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Diretor: Francisco Madelino Diretora-adjunta: Inês de Medeiros
www.inatel.pt
Jornal Mensal 2ª Série | 1€ N.º 34 Junho 2016
Teatro da Trindade recebe Festival Músicas do Mundo
Inatel acolhe refugiados Miguel Coelho
A Viagem da minha vida // Clara de Sousa De vespa até Trás-os-Montes Aniversário // 81 anos da Inatel Celebrações em Beja e Águeda
Reportagem // Yucatán
Na terra do jaguar de olhos de jade
Entrevista // João Gonçalves “No desporto temos um sentido de vida”
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TL Junho 2016 // FUNDAÇÃO INATEL // 3 // SUMÁRIO
4 Notícias
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// EDITORIAL
Inovar na Cultura Popular e Regenerar o Trindade
Francisco Madelino Presidente da Fundação Inatel
Entrevista // João Gonçalves
8 Aniversário // Celebrações em Beja e Águeda
10 Destaque // Uma oportunidade de futuro
13 Viagens // Ilha dourada
14 Reportagem // Yucatán
19 A viagem da minha vida // Clara de Sousa
Fundação Inatel tem a sua missão e genética associadas à promoção da cultura popular. Tem sido historicamente incontornável na divulgação e manutenção da etnografia e do folclore nacionais e no apoio às bandas filarmónicas locais. Emerge assim nas manifestações culturais do nosso povo, mas não se afunda nelas. Ela tem de ser ao mesmo tempo um catalisador da renovação e da inovação das nossas manifestações culturais mais profundas. E é. Vivemos um tempo de pressão para a harmonização dos hábitos, mas ao mesmo tempo de renovação, inovação e recuperação, pelos jovens, dessas formas populares nacionais, de forma a preservar a diferença e a essência da nossa cultura. Do fado à
A
música tradicional portuguesa, do cante alentejano à recuperação do artesanato na cultura erudita, da dança popular à contemporânea, da arquitetura tradicional à moderna, da cultura local ao turismo, da gastronomia popular à gourmet. A cultura e saberes populares são fontes de inspiração, de portugalidade, de unidade nacional e de criação de valor económico. É com esta função e visão que a Fundação se une ao Festival Músicas do Mundo (FMM) e à Autarquia de Sines, num dos maiores festivais de world music. Uma prova concreta de que os portugueses e, sobretudo os jovens, apreciam e procuram manifestações inovadoras e diferenciadoras, no âmbito musical, a partir da essência da genética cultural dos povos.
Esta parceria tem duas funções. Associar a Inatel à essência da sua missão, mostrando que ela é fator de modernidade e futuro, e estimulando, pelo exemplo e pelo efeito demonstração, as potencialidades artísticas que se abrem, sobretudo aos públicos mais jovens. Segundo, desenvolver sinergias que tragam muitos dos artistas, nacionais e mundiais, associados a esta rede, ao Teatro da Trindade Inatel e a Lisboa, tornando este espaço da Fundação, uma grande montra de world music em Lisboa e de ligação da cultura popular e trabalhadora nacional ao Mundo, a partir da velha, histórica e bela Olissipo. Com esta parceria a Inatel cumpre a sua missão. Trazer a cultura do povo. Divulgá-la. Dar a conhecer quem a promove e nela inova. Devolvê-la ao Povo. I
21 Palcos // Teatro da Trindade Inatel recebe Festival Músicas do Mundo
// CONFERÊNCIAS DO TRINDADE
24 Língua Nossa // Tempo Digital
Tiago Rodrigues aborda o tema ‘Da
encenador e diretor artístico do
Rodrigues responde: “A sua missão
Junta de Freguesia à Via Láctea”
Teatro Nacional D. Maria II. Teatro,
de teatro nacional com a convicção
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na conferência que se realiza dia 5
que este ano comemora o 170.º
de que ser ‘nacional’ implica saber
Mesa partilhada com… Pedro
de julho, pelas 18h30, no salão
aniversário, é um dos pólos
ser local e global a um tempo,
Mendes // Palavras Cruzadas
nobre do Teatro da Trindade.
centrais da atividade teatral em
saber atravessar fronteiras e existir
O conferencista é ator, dramaturgo,
Portugal. Desafiado para falar do
em muitas escalas, da Junta de
argumentista, produtor teatral,
seu projeto de programação, Tiago
Freguesia à Via Láctea.”
Jornal Mensal e-mail: tl@inatel.pt | Propriedade da Fundação Inatel Presidente do Conselho de Administração Francisco Madelino Vice-Presidente Inês de Medeiros Vogais Álvaro Carneiro e José Alho Sede da Fundação Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Nº Pessoa Coletiva: 500122237 Diretor Francisco Madelino Diretora-adjunta Inês de Medeiros Redação Teresa Joel, Sílvia Júlio Logótipo Fernanda Soares Design José Souto Fotografia José Frade Colaboradores Carlos Blanco, Ernesto Martins, Gil Montalverne, Humberto Lopes, João Cachado, José Baptista de Sousa, Joaquim Diabinho, José Lattas, Mário Zambujal, Sofia Tomaz Publicidade Marketing Tel. 210027000 marketing@inatel.pt Impressão Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA., Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Queluz de Baixo, 2730-053 Barcarena. Tel. 214345400 Dep. Legal 41725/90 Registo de propriedade na ERC 114484 Preço 1€ Tiragem deste número 90.082 exemplares
Estatuto editorial publicado em www.inatel.pt e http://tempolivre.inatel.pt
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4 // NOTÍCIAS // TL Junho 2016
// COLUNA DO PROVEDOR
Manuel Camacho provedor.inatel@inatel.pt
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e entre os projetos sociais da Fundação Inatel, queria destacar aquele que, pelas suas características, talvez tenha uma visibilidade mais discreta. Chama-se “Conversa Amiga” – Linha de Apoio Emocional. Este projeto, sustentado apenas pela participação de voluntários, existe desde 2009 e está disponível entre as 15h00 e as 22h00 durante os 365 dias do ano. Ao ligar os números 808 237 327 ou 210 027 159, qualquer um pode falar e ser ouvido sem que para isso tenha que se identificar e com absoluta confidencialidade. A palavra amiga no momento certo ou a arte de saber ouvir podem fazer toda a diferença naquele momento difícil a que qualquer um de nós pode estar sujeito. É aí que a “Conversa Amiga” tem um papel extremamente importante. É bom que se saiba da força que tem o voluntariado no nosso País e é bom saber que mesmo nos caminhos mais escuros é possível encontrar a luz. O humanismo e conceito de cidadania ativa de cada voluntário que colabora neste projeto foram fundamentais para que fosse atribuído à Fundação Inatel o “ACE awards 2011 – Active Citizens of Europe”. Este prémio é atribuído pela CVS – Comunidade de Voluntários do Reino Unido e visa contemplar indivíduos e/ou organizações europeias que se distingam pela sua atividade junto das comunidades em que se inserem. Em boa hora a Fundação Inatel abraçou este projeto, que se destina não apenas aos associados mas à população em geral. I
CIOFF Portugal na reunião do Setor da Europa do Sul
A
organização da iniciativa “Folkloriada 2016” a realizar em julho, no México, onde o Rancho Folclórico de Santa Marta de Portuzelo garantirá a representação portuguesa, foi um dos temas da reunião do Setor da Europa do Sul, do Conselho de Organizadores de Festivais Internacionais de Folclore (CIOFF), que decorreu em Iskele, Chipre do Norte, entre 12 e 16 de maio. Durante o encontro foram também apresentados novos projetos, designadamente, a criação do Festival de Culturas Mediterrânicas. E, ainda, analisada a preparação do próximo congresso mundial do CIOFF a decorrer em Fiuggi, Itália. A Associação CIOFF Portugal, presidida pela Fundação Inatel des-
Cerimónia de encerramento da reunião do Setor da Europa do Sul. Da esquerda para a direita: Domingos Florim, vogal da direção do CIOFF Portugal, Carla Raposeira, diretora do departamento de Cultura da Inatel, Inês de Medeiros, presidente do CIOFF Portugal e vice-presidente da Fundação Inatel, e Ozlem Kadiraga, presidente do CIOFF Chipre do Norte
de 2011, é formada por dez Festivais de Folclore Internacionais e cerca de 42 grupos associados. A par de Itália, Grécia, Espanha, França, Bulgária,
Inatel assina Declaração de Lisboa
A
conferência “Os Direitos Humanos e os Desafios do Século XXI. Globalizar a Dignidade”, que decorreu na Gulbenkian, em Lisboa, nos dias 9 e 10 de maio, teve a participação de diversas entidades nacionais e da Fundação Kennedy. Durante dois dias foram apresentados painéis de debate sobre Direitos Civis e Políticos, Direitos Económicos e Sociais, Direitos Identitários e Individuais, e Direitos Humanos no século XXI. Na cerimónia de assinatura da Declaração de Lisboa, a intervenção de Viriato Soromenho-Marques versou o tema “Sobre o Significado da Declaração de Lisboa.” A propósito da participação nesta cerimónia, José Manuel Alho, vogal do conselho de adminis-
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na Anos EL INAT
tração da Inatel, afirmou: “A Fundação Inatel subscreveu a Declaração de Lisboa, cumprindo as suas obrigações para com a sociedade, num registo de coerência com a sua história humanista e solidária”. Os representantes de instituições que rubricaram a declaração foram, entre outros, Artur Santos Silva, Fundação Calouste Gulbenkian, José Alho, Fundação Inatel, Kerry Kennedy, Robert F. Kennedy Human Rights, Manuel Machado, Associação Nacional de Municípios Portugueses, Rui Marques, Instituto Padre António Vieira, Susana Gaspar, Amnistia Internacional. No encerramento da cerimónia, a intervenção de Kerry Kennedy sublinhou “O valor da Educação para os Direitos Humanos.” I
Albânia, Macedónia, Croácia, Bósnia, Suíça, Chipre e Chipre do Norte, Portugal integra o Setor da Europa do Sul do CIOFF Internacional. I
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Este mês, veja o vídeo da entrevista a João Gonçalves, autor do livro “Futebol INATEL 75 Anos”. E leia, ainda, a reportagem completa de Humberto Lopes sobre a viagem ao Yucatán. Acompanhe através do seu tablet ou smartphone a versão on line do TL. Aceda também a outras informações de lazer e cultura.
