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Diretor: Francisco Madelino Diretora-adjunta: Inês de Medeiros
www.inatel.pt
Jornal Mensal 2ª Série | 1€ N.º 32 Fevereiro/Março 2016
Grécia Um o destin ho de son
Destaque // Falar português
Uma língua que une pátrias O que falta fazer para defender e valorizar a língua portuguesa
A Viagem da minha vida // Luis Miguel Cintra A surpresa num vagão Reportagem // Cabo Verde O arquipélago amável
Entrevista // Manuel Sobrinho Simões
“Quando um tipo ensina, pode aprender mais…”
Jardim dos títulos // Lídia Jorge “Trocaria a minha alma por um livro”
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TL Fevereiro/Março 2016 // FUNDAÇÃO INATEL // 3 // SUMÁRIO
4
Notícias
7
Entrevista // Manuel Sobrinho
Simões
10
Destaque // Falar português
– Uma língua que une pátrias
12
Viagens // Grécia – Um
destino de sonho
14
Reportagem // Cabo Verde
– O arquipélago amável
16
A viagem da minha vida //
Luis Miguel Cintra
17
Jardim dos títulos //
Lídia Jorge
19
Inatel: Solidária, Inovadora e com Futuro
A
Fundação Inatel encerra em si a História do País nos últimos 80 anos. Desde os tempos do Estado Novo, e a sua visão do mundo do trabalho e das políticas públicas, até à atual crise de regulação na União Económica e Monetária, foram muitas as alterações comportamentais e socioeconómicas nacionais, assim como a inserção de Portugal nas políticas sociais. É, então, um desafio estimulante, a tarefa que se inicia de presidir à Fundação Inatel, face à dimensão do seu passado, e de quem a construiu e solidificou. É também um desafio apaixonante, continuar esta missão e encontrar novos caminhos que consolidem a inserção da Fundação na sociedade portuguesa. A Fundação Inatel encontra, e assume, na Economia Social, a sua missão e o seu espaço, com uma clara vocação focalizada nos âmbitos do Turismo, do Desporto e da Cultura, capaz de implementar projetos e serviços que possam servir os públicos a quem se destinam. A Economia Social tem emergido, em Portugal, e no Mundo, com novos domínios de intervenção,
Francisco Madelino Presidente da Fundação Inatel
onde se articula a sua incorporação nos mercados, produzindo bens e serviços face a outros substitutos próximos, não descuidando o seu papel social de satisfazer carências e mobilizar pessoas, com menor solvabilidade económica, no acesso a produtos de lazer. Sejam mais ou menos jovens, ativos empregados ou desempregados, com evidentes necessidades de os ter. Intervém a Inatel, também, e cada vez mais, em domínios que combinam o lazer e o desporto, com os valores ambientais da sustentabilidade, os históricos da identidade, a cultura, que nos liberta e emancipa, e a saúde que prospera a qualidade da vida. Cá está esta nova Direção para ser capaz de prolongar o Passado da Instituição, no Futuro deste País. Sabe-se que tem de o fazer reforçando a articulação da sua Missão com as Pessoas que nela colaboram e as novas Tecnologias, a ciência e a economia, em prol da eficiência e proximidade. Caro leitor e sócio, na partilha do caminho que nos aproxima de todos Vós, juntos, uniremos decerto sinergias, legitimando aquela que vem sendo, e continuará a ser, a Missão da Fundação Inatel. n
Mesa partilhada com… //
José Avillez
20
Os Contos do Zambujal
21
Culturando
22
Em cena no Trindade-Inatel
23
Arquitetura dos Tempos
Livres
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// EDITORIAL
Língua Nossa // Tempo
Digital
25
Ecrãs // novos filmes
26
Motor// Palavras Cruzadas//
Sugestões
// ESTATUTO EDITORIAL 1. O jornal Tempo Livre é uma publicação periódica, portuguesa, informativa, de conteúdo de informação especializada, de âmbito nacional, essencialmente dirigida aos associados da Fundação Inatel, que aposta numa informação plural relacionada com as suas áreas de missão, nomeadamente, a cultura, o turismo e o desporto. 2. O jornal Tempo Livre constitui um espaço privilegiado de ligação com todo o universo Inatel, bem como com outras instituições que partilham os mesmos interesses de serviço público.
3. O jornal Tempo Livre representa, também, um espaço de informação e sensibilização de largos setores da população para as múltiplas iniciativas e áreas da Fundação Inatel. 4. O jornal Tempo Livre assume-se como um órgão de comunicação social independente de qualquer poder político e económico, bem como de qualquer credo ou doutrina, sendo orientado, no plano editorial, por critérios de isenção, rigor e criatividade. 5. O jornal Tempo Livre define as suas prioridades informativas exclusivamente por critérios de
interesse público, de relevância e de utilidade da informação e rejeita qualquer tipo de censura ou limitação à liberdade de informar. 6. O jornal Tempo Livre não publicará textos, nem admitirá publicidade que defendam quaisquer formas de intolerância, de chauvinismo, de racismo ou xenofobia. 7. O jornal Tempo Livre assegura o respeito pelos princípios deontológicos e pela ética profissional dos jornalistas, assim como pela boa-fé dos seus leitores.
Jornal Mensal e-mail: tl@inatel.pt | Propriedade da Fundação Inatel Presidente do Conselho de Administração Francisco Madelino Vice-Presidente Inês de Medeiros Vogais Álvaro Carneiro e José Alho Sede da Fundação Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Nº Pessoa Coletiva: 500122237 Diretor Francisco Madelino Diretora-adjunta Inês de Medeiros Redação Teresa Joel, Sílvia Júlio Logótipo Fernanda Soares Design José Souto Fotografia José Frade Colaboradores Carlos Blanco, Ernesto Martins, Eugénio Alves, Gil Montalverne, Humberto Lopes, João Cachado, José Baptista de Sousa, Joaquim Diabinho, José Lattas, Mário Zambujal, Sofia Tomaz Publicidade E.P.S. Tel. 210027143 inatel.promocao@inatel.pt Impressão Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA., Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Queluz de Baixo, 2730-053 Barcarena. Tel. 214345400 Dep. Legal 41725/90 Registo de propriedade na ERC 114484 Preço 1€ Tiragem deste número 88.710 exemplares
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4 // NOTÍCIAS // TL Fevereiro/Março 2016 No ato de posse da nova Administração
Ministro Vieira da Silva destaca importância do Turismo Sénior
Novo Conselho de Administração da
O novo Conselho de Administração da Fundação Inatel tomou posse no dia 1 de fevereiro, numa cerimónia realizada na sede, presidida pelo ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, José Vieira da Silva.
“A
Inatel é – sublinhou o ministro – uma das instituições com mais associados em todo o país, individuais e coletivos. Na sua múltipla dimensão, nas áreas do desporto, cultura e turismo, tem cumprido uma função de grande realce.” Vieira da Silva salientou, ainda, que “em articulação com o setor privado, a Inatel foi capaz de desenvolver o turismo sénior”. E lançou um repto: “Que seja possível renovar a dimensão do turismo
sénior, que tem um importante significado social e pode ter uma relevante função económica no reequilíbrio sazonal desta tão importante atividade como é o turismo no nosso país.” O novo presidente do Fundação Inatel, Francisco Madelino, no encerramento da cerimónia, avançou ao TL que “devem ser prosseguidas as atividades de turismo solidário, onde a Inatel teve uma importante intervenção. É necessário retomar o turismo sénior, em ligação com o setor
turístico privado nas épocas baixas, porque estabiliza a prestação de serviços de turismo em Portugal e propicia que muitos portugueses possam ter férias e tempos livres”. Francisco Madelino acrescentou, “queremos chegar a novos públicos, envolvendo mais os jovens, quer na cultura, no turismo, quer no desporto de aventura, com a riqueza ambiental e histórica de Portugal. Esse é um domínio que queremos desenvolver com assertividade”. E frisou também a continuidade do relevante papel da instituição, “com sentido de responsabilidade pela tradição, pelo trabalho que tem sido feito por todos os dirigentes, ao longo de oito décadas”. Por sua vez, a nova vice-presidente da instituição, Inês de Medeiros, referiu ao TL que “a história também aponta o futuro. Não há futuro sem história, o que não significa que não seja também importante reinventar, avançar e tirar o melhor proveito possível daquilo que é a maior riqueza da Fundação Inatel – abrangência nacional, social e etária. E esse é o grande desafio. O que podemos anunciar, para já, é um grande entusiasmo, uma grande energia, e um grande orgulho por estar hoje nesta casa”, afirmou, sublinhando que “a Inatel somos todos nós”. n
Álvaro Carneiro, Francisco Madelino, Inês de Medeiros e José Manuel Alho
Por decisão do Conselho de
de acompanhamento de programas
Ministros foi designada a nova
nacionais suportados pelo Fundo
Administração da Fundação Inatel
Social Europeu e Observatório do
para o próximo triénio, depois de a
Emprego e da Formação
anterior ter cessado o mandato. A
Profissional.
resolução n.º 4-A/2016 foi publicada no Diário da República
Inês de Medeiros, vice-presidente,
no passado dia 22 de janeiro. O
iniciou os estudos superiores em
novo C.A. tem a seguinte
Estudos Portugueses na
composição:
Universidade Nova de Lisboa e frequentou os Estudos Teatrais na
Francisco Madelino, presidente,
Sorbonne, em Paris.
economista, docente no ISCTE –
Deputada da Assembleia da
Instituto Universitário de Lisboa.
República, atriz, encenadora,
Investigador e consultor com
realizadora. Como atriz participou
vários trabalhos realizados e
em cerca de 20 longas-metragens.
publicados, nas áreas do
Como realizadora, os seus filmes de
emprego, formação profissional,
ficção e documentais foram
macroeconomia, economia
premiados em vários festivais
setorial, economia social e
nacionais e internacionais. Foi
economia local, segurança social
curadora e programadora do
e administração pública.
Mostra-Me – O outro lado do
Presidiu ao Instituto de Políticas
cinema, e membro do júri em
Públicas e Sociais (IPPS-ISCTE),
diversos festivais nacionais e
Instituto do Emprego e da
internacionais de cinema.
Formação Profissional (IEFP) e à
Enquanto deputada, desde 2009,
Assembleia Intermunicipal da
pertenceu à Comissão de Cultura,
Comunidade da Lezíria do Tejo.
Comunicação, Juventude e
Pertenceu a várias instituições
Desporto, às Comissões de
com funções nas áreas do
Trabalho e Segurança Social e de
emprego e da formação
Assuntos Constitucionais, Direitos,
profissional, nacionais e
Liberdades e Garantias, e também
europeias, destacando-se o
foi presidente do Grupo
Comité de Emprego da União
Interparlamentar de Amizade
Europeia, Comité Social da União
Portugal-França.
Europeia, European Training Foundation, rede europeia de
Álvaro Carneiro, vogal, gestor, pós-
Presidentes de Serviços Públicos
-graduado em Sindicalismo e
de Emprego, Agência Nacional
Relações Laborais e em Direito do
para as Qualificações, comissões
Urbanismo, Ambiente e
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TL Fevereiro/Março 2016 // NOTÍCIAS // 5
Fundação Inatel
// COLUNA DO PROVEDOR
Gir’Arte
Giros de arte para descobrir em família
Ordenamento do Território, mestre em Sociologia do Trabalho,
Conhecer os bastidores de um
doutorando em Ciências do
teatro, saber como funciona um
Trabalho. Foi vereador da Câmara
projetor de cinema, construir um
Municipal de Lisboa e assessor da
brinquedo ótico, dançar ao som de
Cultura e Ação Social.
música tradicional, conceber um
também em inglês, às 14h (versão
Manuel Camacho
Desempenhou o cargo de
objeto de artes plásticas ou
inglesa), às 15h (versão portuguesa).
provedor.inatel@inatel.pt
Presidente da Comissão de
experimentar um instrumento de
Como é que um Teatro do final do
Intervenção Social e Promoção de
orquestra – são os desafios da
século XIX se adapta às exigências
Igualdade de Direitos e de
nova programação cultural para
da cena teatral contemporânea? É
Oportunidades.
famílias, com início em fevereiro e
a pergunta de partida das visitas
Assessorou a Presidência da
que se prolonga até junho.
guiadas para grupos e famílias.
