Tempo Livre Maio 2011

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TempoLivre www.inatel.pt

Caminhar com a Inatel

Trilhos de Verão Entrevista José Fernandes Fafe Portfólio Rio Grande do Sul Cultura Os novos caminhos da etnografia


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Sumário

Na capa Foto: Humberto Lopes

40 CAMINHAR COM A INATEL

Trilhos de Verão Ao longo dos próximos meses, entre Junho e Setembro, a Fundação Inatel propõe um programa de descoberta de alguns preciosos recantos rurais do país, desde as faldas serranas da Estrela até à zona dunar da Lagoa de Óbidos, com apoio nas unidades hoteleiras de Piódão, Vila Ruiva, Linhares da Beira, Luso, Castelo de Vide, Gavião e Foz do Arelho.

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22 EDITORIAL

CARTAS E COLUNA DO PROVEDOR

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NOTÍCIAS

CONCURSO DE FOTOGRAFIA

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PORTFÓLIO

Rio Grande do Sul, Um Brasil europeu

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OLHO VIVO

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A CASA NA ÁRVORE

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O TEMPO E AS PALAVRAS Maria Alice Vila Fabião

CRÓNICA António Costa Santos

57 74

36 PAIXÕES

Rita Teixeira, 20 valores Prémio Alexandre Herculano da Academia Portuguesa de Ciências, a jovem estudante do Barreiro fala-nos da importância da História na formação individual.

46 INATEL CULTURA

OS CONTOS DO ZAMBUJAL

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José Fernandes Fafe Já retirado da actividade diplomática, o escritor José Fernandes Fafe publicou o ensaio "A Colonização Portuguesa e a Emergência do Brasil", uma lúcida reflexão sobre as virtudes e defeitos da secular presença lusa na que é, hoje, a nona potência económica do planeta. O nosso antigo embaixador em Cuba. Argentina, Cabo Verde e México analisa as críticas de historiadores e economistas norte-americanos a uma colonização de cuja paternidade Portugal deve orgulhar-se.

MEMÓRIA

Isabel de Castro, uma actriz para todas as estações

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ENTREVISTA

BOA VIDA

os Novos Caminhos da Etnografia Promover e valorizar o conhecimento de práticas e manifestações tradicionais portuguesas, apoiando e consagrando o trabalho de cerca de um milhar de associações etnográficas, ligadas aos 2800 CCD's da Fundação, é uma das mais relevantes funções culturais da Inatel.

CLUBE TEMPO LIVRE

Passatempos, Novos livros e Cartaz

Revista Mensal e-mail: tl@inatel.pt | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: Carlos Mamede Vogais: Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: António Costa Santos, António Sérgio Azenha, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho, Joaquim Magalhães de Castro, José Jorge Letria, José Luís Jorge, Lurdes Féria, Manuela Garcia, Maria Augusta Drago, Maria João Duarte, Maria Mesquita, Pedro Barrocas, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, Vítor Ribeiro. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Fernando Dacosta, Joaquim Letria, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA, Telef. 210027000 Fax: 210027061 Publicidade: Direcção de Marketing (DMRI) Telef. 210027189; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 157.963 exemplares


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Editorial

V í t o r Ra m a l h o

Brasil no Coração

A

dimensão da concepção universalista de Portugal tem neste número da Tempo Livre um testemunho eloquente na entrevista a José Fernandes Fafe que foi nosso embaixador em Cuba, Argentina, México e Cabo Verde. Profundo conhecedor da América Latina, homem de cultura, historiador, romancista e poeta, publicou muito recentemente o livro "A Colonização Portuguesa e a Emergência do Brasil" que está a ter nos meios intelectuais brasileiros uma grande projecção. Face à grave crise que atravessamos é muito importante revermo-nos nas relações com os povos da nossa fala comum como é o caso da relação com o povo brasileiro porque ela transporta-nos para uma outra e muito mais alargada dimensão. A dimensão do que verdadeiramente somos no mundo. Por todas estas razões, a Inatel associar-se-á no período de 18 a 22 de Maio ao XIIIº Encontro Luso Brasileiro do Turismo Sénior que coincidirá com o XIVº Congresso Brasileiro dos Clubes da Melhor Idade a ter lugar na cidade de Cuiabá Mato Grosso. Será outra boa oportunidade para a busca de novas vias de cooperação e intercâmbio entre a Associação Brasileira dos Clubes da Melhor Idade, promotora destes congressos, e a Fundação Inatel. Ter presente o Brasil é ter também presente o pulmão do mundo que é a Amazónia o que nos encoraja à prática do turismo da natureza e à beleza da terra, único planeta conhecido para vivermos. Com os olhos postos nessa prática, a nossa Fundação criou um conjunto de programas de aproximação à Natureza, como é o caso de "Caminhar com a Inatel", a decorrer nas zonas envolventes às unidades hoteleiras de Piódão, Linhares da Beira, Foz do Arelho, Luso, Castelo

de Vide e Alamal, e a que a Tempo Livre dá, nesta edição, o justo destaque. Este novo domínio de acção da Inatel complementa outras destacadas iniciativas, algumas delas decorrentes dos programas governamentais, criados há mais de uma década e geridos pela Inatel, como é o caso do Turismo Sénior, cujos despachos para o biénio 2011/2012 já foram objecto de publicação no Diário da República. A crise que se vive como é sabido não é apenas financeira e económica. Ele é também de valores e por isso a Fundação Inatel associou-se, com orgulho, à homenagem póstuma, no Teatro da Trindade, a três destacadas personalidades da sociedade portuguesa, três exemplos de cidadania e dedicação à causa pública. Refiro-me aos drs. João Ribas, Artur Maurício e António Maximiano, ex-director geral das Actividades Económicas, expresidente do Tribunal Constitucional e ex-inspector geral da Administração Interna, São figuras desta grandeza que servem de exemplo a uma juventude que, enfrentando situações de grande dificuldade, não desiste de ter esperança e procura valorizar-se. É o caso da jovem Rita Teixeira, um estudante recentemente premiada pela classificação máxima na disciplina de História, cujo perfil integra, também, as páginas da TL de Maio. Por fim, e certo de que a justiça tarde ou cedo prevalece, não poderia deixar de assinalar o facto de o processo-crime movido a antigos responsáveis do ex-Instituto Inatel, entre os quais o presidente Eduardo Graça (1996- 2002), ter sido arquivado por não se terem provado os factos constantes da acusação. Expresso, assim, a minha satisfação pelo ocorrido, com uma saudação especial ao dr. Eduardo Graça que teve no Inatel uma acção muito meritória. n MAIO 2011 |

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Cartas A correspondência para estas secções deve ser enviada para a Redacção de “Tempo Livre”, Calçada de Sant’Ana, nº. 180, 1169-062 Lisboa, ou por e-mail: tl@inatel.pt

Hidroginástica Os alunos das classes de Hidroginástica da profª Helena Pedro manifestam público reconhecimento pela dedicação e profissionalismo desta monitora no desempenho das suas funções no Parque de Jogos “1º de Maio”, em Lisboa (…). Artur Madeira, Lisboa

Campismo na Caparica Sou utente do parque de campismo da Caparica desde 1963 e nunca vi tão degradado como agora. É de lastimar que no Hotel se tenham

efectuado obras de renovação e o parque de campismo tenha sido esquecido, estando nós, utentes, a pagar uma mensalidade elevadíssima. Casas de banho com falta de higiene, caminhos cheios de buracos e ervas e lixo nas ruas dão uma imagem triste da Inatel. Falei há tempos com o Gestor do Parque sobre estas situações mas não vi, até agora, sinais de melhoramentos. Será que se pretende fechar o parque para o próximo ano? Há uns anos, ainda havia pessoas e detergentes para limpar as casas de banho 2 e 3 vezes ao dia, especialmente aos fins de semana, pois é nesta altura que há mais movimento de pessoas. Para quando a resolução destes problemas? Aurora Pinto, Setúbal

50 anos na INATEL Completaram, este mês, 50 anos de ligação à Fundação Inatel os associados: José Ruy Pinto, da Amadora; Fernando Mendes, de Almada; Henrique Ferreira, de Lisboa; Manuel Melaneo, de Mealhada, e João Assis, de Santarém.

Coluna do Provedor

Kalidás Barreto provedor@inatel.pt

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VÃO-NOS CHEGANDO vozes do desespero, à medida em que os noticiários, ainda que com informação de factos verdadeiros, abusam a carregá-los de tons negros que em nada ajudam a ultrapassar a crise que realmente o país atravessa, contribuindo para a depressão social Embora essas vozes impregnadas de desânimo não tenham, objectivamente, nada a ver com o funcionamento da nossa Fundação Inatel, é evidente que os efeitos da crise envolvem todos os portugueses que a vão sentindo. Há porém que olhar em frente, não deixar cair os braços e enfrentar a realidade, mas nunca com desânimo! Portugal, na sua longa história de vários séculos, já atravessou muitas crises financeiras e superou-as: na monarquia, na 1ª república, na ditadura e depois no 25 de Abril! Ora isto não sendo utopia é um factor de esperança.

É pois a hora para unirmos os nossos esforços e demonstrarmos a nossa capacidade organizativa que se transforma em capacidade produtiva. E sem produção é difícil criar-se riqueza. No caso da Inatel, como observava um associado, temos uma série de factores competitivos a nosso favor: património, experiência administrativa, profissionais executivos competentes, chefias conhecedoras do terreno em todas as áreas, coesão. Concluindo, temos armas para nos tornarmos auto-suficientes e ainda mais competitivos no mercado. É por isso que se admite estudarem-se, com realismo, mais alguns estímulos para os associados e para os que trabalham com orgulho em servir a Inatel. Um mercantilismo necessário não pode esquecer a nossa vocação humanista; Saúdo pois essa intenção da Administração. n


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Notícias

Helena André inaugurou Agência Inatel de Aveiro

Homenagem no Trindade l

O Teatro da Trindade foi

palco, a 2 de Abril, de uma comovente homenagem, promovida pelos familiares, a António Maximiano, ex-inspector geral da administração interna, a João Ribas, exdirector geral das Actividades Económicas e a Artur Maurício, expresidente do Tribunal Constitucional, falecidos há pouco mais de um ano, com curtos intervalos.

A Ministra do Trabalho e da Solidariedade Social, Helena André, presidiu, no passado dia 4 de Abril, à inauguração da Agência Inatel em Aveiro, a segunda delegação distrital da Fundação reaberta no âmbito da politica de uniformização da imagem entretanto adoptada. No acto inaugural da renovada agência - situada na zona central de Aveiro, na avenida principal, e com acesso directo à rua - estiveram ainda presentes Vítor Ramalho, presidente da Inatel, os responsáveis da delegação do Centro, a directora da Agência, o Secretário-Geral, o director de Marketing e diversas l

individualidades, entre outras, o Governador Civil, o presidente da Câmara, o Bispo de Aveiro, os Comandantes da GNR e da PSP locais, o director regional de Economia e a directora regional da Segurança Social. Após o descerramento da lápide comemorativa, Vítor Ramalho deu conta do processo global de modernização da Fundação Inatel e a razão de ser da nova imagem das Agências. Helena André usou também da palavra, para manifestar a satisfação pessoal e do seu ministério pela acção solidária que a Inatel desenvolve na sociedade portuguesa.

O acto, a que a Fundação Inatel se associou pelo valor e exemplo das personalidades homenageadas, teve início cerca das 21h00 e prolongou-se até cerca da 01h00 do dia seguinte. Estiveram presentes largas dezenas de amigos das figuras homenageadas além de, entre outras individualidades, o Procurador - Geral da República, o Presidente do Tribunal da Relação de Lisboa e um representante do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça.

Peditório Nacional FP Cardiologia l

Anualmente, no Mês de Maio -

populações para os riscos que

ajuda de voluntários. Qualquer um

Mês do Coração, a Fundação

derivam das doenças

pode ser voluntário! Inscreva-se. Seja

Portuguesa de Cardiologia, leva a

cardiovasculares. Este ano, o

um Voluntário pelo Coração dos

cabo o seu Peditório Nacional de

Peditório irá realizar-se nos dias 3, 4,

Portugueses. Junte-se a esta causa.

recolha de fundos que se destinam a

7, 8, 14, 15 e 21 de Maio de 2011, e

Fundação Portuguesa de Cardiologia:

custear os programas de alerta às

só será possível realizá-lo com a

Tel: 213815000

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Inatel leva Cinema Documental a Viana do Castelo, Évora e Tavira Durante o mês de Maio e Junho a Fundação INATEL associa-se à Ao Norte (Viana do Castelo,) ao Cineclube da Universidade de Évora e ao Cineclube de Tavira na organização de um ciclo de cinema que é uma oportunidade de dar a conhecer algum do melhor cinema documental que se produz em Portugal e, simultaneamente, outras realidades, mesmo quando essas realidades moram na casa ao lado, no bairro que percorremos todas as manhãs, nas ruas que atravessamos e nas pessoas com que nos cruzamos. O Ciclo inclui filmes como l

"Cinema de Bairro", uma realização colectiva de jovens habitantes de bairros sociais de todo o país que pretende dar a conhecer histórias e pontos de vista destes locais desconhecidos de tantos portugueses. Do realizador Rui Simões exibem-se as "Ruas da Amargura", que retrata não só a vida de pessoas que habitam as ruas da cidade de Lisboa, mas também daqueles que oferecem o seu tempo e carinho pela causa dos semabrigo, "Teatro de Sonhos " e "Ilha da Cova da Moura". Enquanto o primeiro aborda o grupo de teatro composto por doentes-actores do

Hospital Júlio de Matos, o segundo dá-nos a conhecer mais a fundo a realidade de viver num dos bairros mais conhecidos e polémicos do nosso pais. Por fim exibiremos "Lisboa Domiciliária", de Marta Pessoa, que nos leva ao interior das casas de alguns idosos para quem o exterior, a rua e o passado se tornam quase uma miragem. Os bilhetes têm um custo de 3,00€ para o público em geral e de 1,00€ para beneficiários da Inatel. Grupos de Escolas, IPSS e CCD também usufruem deste valor. A programação pode ser consultada em www.inatel.pt

"Gestão Desportiva e Gestão de Carreiras" l A Agência Inatel do Porto foi palco, a 6 de Abril, de mais uma conferência do Ciclo de Conferências organizado pela Direcção Desportiva da Fundação no passado dia 6 de Abril. Perante uma vasta plateia, incluindo alunos universitários de Faculdades de Desporto (ISMAI e FADEUP), treinadores e responsáveis de CCD's Inatel, os oradores convidados, Carlos Resende, professor e exprofissional de Andebol, e João Brenha, ex-atleta olímpico de Voleibol de praia (actualmente a competir na equipa "Os Mochos", campeã da Liga de Voleibol da Inatel) abordaram os temas Gestão Desportiva e Gestão de Carreiras, apoiados nas suas experiências e percurso profissional. O debate que se seguiu, moderado pelo prof. Abel Pereira, treinador de

Andebol, teve uma forte participação dos presentes, interessados na abordagem dos temas em discussão, de indiscutível interesse e actualidade para quem está prestes a ingressar no mundo profissional ou para quem já desenvolve actividades na área desportiva.

A próxima conferência realiza-se no dia 16 de Maio de 2011, a partir das 19h30, no auditório do Hotel VipExecutive, em Ponta Delgada Açores. Os interessados em participar devem enviar um e-mail para avasconcellos@inatel.pt." MAIO 2011 |

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Notícias

Inatel e Gavião lançam "Arribas do Tejo" l Cerca de uma centena e meia de pessoas de várias idades participou no lançamento do trilho "Arribas do Tejo", um belíssimo percurso circular, de cerca de 14 km, pelas duas margens do rio Tejo, com início e fim em Belver, por veredas e caminhos ancestrais, rasgado por pastores, agricultores e gente simples que sempre respeitou a natureza. O trilho, uma iniciativa da autarquia do Gavião, com apoio da Fundação Inatel, registou no acto inaugural, a presença do autarca local e de responsáveis da Inatel e não

ignorou outros encantos e prazeres, designadamente a gastronomia da região - desde o arroz de lampreia, a enguias, sável, lebre e outros manjares - "uma verdadeira tentação

e que ajudam a retemperar forças", como assinalou António Vilela, coordenador dos projectos especiais da Inatel, fascinado também pelo enquadramento maravilhoso do percurso, que permite "apreciar a paisagem do açude, a barragem de Belver, o Alamal, o Castelo medieval de Belver e todo o enquadramento do rio". Os interessados na experiência de "Arribas do Tejo" podem solicitar um GPS, com o trilho programado, na unidade hoteleira da Inatel, no Alamal, e partir à aventura com total autonomia.


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Rota de S. Jacinto Integrado na iniciativa "À Descoberta das Origens", a Inatel de Leiria levou 55 associados a S. Jacinto, nas proximidades de Aveiro, no passado dia 10 de Abril último. Um passeio para apreciar a extraordinária beleza natural de S. Jacinto, que incluiu viagem de autocarro, passagem em lancha pela Ria e uma caminhada de 7 km para conhecer a fauna e flora do vastíssimo património ambiental de S. Jacinto e almoço volante no parque de merendas da Reserva Natural.

Acordo Inatel/Comunidades Portuguesas l Os cidadãos portugueses residentes no estrangeiro ficam, a partir da agora, isentos do pagamento de taxa de inscrição na Inatel e os seus CCD´s (Centros de Cultura e Desporto) serão admitidos como filiados em condições idênticas aos do território nacional. Esta modalidade resulta do protocolo firmado entre a Inatel e o Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), em Março Último, e que visa o estreitamento das relações entre a Fundação e as comunidades portuguesas residentes no estrangeiro. O acordo prevê, ainda, a criação na "TL" da rubrica "Rota da Lusofonia", dedicada à problemática da diáspora portuguesa e da luso-descendência. Assinaram o acordo pelo CCP o

presidente do seu Conselho Permanente, Fernando Gomes, e Luis dos Santos, responsável pelo pelouro do Associativismo e Comunicação Social. A Inatel esteve representada pelos presidente e vice-presidente da Fundação Inatel, Vítor Ramalho e Carlos Mamede.


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Notícias

Acordo Inatel/ISCET l A Inatel celebrou um protocolo com o ISCET - Instituto Superior de Ciências Empresariais e do Turismo, sediado no Porto, que facultará aos estudantes, docentes e funcionários deste estabelecimento de ensino o acesso, em condições preferenciais, às actividades e espaços da Fundação nas áreas de turismo, desporto e cultura. Os funcionários e beneficiários associados da Inatel terão, por sua vez, um desconto de 10% no valor das propinas relativas aos curso ou acções promovidas pelo ISCET. A parceria inclui outros mecanismos de cooperação relativamente a estudos, colóquios, seminários, conferências,

estágios de alunos e formandos promovidos pelo ISCET. Na imagem, Moreira Marques,

administrador da Inatel, e Isabel Rodrigues Pereira, administradora do ISCET, no acto de assinatura do acordo.

