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N.º 227 Junho 2011 Mensal 2,00 €
TempoLivre www.inatel.pt
Estreia no Trindade
Rogério Samora regressa ao teatro
Lugares Mouraria Paixões José Ruy Viagens Jordãnia Memória António Silva
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Sumário
Na capa Foto: José Frade
20 ENTREVISTA
Rogério Samora Muito conhecido pelos seus trabalhos em televisão e no cinema, o actor Rogério Samora,depois de um afastamento de sete anos, regressa ao teatro. Divide o palco com Cucha Carvalheiro em 'Casamento em jogo', uma comédia dramática. O pano sobe a 17 de Junho, no Trindade.
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26 EDITORIAL
PATRIMÓNIO
Salvar a Mouraria Criada em 2008, a partir de um movimento de cidadãos e moradores, a “Associação Renovar a Mouraria” quer travar a degradação urbanística e social do histórico bairro lisboeta. Objectivo central: a revitalização urbanística, social e cultural da Mouraria, onde o próprio autarca da capital, António Costa, igualmente empenhado na regeneração do bairro, instalou o respectivo gabinete.
Património, Moinho de Papel de Leiria
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CARTAS
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NOTÍCIAS
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CONCURSO DE FOTOGRAFIA
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PAIXÕES INATEL CULTURA
“Sinfonia Imaterial” em circuito nacional
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MEMÓRIA
António Silva
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OLHO VIVO A CASA NA ÁRVORE
34 VIAGENS
Maria Alice Vila Fabião
Nos caminhos de Lawrence da Arábia A revolta árabe contra a ocupação otomana partiu dos territórios da actual Arábia Saudita e do deserto jordano. Por aí, e com os revoltosos, andou o inglês Lawrence da Arábia, que escreveu sobre a rebelião em «Os Sete Pilares da Sabedoria». Nessas paragens sobrevivem, também, testemunhos de arte e arquitectura islâmica medieval, os chamados “castelos do deserto”.
OS CONTOS
CRÓNICA Fernando Dacosta
57 74
José Ruy, o Mestre BD José Ruy, um dos mais prestigiados autores portugueses de Banda Desenhada, com ilustrações publicadas em 83 livros dos quais 46 são de histórias aos quadradinhos, completou, no ano em que comemora o seu 81º aniversário, 50 anos de ligação à Inatel
O TEMPO E AS PALAVRAS
DO ZAMBUJAL
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LUGARES
BOA VIDA CLUBE TEMPO LIVRE
Passatempos, Novos livros e Cartaz
Revista Mensal e-mail: tl@inatel.pt | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: Carlos Mamede Vogais: Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: António Costa Santos, António Sérgio Azenha, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho, Joaquim Magalhães de Castro, José Jorge Letria, José Luís Jorge, Lurdes Féria, Manuela Garcia, Maria Augusta Drago, Maria João Duarte, Maria Mesquita, Pedro Barrocas, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, Vítor Ribeiro. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Fernando Dacosta, Joaquim Letria, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA, Telef. 210027000 Fax: 210027061 Publicidade: Direcção de Marketing (DMRI) Telef. 210027189; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 157.390 exemplares
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Editorial
V í t o r Ra m a l h o
Qualidade e competitividade
O
Conselho de Administração apresentou durante a primeira quinzena de Maio aos Conselhos Fiscal, Consultivo e Geral o relatório e as contas de 2010 para obter destes órgãos os respectivos pareceres que são necessários, nos termos estatutários, para a eventual homologação da Senhora Ministra do Trabalho e da Solidariedade Social a quem o diploma foi enviado para o efeito. Dele resulta que as actividades projectadas para 2010 nos vários domínios da Fundação foram, no essencial, realizadas, inclusive nos programas inovadores que a tempo se anunciaram, apurando-se nas contas um desvio negativo de 323.000 euros. Este desvio ficou muito aquém da previsão que a partir do momento em que os efeitos da crise mais se fizeram sentir passaram a ser estimados. O facto de o desvio negativo das contas de 2010 ser significativamente inferior à estimativa deveu-se às medidas de contenção que, em tempo oportuno, foram tomadas, sem se afrouxarem as despesas de investimento, fundamentais para o futuro da instituição e de todos quantos nela trabalham. É por essa razão que no ano em curso as requalificações nos vários equipamentos orçam uma verba de dez milhões e quinhentos mil euros, representando um esforço pouco comum na actual conjuntura. Não os regateámos a favor do futuro! Atentos ao quadro existente, que afecta a procura de bens e serviços por quebra no consumo, é vital que, já consolidados ou em curso, os objectivos traçados à data da tomada de posse do Conselho de Administração, priorizemos agora a dinâmica comercial, em especial nas agências, conceito que foi adoptado em
detrimento de delegações exactamente com esse propósito. Este objectivo que se vai encetar agora com maior dinâmica não vai prejudicar, nem tal faria sentido, a necessidade de persistirmos quer na defesa da qualidade dos serviços que prestamos quer na procura de novas oportunidades de negócios, fundamentais para a defesa da nossa competitividade e indispensáveis para o aprofundamento do universo dos nossos beneficiários que são a razão de ser da Fundação Inatel.
C
omo disse na tomada de posse, Roma e Pavia não se fizeram num dia. Porque os beneficiários são a nossa razão de existência, este número da revista evoca o nome de um beneficiário com mais de 50 anos de associado, José Ruy, personalidade que se tem caracterizado por uma actividade impar na banda desenhada do nosso país. Ao falar de José Ruy falo da cultura, um domínio tão importante das nossas actividades. Aconselhamos o leitor a propósito a não perder a próxima peça produzida pelo Teatro da Trindade, “Casamento em Jogo”, que vai estrear no dia 17 do próximo mês de Junho e que terá como únicos actores Cucha Cavalheiro e Rogério Samora, que são a garantia antecipada de êxito. No mais, encontrará ainda neste número da Tempo Livre razões de sobra para o privilégio que é ser associado da Inatel numa conjuntura tão difícil. Aproximando-se o início da época estival, aproveito ainda este editorial para o convidar no período que se aproxima a usufruir das nossas instalações hoteleiras, cada vez mais apelativas a um repouso efectivo com múltiplas ofertas. Vale a pena. n
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Cartas A correspondência para estas secções deve ser enviada para a Redacção de “Tempo Livre”, Calçada de Sant’Ana, nº. 180, 1169-062 Lisboa, ou por e-mail: tl@inatel.pt
Viagens Inatel “Sr. Provedor, recebi há dias a revista e debrucei-me sobre os programas de viagens, duvidando do que me parecia tratar-se de alguma incoerência e, porque me desloco regularmente a Santarém, decidi contactar a delegação e esclarecer-me devidamente(…) sobre um programa de seis dias em Albufeira, na unidade da Fundação ou seis dias no período da Páscoa em Marbelha. E a minha suspeita confirmava-se: Marbelha em período Pascal custa apenas mais 13 Euros que Albufeira fora do período Pascal… Atente-se: - A Fundação não tem fins lucrativos e recebe apoio financeiro do Estado, leia-se contribuintes! - Não sei as distâncias que separam a origem cada um dos destinos, mas creio que Marbelha ficará seguramente a mais do dobro de distância de Albufeira! - Desconheço as tabelas salariais dos trabalhadores de ambos os locais mas arrisco a apostar que os Espanhóis são, seguramente, mais bem pagos! - A unidade hoteleira espanhola é privada! - Até o suplemento para quarto individual é superior na unidade da Fundação: 107 cá, 100 lá. Palavras para quê? Efeitos da gestão Vitor Ramalho? O que se passa! Sei que não o fará, mas adorava que mandasse publicar na próxima edição o meu reparo!” Silvestre Pedrosa – Assocº 263686
apoios são de 1/5 das verbas globais despendidas. Ainda assim, desde que iniciei funções até hoje, a percentagem desses apoios diminuiu significativamente, os demais apoios, irrisórios, no conjunto das verbas que são afectas à gestão em conjunto com as que acima refiro diminuíram em três anos - os que levo de gestão - cerca de 25%! Ainda assim, e como admito que saiba, é possível este ano efectuarem-se investimentos nos equipamentos da Fundação (Parque de Jogos 1º de Maio, Oeiras, Vila Nova de Cerveira, Manteigas, Porto Santo entre outros), de cerca de dez milhões e meio de euros e o edifício “velho” (de Albufeira) será reabilitado integralmente a partir de Outubro do corrente ano com um encargo aproximado de seis milhões de euros. Obviamente que todos os directores da Fundação Inatel fizeram o seu melhor mas agradeço-lhe que com objectividade avalie se não é por esta via que se prepara o futuro, procurando conceder melhores condições aos associados. Sei que Roma e Pavia não se fizeram num dia, mas sei também que as duas viagens que refere, a Albufeira e a Marbella são preparadas pela Fundação e, no caso de Albufeira, há regime de reciprocidade com Espanha e os nossos vizinhos não têm suscitado problemas. A explicação que precede serve ainda para informar V. Exa. que hoje a Fundação Inatel é, por isso mesmo, uma Fundação privada embora de utilidade pública que tem de caminhar para a sua auto-sustentação. Vítor Ramalho, Presidente da Fundação INATEL
50 anos na INATEL Resposta “Tenho presente o email que enviou ao Sr Provedor a respeito da comparação com viagens a Marbella e à nossa Unidade Hoteleira do Algarve e na qual tece considerações a respeito da gestão assegurada pela minha pessoa na Fundação Inatel, no que tem todo o direito. Permito-me, porém, informá-lo não ser exacto dizer que a Fundação Inatel recebe hoje apoio de dinheiros públicos para a sua gestão. Os dinheiros que são concedidos à Fundação destinam-se a programas governamentais e esses 6
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Completaram, este mês, 50 anos de ligação à Fundação Inatel os associados: Aníbal Sousa, Almada; José Carlos Carvalho, Cascais; Alberto Alexandre Pires e Manuel V. Fonseca, Lisboa; José Joaquim Antunes, Porto; José Alberto Esteves, Oeiras.
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Notícias
Relatório e Contas 2010
l Relatório e Contas referente ao ano de 2010 da Fundação Inatel, depois de obtidos os pareceres favoráveis dos Conselhos Fiscal, Consultivo e a aprovação do Conselho Geral, foi enviado para homologação à Senhora Ministra do Trabalho e da Solidariedade Social. No essencial, cumpriram-se com êxito em 2010 os objectivos traçados para os vários domínios das actividades da Fundação inclusive em programas inovadores como o Turismo Educativo Júnior, o Turismo da Natureza, o Turismo Religioso, as Escolas Desportivas, o Campeonato Mundial de Parapente, a adesão à UNESCO, a criação da Associação CIOFF, entre muitas outros prosseguindo a racionalização administrativo-financeira, que não excluiu actualizações salariais negociadas com os sindicatos. Procedeu-se, ainda, ao início da
uniformização da imagem das Agências e prosseguiram os investimentos para a requalificação dos equipamentos adequando-se as actividades à legislação em vigor. Estão neste momento em curso 26 frentes de trabalho que vão desde a integral requalificação da Unidade Hoteleira de Vila Nova de Cerveira passando pela modernização dos apartamentos, como outras infraestruturas em Oeiras até à conclusão das obras de beneficiação da Foz do Arelho e à remodelação do mobiliário em Porto Santo entre muitas outras. De igual modo a execução da empreitada para a zona das crianças no Parque de Jogos 1º de Maio está em vias de conclusão, já foi aprovado o projecto de licenciamento para o inicio da execução da Unidade Hoteleira da praia de Albufeira, que se projecta iniciar em Outubro próximo, foi
concluída a piscina de Manteigas e perspectiva-se a apresentação da candidatura ao QREN da Unidade do Luso, uma vez que já se obteve o licenciamento da Câmara Municipal. Prosseguem entretanto a bom ritmo os licenciamentos exigíveis pelos Estatutos e já se iniciaram os trabalhos do Projecto Calypso da U.E. no qual a Fundação é parte. Quanto às contas, apurou-se um desvio negativo de 323 mil euros, muito significativamente inferior ao estimado, em resultado da diminuição global da procura determinada pela crise. Este desvio, inferior ao estimado repete-se, ficou a dever-se à racionalização dos custos e à reponderação do orçamento previsto para 2010 - com cortes atempados significativos em várias rubricas, que se vieram a revelar correctos - assim como à redução de passivos não correntes. O Conselho de Administração reconhece, por outro lado, o esforço de todos os trabalhadores em geral nos resultados alcançados e reitera a necessidade de todos, sem excepção, reforçarmos a acção futura numa lógica crescentemente comercial, que ouse, em todos os domínios com imaginação, alargar a base de associados, fazer crescer as vendas de bens e serviços racionalizando ainda mais os custos, com controlo de desperdícios.
"Filosofia para as Pessoas" l
A Fundação INATEL em colaboração
as Pessoas". Os quatro workshops
sábados, dia 25 de Junho e 2, 9 e 16 de
com José Prudêncio dinamiza, nos
podem ser frequentados
Julho, das 9h às 13h no Teatro da
meses de Junho e Julho, uma série de
individualmente ou em conjunto, como
Trindade, em Lisboa.
quatro workshops sobre a temática da
um Curso Prático de Filosofia para a
José Prudêncio é Professor de Filosofia
Auto-Gestão e Desenvolvimento
Vida.
e Consultor de Astrologia & Filosofia,
Pessoal, denominados "Filosofia para
Esta acção está agendada para os
com uma larga experiência na área.
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Sorteio INATEL contempla sete associados
"A Cultura Tradicional no Estado Novo" l
Promovido pela Inatel, no âmbito da actualização de elementos relativos à inscrição dos associado da Fundação, realizou-se no passado dia 16 de Maio, na presença de uma representante do Governo Civil de Lisboa, o sorteio que contemplou os seguintes associados: Viagem aos Açores: estadia para duas pessoas na Inatel Flores durante 4 noites . Joaquim Branco Mourão, de Pedrógão (sócio: 481270); Duas noites em unidades hoteleiras da Inatel (épocas Média ou Baixa) . Vitor Francisco da Costa Nunes, de Aveiro, (sócio:121930); . Ana Sofia Saleiro Mateus, de Póvoa de Santo Adrião (sócia: 490106); . João José de Oliveira Elvas, de Ovar l
Decorreu no dia 27 de
Abril, no Teatro da Trindade, o lançamento do livro " A Cultura Tradicional no Estado Novo" de João Lopes Filho, escritor cabo-verdiano, recentemente galardoado com o Grande Prémio Sonangol, e autor de
(sócio: 372791); . Ana Isabel Martins Figueiras, de Loulé (sócia: 434411); . Maria de Lurdes Cunha S. Freitas, de Funchal, (sócia: 479100); . João Manuel de Jesus Gaspar Vieira, de Santarém, (sócio: 70551) Os prémios são válidos até Dezembro/2011 e os interessados deverão contactar a Direcção de Marketing e Relações Internacionais, e-mail: marketing@inatel.pt
"Agrupamentos de Folclore, ontem e hoje", também editado pela Inatel. "A Cultura Tradicional no Estado Novo" é um estudo que nos dá uma perspectiva da vida cultural do País nos anos 30, através da análise do V Congresso do Instituto do Vinho e da Vinha e do II Congresso Médico para o Estudo Científico do Vinho e da Uva em Portugal. A obra foi apresentada pelo Prof. Luis Reis Torgal, da
Manteigas
Universidade de Coimbra. Usou ainda da palavra, na sessão, a vogal da Administração da Inatel, Cristina Baptista. A obra pode ser adquirida através da Fundação INATEL.
l
No âmbito do programa de reabilitação de diversas agência e unidades hoteleiras
da Fundação - casos de Cerveira, Caparica, Foz do Arelho, Albufeira, Oeiras e palácio do Barrocal, em Évora - está já a funcionar uma moderna e bem equipada piscina coberta na Inatel Serra da Estrela, em Manteigas. JUN 2011 |
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Notícias
"No Centro de Furacão" l Na Sala Macau da Fundação Oriente, teve lugar o lançamento do livro de Mário Soares "No Centro do Furacão". Apresentada por Artur Santos Silva, que lembrou o decisivo papel do antigo Presidente da República na consolidação da Democracia portuguesa, a obra constitui um lúcido e actualíssimo contributo para o debate sobre o presente e futuro de Portugal enquanto nação europeia. Soares usou também da palavra, acentuando a grave crise da EU e lamentando o papel das "famílias políticas que fizeram a
Europa". Segundo o histórico líder socialista "os partidos que se assumem como democratas-cristãos tornaram-se populistas ou populares, com uma estrutura neo-liberal muito
vincada"e os socialistas "deixaram também de ser socialistas, sobretudo com Blair e a terceira via, com uma estrutura que nada tinha a ver com o socialismo democrático".
TL defendeu plátano histórico de Lisboa Lisboa tem um plátano descendente do mais antigo e famoso plátano do Mundo - uma árvore existente na Ilha de Cós (Grécia), debaixo da qual Hipócrates, "pai da medicina moderna", teria dado consultas. Quando a cronista Susana Neves escreveu "O Presente Grego" (A Casa na Árvore, TL nº 183, Junho 2007) relatando a forma como descobriu este "Platanus Orientalis L." no Jardim do Príncipe Real (perto da Rua do Jasmim), oferecido nos anos 50 a Lisboa, pelo Rei Paulo da Grécia (pai da actual Rainha Sofia de Espanha), o espécime de grande porte, estava cheio de lixo e rodeado de fios eléctricos. Hoje é "árvore classificada de Interesse Público", ou seja, é considerada "Monumento Vivo", tem "um estatuto similar ao do património l
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construído classificado" e está sujeita a protecção legal específica, supervisionada pela Autoridade Florestal Nacional (AFN). Tendo como documento de
fundamentação a crónica publicada pela "Tempo Livre" (única revista em Portugal que reserva mensalmente duas páginas ao jornalismo de investigação botânica, igualmente raro), Paulo Ferrero, António Branco Almeida e Júlio Amorim, representantes do Fórum de Cidadania de Lisboa (http://cidadanialx.blogspot.com/), solicitaram a 2 de Dezembro de 2009, a classificação do plátano histórico, ao então Presidente, Eng. António José Rego e ao Director-Regional, Eng. Paulo Mateus, da AFN. Decorridos mais de cinco meses, no dia 15 de Junho de 2010, a sua classificação seria finalmente anunciada no "site" do Ministério da Agricultura (http://www.afn.minagricultura.ptgestao-f/portal/aip/2010avisos-n-9-2010).
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Alfredo Luz e Jorge Pé-Curto na Galeria de Casino Estoril l Na Galeria de Arte do Casino do Estoril continuam patentes, até 21 de Junho, duas exposições individuais, uma de Pintura, de Alfredo Luz e outra de Escultura, de Jorge Pé-Curto. Alfredo Luz nasceu em Rio Meão ( Stª Maria da Feira, 1951). Fez o curso de Artes Visuais e leccionou Educação Visual de 1975 a 1985, ano em que passou a dedicar-se apenas à Pintura. É titular de uma escrita neofigurativa, em que um surrealismo mágico sempre está presente, com uma subtil mensagem de sentido humanista, de respeito
pela natureza e pelos seres que a habitam. O título desta sua exposição é "Lavrando o Mar", não com os arados que rasgam a terra, mas com as proas dos barcos que sulcam as águas. Jorge Pé-Curto, natural de Moura (1955), reside em Almada desde 1965. Cursou escultura na Escola António Arroio como bolseiro da Fundação Gulbenkian. Foi professor do ensino oficial
durante 17 anos e expõe na Galeria de Arte do Casino Estoril desde 1972. É um autor pluridisciplinar, com actividade desenvolvida nas áreas da cerâmica, da pintura, do cartaz e da gravura, sendo, porém, na escultura que, a partir dos anos oitenta, passou a centrar a sua actividade artística, em trabalhos de formato normal, mas também em obras públicas de grande dimensão.
rua, peças de teatro e dança, bailes ou animação nos transportes públicos, sem esquecer as tradicionais e animadas Marchas Populares que irão igualmente desfilar no Pavilhão Atlântico, nos primeiros dias de Junho, seguindose, dia 12, o desfile na Avenida da Liberdade, com Marrocos como país convidado. A autarquia teve ainda a preocupação de que as festas chegassem a um maior número de
pessoas, disponibilizando o programa do evento em Braille e tendo diversas iniciativas que irão decorrer em simultâneo com linguagem gestual, tal com aconteceu na apresentação, que decorreu no cinema S. Jorge. A sardinha é a imagem de marca das Festas de Lisboa 2011, embora, este ano, com alguma peculiaridade: "Queremos a tua sardinha!" foi o desafio lançado pela organização para quem quisesse participar e desenhar uma sardinha ao seu gosto. Das 2800 concorrentes foram seleccionadas 15 oriundas de vários pontos do país. O Turismo de Portugal e o Turismo de Lisboa estão entre os parceiros institucionais. Na ocasião estiveram ainda presentes a Vereadora da Cultura da autarquia de Lisboa, Catarina Vaz Pinto, e a embaixadora de Marrocos, Karima Benaichy.
