Tempo Livre Novembro 2010

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N.º 220 Novembro 2010 Mensal 2,00 €

TempoLivre www.inatel.pt

Trindade estreia “Vozes de Trabalho” Entrevista com Carlos Mendes

Viagens A vibrante Madrid Terra Nossa Zêzere, na companhia de um rio


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Sumário

Na capa Foto: José Frade

19 ENTREVISTA

Carlos Mendes e as “Vozes de Trabalho” Arquitecto de formação, mas popularizado como compositor e intérprete, Carlos Mendes fala nesta sua primeira entrevista à TL da inédita produção musical da Inatel com estreia marcada para 25 de Novembro no Trindade. Cecília Guimarães, Filipa Pais, Lurdes Norberto e Tonicha integram o elenco deste musical que vai surpreender o país.

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EDITORIAL

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CARTAS E COLUNA DO PROVEDOR

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NOTÍCIAS FORMAÇÃO NA DAF CONCURSO DE FOTOGRAFIA

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PORTFÓLIO

Bahrein PAIXÕES

Nelson Pinto, o lutador

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Banco de Portugal A Tempo Livre foi ver a exposição permanente do Museu do Banco de Portugal, em Lisboa, que nos lembra quem fomos e o que somos através do percurso diacrónico do dinheiro desde o artigo padrão até ao euro. Nunca mais irá ver as moedas e as notas da mesma maneira…

28 VIAGENS

MEMÓRIA

Canto e Castro, o “vadio” do teatro OLHO VIVO A CASA NA ÁRVORE O TEMPO E AS PALAVRAS Maria Alice Vila Fabião

Madrid: uma cidade vibrante No ano do centenário da Gran Via, uma viagem pela história e espaços culturais da capital de Espanha e que poderá desfrutar no âmbito da programação de Fim de Ano da Fundação Inatel.

36 TERRA NOSSA

OS CONTOS DO ZAMBUJAL

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MUSEUS

CRÓNICA Fernando Dacosta

BOA VIDA CLUBE TEMPO LIVRE

Passatempos, Novos livros e Cartaz

Zêzere: na companhia de um rio Do alto da serra da Estrela até à plácida Constância, onde o Zêzere abraça o Tejo, são mais de 200 quilómetros com paisagens deslumbrantes, montanhas, vales, desfiladeiros, florestas de pinho e eucalipto, vilas históricas, aldeias que sobrevivem como podem, barragens, albufeiras, pontes, ruínas, pescadores, canoístas, caminhantes, turistas e habitantes locais. Um viagem de sonho….

Revista Mensal e-mail: tl@inatel.pt | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: Carlos Mamede Vogais: Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: António Costa Santos, António Sérgio Azenha, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho, Joaquim Magalhães de Castro, José Jorge Letria, José Luís Jorge, Lurdes Féria, Manuela Garcia, Maria Augusta Drago, Maria João Duarte, Maria Mesquita, Pedro Barrocas, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, Vítor Ribeiro. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Fernando Dacosta, Joaquim Letria, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA, Telef. 210027000 Fax: 210027061 Publicidade: Patrícia Strecht, Telef. 210027156; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA - Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 148.957 exemplares


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Editorial

V í t o r Ra m a l h o

Dignificar o trabalho

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o ano em que se comemora a passagem do 75º aniversário da Inatel é importante sublinhar a preocupação que houve em sinalizarmos a efeméride com iniciativas que atendem à natureza da alma da nossa Fundação. A entrevista que a Tempo Livre faz neste número a Carlos Mendes, trabalhador e "embaixador" da Inatel insere-se nesse objectivo. É que Carlos Mendes deu também corpo à peça de teatro "Vozes de Trabalho" que no dia 25 de Novembro estará no Teatro da Trindade e para a qual sensibilizamos, desde já, os nossos associados. JOSÉ FRADE

Esta peça, servida por um elenco de actores e actrizes que gozam - e justamente - de grande notoriedade e reconhecimento públicos vai beber o enredo às raízes da cultura tradicional portuguesa e mais concretamente aos múltiplos cantares também das múltiplas profissões existentes entre nós. Daí o nome "Vozes de Trabalho". Esta iniciativa, de dignificação do trabalho e de quem trabalha não passará seguramente despercebida e integra-se também na dinamização que a responsável do conselho de administração, Dra. Cristina Baptista, a direcção cultural e a responsável do Teatro da Trindade vêm prosseguindo. O conselho de administração, apesar da grave crise existente não se tem poupado a esforços na salvaguarda e valorização da nossa cultura tradicional, ciente, porém, da necessidade de uma gestão futura compatível com a maior escassez de recursos. É nesta linha de rentabilização de meios que, após adequadas obras de requalificação, concentraremos, já durante este mês, na sede central, os serviços da área do turismo que estavam no Chiado. Do mesmo modo, e no sentido, também, de reforçar a proximidade com os beneficiários individuais e colectivos, foi instalada no Parque de Jogos 1º de Maio a Agência de Lisboa. Ainda na mesma linha de orientação, procedemos, recentemente, à cativação de verbas orçamentais em todos os sectores de actividade, a começar pelas mais directamente ligadas aos membros do conselho de administração, com a preocupação de não afectar o essencial dos objectivos da Inatel como o demonstram as requalificações em curso dos equipamentos, a eficaz e muito aliciante renovação do nosso site e toda a demais acção modernizadora da Fundação. n NOV 2010 |

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Cartas A correspondência para estas secções deve ser enviada para a Redacção de “Tempo Livre”, Calçada de Sant’Ana, nº. 180, 1169-062 Lisboa, ou por e-mail: tl@inatel.pt

“Sétima Onda” A propósito das referências contidas na penúltima revista “Tempo Livre”, relativas ao espaço “SÉTIMA ONDA” inaugurado este Verão junto da Edifício Praia da unidade de Albufeira, permitam-me dizer que efectivamente se trata de uma melhoria considerável na envolvente do “nosso” espaço, atento o bom gosto da sua decoração, entre outros.

Não posso porém deixar de manifestar a minha indignação pelo facto de tal espaço ser “fonte” de ruído ensurdecedor pela noite dentro (até cerca das 04 horas), com a música que ali se debita sem olhar a limites nem ao facto de estar ao lado de um edifício destinado ao descanso dos seus utentes. Contei com a prestimosa colaboração do pessoal da Unidade, que me proporcionou um outro quarto, quando não, teria de sair antes da data prevista, pois a minha estada estava a tornar-se um inferno. Neste quadro, restam duas soluções: o volume da música no “Sétima Onda” é reduzido para os seus utentes ( e não extensível aos ocupantes dos quartos virados para aquele bar); ou eliminem as reservas para a ala próxima do bar, deixando-as a quem, depois de informado previamente, não se importar de dançar até tarde… Serafim Cardoso (via e-mail)

50 anos na INATEL Completaram, este mês, 50 anos de ligação à Fundação Inatel os associados: Sílvio Silva e Fernando Rodolfo, de Lisboa; Mário Antunes, de Aveiro.

Coluna do Provedor VÁRIAS SÃO as preocupações que vão chegan-

Kalidás Barreto provedor@inatel.pt

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do a este Gabinete, expressas pelos nossos associados. O curioso é que estas preocupações não são propriamente reclamações sobre o funcionamento dos diversos serviços, mas sobre o futuro da INATEL. Com efeito a onda de pessimismo que abunda pelo país fora, vai causando uma depressão colectiva. Por muito que as “agressões” venham de fora, a vigilância especulativa dos “rating” sobre o mercado financeiro lembra uma polícia de má memória que ofende e humilha. A culpa da crise que toca aos mais pobres e ameaça destruir a classe média, atravessa o pensamento colectivo e vai morrer solteira porque afinal todos são culpados. É preciso superá-las com alternativas positivas que têm que favore-

cer os mais pobres; Pedem-se sacrifícios mas eles não magoam todos por igual! No meio de tudo vão surgindo os boatos que confundem alhos com bugalhos. Assim há os que desejam uma INATEL humanista e não uma INATEL mercantilista e outros que ouvem dizer que se vai vender património e não preservá-lo e que os Programas sociais vão acabar. Meus caros associados, devo tranquilizar-vos pelas provas de idoneidade do Conselho de Administração e pela informação que vão transmitindo. A crise também afecta a INATEL, mas não a bancarrota; as dificuldades existem, como as que o país atravessa, mas tal como Portugal, a nossa Fundação e os seus objectivos sociais vão continuar.


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Notícias

Novo Site Inatel

Acordo Inatel/Wdex Trindade melhora condições de escuta l Na

l Reservar uma estadia numa unidade hoteleira da Fundação Inatel, comprar viagens nacionais ou internacionais, ou simplesmente actualizar e consultar os seus dados pessoais online, está agora mais acessível graças ao novo site da Fundação Inatel, já disponível em www.inatel.pt. Com um visual renovado e potencialidades acrescidas que permitem a consulta rápida e eficiente a todas as áreas de intervenção da FI, o site permite, ainda, a inscrição rápida e fácil de novos associados. “É uma mudança que pretende captar novos públicos, em especial

os mais novos”, refere Marco Sentieiro, coordenador da área de Informática, sublinhando que “graças à integração de vários canais de venda online, em especial na área do turismo e hotelaria, os nossos produtos adquirem maior visibilidade no mercado e chegam a mais pessoas”. As novas funcionalidades e a imagem atractiva do novo site vão ao encontro da estratégia de renovação global da imagem da FI promovida pela Direcção de Marketing e Relações Internacionais e já com resultados visíveis nas Agências e nas campanhas publicitárias levadas recentemente a cabo.

Contacto Directo com os Associados l No âmbito de uma campanha de maior proximidade, as Agências Inatel irão contactar os nossos Associados para se proceder à actualização dos dados de email e Telemóvel. Este processo irá permitir que seja enviada toda a informação referente às várias actividades desenvolvidas localmente, bem como todas as ofertas e promoções para as nossas Unidades

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Hoteleiras e viagens em Portugal e no estrangeiro. Irá também ser enviada uma carta para todos os Associados poderem actualizar os dados e remeter para a Inatel num envelope RSFF. Os Associados que aderirem a esta iniciativa de contacto mais directo ficam automaticamente habilitados ao sorteio de viagens e estadias nas nossas Unidades Hoteleiras.

sequência de um acordo firmado com a empresa Widex – Centros Audutivos, o Teatro da Trindade dispõe já, em todas as filas, de um sistema de anel magnético que facilita as condições de escuta a utilizadores de aparelhos auditivos. Graças ao referido sistema, pioneiro em Portugal, qualquer espectador com dificuldades auditivas pode beneficiar de melhores condições de escuta solicitando, para tanto, na bilheteira do Trindade, de um dos dispositivos de apoio à escuta sem fios. A parceria acordada possibilita, ainda, consultas gratuitas de rastreio auditivo aos beneficiários da Inatel nos 24 Centros de Reabilitação Auditiva da Widex em todo o país


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Acordos com outros operadores

Inatel amplia oferta turística Numa óptica de dinamização comercial e diversificação dos nossos produtos turísticos bem como de responder com mais eficácia às necessidades dos vários segmentos de clientes (jovens; famílias, etc.) a Fundação Inatel firmou acordos com vários operadores de referência no mercado nacional. Nortravel, Lusanova, Mundo VIP, Grantur, Sonhando (representante das marcas Terra Brasil e Terra África) e MSC cruzeiros são os operadores em l

causa. Assim, para além da brochura Inatel, que propõe um leque de programas

cuidadosamente seleccionados, sendo alguns exclusivos Inatel, colocamos ao dispor dos nossos sócios beneficiários pacotes turísticos atractivos para novos destinos, como Eurodisney, Paris, Roma e Cuba entre muitos outros. Sobre os preços de brochura dos vários operadores, a Fundação concederá um desconto especial de modo a proporcionar aos sócios beneficiários preços mais competitivos, aliás à semelhança do que já é praticado nos restantes programas Inatel.