Câmara Municipal de Cascais nas
No primeiro domingo, de cada
Uma exposição de figurinos vai
Relações Internacionais. É
mês, podem visitar-se espaços
estar patente durante os espetácu-
presidente da Associação para o
culturais de referência em Lisboa.
los. No final do espetáculo
Desenvolvimento Nacional e
Março será dedicado à Música,
“Instruções para Voar”, texto de
também da Assembleia Geral do
com entrada na Escola do
Lídia Jorge, o público será convida-
Clube de Golfe da Costa do
Conservatório Nacional e
do para uma conversa com a equi-
Estoril, da Comissão de Desporto,
animação pela Associação Cultural
pa artística da Companhia de
Trabalho e Tempos Livres do
Cultiv’Arte. Em abril visita-se o
Teatro do Algarve.
Comité Olímpico de Portugal, e
Cinema S. Jorge, onde serão
membro do Conselho Nacional do
construídos brinquedos óticos.
Desporto. Atualmente é docente
Maio será o mês das Artes
universitário do ISCTE-IUL e
Plásticas, na Fundação Calouste
deputado da Assembleia
Gulbenkian. Em junho o programa
Municipal de Lisboa, desde 2005.
termina com Dança, onde o
Tem desenvolvido ações,
desafio é conhecer a história desta
Este mês, veja o vídeo da
iniciativas e atividades em
arte e arriscar um pé de dança
entrevista a Manuel Sobrinho
Instituições Sociais, Sindicais,
tradicional. Mais informações:
Simões.
Culturais e Desportivas.
cultura@inatel.pt | Tel. 210 027
E leia, ainda, as versões
150. Os programas estão
completas da reportagem
José Manuel Alho, vogal, biólogo,
disponíveis na App Tempo Livre
sobre as ilhas de Cabo Verde,
especialista em Ciências do
digital.
e Jardim dos títulos, com Lídia
App Tempo Livre http://tempolivre.inatel.pt
Jorge.
Ambiente, membro efetivo da Ordem dos Biólogos, onde integrou
Teatro da Trindade Inatel
Através do seu tablet ou
a Direção Nacional e o Conselho
Celebra o Dia Mundial do Teatro
smartphone, acompanhe a
Deontológico e Profissional.
versão on line do TL e aceda a mais informações sobre
Dirigente em diversas Áreas Protegidas, presidiu ao Instituto de
No dia 27 de março celebra-se o tea-
atividades de lazer, cultura,
Promoção Ambiental, diretor
tro com O Trindade de Portas
desporto e viagens.
Regional de Florestas de Lisboa e
Abertas, agora com visitas guiadas
Vale do Tejo, e desenvolveu atividade docente nos Institutos Politécnicos de Leiria e Tomar. Foi presidente da Liga para a Protecção da Natureza e vice-presidente da Direção Nacional da Quercus. Foi, ainda, vereador e vice-
0 5 na Anos l Inate
Completam, nesta edição, 50 anos de ligação à Fundação Inatel os associados: António Oliveira, de Beja; Domingos Esteves, de Loures; Eduardo Cruz, de Oeiras; Francisco Raminhas, de Queluz; Francisco Ruivo Santos, de Abrantes; Leonel Morais, da Maia; Henrique Mendes Machado, de Odivelas;
-presidente da Câmara Municipal
João Mateus, de Ericeira; Joaquim Sezinando, de Setúbal;
de Ourém e presidente dos
Jorge Silva Correia, de Coimbra; Julieta Silva, de Azeitão;
conselhos de administração das
Manuel Silva Sapeira, de Vialonga; Maria Teresa Cruz, de
empresas municipais AmbiOurém,
Évora; Mário Lima Silva, do Porto; Celso Fernandes, Eduardo
Centro de Negócios de Ourém, e
Oliveira, Lígia Fernandes, Luiz Pinto, Maria Alice Mimoso,
OurémViva.
Maria Pereira, Maria Raimundo, Maria Sara Caldas, Primavera Pacheco, de Lisboa.
estes tempos em que vivemos, ninguém pode deixar de admitir que é absolutamente indispensável estar atento a todos os sinais da sociedade, para agir em conformidade com as suas necessidades. Todos, sem exceção, temos o dever e a obrigação de fazer a nossa parte no espaço de ação em que nos inserimos e/ou afirmamos. A democracia que conquistámos em 25 de Abril de 1974 deu-nos a possibilidade de escolher livre e conscientemente os nossos caminhos – uma conquista alcançada com o sacrifício e empenho de muitas e muitos portugueses que puseram o interesse comum à frente dos seus próprios interesses. É em nome dessa democracia que, todos nós, sem exceção, devemos envolver-nos social e civicamente para que de uma vez por todas deixemos de nos abster quando em causa está o coletivo. É o momento de entender que não há direitos sem deveres e que quando está em causa o respeito e a dignidade, o dever pode ser mesmo uma obrigação. A sociedade precisa de todos e Portugal precisa de cada um de nós. n
N
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6 // NOTÍCIAS // TL Fevereiro/Março 2016 No dia 21 de março
Portalegre celebra “Poesia em Régio” Foto cedida pela Casa José Régio, Vila do Conde
N
o Dia Mundial da Poesia, José Régio é o poeta homenageado em Portalegre. A iniciativa, no âmbito da missão cultural da Fundação Inatel enquanto consultora da Unesco para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, evoca a importância do património literário português. A comemoração da obra e legado do poeta decorre na Praça da República, e no Café Concerto do Centro de Artes e Espetáculos de Portalegre (CAEP), a partir das 16h30, com participação livre nas atividades de artes plásticas, em que a poesia e o colecionismo, duas paixões de Régio, serão traduzidas em trabalhos de escrita, pintura e desenho. O programa inclui visitas guiadas ao Museu José Régio, instalado na casa onde habitou durante 34 anos, datada dos finais do século XVII. Além dos espaços de convívio do poeta, destaca-se a vasta coleção de faianças, mobiliário, arte sacra, metais, têxteis, pintura e escultura. A viagem pelo universo
Parque de Jogos 1.º de Maio
Novas modalidades Treino personalizado é uma nova atividade, criada com o objetivo de garantir melhores resultados de forma mais rápida e segura, especialmente pensada para a população que requer orientação específica,
de Régio envolve, ainda, uma mostra do artesanato alentejano, local de origem de grande parte da coleção. A celebração deste género literário tem sido assinalada pela leitura do Manifesto pela Poesia. Este ano tem a assinatura do escritor de raízes do Alto Alentejo, José Luís Peixoto, com o texto “A palavra feita de palavras”, que será lido pelo ator e encenador Rui Mendes. O dia dedicado à “Poesia em Régio” termina no auditório do CAEP, onde os grupos Orfeão de
Portalegre, Coro Infantil dos Assentos, Sociedade Musical Euterpe, Vocalóide, Escola Silvina Candeias sobem ao palco. “Fado Português, “Canção de Portalegre”, “Cântico Negro” são algumas das obras interpretadas no espetáculo de poesia, teatro, cinema e dança, encenado por Hugo Sovelas. A iniciativa tem a parceria do município de Portalegre e jornal Alto Alentejo, apoio da Casa Museu José Régio, CAEP, Fundação Robinson, Fundação Calouste Gulbenkian e Cinemateca Portuguesa. n
como grávidas, seniores, ou pessoas com doenças cardiovasculares, diabetes e obesidade. As aulas são ministradas por professores credenciados e qualificados. Os treinos podem realizar-se no interior (Piscina, Sala de Musculação, Estúdios de Fitness), ou no exterior (Campos de Ténis, Padel na Pista de Atletismo). Destaque também para a arte marcial praticável em todas as idades: Kids é um programa com uma componente
Escola de Atletismo Adaptado em festa
educativa, que ensina as crianças a manterem o foco, a energia e a confiança; Masterclub é direcionado para
O
Parque de Jogos 1.º de Maio foi palco da celebração do primeiro aniversário da Escola de Atletismo Adaptado no passado dia 5 de fevereiro. Dezenas de crianças juntaram-se à festa. A Escola acolhe semanalmente alunos para praticarem todas as modalidades de atletismo. Ao abrigo do protocolo com a Associação Jorge Pina, a Fundação Inatel disponibilizou as instalações desportivas, de Lisboa, para a criação de uma Escola de Atletismo Adaptado, que visa a reinserção social, saúde e bem-estar de todas as crianças. n
adolescentes e adultos, onde podem dar os primeiros passos nas diversas áreas do Taekwond – preparação física, técnica, defesa pessoal e combate. Ferramentas que contribuem para fomentar a disciplina física e mental, e a superação de desafios. Outra atividade desportiva que pode, ainda, ser praticada é o Lacrosse. Por ser um desporto de contacto, obriga a utilização de capacete, luvas, ombreiras e cotoveleiras. Mais informações: Tel. 218 453 473 | pj.1maio@inatel.pt
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TL Fevereiro/Março 2016 // ENTREVISTA // 7
Manuel Sobrinho Simões
“Quando um tipo ensina, pode aprender mais…” Recentemente foi considerado o patologista mais influente do mundo pela revista britânica The Pathologist. É um cientista respeitado, médico sem exercer clínica e professor. A ordem aqui descrita pode não ser a mais correta, porque é a ensinar e a aprender que encontra a graça da vida. Recebe-nos, pontualmente, no Ipatimup – Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto, em Paranhos Por Sílvia Júlio (texto) e José Frade (fotos) eciona em diferentes continentes, mas não se sente um cidadão do mundo. “Sinto-me um homem do Porto”, afirma de peito cheio. Sobrinho Simões gosta de receber pessoas em casa, em vez de as convidar para um restaurante, conversar à hora das refeições, contar e escutar uma boa história. Não gosta de visitar museus porque “prefere que lhe contem a história de uma múmia do que ver 38 múmias e esfinges”. Não acha graça a coisas – acha graça a pessoas. O brilho no olhar ilumina-se, em especial, quando fala dos alunos. Que significado tem para si a palavra influência? Como se traduz na sua carreira? Na palavra influência há soft power (em inglês). Há um poder soft, que é o poder enorme de transformar os outros. A minha influência é por ser professor e treinador de patologistas. Através da minha capacidade de ensinar fiz com que as pessoas fossem muito melhores que eu. Estão na Argélia, na China, na Sérvia ou no Brasil… Quando perguntaram a essas pessoas quem era o mais influente, se calhar votaram em mim… Nessa lista de 100 dou-lhe a minha palavra de honra que há 70 ou 80 melhores. Eu sou só um patologista bom em pequenas
L
coisas – hoje em dia, praticamente em tumores endócrinos e tiroide. Para mim, a influência é o resultado da capacidade de transformar pessoas em melhores profissionais, em melhores cientistas. Os professores são kingmakers. Claro que na maior
“Os nossos alunos hoje são muito bons do ponto de vista do conhecimento, mas têm poucas capacidades narrativas, não estão treinados para conversar”