Lisboa festeja o Fado lO
Fado, um dos ícones da cultura nacional, candidato a Património Imóvel da Humanidade, é o grande mote das Festas de Lisboa 2011, a decorrer até final de Junho, em vários espaços da capital. "A linha do fado vai passar por toda a programação das festas", incluindo concertos, com vários fadistas, no Castelo de São Jorge, Chapitô ou na Fábrica de Braço de Prata, proporcionando, desta forma, que "o fado chegue a novos públicos e atinja novos horizontes", anunciou Miguel Honrado, da EGEAC, entidade organizadora do evento. Mas nem só do Fado viverá Lisboa durante todo o mês de Junho. A cidade contará com iniciativas para todos os gostos e idades, incluindo exposições, concertos, mostras gastronómicas e de artesanato, espectáculos circenses de
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Notícias
Grandfondo Eddy Merckx l Évora recebeu, em Maio, uma das mais prestigiadas provas de Ciclismo de Estrada do Mundo, para Amadores e Veteranos, o GranFondo Eddy Merckx Portugal. Inserida num conjunto de sete competições, espalhadas pelo mundo (duas nos EUA, e as restantes na Austrália, Suíça, Eslovénia e Bélgica) com fase final na Bélgica, a edição portuguesa - 230 participantes - teve um percurso de 157km, com início e chegada no Templo de Diana, e passagem por Reguengos de Monsaraz, Monsaraz, Redondo, Estremoz, Évora-Monte e Azaruja. Destaque para a presença de uma história figura do ciclismo mundial, o campeoníssimo Eddy Merckx, padrinho do evento e que se fez acompanhar pela sua antiga equipa, Monteni.
A vitória coube ao português José Silva, campeão nacional de Masters, seguido do dinamarquês Fjord Keld e, em terceiro lugar, outro português, Rui Rodrigues. A prova feminina foi ganha pela ciclista irlandesa Jane Kilmartin. Organizada pelo Grupo Desportivo do Bairro de Santo António, a prova teve o apoio da Fundação Inatel e das autarquias eborenses que integravam o respectivo trajecto.
"Desafio do Coração 2011" l
O Estádio Universitário
foi palco, nos dias 12, 13 e 14 de Maio, do "Desafio do Coração 2011", uma iniciativa da Fundação Portuguesa de Cardiologia com o objectivo de alertar a população em geral para a adopção de estilos de vida mais saudáveis assim como para as doenças do coração que assolam grande parte da população portuguesa. Com o apoio, uma vez mais, da Inatel, que organizou aulas de ginástica, o evento registou a participação de milhares de jovens e adultos.
24Horas BTT Algarve l Duzentos atletas portugueses e espanhóis disputaram o "24 Horas BTT Estádio Algarve", iniciativa da Altimetria-Associação Desportiva, com o patrocínio da Inatel. Com um Prize Money de dois mil euros, a prova - um circuito de resistência com 9,5 quilómetros de extensão a partir do Parque das Cidades teve a participação de 21 ciclistas a solo (entre os quais uma mulher), bem como seis duplas masculinas e três femininas, dez quadras masculinas e uma feminina e ainda 17 equipas de seis elementos masculinas e uma feminina. Para Nuno Guerreiro, presidente da Altimetria, à
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excepção das condições meteorológicas, "o pior adversário dos participantes", a primeira edição desta prova dedicada aos adeptos do BTT cumpriu as expectativas da organização, com um "excelente número de participantes, tanto nacionais como de Espanha, o que
revela o crescente interesse por esta modalidade que associa o convívio à prática desportiva, num ambiente de alegria e competição saudável." Caracterizado por single tracks e túneis, a exigirem grande perícia e resistência física, o circuito percorrido pelos ciclistas, com passagem obrigatória pelo interior dos dois torreões localizados junto ao estádio, foi elogiado pelos participantes, tanto pelo seu elevado grau técnico, como pelas zonas onde era possível "relaxar e deixar a bicicleta andar tranquila". A prova teve o seu ponto alto amanhã com a realização de uma subida em espiral às bancadas do estádio.
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Notícias
Açores
Conferência Inatel debateu equipamentos desportivos "A falta de planeamento e de articulação" foi a razão invocada pelo Mestre em Desporto, Fernando Melo, em Ponta Delgada, na conferência Inatel "Factores de Desenvolvimento Desportivo", ao assinalar as carências na construção de equipamentos desportivos na ilha de S. Miguel. Baseado no estudo feito sobre as estruturas desportivas existentes nos concelhos de Ribeira Grande, Ponta Delgada e de Vila Franca do Campo, Fernando Melo abordou os bons exemplos de muitos equipamentos, destacando a necessidade de ficarem adstritos às escolas. No período de debate, moderado pelo jornalista José Silva, alguns participantes falaram nas falhas existentes nas construções recentes dos pavilhões das escolas de Vila Franca do Campo, Ponta Garça (ainda por inaugurar), do Colégio do Castanheiro e do multiusos de Vila Franca do Campo, sendo, também, l
Coração Delta l
A Fundação Inatel celebrou, em Maio,
criticada a obra do complexo de piscinas da Povoação - que deverá reabrir ainda este mês, após quase dois anos encerrado - esperando que este exemplo não ramifique para a piscina de Nordeste, que ainda não entrou em funcionamento por aguardar a chegada dos equipamentos. Fernando Melo apresentou gráficos interessantes acerca da disparidade entre a prática desportiva no universo masculino e feminino, no números de atletas federados e não federados e ainda na longa distância existente entre o número daqueles que
praticam futebol e outras modalidades. O prestigiado professor da Escola Secundária das Laranjeiras lamentou, ainda, perante a centena de presentes, a preocupante tendência dos alunos para a fuga à actividade física. Entre o ano lectivo passado e o que está prestes a finalizar, verificou-se um acréscimo de nove por cento de alunos com o peso não saudável, sendo este aumento de mais de 11 por cento no período de dois anos. Os participantes foram recebidos ao som das violas dos irmãos Rafael e de César Carvalho, que, no final, abrilhantaram a sessão com dois números do seu vasto reportório. Presente na mesa da conferência, o administrador da Fundação Inatel, Moreira Marques, presidiu, ainda, no final, à entrega das taças e as medalhas às equipas e atletas que se destacaram na época desportiva da INATEL nas modalidades de futsal e de ténis de mesa.
Torneio Ibérico Moniz Pereira l
O Sporting venceu a III.ª edição do
com a Coração Delta - Associação de
Torneio Ibérico de Atletismo Professor
Solidariedade Social um protocolo de
Mário Moniz Pereira, que contou com a
cooperação institucional mútua nas
participação das equipas masculinas do
actividades de lazer, cultura e desporto,
Sporting e do Playas de Castellón e
ligadas ao aproveitamento dos tempos
pequenas representações de vários clubes
livres dos seus associados e beneficiários.
nacionais, totalizando uma centena de
A Coração Delta esteve representada pelo
atletas. A equipa leonina venceu
seu presidente, Manuel Rui Azinhais
colectivamente, com 47 pontos, um mais
Nabeiro, cujo exemplo de honorabilidade,
que os espanhóis. De registar, ainda, os
rigor e visão empresarial de dimensão
triunfos individuais de Naide Gomes, em
social foi salientado por Vítor Ramalho,
comprimento, e Francis Obikwelu nos 100
presidente da Inatel.
metros.
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Fotografia
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XV Concurso “Tempo Livre”
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Regulamento 1. Concurso Nacional de Fotografia da revista Tempo Livre. Periodicidade mensal. Podem participar todos os associados da Fundação Inatel, excluindo os seus funcionários e colaboradores da revista Tempo Livre. 2. Enviar as fotos para: Revista Tempo Livre - Concurso de Fotografia, Calçada de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa. 3. A data limite para a recepção dos trabalhos é o dia 10 de cada mês.
Menções honrosas [ a ] Maria Correia, Lisboa Sócio n.º 55725 [ b ] Elisabete Teixeira, Amarante Sócio n.º 343708 [ c ] Maria Silva, Cacém Sócio n.º 493267 [a]
4. O tema é livre e cada concorrente pode enviar, mensalmente, um máximo de 3 fotografias de formato mínimo de 10x15 cm e máximo de 18x24 cm., em papel, cor ou preto e branco. 5. Não são aceites diapositivos e as fotos concorrentes não serão devolvidas. 6. O concurso é limitado aos associados da Inatel. Todas as fotos devem ser assinaladas no verso com o nome do autor, morada, telefone e número de associado da Inatel.
[ 1 ] José Gonçalves, Venda do Pinheiro Sócio n.º 284945 [ 2 ] Mafalda Pereira, Qta. do Anjo Sócio n.º 236339 [ 3 ] João Vasco, Queluz Sócio n.º 434109
7. A «TL» publicará, em cada mês, as seis melhores fotos (três premiadas e três menções honrosas), seleccionadas entre as enviadas no prazo previsto.
[b]
8. Não serão seleccionadas, no mesmo ano, as fotos de um concorrente premiado nesse ano 9. Prémios: cada uma das três fotos seleccionadas terá como prémio duas noites para duas pessoas numa das unidades hoteleiras da Inatel, durante a época baixa, em regime APA (alojamento e pequeno almoço). O prémio tem a validade de um ano. O premiado(a) deve contactar a redacção da «TL». 10. Grande Prémio Anual: uma viagem a escolher na Brochura Inatel Turismo Social até ao montante de 1750 Euros. A este prémio, a publicar na «TL» de Setembro de 2011, concorrem todas as fotos premiadas e publicadas nos meses em que decorre o concurso.
[c]
11. O júri será composto por dois responsáveis da revista T. Livre e por um fotógrafo de reconhecido prestígio.
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Entrevista
Rogério Samora
"Ser actor enriqueceu-me enquanto ser humano…" Muito conhecido pelos seus trabalhos em televisão e no cinema, o actor Rogério Samora está de volta ao palco, depois de um afastamento de sete anos. Não por falta de convites, que assegura ter recebido. É bem - amado pela crítica e pelo público. Agora, em 'Casamento em jogo', divide o palco com Cucha Carvalheiro, numa comédia dramática. O pano sobe a 17 de Junho e cai, pela última vez, a 30 de Julho. No Trindade, claro.
Como surgiu este regresso ao teatro, a esta peça no Trindade? No ano passado fiz um trabalho para televisão com a Cucha Carvalheiro, e durante esse período várias vezes lhe disse: apetece-me tanto voltar ao teatro. Porque aqui estamos expostos, com muito menos defesas: estamos nós, os que estão connosco, a nossa técnica e a nossa experiência e esse risco atrai-me. Estava a tentar dizer a mim próprio: apetece-me voltar a ter aquele treino intensivo, pôr-me à prova. Há o músculo do teatro que precisa de ser treinado. Exactamente. E surgiu esta oportunidade. Estou com problemas em fazer a gestão da energia e dos meus tempos. Não sou de compreensão lenta mas há alturas em que preciso de sozinho pensar a personagem, analisar, perceber tudo para depois ser mais fácil para mim brincar com ela. Não sou um actor rápido. Gosto de ir ao fundo da 20
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personagem. Dá-me mais trabalho mas foi assim que me treinaram ou que eu me treinei. Gosto desse trabalho profundo. Às vezes saio daqui estoirado, quase nem consigo conduzir… É muito exigente, o teatro… Exige muita energia, temos os músculos todos preparados. Eu devia ter feito um treino prévio que não fiz, um treino de ginásio, de alta competição. O actor é um atleta. Sim, desde o sensorial ao físico, ao mental, ao muscular, tem de estar tudo em forma, afinado, para naquela maratona de uma hora e vinte chegar à meta, que é o fim da peça. Mas não estamos com receio, e tem estado a correr muito bem. E é muito divertido trabalhar com a Cucha. 'Casamento em jogo' é uma peça muito particular… É de um autor controverso… Edward Albee tem uma escrita muito inteligente. Tem momentos de
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comicidade em que nós ficamos de boca aberta com a crueldade, que é cómica. A peça não é um drama, não é uma comédia, mas faz rir, faz pensar, faz-nos ficar incrédulos: como é que se pode dizer tal coisa, como é que durante 30 anos de casados se chega a esse limite? É um excelente texto para os actores trabalharem, tem muitas portas abertas. E o caminho que a Graça Correia nos está a indicar, a mim e à Cucha, está correcto. Tudo ao longo de uma hora e vinte, sem intervalo, só os dois em cena… É violento, não para o espectador, mas para nós. Exige uma atenção, uma concentração mas é o desafio da minha profissão. E desde que começou, já lá vão mais de 150 personagens… A peça não é um Estreei-me em 1978, numa comédrama, não é uma dia. Estava a acabar o Consecomédia, mas faz rir, rvatório. Fiz figuração numa faz pensar, faz-nos comédia no Parque Mayer. Daí ficar passei para o Teatro S. Luís, onde incrédulos… comecei a ensaiar o 'Hamlet', que não chegou a estrear, acabaram Não escolhi, foi a com a companhia - coisas de vida que me levou. A secretários de Estado. Depois o minha avó Mário Viegas aconselhou o meu influenciou-me nome ao Filipe La Féria para presmuito: começou a tar provas para um espectáculo e levar-me muito cedo fiquei na Casa da Comédia duranao cinema, ao teatro, te seis anos. Depois do teatro, o à ópera, ao Parque cinema e, depois, a televisão. Mayer… É essencialmente um actor de cinema? Gosto muito de cinema, talvez porque domino a técnica. E já trabalhou com os principais realizadores portugueses… Sim. Quase todos e com alguns da nova geração também. Mas isto de voltar ao teatro pode ser bom. Talvez haja pessoas que nunca me viram no teatro, poderão ter curiosidade, querer ver-me ao pé: ele é alto, é baixo, é gordo, é magro… E acho que o texto e o trabalho vai trazer pessoas, vai correr muito bem, de certeza absoluta. Foi uma boa opção ter escolhido a carreira de actor? Não escolhi, foi a vida que me levou. A minha avó influenciou-me muito: começou a levar-me muito cedo ao cinema, ao teatro, à ópera, ao Parque Mayer… Muitas vezes fui para o cinema
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Royal, na Graça, porque a minha avó tinha que fazer e eu ficava a tarde toda no cinema, sozinho, com sete ou oito anos, porque o porteiro era amigo da minha avó. E o cinema foi a melhor baby-sitter que se poderia ter, o estar ali: actualidades internacionais, actualidades nacionais, um filme de cowboys e outro dramático, ou um filme cómico e outro de cowboys. Eram dois filmes, era a tarde toda, era das 3 às 7 da tarde. E tudo isso me influenciou, só que nunca racionalizei. Fui levado pela vida, foi como se a vida me tivesse levado. Estou no liceu, começo a fazer teatro na colectividade em Rio de Mouro, onde morava com os meus pais; depois no Clube de Campismo do Concelho de Almada, depois no liceu de Queluz e depois foi uma coisa… …Que se tornou avassaladora? Eu falava muito que queria ser arquitecto ou médico. Arquitecto devia ser por causa do lego; médico, devia ser por causa da minha avó, que eu gostava muito dela e ela era muito doente. E, de repente, sou levado para isto por colegas, por amigos, por esta tertúlia e o lado boémio que o teatro tinha. Hoje em dia já não consigo ser boémio, tenho que me levantar cedo, estar em forma, ter boa pele, ter cuidado com a voz, tenho que tentar dormir bem e fui levado. A família ficou surpreendida por esta escolha? A princípio, sim. Mas eu acho que foi por preocupação com o meu futuro, a preocupação era assegurar um bom futuro para mim. Hoje, acho que têm orgulho. Mas contrariar-me não é muito bom e os meus pais sabiam disso. Se me contrariam é coisa para eu fazer. A minha mãe já se foi embora e o meu pai tem orgulho, fica contente, gosta que as pessoas falem de mim. A carreira internacional nunca o estimulou? Não. Se calhar tudo o que eu mereço consigo têlo aqui. Portugal nunca me tratou mal. Nunca estive desempregado e trabalho há 33. Já disse que não a alguns projectos, o que é difícil. Fiz alguns filmes e telefilmes com produções com o estrangeiro mas fiz como faço tudo. Nunca tive esse sonho de ser conhecido internacionalmente, de ganhar um Óscar, de fazer carreira internacional, de ganhar mais dinheiro… Fui trabalhando, é uma profissão que me enriqueceu e continua a enriquecer enquanto ser humano. A cada traba lho que faço coloca-me muitas questões, sobre a
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vida, sobre o ser humano. E eu gosto disso. Gosta desta vida e vê-se nestas artes de palco até ao fim? Às vezes apetece-me passar para o outro lado, para a realização, para a direcção, para a encenação. Mas depois digo: Não, sou mais feliz à frente das câmaras, é muito chato estar atrás a aturar actores, é uma coisa insuportável (risos). Às vezes apetece-me mas gosto mais desta coisa de estarmos disponíveis para o outro nos dirigir e nos indicar o caminho, gosto. E quando é que descansa? Se calhar descanso pouco… Custa-me quando paro. Há um vazio muito grande, fico um bocadinho perdido, devo confessar-lhe. Criam-se famílias, ritmos, amizades e depois tudo acaba de repente, foi tudo imaginário. No cinema dura sete a nove semanas, numa novela dura 10 meses, no
teatro dura um a dois meses de ensaios e depois depende do tempo que estiver em cena. E não quero sentir esse vazio. É uma âncora que vai lançando? Sim, é como se fosse um barco, lanço a âncora, acosto naquele porto… E para lá do teatro? Uso a Internet mais como ferramenta de trabalho, de pesquisa, de leitura de jornais, não perco muito tempo, não gosto. Leio, sobretudo coisas relacionadas com o meu trabalho e de cinema gosto muito - confesso que gosto mais de DVDs. Moro fora de Lisboa, no concelho de Sintra e chegar a casa, àquela paz, depois é muito difícil sair… A paz é boa, dá-nos conforto, fico ali no ninho e custa-me sair do ninho. Vou ao teatro, faço as coisas normais. n Manuela Garcia (texto) José Frade (fotos) JUN 2011 |
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“Há Festa na Mouraria…” O esquecimento e abandono do histórico bairro lisboeta tem os dias contados
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ra linda a Mouraria / Tinha amor e sedução / Hoje vive noite e dia / Com a triste companhia / Da droga da maldição”. Este verso de Fernando Baguinho, de 76 anos, o sapateiro-poeta nascido e criado na Mouraria, exemplifica a desgraça a que foi votado este bairro lisboeta com 900 anos de história. A degradação urbanística e social e o esquecimento por parte do poder político são as principais queixas de quem lá mora. “Uma das coisas que está mal é a droga. A falta de limpeza, as ruas mal arranjadas e os buracos de ratos também”, lamenta António Pais, de 58 anos, dono da tasca “Amigos da Severa”. Cansados de promessas vãs, a cada dia que passa a esperança é menor para aqueles que habitam na Mouraria. Contudo, há três anos, surgiu uma associação como um sinal de luz e esperança de reaparecimento do brilho perdido do bairro. “Dizem que querem renovar a Mouraria”, diz um morador. Criada em Março de 2008, a “Associação Renovar a Mouraria” partiu de um movimento de cidadãos e de uma petição online criada por moradores a exigir mais atenção para com o bairro e conta com cerca de 40 voluntários que procuram fazer a diferença. Objectivo central: a revitalização urbanística, social e cultural do bairro da Mouraria. Todavia, a desconfiança dos moradores ainda é grande. “Existe alguma resistência das pessoas, pois elas foram vítimas de abandono durante décadas. Quando aparece alguém a dizer que vai fazer alguma coisa, acham que estão a ser enganados”, diz Inês Andrade, de 38 anos, presidente da associação.