Agência de Lisboa no Parque 1º de Maio Com o objectivo de dinamizar as acções de proximidade com os beneficiários individuais e colectivos e aumentar, de forma significativa, o número de beneficiários

Parcerias na Saúde

individuais, a Agência Inatel de Lisboa passou

A Fundação Inatel assinou um acordo de cooperação com a Associação de Socorros Mútuos de Empregados do Comércio (ASMECL) que visa prestar aos associados e trabalhadores da Inatel o acesso a diversas valências de saúde, nomeadamente consultas de cardiologia, reumatologia, endocrinologia, dermatologia, otorrinolaringologia, urologia e outras especialidades a preços mais acessíveis. l

Num outro protocolo, com os Serviços Sociais da Câmara de Lisboa (na foto), permite o acesso dos trabalhadores da FI aos serviços clínicos daquele departamento da autarquia lisboeta. Como contrapartida, os membros destas duas entidades poderão usufruir dos nossas actividades nas áreas do turismo, cultura e desporto, incluindo teatro da Trindade e alojamento em unidades hoteleiras.

a funcionar, desde Outubro último, nas instalações do Parque de Jogos 1º de Maio.

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Notícias

Inatel comemorou Dia Mundial do Turismo

Obras de requalificação em unidades hoteleiras lO

lO

tema do Dia Mundial de Turismo este ano é o “Turismo & Biodiversidade”, como anunciou a Organização Mundial de Turismo. A Fundação Inatel, como prestadora de serviços sociais credenciada na área de Turismo e consciente da importância da Biodiversidade para a sustentabilidade desta actividade, associou-se às comemorações nacionais do Dia Mundial de Turismo, com um conjunto de iniciativas, designadamente uma campanha promocional “Estada gratuita no Dia Mundial do Turismo” (ofertas aos seus beneficiários de estadia na noite de 26 para 27 de Setembro, numa das 18 unidades Inatel) e a apresentação pública de concurso de fotografia subordinado ao tema “Conhecer para Preservar - INATEL e a Biodiversidade”, destinado a todos os participantes dos

percursos dos trilhos de caminhadas do programa “Caminhar com a Inatel”. A Inatel, recorde-se, foi o primeiro operador a certificar roteiros turísticos a Carbono neutro, em 2007. Nestes passeios ecológicos, todo o carbono produzido foi sequestrado pela plantação de árvores de diversas espécies (Cerveira e Albufeira), efectuada pelos próprios clientes participantes nas viagens turísticas realizadas.

De comboio até Vila Velha de Rodão Ainda no âmbito do Dia Mundial do Turismo, a Inatel, representada pelo seu presidente, Vítor Ramalho, participou, no dia 27 de Setembro, numa iniciativa comemorativa que envolveu uma deslocação de comboio, a partir de Santa Apolónia até Vila Velha de Ródão. Durante o percurso, que contou com as presenças dos Secretários de Estado do Turismo e do Ambiente, Bernardo Trindade e Humberto Rosa, respectivamente, a comitiva teve a oportunidade de, à passagem pela unidade do Alamal, presenciar uma largada de balões divulgando a nova politica da Inatel.

Presidente de Albufeira no Trindade O presidente da câmara municipal de Albufeira, Desidério Silva, acompanhado da esposa, esteve em Lisboa, num fim de semana de Outubro, para ver e aplaudir a peça em cena no Teatro da Trindade, “O Dia dos Prodígios”, baseada no romance homónimo de Lídia Jorge. A escritora, registe-se, é familiar do autarca

apreciar a adaptação e encenação que

algarvio que se deslocou

Cucha Carvalheiro fez da sua mais

propositadamente à capital para

famosa obra.

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CA da Inatel abriu concurso público para reforço da requalificação de mais 22 apartamentos na unidade de Oeiras. Para a mesma unidade está prevista a requalificação, a curto prazo, do restaurante e de outros espaços de acesso público. O Conselho avaliou também o inicio da execução da obra de requalificação da agência de Évora (Palácio Barrocal), da piscina de Manteigas, do refeitório da Foz do Arelho, e das diligências em curso junto da Câmara de Albufeira para a requalificação do edifício da praia. Foi ainda deliberado apresentarem-se candidaturas ao QREN para as requalificações das unidades hoteleiras do Luso, de Vila da Feira, de Entre-os-Rios, de Manteigas e dos Parques de Campismo do Cabedelo e de S. Pedro de Moel.

Orçamento 2010 O CA analisou, em recente reunião, as inesperadas cativações e diminuições significativas das comparticipações públicas para o orçamento de 2010 (ano em curso), da Inatel, incluindo as que se referem a programas governamentais e que no conjunto se traduzem em cerca de 3,3 milhões de euros.CA elaborou uma informação para todos os trabalhadores, incentivando-os ao reforço da poupança em desperdícios e ao aumento das receitas.


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Lauro António em retrospectiva no Trindade

Jacinto Luís expõe no Estoril Na Galeria de Arte do Casino

l No

âmbito do 30º aniversário da estreia de “Manhã Submersa” e dos 50 anos de carreira do realizador Lauro António, decorre no teatro da Trindade, até 30 de Novembro, uma retrospectiva da sua obra que contempla mais de 25 filmes com destaque para a múltipla actividade na produção televisiva e no documentarismo. Ocasião para ver ou rever a série televisiva, A Paródia (1986-87), Bonecos de Estremoz (1976), Zé Povinhgo na Revolução (1978), José Viana – 50 Anos de Carreira

(1997),Humberto Delgado: “Obviamente, demito-o!” (2008), entre outros. Na sessão de abertura, a administradora da Inatel, Cristina Baptista, enalteceu o enorme contributo artístico do cineasta, sublinhando a importância que teve para o cinema português a adaptação do romance de Vergílio Ferreira. Antes da exibição de “Manhã Submersa” - e da entrega de um troféu, em jeito de homenagem, conjunto com a Fundação Inatel- , o Presidente do Abc Cineclube de Lisboa, Manuel Neves recordou o percurso cineclubista do realizador e salientou a sua grande capacidade para o filme de ficção. Sessões, com entrada livre, realizam-se às terças, no horárioo das 18h e 21h30.

Estoril está patente, até final do mês, uma exposição de pintura de Jacinto Luís, em que o tema principal é a Lisboa antiga. As suas praças e ruas, os telhados das suas casas, o rio e a ponte que o atravessa, o aqueduto das águas livres, que é um dos seus ícones mais conhecidos e muitos dos recantos mais característicos da capital pombalina. Com bolsas e estadias, desde os anos 70, em Paris, Roma e Madrid, este artista conta já no seu currículo com mais de quatro dezenas de exposições realizadas em importantes Galerias de França, Suíça, Bélgica, Suécia, Estados Unidos, Colômbia e, obviamente, Portugal.

Novo romance de Zambujal e estreia em ficção de João Paulo Guerra Quando se aperceberam que o lançamento dos respectivos romances estava marcado para o mesmo dia e hora, Mário Zambujal e João Paulo Guerra, camaradas na escrita e amigos duradouros, acertaram novas datas, superando as angústias ou dúvidas dos amigos comuns e dos fiéis leitores em matéria de opção. Assim, o autor da “Crónica dos Bons Malandros” manteve o palco do Maxime, a 14 l

de Outubro, para escutar a celebração da “Dama de Espadas”, feita por Carlos Pinto Coelho. Estreia de uma nova editora, a Clube do Autor, o novo e saboroso romance de Mário Zambujal – uma envolvente e misteriosa história de amor promete, como sublinha o autor, “prender os leitores até à última página”. Uma semana depois, coube a Ana Sousa Dias confessar, na Livraria Barata, o prazer que teve na leitura de “Romance de uma Conspiração” de João Paulo Guerra.

Primeira obra de ficção do consagrado jornalista e autor, entre outras obras, de “Descolonização Portuguesa – O Regresso das Caravelas”, o romance de JPG, baseado em factos reais, transporta-nos, numa escrita fluente e bem humorada, a momentos decisivos da nossa História contemporânea. NOV 2010 |

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Notícias

MUS: a corrida mais louca l Todos sabiam que iam à descoberta da cidade a pé, de bicicleta ou de transportes. Mais: as tarefas atribuídas tanto podiam ter um teor ecológico, como serem completamente mirabolantes. Falamos do MUS, uma corrida com fins sociais e muita diversão à mistura, numa parceria Inatel/Merrell Urban Side que envolveu 21 equipas e cerca de um milhar de participantes e voluntários. Nada de rostos fechados ou conversas a meia-voz. Apesar da chuva ter sido uma ameaça ao longo de toda a prova, às 10 da manhã, ao tiro de partida, as 21 ruidosas equipas saíram a correr do 1º de Maio e tomaram conta da cidade. Tal como na caça ao tesouro, aqui os participantes tinham de compreender as pistas dadas para chegar a um destino, realizar a tarefa pedida e regressar ao estádio para tudo ser validado. O que se perdia em competição ganhava-se em brincadeira. Uns inventaram slogans e fizeram uma manifestação pelo aumento de ordenado para pessoas desdentadas; outros declamaram parte dos ‘Lusíadas’ frente à pastelaria Mexicana; outros tiveram de encestar uma bola de pingue-pongue dentro de um copo, depois de beber uma jeropiga; colaram

bigodes e, de chapéu de coco e a rodar bengala, fizeram parar o trânsito a caminhar à Charlot. Mas também realizaram “one minute movie” no cinema King e apanharam o lixo do chão de alguns recantos da cidade. No fundo, apostou-se num divertido teste às capacidades físicas, conhecimento geral e conhecimento do território de jogo, que no caso é a cidade de Lisboa”, explicou Bruno Costa, da organização. Mas no ADN desta prova há algo de inovador: a responsabilidade social. Cada equipa tinha de recolher um donativo mínimo de 50 Euros para ser entregue na totalidade à CAIS, associação de apoio aos sem abrigo. E conseguiram angariar 2.200 euros, mais mil litros de águas e sumos, uma oferta que permite servir

centenas de refeições no restaurante da CAIS. Nesta primeira edição do MUS, “ainda não houve a adesão esperada”, confessa Tiago Veloso, representante da Merrell, a marca patrocinadora deste evento. Mas este género de corrida onde se alia a diversão à ecologia e aos fins sociais, muito popular nos EUA – foi beber inspiração na Oyster Race, que existe desde 2003 e que igualmente patrocina – veio para ficar. No próximo ano o MUS tem provas previstas na Alemanha e em Inglaterra, mas “a ideia é expandir-se para o resto da Europa nos anos seguintes”. Em 2012 e 2013 o MUS regressa a Portugal e vai decorrer em simultâneo em Lisboa e no Porto, conforme o protocolo assinado com a Inatel. MG

Maratona Seaside

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A 25ª edição da Maratona de Lisboa –

desconto especial de 5 euros sobre a

para além da maratona, a meia-

marcada para 5 de Dezembro – tem

taxa de inscrição em qualquer uma das

maratona, a corrida da Família –

mais uma vez a partida e chegada ao

provas, mediante a apresentação do

Fundação INATEL, Estafetas e ainda um

Parque de Jogos 1º de Maio, seguindo

cartão de beneficiário, e desde que se

programa especial para jovens (na qual

o seu percurso pelo centro da cidade.

inscrevam até ao final do mês de

se podem inscrever, todos os jovens

Como habitual, os Associados da

Novembro.

entre os 10 e os 16 anos, mediante o

Fundação INATEL, vão usufruir de

No Programa oficial estão incluídas,

pagamento simbólico de 1 euro.