Completam, nesta edição, 50 anos de ligação à Fundação Inatel os associados: António Pinheiro, Luís Neto, do Porto; António Almeida, de Oliveira de Azeméis; Fernando Ribeiro, do Estoril; Ilídio Carracena, de Vila Nova de Gaia; Jaime Lourenço, de Bobadela; José Valadas, de Caldas da Rainha; Manuel Sousa, de Évora.
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TL Junho 2016 // NOTÍCIAS // 5
Encontro Luso-Brasileiro
jovem.pt
Turismo Sénior e Melhor Idade
Campo de férias com atividades diversificadas
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ob o tema “Gastronomia e Turismo – Encontro de Culturas”, o 18.º Encontro Luso-Brasileiro de Turismo Sénior e da Melhor Idade, organizado pela Fundação Inatel e Associação dos Clubes da Melhor Idade (ABCMI), realizado no Porto, durante os dias 17 e 18 de maio, reuniu cerca de 160 participantes dos dois países. A sessão inaugural do Encontro Luso-Brasileiro esteve a cargo do vogal do conselho de administração da Fundação Inatel, José Manuel Alho, que declarou: “Com esta iniciativa já se encontraram cerca de dez mil seniores brasileiros e portugueses, que veem incrementadas as suas culturas, o convívio, o bem-estar, a qualidade de vida e a longevidade, enquanto se fortalecem os laços que unem estes dois países.” O desfile de bandeiras de Portugal e do Brasil, seguindo-se o som dos respetivos hinos nacionais, foram momentos altos da cerimónia de abertura.
Teve lugar, ainda, a assinatura de um protocolo de colaboração entre a ABCMI e a Fundação Inatel, com o objetivo, entre outros, de continuar a realizar anualmente um Encontro Luso-Brasileiro de Turismo Sénior e da Melhor idade. O acordo foi subscrito por José Manuel Alho, pela Fundação Inatel, e por Ana Maria Farias, presidente da ABCMI. O próximo encontro Luso-Brasileiro, em 2017, está previsto realizar-se na cidade de Fortaleza, Brasil. I
e 4 de julho a 5 de setembro, de segunda a sexta, entre as 8h30 e as 18h30, no Parque de Jogos 1º de Maio, em Lisboa, os mais novos podem participar em atividades de carácter cultural, ambiental, lúdico e desportivo. As temáticas semanais são variadas, com destaque para “Desporto e Ambiente”, “Ciência e Cultura”, “Artes - Sons do mundo” e “Artes Imagem e Movimento”. Como este ano decorre no Brasil a 31ª edição dos Jogos Olímpicos (de 5 a 21 de agosto), o programa jovem.pt terá também atividades dedicadas às olimpíadas. Os participantes podem praticar jogos aquáticos na piscina, oficinas de artes, torneios desportivos, artes manuais, horta biológica e atividades de educação ambiental, sempre acompanhados por monitores. O valor a pagar é diferenciado, dependendo do escalão de rendimentos do agregado familiar. Para mais informações: 210 027 142 | www.inatel.pt. I
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A FAMÍLIA.
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6 // ENTREVISTA // TL Junho 2016
João Gonçalves “No desporto O autor do livro Futebol INATEL 75 Anos, cujo lançamento está previsto para 26 de junho, ajuda-nos a relacionar a história da modalidade nesta instituição com a História do país. O antigo internacional de andebol desvenda-nos, ainda, a atração pela bola que é comum ao ser humano. E a vontade de jogar com os outros alvez uma história de infância deste jornalista desportivo, de 61 anos, contribua para melhor se entender como começa o gosto pelo esférico: “Os meus pais têm uma fotografia comigo com uma bola na mão e parece que a quero comer, tal era a minha alegria.” Uma bola pode alimentar a necessidade de conviver alegremente com outras pessoas. No passado já se falava numa premissa que hoje marca pontos no campeonato da vida: trabalhadores que vivem momentos de lazer são mais felizes. Logo, são mais produtivos. Qual o dado mais curioso que ressalta desta pesquisa sobre o futebol Inatel? A certa altura virei-me para aquilo que tinham sido as empresas e a forma como estas tratavam bem os trabalhadores, com tudo o que hoje um sindicato ou revolucionário possa pensar, porque, na verdade, era uma faca de dois gumes. O que aconteceu foi que num tempo em que havia pouca qualidade habitacional, começavam a aparecer não só as grandes herdades como as grandes fábricas de produção em que o trabalhador era uma peça importante. Foram construídas casas, refeitórios, assistência médica… Não havia nada em Portugal. Havia gente com visão, como os homens dos Armazéns Grandella, da Fábrica de Loiça de Sacavém, Herdade de Rio Frio e outras. Dentro das empresas havia casas para os trabalhadores, escolas, posto de primeiros socorros, transportes,
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campo de futebol, zona de lazer, pequeno teatro... Como disse no livro, na base de tudo isto está o jogo. Até um animal gosta de jogar com uma bola. O jogo atrai-nos. Vivemos no jogo uma superação que muitas vezes não conseguimos no dia a dia. Jogo pensado no coletivo? Jogar sozinhos não tem piada, e é assim que nasce o desporto entre as fábricas e os trabalhadores. Vamos jogar com a fábrica ao lado. Depois é preciso alguém para organizar isto. A FNAT percebeu que tinha ali um caminho. As modalidades começaram a aparecer. Portanto, foi um bem para todos os trabalhadores aparecer a FNAT para os organizar. O primeiro campeonato foi só uma coisa local e, a partir daí, começa a evolução. Atenção: primeiro houve melhores condições em fábricas do que nos próprios clubes. A Fábrica de Loiça de Sacavém desde cedo teve um campo de futebol, porque veio um dirigente inglês. Nessa época foram construídas instalações desportivas dentro de muitas fábricas. Um operário tem de ter o seu espaço, tem de descansar. Esses dados ajudaram-no a mudar a perspetiva sobre a história? Sou sincero, mudou-me um pouco a perspetiva da história relativamente àquilo que nunca tinha explorado que era este fenómeno dos trabalhadores e o seu desporto. Lembrava-me quando o Livramento, de quem fui amigo, jogou no Banco Pinto & Sotto Mayor. Pensava como é que o melhor jogador do mundo participava no Sotto Mayor, onde
trabalhava, entre ter estado no Benfica e no Sporting. É porque tinha condições e era acarinhado. Ouvíamos falar da equipa da Regina (chocolates), dos telefones, da carris, das cervejas e o entusiasmo que havia à volta disso. Porém, não tinha ideia nem do número de praticantes, nem do número de polos que criou em todo o país. Foi um crescimento enorme, bem acompanhado, e com um vínculo muito claro da FNAT, depois do INATEL. Não
“O jogo atrai-nos. Vivemos no jogo uma superação que muitas vezes não conseguimos no dia a dia” “Jogar sozinhos não tem piada, e é assim que nasce o desporto entre as fábricas e os trabalhadores” “O lazer é importante para o crescimento correto”
tenho dúvida de que a criação do Estádio dos Trabalhadores foi um polo importantíssimo para este desenvolvimento. Havia muitas dificuldades em ter campos. Tentei também valorizar o que tinham sido equipas grandes da história do futebol da FNAT/INATEL. Contam-se ali histórias da H. Vaultier, da Fundição de Oeiras, Fábrica de Esmaltagem do Porto de Mário Navega, das conservas, do barro e da cerâmica, como é o caso da fábrica que existia onde é a atual sede da Caixa Geral de Depósitos... Hoje as equipas dos tempos modernos já não têm nada a ver com isto. O registo da riqueza desta história do futebol, nesta instituição, ajuda-nos a compreender a paixão pela modalidade em Portugal? Ajuda-nos a perceber que o futebol é muito mais que os milhões do Renato Sanches ou de um miúdo que muda a sua vida em pouco tempo. Abre para a pessoa que está na linha lateral. O adepto é um praticante em potência. Com uma bola podemos dar três toques e dizer ao outro: “Vê lá se consegues fazer como eu.” Não tenho dúvidas de que estas pessoas acabaram por jogar como uma forma de lazer. O lazer é importante para o crescimento correto. Eu comecei a fazer desporto com quatro anos de idade no Ginásio Clube. No desporto temos um sentido de vida. Que sentido é esse? Hoje faço futebol na televisão e no final das minhas transmissões digo: “Veja desporto mas faça também exercício físico.” Quando
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TL Junho 2016 // ENTREVISTA // 7
temos um sentido de vida” José Frade
eu tinha um dia difícil, no meu treino de andebol, atirava quatro remates ao poste para tirar os nervos de cima. Estas coisas libertam-nos. Não é só a questão física – é também psicológica. Conseguimos ser outras pessoas através do jogo e do convívio. Depois, ver e aplaudir quem faz melhor é um plus. O que o atraiu nesta história? Quando me foi apresentado o José Augusto Martinho dos Santos, presidente do Bairro S. João Atlético Clube, gostei muito do seu entusiasmo. Ele tinha um grande acervo. Resultados distritais, regionais, aparecimento de equipas, fotografias antigas...
“A Inatel continua a promover o convívio, para termos uma sociedade melhor” “Através do desporto conseguimos ser melhores pessoas” Foi o meu grande parceiro. A certa altura comecei a pensar: “Isto vai muito para lá daquilo que é o mero esforço e representação dentro do campo.” Percebi que havia aqui coisas interessantes, sob o ponto de vista sociológico. Ouvimos falar daquelas equipas, mas como é aquilo se organizava? A FNAT foi o primeiro grande momento de lazer para os trabalhadores – e o desporto foi das últimas coisas. Deu a possibilidade aos ranchos folclóricos, aos passeios, ao turismo para os trabalhadores... O desporto aparece na FNAT para “cuidar do corpo e melhorar a raça lusitana”. Fundamentalmente era a ginástica e a atenção em relação à alimentação e higiene. Quando começo a pensar no livro digo: “Há aqui coisas importantes para perceber.”
