Tempo Livre Abril/Maio 2016

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Diretor: Francisco Madelino Diretora-adjunta: Inês de Medeiros

www.inatel.pt

Jornal Mensal 2ª Série | 1€ N.º 33 Abril/Maio 2016

Entrevista // Francisco Madelino, presidente da Inatel

Inovar, unir gerações e recuperar o turismo sénior Humberto Lopes

Reportagem // Camboja e Vietname

Estes mundos que se nos põem diante dos olhos

A Viagem da minha vida // Leonor Teles Fascínio no bazar de Esmirna

Destaque // Depois de Abril O tempo das mulheres

Jardim dos títulos // Jacinto Lucas Pires Sem sonho e sem utopia não há caminho


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TL Abril/Maio 2016 // FUNDAÇÃO INATEL // 3 // SUMÁRIO

4 Notícias 8 Entrevista // Francisco Madelino

// EDITORIAL

Inatel, uma Fundação social, do Povo

Francisco Madelino Presidente da Fundação Inatel

10 Destaque // Depois de Abril – O tempo das mulheres...

13 Viagens // Esplendorosa Itália

14 Reportagem // Camboja e Vietname

17 Jardim dos títulos// Jacinto Lucas Pires

18 Mesa partilhada com…// Nuno Dinis

Fundação Inatel é uma organização de Economia Social, criada pelo Estado, com o objetivo de dar lazer aos portugueses, sobretudo àqueles que são, ou foram, ativos trabalhadores e que estejam dispostos a ser seus associados. Ao mesmo tempo, devem oferecer esses bens e serviços de lazer, sobretudo, por via do turismo, da hotelaria, do desporto e da cultura, com a finalidade de promover a coesão social e intergeracional do país e acrescer as oportunidades daqueles que delas possam ter menos acesso ou mesmo não as ter. No início das minhas funções como presidente da Fundação, e como diretor do Tempo Livre, cumpre-me estar

A

19 A viagem da minha vida //

à altura dos oitenta anos da instituição, honrá-la e saber abri-la aos desafios do futuro e às novas formas de vida e sonhos que ocupam os cidadãos de hoje. O Tempo Livre deve continuar a ser, assim, um elemento de ligação primordial da Fundação com os seus

“O Tempo Livre deve continuar a ser, assim, um elemento de ligação primordial da Fundação com os seus associados. Espaço onde refletimos sobre a nossa missão e a riqueza cultural, histórica e ambiental de Portugal”

associados. Espaço onde refletimos sobre a nossa missão e a riqueza cultural, histórica e ambiental de Portugal. Onde transmitimos os nossos anseios, de todos, de quem trabalha na Fundação e de quem ela é associado e utiliza os seus bens e os serviços. Neste número, o Tempo Livre ousou ouvir-me, e nele vou divulgando os projetos deste conselho de administração, que me apraz dirigir. Espero que os leitores encontrem neste jornal, para além dum meio informativo, também um espaço de lazer. Leiam e usufruam, e não hesitem em enviar as vossas sugestões. Bem hajam a todos os leitores. n

Leonor Teles

20 Os Contos do Zambujal 22 Em cena no Trindade Inatel

// CONFERÊNCIAS DO TRINDADE

Gonçalo M. Tavares aborda “O Corpo e a Performance”

24 Língua Nossa // Tempo

Steve Stoer

O autor do Atlas do Corpo e da

Tavares esperam-se ligações com

Imaginação vai estar no salão

os temas centrais da sua literatura

nobre do Teatro da Trindade, no dia

como o corpo, a imaginação, a

31 de maio. O ponto de partida

linguagem técnica, o pensamento e

26 Motor // Palavras Cruzadas

para esta conferência será este

a escrita, a velocidade e o tempo.

// Sugestões

livro, onde arquitetura, arte,

No sítio da Inatel pode ler mais

Digital

25 Ecrãs: novos filmes

pensamento, dança, teatro, cinema

informações sobre as próximas

e literatura atravessam a obra,

Mundo, o Corpo no Corpo e o

Conferências do Trindade, que se

subdividida em quatro áreas: o

Corpo na Imaginação.

realizam sempre às terças-feiras,

Corpo do Método, o Corpo no

Na comunicação de Gonçalo M.

pelas 18h30.

Jornal Mensal e-mail: tl@inatel.pt | Propriedade da Fundação Inatel Presidente do Conselho de Administração Francisco Madelino Vice-Presidente Inês de Medeiros Vogais Álvaro Carneiro e José Alho Sede da Fundação Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Nº Pessoa Coletiva: 500122237 Diretor Francisco Madelino Diretora-adjunta Inês de Medeiros Redação Teresa Joel, Sílvia Júlio Logótipo Fernanda Soares Design José Souto Fotografia José Frade Colaboradores Carlos Blanco, Ernesto Martins, Gil Montalverne, Humberto Lopes, João Cachado, José Baptista de Sousa, Joaquim Diabinho, José Lattas, Mário Zambujal, Sofia Tomaz Publicidade Marketing Tel. 210027000 marketing@inatel.pt Impressão Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA., Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Queluz de Baixo, 2730-053 Barcarena. Tel. 214345400 Dep. Legal 41725/90 Registo de propriedade na ERC 114484 Preço 1€ Tiragem deste número 89.384 exemplares

Estatuto editorial publicado em www.inatel.pt e http://tempolivre.inatel.pt


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4 // NOTÍCIAS // TL Abril/Maio 2016

// COLUNA DO PROVEDOR

No combate ao sedentarismo

Now We Move 2016

O Manuel Camacho provedor.inatel@inatel.pt

s ataques terroristas que se multiplicam. A crise gerada pelos refugiados e pela migração forçada, resultado dos conflitos que acontecem por todo o mundo. A violência e agressividade gratuitas que crescem nas mais simples e insignificantes situações do dia a dia. Tudo isto faz parte do mundo em ebulição em que vivemos, destes tempos incertos e perturbadores para os quais muitos de nós não estávamos preparados. Como se tudo isto não bastasse, surge de um momento para outro a “cereja no topo do bolo”: milhões de “documentos do Panamá” indiciando que os “senhores” do mundo, alguns até a coberto da lei, conseguem gerir as suas grandes fortunas sem pagar impostos, não contribuindo assim para ajudar os que mais precisam, para construirmos uma sociedade mais justa e solidária. Isto é, para mais não dizer, uma afronta àqueles muitos que, ao contrário destes “senhores”, não têm o mínimo necessário a qualquer ser humano para viver com dignidade. É o momento de questionarmos o que é que tem sido feito, ou não, para que em pleno século XXI tudo isto possa acontecer. A verdade é que neste “pequeno” planeta tão controverso a que chamam “azul” esta é a realidade. E sendo a Terra um quase impercetível ponto no universo, isso não pode servir de desculpa para não lutarmos contra este estado de coisas, garantido assim um mundo melhor para as gerações futuras. n

O

Dia Sem Elevadores – No Elevators Day, que tem como objetivo a promoção da atividade física na rotina diária, utilizando-se as escadas ao invés do elevador, realiza-se no dia 13 de maio, no âmbito da campanha Now We Move. A MoveWeek vai decorrer entre os dias 23 e 29 de maio. Este ano, a Fundação Inatel é a entidade nacional responsável pela dinamização desta campanha em Portugal. Um conjunto de atividades, desenvolvidas pela Inatel e parceiros que se queiram associar a este movimento, vão promover e estimular a atividade física por todo o território nacional. Outros eventos estão ainda previstos: Now We Bike, FlashMove, European Fitness Day e School Sport Day. Recorde-se que a campanha Now We Move, um projeto pan-

europeu, que nasceu em 2012 iniciado pela International Sport and Culture Association (ISCA), visa combater o sedentarismo e a pouca atividade física da população europeia. Sob o lema “100 milhões de europeus ativos em desporto e atividade física em 2020”, a campanha conta com a colaboração de diversas entidades nacionais para

a expansão e dinamização desta campanha. Em 2015, 38 países, com mais de 7000 eventos e quase 2 milhões de participantes, estiveram envolvidos nas atividades organizadas pela campanha Now We Move. Em Portugal, foram mais de 350 eventos, distribuídos por 64 cidades, que contaram com a participação de mais de 10.000 pessoas.n

São Miguel do Pinheiro

Aldeia entra no mapa turístico da Inatel

O

s habitantes de São Miguel do Pinheiro (concelho de Mértola), ‘Aldeia dos Sonhos’ eleita pela Fundação Inatel, realizaram, nos dias 5 e 6 de março, o desejo de conhecerem os pontos mais emblemáticos do Minho e Porto. O presidente da Fundação Inatel, Francisco Madelino, que acompanhou a viagem, sublinhou que este tipo de iniciativas concretizam a função social da instituição,

0 5 na Anos

EL INAT

sendo fundamental “levar os habitantes destas aldeias a conhecerem o país, para que o país também conheça a riqueza cultural e demográfica destas localidades”. Por ter sido eleita ‘Aldeia dos Sonhos’, além da realização da sua "viagem de sonho", São Miguel do Pinheiro vai passar "a figurar no mapa turístico" da Inatel, fazendo parte do circuito de programas turísticos como o Turismo Sénior. n

António Martins, de Almada; Artur Barreto, de Sacavém; Armando Oliveira, de Amadora; Ana Pereira, Augusto Silva, de Portalegre; Arlindo Oliveira, Alberto Teixeira, da Maia; Alberto Cunha, de Rio Tinto; Carlos Cerqueira, de Queluz; Carlos Santos, de Carnaxide; Ivone Campos, de Setúbal; Joana Solano, da Caparica; José Mendes, de Viseu; José Martins, de Ovar; Leonel Manso, José Branco, de Vila Nova de Gaia; Celeste Martins, Fernando Gonçalves, Mário Silva, Vitor Antunes, de Lisboa; Maria Pereira, Manuel Fachada, de Coimbra; Mariana Ramos, Cacém; Manuel Esteireiro, de Queluz; Victor Ferreira, de Gouveia.