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Actual

Formação na DAF Uma aposta nas pessoas, talentos e meios… Centrada na ideia de que qualquer mudança de sucesso numa organização tem de apostar fortemente na motivação e formação dos seus trabalhadores, incutindo-lhe uma atitude pró-activa e de valorização pessoal, a Direcção Administrativa e Financeira (DAF) da Inatel organizou, com o apoio da empresa Unexpected, uma inovadora acção de formação, em Setembro último, na Unidade Hoteleira da Caparica.

O

rientada pelo sociólogo Lúcio Lampreia, a acção baseou-se na própria experiência desta empresa: "ter menos coisas e fazer um excelente aproveitamento de tudo: pessoas, talento e meios (…) a nossa metodologia é não ter uma fórmula fixa porque somos moldados pelos problemas das organizações. Somos marcados por estarmos dentro da realidade dos nossos clientes, de a experimentarmos, de a sermos". Para a aplicação desta metodologia com a equipa de direcção DAF, teve lugar - explica este responsável da Unexpected e especialista em Recursos Humanos - um trabalho de preparação, iniciado dois meses antes, como forma de conhecermos a DAF. Nada foi deixado ao acaso duran14

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te a fase de investigação...nem o suspense. Para que aquele dia, não fosse mais um dia, mas fosse o dia". Com o mote "Redesenhar a DAF", foi feito acrescenta - o desenho da acção usando aquilo que a direcção sente serem os seus pontos fortes e de desenvolvimento. "Foi um momento projectado para que, no final, houvesse algo que tornasse o dia a seguir diferente, algo que fosse uma mais valia para a fundação. Portanto, todo o trabalho foi realizado numa associação constante à marca Inatel de forma a reforçar a identidade da DAF." A formação envolveu exercícios de Resolução de Problemas e, mais tarde, o Unexpected Show, com uma caricatura exagerada daquilo que são os problemas da DAF. "Trata-se - sublinha Lúcio


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Lampreia - de uma metodologia desenvolvida com actores de teatro que resulta num efeito espelho. Não é teatro, é a realidade! O momento é um meio para desenhar o futuro e não um fim em si. Para terminar, tivemos à noite um momento alto criado pela equipa DAF, onde a criatividade e a visão estiveram unidas num momento digno de Hollywood. A "estreia" de uma visão para a DAF." Elogiando a "entrega e o trabalho realizado pela equipa DAF e o seu Administrador (Rogério Fernandes)", o experiente formador da Unexpected Designing People considerou "excelentes" os resultados obtidos e a sua importância para acções futuras a implementar. Grande entusiasta e promotor da iniciativa, Rogério Fernandes salienta o seu efeito "altamente positivo" no relacionamento entre as estruturas da DAF, ao fortalecer a interacção entre os responsáveis. Por outro lado, acrescenta o administrador da Inatel, as reuniões de trabalho já realizadas na sequência desta acção traduziram-se numa "melhor percepção das questões que esta direcção enfrenta enquanto área de suporte dos clientes internos", com reflexo imediato no "desenvolvimento de vários projectos da Fundação".

"Espírito de equipa" "Pensei que ia para uma formação normal e clássica e fui surpreendida por algo diferente, muito mais atractivo e incentivador. À medida que o dia passava era notória a cumplicidade e proximidade entre os elementos das equipas e as tarefas foram superadas graças ao espírito de equipa" recorda Isabel Oliveira, da Direcção da DAF, em funções desde 1992. "Unidos - acrescenta - somos melhores e alcançamos maior sucesso nas tarefas. Esta formação sensibilizou-nos para partilha de objectivos, que na nossa área podem constituir uma mais valia para outros serviços". Para Ana Raimundo, esta experiência, também inédita no seu percurso profissional, " teve uma componente muito pedagógica e de solidificação da equipa, pois a DAF é um todo, e não só a área da contabilidade, informática ou recursos humanos". A "maior abertura e predis-

posição de interacção" que a formação trouxe à equipa deveria - salientou esta coordenadora da área de Contabilidade - "aplicar-se a todos os sectores da casa, incluindo os que trabalham para o exterior". "A comunicação e nosso compromisso e lealdade como equipa saem reforçados com este tipo de formação", considera Rute Reis, do sector de planeamento e estratégia, destacando a aprendizagem obtida e o contributo da iniciativa para a superação de "defeitos e erros que inconscientemente podem ser praticados" e como incentivo ao "exercício das capacidades extraordinárias de cada pessoa." Igualmente presente nesta formação, o Director Administrativo e Financeiro, António Passarinho acentua o modo como a experiência contribuiu para "fortalecer a equipa interna da DAF", estimular "a criatividade em equipa e direccionar para o cliente interno a nossa missão que é apoiar actividades de toda a Inatel." "Para cumprir bem a nossa missão não devemos olhar o cliente interno como alguém que traz problemas, mas sim como um serviço interno de apoio e complementaridade às actividades dos diferentes departamentos", adiantou o mesmo responsável, elogiando a "experiência ímpar, com resultados finais positivos e bem diferente dos vividos nas ditas formações clássicas a que estava habituado". n NOV 2010 |

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Fotografia

XV Concurso “Tempo Livre”

Fotos premiadas

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Regulamento 1. Concurso Nacional de Fotografia da revista Tempo Livre. Periodicidade mensal. Podem participar todos os associados da Fundação Inatel, excluindo os seus funcionários e colaboradores da revista Tempo Livre. 2. Enviar as fotos para: Revista Tempo Livre - Concurso de Fotografia, Calçada de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa. 3. A data limite para a recepção dos trabalhos é o dia 10 de cada mês. 4. O tema é livre e cada concorrente pode enviar, mensalmente, um máximo de 3 fotografias de formato mínimo de 10x15 cm e máximo de 18x24 cm., em papel, cor ou preto e branco. 5. Não são aceites diapositivos e as fotos concorrentes não serão devolvidas.

Menções honrosas [ a ] Sérgio Guerra, S. João do Estoril Sócio n.º 204212 [ b ] Anabela Castro, Vila Nova de Gaia Sócio n.º 432080 [ c ] Mário Bizarro, Vila Nova de Gaia Sócio n.º 67888

[a]

6. O concurso é limitado aos associados da Inatel. Todas as fotos devem ser assinaladas no verso com o nome do autor, morada, telefone e número de associado da Inatel. 7. A «TL» publicará, em cada mês, as seis melhores fotos (três premiadas e três menções honrosas), seleccionadas entre as enviadas no prazo previsto. 8. Não serão seleccionadas, no mesmo ano, as fotos de um concorrente premiado nesse ano

[b]

9. Prémios: cada uma das três fotos seleccionadas terá como prémio duas noites para duas pessoas numa das unidades hoteleiras da Inatel, durante a época baixa, em regime APA (alojamento e pequeno almoço). O prémio tem a validade de um ano. O premiado(a) deve contactar a redacção da «TL».

[ 1 ] Carlos Santos, S. Domingos de Rana Sócio n.º 368565 [ 2 ] Francisco Santos, Aveiro Sócio n.º 15679 [ 3 ] Fausto Lima, Oeiras Sócio n.º 198088

10. Grande Prémio Anual: uma viagem a escolher na Brochura Inatel Turismo Social até ao montante de 1750 Euros. A este prémio, a publicar na «TL» de Setembro de 2011, concorrem todas as fotos premiadas e publicadas nos meses em que decorre o concurso.

[c]

11. O júri será composto por dois responsáveis da revista T. Livre e por um fotógrafo de reconhecido prestígio.

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Entrevista

Carlos Mendes “Vozes de Trabalho é um espectáculo magnífico”

os 17 anos já tinha não só o país, mas também a Europa rendidos ao êxito “Missing you”. Venceu dois festivais da canção, compôs para si e para outros. Quem não conhece “Amélia dos olhos doces”? Licenciou-se em arquitectura. Pinta e expõe. Mais tarde estudou canto lírico e hoje dá aulas de canto. Depois do cinema e da televisão, estreia-se no palco como actor em Vozes de Trabalho – um musical etnográfico que celebra os 75 anos da Inatel.

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Entrevista

Vozes de Trabalho é o seu projecto do momento…. É um espectáculo onde há muito texto representado e muitas canções retiradas do nosso cancioneiro; uma recolha feita por vários homens importantes da etnografia como José Alberto Sardinha Sardinha, Michael Giacometti e outros. Aqui pretendeu-se fazer um espectáculo onde houvesse recolha das músicas que são vozes do trabalho e não só. Tirando o Minho, que tem canções mais alegres, como as da apanha do milho, as canções de trabalho são muito bonitas mas são muito tristes, corríamos o risco de ser uma coisa muito pesada e muito triste. Escolheram-se aquelas mais representativas e escreveu-se um texto dramatizado integrando estas canções. O que mais o surpreendeu nesta peça? A escrita. O Tiago Torres da Silva resolveu esta peça de uma maneira brilhante. Fez exactaVozes de mente aquilo que eu queria que Trabalho vai ser um o Vozes de Trabalho fosse. êxito: tem o drama, Porque isto, convém lembrar, tem a festa e depois partiu do departamento de cultem canções, tem tura, quando eu era director. Fiz muitos temas, muita várias reuniões no sentido de coisa bonita… provocar os colaboradores para apresentarem propostas. A única O grande motor proposta que me espantou foi do próprio país está quando a Sofia Tomás, uma colanas mãos da Inatel, boradora do departamento, se chama-se sentou à minha frente e disse: associativismo. Tenho já há muito tempo a ideia de fazer um espectáculo com as canções do trabalho, e ficou por ali. E eu disse: é uma ideia muito engraçada. Ao ler esta peça, penso que isto é uma coisa completamente nova. Na minha carreira, que já leva 46 anos, é completamente inédito, nunca vi nada disto. Vai ser um sucesso? Nós, os cantores e os actores, estamos mobilizados para fazermos tudo para que seja um êxito. E vai ser um êxito. É absolutamente magnífico: tem o drama, tem a festa e depois tem canções, tem muita canção, tem muitos temas, muita coisa bonita; tem alguns originais, outras coisas que se enquadram, depois tem temas que são do nosso folclore, da nossa recol-

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ha, do nosso povo. O autor agarrou isto pelo lado mais poético, mais bonito: ele cria uma lenda para fazer esta estória – acho isto uma coisa genial, fantástica. Entra na linguagem do povo e do trabalho. A lenda diz que quando o homem morre no mar rouba a voz da mulher amada. O último grito que dá é o grito da mulher amada. A mulher, mesmo sem saber, deixa de falar, só pode cantar. Já está em ensaios, quem mais integra o elenco? Temos a Lourdes Norberto e a Cecília Guimarães, duas actrizes de grande gabarito, uma mais conhecida que a outra. Depois temos o naipe de cantores que representam, que é o meu caso, a Filipa Pais, a Joana Negrão – que faz parte do grupo Dazkarieh; e, um regresso magnífico, porque já há um ano e meio que não cantava, e que já estava muito afastada dos palcos, que é a Tonicha. Temos o elenco fechado. E depois temos vários homens e mulheres escolhidos em CCDs de Lisboa. Farão uma espécie de figuração, mas cantam. Os músicos acompanhantes só tocam instrumentos etnográficos, ou seja: bombo, cavaquinho, braguesas, gaitas de foles… São os instrumentos do nosso povo, da terra. Até visualmente vai ser um grande êxito. E o espectador é levado a acompanhar alguns dos temas cantados? Tem ali momentos em que se eu estivesse na plateia e visse a Tonicha a cantar a Moreninha, começava a entoá-la. Não tenho dúvida que háde haver muita gente que há-de entrar nas canções por se lembrar delas. O meu imaginário musical é isto, tudo. E portanto a gente que hoje vive em Braga lembra-se destas coisas; as pessoas que vivem em Lisboa lembram-se disto. A estreia já tem data marcada? Dia 25 de Novembro e vai estar em cena até dia 15 de Dezembro. Vamos tentar fazer uma digressão. E com esta particularidade: quando nos deslocarmos, vamos imaginar, para Viana do Castelo, os elementos que no espectáculo eram dos CCDs de Lisboa, vamos buscá-los a Viana do Castelo. Ou seja, há uma participação do próprio espectáculo de englobar pessoas dos CCDs locais para trabalharem nesta peça enquanto estiver a ser feita no local. Como actor esta vai ser a sua primeira experiência em teatro. De onde lhe vem essa von-