Na inauguração do Estádio da FNAT, em 28 de junho de 1959, Salazar apareceu “inesperadamente”, como escreveu. Que significado teve? Salazar não gostava de futebol e era avesso ao desporto. Curiosamente, não é por acaso que aparece. Ele foi para marcar a importância que a FNAT tinha relativamente ao trabalho e à organização laboral, na linha dessa disciplina que se pretendia para “as coisas estarem calmas e organizadas”. Depois do 25 de Abril, o Estádio dos Trabalhadores é denominado Estádio 1.º de Maio… Fui à primeira comemoração do 1.º de maio em 1974. Tinha 19 anos. A certa altura era difícil termos campeonatos porque passou a ser um estádio de comícios. Eu até lá fui ao do MRPP e nunca fui do MRPP. Nós íamos tentar ouvir toda a gente. Era um tempo louco. Mas foi tão bonito. Que nos deu a liberdade e a democracia. Ali se realizou uma fase do Mundial de Andebol, com a nossa seleção, em 1986. O que recorda desse acontecimento? Nessa altura já tinha 31 anos. Trabalhava na Holanda em televisão e vim de propósito para jogar esse campeonato do mundo, no Estádio 1.º de Maio em Alvalade, que era o meu bairro. Isto é que era mesmo jogar em casa [risos]. Que importância tem hoje a Inatel? A Inatel continua a promover o convívio, para termos uma sociedade melhor. Precisamos de entidades como esta que permitam não sermos apenas as pessoas amachucadas pela crise, pelas dificuldades no trabalho, pela educação... Através do desporto conseguimos ser melhores pessoas e ter uma vida melhor. I Sílvia Júlio
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8 // ANIVERSÁRIO // TL Junho 2016
81 anos da Inatel Celebrações em Beja e Águeda No dia do seu aniversário, a 13 de junho, a Fundação Inatel homenageia dois centenários Centros de Cultura e Desporto (CCD): Sociedade Filarmónica Capricho Bejense e Orfeão de Águeda
A
s comemorações começam a Sul do país para assinalar o 100.º aniversário da Sociedade Filarmónica Capricho Bejense. Fundada em 15 de Julho de 1916, foi constituída com o objectivo de manter uma Banda de Música e desenvolver uma acção cultural e recreativa em Beja, tendo realizado o primeiro concerto dezoito dias após a fundação, na Praça da República. Colectividade popular de verdadeira utilidade pública na região, a Capricho proporciona, nos dias de hoje, uma vida cultural já enraizada na comunidade e cumpre integralmente a filosofia dos seus fundadores e promotores, mantendo uma Banda e uma Escola de Música como serviços gratuitos e promovendo actividades diversas, nomeadamente nas áreas do teatro e da
dança. Para além destas actividades regulares, decorrem ainda na Capricho Bejense matinés dançantes, matinés de fados e a feira do livro usado e, durante o Verão, joga-se o jogo da malha no terraço. A Banda Filarmónica é composta por cerca de 50 elementos, com idades compreendidas entre os 9 e os 60 anos, e tem sido coordenada e dirigida por vários maestros que contribuíram para o seu bom nome e prestígio em todas as participações em touradas, procissões, comemorações e concertos. Em 2005, a Capricho acolheu a Escola de Danças de Salão, implementando uma nova dinâmica e rejuvenescimento, onde ainda hoje são ministradas as aulas de dança social. Das aulas de competição dadas até 2014, vários atletas consagraram o nome da Capricho Bejense
e da cidade de Beja, tanto a nível nacional como internacional, conquistando excelentes classificações. Em 2006, foi reactivado o grupo de teatro, Homlet – Companhia de Teatro da Capricho, cujos objectivos assentam na formação de actores, educação de públicos e consagração da arte teatral. “Hamlet”, de William Shakespeare, foi a sua a primeira produção, estreada em abril de 2007 no Pax Julia Teatro Municipal e concorrente ao Teatrália – Concurso Nacional de Teatro, promovido pela Inatel. Ao longo dos seus 100 anos de existência, a Capricho foi impulsionadora de iniciativas pioneiras, tendo sido nesta Sociedade que muitos bejenses assistiram pela primeira vez a uma peça de teatro, a um concerto e a um programa televisivo ou leram um livro. Salientam-se, no seu percurso, os Concertos da Orquestra Ligeira, as Sessões de Cinema, os Jogos Florais, o Encontro de Poetas Populares, os Torneios de Snooker, o Jogo do 31, as aulas de Yoga, os famosos Bailes da Pinha, o espectáculo "Boa Noite Beja", o Curso de Formação de Regentes, iniciativa inédita levada a cabo pela Delegação de Beja Inatel em parceria com a Sociedade Filarmónica Capricho Bejense, e a participação da Banda de Música no Mega Encontro de Bandas realizado no Estádio 1º de Maio, em Lisboa. Em 2008, a Capricho foi consti-
tuída Entidade de Utilidade Pública e, em 2015, viu aprovada a sua candidatura ao programa de equipamentos urbanos de utilização colectiva que permitiu a requalificação da sede. Pela sua acção em defesa da cultura, a Sociedade Filarmónica Capricho Bejense foi, em 2016, agraciada pela Câmara Municipal de Beja, com a Medalha de Honra, pelo seu centésimo aniversário. Orfeão de Águeda No final da tarde de 13 de Junho, a cerimónia abre pelas 18h00 com um apontamento musical do Orfeão de Águeda. As intervenções oficiais estão a cargo do anfitrião, Gil Nadais, presidente da Câmara Municipal de Águeda, e de Francisco Madelino. O presidente da Fundação Inatel vai entregar a placa comemorativa dos 100 anos do CCD, cuja história surge no contexto da Grande Guerra. Em 1916, é constituída a Comissão Patriótica das Senhoras de Águeda com o propósito de minorar a situação das famílias dos soldados mobilizados e do Corpo Expedicionário Português. Mesmo em época de extrema penúria, todos participam e a guerra faz parte do quotidiano de Águeda. Esta comissão solicita então a Armando Castela a preparação de temas corais para uma récita de angariação de fundos, dando origem ao Orfeão de Águeda.
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TL Junho 2016 // ANIVERSÁRIO // 9 Arquivo do Orfeão de Águeda
O grupo coral do Orfeão de Águeda em 1917, por ocasião da sua primeira apresentação pública
Em Outubro esta nova agremiação faz o seu ensaio geral e em Janeiro de 1917 apresenta-se pela primeira vez publicamente, em Águeda, ao serviço da cruzada de paz e fraternidade, no salão do Teatro Fernando Caldeira, com os 54 rapazes que compõem o Orfeão, num espectáculo que "causou no público uma grande e agradável surpresa, manifestada em fortes aplausos". Além de uma comédia e números musicais que contam com a participação de amadores, o Orfeão interpreta então “As Canções Transmontanas” de Pinto Ribeiro, “Hino à Noite” de Beethoven, “Coral” de Bach, “Coro dos Caçadores” de Weber e “As Camponesas” de Fernando Caldeira. Cumprindo o desejo do seu fundador, Armando Castela, o Orfeão de Águeda consolida-se como uma escola para a sociedade, lutando contra a violência, a miséria e o analfabetismo e quebrando rotinas e comodismos, despertando as consciências. Os coralistas vinham do mundo do trabalho, a que se juntavam jovens estudantes e professores, protagonistas, nessa década e na seguinte, da vida social, desportiva e artística de Águeda. Em 1930, num período de grande fervor bairrista, o novo Orfeão reaparece com um programa mais exigente, escolhendo um reportório que combina êxitos de 1917 com obras clássicas, como o “Ámen” de
Berlioz, o “Coro dos Barqueiros do Volga” incorporando temas tradicionais, a “Rapsódia de Cantos Populares” de António Joyce e o “Linho Fresco” de Tomás Borba. Ao Orfeão de Águeda se fica a dever a animação cultural local ao longo de décadas ininterruptamente, dando relevo ao património artístico local através da encenação de autores aguedenses. Na década de '90, a sua secção de Xadrez granjeou notoriedade, com presenças brilhantes em campeonatos nacionais, no entanto, a atividade do Orfeão de Águeda desenvolveu-se até aos dias de hoje, através do Grupo Coral Misto e do Grupo de Teatro – Teatro de Bolso do Orfeão de Águeda, destacando-se em diversas realizações e participações culturais. O Orfeão de Águeda tem promovido e participado em espetáculos originais, em cooperação com Bandas de Música, Coros e artistas individuais, de que se destaca a sua presença na Casa da Música, no Porto. Salientam-se, ainda, as várias participações do Coro Misto do Orfeão de Águeda em representação de Portugal, nomeadamente: em 2008, no concurso “The 18th International Festival of Advent and Christmas Music”, em Praga, onde alcançou o nível Prata entre os 74 Coros presentes; em 2012, no “6th Lago di Garda Music Festival”, em Itália, onde se apresentou como o único coro português; em 2014, no “4th Paris Music Festival”, em França. Em 1991, o Orfeão de Águeda foi agraciado com a Medalha de Mérito Municipal que lhe conferiu o Estatuto de Utilidade Pública e, em 1996, a convite da editora Public -Art, participou na gravação "Os Melhores Coros Amadores da Região Centro". Em 2016, o Orfeão de Águeda lançou o CD "O Centenário", comemorativo dos 100 anos de actividade, gravado na Igreja do Convento de Santo António de Serém. I Sofia Tomaz [A autora escreve de acordo com a antiga grafia]
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10 // DESTAQUE // TL Junho 2016
Inatel acolhe refugiados
Uma oportunid A Fundação Inatel e o Conselho Português para os Refugiados assinaram um protocolo de colaboração no passado dia 27 de maio. Através do programa “Migrantes como Nós”, uma resposta solidária da Inatel com o objetivo de integrar dez refugiados na sociedade portuguesa, é dada a possibilidade a estas pessoas, oriundas do Norte de África e Médio Oriente, de reconstruirem um projeto de vida
S