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TL Abril/Maio 2016 // NOTÍCIAS // 5

Visitas-percurso Inatel

Lisboa na ribalta: de teatros e outras estórias Arquivo Municipal de Lisboa

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próxima visita-percurso em Lisboa vai decorrer a 18 de junho, sob o tema “Animatógrafos há muitos!”. Circula-se entre animatógrafos e cineteatros para se recordar os tempos em que as luzes da ribalta cinematográfica fizeram tremer mas não cair a ancestral arte de Talma. A iniciativa da Fundação Inatel denominada “Lisboa na ribalta: de teatros e outras estórias” prolonga-se até outubro e dá a conhecer diversos palcos da cidade – teatros, cinematógrafos, cinemas, uns ainda visíveis e edificados, outros já desaparecidos ou transformados. Objetivo: explorar o lugar das artes performativas como espaços de convívio e afirmação social, nomeadamente no virar do séc. XIX para o séc. XX. “Trata-se – sublinha Paula Gomes Magalhães, orientadora das visitas – de percorrer algumas zonas emblemáticas de Lisboa, como o

Chiado ou a Avenida da Liberdade, ao sabor do principal divertimento de outros tempos: o teatro! Queremos que seja uma verdadeira viagem ao passado (ainda que com os pés bem assentes nas ruas do presente), recheada de ambiências, personagens, história e estórias. Colocamos Lisboa na Ribalta para, bem

iluminados, mergulharmos no quotidiano, no dia a dia dessa Lisboa de outras eras.” A cidade será explorada, através dos diferentes percursos, como um palco de movimentos artísticos e urbanísticos, mas também de comportamentos sociais e vontades políticas. Paralelamente a cidade será

compreendida como epicentro de construções sociais, narrativas e ficções: “Pretendem-se – acrescenta aquela responsável – visitas dinâmicas e muito animadas em que os lugares puxam a palavra, as palavras desvendam a história e puxam as estórias e as estórias puxam novas estórias mas em que a curiosidade de quem nelas participa pode ditar todas as regras. Em resumo: uma aventura em que gostaríamos que todos embarcassem.” Paula Gomes Magalhães é investigadora do Centro de Estudos de Teatro, da faculdade de letras da Universidade de Lisboa, e autora do livro: Belle Époque. A Lisboa de finais do séc. XIX e inícios do séc. XX. As próximas visitas-percurso estão previstas para 17 de setembro e 15 de outubro com os temas “A ladeira é vaidosa!” e “Pelos livros é que vamos!”, respetivamente. O horário é às 15 horas. n

Inatel na celebração do centenário do Ministério do Trabalho

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conselho de administração da Fundação Inatel esteve presente na cerimónia de celebração do centenário do Ministério do Trabalho que decorreu no dia 16 de março. José Vieira da Silva, ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, e Avelino Gonçalves, o mais antigo ministro do Trabalho ali presente (titular da pasta aquando da criação do primeiro salário mínimo nacional, a 27 de Maio de 1974), descerraram a placa que assinala a abertura deste ano comemorativo. Durante a sua intervenção, Vieira da Silva sublinhou a importância dos direitos humanos se tornarem universais: “Em Portugal, estes 100 anos servem bem de síntese a todas estas mudanças no mundo do tra-

balho e da proteção social. Estamos hoje perante uma nova ameaça de mudança de paradigma. Os anúncios do fim dos tempos são tão frequentes como as previsões sobre a mudança radical de paradigma da organização social. A única certeza

que podemos partilhar é que a discussão sobre o trabalho e a proteção social continuará no centro dos debates, quer no domínio político quer no domínio da sociedade e da comunidade científica. Nestes tempos demasiado cinzentos que o

mundo e a Europa vivem não será decerto coisa pouca ambicionar que todos possamos, com diferente olhares e diferentes perspetivas, encontrar um desafio comum pela defesa de sociedades mais justas, por comunidades onde os direitos humanos sejam o valor maior. E que os mesmos possam crescer mais universais e profundos.” O historiador Fernando Rosas referiu ser “muito significativo” assinalar esta data: “Há 100 anos a Primeira República tentou, com a criação do Ministério do Trabalho e da Previdência Social, iniciar em Portugal uma nova época de políticas públicas de reformas socias e de dignificação dos direitos sociais como direitos políticos fundamentais.” n


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6 // NOTÍCIAS // TL Abril/Maio 2016

Parque de Jogos 1.º de Maio

Mercado de saúde e bem-estar

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próximo mercado de saúde e bem-estar vai decorrer no domingo, dia 1 de maio, no Parque de Jogos em Alvalade, Lisboa. O objetivo desta iniciativa é contribuir para uma atitude mais positiva perante a vida, apostando nas áreas de saúde e bem-estar, artesanato e cultura, sustentabilidade, fitness, street food e desenvolvimento pessoal. As pessoas estarão no centro de todas as atenções, onde podem sentir e experimentar as atividades propostas. Bens e serviços de qualidade, criativos e originais, para diferentes estilos de vida. Ao longo do dia há workshops gratuitos, aulas, oficinas infantis e muita animação. Este mercado, de entrada livre, destina-se a toda a família, entre as 10h00 e as 18h00. n

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tel.pt re.ina v li o p em http://t

Este mês, leia a reportagem completa de Humberto Lopes sobre a viagem ao Camboja e Vietname. Acompanhe através do seu tablet ou smartphone a versão on line do TL. Aceda, ainda, a outras informações de lazer e cultura.


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TL Abril/Maio 2016 // NOTÍCIAS // 7

Turismo Sénior 2016/2017

Um programa com mais vida O Turismo Sénior Inatel é cada vez mais surpreendente e diversificado na oferta turística, cultural e gastronómica. O convívio intergeracional, o envelhecimento ativo, e o contacto com a Natureza são os temas principais da atual edição

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mas férias inesquecíveis, com momentos de plenitude e bem-estar, incluem a companhia de quem mais se gosta, por isso, no renovado programa de Turismo Sénior há agora a possibilidade de viajar na companhia de filhos ou netos. Para os mais novos, com idades entre 4 e 10 anos, estão previstas atividades com muitos jogos, entre outros, a Caça ao tesouro ou o Surfista dos jogos, com momentos de grande diversão. O final das férias será celebrado com uma Festa da

O programa Turismo Sénior é dirigido a cidadãos com 55 ou mais anos de idade, podendo ser acompanhados por familiares ou amigos de quaisquer idades

Rosa – Noite Branca, onde todos serão convidados a usar vestuário branco e escolher alguns temas musicais bem conhecidos. Além do agradável convívio, cultura e gastronomia, estas viagens também privilegiam o contacto com a Natureza, com o objetivo de proporcionar a observação do riquíssimo património natural do território continental e dos arquipélagos dos Açores e da Madeira. As propostas são variadas, desde as paisagens vinícolas do Minho, vales íngremes da Beira Alta, planí-

cies alentejanas, às praias algarvias. E, ainda, a beleza das lagoas da ilha das Flores ou os magníficos miradouros de Porto Santo. Recorde-se que o programa Turismo Sénior é dirigido a cidadãos com 55 ou mais anos de idade, podendo ser acompanhados por familiares ou amigos de quaisquer idades. Todas as viagens têm mais do que um ponto de embarque em cada distrito. As inscrições decorrem nas agências de viagens aderentes e agências da Fundação Inatel. n


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8 // ENTREVISTA // TL Abril/Maio 2016

Francisco Madelino sublinha ao “TL” objetivos da Inatel

Inovar, unir gerações e recuperar o turismo sénior Apostar na economia social, revitalizar o turismo sénior, aliar a cultura popular à inovação e encontrar novos caminhos para o desporto-aventura são alguns dos propósitos manifestados pelo presidente da Fundação Inatel atural de Glória do Ribatejo, Francisco Madelino explica como as suas raízes o influenciam na vontade de abrir os horizontes a uma instituição com passado, presente e futuro. O contexto onde nasceu e viveu ajudou-o a compreender que o melhor do mundo poderá também ser o seu contrário: “A comunidade onde nasci é o exemplo do melhor da capacidade humana em agir, criar e sobreviver, em solidariedade. Foi também, contudo, um exemplo menos positivo, duma comunidade fechada, sobretudo ao ‘outro’, castradora da ambição, da procura da diferença e da mudança.” Nesta aprendizagem da vida adquiriu o conhecimento de que se deve inovar para unir as gerações. Qual foi a principal motivação que o levou a aceitar o convite para presidir à Fundação Inatel? Tenho trabalhado e investigado, toda a minha vida, nas áreas do trabalho e das políticas sociais. Normal o convite, portanto, pelo percurso onde tenho construído as minhas competências. Foi normal, assim, ter aceitado. Fiquei lisonjeado e motivado pela história da Inatel. O Conselho de Administração tem um caderno de encargos para o triénio. Quais são as prioridades? A principal prioridade é a de estar à altura da história de oito décadas da instituição. Para o futuro, as missões essenciais deste Conselho de Administração são as de

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aumentar as receitas próprias, de forma a garantir a sua sustentabilidade; recuperar o papel que já teve no turismo sénior, em complementaridade com a Segurança Social e o Ministério da Economia, fomentando o emprego e o lazer nas épocas baixas hoteleiras, incluindo a privada; ser capaz de desenvolver novos clusters culturais, que articulem a cultura popular à mais experimental e inovadora; encontrar novos domínios do desporto-aventura ligados à preservação do ambiente, à diversidade cultural nacional e ao nosso riquíssimo património histórico. A estas áreas junta-se, ainda, o objetivo de tornar a Fundação uma organização, nacional e internacional, incontornável no turismo e economias sociais. Por fim, aspeto não menos importante, modernizar o seu funcionamento organizacional. Quem não conhece o dinamismo da Fundação Inatel, com múltiplas atividades para diversos públicos, supõe que é uma instituição vocacionada sobretudo para os seniores. Como alterar esta ideia que ainda existe em algumas franjas da nossa sociedade? A ideia de que é uma instituição que apenas se ocupa do lazer dos seniores reformados é errada. Nas atividades desportivas, por exemplo, há milhares de jovens envolvidos, desde o futebol aos desportos como o BTT e o Trail. Também é o caso das atividades

culturais, não apenas as desenvolvidas pelo Teatro da Trindade, mas sobretudo as que ocupam milhares de pessoas que fazem parte dos inúmeros grupos de folclore ou bandas de música, onde a relação com a Inatel é fortíssima, sendo a principal estrutura nacional pública a elas ligada. Mesmo nos hotéis que possuímos, uma parte significativa daqueles que os frequentam são jovens e pessoas em plena idade ativa. A Inatel tem centena e meia de milhares de sócios. É uma organização intergeracional. Para alterar aquela representação errada, não necessariamente negativa, devemos sobretudo divulgar a verdadeira realidade; incentivar novas atividades de desporto-aventura, que tenham uma componente ambiental e de diversidade cultural fortes; sermos mais inovadores na dinamização das atividades culturais, que saibam ligar a tradição à contemporaneidade e ao futuro; entrar em dinâmicas modernas e atuais dos alojamentos de lazer. Na entrega do Prémio Cooperação e Solidariedade António Sérgio 2015, realizada no início deste ano, no Teatro da Trindade, afirmou que a Fundação tem “uma missão importante em todas as matérias relacionadas com a economia social”. De que modo a Inatel poderá apoiar a dinamização da economia social do país? A economia social compõe-se de um conjunto de fornecimento de bens e serviços, com forte pendor