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1 - Antonio Pais, dono da tasca “Amigos da Severa”. 2 - Colégio dos Meninos Orfãos 3 - Casa da fadista Severa 4 - Casa João das Regras 5 - Poço do Borratém 6 - Vista sobre o bairro da Mouraria 26
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De um manifesto de intervenção, a associação passou das palavras aos actos no Edifício Manifesto, a sede da organização e o seu maior projecto. Inaugurada a 26 de Fevereiro último, este é um local para toda a comunidade, com cursos, workshops e espaços culturais. Por outro lado, a associação quer fazer do edifício um exemplo em termos de reabilitação urbana a baixo custo. Em parceria com o gabinete de arquitectura Artéria, a recuperação desta antiga carpintaria será feita com patrocínios, numa obra estimada em 150 mil euros.
Os Mundos da Mouraria… “Temos ainda outros projectos a decorrer: As visitas guiadas pelo bairro, o festival “Há Mundos na Mouraria”, o jornal “Rosa Maria”, “Rondas das Tascas”, “Há Fado na Mouraria”, um livro de gastronomia, assim como um guia turístico do bairro em banda desenhada, o programa “Da Mouraria ao Museu, do Museu à Mouraria” (em parceria com o Museu Berardo), e o lançamento de um áudio-livro de fado”, diz Nuno Franco, membro fundador da associação, referindo-se ao concurso de fados no Teatro Trindade, com apoio da Fundação Inatel. Uma das formas de contar a história de um bairro que nasceu em 1170, com o foral que garantiu a segurança da comunidade árabe, é a realização de visitas guiadas feitas por um membro da associação, no sentido de atrair também mais turistas e desmistificar a imagem negativa. “Percebo que as pessoas tenham medo e se afastem, mas vindo uma ou duas vezes percebem que não há mais perigo do que em qualquer outro sítio de Lisboa”, frisa Filipa Bolotinha, que integra a associação. A “TL” esteve numa dessas visitas, testemunhando a riqueza histórica da Mouraria, representada por vestígios da Cerca Fernandina, o poço do Borratém, a casa de João das Regras ou o edifício Amparo. «Gostei muito deste património ‘escondi-
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do’. É um bairro que nunca tinha explorado por causa da sua fama», conta Carlos Lourenço, de 40 anos, que participou numa destas visitas. A multiculturalidade do bairro é outro traço que resiste à passagem do tempo. “Em Londres, Nova Iorque ou Barcelona era difícil encontrar um bairro como a Mouraria esquecido”, nota Maria Lencastre, outra associada. A própria associação lida de perto com as comunidades imigrantes e ajudou uma família da Índia, com alimentos, roupa e acessórios para um recém-nascido prematuro. Na altura essa família atravessava graves problemas financeiros com o pai do bebé desempregado e a mãe doente. Berço do fado, mas sem casas para o escutar, a Mouraria honra esta tradição de forma ‘clandestina’. “Há muitos fadistas espontâneos. Passeamos pelas ruas e ouve-se fado dos rádios das pessoas. Percebe-se que está na alma da gente que vive
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aqui. Recuperar o fado é um dos nossos objectivos”, afirma Filipa Bolotinha. Quem sobe a famosa Rua do Capelão encontra a casa da mítica fadista Maria Severa, uma referência do bairro e que será recuperada como café, com actividades ligadas ao fado, um café-loja com esplanada no largo da Severa. Na porta em frente vivia Fernando Maurício, o ‘rei sem coroa’, que se habituou a chamar “ó miúda” a Mariza, que cresceu aqui. É de um verso de um fado de Alfredo Marceneiro - “Há Festa na Mouraria” - que nasce o nome do jornal Rosa Maria, um dos principais projectos da Associação. “Queremos que seja um espelho do bairro, que tem imensas riquezas, mas também problemas. O Rosa Maria é uma rosa que cheira bem e é bonita, mas tem espinhos para picar quando é preciso”, diz Ana Luísa Rodrigues, jornalista e uma das editoras da publicação, que conta com cerca de 15 colaboradores. “O jornal é distribuído em todas as casas do bairro e tentamos leva-lo para fora da Mouraria. Quisemos fazer um jornal comunitário diferente”, acrescenta.
No Espaço Mouraria da Fundação INATEL funcionam os seguintes cursos no âmbito das Oficinas dos Tempos Livres:
CML: presidência aberta
Tai Chi; Dança – Ritmos Latinos e Africanos; Fotografia; Pintura;
A tentar marcar a diferença face ao passado está também António Costa. O presidente da Câmara Municipal de Lisboa mudou o seu gabinete para o Intendente, mesmo ao pé da Mouraria, num sinal de confiança nesta zona da cidade. A expectativa sobre o que poderá mudar é grande entre
Workshops diversos, no âmbito das OTL. A Inatel disponibiliza ainda o mesmo espaço, em regime de aluguer, para actividades da Junta de Freguesia do Socorro (Futsal e Hip Hop), Aulas de Capoeira e Futsal.
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os habitantes do bairro. “Com ele mais perto de nós pode ser que isto tenha mais vigilância”, defende António Pais. Visão semelhante tem Inês Andrade. “A Câmara tem sido uma parceira fantástica e a vinda do presidente demonstra que há interesse da Câmara em reabilitar esta zona”, diz a líder da Associação, confiante que a reabilitação urbana será a primeira peça de um puzzle que irá mudar a face da Mouraria. Em declarações à TL, o autarca da capital sublinha que “uma das ideias que esteve na base da decisão desta mudança do gabinete da presidência da CML para o Intendente foi a de contrariar e tentar inverter o estigma negativo que está ligado a esta zona da cidade. Queremos que Lisboa olhe com outros olhos para o Intendente e para todo aquele eixo que vai do Martim Moniz, segue pela Rua da Palma, Intendente e continua pela Almirante Reis. Acredito que esta mudança poderá induzir novas dinâmicas sociais e até económicas. Além disso, está programada uma intervenção, comparticipada por fundos comunitários que procura revitalizar todo o eixo que já referi.” António Costa destaca, entre outros, Programa de Acção (PA) Mouraria: “As cidades dentro da cidade”, que é constituído por um conjunto de operações com vista ao reforço dos aspectos positivos do bairro, de que são exemplo o património material e imaterial, a actividade económica, a
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vitalidade populacional e a multiculturalidade.” “Além disso – acrescenta - estamos também a elaborar o Plano de Desenvolvimento Social da Mouraria, com parceiros como as Irmãs Oblatas, o IDT ou as juntas de freguesia que trabalham nas áreas da prostituição, toxicodependência ou dos idosos isolados.” A reabilitação do Quarteirão dos Lagares e de alguns edifícios para instalar residências universitárias e proporcionar maior segurança na zona é outra das prioridades em que a autarquia está empenhada, numa parceria com o Ministério da Administração Interna. O plano de acção da Mouraria – frisa ainda António Costa - assenta num Protocolo de Parceria Local, concebido como um processo de cooperação entre entidades que se propõem implementá-lo, sendo que cada parceiro deverá dar um contributo concreto e relevante para a sua execução. O protocolo de parceria local do QREN Mouraria integra, a par da Associação Renovar a Mouraria (ARM), entidades, sociais e institucionais como a Associação Casa da Achada - Centro Mário Dionísio (CMD), Associação de Turismo de Lisboa - Visitors and Convention Bureau (ATL), bem como a EPUL, Instituto da Droga e Toxicodependência (IDT) e as juntas de freguesia dos Anjos (JFA), da Graça (JFG), de Santa Justa (JFSJ), de São Cristóvão e São Lourenço (JFSCSL) e do Socorro (JFS). n
7 - Filipa Bolotinha 8- Inês Andrade 9 - Ruas da Mouraria 10 - Edifício Amparo portal manuelino 11 - Rua do Capelão
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Paixões
José Ruy O Mestre BD Um dos mais prestigiados autores portugueses de Banda Desenhada, José Ruy completa meio século de ligação à Inatel no ano em que comemora o seu 81º aniversário. iscreto, afável e dotado de um estilo e traço peculiar, José Ruy é um dos mais prestigiados autores portugueses de Banda Desenhada (BD), com ilustrações publicadas em 83 livros dos quais 46 são de histórias aos quadradinhos. A paixão pela Nona Arte transparece no pormenor, detalhe e rigor que incute em todos os seus trabalhos e numa vasta carreira artística para a qual desperta em tenra idade. Nasce na
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Amadora a 9 de Maio de 1930 e cedo começa a fazer garatujas “o meu pai levava-me à redacção d’O Mosquito para receber conselhos de Tiotónio, o António Cardoso Lopes, director do jornal e autor de Zé Pacóvio e Grilinho”, recorda o artista que surpreende a partir dos sete anos com fanzines e um jornalinho em copiógrafo que vende a meio tostão. Sensibilizado para o desenho ao natural por Eduardo Teixeira Coelho “um desenhador de alto porte” como humildemente gosta de referir,
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começa a esboçar até à exaustão pormenores de pessoas e animais e seus ambientes “ganhei um livre trânsito de acesso ao Jardim Zoológico para além do horário de visita com um cartaz que fiz”, recorda o autor que chegou a capturar um rato para servir de modelo para uma história adaptada de Wenceslau de Morais. Aos 14 anos e antes de concluir a formação em Artes Gráficas e Belas Artes na prestigiada escola António Arroio, onde encontra José Garcês, Rodrigues Alves e muitas outras figuras ligadas às artes, José Ruy integra a redacção d’ O Papagaio e, em 1947, em substituição de Manuel Velez que partiu para África, assume responsabilidades litográficas em O Mosquito, que graças à sua boa reputação passa a editar e dirigir na 2ª fase da revista em 1960.
Rigor, criatividade e imaginação A BD está-lhe no sangue, corre-lhe nas veias como o ar que respira e as histórias inventadas ou reais recebem vida no estirador num longo e intenso processo de criação que vê compensado com a publicação das suas histórias e ilustrações em revistas de referência, entre elas, Cavaleiro Andante, Camarada, Pisca-Pisca, Mundo de Aventura, BDN, Tintin, Spirou e ABC Criminal de Artur Varatojo. Também a nível gráfico José Ruy passa a ser uma referência desejada. A sua experiência aliada ao espírito auto-didacta muito contribuíram para a evolução das artes gráficas no país ao introduzir técnicas ágeis, embora exigentes, que reduziam o tempo e o custo de produção, como aconteceu na Europa-América, dirigida por Lyon de Castro, nos anos setenta. Aí impôs a si próprio uma metodologia que consiste em ter por projecto apenas uma maqueta, em vez das três dos seus antecessores, viabilizando a produção
de centenas de capas de livros que durante uma década desenha ou ilustra, algumas para dissimular a censura “ o tipo de letra, a cor e uma boa ilustração ajudava a passar mensagens imperceptíveis para a censura” relembra, divertido, o veterano artista. A dedicação à BD surge a tempo inteiro a partir de 1982, a convite do Diário de Notícias que desejava apostar na produção nacional para concorrer com a estrangeira e simultaneamente combater a ideia de que as histórias aos quadradinhos “estupidificavam” os jovens. Um anseio partilhado pelo autor que propõe trabalhar isoladamente as três cores primárias para reduzir em quatro vezes o custo final da obra e dar viabilidade à edição dos seus álbuns.
De Camões ao 25 de Abril… Superadas as dificuldades técnicas, José Ruy sugere começar com uma história de domínio público e «Os Lusíadas», de Camões, adquire consenso entre especialistas como José Hermano Saraiva “ observou com minúcia as três ou quatro pranchas que lhe apresentei e considerou a ideia interessante e até aceitou apresentar o livro” refere o autor ao salientar o êxito imediato da obra, em três volumes, especialmente no meio estudantil que tinha o poema épico como leitura obrigatória. Mas o rigor e a beleza do traço aliado ao texto integral e às notas inseridas em tempo certo voam mais alto e atestam a magnitude do mestre que com a obra acessível além fronteiras e sucessivamente reeditada, a última em JUN 2011 |
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Paixões
Murais que pintou para a escola José Ruy na Reboleira
2009 pela Âncora Editora, deixa um legado fundamental para a afirmação da BD no país e com ela o mestre enceta uma profícua carreira de histórias habilmente adaptadas aos quadradinhos, de que são exemplo, entre outras, Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, As Aventuras do Porto de Bomvento, Aristides de Sousa Mendes: Herói do Holocausto, O Bobo, Autos de Gil Vicente, História da Amadora, Pêro da Covilhã e a Misteriosa Viagem, Sintra: O Encantado Monte da Lua, Almeida Garrett e a Cidade Invicta, Nicolau Coelho: Um Capitão dos Descobrimentos, Operação Óscar: Outra maneira de Contar o 25 de Abril, O Mosteiro do Pombeiro, A Casa do Infante, A História da Cruz Vermelha e O Mirandês: história de uma língua e de um Povo. Presentemente, as suas histórias desenhadas a tinta da china e em papel são digitalizadas para “aguarelar” em Photoshop e, sem perda de identidade no seu traço, asseguram a qualidade e suporte essencial à editora e, desta forma, José Ruy tira um invulgar partido das novas tecnologias que domina com destreza.
Viajar na Inatel Adora viajar e conhecer outras culturas e guarda notas, croquis e muitos registos dos locais por onde passa, alguns por intermédio da 32
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Inatel, que são uma ajuda para as suas histórias. “Em Maio de 1961 associei-me à FNAT para poder gozar férias na Caparica, quando trabalhava na revista Cavaleiro Andante do DN”, relembra o artista que este ano celebra 50 anos de ligação à Fundação e que na companhia da esposa, Fernanda, visitou com a Inatel a Hungria, capitais do Báltico, Egipto, Israel, Jordânia, Palestina, Índia (Goa e Deli), Estados Unidos, Canadá, Brasil e muitas cidades em Espanha. “A Inatel oferece maior confiança”, sublinha o autor que gosta de viagens com pacotes de pensão completa. Das unidades hoteleiras da Fundação, manifesta preferência por Albufeira, Entreos-Rios e Manteigas onde, sempre que é possível, escolhe o cantinho mais adequado para recolher elementos da região. Homenageado em diversos municípios, escolas e museus e com a distinção especial «O Figura» (zero figura), recebe da sua cidade natal, Amadora (a catedral da BD), a Medalha de Ouro, Mérito e Dedicação, o Troféu Zé Pacóvio e Grilinho de Honra no Festival Internacional de BD, o nome numa avenida e, ainda, o nome numa escola, à qual ofereceu pinturas em mural de grande dimensão sobre as mais emblemáticas e didácticas obras que podem ser admiradas na biblioteca e refeitório daquela escola. Espírito aberto e dinâmico, José Ruy continua, aos 81 anos, ocupado com as suas criações e com os inúmeros colóquios e visitas a escolas, bibliotecas e museus para explicar aos mais novos a magia dos quadradinhos. n Glória Lambelho
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“Castelos do deserto” Nos caminhos de Lawrence da Arábia A revolta árabe contra a ocupação otomana partiu dos territórios da actual Arábia Saudita e do deserto jordano. Por aí, e com os revoltosos, andou o inglês Lawrence da Arábia, que escreveu sobre a rebelião. Nessas paragens sobrevivem, também, notáveis testemunhos de arte e arquitectura islâmica medieval, os chamados "castelos do deserto".
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domínio otomano sobre o mundo árabe terminou com a queda de Damasco em 1918, na sequência de uma revolta generalizada na região, em que os árabes contaram com a participação do exército inglês, comandado pelo general Allenby. Para os Árabes, era uma etapa há muito almejada, desde a emergência dos projectos nacionalistas no início do século XIX, sob o jugo otomano. O tenente Thomas Edward Lawrence, que ficou conhecido por Lawrence da Arábia, descreve a revolta no seu famoso volume "Os Sete Pilares da Sabedoria", onde deixou clara a sua (e dos chefes militares ingleses) convicção de que "sem a ajuda dos Árabes, a Inglaterra não poderia garantir a vitória no sector turco". Lawrence, que granjeou a simpatia e a confiança do futuro rei Faisal, e de muitos líderes
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tribais da região, teve consciência também, logo no início, de que as expectativas dos Árabes seriam prontamente frustradas assim que a revolta findasse e, com, ela, o controlo turco da região. Os interesses ingleses e europeus acabariam por se sobrepor às aspirações árabes de autonomia. A Síria e a Jordânia, por exemplo, só conquistariam a independência efectiva em 1941 e 1946, tendo os respectivos territórios permanecido mais duas décadas sob administração europeia. O sonho de um Estado árabe independente, que Lawrence apoiava, durou dois anos, até à chegada do exército francês, que pôs termo ao reinado de Faisal. O assalto final a Damasco foi preparado, em parte, na fortaleza de Azraq, em pleno deserto jordano, a meio caminho das fronteiras do Iraque e da Arábia Saudita. Aí, no único oásis da vasta região desértica que preenche quase todo o JUN 2011 |
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território jordano, estabeleceu Lawrence, durante dois anos, o seu quartel-general. O Qasr (forte) Azraq faz parte de um itinerário circular - com partida de Amã, a capital da Jordânia - que engloba uma série de construções islâmicas dos séculos VII e VIII, a maior parte erguidas durante o período omíada, entre os anos de 661 e 750. A fase final do reinado de Abd alMalik constituiu um período de excepcional criatividade - data dessa época, justamente, a construção da Cúpula da Rocha, a mais importante edificação islâmica de Jerusalém. As construções islâmicas do deserto jordano têm suscitado várias interpretações sobre as suas funções - constituiriam fortalezas, palácios para os príncipes omíadas, complexos de exploração agrícola (uma vez que se situavam em zonas com água e férteis) ou, de acordo com teorias mais recentes, corresponderiam a uma "arquitectura de diplomacia", des-
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tinada a reunir chefes tribais em negociações? Provavelmente, teriam, entre todas elas, estas diferentes funções.
O "Forte Azul" Amã, a capital, é uma cidade sem grandes encantos, com alguma animação à volta da zona da mesquita central e do anfiteatro romano. Mas é um bom ponto de partida para uma série de visitas. Madaba, conhecidíssima pelos seus formosos mosaicos bizantinos, as praias do Mar Morto ou os castelos islâmicos do deserto são os lugares mais interessantes que se situam ao alcance de um dia no máximo dois - de jornada. No caso dos "castelos do deserto", a viagem de Amã a Azraq e regresso à capital é exequível num único dia, com passagem por uma meia dúzia de sítios. A melhor forma de fazer o circuito é alugar um automóvel ou contratar os serviços de um táxi na capital jordana. A estrada segue sensivelmente, nos primeiros vinte quilómetros, a linha de caminho-de-ferro que vai para norte, para Mafraq e para a Síria. Em Az-Zarqa inflecte para leste e começa, então, a "monotonia" de um deserto amiúde marcado pelo negro do basalto e por impressiva aridez. A escassez de água é um dos grandes problemas da região, com potencial para desencadear conflitos graves - a disputa pelo rio Jordão é já um exemplo. Mais tarde, numa tenda à saída de Azraq, entre dois copos de chá, um guia beduíno lembrar-nos-á que depois das guerras do ouro branco (o sal), e do outro negro (o petróleo), sobrevirão conflitos bélicos "por causa do ouro azul, o mais valioso de todos, porque sem ele não há vida". A primeira paragem é no Qasr al-Hallabat, 25
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km a nordeste de Az-Zarqa. É um conjunto de edifícios de origem romana, reconstruídos durante o período omíada. Um dos principais interesses é a série de mosaicos e frescos que se conservam nas zonas consignadas a palácio residencial. Uma centena e meia de inscrições em grego suscitam, naturalmente, curiosidade ao viajante. A explicação de Abed, o guia local não surpreende: como em muitos outros lugares, foram utilizadas pedras de construções anteriores. As inscrições em causa reproduzem um édito da época do Império Bizantino. Menos de uma hora depois, chegamos a Azraq, logo a seguir a um cruzamento com vias que seguem para as fronteiras do Iraque e da Arábia Saudita. A cidade é há muitos séculos ponto de passagem nas rotas entre a Síria e a Península Arábica. As reservas naturais de Shaumari e de Azraq (zonas húmidas que se ressentem cada vez mais da escassez de água) ficam muito perto, mas é a fortaleza que constitui a principal atracção local. O Qasr Azraq (ou "Forte azul", como se lhe refere Lawrence em "Os Sete Pilares da Sabedoria"), totalmente construído em basalto, tem raízes que remontam a 300 d.C. e foi reconstruído no século XIII. A entrada principal, aberta na base de um torreão, é franqueada por uma maciça - e pesadíssima - porta de pedra que gira sobre gonzos de ferro. A seteira que se vê mais acima dá para os aposentos que foram de Lawrence. A visita passa também por uma mesquita, um vasto pátio e um museu.