parte das vezes não fazem kings, fazem valetes, duques… [risos] Os seus alunos dizem que está sempre disponível para partilhar os ensinamentos. Para sermos melhores, para termos uma educação de excelência, que mais partilhas têm de ser feitas? Que outras disponibilidades têm de ser mostradas? Acho que é só aquela generosidade de achar graça ao outro. Perceber que o outro é alguém diferente de nós. Da interação connosco, ele aprende, nós aprendemos. Não há coisa mais importante para aprender do que ensinar. As pessoas têm de perceber isso. É uma coisa que na cultura portuguesa é muito pouco reconhecida, o valor da aprendizagem através do ensino. Quando um tipo ensina, e não é burro, e tem a humildade suficiente para perceber que as questões que lhe estão a ser colocadas são importantes, pode aprender mais. Isto é claramente bilateral. É dar e receber... Sim, sem dúvida. Eu sou professor universitário, ensino alunos de Medicina, sou professor de pós-graduações, ensino pessoas que vão ser mestres e doutores, sou professor de jovens profissionais que querem ser patologistas... Em todas estas
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8 // ENTREVISTA // TL Fevereiro/Março 2016 vertentes, tenho interlocutores diferentes. E o que tem muita graça é que com todos eles aprendo. Qual a pergunta mais inquietante, formulada por um dos seus alunos, para a qual ainda não tem resposta? ‘Está assustado por morrer?’... É a pergunta mais inquietante. Chateia-me ter que morrer. Morrer, para mim, é uma coisa metafórica. É muito mais assustador deixar de ter uma profissão, ir trabalhar de manhã, ser útil socialmente – estou muito assustado com isso e não sei como resolver. O meu medo é a morte. Morte com sofrimento, pior. Se eu morrer de noite, é uma chatice, mas acontece. Os seus alunos questionam-no sobre isso de uma maneira mais filosófica? Não, porque os alunos estão cada vez menos filosóficos… É assim. Acho que as sociedades organizam-se de acordo com os sinais dos tempos. Os nossos alunos hoje são muito bons do ponto de vista do conhecimento, mas têm poucas capacidades narrativas, não estão treinados para conversar, não estão treinados para perguntar – buscam a informação, porém não questionam. Os alunos que tenho hoje têm uma relação diferente comigo, porque eles são diferentes. A sociedade portuguesa mudou muito, mas eu próprio também sou muito diferente – e isso tem graça. Que evolução tem notado nos seus alunos? São cada vez mais capazes, cada vez mais bem-educados, eu não tenho chatices nenhumas. São cada vez melhores, mais sabedores, mais infantis… Mais infantis? Porque não têm nenhuma experiência de vida. Têm uma vida sempre mediada pela internet, pelos meios de comunicação social, sobretudo o Facebook, o Twitter, e com muita incapacidade narrativa. É a grande diferença em relação ao
nosso tempo. Qualquer um dos colegas do meu curso, melhor ou pior, sabia contar uma história. A maior parte hoje não conta histórias porque lê pouco. Leem informação, sumários, não leem romances… Isso remete-nos para outra questão... Numa entrevista disse: “A minha aspiração máxima é aprender aos bocadinhos. Ninguém aprende nada se for submerso numa quantidade infinita de coisas.” Os professores lamentam a falta de tempo para concluírem os programas curriculares. Muitas vezes, a matéria é dada à pressa, sem discussão nem partilha. Assim mata-se a curiosidade dos alunos? A noção de que é preciso dar um programa pode matar a curiosidade, porque a forma mais fácil é dividi-la em pacotes. Demora menos tempo dar em pacotes do que deixar que a pessoa vá descobrindo por si própria. E depois não é só o programa, eles sabem que vão ser avaliados através da memorização. Os professores não são parvos e não são maus para os alunos – querem que os seus alunos tenham boas notas. Portanto, o sistema é distorcido no sentido da quantidade de informação empacotada. Por isso, nós não treinamos as perguntas. A nossa cultura aposta em dar respostas. E é muito mais fácil responder do que perguntar. Na nossa cultura somos muito penalizadores para quem faz perguntas. Por vezes, até se diz “desculpe, vou fazer-lhe uma pergunta…”. Isto paralisa? É verdade. Hoje os alunos como têm acesso a muitas fontes de conhecimento – os tais empacotados – treinaram a aquisição direta sem ser mediada pela pergunta, sem ser mediada pelo erro. Tenho uma experiência muito engraçada: muitos estrangeiros vêm cá para trabalhar comigo; os latinos fazem poucas perguntas, mas se estiver a passear com um nórdico, ele
pede-me, de tempos a tempos, para parar porque quer cheirar uma laranja, trincar uma azeitona…Tem curiosidade de perguntar, quer saber como é que aquilo cheira e nós perdemos isso. Nós só queremos o nome... Saramago diz isso de uma forma magistral. Nós somos os tipos que nomeamos porque achamos que o nome é (quase) tudo. Não é; o que importa mais é a substância, o que está por baixo. Tem muito a ver com a cultura latina, romana, mediterrânica, muito retórica. Nisso a Universidade de Coimbra foi um expoente máximo. Queremos saber os nomes: adquirimos por memorização ou mimetismo o que não permite aos miúdos treinarem o salto seguinte. Os miúdos têm muito boas notas porque conseguem memorizar, e nós fazemos perguntas que apelam à memorização. Também é preciso ser justo numa coisa. A grande diferença em relação aos meus tempos é a massificação. No meu curso éramos cerca de 60, agora tenho 300 alunos. É muito difícil evitar as perguntas de memorização nos exames, substituindo-as por perguntas de interpretação ou exames orais. E qual é a solução? É esperar... Nós temos um problema de iliteracia. É preciso perceber que no 25 de Abril, a nossa taxa de analfabetismo era a mesma que 130 anos antes na Suécia. Temos um problema de tempo. Na educação é preciso tempo. É preciso esperar. Não demos aos professores a importância que mereciam. Temos um problema gravíssimo de falta de avaliação e de recompensa ao mérito. Quais as qualidades que mais aprecia nos alunos portugueses? E o que menos gosta? O entusiamo, a dedicação, a capacidade de trabalhar, a inteligência operacional... O pior é a falta de persistência. Os nossos alunos cansam-se facilmente. Gostamos das coisas mais à superfície? Sem profundidade?
“Os latinos fazem poucas perguntas, mas se estiver a passear com um nórdico, ele pede-me, de tempos a tempos, para parar porque quer cheirar uma laranja, trincar uma azeitona…” “Temos um problema gravíssimo de falta de avaliação e de recompensa ao mérito”
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TL Fevereiro/Março 2016 // ENTREVISTA // 9
Fomos sempre treinados a recompensar a superficialidade, a quantidade de informação. Os nossos alunos, em média, são melhores do que os europeus, sul-americanos ou norte-americanos. Como podemos exercitar essa persistência que nos falta? Acho que não temos persistência porque também não temos organização. Se tiver que identificar o nosso pior problema como sociedade é a falta de organização. A falta de persistência nos alunos é a falta de organização nas instituições. Como não temos organização, não temos liderança. Temos tipos fora de série, génios individuais em todas as áreas, e é curioso como não temos instituições. Não nos conseguimos organizar
coletivamente pela falta de persistência e pela falta de avaliação. Não temos uma cultura de recompensa e castigo. Isso é-nos estranho. O facto de sermos todos primos e cunhados também não ajuda... Não temos remédio? Sou pessimista na análise e otimista na ação. O remédio é muito simples: quando somos apertados somos obrigados a reagir. Estamos a ser apertados de fora. A Europa deixou de ser uma coisa que facilitava para ser uma coisa que vigia. E nós, numa situação de vigilância, ganhamos alguns traços de maior capacidade de fazer. Não sei é se vamos fazer instituições. Partidos políticos, bancos e tribunais estão pelas ruas da amargura. Universidades e
“Sou um leitor obsessivo de tudo: jornais, revistas, livros, romances, biografias. E não consigo ler em tablet. Preciso mesmo de ter o papel” “A minha vida é muito mais portuense. Aos fins de semana vou para Vila Praia de Âncora ou Arouca. Em Âncora tenho a sorte de não ter telefone fixo, em Arouca tenho, mas ninguém sabe o número. Portanto, descanso”
hospitais para lá caminham. Curiosamente, em todos estes sítios há tipos fora de série. E isto é um problema gravíssimo na nossa cultura. Para além do trabalho, que outras coisas lhe dão entusiasmo? Sou um leitor obsessivo de tudo: jornais, revistas, livros, romances, biografias. E não consigo ler em tablet. Preciso mesmo de ter o papel. Também gosto muito de cinema – mas não tenho tempo, vejo filmes na televisão a altas horas. Não gosto de viajar, porque estou farto de viajar em trabalho. É natural do Porto. Já recebeu muitas influências dos lugares por onde circulou. Sente-se um homem do Norte ou um cidadão do mundo? Sinto-me um homem do Porto. Nunca fui muito de Norte/Sul. Com a idade tornei-me portuense. Sou muito pouco cidadão do mundo. Se tiver um dia livre, acho muita graça passear numa cidade e ir a mercados. Entrei talvez umas três vezes em centros comerciais. A minha vida é muito mais portuense. Aos fins de semana vou para Vila Praia de Âncora ou Arouca. Em Âncora tenho a sorte de não ter telefone fixo, em Arouca tenho, mas ninguém sabe o número. Portanto, descanso. Voltemos aos mercados. Não gosta de fazer compras, então o que faz por lá? Acho graça às espécies, frutas diferentes, peixes e marisco… Também acho graça ver como as pessoas se comportam nos mercados. É a única maneira que tenho de ficar com uma visão dos sítios onde fui. Porque, de resto, estive sempre numa faculdade ou num hospital a trabalhar. Li que otimiza o seu tempo e a sua vida em função de um resultado. O que espera obter com esta entrevista dada ao TL? Quando me fazem perguntas, aproveito para pensar. Convosco aprendi coisas porque fui obrigado a pensar. Além de me divertir, porque acho graça às pessoas. n
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10 // DESTAQUE // TL Fevereiro/Março 2016
Falar português Uma Há 250 milhões de falantes de língua portuguesa – a quarta mais falada do mundo. O TL perguntou a Guilhermina Jorge, docente do departamento de Linguística da Faculdade de Letras de Lisboa, e a José Mário Costa, jornalista e cofundador do Ciberdúvidas, o que falta fazer para defender e valorizar o português. Quem faz bom uso da língua distingue-se no competitivo mercado profissional, cá dentro e lá fora Por Sílvia Júlio e Teresa Joel (texto) e José Frade (fotos)
F