social, em ambiente de mercado, mas sem o objetivo do lucro, afetando-se as receitas a essas finalidades. Ora, a Fundação é talvez a organização social em Portugal com maior intervenção em mercado, no terceiro setor. Temos de continuar a encontrar novos produtos e serviços, sobretudo nas áreas que cruzem o desporto, a hotelaria e o lazer com a riqueza ambiental e a diversidade cultural do país. Devemos fazê-lo, também, em relação com organizações congéneres europeias, que desenvolvam a sua atividade no âmbito da economia social e da relação com o mundo do trabalho. No ano do 42.º aniversário da Revolução de Abril, esta instituição octogenária, criada durante a vigência da ditadura, continua a renovar-se em pleno regime democrático, prosseguindo a sua matriz solidária. Que projetos considera essenciais implementar no plano social? A renovação da Democracia é na ligação à sustentabilidade ambiental, à preservação da diversidade cultural nacional, à solidariedade intergeracional e à promoção da inserção social dos grupos que não tiveram ou têm menos oportunidades. Aí se deve encontrar o âmago da nossa intervenção e do lazer por ela propiciada. Em 2016 celebra-se o Ano Internacional para o Entendimento Global. Qual o contributo da Inatel para


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TL Abril/Maio 2016 // ENTREVISTA // 9 Miguel Coelho

promover a compreensão entre os povos, através das diferentes atividades turísticas, culturais e desportivas? O mundo está perigoso. Os choques civilizacionais e religiosos estão aí presentes. Portugal foi um dos países que mais soube ligar culturas e religiões, embora, também em certos momentos, com grande tensão. Soubemos, contudo, entender os erros e encontrar soluções. Divulgando a nossa cultura cosmopolita, com presença planetária, em relação com esses povos, no espaço da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), onde participamos ativamente, encontrando formas de cooperação cultural, desportiva e turística, é aqui que a contribuição pode ser ativa para esse diálogo intercultural. É natural de Glória do Ribatejo. A Lezíria também o inspira para trazer novas ideias e concretizálas nesta instituição?

Sou natural duma aldeia culturalmente rica, com ideias e valores muito próprios e assertivos, com artes e hábitos muito originais, mantidos durante séculos pelo seu isolamento geográfico e pela sua matriz mediterrânica e árabe muito marcada, endogâmica e radicalmente autodefendida. A comunidade onde nasci é o exemplo do melhor da capacidade humana em agir, criar e sobreviver, em solidariedade. Foi também, contudo, um exemplo menos positivo, duma comunidade fechada, sobretudo ao “outro”, castradora da ambição, da procura da diferença e da mudança. Saber renovar a tradição cultural, ligando o passado ao futuro, com valores de ética social e de solidariedade intergeracionais fortes, mas ao mesmo ter a consciência que o enconchamento social e cultural é fonte de medo, de pouca inovação e de pouca abertura ao

“Temos de continuar a encontrar novos produtos e serviços, sobretudo nas áreas que cruzem o desporto, a hotelaria e o lazer com a riqueza ambiental e a diversidade cultural do país” “Sou natural duma aldeia culturalmente rica, com ideias e valores muito próprios e assertivos, com artes e hábitos muito originais, mantidos durante séculos pelo seu isolamento geográfico e pela sua matriz mediterrânica e árabe muito marcada”

risco, logo limitadora do sentido empreendedor humano, ensinou-me que instituições nacionais, como a Fundação, devem sobre o passado inovar; devem ligar e não separar gerações; devem encontrar nas culturas, no diálogo entre elas, na educação antidogmática, no ambiente e na história, as fontes que alavancam o futuro e podem modernizar Portugal. Como ocupa o seu tempo de lazer? Desde o início da adolescência tenho tido uma atividade cívica muito forte, nomeadamente, na academia, na política, na investigação, na cultura e no desporto. Como lazer propriamente dito, sobretudo leio muito, faço BTT, agora não tanto como gostaria, e descubro na agricultura, relaxante e nostálgica, um espaço de encontro com a natureza e os territórios e as árvores que fazem parte de mim. n Sílvia Júlio e Teresa Joel


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10 // DESTAQUE // TL Abril/Maio 2016 Da esquerda para a direita, Fátima Duarte e Irene Pimentel DR

Depois de Abril “E O tempo das mulheres Para construir uma sociedade igualitária todos somos necessários. Na cerimónia de atribuição do Prémio Paridade: Mulheres e Homens na Comunicação Social, realizada no Teatro da Trindade, em fevereiro, o ministro-adjunto, Eduardo Cabrita, salientou que a igualdade de direitos e oportunidades “não são temas de mulheres – são temas de todos nós”. A revolução de mentalidades está em curso. Mas persistem as desigualdades até no gozo das atividades dos tempos livres, 42 anos depois de Abril…

sta é a madrugada que eu esperava/ O dia inicial inteiro e limpo/ Onde emergimos da noite e do silêncio/ E livres habitamos a substância do tempo.” Palavras que ecoam n’O Nome das Coisas, de Sophia de Mello Breyner Andresen. Com o valor da liberdade outras portas se abriram, outras ainda não tiveram o seu tempo. É o caso dos tempos livres para as mulheres – ou a falta deles. “Esta é uma questão muito penalizadora. A maior responsabilidade das mulheres no desempenho de trabalho não pago, em tarefas domésticas e de cuidado a dependentes, condiciona e restringe, frequentemente, o acesso ao lazer, ao desporto, ou a atividades de intervenção cívica e política. Um prejuízo para elas e para a sociedade, que perde o contributo de uma parte importante dos seus membros. A título de exemplo, as mulheres, em 2014, representavam apenas cerca de um quarto do total de praticantes de modalidades desportivas”, observa Fátima Duarte, presidente da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG), referindo-se a estatísticas do Instituto

Português do Desporto e Juventude. Passos a dois O primeiro Inquérito à Ocupação do Tempo realizado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), em 1999, veio mostrar que se os homens ocupavam, em trabalho profissional, cerca de uma hora diária a mais do que as mulheres, elas ainda tinham mais três horas pela frente em trabalho doméstico e assistência à família. As mulheres trabalhavam todos os dias mais duas horas do que os homens. Passou mais de década e meia após aquele estudo. Para saber qual é a situação atual, a CIG promoveu um novo inquérito para avaliar as mudanças entretanto ocorridas na sociedade portuguesa. Os resultados deverão ser conhecidos – avança Fátima Duarte ao TL – no último trimestre deste ano. Irene Pimentel, investigadora do Instituto de História Contemporânea (Universidade Nova de Lisboa), identifica um “grande problema em Portugal: a falta de tempo das mulheres por não haver partilha de tarefas. Ouve-se bastante a frase – ajudo muito a minha mulher em casa. Mas a questão não é de ajudar,


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TL Abril/Maio 2016 // DESTAQUE // 11 José Frade

“São temas de todos nós”, declarou Eduardo Cabrita, na entrega do Prémio Paridade na Comunicação Social José Frade

Fátima Duarte

“Achamos que o adquirido é para todo o sempre – não é verdade. Tivemos grandes avanços do ponto de vista das leis e das mentalidades, mas rapidamente se pode recuar” Irene Pimentel

é de partilharem as mesmas coisas. Alimentam-se os dois, sujam os dois, têm filhos os dois… Para além disso, as mulheres são as que mais cuidam dos ascendentes, não só dos descendentes…”. “Coisas estranhas...” Maria Teresa Horta, coautora com Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, de Novas Cartas Portuguesas, obra onde é também referida a situação feminina durante a ditadura, sublinha ao TL que ainda é insuficiente o que os homens fazem para libertar as mulheres do espaço doméstico: “Ouvimos muitas vezes dizer que os homens já fazem muito. Ah, pois fazem! Fazem mais do que antes, mas não chega. Continuamos a ter imensas coisas para fazer, continuamos a estar sobrecarregadíssimas, continuamos a adormecer nos transportes públicos, porque as crianças choram e não dormimos de noite. Na maioria das vezes são as mulheres que se levantam… E elas não trabalham apenas nos seus empregos – têm duplas e triplas tarefas.” As gerações não podem ficar sossegadas com as conquistas de Abril, lembra a historiadora Irene Pimen-

tel: “Houve evolução. Porém, temos de ter a noção de que não é um caminho sempre para a frente, sem recuos. Achamos que o adquirido é para todo o sempre – não é verdade. Tivemos grandes avanços do ponto de vista das leis e das mentalidades, mas rapidamente se pode recuar. Temos de estar muito atentos. Em períodos de crise, onde é difícil ter filhos, em que a sociedade está a envelhecer, qualquer Estado ou governo pode ter a brilhante ideia de reenviar as mulheres para casa”, ironiza. Por seu turno, a escritora Maria Teresa Horta costuma dizer que “toda a gente ganhou com o 25 de Abril, sobretudo as mulheres. No entanto, neste momento, há um retrocesso em relação à luta das mulheres”. E prossegue: “Há coisas estranhas. Por exemplo, a violência no namoro – algo que nem na minha geração nos passava pela cabeça. As nossas mães e avós diziam-nos sempre: Se fôssemos maltratadas no namoro, o que aconteceria no casamento?” Sonhos de Abril As conquistas fazem-se todos os dias. Ano após ano: “Está reconhecido na Constituição trabalho igual/sa-

lário igual, mas isso não se cumpre na vida de homens e mulheres. Elas continuam a não ter acesso aos cargos superiores nas empresas. Continuam a ser discriminadas. A diferença salarial é uma coisa vergonhosa...”, salienta Maria Teresa Horta. Fátima Duarte sublinha que existem diversos domínios onde houve uma melhoria notória do estatuto e da situação das mulheres, quando comparada com a dos homens, como a educação, “em 2014, elas representavam 61,4 por cento da população portuguesa com nível de escolaridade superior”. Porém, “esta melhoria não se reflete no seu estatuto, no mercado de trabalho”. As taxas de desemprego femininas são superiores às masculinas. Os dados revelam maior dificuldade de acesso das jovens mulheres a uma profissão. “A mão de obra feminina e masculina continua a apresentar perfis diferentes, concentrando-se as mulheres, tendencialmente, em ramos de atividade pior remunerados, e nos escalões mais baixos da hierarquia profissional. Como consequência, persistem diferenças salariais médias que se cifravam em 17,9 por cento, em 2013, e que atingem um valor sensivelmente