A fachada ausente No retorno de Azraq a Amã, há, ainda, três castelos na rota. O de Amra, a uma vintena de quilómetros de Azraq, revela-se um pequeno e gracioso palácio. O interior é deslumbrante, profusamente decorado com frescos, cujos temas variam entre a caça, a música, a dança. Algumas das temáticas das representações, que incluem nus femininos, são, verdadeiramente, uma surpresa na ornamentação de um edifício islâmico. Ao longo da estrada, no regresso a Amã, as faixas de cascalho negro de basalto vão-se alternando com extensões pedregosas mais claras, que reflectem de forma violenta a luz solar. Do lado direito surge, a umas centenas de metros da estrada, a mais imponente destas fortalezas medievais
e a edificação que ostenta uma fisionomia e uma configuração exterior expressivamente defensiva. O Qasr Kharaneh tem, ainda, outra singularidade: é, entre todas as construções desta rota, a que se encontra em melhor estado de preservação. A fortaleza está estruturada em torno de um pequeno pátio interior e todos os compartimentos dão para esse espaço aberto. Interpretado inicialmente como uma espécie de pousada utilizada pelos viajantes na antiga rota das caravanas, é possível, todavia, que o Qasr Kharaneh tivesse sido utilizado como espaço de "conferência" entre os representantes das tribos árabes da região. Mushatta (o "Palácio de Inverno"), o último complexo de construções, fica já muito perto de Amã e é, provavelmente, o expoente máximo da arquitectura desta série de palácios/fortalezas. Apesar de uma certa ruína, é possível adivinharlhe o esplendor perdido e reconhecer a sofisticada estrutura em plano simétrico que permanece para além da entrada monumental. A decoração JUN 2011 |
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e a combinação de pedra e tijolo revelam a extraordinária e profícua miscelânea de influências, românicas, bizantinas, sassânidas e coptas. A jóia -mor do conjunto está, todavia, ausente - e essa ausência é assaz simbólica das vicissitudes que marcaram vida e a história dos povos árabes da região. A fachada em pedra esculpida foi retirada no final da I Guerra Mundial e brilha, hoje, no Museu Pergamon, em Berlim.
Dunas de fogo "No deserto do Wadi Rum, sob a cúpula celeste, não há senão calor e desolação". A sentença, breve mas assertiva quanto baste, vinha há tempos estampada numa revista de viagens francesa. Nada mais falso, na verdade. Se o estilo é, obviamente, o de valorização retórica de pseudo-aventuras jornalísticas, um retrato mais honesto do Wadi Rum dirá que o local - um deserto, bem entendido - está longe de ser inóspito, desabitado e território só acessível a intrépidos aventureiros. Não faltam fontes de água na zona e a aldeia de Rum, que até há duas décadas atrás era um aglomerado de tendas beduínas, é actualmente um povoado cuja população e economia dependem fortemente das visitas dos turistas. O Wadi Rum, por onde também Lawrence e os 38
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revoltosos árabes se movimentaram - nomeadamente para a conquista do porto de Aqaba -, tem o estatuto de reserva natural, com acesso rigorosamente controlado. As visitas têm que ser, portanto, previamente planeadas e a reserva de alojamento feita com antecedência. Há alguns acampamentos autorizados, de capacidade limitada, onde se pode pernoitar em tendas. As andanças fazem-se, preferencialmente, com um guia, de jipe, de camelo ou a pé. Essas jornadas fazem transitar os viajantes por uma casa em ruínas, no sopé de uma montanha, supostamente habitada por Lawrence nos tempos da revolta, e por uma formação conhecida por "Os sete pilares", que se diz ter sido a inspiração para o título do livro. Na verdade, a inspiração de Lawrence terá sido recolhida numa passagem bíblica. O Wadi Rum é um belíssimo deserto, com cenários que a luz faz variar continuamente ao longo do dia. As formações rochosas de granito e basalto, cinzeladas pela imaginosa erosão de milénios, alternam com longos vales e grandes dunas de areia que, pela alvorada ou à hora do crepúsculo, se cobrem de uma tonalidade rubra, como se de fogo fossem, semelhantes a brasas acesas entre os espectros acinzentados das penedias. n Humberto Lopes (texto e fotos)
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Património
Moinho do Papel: seis séculos de História Em 1411, D. João I, autorizou através de alvará Gonçalo Gomes de Gomide, bisavô de Afonso de Albuquerque, a instalar em Leiria "engenhos de fazer ferro, serrar madeira, pisar burel e fazer papel ou outras coisas que se façam com o artifício da água contando que não sejam moinhos de pão." oje, precisamente 600 anos depois, no mesmo local onde o empreendedor Gonçalo Gomes de Gomide pôs a funcionar a primeira manufactura de papel em território português, voltou a fabricar-se papel. Certamente que os objectivos agora são outros mas os métodos, em parte, continuam a ser os mesmos. Não há documentos que nos digam quando terminou a produção de papel no moinho, manufactura posteriormente substituída pelo fabrico de azeite e pela moagem de cereais, actividade que funcionou até meados dos anos 90 do século passado. A história do Museu do Moinho do Papel começou após o edifício ter sido adquirido pela autarquia de Leiria e o projecto de restauro, assim como de acrescento, ter sido entregue ao ateliê de Siza Vieira. Em 2009 o pioneiro engenho de fazer papel deu lugar ao Museu do Moinho do Papel. Situado na margem esquerda do rio Lis, não muito longe do centro da cidade, o Museu do Moinho do Papel, observado por fora, é um edifício alongado mas discreto, com as
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paredes pintadas num tom suave, que deixa dúvidas se será branco sujo, ou creme desbotado. A fachada norte, paralela ao rio, é rasgada por janelas de diferentes tamanhos e tem acoplada três grandes rodas hidráulicas verticais. A Viagem do Papel Mas vamos entrar, vamos entrar e conhecer este espaço que tanto simbolismo encerra. O Museu está divido em diferentes zonas, nomeadamente a sala de exposições, instalada num edifício novo, a sala de fabrico de papel e a moagem. Na sala de exposições dois painéis traçam a evolução do papel, seja a evolução em termos de inovação e tecnologia, seja a viagem desde o extremo oriente. Com a China como ponto de partida e o ano 105 dC como a data do início do fabrico, acompanhamos a lenta progressão deste inovador produto até chegar à Península Ibérica pela mão dos árabes, á cidade de Xátiva, em 1150. Em Portugal, já sabemos, o papel começou a ser fabricado em 1411. Ainda nesta sala podemos ver breves apontamento sobre a arte tipográfica e a cópia dum exemplar do Almanaque Perpétuo, de Abraão Zacuto, a pri-
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meira obra científica publicada em Portugal, cuja impressão Este ruído cadenciado, esta toada monocórdica, é produzido ocorreu na tipografia judaica, em 1496, sendo licito associar a pelo conjunto mós, quatro ao todo, que se encontram a moer existência desta ao fabrico papel em Leiria. Brevemente a sala grão, trigo, centeio e milho. Estamos na antiga moagem de irá acolher um projecto multimédia que visa tornar acessível cereais, que assim continuou após as obras de recuperação. A importância da recuperação mais informação relacionada com os deste espaço está expressa no Catálogo conteúdos científicos do Museu, essendo Museu, onde se pode ler: "A sua cialmente sobre o papel GUIA recuperação (do moinho) permitiu-nos Vamos agora ao coração do Museu, a Museu do Moinho do Papel - Rua preservar momentos relacionados com sala de fabrico de papel. Um grande Roberto Ivens, 1; Leiria; Tel: 244 839 a arqueologia industrial, bem como moinho de galgas e uma vetusta prensa, 672. Horário: terça a sexta-feira das fazer reviver técnicas e métodos tradiexemplos de tecnologias aqui usadas no 9h30 às 12h30 e das 14h30 às 17h00. cionais utilizados no decorrer destes passado, impõe-se ao olhar logo que se sábado e domingo por marcação. processos ao longo dos tempos." Além entra. Aqui, na mais ampla sala do disso o prémio de Melhor Trabalho de museu, desenvolvem-se diferentes ateliers incluindo fabrico de papel, desde a preparação da pasta Museografia, relativo ao ano de 2009, atribuído pela Associação Portuguesa de Museologia veio confirmar a até à folha, tal como se fazia no século XV. Caminhando em direção ao extremo do edifício, e assim relevância do projecto. n ao final da visita, uma espécie ronronar recebe os visitantes. José Luís Jorge
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“Sinfonia Imaterial” em circuito nacional Apresentado em Maio no Teatro da Trindade, “Sinfonia Imaterial”, um documentário representativo do património tradicional oral português actual, realizado por Tiago Pereira, numa produção Inatel, teve estreia exclusiva no Cinema City Classic Alvalade, de 26 Maio a 1 Junho, e será ainda exibido em diversas cidades do país, incluindo Açores e Madeira. a apresentação feita no Trindade, Cristina Baptista, administradora da Fundação, lembrou a aposta feliz da Inatel na produção do documentário cuja importância e qualidade assinalou. A responsável da área cultural da Fundação - que, em Abril último, participou, no Quebeque-Canadá, numa Conferência Internacional sobre “Património Cultural
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Imaterial” - frisou, ainda, a longa e histórica experiência da Inatel em matéria de salvaguarda e divulgação do património cultural imaterial em Portugal para acentuar que a produção do documentário resultou de “uma feliz coincidência: por um lado a vontade do realizador Tiago Pereira percorrer o país a registar as manifestações de música tradicional; e, por outro a vontade da Fundação INATEL em promover a realização de um filme que se centrasse no registo do nosso património cultural imaterial.” Presente, também, Elísio Sumavielle, secretário de Estado da Cultura, louvou a iniciativa e o papel da Inatel na preservação da cultura tradicional portuguesa e considerou, sobre o documentário, tratar-se de uma “excelente peça cinematográfica, montada e realizada com grande mestria. O Património Imaterial de Portugal emerge num ritmo intenso, que nos prende (…) A cultura a sua divulgação e a Fundação INATEL estão de parabéns”. Para José Alberto Sardinha, investigador da música tradicional, o filme faz “uma abordagem interessante de uma realidade que está em mutação e que tendo raízes internacionais nem por isso deixa de ser um património vivo e musicalmente participado pelas gerações mais novas. A opção estética é excelente e consegue simultaneamente mostrar o património musical e motivar a assistência”
“Despertar consciências” Única entidade portuguesa consultora da UNESCO no âmbito da Convenção para a Salvaguarda 44
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À esquerda, Cristina Baptista, administradora da Fundação, na apresentação feita no Trindade. Na página anterior, Tiago Pereira, o realizador do documentário
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Inatel Cultura
do Património Cultural Imaterial, a Fundação Inatel convidou, em 2010, Tiago Pereira para realizar um documentário abrangente, representativo do património tradicional oral português actual. A génese para “Sinfonia Imaterial” surgiu com uma ideia-base: a de que o património imaterial de Portugal é não só imenso como extraordinariamente diversificado e disperso pelo território nacional. Urgia mostrá-lo, celebrá-lo e necessária e consequentemente preservá-lo. Tiago Pereira, cujo percurso tem evidenciado uma ligação afectiva muito grande à cultura oral nacional e à sua divulgação, não faz, em “Sinfonia Imaterial”, uma recolha exaustiva das práticas musicais e orais tradicionais, mas o resultado final é muito representativo dessas tradições. ”Sinfonia Imaterial”, como assinala a Directora de Produção, Ana Xavier, é, sobretudo,“um documentário que deseja despertar consciências, estimular a atenção de um público abrangente para uma valorização de aspectos menos óbvios da sua tradição e memória colectiva”. Para tal – salienta – o objectivo foi sempre “mostrar exemplos deste património imaterial vivo mais do que falar dele”, e sempre em 46
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espaços exteriores, porque o espaço público merece ser um espaço de referência para as actividades musicais”.
Diversidade A diversidade do nosso património oral é realçada a cada instante. Os artistas filmados vão dos Pauliteiros de Miranda ao Grupo de Bombos de Erada, das Adufeiras de Monsanto a um tocador de búzio de São Mateus, no Pico. Os instrumentos, esses, são a guitarra, o pífaro, o acordeão, a gaita-defoles, as violas... Derrubar preconceitos e alertar a audiência para a riqueza da cultura – oral e não só – portuguesa é outro dos objectivos assumidos pelos responsáveis pelo projecto. Tiago Pereira percorreu, durante vários meses, o país de uma ponta à outra, de Braga a Porto Santo, a convite da INATEL, recolhendo fragmentos de um património imaterial riquíssimo que nos últimos anos tem tentado escudar e – em muitos casos – resgatar do esquecimento. O documentário de cerca de uma hora, sem narração e sem entrevistas, procura fugir ao esquema convencional, do “documentário-tipo”, apenas os artistas, os seus instrumentos e o ambiente que os rodeia. E, claro, a visão do realizador. n
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Memória
António Silva A eterna gargalhada «Não nasci na Graça, o meu pai não era para graças… Porque é que sou engraçado?», costumava dizer o grande actor, António Silva as era de facto muito engraçado, «alguém com mãos que falavam e com uma entoação única», como disse Isabel de Castro. E é por isso que, quando a RTP repõe os filmes em que o actor participou, o seu público continua a rir a bandeiras despregadas. Um actor pobre, sem escola, que começou a trabalhar muito cedo como empregado de retrosaria, depois marçano numa drogaria onde não era preciso nenhum curso para servir as freguesas que lhe pediam fita de nastro ou sabão amarelo. Como? Como é que este rapaz chega a primeira figura do teatro de revista e a protagonista do cinema português dos anos 40 e 50? É o que se conta nesta história de vida do «Sr. Silva».
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O “leão” António Silva lado a lado com o “portista” Erico Braga. A “eterna gargalhada” em “O Leão da Estrela”, de Artur Duarte (1947)
De marçano a actor Quando lhe perguntavam de onde lhe vinha o talento, o actor não sabia responder. Ainda
marçano, costumava ir espreitar os actores do Teatro da Rua dos Condes (que já foi cinema e hoje é o «Hard Rock). E confirmou-se o ditado, «tantas vezes vai o cântaro à fonte…», e António Silva acabaria por ser convidado para participar em algumas récitas de amadores. Em 1910 estreia-se numa peça de Tolstoi, «O Novo Cristo». Começa aqui uma longa e bem sucedida carreira que o levaria ao Brasil onde ficaria cerca de oito anos. No Rio, conhece uma jovem de boas famílias e apaixona-se. E mesmo contra a vontade dos pais da rapariga, António decide casar com ela. Ela chamava-se Josefina Barco, que conheceríamos depois como Josefina Silva, que viveria mais de 50 anos ao lado do actor.
Enquanto houver Santo António… Mais de 30 filmes, dezenas de revistas (mais de 50), alguma televisão, ele foi, parafraseando Artur Semedo, «o contraponto das lágrimas, do adeus que não regresso, do Tarrafal, da Pide, de Peniche, do Limoeiro… fazendo rir, sorrir e gargalhar um povo açaimado pela férrea ditadura». Um António no cadeirão do poder, um António nos palcos da revista, autores que não perdiam a ocasião de driblar a censura e aí temos António Silva a interpretar «Salvador» na revista «Arraial» (1933), imitando Salazar: é o alfaiate Oliveira e o Senhor Almeida (onde canta «uma casa e uma janela // fazer contas dentro dela…») Noutra revista, «Enquanto houver Santo António…» (1950) o actor dizia um texto directo ao ditador com algumas brejeirices que tinham escapado aos censores.
«Eu nunca me atrapalho…» Vocacionado para o teatro de revista, António Silva foi também um talentoso actor de drama e 48
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de comédia como o prova o seu trabalho em peças de Ramada Curto (A Fera), de Schwalbach (A Bisbilhoteira), de Somerset Maugham (Lady Kitty) ou G. Bernard Shaw (Pigmaleão), para só referir algumas. Teatro, sim, mas foi o cinema que lhe deu a imensa e justa popularidade de que ainda hoje desfruta quando a RTP decide transmitir os irresistíveis filmes que todos conhecem. Na verdade, «A Canção de Lisboa», «Maria Papoila», «O Pátio das Cantigas», «O Costa do Castelo», «A Vizinha do Lado», «O Leão da Estrela» ou «Fado, História de uma Cantadeira» continuam a divertir-nos e dão a conhecer às gerações actuais um fabuloso actor que «nunca se atrapalhava…».
Aldrabão, tímido, romântico Há anos, numa memória muito bem escrita por Marina Ramos para o jornal «Público», ficámos a saber que o cómico, meio aldrabão, meio tímido, era também um romântico e um galanteador com algumas paixonetas discretas que, segundo Artur Semedo, o deixavam de rastos. Apesar disso, António Silva nunca deixou a mulher e viveram tranquilos até à morte da sua única filha, facto que alterou a rotina do casal e que transformou o actor num homem ainda mais taciturno. Nos intervalos do seu trabalho no teatro corria
para o quartel de bombeiros da Praça da Alegria onde chegou a comandante com direito a medalha de honra do governo. Diz quem o conheceu que ele não gostava de se ver nos filmes que a Televisão transmitia e recusava-se mesmo a vê-los. Mas quem se recusa a ver, uma e outra vez, o alfaiate que faz a «prova» nas costas do cliente ou o droguista que se passa da cabeça quando lhe perguntam: «ó Evaristo, tens cá disto?» n Maria João Duarte
Em cima, Josefina Silva, Erico Braga e António Silva em “O Noivo das Caldas”, de Artur Duarte (1956). Em baixo, com Laura Alves no filme “Sonhar é Fácil”, de Perdigão Queiroga (1951)
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Olho Vivo
Alzheimer encolhe o cérebro Cientistas americanos de Chicago descobriram que o cérebro de doentes de Alzheimer mostravam uma redução da massa de neurónios nas zonas afectadas, dez anos antes de a doença ser diagnosticada. Compararam exames antigos de actuais doentes com imagens do cérebro já afectado e pensam que esta descoberta pode facilitar o atraso da doença, por detecção precoce. Os resultados sobre uma doença que afecta 26 milhões de pessoas em todo o mundo são publicados pela revista Neurology. O lobo sobrevive É uma notícia polémica: os Estados Unidos retiraram da lista de espécies ameaçadas de extinção o lobo cinzento das Montanhas Rochosas. A população de 1300 indivíduos é considerada "viável" pela administração norte-americana. As organizações ambientalistas, porém, acham que o governo se precipita para poupar algum dinheiro na conservação das espécies. A medida significa que os lobos podem ser caçados de novo nos estados de Idaho, Montana, Utah, Oregon e Washington.
O humor do atleta Ao contrário das ideias feitas, o desporto de alta competição não prejudica a saúde mental dos atletas, submetidos a grande stress. Cientistas franceses estudaram mais de dois mil atletas e concluíram que os distúrbios mentais desta população de elite não são em média superiores ao dos que não se submetem às modalidades mais exigentes. Problemas de depressão e ansiedade, distúrbios alimentares e perturbações do sono são tão frequentes entre os desportistas quanto na população em geral.
Neurónios dormem sestas Os neurónios isolados podem fazer pequenas sestas intermitentes, quando o organismo no seu todo está com falta de sono cérebro. Experiências feitas em ratos por cientistas americanos mostram que, quando obrigados a não dormir durante quatro horas e sendo sempre estimulados, os animais mostram em electroencefalogramas alguns neurónios em sono profundo, por períodos de um segundo, enquanto que todo o cérebro está bem acordado. O estudo vem na revista Nature. 52
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Intestino grupo A Assim como podemos ter um de três tipos de sangue, também há grupos intestinais, segundo cientistas alemães. A flora intestinal divide-se em três tipos distintos, chamados Bacteroides, Prevotella ou Ruminococus, consoante a bactéria, ou micróbio mais florescente em cada ecossistema. A descoberta abre portas a novas terapias para as doenças do foro enterológico e deve-se a biólogos de Heidelberg, que publicaram o seu estudo na revista Nature.