Jornadas Luso-Cubanas l Os municipios de Oeiras, Montemor-o-Novo, Bragança, Santarém, Moita, Cuba e as freguesias de S. Sebastião (Setúbal), Alto do Seixalinho (Barreiro) e Samouco (Alcochete) serão palco, durante todo o mês de Maio, das Jornadas LusoCubanas, comemorativas dos 92 anos das relações bilaterais e o 500º aniversário da fundação da Baracoa, a povoação mais antiga de Cuba e onde permanece o mais antigo vínculo histórico e cultural entre os dois países. "Nuestra Señora de la Asunción de Baracoa", nome oficial de Baracoa, em 1511, é, hoje, uma cidade de gente hospitaleira e muito apreciada pela sua riqueza histórica, cultural e paisagística. Aí se conserva o nome de Porto Santo, dado por Cristovão Colombo na sua chegada à maior das ilhas caribenhas como recordação da sua estadia na portuguesa Porto

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Santo, onde gozou a lua de mel com a esposa portuguesa, Filipa Moniz Perestrelo. As jornadas luso-cubanas incluem um atractivo programa de intercâmbio cultural, e festa popular, com a participação de uma delegação de Baracoa que integra músicos, bailarinos, pintores, historiadores, urbanistas, economistas, médicos e profesores. Do lado português, as Jornadas têm o apoio da Casa da América Latina, da Fundação Inatel, do IPDAL (Instituto para a Promoção e Desenvolvimento da América Latina), da OIKOS - organização não governamental com tradições de cooperação com Cuba e do Centro de Cultura e Desporto da Segurança Social de Lisboa e Vale do Tejo. Da parte cubana, os principias apoios vêm da sua embaixada em Lisboa, do município de Baracoa, da

Linhas Aéreas Cubanas, do canal de tv Cubavision e da agência noticiosa Prensa Latina, os media que cobrirão as Jornadas, cuja cerimónia inaugural terá lugar no dia 30 de Abril no Salão Nobre do palácio Marquês de Pombal, em Oeiras. Nos dias 4 e 5 de Maio, o embaixador de Cuba em Lisboa, Eduardo Lerner, e o historiador cubano Elexis Fernández-Rubio visitarlo Porto Santo e Funchal, onde terá lugar a conferência "Colombo e Porto Santo na História de Baracoa". O programa das Jornadas LusoCubanas prossegue em Montemor-oNovo (dia 7), Bragança (dia 14), Moita (dia 19), S. Sebatsião-Setúbal, Alto do Seixalinho-Barreiro e SamoucoAlcochete (dia 26), Cuba-Alentejo (dia 29) e visita e programa cultural em Lisboa organizado pelo CCD da Segurança Social (dia 31).


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Prémio "Personalidade do Ano para Fundação Champalimaud l Em cerimónia realizada na Galeria de Arte do Casino Estoril, a Fundação Champalimaud, representada por Leonor Beleza, recebeu das mãos da Ministra da Saúde, Ana Jorge, o Prémio de "Personalidade do Ano Martha de la Cal", atribuído pela AIEP - Associação de Imprensa Estrangeira em Portugal. "Para a Fundação Champalimaud sublinhou Leonor Beleza, honrada com a distinção - este momento tem um significado especial. É com orgulho e satisfação que recebemos esta distinção da AIEP. A área da ciência não tem nacionalidades nem fronteiras pelo que o nosso trabalho só faz sentido no âmbito universal".

A edição deste ano ficou, ainda, marcada por a AIEP ter decidido atribuir o nome de Martha de la Cal ao Prémio Personalidade do Ano. Trata-se de uma homenagem à jornalista e sócia fundadora que dedicou mais de 35 anos de sua actividade jornalística a informar sobre Portugal. "Conheci e apreciei a jornalista Martha de la Cal que teve, ainda, tempo de visitar o

centro de Investigação Champalimaud", recordou a sua presidente. A ministra Ana Jorge considerou ser de "toda a justiça a atribuição deste Prémio à Fundação Champalimaud. É um orgulho ter em Portugal este Centro de Investigação Cientifico e multidisciplinar que privilegia a inovação, como é o caso da área de oncologia. Esse projecto contribuirá para a saúde de todos os portugueses". Adriana Niemeyer, Presidente da AIEP, disse que "A inauguração do Centro de Investigação Champalimaud constituiu um marco na ciência em Portugal, contribuindo para a divulgação do País no mundo".


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Notícias

Cinema turco no Festroia

"Seguindo o traço" l

A 27ª edição do FESTROIA Festival Internacional de Cinema de Setúbal, que tem lugar de 3 a 12 de Junho, é marcada pelo regresso do evento a Lisboa, com uma extensão no Cinema City Classic Alvalade, de 5 a 12 de Junho, onde será exibido grande parte do programa do Festival. Conhecido por um ambiente renascentista e pela selecção rigorosa das películas que projecta, o Classic Alvalade apresentará filmes do Festroia em quatro sessões diárias, a realizar em duas das quatro salas do complexo. Em Setúbal, o festival contará com as salas de 2010: l

o Auditório da Anunciada e o renovado Auditório Municipal Charlot, que integra a rede Europa Cinemas, e em Almada com a habitual extensão no Auditório Fernando Lopes Graça. Em relação à programação, que já está em preparação, incluirá cerca de 200 filmes, destaque para a secção especial "O Amor e a Cozinha", composta por longas-metragens de grandes nomes do cinema europeu. No que respeita ao país homenageado, este ano, a escolha recaiu sobre a cinematografia Turca, estando prevista a exibição de mais de 20 películas deste país.

Teresa Gonçalves Lobo expõe

"Seguindo o traço" no Centro Cultural de Cascais, até 26 de Junho. São cerca de 40 desenhos realizados entre 2005 e 2011. O traço é, no percurso de Teresa Gonçalves Lobo, absolutamente basilar. Este facto é bem visível em cada quadro, na contenção cromática e utilização espartana de materiais. Um traço que na realidade é um criptograma que encerra o seu itinerário espiritual. Não são apenas traços, estão carregados de significado quer na sua intensidade ou suavidade, quer na sua simplicidade ou no capricho das suas formas. Teresa Gonçalves Lobo convida-nos a atravessar o espelho.

Cartunista da Polónia vence o XIII PortoCartoon Teatro Novos Textos -foi conquistado pelo artista Fernando Saraiva, de Portugal.

l

A elevada qualidade dos

próximo, o prazo para a entrega de

trabalhos, levou o júri

originais para o concurso "Inatel /

internacional a atribuir ainda 19

Teatro Novos Textos", uma iniciativa

Menções Honrosas a artistas

da Fundação destinada a fomentar o

de diferentes países, entre os

aparecimento de novos dramaturgos

quais a Bélgica, Brasil,

de língua portuguesa.

Espanha, Finlandia, França,

O concurso inclui um prémio

Holanda, Irão, México, Polónia,

especial dedicado aos jovens com

Portugal, Roménia, Russia e

idade até aos 25 anos, que tem

Decorre, durante o mês de Junho

Zygmunt Zaradikiewicz, da Polónia, foi o

Turquia.

como patrono o malogrado

vencedor do Grande Prémio do XIII

Em apreciação estiveram cerca de 2.200

dramaturgo Miguel Rovisco. O

PortoCartoon-World Festival, organizado

obras, de mais de 600 artistas, oriundos

Grande Prémio, recorde-se, tem o

pelo Museu Nacional da Imprensa,

de 80 países. Trata-se da maior

valor de cinco mil euros, e Prémio

subordinado ao tema "Comunicação e

participação de sempre, batendo em

Miguel Rovisco é de 2.500 euros

Tecnologias". O segundo Prémio foi

todos os indicadores o VI PortoCartoon

Informações: Fundação INATEL -

atribuído a Plantu (do jornal Le Monde),

(2004) que teve como tema o Desporto.

Sede / Agências; Calçada de

grande figura do desenho de humor a

O Irão é o país com mais participantes

Sant'Ana, 180, 1169-062 Lisboa; Telf-

nível mundial. O terceiro - uma escultura

(70) e trabalhos: 258. Seguem-se o

210 027151 / 210027 150 / Fax - 210

em bronze denominada "Homem Digital"

Brasil, a Turquia, a Roménia e Portugal.

027140; www.inatel.pt

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Notícias

Alfredo Luz e Jorge Pé-Curto na Galeria de Arte do Casino Estoril

D. Carlos I, Fotógrafo amador l

Está patente, na Torre do Tombo, até 2 de Julho, a

De 19 de Maio a 15 de Junho, Alfredo Luz e Jorge Pé-Curto expõem, em mostras individuais, o primeiro de Pintura e o segundo de Escultura, na Galeria de Arte do Casino Estoril. Alfredo Luz é titular de uma carreira de grande qualidade, com uma escrita em que sempre se encontra uma subtil mensagem de sentido humanista. Outra das suas características é o perfeccionismo, que vai desde a escolha dos materiais à qualidade da execução plástica. Jorge Pé-Curto é um autor polifacetado, nas áreas da cerâmica, da pintura, do cartaz e da gravura, sendo, porém, na escultura que agora centra a sua actividade artística, utilizando a pedra como material preferido, em trabalhos de formato normal, mas também em obras l

públicas de grande dimensão e qualidade.

exposição "D. Carlos I, Fotógrafo amador". Além de fotografias,

"Artistas de Angola" A Galeria de Arte do Casino do Estoril apresente até 17 de Maio a exposição "Artistas de Angola" com obras de pintores, escultores e fotógrafos naturais de Angola ou que tenham residido durante grande parte da sua vida naquele país africano. Estão representados nesta mostra - que inclui uma homenagem ao pintor Albano Neves de Sousa, figura cimeira da arte angolana - os artistas Adão Marcelino, Abílio Victor, Amílcar Vaz de Carvalho, António Magina, Dília Samarth, Domingos Laurindo, Dora Iva Rita, Edgardo Xavier, Filomena Coquenão, Grácia Ferreira, João Inglês, José Zan Andrade, Júlio Quaresma, Toia Neuparth, Viteix e Vítor Ramalho.

a mostra inclui a projecção do filme que utiliza um conjunto muito significativo de imagens expostas: "D. Carlos, Oceanógrafo", documentário de Jorge Marecos Duarte e Sérgio Tréfaut e Documentos do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Arquivo da Casa Real. O ANTT, registe-se, está a colaborar com a INATEL na recuperação e organização da documentação e espólio da Fundação que integrará o Arquivo Histórico e Centro de Documentação a instalar no Palácio do Barrocal em Évora, em fase de reabilitação.

"A Terra Toda" l

A outra face da Madeira

Completado o ciclo de três romances

históricos - um deles, "Rosa Brava", vendeu mais de 50 mil exemplares -

l

Apresentado por José Carlos de

e numerosos madeirenses

José Manuel Saraiva lançou,

radicados na capital.

recentemente, "A Terra Toda", com a

Produto de dois anos de

chancela da Porto Editora, obra

intensa investigação, a obra

inspirada nos encontros e desencontros

do antigo jornalista do

amorosos de um antigo combatente na

"Diário de Lisboa" e da RTP,

guerra colonial, apaixonado aos 60 anos

é uma documentada

pela sua psicanalista, mulher bem mais

radiografia dos 35 anos da

jovem…Apresentado por Manuel Dias

liderança de João Jardim, 25

Loureiro, seu conterrâneo e amigo, o

dos quais com avultadas

novo livro de JMS parte - como

transferências orçamentais

sublinhou o autor - da observação

e comunitárias, mas que

atenta de um quotidiano onde a

não impediram o facto de a região

comunicação entre as pessoas parece

Vasconcelos, director do "Jornal de

continuar a ser uma das mais atrasadas

facilitada mas as relações são cada vez

Letras", o lançamento do livro "Jardim, a

do país - maior número de pobres, mais

mais efémeras. "Homens e mulheres

Grande Fraude" (Ed. Caminho/Leya) do

emigração, maiores desigualdades

investem muito pouco, nos tempos que

jornalista Ribeiro Cardoso, levou à Sala

sociais e maior percentagem de

correm, nas ligações afectivas", refere o

Artur Portela, da Casa de Imprensa,

analfabetos, de desemprego, de

autor, dando o exemplo das redes

dezenas de pessoas, incluindo

funcionalismo público e de défice

sociais: "Impelem-nos para o encontro,

jornalistas, escritores, políticos, militares

público.

mas também para o desencontro."

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Fotografia

XV Concurso “Tempo Livre”

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Regulamento 1. Concurso Nacional de Fotografia da revista Tempo Livre. Periodicidade mensal. Podem participar todos os associados da Fundação Inatel, excluindo os seus funcionários e colaboradores da revista Tempo Livre. 2. Enviar as fotos para: Revista Tempo Livre - Concurso de Fotografia, Calçada de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa. 3. A data limite para a recepção dos trabalhos é o dia 10 de cada mês.

Menções honrosas [ a ] Joaquim Faria, Matosinhos Sócio n.º 65387 [ b ] Diogo Margarido, Parede Sócio n.º 204589 [ c ] Sérgio Guerra, S. João do Estoril Sócio n.º 204212 [a]

4. O tema é livre e cada concorrente pode enviar, mensalmente, um máximo de 3 fotografias de formato mínimo de 10x15 cm e máximo de 18x24 cm., em papel, cor ou preto e branco. 5. Não são aceites diapositivos e as fotos concorrentes não serão devolvidas. 6. O concurso é limitado aos associados da Inatel. Todas as fotos devem ser assinaladas no verso com o nome do autor, morada, telefone e número de associado da Inatel.

[b]

7. A «TL» publicará, em cada mês, as seis melhores fotos (três premiadas e três menções honrosas), seleccionadas entre as enviadas no prazo previsto. 8. Não serão seleccionadas, no mesmo ano, as fotos de um concorrente premiado nesse ano 9. Prémios: cada uma das três fotos seleccionadas terá como prémio duas noites para duas pessoas numa das unidades hoteleiras da Inatel, durante a época baixa, em regime APA (alojamento e pequeno almoço). O prémio tem a validade de um ano. O premiado(a) deve contactar a redacção da «TL».

[ 1 ] Reinaldo Viegas, Lagos Sócio n.º 370482 [ 2 ] António Andrade, Almada Sócio n.º 8046 [ 3 ] Paulo Correia, Lisboa Sócio n.º 323465

[c]

10. Grande Prémio Anual: uma viagem a escolher na Brochura Inatel Turismo Social até ao montante de 1750 Euros. A este prémio, a publicar na «TL» de Setembro de 2011, concorrem todas as fotos premiadas e publicadas nos meses em que decorre o concurso. 11. O júri será composto por dois responsáveis da revista T. Livre e por um fotógrafo de reconhecido prestígio.

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Entrevista

José Fernandes Fafe Brasil emergente tem ADN português Mais disponível para a actividade literária, depois de uma intensa e destacada carreira diplomática, o embaixador José Fernandes Fafe (Porto, 1927) publicou, recentemente, o ensaio "A Colonização Portuguesa e a Emergência do Brasil", uma notável e corajosa reflexão sobre as virtudes e defeitos da nossa longa presença na que é, hoje, a nona potência económica do planeta. Com dezenas de obras publicadas (poesia, teatro, romance e ensaio) o autor de "Fidel"(2008) - um extenso e bem documentado perfil de histórico líder cubano - analisa as críticas de historiadores e economistas norte-americanos a uma colonização de cuja paternidade nós, portugueses, temos suficientes razões de orgulho.

Foi embaixador no México, em Cuba, na Argentina, em Cabo Verde, mas não no Brasil… e, no entanto, publicou, recentemente, "A colonização portuguesa e a emergência do Brasil"? Fui também embaixador para as relações culturais e grande parte do meu trabalho foi feito no Brasil, preparando um acordo linguístico lusobrasileiro. O ministro dos Negócios Estrangeiros de então, Jaime Gama, encarregou-me liderar a delegação portuguesa nesse trabalho prévio. Como não sou linguista ou filólogo, pus como condição escolher consultores e indiquei os profs. Celso Cunha e Lindley Cintra. Esse trabalho incluiu um circuito pelas principais universidades brasileiras. Nessa altura, fui acompanhado pela profª Maria Helena Mira Mateus, para a 22

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parte técnica, cabendo-me a parte política. Já tinha estado no Brasil, mas, desta vez percorri o país de Sul a Norte. A razão imediata para a publicação do livro foi, como sugere no início do livro, a entrevista do norte-americano David Landes à revista brasileira Veja, onde se responsabila a colonização portuguesa pelo atraso económico do Brasil. Como sabe, eu fui durante cerca de 20 anos embaixador, com uma agenda diária atomizada. Audiências e encontros com outros embaixadores, com empresários, com ministros. Tive que me adaptar a esse emprego do tempo e arranjei uns truques, quando via algo susceptível de interesse, recortava e metia numa pasta. Já reformado, vi essa entrevista de David Landes à Veja.


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Entrevista

Tempos mais tarde, leio outra entrevista na Veja, de Douglas North, prémio Nobel de Economia em 1993, que vai no mesmo sentido de Landes, de crítica à colonização portuguesa. Interrogueime: isto será verdade? E estava disposto a aceitálo. Nacionalista sou, patriota sou, mas prezo, acima de tudo, a verdade. Resolvi, então, investigar e estudar melhor o assunto. Aí está porque avancei para este trabalho. Entretanto, o Brasil cresce, torna-se um símbolo entre os países emergentes…Esta nova realidade do país também o ajudou… Ajudou, claro, mas minha geração não era completamente ignorante a respeito do Brasil, sobretudo por influência dos seus grandes escritores, como Jorge Amado, Lins do Rego, Manuel Bandeira, Graciliano Ramos e de outra gente, como os sociólogos Gilberto Freire e Florestan Fernandes. Cita, no seu livro, uma frase de Roger Bastide - "O português conNa colonização quistou o mundo não pela cruz que nos é oposta, ou pela espada, mas pelo sexo…" como a dos ingleses, - e lembra, no mesmo contexto, eles levavam as as palavras do nosso vice-rei da famílias. Os índia, Afonso Albuquerque: portugueses iam "façam filhos, façam filhos…" sozinhos. Bastide é um sociólogo muito importante e a sua afirmação tem peso. Não é o mesmo que contarmos uma anedota sobre as qualidades dos portugueses…Tem igualmente alguma importância um livro de Charles Boxer, "A mulher na colonização ibérica", onde há comparações, sobretudo com os espanhóis, que também se misturaram bastante. Boxer mostra que era raríssimo os portugueses de maior poder, incluindo os governadores e os vice-reis, levarem as esposas. Na colonização que nos é oposta, a dos ingleses, eles levavam as famílias. Os portugueses iam, em regra, sozinhos. A mestiçagem, como resultado da invulgar adaptação do português ao meio indígena é, aliás, um dos aspectos salientes na sua obra. … Há um autor brasileiro, Abdias do Nascimento, que ataca fortemente a mestiçagem resultante da nossa colonização. Ele fala de exploração sexual, prostituição, concubinagem, estupro, proxenetismo…mas esquece que uma boa parte dos portugueses não abandonou os seus filhos

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mestiços, criando-os e educando-os. Certo que a mestiçagem traduz necessidade sexual e dominação social do colono. Mas, como observou uma vez Marx "os homens fazem a História, mas não sabem a História que fazem". Os portugueses e as índias, caboclas, negras e mulatas fizeram filhos mestiços, sem a consciência de que estavam a fazer a mestiçagem. Mas, a mestiçagem, além de um valor biológico e social, tende a tornar-se um valor civilizacional, global e moral. Revela, no seu livro, que, ao contrário do norteamericano, o povo brasileiro tem 33% sangue índio, além de que 50% dos cromossomas são portugueses. Ou seja, metade da população brasileira é portuguesa pelo lado do pai… São números de um estudo da Universidade de Minas Gerais. Isso tem implicações comportamentais, que eu não explorei porque não sei o que no comportamento é epigenético ou cromossómico. Não sou biólogo, não seria sério ir por aí…mas alguma coisa poderá haver. A língua e a religião são outros factores diferenciadores que assinala no contexto da colonização portuguesa… O puritanismo norte-americano, na fase de acumulação do capital, ajudou. Se o único prazer que posso ter é o trabalho bem feito - desvalorizando, inclusivamente, o prazer sexual na relação marital – isso tem efeitos no investimento reprodutivo. O católico age de outra forma. Isso vê-se na estética barroca, na exuberância das formas, num certo prazer visual, na sensualidade, na ostentação. O puritano não é ostentatório. O católico quer impressionar, com se viu com os jesuítas, que procuravam impressionar as massas através dos sentidos. Ou seja, não se concebe o Brasil com os puritanos. Não se pode fazer acumulação de capital e carnaval. Curiosamente, a ofensiva actual no Brasil de religiões evangelistas traduz-se num 'american way of life". E por um desses paradoxos em que a História é, por vezes, pródiga, o Itamarati é hoje, talvez, um aliado do Vaticano… (risos) Mas a língua e a unidade territorial, garantidas pela nossa colonização, pesarão decisivamente no potencial do Brasil… A língua que deixámos no Brasil é hoje global. Fala-se nos diversos continentes, na Europa, na América, em África, na Ásia. O Brasil tem, aliás,