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“A maior responsabilidade das mulheres no desempenho de trabalho não pago, em tarefas domésticas e de cuidado a dependentes, condiciona e restringe, frequentemente, o acesso ao lazer, ao desporto, ou a atividades de intervenção cívica e política”


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12 // DESTAQUE // TL Abril/Maio 2016

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mais elevado entre os quadros superiores, com 26,4 por cento”, acrescenta. A mudança de mentalidades não se concretiza por decreto. Recorde-se que só depois da Revolução do Cravos foi possível às mulheres acederem a carreiras que lhes estavam vedadas, nomeadamente, na diplomacia e magistratura. Com a Reforma do Código Civil, que entrou em vigor em 1978, a mulher deixa de ter o estatuto de dependência em relação ao homem, desaparecendo a figura do ‘chefe de família’. Passa a não precisar de autorização do marido, por exemplo, para ser comerciante, podendo exercer qualquer atividade ou profissão. Todavia, as mulheres portuguesas também trabalhavam fora de casa no regime ditatorial. “É uma ideia comum falsa dizer-se que as mulheres antes do 25 de Abril não trabalhavam. Maria Lamas escreveu As mulheres do meu país [1948-50], onde mostrava que grande parte das mulheres trabalhava – e muito, com jornadas duplas e até triplas, porque também havia a horta… Para além de trabalhar fora de casa, na fábrica, e, a partir dos anos 60, nos serviços. Só uma minoria não trabalhava. Se virmos as estatísticas do século XX, entre os anos 20 e 50, cerca de 20 e tal por cento trabalhava – os dados estavam moldados ideologicamente, segundo a visão de que a mulher tinha de pertencer sobretudo ao espaço doméstico”, conta a historiadora. Conquistas femininas De lá para cá tanta coisa mudou. As conquistas passaram, acima de tudo, pelas leis. Hoje, o princípio da igualdade de género está implantado em todo o sistema jurídico português, “não só garantindo a proteção em casos de discriminação, mas determinando a promoção da igualdade entre mulheres e homens. Mas a transposição dos princípios legais para a vida real nem sempre é imediata…”, nota Fátima Duarte. Chegados aqui, depois de Abril, há pessoas a sentir que há outras

“Ouvimos muitas vezes dizer que os homens já fazem muito. Ah, pois fazem! Fazem mais do que antes, mas não chega” Maria Teresa Horta ‘revoluções’ que têm de ser feitas. A começar pela defesa da paridade nos direitos e oportunidades: “A construção da igualdade é tarefa de todos, mulheres e homens, nas suas esferas de influência e de intervenção, pública ou privada. Este objetivo só será atingido quando cada pessoa tiver interiorizado, de forma automática, a dimensão da igualdade nas atitudes, comportamentos e intervenção no quotidiano”, frisa a presidente da CIG. Não vale a pena pensar nos anos que vão ser necessários para alcançarmos a paridade, mas no que se pode fazer, aqui e agora, para caminharmos juntos: “Quanto mais lutarmos, mais depressa chegaremos lá. Há sempre maneira de lutar para mudar a vida da sociedade. Temos de fazer sempre alguma coisa. É para isso que estamos no mundo. Eu sou e serei sempre uma mulher que luta”, conclui Maria Teresa Horta. Para não perguntarmos ao tempo quanto tempo ainda falta para que a paridade seja um real reflexo de uma sociedade justa, o que cada um de nós pode fazer? O tempo continua a correr… n Sílvia Júlio


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TL Abril/Maio 2016 // VIAGENS // 13

Esplendorosa Itália História rica, arquitetura grandiosa, paisagem sublime, gastronomia deliciosa... Mamma mia! Há múltiplos motivos para partir à descoberta do país que viu nascer, entre muitos outros, Galileu, Leonardo da Vinci, Michelangelo, Dante, Pirandello, Verdi, Pasolini, Umberto Eco, nomes imortalizados no grande livro da cultura ocidental

L

ago di Garda, Verona, Veneza, Pádua, Bolonha, Assis, Roma, Florença, Pisa, Génova, Turim e Milão, são alguns dos mais emblemáticos locais onde se manifesta o esplendor de Itália. Nesta viagem a proposta é visitar 12 cidades em dez dias. Nas margens do Lago di Garda – o maior lago italiano –, Sirmione alonga o seu casario numa estreita península que termina nas ruínas da vila romana de Catullo. Uma caminhada pelas ruas e castelo encanta os visitantes, com magníficas vistas sobre o lago e as montanhas. Já no centro de Verona, cidade considerada património da humanidade pela UNESCO, graças à sua estrutura urbana e arquitetónica, os olhos extasiam-se pela Piazza Bra, Arena Romana e Piazza Erbe, rodeada de edifícios medievais nas proximidades da “casa de Julieta”, protagonista da célebre história de amor, escrita por Shakespeare. A viagem prossegue para Veneza, também classificada Património da Humanidade, com paragem obrigatória na praça de São Marcos e na basílica. Os canais e as gôndolas são outros dos pontos de interesse que muitos escolhem para passeios em família ou românticos. “La Serenissima” é também conhecida pelo Festival de Cinema, Bienal de Artes, Regata Histórica e o famoso Carnaval. Segue-se Pádua, onde se encontra o santuário e repouso de Santo António, em torno do qual se construiu uma basílica de inspiração bizantina com um enquadramento original adornado de estátuas e pontes. Continuação para Bolonha, cidade universitária cosmopolita, onde a arte, cultura, história, gastronomia e a música encantam todas as gerações.

// Viagens INATEL Itália maravilhosa Partidas Faro e Porto (30 julho a 8 agosto) | Lisboa (2 a 11 de julho; 13 a 22 agosto) Informações Tel. 211155779 | turismo@inatel.pt | www.inatel.pt

Depois Assis, cidade onde nasceu São Francisco, fundador da Ordem dos Franciscanos, e Santa Clara, fundadora da Ordem das Clarissas, é lugar de peregrinação. A Basílica de São Francisco e as várias igrejas entre ruas empedradas interpelam à contemplação da história e religiosidade daquele lugar. Até que se chega a Roma, a “cidade eterna”. Dela se diz que é um

museu ao ar livre. Fontana di Trevi, Piazza Navona com fontes de mármore esculturais e Piazza di Spagna com a escadaria monumental coroada pela Igreja de Trinità dei Monti, Coliseu e Fórum Romano – locais que espantam pela beleza monumental carregada de história. Tal como a visita aos Museus do Vaticano, com o seu acervo magnífico colecionado pelos Papas ao longo dos

séculos, ou os frescos deslumbrantes de Michelangelo na Capela Sistina. Em Florença é possível observar a monumentalidade e a beleza que os vários artistas deram a esta cidade, como a cúpula de Brunelleschi da Catedral, Piazza della Signoria e as suas famosas estátuas, fonte de Neptuno e, ainda, a Ponte Velha, com lojas sobre o rio Arno. Pisa com a sua famosa torre inclinada, Génova e o centro histórico com Palácios, Turim e o seu grandioso Palácio Real e Praça San Carlo, Milão e o fantástico Duomo, as Galerias Vittorio Emanuelle, o Castelo Sforzesco… É fácil perder-se de amores por Itália. n


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14 // REPORTAGEM // TL Abril/Maio 2016

Camboja e Vietname Estes mundos que se nos põem diante dos olhos Uma jornada por dois dos territórios que fizeram parte da Indochina francesa, onde inumeráveis maravilhas se acham e por onde notáveis portugueses de antigamente andaram também viajando

H

o-Chi-Minh é, porventura, a urbe que maior herança conserva do período colonial e a que mais se deixou modelar em termos culturais. O que mais convence os viajantes: as largas avenidas e a arquitetura de traço colonial, o vívido cosmopolitismo, aquela tão oriental correnteza de motoretas e bicicletas que o verbo ocidental insiste em substantivar simploriamente como “caos”. E os abundantes signos da guerra, da resiliência e da afirmação política vietnamita, cultivados com refina-

do afã para alimento de narrativas patrióticas. No Museu dos Despojos de Guerra – como em Hanói ou Hué – a exibição das carcaças dos bombardeiros norte-americanos simboliza bem esta propagandística diligência. Podemos ver Ho-Chi-Minh – até certo ponto – como o ensaio de uma nova Singapura ou de uma nova Seoul, símbolo do êxito de um dos novos tigres asiáticos e da abertura à economia de mercado. A cidade é um relicário de sinais de diferentes épocas e regimes: os arranha-céus,

uma juventude consumista, as bandeiras com a foice e o martelo em convívio com centros comerciais e estabelecimentos de fast food. De Ho-Chi-Minh ao país rural Sobram na antiga Saigão tentações para inscrever nas agendas dos viajantes: o Pagode do Imperador de Jade e o seu panteão de divindades budistas e taoistas, o Museu de Belas-Artes, a neo-românica catedral de Notre-Dame, o mercado popular de Ben Thanh, com boa oferta de saborosa comida de rua, e

o roteiro de arquitetura colonial, que inclui o esplêndido edifício da câmara municipal. A uma hora de Ho-Chi-Minh espera-nos uma curiosíssima expressão do encontro entre memória da guerra e turismo: os túneis de Cu Chi, um sistema de galerias subterrâneas usadas durante a guerra. Não é a única atração fora de portas: chama-nos lá do sul o delta, a vasta planura povoada de gente que vive com um pé na água e outro em terra firme, reino de mercados flutuantes, arrozais, plan-


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TL Abril/Maio 2016 // REPORTAGEM // 15

Por aqui passou Fernão Mendes Pinto É na região a que os franceses chamaram Annam, no centro, que fica a capital cultural do Vietname, Hué. Pelo Rio Perfume navegamos até junto de alguns templos, como o Thiên Mu, e até aos mausoléus de ilustres imperadores, com belos cenários campestres à mistura, mas é a visita à cidadela imperial, classificada pela UNESCO, a desejada cereja. A batalha de Hué, em 1968, deixou a cidade imperial em ruínas, mas reedificação da cidadela veio devolver-lhe um pouco do seu esplendor. O Palácio da Suprema Harmonia, em madeira ricamente trabalhada e com uma magnífica sala do trono, é um dos pontos

O Vietname é um mundo verde e fértil de água e de gente paciente e perseverante. O Camboja acolhe os forasteiros com uma memorável hospitalidade

altos da visita. Os jardins e os pavilhões que se erguem à volta são exemplo da melhor arquitetura imperial de todo o país e dão uma ideia do que o imperador Gia Long planeou – uma réplica da cidade proibida de Pequim. Descemos depois até Hoi An, cujo centro histórico está também inscrito na lista da UNESCO. Nas ruelas deste antigo porto comercial damos com casas de ilustre ancestralidade que vale a pena admirar por dentro – por razões arquitetónicas e pela atmosfera que o mobiliário e a decoração propiciam. Cruzamo-nos no andarilhar com mulheres acarretando varas arqueadas sobre os ombros e seguimos, ao longo do rio, até ao mercado, para trocar um sorriso com a vendedora de flores-de-lótus. À beira da ponte japonesa entrevemos

t

tações de cana-de-açúcar, palmares, hortas, bananais, pomares e redes de canais por onde desliza um permanente tráfego fluvial. A nota dominante é a de um país rural, de paisagens desenhadas com longas linhas horizontais, um mundo verde e fértil de água e de gente paciente e perseverante.