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tade de trilhar sempre caminhos novos? Tive a felicidade de nascer numa família que culturalmente exigia muito de nós, era activa. A minha mãe era pianista e professora de piano. Ela dizia-me: tu já na minha barriga ouvias música, quando tocava Rachmaninov, tu agitavas-te; mas se tocava Chopin, ficavas calmo – estórias de família que a gente nunca sabe se é verdade se são ideias… Os meus pais, dos anos 50 aos anos 80, tiveram uma frisa no S. Carlos. Vi ali tudo o que era de grandes cantores: de Krauss a Callas, ao Franco Corelli – que é para mim o melhor cantor do mundo. Havia uma prática do meu irmão mais velho e dos meus outros irmãos de fazerem teatro em casa, dizerem poesia, a minha mãe tocava piano, de vez em quando ia lá um senhor que tocava violino e tocavam os dois. O meu pai cantava fados de Coimbra. Não havia televisão… E as tertúlias eram feitas com base nisto: de vez em quando também lá ia o Nicolau Breyner a dizer poemas, iam lá muitos actores amigos e cantores que faziam parte do coro de S.Carlos. E de vez em quando cantavam lá em casa trechos de ópera… Eu vivi esse mundo. Há toda uma abertura e uma necessidade de aprender. Gosto muito de aprender embora hoje também ensine – dou aulas de canto no Chiado. Mas, não sei porquê, sempre tive o bichinho da ópera. Quando era muito pequenino às vezes não podia assistir da frisa porque não me deixavam entrar, não tinha idade, e ia para a orquestra. Ficava ao lado de um senhor que era clarinetista: o senhor Saraiva. Ficava ali muito quietinho, a ver a ópera do fosso da orquestra. Ver aquilo tudo a tocar era uma coisa espantosa. Isto marcou-me muito, muitíssimo. No fundo a música continua a ser o leit-motiv de tudo? Não tenho nada espartilhado. Você chega aqui e diz: tenho aqui um espaço queria que aqui cantasses. E eu vou cantar. Ainda no outro dia fiz uma tertúlia na Ericeira, num restaurante, com um amigo, em que estive a cantar e a responder a perguntas. Sou muito aberto a tudo. Os convites, se puder, aceito-os. Mas não espartilho a coisa. Sou muito renascentista nesse aspecto: o artista é o todo e não uma parte. O artista é o que escreve, o que pinta – eu também

BI de Carlos Mendes Nasce a 23/05/47

ainda a peça “O Touro”, da

1963 – Um dos fundadores, com

Comuna – uma companhia com a

Paulo de Carvalho, do famoso

qual continuaria a colaborar nos

conjunto Sheiks.

anos seguintes.

1968 – Já a solo vence Festival

1989 – Com Fernando Tordo,

RTP da Canção com “Verão”, um

Paulo de Carvalho - e a direcção

feito que bisa quatro anos depois

do Pedro Osório cria “Só nós três”

com “Festa da Vida”

– o disco chegou à platina

1973 – Forma-se em Arquitectura,

1990 – “Improvisos Carlos

profissão que exerce durante

Mendes”, com encenação de

pouco tempo

Carlos Avillez

1976 – “Toma lá disco” é o nome

1991 – Inicia aulas de canto lírico

da empresa discográfica que

com a professora Cristina Castro

funda com Paulo de Carvalho e

e estreia-se como actor em “O

Fernando Tordo

luto de Electra” – de Eugene

1977 – “Canções de Ex-Cravo e

O’Neil e encenada por Artur

Maldizer” é o nome do trabalho

Ramos para a RTP.

que inclui o famoso “Amélia dos

1993 – “Falas tu ou falo eu”, com

Olhos Doces”

Tordo e Paulo de Carvalho, na SIC

1985 – Inicia formação musical de

1998 – Dois espectáculos na Expo

piano – enquanto apresenta

98 e digressão por Índia e Macau

novos trabalhos discográficos e

a convite da Fundação Oriente

faz digressões

1999 – Álbum “Coração de

1986 – Musica o filme “Vestido

Cantor”. Actor da série

cor de fogo”, de Lauro António e

“Morangos com Açúcar”, TVI

pinto, já fiz várias exposições com a minha mulher, ela é pintora. E a arquitectura? A arquitectura obriga a uma disciplina de projecto que é muito complicada. Obriga-nos a estar muito presos ao atelier durante muito tempo. Eu aí tive que optar por sair da arquitectura. Fiz o Hospital de Guimarães – há muitos anos, juntamente com mais dois colegas, na então Direcção Geral das Construções Hospitalares, em 1985 ou 86. Depois saí e fui tirar cursos de piano e aprender. O espírito tem de ser ocupado com muita coisa e, sobretudo, com arte e com cultura. A cultura é o grande leit-motiv de desenvolvimento de um povo – que é o que falta em Portugal. Tem uma colaboração por três anos com a Inatel. Em que projectos? Resolvi propor – e foi aceite – que de 2010 a 2012, como havia três grandes áreas na cultura que era NOV 2010 |

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Entrevista

VOZES DE TRABALHO 25 NOV a 12 DEZ – Sala Principal do Trindade

Autoria e encenação - Tiago Torres

dos cantos de trabalho para contar

nessas almas amarfanhadas por

da Silva; direcção musical - Vasco

uma estória que, vinda das

trabalhos extenuantes, almas essas

Ribeiro Casais; assessoria científica

entranhas da terra, se expande por

que encontravam alívio e

- José Alberto Sardinha; cenário -

lugares oníricos de fantasia e

procuravam forças nos cantos que

Inês Teixeira; figurinos - Hilda

ficção.

entoavam desde que a manhã se

Portela; com Carlos Mendes,

Ancorado nesses cantos que

levantava até ao pôr-do-sol.

Cecília Guimarães, Filipa Pais,

tornavam mais leves as penas das

Aparece assim o canto de raiz como

Joana Negrão, Lurdes Norberto,

ceifeiras, dos pescadores, dos

força motriz de um espectáculo de

Tonicha, e os músicos André Galvão,

vindimeiros, das fiandeiras, etc,

teatro onde a música é o que faz

Rita Nóvoa, Rui Rodrigues e Vasco

Vozes de Trabalho conta-nos o

avançar e o que trava, onde o

Ribeiro Casais.

percurso de uma jovem rapariga à

próprio espectador se sente parte

Produção Fundação INATEL | Teatro

procura da sua voz, a sua voz que

dessa terra, desse passado reaberto

da Trindade

um homem levou não se sabe para

agora como um testamento que une

Vozes de Trabalho parte do universo

onde e que estará talvez esquecida

o passado ao futuro.

a música, o teatro e a etnografia, propus que o ano de 2010 fosse dedicado à etnografia; no próximo ano fosse ao teatro e 2012 fosse o ano da música. E com propostas muito concretas. Neste caso, as Vozes de Trabalho, um espectáculo ligado à etnografia; no Teatro, lendas e mitos ligados ao teatro; na música os Três Mares, ligado mais à lusofonia. Tudo isto tendo sempre presente que a Inatel funciona com os CCDs, e portanto tentar sempre integrar alguém dos CCDs neste espaço. Sabe-se que, em 2011, vai mesmo ficar responsável pelos CCDs de Lisboa. E uma das preocupações que tenho é exactamente transformar, dar capacidade cultural, promover uma dinamização cultural a todos os CCDs de Lisboa. O grande motor do próprio país está nas mãos da Inatel, chama-se associativismo. Se conseguirmos associar-lhe a cultura e desenvolver a cultura destes associados colectivos da Fundação – em vez de estarem a beber uns copos e a ver as telenovelas, e se isto voltar ao tempo em que eu era miúdo, em que as associações faziam o bailarico mas faziam os seus debates e foi aí que nasceu a grande revolução das mentalidades, foi aí que nasceu porque é aí que estão as pessoas. Quando isso voltar a ser, penso que o país se pode desenvolver. n Manuela Garcia (texto) José Frade (fotos) 22

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Museus

Banco de Portugal

Moedas que con no edifício do Banco de Portugal, na movimentada e multicultural avenida Almirante Reis, em Lisboa, que está situado o Núcleo do Museu onde está patente a exposição ‘O Dinheiro no Ocidente Peninsular: do Artigo Padrão ao Euro’. Naquele espaço, os nossos olhos viajam através do dinheiro – já dizia Sophia de Mello Breyner Andresen que viajar é olhar – pela evolução histórica e socioeconómica da sociedade portuguesa e dos povos que habitaram o Ocidente Peninsular. A saudade, esse sentimento tão português para o qual não existe tradução no mundo, fica presa por alguns instantes ao velho escudo. Sabe bem rever e recordar, por exemplo, as notas de 20 e de 50 escudos. Ainda se lembra delas? É bom reencontrar também aquelas que foram as primeiras moedas correntes bimetálicas e bicolores de cem escudos com o busto de Pedro Nunes, matemático e cosmógrafo do século XVI que contribuiu para o desenvolvimento da navegação,

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tão importante para os nossos Descobrimentos. Os mais novos certamente que ainda se lembram de levar para a escola estas moedas para comprar bolos e outras guloseimas. Como o tempo não pára, até porque a vida do escudo chegou ao fim depois de ter circulado durante 92 anos, entramos logo de seguida na era do euro que entrou nas nossas carteiras em Janeiro de 2002. Como não há memória sem identidade, vale a pena saber o que o dinheiro fala sobre nós. E pode dizer tanto… A exposição, que iremos calcorrear nas linhas que se seguem, estará patente ao público até ao final de 2011 – data em que está prevista a inauguração do Museu do Dinheiro, a instalar na sede do Banco de Portugal, no espaço da antiga igreja de S. Julião.

Relevância histórica Nesta mostra ficamos a conhecer a história do dinheiro através das suas diversas formas, das máquinas que o produziram e de outros objectos


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O dinheiro é um documento histórico que testemunha a evolução do Homem e da sociedade onde está inserido. A Tempo Livre foi ver a exposição permanente do Museu do Banco de Portugal, em Lisboa, que nos lembra quem fomos e o que somos através do percurso diacrónico do dinheiro desde o artigo padrão até ao euro. Nunca mais irá ver as moedas e as notas da mesma maneira. Talvez comece a olhá-las como obras de arte.

ontam histórias

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Museus

originais. António Gil Matos, coordenador do Núcleo do Museu, guiando os nossos olhos, indica que “este é um percurso, através do tempo e do espaço, com recurso ao dinheiro” que nos dá a conhecer a História de Portugal. A exposição inicia-se com a apresentação de formas de dinheiro muito diferentes das que utilizamos hoje. Recorde-se que o homem pré-histórico vivia em economia recolectora, depois passou a produzir e a trocar o que necessitava. Mais tarde, a troca começou a ser feita com base no

Contactos Av. Almirante Reis, 71, Lisboa Todos os dias úteis das 10h00 às 12h00 e das 14h00 às 16h00 As visitas guiadas são marcadas através do e-mail museu@bportugal. pt, Fax.: 213 107 819 ou Telefone: 213 130 650 A entrada é gratuita

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artigo padrão. Os nossos olhos dirigem-se de seguida para as primeiras moedas e notas: a moeda romana, sueva, visigótica, árabe e, posteriormente, as moedas e notas portuguesas desde o “dinheiro” de D. Afonso Henriques ao euro. Este percurso é realçado com a apresentação do vídeo ‘Breve História do Dinheiro’. Gil Matos chama a atenção para a raridade e a relevância histórica das moedas da colecção, destacando o Real de D. Beatriz – uma moeda muito rara com grande significado histórico. “Esta moeda foi batida provavelmente em 1384, em Santarém pela Rainha D. Beatriz, filha de D. Fernando, casada com D. João I de Castela, num período conturbado da História portuguesa que, através da cunhagem de moeda, afirma o seu direito ao trono português”, conta. “O Português”, prossegue o anfitrião, “é também uma moeda a destacar pela sua dimensão internacional e pelo prestígio que lhe está associado; o São Vicente, moeda renascentista, batida no reinado de D. João III, com a sua iconografia assente na imagem do padroeiro de Lisboa, teve na sua concepção o talento de Francisco de Holanda e de seu pai António de Holanda”. Pela mão deles surge, pela primeira vez em Portugal, moedas que revelam uma grande preocupação estética.