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uma geoestratégia linguística e está condenado a tornar-se uma potência no Atlântico Sul, onde sobressai Angola, sem esquecermos S. Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Guiné-Bissau. A propósito, Gilberto Freyre ("Casa-Grande e Senzala") quando afirma que os portugueses não trouxeram para o Brasil os separatismos políticos como os espanhóis. Manter a unidade do território, da Amazónia ao Rio Grande do Sul, foi, na verdade, um feito extraordinário. Mas não só, como o admitiu, recentemente, Fernando Henrique Cardoso, no diálogo com Mário Soares, ao sublinhar a matriz portuguesa na estrutura básica da sociedade e do Estado brasileiro. Na verdade, as instituições que conformam a sociedade brasileira - judiciais, administrativas, pedagógicas…- têm origem portuguesa. Evidencia, ainda, na sua obra, o factor humano da "expansão portuguesa" como marca diferenciadora de outras expansões/colonizações… É sabido que descobrimos terras, mares e gentes que a Europa ignorava, mas sabe-se menos das terras da alma que exploramos. Quando foi preciso viver com os negros ou com os índios, os portugueses aprenderam a fazer como eles, a pensar como eles, a sentir como eles… Adaptaram-se, no Brasil, bem melhor que os holandeses calvinistas que desistiram e abandonaram o território mais por essa razão do que a das derrotas militares. O grande historiador brasileiro Sérgio Buarque de Holanda chamou-lhe "plasticidade". Fernando Pessoa sintetizou isso de forma admirável: "Nunca um verdadeiro português foi português. Foi sempre tudo." É a nossa “personalidade de base”. Mas haveria que explorar este ponto, sociológica e historicamente, mais do que eu o fiz. Refere também que o método brasileiro da "dissolução e conciliação" de resolver os problemas, de que costuma falar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, vem-lhe da nascença… Isso vê-se na tradição da política externa do Brasil. O princípio do recurso à arbitragem como meio de evitar a guerra, o próprio compromisso

tomado pelo Brasil de desenvolver a energia atómica apenas para fins pacíficos, a preferência pelo Itamaraty pelo softpower…é um estilo inaugurado na experiência feliz do Brasil de se haver independentizado por "dissolução, conciliação" e sem ruptura. A tese de Landes de que, com uma imigração protestante, o Brasil teria outro desenvolvimento é, pois, desmentida pela realidade actual.. Segundo a interpretação de Landes, o Brasil estaria bloqueado no seu desenvolvimento pela matriz católica e absolutista da colonização portuguesa. Ora o Brasil desenvolveu-se com atitudes e valores Manter a unidade modernos interiorizados sem que do território, da tenham desaparecido completaAmazónia ao Rio mente as atitudes e os valores da Grande do Sul, foi, colonização portuguesa. na verdade, um feito Este crescimento económico do extraordinário. Brasil, que é já uma das potências emergentes, vai criar uma classe média forte… Já são cerca de 30 milhões que a política de Lula trouxe da pobreza para a classe média. Será uma classe média baixa, mas vai ao super ou a inframercado e compra. É um factor importante de robustecimento do Brasil. O país faz grandes negócios com o mercado externo, mas se tem um grande mercado interno defendese melhor em situação de crise. E que pensa dos que acusaram Lula de desenvolver uma política social meramente assistencialista? Tal como saliento no meu livro, melhor do que dar peixe a um pobre é ensiná-lo a pescar. Mas enquanto ele não aprende, temos de lhe dar o peixe. E acabará, certamente, por aprender, se o projecto de Lula for continuado pelos seus sucessores. Retirar, por exemplo, como ele projectou, boa parte dos lucros com o petróleo para investir no combate à pobreza, um combate que engloba a educação, a investigação e o desenvolvimento, fará com que os pobres aprendam a pescar. n Eugénio Alves (texto) José Frade (fotos)

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Portfólio

Rio Grande do Sul Um Brasil europeu EM TERMOS geográficos e antropológicos, é uma espécie de Europa o que podemos encontrar nesse vértice agrícola de fértil terra vermelha, bem no fundo do Brasil, inicialmente desbravado por portugueses e para onde muito mais tarde emigrariam alemães, polacos e italianos, conhecido como Rio Grande do Sul. Foi esse o espaço geográfico de uma experiência única e inovadora de convivência social sem par em toda a história da humanidade: as reduções que os jesuítas construíram no início

do século XVII, com a ajuda dos índios guaranis. O legado deixado pelos índios enriqueceu também – e muito – a cultura local. O churrasco e o chimarrão (o chá mate), tão populares na serra como na pampa, não passam de adaptações europeias de hábitos seus. E o gaúcho, na verdadeira acepção da palavra, é o resultado da mestiçagem entre o branco e o índio, guarani ou de outra qualquer tribo.n Joaquim Magalhães de Castro (texto e fotos)


Portf贸lio

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Rio Grande do Sul foi desbravado por portugueses e para onde muito mais tarde emigrariam alemães, polacos e italianos


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O gaúcho, na verdadeira acepção da palavra, é o resultado da mestiçagem entre o branco e o índio


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Paixões

Rita Teixeira, 20 valores No princípio é um pouco inconsciente, o fazer parte do lote de alunos com melhor classificação. Mas depois passa a ser uma escolha, o querer fazer sempre melhor: Quem o revela é Rita Teixeira, a vencedora do prémio Alexandre Herculano, que distingue todos os anos os melhores alunos do país.

H

á cerca de um mês, a Academia das Ciências de Lisboa premiou quatro alunos que no ano lectivo de 2009/10 se distinguiram pelas elevadas classificações nas áreas de Português, História e Matemática. O prémio Alexandre Herculano, da área de História, foi atribuído ex - aequo a Rita Teixeira, da Escola Secundária Alfredo da Silva, do Barreiro e a Tiago Magalhães, da Escola Secundária de Fafe. Ambos terminaram o ensino secundário com média de 20. Quisemos saber junto de Rita Teixeira por que trilhos andou até chegar a este reconhecimento. Do alto dos seus 18 anos, afirma que há alturas em que lhe apetecia fazer outra coisa em vez de Programo muito estudar, mas "esta é a nossa opção as matérias que e se estamos dispostos a ter aquequero estudar les resultados finais, temos de durante o fim-defazer sacrifícios pelo caminho". semana… Até agora, a chave do sucesso tem sido o estar focada, "estudar o máximo que posso, dar sempre o meu melhor em tudo". A isto acrescenta-se uma boa dose de organização do estudo por disciplinas. "Programo muito as matérias que quero estudar durante o fim-de-semana", já que durante a semana a correria das aulas deixa-lhe pouco tempo de sobra e, confessa, há que ter tempo para fazer outras coisas. Mais, "é importante termos um objectivo maior para almejar" que pode ser "um futuro profissional, uma vida agradável em que nos realizemos". Quando soube que era uma das premiadas

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"ficou contente". Para lá das notas elevadas, este foi o primeiro reconhecimento, "uma recompensa pelo esforço - e nós esforçamo-nos muito", admite. E perante a época conturbada que o país atravessa - que ela segue pelos jornais, pelos noticiários e que debate diariamente com os professores de Direito, licenciatura que agora frequenta na Universidade Nova de Lisboa - Rita vê neste prémio um sinal de que "o mérito ainda é reconhecido". Mas o facto de há muito trabalhar e conseguir ter notas elevadas não lhe traz facilidades, antes pelo contrário, "cria muita pressão à volta, da minha parte e dos professores e colegas, que esperam que eu mantenha o nível". E Rita é uma perfeccionista assumida, "uma qualidade que também é um defeito, nunca estou verdadeiramente satisfeita, acho sempre que sabia mais qualquer coisa", revela entre risos. Para descomprimir, o melhor que lhe podem oferecer é uma sessão de cinema com os amigos ou romances históricos, de que é uma ávida leitora - e que agora só lê nas férias "depois dos exames", já que as leituras para a faculdade não lhe deixam qualquer tempo livre. De momento o autor preferido é Ken Follet, "adoro todos os livros dele". Mais, "a leitura destes romances históricos fiéis permitem-nos de alguma forma conhecer outras pessoas, realidades e por vezes acabamos por adoptar para nós algumas características desses personagens", confessa. Mas a paixão pela História não é de agora, é de sempre. Os 20 valores de média final do secundário a esta disciplina, a que se juntou um ensaio, dissiparam as dúvidas do júri da Academia de


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Paixões

Ciências de Lisboa que lhe atribuiu este prémio Alexandre Herculano. Entristece-a o facto de esta disciplina estar a ter menor relevo nos curricula. E reconhece que uma parte dos colegas tem a ideia de que História é "algo maçador, em que tem de se decorar muitas coi…É importante sas". Para Rita Teixeira "não se termos um objectivo transmite bem a ideia do papel formaior para almejar mativo da História para o presente: um futuro ajuda à reflectir, a traçar objectivos, profissional, uma a ver como as acções se desenrovida agradável em lam; e permite perspectivar muito: que nos o que já foi feito, o que não poderealizemos mos fazer e o que está a acontecer". Mas a própria sociedade actual sobrevaloriza o presente em desfavor do passado. "Vivemos nesta época em que o novo é fantástico e então só temos coisas novas; e tenho pena porque a História é muito importante na formação do indivíduo".

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De momento, a agora aluna do primeiro ano de Direito, está ainda a saborear os resultados do primeiro semestre e a preparar-se para os exames de Junho. Já conseguiu por três vezes ver o 19 na pauta. Adora a disciplina de Direito, que "tal como a História, ajuda-nos a compreender o que se passa", e muito especialmente interessa-lhe a área do Direito Internacional. Quanto aos 2.500 Euros do prémio, pretende aplicá-los num mestrado que gostaria de fazer no estrangeiro, na área do Direito Internacional. Mas também gostaria de gastar parte numa viagem "porque é realmente das coisas que mais gosto de fazer". Enquanto isso, Rita Teixeira promete continuar a estudar para trabalhar numa instituição europeia ou num organismo ligado à defesa dos direitos humanos, causa que abraça, acima de todas as outras. n Manuela Garcia (texto) José Frade (fotos)


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Caminhar com a Inatel

Trilhos de Verão Ao longo dos próximos meses, entre Junho e Setembro, a Fundação Inatel propõe um programa de descoberta de alguns preciosos recantos rurais do país, desde as faldas serranas da Estrela até à zona dunar da Lagoa de Óbidos.

S

ão cerca de uma dezena de caminhadas, com graus variáveis de dificuldade, mas genericamente acessíveis a caminhantes amadores. Todas somadas não andarão longe de uma centena de quilómetros de percursos, traçados entre cenários paisagísticos plurais e natureza variada: caminhos a subir e a descer, entre penedias e floresta, ou a discorrer em terreno plano, em várzeas de panoramas abertos. Também os há desenhados entre ravinas, com riachos a cantarolar lá ao fundo, ou os que conservam, a toda a largura do horizonte, o recorte da maior serrania lusitana. Ou, ainda, os que serpenteiam por entre arvoredos, idosos caminhos abraçados por sombras maternais, a içarem-se até miradouros com vistas de cortar o fôlego. As jornadas partem de algumas das unidades hoteleiras da Fundação Inatel e fazem-se com o auxílio de um GPS, disponível nas respectivas recepções, a par de folhetos e mapas explicativos (que podem, também, ser descarregados no site 40

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Caminhar com a Inatel

da Inatel). Salvo o caso do Gavião, os caminheiros têm sempre um par de opções - dois trilhos com distâncias, tempos de realização e dificuldade variáveis.

Castelo de Vide e Gavião De Castelo de Vide partem dois trilhos, um deles mais fácil, o outro a requerer alguma forma física e a exigir à volta de cinco horas de caminhar. O primeiro é um passeio circular de umas três horas, até à Senhora da Penha, capela que encima um outeiro fronteiriço à povoação e que se avista cá de baixo. A caminhada começa na imodesta Igreja de Santa Maria da Devesa, em Castelo de Vide. Seguimos por uma breve secção urbana intramuros e, logo a seguir, atravessamos

pena pelo magnífico panorama que se reserva aos caminheiros. E pela bela vila do Marvão, evidentemente, cujas ruelas se integram, à la carte, neste percurso. O trecho adicional começa nas Portas da Vila; desce-se por uma calçada até ao Convento de Nossa Senhora da Estrela, e daí lá vai ziguezagueando o caminho por entre castanheiros, declinando até à ponte da Portagem. A não muita distância, para norte, fica o Tejo e o Gavião, onde a Fundação Inatel possui uma pequena unidade hoteleira. O trilho disponível é empresa fácil, sem dificuldades de monta para qualquer caminhante, e atravessa duas freguesias, Belver e Gavião. Herança de antigas sendas rurais, corre à vista de olivais equilibrados nos terraços esculpidos nas margens do Tejo e do castelo de Belver. No final, a praia fluvial do Alamal é um oásis incontornável para repouso dos caminheiros.

Das encostas do Piódão a Linhares da Beira

Igreja em Marvão. Página da direita: vista de Castelo de Vide e trilho na Serra do Buçaco. Páginas anteriores, paisagem de Piódão

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a velha muralha e começamos a descer até ao sopé da Serra de Castelo de Vide. É aí que tem início a subida para a capela, vencendo-se um desnível de cerca de trezentos metros. Parte da subida é feita por uma calçada medieval e a imagem de Castelo de Vide que se vai adiantando ao olhar, lá em baixo, dá já uma ideia do soberbo panorama que se alcança a partir da capela da Senhora da Penha. O segundo trilho, que se enceta nas instalações da Inatel, vai até ao Marvão, num percurso que tem cerca de onze quilómetros (com um trecho adicional de sete) e pode tomar entre cinco a sete horas, no máximo. Uma boa parte leva-nos a passar por zonas arborizadas, entre quintas, e a calcorrear algumas passagens de calçada medieval. O desnível a superar é um pouco maior que o do trilho anterior, mas vale a

Estamos agora ainda mais para norte, no flanco poente da Estrela, no coração da Serra do Açor. As duas propostas diferem bastante em termos de dificuldade. O trilho que vai até à Foz de Égua é um passeio simples, sem maior exigência que a de dar corda aos pés. Parte do largo da Igreja do Piódão e acompanha o ribeiro homónimo, a uma cota alta, avistando-se na outra margem, sucessivamente, uma série de socalcos, alguns cultivados. Pelo acentuado declive, lembram um pouco os socalcos incas. Depois de se contornar a Encosta da Eirinha, com os pés a pisar, amiúde, chão de xisto, chega-se a Foz de Égua e às suas pitorescas pontes de pedra, que de há uns tempos para cá tem a companhia de uma congénere suspensa. O regresso ao Piódão faz-se contornando a Encosta da Eirinha pelo lado oposto. São seis quilómetros e duas horas e meia de andamento. O outro trilho tem contornos mais exigentes: o desnível é de mais de 900 metros e requer seis horas de caminhada para completar os onze quilómetros, que nos "obrigam" a transitar por caminhos que têm o condão de serem, ao mesmo tempo, fantásticos miradouros, e pela área protegida da Mata da Margaraça. Para os percursos que envolvem a aldeia histórica de Linhares da Beira, os pontos de largada tanto podem ser a unidade de Vila Ruiva como a de Linhares. Se partirmos de Vila Ruiva, começa-


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Caminhar com a Inatel

Boa andança, melhor pousada Para os trilhos relacionados com estas

bem integrada, arquitectura de xisto da

naturalmente, uma referência e uma

caminhadas, as instalações da

unidade. A vista panorâmica sobre a

mais-valia para a unidade do Inatel. Mas

Fundação Inatel constituem

povoação e as serranias à volta é

deve sublinhar-se, também, a

convenientes bases de apoio logístico,

memorável. A unidade conta, entre

centralidade e a vista panorâmica para a

quer em termos de localização, quer em

outros equipamentos, com uma piscina

Mata do Buçaco, assim como todos as

termos de conforto para renovar fôlegos.

coberta aquecida.

características de conforto que partilha

Em Castelo de Vide, a Fundação conta

Em Vila Ruiva, os hóspedes têm

com as suas congéneres da rede da

com um edifício localizado no centro

instalações de raiz, contíguas a um

Fundação.

histórico da povoação, com uma nota

velho solar, em plena aldeia. Situadas no

Na Foz do Arelho, a inserção no espaço

rústica no mobiliário de feição

flanco nordeste da Serra da Estrela, são

natural da Lagoa de Óbidos é uma

alentejana. Um sossego semelhante,

ideais para partir à descoberta de uma

referência, mas não a única. O antigo

desta feita rodeado por cénica natureza,

significativa parte da Beira interior e do

palacete de Francisco Almeida

espera-nos em Gavião: as instalações da

património natural da montanha vizinha.

Grandella, situado no Monte do Facho,

Inatel beneficiam de uma bela vista para

A unidade de Linhares da Beira,

de onde se descortina toda a lagoa e

o Tejo e a praia fluvial do Alamal está a

localizada à entrada da aldeia histórica,

uma larga faixa atlântica, acolheu

dois passos. Os desportos náuticos são

conjuga dois antigos solares e alia

Afonso Costa nos tempos inaugurais da

uma das opções de lazer para os

conforto moderno e pergaminhos

República e reúne uma variedade de

hóspedes.

arquitectónicos com as suas quatro

equipamentos caros a um hotel

No Piódão, o ambiente é, obviamente

estrelas.

moderno, incluindo ginásio e parque

rural, acentuado pela moderna, mas

No Luso, as águas termais são,

infantil.

Calçada romana em Linhares da Beira

se por cruzar algum casario, em sítio que é de abundante cantaria de galos, e continuamos, já depois de abandonar a aldeia, por carreiros de terra batida, sempre com a Serra da Estrela no horizonte. Os cenários não surpreendem - campos cultivados e belos mantos de flores bravias aqui e acolá. No regresso, o percurso toma um desvio pela Carrapichana e vale bem uma pausa para admirar a fachada da igreja local. À volta de Linhares há vários itinerários. O escolhido para estas andanças começa no centro da aldeia, atravessa meia-dúzia de ruelas convenientemente autenticadas e desce até à Ribeira de Linhares. É uma excursão de domingo, dir-se-ia. Uns nove quilómetros para percorrer aprazivelmente em três horas, com a secção final, no regresso à aldeia, a fazer-se calcorreando uma calçada romana. Que sobe, mas de modo suave.

Florestas no Luso, areais no Arelho Estas últimas propostas são um tanto contrastantes, entre trilhos de floresta e caminhos de paladar marítimo. Entre a Serra do Buçaco e os hori44

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zontes azuis e descerrados da Foz do Arelho. No Luso, os percursos coleccionam algumas e significativas semelhanças: mergulham ambos pela Tapada do Buçaco e chegam-se, a passos tantos, até ao ponto mais alto, ao miradouro da Cruz Alta. Atravessam zonas de vegetação luxuriante, com a flora paradigmática da mata, que inclui exuberantes áreas de fetos. Pisamos trilhos de terra e de calçada e, no correr da marcha, vão-se revelando símbolos patrimoniais, de evocação religiosa ou da cultura popular: as Portas de Coimbra, a Ermida do Calvário, o Passo de Caifás, a Fonte Fria, a Porta dos Degraus. Por ordens diversas, ou inversas, e ao sabor dos trilhos, ambos circulares. Um deles conta oito quilómetros e toma três horas e meia; o outro é mais moroso e estendido: treze quilómetros e cinco horas. E eis-nos, finalmente, à beira do Atlântico. O cenário marítimo, as maresias e os gritos das gaivotas não esgotam os atributos destas últimas jornadas. Um dos percursos é, a bem da verdade, marcado por estes elementos, mas não só: uma parcela da caminhada faz-se por zonas de cultivo

e por floresta de pinheiro e eucalipto, seguindose por vezes por caminhos traçados e batidos pelos pescadores à roda das arribas. A Lagoa de Óbidos e o Atlântico são protagonistas, evidentemente, dos cenários deste trilho, que começa e acaba nas instalações da Fundação Inatel. O segundo trilho combina percurso urbano, variável consoante as inclinações do andarilho, com tramos rurais, na companhia de estufas e pomares, e dá a sua volta, também, pelas margens da quase marítima Lagoa de Óbidos - onde a observação de aves é uma opção sempre em aberto. Separada do mar por um cordão dunar, a lagoa acolhe grande variedade de espécies, como a garça-vermelha, o flamingo, o mergulhão-depescoço-preto, o ostraceiro, diferentes borreiros e peneireiros - e até algumas raridades, como o cisne-mudo ou a gaivota-de-bico-riscado. Este andarilhar começa na Porta da Vila de Óbidos e no regresso vai-se direito à Igreja de Santo Antão. E não ficaria a andança composta, claro, sem um passeio pelas ruas do velho povoado de feição medieval. n Humberto Lopes (texto e fotos)

Unidade hoteleira da Inatel em Piódão

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Inatel Cultura

Os novos caminhos da etnografia Promover e valorizar o conhecimento de práticas e manifestações tradicionais portuguesas, apoiando e consagrando o trabalho de cerca de um milhar de associações etnográficas, ligadas aos 2800 CCD’s (Centros de Cultura e Desporto) da Fundação, é uma das mais relevantes funções culturais da Inatel.

