. São marcas, de tal modo importantes, que nos vão obrigar a refletir sobre o que vamos fazer com o que sabemos sobre estas novas formas de viver, que os reformados também espelham através dos seus tempos livres. Estes grupos seniores são extremamente importantes não apenas por

aquilo que nos transmitem, mas também pelo que trazem para a mudança da sociedade. Afinal, deveríamos falar de pessoas e não de idades? A idade é um critério que faz cada vez menos sentido. Na minha perspetiva é uma informação que se está a tornar totalmente obsoleta quando falamos de interesses ou de competências das pessoas. E o estudo também realça esse ponto. Mas, apesar de a idade dizer pouco sobre as pessoas, há

“Faz sentido pensarmos que hoje as viagens vão sendo escolhidas de forma mais criteriosa e menos dispersa. Faz-se uma grande viagem mais concentrada em determinados objetivos. Portanto, as viagens perdem em frequência mas podem ganhar em intensidade e qualidade”

um denominador comum a um grupo dos seniores que é o facto de as pessoas a partir de uma certa idade entrarem numa situação de reforma. Viajar não foi agora considerado como uma ocupação dos tempos livres, pela sua fraca expressão. A crise explica, por si só, o decréscimo das viagens nesta população? Viajar foi uma atividade provavelmente muito afetada pelo efeito da crise financeira. Mas, porventura não é só pelo efeito da crise que não se viaja tanto em quantidade. Faz sentido pensarmos que hoje as viagens vão sendo escolhidas de forma mais criteriosa e menos dispersa. Faz-se uma grande viagem mais concentrada em determinados objetivos. Portanto, as viagens perdem em frequência mas podem ganhar em intensidade e qualidade. Como vê o papel da Fundação Inatel no desenvolvimento de projetos e programas para a ocupação dos tempos livres dos reformados no futuro? A Inatel é uma instituição que passou por tempos muito diferentes e teve a flexibilidade suficiente para se adaptar, porque há 80 anos não tinha nada a ver com o que é atualmente. Acredito que vai abraçar projetos tão inovadores, adaptados aos novos tempos, como tem vindo a fazer. A Inatel tem um papel essencial no quadro dos tempos livres dos portugueses – é consensual. Não é uma instituição que tem ficado imune àquilo que se está a passar à sua volta, contando já com uma longa história. Agora, é altura de combinar a experiência que tem com as mudanças que estão a acontecer na sociedade. E isso é uma riqueza que poucas instituições em Portugal se podem orgulhar. I Sílvia Júlio


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10 // COMEMORAÇÕES // TL Dezembro 2015

80 anos com vida

Este foi o ano de celebração de oito décadas de vida cheia. A Fundação Inatel comemorou a provecta idade, mais revigorada, rejuvenescida e descomplexada, com iniciativas que ficaram registadas na história da instituição e que se inscrevem no futuro

N

a celebração dos 80 anos de história da Inatel muitos eventos foram vividos ao longo de 2015, apontando o caminho para o futuro. Na soma dos dias tudo teve outro ânimo. Foi um ano especial em que os olhos se voltaram para o passado, se viveu o presente e se projetou o futuro. Tanta coisa aconteceu. E que chegou a diferentes gerações. “Faço um balanço positivo porque todas as iniciativas programadas foram concretizadas e houve adesão dos associados e da população em geral. Foi um sucesso!” É com estas palavras que Rui Máximo, da comissão organizadora das comemorações, sintetiza um ano repleto de atividades celebradas um pouco por todo o país.

Logo nos primeiros dias do ano, o Encontro Geral das Janeiras no Mosteiro de Salzedas, concelho de Tarouco, marcava o início das celebrações, cantando-se as janeiras, refletindo tradição e modernidade da instituição octogenária. “O sonho aconteceu” A meio do ano, a 13 de junho, data em que foi oficialmente criada a FNAT (Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho), a Imprensa Nacional-Casa da Moeda e os Correios de Portugal associaram-se à celebração destas oito décadas de existência com o lançamento da medalha de ouro e de um inteiro postal. O dia de festa chegou ao fim com outro simbolismo. No Teatro

da Trindade, o espetáculo Nham Nham – Um delicioso musical, com encenação de Claudio Hochman e coreografia de Bruno Cochat, mostrou o trabalho desenvolvido pelos alunos de Teatro Musical da Academia Inatel: “Se lançar este curso no primeiro ano de vida da Academia parecia ser uma ideia arrojada, juntar-lhe a criação de uma peça de teatro musical inédita seria desafio intangível. Depois de nove meses, no dia 13 de junho, 13 jovens subiram ao palco do Trindade e aí ficaram 13 dias. Afinal, não foi número de azar”, afirma Carla Raposeira, diretora da Academia Inatel. O espetáculo foi – nas palavras daquela responsável – “a realização


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TL Dezembro 2015 // COMEMORAÇÕES // 11 José Frade

José Frade

de muitas ambições. O sonho aconteceu, deu-se palco à vontade de querer fazer.” Luz e fogo ilumina futuro A paixão de fazer mais e de forma arrojada repetiu-se, desta vez, na Noite de Luz e Fogo, no dia 18 de julho, no Terreiro do Paço. Um espetáculo multimédia de grande formato levou 60 mil pessoas à maior sala de visitas da capital. Um evento inovador e arriscado que superou todas as expectativas da organização. “A iniciativa foi pensada para o grande público. Mas quando preparávamos o espetáculo, não podíamos imaginar ter um número tão elevado de espectadores”, admite Rui Calar-

rão, um dos mentores desta iniciativa. O público acorreu em massa. Famílias completas fizeram a festa com a instituição que demonstrava vitalidade aos 80 anos. “Pegámos nos pontos principais da nossa história, nos projetos pioneiros desde a FNAT até à Fundação Inatel”, conta o diretor da Inovação Social. Depois de ver o céu, iluminado e colorido no Terreiro do Paço, na noite mágica de luz e fogo, o casal Adelaide e José Domingues, de 51 e 53 anos, associados há quase duas décadas, partilharam: “Foi uma inovação que nos deixou muito contentes!” Uma família, com um filho ainda pequeno, assistiu ao espe-

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Momentos da Noite de Luz e Fogo iluminaram o Terreiro do Paço


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12 // COMEMORAÇÕES // TL Dezembro 2015 José Frade

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táculo. “É raro ver este tipo de eventos. Foi muito bonito. A parte final foi apoteótica”, disse Luís Rebelo, 47 anos. Muitos turistas estavam no Terreiro do Paço a registar o espetáculo multimédia. "Foi muito bonito!", exclamou Iñaki Iglesias, que veio de Bilbau, passar uns dias em Lisboa. Os filhos de 19 e 28 anos apreciaram, em especial, a Dança de Fogo em Roda Gigante.

Vida cultural O que nos une, levanta, identifica é a cultura. A área cultural prosseguiu o seu caminho, com eventos que este ano alcançaram maior dimensão e visibilidade: Cidade das

O evento É de Fones! invadiu a Baixa Pombalina de Lisboa DR

Estrelaçor-Trail, uma ambiciosa iniciativa que ligou duas serras José Frade

O primeiro espetáculo dos alunos da Academia Inatel

Tradições, em Lisboa, Poesia em Sophia, no Porto, e Música com Património/Dia Nacional das Bandas Filarmónicas, em Faro. “Demonstraram a sua potencialidade enquanto eventos culturais geradores de capital social em torno dos quais se agregaram novos públicos e novas entidades artísticas e associativas participantes”, afirma Sofia Tomaz.