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16 // REPORTAGEM // TL Abril/Maio 2016

Vietname e Camboja oferecem incontáveis razões para muitas viagens...

// Viagens INATEL O melhor de Vietname

Hanói: breve guia para dar corda aos pés O ponto de partida: a zona mais antiga de Hanói, o bairro Phô co Hà Nôi, labirinto de ruas e vielas pleno de animação comercial, cenário que ainda consente ao viajante o devaneio de se sentir embarcado numa espécie de máquina do tempo. Um bom programa no Phô co Hà Nôi passa por ‘perder’ uma tarde a saborear cerveja artesanal num (ou em vários) dos pequenos bares da zona boémia e vaguear, porta a porta, à procura dos renomados petiscos da comida de rua da capital. Hanói é habitada por lagos – o mais central é o Hoàn Kiém, junto do bairro histórico e do palco das famosas marionetas de água. O Museu da Mulher Vietnamita, notável narrativa sobre o papel das mulheres vietnamitas na resistência, mora ao lado. Seguindo a Trang Thi

e Camboja Data 19 de setembro a 2 de outubro Informações Tel. 211155779 | turismo@inatel.pt | www.inatel.pt

vamos dar ao Van Mieu, o Templo da Literatura. Para trás, num dos flancos da Trang Thi, ficou a mal afamada prisão de Hoa Lò, agora museu evocativo das agressões francesa e norte-americana, embora a dita não se livre, também, da reputação de cenário de tortura dos ocidentais inimigos de Hanói. Para quem goste de dar corda aos pés, a cidade tem qualidades e não é muito extensa na sua parte mais atrativa, entre o Rio Vermelho, o lago Ho Tay e a zona do mausoléu de Ho-Chi-Minh e do popular pagode assente num único pilar: avenidas arborizadas e,

sobretudo, tendo em conta que se está no Oriente, com toponímia em caracteres romanos, os tais introduzidos pelo nosso Francisco de Pina. Pense-se agora num interregno imposto às passeatas urbanas e o viajante hesitará entre duas paisagens admiráveis: as montanhas e os trilhos de Sapa, entre terraços de arrozais, ou o litoral do Mar da China e o cenário quase irreal de Ha Long, com as suas ilhas de cumes cársticos espelhados em águas verde-esmeralda – ou azul-turquesa, consoante os caprichos da luz. De Angkor às águas do Tonlé Sap Culminar uma jornada por terras do Oriente em Angkor é um privilégio, como terá pressentido o português António da Madalena, o primeiro europeu a visitar a antiga capital do reino khmer, no século XVI. Um dos maiores recintos arqueológicos do mundo e testemunha dos anos de ouro da civilização khmer, Angkor reflete a transição do hinduísmo

para o budismo theravada no Camboja. De arquitetura hindu, Angkor Vat, tal como o templo de Bayon, acolhe muitos exemplos de um precioso trabalho escultórico que legou inumeráveis figurações de divindades e de apsarás, as celestes dançarinas dos livros sagrados do hinduísmo e do budismo. O Camboja oferece incontáveis razões para muitas viagens. Uma delas é a ambiência rural, que acolhe os forasteiros com uma memorável hospitalidade. Outra é o imenso lago Tonlé Sap e o seu peculiar ecossistema. É um universo invulgar, de aldeias flutuantes, casas assentes em paliçadas e modos de vida muito próprios. Frei Gaspar da Cruz observou, no seu “Tratado em que se contam muito por extenso as cousas da China”, certas características espantosas, como a inversão das águas do rio Tonlé Sap, afluente do Mekong, fenómeno que Camões também relata no Canto X. E de outros achados cuidou ainda o frade de dar conta, para que em terra portuguesa se tivesse notícia das maravilhas que povoavam tal reino: “… alaga todas as terras de Camboja, pelo qual não se anda toda a terra no tempo destas cheias senão em embarcações, e as casas fazem-nas todas de sobrados altos, e todas por baixo se alagam, e acontece muitas vezes ser a enchente de maneira que lá é necessário fazer caniçadas mais altas…”.n Humberto Lopes (texto e fotos)

t

uma placa a lembrar que estamos na velha Faifo. Foi com esse nome que Hoi An apareceu nas páginas da “Peregrinação” e assim era conhecida então. Por Faifo passaram também outros portugueses que pela Ásia se assombraram com os mundos estranhos que diante dos seus olhos desfilavam – e muitos vietnamitas ainda o recordarão, mormente os descendentes de gente evangelizada. Não apenas: há quem saiba que a romanização da escrita vietnamita se deve a um jesuíta português, Francisco de Pina, que nesta parte do Oriente, nos preâmbulos do século XVI, viveu durante algum tempo.

Leia esta reportagem na íntegra em:

http://tempolivre.inatel.pt


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TL Abril/Maio 2016 // AUTORES // 17

// JARDIM DOS TÍTULOS

Jacinto Lucas Pires "Nem sempre o país vem ao teatro..." alcos, corpos e gestos. Palavras vibrantes. Pausas e silêncios. Originalidade recriada na cena. Autores, encenadores, atores, público. Ligações quase perfeitas. Arte e vida. Inquietação. Ousadia. Ficção. Memória. Reflexão. Crítica. Criação. Teatro. Um mundo cheio de mundo. Entre 1998 e 2010 escreveu cerca de vinte peças de teatro. Muitos mais espetáculos foram criados a partir da sua obra, por diferentes encenadores. No espaço de um ano, de 2010 a 2011, quatro textos foram levados à cena: Exactamente Antunes, no Teatro Nacional S. João. Peça Felicidade, no Teatro da Trindade. Sagrada Família, na Culturgest. Tu és o Deus que me vê, no Estúdio Zero. Além de dramaturgo é autor de contos e romances. Entre os recentes títulos destaca-se O verdadeiro ator, romance premiado em 2013. Incluídas nas múltiplas atividades, também escreveu e realizou curtas-metragens. Vamos saber o que partilha connosco, em poucos minutos, porque o tempo de agora sugere um tempo sem tempo. Quais são os mais belos jardins do filme da sua vida? O jardim do Príncipe Real em Lisboa; uma evocação de natureza em Union Square, Nova Iorque; um jardim de pedra em Quioto; dois jardins secretos na zona de Ponte de Lima. Que raiz da palavra arrancaria como uma erva daninha? Não vejo nenhuma palavra como erva daninha. As vozes do politicamente correto é que, por vezes, parecem esforçar-se por retirar das palavras todo o sangue, toda a morte, todo o desejo, toda a dúvida, e isso estraga-as momentaneamente.

DR

P

O palco do Trindade volta a receber um dos seus textos, Escrever, falar, em cena até 15 de maio. Neste espetáculo que “lugares da palavra” se podem encontrar? Em Escrever, falar é como se a palavra se fizesse lugar. E, estranhamente, isso não faz desaparecer o corpo das personagens. Pelo contrário, tornao mais presente, sem disfarces e sem defesas. Por outro lado, há um outro nível de lugares imaginados ou lembrados por aquelas vozes. E, a certa altura, é quase como se a palavra fosse um lugar físico e o corpo fosse uma projeção para o passado ou para o futuro. Num tempo em que há abundância de informação e carência de espanto, porque não podemos esquecer-nos de cultivar “o sonho e a utopia”? Porque, sem sonho e sem utopia, não temos um caminho para onde ir, uma direção – um sentido. No texto de apresentação da peça Tu és o Deus que me vê, disse:

“As palavras, quando exatas e claras, são gestos no mundo. O que falta é sermos capazes de silêncio, de escuta e de pensamento. O que falta é não ficarmos reféns do ruído e da velocidade do tempo de agora”

“Como é que uma palavra pode interferir no mundo, ferir o coração do mundo, mudar o mudar do mundo?”. O que falta além da palavra? As palavras, quando exatas e claras, são gestos no mundo. O que falta é sermos capazes de silêncio, de escuta e de pensamento. O que falta é não ficarmos reféns do ruído e da velocidade do tempo de agora. O espetáculo Exactamente Antunes, a partir de Nome de Guerra (1925), de Almada Negreiros, estreou no Porto, em 2011. A propósito de Almada e do Modernismo, declarou: “Ensinamnos (...) que as palavras detêm um valor em si mesmas e que temos de regressar ao poder escandaloso da palavra...”. Imagine que está num palco despojado. Situado no lado esquerdo da cena [em francês, designado por jardin]. Na posição oposta está uma personagem, que representa a sociedade portuguesa, com quem terá um diálogo... Quando se escreve teatro é um pouco isso que se passa. Um diálogo com a cidade, com a comunidade. O problema é que nem sempre o país vem ao teatro para essa conversa, e a televisão não é tão boa a ouvir... “Fazemos ‘cinema’ todos os dias, sem nos darmos conta, já é quase uma segunda natureza”, afirmou numa entrevista. Suponha que despertou de um sonho, no qual se transforma numa flor, como o jovem Jacinto imortalizado por Apolo [Mitologia grega]. Que espaço agora ocupa? Teria de ser poeta para responder a um desafio desses. Mas há um poema de Eugénio de Andrade que começa assim: “Tenho o nome de uma flor/ quando me chamas (...).” n Teresa Joel


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18 // SABORES // TL Abril/Maio 2016

// MESA PARTILHADA COM...