E

stas associações, muitas delas de âmbito multidisciplinar – com trabalhos que envolvem tanto o folclore como a música e a representação cénica - são a alma do trabalho na Etnografia, uma área decisiva da a Fundação, especialmente os projectos que a Inatel desenvolve, sempre na perspectiva de valorizar e apoiar a cultura amadora.

Velhos e novos tocadores Os Cursos de Instrumentos Tradicionais, direccionados particularmente para os nossos associados colectivos e individuais, são dos projectos mais relevantes dos apoios culturais da Fundação. Estas acções formativas visam a transmissão de técnicas de execução de instrumentos

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musicais tradicionais portugueses (concertina, cavaquinho, bandolim, guitarra portuguesa, viola e gaita-de-foles), na perspectiva da preservação e renovação do património musical tradicional e do aperfeiçoamento das prestações dos grupos que intervêm directamente na área da etnografia e folclore. Uma das características que distingue os nossos cursos é a diversidade de motivações e de experiências musicais. Em cada turma reúnem-se elementos das tocatas de ranchos folclóricos e grupos etnográficos, músicos de bandas filarmónicas e alunos sem qualquer formação ou prática musical anterior, permitindo incorporar nos métodos de aprendizagem, e até nos repertórios, o saber empírico dos velhos tocadores e a troca de conhecimentos com os novos tocadores. Em 2010, tivemos mais de uma centena de alunos a frequentar os Cursos de Instrumentos Tradicionais e contamos nas sedes da Casa do Concelho de Castro Daire e da Casa do Concelho de Cinfães. Para André Silva, 19 anos, um dos alunos presentes em Castro Daire, “a realização deste curso deve prolongar-se durante muitos anos para que os apaixonados pela concertina possam ter a oportunidade de aprender.” “Gostei imenso do curso e espero poder participar no seguinte para progredir ainda mais na aprendizagem da concertina”, reconheceu Eva Rocha, 31 anos, outra das alunas do curso, sublinhando o facto de, a par da formação instrumental e do agradecimento pela disponibilização da própria concertina, ter ficado a “conhe-


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cer melhor e apreciar mais o nosso património musical de cariz tradicional.” O mesmo entusiasmo revelou Esmeralda Chamusca, 72 anos, surpreendida pelos resultados do curso: “É extraordinário que em tão pouco tempo se consiga tocar como a maioria de nós o faz.” Para outro dos instruendos, Miguel Valente, 62 anos, os três meses do curso de concertinas “excederam as melhores expectativas”. “Há os que ensinam por obrigação e os que ensinam por vocação…”, frisou, elogiando o trabalho dos formadores (“excepcionais”), e apelando à Inatel para que “continue a dinamizar e apoiar a formação e o movimento Associativo. Método excelente, professores excelentes. Aprendi muito.”

Contacto Directo As visitas às sedes das nossas associações, no sentido claro de reforçar relações de proximidade com os CCD Inatel e de actualizar conhecimentos sobre as práticas dos grupos etnográficos e folclóricos, são particularmente acarinhadas. Trata-se, em concreto, de pequenas acções formativas, localizadas e individualizadas. Em 2010, as visitas centraram-se nas especificidades locais em termos de repertório musical, coral e instrumen-

tal, no sentido de valorizar a componente das tocatas dos ranchos. Em 2009, foram aprofundados aspectos relacionados com os trajes tradicionais. Momentos únicos de partilha de experiências, as visitas técnicas permitem-nos conhecer pessoalmente os elementos de cada associação, de perceber as funções que exercem, as suas condições e rotinas de trabalho bem como a sua integração local, de reconhecer sensibilidades, saberes, dinâmicas. Permitem, em suma, obter dados imprescindíveis por meio de observação directa e de conversas informais. Desejadas e acarinhadas pelos CCD’s, tais visitas e contactos, ao trazerem a Fundação para o terreno, contribuem ainda para uma melhor divulgação dos projectos culturais que desenvolvemos, em articulação com a nossa rede de agências distritais, de uma forma eficaz, clara e consciente. Ou seja, a transmissão de informações de forma recíproca, personalizada e presencial. As informações reunidas in loco, complementadas com outras fornecidas posteriormente (através da aplicação de um questionário) são fundamentais para a manutenção de uma base de dados com registos datados da história da actividade e dos projectos actuais de cada associação, e consti-

Cantadeiras do Neiva

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Inatel Cultura

Coral de Ervidel e, em baixo, elementos do grupo da Casa do Povo Aveiras de Cima

tuem um instrumento de trabalho valioso para a Fundação. Refira-se, a este propósito, que se encontra finalmente em fase de sistematização, nesta base de dados, uma boa parte do património material e imaterial das nossas associações, constituído por instrumentos tradicionais, trajes regionais, arquivos documentais, registos (escritos, fonográficos, fotográficos e videográficos), publicações (discográficas, videográficas e bibliográficas) e núcleos museológicos.

Dedicação Entre 2009 e 2010 foram visitadas 72 associados colectivos, dos distritos de Beja, Bragança, Castelo Branco, Évora, Faro, Lisboa, Setúbal, Viana do Castelo e Região Autónoma da Madeira-

Funchal – um universo heterogéneo de grupos corais alentejanos, grupos de cantares polifónicos (Minho), grupos de cantares tradicionais/populares, grupos de música tradicional/popular, grupos de pauliteiros, pauliteiras, pauliteiricos e pauliteiricas, grupos etnográficos, ranchos folclóricos, grupos de danças e cantares e orquestras típicas. Apesar das diversidades regionais e locais, muito marcantes, há um factor comum a todos eles: é que embora a actividade destas associações se paute por dinâmicas e modos de funcionamento por vezes instáveis e irregulares (várias mudanças de direcção, rivalidades locais, falta de elementos, ausência de sedes próprias, parcos meios), a sua continuidade está relacionada com o facto de se constituírem como estruturas familiares e de serem orientadas e dirigidas por pessoas muito empenhadas e dedicadas que, “por amor ao folclore”, desenvolvem este trabalho em regime amador ou semi-profissional.

Criatividade e Memória A Inatel, recorde-se, promove, desde 2005, o Concurso Nacional de Etnografia procurando a mobilização das associações etnográficas e folclóricas para conceberem, encenarem e interpretarem espectáculos criativos baseados em repertório tradicional português. O CNE tem como objectivo contribuir para o enriquecimento da actividade, dos métodos de recolha, de registo, de preservação, de transmissão e de escolha de repertórios (música e dança tradicional, cantigas 48

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e cantos de trabalho, trajes regionais, romarias e bailes, actos religiosos e rituais, artes e ofícios) dos nossos associados colectivos. Em 2010, o Concurso Nacional de Etnografia disputou-se em duas vertentes de espectáculo Quadros Etnográficos e Música Tradicional/Popular – tendo sido apresentados, nos vários palcos e salas do país, 30 trabalhos que representaram o culminar de muitos meses de preparação, de estudo e de ensaios, envolvendo largas centenas de pessoas, todos elementos pertencentes aos CCD.

Apoios Outro dos projectos que envolve grande investimento da Inatel é o Programa de Apoio à Cultura Amadora, através da atribuição de equipamentos, instrumentos e outros materiais específicos indispensáveis ao trabalho dos nossos CCD’s nas áreas da etnografia, da música e do teatro. No caso particular das associações etnográficas e folclóricas, este programa permite aos responsáveis pela escolha de repertórios o acesso a cancioneiros e bibliografia temática; novos equipamentos de som e luz para as sedes das colectividades; a aquisição de instrumentos musicais tradicionais de qualidade; e a remodelação e diversificação dos seus trajes tradicionais. A aquisição destes artigos, comprados a artesãos especializados, traduz-se também no estímulo à produção artesanal ajudando a preservar estes ofícios.

Parceiros A formalização de parcerias é, cada vez mais,

uma forma de actuação preferencial na procura de uma conjugação do aproveitamento das potencialidades humanas e logísticas bem como do desenvolvimento cultural quer dos nossos associados quer dos nossos parceiros. Na prática, as parcerias resultam na realização de iniciativas conjuntas tendo em vista a melhor convergência de recursos, e na permuta de informação, promoção e divulgação cultural. Em 2010 iniciámos relações de colaboração com quatro entidades que desenvolvem trabalho centrado no estudo, recuperação e promoção de manifestações tradicionais: a Associação Pé de Xumbo (Tocar de Ouvido); a Associação Gaita-de-foles (Curso de gaita-defoles); o GEFAC – Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra (XIII Jornadas de Cultura Popular: uma homenagem a Ernesto Veiga de Oliveira), o INET-MD; Instituto de Etnomusicologia - Centro de Estudos em Música e Dança (Congresso Internacional Músicas e Saberes em Trânsito). Verdadeiros agentes culturais, com um papel fundamental de promoção da cultura tradicional, os nossos CCD’s merecem bem o reconhecimento público pela sua notável actividade. Do seu empenhamento, na continuidade e desenvolvimento de relações próximas, duradoiras e sólidas com a nossa Fundação, também se valoriza e dignifica o indiscutível contributo da Inatel para a cultura popular e tradicional. n Sofia Tomaz (texto) José Frade (fotos)

Grupo Etnográfico de Ilhavo

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Memória

Isabel de Castro Uma actriz para todas as estações Dezenas de filmes e peças de teatro, séries para TV, telenovelas, mais de 50 anos de trabalho, três casamentos, cinco filhos, cinco netos, uma vida tanto ou quanto atribulada, eis, em síntese, o que poderia ser mais um filme ou uma novela cuja protagonista seria Isabel de Castro, ela própria.

A

"

vida tem fases", costumava dizer a actriz. E quando morreu no dia 23 de Novembro de 2005, Isabel estava na fase da "nostalgia do campo" que, dizia, lhe dava segurança e tranquilidade. Morreu, pois, em Borba, nesse Alentejo que amava, numa casa chamada "Casa do Anjo da Guarda".

Era uma vez uma menina… Isabel tinha 14 anos quando, por concurso da revista feminina "Eva", foi escolhida para um pequeno papel no filme de Jorge Brun do Canto, "Ladrão, precisa-se". Era o cinema que entrava na vida de Isabel para nunca mais a largar. Neta de escritora (Ana de Castro Osório), filha de jornalista e de cantora (José Osório de Oliveira e Raquel Bastos), Isabel nasceu em Lisboa, em 1 de Agosto de 1931. A infância foi passada no Largo do Contador-Mor, ao Castelo. O Largo seria para ela o sítio, o lugar, a aldeia onde conviveu com as crianças pobres de uma certa Lisboa de miséria, onde com certeza saltou à corda, jogou aos cinco cantinhos e ao trapo queimado. A família de Isabel nunca lhe escondeu nada, deu-lhe asas e deixou-a à solta tanto para conviver com os companheiros pobres como para assistir às longas conversas que na casa do Largo os pais mantinham com escritores, músicos, pintores que os visitavam. Por lá passavam, noites a fio, Almada Negreiros, Jorge de Sena, Rui Cinatti, Abel Manta, Jorge Amado e tantos outros. Não se estranhe, por isso, que Isabel, criança, escrevesse poemas e se apaixonasse pelos 50

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olhos bonitos de Cecília Meireles e, já adolescente, se tivesse saído com um romance, "Antes da vida começar", que só viria a publicar anos mais tarde.

Isabel e o actor bonito Um dia, Isabel conheceu um actor bonito chamado Carlos Otero, apaixonou-se e fugiu com ele para Espanha. Ela tinha 18 anos, ele 33. Ambos sem dinheiro e Isabel, grávida do primeiro filho, (uma menina, Ana Margarida). Cerca de sete anos durou a vida da actriz em Espanha. Filme atrás de filme (17 no total) a maioria verdadeiras "xaropadas" mas grandes êxitos de bilheteira. Quando regressa, Isabel volta para casa dos pais. Ela e mais cinco filhos. "Nasci para ser mãe e filha", dizia e, talvez por isso mesmo, nunca se conformou com a morte prematura da filha mais velha, Ana Margarida. A actriz que, por esse tempo, bebia imenso, parou completamente com a bebida para acompanhar a doença de Ana. "É o maior desgosto que alguém pode ter. Não há nada, nada, nada maior do que a perda de um filho, nada que substitua um filho. A minha filha vive comigo diariamente. Preciso de falar dela, de outro modo sinto-me só." De volta a Lisboa e depois de ter recusado um bom contrato para a Rank Filmes porque não queria afastar-se dos filhos, começou a ser convidada para o cinema português, tendo trabalhado com quase todos os realizadores da época, Artur Semedo, António de Macedo, Seixas Santos, Jorge Silva Melo, Manoel de Oliveira, Perdigão Queiroga, João Botelho, Fonseca e Costa.


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Vedeta do cinema espanhol, fez 17 filmes em quatro anos. Na página da esquerda, a primeira foto de promoção, já em Espanha

Isabel e Carlos Otero

A avó do filme “Sem Sombra de Pecado”

Capaz do melhor e do pior, o crítico de cinema, Jorge Leitão Ramos disse dela: "Em cinema ela passou por quase tudo. Não incólume, que a vida dá tombos, mas sempre saltou para a vaga seguinte. Não creio que haja outra actriz no recente cinema português que tenha sido vedeta e quase figurante, jovem apaixonada, mulher lasciva, senhora solitária e avó, que tenha sabido encontrar em cada momento não só papéis de subsistência mas filmes em que a gente a recorda. Rodou muito, aprendeu bastante, é um verdadeiro animal de cena."

Isabel e o Teatro A actriz não renegou nada do trabalho que fez no cinema e no teatro porque o fez com generosidade e empenho. No teatro, quase sempre ligada a companhias independentes, trabalhou com os principais encenadores mas foi de Ribeirinho que ela um dia disse: "Aprendi muito com ele sobretudo a técnica que foi coisa que nunca aprendi no Conservatório." E quando as "luminárias" do teatro desprezavam o empresário Vasco Morgado, Isabel de Castro defendeu-o: "Era um belíssimo empresário, muito generoso, que conseguia equilibrar as suas contas contratando obras menores que eram êxitos populares e outras de qualidade que eram rotundos fracassos. Esteve durante anos ligada ao Teatro da Graça, companhia onde se sentia em família. "Neste momento sou feliz, tenho os meus filhos, os meus netos, os meus amigos, o meu tra-

balho. Estou na melhor fase da minha carreira". O encenador Jorge Silva Melo, em belíssimo retrato que fez dela para a revista Epicur, recordou esse tempo do Teatro da Graça e do seu Carlos Fernando que morreu muito novo: "Foi um tempo em que brilhou nos Cocteau, nos Tennesse Williams, onde amou e foi amada como nunca mais teria sido."

Isabel e a Televisão Depois de muito cinema, muito teatro, muitas rugas, saiulhe ao caminho a telenovela que, como ela própria disse, lhe trouxeram dinheiro e mais nada. "É decorar o texto, representar, tornarmo-nos na personagem e mais nada." Se bem se lembram, a ultima novela em que Isabel entrou chamava-se "Anjo Selvagem" e ficou muito popular porque a protagonista era uma rapariga meio selvagem, sempre com um boné vermelho enfiado na cabeça, pala voltada para trás e com uma avó um bocado extravagante e gentil, para sempre sentadinha num sofá… Essa avó era a Isabel de Castro. E foi, parece-me, a última vez que a vi. Por esse tempo já Isabel de Castro se tinha refugiado em Borba. "Tive sempre uma grande nostalgia do campo, a planície alentejana tranquiliza-me. A terra dá-me segurança, tem raízes, tem árvores." A casa que escolheu em Borba tinha escrito na porta: Casa do Anjo da Guarda. "Senti que era esta a casa". E lá morreu num dia triste de Novembro. Tinha 74 anos. n Maria João Duarte MAIO 2011 |

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Olho Vivo

Dentes para que te quero Estamos mais parecidos Antropólogos da universidade norteamericana da Carolina do Norte estudaram 200 crânios espanhóis e 50 portugueses dos séculos XVI e XX e constataram que as diferenças entre homens e mulheres diminuíram muito em 400 anos. Estamos mais parecidos, eles com elas e elas com eles, não só em termos de estatura, como em traços faciais. A aproximação é feita do lado feminino. A estrutura facial das mulheres é hoje muito maior do que era nos anos das Descobertas, o que pode dever-se a uma melhoria na alimentação. Os resultados são comuns a Portugal e Espanha.

Macacos vaidosos Macacos de diversas espécies urinam nas mãos e depois esfregam-nas por todo o corpo. Os cientistas julgam que se trata de uma manobra para se tornarem irresistíveis para as parceiras, uma espécie de perfume fatal para acasalamento. Analisando imagens da actividade cerebral de macacas, cientistas da Universidade de Trinity, no Texas, descobriram que o cheiro da urina masculina excita as fêmeas. Vão agora estudar os machos, colocando a hipótese de o nível de testosterona na urina contribuir também para estabelecer hierarquias entre os machos.

Línguas contra Alzheimer Cientistas canadianos provaram que ser bilingue protege da doença de Alzheimer e sugerem que, mesmo em idade avançada, aprender línguas pode ser uma boa "vacina" contra este tipo de demência. Os investigadores estudaram vários doentes de Alzheimer e constataram que os bilingues tinham sido diagnosticados com a enfermidade em média quatro anos mais tarde do que os que não falavam senão a língua materna. O trabalho mental necessário para separar os idiomas pode criar nos indivíduos uma "couraça", um cérebro mais "musculado" e resistente.

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O mundo tem mais um dinossauro, descoberto recentemente no Brasil. É o Tiarajudens eccentricus, excêntrico porque tinha uns grandes dentes de sabre, apesar de ser herbívoro. Os cientistas não conseguem explicar para que serviam os dentes longos e afiados como sabres, quando o Tiarajudens era muito mais presa que predador. A hipótese é ser um ensaio da Natureza, que daria lugar a feras como o tigre dentes-desabre.

Novo ritual de morte Foi descoberto nos Himalaias um novo ritual de morte com 1500 anos. Em grutas situadas a grande altitude, no Nepal, arqueólogosalpinistas deram com uma série de esqueletos que foram descarnados com uma faca de metal após a morte. Não se conhece o povo que praticou este rito. Os cientistas descartam a hipótese de a carne ter sido comida pelos assassinos, porque em todos os ritos que envolvem canibalismo aparecem ossos partidos para extrair o tutano e crânios desfeitos para se comerem os miolos, o que não acontece no caso nepalês.


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A n t ó n i o C o s t a S a n t o s ( t ex t o s ) A n d r é L e t r i a ( i l u s t r a ç õ e s )

A descoberta da erva

Múmias em série Cientistas estudam cerca de oito milhões de múmias de animais de estimação em Saqqara, no Egipto, em catacumbas dedicadas ao Deus Anubis, o da cabeça de chacal. As múmias de animais são maioritariamente de cães, mas há também gatos e chacais. As múmias estão empilhadas em corredores até um metro de altura. Trata-se mais de um tributo ao deus de há 2500 anos do que uma homenagem dos donos aos seus bichos domésticos, porque foram encontradas múmias de cães com poucas horas de vida, o que indica que eram criados para o efeito.