De salientar ainda o evento É de Fones! Sons de Identidade na Paisagem Urbana, pensado e preparado especificamente para assinalar o aniversário da fundação, que permitiu, com grande visibilidade, informar sobre o papel da Inatel na valorização do património coletivo dos instrumentos musicais tradicionais. O futuro avizinha-se. A nortear

Valores éticos O Turismo aposta em coisas novas, gosta de navegar noutros mares para chegar a outros portos. A viagem de Turismo e Voluntariado a São Tomé e Príncipe, por exemplo, foi além do imaginado Cabo da Boa Esperança. O Turismo da Inatel teve este ano um evento relevante: o Fórum de Turismo Para Todos, que reuniu no Algarve os principais agentes de turismo europeu. A assinatura do Código Mundial de Ética do Turismo foi o ponto alto deste encontro. O desafio para o trabalho que está ser desenvolvido pela Fundação Inatel é a implementação do código. “É importante que as equipas sejam imbuídas destes valores éticos. Tentaremos ser um pouco o farol, para que sejam passados à prática”, afirma Anabela Correia. “A ética, a responsabilidade e a sustentabilidade, do ponto de vista ecológico, financeiro, cultural e de desenvolvimento das regiões”, são conceitos que orientam os valores defendidos por esta instituição. Há coisas que não passam com a passagem do tempo. Os valores não sofrem com a erosão do tempo. Nem a vontade de inovar. E de procurar outros caminhos. Um brinde ao futuro de uma “octogenária descomplexada”, como a designou o presidente da Fundação Inatel, Fernando Ribeiro Mendes. Tchim-tchim! I

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Procurar desafios Corremos para a área do Desporto. É mesmo o verbo ‘correr’ que conjugaremos nas linhas que se seguem. Ao longo deste ano, o Desporto Inatel apostou em desafios que o fez ir mais longe. É o caso do Estrelaçor Trail – Duas serras, uma corrida. Uma iniciativa ambiciosa que ligou três unidades hoteleiras – Piódão, Linhares da Beira e Manteigas num percurso de 180 km. Muitas outras iniciativas deram que falar nestes 80 anos. Para João Ribeiro, as datas redondas que assinalam a vida das instituições são importantes porque “no desporto costumamos dizer que o nosso desafio é procurar desafios”. “Conseguimos apostar noutro tipo de práticas, nomeadamente, nos Jogos Tradicionais, que são mais lúdicos e menos competitivos, e na abertura do Parque de Jogos 1.º de Maio em atividades abertas à comunidade envolvente”, declara o responsável. Um objetivo sempre presente é o desporto para todos os públicos: “Temos uma oferta clara para a população sénior, infanto-juvenil, para os CCD e associados. É importante captar a atenção das pessoas que gostam do contacto com a natureza, que preferem a experiência e a capacidade de superação individual ao invés de ganharem uma medalha, porque não estão nas provas por competição.”

todas as ações está a responsabilidade que advém do facto de a Fundação Inatel ser entidade consultora da UNESCO para a salvaguarda do património imaterial. “Pretendemos sobretudo promover atividades, eventos e projetos culturais que envolvam cada vez maior participação das pessoas, dos agentes, da sociedade civil, num esforço coletivo demonstrativo da qualidade da vida cultural de qualquer cidade e localidade, como elemento que é indispensável ao bem-estar de todos”, revela.

Leia o texto na íntegra em:

http://tempolivre.inatel.pt


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TL Dezembro 2015 // VIAGENS // 13

Barcelona Momentos ‘sagrados’ na Sagrada Família De 26 a 28 de fevereiro, a Fundação Inatel organiza uma viagem a Barcelona, a cidade de Gaudí. O TL entrevistou o gaudionólogo que acompanha a visita pelas obras do arquiteto catalão de génio. Pelos olhos deste especialista deixamo-nos guiar para conhecer melhor o artista que procurava a dimensão transcendente no seu trabalho

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visita ao templo da Sagrada Família, onde Antoni Gaudí começou a trabalhar em 1883, é o ponto alto desta viagem. Gaudí dizia serem necessários 200 anos para completar a obra, tendo-se focado na fachada nascente, servindo de modelo para o que se fizesse a seguir. Prevê-se que fique concluída em 2026. O artista viveu numa época cultural fervilhante da Catalunha, entre os seus amigos destacam-se Pablo Picasso, Salvador Dalí e Juan Miró. Os seus congéneres arquitetos foram considerados vanguardistas da Art Nouveau, ou Arte Nova. Este movimento artístico valorizava as temáticas da natureza (pássaros, plantas, árvores, flores), acentuando linhas ondulantes e ornamentadas. Um estilo artístico que está presente em cafés, parques e teatros da cidade. A visão e o génio de Gaudí, afastando-se do estilo clássico, levaramno a criar um monumento muito diferente de todas as outras igrejas. As flechas proeminentes da Sagrada Família saltam de imediato à vista. Mas os olhos logo querem ver mais – e há tanto para contemplar. Devagar. Tudo à volta provoca. Não há por ali um centímetro monótono. Há detalhes decorativos por todo o lado. Ornamentações de plantas, animais e inscrições sagradas esculpidas na pedra. Um monumento orgânico, que transmite vida para onde quer que os olhos se dirijam. Um hino à beleza e à verticalidade quase infinita. Dois especialistas de Gaudí vão dar um sentido especial a esta viagem: o escultor japonês, Etsuro Sotoo, e o arquiteto José Manuel Almuzara. O TL contactou Almuzara que afiança que os participantes

conhecer o pensamento e a obra do arquiteto de Deus. Outros colaboradores, ainda, contribuíram para esta paixão, especialmente, o arquiteto Francesc de P. Cardoner.

desta viagem vão “aprender mais e melhor sobre o ‘arquiteto genial e cristão consequente’ que foi Antoni Gaudí”. Este gaudionólogo, marroquino que foi viver ainda muito jovem com a família para Barcelona, conheceu pessoalmente os arquitetos Lluís Bonet Garí e Isidre Puig Boada, que foram alunos de Gaudí e encarregados do projeto e direção das obras da Sagrada Família. Estes encontros despertaram-lhe o entusiasmo por

// Viagens INATEL A cidade do arquiteto de Deus Data: 26 a 28 de fevereiro Partidas: Lisboa/Porto Preço por pessoa: desde 580€ A viagem inclui visitas ao centro histórico gótico, à Casa Milà (La Pedrera), ao Parc Guell e ao museu arquitetónico Pueblo Español.

“Ver o essencial…” A obra de Gaudí tocou a espiritualidade de Almuzara. Ao TL partilhou: “Ser padrinho de batismo do escultor Etsuro Sotoo deu-me a certeza de que Gaudí é um arquiteto que atrai, impacta e converte.” No Ano da Misericórdia, que começa a 8 de dezembro, o gaudionólogo recorda as palavras do Papa Francisco: “Este não é um tempo para estarmos distraídos, mas de ficar alerta e despertar em nós a capacidade de ver o essencial.” José Manuel Almuzara acredita que “Antoni Gaudí foi um arquiteto que viveu alerta e descobriu o essencial que nos transmitiu com a sua vida e obra”. Perguntamos-lhe como é que todos, sem exceção, podem compreender a obra de Gaudí. Responde assim: “Fazendo perguntas, tentando descobrir os porquês. Gaudí procurou sempre trabalhar bem e tentou colocar naquilo que fazia a dimensão transcendente do amor a Deus, que colabora com a criação, fazendo um mundo mais humano”. E conclui com uma frase de Gaudí que remete para a sabedoria da vida: “O grande livro, sempre aberto, que nós temos de nos esforçar de ler, é a Natureza; outros livros são extraídos deste e os erros e as interpretações são humanas. Há duas revelações: a doutrina da moral e da religião; a outra, a dos factos, corresponde ao grande livro da Natureza." I


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14 // REPORTAGEM // TL Dezembro 2015

Serra da Estrela

Sonata de outono Eis um dos mais interessantes passeios outonais em terra portuguesa, pelos caminhos da antiquíssima Serra da Estrela, desde os bosques de faias de Manteigas até às primeiras neves da Torre, dos trilhos com vista para o vale glaciar do Zêzere aos miradouros debruçados sobre paisagens inesquecíveis