alar português, idioma oficial também em Angola, Brasil, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, faz parte da nossa identidade. “Da minha língua vê-se o mar” – disse Vergílio Ferreira, na cerimónia em que lhe foi atribuído o Prémio Europália (Bruxelas), em 1991. Os séculos passam. Tudo mudou nos países da lusofonia. O que permanece é o idioma que nos une. “Temos de cultivar a língua portuguesa. É o nosso mais poderoso potencial. Uma influente afirmação no mundo. Para isso é preciso que os portugueses defendam e imponham o português. Uma coisa é ter a língua portuguesa neste pequeno retângulo, outra é tê-la em África e no Brasil”, afirma o jornalista José Mário Costa. O responsável editorial do
Ciberdúvidas – serviço gracioso, de acesso universal, dedicado à língua portuguesa – reconhece que uma das características das nossas elites, e profissionais de comunicação social, é “o uso e abuso do inglês, em detrimento do idioma nacional”. Há uma excessiva utilização de anglicismos. Ao contrário dos brasileiros, que optam pelo aportuguesamento dos estrangeirismos entrados no léxico comum. Preocupam-se com o que é escrito e falado para que todos compreendam eficazmente a mensagem. “Em Portugal, não o fazemos, muito por snobismo. Há jornais que até têm secções em inglês, por exemplo Lifestyle, como se os seus leitores fossem anglófonos”, sublinha. Na perspetiva deste jornalista falta uma autoridade da língua no
“Temos de cultivar a língua portuguesa. É o nosso mais poderoso potencial. Uma influente afirmação no mundo. Para isso é preciso que os portugueses defendam e imponham o português”
nosso país. “Em Portugal, temos uma Academia das Ciências, sem qualquer relevância em matéria linguística. O Brasil tem uma Academia de Letras, com uma intervenção ativa e persistente no primado do português sobre o inglês. O país vizinho promoveu a
criação da Fundação do Espanhol Urgente, com recomendações de carácter oficial aos órgãos de comunicação social de Espanha e da América Latina de expressão castelhana, em articulação com as respetivas academias, sobre as novas palavras, nomes e expressões que entram no espanhol pelo inglês. Razão? Um sentido estratégico para com a sua língua nacional – muito longe do que acontece entre nós.” É na identidade de uma língua que o país e os seus falantes se afirmam no mundo. A professora da Faculdade de Letras, Guilhermina Jorge, acrescenta: “A Academia Francesa, desde a sua criação por Richelieu no século XVII, tem um papel fundamental enquanto elemento regulador da língua francesa. A
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TL Fevereiro/Março 2016 // DESTAQUE // 11
língua que une pátrias
Academia constitui uma espécie de barreira à entrada de estrangeirismos e, sobretudo, de anglicismos.” Pior do que errar é repetir o erro José Mário Costa, também autor do programa de televisão Cuidado com a Língua!, considera que os jornalistas “para exercerem condignamente a profissão”, devem ter bons conhecimentos de português. “Porque a língua é, afinal, o seu principal instrumento de trabalho”. E porque os erros se reproduzem facilmente. “Pior do que errar é a repetição do erro. Só uma absoluta insensibilidade para com a sua própria língua explica que haja jornalistas escrevendo como lhes apetece, sem procurarem confirmar o
“O mais importante é que a reflexão, o pensamento e o esforço estejam sempre presentes quando falamos de língua e de escolhas linguísticas”
que escrevem. Ou o que falam, no caso do audiovisual. O rigor no exercício da profissão passa também pelo domínio da escrita e da linguagem.” O jornalista recorda que no início da sua carreira ninguém se inibia de perguntar abertamente,
sobre uma dúvida momentânea, aos veteranos. “Hoje, parece que há vergonha de, com essa atitude, se alardear ignorância – quando, afinal, ter dúvidas é sintomático de querer saber.” E aponta uma explicação: “Com o desaparecimento dos revisores e, posteriormente, com a crise dos jornais, a dispensa gradual dos copidesques [profissionais com atribuições mais alargadas do que os revisores], as gralhas e os erros passaram a ser, desgraçadamente, uma ‘marca’ dos media portugueses.” Um contraste claro com a situação no Brasil. Por exemplo, na TV Globo há uma consultora linguística sempre disponível para esclarecimento das dúvidas dos jornalistas. Guilhermina Jorge, por sua vez, diz: “Os linguistas poderiam fazer parte das equipas de redação dos meios de comunicação social. Poderia ser um linguista, um revisor, um consultor linguístico ou um amante da língua portuguesa.” Mas refere, ainda, “o mais importante é que a reflexão, o pensamento e o esforço estejam sempre presentes quando falamos de língua e de escolhas linguísticas”. Apesar das incorreções ortográficas e gramaticais que lemos e ouvimos, “podemos comparar a língua a uma sinfonia, cuja realidade é independente da forma como a executam; os erros que possam cometer os músicos que a tocam de modo nenhum comprometem essa realidade”, escreveu Saussure, considerado o ‘pai’ da linguística moderna. Defender a língua Para a linguista valorizar a língua passa por “criar uma paixão; motivar a leitura e a escrita desde tenra idade, para educarmos jovens respeitadores da língua, dos livros, e da identidade com o próprio país; estabelecer parcerias com editoras,
empresas culturais, teatros, jornais … e mostrar aos jovens o papel da língua na sociedade”. Guilhermina Jorge indica um caminho: “A escola tem de sair das suas fronteiras, virar-se para a sociedade e criar um diálogo aberto com os intervenientes e utilizadores da língua em termos profissionais, apelando para a criatividade, indo ao encontro de escritores, poetas, jornalistas, teatro, música, artes, mostrando que é a língua que está na interface do conhecimento. Uma língua múltipla, como diz Herberto Helder...”. O domínio da língua portuguesa é essencial não apenas na comunicação social, também o deveria ser em todas as escolas, empresas e instituições. Saber falar e escrever corretamente português merece mais valorização no mundo laboral. “No Brasil – lembra José Mário Costa –, os candidatos a qualquer concurso público têm de prestar provas de português relativamente exigentes. Daí a existência de uma verdadeira ‘indústria da língua’, com a proliferação de cursos, presenciais ou via internet, sobre regras gramaticais, da sintaxe à pontuação.” Em Portugal o que falta fazer? “Motivar e formar jovens mais competitivos em língua portuguesa, através de atividades que lhes mostrem que a língua e o seu perfeito conhecimento constituem elementos fundamentais para a sociedade e para o mercado de trabalho”, responde a linguista. No título de um texto de Saramago, publicado no Ciberdúvidas, as palavras do Nobel da Literatura portuguesa continuam a fazer eco: “Uma língua que não se defende, morre.” Mais do que um defensor, o falante tem a missão de perpetuar a expansão da língua, valorizando palavra a palavra, cada verso e reverso da sua identidade. n
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12 // VIAGENS // TL Fevereiro/Março 2016
Grécia Um destino de sonho Mais do que um país é o berço da civilização ocidental. Mais do que um destino de praia é um paraíso mediterrânico
A
cultura grega faz parte do imaginário coletivo. Mesmo quem nunca lá foi, ou ainda não leu a História das grandes civilizações, tem a sua Grécia imaginada, onde ainda ecoam os pensamentos filosóficos de Platão ou Aristóteles, ou palavras de dramaturgos, entre outros, de Sófocles e Séneca, que continuam a entrar nos palcos atuais. Desde a antiguidade, Ulisses, o herói da Odisseia de Homero, povoou os sonhos de muitos de nós, pela coragem de enfrentar grandes desafios durante a guerra de Tróia. Mas não é só a história e a cultura que levam os turistas a visitá-la desde sempre. É também o prazer de frequentar os seus restaurantes, onde se serve a afamada gastronomia mediterrânica, onde se inclui um bom peixe grelhado (há quem diga que só o português o supera), ou cordeiro ou porco, e claro, os famosos azeite e iogurte. Creta, a maior das ilhas com paisagens fascinantes, situada no sul do mar Egeu é uma ilha com muitas facetas e atrativos, desde praias incrivelmente belas a sítios arqueológicos únicos no mundo. Aqui floresceu a civilização Minóica, considerada a mais antiga de que há registo na Europa. São demasiados os locais na Grécia, mas há que destacar ainda Salónica (ou Tessalónica), cidade fundada há mais de 2.300 anos por um general do exército de Alexandre e uma das mais importantes do mundo antigo. Clássica, romana, helenística, otomana, moderna, Salónica é uma cidade com realidades profundamente contrastantes e surpreendentes. Por último, Atenas, uma cidade onde há mais de quatro mil anos já se falava em democracia. Neste programa, entre outros locais, visitamos o Pártenon, templo erguido no século V a.C. na Acrópole, a
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célebre colina localizada no centro da cidade, ou o magistral Teatro de Dionísio que nos lembra a origem da tragédia grega. A Grécia é um dos destinos de sonho de qualquer viajante. O casario branco nas ilhas banhadas pelo Mediterrâneo. Cidades milenares em harmonia com a vegetação, onde existem ciprestes, hibiscos, oliveiras e pinheiros. O mar a conviver com a montanha, o sol, a brisa marítima refrescante... Este país parece ter tudo e para todos os gostos. n
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ALERTA NACIONAL
para o controlo da audição
Tem a certeza que ouve bem? A sua visão, a sua tensão arterial, o seu colesterol… são parâmetros que verifica regularmente, como forma normal de controlar a sua saúde. Se tem mais de 55 anos, também é importante que faça o controlo da qualidade da sua audição todos os anos. A degradação da audição acontece progressivamente, sem que verdadeiramente se dê conta. Frequentemente, quando se toma consciência, a perda auditiva já é grande e prejudicial à nossa qualidade de vida e à nossa saúde. Desta forma, quanto mais cedo se identificar uma perda auditiva, melhor!
RECOMENDAÇÃO MÉDICA A saúde auditiva é frequentemente desvalorizada. O efeito da perda da audição tem consequências muito graves na qualidade de vida, como o afastamento do paciente dos seus familiares e amigos, conduzindo ao isolamento e depressão, com elevado risco de desenvolvimento de graves patologias. Por estas razões recomendo que faça um rastreio auditivo regularmente. Um rastreio é um exame muito simples e rápido, mas que pode fazer toda a diferença! Dr. José Tavares Médico Otorrinolaringologista
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É por isso, que no âmbito do nosso alerta nacional para o controlo da audição, o convidamos a fazer um rastreio auditivo gratuito.
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Percentagem por faixa etária de pessoas com perda de audição. Fonte: National Institute on Deafness and Other Communication Disorders.