Saladas iluminadas As folhas de espinafre expostas mais tempo à luz dos balcões dos supermercados têm mais valor nutritivo, segundo especialistas do Texas. Por isso, escolher embalagens mais recentes do produto, como é costume fazermos nas prateleiras das lojas, pode não ser a receita. Os cientistas recomendam, pelo contrário, a escolha de embalagens mais "antigas", que estiveram por isso iluminadas mais tempo.
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A n t ó n i o C o s t a S a n t o s ( t ex t o s ) A n d r é L e t r i a ( i l u s t r a ç õ e s )
Depressão positiva
O tigre marsupial Tinha cabeça e corpo de cão, pêlo de gato e transportava as crias numa bolsa como um canguru. Chamava-se tilacino e é um animal mítico na Austrália e Tasmânia, onde se encontra extinto desde 1936. A dúvida sobre se seria um "lobo marsupial" ou o "tigre da Tasmânia" parece estar agora resolvida, por cientistas da Universidade de Brown: era mais felino que canídeo, porque caçava como os tigres, leões e panteras, isoladamente, e não em matilha, como os lobos.
Trabalho e coração Quem trabalha muitas horas seguidas pode aumentar significativamente o risco de ataque cardíaco, segundo cientistas britânicos. Trabalhar mais de 11 horas por dia aumenta a probabilidade de ataque cardíaco em 67 por cento, comparado com sete a oito horas diárias. Os investigadores não sabem se o efeito é directo ou se deve antes ao facto de um horário de trabalho muito prolongado aumentar outros factores de risco, como a má alimentação ou a falta de exercício. O estudo seguiu 7100 trabalhadores ao longo de 11 anos.
A depressão pode ter um efeito secundário positivo, segundo um estudo publicado no Journal of Abnormal Psychology, da autoria de cientistas suíços e alemães. Os indivíduos deprimidos são melhores a executar tarefas que implicam decisões em cadeia. Os investigadores crêem que a depressão pode aumentar as capacidades para o raciocínio analítico e a persistência.
Uma mão com meio milhão de anos No mundo há nove dextros para cada esquerdino e agora antropólogos americanos, croatas, italianos e espanhóis concluíram que a divisão entre uso prioritário da mão esquerda ou mão direita tem meio milhão de anos. Estudaram fósseis de antepassados do Homem e concluíram que a divisão se produziu por volta desta época remota. Tudo isto foi deduzido do estudo de dentes de neandertais encontrados em Burgos, Espanha.
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A Casa na árvore Susana Neves
O Príncipe Discreto O lódão deu-nos tudo, até varapaus para o defendermos como um dos melhores elementos da nossa família.
Rua Pascoal de Melo num postal do início do século XX (in “A Lisboa de Fernando Pessoa”, Marina Tavares Dias, Assírio & Alvim) e nos dias de hoje
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oi preciso agarrá-los pelos cabelos, impedi-los de continuarem a comer aquele pequenino e delicioso fruto que levava ao esquecimento e ao sono profundo. Este fruto, que atraía os companheiros de Ulisses, chamava-se "loto", e embora Lineu, no século XVII, tenha negado a sua identificação com a drupa ou baga do lódão (do latim "lotanus", derivado do grego "lotos"), ela permaneceu e chegou a Portugal.
Enquanto o "astuto" guerreiro grego, Ulisses, e os seus companheiros de viagem, no relato de Homero, conhecem a árvore dos "Lotófagos" (povo que comia "loto") oriundo de uma ilha no Norte de África, segundo uma lenda duriense, a cidade de Lamego foi invadida por um povo da mesma região que junto ao Castelo plantou um lódão na esperança de vir a comer os seus frutos e esquecer por completo a Pátria. Segundo a mesma lenda, o povo invasor não chegou a comer o "loto" ambicionado, eventualmente por provir de uma espécie de lódãos gigantes que rivalizam em altura com certas palmeiras tropicais, e a cujo fruto os africanos juntavam farinha de maneira a confeccionarem uma pasta reservada aos tempos de fome. Apesar do lódão comum em Portugal ser de outra espécie (Celtis Australis L.), também o seu fruto, a "Ginjinha-do-Rei", era apreciada entre nós. As folhas usavam-se como forragem para alimentar os animais, da casca obtinha-se um corante amarelo. Com o seu habitual sentido de aproveitamento dos recursos naturais, os nossos antepassados usavam ainda a madeira flexível e resistente do lódão na construção de socas, alfaias agrícolas, máscaras e varapaus, indispensáveis ao "Jogo do Pau", a "arte marcial" portuguesa. No início do século XX, possivelmente seguindo, com bastante atraso, a moda parisiense, os lódãos passam a ser a "árvore topo de gama" dos arruamentos do nosso País: adaptava-se à poluição, era soalheira e civilizada. Num interessante capítulo designado "As árvores da cidade de Lisboa" ("Floresta e Sociedade - Uma História em Comum", 2007), Ana Luísa Soares e Cristina Castel-Branco defendem: "O lódão bastardo ocupa desde 1929 sempre a posição cimeira (de 14,8 a 19,5% do total das árvores de arruamento)", resultante dos seguintes factores: "(...) é uma espécie de altura média com uma copa volumosa que faz uma excelente sombra e que apesar de sofrer com o calor excessivo que provoca o enrolamento das folhas, resiste aos ataques dos insectos e apresenta raízes robustas, profundas e capazes de se desenvolver nos interstícios das camadas rochosas".
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Fotos: Susana Neves
Comportando-se com uma discrição notável, digna de um Príncipe, o lódão (uma Ulmaceae) tornou-se um elemento indispensável da nossa família. Estando por toda a parte, nos arruamentos e como bordadura dos jardins, ele é a nossa memória que, por razões fúteis ou por descuido, nos empenhamos em destruir, como aconteceu recentemente com o abate de dezenas de árvores centenárias na Rua Dona Estefânia, em Lisboa, onde morou o poeta Fernando Pessoa. Os lódãos é que nos dizem das "estações", como tão bem recorda o poeta Eugénio de Andrade, que nos anos 80, magoado com o abate da árvore a quem prodigalizava "desvelos de namorado", disse ao Presidente da Câmara do Porto preferi-la a qualquer medalha de ouro da cidade: "Se falei de árvores com ácida melancolia é porque me derrubaram uma das que mais amei na vida, o velho lódão que me entrava pela varanda (…). O móbil foi, naturalmente, atravancar a rua com mais automóveis (...). Levei anos e anos a lamentar-me, até que, não há muito ainda, numa cerimónia em que, surpreendentemente, me fizeram cidadão honorário do Porto, disse ao Presidente da Câmara que preferia uma árvore à porta do que a medalha de ouro da cidade, com
que me distinguia e honrava toda a vereação. Ele prometeu-me outro lódão e cumpriu a promessa, Deus seja louvado. Agora a casa onde moro é fácil de descobrir: tem um troncozito despido que lembra um poema meu, exíguo e desamparado". Desamparadas e exíguas parecem as ruas onde outrora os lódãos centenários, agora abatidos, poderiam atingir a longevidade máxima, cerca de 600 anos, celebrando todas as Primaveras com as suas copas de um verde subaquático e, todos os Invernos, vestindo a rigor os troncos com musgos luxuosíssimos. Se os lódãos adoecem, se inclinam e ameaçam cair como acontece na Rua Pascoal de Melo, em Lisboa, ou seja, não crescem em "esplendor", como a árvore de Eugénio de Andrade, é porque não têm "a certeza de serem amados". Ao perder o privilégio da sua companhia, perdemos também a possibilidade de nos enraizarmos com felicidade no presente, o mesmo bem estar que, para além da amnésia e do sono profundo, provocava o fruto dos Lotófagos. n JUN 2011 |
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62 CONSUMO O Verão é tempo de lazer…mas tem os seus riscos: intoxicações alimentares, afogamentos, acidentes com bicicletas, etc…Saiba defender-se. Pág. 58 l LIVRO ABERTO O século XX terá sido dos mais violentos de toda a história da humanidade. É o tema de “A Pior das Guerras”, de Daniel Jonah Goldhagen, Pág. 60 l ARTES Na Cordoaria Nacional, em Lisboa, até dia 26, está patente a exposição “Sim”, pintura e desenho de Sofia Areal, que engloba a sua obra de 2000 a 2011. Pág. 62 l MÚSICAS “The Most Incredible Thing”, recente duplo-álbum dos Pet Shop Boys, marca de forma indelével a edição discográfica em 2011. Pág. 64 l NO PALCO Einstein e o Papa são temas das peças em cena, em Junho, respectivamente em “A Barraca” e no teatro da Cornucópia. Pág. 66 l CINEMA EM CASA Verão à vista, férias mais longas, pretexto para uma selecção de quarto filmes dos Estúdios Disney para os mais novos. Pág. 68 l GRANDE ECRÃ "O Panda Kung-Fu 2" invade festivamente em Junho as salas do país. Noutra latitude, o regresso triunfal da actriz realizadora, Jodie Foster com Mel Gibson em terapia com um castor. Pág. 69 l TEMPO INFORMÁTICO Os nossos ficheiros, fotografias, vídeos e outros, necessitam cada vez de mais mais espaço e os computadores ficam demasiado cheios… Pág. 70 l AO VOLANTE O BMW X1: num primeiro olhar um modelo compacto; num segundo olhar, o desafio de conhecer algo novo, a começar pelo design. Pág. 71 l SAÚDE Quando os estrogénios deixam de ser produzidos pelos ovários, nas quantidades habituais, a mulher entra em sofrimento. Pág. 72 l PALAVRAS DA LEI O trabalho suplementar integra “todas as situações de desvio ao programa normal de actividade do trabalhador, tais como o trabalho fora do horário em dia útil”. Pág. 73 l
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Boavida|Consumo
Perigos de Verão O Verão é tempo de férias, de lazer e actividade ao ar livre. Mas tem os seus riscos: intoxicações alimentares, afogamentos, acidentes com bicicletas, etc. Para umas férias bem passadas, não há como conhecer estes perigos e defender-se deles.
Carlos Barbosa de Oliveira
sol é uma das melhores dádivas do Verão, mas também um dos seus perigos. Os abusos da exposição solar que se verificam no período estival representam uma ameaça para a saúde. Os raios ultravioleta penetram facilmente na nossa pele, causando prejuízos que podem ser fatais. Incidem em todos os grupos etários, tendo, contudo, maior incidência entre os 14 e os 40 anos, e afectam particularmente o sexo feminino. As costas, as pernas e o peito são as áreas do corpo de maior risco. Recorde-se que os últimos anos têm sido caracterizados por um aumento do melanoma (cancro cutâneo), mas existem outros malefícios associados à excessiva exposição solar. É o caso do “golpe de sol”, que provoca febre, dor de cabeça, tonturas e, por vezes, vertigens e delírio. Por isso, certas precauções e um bom protector solar, podem constituir um verdadeiro seguro de vida para quem se expõe aos efeitos do astro-rei na praia, na piscina, ou no campo. As crianças requerem cuidados especiais: defenda-as do sol directo se tiverem menos de seis meses e quando a radiação for demasiado forte; mantenha-as à sombra, protegidas com uma camisa folgada, e dê-lhes de beber com frequência.
O
A ALIMENTAÇÃO
O Verão é propício a problemas alimentares. O mais frequente resulta da mais fácil deterioração de alguns produtos, devido às elevadas temperaturas. Consumimos mais alimentos crus – frutas, saladas -, que nem sempre estão bem lavados. Surgem então as diarreias, os vómitos, as cólicas e, em casos mais graves, as intoxicações, provocadas por microorganismos como a listeria e a salmonela. Cerca de 50% das toxi-infecções alimentares ocorrem fora de casa. Quando se viaja, os riscos são redobrados. Segundo a OMS, entre 20 e 50 por cento dos turistas são vítimas de diarreia, provocada por alimentos contaminados. Mas estes podem também ser responsáveis por febres tifóides, poliomielite, hepatite A e infecções parasitárias diversas. Porém, quer viaje quer fique em terra, não deixe que a comida lhe estrague o descanso estival. Tome os seguintes cuidados: 58
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l Lave bem os utensílios usados na preparação dos alimentos: facas, tábuas de cozinha, etc. l Os alimentos crus devem ser muito bem lavados. l Respeite, mais do que nunca, os prazos de validade dos produtos. l Não deixe fora do frigorífico alimentos que têm de ser refrigerados. l O peixe, a carne, os ovos e os lacticínios só devem ser retirados do frigorífico no momento de serem cozinhados. De preferência, descongele os alimentos no microondas ou coloque-os sob água corrente. Caso contrário, há riscos de desenvolvimento de bactérias como a salmonela. l Consuma os alimentos bem “passados”, em particular a carne e os ovos. l Se fizer piqueniques ou levar alimentos para a praia, não os exponha ao sol. l Se tiver dúvidas sobre a proveniência ou a frescura de um alimento, não o consuma. l Atenção aos mariscos e bivalves, responsáveis por muitas intoxicações nos meses de Verão. Lembre-se que os mariscos devem ser bem cozidos. Os vegetais e as frutas devem ser cuidadosamente lavados. l Em viagem, evite o leite não pasteurizado, bebidas não engarrafadas e alimentos crus, excepto frutas e legumes, que podem ser descascados. l Atenção aos pratos confeccionados com ovos crus ou mal cozidos, como as maioneses, certos molhos e sobremesas.
NADAR EM SEGURANÇA
Associados ao Verão estão os banhos no mar, no rio ou em piscinas. Um elemento indispensável nas férias de muita gente, mas que tem os seus riscos, como demonstram as cifras dos afogamentos que todos os anos se registam em Portugal. São acidentes que podem ter múltiplas origens: o banhista afasta-se demasiado das margens sem saber nadar, é levado por uma corrente forte ou, pura e simplesmente, sofreu uma congestão. Tratando-se de crianças, são vulgares as quedas em piscinas, que geralmente têm resultados funestos. De acordo com as estatísticas, 60% dos afogamentos ocorrem no mar e atingem pessoas de todas as idades; 10% sucedem em rios, lagoas ou albufeiras e ANDRÉ LETRIA
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têm como principais vítimas crianças e adolescentes; 7% têm lugar em piscinas, sendo a queda de crianças com menos de três anos o acidente mais comum; 5% acontecem em poços sem muros de protecção e 2% em banheiras, dentro de casa, com crianças pequenas. Aos afogamentos há ainda que juntar outro tipo de acidentes, como os ferimentos em rochas, as quedas na areia, etc. Caso especial é o dos parques aquáticos. Os equipamentos de lazer de que dispõem – escorregas, piscinas de vários tipos - prestam-se à ocorrência de acidentes, especialmente quando estão em causa crianças. Para que nada ensombre o seu Verão, lembre-se que “há mar e mar, há ir e voltar” . Tome as seguintes precauções: l Prefira as praias vigiadas. Tratando-se de praias fluviais, lembre-se que certos rios escondem fundões, remoinhos e outros perigos l Respeite os sinais das bandeiras, assim como as instruções dos nadadores-salvadores; l Mesmo que nade bem, não se afaste demasiado da costa l Após uma longa exposição ao sol, não entre repentinamente na água; l Não mergulhe em locais que não conhece; l Tenha uma especial atenção às crianças, vigiando-as permanentemente. Às mais pequenas, coloque-lhes, de preferência, um colete insuflável. Lembre-se que as braçadeiras apenas são admissíveis em águas pouco profundas e sempre sob vigilância de adultos; PREVENIR, PARA EVITAR ACIDENTES...
O bom tempo convida a passeios e brincadeiras em bicicletas, trotinetes, patins e skates. Como se tratam de veículos com alguma instabilidade, exigem cautelas que nem sempre são observadas, como se prova pelo facto de o número de acidentes com bicicletas ter aumentado significativamente em Portugal nos últimos anos. O ideal é não esquecer o equipamento de protecção e... ter cuidado com as curvas! l Se for ciclista, escolha cuidadosamente o capacete que vai comprar. Um estudo recente demonstrou que, em caso de queda sem capacete, o risco de ferimentos na cabeça é cerca de seis vezes superior e o de lesões cerebrais, cerca de oito vezes maior. l Se andar de skate patins ou trotinete, use equipamento de protecção: capacete, joelheiras e cotoveleiras. O capacete deve ajustar-se bem à cabeça. Quando inclina ou abana a cabeça, deve manter-se no lugar. Assim terá a certeza que, em caso de queda ou colisão, o capacete o protegerá. Por uma questão de conforto, prefira os modelos bem ventilados; l Use, de preferência, locais próprios para a prática destes desportos. n JUN 2011 |
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Boavida|Livro Aberto
Da maldade humana à crença nas fadas Um célebre diálogo epistolar entre Einstein e Freud sobre a inevitabilidade da guerra no quadro das pulsões humanas deixou em aberto esta grande questão: será o Homem capaz de viver sem a guerra e sem a violência organizada?
José Jorge Letria
ito de outra maneira: serão as guerras e as outras formas de violência fruto de circunstâncias ou resultantes da própria natureza humana? Até ao fim dos tempos, as opiniões dos filósofos e dos outros continuarão sempre a dividirse sobre esta matéria. Uma coisa entretanto é certa: o século XX terá sido dos mais violentos de toda a história da humanidade. É justamente disso que fala o notável estudo "A Pior das Guerras" (Casa das Letras), de Daniel Jonah Goldhagen, também autor de "Os Carrascos Involuntários de Hitler". Com o subtítulo "Genocídio, Extermínio e Violência no Século XX", este livro faz o trágico balanço das guerras e das múltiplas formas de extermínio que mancharam de sangue o século XX, desde a Europa à China, desde o Médio Oriente até ao Darfur. Como disse acertadamente um crítico, estamos em presença de uma verdadeira "história natural do assassínio em massa". Ao longo de quase 800 páginas, o autor demonstra que, em todas as latitudes, o ser humano foi, durante o século XX, o maior e o mais cruel de todos os predadores, bastando os 60 milhões de mortos da Segunda Guerra Mundial e os seis milhões de vítimas do Holocausto no mesmo período para nos fazer reflectir, individual e colectivamente, sobre aquilo que queremos para o século em curso, já de si marcado por tantas incertas, agressões, ameaças e catástrofes naturais. Um livro que dá muito que pensar e, por isso mesmo, um livro a não perder.
D
COM UMA TEMÁTICA próxima do livro anterior, mas em registo de ficção, "O Violino de Auschwitz" (D. Quixote), de Maria Àngeles Anglada, tem a sua acção situada em Cracóvia, em Dezembro de 1881, quando uma violinista, num concerto dedicado a Mozart, surpreende um colega com o aspecto e a sonoridade do seu violino. É assim que começa a ser narrada a história de Daniel, um inter60
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nado em Auschwitz, que consegue construir o instrumento que se encontra no centro desta história ao mesmo tempo dramática, poética e de grande profundidade psicológica. Um livro tocante, que parece ter sempre música em fundo. NUM OUTRO DOMÍNIO, o do ensaio teológico, o destaque vai para o livro "São Paulo, Dois Mil Anos Depois" (Editorial Presença), no qual o padre Carreira das Neves, da Academia das Ciências se debruça sobre a actualidade da figura e do pensamento de São Paulo, que não tendo conhecido e convivido com Jesus Cristo, se converteu no mais empenhado, competente e eficaz difusor da sua doutrina e da sua mensagem nos vários lugares onde catequizou homens e mulheres e lançou as bases orgânicas do que viria a ser o cristianismo e depois a Igreja Católica. Reler as suas epístolas continua a ser um motivo sempre renovado de reflexão, mesmo para os não crentes, como é o caso do autor desta crónica de livros. TÍTULOS DE FICÇÃO narrativa de qualidade a mere-
cerem destaque por serem leituras para todas as estações, não estando sujeitas às flutuações do gosto: as reedições de "Os Buddenbrook" (D.Quixote), do Nobel da Literatura Thomas Mann, e de "A Paixão de Jane Eyre" (Publicações Europa-América), um clássico de Charlotte Bronte, e o magnífico "Raposas de Fogo", da norte-americana Joyce Carol Oates (Casa das Letras), também autor do brilhante ensaio sobre a vocação para a escrita e a sua concretização intitulado "A Fé de um Escritor". Três livros que vale a pena levar para o Verão, por serem mais profundos que todas as crises. OBRA DETERMINANTE no quadro da formação dos estudos sociológicos, "As Regras do Método Sociológico" (P. Europa-América), de Émile Durkheim, foi publicado numa revista filosófica em 1894, autonomizando-se
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depois como texto referencial da Sociologia no século XX. Um texto sempre actual que nos ajuda a compreender as bases de uma das mais importantes ciências humanas, justamente aquela que estuda os comportamentos, as acções e as formas de organização dos seres humanos em sociedade. DA MESMA EDITORA e para quem acredita em fadas ou
está disponível para vir a acreditar nelas é o delicioso "Tratado das Fadas-Seguido de Vários Tratados Famosos
com a Mesma Temática", de Ismael Mérindol, traduzido e adaptado por Edouard Brasey. Mais do que um mero livro sobre as fadas, estamos em presença de um verdadeiro tratado sobre o pensamento mágico que reflecte o que sobre este tema esotérico se sabia e pensava no século XV. O adaptador é um romancista contemporâneo que é conhecido por ser um estudioso dos mitos e das lendas nórdicos e do papel das fadas no imaginário colectivo. Realce ainda para o sedutor grafismo desta edição. n
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Boavida|Artes
Sofia Areal na Cordoaria Nacional:
O prazer da pintura Até ao próximo dia 26 do corrente mês é possível ver na Galeria Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, Lisboa, a exposição "Sim", pintura e desenho de Sofia Areal, que engloba a sua obra de 2000 a 2011 e com que faz uma pausa de reflexão nos seus 50 anos de vida.