egurança. Esta é a palavra que o iraquiano Hayder Al Rubeye, de 44 anos, mais repete quando lhe perguntamos sobre o que mais gosta em Portugal. Este homem fugiu do Iraque para o Irão, seguiu o caminho para a Turquia até à Grécia numa minúscula embarcação que carregava 47 pessoas. “Foi muito perigoso… O barco era muito pequeno…Tive medo de morrer…”, conta uma pequena parte dos tormentos por que passou até chegar ao lugar que agora é o da boa esperança. “Em Portugal temos segurança e dignidade”, diz com alívio. Hayder está na unidade hoteleira de Oeiras, com mais nove pessoas, desde março, ao abrigo do programa “Migrantes como nós”. Oito homens e duas mulheres vieram da Eritreia, Iraque e Iémen com idades compreendidas entre os 18 e 57 anos. Este programa tem uma duração de 18 meses. Promover a inserção e autonomização destas pessoas no nosso país, em três fases – acolhimento, formação e emprego – é a resposta da Inatel aos apelos das Nações Unidas, organizações europeias e do governo. O iraquiano, que era professor de Educação Física, está agora a ajudar na cozinha do hotel de Oeiras. Acalenta o desejo de trazer a mulher e os quatro filhos. Acredita que vai ficar por cá “para sempre”. Pelo menos, esta é sua vontade. Já recebeu, tal como os seus companhei-
ros, conceitos de cidadania portuguesa e visitou alguns pontos do país com a Inatel para conhecer as vivências e formas de estar em Portugal. Gostou de conhecer, em especial, Albufeira e Faro, porque “a vida lá é boa e tem mar, mas o Norte também é muito bonito”. Entretanto, está a aprender Português. Com um sorriso aberto partilha algumas das palavras que já sabe pronunciar na língua de Camões: “Bom dia, boa tarde, pequeno, grande, espera, desculpe, bonita, agora, está tudo bem?” Sorrio e digo-lhe: obrigada pelo testemunho. Hayder responde, em bom Português: “De nada.” Estes momentos de conversa com Hayder decorreram junto de uma exposição fotográfica na sede
da Inatel sobre o “Acolhimento de Refugiados ao longo da história FNAT/INATEL”, inaugurada na tarde da assinatura do protocolo com o CPR. As fotografias testemunham o acolhimento de crianças timorenses em 1946 e crianças austríacas, um ano mais tarde, após a II Guerra Mundial, que encontraram “um lugar ao Sol” na Costa de Caparica. Dar mais do que acolhimento A abrir esta mostra leem-se palavras interpeladoras do Papa Francisco: “Estão aí, na fronteira, porque há muitas portas e corações fechados. Os refugiados atuais sofrem a céu aberto, não podem entrar, não se sentem acolhidos. O
Hotel solidário A Fundação Inatel está a tentar
formação e experiência nas
motivar outras empresas do
unidades hoteleiras da Inatel.
ramo hoteleiro para que se
“Estamos a encetar contactos
juntem ao programa “Migrantes
com a Confederação do Turismo
como nós”. As que se
Português (CTP) e a Associação
associarem vão receber a placa
da Hotelaria, Restauração e
“Hotel Solidário”.
Similares de Portugal (AHRESP)
A angariação de parceiros tem o
para lançar o ‘Hotel Solidário’,
objetivo de contribuir para a
para que em rede ajudemos a
empregabilidade de cidadãos
integrar os refugiados. Portugal
refugiados a longo prazo,
é um país humanista e, mais
possibilitando a contratação das
uma vez, vai estar à altura”,
pessoas que obtiveram
concluiu Francisco Madelino.
que eu gosto é de ver as nações, os seus governantes, abrindo o coração e as portas.” Portugal é o segundo país da União Europeia, a seguir à França, em número de refugiados recolocados. A informação foi veiculada pelo ministro-adjunto, Eduardo Cabrita, durante a cerimónia da assinatura do protocolo. Desde dezembro que chegaram cá 300 pessoas recolocadas. No mês de junho devem vir mais 200, segundo o governante. Na sede da Inatel, Eduardo Cabrita sublinha que “temos disponibilidade para ir mais além” no processo de recolocação e lança o apelo para que “aos refugiados não se dê só acolhimento mas também projetos de vida”. Estas pessoas que têm chegado a Portugal estão distribuídas por 48 municípios. O ministro-adjunto frisa que estruturas ligadas ao CPR, à Cruz Vermelha Portuguesa, Misericórdias, instituições de solidariedade social formam um movimento com características diversas para responder à chamada para esta causa. “Não há muitos países que possam chegar a uma reunião europeia e possam dizer que não há única voz no Parlamento contra esta forma de acolher os refugiados.” Dirigindo-se depois às pessoas que a Fundação Inatel recebeu em Oeiras, presentes no momento protocolar, Eduardo Cabrita disse: “Quero que se sintam bem em Portugal. É por isso que temos de
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TL Junho 2016 // DESTAQUE // 11
ade de futuro Fotos: José Frade
trabalhar na aprendizagem da Língua Portuguesa, na integração, na criação de condições de emprego.” E terminou a sua intervenção dizendo que há um “dever de solidariedade” da Europa. O presidente da fundação, Francisco Madelino, afirmou que
na génese da Inatel há “uma forte preocupação social e uma capacidade de solidariedade de responder aos momentos que a História exigiu, foi assim na II Guerra Mundial para receber comunidades austríacas, foi assim no 25 de Abril em que esta foi a principal instituição a
receber aqueles que ficaram conhecidos como retornados”. “Estamos mais uma vez – acrescenta – a responder ao desafio que foi iniciado pelo CPR. Nós tínhamos de estar à altura. Estamos aqui num projeto experimental, nesta parceria com três entidades: Conselho Português para os Refugiados, Instituto de Emprego e Formação Profissional e a Fundação Inatel.” O responsável salienta, ainda, a necessidade de se ajudar os refugiados acolhidos a sentirem-se “como se estivessem na sua pátria”, fazendo “o trabalho que é necessário para os inserir dentro do mercado de trabalho e na sociedade portuguesa”. Boas práticas Por sua vez, Teresa Tito de Morais, presidente do CPR, refere-se se ao protocolo, celebrado com a Inatel,
M
O grupo de pessoas acolhidas pela Fundação Inatel no dia da assinatura do protocolo com o Conselho Português para os Refugiados. Em baixo, o ministro-adjunto, Eduardo Cabrita, a presidente do CPR, Teresa Tito de Morais, e Francisco Madelino, presidente da Inatel. A vice-presidente, Inês de Medeiros, e vogais, Álvaro Carneiro, José Alho, na primeira fila, junto dos convidados da cerimónia
como sendo “inédito”. “Este acordo que fizemos é uma boa prática, porque congrega duas etapas: o acolhimento e a preparação, através do conhecimento da Língua Portuguesa, para serem um motor de desenvolvimento do nosso país. Que estes dez primeiros casos que aqui recebemos e que estamos a festejar, no âmbito deste protocolo, possam multiplicar-se, para que esta boa prática seja disseminada.” Aquela responsável manifestou a vontade de querer ver o nosso país com um comportamento exemplar no acolhimento e inserção destes homens e destas mulheres: “Que Portugal possa ser visto na Europa como um bom exemplo. Um exemplo que responda a uma chamada para apoiar os refugiados que têm de fugir por razões de perseguição política, étnica, religiosa. Países que enfrentam uma instabilidade extrema, conflitos de guerra e graves violações de direitos humanos. Estas pessoas têm necessidade de uma solidariedade que infelizmente escasseia na Europa. Portugal quis mostrar que estava presente.” A presidente do CPR lança o repto para que o caminho do acolhimento ofereça estabilidade a quem viu os projetos de vida destruídos nos seus países. “Essas oportunidades de futuro passam não só por mostrar a nossa cultura, mas também pela convivência harmoniosa entre todos. Os portugueses podem mostrar agora o que têm de melhor. Também eles foram forçados a procurar melhores condições de vida. A nossa diáspora tem essa experiência. Os que cá estão podem facilitar a integração destas pessoas que têm o objetivo de reconstruir as suas vidas e
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12 // DESTAQUE // TL Junho 2016 contribuir para a sociedade que os acolheu.” Um “chão de segurança” Em representação do grupo de refugiados, um deles leu um texto em português, dizendo: “Em Portugal procuramos segurança, paz, estabilidade e um futuro melhor. Queremos aprender a Língua Portuguesa, conseguir trabalho e o nosso sonho é trazermos as nossas famílias.” Catarina Furtado, embaixadora de Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA), deixou uma mensagem, em vídeo, recordando que há pessoas que nascem e vivem sem conhecer o significado de paz. “Há hoje no Mediterrâneo e outras zonas do mundo um excesso de pessoas que morrem, ficam estro-
piadas, perdem famílias e chão porque falhámos no papel de guardiões de um mundo melhor. O estar livre de todas as formas de violência e discriminação, o acesso à educação, à saúde, à segurança e proteção social, ao trabalho digno são direitos e oportunidades que queremos ver assegurados a par de todos os compromissos assinados, a par de todas as boas vontades. Precisamos de prevenir e pôr fim a conflitos, mas hoje precisamos que as pessoas migrantes e refugiadas que encontram em Portugal um chão de segurança sejam também atores de paz e desenvolvimento.” Em declarações ao jornal TL, a apresentadora de televisão partilha a sua “aflição”, sempre que conversa com alguém “com as garras de fora” contra os refugiados: “Ter
medo do desconhecido é ter medo de nós próprios, é não saber como lidar com os outros. Ninguém pode saber qual é o seu papel se não estiver informado. Há que fazer o exercício absolutamente determinante, ainda que seja difícil, de nos colocarmos no lugar do outro. Que foi outrora o nosso papel. A vida mostra-nos isto constantemente. A partir daqui, acredito que é possível encontrarmos o nosso caminho, dar a mão e olhar de uma forma construtiva para o refugiado.” Informar para intervir A informação é o princípio para se compreender a dimensão humana do que está a acontecer. A família e a escola podem contribuir para que as crianças também saibam o que se está a passar no mundo – com a
Uma portuguesa em Lesbos, Grécia DR
Sara Almeida, 24 anos, ficou
aceite, para poderem finalmente
“chocada”, com o afogamento do
ter uma vida normal.”