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stamos nas Beiras: os panoramas desenham-se aqui com larga abastança de meios – serranias e planuras, rebanhos e adufes, castelos e penedias, eiras e aldeias, alpendres e miradouros. E, por estas alturas outonais, em que o fim de estação anuncia já a enigmática luz de inverno, desce sobre a terra um sol que coroa de dourado os outeiros, as folhagens dos bosques de faias, as últimas nuvens da tarde e os horizontes olímpicos da Serra da Estrela. A região não é apenas um território geográfico com particulares características geológicas e um singular ecossistema de montanha. É também um universo cultural de extraordinária riqueza, com um punhado de realizações humanas paradigmáticas de uma região montanhosa. Os viajantes mais avisados sobre as coisas da Estrela, mesmo os que chegam de longe, há muito que sabem da centralidade do maior maciço montanhoso do país, centralidade que é bem mais do que geográfica. A Serra da Estrela é a grande fronteira entre o Norte Atlântico e o Sul Mediterrânico – e não é apenas física, mas também cultural. O colosso da Estrela reina também, para além da

influência nos fatores climáticos, sobre a identidade dos portugueses, sobre a diversidade cultural que separa as Beiras dos Alentejos. Modas de outono e inverno Lá para a primavera do próximo ano, entre 23 e 25 de abril, os amantes de BTT terão a oportunidade de participar em várias provas, de iniciativa da Fundação Inatel, que cruzarão os caminhos da Serra da Estrela. Em duas modalidades, individual e em dupla, as provas – entre as quais a Estrela Bike Race – ligarão Piódão a Linhares da Beira e a Manteigas, através, também, da Serra do Açor. Outra das provas, com a designação Aldeias Históricas, terá uma etapa única, ligando Linhares da Beira ao Piódão e utilizará o trilho de grande rota GR 22 entre aquelas duas localidades. Mas os velhos Montes Hermínios são estância para todo o ano – o inverno, que não tarda estará aí a bater à porta, traz de novo os desportos de neve, que podem ser praticados nas imediações de Manteigas e lá para os cimos da Torre. O outono, mesmo tendo os dias contados, oferece ainda magníficas paisagens. É o tempo ideal para caminhadas, pequenas ou grandes, por trilhos de dificuldade variada,


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TL Dezembro 2015 // REPORTAGEM // 15

Viola beiroa: regresso ao futuro Há, por vezes, um tempo em que o que se desgastou pela mudança cultural volta a ter no horizonte um tempo novo. É caso da viola beiroa, em cujo renascimento a Inatel tem vindo a ter um papel relevante. A primeira iniciativa, lançada em 2012, visou a preservação, reabilitação e divulgação da prática de um instrumento representativo da cultura musical da Beira Baixa que se encontrava ameaçado de desaparecimento. Para além da publicação do “Método de Viola Beiroa”, editado pela Fundação Inatel, realizaramse cursos de formação de instrumentistas e de construção

A Serra à mesa O Parque Natural da Serra da Estrela encerra grande quantidade e variedade de atrações, quer de caráter paisagístico e natural, incluindo fauna e flora, quer de património cultural e edificado, em que abundam as casinhas de pedra, quer, ainda, em termos de produções artesanais típicas de uma região montanhosa. No capítulo do artesanato, longe vão os tempos em

que a tecelagem era ocupação privilegiada do duro universo rural que ocupa a área do Parque e foi descrito por Ferreira de Castro em A lã e a neve: sobrevive a produção de artefactos de lã, nomeadamente malhas e peças em burel – mantas, cobertores, cachecóis, capas. Também a gastronomia da Serra da Estrela e dos concelhos circundantes refletem as características do ambiente serrano. À mesa, o justamente famoso queijo da serra é soberano incontestado. Mas tal como a Serra é muito mais do que a neve, há mais gastronomia para além do queijo, do requeijão, do pão de centeio e da broa serrana. Recordemos outras iguarias que nos retêm à mesa, fruto de uma arte culinária em que as ervas aromáticas têm presença assídua: trutas do Mondego, enchidos (chouriças, salpicões, morcelas e farinheiras), cabrito, migas de farinheiro, caldo de grão, grelos à pastor, arroz de carqueja, feijoca – tudo, ou quase, acompanhado por vinhos do Fundão, Covilhã e Pinhel. Acrescente-se à lista, para maior alegria das papilas gustativas, um licor de zimbro ou de mel. Com vista para o vale Achar-se-á o viajante, mais tarde ou

mais cedo, nestas andanças serra acima serra abaixo, necessitado de repouso e de teto. De um lado e de outro da montanha tem a Fundação Inatel aprazível oferta de alojamento para retempero de corpo e espírito. Do lado poente, há duas opções, a de Vila Ruiva e a de Linhares da Beira, uma das mais emblemáticas aldeias portuguesas. Já em Manteigas, a "histórica" unidade local manter-se-á desativada até ao segundo semestre de 2016, para obras de remodelação, incluindo a introdução de um providencial passadiço entre o edifício principal e as termas, o que permitirá a plena atividade deste equipamento também durante o inverno. Mas há em Manteigas duas boas alternativas, disponibilizadas pela Inatel, duas confortáveis casas de montanha, a Casa da Roda e a Casa do Pastor, ambas situadas perto do vale glaciar e de trilhos para caminhadas. A primeira é o resultado da adaptação de uma antiga fábrica de lanifícios e, portanto, um edifício que respira um pouco da história da região. Ambas estão situadas nas imediações das termas, com vista para o vale de Manteigas. I Humberto Lopes [texto e fotos]

artesanal do instrumento – a orientação esteve a cargo do mestre Alísio Saraiva, do professor Miguel Carvalhinho, da Escola Superior de Artes Aplicadas, de Castelo Branco, e do professor Eduardo Loio. No âmbito do segundo curso realizado na Associação Recreativa Cultural Viola Beiroa, em Castelo Branco, surgiu a ideia de criar um novo instrumento, a que se pôs o nome de “beiroito”. A iniciativa partiu do participante Rui Marques, que se inspirou no cavaquinho. A associação albicastrense tem prevista a realização de um terceiro curso para breve e em Idanha-a-Nova o mestre Alísio Saraiva conta com 14 inscritos numa próxima formação, organizada pela Filarmónica local.

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à volta de Manteigas e do vale glaciar ou através do maciço central. Alguns desses trilhos levam-nos a miradouros espantosos, como o da Fraga do Corvo; outros são particularmente irresistíveis nesta época, como a coloridíssima Rota das Faias, nas imediações de Manteigas. É uma caminhada simultaneamente exaltante e melancólica, através de bosques de faias vestidas de amarelo, um mar de folhas secas a estalarem debaixo dos pés e a memória a fugir para os versos daquela que é uma das mais belas canções sobre o outono e os amores perdidos: "The falling leaves drift by the window / The autumn leaves of red and gold... /... And soon I'll hear old winter's song / But I miss you most of all my darling / When autumn leaves start to fall".

Leia este texto na íntegra em:

http://tempolivre.inatel.pt


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16 // MEMÓRIAS // TL Dezembro 2015

// A VIAGEM DA MINHA VIDA

Soraia Tavares “Era como se estivesse no estrangeiro” “Pode ser a viagem de Lisboa a Cascais?” Esta foi a pergunta imediata que a jovem atriz e cantora disparou, naturalmente, quando lhe lançámos este desafio. Poderia falar das visitas a Cabo Verde, Espanha, Reino Unido ou Suíça que lhe abriram os olhos para ler o mundo de outra maneira – mas preferiu destacar um percurso que a levou mais longe no meio artístico

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jovem que chamou a atenção no espetáculo musical ‘Nham Nham’ da Academia Inatel, apresentado no Teatro da Trindade, e que agora está no The Voice Portugal lembra a estrada que a levou a desbravar novos rumos: “É mesmo verdade. Por incrível que pareça, a viagem da minha vida foi de Lisboa a Cascais. Tinha 16 anos quando começou tudo isto...” Isto, a que ela se refere, é o mundo artístico: o canto e a interpretação, onde tem mostrado os seus talentos. O início da viragem é na Escola Profissional de Teatro de Cascais. “Estive sempre muito protegida nas zonas perto de casa, e quando frequentei essa escola era como se estivesse no estrangeiro”, conta num tom efusivo que evidencia a frescura dos 21 anos.