Mexer os olhos à chinesa Cientistas de Liverpool estudaram os movimentos dos olhos de chineses e caucasianos a viver na Grã - Bretanha e constataram que os cidadãos nascidos e criados na China mexem os olhos de forma diferente, muito mais rápida do que os nativos das Ilhas Britânicas. Pode parecer uma investigação parva, mas não é. Os movimentos dos olhos, estando ligados a mecanismos cerebrais, são utilizados para diagnosticar lesões naquele órgão e doenças como a esquizofrenia. Os diagnósticos podem assim ser afinados.

Clássico dos clássicos Uma pequena placa de argila encontrada num olival de Iklaina, na Grécia, em Março último, contém o mais antigo texto europeu decifrável de que há conhecimento. Data da guerra de Tróia, uns 1450 anos antes de Cristo, embora não seja parte da Ilíada.Tem 4 por 3 centímetros e regista dados contabilísticos, sinal de que os gregos já andavam à volta com as contas em tempos micénicos.

Fósseis de dentes de animais africanos provam que há 10 milhões de anos, os primeiros animais a comerem erva e não folhas de árvores, foram uma espécie de zebra; seguiu-selhes um rinoceronte, há 9,6 milhões de anos. A descoberta é de cientistas de Utah e foi feita no Quénia. A maioria dos herbívoros africanos escolheu esta dieta. O elefante ficou a comer a meias, do solo e das árvores, e a girafa nunca se habituou a pastar.

Pobres e doentes Baixos níveis de rendimento aparecem associados a diversas doenças mentais e tentativas de suicídio, segundo um relatório publicado em Abril nos Arquivos de Psiquiatria Geral dos Estados Unidos. Os cientistas entrevistaram 34653 indivíduos por duas vezes, com três anos de intervalo, e concluíram que desemprego e pobreza aumentam os casos de consumo de drogas, os distúrbios ligados à ansiedade e as tendências suicidas.

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A Casa na árvore Susana Neves

Sambuque antes que trambuque! Em Maio, Tarouca, celebra a "Festa do Sabugueiro em Flor". Quem gosta da árvore, não lhe falta o bago.

E

lguns sabugueiros têm orelhas. São as "orelhas de Judas" ("Hirneola auriculaJudae"), pequenos fungos castanhos, comestíveis e medicinais, que preferem esta espécie a qualquer outra. Tendo em conta a grande beleza e benignidade do sabugueiro ("Sambucus nigra L."), a que nem o fungo escapa, resulta estranho a evocação a Judas. Mas ela vigora desde a Idade Média, quando se difundiu a crença do apóstolo ter escolhido esta árvore (da família das "Caprifoliaceae") para nela se enforcar, além de se ter pensado que a cruz de Cristo era feita com a sua madeira. Não existindo qualquer fundamento que o comprove, tratar-se-á de mais uma "heresia botânica", usada para diluir o simbolismo de uma árvore associada às fadas que vivem no seu interior ("Frau Holle", na Alemanha), à música ("sambucus" provém do grego "sambuke" que designa Flor de Sabugueiro

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uma espécie de harpa triangular) e a vários cultos de fertilidade, das culturas pré-cristãs europeias, em particular, os celebrados pelos druidas celtas, no dia 1 de Maio. O receio de cortar um sabugueiro, a necessidade de obter previamente a sua autorização para lhe retirar um ramo, sob pena de vir a ser castigado pelo espírito que o habita ("Hamadríade" ou ninfa dos bosques), deriva de uma necessidade em preservar uma "espécie do Paraíso", porque musical (dos ramos fazem-se flautas), belíssima (a floração perfumada é uma explosão de "estrelas") e medicinal: todas as partes da árvore são benéficas, tendo sido usadas, em alguns países, como antídoto contra a Peste Negra (meados do séc. XIV) e a Pneumónica (1818-19). A interdição de matar um sabugueiro deriva do conhecimento face ao seu poder curativo e por isso sagrado, de forma que poderíamos postular uma nova máxima: "sambuque antes que trambuque!", ou seja, aproxime-se, usufrua, colha desta árvore tudo de bom que ela oferece e viverá mais e melhor. E em Portugal, nada mais fácil de cumprir, e já este mês, basta ao leitor dirigir-se à "Meca do Sabugueiro", no Vale do Varosa, um dos afluentes do Rio Douro.


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Fotos: Susana Neves

Sabugueiros junto à Torre e Ponte de Ucanha, Tarouca.

No Município de Tarouca, realiza-se, de 19 a 29 de Maio, a "Festa do Sabugueiro em Flor", ocasião para celebrar o privilégio de ver a árvore florir um pouco por toda a parte, mas também de saber que na terra duriense produz-se anualmente toneladas de baga de exceção, "a que tem um grau de açúcar de melhor qualidade" face a outras concorrentes na Europa e nos Estados Unidos. Em conversa com Duarte Morais, fundador e primeiro presidente de "Flor do Sabugueiro Associação Recreativa, Cultural e Desportiva de Dalvares", cujo 25º aniversário se celebra durante a semana festiva, apuramos a importância do crescente aproveitamento do sabugueiro, enquanto árvore espontânea ou facilmente plantada de estaca, por parte dos agricultores do Douro Sul: "Antigamente, o sabugueiro era plantado como sebe protetora dos terrenos, mas a sua cultura foi evoluindo a ponto de em Dalvares ter sido criada a RegieFrutas, unidade que recebe a baga de vários agricultores, e tem um sistema de refrigeração que permite congelá-la, exportandoa posteriormente para a Alemanha [indústria de sumos, corantes alimentares e cosmética]". "Quantos agricultores se dedicam à cultura do sabugueiro, em Tarouca?", perguntamos a Miguel Nogueira, atual presidente da "Flor do Sabugueiro": "Mais de 200 agricultores", dissenos, salientando "a sustentabilidade" de uma pro-

dução que praticamente não exige custos de manutenção: "basta fazer uma poda, deitar algum adubo e fazer um bocadinho de rega, não há necessidade de gastar dinheiro para tratar pragas, como acontece, por exemplo, com as macieiras". De fato, o sabugueiro é conhecido por repelir alguns insetos indesejáveis, mas não os polinizadores, como as abelhas, e menos ainda as muitas aves que adoram os seus frutos, cuja coloração roxa ajudava a pigmentar o vinho produzido na região. Recordemos que a este propósito, uma Lei Pombalina, "Alvará de 30 de Agosto de 1753", proibiu "o uso de baga de sabugueiro na preparação do vinho", interditando "tal planta a menos de 5 léguas de cada uma das margens do rio Douro..." Era também usada "no vinho a martelo", explica Duarte Morais, para quem a utilização em "pequenas quantidades para dar cor ao vinho não é prejudicial". Prejudicial é vivermos sem o sabugueiro, a árvore que faz suar até já não haver doença. Diz-se que de noite, o sabugueiro desenraiza-se e persegue o viajante solitário, mas quem sabe, já antes lhe forneceu a sola dos sapatos, e lhe dá assim a oportunidade de praticar algum desporto. n MAIO 2011 |

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69 CONSUMO A crise e uma melhor informação disponível estão a contribuir para uma maior adesão dos consumidors a esses produtos… Pág. 58 l LIVRO ABERTO Em destaque a "Autobiografia de Fidel Castro", do escritor e jornalista Norberto Fuentes,um histórico da revolução cubana, exilado nos Estados Unidos. Pág. 60 l ARTES Atenção aos desenhos e l

esculturas de Manuel Baptista, em Lisboa, respectivamente, na Fundação Carmona e Costa e no Museu da Electricidade. Pág. 62 l MÚSICAS O CD "Seven Seas" é uma viagem de sons a não perder do músico e compositor de jazz Avishai Cohen. Pág. 64 l NO PALCO "Maria, Cavakov e tudo mais! é uma divertida comédia política, em cena no Teatro Estúdio Mário Viegas, em Lisboa. Pág. 66 l CINEMA EM CASA Quatro novidades DVD, quatro histórias de família nas suas múltiplas dimensões, são as sugestões de Maio para desfrutar em casa. Pág. 68 l GRANDE ECRÃ "A Árvore da Vida", uma reflexão notável sobre a procura do sentido da vida, assinala o regresso de Terrence Malick, um dos grandes mestres do cinema contemporâneo. Pág. 69 l TEMPO INFORMÁTICO Desde quando é que se tinha um portátil por 199 Euros? Pois existem. Encontram-se nas grandes superfícies, agregados a pacotes de ligação à Net. Pág. 70 l SAÚDE Muitas pessoas referem, com sinais de incomodidade, que se levantam frequentemente de noite para urinar. O problema existe. E tem um nome: noctúria. Pág. 72 l PALAVRAS DA LEI Quem determina o número de horas semanais da porteira? Podem as mesmas serem alteradas por decisão unilateral do Administrador? Pág. 73

BOAVIDA

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Boavida|Consumo

Produtos Brancos

, ente gueses e m l a u d Inici res port ompra c o d à i m cia r onsu esistên ncos". c s elho uir r o ra m b m a a s r ece ntrib duto e um ofer "pro a crise tão a co os es ia, m d ponível desão d os. e e j a ut is Ho ão d a maior es prod ç a rm ss info para um res a e a boa o d um umi erá cons Mas s olha? esc

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ANDRÉ LETRIA


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Carlos Barbosa de Oliveira

atarina convidou um grupo de amigos para jantar na sua nova casa. Na véspera foi ao supermercado fazer as compras. Durante o percurso sinuoso a que o marketing das grandes superfícies sujeita qualquer consumidor, ficou hesitante em frente a um escaparate, sem saber se devia optar por comprar o produto de marca branca, ou com marca de fábrica. Estes produtos marca branca serão de boa qualidade? perguntou a Luísa, amiga que a acompanhava na árdua tarefa das compras. Luísa confessou que raras vezes comprava produtos de marca branca. Gastava um pouco mais de dinheiro, mas ficava mais tranquila. Até que um dia, enquanto esperava no consultório a vez de ser atendida, leu um artigo sobre o assunto e decidiu experimentar. "Pensava que os produtos com nome dos supermercados, apesar de em alguns casos serem muito mais baratos, não seriam tão bons, por isso comecei por experimentar os detergentes e os sabonetes. Dei-me bem e comecei a poupar algum dinheiro. Com os produtos alimentares fui mais renitente. Comecei por experimentar uns iogurtes, depois leite e agora, sempre que vou ao supermercado há já muitos produtos que procuro imediatamente a marca própria". "Agora que falas nisso, lembro-me de ter lido há tempos um artigo da Maria Filomena Mónica onde ela dizia que ser chic era comprar produtos sem marca. Olha, vou experimentar. Já estive a fazer comparação de preços e percebi que se comprar produtos linha branca vou poupar um dinheirinho que me faz jeito para outras coisas". Apesar de os primeiros "produtos brancos" terem aparecido na década de 80 do século passado, só recentemente os consumidores começaram a ser mais receptivos à sua compra. No início, apesar de constatarem que eram mais baratos, (um estudo realizado pela Universidade de Aveiro em 1997, concluía que os preços dos produtos brancos eram 26,2 por cento inferiores aos de marca dos fabricantes), os consumidores desconfiavam da sua qualidade. Curiosamente, um outro estudo realizado pela AIP, no mesmo ano, junto de 2500 consumidores, chegava à conclusão que eram os consumidores mais endinheirados e com estatuto social mais elevado os que ofereciam menos resistência à compra dos "produtos brancos". A explicação para este resultado reside, fundamentalmente, na informação deturpada fornecida aos consumidores pelo marketing, que os levava a acreditar que caro era sinónimo de boa qualidade e barato não prestava. Com o tempo a distribuição passou a promover melhor os seus "produtos brancos" e a diversificar a oferta, alargando-a a uma gama mais vasta de produtos

C

(nomeadamente alimentares). Os consumidores, por sua vez, começaram a procurar mais informação- que lhes permitiu adquirir uma nova consciência- a ponderar melhor as suas opções, deixaram de ter uma atitude de desconfiança e estabeleceram novos critérios na relação qualidade preço, que a crise actual exponenciou. Hoje em dia, diversos estudos de qualidade revelam que, na maioria dos casos, os produtos "brancos" nada ficam a dever aos de marca de fabricante.Aliás, nem podia ser de outra forma porque, em muitos produtos, a única coisa que muda é o rótulo… Ou seja: uma grande parte dos "brancos" à venda nas diferentes superfícies comerciais, vêm da mesma linha de produção que os produtos de marca, porque existem empresas que fabricam produtos de marca e, em simultâneo, os da marca do distribuidor com quem têm contratos. Um estudo promovido este ano pela agência BBZ e realizado pela Magma Research seguiu um grupo de consumidores durante 10 visitas às compras, tendo concluído que um produto de marca branca chega a ser até 50% mais barato do que um de marca, mesmo se o fabricante for o mesmo.. Um outro estudo, divulgado em Fevereiro pela DECO, avança por sua vez, que em matéria de produtos alimentares os "brancos" são em média 30% mais baratos do que os das marcas dos fabricantes, sendo também perceptível uma maior adesão dos consumidores portugueses a este tipo de produtos, embora ainda distante dos congéneres europeus. Com efeito, a média europeia de penetração das marcas dos distribuidores na área alimentar é de 35%, enquanto em Portugal estaremos próximos dos 25%. Essa diferença, porém, não se restringe a uma resistência dos consumidores portugueses. Acontece é que na generalidade dos países europeus o cabaz de produtos brancos é muito mais alargado do que o oferecido às famílias portuguesas. Claro que, mesmo nos produtos brancos, nem todos são iguais em qualidade, ou oferecem as mesmas vantagens aos consumidores. Assim, continua a ser importante comparar preços e ter em consideração a qualidade. Em Outubro de 2010 a revista "Proteste" publicava os resultados de um teste a dez dentífricos, tendo concluído que os produtos mais eficazes contra as cáries, a placa bacteriana e o tártaro e mais protectores das gengivas estavam entre os mais baratos e eram marcas próprias de supermercados. Em relação ao preço a Catarina constatou, quando chegou à caixa registadora para pagar, que a sua opção pelos produtos brancos lhe permitira poupar mais de 30 euros numa despesa que ultrapassou ligeiramente os 100 euros. E os seus convidados para o jantar, não notaram a diferença…a Catarina é que ficou a lamentar-se pelo facto de a oferta de produtos brancos não ser mais alargada… n MAIO 2011 |

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Boavida|Livro Aberto

Fidel autobiografado, a alma e o direito à preguiça Figura histórica da Revolução Cubana, que viria a afastar-se de Fidel Castro e do seu regime no final dos anos 80 e a ser perseguido pelas suas posições críticas, Norberto Fuentes é o autor da notável “Autobiografia de Fidel Castro” (Casa das Letras), que agora chegou ao mercado editorial português.

José Jorge Letria

specialista na obra de Hemingway, e sobretudo nos anos que o escritor norte-americano passou em Cuba, na Quinta Vigia, Norberto Fuentes exilou-se nos Estados Unidos, onde se tornou um prestigiado jornalista. Mistura de realidade fortemente documentada e de ficção, esta “autobiografia” baseia-se no conhecimento pessoal e presencial que o escritor teve do seu ex-camarada de revolução e no acesso que teve a documentos da CIA e outros, revelando aspectos menos conhecidos do líder cubano, afastado do poder activo mas sempre na liderança ideológica do regime, e assume-se como um retrato poderoso e heterodoxo de uma das mais controversas figuras da segunda metade do século XX e do início do século XXI. Um livro justamente aplaudido pela crítica internacional, que vale mesmo a pena ler.

E

ARQUITECTO, cineasta, dramaturgo, ensaísta, autor de livros de ficção científica e professor universitário, António de Macedo é um dos maiores especialistas portugueses na disciplina de Esoteriologia, entretanto reconhecida e consagrada no meio académico internacional. A sua tese de doutoramento, apresentada na Universidade Nova de Lisboa, esteve na origem do fascinante livro “Cristianismo Iniciático” (Ésquilo), que acaba de ser editado. Nesta densa obra de mais de 650 páginas, António de Macedo lança uma nova e inesperada luz sobre a génese do cristianismo, como corrente espiritual e projecto religioso triunfante e universalizado que viria a mudar para sempre a história e o rumo da humanidade. Acompanhando a origem desse pensamento desde a Suméria, o 60

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ensaísta convoca-nos para uma reflexão cientificamente rigorosa e de grande profundidade filosófica, que não deixa o leitor indiferente, seja qual for a sua perspectiva ou filiação no plano da crença religiosa. Uma obra monumental que merece a maior atenção dos leitores e da crítica. O AUTOR deste livro é um teólogo com responsabilidades no Vaticano, mas também um académico de prestígio. Em “Breve História da Alma” (D. Quixote) familiariza o leitor, numa linguagem acessível e rigorosa, mas também teologicamente comprometida, com o conceito de “alma”e com a forma como evoluiu ao longo dos séculos. É, no fundo, um livro sobre a espiritualidade e sobre o modo como o Homem lida com ela ao tentar superar a sua dimensão puramente física e material. JORNALISTA e realizador de documentários, Antoine Vitkine, nascido em 1977, escreveu “Mein Kampf”-a


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História de um Livro”. Estamos perante uma investigação rigorosa e exaustiva que nos revela de que forma o livro que Hitler escreveu durante os meses em que esteve preso, após a tentativa de golpe em Munique, o catapultou para a liderança do projecto nazi, o tornou um homem muito rico e forneceu as bases para o projecto de genocídio levado à prática pelo Terceiro Reich. Numa altura em que tanto se escreve sobre Hitler, uma das mais sinistras figuras da história da humanidade, este livro demonstra até que ponto um livro, com toda a sua carga ideológica e programática, pode contribuir para mudar a história do mundo. Uma obra que é também um alerta em tempo de vazio de valores e de confusão de princípios e regras. EM MATÉRIA de ficção narrativa de qualidade, o primeiro destaque vai para o novo romance de Lídia Jorge -“A Noite das Mulheres Cantoras”(D. Quixote)-, uma ficção cuja acção decorre nos anos oitenta do século passado, no seio de um grupo musical feminino. Uma narrativa pujante e cativante que, como sempre acontece na obra da escritora, nos revela o domínio perfeito das técnicas da narrativa e um conhecimento profundo da natureza humana. Destaque também para a primeira edição em Portugal de “E Agora Zé-Ninguém?”, um clássico da literatura alemã do século XX, publicado em 1932, cerca de um ano antes da chegada dos nazis ao poder. O autor morreu em Berlim em 1947, após ter sido perseguido pelos nazis durante anos, tendo visto a publi-

cação da sua obra proibida. A não perder. “Urbano Tavares Rodrigues, um dos nomes mais marcantes da literatura portuguesa de sempre, está de volta às livrarias com a colectânea de contos “Terraços de Junho”(D.Quixote), onde evidencia, como sempre, a excelência do seu processo narrativo marcado por uma grande densidade poética e pela presença do elemento onírico, de resto detectável em muitas das suas obras. Um livro breve mas de grande profundidade e encanto. Nascido em Lisboa em 1978, David Machado é autor premiado de livros para a infância, de um romance, de um livro de contos e de várias traduções. “Deixem as Pedras Falar”(D.Quixote) é a sua obra mais recente. Estamos perante uma das vozes da mais recente literatura portuguesa que vale a pena seguir com atenção. Uma referência ainda às oportunas reedições pelas Publicações Europa-América dos clássicos “A Paixão de Jane Eyre”, de Charlotte Bronte, e de “Farhenreit 451”, de Ray Bradbury”. Duas leituras a fazer ou a refazer sempre. POR ÚLTIMO, realce para a reedição em Portugal, agora com a chancela da Teorema, com nova direcção literária, numa colecção de cuidado grafismo dos títulos “O Prazer da Leitura”, de Marcel Proust, e “O Direito à Preguiça”, de Paul Lafargue, genro de Karl Marx, fundador do Partido Socialista francês, que viria a suicidar-se com a mulher aos 69 anos. Dois livros pequenos com muito para dizer e, ainda e sempre, para fazer pensar. n


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Boavida|Artes

Manuel Baptista: o Desenho como eixo da actividade criativa Até ao próximo dia 15 ainda é possível ver no Museu da Electricidade, em Lisboa, "Fora de Escala", um impressionante trabalho escultórico de Manuel Baptista, e até dia 28 pode apreciar-se na Fundação Carmona e Costa, igualmente em Lisboa, uma colecção de mais de uma centena de desenhos subordinada ao título "Escrever Paisagem".