Rodrigues Vaz
ilha do celebrado pintor António Areal, a artista cresceu e viveu ligada à pintura, o que se evidencia no desembaraço das suas soluções de composição e no domínio do grande formato, próprio de quem está habituado a lidar com o espaço e as superfícies. Muito próxima da pintura minimal, acaba, no entanto, por demarcar-se desta corrente estética, ao utilizar gradações nas cores planas que vai desfazendo em manchas, as quais, apesar da imprecisão espacial, resultam em certos elementos evocadores de sentimentos paisagísticos que adquirem, por sua vez, vibrações que transcendem o postulado "pintar por pintar" sem, paradoxalmente, deixar de lado o prazer da pintura.
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CARLOS BARÃO NA GALERIA VALBOM
De certo modo na mesma linha mas evidenciando um pendor mais gestualista está Carlos Barão a mostrar na Galeria Valbom (até 30 de Junho), igualmente em Lisboa, as suas últimas obras, subordinadas ao título "O Parentesco das Coisas". Como dizia Rocha de Sousa há dois anos, "No seu pleno espaço de expressão, ele elabora formas através de linhas, tintas como que rasuradas, colagens, manchas de recortes particulares, antropomórficos, ou caligrafias narrativas em torno dos personagens do quotidiano, da família e dos adereços construtivos." Por isso mesmo é que estes quadros agora mostrados se apresentam como a confluência de sendas amiúde incompletas, de traços que ascendem em círculos indeterminados, como fantasmáticas 62
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O rinoceronte de D. Manuel I, de Onik. Em baixo, pintura de Carlos Barão
torres de Babel, que por sua vez compõem novos elementos que se vão transformando em símbolos caligráficos, que por sua vez compõem egos e estes por sua vez, compõem estórias… ONIK E PAUL MATHIEU
Registo completamente diferente é o que Onik, artista iraniano radicado há vários anos em Portugal, apresenta por sua vez na Galeria Movimento Arte Contemporânea, Lisboa. Tendo como objectivo principal a representação do próprio movimento da energia, como núcleo central da vida, Onik,
que foi aluno do inefável Salvador Dali, revisita de novo o Surrealismo como movimento visionista que tomou as imagens oníricas como principal fonte de inspiração. Caracterizando-se por um desenho meticuloso, numa minuciosidade quase fotográfica no tratamento dos detalhes, com um colorido muito brilhante e luminoso, Onik lança como que uma escada entre os mundos do real e do irreal, palmilhando a estrada dos homens, onde, por caminhos aparentemente perdidos, enfrentam uma beleza intraduzível. Por outro lado, Paul Mathieu, artista plástico belga radicado há muito em Portugal, apresenta na novel Galeria Paula Cabral, Lisboa, "Contraste Atmosférico", fruto dos seus dois últimos anos de trabalho. São obras de grande pujança cromática pretendendo recriar um grande contraste entre uma atmosfera cinzenta e os outros elementos basilares: água azul, fogo encarnado, e o amarelo da luz sola, utilizando a linha ou a composição diagonal, como base para realçar o movimento, onde a linha é utilizada enquanto elemento gerador de superfície de forma subentendida ou expressa. n
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Boavida|Músicas
Pet Shop Boys: um “Incrível” regresso Os britânicos Pet Shop Boys lançaram recentemente um duplo-álbum com o título genérico “The Most Incredible Thing”.
Vítor Ribeiro
U
ma obra de carácter sinfónico, de grande fôlego, que marca de forma indelével a edição discográfica em 2011.
Neil Tennant e Christopher Lowe, músicos e compositores que no início dos anos 80 do século passado fundaram os Pet Shop Boys e assumiram lugar de destaque na vanguarda da chamada pop electrónica, surpreendemnos agora com um extraordinário trabalho inspirado na obra “The Most Incredible Thing”, uma das últimas histórias criadas pelo universalmente conhecido escritor dinamarquês Hans Christian Andersen (1805-1875). “Atormentado” pelos acontecimentos políticos do seu tempo, Andersen escreveu aquele texto a propósito da guerra franco-prussiana em 1870 e posteriormente entre a Prússia e a Dinamarca. De resto, aquela mesma obra foi reeditada pela Resistência dinamarquesa, quando se registou a ocupação do país pelos exércitos nazis, durante a Segunda Grande Guerra (1940-1945). Os patriotas dina-
marqueses tinham a noção de que “The Most Incredible Thing” era uma parábola da vitória do bem sobre o mal. Talvez por serem também tormentosos os tempos em que nos obrigam a viver, os Pet Shop Boys retomaram a obra de Andersen com invulgar empenho e compuseram uma obra de carácter sinfónico, para a companhia de bailado Sadler`s Wells de Londres. Lançada a ideia em 2007, decorreram três anos de intenso trabalho, até que, no final de 2010, o álbum foi gravado na Polónia pela Wroclaw Score Orchestra dirigida por Dominic Wheeler. As orquestrações foram da responsabilidade de Sven Helbig e Javier De Frutos assinou a coreografia. O lirismo, a ironia, a tristeza e a alegria são-nos transmitidos por sonoridades em que se entrecruzam a música sinfónica, a pop/rock, a electrónica e o minimalismo. “The Most Incredible Thing” é uma obra imponente e extremamente bela. Entretanto, a companhia de bailado Sadler`s Wells está já a planear uma digressão para 2012. Com sorte, poder ser que passem por Portugal. n
CONCERTOS MAYRA EM LISBOA
ESTORIL JAZZ
LAMB EM PORTUGAL
A cantora cabo verdeana Mayra Andrade
Últimos dias da 30ª edição do Estoril
Os Lamb, projecto inglês dos músicos e
efectua um concerto em Lisboa dia 3 de
Jazz, a decorrer no auditório do Casino.
compositores Lou Rhodes e Andy
Junho. Estará no Coliseu, a partir das
Dia 3 de Junho, Mário Laginha Trio,
Barlow, estarão em Portugal em Junho
21h30. Os promotores afirmam: “O seu
pelas 21h30. Dia 4 de Junho, Hal Galper
para três concertos: 10 de Junho no
último trabalho, Estúdio 105, coloca a
Trio, às 18h00. Dia 5 deJunho, Joe
Pavilhão do Arade, em Lagoa, no dia
sua magnífica voz num cenário mais
Lovano Quarteto, a partir das 19h00.
seguinte no palco do Grande Auditório
despido em termos de arranjos,
do Centro Cultural de Belém, em Lisboa,
permitindo-lhe obter um brilho ainda
e 12 de Junho no Coliseu do Porto. A
mais intenso”.
partir das 21h00.
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Boavida|No Palco
O século de Einstein A vida e obra de Einstein servem de mote para a descrição geral do séc. XX, bem como para a caracterização de inúmeras personagens históricas que transformaram o século passado em algo único. No palco de A Barraca, até 10 de Julho.
Maria Mesquita
Fernandes; Execução de Figurino: Alda Cabrita e Inna Siryk;
vida de Einstein daria vários filmes, romances, debates, discussões. Um homem que passou pela História e ficou nela registado não só pelas suas descobertas científicas, mas também pelo seu humor, pela sua personalidade dócil, extravagante, gentil, boémia também. E é dos relacionamentos de amizade que esta incrível personagem de carne e osso teve ao longo da sua vida que trata esta encenação d’A Barraca. Travou conhecimento com numerosas outras grandes figuras que integram igualmente o nosso imaginário mais recente: políticos, cineastas, músicos e actrizes. Envolveu-se em lutas políticas e defendeu os interesses que achava que deveria defender. Invulgarmente inteligente, Einstein foi um judeu avesso a fundamentalismos étnicos e que nunca tratou ninguém com superioridade. Uma produção apaixonante e enriquecedora sobre o grande génio do século XX com a assinatura de Hélder Costa.
Fernando Belo, Ricardo
Luz, Som e projecções: José Carlos Pontes; Montagem:
A
FICHA TÉCNICA: Texto, espaço cénico, encenação, guião
musical: Hélder Costa; Recolha musical e vídeo: Caio Quinderé; Boneco Einstein: Yuri Yamamoto; Figurino: Rita 66
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“ELA”, O PAPA…
A partir de 16 de corrente, a Cornucópia terá em cena “ELA”, obra póstuma em 1 acto de Jean Genet sobre o Papa, escrita na mesma altura de A Varanda, que aborda de forma mais ligeira e humorística, e não menos cruel, a temática da imagem e da distância entre ela e o eu, prevista para Novembro e Dexembro próximos. “ELA” é Sua Santidade o Papa, imagem vazia da autoridade religiosa. Na peça um fotógrafo vem fazer uma fotografia oficial ao Papa. Depois de uma primeira parte em que o contínuo que guarda a porta dos aposentos pontificais constrói para o fotógrafo a imagem oficial do papa, chega o papa, ser assexuado, afinal em cima de patins e vestido só da parte da frente, revelando-se em tudo diferente da imagem e chegando a dizer: ”eu sou nada.” Uma questão entre o Eu e os outros, o Ego dos que estão “acima” dos outros. Tanto, que a meio da sessão fotográfica oficial, central neste texto, o Papa pergunta ao fotógrafo que o tenta retratar para a posterioridade: “Não
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sei se quando um homem se ajoelha perante mim, o faz pelo acto em si, ou pela veneração aos meus pés”. Um ser assexuado que acaba por não perceber qual a sua real importância, embora saiba bem como lidar com o “estrelato” e mediatismo que a sua personagem carrega desde os primórdios dos tempos. FICHA TÉCNICA:Autor: Jean Genet; Tradução e encenação:
Luis Miguel Cintra; Cenário e figurinos: Cristina Reis; Desenho de luz: Daniel Worm D’Assumpção; Interpretação: Ricardo Aibéo, Luis Lima Barreto, Luis Miguel Cintra e Dinis Gomes. CASAMENTO EM JOGO
De 17 de Junho a 31 de Julho o Teatro da Trindade apresenta, na sala principal, a peça de Edward Albee, Casamento em Jogo”. O que é o amor conjugal? Será possível manter o amor vivo durante trinta anos sem que haja lugar para ressentimentos e recriminações? Será que um casamento é feito por dois seres que se complementam, ou por duas pessoas que afinal se desconhecem? Esta comédia dramática,
inédita em Portugal, expõe com intensidade as decepções, alegrias, memórias e traições que se revelam durante uma noite de conflito entre um homem e uma mulher. Ao amanhecer a separação parece inevitável, mas nenhum dos dois dá o primeiro passo. FICHA TÉCNICA:De: Edward Albee; Encenação: Graça P.
Corrêa; Com: Cucha Carvalheiro e Rogério Samora; Figurinos: Tenente; Cenografia: Ana Vaz; Luz: João Paulo Xavier; Classificação: M/12
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Boavida|Cinema em Casa
Magia Disney Solstício de veraneio com férias longas à vista, sobretudo para os mais pequenos, justificam estas quatro propostas dos Estúdios Disney: Entrelaçados, uma adaptação de um clássico dos Irmãos Grimm; O Aprendiz de Feiticeiro, com Nicholas Cage no papel de um Mestre de Magia; Secretariat e a magia do mundo hípico; e Tron: O Legado, remake feliz de um clássico dos anos 80. Sérgio Alves ENTRELAÇADOS
O APRENDIZ DE FEITICEIRO
SECRETARIAT
TRON: O LEGADO
Encerrada pela mãe na Torre,
Baltazar é um Mestre de Magia
Com o Pai doente, Penny,
Sam é um jovem de 27 anos
a princesa Rapunzel vive,
na Nova Iorque dos dias de
uma dona de casa, assume a
atormentado com o desapareci-
com o seu longo cabelo
hoje e que procura defender a
gestão dos estábulos da
mento misterioso do pai, Kevin
dourado, distante do mundo
cidade do seu arqui-rival
família apesar de não saber
Flynn - um génio na criação de
que a rodeia. Um dia, é sur-
Maxim. Para tanto, vai con-
nada sobre cavalos e respecti-
jogos de vídeo. Ao investigar
preendida na
vencer o jovem Dave, um estu-
vas corridas. Com a ajuda do
uma estranha mensagem
torre pelo bandi-
dante universitário com
experiente treinador Lucien,
proveniente do antigo
do mais procura-
enorme potencial, a ajudá-lo.
ela consegue revolucionar o
escritório do pai, o jovem entra
do do Reino,
Terá, porém, que lhe ensinar
negócio, tradicionalmente
num mundo novo, digital e
Flynn Ryder,
tudo o que sabe da arte e ciên-
masculino, ao alcançar a
futurista, e acaba por encontrar
que é feito pri-
cia da Magia e esperar que o
primeira vitória na Triple
o seu progenitor. Com a ajuda
sioneiro pela
jovem aprendiz se torne tão
Crown e produzir o melhor
da lutadora Quorra, eles vão
jovem. Esta faz um acordo
poderoso quanto ele para, jun-
cavalo de corrida de todos os
enfrentar uma série de desafios
com ele: guiá-la na viagem
tos, derrotarem as forças do
tempos. Seguindo a tradição
perigosos e viver a aventura
que ela quer fazer até ao local
Mal. A tarefa não é fácil para
do cinema americano de
das suas vidas num universo
onde todos os anos por altura
Dave: terá de sobreviver ao
filmes sobre desportos,
totalmente digital. Remake de
do seu aniversário surgem
treino, defender a cidade e
incluindo os de
um filme dos anos 80, Tron
umas luzes brilhantes no
ficar com a sua amada enquan-
corridas de ca-
(1982), que não teve grande
céu…e aí começa a grande
to se torna no
valos - caso do
êxito junto do
aventura! Conto de fadas
Aprendiz de
clássico "O
público, o filme
alemão dos Irmãos Grimm,
Feiticeiro.
Cavalo Preto"
foi, agora, um
foi adaptado pelos estúdios
Baseado num
(1979) -,
sucesso de bi-
Disney num formato de ani-
segmento de
Secretariat é um retrato origi-
lheteira e bem
mação tradicional que encan-
Fantasia, um
nal e intenso deste mundo
recebido pela críti-
clássico da
tou crianças e famílias nas
exclusivo dos cavalos. Diane
ca, com nomeação para os
salas portuguesas. Um clássi-
Walt Disney (1940), no qual o
Lane é a lindíssima protago-
Óscares efeitos visuais e
co imperdível graças à quali-
ainda jovem Rato Mickey fazia
nista, acompanhada pelo ver-
sonoros. Estreado entre nós no
dade da imagem, do som e da
de aprendiz de feiticeiro, o
sátil John Malkovich, o
final de 2010, "Tron: o Legado"
banda sonora, com a assinatu-
filme, recheado de magia e
treinador. Realizado por
foi um dos acontecimentos
ra de uma dupla jovem com
poderes invulgares, tem elenco
Randall Wallace, celebrizado
cinematográficos marcantes do
créditos firmados no cinema
de grandes estrelas: Nicholas
pelo argumento de
ano, quer pela ousadia visual
de animação, sobretudo de
Cage, Alfred Molina, Monica
"Braveheart", é um filme para
quer pelo arrojo técnico e pela
Byron Howard, realizador de
Bellucci e a jovem estrela em
apaixonados do mundo hípi-
banda sonora, feita à medida
Bolt (2008).
ascensão Jay Baruchel.
co e não só.
do filme pela dupla Daft Punk.
TÍTULO ORIGINAL: Tangled;
TÍTULO ORIGINAL: The
TÍTULO ORIGINAL: Secretariat;
TÍTULO ORIGINAL: Tron: Legacy;
REALIZAÇÃO: Nathan Greno e
Sorcerer's Apprentice; REALI-
REALIZAÇÃO: Randall Wallace;
REALIZAÇÃO: Joseph Kosinski;
Byron Howard; VOZES: Mandy
ZADOR: Jon Turteltaub; COM:
COM: Diane Lane, John
COM: Jeff Bridges, Garrett
Moore, Zachary Levi, Donna
Nicolas Cage, Jay Baruchel,
Malkovich, Dylan Walsh, Margo
Hedlund, Olivia Wilde, James
Murphy, Ron Perlman, M.C.
Alfred Molina, Teresa Palmer,
Martindale, James Cromwell;
Frain, Michael Sheen; EUA,
Gainey; EUA, 100m, Cor, 2010;
Monica Bellucci; EUA, 109m, Cor,
EUA, 123m, cor, 2010;
125m, cor, 2010; EDIÇÃO: Zon
EDIÇÃO: Zon Lusomundo
2010; EDIÇÃO: Zon Lusomundo
EDIÇÃO: Zon Lusomundo
Lusomundo
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Boavida|Grande Ecrã
Entretenimento e terapia Sob a batuta da Dreamworks, "O Panda Kung-Fu 2 " invade festivamente, no dia 9, as salas do país. Noutra latitude, o regresso triunfal da actriz realizadora, Jodie Foster com Mel Gibson em terapia com um castor. Junho promete, está visto.
Joaquim Diabinho
inte anos depois da sua estreia na realização com o surpreendente "Little Man Tate" ("Mentes Que Brilham") sobre o caso de uma criança sobredotada oriunda de meio social adverso, Jodie Foster reaparece em, "O Castor" (The Beaver) mais surpreendente ainda a revelar maior solidez narrativa nos moldes clássicos a que nos habituara e, coisa rara, exibindo uma excelente e ousada ideia base de argumento -um homem em crise existencial profunda encontra numa marioneta em forma de castor o seu alter ego (de peluche!) com quem vai comunicar como se fosse um outro ser humano e recuperar a partir do "zero" o gosto pela vida afastando os demónios interiores que o atormentam- oferece também imensas potencialidades evocativas. Por exemplo, das realidades diversas (fracasso profissional, crise conjugal e familiar, desadaptação social e medo inclassificável do desconhecido - o futuro?) que ensombram o intímo de milhões de homens e mulheres de meiaidade nos países desenvolvidos. E fiquemos-nos por aqui. Comédia dramática,de tom fortemente satírico,"O Castor" prima por uma mise-en-scène de grande sobriedade e descrição. E fá-lo através de uma forma, exemplar, cada vez mais hábil que vai da aparência naturalista ao absurdo;que é capaz de emocionar sem cair na tentação fácil do sentimentalismo; que mostra mão firme no tratamento dos diferentes níveis emocionais da
V
história. Em suma:o que surpreende em Jodie Foster é, apesar de um certo convencionalismo benigno, de resto, a sua capacidade de ilustrar a perturbação dramática com um olhar profundamente humano. Bem recebido em Cannes, votado ao ostracismo nos Estados Unidos, "O Castor" deve ser visto também como um exercício de terapia radical (Mel Gibson que o diga!) e de catarse. Colectiva, se possível, já agora. que tem a criançada nas palminhas das mãos para o reencontro divertido e em grande estilo, a partir de quinta-feira, 9 com o urso panda Po, grande mestre de kung-fu,e os amigos, entre os quais, Mestre Tigre, a Cobra e a Garça, o Mestre tartaruga Oogway ou o Mestre Shifu também grandes experts nas artes marciais, a viverem sossegados no Vale da Paz até à aparição ameaçadora de um vilão pérfido que planeia usar uma arma secreta imbatível para destruir o kung -fu e conquistar a China. Imodéstia de propósitos à parte, trata-se, evidentemente, de "O Panda Kung-Fu 2" o filme para todos mais aguardado do ano.Mescla de Star Wars, Kill Bill, O Tigre e o Dragão, Karaté Kid, Bruce Lee, e até Matrix a novel coqueluche do estúdio criado por Steven Spielberg soma e segue na arte de entretenimento a todo o vapor. Nota: Falta é explicar por que é que o panda é filho de um pato e para mais empresário da restauração. n LOUVADA SEJA A DREAMWORKS
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Boavida|Tempo Informático
Os ficheiros cresceram Todos os utilizadores de informática têm notado o modo exponencial como os ficheiros aumentam de capacidade.