“Foi mesmo importante”, prossegue, “porque mudou a minha vida e as minhas perspetivas”. Soraia tinha concluído o nono ano e chegava a altura de definir a área profissional que queria enveredar. Poderia ir para Ciências ou Humanidades. Era uma excelente aluna e todos os caminhos estavam abertos. Ir por aqui ou por ali? – Eis a questão. Quando apresentava um trabalho de grupo preferia fazê-lo em registo de vídeo ou teatro. Também cantava na Igreja Evangélica, onde os dotes vocais já se faziam notar. A mãe ouviu falar daquela escola e apontou-lhe o futuro. Ela mantinha reservas porque pensava que um curso profissional talvez não fosse o melhor para si: “Tinha muito boas notas e podia escolher

qualquer coisa.” Mas logo depois de fazer a audição, percebeu: “É mesmo isto que quero!” No primeiro dia de aulas lembra-se de sair bem cedo de casa para se deslocar de autocarro e depois de comboio. “Hoje, o que faço é graças àquela viagem. Era um mundo desconhecido, uma aventura. O que iria acontecer durante aqueles três anos seria direcionado para uma só coisa: o curso de interpretação. Ainda com 16 anos, fui convidada por um professor para fazer o Wojtyla, o meu primeiro musical. Acordava às sete

“Hoje, o que faço é graças àquela viagem. Era um mundo desconhecido, uma aventura” José Frade

da manhã e regressava a casa cerca da meia-noite por causa dos ensaios. Lembro-me de estar muito cansada, mas feliz por esta oportunidade. Ter ido para ali foi a melhor decisão que tomei e o melhor caminho para estar aqui.” Quando saía da escola, chegava a ir a pé até Cascais acompanhada pela melhor amiga. Descobriu diversos recantos e apreciou melhor a beleza e o património da vila. Um dia deparou-se com a estátua do Papa João Paulo II, já depois de fazer o musical sobre Wojtyla: “Parei e tirei uma foto junto da estátua. Fiquei muito emocionada. Cheguei à conclusão que, independente da nossa religião, podemos ser boas pessoas. O amor está em todo o lado.” Ao longo da conversa sobre a viagem que marcou o antes e o depois do seu caminho, recorda, com especial ternura, os “jantares da paz” partilhados com seis colegas da escola de teatro. Um valor quase simbólico, um euro multiplicado por seis, subitamente podia originar o milagre dos pães. “Íamos ao supermercado comprar seis pães, seis fatias de queijo, seis fatias de fiambre, seis maçãs... Assim dividíamos o jantar todos os dias.” Depois desta viagem, mais nenhuma foi igual. Onde quer que vá, sabe que tem de ir pelo caminho do coração. Em breve quer realizar “outra viagem de sonho, em Londres”, apesar de já lá ter estado para conhecer tudo o que era possível numa semana. Agora é altura de saciar a curiosidade, vontade e “sede de ver muitos musicais”. É tempo de partidas e descobertas. I Sílvia Júlio


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TL Dezembro 2015 // SABORES // 17

// MESA PARTILHADA COM...

Sónia Carocha Uma participante do Masterchef, que aposta na gastronomia criativa, sugere uma entrada para os dias festivos

Receita // CHUPA-CHUPA DE QUEIJO DE CABRA, FRUTOS SECOS E MEL Ingredientes para 4 pessoas: 200g Queijo de cabra (Chèvre); 4 Caju sem sal; 4 Nozes miolo; 4 Amêndoa sem pele; 8 Pinhões; 2 C. Sopa Mel de Rosmaninho; 8 Palitos de espetada com 10 cm de comprimento; Açúcar mascavado q.b.

“N

os últimos anos estudei, viajei, experimentei e cozinhei muito. Tenho preferência pela gastronomia criativa, que procura a combinação perfeita entre sabores, texturas, aromas, técnicas e histórias. A participação no primeiro concurso televisivo Masterchef foi um grande desafio superado. Agora estou a desenvolver uma empresa que inclui, entre outros, showcookings, aulas de cozinha, harmonizações de comida e vinhos. Esta receita foi apresentada na festa de aniversário de um sobri-

queijo, cobrindo completamente, primeiro com o mel e de seguida com os

nho, para surpreender as crianças. Como a preparação não envolve fontes de calor, nem utensílios cortantes perigosos, pode ser também partilhada com os mais novos. A sugestão para os adultos é de acompanhar estes sabores com um vinho branco licoroso (colheita tardia) ou espumante”. I

Coloque o queijo de cabra no

frutos secos picados pressionando

congelador 5 minutos; Retire a casca do

levemente para os frutos agarrarem; leve

queijo de cabra e corte oito rodelas com

novamente ao congelador (pelo menos

aproximadamente 1cm de espessura;

5 minutos) até à hora de servir; Poucos

Reserve as rodelas em um prato forrado

minutos antes de servir, coloque cada

com papel vegetal e mantenha no frio;

fatia na ponta de um palito, para que

Numa frigideira antiaderente coloque os

fique com aspeto de um chupa-chupa;

frutos secos para tostar ligeiramente,

coloque-os depois num copo que

sem adicionar gordura; deixe arrefecer e

encheu até meio com o açúcar

pique com a ajuda de uma faca de

mascavado ou nozes com casca; Sirva

modo a obter pedaços pequenos;

de imediato. Nota: Pode optar por outros

Coloque os frutos secos num prato raso

frutos secos e criar combinações

e o mel em outro; Envolva cada fatia do

diferentes a cada receita!

Mais receitas: www.facebook.com/SoniaCarochaFoodWine/


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LOCAIS LOCAIS DE VENDA: VENDA: Agências Agências de viagens aderentes aderentes e lojas INATEL. INAATEL. T INFORMA INFORMAÇÕES ÇÕES E REGULAMENTO: REGULAMENTO: 210 027 142 • inatelsocial@inatel.pt inatelsocial@inatel.pt • www.inatel.pt www.inatel.pt


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TL Dezembro 2015 // AUTORES // 19

// JARDIM DOS TÍTULOS

Pedro Eiras “As personagens sentam-se ao meu lado...” inverno vai chegar devagar. O ar fresco abre os pulmões. Subimos 197 degraus no interior da Torre dos Clérigos. Outros horizontes. O esplendor das margens do Douro nos caminhos do Romântico. Cidade cosmopolita, também popular, acolhedora, virtuosa, nostálgica. Da Casa da Música, que terá o Ano Rússia em 2016, cruzamos a rotunda da Boavista, com o sentimento de um trajeto familiar, até à faculdade de letras da universidade do Porto. Vamos ao encontro de Pedro Eiras, professor de literatura portuguesa, e autor, desde 2001, de ficção, teatro, ensaio, crónica. Tem vários livros publicados em França, Roménia, Brasil. As peças de teatro já foram encenadas e lidas em dez países. Qual é o seu jardim favorito? O jardim da minha varanda, quando morava perto do rio: vasos onde fiz crescer nespereiras, feijões, ervilhas-dequebrar, e plantas que nunca soube como se chamavam… Num espaço verde imaginário existe um improvável coreto, subitamente ouvimos música de Johann Sebastian Bach… Os coretos são fascinantes, mas abandonados. É muito raro ouvir música nos jardins – excepto quando se leva um leitor de mp3, música secreta. Mas se alguém viesse ao jardim e tocasse Bach, que fossem as suites para violoncelo, tão íntimas. “Bach”, a sua mais recente obra de ficção, tem 14 capítulos. O compositor criou vários temas com 14 notas. Os números irradiam energia para que as

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letras cresçam como árvores? As letras nascem de números, títulos, frases, uma recordação, uma inquietação que insiste em existir. Nascem de jogos barrocos: um nome que se torna algarismo, uma soma que se torna assinatura, dobras de dobras: o infinito. E então escreve-se: para responder a uma música sublime, para imaginar aqueles que conviveram com Bach, que tocaram a sua música, que escreveram sobre ele, todas essas vozes – cineastas, cravistas, filósofos, ouvintes – num jogo de perguntas e respostas. O seu oásis teria um labirinto... Para encontrar a saída ouviríamos uma cantata ou uma fuga? E se não houver saída? Se o