Rodrigues Vaz

rganizadas a propósito dos seus 75 anos de vida e mais de cinquenta anos de actividade artística ininterrupta, trata-se de duas exposições fundamentais não só para a compreensão da obra deste artista plástico que é uma das figuras principais da nossa contemporaneidade, mas também para perceber a evolução dos últimos anos da arte em Portugal. Como acentua no catálogo o filósofo José Gil, "O desenho é o eixo da actividade criativa de Manuel Baptista. Ainda quando chamamos pintura aos seus trabalhos poderíamos, muitas vezes, chamar-lhes apenas desenho." Efectivamente assim é, porque mesmo nas esculturas agora apresentadas no Museu da Electricidade, os temas e as formas são comuns aos desenhos e pinturas que caracterizam o seu trabalho: objectos quotidianos (envelopes, camisas com gravata), e elementos de cenografias e/ou paisagísticas (falésias, arbustos), por exemplo, sendo a opção pelos materiais industriais (neóns, alumínio, plexiglas) e o desejo de alteração de escala dos objectos representados apenas uma achega eficaz para provar a inovação desta obra no seu tempo histórico.

O

JOSÉ MOUGA E HILÁRIO TEIXEIRA LOPES

Igualmente é o Desenho a principal motivação da exposição "Papéis de Verão" que José Mouga mostra até dia 28 na galeria Cidiarte, em Lisboa. Utilizando com recorrência manchas de cor que acabam por constituir linhas geométricas, muito ao seu jeito dos anos setenta, José Mouga evolui para uma linguagem pictórica que favorece a sensualidade cromática e o ritmo instintivo, "retornando à linha tensa mas apenas para compartimentar a tela em áreas texturadas de cor, em transparência ou em sobreposição." Registo completamente distinto, mas servindo-se igual62

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Trabalho de Manuel Baptista e, à direita, Óleo de Hilário Teixeira Lopes


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Desenho de Manuel João Vieira

mente de um certo gestualismo expressivo que o Artur Bual usou e abusou, é o de Hilário Teixeira Lopes que mostra os seus últimos trabalhos da MAC - Movimento Arte Contemporânea, em Lisboa. Depositário de um tesouro de instantes e de formas, Hilário Teixeira Lopes revela-se em espaços e tempos diversificados, mostrando-se capaz de preservar a memória de acontecimentos múltiplos, que não têm outra existência para além dos vestígios que deles subsistem. Como realça Álvaro Lobato Faria, "Possessiva, intuitiva e apaixonada, a pintura de Hilário Teixeira Lopes reconduz-nos musicalmente ao ritmo da criação e ao gesto, no mais límpido exercício da comunicação humana." MANUEL JOÃO VIEIRA, A POÉTICA DO EXCESSO

Partidário confesso do humor absurdo, que manipula com grande eficácia, Manuel João Vieira, que até já foi candidato a PR para provocar apenas o riso destruidor, mostra mais uma vez que é, antes de tudo, um excelente desenhador com técnica quanto basta, e um criador de factos culturais com tanta garra quanta ousadia. A exposição que agora apresenta (até 21 do corrente) na Galeria Valbom, em Lisboa, sob o título "Manuel Vieira como Orgasmo Carlos como Manuel Vieira" é disso um bom exemplo, nela fazendo incorporar, por outro lado, uma poética do excesso através da construção de uma fórmula expressiva perfeitamente pessoal na qual o paulatino esfriamento da linguagem reforça o carácter veemente, apaixonado e expressivo do seu trabalho. Com um sarcasmo muito peculiar do qual está excluída qualquer parcela de cinismo, Manuel João Vieira está a construir um espaço próprio, à base de um seguro instinto de pintor, de uma visão mordaz e descarnada da sociedade moderna, de uma grande voracidade pelas imagens dos meios de comunicação de massas e também pelas da alta cultura, que satiriza de variadas formas. n


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Boavida|Músicas

Viagem pelos “mares” de Avishai Cohen O músico e compositor de jazz Avishai Cohen acaba de lançar um CD com o título genérico”Seven Seas”. Melómano que se preze não deve perder esta viagem pelos “mares” navegados por Avishai.

Vítor Ribeiro

ascido há 41 anos em Israel, no kibbutz de Kabri, Avishai Cohen começou por estudar piano cerca dos 10 anos, optando mais tarde pelo contrabaixo. Uma vez terminado o serviço militar, durante o qual integrou uma banda das forças armadas, Avishai partiu para Nova Iorque onde estudou no Mannes College – The New School for Music. Para fazer face às despesas de sobrevivência, Avishai Cohen começou então a tocar nas ruas e no metropolitano, cumprindo assim um tirocínio que, mais tarde, o conduziu ao vasto circuito nova-iorquino de clubes jazz. O grande passo em frente na carreira do músico foi dado, por fim, ao ser descoberto pelo pianista e compositor Chick Corea, com quem Avishai Cohen trabalhou regularmente mais de uma meia dúzia de anos. Desde então e até hoje, Avishai trabalhou e/ou colaborou com, entre outros, Herbie Hancock,

N

Bobby McFerin, várias orquestras filarmónicas, designadamente a de Israel. Visivelmente determinantes foram, contudo, o ecletismo e modernidade de Chick Corea, que marcaram de forma singular o percurso de Avishai Cohen, autor de uma obra hoje já considerada de referência no mundo jazz. Mente aberta, curioso, disponível para a descoberta, Avishai Cohen tem contribuido decisivamente para o enriquecimento da universalidade específica do jazz, ao produzir um tipo de música onde se misturam, nas devidas proproções, sonoridades latinas, do norte de África e do Médio Oriente, numa notável diáspora cultural. Tudo isto é perceptível no álbum “Seven Seas”, no qual se integram 10 temas compostos por Cohen, excepto o segundo – “About a Tree” – de Mark Warshavsky. A produção é também da responsabilidade de Avishai Cohen, juntamente com Itamar Doari e Lars Nilsson. Naveguemos, pois, com gosto, nos bonançosos sete mares de Avishai Cohen.

CONCERTOS TRIBUTO A BOB MARLEY

STOMP NO PORTO

movimento e o som. Com quase 20

Nos próximos dias 13 e 14 de Maio, os

Os Stomp efectuam um espectáculo

anos de vida, os STOMP deixaram de

palcos do Coliseu de Lisboa e do Teatro

dia 24 de Maio, no Coliseu do Porto,

ser um fenómeno teatral britânico, para

Sá da Bandeira, no Porto,

pelas 21h30. Concebido a partir de

serem um sucesso mundialmente

respectivamente, recebem os

teatro de rua, cheio de humor, ritmo e

aclamado.

Groundation, considerada uma das

com um sapateado exuberante, STOMP

melhores bandas ao vivo do reggae

é o espectáculo ideal para reunir

JULIO IGLÉSIAS EM LISBOA

mundial, num tributo a Bob Marley. A

pessoas de todas as idades e gostos.

Julio Iglesias regressa a Portugal, dia 28

partir das 21h00. Em Lisboa, a primeira

Das botas aos baldes, das tampas dos

de Maio, para efectuar um concerto no

parte do espectáculo será preenchida

caixotes de lixo aos isqueiros e

Pavilhão Atlântico, em Lisboa. Se ainda

pelos Terrakota, que festejaram no ano

vassouras, dos lava-loiças aos

conseguir comprar bilhete, poderá vê-lo

passado uma década de carreira

garrafões, tudo é motivo e base para o

a partir das 21h00.

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Boavida|No Palco

"Maria, Cavakov e tudo mais!" "Maria, Cavakov e tudo mais!" é uma divertida comédia política, em cena no Teatro Estúdio Mário Viegas, em Lisboa, até 28 Maio. Uma comédia onde o Amor também está presente.

Maria Mesquita

atalya e Ivan, ambos russos mas com sotaque do Porto estão apaixonados. Ivan sofre de hipocondria, vivendo um pouco obcecado pelos sintomas de inúmeras doenças que não tem. É no entanto jovem e abastado, sendo um partido perfeito para a filha de Tchubukov, um velho somítico que antes de dar a bênção ao casamento, discute com Ivan o dote que a filha "merece", ou será antes a que "equivale"? Enquanto isso, tanto Natalya como Ivan têm dois cães: Maria e Cavakov que muito antes de se darem bem, gostam de brincar ao cão e gato, culminando em sensacionais lutas que são mote para o desentendimento entre os noivos. Logo agora que estava tudo encaminhado, tinham de ser os animais a estragar o que era perfeito? Contudo, tudo termina em bem quando o Conde Socratonovich apadrinha a união dos jovens, numa altura em que Cavakov, o cão, terá "desaparecido de cena"… Uma

N

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comédia ousada e divertida para amenizar os tempos sombrios da crise e da 'visita' do FMI. FICHA TÉCNICA: Interpretação: Duarte Grilo, Fábio Sousa e

João Carracedo; Encenação: Juvenal Garcês; Cenografia e Figurinos: Luciano Cavaco; Desenho de Luz: Vasco Letria; Coreografia: Catarina Mascarenhas; Música: Fernando Rodrigues; Produção: Companhia Teatral do Chiado - Teatro Estúdio Mário Viegas

JOGAR, GANHAR, PERDER…

Até 21 de Maio, o Teatro Municipal São Luiz, apresenta "O Jogador", uma peça de Gonçalo Amorim, cujo título é inspirado no clássico romance de Dostoiévski. Aléxis, jogador de casino, viciado não assumido e controlado na Roleta Russa sabe até onde pode ir no seu jogo, apurando tácticas novas e cálculos, até conseguir o seu principal objectivo, ou seja, levar à bancarrota a


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fique milionário, seguro de que os que lhe viraram costas se reaproximar-se-ão, pelo menos enquanto tiver dinheiro. No espaço criado por Gonçalo Amorim, a acção desenrola-se na cidade imaginária de Roletemburgo, onde o tempo dos acontecimentos é variável, rápido na intriga, lento na sua absorção. E é nesse tempo em que o poder da Mulher entra em cena. Paulina, amor não correspondido de Aléxis, convence-o de que precisa de dinheiro. E tal como o Jogo, também o Amor é um vício que se julga poder ser comprado. No auge da loucura, Aléxis ganha o que quer, mais ainda até, leva a banca atrás de si, conquista amigos e inimigos, tem Paulina a seu lado, até que tudo muda… FICHA TÉCNICA: Baseado na obra de: Fiódor Dostoiévski;

Adptação: Emília Costa; Encenação: Gonçalo Amorim; Música original de: Paulo Furtado e Rita RedShoes; Interpretação:

própria banca que patrocina o maior dos vícios: o do Jogo. Marginalizado por uma sociedade burguesa e ociosa pensa encontrar aí o volte face para a sua situação caso

António Fonseca, Carla Galvão, Carla Maciel, Duarte Guimarães, Iris Cayatte, Joana de Verona, João Villas Boas, Mónica Garnel, Nicolas Brites, Raquel Castro, Romeu Costa, Vânia Rovisco.


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Boavida|Cinema em Casa

Famílias "Cinema em Casa" de Maio contempla um eixo temático: a família. Quatro novidades DVD, quatro histórias de família nas suas múltiplas dimensões, formas e problemas: as discussões de um casal em Cópia Certificada; a moderna família de Os Miúdos Estão Bem; uma família em causa em Jogo Limpo e a dura tarefa de educar em Só Eles. Sérgio Alves CÓPIA CERTIFICADA

OS MIÚDOS ESTÃO BEM

JOGO LIMPO

SÓ ELES

James Miller, um escritor

Nic e Jules estão casadas e

Valeria Plame, agente da CIA,

Joe é um jornalista desportivo

famoso de meia-idade promove

vivem felizes com os seus fi-

dirige um inquérito sobre a

australiano que vive com a

o seu último livro - Cópia

lhos - Joni e Laser. Certo dia,

existência de armas de destru-

sua segunda mulher e o filho.

Certificada -numa pequena vila

Laser pede ajuda a Joni para o

ição em massa no Iraque. O

Subitamente, ela morre e

da Toscânia. Na sessão de apre-

ajudar a descobrir o Pai

marido, o diplomata Joseph

deixa-o só com a tutela do

sentação está

biológico de ambos - foram

Wilson, viaja para o Níger com

filho pequeno e de outro filho

uma admiradora

concebidos através de insemi-

a missão de encontrar provas

adolescente, fruto do primeiro

que o desafia a

nação artificial. Paul é dono

de venda de Urânio enriqueci-

casamento. Este, que vive em

um pequeno pas-

de um restaurante conhecido,

do ao Iraque. Mas a

Inglaterra, vem visitá-lo... Joe

seio pela vila vi-

solteiro e bem-disposto e o

Administração Bush ignora o

tem dificuldades em impor a

zinha de

encontro entre pai e filhos

trabalho de ambos e avança

sua autoridade e a confusão

Lucignano. No

corre bem mas começa a criar

para uma guerra ilegítima sem

instala-se naquela casa onde

dia seguinte, encontram-se na

desconforto e ameaça o equi-

encontrar as alegadas provas.

parece que não existem regras

galeria de arte dela e partem

líbrio desta família singular.

A reacção de Joe

nem deveres a cumprir…

juntos. Durante o passeio, o

Divertida comédia passada em

é imediata: pub-

"Só Eles" é um filme inteligente

filme ganha um novo rumo, e o

Los Angeles, o filme, da jovem

lica um artigo no

do talentoso realizador Scott

casal - conhecem-se há um

realizadora Lisa Cholodenko,

New York Times

Hicks - autor do celebrado

dia… - começa a discutir.

aborda o tema das novas reali-

e o Governo

Shine (1996) - que aborda a

Concluído em 2010, o filme

dades fami-

assinala o regresso do notável

liares com

se, revelando a identidade da

filhos, as dificul-

realizador iraniano Abbas

sobriedade e

esposa na imprensa.

dades, as alegrias

Kiarostami, autor de filmes

um humor

Resultado: carreira e vida pri-

e a dureza do pro-

decisivos como "Close Up"

inteligente.

vada do casal destruídas.

cesso educativo

(1990), "Através das Oliveiras"

Elenco forte,

História verídica adaptada para

na esfera familiar.

liderado pela

(1994) ou "O Sabor da Cereja"

americano vinga-

relação de pai e

cinema pelo experiente real-

O conhecido actor britânico

(1997). A eterna diferença entre

veterana Annete Bening -

izador Doug Liman com base

Clive Owen é o intérprete prin-

homens e mulheres, as dis-

nomeada para o Óscar de

nos livros de Valeria Plame -

cipal, num registo dramático

cussões de um casal reencon-

Melhor actriz -, completado

"Fair Game"- e Joseph Wilson -

diferente do habitual. Rodado

trado e as diferenças entre o

por Julianne Moore, Mark

"The Politics of Truth", o filme

quase integralmente na

original e a cópia, marcam o

Ruffalo e Mia Wasikowska,

combina a tradição do thriller

Austrália, com uma fotografia

segundo trabalho de Kiarostami

deu lugar a prémio no festival

político com o drama familiar

belíssima da planície aus-

com Juliette Binoche. Um exce-

de Berlim de 2010 e a várias

e exibe uma dupla de exce-

traliana, o filme passou discre-

lente e surpreendente filme.

nomeações para os Óscares.

lentes actores, Naomi Watts e

to nas salas portuguesas mas é

TÍTULO ORIGINAL: Copie

TÍTULO ORIGINAL: The Kids are

Sean Penn. É um dos grandes

uma agradável surpresa.

Conforme; Realização: Abbas

All Right; Realizador: Lisa

filmes de 2010.

TÍTULO ORIGINAL: The Boys are

Kiarostami; COM: Juliette

Cholodenko; COM: Julianne

TÍTULO ORIGINAL: Fair Game;

Back; Realização: Scott Hicks;

Binoche, William Shimell,

Moore, Annette Bening, Mark

Realização: Doug Liman; COM:

COM: Clive Owen, Emma

Jean-Claude Carrière, Agathe

Ruffalo, Mia Wasikowska, Josh

Naomi Watts, Sean Penn,

Booth, Laura Fraser, George

Natanson; tália/França/Bélgica,

Hutcherson; EUA, 106m, Cor,

Michael Kelly, Sam Shepard;

MacKay, Nicholas McAnulty;

106m, Cor, 2010;

2010; EDIÇÃO: Castelo Lopes

EUA, 108m, cor, 2010; EDIÇÃO:

Austrália/GB, 104m, cor, 2009;

EDIÇÃO: Atalanta Filmes.

Multimédia

Zon Lusomundo

EDIÇÃO: Zon Lusomundo

68

TempoLivre

| MAIO 2011


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Boavida|Grande Ecrã

O que valerá a pena O regresso do mais impressivo dos cineastas norte-americanos, Terrence Malick, o último Oliveira e um interessante (e oportuno, q.b.) drama centrado nos perigos que espreitam os jovens na internet, são alguns dos acontecimentos este mês nas salas a merecerem as atenções devidas.

Joaquim Diabinho

astaria recordar "Badlands"/ "Noivos Sangrentos (1973), "Days of Heaven" (1978) e esse monumento épico que é "The Thin Red Line"(1998) para ficarmos eternamente gratos a Terrence Malick. Mas há ainda o seu estilo narrativo directo, a sua extraordinária intensidade visual (e sonora), a riqueza expressiva da natureza e o sentido espantoso da paisagem, para o colocarmos entre os grandes nomes do cinema, a par com Murnau, por exemplo, de quem se confessa fortemente influenciado. Reflexão fantástica sobre a procura do sentido da vida "notas de produção" dixit- ,"The Tree of Life" ("A Árvore da Vida"), é a história de uma família estadounidense na década de 50, que trata da perda da inocência de três irmãos e da transformação de um deles num adulto desiludido que deseja a reconciliação familiar. A avaliar pelo "trailer, "The Tree of Life" -cuja estreia mundial está agendada para depois do Festival de Cannes-, é outro dos momentos máximos de Terrence Malick. Com Brad Pitt e Sean Penn.