Nuno Dinis Chefe de cozinha, natural da Beira Litoral, inspirado pelos sabores da região beirã, propõe um risotto com sabores bem portugueses

Receita // RISOTTO DE TOMATE CHERRY, CRUMBLE FARINHEIRA, AGRIÃO E OVO DE CODORNIZ Ingredientes para 4 pessoas:

pouco. Levar ao forno a 170°C

1/2 farinheira pouco gorda; 100g

durante 10 minutos o tomate

manteiga; 4 chalotas picadas;

cherry, cortado a meio e

320g arroz arbóreo;

temperado de sal, tomilho, um

100ml vinho branco seco; 1

fio de azeite e uma pitada de

ramo de tomilho; 400g tomate

açúcar. Quando o arroz estiver

cherry; 60g parmesão ralado

quase cozido, juntar o tomate

60g agrião lavado; 8 ovos

cherry e envolver bem. Ao fim de

codorniz; 150ml vinagre de vinho

15 minutos, verificar o ponto do

branco; azeite; sal; pimenta;

arroz e se estiver cozido, retirar

açúcar. Para o caldo de

do lume e ligar com manteiga e

legumes: 1/2 cenoura; 1/2

parmesão. Ao mesmo tempo

cebola; 1 dente de alho; 1 troço

que confecionamos o arroz: abrir

verde do alho francês; 1 folha de

os ovos de codorniz para um

louro; 1 ramo de tomilho.

recipiente onde previamente

Colocar 2,5lt de água num tacho

vertemos o vinagre de vinho

com os legumes destinados ao caldo. Levantar fervura e manter em lume brando. Retirar a pele à farinheira e esfarelar em pedaços pequenos para um tabuleiro forrado de papel vegetal. Levar ao forno durante 20 minutos a 150°C, de forma a secar

“A

história desta receita vem dos jantares que faço em casa, com amigos e familiares que solicitavam um risotto, sempre diferente. Inspirei-me no arroz malandro de tomate, que muitas vezes acompanha outras tantas iguarias da Beira Litoral, dando-lhe aqui relevância e colo-

MAIO 2016

cando-o como prato principal e não como guarnição. Recorri à farinheira, enchido guloso e robusto que nos dá uma explosão de sabor, mas apresento-a de uma forma diferente, tornando-a crocante. O ovo de codorniz, escalfado e avinagrado, corta a doçura do tomate. O agrião refresca e apimenta o palato.” n

e fazer um crumble. Num tacho,

branco. Deixar nesta solução

refogar a chalota picada em

durante 10/15 minutos.

manteiga sem ganhar cor até

Colocar ao lume um tacho com

ficar tenra. Juntar o arroz e

água para escalfar os ovos de

deixar fritar até ficar bem

codorniz durante 45 segundos e

brilhante. Refrescar com vinho

reservar. Para empratar: colocar

branco, mexer até evaporar,

sobre o arroz dois ovos por

cobrir de caldo e mexer durante

pessoa, as folhas de agrião e

aproximadamente 15 minutos,

polvilhar com o crumble de

acrescentando caldo pouco a

farinheira.

A Cafetaria, edifício EDP, avenida 24 Julho, 12 – Lisboa


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TL Abril/Maio 2016 // MEMÓRIAS // 19

// A VIAGEM DA MINHA VIDA

Leonor Teles Fascínio no bazar de Esmirna A jovem realizadora da curta-metragem A Balada de um Batráquio, galardoada recentemente com o Prémio Firebird em Hong Kong e um Urso de Ouro em Berlim, recebeu a primeira distinção no 7.º concurso de vídeo da Fundação Inatel com o documentário Rhoma Acans, em 2012. Início de ‘viagem’ profissional: “Foi muito importante por ser o reconhecimento do meu primeiro filme, ainda um trabalho de escola. Incentivou-me para o futuro.” Outras viagens constam no seu currículo. Dentro e fora do cinema José Frade

L

eonor Teles, aos 23 anos, desvenda a viagem de lazer mais cinematográfica que viveu até hoje. Começa a rodagem em Esmirna (Izmir, em turco). Três, dois, um… Ação! O sol brilha lá no alto. Sente-se uma atmosfera vibrante no bazar de Esmirna. Cheiros de especiarias invadem o olfato. Cores, muitas tonalidades despertam outros sentidos. Sonoridades a baralhar a audição. Campainhas de bicicletas, diálogos numa língua desconhecida, pregões de quem vende peixe, queijo, especiarias, tudo e mais alguma coisa. De repente, ouve-se o adhan ou azan. Dos altifalantes, por toda a cidade, ecoa o chamamento para um dos cinco momentos das preces diárias. Parece-lhe um cântico ancestral. As pessoas começam a “desaparecer”. “É fascinante e tenebroso ao mesmo tempo. Há uma certa tensão no ar. O som toca muito à emoção. Há ali qualquer coisa que está para além da lógica”, conta a protagonista desta viagem. É a primeira vez que Leonor Teles põe o pé num país muçulmano. A Turquia está entre dois continentes, Europa e Ásia. Se há ali coisas que reconhece como europeias, outras tantas parecem-lhe diferentes de tudo o que já tinha visto. “O bazar é tão cheio de vida… Há uma data de mesquitas no nível superior, onde se entra de maneira quase escondida. Parece um sítio suspenso no tempo.” A viagem decorreu há um ano. De todos os locais por onde tem

passado, foi este o que mais gostou de fotografar. Gastou dois rolos de 36 fotografias. Prefere máquinas analógicas. Não gosta de apagar os registos como acontece nas digitais. Escolhe cuidadosamente o melhor enquadramento e espera pelo resultado, um “mistério” desvendado só depois da revelação: “As

“Viajar permite deixar algo para trás e abrir caminho para conhecer coisas novas. A bagagem que trazemos faz-nos mudar a perspetiva quando voltamos”

fotos que tirei na Turquia estavam mesmo fixes”, partilha a jovem. “Só estive lá um dia e adorei do princípio ao fim.” Regressou ao cruzeiro que a levava para outras paragens. Esta viagem que fez com a mãe e o irmão mais novo incluía ainda visitas a Itália, Malta e Grécia. Todos os destinos por onde circulou eram “fabulosos”. Mas nenhum outro lugar foi tão “marcante” como Esmirna. Quando a deixou para trás, disse à família: “Eu quero cá voltar.” Ainda não sabe quando voltará a pisar solo turco. Mas não deverá demorar muito. Depois de ter estado ali, sentiu o que nunca antes tinha vivido ao chegar a Portugal: “A frustração de não poder continuar a viajar por mais tempo, para conhecer outras pessoas e outros lugares.” No regresso teve uma sensação de que não viveu tanto noutras partidas. Quando foi ao Festival de Cinema de Berlim, por exemplo, teve vontade de tornar a casa. Quem regressa já não é igual a quem partiu. Descobrir novos mundos, sítios e gentes ajudam a ler melhor o mapa que está dentro da ‘mala’ de cada viajante: “Viajar permite deixar algo para trás e abrir caminho para conhecer coisas novas. A bagagem que trazemos faz-nos mudar a perspetiva quando voltamos.” No filme da vida há sempre a possibilidade de muitas viagens, muitas inspirações para histórias com final aberto... n Sílvia Júlio


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20 // FICÇÕES // TL Abril/Maio 2016 // OS CONTOS DO ZAMBUJAL

Romance

É

hoje. É hoje pelas seis da tarde e Braulio Severino agitou-se num redemoinho de emoções. Alegria e medo. Feliz e angustiado pelo passo que vai dar. Hesita nos preparos: Bleizer ou blusão? Talvez o pullover azul claro que a irmã lhe deu no Natal. E jeans. Ou calças de tecido mais convencional? É preferível. E sapatos pretos, acaba de os engraxar. Qual será a reação dela no momento do encontro? Provavelmente, de decepção. Nem se sente à altura daquela mulher que o encontrou com os seus poemas e, há que reconhecer, também pelas perfeições físicas. Tudo começou e foi crescendo no facebook. Braulio Severino saudou com “gosto” um poema intitulado “Meu amor, teu amor”. E foi tomando como dirigido a ele o amor poético dela. Outro poema, outro “gosto”, seguido de seis linhas de elogio, a confirmar que “gostava” e, atrevendo-se, a passar dos versos para o sorriso da autora. Não só o sorriso, na verdade, a sequência de fotos de Marcela T. – assim assinava a mulher poeta – era elucidativa quanto aos encontros de corpo inteiro, das pernas à cabeleira abundante e loura – e ao rosto de traços harmoniosos. Pela primeira vez na sua calma existência, Braulio Severino sentiu os calores da paixão, primeiro pela poesia de Marcela T., acrescentada pela excelência física. Seguiram-se mensagens, cada vez mais afectuosas, a que ela correspondia com uma ternura fascinante. O problema estava em que Braulio usava na sua página fotos de um primo, jovem ginasta com cara de sedutor cinematográfico. Nunca afirmara que tais fotos seriam de si próprio, Braulio Severino, mas seria natural que a correspondente fosse levada a pensar que, além de lhe apreciar os versos, o novo amigo tinha aquela figura.