“Ninguém sabe que flores nascem de quais sementes, e escreve-se para tentar saber” labirinto der apenas para outro labirinto, vez após vez, se a cantata for um enigma de que a fuga é um mistério? E que labirinto extraordinário é a orelha, dobrada sobre si própria, côncava como uma taça, recolhendo na sua escuridão os sons do mundo. Todos os recantos teriam nomes de dramaturgos e poetas... Sófocles, Shakespeare, Beckett. Pessanha, Pessoa, Eliot, Herberto, Celan. Mas também haveria lugar para os nomes que visitei em Bach: Anna Magdalena, Leibniz,

Llansol, os Straub, Leonhardt e Gould, Lutero e Jeshua ben-Josef. Etty Hillesum. Albert Schweitzer. Quem convidaria para se sentar ao seu lado e interpretar uma das suas personagens? Ah, mas as personagens vêm, sentam-se ao meu lado. Não preciso de convidar... Quando “Substâncias Perigosas” (um dos seus títulos) se misturam com as raízes das palavras, que ideias podem brotar junto das flores? Talvez flores do mal, baudelairianas. Ou rosas sem porquê, como diz Angelus Silesius. Ninguém sabe que flores nascem de quais sementes, e escreve-se para tentar saber. I Teresa Joel


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20 // FICÇÕES // TL Dezembro 2015 // OS CONTOS DO ZAMBUJAL

O negócio

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ncontraram-se no centro comercial e ambos – Bento Vidinhas, decorador de interiores, e Delfim Pingado, especialista de negócios diversos e ocasionais – apertaram-se num abraço de genuína satisfação. - Há quanto tempo! – saudou Delfim. - Eu sei há quanto tempo – retorquiu Bento Vidinhas. A última vez que nos vimos foi no aniversário do Juliano, festa animada na casa dele. Um casarão! - Exacto – reforçou Delfim – um casarão! Seis grandes grandes assoalhadas, sem contar o salão com tamanho de ginásio! Três casas de banho, cozinha enorme, duas arrecadações. - Pois. Meu caro, aqui só para nós, talvez o casarão passe a ser meu. Enfim, é uma possibilidade, certo é que ele pensa vender. E eu compro. - O casarão? - Precisamente. As mulheres, sempre as mulheres. A Adelina saturou-se daquele apartamento à antiga, quer por força mudar-se para algo mais pequeno e de onde de avista água, rio ou mar. - É normal. E a vista influi na procura e no preço. A propósito: quanto pede o Juliano por aquele apartamento invejável? - Aí é que bate o ponto, Delfim. Claro que eu pensava vender o meu apartamento em Santo António dos Cavaleiros, mais uma quinta que tenho no Ribatejo, mas, mesmo assim, fica longe do que ele quer. - Quanto, Bento, quanto? - Quinhentos e oitenta mil. - Ouvi bem? Quinhentos e oitenta mil? Ih! Não caias daí abaixo. Se conseguires realizar dinheiro com a horta e o T-3, mesmo que sobre, não ofereças mais que duzentos e setenta mil. Acima disso é um roubo. - Tu achas, Delfim? A minha mulher anda a empurrar-me – “se for preciso vamos ao banco, e eu até vendo o cordão de ouro” – enfim, sonha com o dia em que se vê instalada naquele luxo de casa. - Ai, as mulheres, as mulheres! Mas tu não cedas, livra-te desse desgaste. Uma semana depois de morar

no casarão, a tua senhora esposa chorava de arrependimento. - Mas porquê, meu caro Delfim, porquê? Aquela habitação enorme, tu mesmo disseste, salão do tamanho de ginásio, quartos, cozinha, casas de banho, arrecadações…não é um luxo? - Parece, meu ingénuo amigo. E os contras? - Contras? Quais contras? - Desculpa que te diga, mas não passas de um patinho prestes a depenar. Olha para o essencial, Bento! Aquilo é prédio antigo, muito antigo, maquilhado por fora mas podre por dentro, as canalizações rebentam de ferrugem, mais tarde ou mais cedo é o caos. E vou contar-te outro segredo. - Outro? - Outro. O Juliano está ansioso por se libertar da casa, não só por conhecer o estado do prédio mas também porque precisa desesperadamente – desesperadamente, repito – de mudar-se para um apartamento como a mulher exige, longe dali, com vista para o mar, rio, ou apenas as casas em frente. O motivo é mais um segredo, mas este não vou contar. - Bolas, Delfim, diz-me tudo. - O que eu recomendo é não ires além dos duzentos e setenta mil. Ele aceita, mesmo que estrebuche um pouco. E, repito, não te contarei outro segredinho malandro que o leva a saltar do casarão com urgência. - Chiça, Delfim, sou tão franco contigo e tu fechas-te em copas. - Pois bem, ao que consta, a Adelina, espreitando pelo óculo da porta, viu o marido… - O Juliano? - Suponho que só tem esse. O facto é ter surpreendido o marido, não uma vez, não duas vezes, três!, três vezes a entrar no apartamento da frente. E quem mora no apartamento da frente? Uma morena de arregalar os olhos, sem outra companhia além das que o macaco do Juliano lhe ia fazendo. Ultimato: vamos embora daqui, já! De modo que ele não tem outra saída se não saírem do casarão. Por duzentos e setenta mil, se não fores parvo.

- Muito me contas, pá. Confesso que acho indecoroso aproveitar-me dessa situação, mas enfim, atendendo a que o prédio tem tantos inconvenientes de conservação, vou mesmo fixar o máximo de duzentos e setenta mil. - O máximo, dizes bem. E já é generoso da tua parte. - Bem, amanhã vou falar com ele.

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o dia seguinte, Delfim recebe um telefonema do prestável Bento: - O Juliano não aceitou. Quase se zangou comigo quando lhe propus os duzentos e setenta. Não quer ouvir falar mais no assunto. - Quer, quer. É tudo jogo, sabes como são os negócios. Mais dois ou três dias, liga-te e diz: “Pronto, está bem, duzentos e setenta mil, mas é por ser para ti. Nessa altura até podes baixar a oferta para duzentos mil, o gajo está por tudo. - Isso não. Somos homens honrados e de palavra.

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ois dias depois, Delfim e Juliano estão sentados a uma mesa do café. Falam da vida, das notícias do dia, às tantas Delfim diz, ar de despreocupado: - Ouvi dizer que o Bento gostava de comprar a tua casa. - Nem fales nisso! Então, o patife não tem lata de me propor duzentos e setenta mil por uma propriedade daquelas? E nem mais um cêntimo, disse! Delfim prolongou um silêncio, quebrou-o em voz baixa: - E tu, quanto pedias? - Quinhentos e oitenta mil. - Eh lá! Juliano, põe os pés no chão. O pessoal agora quer casas novas, há por aí aos milhares e a preços baixos, e não vale a pena esconder a urgência que tens em resolver o assunto. - Por duzentos e setenta mil? Nunca! - Reconheço que tens razão. Duzentos e setenta é quase um insulto. Esse Bento saiu-me uma boa peste. Mas é a vida. - Tu, Delfim, independentemente

de seres meu amigo, quanto achas que devo pedir? - Calma, Juliano, eu não estou comprador. Mas metendo-me agora na tua pele e na necessidade de resolveres o caso sem mais demora, no teu lugar, aceitava já uns duzentos e oitenta mil. Nem olhava para trás. - A casa é óptima. - Mas, para ti, o momento é péssimo. Vê: resolvias o teu problema e deixavas o sacaninha do Bento a chuchar no dedo. Para uma venda a mata-cavalos não arranjarias melhor. Digo-te mais: eu próprio, com algum sacrifício, mas para que tu e a tua mulher tenham uma vida melhor, estou disposto a chegar mais alto. Duzentos e oitenta mil e lixamos o ganancioso do Bento. Juliano hesita, coça a cabeça, sucumbe: - Pois seja. Acho, Delfim, que acabas de fazer um grande negócio. - Ao contrário, menino, bom negócio é safares-te daquela casa velha onde só terias problemas com a casa e a vizinha. A tua mulher vai ficar radiante. - Aí tens razão. Assunto encerrado.