menino sírio de três anos, Aylan,
As histórias tristes que tem
encontrado na costa turca, em
acompanhado são muitas. Muitos
agosto passado. A jovem viu,
episódios deixaram-na com um
ouviu e leu as notícias, não podia
nó na garganta: “Levanto uma
ignorar. Sem compromissos
caixa de cartão e encontro uma
profissionais, e algumas
criança nua, a tremer de frio.
poupanças, sentiu “uma grande
Abraço-a com uma toalha
vontade de ajudar”. Ela e o
enquanto choro e ganho coragem
namorado contactaram várias
em Moria, o relato é eloquente:
para procurar roupas que lhe
organizações para serem
“Em abril deste ano, quando ali
sirvam. Visto-a com uma
voluntários. Nos Médicos do
chegámos, encontrámos o campo
gabardine e tento sorrir. Ela sorri
Mundo da Grécia integraram a
pior do que em 2015. Moria
de volta. Os seus pais estavam
equipa na ilha de Lesbos.
passou a ser um centro de
numa fila interminável à espera
Partiram em setembro do ano
detenção. Já ninguém fala da vida
de um papel de registo para
passado e ali ficaram durante
fantástica que vai ter na Europa.
encontrar asilo num país seguro e
cinco semanas. Foram dias
Perdeu-se a esperança. As
que os respeite.”
“intensos e traumatizantes”
pessoas passam os dias sem
É por esta e por muitas outras
porque as condições no campo
nada para fazer, as crianças não
situações que Sara Almeida
de Moria eram “desumanas, não
têm uma escola, nem onde
salienta a importância da
havia comida, sítio para dormir, e
brincar. Os adultos não têm um
integração dos refugiados em
a polícia tratava mal as pessoas”.
motivo para acordar de manhã a
Portugal: “Quem chega precisa
Meses depois, a MdM Grécia
não ser o momento do dia em
de bons amigos, que lhes
contratou Sara e o seu namorado
que a polícia chama alguns
ensinem a língua, que os levem a
para a equipa de coordenação do
nomes ao microfone. Pode
passear, que lhes mostrem o
que é doado à organização.
significar que algo aconteceu com
país, que os façam rir, que os
Atendem cerca de 300 pessoas
o seu processo de asilo e tem de
ajudem com burocracias chatas,
por dia, dando produtos de
comparecer perante as
que os façam acreditar na
higiene pessoal, roupa interior,
autoridades. Algumas estão há
possibilidade de recomeçar num
leite para bebés e fraldas.
mais de dois meses sem saber
sítio desconhecido. E, sobretudo,
Sobre o dia a dia dos refugiados
quando o pedido de asilo será
que há histórias felizes.”
cabeça e o coração disponíveis para sentir empatia por meninos e meninas que estão a viver situações muito difíceis, noutras latitudes. Durante a cerimónia, uma aluna da Escola Básica Conde Ferreira, de Oeiras, leu um poema que escreveu: “Ser refugiado é trabalhar num país novo/fazendo parte de um diferente povo./Ser refugiado é ser bem recebido,/acarinhado e protegido./Sejam bem-vindos!” Filipa Galveias, do segundo ano, conta ao TL: “Antes não sabia o que eram os refugiados, mas depois comecei a perceber que fugiam dos seus países por alguma coisa.” Do alto dos seus oito anos, diz ainda com convicção que “Portugal deve receber estas pessoas”. A professora, Maria Alice Nogueira, explica que trabalhou este tema com os seus alunos e sublinha que a Filipa interiorizou “muito bem” a informação sobre os refugiados. O evento teve, ainda, apontamentos musicais com alaúde árabe tocado por Eduardo Ramos. O músico e compositor, que tem estudado nos últimos 18 anos os nossos antepassados árabes, cantou uma poesia do rei-poeta do Iémen. “Ó lua eu vi-te no crescente e no esplendor, e toda a minha mágoa me deixou”. Palavras que o remetem para a beleza das pessoas: “Não interessa se nasceram cá ou se vieram de lá. Estes refugiados que vêm para aqui têm as suas histórias e beleza para nos transmitir. Portugal fica mais esplendoroso e rico com estas pessoas que nos trazem outras culturas.” Latina Ibraham, 20 anos, eritreia, desabafa que o esplendor na sua vida acontecerá quando conseguir reunir filho, marido, pais e irmãos que estão longe. “Sim, quero. Sim, preciso. Quero ter um futuro melhor com a minha família.” Enquanto esse dia não chega vai aprendendo a falar Português e a cozinhar pratos nacionais. Gosta de pratos “com mais legumes e de peixe”. Revela que está “contente em Portugal e com os portugueses”. Porque, para ela, a felicidade mora aqui. O futuro começa agora. I Sílvia Júlio
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TL Junho 2016 // VIAGENS // 13
O Inatel Porto Santo Hotel foi distinguido com os Certificado de Prata e Ouro, pelas excelentes práticas de higiene alimentar
Uma ilha encantada Bem-vindos a bordo! Vamos dar início a uma maravilhosa viagem até Porto Santo. Num abrir e fechar de olhos vão ouvir “por favor, apertem os cintos”, depois a aterragem acontece. O deslumbramento começa aqui...
T
emperatura agradável. Uma brisa que renova os sentidos. Inspiração autêntica para o supremo repouso. Sete noites no Inatel Porto Santo Hotel multiplicadas por mil e uma sensações. À chegada sabemos ter pela frente dias livres, totalmente livres de stresse e preocupações quotidianas. O hotel, entre a montanha e a praia, situa-se a cerca de 100 metros da praia. O ambiente é acolhedor. O conforto das suítes é ideal para relaxar. Logo na primeira tarde descansamos o olhar no infinito, deixando o corpo descontrair nas areias douradas. Ou caminhamos pelo areal limpo, com nove quilómetros, ao som do mar. No programa está prevista uma visita a toda a ilha, com um guia
local, para apreciarmos este extraordinário pedaço de terra, abundante em paisagens de contrastes naturais. Mas ao longo da semana temos outras escolhas. Podemos optar por passeios pedestres, ou circuitos de jipe por toda a ilha. Os amantes de aventuras náuticas preferem os passeios de barco e a prática de mergulho nas águas cristalinas. Depois de tantas caminhadas e aventuras é tempo de apreciar os diferentes sabores que o hotel sabe apresentar aos visitantes. Registe-se que o Inatel Porto Santo Hotel foi distinguido com os Certificado de Prata e Ouro, pelas excelentes práticas de higiene alimentar. Se a paisagem persiste na memória a gastronomia também não fica atrás, sobretudo para quem
aprecia a boa mesa. São várias as experiências que se oferecem ao palato, desde o filete de espada com molho de maracujá, bife de atum com milho frito, espetada de carne regional, lapas grelhadas, ao conhecido bolo do caco.
// Viagens INATEL Porto Santo – Ilha Dourada Partida de Lisboa Datas | julho: de 13 a 20; de 20 a 27 | agosto/setembro: de 31 de agosto a 7 de setembro; 7 a 14 de setembro. Informações: Tel. 211155779 turismo@inatel.pt | www.inatel.pt
A alma da ilha é composta por cores douradas e azuis que dominam o litoral, tons amarelos e verdes que cobrem a planície, e por todos os matizes que contemplamos entre o oceano e o céu. O que fazemos a seguir nada tem de surpreendente. Queremos reter aqueles cenários, em fotografias ou registos de vídeo. Gostamos de conservar variadíssimas paisagens. As imagens, reais ou imaginárias, fazem parte do nosso ADN. Memórias reinventadas a cada viagem, preferencialmente guardadas por muito tempo. Senhoras e senhores passageiros agradecemos a vossa preferência. Esta ilha é encantada. Um porto seguro para todos os viajantes. I
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14 // REPORTAGEM // TL Junho 2016
Na terra do jaguar de olhos de jade
Yucatán De Mérida, capital cultural do Yucatán, a Playa del Carmen, na costa oriental da península, de Uxmal a Chichén Itza e a Tulum: um roteiro por alguns nobres lugares da velha civilização maia, até às águas cálidas do Mar do Caribe
A
inda não são onze da manhã e o centro de Mérida, a capital do Estado do Yucatán, está imerso numa animação mais típica de um fim de tarde. Há petiscos à venda em botecos ambulantes, música que parece romper de todos os pontos cardeais, do Parque Hidalgo ao Parque de Santa Lucia, no Zócalo (a sempre carismática praça central de todas as cidades mexicanas), nos terreiros sombreados por árvores centenárias. E há famílias e crianças e balões e odores de tamales e enchiladas e outras armas de arremesso da gastronomia mexicana, tudo temperado com aqueles chiles arrebatados que estavam à venda na véspera no Mercado Municipal Lucas de Galvez. E danças: há pares das idades todas que há, ou quase, rodopiando ao ritmo de mambos e salsas e outros estilos embalados por trombones, trompetes e tambores, mais uns quantos saxofones e marimbas. “Mérida en Domingo”: o programa de festas que anima a cidade já tem quase três décadas e continua a atrair multidões. A capital cultural do Yucatán (que se prepara para ser Capital Americana da Cultura em 2017) não tem apenas interessantíssimos museus – o mais ou menos recente (inaugurado em 2012) Gran Museo del Mundo Maya, com a sua coleção de peças originárias de algu-
mas das cidades maias da região, pode ser um inestimável prólogo ao roteiro das estações arqueológicas. A animação cultural de Mérida tem tanto de desafetada quanto de eclética manifestação que abarca iniciativas diversas, de exposições a atividades didáticas e recreativas infantis, bailes populares, danças tradicionais e muito mais. Para o forasteiro desembarcado de outros sotur-
nos lugares, eis uma espantosa revelação da vitalidade cultural da epicurista gente yucateca, que parece fadada a não deixar por mãos alheias alguns dos conselhos “existencialistas” do Livro de Chilam Balam, um dos livros sagrados dos Maias. “Não é vosso destino passar a vida sentados. / Assim é também o destino do tempo / (…) / Ide. Construí e trabalhai. Para sempre/
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TL Junho 2016 // REPORTAGEM // 15 Não avança, antes se afunda no passado, aquele que lamenta. / Ide. / A eternidade chama-se instante. / Esse instante que é o de agora." O Yucatán tem outros sortilégios que guiam os passos do viajante, para além da arquitetura colonial ou da gastronomia, que combina receituário maia com heranças espanholas. Abre-se o mapa para acertar a agenda temprana (o autocarro para Uxmal larga ao amanhecer) e logo se vê que, enredando planos e roteiros, são muitos os apelos da Península do Yucatán: as ruínas maias, a floresta subtropical, o ecoturismo e a beira-mar caribenha e as suas águas esmeraldinas e tépidas.