B

"O Estranho Caso de Angélica"

"A Árvore da Vida"

Provavelmente, o maior elogio que se pode fazer a a Manoel de Oliveira é o de, não obstante os seus cento e dois anos de idade, manter bem vivas as suas grandes capacidades criativas e o seu inesgotável talento. Se a isto acrescentarmos a calorosa recepção em Cannes o ano passado e a invulgar atenção que a crítica, particularmente a novaiorquina, dispensou ao grande cineasta então devemos considerar "O Estranho Caso de Angélica" (uma fábula fantástica sobre o amor em 97 minutos, provavelmente já em cartaz lisboeta) mais uma prova, rara e assaz incomum, do seu potencial de renovação e rejuvenescimento. Dito de outra maneira: o último dos cineastas que se iniciaram no período do cinema mudo está vivo, e bem vivo, não se deixou abater pela crise e recomenda-se. Como é bem sabido, a net pode ser uma caixa de pandora para adolescentes desprevenidos que se sentem curiosos ou estimulados para a "descoberta" de novos relacionamentos em portais de amizade. O que "Trust" ("Confiança"), do estreante David Schwimmer, nos vem dizer, com a indispensável sobrecarga moralizante, é que o jogo entre a "realidade" e as "aparências" pode degenerar num pesadelo de consequências dramáticas, como ocorre com Annie, jovem de 14 anos que julga ter conhecido um rapaz encantador e acaba envolvida com um adulto perverso. n MAIO 2011 |

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Boavida|Tempo Informático

Férias a poupar Sendo que Poupar é a palavra de ordem nos tempos que vão correndo, os nossos leitores dispõem felizmente das magníficas instalações da Fundação Inatel para gozar plenamente as suas férias. Em termos de Informática, nota-se curiosamente uma significativa baixa de preços. Desde quando é que se tinha um portátil por 199 Euros? Pois existem. Encontra nas grandes superfícies, agregado a pacotes de ligação à Net. Gil Montalverne

ajuda@gil.com.pt

as poupar por exemplo em energia é o que acontece quando se consegue uma câmara fotográfica digital com a possibilidade de obter 1000 fotografias com uma única carga de bateria. E isso acontece com a nova Casio Exilim EXH30, dispondo de um óptimo processador de imagem, um novo CCD com uma resolução de 16 megapixéis e um sistema óptico com estabilizador de imagem mecânico que oferece uma super-grande angular de 24mm com um factor de multiplicação de 12,5X: o equivalente a uma poderosa objectiva zoom de 24-300 mm. Dispõe assim de mil imagens para as suas férias sem ter de sem ter de pensar em baterias, pilhas ou carregadores. Uma câmara quase semiprofissional apenas por 199 €. Mas ainda poupa mais energia ao activar o botão Eco que para além de o fazer em outras funções reduz a iluminação do LCD a cores. E por falar em férias, agora que os iPad substituem em muitas circunstâncias um computador portátil, é preciso assegurar que nunca lhe falta energia. E em vez de gastá-la em casa, utiliza a bateria do carro. É isso mesmo que a Hama garante com o seu carregador de automóvel para iPad, com ligação ao isqueiro do carro. A ficha Apple de 30 pinos funciona igualmente com dispositivos iPod e iPhone. Está já disponível em Portugal com um preço aproximado de 24,99 €.

M

que quem não quiser prescindir de uma boa qualidade sonora quando se desloca para É EVIDENTE

70

TempoLivre

| MAIO 2011

qualquer local no exterior de sua casa terá que pagar um pouco mais do que gastaria com uma simples colunas que já temos aqui destacado. A TDK lançou o SoundCube que é de facto a música elevada ao cubo. Com 25 cm de aresta, este cubo com uma alça superior é transportável, trabalha com pilhas ou ligado à corrente, mas destaca-se por proporcionar um som multidimensional, uma vez que incorpora duas potentes colunas de 6,5 " e dois radiadores passivos, um em cada lado, oferecendo potência total de 20 watts com um som que se expande em 360 graus. Para além de entradas de fichas de 3,5mm e USB, para dispositivos reprodutores analógicos ou digitais, desde microfone ou instrumento musical a uma pen, smartphone, iPod ou iPhone, etc. Possui um sintonizador digital FM com capacidade de armazenar 5 estações e um regulador de graves e agudos. Um cubo em férias por 299 €. à tendência para poupar, lembremos que os pacotes de Antirus e outros de segurança mais completa, permitem desde há algum tempo, pelo mesmo preço oferecer a instalação em 3 PCs. E nunca é demais falar em segurança se dissermos que, infelizmente, até aproveitando a catástrofe que se abateu sobre o Japão, levou já à criação de 1,7 milhões de páginas fraudulentas com esquemas online e o registo de mais de 50 domínios falsos para conseguir dados de pessoas dispostas a fazer donativos às vítimas do terramoto. Para estar seguro pode gastar apenas cerca de 40 Euros com um pacote antivírus ou cerca de 90 se quiser uma protecção completa, por ex.com o Norton 360 na sua última versão. n VOLTANDO


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Boavida|Saúde

Quando a noite é interrompida Muitas pessoas referem com sinais de incomodidade que se levantam frequentemente de noite para urinar. Este aumento da frequência e da quantidade de urina libertada durante a noite, independentemente da sua causa, chama-se noctúria.

M. Augusta Drago

medicofamília@clix.pt

sta micção nocturna excessiva pode ter a sua origem em diversas causas, tais como a ingestão abundante de líquidos do dia anterior e, nesse caso, não é necessário pesquisar outra causa. Caso contrário, deve consultar o seu médico assistente. A noctúria, para além de ser incómoda, acarreta riscos para os doentes mais idosos, pois é apontada como uma das principais causas de quedas, das quais resulta, com frequência, fractura do colo do fémur. A origem da noctúria pode ser diversa. Num doente jovem, pode ser o primeiro sinal de doença do foro urológico. Num homem com mais de 45 anos, pode ser uma consequência do aumento da próstata, que é natural nos homens a partir da meia-idade, mas também se pode dever a outras patologias pré-existentes. Sempre que uma pessoa tenha de se levantar mais de duas vezes durante a noite para urinar, deve procurar o médico para esclarecer essa situação. Antes, porém, deve tentar perceber, porque é importante esclarecer o médico, se acorda porque tem urgência em urinar ou se simplesmente acorda e, já agora, aproveita também para urinar. Estas duas situações são completamente diferentes e devem ser bem esclarecidas, porque têm orientações terapêuticas distintas. O doente pode acordar a meio da noite e, porque está acordado, aproveita para urinar. Neste caso estamos perante um problema que tem a ver com um ritual ou mesmo com uma perturbação do sono, muitas vezes associada a estados depressivos. Outra situação distinta desta é quando o doente acorda com uma vontade imperiosa de urinar. Aqui, podemos estar perante um doente com insuficiência renal ou cardíaca. Nestes doentes acontece que, durante o dia, retêm líquidos no organismo, porque o coração ou os rins não cumprem completamente as suas funções. Esses líquidos acabam por ser libertados durante a noite. A noctúria também está presente nos

E

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| MAIO 2011

doentes com apneia obstrutiva do sono – o que quer dizer doentes que ressonam e que fazem paragens respiratórias durante o sono –, bem como nos diabéticos – porque estes têm dificuldade nos mecanismos de concentração da urina – e nos portadores de infecções nas vias urinárias – porque a infecção provoca sintomas irritativos locais que estimulam a micção. Outras causas não menos frequentes são a ingestão de líquidos, perturbações do foro neurológico e a toma de alguns medicamentos, tais como os diuréticos. As causas são tão diversas que o tratamento também tem de ser diferente, razão porque é muito importante fornecer toda informação possível ao médico para que este estabeleça um diagnóstico preciso. Um tratamento correcto pode trazer uma qualidade de vida muito melhor aos doentes. Ficam algumas recomendações que podem contribuir para o tratamento da noctúria: reeducação da bexiga e dos músculos da pélvis com exercícios muito simples que o seu médico lhe pode ensinar, ingerir líquidos da parte da manhã, alteração da terapêutica ou dos seus horários, por exemplo: tomar o diurético sempre de manhã. Para os doentes que retêm líquidos, isto é, incham durante o dia, o uso de meias de compressão pode estar indicado. n

ANDRÉ LETRIA


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Boavida|Palavras da Lei

Determinação de horário de Porteiro ?

Habito num prédio com mais de quarenta condóminos e que tem, desde a sua construção, porteira. Quando

adquiri a fracção na qual habito, o horário da porteira era dividido pelos seis dias da semana (2ª feira a sábado). Acontece que, há já algum tempo, fui confrontado com o facto do horário da porteira passar a ser divido por cinco dias da semana (2ª feira a 6ª feira) por decisão unilateral do condómino que na altura exercia a função de Administrador, e sem que a Assembleia de Condóminos tenha sido consultada. Interrogado por mim sobre o assunto obtive como resposta que “o horário da porteira era de 40 horas semanais”! Logo, coloco as seguintes questões: Quem determina o número de horas semanais da porteira? Podem as mesmas serem alteradas por decisão unilateral do Administrador? Sócio devidamente identificado – Lisboa

Pedro Baptista-Bastos

s direitos e deveres de cada porteiro são fixados por via regulamentar, autorizada pela Câmara Municipal da área onde o imóvel está situado. Logo, o prédio deve dispor de um Regulamento de Porteiro, que tem que ser anexado e integrar o título constitutivo do imóvel. Se não tiverem esse Regulamento anexo ao título constitutivo, vigorará o Regulamento Geral da área onde o imóvel se situa, ao caso, o Regulamento dos Porteiros de Lisboa, aprovado pela Assembleia Municipal de Lisboa na sessão de 20.7.1989, e publicado no Diário Municipal, n.º 15701, de 29.8.1989. Será com base neste Regulamento que começaremos por dar os primeiros passos na nossa resposta. Neste Regulamento estão contidas as Bases, isto é, as normas legais para a prestação de trabalho de um Porteiro; na Base V encontramos a determinação legal do Horário de Trabalho do Porteiro, nomeadamente no seu nº1: “O período normal de trabalho para os profissionais abrangidos por esta portaria terá a duração máxima de quarenta e cinco horas semanais, repartidas obrigatoriamente entre as 8 e as 20 horas de segunda-feira, a sexta-feira, com intervalo mínimo de uma hora para almoço, e entre as 8 e as 13 horas de Sábado”.

O

Ora, o Administrador retirou um dia de trabalho à Porteira, ao caso de Sábado, por decisão unilateral, e sem consulta da Assembleia de Condóminos. Dentro deste mesmo Regulamento, estipula o n.º 6 da Base XVII que: “O disposto na presente portaria, relativamente aos condicionamentos da prestação de trabalho a tempo inteiro ou a tempo parcial, poderá ser alterado por acordo escrito entre as partes.” Significa isto que, para ter havido essa diminuição do horário de trabalho, tem que haver um acordo escrito prévio entre o porteiro e o órgão que disponha de competência legal para a celebração e alteração de contratos. Ora, a não ser que a Assembleia de Condóminos tenha atribuído ao Administrador a função de alterar o contrato de trabalho do Porteiro, em nenhuma alínea do artigo 1436º do Código Civil, que determina as Funções do Administrador, pode ele, unilateralmente, efectuar esse acto. Portanto, para que tenha havido essa alteração, são necessários dois pressupostos: 1- Autorização da Assembleia; 2 – Acordo escrito entre as partes. Se ambos faltarem, a decisão é nula, e deve o sócio comunicar esse facto na próxima Assembleia de Condóminos. n MAIO 2011 |

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ClubeTempoLivre > Passatempos Palavras Cruzadas | por José Lattas

VERTICAIS: 1-Fruto da tamareira; Penacho. 2-Cachucho; Tenta.

3-Aproveita; Activo. 4-Zomba; Caridosa; Prata (s.q.). 5Escavaras; Produzido. 6-Abundância; Filmes; Textualmente. 7Túlio (s.q.); Vaso bojudo de gargalo estreito, próprio para operações químicas; Voz designativa de repugnância. 8Mandríice; Elemento de composição de palavras, que exprime a ideia de "nariz". 9-Nota musical; Abastardara; Nota musical. 10-Data; Embriagada; Acordo. 11-Brechas; Brinco. 12-Grito de dor; Vede; Ambiente. 13-Estaca; Dólmen. 14-Fruto; Limo. 15Abonares; Gritaram.

2

3

4

5

6

7

8

9 10 11 12 13 14 15

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 SOLUÇÕES (horizontais):1-TU; MORTÍFERO; UF. 2-A; F; COM; ARA; E; I. 3-MARRAR; C; ACAMPA. 4-ANUIR; VER; HIPER. 5-REI; AFERIRA; ARE. 6AL; PSITACOSE; AS. 7-LI; TO; II; IO. 8-CO; AGARRADAS; AM. 9RUA; ESTIRAR; ALI. 10-ISCAR; ANA; GANGA. 11-SARGAS; O; PORTAR. 12-T; E; DIU; SAL; A; A. 13-AO; DOCILIZAR; EM.

1-Pronome pessoal; Letal; Interjeição designativa de alívio. 2-Preposição; Altar. 3-Chocar; Permanece em sítio despovoado. 4-Aceitar; Conceito (invertido); Elemento de composição de palavras, que expressa a ideia de superioridade. 5-Majestade; Regulara; Unidade de medida agrária. 6-Alumínio (s.q.); Doença infecciosa característica dos papagaios; Marca correspondente a um ponto nos jogos de cartas. 7-Tomei conhecimento de coisa escrita; Cevado; Dois, em romano; Amada de Zeus, que a transformou em vitela para a livrar da fúria de Hera. 8-Cobalto (s.q.); Avaras; Antes do meio dia (abreviatura usada em astronomia). 9-Artéria; Dilatar; Lá. 10-Engodar; Nome feminino; Tecido de algodão, bastante usado em fardas. 11-Variedade de uva (pl.); Surgir. 12-Antiga possessão portuguesa, na Índia; Chiste. 13-Adjunção de preposição e artigo; Tornar dócil; Preposição. HORIZONTAIS:

1

Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos

N.º 26 Preencha a grelha com os algarismos de 1 a 9 sem que nenhum deles se repita em cada linha, coluna ou quadrado

N.º 26

74

TempoLivre

| MAIO 2011

SOLUÇÕES


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ClubeTempoLivre > Novos livros

ÂNCORA EDITORA NAS MARGENS DA

chegada de um novo

A obra, lançada em 1809,

viver no

elemento da família irá

acompanha o pensamento

apartamento,

mudar a sua atitude?

do autor e a sua vasta

mas o que

experiência no hospício de

irão encontrar

Salpêtrière.

é uma

MEDICINA Álvaro Carvalho Os apaixonados por séries

JOÃO PASTEL: O MONSTRO

como "Dr. House" ou

Michael Broad

realidade

FUTEBOLISTA

EDITORIAL PRESENÇA

bem mais obscura… Uma deliciosa história sobre laços

"Anatomia de

Três incríveis

Grey" podem

histórias

TROPA DE ELITE 2

desvendar os

vividas por

Cláudio Ferraz, Luiz Eduardo

bastidores da

João Pastel com divertidos

Soares e André Batista Articulando factos reais e

COMO FUNCIONA O

Medicina portuguesa,

comentários

ficção, a obra com

Christiane Dorion

através de episódios e casos insólitos

no inseparável bloco de

características de thriller,

notas.

retrata a violência urbana no

que o autor relata de forma

UMA HISTÓRIA MESMO

bastidores

curiosa.

BESTIAL: A BATALHA DOS

das milícias,

MORTOS-VIVOS

reforçando a

David Sinden, Guy

esperança na

Macdonald e Matthew

política e na polícia.

VEGETARIANA PARA BEBÉS

Morgan Na sequência de estranhos

E CRIANÇAS

acontecimentos, o pequeno

ALIMENTAÇÃO

MUNDO

Brasil e o funcionamento e

vividos no meio hospitalar

ARTE PLURAL EDIÇÕES.

de amor e amizade.

Um guia prático para explorar de forma divertida o

ÁGUA, PEDRA, CORAÇÃO

nosso planeta. Inclui pop-ups

Gabriela Oliveira Conheça as vantagens dos

lobisomem

Will North Quando a esposa de Andrew,

surpreendentes que ajudam

Ulf é

alimentos de origem vegetal

chamado ao

arquitecto e professor em

mundo.

e como

castelo. Uma

Pensilvânia, o

substituir a

cilada do

abandona

FOLHETO EDIÇÕES &

carne e o

barão

este para

DESIGN

peixe

Marackai e

fugir à

através de

dos mortos-vivos aguardam-

tristeza,

UM NEURÓNIO CURIOSO

uma

no. Conseguirá Ulf resolver o

decide

alimentação

mistério?

Armando Castro Através das vivências

participar num curso na Cornualha. Ali irá conhecer

natural, rica e equilibrada. Inclui mais de 80 receitas

Nicola, uma artista plástica

COLIBRI

divorciada. As afinidade

adequadas a bebés a partir dos 4 meses.

TRATADO MÉDICO-

entre ambos cedo

FILOSÓFICO SOBRE A

transformam o encontro em

BOOKSMILE

ALIENAÇÃO MENTAL

algo especial. Conseguirão dar o passo seguinte…

O DIÁRIO DE UM BANANA

Philippe Pinel Dedicado às doenças

4: UM DIA DE CÃO

mentais, o autor apresenta

UMA INQUIETANTE

propostas

SIMETRIA

partilhadas pelo "Avô-Escola",

De férias em

terapêuticas

um género de "avô

casa, Greg

para curar a

Audrey Niffenegger As gémeas Júlia e Valentina

troca o lazer ao

loucura e

herdam da tia Elspeth um

despertar na criança o gosto

ar livre por

integrar os

apartamento em Londres.

pela leitura e a natural

videojogos.

doentes na

Para conhecer melhor a

curiosidade sobre o que a

Será que a

vida social.

história da família decidem

rodeia.

Jeff Kinney

76

TempoLivre

a conhecer as maravilhas do

| MAIO 2011

imaginário", o livro procura


76e77_NL:sumario 154_novo.qxd 20-04-2011 17:39 Page 77

barão da droga

do inconsciente,

sentido para a vida e, entre

que desperta

este guia

tropelias e aventuras, acaba

INATEL 75 ANOS: DAS

nele

aprofunda os

por encontrar-se a si própria.

COLÓNIAS DE FÉRIAS DA

sentimentos

vários

As experiências são lições de

FNAT À REDE HOTELEIRA

únicos. Dividido

significados dos

vida para voar mais alto!

DO SÉC.XX

entre as paixões de vampiro

sonhos e permite através de

Mª Fernanda Rollo, Ana

e o amor avassalador pela

uma técnica específica fazer

Paula Pires, Paulo Lopes,

jovem, Lestat encontra

interpretação personalizada

Lígia

Memnoch. Um temível e

de cada sonhos.

A PRINCESA GUERREIRA

Reyes, Ana

demoníaco adversário que o

Bilé Lopes A obra

obriga a escolher entre os

PAULUS EDITORA

Barbara Erskine Jess foi agredida em

assinala os

Demónio.

FUNDAÇÃO INATEL

reinos de Deus e do

75 anos de actividade da

PLANETA

Londres. Assombrada pelo YOUCAT - Catecismo Jovem

medo refugia-se na casa

da Igreja Católica

isolada da irmã, na fronteira

Fundação INATEL na área da

TRATADO DAS FADAS

Cardeal Christoph

do País de

ocupação dos tempos livres

Ismaël Mérindol e Édouard Brasey (org.) Escrito e organizado sob a

Schönborn (org.) Um Catecismo

Gales, mas o

e percorre, com referências históricas e magníficas

choro de

concebido a

uma

imagens, a oferta hoteleira

tradição dos

pensar nos

misteriosa

da INATEL composta por 18

grimórios do

jovens com

criança

unidades hoteleiras, três

século XV, o

textos e imagens

parques de campismo e dois

livro apresenta

adequadas ao tempo

seu silêncio. Ali perto, dois

balneários termais.

o percurso

presente. A versão em

mil anos antes, foi capturado

iniciático pelo

português integra posfácio

o rei Caratacus e levado para

de D. José Policarpo.

Roma com a mulher e filha,

EUROPA-AMÉRICA

mundo maravilhoso das

interrompe o

a princesa Eigon. Para

fadas, onde pluma, fadas, A PAIXÃO DE JANE EYRE

ninfas, elfos, gnomos e

MEDITAÇÕES COM O BEATO

desvendar o mistério, Jess,

Charlote Bronte Publicado em 1847 a história

outras criaturas do Pequeno

JOÃO PAULO II

arrisca proximidade com o

Povo ganham vida.