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o dia seguinte, Delfim telefona a Bento. - Como vais tu, meu feliz proprietário de um apartamento em Santo António dos Cavaleiros e de uma quinta de sonho no Ribatejo? - Na mesma. O Juliano não voltou ao assunto, creio mesmo que virou a cara quando me viu a contemplar a fachada. - Bento, meu bom amigo, a vida dá voltas extraordinárias. Calcula que falei no assunto ao Juliano, o gajo é esperto, quando dei por mim tinhame impingido a casa. Agora sou o dono daquilo, imagina. Mas se ainda estás interessado podemos conversar – agora não me venhas cá com propostas de duzentos e setenta! Metime nisto por amizade, a ti e a ele, mas não posso perder dinheiro. No entanto, sei lá, se ainda quiseres, podemos combinar um preço inferior ao que ele queria. Quinhentos e trinta mil, vá lá. Os amigos são para as ocasiões. I


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TL Dezembro 2015 // HORIZONTES // 21

// CULTURANDO

Novos mitos precisam-se!

Antes se soñaba más, ahora, con tanta televisión... Lo que sucede es que cuando ocurre algo se lo anuncia inmediatamente y no se da tiempo a que se cree una leyenda al respecto. Jorge Luís Borges, 1983 m 1962, John Ford realizou The Man Who Shot Liberty Valance, filme que se singularizou como tributo melancólico ao western americano e aos mitos que contam a história dos Estados Unidos, ao longo do qual assistimos à transição da tradição oral para a escrita impressa e factual, através da evolução do periódico local, Shinbone Star. Conhecemos o homem que dá corpo e significação à liberdade de expressão, fundador, editor, redactor, repórter, tipógrafo do jornal, Dutton Peabody, ébrio tanto de álcool como de ideias, de sonhos, de visões e de palavras, que aspira à edificação de uma consciência social: “Bom povo de Shinbone, sou a vossa consciência. Sou a voz mansa e suave que ressoa na noite. Sou o vosso cão de guarda que uiva à chegada dos lobos. Sou o vosso confessor!” Em jeito de parábola dos tempos modernos, a chegada do “progresso” ao “mundo primitivo”

E

do velho Oeste culmina com a criação de um novo mito – que se perpetuará na célebre frase “Quando a lenda se transforma em facto, publique-se a lenda” – que é apanágio da sociedade actual, reforçada com a falsa crença de que todos os dias algo de novo acontece, tornando-nos reféns de uma pretensa necessidade de actualidade e factualidade. À semelhança dos mitos, também os factos não se discutem, atribuídos que são a uma autoridade, validados pela sua cristalização mediática e visual, afastando-nos irremediavelmente do objectivo primordial de qualquer forma de comunicação: produzir conhecimento que nasce de um processo de conversação e de discussão. As ideias “trocam-se”, em formato de transacção, criando um adulterado ambiente de debate democrático dominado pelo consenso generalizado agradável a todos. Precisamos pois de novos mitos, restabelecendo nas nossas vidas o primado da conversa como uma actividade social fecunda, nascida da prática regular, do exercício produtivo das nossas capacidades de imaginar, sonhar, lembrar, dar. I Sofia Tomaz [A autora escreve de acordo com a antiga ortografia]


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22 // PALCOS // TL Dezembro 2015

// EM CENA NO TRINDADE-INATEL

Universos de afetos e sorrisos Continuam em cena os espetáculos “A Bela e o Monstro”, dirigido aos mais pequenos, e “Allo, Allo!”, para um público mais crescido. E, ainda, “Os Pés no Arame”, que trazem o tema do amor (e a falta dele) Direitos Reservados

O

famoso René, interpretado por João Didelet, entrega toda a sua comicidade a este papel cativando o público que se mostra familiarizado com o enredo e com as personagens. Entre um grupo de atores que com alguma regularidade tem passado por este palco, nomeadamente, Elsa Galvão, Filipe Crawford, Sissi Martins, Ruben Madureira, Melânia Gomes, José Henrique Neto, Pedro Pernas, no elenco temos, ainda, José Carlos Pereira, Oceana Basílio, Suzana Borges e Luís Pacheco. A encenação é de Paulo Sousa Costa e João Didelet. Baseada na série televisiva britânica, que registou sete temporadas de tremendo sucesso, esta comédia onde não há sossego relata as aventuras de René, o infeliz proprietário de um café, em plena França ocupada e que tem de fazer os mais incríveis malabarismos para escapar à Gestapo, à Resistência Francesa, à sua mulher e às suas duas amantes. Em cena na Sala Eça de Queiroz, até 20 de dezembro. Quinta a sábado às 21h45; domingo às 17h. Para maiores de 12 anos.

Um conto de fadas musicado Quem não conhece a história de um Príncipe que vivia num palácio

Carlos Martins e Joel Branco, ator muito popular na revista e na televisão desde os anos 70. O texto é baseado em Madame Beaumont e Madame D’Aulnoy e a encenação, mais uma vez, é de João Didelet e Paulo Sousa Costa. Na Sala Eça de Queiroz até 27 dezembro (exceto dias 23, 24 e 25) | Para maiores de 4 anos. De quarta a sexta às 10h30 para Escolas; Sábado 11h e 16h | Domingo 11h e 15h. Sala Estúdio Dramaturgia portuguesa contemporânea

rodeado de rosas vermelhas, que era conhecido por ser muito mau, preguiçoso e extremamente vaidoso e que um dia é castigado por uma Fada que lhe lança um feitiço

que o transforma em monstro? Esta versão de A Bela e o Monstro conta com Marta Andrino, Ruben Madureira, Carla Salgueiro, Sissi Martins, José Neto, Pedro J. Ribeiro,

“Os Pés no Arame” é um texto de Rodrigo Guedes de Carvalho, publicado em 2002. Esta primeira peça de teatro do conhecido jornalista é uma autópsia à condição humana no amor e nos (não) relacionamentos. Um universo de mundos de afetos e a falta deles, o que nos une e o que cada vez mais nos separa. O Amor, onde tudo começa e tudo acaba. Encenação e interpretação de Renato Godinho, com Igor Regalla, Sara Prata e Sofia Nicholson. Produção Departamento de Actores. Em cena até 20 de dezembro, de quinta a sábado às 21h45, domingo às 17h. Para maiores de 12 anos. I


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TL Dezembro 2015 // OLHARES // 23

// ARQUITETURA DOS TEMPOS LIVRES

Terminal de Cruzeiros de Lisboa futuro Terminal de Cruzeiros de Lisboa, localizado entre o Terreiro do Paço e Santa Apolónia, tem por objetivo responder de modo eficaz a um programa para receção de navios cruzeiros considerando aspetos como conforto, acessibilidade, flexibilidade e rapidez nos serviços prestados aos passageiros, perspetivando o tráfego atual e futuro, de forma a proporcionar a Lisboa o aumento de cruzeiros que iniciam e terminam no seu porto. É com este objetivo que o projeto de Carrilho da Graça vence um concurso internacional e lhe permite repensar a relação de vivência entre o rio Tejo e a cidade de Lisboa. A resposta corresponde a um edifício compacto libertando a envolvente para o uso público, oferecendo à cidade e aos bairros próximos um significativo espaço verde com múltipla oferta de atividades. No terminal foi utilizada a escala urbana e contida, de modo a que a imagem que surge sobre o céu azul é a do recorte dos edifícios da encosta de Alfama de onde sobressai o Mosteiro de São Vicente de Fora e o Panteão Nacional. É assim que o Terminal de Cruzeiros funciona como porta da cidade e charneira entre ela e o rio. A proposta de Carrilho da Graça permite uma grande versatilidade no interior e no exterior acolhendo eventos como exposições, ciclos de moda, cinema, concertos, feiras e mercados para colmatar a sazonalidade da ocupação do terminal. A preexistência foi preservada na estrutura da doca tendo sido mantido o seu espaço vazio e