M
Esplêndidas ruínas A escalinata da Pirâmide do Adivinho, em Uxmal, é íngreme, mas há quem não tema desafiar a contrariedade. Lá do topo, a cerca de quarenta metros de altura, a vista é exemplar das paisagens dominantes no Yucatán, um imenso oceano verde (a asserção vale para a época das chuvas) de onde irrompem estruturas remanescentes das cidades maias. A pirâmide, de base oval, é uma das mais paradigmáticas construções legadas pela civilização maia. "El muro al sol respira, vibra, ondula, / trozo de cielo vivo e tatuado: / el hombre bebe sol, es agua es tierra": talvez estes versos tenham sido segredados ao poeta mexicano Octavio Paz pela memória da pedra de Uxmal, que foi um dos principais centros religiosos do Yucatán. A esplêndida arquitetura e a profusão de elementos decorativos de significação religiosa alimentam as peregrinações circulares do viajante e a sua paciente espera pela hora do crepúsculo, momento em que a luz suaviza a dureza da pedra e a ornamentação se mostra mais contrastada e perceptível. A estética Puuc, um sofisticado estilo decorativo que reencontraremos no dia seguinte em Labná, Sayil e Kabah, sítios arqueológicos das imediações de Uxmal, está plasmada na fachada do chamado Palacio del Governador e na sua decoração geométrica, repetida num ritmo quase hipnótico, comandado
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16 // REPORTAGEM // TL Junho 2016
pelas máscaras estilizadas do deus Chaac, o deus da chuva. A designação de Palacio del Gobernador corresponde a uma especulação, tal como a de Cuadrángulo de las Monjas, outra das mais impressivas estruturas do conjunto de Uxmal. Ao tempo da conquista espanhola supunha-se que o edifício teria sido habitado por sacerdotisas. Para um deslumbramento mais completo, teremos que esperar até ao dia seguinte, até chegarmos diante do Palácio das Máscaras de Kabah, cuja fachada foi ilustrada com trezentas máscaras em pedra do deus Chaac. Rumo aos areais do Caribe Depois de uma semana dividida entre o centro histórico de Mérida e as estradas de floresta que levam às cidadelas maias de Uxmal e dos seus arredores, meto-me num coloridíssimo autocarro de ar bem mexicano. Rumo a Izamal, para visitar o Convento de Santo António de Pádua (ou de Lisboa, “como usted quiera”, dir-me-ia uma esclarecida devota), embarcamos numa nave (des)animada pelos queixumes amorosos de um mui lamentoso grupo de mariachis. “Me cansé de rogarle, me cansé de decirle que yo sin ella de pena muero…” e mais um punhado de lamúrias semelhantes iam
acompanhando a travessia de pequenos povoados, Tahmek, Kantunil, Sudzal. Seguia meio narcotizado por um rosário de luzinhas vermelhas que piscavam intermitentemente à volta de uma imagem da Vírgen de Guadalupe pendurada no para-brisas. Hipnotizado ou dormente, podia imaginar um lento besouro polícromo arrastando-se penosamente ao sol, a furar o ar abafado e húmido algures num
// Viagens INATEL México – Segredos Mayas Data: 5 a 12 de setembro Informações: Tel. 211155779 turismo@inatel.pt | www.inatel.pt
oceano verde de floresta subtropical. No dia seguinte, a bordo de outro autocarro popular, vivo um filme semelhante até chegar a Valladolid, uma bonita cidade de urbanismo e arquitetura colonial em bom estado de conservação, tão colorida como uma arara. A povoação é um bom exemplo de como o turismo vai transformando lentamente a economia e as sociedades dos mais remotos pueblos mexicanos. A jornada de Valladolid a Chichén Itza toma menos de uma hora. Chichén Itza é, juntamente com Uxmal, uma das mais visitadas estações arqueológicas do Yucatán e um notável testemunho dos conhecimentos de astronomia
detidos pelos sábios maias – o Observatório e a Pirâmide de Kukulcán (ou da serpente emplumada) são os principais exemplos num conjunto de vestígios que abarca uma ampla área. Cada um dos nove níveis da pirâmide está dividido em dois terraços, que representam os dezoito meses do calendário maia. Cada uma das escadarias de acesso ao templo tem noventa e um degraus, um total de 365, tantos quanto os dias do ano. Uma “aventura” a que o visitante se pode dedicar, se não padecer de claustrofobia, é meter-se pela galeria que se abre num dos flancos e descer até uma câmara interior. O piso é escorregadio, o ar abafadiço, quase irrespirável. Mas o “sacrifício” tem recompensa: a escultura de um jaguar pintado de vermelho e com perscrutantes olhos de jade, imagem com qualidades para persistir na memória. Mais adiante, o litoral do mar do Caribe é ainda uma antologia de areais em cenários de postal, se bem que a Quinta Avenida, a zona dos bares de Playa del Carmen, aspire agora a ser mais do que poiso de backpackers, como era há alguns anos atrás. Toda a região litoral é uma sucessão de praias e recifes de coral, a convidar a preguiceiras e mergulhos. Para a prática do ecoturismo, há a Ría de Celestum (excelente local para observação de aves) e o Parque Natural de Río Lagartos, no norte; lá para o sul, a reserva de Sian Ka’na, perto da fronteira com o Belize, e a de Kalakmul, junto à Guatemala, ambas catalogadas como Reserva da Biosfera. Para culminar o roteiro maia (sem esquecer a menos explorada e mais “remota” Cobá, umas dezenas de quilómetros para o interior), temos, ainda, a estação arqueológica de Tulum, cidade marcada já pela influência tolteca e pelo declínio. Escapou-lhe o brilho arquitetónico das suas congéneres de Uxmal e de Chichén Itza, mas conquistou uma localização de luxo, à beira das águas cristalinas do Caribe. I Humberto Lopes (texto e fotos)
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// A VIAGEM DA MINHA VIDA
Clara de Sousa De vespa até Trás-os-Montes A pivô da estação de Carnaxide lembra a viagem que fez aos dez anos, agarrada à barriga do pai, numa vespa 125, de São Domingos de Rana a Filhagosa. Foi como se tivesse atingido a maioridade: “Senti-me crescida. Houve ali uma passagem de nível qualquer”, conta, divertida. Eis a viagem que clareou o mundo de Clara
F
inais dos anos setenta. Os pais de Clara de Sousa deslocavam-se para todo o lado na vespa vermelha. Habitualmente era a mãe e o pai que atravessavam o Marão de mota. Mas daquela vez aconteceu a mãe e o irmão irem de comboio. Clara iria estrear-se na grande viagem que os adultos também faziam de vespa. Que acontecimento! “Foi talvez em 1976/77. Íamos pela Nacional n.º 1. O meu pai fez paragem para o almoço em Peniche. Aproveitámos para ir à lota comprar sardinhas. Lembro-me tão bem… Saímos dali e andámos mais um pouco de mota até pararmos num espaço à beira da estrada, onde as pessoas podiam fazer refeições. Fizemos uma fogueira e ali assámos as nossas sardinhas. Deliciámo-nos com elas em cima do pão a pingar. Maravilhosas! Era verão, na altura da sardinha gorda e boa”, relata como se estivesse ainda a saborear a iguaria ao lado do progenitor. Seguiram viagem para Angeja, Aveiro, para “dar um beijinho” à família materna. Prosseguiram até Vila Nova de Gaia para visitar ainda os tios. E depois o caminho até ao Marão, “subíamos a uns 20 ou 30 Km à hora, em curva e contracurva, era uma experiência ir de vespa. Passávamos por Vila Real, tínhamos uma reta que ia dar diretamente a Vila Pouca de Aguiar… E ainda tínhamos de subir até à Filhagosa. Era um dia inteiro.” Durante todo o percurso havia ainda tempo para parar outra vez e comprar um melão de casca verde aos vendedores junto das estradas secundárias. Via, com curiosidade,
o pai a carregar nas extremidades do melão para ver se estava bom. Abria um quadradinho para provar e atestar que era doce. E sabia mesmo bem. Muito bem. Há momentos que ficam gravados para sempre. Que fazem parte da identidade de uma pessoa. “Tudo o que está relacionado com a infância tem um sabor especial, é como a comida das avós e das mães. São memórias de conforto.” Quando chegavam ao destino havia batatas e couves com bocados de chouriço cozidos em panela de ferro. Ela dispensava os enchidos. Ficava bem apenas com os
tubérculos e os legumes. Há caldos que o palato não esquece, por mais anos que passem. Todas estas memórias cruzam-se com muitas outras. Estar na ‘terra’ três meses, andar descalça no alcatrão quente, ir para o rio lavar roupa, fazer rodízios e pôr na cabeça para levar, feita equilibrista,
“Tudo o que está relacionado com a infância tem um sabor especial, é como a comida das avós e das mães. São memórias de conforto” José Frade