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O coordenador do Núcleo do Museu aponta para o conjunto das notas portuguesas de “grande beleza” e paramos para olhar com mais cuidado para a última série em escudos, dedicada aos Descobrimentos e desenhada pelo pintor Luís Filipe de Abreu. “O dinheiro pode ser visto como uma forma de arte”, frisa Gil Matos. “Se olharmos para as moedas gregas e romanas, vemos verdadeiras obras de arte, pequenas esculturas. A moeda São Vicente é uma peça de arte. Também na concepção das notas intervieram grandes artistas. Nesta exposição destaca-se Domingos António de Sequeira que desenhou as primeiras notas do Banco de Lisboa, mas tanto nas notas em Reis, como em Escudos, como agora em Euros participaram reconhecidos artistas. Poderemos dizer que as moedas e notas que trazemos no bolso, para além do seu poder aquisitivo, são pequenos múltiplos de obras de arte”, afirma num tom enfático. Por falar em bolso, nesta exposição pode tirar da sua carteira uma nota de vinte euros e verificar se é verdadeira. Ali vai ficar a conhecer todos os elementos de segurança daquelas notas. Esta mostra é direccionada para jovens, adultos e idosos, embora seja procurada sobretudo pelo público escolar. Até ao fim deste ano são

esperados cerca de 5000 visitantes. Quem se desloca para visitar esta mostra permanente, pode também apreciar a exposição temporária, bem mais pequena. ‘O Português: Moeda de Prestígio Internacional’ é o seu título e nela é apresentado o “português” de D. Manuel I e D. João III: “A moeda de ouro de maior prestígio dos descobrimentos portugueses, de dimensão internacional, assim como ‘portugalösers’ ou ‘portugaloides’, moedas cunhadas por cidades e territórios do norte da Europa, com o mesmo peso e, por vezes, com iconografia do ‘português’ ”, explica Gil Matos. No fim ou no princípio da visita pode contemplar, mesmo à entrada do Edifício Portugal, uma tapeçaria baseada nos elementos naturais – o fogo, a terra, a água e o ar –, da autoria de Luís Filipe de Abreu. O Museu existe como unidade de estrutura do Banco de Portugal desde o início da década de oitenta do século passado, associado ao Arquivo Histórico, constituindo-se em 1986 o Núcleo de Museu e, desde estão, promoveu e colaborou activamente em mais de duas dezenas de exposições temporárias, muitas delas itinerantes. O Museu do BP tem exposições permanentes em Lisboa, Porto e Ponta Delgada. n Sílvia Júlio (texto) Museu BP (fotos)

Em cima: na entrada do Edifício pode verse uma tapeçaria baseada nos elementos naturais – o fogo, a terra, a água e o ar – da autoria de Luís Filipe de Abreu. Ao lado, um balancé, dispositivo utilizado para a cunhagem de moedas

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A Gran Via comemora este ano o seu primeiro centenário. Poderia ser um acontecimento banal, pois, certamente, pelo mundo fora outras ruas completarão um século. Acontece que a Gran Via é para muitos a mais vibrante rua da vibrante capital de Espanha.

ara tal contribui a grande oferta de comércio, os hotéis, museus, cinemas e teatros, assim como alguns edifícios de feição icónica. Desses edifícios, destaca-se, num dos extremos, o Edifício Metrópolis, pela elegância das formas, a decoração que lembra um bordado, a cúpula arredondada de ardósia negra coroada por uma Vitória Alada, que de asas abertas, parece preparada para a qualquer momento mostrar a sua condição divina e levantar voo. No outro extremo a avenida é fechada pela Plaza de Espanha, onde a Torre Madrid e o Edifício Espanha são dois obeliscos que furam o céu de Madrid. No centro da praça, Miguel Cervantes, cheio de dignidade marmórea, observa Dom Quixote e Sancho Pança, em bronze, tendo o escritor de dividir o protagonismo com as suas geniais criações romanescas. Foi Felipe II (1527-1598) que transformou o pequeno povoado chamado Magerit (Mayrit no período da colonização árabe), na capital de Espanha e do império. A decisão de Felipe II deve-se, em grande parte, segundo os historiadores, à sua centralidade peninsular, reforçada com o domínio sobre Portugal (1580/1640), a par de um ecossistema favorável e de excelente território de caça para os aficionados monarcas. Para melhor se perceber a linha de evolução da cidade é costume falar-se da “Madrid dos Habsburgo”, da “Madrid dos Bourbons”, da “Madrid da Restauração”, ou da “Madrid Moderna”. Ou seja segue-se uma linha temporal, que acompanha o crescimento urbano. O umbigo da “Madrid dos Habsburgo” é a Plaza Mayor, de dimensões imperiais, como seria de esperar de uma dinastia que, no seu tempo,

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Parque El Retiro. Na página da direita, no sentido dos ponteiros do relógio, Palza Mayor, estátua de D. Quixote e Sancho Pança, estátua de Velasquez no Museu do Prado e as torres Kío

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governou o maior império do mundo. Partindo da mais conhecida praça da cidade, e após uma curta caminhada pela calle Mayor, encontra-se a Puerta del Sol. Convergem quatro importantes ruas nesta meia-lua e isso torna-a automaticamente num ponto de passagem e de encontro, no coração palpitante da cidade. É também um ponto simbólico, pois foi, no passado, cenário de marcantes revoltas populares. Parece-me que esse espírito popular e contestatário permanece vivo, pois na multidão que durante todo o dia gira na praça, é comum a presença de activistas das mais diversas causas, protestando, reivindicando. No conjunto de praças citadinas, clareiras na densa Madrid antiga, a Plaza de Santa Ana ganhou notoriedade pelas afinidades com o teatro, hoje mantidas pela presença do Teatro Espanhol, reputada casa de espectáculos da capital, bem como pelos seus cafés e bares.

Alguns atravessaram gerações, como a Cervejaria Alemã. Hemingway frequentou este estabelecimento centenário. Hoje não o faria. O aviso logo à entrada anunciando que é “prohibido fumar” seria uma barreira para o escritor. Quem conhece a cidade, digamos, desde há 25 anos, constata que Madrid está a mudar, constata que o mundo parece querer padronizar tudo, deixar pouco espaço à individualidade. Aquela Madrid, com cafés ruidosos, animados por personagens de charuto fumegante, são cada vez mais uma recordação. Porém nem tudo se alterou e o hábito tão madrileno da conversa, principalmente à mesa do café, mantém-se quase como um ritual e é praticado por toda a cidade desde o mais despretensioso estabelecimento até às casas que são verdadeiras instituições, como o Café Gijon. Fundado em 1888, ganhou notoriedade como café literário, coisa que hoje não existe, mas mantém e com uma clientela


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Viagens

regular, que se porta com o à-vontade de quem está em território familiar. Amplo mas acolhedor, sofisticado mas sem afectação, um dos encantos deste café foi o facto de não se ter transformado em “objecto turístico”, mantendo os laços com a cidade

Uma Visita aos Mestres

Centro de Arte Reina Sofia

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Como seria Madrid sem os seus museus? É uma questão retórica. Porém, todos admitimos sem custo que não teria o mesmo prestígio, não seria a mesma cidade. Madrid tem imensos museus, alguns bem curiosos como o Museu Taurino, ou o Museu da Farmácia. Independentemente dos interesses pessoais, os museus que de facto distinguem Madrid são o Prado, o Reina Sofia e o Thyssen-Bornemisza. O Museu do Prado (criação da rainha Isabel de Bragança, filha do rei português D. João, casada com o seu tio D. Fernando

VII, rei de Espanha) é o mais antigo, domiciliando uma riquíssima colecção de pintura, em primeiro lugar espanhola, mas também italiana, flamenga, alemã e ainda francesa e inglesa. Desta extensa galeria de ilustres artistas expostos não resisto a destacar dois Mestres, além do mais madrilenos, não por nascimento mas pelo seu envolvimento com a cidade, Diego Velázquez e Francisco de Goya. Assim, embora já conhecesse o Prado de outras visitas, ignorei tudo o mais e fui direitinho à família de Filipe IV, ou seja fui visitar As Meninas. Há um magnetismo intrínseco criado pela atmosfera do quadro, onde cada personagem ocupa o seu lugar e mostra o seu carácter. Atraído pela sua beleza plástica não me canso dele. É hipnótico. Goya mostrou o seu talento numa ampla variedade de trabalhos e vemos como salta sem dificuldade da sensualidade, — ou erotismo, segundo a visão de alguns — da Maja Desnuda e Maja Vestida para o dramatismo que se expõe no grito de revolta em El Tres de Mayo. Mais recente, o Centro de Arte Reina Sofia pega na Arte Ocidental onde o Prado a larga, ou seja, a partir do século XIX. Guernica, o mais célebre quadro de Picasso, parece atrair todas as atenções, assim o diz a permanente cortina de pessoas alinhadas diante da grande tela, onde se encadeiam figuras mutiladas e disformes transmitindo uma sensação de incomodidade. É uma imagem quase devocional, inspirada pelos horrores da guerra civil espanhola(1936/39). Para além deste quadro, o museu congrega obras de grandes artistas contemporâneos, com destaque para Dali, Miró e, claro, Picasso. Não falta o tributo à fotografia e lá está Francesc Catalá Roca e a Madrid franquista a preto-e-branco, Man Ray e o seu experimentalismo. Há também, discretas, um conjunto de fotografias da britânica Júlia Margaret Cameron, onde se evidencia o delicado e contemplativo Ellen Terry at the Age of Sixteen. Uma foto que guardamos facilmente na memória. Visitar o Museu Thyssen-Bornemisza é suficiente para traçar uma linha evolutiva da pintura ocidental dos últimos 700 anos. O que não é pouco. Há muita pintura de paisagem e de retrato, o que está de acordo com as preferências da família Thyssen-Bornemisza, que ao longo de duas gerações não olhou as despesas para


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engrandecer a colecção. Sigamos então essa linha desde, por exemplo, Duccio e o seu narrativo Cristo e a Samaritana, do início de Trezentos, até, por exemplo, ao norte-americano Edward Hopper e ao seu também narrativo Hotel Room, dos anos trinta do século XX.