Não tem. Agora esforça-se por se apresentar sem a desiludir excessivamente, sendo certo que para corresponder às fotos do primo precisaria de mais quinze centímetros e menos vinte quilos, além de existir um rosto estilo escultura grega. Daí o medo com que irá apresentar-se no encontro marcado para se conhecerem pessoalmente. Mas lá estará, às seis da tarde, junto ao lago do Rossio, esperançado que ela dê mais valor à sensibilidade que o admirador demonstrou nos textos do facebook. Não duvida que a uma mulher como Marcela T. não faltarão pretendentes, porventura mais seduzidos pelo fisíco do que pelo talento, enquanto, no seu caso, a paixão crescera pelo lado espiritual. Queria imaginar que também as palavras quentes de Marcela T. eram homenagem à sua inteligência e não às fotos do primo. Encontro marcado para as seis da tarde, às cinco já Braulio Severino se passeava pelo Rossio

observando bandos de turistas, alguns incluindo mulheres altamente perturbadoras mas nenhuma, disse de si para si, capaz de o perturbar tanto como Marcela T. Dez minutos antes das seis acercou-se do lago. Aí viu gente diversa, como turistas entretidos com selfies, um cavalheiro de bigode farfalhudo notoriamente à espera de alguém, tal como uma senhora gorduchinha e de meia idade, e outra, magra, com boné de pala longa, ainda um par jovem namorando-se com as bocas e as mãos, uma mulatinha graciosa rebolando as ancas enquanto falava ao telemóvel. Marcela T. não deve demorar. Mesmo assim, Braulio senta-se no murete do lago e vai olhando em volta. Reconhecê-la-á mal se aproxime. Às seis em ponto não se impacienta, sabe que as mulheres gostam de se fazer esperar, tanto mais tratando-se de um primeiro encontro com alguém só conhecido através do facebook. Mas levanta-se e começa a andar aos círculos em José Frade

torno do lago. Aos poucos, o espaço vai-se esvaziando, já só restam ele próprio e a gorduchinha de meia idade que faz correr o olhar por todas as direcções. Ocupados no volteio quase esbarram e Braulio, sempre delicado, diz: – Desculpe. Espero uma pessoa que tarda e olhava para longe. Ela sorriu: – É o meu caso. – Esperar é sempre difícil quando nos falta um número de telemóvel – gracejou Braulio – É o meu caso – repetiu a senhora. Divertido com a coincidência, Braulio Severino entendeu que se justificavam apresentações. Perfilado avançou com a mão espalmada: – O meu nome é Braulio Severino. Ela segurou a mão que se lhe estendia mas, de imediato, cravou no interlocutor um olhar espantado: – O Braulio? Mas não se parece nada? – Não me pareço... com quem? – Com as fotos no facebook! – Pois, as fotos são de um primo. Mas tem visto a minha página? – Naturalmente. O Braulio Severino é um amigo especial. – Eu? Especial para quem? – Para mim, Marcela T. – A Senhora é a Marcela T.? – Precisamente. – Desculpe, parece diferente nas fotos do facebook. Ela larga uma gargalhada: – As minhas fotos no facebook são de várias pessoas e nenhuma pretende representar-me. E agora? Incomoda-o não ser como julgou que era? – Nada. E a si? Desiludo-a por não ser o meu primo? – Nada. – Óptimo. São quase horas de jantar. Vamos? Saem risonhos e de mãos dadas quando cai a noite. n


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22 // PALCOS // TL Abril/Maio 2016

// EM CENA NO TRINDADE INATEL

Da comédia à reflexão com música “O Apartamento”, um grande êxito cinematográfico dos anos sessenta, agora no formato teatral, “Escrever, falar”, texto de Jacinto Lucas Pires, Concerto da Banda Sinfónica do Exército, Cabide – Revista ao Vivo e um espetáculo de João Gil são propostas para todos os gostos ArtePertinance

B

aseado no filme “The Apartment” (1960), do realizador Billy Wilder e co-autor do argumento com I.A.L. Diamond, o espetáculo “O Apartamento” tem como pano de fundo uma grande cidade e a forma como o ser humano se move nela através das suas relações laborais, de vizinhança e de amizade. A adaptação teatral da autoria de Hélder Gamboa, J. Fraga e Marina Pinto, mantém a ideia de sátira social que dá corpo a uma comédia sem ilusões sobre a ética pessoal ou corporativa. A propósito do tema nuclear do espetáculo, Maria João Abreu comenta ao jornal Tempo Livre: “É um assunto bem atual, e, infelizmente, será sempre transversal à humanidade. As pessoas são cada vez mais egoístas e entram num jogo de poder incrível para atingir o topo em troca de favores.” A conhecida atriz, que nesta peça tem o papel de uma mulher ingénua, revela o perfil psicológico da personagem: “A Fran é uma mulher simples que trabalha nos elevadores. Ela acredita no amor, está muito apaixonada por um homem que acha que é solteiro e, afinal, é casado. E acaba por ser muito magoada. Através de um outro homem, simples como ela, vai perceber que está enganada e conseguir mudar o curso da sua vida.” No meio de diversas situações, por vezes hilariantes, o protagonista perde-se inúmeras vezes, porém mantendo intacta a sua quase inocência, que acaba por salvá-lo das garras da ambição, intriga, dinheiro e poder. No elenco estão outros atores também conhecidos do grande

público, Vitor de Sousa, Heitor Lourenço, Ângela Pinto, Paula Guedes, Hélder Gamboa e Pedro Barroso, ao lado de atores estagiários da ACT – Escola de Atores de Patrícia Vasconcelos. Em cena até de 15 maio, sala Eça de Queiroz, de quarta a sábado às 21h30, domingo às 18h00. “Escrever, falar”

“O Apartamento” José Sena Goulão

Na peça de Jacinto Lucas Pires Escrever, falar, encenada por Jorge Silva, com interpretação de João de Brito e João Pedro Dantas, existem dois homens que se encontram num espaço indefinido. Dialogam entre si, dialogam consigo próprios. Não são mais do que aquilo que fazem e dizem naquele momento concreto. Não têm vidas passadas ou futuras. Apenas existem ali, na peça. Usam imagens para dar sentido às palavras e não palavras que dão sentido a imagens (verdadeiras ou falsas?). Usam-nas como se de uma partitura se tratasse, têm tempos, tons, pausas, interrupções, sobreposições. Em cena até 15 maio, na sala Estúdio, de quarta a sábado às 21h45, domingo às 17h00. No dia 4 maio há uma conversa com o público (após o espetáculo). Cabide – revista ao vivo

“Escrever, falar” de Jacinto Lucas Pires

A Cabide, “primeira revista portuguesa ao vivo”, com direção do jornalista João Pombeiro e do designer Luís Alegre, regressa ao Trindade, em maio, com entrevistas, debates, crónicas, ilustração, reportagens, música, teatro, documentários, opinião, humor e arte. À semelhança do que é habitual, a Cabide propõe uma pergunta, desta vez a questão de partida para


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TL Abril/Maio 2016 // PALCOS // 23

Banda Sinfónica do Exército e, em baixo, João Gil e Ana Mesquita

esta 4.ª edição é “Há mais vida para além da cópia?” Neste número da “revista ao vivo” participam Gonçalo M. Tavares, Afonso Cruz, João Quadros, José Avillez, Carla Hilário Quevedo, entre muitos outros. Dias 21 e 22 maio, sábado às 15h e 21h30, domingo às 15h. Música Concerto da Banda Sinfónica do Exército

Os premiados da 4.ª edição do Concurso de Composição para Orquestra de Sopros vão atuar dia 18 de maio, às 21h30. Participação de Alain Rosa, (Poseidon), Pedro Sobral Santos (O Viajante), Fábio Cachão (Estranhos Lugares), Nelson Jesus (Zamora 1143), com direção musical de Tenente CBMus Artur Cardoso. O programa inclui também a prestação de Lino Guerreiro (Mazurkax; Marcha Patrono do Exército, de Joaquim Luíz Gomes). Concerto com entrada livre. João Gil e Ana Mesquita: Casados de Fresco

A celebração de 40 anos de canções de João Gil inicia-se com um espetáculo inédito, no palco do

Trindade, dia 28 maio, às 21h30, onde João Gil e Ana Mesquita fazem uma apresentação conjunta e intimista da música e da ilustração. “Casados de Fresco” é um musical-arte, num formato minimalista e totalmente acústico, com temas da autoria de João Gil, que foram êxitos nos grupos que integrou ao longo do seu percurso artístico. Entre muitos outros, “Perdidamente”, “Loucos de Lisboa”, “Esplanada”, “Postal dos Correios”, “Rosa Albardeira”, ganham uma vida especial quando os desenhos criados por Ana Mesquita surgem no vídeohall em tempo real. n


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24 // SABERES // TL Abril/Maio 2016

// TEMPO DIGITAL

// LÍNGUA NOSSA

Um para tudo odos nos habituámos a ter sobre a pequena mesa situada na sala entre o maple e a televisão, uma série enorme de comandos para controlar os diversos dispositivos que usamos e estão normalmente junto ao televisor porque dele dependem em parte. E muitas vezes estamos distraídos com um na mão que não é o que devia ser e lá teremos que pegar no que era correcto. Pessoalmente – e talvez até sejam mais – creio que tenho nessa mesa uns sete. Claro que há alguns anos apareceram uns chamados comandos universais que de universais tinham muito pouco, até porque os dispositivos actuais são cada vez mais complexos. Ora o problema parece estar resolvido com o controlo inteligente criado pela marca “One for All”, isto é, um para tudo. Distribuída pela Esotérico, a marca apresenta o URC 7980 Smart Control, o primeiro comando universal com uma app gratuita para um processo de configuração dos dispositivos mais simples e eficaz, apesar de poder ser configurado usando o próprio comando. O Smart Control consegue controlar múltiplos dispositivos como se fossem um só: televisor, box, cinema em casa, barra de som, consola de jogos, leitor de DVD, Blu-ray e media player, num total de até 8 dispositivos. E além de ter a maior base de dados de códigos do mundo, com mais de 7 mil marcas e 335

T

José Frade

mil códigos de dispositivos, este comando também reconhecerá os equipamentos que ainda nem sequer existem, uma promessa garantida pela “One For All” graças à app de configuração. Esta app guia o utilizador para configurar todos os equipamentos em minutos e é permanentemente actualizada para garantir que o seu próximo televisor não fique de fora. O Smart Control universal permite cruzar funções entre dispositivos para que não haja necessidade de estar constantemente a alternar entre equipamentos. Por exemplo, a actividade de visualização de TV funciona automaticamente quando o televisor e a box estão configurados. Mas esta actividade vai permitir que o comando comunique com a box para navegação de canais e com o televisor para o volume de som. Outro pormenor muito útil é que da próxima vez que o sofá engolir o comando saber-se-á rapidamente onde procurar. Ele possui um pequeno altifalante na parte traseira que emite um som quando o pedirmos na aplicação do telemóvel que comunica com ele por bluetooth. Gil Montalverne [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]

Tríade de homofonias antos e tão frequentes são os erros ortográficos decorrentes da confusão entre as palavras terminadas em ssão e ção, que se impõe partilhar convosco o esclarecimento acerca da razão essencial da distinção. Ora bem, fundamentalmente é a etimologia que determina as situações em que uma ou outra ocorrem. Veja-se o caso do substantivo discussão grafado com dois ss. Se assim acontece é porque já discussio, onis, a palavra latina que está na sua origem, de igual modo se escrevia. Ainda, por exemplo, nos casos de sedução, [com ç], e demissão, [com duplo s], a mesma justificação etimológica lhes assiste, porquanto, na respectiva origem, teremos seductio, onis e demissio. Entretanto, jamais pretendendo complicar, porque estou ao vosso serviço na tentativa de explicar, aproveitaria a oportunidade para apresentar um caso interessante que, ao mesmo enquadramento dos antecedentes, acrescenta o sedutor ingrediente da homofonia. Refiro-me à tríade