O

Terminal de Cruzeiros de Lisboa [Imagem e elementos cedidos pelo Atelier Carrilho da Graça Arquitectos]

recuperados os muros no seu perímetro. O parque reflete a doca dispondo-se paralelamente aos seus limites longitudinais, com longas fileiras de árvores ou passeios. O edifício constitui uma solução simples e compacta, com uso flexível do espaço e perante o parque e a cidade corresponde a uma espécie de jangada de transbordo com inflexões que sugerem as entradas e saídas do edifício. Um percurso em passeio permite contornar e descobrir gradualmente o edifício culminando na cobertura. Esta ganha características de palco, permitindo observar o rio e a colina de Alfama sem obstáculos, como qualquer praça elevada. Os passageiros ao chegarem a Lisboa têm uma típica imagem, repleta de casario e de monumentos que sobem pela encosta de Alfama, em contraponto com a horizontalidade da construção e do arranjo paisagístico pronto para ser vivenciado. Assim os visitantes tragam disponibilidade para poderem ser ética e harmoniosamente acolhidos pelas comunidades locais. O Terminal de Cruzeiros de Lisboa encontra-se na fase final de projeto. Em 2016 constituirá um sustentável porto de abrigo aos que procuram a cidade de Lisboa para um salutar lazer. I Ernesto Martins


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24 // SABERES // TL Dezembro 2015

// TEMPO DIGITAL

// LÍNGUA NOSSA

Nada se perde …

Erros evitáveis

omo conclui a Lei de Lavoisier sobre o que acontece na Natureza … Tudo se transforma. Também com as novas tecnologias deixámos de ver muitas coisas. Por exemplo, há quem se queixe de já não existirem aqueles álbuns de fotografias alinhadas em folhas de cartolina para ver ao serão com a família e os amigos. A chegada da fotografia digital, embora se possam imprimir, elas estão agora alojadas no computador ou no smartphone. Mas melhor ainda é que os álbuns se transformaram em molduras digitais onde podem ser vistas numa sequência configurada entre outras coisas pela duração entre cada 2 imagens. É isso que tem feito a Hama com as suas várias molduras digitais há muito no mercado. Também tinha desaparecido há anos o hábito de ter um barómetro pendurado na parede. Agora há as previsões que nos chegam pela TV e pelas App do telemóvel. Pois o barómetro transformou-se na última moldura 8SLSWS que a Hama acaba de lançar e que é também uma estação meteorológica com sensores para temperatura e humidade no interior e no exterior da casa, apresentando-nos o estado do tempo no ecrã total e uma possível previsão, mantendo num pequeno rectângulo a sequência das imagens

esta minha rubrica, várias vezes tenho chamado a atenção para a especial responsabilidade de determinados profissionais que, no exercício das suas funções nos meios de comunicação social, incorrem em erros mais ou menos grosseiros, perfeitamente evitáveis, assim contribuindo para a sua difusão. Hoje, ao lembrar dois casos extremamente frequentes, se bem que fora do contexto que acabei de referir, gostaria de sublinhar tê-los registado em diálogo com detentores de cargos políticos autárquicos, ambos licenciados, circunstância esta que também não deixa de suprir matéria para reflexão, além daquela que, naturalmente, aqui mais nos preocupa. Primeiramente, os casos de hão-de e hás-de. Por exemplo, em hei-de assistir ao concerto, logo se nos impõe ter em consideração que o verbo haver acrescenta a preposição de, recorrendo a um hífen, com o objectivo de suscitar a noção do futuro, de algo que se projecta fazer. Ora bem, neste caso, o verbo conjuga-se em todas as pessoas. Problema sério surge com a terceira pessoa do singular e do plural, quando se verbaliza e escreve tais formas erradamente.

C

que estão gravadas num cartão SD. São igualmente visíveis a data e a hora nesta opção do estado do tempo. Para a mudança entre as 2 opções existe um telecomando, que igualmente permite configurar a forma de exibição das imagens. Apesar de aconselharmos sempre que se tenha um certo cuidado na instalação de aplicações ou App no telemóvel, evitando sempre que possível aquelas que para isso exijam aceder a muitos dos nossos dados pessoais, encontrámos uma que pode ser bastante útil para não nos esquecermos de algo muito importante que diz respeito à nossa medicação. A App Medisafe é uma espécie de caixa de comprimidos virtual que lembra o utilizador do momento exacto em que os deve tomar. Pode até criar um alarme especial, mostrando a forma e a cor da cápsula, assim como, se introduzirmos o número de comprimidos da embalagem alertar para comprar outra antes de chegar ao fim e ainda a possibilidade de lembrar a medicação de vários membros da família. Simples e eficaz. I Gil Montalverne [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]

N

Com demasiada frequência, acrescenta-se as desinências pessoais à preposição de e não ao verbo como determina a norma. O lamentável e horrível resultado é «há-des e hádem». Jamais, caros leitores! Portanto, correcto será dizer e escrever Amanhã hás-de ir ao mercado e, também, Nunca hãode acertar no número da sorte grande. E, a terminar, a outra situação. Pu-lo(a). Trata-se da primeira pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo do verbo pôr – pus – conjugado com o pronome pessoal da terceira pessoa o/a. Por terminar em s e o pronome pessoal estar colocado depois do verbo e a este ligado por um hífen, à forma verbal suprime-se o referido s, passando o pronome a lo/la. Ex: Recebi o seu postal e pu-lo em cima da minha secretária. Ainda a propósito, aproveitarei a oportunidade para referir e esclarecer que encontramos idêntica situação com formas verbais terminadas em r ou z, tais como consegui-lo (conseguir + o), trocá-los (trocar + os), trazê-lo (trazer + o), fá-las (faz + as). Não digam «puse-o», como eu tive a desdita de o ouvir a um determinado Senhor Vereador…I

João Cachado [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]


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TL Dezembro 2015 // CARTAZ // 25

// ECRÃS

Vendedores de sonhos Dezembro tem para lhe oferecer mais um punhado de filmes imperdíveis nas salas. Escusado será dizer que o novo “Star Wars” vai virar culto e que o cinema brasileiro está na crista da onda

Cinema

Fonda. Estreia a 10.

O Principezinho, de Mark Osborne

Um músico e maestro reformado, em férias nos alpes na companhia da filha e de um amigo, recebe um convite para ir tocar numa cerimónia da rainha Isabel II. Um filme insólito, terno e cruel, sobre o envelhecimento, a juventude, o amor e a amizade. Um louvor à dupla de veteranos Caine/Keitel.

| França, 2015, 1h48 Animação. Vozes: Paulo Pires, Rui Mendes, Rita Blanco, Joana Ribeira, Francisco Monteiro. Estreia a 3.

Porventura a mais sedutora (e arriscada) das adaptações da obra clássica de Saint-Exupéry ao cinema. Uma esplendorosa festa visual pontuada por momentos de grande encantamento poético e exortação ao sonho.

Star Wars: Episódio VII – O Despertar da Força, de J.J. Abrams | EUA, 2015, 2h16

Não Têm Vertigens”, a história de uma investigação policial sobre o desaparecimento de uma mulher e os dilemas do amor. Snoopy e Charlie Brown – Peanuts: O Filme, de Steve Martino | EUA, 2015, 1h28 Animação. Estreia a 24.

Nova adaptação para o grande ecrã do universo dos Peanuts, a célebre banda desenhada criada em 1950 pelo norte-americano, Charles M. Shulz. Em 3D e versão portuguesa.

Que Horas Ela Volta?, de Anna

Com: Harrison Ford, Mark Hamill,

Muylaert | Brasil, 2015, 1h52

Carrie Fisher, Oscar Isaac, Simon

DVD

Com: Regina Casé, Antonio

Pegg. Estreia a 17.