Gil Montalverne
ajuda@gil.com.pt
arece obedecerem à célebre Lei de Moore, profecia que o Presidente da Intel fez em 1965, afirmando que o número de transístores dos processadores duplicaria em cada período de 18 meses, lei que tem sido alargada aos vários dispositivos, como CCD de câmaras digitais, cartões de memória e as diversas velocidades a que trabalham. Ora os nossos ficheiros, fotografias, vídeos e outros, necessitam cada vez de mais mais espaço e os computadores ficam demasiado cheios, prejudicando muitas das suas funções e desempenho, como aliás todos sabem. Mas há sempre aquela tentação de nele guardar mais este ou aquele vídeo, esta ou aquela fotografia, para estarem mais rapidamente acessíveis. Perante estes factos, só existe uma solução que até tem a vantagem de ser um armazenamento mais seguro: a utilização de dispositivos externos. Uma das variantes a considerar é a capacidade de armazenamento que varia naturalmente de acordocom o preço. Se optarmos pela escolha unicamente em função da velocidade, não temos dúvidas em aconselhar os discos rígidos externos de 3,5 polegadas, dispositivos que possuem no interior discos semelhantes aos que são usados nos computadores de secretária. Entre os discos deste tipo existentes no mercado possuindo já a ligação USB 3.0 com uma velocidade dez vezes mais rápida do que as anteriores portas USB 2.0, o StoreJet 35T3 da Transcend foi o mais económico que encontrámos. Com a capacidade de 1 Terabyte ao preço de 113 Euros e com 2 Terabytes 177 Euros. É de notar que estes discos da Transcend possuem um sistema de poupança de energia que reduz em 70 % o consumo ao fim de 10 minutos de inactividade e trazem um software de backup automático, que pode ser configurado e
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funciona com o simples carregar num botão. Se a nossa opção for a mobilidade e portanto um transporte mais cómodo, escolheremos os discos mais pequenos de 2,5 polegadas, iguais aos que são usados nos portáteis. Comparados em características semelhantes aos de 3,5 polegadas, são mais caros. A comodidade paga-se mas sempre foram mais caros que os de secretária. Ficámos bem impressionados com o Packard Bell Go, a mais recente unidade de disco rígido de 2,5 polegadas. Cabe na palma da mão e inclui a tecnologia PowerSave, que reduz o consumo de energia em 30% ao desligar-se automaticamente (quando não está a ser utilizado ou quando o computador é encerrado). Além disso, a tecnologia PowerSave prolonga a esperança de vida efectiva da unidade, o que é muito importante. Um armazenamento que permite ter os nossos ficheiros de vídeo, audio ou fotografia com possibilidade de serem reproduzidos por exemplo num televisor é a opção dos Media Players ou Discos Multimédia com comando a distância. Destacamos o Western Digital TV Live Hub com 1 Terabyte de armazenamento, dispondo de vídeo on line, reproduzindo praticamente todos os formatos de vídeo, mesmo em Full—HD de 1080p, audio digital ou imagem, permitindo ainda a utilização de jogos. Além disso pode estar ligado em rede para qualquer canto da casa. É uma boa solução de armazenamento e entretenimento. n
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Boavida|Ao volante
BMW X1: o prazer de conduzir A fórmula BMW X1. Num primeiro olhar um modelo compacto; num segundo olhar, o desafio de conhecer algo novo, começando pelo design: as linhas laterais elevadas conferem ao BMW X1 uma aparência dinâmica, enquanto as saliências curtas e o óculo traseiro inclinado criam uma silhueta elegante e desportiva.
Carlos Blanco
a dianteira, a capota de formas distintas e os faróis de óptica tripla causam um forte impacto, ao mesmo tempo que as luzes de presença em L e as linhas horizontais fluidas ampliam visualmente a traseira. No conjunto, o design do BMW X1 transmite uma mensagem muito simples: a materialização do prazer de conduzir. Reduzir as emissões e aumentar o prazer de conduzir. É este o princípio simples inerente a este carro. Com o sistema "Efficient Dynamics" a dinâmica máxima pode ser apreciada de consciência tranquila. Com componentes como a função automática Start/Stop (de série em todas as versões diesel de quatro cilindros e no BMW X1 Drive28i) e a função de regeneração de energia, a BMW está a investir no futuro. Em conjunto com a construção de baixo peso e outras medidas inovadoras, a BMW conseguiu reduzir significativamente o consumo de combustível em todos os modelos. O BMW X1 consegue manter-se na estrada sem pisar o risco graças a uma espantosa afinação da suspensão, distribuição da carga sobre os eixos quase perfeita de 50:50 e baixo centro de gravidade. Enquanto as versões sDrive com tracção às quatro rodas traseiras impressionam pela sua agilidade e facilidade de manobra, as versões xDrive fazem-nos vibrar. Este sistema de tracção integral inteligente aumenta ainda mais a segurança da tracção e a estabilidade direccional do BMW X1, mesmo em pisos irregulares. O que também contribui para esta estabilidade é o Performance Control, disponível como opcional em combinação com o xDrive. Com este sistema, o automóvel descreve as curvas de forma activa e segue a trajectória com a máxima precisão. Ambas as versões, com um comportamento em estrada típico da BMW, garantem o máximo prazer de condução em cada curva. No que respeita à segurança, os componentes do modelo experimentado cumprem a promessa da sua aparência confiante. Os ocupantes estão protegidos por um total de
N
seis airbags numa célula de passageiros que dispõe de zonas de deformação definitivas. Estes altos níveis de segurança foram confirmados pelos resultados do teste de colisão Euro NCAP: o BMW X1 obteve a melhor classificação, com cinco estrelas, relativamente à protecção dos ocupantes. Obteve ainda o melhor resultado respeitante à protecção de peões entre todos os veículos do segmento SUV que realizaram o teste até agora. Para manter o essencial ao alcance do olhar depois de anoitecer, podem ser encomendados faróis de xénon com controlo de iluminação em curva opcional, incluindo luzes de curva e controlo dinâmico do alcance dois faróis. Não restam dúvidas de que as grandes ideias se revêem nos pequenos detalhes. O ambiente relaxante a bordo do BMW X1 é proporcionado pelos excelentes acabamentos e materiais de elevada qualidade e em cores que se complementam de forma perfeita. Ao mesmo tempo, os vários compartimentos de arrumação do habitáculo satisfazem as nossas necessidades práticas. O tecto de abrir panorâmico, opcional, acentua a sensação de espaço e, para uma visibilidade mais ampla durante o estacionamento, está disponível, também como opcional uma câmara traseira. Um único senão no modelo ensaiado: a falta de um GPS de série. n JUN 2011 |
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Boavida|Saúde
Quando os estrogénios diminuem Quando os estrogénios deixam de ser produzidos pelos ovários, nas quantidades habituais, a mulher entra em sofrimento. A esse período, que antecede a menopausa, chamamos "peri-menopausa". Pode durar 3 a 5 anos.
M. Augusta Drago
medicofamília@clix.pt
sta fase da vida das mulheres, com duração e acuidade dos sintomas dependendo de múltiplos factores (nem todos ainda esclarecidos), varia de mulher para mulher e caracteriza-se por irregularidades menstruais e instabilidade psíquica e emocional. Nas mulheres, a quem não foram retirados cirurgicamente os ovários, diz-se que entraram na menopausa quando a menstruação deixa de aparecer por um período de 12 meses. Isto acontece normalmente entre os 45 e os 55 anos. Esta é uma fase crítica na vida das mulheres deixam de ter a capacidade de ter filhos e simultaneamente aparecem os primeiros sinais inequívocos de envelhecimento. Em geral, as mulheres sentem-se mais inseguras e muitas passam por períodos de depressão. A menopausa é um processo durante o qual se agravam as doenças já existentes e surgem novos sintomas. As mulheres que à partida já sofriam de doenças cardíacas ou de diabetes sentem maior dificuldade em controlar essas patologias e passam a ter de conviver com sintomas muito incomodativos, como os calores súbitos ou afrontamentos. Esta sensação de calor intenso principalmente na cabeça, pescoço e costas e, por vezes, em todo o corpo é angustiante, porque as mulheres acham que o rubor da cara é notado pelas outras pessoas em redor, o que cria situações embaraçantes. Nestas alturas, pouco ou nada há para fazer senão esperar que passe… A maior parte das mulheres só sentem este mal-estar no primeiro e segundo ano após a menopausa, outras, porém, sentem-no até ao fim da vida, embora com menor frequência. Um dos sintomas mais perturbadores que surge depois da menopausa é a insónia. Esta resulta em grande parte dos afrontamentos nocturnos que, pela sua incomodidade, acordam as mulheres a meio da noite e potenciam a ansiedade, contribuindo para o aparecimento da depressão. Esta, por sua vez, vai agravar a insónia. A perda
E
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da qualidade da vida destas mulheres torna-se real se não existir uma intervenção terapêutica atempada. Outros dos sintomas não menos gravosos são as queixas urinárias e vaginais. Algumas mulheres sentem dificuldade em controlar a urina, sofrem de incontinência urinária, sobretudo em situações de stress ou quando tossem ou espirram. As infecções urinárias, a sensação de urgência em urinar e o número de vezes que têm necessidade de urinar também estão aumentados na menopausa. As queixas vaginais, tais como o desconforto produzido pela secura vaginal, que nesta altura se acentua, leva em geral à perda do desejo sexual e conduz a problemas no casal. A perda de cálcio ósseo, osteoporose, não constitui uma queixa apresentada pelas mulheres, porque é uma doença grave que progride silenciosamente a partir da menopausa e só dá sintomas quando acontece uma fractura. Para termos uma ideia da sua importância, podemos dizer "grosso modo" que no nosso país, de 10 em 10 minutos, uma mulher sofre de uma fractura causada pela osteoporose. Nem todas estas fracturas são sintomáticas, mas algumas são muito dolorosas e invalidantes. É do conhecimento geral que apenas uma em cada dez mulheres recorre ao médico com queixas relacionadas com a menopausa. Também é sabido que um grande número mulheres desvaloriza ou não passa por estes sintomas. Porém, ainda subsistem muitas outras que sofrem sozinhas, quer por pudor quer porque ignoram que estão disponíveis tratamentos que as podem ajudar a minorar esses sintomas. A mensagem que quero deixar é que, nos tempos que correm, há sofrimentos que podem ser evitados. Dispomos de recursos terapêuticos para melhorar e até mesmo para resolver eficazmente a maior parte destes sintomas incomodativos da menopausa. Tratar ou não tratar é uma decisão que cabe ao médico, depois de tomar conhecimento da sua situação, e para isso vai ter de o procurar. n ANDRÉ LETRIA
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Boavida|Palavras da Lei
Prestação de trabalho suplementar ?
Trabalho como electricista. Como tenho jeito de carpintaria, o meu patrão pediu-me para substituir um
colega, carpinteiro, numa obra que decorreu durante um fim-de-semana inteiro. Ao falar com o meu patrão sobre o pagamento deste serviço, ele disse-me que foi um "favor especial" que me pediu, e que me recompensaria. Tenho direito ao pagamento, mesmo por "especial favor"? Sócio devidamente identificado - Viana do Castelo
Pedro Baptista-Bastos
uando substitui o seu colega, a pedido do seu patrão, este usou o chamado jus variandi, ou seja, direito de variação que corresponde ao poder que ele tem de, excepcional e transitoriamente, exigir-lhe que efectuasse uma tarefa que não se encontra correspondida na sua categoria profissional. E fê-lo, por ter tido necessidade de alguém que fizesse trabalho suplementar, isto é, que este sócio prestasse actos de trabalho compreendidos fora do seu horário de trabalho. Nestes casos, não existem favores especiais, e tem direito, graças à excepcionalidade da situação, ao pagamento da sua retribuição e a um descanso compensatório, se for esse o caso. Como devem calcular, a desculpa do "especial favor" não tem qualquer aplicação, para a justa retribuição e pagamento daquilo a que tem direito. Contudo, faço-lhe notar que, de acordo com o Acórdão do STJ de 18/02/2011, proc. nº 25/2007, reconhecendo o trabalho suplementar como "todas as situações de desvio ao programa normal de actividade do trabalhador, tais como o trabalho fora do horário em dia útil" , como é esta nossa situação, se quiser avançar para a efectivação do pagamento da sua retribuição, terá que fazer a "prova dos dias e do número exacto de horas que trabalhou", de modo a ver esclarecidas todas as situações de justo pagamento do que lhe é devido, enquanto trabalhador, junto das devidas instâncias legais. n
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ClubeTempoLivre > Passatempos Palavras Cruzadas | por José Lattas
1
HORIZONTAIS: 1-Vermelho; Abrigo; Ocidente. 2-Cincho;
1
Abalroar; Junção de preposição e artigo (pl.). 3-Estava; Brejo; Desamparada; Ministério da Cultura (sigla). 4-Deltar; Mareante. 5-Pequena ilha no Golfo de Lyon, a 3 km de Marselha; Atitude; Proprietário; José (abrev.); Rádon (s.q.). 6Forma do prefixo de negação, quando o radical começa por b ou p; Escândio (s.q.). 7-Ensejo; Buscas; Duvidei. 8Abrandaram. 9-Corpo criado por Hitler, para a sua segurança pessoal (sigla); Preposição; Criatura; Polónio (s.q.). 10-Abrase; Tempo de uma aparente revolução do Sol, em torno da eclíptica; Agulha do pinheiro. 11-Balandrau; Trabalham; Nome feminino. 12-Cidade egípcia; Escudo. 13-Freguesia do Concelho de Loulé; Âncora; Na mitologia grega, deusa do matrimónio e nascimento, equivalente à Juno romana.
2
3
4
5
6
7
8
9 10 11 12 13 14 15
3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 SOLUÇÕES (HORIZONTAIS): 1-CORAL; ABA; OESTE. 2-ARO; ATRACAR; AOS. 3-IA; AGRA; ERMA; MC. 4-X; TRAIR; NAUTA; O. 5-IF; AR; AMO; ZE; RN. 6-L; IM; A; A; A; SC; D. 7-HORA; CATAS; TEMI. 8-O; ADORMECERAM; D. 9-SS; ATE; R; SER; PO. 10-ASSE; ANO; SAMA. 11-OPA; LABORAM; ANA. 12-CAIRO; R; A; ARMAS. 13-ALTE; FERRO
VERTICAIS: 1-Molduras; Vazia. 2-Contudo; Lameiro. 3-Letra grega; Agastamento; Irmãs, do pai ou da mãe (inv.). 4Guarnecidas de arame; Retaguarda. 5-Relego; Drama de Shakespeare. 6-Elemento de composição de palavras, com o significado de três; Corrosivo. 7-Logro; Antes do meio-dia (abrev.); Aclara. 8-Bário (s.q.); Afectuoso. 9-Convite; Que indica data anterior à era cristã; Discursar. 10-Pira; Um ponto nos jogos de cartas, dominó ou dados (pl.). 11-Ilha à entrada do Golfo Pérsico, conquistada em 1507, por Afonso de Albuquerque; Conjunto de quinhentas folhas. 12-Afirmara; Ródio (s.q.). 13-Apelido; Numerosos; Coma. 14-Aspecto; Cobrir de pão ralado. 15-Clandestino; Pegadeira.
2
Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos
N.º 27 Preencha a grelha com os algarismos de 1 a 9 sem que nenhum deles se repita em cada linha, coluna ou quadrado
N.º 27
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SOLUÇÕES
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ClubeTempoLivre > Novos livros
materializam a descoberta de
Academia
dos Mares da Lusofonia que
corpos, momentos, aromas e
das Fadas
assinalou, em Lisboa em
lugares reais ou imaginários.
Cintilantes, a
finais do ano transacto, o
QUESTÃO DO VINHO NO
escola onde
centenário da morte do Rei
ESTADO NOVO
BANCO DE PORTUGAL
aprenderá os
D. Carlos.
Dulce Freire Uma interessante obra que
UMA ELITE FINANCEIRA -
revela como
OS CORPOS SOCIAIS DO
Será que conseguirá fazer
foram
BANCO DE PORTUGAL 1846-
amizades e aprender a voar?
adoptadas
1914
medidas
Jaime Reis Uma obra que reúne a
ANDRÉ CABELO-EM-PÉ: O
durante o Estado Novo
biografia das ilustres perso-
ÂNCORA EDITORA PRODUZIR E BEBER - A
segredos das fadinhas.
EDITORIAL PRESENÇA A SAGA DOS OTORI - O FIO DO DESTINO
MONSTRO DA GARRA
Lian Hearn Shigeru o homem que encarna o verdadeiro espírito
para favorecer os vinhos
nalidades que
Guy Bass André inventa uma máquina
indiferenciados, contrariando
cruzaram o
contra todas as coisas, tão
arrastar os
directivas que pretendiam
destino do
desconcertante que é
Otori para uma
definir regiões demarcadas e
Banco de
guerra
reduzir cepas.
Portugal entre
implacável ao
1846 a 1914.
assumir o comando e fazer frente ao
DAS SOCIEDADES HUMANAS ÀS SOCIEDADES
do clã Otori vai
ambicioso Sadamu, chefe de
BERTRAND EDITORA
um clã rival. Uma das mais
ARTIFICIAIS LOANDA - ESCRAVAS,
extraordinárias séries do
DONAS E SENHORAS
fantástico inspirado no Japão
Isabel Valadão Este romance histórico
medieval.
Ciências do Artificial
transporta-nos a Luanda do
O CASTELO DOS PIRENÉUS
revela
séc. XVII, através de Maria
Porfírio Silva Esta investigação em Filosofia das
existirem
Ortega e Anna
demasiado terrorífica para
Jostein Gaarder Solrun e Steinn re-
ramos das
de São Miguel e
ser usada. Um dia a
encontram-se inespe-
ciências
de muitas
máquina é roubada pelo
radamente, trinta anos
sociais que pensam os
figuras que
monstro do sótão e André e
depois, no mesmo hotel
humanos como se fossem
gravitaram à
a Companhia dos Medos
onde viveram um intenso
sua volta. Em
computadores, calculadores
terão de resgatar a invenção
amor. Mas o local que em
impenitentes e moralmente
ritmo narrativo surpreendente,
do domínio do Monstro da
tempos testemunhou a sua
indiferentes.
a autora cruza a história,
Garra antes de destruir o
paixão pode esconder o
evidenciando o papel das
mundo.
mistério do seu fim. Após
mulheres, enquanto retrata o
ARCÁDIA
percurso, queda e ascensão AROMA DE PITANGAS NUM
dos escravos e exilados do
PAÍS QUE NÃO EXISTE
reino português.
o reencontro
CENTAURO
iniciam uma OS MARES DA LUSOFONIA -
secreta troca
António Costa Silva &
JORNADAS DO REI D.
Nicolau Santos Um belíssimo livro de poesia
CARLOS - 100 ANOS DEPOIS
reacende a antiga paixão e
A obra reúne intervenções de
faz questionar os seus
com fortes
ACADEMIA DAS FADAS
diversas
evocações a
BRILHANTES: A VOAR BEM
persona-
Angola. Os
ALTO
lidades que
JULIA FELIX - FRESCOS DE POMPEIA
hinos à vida,
Titania Woods Twink está excitadíssima
participaram no I
que
com o início das aulas na
Congresso
Lívia Borges Um romance histórico que
poemas são
76
TempoLivre
BOOKSMLE
de emails que
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casamentos.
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EUROPA-AMERICA
homens do reino de Logres
PAULUS EDITORA
poderá contrariar o plano do 101 EXERCÍCIOS DE
Inominável. A obra encerra a
BEATO JOÃO PAULO II -
FITNESS - DOS 7 AOS 11
"trilogia dos Elfos".