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14 // REPORTAGEM // TL Fevereiro/Março 2016
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o radiozinho de pilhas do homem sentado numa das mesas do Botequim Boca de Tubarão, no Mindelo, oiço a voz de Cesária cantando versos de Amílcar Cabral: “Mamãe velha, venha ouvir comigo/ O bater da chuva lá no seu portão/ É um bater de amigo/ Que vibra dentro do meu coração/ (…) A chuva amiga, mamãe velha/ A chuva que há tanto tempo não bate assim... / Ouvi dizer que a Cidade Velha – que a ilha toda – / Em poucos dias já virou jardim...”. O poeta passou os seus verdes anos nas ilhas de Santiago e de São Vicente, e foi justamente no final da sua adolescência que Cabo Verde viveu uma seca de consequências gravíssimas, tanto quanto ao número de vítimas quanto à diáspora que provocou. As ilhas – desabitadas quando os portugueses lá aportaram pela primeira vez –, já padeciam de tal mal há séculos. Áridas e montanhosas na sua maior parte, de transitar difícil, surgiam nas crónicas da época com um retrato nada favorável. Duarte Pacheco Pereira assinalava que “os frutos não se dão nesta terra senão de regadio porque aqui não chove senão três meses no ano” e que as ilhas “são terras altas fragosas e más de andar”. O poema de Cabral fala de um fenómeno ingrato no arquipélago – a seca – e da afabilidade e ternura com que a chuva é acolhida. Intrigado o viajante com este mistério, que é o de terra tão rude ter engendrado tão amável gente e cultura, põe-se a pensar, no sossego do Botequim Boca de Tubarão, quão valioso seria o assunto para estudo desses académicos que tudo pretendem explicar e catalogar. Mas quantos volumes seriam necessários para compreender esta doce fé posta nos voláteis milagres da esperança? “Dizem que o campo se cobriu de verde/ Da cor mais bela, que é a cor da esperança/ Que a terra agora mesmo é Cabo Verde/ É tempestade que virou bonança…”. E pronto, foi a despedida do radiozinho: o homem calçou as sandálias que tinha empurrado para debaixo da mesa,
Cabo Verde
O arquipélago amável Um périplo por quatro ilhas de Cabo Verde – Sal, Santiago, São Vicente e Santo Antão. Ilhas tão diferentes e tão semelhantes ao mesmo tempo, têm elas muito de variado a oferecer ao viajante. E numa qualidade coincidem, a da amabilidade com que recebem os forasteiros bebeu o último gole de grogue e abalou com um sorriso. Passear em calçada portuguesa Até à construção do aeroporto internacional da ilha de Santiago, o Sal era a porta de entrada do arquipélago. Quem planeasse itinerários de cariz cultural, ou uma imersão na vida social do país, metia-se noutro avião; para os que voassem apenas na mira do turismo balnear em águas cálidas e areias douradas, estava a jornada cumprida. A ilha do Sal é sobretudo isso, um bom destino para um intervalo na agitada vida contemporânea e para mergulhar num “dolce far niente”. O
mar é quem mais tremeluz (além do sol) nesta pequena ilha em que basta meia hora para se ir de uma ponta à outra. A ilha de Santiago foi a escolhida pelos portugueses de Quatrocentos para capital, por oferecer melhores condições de defesa, por possuir alguns bons portos, pela água doce disponível e por razões geográficas, já que a proximidade do litoral africano era favorável ao fito de o explorar, assim como aos planos lusitanos de desenvolver o infausto comércio negreiro. Desembarcados na Cidade da Praia, a capital do país, o primeiro passeio costuma levar-nos ao bairro histórico conhecido como “Plateau”, onde
residem inúmeros exemplares de arquitectura civil do tempo colonial, de uma forma geral bem conservados e utilizados na atividade comercial. A primeira cidade portuguesa fora da Europa Da capital cabo-verdiana até ao primeiro assentamento urbano português fora da Europa é um pulo. Antes de se descer para a Ribeira Grande, tome-se o desvio à direita: uma vista geral do conjunto urbano classificado pela UNESCO pode ser boa introdução ao sítio. A umas centenas de metros está o Forte de São Filipe, construído no final do século XVI, após um ataque do corsário
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TL Fevereiro/Março 2016 // REPORTAGEM // 15 Cada ilha tem seus dons, que satisfazem variados viajantes: ora céus azuis e mares azulturquesa, ora património cultural e arquitetónico; para outros, outras modas e motivações
jaria e uma pequena capela gótica e manuelina à entrada. Neste templo, reabilitado pela Cooperação Espanhola, pregou o Padre António Vieira, na sua passagem para o Brasil, em 1562, cem anos após a fundação da Cidade Velha. Cultura e excessos cénicos Ainda que São Vicente seja palco do mais internacional festival de música do arquipélago, o Festival da Baía das Gatas, a ilha é, sobretudo, o Mindelo, sem desapreço por outros paradeiros e outras gentes. Foi, durante muito tempo, a mais cosmopolita cidade do arquipélago e é, historicamente, a capital cultural do país, mantendo um amplo rol de iniciativas ao longo do ano. Não obstante as secas assíduas e as dificuldades inerentes à localização a meio do oceano, ao Mindelo e aos seus intelectuais, poetas e
// Viagens INATEL Cabo Verde – Circuito na terra da morabeza Data: 7 a 14 de maio Preço por pessoa desde:1.665 € Mais informações: Tel. 211 155 779 | turismo@natel.pt www.inatel.pt
músicos se “abriram” as portas do mundo, na segunda metade do século XIX, com a transformação da ilha em ponto de abastecimento de carvão dos navios que faziam as rotas transatlânticas, e em estação intermédia da rede de cabos submarinos do Telégrafo Inglês. O centro histórico desta bela cidade atlântica, em arco sobre uma graciosa baía, reflecte esses tempos decisivos para a identidade da cidade, conservando um património arquitetónico de influência inglesa e portuguesa e uma leva de espaços culturais de divulgação das expressões artísticas vicentinas. Já Santo Antão, a uma hora de barco, é uma ilha em que a natureza reina, mesmo se a mão humana a transformou em terra produtiva e onde não raro avistamos funâmbulos bananais suspensos em socalcos lavrados nas vertentes montanhosas. Santo Antão, mais do que qualquer outra ilha do arquipélago, é lugar de grandes excessos cénicos e um palco onde assistimos ao milenar drama da luta com os elementos naturais. Cada ilha tem seus dons, que satisfazem variados viajantes: ora céus azuis e mares azul-turquesa, ora património cultural e arquitetónico; para outros, outras modas e motivações. Em Santo Antão, as
caminhadas têm atirado a ilha para os escaparates do ecoturismo – é a mais montanhosa, de assinalável variedade cénica. Os velhos caminhos rasgados na pedra, calcorreados agora por caminheiros de todo o mundo, oferecem soberbas vistas para o Atlântico, além de proporcionarem uma observação das gentes e da sua cultura, muito ligada à terra, e permitirem testemunhar a extraordinária hospitalidade local, uma faceta da afamada morabeza. Manuel Lopes, inspiradíssimo retratista das gentes e das paisagens de Santo Antão, legou-nos páginas admiráveis sobre a beleza dos luxuriantes vales e ribeiras da ilha: “... os caminhos perdidos nos cabeços das montanhas envolventes, ziguezagueando nas vertentes ásperas, descendo e subindo as margens íngremes das ribeiras, sumindo-se nas chãs por entre os rabos-d’asno e barbas-de-bode... O vale é uma orquestra de mímicas e trejeitos, com a sua música e zumbidos estridentes, chilreios, conversas atrás de muros, cacarejos domésticos, sons surdos de enxada rasgando a terra...”. n Humberto Lopes (texto e fotos)
t
Francis Drake. Das muralhas, avistase a Cidade Velha e, ao lado dela, o vale fértil que se entranha no interior da ilha. Eis uma das ribeiras típicas de Santiago, que o viajante encontrará noutras paragens, oásis isolados entre paisagem árida, abençoados com nascentes de água doce e povoados de mangueiras, bananeiras, coqueiros, calabaceiras e produção hortícola. Da fortaleza desce-se até à Cidade Velha e passa-se pela ruína triste da catedral, que não resistiu ao saque pirata de Jacques Cassard em 1712. Desce-se um pouco mais, ainda, deixando o promontório e o seu núcleo de casas modestas, até ao bordo da pequena baía tão cheia de memórias navegantes. O pelourinho manuelino jaz à sombra de palmeiras, lembrando que naquele canto se escutaram sinistros pregões leiloeiros. Entrando na ribeira, a caminho das hortas, damos com dois exemplos de arquitectura religiosa que sobraram de um conjunto que chegou a reunir mais de vinte igrejas e ermidas. Um é a Igreja do Convento de São Francisco, do século XVII; o mais antigo é a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, padroeira dos escravos, datada do final do século XV. O templo é singelo, de nave única, com lusitana azule-
Leia esta reportagem na íntegra em:
http://tempolivre.inatel.pt
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16 // MEMÓRIAS // TL Fevereiro/Março 2016
// A VIAGEM DA MINHA VIDA
Luis Miguel Cintra A surpresa num vagão Descobrimos a viagem que mostrou novas realidades ao conceituado ator e encenador. De Paris para Lisboa num comboio cheio de emigrantes portugueses. O regresso a casa num vagão que lhe deu outro mundo
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eados da década de sessenta. Luis Miguel Cintra tinha terminado o liceu. Foi com o colega e amigo Nuno Júdice para Paris. Durante um mês quis fazer um curso de História de Arte no Louvre. Todas as manhãs, na cidade-luz, deixava-se iluminar por traços e figuras feitas por pessoas que representaram a vida humana e as paisagens da vida. A vida é a construção de um caminho. Que só se compreende depois de ter sido percorrido. Vontades, circunstâncias, reações aos acontecimentos, passos que se dão até se chegar lá. Palavras trocadas, experiências contadas, sensações partilhadas. Só depois de falarmos de outros itinerários e de termos mudado o rumo da conversa é que chegámos lá. Por vezes é preciso ir por novos percursos para se encontrar o tal caminho. Foi assim que se encontrou a viagem de Paris a Lisboa, o regresso a casa. Era 1 de agosto, o dia em que muitos emigrantes voltam à terra que um dia deixaram em busca de uma existência melhor para si e para os seus. Cintra tinha comprado o bilhete para Lisboa. Tinha lugar reservado naquela viagem. Mas quando entrou no comboio já não havia números para ordenar os passageiros. As marcações dos lugares foram arrancadas. “O comboio estava com o dobro das pessoas que podia levar. Havia malas por todo o sítio. Fui até à fronteira espanhola sem me conseguir sentar uma única vez.” Não havia sequer a possibilidade de ir à casa de banho. Ninguém conseguia sair do exíguo espaço que ocupava. Viu um homem, aflito, a ter de fazer as neces-
sidades fisiológicas num local inesperado, depois de uma mulher lhe ter gritado: “Ó homem mije pela janela!” “Num sítio civilizado seria má educação, mas esta liberdade de comportamentos, para mim, funcionou como uma coisa boa, sobretudo, por ter havido pessoas capazes
“Conheci os emigrantes daquela época que partiram para França com a ideia de ganharem alguma coisa e voltarem a Portugal com mais dinheiro para aqui terem uma vida possível”
de dizer uma frase assim. Gente que perdeu a vergonha, porque a situação era mais grave do que os hábitos do mundo.” “Nesta viagem”, acrescenta, “tive o prazer enorme de viver momentos com referências culturais e hábitos novos para mim. Conheci os emigrantes daquela época que partiram para França com a ideia de ganharem alguma coisa e voltarem a Portugal com mais dinheiro para aqui terem uma vida possível. Convivi com eles de igual para igual. Se eu tivesse reagido mal, teria sido uma coisa horrível. Esta foi uma das viagens mais importantes que fiz, porque se passou algo de extraordinário que se tornou num momento de vida potencializado e me trouxe conhecimento de outras José Frade
pessoas, de maneiras de funcionar que nunca tinha visto – trouxe-me coisas novas.” Há instantes que ajudam a compreender melhor o ser humano, a ver no outro e em nós a capacidade de superação, de quem dá mais do que se está à espera que se dê. Sente curiosidade pelos outros. Deixa-se surpreender. E transporta consigo o movimento das pessoas. Gosta de espaços largos para descansar do vaivém dos dias. Uma vez, um colega espanhol disse-lhe que tinha mudado para um apartamento no 14.º andar, onde “tem muito céu”. É nesta afirmação que ele também se reconhece. Gosta de paisagens sem horizontes: “Adoro sentir-me nas estradas que ligam a fronteira portuguesa a Madrid. As estradas da Estremadura e de Castela são retas e retas de searas. Se não estou a guiar, divirto-me imenso a fazer fotografias de nuvens – tenho uma coleção delas. As nuvens têm formas misteriosas que nos projetam para um trabalho de imaginação e ausência de limites.” Quando olha para o céu sente-se livre. Talvez seja por isso que fale também num lugar, terreno, onde gostasse de estar sem a sujidade do mundo civilizado. “É o ideal dos eremitas. É o simples, desde que tenha o que comer, sinta o sol, esteja confortável e sem dores. Que seja um eixo de contacto com a própria natureza exterior, menos filtrada pelos aquecimentos elétricos, o micro-ondas, a televisão, etc. Sem nada dessas coisas que são o mundo do consumo.” Menos é mais. E é nesta simplicidade que quer caminhar. Em todas as viagens da vida. n Sílvia Júlio