Do Retiro à Castelhana… Mas talvez seja hora de libertar os olhos da pintura, porque o resto da cidade está à nossa volta e pode ser tão interessante, ou mais. Estou a pensar no Parque do Retiro, o grande espaço verde da cidade, que se espalha por 130 hectares e que conta com mais de 23 mil árvores, dizem. Tem também um lago salpicado de barcos a remos, um monumento grandioso em honra de Afonso XII e uma alameda onde se alinham rígidos, em pedra, dinastias de reis de Espanha, conhecida por Paseo de las Estatuas. O Parque começou por ser um espaço de uso exclusivo da Corte, até que

mais tarde esse foi um privilégio a que toda a gente teve acesso. Mais adiante, paramos no bairro de Salamanca, lugar exclusivo avisam os guias turísticos da cidade, e assim é. Resultado do Ensanche, ou seja a expansão da cidade na segunda metade do século XIX, foi pensado desde início para as classes privilegiadas, embora estas não apreciassem de imediato a ideia de deixar a proximidade do Palácio Real, a verdade é que com o tempo descobriram as virtudes de viver num lugar mais desafogado. Até hoje. Misto de mansões de vários tamanhos e sólidos prédios de apartamentos, Salamanca atraiu, naturalmente, o comércio de luxo, principalmente a alta-costura. Mas eu conheço lá também uma excelente livraria, e para além de passar pelas vitrinas a avaliar a inspiração dos estilistas, passo ainda mais tempo na De Viage, onde encontro sempre algo que me interessa.

Palácio Real

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Viagens

www.meseodelprado.es

GUIA

1000; www.museoreinasofia.es

Museu Rainha Sofia: Edifício MUSEUS

Sabatini; C/ Santa Isabel, 52;

Museu Thyssen-Bornemisza:

Museu do Prado: Paseo del

Horário: Segunda a Sábado

Paseo del Prado, 8; Horário:

Prado s/n; Horário: Terça a

das 10h00 às 21h00. Domingo

Terça a Domingo das 10h00 às

Domingo das 9h00 às 20h00;

das 10h00 às 14h30. Terça-

19h00; Tel: 34 913 69 01 51;

Tel: 34 902 10 70 77;

feira encerrado; Tel: 34 91774

www.museothyssen.org

Se continuarmos para norte, Passeo de la Castellana acima, desfiladeiro urbano com muitos quilómetros de extensão, encontramos novos acrescentos da cidade, resultado da afluência constante de pessoas vindas de toda a Espanha, mas também da América Latina e do Magrebe (o estádio Santiago Bernabéu, do Real Madrid, é 34

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VIAGENS INATEL Fim de Ano em Madrid De 30 de Dezembro a 2 de Janeiro. Desde 564 euros. Partidas de Leiria, Santarém e Lisboa. Preço inclui autocarro, guias, hotel **** e quatro refeições.

ponto central desta imensa avenida…), chegamos à zona dos Nuevos Ministerios, conjunto de grandes edifícios num estilo seco, legado do Franquismo, depois as Torres Kio, oficialmente Puerta de Europa, duas torres que se inclinam uma para a outra desafiando a gravidade. E depois temos, já como registo do século XXI, marcando a extremidade norte da cidade, uma criação do mundo da finança, o parque empresarial conhecido por Cuatro Torres Business Área (curiosa mistura de espanhol e inglês), quatro torres de diferentes feitios, com mais de 200 metros de altura, e que se avistam a grande distância, reflectindo a luz nas suas superfícies de espelho liso. Madrid tem um rio, é verdade. Chama-se Manzanares e muitos visitantes não dão por ele. Porém um passeio pelas suas margens oferece uma perspectiva da cidade bastante interessante. O Manzanares sulca a cidade do lado sul, e as suas margens, recuperadas e embelezadas depois de muitos anos de maus tratos, são um excelente passeio e permitem perceber a dimensão, ou talvez seja vocação, imperial da cidade, desde a sua nomeação como capital. Isso vê-se olhando, e chega como exemplo, para a arriba onde assenta o Palácio Real, que foi construído não apenas para albergar a Corte, mas também para impressionar, pois se assim não fosse outra seria a localização e outra seria a dimensão. Nada menos que o maior palácio real da Europa ocidental. Mas a melhor prova dessa vocação para o grandioso e teatral está aos meus pés e chama-se ponte de Segóvia. Encomendada por Felipe II, com os seus nove arcos é magnífica, no entanto qualquer um se pergunta do porquê de tão grande obra para cruzar um rio que se atravessa pé. Assim é Madrid. Ser grande corre-lhe nas veias desde a nascença. n José Luís Jorge (texto e fotos)


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Terra Nossa

ZĂŞzere

Na companhia de um rio

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Poucos rios podem igualar o Zêzere no que diz respeito ao início da viagem. Fisicamente, o rio nasce na Serra da Estrela, à beira dos 2000 metros de altitude, mas é no Covão da Ametade, pequena meseta segura entre as paredes rochosas do Cântaro Magro e o Vale Glaciário do Zêzere que a maioria das pessoas o vê pela primeira vez.

li o rio é um delgado fio de água atravessando disciplinadamente um bosque de bétulas. Logo depois o rio ganha velocidade, correndo no fundo do Vale Glaciário do Zêzere, o maior vale glaciário da Europa, fazendo o seu caminho entre vertentes íngremes e o caos de blocos graníticos. Acompanhando todo o vale, de Manteigas ao Covão da Ametade, uma fita de asfalto segue agarrada à meia-encosta, apresentando-se como uma das mais cénicas estradas montanhosas de Portugal. Manteigas, a primeira povoação que o rio encontra, desenvolveu-se por via da indústria de lanifícios e hoje grande parte da sua importância reside no facto de ser um acesso privilegiado à Serra da Estrela. A partir daqui o rio avança por um vale mais aberto, passa pela antiquíssima Valhelhas, com os seus graníticos monumentos, de que lembro a Ponte Filipina e o Pelourinho, até que chega a terras de Belmonte e à grande várzea da Cova da Beira, fecunda e fortemente humanizada. Aqui o Zêzere deixa de ser um rio de montanha e ganha a tranquilidade da planície.

A

Vila dos Cabrais Apesar de o rio não atravessar a vila, Belmonte rende homenagem ao Zêzere dedicando-lhe um espaço que é um convite para conhecer e acompanhar o rio, que se transforma múltiplas vezes ao longo do seu perNOV 2010 |

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Terra Nossa

Página seguinte: Barragem do Cabril e ancoradouro. Vistas de Constância da Foz do Alge. Vista geral de Manteigas e Torre Templária em Dornes. Vale Glaciário do Zêzere e Lago Azul

curso. Este espaço é o Ecomuseu do Zêzere, instalado num edifício conhecido por Tulha dos Cabrais, construção ampla que chama a atenção mais pela dimensão e aspecto robusto do que por outra coisa qualquer. Para além do Zêzere, aproveitado como elemento valorizador, Belmonte seguiu o mesmo caminho com outros imóveis ligados aos Cabrais, família que dominou a vila durante séculos. Frente ao Ecomuseu está o Museu dos Descobrimentos, originalmente, Casa dos Condes, a segunda residência da família Cabral em substituição do Paço do castelo. Sim, o castelo, o edifício ícone da vila, quase tão antigo como a nacionalidade, com a sua belíssima janela Manuelina, a torre de Menagem. Dentro do seu recinto muralhado terá nascido Pedro Álvares Cabral, que para uns descobriu o Brasil de forma intencional, enquanto para outros não passou de um acaso. Após a visita destes espaços já estamos bem servidos, mas não podemos deixar Belmonte sem passar pela a igreja de Santiago, edificação que acumula séculos de História, reflectida nos diversos elementos que a constituem. Aqui faz-se uma incursão pelos enredos dos Caminhos de Santiago e, como não podia deixar de ser, temos novo encontro com a família Cabral, cujo panteão está anexo ao edifício principal.

Do volfrâmio ao xisto Até chegar à vila de Barco o rio avança em território aberto, mas, então, as colinas tornam-se serranias e o Zêzere vê-se obrigado a avançar em ziguezague. Quando chega ao Couto Mineiro da Panasqueira o rio corre apertado entre montanhas. Nesta região rica em volfrâmio impõe-se ao olhar as escombreiras, montanhas de inertes resultantes da exploração mineira, que competem em grandeza com as montanhas verdadeiras. Junto ao Cabeço do Pião, onde se situam as antigas Lavarias, até há poucos anos o local de separação e purificação do minério, o rio parece contemplar uma era diferente. Logo depois surge a povoação de Barroca, a primeira das cinco povoações integradas na Rede das Aldeias de Xisto que se alinham ao longo do Zêzere. A Barroca é uma povoação compacta onde se destaca a Casa Grande, solar do século XVIII, hoje um espaço ao serviço da comunidade, acolhendo diversos serviços e instituições. Próximo 38

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da aldeia, na margem direita do rio, encontra-se inscrito no xisto a impressão digital do homem do Paleolítico, um pequeno núcleo de arte rupestre, onde se destaca a figuração de uma elegante cabeça de cavalo. Janeiro de Cima, (tal como Janeiro de Baixo, na margem oposta do rio), é uma povoação que tem a particularidade de aliar nas suas casas o xisto e o seixo rolado do rio, criando desta forma festivos padrões nas construções. Na povoação funciona a Casa das Tecedeiras, um atelier onde o passado e o presente, a tradição e a inovação, se entre(tecem) assegurando meios de subsistência a algumas mulheres.

Barragens, albufeiras, pontes Álvaro ganha em ser vista de longe. Fina como uma linha, estendida na crista de um monte, apresenta a inusual forma côncava. Álvaro recebeu Foral no século XVI, mas com o passar do tempo a importância da localidade desvaneceuse. É que Álvaro, tal como outras terras da beira Zêzere, tem de enfrentar o facto de muitos dos seus habitantes terem partido. Um miradouro no centro da povoação permite olhar o Zêzere estendido ao fundo da encosta e que aqui já não é um rio de águas soltas e rápidas. Aqui o Zêzere já foi travado pela primeira grande barragem do seu percurso, de que resultaram lagos artificiais seguros pelo betão em três pontos distintos, Cabril, Bouçã e Castelo de Bode, e que alteraram radicalmente a fisionomia do rio. Antes de fazermos paragem sobre paredão, com bem mais de 100 metros de altura, que dá origem à albufeira do Cabril, vamos mudar de margem, deixando Oleiros e entrando no concelho da Pampilhosa da Serra. Eu explico porquê. Neste ponto o rio é uma longa serpentina, aparecendo e desaparecendo numa cénica sucessão de meandros, enrolando-se sobre si mesmo. Embora esteja convencido que a verdadeira grandeza desta paisagem só pode ser plenamente apreciada do ar, a estrada 344 é por alguns quilómetros uma boa opção para observar este troço. Chegamos, depois, às vilas de Pedrógão Grande e de Pedrógão Pequeno, uma de cada lado da albufeira do Cabril. Como um nómada vagueio entre uma e outra margem. Na margem esquerda aconselho uma ida ao miradouro da Senhora da Confiança, enquanto do lado oposto,


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Terra Nossa

GUIA

glaciário do Zêzere, na vila de

unidade possui 64 quartos.

Manteigas, e a outra não muito distante da confluência

INATEL Gavião (Alamal)

INFORMAÇÕES:

do Zêzere e do Tejo, no

Tel: 245 900 243. Localizado na

No território atravessado pelo

concelho de Gavião.

margem esquerda do rio Tejo,

rio Zêzere o INATEL possui INATEL Manteigas

não muito distante de

no troço inicial do rio, ao

Tel: 275 980 300; Localizado no

Constância) esta unidade

fundo do belíssimo vale

vale do Rio Zêzere esta

possui 21 quartos.