o alguidar cheio, como faziam as mulheres dali. Mais: assaltar quintais para tirar maças, entrar por “caminhos sombrios” da serra da Cabreira e encontrar lagos, onde as crianças se atiravam “sem qualquer consciência de perigo numa água fresquíssima”. “Eram situações de liberdade e de aventura como faziam um pouco os Cinco [de Enid Blyton]. O que fazíamos parecia ser tirado de um livro desses que a gente lia nos anos setenta”, recorda. Quem leu os livros dos Cinco e dos Sete e outros de aventuras estava sempre à espera de viver coisas semelhantes. Quem não tem memórias destas? Ou ainda de tomar banho depois de se aquecer água à lareira ou de se sentar à mesa à luz do candeeiro antigo de petróleo que iluminava as refeições em família. Na altura, Clara bem reclamava da escuridão: “Oh meu Deus, mas ainda não há eletricidade nesta terra? Mas que atraso de vida!” Hoje, olha para trás e conta aos filhos a memória das diferenças que se viviam na cidade e na aldeia. Foi aí, nessa diferença, que viveu instantes que não voltam mais e que lembra com doçura. É na simplicidade que está o melhor da vida. O essencial mora ali. Naquelas férias de verão. Ela até poderia falar da viagem que fez no ano passado às Maldivas onde descobriu uma nova paixão: sparkling. O fundo do mar também a ajudou a encher o coração. Mas a alma só ficou cheia – talvez a transbordar – nas férias da ‘terra’, depois de ultrapassar as barreiras do Marão, em cima de uma vespa, abraçada ao pai. I Sílvia Júlio
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TL Junho 2016 // PALCOS // 21
Teatro da Trindade Inatel recebe Festival Músicas do Mundo A Fundação Inatel, em parceria com a Câmara Municipal de Sines, vai organizar, em Lisboa, um conjunto de espetáculos do Festival Músicas do Mundo sob o título Ciclo Mundos
O presidente da Câmara Municipal de Sines, Nuno Mascarenhas, e Francisco Madelino, presidente do conselho de administração da Fundação Inatel
O
Festival Músicas do Mundo chega ao Teatro da Trindade Inatel e traz à capital grandes nomes da world music, tornando este espaço um símbolo de ligação entre a missão da Fundação, a música popular portuguesa e o Mundo. Uma herança de 18 anos de um festival que espelha a melhor música que se faz atualmente além-fronteiras. A parceria da Fundação Inatel com a Câmara Municipal de Sines alicerça-se, nas palavras do presidente do conselho de administração, Francisco Madelino, conjugando “duas vontades: por um lado a existência do espetáculo, por outro, a aproximação mútua de vários projetos que podem ligar a Inatel e o município de Sines. Esses
projetos passam pela música, desporto e hotelaria”. As duas entidades começam por lançar e promover o Festival Músicas do Mundo com a apresentação de uma Gala, no dia 30 de junho, pelas 21h00, no Trindade. A partir desta data, uma agenda heterogénea de expressão internacional vai manterse até ao final do ano. Den Sorte Skole (Dinamarca) e Ana Tijoux (Chile) dão a primeira ‘batida’, no dia 30 de junho. Segue-se James “Blood” Ulmer (EUA), a 15 de julho, e Ester Rada (Israel / Etiópia), 21 de julho. Nomes que fazem parte do cartaz do festival Músicas do Mundo, que se realiza de 22 a 30 de julho, em Sines e Porto Covo. “Seria um desperdício muitos destes nomes não passarem pelo
Teatro Trindade Inatel, um nome de referência em Portugal e na cidade de Lisboa”, afirmou Francisco Madelino. O Festival Músicas do Mundo já foi distinguido com três prémios ibéricos, entre outros, o “Melhor Grande Festival” (Best Major Festival), tendo sido destacado pela revista britânica Songlines. Nas palavras do presidente da Câmara Municipal de Sines, Nuno Mascarenhas, “o Festival Músicas do
// Concertos no Teatro Trindade Inatel Bilhete uma noite: 15 € Bilhete três noites: 35 €
Mundo possui características que o distingue dos outros festivais, como a cultura de todo o mundo, o património e a parte ambiental, uma vez que Porto Covo está inserido no Parque Natural do Sudoeste Alentejano da Costa Vicentina, o que lhe dá um cariz diferente do que acontece em outros festivais”. Para a Fundação, esta sinergia com a Câmara de Sines, através do Festival Músicas do Mundo, aproxima ainda mais a Inatel de um público mais jovem e “renova a genética da Fundação”. Para o município de Sines constitui a certeza de mais um sucesso com novas energias e novas formas de fazer e dar a conhecer a música, através do maior festival de world music português. I
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22 // PALCOS // TL Junho 2016
// EM CENA NO TRINDADE INATEL
Da arte de divertir e outras emoções Com “As Levianas em Cabaré Vaudeville”, da Companhia Animée, a sala Eça de Queiroz, nos dias 17 e 18 de junho, vai respirar a sonoridade de um suave português do Brasil, música, teatro e humor. Ainda este mês, o humor de “Esperança” e a surpreendente “Terra Sonâmbula”, de Mia Couto Lana Pinho
E
streia-se em Portugal aquela que é considerada a primeira Banda de Palhaças brasileira, numa digressão por Lisboa, Alcobaça, Fafe e Cabeceiras de Basto, com os apoios do Incentivo Cultural do Funcultura e do governo do Estado de Pernambuco. Em conversa com o Tempo Livre, antecipando a apresentação no Trindade, Enne Marx, atriz/palhaça, também responsável pela assessoria artística e criação do espetáculo, diz: “As expectativas em relação ao público português são as melhores possíveis. Gostamos do sotaque e da maneira de falar, estamos a pesquisar a gastronomia, as ‘gírias’ e com certeza levaremos isso para o espetáculo.” “As Levianas em Cabaré Vaudeville” contam a história de quatro palhaças que participam numa audição para um musical. Não se conhecem. Nenhuma é aprovada no teste e juntas resolvem criar uma banda. Este ponto de partida remete para a ideia de que as dificuldades no percurso artístico, muitas vezes, indicam caminhos mais compensadores. Enne Marx comenta: “De certa forma perpassa por esse tema sim, de unir esforços, talentos, desejos. Mas, também a subversão da natureza humana, como as palhaças resolvem os seus obstáculos mostrando os ‘ridículos’ e o caminho para uma diversão de humor, onde as pessoas possam sentir-se contempladas pelas diversas situações apresentadas em cena.”
“É preciso apenas ser verdadeiro para ser feliz” A dramaturgia compõe-se muito pela natureza musical a partir da ‘audição’ e das tentativas de home-
“As expectativas em relação ao público português são as melhores possíveis. Gostamos do sotaque e da maneira de falar, estamos a pesquisar a gastronomia, as ‘gírias’ e com certeza levaremos isso para o espetáculo”
nagearem divas, como Edith Piaf, La Lupe, Nina Simone, Billie Holiday. Com um reportório especial, as palhaças tocam, cantam e divertem-se a narrar, como num flashback, a formação da banda. “Com o Cabaré Vaudeville queríamos vivenciar esta linguagem de cenas diversas que se complementam apenas pela relação sem necessariamente ter uma lógica”, explica a atriz. Desconhecendo ainda a inte-
ração com o público português, Enne refere que já atuaram na Áustria: “Uma terra muito mais ‘fria’ no seu contexto histórico e, no entanto, o público divertiu-se e aplaudiu de pé. O público é como um espelho. O palhaço reflete sempre no outro.” Quando estão em cima do palco sentem a liberdade de serem inteiramente como são, construindo uma metáfora com base na relação que se estabelece entre as
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TL Junho 2016 // PALCOS // 23 palhaças e as divas a quem rendem homenagem. Enne Marx acrescenta: “Ser palhaça é ser e não representar. Não nascemos para ser perfeitos, mas para aprender com os erros. O palhaço está sempre em risco, e contente que o erro seja uma caixa de surpresas que quando aberta, naturalmente provoca o riso”. Durante dois dias, em Lisboa, haverá tempo para muitos risos e sorrisos. “Esperamos que sim! Fazemos o que amamos e escolhemos para as nossas vidas. É preciso apenas ser verdadeiro para ser feliz”, conclui. Com direção de arte de Marcondes Lima, o elenco é constituído por Enne Marx, Juliana de Almeida, Nara Menezes e Tâmara Floriano. Em cena nos dias 17 e 18 de junho. O espetáculo, para maiores de 16 anos, tem a particularidade de ser acompanhado por uma tradutora de língua gestual.
Sala Estúdio Terra Sonâmbula
Esperança O ator César Mourão regressa ao Trindade na pele de Esperança, uma simpática e divertida octogenária que tem opinião e alguns segredos. A morte chega para todos mas, se depender da vontade de Esperança vai agarrar-se, en-
quanto puder, à predestinação do seu nome. Como ‘a esperança é a última a morrer’, mesmo sabendo que o fim está próximo, ainda sonha em reencontrar o grande amor da sua vida. Em cena de 22 de junho a 10 de julho. Espetáculo para maiores de 16 anos.