Monsenhor Francesco Follo Para

agressor.

cedo cativou o público e

AS REGRAS DO MÉTODO

conhecer

HOTEL LUSITANO

dividiu a

SOCIOLÓGICO

Karol

Rui Zink "Imagine-se Portugal visitado

órfã que vive

Émile Durkheim Uma obra que ajuda a

Wojty?a, o autor

por marcianos. Que

com a tia e

consolidar os fundamentos

apresenta

pensariam

da Sociologia, editada pela

várias

eles de nós,

critica. Uma

primos é colocada num asilo. Ali começa a desenvolver um

Revista de

meditações que ajudam a

disto, que já

espírito independente e de

Filosofia em

interiorizar a mensagem de

no século

autocontrolo. Uma

1894. Inclui

João Paulo II e a sua profunda

passado Eça

aprendizagem que a leva a

pequenas

relação com N. Senhora.

definia como

mudar de identidade, a

variantes e

repudiar noivos, a ser auto-

alterações

não sendo

PERGAMINHO

um país, mas "um sítio, aliás

suficiente e a encontrar

feitas pelo autor no que toca

alguém semelhante ao seu

ao conteúdo sociológico,

ZZZER OU NÃO ZZZER

Vinte e cinco anos após a

nível intelectual e sexual.

filosófico, político e

John Penberthy Uma jovem

primeira edição, apenas a

epistemológico. MEMNOCH, O DEMÓNIO Anne Rice Em Nova Iorque Lestat procura Dora, a filha de um

muito mal frequentado"?"

citação de Eça envelheceu, o

abelha

romance retrata-nos por

VISÃO DOS SONHOS

insatisfeita com

inteiro… continuamos em

Dr. Michael Lennox Para desvendar os mistérios

a vida parte em

casa, ao espelho!

busca de um

Glória Lambelho MAIO 2011 |

TempoLivre 77


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ClubeTempoLivre > Cartaz

Deus na Igreja Matriz do

Iniciação à Pintura, a realizar

António das Areias; dia 14 às

Rabaçal; dia 28 às 21h30 -

aos sábados na Agência

10h - Troféu em Alvarrões; dia

Encontro de Bandas em

Inatel.

28 às 10h - Troféu em São Vicente e Ventosa (junto ao

Carvalhais, Orfeão da Praia

AÇORES

Multi-usos).

(Cabo Verde) e Gr. de

Pesca de Rio

Cantares de Condeixa no

Dia 8 - prova na Pista de V.N.

Auditório B.V. de Condeixa e

de Anços; dia 29 - prova na

Btt

Concerto Prestígio (30º Aniv.

Pista de Pesca do Choupal.

Dia 7 - 10ª Maratona BTT

Ilha de S. Miguel

do Coro de Prof. de Coimbra)

Cerimónia de

no Pavilhão Centro de

Atletismo

Mamede, apoio Ases do

encerramento dos cursos

Portugal; dia 29 às 16h - XIV

Dias 8 e 9 - torneio de Pista

Pedal; dia 21 às 10h - 15º

de Oficinas dos Tempos

Encontro de Bandas em Ceira

em Luso; dia 28 - prova Pista

Circuito Inatel, apoio CCDR

Livres: dia 4 de Junho às

e, pelas 21h30, Orfeão da

no Estádio de Coimbra

de Alvarrões; dia 29 às 10h -

17h no Hotel Avenida em

Praia (Cabo Verde) e Choral

Ponta Delgada, ilha de S.

Poliphonico no Inst. da

Miguel.

Juventude em Coimbra.

Exposição de trabalhos de

SportZone na Serra de São

15º circuito Inatel, apoio

ÉVORA

Centro Vicentino da Serra de Portalegre.

Musica

Pintura, Arte Décor e

Folclore

Dias 8 e 9 - Master Class em

Beleza&Valorização

Dia 8 - Cantares Tradicionais

Clarinete | Saxofone na Soc.

Pessoal, com entrega de

em Vila Seca; dia 20 às 21h30 -

"Carlista" em Montemor-o-

Exposição

certificados aos 25

Aniv. do Gr. Cordas e Cantares

Novo; dia 28 às 16h - 2º Aniv.

Até ao dia 29 - Pintura a Óleo

participantes dos cursos

de Coimbra no Teatro da

da URCI em Igrejinha.

"Património e Tradição de

ministrados por Armando

Cerca em Coimbra; dia 14 às

Moreira, Inês Ribeiro e

21h30 - Dança Moderna no

Workshop

Eleni Kouris.

Gimnodesportivo de Côja; dias

Dias 14,15,28 e 29 -

21 e 22 - Danças na minha

"Formação de Actores" na

Teatro

Aldeia em Murtede; dia 22 às

Soc.União Alcaçovense em

Dia 7 às 21h30 - "Casa de

15h - Festival Infantil em

Alcáçovas.

Fantasmas" pelo CCD da Casa

BEJA

VIANA DO CASTELO

Ponte de Lima", de Dantas, na

Pereiros; dia 28 às 9h30 - 15ª

Agência Inatel.

do Povo de Freixo no salão

Musica

Reconstituição das Maias,

Tiro ao Alvo

paroquial de Chafé; dia 8 às

Dia 7 às 17h - Filarmonia em

Doces e Cantares em Coimbra

Dia 21 às 9h - Distrital no

15h - "Casa de Fantasmas" pelo

Português na Ovibeja, no

(junto ao Arco de Almedina) e,

Clube de Futebol Eborense,

CCD Casa do Povo de Freixo

parque de exposições de

pelas 21h30, Folclore em Cova

em Évora

na Jta. de Freg. de Estorãos.

Beja; até 13 de Junho -

do Ouro e Taveiro; dias 28 e 29

Primavera Musical da Soc.

- Festival em Cantanhede; dia

FARO

Cinema

Musical de Instrução e

29 - Festival em Seixo e Ançã.

Recreio Aljustrelense em Aljustrel.

COIMBRA

dia 7 às 21h30 - "Os FuraBandas

Casamentos" no C.Cultural de

Teatro

Dias 7 a 29 - Festival de

Vila Praia de Âncora; dia 27

Dia 7 às 21h30 - "A

Bandas Civis no C. Cultural

às 21h30 - "Regresso em

bisbilhoteira" pelo Gr. de

de Lagos

Grande Estilo" no salão paroquial de Perre

Teatro de S. Frutuoso em S. Música

Frutuoso; dia 14 às 21h30 - "A

Curso

Dia 14 às 21h - Coral de

porta falsa" pela Troupe Recr.

Pintura e Bordados na

Viatodos e Choral Poliphonico

Brenhense em Sobral de

Agência Inatel.

na Igreja de Sto António dos

Ceira; dia 21 às 21h30 -"A

Olivais; dia 15 às 15h -

Farsa de Inês Pereira" pelo

Festival de Bandas em

Trai-La-Ró em S. Julião.

Abrunheira; dia 21 às 21h -

VISEU Evento

PORTALEGRE

Dia 15 às 10h - luta de Bois, desfile etnográfico e, pelas

Malha

15h, festival de folclore em

Choral Poliphonico de

Curso

Dia 7 às 10h - Troféu no

Gralheira, Cinfães, org. Gr.

Coimbra e de João Rodrigues

Abertas inscrições para

Campo de Jogos em Sto

Etnográfico da Gralheira.

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O Tempo e as palavras M a r i a A l i c e Vi l a Fa b i ã o

Da felicidade ao consumismo Caminhamos de mão dada pelo supermercado / entre filas de cereais e detergentes / Avançamos de estante em estante / até chegarmos às latas de conservas / Examinamos o novo produto / anunciado na televisão / Subitamente, olhamo-nos nos olhos / e sumimo-nos um no outro. / E consumimo-nos. // Óscar Hahn, "Sociedad de Consumo", in: Virá o amor e terá os teus olhos, Librosdementira, Chile, 2009

T

em a voz suave, repousante, sabiamente modulada entre o quanto baste de luminosidade dos sons abertos e a macieza aveludada dos sons mais graves. Após o pedido de confirmação do número do telefone passa ao pedido de confirmação da identidade da interlocutora. A seriedade da insistência perante a recusa de prestação de informações cria um suspense intolerável. Num horizonte nebuloso, perpassa a suspeita de uma questão de vida ou de morte. Impossível desligar agora. Com a prudente segurança com que um gato avança pelo parapeito estreitinho do terraço de um vigésimo andar, o interrogatório avança, ondulando entre assuntos de gravidade vital. Família? Doenças respiratórias na família? Alergias? (Esforço-me por reter o quinto espirro dos últimos cinco minutos.) O ar ambiente? (Registo uma ligeira perda de neutralidade no tom da voz.) Não gostaria de…? (A voz sorri agora abertamente.) Não! informo, finalmente, aliviada por me ter libertado daquele quase transe hipnóide em que uma vulgar técnica de marquetingue bem usada quase me fizera mergulhar Não! A minha felicidade não está na aquisição de um purificador de ar para me purificar o ar lavado do mar, que entra livremente pelas janelas abertas, nem de um filtro purificar da água que o laboratório garante estar bacteriologicamente pura! Sei que os vizinhos estão felizes, mas… O pensamento catapulta-me para o tempo em que os filósofos gregos se debruçavam sobre um conceito de felicidade a eudaimonía = felicidade, prazer, de Platão, e o bem supremo do Homem, segundo Aristóteles, atingível apenas através da procura da justiça e da filosofia. A ânsia de felicidade é, sem dúvida, uma das molas propulsoras da evolução do Homem. Em 2002, o economista Richard Layard define felicidade como uma simples sensação de bem-estar, de apreço pela vida (afectiva, cogniti-

va, etc.). Todavia, um dos elementos desse bem-estar é, para o Homem actual, além da saúde e do prazer, a gratificação dos desejos, dos apetites entre os quais o da posse. Na moderna sociedade de mercado, o produtor/fornecedor de bens explora essa fragilidade do consumidor, para, fazendo uso de sofisticados processos de psicanálise de massas, com ele estabelecer uma perversa relação de manipulador/manipulado, e, mediante um processo de imbecilização e de lavagem ao cérebro, através de imagens na TV, de slogans, de utilização de figuras públicas transformadas em paradigmas do que quer que seja, a troco de montantes com um absurdo número de zeros, lhes venderem (nos venderem!), como necessidades absolutas, ideias, atitudes, candidatos, objectivos, e até estados de espírito felicidade ou infelicidade. E, claro, para promoverem o consumismo, sem o qual talvez o "Senhor Efemi", a quem a bisavó do Zézinho imagina vestido de encarnado, com longos bigodes à Estaline e igual má fama, não viesse cá passar férias de trabalho. Para o efeito, fazem analisar por especialistas as razões ocultas dos nossos comportamentos, de molde a, na posse desse conhecimento, poderem influenciar as nossas opções e os nossos hábitos em seu benefício. Nada mais elucidativo dessas técnicas do que a exposição dos produtos num supermercado, cujas prateleiras abarrotam de coisas inúteis, ou, pelo menos, dispensáveis, que o consumidor é subtilmente persuadido a não poder dispensar. Nada ali é deixado ao acaso pelos vendedores: a cor das caixas de cereais, o local de cada uma nas prateleiras, o ângulo de incidência das luzes sobre os produtos: todos os pequenos pormenores funcionam como outros tanto persuasores ocultos a manipularem o consumidor, impondo-lhe como imprescindível para a sua momentânea felicidade eterna algo de que jamais sentira falta, como, por exemplo, um purificador de ar à beira-mar, ou de água bacteriologicamente pura. n

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Os contos do

Café quente

À

terceira volta em redor do quarteirão, Gabriel passou da impaciência à angústia: “Bolas, devia ter vindo de táxi, de autocarro, no metro, talvez a pé.” Os carros formavam um colar de lata policromo sufocando os prédios e atingiam o reforço de segunda fila na rua da pastelaria indicada por Diana para que tomassem um café. Pequeno mas enorme passo, o reencontro para um café! Abençoou o costume português do cafezinho como pretexto ou ponto de partida para conversas úteis ou de afectos. E quando Diana disse: “bem, vamos tomar um café”, ouviu as palavras como uma promessa – mais, como uma certeza de que tudo voltaria a ser como dantes. Cinco minutos para as três. Saíra do extremo da cidade com prudente antecedência para não se enervar nos estorvos do trânsito. E agora aquilo: um sem de carros inertes e colados, sem a esmola de uns metros para sossegar o dele. Prosseguiu em marcha lenta pelas ruas próximas mas cada vez mais distante – e nada. Nem ali existia um parque de estacionamento subterrâneo, desses que habitualmente evitava pela carestia mas, na circunstância, lhe surgiria como uma dávida divina. Impiedoso, o relógio informou-o de que o tempo galgava dez minutos para além do risco marcado das três da tarde. Imaginou que, nesse momento, Diana olharia também o relógio e havia de franzir o nariz em sinal de enfado pelo atraso dele. Não tardaria a cansar-se de esperar e partiria, quem sabe se definitivamente. Tomar um café tinha sido a concessão dificilmente arrancada, depois de tantas tentativas para que ela ouvisse os seus pedidos de perdão. Reconhecia-se culpado de cair em tentação pela carne morena de uma recepcionista de hotel. Loucura de uma noite em que se conheceram numa festa de amigos comuns. Ela vestia, meio despida, uma blusa de seda preta que des80

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nudava os ombros perfeitos e entremostrava, pela amplidão do decote, os seios rijos e libertos do sutiã. - Como se chama? – perguntou Gabriel, à falta de pretexto mais imaginativo para meterem conversa. - Dora. E você? - Gabriel. Nem se lembrava a que propósito, mas Dora começou a falar do aquário grande que acabava de comprar e dos peixinhos coloridos e irrequietos nadando precisamente no quarto dela. Excitado, Gabriel mostrou uma curiosidade sôfrega em ver os peixinhos e foi assim que ao princípio da madrugada apreciaram as graças do aquário e não desprezaram a cama que desafiava ao lado. Uma única noite, caramba! Mas Diana soubera, as mulheres sabem até o que não acontece, quanto mais o que na realidade sucedeu. A ruptura foi áspera e sem sinal de recuo possível. A cada esforço de aproximação, ela desligava o telefone, sem uma palavra. Até que disse:”Bem, vamos tomar o café.” Nesse instante Gabriel exultou como quem vê reabrir a porta da felicidade. Nem pensou, então, que o aguardava o desespero de falhar o reencontro pela mísera razão de inexistir um sítio em que se livrasse do carro. Tentativas para comunicar o transtorno fracassaram, Diana não atendeu o telemóvel. Nada de significativo. Ela nunca ouvia a musiquinha do aparelho quando o guardava no fundo do saco de couro, misturado com agendas, carteira, chaves, estojo de maquilhagem, papéis, habitualmente um livro. Bom seria se estivesse distraída, a ler, sem medir a demora dele. Bah, não teria tão grande sorte. E por que razão não ligava ela, a pedir uma explicação para tão inexplicável demora? Orgulho de mulher magoada. O rompimento fora agreste e Diana não cederia mais que a generosidade desse café prometedor de reconciliação. ANDRÉ LETRIA


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Hurrah! Cinquenta metros á frente um carro alumia o” pisca” em aviso de que vai sair. Recuperada a esperança, Gabriel avança. Não tarda, porém, a soltar um palavrão furioso. A mocinha loura que o precedia ao volante de um jipe antecipa-se na conquista do espaço. Três e meia. Gabriel é um homem desanimado e já nem se dá por feliz quando finalmente, se abre um parêntese na fileira de carros parados.

Ao contrário, pragueja ainda quando encosta a viatura ao passeio tanto tempo inacessível. Demasiado tempo. Onde é a pastelaria? Ainda longe, à distância de dois quarteirões. Diz a si próprio que a esperança deve ser a última coisa a morrer e dispara em correria desabalada, aqui e ali aos encontrões com transeuntes que protestam, indignados. Avista a fachada de vidro da Pastelaria Regozijo e acelera, ainda mais. Entra, ofegante. Deixa correr os olhos pela sala numa última esperança de avistar Diana. Talvez ali, atrás daquele grupo de mulheres que enchem o ar de vozearia e de risadas. Não, aí não. Percorre o estabelecimento, investigando as mesas ocultas pelas colunas. Nada. Diana não perdoou e partiu, decerto arrependida da sugestão conciliadora: ”Bem, vamos tomar um café.” Deixa-se cair numa cadeira, exausto, desditoso como o náufrago que morre afogado á beirinha da praia. Puxa um cigarro que acende com a mão trémula e o empregado acerca-se: - Desculpe, não pode fumar aqui. Apaga o cigarro, irritado, monologando: - Que dia desgraçado! O empregado permanece perfilado na sua frente, à espera de ordens: - Que vai tomar? - Não quero nada. - Nada? - Absolutamente nada. O que lhe apetece é apenas chorar e, de cotovelos no tampo da mesa, suporta a cabeça entre as mãos abertas como que a esconder a profunda tristeza. Estremece quando lhe chega uma voz, murmurada e doce, chamando: - Gabriel! Levanto os olhos e duvida deles quando vê Diana, em pé, à sua frente. Então, as palavras saem-lhe como um suspiro de alívio: - Diana, minha querida, ainda aqui estás? Já não esperava ver-te. Ela senta-se, segura-lhe as mãos com ternura e diz: - Desculpa o atraso, Gabriel. Não imaginas quantas voltas dei até descobrir um lugar para deixar o carro. n MAIO 2011 |

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Crónica

A luz do frigorífico António Costa Santos

S

empre ouvi criticar os nossos miúdos que queriam saber de mais. "O menino não seja curioso", "a menina não tem nada que perguntar". Acreditei inclusive que tínhamos inscrito no ADN português o gene dos três macacos que tapam olhos, lábios e ouvidos para não verem nada, nada ouvirem e nada dizerem. É que foram anos a fio a levar na cabeça, sempre que abríamos os neurónios, para já não falar da boca. Foram anos e anos de pais e adultos a ensinar às suas crianças que o melhor é não fazer ondas, não pensar muito para lá do que já foi pensado, até porque "a pensar morreu um burro" e "a curiosidade matou o gato". A resposta - padrão nacional à vontade de saber porquê é "porque sim", ou "porque não", com a variante "porque sempre foi assim e assim será". Julguei, portanto, que, com esta educação nacional, o espírito científico dos pequenos cidadãos já vinha mais ou menos neutralizado de fábrica e que não teria problemas de maior em ser pai. Inocência! Bem me enganei e ao longo da minha carreira tenho sido obrigado a pensar e a responder às mais difíceis perguntas, correndo diversas vezes o risco de ser desautorizado, ou defraudar as expectativas dos filhos, para quem um pai é como a Wikipédia: sabe tudo, ainda que seja só mais ou menos. Já me perguntaram por que não conseguimos fazer cócegas a nós mesmos e por que levamos injecções, em vez de ser tudo em comprimidos. Tive de puxar pela cabeça e consultar especialistas. Esqueci-me, entretanto, da explicação, senão contava-lhes. Outras perguntas pareciam canja e depois acabavam mal: porque é que as zebras são às riscas? Resposta rápida: para se disfarçarem e os leões não as verem. Contra-resposta: disfarçam-se a dar nas vistas? Resultado: tive de investigar e compreender que os leões são

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daltónicos, logo as riscas não se destacam sobre os amarelos e verdes da savana. Ter filhos é estar sempre a aprender. Mais perguntas que me fizeram: porque é que os caracóis saem depois de chover? (R: porque são preguiçosos e gastam menos baba a deslizar sobre superfícies molhadas); porque é que os morcegos se penduram de cabeça para baixo? (R: para se atirarem em voo; as asas não têm força para os levantar do chão; trepam pelas paredes e deixam-se cair); porque é que se diz "dói-me a cabeça" em vez de "dói-me o cérebro"? (R: oh pá, sei lá! Vai fazer os trabalhos de casa, anda.) É verdade que, nos dias que correm, as coisas estão mais fáceis. Podemos consultar a Net num instante e dar-lhes respostas inteligentes, sem eles perceberem que nos deixaram atrapalhados. Mas nem a Internet sabe tudo. Ontem, disse a uma criatura pequena que devia guardar o pacote de leite no frigorífico, depois de o utilizar. Devia tê-lo guardado eu, porque o gesto inspirou a pergunta infantil: "Pai, a luz do frigorífico apaga-se quando fechamos a porta?" Respondi, como qualquer um dos leitores responderia: "Apaga-se, sim". "Tens a certeza?" Oh diabo, não tenho. Só acredito que sim. Há aquele interruptor na dobradiça, não é? "E ficas descansado? Olha que a luz não é para gastar à toa". Malditas campanhas ecológicas, rosnei entre dentes. "Há uma maneira fácil de teres a certeza", ajudou-me a criança. "Pões uma câmara a filmar, metes dentro do frigorífico e fechas a porta. Se o leite deixar de se ver no filme é porque a luz se apagou." Benditas as novas cabeças, que pensam nos porquês. n


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