Pormenor do Castelo de Belmonte

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junto a uma praia fluvial, (e

duas unidades hoteleiras, uma

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Pedrógão Grande, parece resistir melhor às desvantagens da interioridade do que a sua vizinha em frente, — com uma vida activa — mantendo no entanto a fisionomia de terra antiga, por via da preservação e restauro do seu património. Logo depois do paredão da barragem, rio é um rasgão profundo na paisagem (que o próprio topónimo “Cabril” ajuda a compreender) constituindo um obstáculo natural e, dessa forma, um desafio à engenharia. A esse propósito é interessante olhar para o testemunho do padre António Rebelo da Mota que em 1785 escreveu o seguinte: “Desde a vila da Covilhã até ao Tejo, não tem senão uma ponte na corrente que faz entre os dois Pedrógãos, Grande e Pequeno, sítio o mais agreste e penhascoso que se achará neste reino ...”. A ponte a que o texto se refere foi edificada nos primeiros anos do século XVII, no fundo do vale, três arcos em pedra com um total de 72 metros de comprimento e 26 de altura. Em 1995 foi inaugurada uma nova ponte, uma faixa em betão com centenas de metros de vão e 170 metros de altura, a mais alta ponte até hoje erguida em Portugal. São duas soluções separadas por cerca de 400 anos. Ver a ponte Seiscentista do tabuleiro da ponte nova ou ver a ponte nova, desde as pedras da ponte centenária, ou, então, olhá-las em simultâneo é um exercício que impressiona pelo contraste e leva-nos a

reflectir sobre a evolução da engenharia e sobre outras coisas, certamente. Daqui em diante, seguindo, pela margem esquerda, passa-se pela vila de Cernache do Bonjardim, onde nasceu D. Nuno Álvares Pereira, e onde se localiza o Seminário das Missões, certamente uma surpresa para quem não estiver avisado da sua existência. Enorme, sólido como uma fortaleza, — pois era assim que uma instituição desta natureza se devia sentir — o seminário nasceu com o objectivo preparar missionários para a evangelização além-mar. Os azulejos interiores e pinturas de Bento Coelho da Silveira, artista reputado no seu tempo, (16181708) são uma mais valia artística do Colégio, aqui implantado desde finais do século XVIII.

A ‘fonte’ de Lisboa… Se seguirmos o curso do Zêzere pela margem direita encontramos, primeiro, a foz da ribeira de Pêra, e de seguida a ribeira de Alge, que se reúne ao Zêzere precisamente em Foz de Alge. Aqui destacam-se as ruínas de uma antiga fundição, as ferrarias de Foz de Alge, unidade proto-industrial que remonta ao século XVII. É aqui que a albufeira da barragem de Castelo de Bode começa a ganhar forma. Com 60 quilómetros de extensão é um pequeno mar interior, até à pouco tempo a maior albufeira do país. Com as suas reentrâncias, curvas, penínsulas, ilhotas, banha um vasto território repartido pelos concelhos de Tomar, Abrantes, Vila de Rei, Ferreira do Zêzere, Sertã e Figueiró dos Vinhos. A obra foi inaugurada em 1951 e para além da produção de energia, abastece Lisboa de água. Um dos mais conhecidos locais deste troço do rio é Dornes. A vila recebeu foral de D. Manuel (tal como Álvaro e Pedrógão Pequeno, tudo terras da beira Zêzere). Dornes é uma península cuja


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existência se explica pela existência deste grande lago que é a albufeira da barragem de Castelo de Bode. A maior particularidade de Dornes é a sua torre pentagonal de traçado irregular, alta, paredes de xisto e cunhais de calcário, única no país, que se pensa ter sido na origem uma torre de vigia mandada construir pelos templários. Em Dornes, — como na generalidade das povoações ao longo da albufeira — há um pequeno cais onde estão amarrados alguns barcos, quase todos embarcações novas com motor borda fora. Mas, inconfundíveis, lá estão também as barcas tradicionais do Zêzere, meia dúzia de tábuas aparelhadas, fundo chato, proa terminando em bico e a popa cortada a direito. Não são um expoente de elegância, mas são certamente adequadas às águas onde navegam. Com o avançar para sul a albufeira ora vai estreitando ora vai alargando, consoante a orografia e quando chega ao Lago Azul abre-se numa ampla toalha de água. Uma das maneiras de conhecer a albufeira é de barco. Os caiaques são hoje uma presença habitual no rio a partir do ponto em que se torna navegável. Naquele dia, quando cheguei ao Lago Azul, os caiaques eram manchas coloridas que iam entrando, um após outro, cortando o azul espelhado da albufeira. Não sei qual era o destino que levavam, mas se optarem por remar alguns quilómetros para sul chegarão à vista do paredão que detém o rio, chegarão a Castelo de Bode.

Daqui em diante, até ao final do curso, o rio recupera a sua liberdade. Uma estrada acompanha parte desse último troço. Cheguei, assim, a Constância, onde o Zêzere termina. No total são mais de 200 quilómetros onde dá para ver quase de tudo: montanhas, vales, desfiladeiros, extensas áreas de monocultura de pinheiro e eucalipto, vilas históricas, aldeias que sobrevivem como podem, grandes obras de engenharia, ruínas, pescadores, canoístas, caminhantes, turistas e habitantes locais. Em Constância, diz a tradição, viveu Camões. A vila é um aglomerado branco que sobe uma colina apertada entre o Tejo e o Zêzere e vista a alguma distância parece admirar o seu reflexo na água. A primeira coisa que faço é visitar o Museu dos Rios e das Artes Marítimas, um espaço sóbrio mas significativo, centrado em actividades, pesca, transporte fluvial e construção naval, que até meados do século XX foram importantes suportes económicos das gentes de Constância. Na verdade o Museu é, tal como o Ecomuseu, em Belmonte, uma homenagem aos rios, agora o Tejo e o Zêzere. Depois, desço as ruas inclinadas apontando para o extremo da pequena península. E então, sim, chego ao local da confluência dos rios, com o caudal rápido do Zêzere a fundir-se no leito largo do Tejo. Chego também ao final de um passeio longo, feito por etapas, porque na vida de um rio há uma altura em que o caminho termina. n José Luís Jorge (texto e fotos)

Paisagem de Dornes

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Portfólio

O Bahrein das fortalezas É PEQUENO MAS ABASTADO o estado islâmico do Bahrein, constituído por uma ilha homónima e três dezenas de ilhotas ao largo da Península Arábica e do Qatar e mesmo em frente ao Irão. O que poucos sabem é que durante quase um século este território esteve sob o domínio português, integrado no Estado da Índia, à semelhança de uma série de fortalezas espalhadas pelo Golfo Pérsico e o Mar Vermelho. Já Camões mencionava as «pérolas ricas e imitantes da cor da aurora» que se tiravam do fundo do mar «junto à ilha de Barem», e a prata amoedada que as caravanas de Alepo ali transporta-

vam para a sua compra. Em Manama, a capital, o assunto do dia são compras e negócios – «petronegócios», melhor dizendo – e uma estrada directa para a Arábia Saudita. Contudo, no pequeno átrio de chegadas do aeroporto internacional há uma ou outra agência especializada em curtas visitas guiadas a algumas das atracções de Manama, entre as quais se destaca o forte de Arad, construído pelos portugueses no início do século XVI, e o forte de Qalat Al Bahrain, que deu nome do país e está classificado como Património da Humanidade. n Joaquim Magalhães de Castro (texto e fotos)


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Já Camões mencionava as «pérolas ricas e imitantes da cor da aurora» que se tiravam do fundo do mar «junto à ilha de Barem»


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Paixões

Nelson Pinto, o lutador Guerreiro moderno, Nelson Pinto traz a determinação encaixada na largueza do olhar. É dos que se obstinam em atingir as metas estabelecidas sem nunca se desviar um milímetro dos objectivos.

O

seu lema, como ele diz, gravita em redor das boas maneiras e da disciplina. Filho de emigrantes nasceu em 1977 no bairro de Greenwich Village, na ilha de Manhattan. Aos seis anos mudou-se para Portugal onde foi crescendo com uma natural curiosidade por tudo. Influenciado pela acção do filme Karate Kid resolveu dedicar-se afincadamente ao cultivo das artes marciais que ajudam a “combater o ego”. Iniciou-se na Associação de Educação Física e Desportiva, em Torres Vedras. Além dos treinos intensivos fazia pesquisas na mira de evoluir cada vez mais. “Investi muito dinheiro em vídeos e livros. Até costumava dizer aos meus pais que um dia havia de sair na revista Cinturão Negro que era uma espécie de bíblia das ciências orientais”, relata. O carácter “limitativo” do Karaté deixava-o insatisfeito, sentia que “precisava de preencher lacunas, de encontrar uma arte de combate que fosse mais completa”. Altamente motivado seguiu em frente numa sucessão metódica de etapas. Para agilizar as pernas e os punhos praticou boxe normal, full contact e kick boxing até chegar ao taekwondo que é uma arte coreana de esgrimir com os pés. Digeridas as leituras, certo quanto ao futuro, decidiu contactar o Grande Mestre Michael de Alba. Este americano, fundador do System Modern Farang Mu Sul, viveu longo tempo nas montanhas da Coreia com os monges guardiãos de sabedorias milenárias. Ali, absorveu as teorias do sistema taoista Kouk Sun Do. “Respondi a várias perguntas numa entrevista por vídeo-conferência e um mês depois estava na Califórnia, em São Francisco, a treinar de manhã à noite”, adianta. 46

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No tempos livres estudava filosofia e história, traduzia os manuais para português, andava numa lufa-lufa pegada. Aprendeu com o mestre a dominar os segredos das artes de cura orientais que incluem massagens, acunpultura e pontos de expressão. Em 2002 voltou com o trunfo de ter frequentado o Golden West College, em Los Angeles. Já devidamente preparado começou a difundir a arte do Farang Mu Sul nos clubes. “Actualmente dou aulas nas Caldas da Rainha, em Lisboa e Bragança. Assistimos na Europa a uma explosão das artes marciais, tal como sucedeu há 20 anos atrás nos Estados Unidos, o que talvez se deva ao aumento da criminalidade ou a razões de ordem espiritual”. Nelson Pinto navega nas águas límpidas da espiritualidade que o mundo materialista de hoje rejeita. Defende valores nobres como a lealdade, a partilha, a moderação, a fragilidade humana que se transforma em força. “Mais do que a técnica buscava paz interior e conhecimento”, garante. Clarificação é uma das suas palavras-chave. No decorrer da conversa vem à baila o aikido, uma arte japonesa de inspiração budista. “Quando combatemos o adversário estamos a combater contra nós próprios. A arte da espada coreana corresponde ao corte dos nossos defeitos e arestas. A espada torna-se uma extensão do corpo dos guerreiros que se regem por códigos éticos”. Mas aparece sempre um mas a contrariar as teorias. Aqui são os mafiosos da seita Yacuza, peritos no manejo da espada. E então, pergunta-se? “Usam o conhecimento de uma maneira errada”, clarifica. A questão agora passa por saber para que serve a arte do Farang Mu Sul. Um dos cinco mestres creditados a nível mundial, director téc-