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TL Fevereiro/Março 2016 // AUTORES // 17
// JARDIM DOS TÍTULOS
Lídia Jorge “Trocaria a minha alma por um livro” ol de inverno. Memórias. Passeios nas margens do Sena. Verdades líquidas. Ver pessoas reais, inteiras, verticais. Amantes e amados feitos de letras e artes. Leituras infinitas. Páginas soltas. A revista francesa Le Magazine Littéraire, em 2013, incluiu Lídia Jorge entre as “10 grandes vozes da literatura estrangeira”. A sua voz entra no maravilhoso reino dos livros, com O Vento Assobiando nas Gruas, perto d’A Costa dos Murmúrios, para sonhar O Dia dos Prodígios, porque com ela também Combateremos a Sombra. Autora amplamente distinguida com prémios literários, nacionais e internacionais, tem uma vasta obra que se encontra traduzida em muitas línguas e países. Vamos ao seu encontro para ouvir que “os livros também servem para anunciar novos tempos”. O jardim que lhe pertence situase no real ou no imaginário? Mal de quem não tem um jardim que lhe pertence. Mal, também, se esse jardim não possui uma álea na realidade e outra na imaginação. Só sobrevivemos porque andamos por esse caminho duplo. O meu jardim real é feito das árvores da minha infância, dos caminhos circulares da adolescência, e das partes do mundo que depois me foi dado conhecer. No jardim do imaginário está a Literatura, essa região do espírito, tão larga que nela se espelha a vida inteira, desde que os homens falam. Existe nela todo um jardim sem limites. O que podemos encontrar n’O Jardim Sem Limites? “O Jardim sem Limites” é o título de um livro que parte precisamente dessa ideia, de que existem jardins sem limites na
S
nossa imaginação. O livro, porém, fala do confronto entre a ausência de fronteiras no domínio do desejo e os limites que nos cercam, tanto no plano da nossa vida privada quanto no plano da história humana. É um livro construído em forma de rosácea. No final, os protagonistas, um grupo de jovens, amedrontados com o que se passa na rua, dormem numa mesma cama para afastarem o medo de que o anjo da destruição os atinja. Os livros também servem para anunciar novos tempos. Que caminhos foram necessários percorrer para chegar lá? Lendo sobre o passado e abrindo a imaginação ao futuro. Na Torah de Bagdad pode ler-se que o futuro está cheio de passado. Invertendo, percebe-se que o passado, esse presente que está sempre a acontecer, contém em parte o filme do futuro que está para vir. De resto, basta escutar o tempo. Numa entrevista publicada na revista francesa Télérama, em 2015, disse: “Escrever é praticar a grande medicina da alma.” Precisa de tomar diariamente doses homeopáticas de reflexão para curar os males da vida? As minhas doses homeopáticas são sobretudo feitas de suplementos de vida. Depois é que vêm as doses de reflexão. Narrar é isso mesmo, juntar os dois suplementos. É uma questão de temperamento. Eu não nasci para pronunciar em voz alta. Julgo, Penso, Avalio, Sei. A minha forma de pensar, reflectir ou julgar começa pela fórmula primordial de discernir que tem por início do pensamento, Era uma vez, mesmo quando não fica escrito. Nada de mais revigorante, mais cheio de futuro e de esperança do que iniciar uma narrativa. Wim
João Pedro Marnoto
“Narrar, ou ler narrativa, é não deixar que a nossa infância desapareça. É prolongar nessa infância pessoal a infância do mundo inteiro” Wenders, no filme “As Asas do Desejo” cria uma voz para Homero que diz – “Devo desistir? Se eu desistir, então a Humanidade irá perder o seu contador de histórias. E com ele a própria Humanidade irá perder a sua infância.” Não se deve desistir desse propósito. Narrar, ou ler narrativa, é não deixar que a nossa infância desapareça. É prolongar nessa infância pessoal a infância do mundo inteiro. Joaquim Pessoa escreveu: “Sou apenas um escritor. Um cultivador. Um jardineiro. Um florista. A minha felicidade flutua entre o estrume que deponho na raiz das palavras e o aroma que me excita quando acabo de as colher.” Por onde flutua a sua felicidade? É muito bela a síntese de Joaquim Pessoa. Não sei dizer melhor. Também padeço da mesma
oscilação, entre estrume e aroma. Os românticos já o disseram nos séculos passados. Eles foram à essência desta função e nada há a acrescentar. De resto, tudo o que posso dizer sobre o tema já o disse – Trocaria a minha alma por um livro. Um livro onde eu atingisse o rasgão no tempo que procuro. Nessa procura flutuam, lado a lado, frustração e felicidade. Nunca se chega lá, mas o caminho é, por si mesmo, o grande fim. Os cravos de Abril foram suficientes para disseminar as sementes de liberdade? Os cravos de Abril continuam tão viçosos que os jovens desconfiam dessa longevidade, e os tomam por flores de plástico. Mas não são. Têm as pétalas vivas no coração da geração que andou com eles na rua, e na vida dos que vieram depois e não sabem quanto do seu próprio perfume é obra dessas flores. Não há como comparar o que era antes e o que veio depois. Vivemos em liberdade. O que falta, ainda, florir em Portugal? Infelizmente ainda falta muito para termos justiça e equilíbrio social. Viemos de muito longe na pobreza, na ignorância e no medo de mostrarmos a opinião em público. Ainda temos medo. Acredito que uma reviravolta irá acontecer. Os jovens de hoje não tomarão as mesmas flores, porque elas já não lhe parecem naturais. Já que estamos nas metáforas dos jardins, eles irão encontrar uma nova espécie que seja sua, e possa completar o que está por fazer, sem desfazer o que de melhor foi feito. n Teresa Joel [Por vontade da escritora o texto é publicado de acordo com a antiga ortografia]
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TL Fevereiro/Março 2016 // SABORES // 19
// MESA PARTILHADA COM...
Receita // BACALHAU À BRÁS COM “AZEITONAS EXPLOSIVAS”
José Avillez Famoso chefe traz boas memórias da infância, quando era o “cozinheiro de serviço”, e preparava a refeição para o grupo de Escuteiros Fotos: Paulo Barata
Ingredientes para 4 pessoas: 400 g de bacalhau; 500 g de batata; azeite para fritar q.b.; 3 cebolas; 1 dente de alho; 3 colheres de sopa de azeite virgem; 8 ovos biológicos + 4 gemas; salsa, sal e pimenta q.b. Azeitonas Explosivas: 1 dl de sumo de azeitona verde (azeitonas verdes, sem caroço, trituradas e coadas e espremidas por um pano); 0,2 g de gluco; 0,5 g de goma xantana; 30 g
segundos para que se forme uma
de azeite marinado com laranja,
bolinha e retire com cuidado com
limão, alho, tomilho e filtrado; 500 ml
uma colher com furos. Deixe
de água com baixo teor em cálcio;
escorrer e passe para uma taça com
2,5 g de alginato.
água. Escorra novamente com
l Para
cuidado e reserve em azeite.
preparar as azeitonas
explosivas, junte o sumo de azeitona
“É
o meu prato preferido desde sempre. Quando tinha 10 ou 11 anos, fazia parte dos Escuteiros e, quando era a minha vez de ser o cozinheiro de serviço, este era um dos pratos que mais gostava de preparar. As outras brigadas juntavam-se a nós para comerem este Bacalhau à Brás,
que era preparado, muitas vezes, na fogueira. Já na altura utilizava uma técnica diferente. O truque era, depois de ficar com um bom brasido, colocar algumas pedras por cima, para evitar o fogo direto no tacho. Assim, as pedras ficavam bem quentes e era possível preparar um Bacalhau à Brás mais cremoso.”n
Retire a pele e as espinhas ao
verde, a goma xantana e o gluco.
bacalhau previamente demolhado.
Triture com a varinha mágica e
Desfie o bacalhau e reserve.
reserve no frigorífico durante, pelo
Descasque as batatas e corte-as em
menos, 12 horas. De seguida, triture
palha. Frite as batatas em azeite
25% da água com o alginato.
quente até alourarem. Reserve.
Acrescente a água restante, misture
Corte o alho e as cebolas em
bem, deite num recipiente
rodelas finas. Num tacho de fundo
transparente e fundo, de vidro de
espesso, refogue lentamente a
preferência, e deixe descansar no
cebola e o alho em azeite, em lume
frigorífico, pelo menos, durante 12
médio, até a cebola estar cozida e
horas. Retire a mistura de azeitona e
transparente. Junte o bacalhau
a mistura de alginato do frigorífico 30
desfiado e envolva bem. Junte a
minutos antes de prosseguir a
batata palha ao bacalhau e
preparação. Passados os 30
acrescente as gemas e os ovos
minutos, encha uma colher própria
batidos com salsa picada e
para o efeito (se não tiver, poderá
temperados com sal e pimenta.
usar uma colher parisiense) com a
Mexa continuamente até que os
mistura de azeitona, aproxime-a da
ovos se tornem cremosos. Salpique
mistura de alginato o mais perto que
com um pouco mais de salsa picada
conseguir (devera ficar a 1 mm de
e finalize com as azeitonas
distância) e vire-a. Espere 30
explosivas. Sirva de imediato.
Café Lisboa – Teatro Nacional de São Carlos – Largo de São Carlos, 23 – 1200-410 Lisboa | Tel. 21 191 44 98 | www.cafelisboa.pt
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20 // FICÇÕES // TL Fevereiro/Março 2016 // OS CONTOS DO ZAMBUJAL
Fugas inco minutos antes das quatro da madrugada, Acácio Bruno acordou de um pesadelo: sonhara que tinha uma forma de lobo. Uma vez acordado reparou que, na realidade, o estômago dava sinais de uma fome de lobo. Estendeu um braço para acordar Nivolina e lhe contar de tão estranha coincidência. Surpresa: viu-se sozinho na cama, o lugar de Nivolina era um vazio intrigante. À mesma hora, Leopoldo Ercílio acordou de um pesadelo. No pesadelo, doía-lhe a barriga. Desperto, observou, espantado, que realmente lhe doía a barriga. Quis dizer a Flaviana como se pode sonhar com o que de facto aconteceu, mas de Flaviana nem sinal nos lençóis. Pelas oito da manhã, Acácio Bruno telefonou ao seu grande amigo e confidente Leopoldo Ercílio para desabafar acerca do desaparecimento de Nivolina. Extraordinário, Leopoldo Ercílio ia também telefonar ao amigo com novidades idênticas. – Também a tua Flaviana desapareceu? – admirou-se Acácio Bruno. – Talqualmente a tua Nivolina – disse, desolado, Leopoldo Ercílio. – Será que – imaginou Acácio Bruno, fugiram juntas? – Pelos vistos, sim. Mas nada de confusões: podem ter fugido juntas mas não significa que a Nivolina e a Flaviana tenham um romance – estás a entender-me? – Estou a entender. Claro que não há um romance entre elas, alto lá, só se decidiram dar por férias os romances que a Nivolina tinha comigo e a Flaviana
C
vivia contigo. – Exactamente, meu caro Acácio Bruno, a questão é esta: porquê? Mas porquê? O interpelado fez um silêncio longo e depois disse: – Custa-me reconhecer, Leopoldo, mas a minha mulher sempre gostou de ti. Não vale a pena esconder. Quem a encanta é um tipo como tu, dado a museus, bibliotecas, música, discos, leitura de filósofos e coisas assim. – Engraçado, a minha Flaviana chegou a dizer-me: tenho pena, Leopoldo que tu não sejas como o Acácio Bruno, um pouco vadio, é verdade, mas divertido, gozado da vida, leitor incansável de todos os jornais desportivos, amigo das noites com amigos, ele é o máximo, Leopoldo. – Ai ela disse isso? – Disse. – Então, meu caro, o remédio, se elas aceitassem, seria esse: tu ficavas com a Nivolina e eu com a Flaviana. – Bem visto. O problema, meu filho, é que eu gosto da minha
Flaviana e não me interessa a tua Nivolina. – Ora aí está! Eu também prefiro a minha Novolina, mesmo que ela te preferisse a ti. Portanto, mesmo a dar-se o caso de quererem trocar de marido, nós não queríamos. – Exactamente. Mas se elas não voltarem para suas casas, estando lá nós, a solução poderia ser sairmos nós das casas. – Muito bem pensado. E íamos para onde? – Por exemplo para casa do meu cunhado Eleutério, tem três quartos e vive sozinho desde que a minha irmã Zulmira o deixou. – Deixa-me pensar. – Pensar? – Pois eu penso que não resulta. – E não resulta porquê? – Porque quando elas souberem que deixamos os domicílios podem voltar e nós ficamos na rua. – Na rua? – Bem vês, não vamos morar tempos infinitos na casa do teu
cunhado Eleutério. – É verdade. E se eu for para a tua casa e tu para a minha e quando elas regressarem te virem a ti em vez de mim e a mim em vez de ti? – Não quero. Gosto da Nivolina. – Eu também não. Quero a Flaviana. Não seria capaz de viver com a tua Nivolina, por muito que ela aprecie o facto de eu gostar de música clássica, museus, bibliotecas e leitura de filósofos. – Como eu te compreendo, Leopoldo. Sensibiliza-me que a tua Flaviana admire o meu gosto pela folia, mas não dava. – E agora? – Agora esperemos. É evidente que tanto a Flaviana como a Nivolina quiseram pregar-nos um susto, mas não tarda estão de volta. – É o que acho. – Agora supõe tu, caríssimo, que nunca mais se resolvem a voltar aos seus lugares, a Flaviana contigo e a Nivolina comigo? – Leopoldo Ercílio gastou um José Frade tempo a meditar, finalmente respondeu: – Sabes o que eu acho? – Não. – De nunca mais nos procurarem? – Precisamente. – Analisando bem a situação, sabes como vejo a hipótese de não voltarem para os nossos braços? – Diz. – Pois digo: isso é que era bom. – Tão bom que não acredito. Mais dias menos dia temo-las à perna. – Tomara que não. – É o que eu penso: tomara que não. n
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TL Fevereiro/Março 2016 // HORIZONTES // 21
// CULTURANDO