Uma atriz, Rosinda Costa, evoca ações, espaços, tempos, personagens e emoções do romance de Mia Couto, “Terra Sonâmbula”. A ação decorre num lugar onde a guerra tinha morto até a estrada, um velho e um miúdo que procura os seus pais seguem caminhando, bamboleantes, como se tivesse sido esse o seu único serviço desde que nasceram. Assim começa “Terra Sonâmbula”, por aqui seguirá o seu caminho, através da transposição para o teatro desses traços tão marcantes da essência, da forma de comunicação e singularidade de Mia Couto. Dramaturgia e encenação de Nuno Pino Custódio, em cocriação com Rosinda Costa, Alexandre Barata e Pedro Fino, produção da ESTE – Estação Teatral. Em cena até 26 de junho. Espetáculo para maiores de 12 anos. Conversa com o público, após o espetáculo, dia 16 de junho. I
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24 // SABERES // TL Junho 2016
// TEMPO DIGITAL
// LÍNGUA NOSSA
Um rato digitalizador
“O mais precioso património nacional...” á umas semanas, em pleno centro Histórico de Sintra, com pompa e circunstância e no âmbito da comemoração da simbólica data de 25 de Abril, o Presidente da República inaugurou o designado News Museum. Na fachada, a escassas dezenas de metros do Palácio Nacional de Sintra, apenas os topónimos Sintra e Lisboa escaparam à impositiva presença do idioma Inglês através do qual, em grandes faixas, se anuncia que o visitante vai entrar numa media age experience, assim mesmo e sem qualquer tradução. Na consulta à respectiva página digital, também o potencial interessado não poderá queixar-se de escassez de termos naquela Língua. Por exemplo, a propósito da matéria noticiosa que o religioso assunto de Fátima também encerra, talvez não fosse de esperar mas lá aparece uma surpreendente grassroots, embora entre aspas… E, durante a pesquisa, entre muitos outros, vai deparar com bad news, public relations, freedom house, social media, spin Wall, quiz, scoop, newstv, stop & go, lounge, dark side, etc. Actualmente, em Sintra, na minha querida Sintra – cuja sede do concelho, há dezenas de anos, é vítima da mais perniciosa cultura do desleixo – está em nítida expansão a servil prática patente nas considerações anteriores. Objecto de uma campanha dos comerciantes locais, até a banal e portuguesíssima artéria que dá acesso aos Paços do Concelho foi recém-baptizada como shopping street… Como estão verificando, neste número do Tempo Livre, preencho a minha coluna de modo algo diferente do habitual. Ao chamar
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magine que com o rato que está a utilizar passa por cima de um documento, folha de livro, de papel A4 ou mesmo A3 que tem em cima da secretária e faz um scan, digitalizando de imediato para Word com reconhecimento de caracteres, para Photoshop ou mesmo para uma folha Excel. Pois é possível. Já existe o combo rato/digitalizador da Hama que faz essa proeza. Chama-se MyScan, título também do software que vem com ele num CD e que instalamos no computador, tanto em Windows como em Mac. Basta carregar num pequeno botão lateral que até está iluminado para que se veja bem e abrir-se-á uma janela todo ecrã onde vemos um pequeno rectângulo que reproduz o que a pequena janela da base do rato com 4,2 x 2 centímetros está a apanhar com ele parado em cima do documento. Depois vamos passear (é o termo) por cima do documento, com o rato em qualquer posição, o que nos dá grande comodidade, e tal como se estivéssemos a pintar ou a apagar qualquer coisa, a imagem vai aparecendo. Podemos mesmo passar mais de uma vez em qualquer local que não a alteramos. Quando vemos que está feita a digitalização do que
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pretendemos, quer seja uma parte ou o documento na totalidade, carregamos de novo no botão e abre-se uma nova janela em todo o ecrã com a digitalização feita que podemos até editar delimitando um rectângulo. Faz-se OK num pequeno menu temos outra janela onde observamos que o sistema está a construir uma série de ficheiros que vão sendo terminados, em JPG, Doc, Xls, Pdf, Txt e até Png. Clicamos em qualquer deles e será aberto pela respectiva aplicação que temos no computador onde a podemos de novo editar e gravar. Tudo isto é conseguido com o novo rato digitalizador MyScan. Um inovador dispositivo que vem beneficiar simples utilizadores ou profissionais ou mesmo empresas onde a rapidez de uma digitalização além da comodidade em não ter que recorrer a um scanner normal ou a uma impressora multifunções são com certeza muito úteis. Outra função que pode ser muito apreciada hoje em dia é que após a digitalização de uma imagem é possível nas opções do menu fazer partilha em redes sociais. I
Gil Montalverne [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]
a atenção para atitudes nada consentâneas com a defesa da Língua Portuguesa, o mais precioso património nacional, que não deveria ser sujeito a estas misturas grosseiramente importadas, ainda gostaria de recordar um tema que, de algum modo, se relaciona com esta abordagem. Trata-se do já famoso topónimo referente à sexta maior ilha do planeta que é território indonésio. Quando, há cerca de quinhentos anos, os portugueses que por lá andaram, ao pretenderem referir-se-lhe por escrito, fixaram a forma Samatra. Mais tarde, com idêntico objectivo, os ingleses registaram-na como Sumatra, com u, porquanto, só assim, poderiam pronunciar o a fechado da primeira sílaba, e muito bem, como faziam os nossos. Entretanto, a subserviente e bacoca patologia que ataca muito portuguesinho, fazendo-o render-se ao fascínio de tudo quanto é estrangeiro – e, no caso vertente, apenas me refiro à Língua Inglesa – logo afectou escreventes e falantes menos bem preparados que passaram a escrever e a dizer Sumatra, com u. Porém, de vez em quando, como o caso volta à ribalta, já parece haver certa tendência para assumir que, de facto, Samatra é a forma correcta. Em próxima oportunidade, regressarei a este assunto. Para que conste desde já, tenham em consideração que, entre os estudiosos, esta e outras palavras análogas até beneficiam da curiosa designação de tornaviagem, relacionadas que estão com as lusas andanças por esse mundo de Cristo.I João Cachado [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]
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26 // A FECHAR // TL Junho 2016
// MESA PARTILHADA COM...
Receita // ARROZ CREMOSO DE ESPARGOS E TÚBARAS
Pedro Mendes
Ingredientes para 4 pessoas
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omeçou a cozinhar em casa quando era jovem, como muitos afamados chefes, um dia inventou um prato de “arroz maluco” e foi um sucesso. “O culto da mesa foi sempre importante na família. Quando era a minha vez de preparar uma
refeição combinava tudo o que me aprouvesse com arroz. Na verdade, os irmãos e a minha mãe, que cozinhava lindamente, nunca se queixaram. Esta receita de arroz cremoso de espargos e túbaras, que me liga ao Alentejo da minha infância, recorda-me os primeiros passos na cozinha.” I
1 cebola picada; 1 cebola descascada; 1 ramo de cheiros (salsa, coentros e louro); 6 dentes de alho picados; 1 molho de espargos; 400g de túbaras (fungo do género da trufa); 300g de arroz arbóreo; vinho branco (fresco e de boa qualidade, pois vai beber o restante à refeição); 1/2 l de leite; 5cl de azeite; 2 folhas de louro. PREPARAÇÃO
das túbaras laminadas e os
Para o caldo:
espargos picados, retifique os
Comece por descascar os
temperos com sal e pimenta
espargos e coloque as cascas
preta a gosto.
numa panela com 2 l de água ao lume, 1 cebola inteira, 2 dentes
Para um toque diferente:
de alho e o ramo de cheiros.
Coza as restantes túbaras no
Refogue a cebola e o alho no
leite com sal a gosto em lume
azeite juntamente com o louro,
brando, triture com uma varinha
junte o arroz e o mesmo volume
mágica com movimentos para
de vinho branco. Reduza e junte
cima e para baixo, isto vai criar
o mesmo volume de caldo,
uma espuma semelhante à do
repita a operação mais duas
capuccino que se coloca por
vezes, em lume brando e
cima do arroz ao servir. Dica:
mexendo gentilmente. No
uma colher de sobremesa de
momento de juntar o caldo pela
lecitina de soja ajuda a que a
segunda vez, adicione metade
espuma dure mais tempo.
Restaurante Maria Pia – Passeio Dona Maria Pia – Cascais Tel. 214 835 348 / 926 438 050 | www.restaurantemariapia.pt
// PALAVRAS CRUZADAS // Por José Lattas 1 HORIZONTAIS: 1-Trunfa; Cemitérios. 2-Cidade capital do
oriunda das montanhas (pl.). 3-Titânio (s.q.); Corrigendas.
estado alemão de Baden-Wurttemberg. 3-Escarnece;
4-Estojo; Abriga. 5-Usura; Nota musical; Felicidade. 6-Sigla
3
4
5
6
7
8
9 10 11
1
Alcalóide, que se extrai do tabaco. 4-Doutrina; Aparece. 5-
latina que indica data anterior à era cristã; Carteiras. 7-
2
Malhadouro; Escove. 6-Estrôncio (s.q.); Madrasta; Disco
Essência; Acordo Ortográfico (sigla); Cordilheira do Sul de
3
membranoso do olho dos vertebrados e dos cefalópodes. 7-
Portugal, entre Almodôvar e Loulé, que atravessa grande
4
Dão; Selénio (s.q.). 8-Génio; Bichas. 9-Cânhamo; Radio-
parte do Algarve. 8-Sigla do primeiro pesticida moderno,
5
televisão italiana (sigla). 10-Contracção da preposição a e
que dá pelo nome de diclorodifeniltricloroetano; Honra. 9-
do artigo o (pl.); Apurar. 11-Manuscrito (abrev.); Prefixo que
Arrenegar; Incomparável. 10-Iniciais com que se referencia,
se emprega em vez de in, quando o radical começa por b
na Rosa dos Ventos, o rumo Nordeste; Conselheiro do rei
ou p; Aplicação (inv.).
de Israel, Ezequias, que foi o primeiro, dos quatro grandes
8
6 7
Profetas hebreus. 11-Seres duplos, em que existe comple-
9
VERTICAIS: 1-Resvés; Abatem. 2-Deus egípcio, soberano
to desenvolvimento dos dois indivíduos ligados um ao outro;
10
do mundo inferior; Corrente natural de água, quase sempre
Ruténio (s.q.).
Soluções
2
11
1-COIFA; ADROS. 2-ESTUGARDA; I. 3-RI; NICOTINA. 4-CREDO; M; VEM. 5-EIRA; BATA; E. 6-SR; MA; IRIS. 7-C; ATINAM; SE. 8-ARTE; COBRAS. 9-LIAMBA; RAI. 10-AOS; ESMERAR. 11-MS; IM; U; OSU.
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jovem.pt 2016
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