4 Filmes de Rossellini

Abujamra, Helena Albergaria.

O regresso da mítica saga “A Guerra das Estrelas”, espantoso e emocionante épico de diversão audiovisual sobre a obsessão do poder e a luta ancestral entre o “bem” e o “mal”, por onde perpassa, por vezes, um eco shakespeariano. Virtuosismo tecnológico de cortar o fôlego.

com Ingrid Bergman | Edição

Estreia a 3.

Uma comédia dramática centrada no universo familiar – mais precisamente, no afecto maternal – e nas relações de dominação vigentes na sociedade brasileira. Na verdade, trata-se de uma reflexão sobre a dialéctica entre amo e servo. A actriz Regina Casé revela-se soberba.

Amor Impossível, de AntónioPedro Vasconcelos | Portugal, 2015

Leopardo Filmes, 24,99€

Versões restauradas dos grandes clássicos, “Stromboli”, “Europa 51”, “Viagem A Itália” e “O Medo”, protagonizados pela actriz sueca Ingrid Bergman – celebrizada em “Casablanca”, o melodrama que encantou as plateias de todo o mundo – cujo centenário do nascimento se assinalou em agosto deste ano.

A Juventude, de Paolo Sorrentino |

Com: Victória Guerra, Soraia

Itália /GB /França /Suiça, 2015,

Chaves, José Mata, Ricardo

1h59

Pereira. Estreia a 24.

Joaquim Diabinho

Com: Michael Caine, Harvey Keitel,

Do mesmo realizador de “O Lugar do Morto”, “Jaime” e “Os Gatos

[O autor escreve de acordo com a

Rachel Weisz, Paul Dano, Jane

antiga ortografia]


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26 // A FECHAR // TL Dezembro 2015

// MOTOR

// SUGESTÕES

Nissan IDS: visão para o futuro

Ana Gonçalves Partner fundadora This is That – Eventos Formativos

N

o Salão Automóvel de Tóquio, a Nissan revelou um protótipo que incorpora a visão sobre o futuro da condução autónoma e dos veículos elétricos de emissões zero: o Nissan IDS. Alguns compararam o futuro da condução autónoma com viver-se num mundo de cintos transportadores que levam as pessoas do ponto A ao ponto B. Mas o Nissan IDS promete uma visão muito diferente desse amanhã. Mesmo quando o condutor seleciona o modo de condução autónoma, e entrega a condução ao veículo, o desempenho do automóvel – desde acelerar, travar e curvar – imita as preferências e o estilo do condutor. No modo de condução manual, o condutor assume o controlo; ainda assim, nos bastidores, o Nissan IDS continua atento para prestar uma eventual assistência. Os sensores monitorizam constantemente as condições de condução e estão disponíveis para ajudar o condutor a obter a melhor resposta ao seu controlo. Este protótipo está equipado com baterias de 60 kWh e, graças à sua aerodinâmica excecional, baixa postura, forma fluída e peso bastante reduzido através de uma carroçaria em fibra de carbono, está concebido para responder à necessidade de percorrer longas distâncias. Outras tecnologias no Nissan IDS incluem estacionamento pilotado que pode ser operado

www.facebook.com/thisisthat.pt

As empresas podem aprender com teatro O teatro como método formativo é um instrumento poderoso para fazer pensar, despertar e acender consciências. Daí a relevância e a pertinência do conceito de Soft Skills e do Teatro de Empresa.

por "smartphone ou tablet" e tecnologias de carregamento sem fios das baterias. Os veículos elétricos não produzem emissões de CO2 e as suas baterias podem armazenar energia a partir de fontes renováveis e transformá-la em eletricidade para casas e edifícios. À medida que os veículos elétricos aumentam, comunidades inteiras poderão utilizar a sua energia como parte de um plano de energia sustentável. Quando a tecnologia de Condução Inteligente da Nissan estiver disponível nos automóveis de produção em massa, os veículos elétricos poderão percorrer grandes distâncias com um único carregamento. Enquanto esta nova tecnologia não chegar, teremos de nos contentar com o que já existe em que os preços altos e a baixa autonomia rivalizam com o baixo consumo e o bom ambiente. I Carlos Blanco

Einstein dixit: “Não há maior sinal de insanidade do que continuar a fazer sempre a mesma coisa e esperar um resultado diferente”. Uma citação que se repete em todo o lado e um pouco por todo o planeta. A questão a colocar é se temos consciente o significado e alcance da afirmação. Existe uma visão de túnel instituída, totalmente reduzida a objetivos estritamente financeiros, que não acrescenta nada de útil e novo ao tempo em que vivemos. E que definitivamente não traz felicidade. Uma metáfora eloquente e adequada a este tipo de visão, frequente nas organizações, é um dos pratos da nossa tradição gastronómica, a pescadinha-derabo-na-boca. O pequeno peixe é frito depois de lhe morderem a cauda entalada entre os dentes, e é servido na forma de uma circunferência onde o

// PALAVRAS CRUZADAS // Por José Lattas

VERTICAIS:1-Palito de madeira torneado, semelhante a um fuso, que serve para fazer rendas (pl.); Rio do SO de Portugal, que nasce na Serra de Um, e desagua em Vila Nove de Milfontes. 2-Magnificente; Freguesia do concelho de Oliveira de Azeméis. 3-Rádio (s.q.); Asnadas. 4-Capitão da Guarda, personagem da ópera “Aída”; Polícia de Segurança Pública (sigla). 5Memória; Dispneia; Berço. 6-Extravagantes. 7-Antiga unidade militar, instalada no Convento de Mafra; Igualdade em farmácia; Térbio (s.q.). 8-Nome feminino (pl); Criador. 9-Estrada romana, que ia de Roma a Brindes, começada por Cláudio Ápio (312 a.C.); Mensageiro. 10-Diz-se das glândulas que segregam as lágrimas. 11-Puxador; Perfume.

princípio e o fim coincidem, numa 1

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espécie de lei de eterno retorno. A formação na área comportamental pretende ajudar a descobrir respostas ao

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modo como podemos fazer a interrupção

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deste circuito viciante. As empresas são

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casas de trabalho onde aproximadamente

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passamos dois terços das nossas vidas.

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E como sistemas vivos que são, na base da sua existência têm Pessoas. O Teatro de Empresa, tal como o

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entendemos, é um poderoso instrumento

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de provocação. Inconveniente, porque faz

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uma certa comichão à consciência, e formativo, porque ajuda à libertação daquilo que nos impede de ver e

Soluções 1-BARRETE; ALA. 2-ISAAC; PAPAS. 3-LI; DOMINICA. 4-RATA; A; AAR. 5-OTOMANAS; IB. 6-SILÉSIA; AMA. 7-CISMA; ARAL. 8-MAC; ACTUAIS. 9-I; EP; OBTUSA. 10-RUSSOS; OT; M. 11-AL; PO; TRONO.

HORIZONTAIS: 1-Asneira; Saia!. 2-Primeiro nome de Newton, matemático e físico inglês (1642-1727); Papas. 3-Lítio (s.q.); Ilha do Mar das Caraíbas, república independente desde 1978. 4-Fiasco; Rio inteiramente suíço, que desagua no Reno. 5Turcos (fem); Bismuto (s.q. – inv.). 6-Região do dentro da Europa, repartida entre a Polónia, a Alemanha e a República Checa; Preza. 7-Dissidência; Grande lago salgado, do SO da Ásia, nas repúblicas do Cazaquistão e Uzbequistão. 8Certificação de Aptidão de Motorista (sigla - inv.); Vigentes. 9Raiz (inv.); Bronca. 10-Moscovitas; Cevado (inv.). 11-Alumínio (s.q.); Polónio (s.q.); Monarquia.

compreender algumas das questões essenciais quando falamos de gestão de Pessoas, (não de recursos). Rir de muita da nossa tragédia diária acreditamos que é uma arte que também nos pode salvar.


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