MENSAGEIRO DA PAZ E
ANOS
ESPERANÇA
John Shepherd e Mike
EMA
O livro resgata
Antoniades Um manual com grande
Jane Austen Ema é uma herdeira rica,
algumas das
variedade de
inteligente e bela. Optimista
profundas
exercícios para
e consciente da
mensagens de
crianças com
sua superioridade, passa o
idades entre os 7
tempo a combinar
esperança de João Paulo II, o
e 11 anos. Ajuda
mais
amor, fé e
casamentos entre amigos.
papa que deixou um
Cláudio e de Trajano no séc.
a desenvolver a condição
Até ao dia em que é ela
profunda marca na Igreja e
I da era cristã.
física com opções que vão
própria é pedida em
no Mundo.
A autora passa em revista
desde as técnicas de
casamento pelo pretendente,
grandes acontecimentos
aquecimento a jogos e
amado por uma
OS MESTRES
históricos relacionados
exercícios divertidos e
das suas
A catequese do Papa Bento
com a vida de Julia Felix,
educacionais.
melhores amigas
XVI referente a grandes
que deseja ver
mestres da história do
feliz e
Cristianismo. Para entender
percorre os governos de
uma mulher singular que cativa pela beleza,
PRODUTOS BANCÁRIOS E
inteligência e tena-
FINANCEIROS
"convenientemente" casada.
cidade.
José Luís Leitão, Jorge Alves
Entretanto, percebe que
cristã, destaca
Morais e Maria Adelaide
também ela ama o
elementos da
Resende Numa era de instabilidade
pretendente e acaba por
vida e obra de
ceder a um amor que supera
padres e
PADRE MOTARD
económica, esta edição
a própria razão.
escritores do
Boas Curvas… Se Deus
revista e aumentada
Quiser
descreve o funcionamento
O VIZINHO
Idade Média e de
José Fernando Lambelho e
dos produtos bancários e financeiros, bem como o
Lisa Gardner Uma jovem mãe desaparece
Franciscanos e
Rosa Ramos A autobiografia do padre
funcionamento dos
da sua casa no sul de
José Fernando revela como
mercados e o seu regime
Boston, deixando apenas a
ULISSEIA
fiscal e jurídico.
filha de 4 anos e um marido
NOVELAS EXEMPLARES
ESTRELA POLAR
concilia o sacerdócio
a tradição e a espiritualidade
1.º milénio, da
tão atraente
Dominicanos.
com a paixão
AS CRÓNICAS DOS ELFOS
quanto
Miguel de Cervantes Um clássico maior da
pelas motas
III - O SANGUE DOS ELFOS
reservado,
literatura universal daquele que é
comunidade
Jean-Louis Fetjaine O exército d'Aquele-Cujo-
como principal
considerado o
"motard" o
Nome-Não-Deve-Ser-
suspeito.
pai do
acolhe e
Pronunciado prepara-se para
Enquanto o
romance
e, como a
transformou em figura
tomar de assalto a fortaleza
detective Warren tem a
europeu. São
pública. Um padre que
de Agor-Dôl e avançar sobre
sensação que há algo errado
12 histórias
aprende a lidar com o
as planícies. Só a união
no pacífico casal, o marido
que expõem
cancro, uma derrapagem da
entre os elfos
parece estar mais
as virtudes e fraquezas
vida nestes últimos anos que
da floresta de
interessado em destruir
humanas, servindo de
o limita na acção mas não
Eliande, os
provas e isolar a filha do que
exemplo para o que se deve
inibe a crença em Deus e na
anões da
em procurar a amada. Estará
e não deve fazer na vida.
vida.
Montanha
ele a esconder a sua culpa
Negra e os
ou será a próxima vítima?
Glória Lambelho JUN 2011 |
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ClubeTempoLivre > Cartaz
dias 24 a 26 - festival em
N. Srª de Machede
Cicloturismo: dia 19 às 9h -
Lavos; dia 25 - festival em
Malha: dia 12 às 9h – troféu
passeio entre Perre e Baiona
Feira: dia 11 às 9h - Feira
Ceira.
em Orada
Pedestrianismo: dia 19 às
Medieval no Lgo da Sé Velha
Cicloturismo: dia 5 às 9h -
em Coimbra
Passeio em Vale de Açor
Folclore: dia 11 – festival em
Pedestrianismo: dia 19 às 9h -
Eira Pedrinha e Cabouco; dia
Caminhada em Oliveira do
Concertinas: dia 12 às14h -
Carrinhos de Rolamentos em
12 - folclore em Godinhela;
Hospital
Tocadores de Concertina no
Lordelo e Parada.
dia 18 - Marchas populares
Atletismo: dia 25 - Nacional
Lgo Serpa Pinto em Figueira
no Lgo do Chafariz em Fala,
de Atletismo em Luso
de Castelo Rodrigo; dia 26 às
COIMBRA
às 22h, Filarmónica União Taveirense na Pça do
10h - Trilho em Cova do
GUARDA
Mouro Rolamentos: dia 26 às 15 –
VISEU
14h - Tocadores de
ÉVORA
Comércio em Coimbra e
Concertina no Lgo da C.M. de
Desfile: dia 19 às 9h - desfile
Almeida
das Cavalhadas de Teivas em
festas em Torre de Bera e
Desfile: dia 26 - Mostra
Casal de S. João; dia 19 -
Etnográfica na Feira de S.
festival em Sto Varão e
João
concerto no Auditório da
Workshop: dia 4 – História
Exposição: até ao dia 24 -
Recital: dia 19 às 16h30 – “Os
AFUV em Coimbra; dia 22 -
do Cinema no Auditório Soror
Exposição Documental “Os
Poetas de Viseu” pelo Orfeão
Serenata Futrica no Arco de
Mariana
Caminhos do Unhas” na
de Viseu no Auditório Mirita
Almedina; dias 25 e 26 de -
Marchas: dias 10 e 11 -
Agência Inatel Btt: dias 10 às
Casimiro em Viseu.
Festa da Esteira, Doçaria e
Marchas Populares de “Santo
9h - III Peregrinação a
Btt: dia 19 - Up and Down em
outro Artesanato em Arzila;
António” na Casa do Povo de
Santiago de Compostela.
Cantanhede
Viseu; dia 24 às 8h - desfile
VIANA DO CASTELO
das Cavalhadas de Vildemoinhos em Viseu.
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O Tempo e as palavras M a r i a A l i c e Vi l a Fa b i ã o
De feitiços, feiticeiros e de um vocábulo das sete partidas […] Se voltar aos inícios, / quem escutará os meus passos / nas pedras? […] Victor Sandoval, in: Las Ínsulas Distantes Trad. MAVF
N
ão há vez em que a porta se feche ou se abra sem intervenção do vento ou de mão humana; em que o gás se acabe na botija precisamente quando ia pôr o bife na grelha ou acabo de ensaboar a cabeça; em que não dê três espirros consecutivos ou se me parta uma unha sem razão aparente, que voz condoída me não diga, com convicção ou simplesmente por dizer, que tenho de ir à bruxa, que nisso anda obra de feitiçaria, bruxedo, feitiço, praga, mau olhado, inveja, quebranto, maldição familiar, etc., etc., etc., que para as designações do mesmo malefício não chegariam várias páginas de um dicionário de português. Os mais convictos, dão-me exemplos de casos como o meu, e das respectivas soluções ou curas miraculosas, a que assistiram ou que foram comprovadas medicamente, e não compreendem que continue a correr o risco de a porta se abrir ou fechar, de se acabar o gás em momento inoportuno, ou de se me partir uma unha sem motivo aparente, quando com uma simples imposição de mãos por um doutorado em Imposição de Mãos, uma defumação por especialista em Defumações, ou uma varredela do quarto em cruz, poderia ficar, para todo o sempre, ao abrigo de catástrofes desse género. Relativamente a esses fenómenos, frequentemente considerados "sobrenaturais", mas que, com maior propriedade deviam ser considerados "imaginários", mantenho uma atitude semelhante à de Mário Quintana em relação aos milagres: o que hoje me fascina, não são os fenómenos em si, por mais fascinantes que os considere, mas sim a possibilidade de alguém crer neles. A crença na influência benéfica ou maléfica de seres ou objectos a que são atribuídos poderes sobrenaturais jamais teve fronteiras no espaço ou no tempo: ela é um importante elemento do imaginário de todos os povos, em todas as épocas. A Portugal coube ser a pátria linguística do feitiço. Um belo dia, provavelmente do século XIV, alguém, com imaginação e saber linguístico, tomou o vocábulo latino factius [artificial, manufacturado] remodelou-o, transformando-o no adjectivo FEETISSO, com o mesmo sentido. José Pedro Machado transcreve do Boletim de Segunda Classe da Academia das Ciências
de Lisboa o primeiro registo comprovativo da existência do termo: há de ter o dicto samcristam huum cesto grande feitiço em que andem os monges… Fenómeno corrente na vida das palavras, o termo evoluiu na forma, semanticamente e nas suas funções, e tornou-se fértil, dando origem, como FEITIÇO, a FEITICEIRO e FEITIÇARIA, já documentados nos éditos em que, em 1385 e 1405, D. João I proíbe os seus súbditos de "obrar feitiços ou ligamentos ou chamar diabos". A história de FEITIÇO é uma história comum a muitos vocábulos: após dois séculos de vida no país, emigra para França em 1605, sob a forma de FÉTISSO. De França a Inglaterra, um salto sobre o Canal, e FÉTISSO E FÉTISSERO instalam-se, sob a mesma forma, no léxico inglês. É comumente aceite a versão francesa da galicização do termo, que, em 1669, se transformaria em FÉTICHE o qual, por sua vez, emigraria para Inglaterra, que se limitaria a anglicizarlhe a grafia, para FETISH, e… para Portugal, em 1873. Na realidade, outra palavra tinha nascido no léxico português, como no francês e no inglês. FETICHE é agora, em português, um objecto a que se presta culto, a que se dedica um interesse obsessivo ou irracional, gerador de atracção sexual compulsiva, objecto de perversão sexual. Segundo o dicionário francês Petit Robert, porém, FÉTICHE era, já no século XVII, o nome dado pelos brancos aos objectos de culto das civilizações ditas primitivas. E acrescenta: "Em África, objecto, animal, vegetal ou mineral com poder sobrenatural, benéfico ou malévolo". Este novo sentido, justificaria a opinião dos que, sem explicações, defendem como origem de FETICHE a Guiné onde FETISSO e FETISSERO, introduzidos no século XV pelos colonizadores portugueses, eram, no século XVII, respectivamente o deus e o sacerdote da religião indígena o que comprovaria que, sem sombra de dúvida, o tão português FEITIÇO é, na verdade, também ele, um vocábulo das sete partidas. n 1 - Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, 2ª edição. JUN 2011 |
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Os contos do
O fumador indolente
A
Praceta dos Plátanos é apenas uma reentrância na linha recta da rua, onde se perfilam, alinhados, prédios velhos e recentes. Dizem os moradores mais antigos que, no local onde se abriu a praceta, existiu um armazém de sucata, em boa hora demolido para se ganhar um espaço público coisa modesta, não mais de cinquenta metros medem os três flancos vedados por construções. Todavia, a placa arrelvada, a meia dúzia de árvores e, sobretudo, quatro bancos de jardim, impõem o lugar como logradouro de respiração para os residentes na zona. Não só: também como terra livre para fumadores afugentados do comércio em redor. Num dos vértices entre a praceta e a rua longa situa-se o Salão de Beleza Ponta da Unha. Ali ninguém puxa fumaça e a própria dona, Josete, dá o exemplo, deslizando para a praceta quando lhe chega o apetite pelo cigarro. Valter Dionísio também ali se recosta e fumega. Quem quiser louvar qualidades de Valter Dionísio tem por onde escolher: não lhe falta amenidade no trato, garbo no porte físico, destreza na escrita em que se aplica como cronista "freelancer" de um jornal diário. Em contramão, poderá lamentar-se a sua extrema preguiça para trabalhos domésticos e os excessos de fumador sem pausas. No pequeno apartamento onde residia só, a desordem seria total e a sujidade chegaria ao ponto da imundice se não contasse com os serviços da despachada Avelina que, em três horas, duas vezes por semana, acudia a pôr ordem na casa, começando pela limpeza de cinzeiros atulhados. Bastava-lhe ainda o tempo para cuidados de cozinha, sopa e algum guisado, com que se alimentasse o indolente Valter Dionísio, incapaz de qualquer esforço no campo da culinária. Sentado à secretária ou esparramado no sofá diante do televisor, a grande ocupação de Valter Dionísio era fumar. Conselhos em contrário não
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lhe faltavam, sobretudo os relacionados com a saúde mas também com os custos de tão desabalado vício em época de crise. Crise maior lhe chegou quando viu reduzidos os rendimentos mas nem ponderou a possibilidade de prescindir dos três maços diários de tabaco. O que fez foi dispensar os serviços de Avelina, sem os substituir por diligência própria. Em poucas semanas, o apartamento tornou-se um caos e a nutrição do morador um mero acto de matar a fome. O seu único prazer era fumar. Novo golpe nos rendimentos do trabalho colocaram-no diante de um quadro desastroso: já não lhe sobejava dinheiro para pagar a renda do apartamento. Pensou profundamente no assunto enquanto fumava, cigarro após cigarro. Pensando, pensando, lembrou-se de Vânia Luísa, talvez ela pudesse ajudá-lo a encontrar alojamento mais em conta e, quem sabe?, o socorresse, uma vez por outra, na arrumação. Vânia Luísa, bem o sabia, tivera uma intensa paixão por ele, que, no entanto, preferira a volúvel Dália Serafina. Má escolha. Não passou um mês até Dália Serafina se enfeitiçar pelo guitarrista de uma banda de rock. A nova e grave situação parecia não ter saída mas quando telefonou a Vânia Luisa foi bom saber que ela não o tinha esquecido. Ao fim da tarde desse mesmo dia encontraram-se numa esplanada. Recordaram o passado mas ele estava preocupado com o presente e o futuro. Confessou as dificuldades que o atormentavam, qualquer dia já nem dois maços poderia fumar. Era verão, Vânia apareceu radiosa e fresca, os belos ombros descobertos, e Valter admirou-se de não ter notado antes os encantos da menina. Nem se gastou tempo largo na conversa, cedo Vânia Luísa revelou que continuava doidinha por ele. Com tanto amor e um belo apartamento onde vivia sozinha, surgiu natural a ideia de coabitarem lá. Assim aconteceu e nenhuma nuvem ensombrava a felicidade de Valter Dionísio. Ele preANDRÉ LETRIA
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guiçava e fumava, ela afadigava-se para que a casa estivesse sempre um brinquinho, higiene e arrumação, mimos de culinária. Até que chegou o malvado dia que Vânia embirrou com o fumo que enevoava a sala e, subitamente cruel, determinou: - Não se fuma mais nesta casa. Leva os teus cigarros para a praceta, longe dos meus olhos, do meu nariz, dos meus pulmões. Para um fumador inveterado a sentença era terrível. De hora a hora, Valter saía de casa para acalmar o vício na Praceta dos Plátanos, onde não faltava gente banida das lojas, dos restaurantes, do salão de beleza, quiçá de suas próprias casas. Foi numa dessas rodas de chupadores de tabaco que Valter conheceu Rosete e fizeram amizade. Amizade crescente. Quando lhe contou das suas amarguras, nascidas da intolerância de Vânia, ela reagiu da forma mais inesperada: - Querido, mude-se para minha casa, lá poderá fumar sempre que lhe der na gana. Viveremos juntos, com amor e fumo. Assim Valter trocou de domicílio, em menos tempo que leva um cigarro. Mas Josete marcou regras: fumar, podia; em compensação, cumprialhe cuidar da limpeza e arrumação da casa, de cozinhar para ela e seus convidados, gente desatinada - não tardaria Valter a verificar - em que não faltava menino capaz de cuspir carpete. Três dias suportou o infeliz. Tão dura pena, até bater com a porta e voltar para Vânia Luísa, que o adora mas persiste em escorraça-lo para a Praceta dos Plátanos mal aperta o desejo de fumar. Tudo como dantes. Excepto a surpresa de ontem à noite, quando, no meio de uma entrega de amor ela disse: - Vou ter horários mais apertados. Tu, meu querido, terás de cuidar da arrumação da casa e preparar refeições. Tá? Valter não dormiu. Pela sua mente passam em desfile as fumadoras da Praceta dos Plátanos, na esperança de encontrar quem lhe aprove o vício sem o compelir a trabalhos pesados. n JUN 2011 |
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Crónica
Somos menos, felizmente Fe r n a n d o Dacosta
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O
maior perigo que se põe actualmente à humanidade não é o da explosão nuclear, é o da explosão demográfica. Portugal tornou-se, porém (com a Europa), excepção O nosso País tem a taxa de fertilidade mais baixa do velho continente, continente onde ela entrou, nos últimos anos, em declinínio acentuado. Felizmente. Produto desvalorizado pelo excesso, o homem só deixará, como consequência, de ser um desperdício quando escassear; só quando os nascimentos forem actos desejados (por opção, por disponibilidade) ele atingirá o estatuto qualitativo a quem tem direito. Políticos, economistas, comunicadores, ideólogos repetem, porém, que estamos a envelhecer, a escassear, e fazem disso catástrofe para ínvias manipulações. As suas mentalidades formigueiras/coelheiras esquivam-se, no entanto, a dizer que o problema não é o de falta de gente nova no mundo (nasce um milhão de pessoas em cada 100 horas), mas o do seu desequilíbrio. Insistem mesmo em propagar que Portugal (a Europa) está em perigo, que no ano 2.020 doze por cento de nós terão mais de 65 anos; em divulgar a ideia de que um indivíduo (um país, um continente) que envelhece é um indivíduo (um país, um continente) que estiola; não cuidam de assumir que os velhos são cada vez menos velhos, que tão fiável é premir botões de máquinas aos 80 anos como aos 20, que a sabedoria, a perspicácia trazidas pela idade compensam a força, a destreza levadas por ela. Não costuma ser, aliás, pelo facto de disporem de populações rejuvenescidas que os estados se desenvolvem mais; o número de habitantes de um país não se revela indicador de progresso. “As florestas precedem as pessoas, os desertos acompanham–nas “, avisava Chateaubriand. O homem é um poluidor por condição: as hecatombes ocorridas são consequência da sua natalidade incontrolável, fomentada para haver cada vez mais mão de obra barata e farta, carne para canhões e camas, almas para pastorear e salvar
Vamos ser, em 2100, apenas 6,7 milhões de portugueses (a mesma população de 1920), catastrofizam demógrafos. E daí? Quererão mais jovens para somar aos que deambulam sem ocupação, sem saída, sem futuro? mais jovens a viver dos pais e avós (que no final da vida têm de subtrair ás cada vez mais subtraídas pensões o seu sustento?); mais jovens para alargar o mercado dos prostitutos, dos delinquentes, dos drogados, dos excluídos? Não lhes chegam as centenas de crianças a dormir nas ruas de Lisboa? Não lhes bastam os milhares de adolescentes a procurar, em vão, o primeiro emprego?
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íderes de opinião inculcam, entretanto, ideias segregacionistas entre as gerações. Insinuam que a culpa dos desequilíbrios pertence aos mais idosos por ocuparem lugares, monopolizarem privilégios, esgotarem recursos, bloquando os mais novos. Lutas surdas larvam, na verdade, a vários níveis, instigadas por semelhantes correntes de opinião, não se revelando que a instabilidade afecta todos os estratos etários, que não são os séniores a barrar a ascenção dos jovens, mas os interesses instituidos que desarticulam uns e outros, hostilizam uns contra os outros por se haverem tornado todos prescindíveis. Ninguém especifica que a produtividade deixou de ser determinada pela participação dos humanos, para o ser pela afinação das tecnologias. Está em campo uma mentalidade gerontofóbica (racismo para com os idosos) de consequências imprevisíveis. Semelhantes posturas levam a apontar como causa dos problemas o que são – despenalização do aborto, uso do preservativo, legalização do divórcio e do casamento homossexual – , consequências deles. As conquistas que representam não constituem ataques à família tradicional, mas mudanças ao seu paradigma, isto é, possibilidades para cada um escolher modelos de afectuosidade mais ajustados a si – o que significa um acentuado enriquecimento civilizacional. n
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