Livros na igreja, livros por toda a parte
A melhor companhia acha-se numa escolhida livraria. Provérbio Português o contexto actual que assiste continuadamente ao encerramento de livrarias, em concorrência desleal com os grandes grupos de retalho, quais hipermercados de papel, e em desequilíbrio com a paulatina substituição do livro como o conhecemos ainda, em forma de códice, pelo formato digital e o acesso fácil a conteúdos pela Internet, surge o projecto Óbidos Vila Literária, que elegeu a Igreja de São Tiago como seu espaço central, hoje reconvertida na Grande Livraria Santiago. Situada no interior das muralhas da vila, na Cerca Velha, junto à entrada do castelo, encerrada ao culto religioso e votada ao abandono, foi transformada em espaço literário pela Ler Devagar e Câmara Municipal de Óbidos, num movimento “contra a corrente” do paradigma do livro como produto para consumidores, e não para leitores, mantendo o uso social do edifício e semeando livros novos
N
de todo o tipo, numa afirmação da pluralidade e diversidade cultural. A grandeza deste verdadeiro “mundo do livro” renascido como local de novos cultos, reside tanto na recuperação do edifício, por si mesmo uma obra de arte, como na reabilitação de um templo com mais de oitocentos anos. Aqui é permitido ao visitante percorrer toda a igreja, envolvido por estantes até ao altar, devolvendo-lhe o fascínio antigo pelas livrarias de fundos, com um amplo catálogo de temática generalista, onde os títulos não desaparecem na medida da oferta e da procura. Nascida de um acto de fé, arrojado e de risco, a Grande Livraria Santiago constitui um ponto de encontro, de valorização e de divulgação do livro e da leitura, numa pequena vila com pouco mais de dois mil habitantes, a quarenta e cinco minutos de Lisboa, abarcando um projecto e uma programação literária que procura trazer uma renovada centralidade e outros públicos a Óbidos. n Sofia Tomaz [A autora escreve de acordo com antiga ortografia]
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22 // PALCOS // TL Fevereiro/Março 2016
// EM CENA NO TRINDADE INATEL
Um palco aberto ao país No mês em que se comemora o Dia Mundial do Teatro, o Trindade abre as portas a dois grupos de teatro: Art’Imagem, do Porto, e ACTA – Companhia de Teatro do Algarve DR
O
espetáculo “Instruções para voar”, de Lídia Jorge, é interpretado por Luís Vicente e Elisabete Martins, com encenação de Juni Dahr, que assina a dramaturgia e conceção visual com Eva Dahr. A encenadora trabalhou com Liv Ullmann e Ingmar Bergman, teve ligações ao Teatro Laboratório de Grotowski e Actors Studio, passando pelo Teatro Nacional de Bergen, fundou a Visjoner Teater. O texto, escrito propositadamente para a ACTA, centra-se em duas personagens, Emil e Laura, que se encontram por acaso, em circunstâncias obscuras. Duas histórias de vida distintas que se confrontam, duas pessoas demasiado fechadas sobre si próprias. Na dinâmica do espetáculo o coro é utilizado para comentar os pensamentos difusos dos protagonistas e apontar-lhes, como na Tragédia Grega, os caminhos inevitáveis do destino. Cenografia e figurinos de JeanGuy Lecat, que durante 25 anos foi diretor técnico e cenógrafo de Peter Brook, e também trabalhou com Becket. Coro de alunos do Curso de Artes do Espetáculo da Escola Secundária Tomás Cabreira, de Faro. De 18 a 27 março (exceto dia 25), de 4ª a sáb. 21h30, dom. 18h. Conversa com o Público, domingo, 27, após o espetáculo.
Sala Estúdio Três espetáculos do Art’Imagem
Uma dramaturgia forte e contemporânea é a proposta do coletivo portuense, dirigido por José Leitão. Os textos de Pedro Eiras e Manuel Jorge Marmelo ombreiam com a obra do escritor uruguaio Eduardo Galeano. As veias abertas da humanidade – Memória de Amor e Guerra, baseado na obra de Galeano, com Daniela Pêgo, Flávio Hamilton e Pedro Carvalho, dramaturgia e ence-
nação José Leitão, em cena de 10 a 13. “O Vosso pior pesadelo”, de Manuel Jorge Marmelo, com Flávio Hamilton, Miguel Rosas e Pedro Carvalho, de 17 a 20, e um monólogo de Pedro Eiras, “Um Punhado de Terra”, interpretado por Flávio Hamilton, de 24 a 27. Os três textos contam e falam de outros mundos de gentes que não têm tido voz. De 5ª a sáb. 21h45, dom. 17h. Conversa com o público dias 10, 17 e 24 de março. Dança contemporânea O Cumplicidades – Festival Internacional de Dança Contemporâ-
nea de Lisboa, apresenta “Intermitências”, conceção e coreografia de Joclécio Azevedo, com André Mendes, Bruno Senume, Camila Neves, Joana Castro, música de Kubik (aka Victor Afonso) e figurinos de Jordann Santos, na sala Eça de Queiroz, 12 e 13 de março. O programa inclui duas palestras do Ciclo “O Meu Processo”, por Joclécio Azevedo, dia 9, às 18h, Vânia Rovisco, dia 12, às 18h, e o espetáculo “Reacting to time”, de António Olaio, com direção e Vânia Rovisco, 14 de março, às 19h, no Salão Nobre, com entrada livre.
Conferência Deambulação pela Arte (como coisa) Pública
A partir de uma cartografia da arte como coisa pública e urbana, conforme realizada no seu livro 'Arte na Cidade', Mário Caeiro partilha um percurso de experiências nesse 'teatro de operações' que é a cidade contemporânea. Desde 1995 que Mário Caeiro concebe e produz projetos culturais e de espaço público. O mais recente é LightCraft Belmonte, ao Bairro do Castelo (2016). Dia 22 março, no Salão Nobre, às 18h30, entrada livre. n
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TL Fevereiro/Março 2016 // OLHARES // 23
// ARQUITETURA DOS TEMPOS LIVRES
Parque Gulbenkian Um oásis de arte, ciência, cultura e lazer Parque da Fundação Calouste Gulbenkian, com uma área de 7,5 hectares, foi adquirido pela Fundação aos Condes de Vilalva, em 1957. Após ter recebido o Jardim Zoológico, um Centro Hípico e a Feira Popular de Lisboa, o Parque de Santa Gertrudes manteve o espírito a preservar, no entender dos arquitetos paisagistas António Viana Barreto e Gonçalo Ribeiro Telles que conceberam o Parque, os jardins e os terraços ajardinados. No interior do Parque foram projetados, pelos arquitetos Alberto Pessoa, Pedro Cid e Ruy Athouguia, os edifícios da Sede e Museu da Fundação e no final dos anos 70 foi concebido o Centro de Arte Moderna por Azeredo Perdigão. O desenho do jardim assentou na preservação do coberto arbóreo existente no Parque de Santa Gertrudes e na escolha criteriosa de árvores, arbustos e flores visando criar um espaço de recato, um paraíso na cidade. Foram necessárias modificações importantes no relevo original para a criação de um lago, um anfiteatro e a instalação de lajes no solo, para permitir uma circulação fácil e para que “a forma dos bosques e clareiras, a presença da água, o contraste da luz e da sombra correspondessem à essência das paisagens portuguesas”. O novo Centro Interpretativo dos jardins da Gulbenkian, designado Gonçalo Ribeiro Telles, refere estas e outras particularidades. Na memória descritiva de 1961 é referido que a solução arquitetónica, a localização e o funcionamento dos edifícios se encontram eficazmente ligados à mancha verde envolvente conferindo uma perfeita
O
continuidade entre espaços interiores e exteriores. A relação entre o edifício e o espaço verde é tão íntima que a vida do edifício se prolonga naturalmente para as salas ao ar livre e destas para as interiores, mantendo, no entanto, cada um dos espaços, as suas características bem definidas que, sem se misturarem, se completam mutuamente. Em 2005 iniciou-se a renovação do Parque, com introdução de novos percursos para pessoas com mobilidade reduzida, novos espelhos de água e espécies, com projeto do arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles. O edifício verde da Fundação Calouste Gulbenkian constitui exemplo ímpar dos novos caminhos da Arquitetura Moderna Portuguesa da década de 60, distinguido com o Prémio Valmor, em 1975, e classificado como Monumento Nacional, em 2010. O Museu, organizado em torno de dois jardins interiores e com inúmeros vãos amplos, envidraçados para o exterior, facilita o permanente diálogo entre Natureza e Arte. O Parque Gulbenkian constitui um pequeno oásis numa cidade cada vez mais carenciada de espaços verdes, que convidem a um passeio tranquilo em contacto com a natureza que, todos os dias, apresenta uma cambiante diferente, proporcionando ao visitante um permanente desfrute. n Ernesto Martins
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24 // SABERES // TL Fevereiro/Março 2016
// TEMPO DIGITAL
// LÍNGUA NOSSA
Realidade virtual
Em Fevereiro e no ano inteiro, a coragem primeiro! José Frade
as grandes feiras internacionais da electrónica de consumo que se realizam anualmente no mês de Janeiro (CES-USA e IFA em Berlim) os fabricantes apostaram quase todos na chamada Internet das Coisas e na Realidade Virtual. A primeira, estamos há algum tempo a vivê-la com todos os dispositivos a poderem ligar-se entre si e através da Net. Coisas como frigoríficos e carros que conectamos através de smartphones já andavam por aí. Será de facto o futuro mas ainda pouco acessível nos preços. Mas a Realidade Virtual passa de facto a ser real. Prevê-se que as vendas de equipamentos como os famosos óculos que permitem a sensação de estarmos a viver em ambientes nunca imaginados atinjam este ano as 14 milhões de unidades. Essa
J
tecnologia que engana ao cérebro, fazendo-nos acreditar que pilotamos um avião, exploramos um qualquer planeta descendo numa nave espacial na Lua ou em Marte ou que estamos no fundo do mar rodeados de peixes e corais, vai estar de tal modo presente nas nossas casas onde entrará todo o mundo por mais fechadas que estejam as portas. Apesar do conceito não ser novo pois podemos recordar os jogos de computador que há várias décadas nos apresentavam
simuladores de condução e de voo em aeronaves, existentes também para treino dos pilotos da aviação comercial, esta nova Realidade Virtual significa um espaço onde o indivíduo vive uma experiência de imersão, tendo sensações reais de pertencer ou interagir com elementos que embora interactivos e com aspectos tridimensionais só existem virtualmente. A Realidade Virtual é assim a técnica que permite a maior interacção e imersão (sensação de estar dentro do que o computador projecta) a quem a utiliza. No futuro os elementos virtuais vão enviar estímulos para o utilizador de modo que ele os perceba utilizando o maior número possível de sentidos. Para já, os críticos destacaram o Gear VR, apresentado pela Samsung, uns óculos de realidade virtual com os quais mergulhamos numa nova experiência, uma espécie de viagem ao futuro, qualquer que ele seja, a partir do conteúdo móvel existente num smartphone. Importante, na nossa modesta opinião (e já se fazem ensaios nesse sentido) é a aplicação da realidade virtual à medicina contribuindo para a formação de novos cirurgiões, operando em corpos virtuais, ou terapias de psicologia comportamental para tratamento por exemplo de fobias em que o paciente, através dos óculos, é colocado virtualmente nas situações que necessitam tratamento. n Gil Montalverne [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]
á repararam que, cada vez mais pessoas têm dificuldade em evidenciar uma opinião diferente da considerada como socialmente dominante? Em sentido idêntico, aliás, não poderíamos questionar, acerca de algumas atitudes, nos mais distintos domínios, mesmo sem entrar no tão controverso como específico universo da moda que, por definição, procura generalizar uma maneira de vestir? Que receio será este de afirmar a diferença? Vergonha? Timidez? Afinal, que pessoal dificuldade é esta que, nuns casos, leva alguém a não dizer, noutros, a não fazer aquilo que mais de acordo estará com a sua forma de ser, de estar, individual e colectivamente? Não estaremos nós próprios com receio de enquadrar e encarar a questão como característica de personalidade? Pois, bem me parece que sim. E, se assim for, não chamamos as coisas pelos nomes… Na realidade,
J
assim acontecerá porquanto o nome que por aqui paira tem muito desagradáveis conotações… Se bem entenderam, falamos do cobarde/covarde, palavra que admite as duas grafias e, morfologicamente, tanto podendo ser substantivo como adjectivo. Provêm do francês, antigo "coart", hoje "couard", significando que tem a cauda abaixada, caída. Ex: É tão farsante como cobarde. Poderia terminar com outro exemplo muito adequado à reflexão para a qual hoje vos convidei, algo como Aqueles que escondem uma opinião válida são uns covardes. Só não o faço porque ainda tenho de vos lembrar que outras palavras há, como cota, regime, trasmontano que, admitindo dupla grafia, vos podem aparecer, respectivamente, sob as formas de quota, regímen, transmontano. Se assim suceder, não se assustem, enfrentem-nas com coragem… n João Cachado [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]
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TL Fevereiro/Março 2016 // CARTAZ // 25
// ECRÃS
O cinema é uma grande aventura Estreia do novo Terrence Malik não ofusca, nem de perto nem de longe, boas surpresas europeias ca, tema de comédia burlesca, poucochinho ortodoxa e temperada de humor absurdo e lirismo poético, é uma ousadia de enorme risco. Mas Dormael (o realizador de “Totó o herói”) é lúcido, e a sua velha alma é o que sempre foi: humanista.