T

cessão, sessão, secção. Cessão [com c, ss] provindo de cessio, onis, remete-nos para o acto de ceder – do verbo latino cedere (ceder, não resistir) com o particípio cessus (cedido). O escritor decidiu fazer a cessão dos direitos de autor a uma associação local de defesa do património. Sessão [com s, ss] tem origem em sessio, onis, a atitude de alguém ficar sentado – do verbo latino sedere (sentar) com particípio sessus – fazendo parte de alguma coisa como, por exemplo, uma reunião da Assembleia Municipal ou como espectador numa sala de cinema. Hoje, há uma sessão do filme às seis da tarde. Secção [com s, cç] remonta a sectio, onis e ao verbo secare (cortar) cujo particípio é sectio (cortado). Através de um processo de evolução fonética extremamente frequente evoluirá até secção do Português actual, com o significado de corte, divisão. A secção de pronto a vestir fica no primeiro andar, logo à saída da escada rolante. n João Cachado [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]


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TL Abril/Maio 2016 // CARTAZ // 25

// ECRÃS

Da comédia de costumes à fábula social Filmes portugueses, de Fonseca e Costa (falecido no início do ano) e Luís Filipe Rocha, chegam neste maio às salas. Atenção redobrada também para as estreias de obras premiadas em festivais e à mais recente película de Jodie Foster

ro que assolam as sociedades democráticas.

A Lei do Mercado, de Stéphane

Janis: Little Girl Blue, de Amy

Brizé | França, 2015

Berg | EUA, 2015

Com: Vincent Lindon, Karine De

Documentário. Com a participação

Mirbeck, Matthieu Schaller. Em

de Cat Power, Janis Joplin, Peter

Cinzento e Negro, de Luís Filipe

cartaz

Albin. Estreia a 5.

Rocha | Portugal, 2016. Com: Joana

Porventura o retrato perfeito do estado da sociedade actual, acossada pelo desemprego em massa, as inversões sociais e a desumanização do universo laboral: um desempregado de 50 anos aceita trabalho como segurança num hipermercado e é-lhe pedido para espiar os colegas… Filme-manifesto pela dignidade humana. Prémio para Melhor Actor em Cannes.

Recordações e pensamentos de Janis Joplin, um dos ícones maiores da pop-rock e do “psicadélico” que marcou indelevelmente toda a geração americana dos anos 60/70.

Bárcia, Filipe Duarte, Miguel

Axilas, de José Fonseca e Costa | Portugal, 2016 Com Pedro Lacerda, Elisa Lisboa, Maria da Rocha, José Raposo, Rui Morrison. Estreia a 5 maio.

O argumento do derradeiro filme de Fonseca e Costa parte do conto homónimo do escritor brasileiro Rubem Fonseca e aberto a muitos desenvolvimentos (farsa, sátira, absurdo) que não apenas o da comédia de costumes: Lázaro, filho adoptado de uma velha senhora rica de Lisboa tem uma fixação obsessiva pelas axilas das mulheres.

Dheepan - O Refúgio, de Jacques Audiard | França, 2015 Com: Antonythasan Jesuthasan,

Borges, Mónica Calle. Estreia a 19.

Do realizador de “Cerromaior” e “A Passagem da Noite”, um drama carregado “de traição, roubo e fuga, perseguição e vingança; amor, solidão e morte”, ambientado na paisagem magnífica dos Açores – Faial e Pico.

Kalieaswari Srinivasan, Claudine Vinasithamby. Estreia a 12.

Alice do Outro Lado do Espelho,

Do mesmo cineasta do emocionante “De Tanto Bater o Meu Coração Parou”, uma fábula sobre a família, o amor e a guerra centrada numa comunidade de refugiados do Sri Lanka em França. “Palma de Ouro” no Festival de Cannes.

de James Bobin | EUA, 2016

Money Monster, de Jodie Foster | EUA, 2015 Com: Julia Roberts, George Clooney, Jack O'Connell. Estreia a 12.

A actriz-realizadora de “Mentes que Brilham” a colocar o dedo na ferida, com alguma virulência, nas grandes farsas do mundo financei-

Com: Mia Wasikowska , Johnny Depp, Helena Bonham Carter . Estreia a 26.

Para além da capacidade de expressividade da imaginação (prodigiosa) de Lewis Carroll, a adaptação ao grande ecrã – sem Tim Burton atrás da câmara – do segundo tomo das aventuras de Alice no país das maravilhas dá provas de um fulgor que faz apetecer voltar a saborear a obra literária. Joaquim Diabinho [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]


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26 // A FECHAR // TL Abril/Maio 2016

// MOTOR

// SUGESTÕES

Novo BMW X1

Ana Ferreira Coordenadora do Gabinete de

O

novo BMW X1 não tem precedentes, apenas um preceito orientador: combinar uma dinâmica superior com a máxima eficiência. Tecnologias Efficient Dynamics inovadoras, tais como a opcional transmissão de 8 velocidades Steptronic, reduzem o consumo de combustível, ao passo que os motores BMW TwinPower Turbo que equipam o novo automóvel impulsionam o veículo até um patamar de puro prazer de conduzir onde reina a liberdade. Graças a esta tecnologia TwinPower Turbo, a nova geração de motores BMW a gasolina e diesel proporciona uma performance ágil e respostas diretas, inclusivamente a baixas rotações. Simultaneamente apresenta valores reduzidos em termos de consumos e emissões. O novo motor diesel de quatro cilindros e 2.0 litros com transmissão manual de 6 velocidades debita uns excecionais 190 cavalos de potência. A combinação da injeção direta Common Rail com um turbocompressor com geometria variável da turbina produz uma velocidade máxima de 219 km/hora e acelera o BMW dos 0 aos 100 km/hora em 7,6 segundos, com um binário de 400 Nm, às 1750 rpm. Consumo de combustível eficiente: 4,95,1 litros de combustível por 100 quilómetros com emissões de CO2 de 129-134 g/km no ciclo de testes combinado. O sistema de tração integralxDrive potencia a tração e a estabilidade da direção.

Apoio ao Consumidor

Comercialização de energia O processo de mudança de comercializador de energia não é transparente. Milhares de portugueses enfrentam diversos obstáculos numa alteração que deveria ser simples:

O BMW EfficientDynamics é uma tecnologia abrangente que engloba o motor, a gestão da energia e o conceito do veículo – e está incluída de série em todos os automóveis BMW. O botão experiência de condução permite ao condutor escolher entre o modo COMFORT, que inclui a configuração de série do motor e da transmissão, o modo eficiente ECO PRO e o modo SPORT, que possibilita uma condução ainda mais dinâmica. Se selecionado o modo ECO PRO ajusta as características da transmissão Steptronic, assim como as configurações do aquecimento/ar condicionado, de modo a otimizar a eficiência da condução. A função automática Start/Stop também reduz o consumo de combustível desligando automaticamente o motor quando fica temporariamente imobilizado. Resumindo, o novo BMW X1 é uma aposta correta. n Carlos Blanco

dupla faturação, falta de informação, tempo excessivo para a efetivação da mudança, práticas comerciais desleais. Os problemas são tantos e tão diversos que exigem uma intervenção em larga escala, sendo necessário uma verdadeira alteração dos comportamentos das empresas e uma regulação e fiscalização suficientemente forte e eficaz, tendo em vista a eliminação das práticas lesivas dos direitos dos consumidores. É essencial a definição de uma fatura normalizada, clara e fácil de entender, idêntica para todas as empresas, que permitam ao consumidor conhecer o seu histórico e o seu perfil de consumo, podendo assim avaliar as ofertas do mercado e escolher aquela que melhor se adequar às suas efetivas necessidades. Os consumidores que ainda estão no mercado regulado devem mudar de comercializador, até 31 de dezembro de

// PALAVRAS CRUZADAS // Por José Lattas

2017, escolhendo um comercializador que 1

HORIZONTAIS 1-Cunhado; Ausência. 2-Gabar. 3Famas. 4-Específica; Corrigir. 5-Ilharga; Estopada.

2

3

4

5

6

7

8

9 10 11

1

atue no mercado livre. Primeiro deve consultar os comercializadores que operam no mercado, podendo contactá-los para

6-Singular; Abalai; Vapor. 7-Aplainou. 8-Unidade

2

obter propostas de fornecimento.

de medida agrária; Interjeição usada para saudar

3

Em segundo lugar, há que comparar as

alguém; Dizer. 9-Lagunas; Mão. 10-Torrou; Acal-

4

propostas de fornecimento, bem como

canham. 11-Queimava.

5

verificar se existe alguma campanha

VERTICAIS 1-Molibdénio (s.q.); Bradara. 2-

6

comercial em vigor. No entanto, caso adira a uma campanha promocional, tem de verificar

Prefixo que indica a milésima da milionésima

7

parte da unidade (inv.); Escárnio. 3-Sódio (s.q.);

8

descontos oferecidos, como por exemplo,

Compe tentes (fem.). 4-Sombrio; Consta. 5-

9

pagamento por débito direto, receber fatura

Caminho; Nome de homem; Cidade da Caldeia.

10

6-Angústia; Aquele que compra e vende fatos e

11

outros objectos usados. 7-Alcances; Pronome perímetro da circunferência e o seu diâmetro. 8Atoleiros; Lavabo. 9-Argônio (s.q.); Governas. 10Tumba; Estação de Tratamento de Águas Residuais (sigla). 11-Arsénio (s.q.); Igualaram.

eletrónica, contratar algum produto ou serviço associado, entre outras. Depois de escolher a melhor proposta é

Soluções 1-MANO; D; VAGA. 2-O; APROVAR: S. 3-O; AURAS; M. 4-ÚNICA; SARAR. 5-LADO; A; SECA. 6-UNO; IDE; GÁS. 7-L; NIVELOU; A. 8-ARE; OLÁ; LER. 9-RIAS; O; PATA. 10ASSOU; PISAM. 11-O; ARDIA; R.

pessoal feminino; Relação constante entre o

se existem contrapartidas associadas aos

necessário celebrar um contrato e proceder à mudança. O novo comercializador deverá tratar de todos os procedimentos, inclusive da rescisão do contrato com o anterior fornecedor.


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