Mustang, de Deniz Gamze Ergüven França/Turquia/Alemanha, 2015, 1h37. Com: Gunes Sensoy, Dogba Doguslu, Tugba Sunguroglu. Em cartaz.
Da adolescência rebelde, e denúncia da educação retrógrada contra a condição e liberdade feminina, trata esta primeira obra de uma mui promissora jovem cineasta turca, híper-premiada internacionalmente. Candidato ao ‘Oscar’ para melhor filme estrangeiro.
Posto Avançado do Progresso, de Hugo Vieira da Silva | Portugal, 2015, 2h. Com: Nuno Lopes, Ivo Alexandre, David Caracol. Estreia a 17.
Uma reflexão sobre a condição humana e as tensões psicológicas centrada nas vivências dramáticas de dois colonizadores portugueses em África nos finais do século XIX. Baseado na novela “An Outpost of Progress” de Joseph Conrad.
O Filho de Saul, de László Nemes Hungria, 2015, 1h47. Com: Géza Röhrig, Levente Molnár, Urs Rechn. Em cartaz.
O horror do genocídio nazi revisitado através do drama de sobrevivência, duro e opressivo, dum prisioneiro de Auschwitz-Birkenau forçado a laborar nos crematórios que um dia se depara com o corpo de um rapaz que reconhece como seu filho. Grande Prémio Cannes 2015. ‘Globo de Ouro’ para melhor filme estrangeiro.
O Panda do Kung Fu 3, de Alessandro Carloni e Jennifer Yuh EUA, 2015,1h35. Animação. Vozes (versão original): Jack Black, Dustin
e do drama intimista “A Árvore da Vida” prossegue a via da abstração poética, sombria e complexa. Três Recordações da Minha
sobre o existencialismo, a família e a civilização: um antropólogo de meia idade regressa a França após longa ausência e relembra os tempos de infância e juventude.
Hoffman, Angelina Jolie, Jackie Chan. Estreia a 17.
Deneuve, Yolande Moreau.
Para as crianças em idade escolar à espera do novo Panda Kung-Fu: a nova aventura de Po mantém em alta o poder de atracção que o caracterizou, possui o mesmo requinte técnico (e formal), a mesma capacidade de divertir e de nunca deixar de… surpreender. Joaquim Diabinho
Estreia a 10.
[O autor escreve de acordo com a
Fazer de Deus, e da religião católi-
antiga ortografia]
Cavaleiro de Copas, de Terrence
Juventude, de Arnaud Desplechin |
Malick | EUA, 2015, 1h58
França, 2015, 2h03. Com: Quentin
Deus existe e vive em Bruxelas,
Com: Christian Bale, Natalie
Dolmaire, Lou Roy-Lecollinet,
de Jaco Van Dormael | Bélgica/
Portman, Cate Blanchett. Estreia a 3.
Mathieu Amalric. Estreia a 10.
França /Luxemburgo, 2014, 1h52.
Um escritor de comédias em busca da felicidade e o sentido da vida. Para que conste: o autor do épico contemplativo “Barreira Invisível”
O cineasta de “Esther Kahn” (com a espantosa Summer Phoenix) e “Um Conto de Natal” retoma a sua especial vocação para histórias
Com: Benoît Poelvoorde, Catherine
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26 // A FECHAR // TL Fevereiro/Março 2016
// MOTOR
// SUGESTÕES
Novo Smart Fortwo: único na cidade
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Smart foi, desde sempre, mais do que um construtor automóvel: é uma grande ideia para a mobilidade urbana. O Smart Fortwo, cresceu em todos os sentidos. Com apenas 2,69 metros de comprimento, um design totalmente novo e soluções inteligentes adicionais, estabelece novos parâmetros na classe em que se insere. Sistemas de assistência inovadores para maior segurança e conforto, diâmetro de viragem imbatível, impressionante oferta de espaço e acabamentos de elevada qualidade são alguns dos destaques do pequeno carro. Com um visual refrescante, o novo Smart Fortwo é 10 centímetros mais largo do que o seu antecessor, o que se reflete na sensação de espaço. Os eficientes motores a gasolina, de 3 cilindros, com potências de 61 cv, 70 cv, ou 90 cv, bem como uma nova caixa manual de 5 velocidades contribuem para uma condução divertida mesmo em trajetos urbanos curtos. Para uma condução ainda mais confortável, podese optar, como extra, pela caixa automática twinamic de 6 velocidades com dupla embraiagem. Graças às duas caixas parciais a mudança das velocidades realiza-se em centésimos de
Natália Nunes Coordenadora do Gabinete de Apoio ao Sobre-endividado Deco
Economia pessoal: atenção aos créditos Após quatro anos de restrição da concessão de crédito, motivada pela necessidade dos bancos em cumprir os rácios de transformação recomendados pela troika, as famílias portuguesas estão a voltar a pedir mais crédito, incluindo ao consumo e à habitação. Por outro lado, as famílias adiaram a decisão de contratarem devido à diminuição
segundo, seja automáticamente ou com patilhas no volante. O equipamento de série é tudo menos vulgar com inúmeras funções de segurança, como o Assistente de Vento Lateral, cinco airbags ou o Cruise Control com limitador de velocidade. De referir ainda diversas funções e características que facilitam a vida na cidade e a tornam mais descontraída como a Direcção Direct Steer, apoio no arranque em subidas ou o painel de instrumentos com computador de bordo. Igualmente incluídas a bordo são as inteligentes soluções de arrumação, a tampa traseira bipartida e o banco do passageiro com capacidade de carga ao comprido. O novo Smart Fortwo encontra-se à venda em Portugal a partir de 10.950 Euros. n Carlos Blanco
significativa dos seus rendimentos e à incerteza quanto à evolução da situação económica. Presentemente, num cenário de regresso ao mercado do crédito, é fundamental que cada consumidor ou agregado familiar efetue a avaliação da sua própria situação financeira, quer em termos orçamentais, quer em termos de objetivos. Embora seja verdade que o crédito permite adquirir bens de elevado valor que, de outra forma, seriam inacessíveis para muitas pessoas, como é o caso de uma habitação própria, importa ter presente que as prestações associadas ao crédito constituem um tipo de despesa fixa e que a família deve sempre avaliar o seu impacto no orçamento familiar até à amortização total do empréstimo.
// PALAVRAS CRUZADAS // Por José Lattas
VERTICAIS:1-Arma submarina, destinada por choque, contra navios adversários, a explodir e causar a sua destruição; Desafectado. 2-Nome masculino; Velhices. 3-Pega. 4-Número necessário para, que uma assembleia deliberativa, possa funcionar; Órgão excretor, que tem a seu cargo, a função da formação da urina. 5-Tornaram urbano. 6-Alcançava; Costado; Voz do gato. 7-Metalóide sólido e brilhante, mais ou menos parecido com a plumbagina, com grandes propriedades antisépticas (inv.); Na mitologia grega. o deus dos ventos. 8Imterjeição usada para chamar animais; Instituto da Segurança Social (sigla – inv.); Adjectivo ou pronome demonstrativo. 9Templo; Prefixo indicativo de negação. 10-Empacotadas. 11Estilos; Arsénio (s.q. – ins.); Vestimenta usada pelos irmãos das confrarias religiosas, em actos solenes.
O acesso ao crédito deve ser responsável. 1
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Este princípio impõe deveres, tanto às instituições de crédito (concessão responsável de crédito), como aos consumidores
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(contratação responsável de crédito). O
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recurso ao crédito tem aumentado, é certo,
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mas não podemos esquecer o incumprimento
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dos particulares continua historicamente
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elevado. O incumprimento das responsabilidades de crédito ocorre quando o consumidor não paga na data prevista uma
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prestação do contrato de crédito que celebrou.
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Neste caso as instituições podem cobrar
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penalizações e juros moratórios, implicando um aumento da prestação a pagar. Portanto, a elaboração do orçamento familiar
Soluções
1-TA; QUIOTO; U. 2-OBTURADORES. 3-RE; OB; O; AMO. 4-PLURALISTAS. 5-E; RUNA; SOL. 6-DORMIDEIRAS. 7-OCA; ZOO; IDA. 8-SACRA: LEOA. 9-SAIRMOS; SÓ. 10-NO; MAI; SI; P. 11-USA; MOLENGA.
HORIZONTAIS: 1-Tântalo (s.q.); Cidade que serviu de sede à realização de uma conferência, sobre alterações climáticas. 2Dispositivo que, num aparelho fotográfico, regula o tempo de exposição, interceptando ou deixando livre, a passagem dos raios luminosos. 3-Nota musical; Prefixo de origem latina, com o sentido de oposição, posição em frente; Pedagogo. 4Característica das democracias ocidentais. 5-localidade do concelho de Torres Vedras, onde foi mandado construir, pela princesa D. Maria Francisca Benedita, o Lar dos Veteranos de Guerra, actualmente Centro de Apoio Social; resplendor. 6Papoilas. 7-Jogo-da-glória; Elemento de composição de palavras, que traduz a ideia de animal; Viagem. 8-Parte da missa em que se celebra o mistério da consagração do corpo e sangue de Jesus Cristo; Fêmea do leão. 9-Aparecermos; Abandonado. 10-Nobélio ( s.q.); Ministério da Administração Interna (sigla); Nota musical. 11-Aplica; Indolente.
e análise da situação financeira da família é indispensável para decidir com responsabilidade e comprometimento o recurso ao crédito. Mais informações em www.gasdeco.net.
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