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nico na Europa e Brasil, já treinou a Polícia e a GNR. “As tácticas que ensinei mereceram uma referência elogiosa do Ministério da Administração Interna. São úteis para desarmar indivíduos perigosos, armados com facas ou armas de fogo. Um cão com medo morde e um polícia amedrontado magoa. Já enfrentei um problema de defesa pessoal que resolvi sem ter de recorrer à pancada”, assegura. Normalmente se o provocarem não reage, opta por manter uma calma eloquente. O potencial atacante, ao aperceber-se de que há algo estranho na atitude, fica inibido. Perante os conflitos, a conversa é importante. Tentar chamar os agressivos à razão pode funcionar, se bem que contra armas de fogo não existem heróis. “É verdade. Mesmo que seja um mestre de artes marciais, mais vale entregar a carteira”, ironiza. Chuck Norris, especialista no taekwondo e Steven Seagal, mestre do aikido, provam o contrário. Despacham seis ou sete enquanto o diabo esfrega um olho. Nos filmes, claro. Nelson Pinto é cinturão negro, categoria que demora entre cinco a dez anos a atingir. De estatura baixa mas entroncado não se preocupa demasiado com a alimentação. Não bebe nem fuma, evita as gorduras e os picantes, de resto come de tudo comedidamente. Apesar da “mente aberta”, reconhece ser um pouco obsessivo. Nunca dá nada por acabado. “Sou o mais novo dos mestres. Viajo imenso, ando de um lado para o outro a participar em seminários no país e no

estrangeiro”. É um indivíduo informado. Entre partidas e chegadas vai ouvindo o rumor do mundo. Cá e lá. O número de mulheres nas suas aulas cresce a olhos vistos, embora os homens ainda levem vantagem. “Até tenho casais que treinam juntamente com os filhos por causa do bullyng. Há gente de todas as classes sociais. A minha esposa também pratica artes marciais, sou de opinião que marido e mulher devem estar em sintonia para que a relação não se destabilize. As artes marciais também são encaradas como um desporto que ajuda a controlar o nervosismo e o stress”, acrescenta. Menciona com respeito e admiração o nome de Michael de Alba que tem sido “um pai para mim”. Descreve esse homem de 53 anos com mais de um metro e noventa de altura como um teddy bear, o urso de pelúcia da canção de Elvis Presley. Realça-lhe as qualidades que o distinguem da maioria dos mortais. “É a pessoa mais humilde que já conheci em toda a minha vida. Suave no trato, mas quando tem de executar a sua técnica sai-lhe o guerreiro lá de dentro. Foi considerado um dos vinte tesouros das artes coreanas nos Estados Unidos.” Trocando por miúdos. Sujeito ao fluxo indomável e devorador do tempo, Nelson Pinto busca a harmonia. Não desesperadamente, as artes marciais ensinaram-no a ser paciente. Tem fibra de lutador. E obstinação até dizer chega. n Lourdes Féria NOV 2010 |

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Memória

Canto e Castro, o «vadio» do teatro Morreu no dia 1 de Fevereiro de 2005, com 74 anos e, embora pareça mentira, fazia teatro há mais de 60 anos. Na verdade, Henrique Canto e Castro começou cedo aprendendo a arte do palco.

E

ra ainda um garoto quando interpretou, ao lado de Eunice Muñoz, a peça «A Lição do Tempo», de Luiz Francisco Rebelo, sob a direcção de Ribeirinho. E a escolha da profissão deve-se a um pai, apaixonado pelas artes, (músico frustrado pois trabalhava como químico analista), que lhe disse uma vez: «Se é isso que queres ser, se queres ser actor, vai em frente.» Esta não era com certeza a atitude normal de um pai daquela época (anos quarenta). E é assim que o miudo Henrique se vê a fazer teatro ao lado dos grandes (João Villaret, António Silva, Maria Lalande, Amélia Rey Colaço e outros) e ao mesmo tempo a cursar o Conservatório onde foi o melhor aluno com média de 18 valores.

Do declamado à revista Chamava-se Henrique Batista Vaz Pacheco de Canto e Castro e costumava dizer que era um vadio do teatro: «Já fiz todos os géneros teatrais, do declamado ao «boulevard», comédia tragédia, farsa ou melodrama, trabalhei com muitos encenadores, passei por várias companhias.» Canto e Castro não se limitou, no entanto, ao teatro. Fêz muito cinema, televisão, rádio, só não gostava de «ler teatro». E aos 11 anos já participava no programa infantil que Maria Madalena Patacho realizava na Emissora Nacional aos sábados à tarde. Estava escrito que Canto e Castro seria para todo o sempre actor e feliz. «A felicidade das pessoas é fazerem aquilo de que gostam. Eu fui feliz e fiz o melhor que soube sempre com imensa alegria.»

Os actores e o vinho do Porto Quem trabalhou com Canto e Castro sempre lhe elogiou a honestidade, o rigor e o imenso talento que a idade tornou ainda mais intensos. Ele próprio dizia, 48

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referindo-se aos actores mais velhos: «os actores quando são bons, ficam melhores com o tempo. São um pouco como o vinho do Porto ...» E ele foi um exemplo. Quando a morte o surpreendeu estava Canto e Castro, no Politeama, a interpretar a peça «A Rainha do Ferro Velho», encenada por Filipe La Féria. Já doente retirara-se uns meses antes enquanto o seu público fiel podia continuar a vê-lo, na RTP 1, numa série chamada «João Semana». Sendo o palco a sua vida e a sua paixão mais funda, não desdenhou, no entanto, o trabalho em televisão, tanto em peças de teatro, quando a RTP incluia o teatro nas suas programações, como em novelas e séries onde havia sempre lugar para um actor de excepção como Canto e Castro. Quem o via em «O Luto de Electra», de Eugene O’Neill ou em «A Visita da Velha Senhora», de Durrenmatt, não podia imaginá-lo num programa cómico como «Crime na Pensão Estrelinha» ou em «Fura-Vidas», uma série divertidíssima onde contracenou com os jovens actores Ivo Canelas e Miguel Guilherme. Canto e Castro era um excelentíssimo actor em qualquer género de trabalho.

Em cima, na peça “A Única Esperança”, com Varela Silva e Rui de Carvalho. Ao lado, interpretando o Prof. Egas Moniz na RTP 1, em Maio de 1990. Em baixo, Com Carlos Miguel e Leónia Mendes. Na Página da esquerda, na revista “Ó Pá, Pega na Vassoura” (1974/75)

O avô da Heidi e o gafanhoto De voz inconfundível, um pouco enrouquecida pelo tabaco que fumava desde jovem, (quem não se lembra da voz do «gafanhoto» da série «A Abelha Maia»?) Canto e Castro fêz muita Publicidade e dobrou algumas séries para a RTP. Numa delas foi a voz do avô da Heidi, que muitos recordarão dos programas infantis. O actor foi também intérprete em dezenas de filmes, uns melhores outros nem por isso, mas em todos o seu trabalho foi exemplar. E para terminar, como o actor merece, peço licença ao meu amigo, Jorge Leitão Ramos, para lhe roubar da excelente biografia que escreveu para o Dicionário do Cinema Português o seguinte excerto: «Quando se olha para o rosto de Canto e Castro não se vê só um dos melhores e mais conhecidos actores portugueses. Vê-se, eu acho que se vê, uma voz inconfundível que todos já ouvimos irónica, doce, dura, vociferante, terna,inquieta, gaguejante, magoada, serena, uma voz que se modula com a precisão de um relógio, que se afina como um instrumento que é capaz, por si só, de acordar sensações.» Estas palavras são um belo fecho para a «Memória» que tenho do actor Canto e Castro que foi meu amigo e de quem tenho muitas saudades. n Maria João Duarte NOV 2010 |

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Olho Vivo

Um planeta agradável Astrónomos norte-americanos descobriram um planeta, a 20 anos-luz da Terra, na constelação de Balança, que apresenta todas as características básicas para ser habitável. Chama-se Gliese 581g e está a uma distância ideal do seu sol para ter água no estado líquido. O ano do Gliese é de apenas 37 dias, o que permite festejar mais reveillons que na Terra. "A vida neste planeta seria muito agradável," disse Sigmund Vogt, o chefe da equipa que descobriu o planeta. Ainda não está marcada nenhuma excursão.

O gene da excitação Há quem não passe sem um bocadinho de excitação, assumindo riscos exagerados, dando saltos de elástico, ou correndo na contramão pelas autoestradas. Cientistas descobriram agora um grupo de genes, ligados à dopamina, uma substância que transporta mensagens para o cérebro, que dá para prever se o indivíduo que os tem vai ter mais tendência do que o normal para fazer, digamos assim, asneiras. A revista Psychological Science publicou o estudo.

Vida marinha em catálogo Dez anos de trabalho, mais de 80 países, nove mil dias dentro de água, 540 expedições, 2600 artigos científicos - a soma é o primeiro Censo Global da Vida Marinha, publicado a 4 de Outubro. Dos micróbios às baleias, dos pólos aos trópicos, das águas baixas de costa às profundezas oceânicas, são trinta milhões de observações sobre 120 mil espécies que habitam o meio líquido. Uma glória para a ciência mundial, a vida marinha em catálogo.

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O escritório engorda Trabalhar das nove às cinco pode engordar a carteira, mas não só. Segundo um estudo da Universidade de Montreal, no Canadá, publicado em Outubro, apesar de as pessoas comerem hoje melhor e fazerem mais exercício do que há trinta anos, a obesidade progride no mundo ocidental e os trabalhadores de escritório têm mais 10 por cento de problemas de peso, em 2004, do que os seus colegas de 1978. Segundo os cientistas, o remédio seria a realização de exercícios ao longo do dia, em vez de doses maciças de ginásio ou jogging, de vez em quando.

Bebedeiras adolescentes Os adolescentes, a nível global, não estão a beber mais (nem menos) álcool hoje do que bebiam em 1997. Um estudo sobre bebedeiras adolescentes comparou dados desse ano com registos feitos em 2006 e conclui que, em média, um jovem de 15 anos nos países industrializados bebe de mais umas três vezes por ano. O que mudou foi o local dos excessos. As bebedeiras aumentaram 40 por cento nos países de leste, especialmente entre as raparigas, enquanto que no ocidente houve um declínio em 13 de 16 países, especialmente entre os rapazes. Uma coisa compensa a outra, portanto.


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A n t ó n i o C o s t a S a n t o s ( t ex t o s ) A n d r é L e t r i a ( i l u s t r a ç õ e s )

Cretinismo congénito

O horrível óleo de fígado A avó afinal não tinha razão. Cientistas do Michigan publicaram em Outubro um estudo na revista Cancer Research, que atribui ao óleo de fígado de bacalhau propriedades cancerígenas. Ratinhos ficaram com colites graves e cancro do cólon, o que leva a estabelecer uma dose máxima do ácido docosahexaenóico, um dos ácidos ómega 3 presentes no óleo de fígado de bacalhau. A descoberta é surpreendente porque o óleo mostrava ter propriedades anti-inflamatórias e o cancro do cólon, por exemplo, evolui normalmente a partir de estados inflamatórios.

O chamado Homem de Flores, um antepassado do Homo Sapiens descoberto em 2003 na Indonésia, extremamente pequeno, com um metro de altura e o crânio do tamanho de um chimpanzé, tem intrigado os cientistas pelo seu tamanho. Uma nova teoria vem opor-se à ideia de que o isolamento conduziu ao nanismo. Segundo um professor da Universidade da Austrália Ocidental, o Homo floresiensis é um homem moderno que sofreu uma terrível falta de iodo, que travou o seu crescimento, doença conhecida por cretinismo congénito.

Montanha russa cura asma Avó alcachofra no país do tango A tetravó da alcachofra e do girassol foi descoberta no sul da Argentina, nas rochas da Patagónia. Tem 47,5 milhões de anos e é um fóssil recolhido e descrito na revista Science pela paleobotânica Viviana Barreda, de Buenos Aires. Sabia-se que estas plantas, presentes em todos os continentes, tinham evoluído a partir de antepassados da América do Sul, mas nunca tinha sido antes encontrada uma prova tão remota desta teoria.

O osso de Colombo Os dinossáurios eram muito maiores do que se pensava, segundo estudos de um professor de anatomia da Universidade do Ohio, nos Estados Unidos. Este cientista estudou crocodilos e avestruzes e concluiu que, à altura dos dinossáurios, há que juntar em média uns trinta centímetros. A razão é simples: os fósseis encontrados, que permitiram calcular a altura dos animais pré-históricos, são só de ossos e até hoje ninguém se tinha lembrado de contar com as cartilagens que os uniam e não chegaram aos nossos dias. A descoberta é um verdadeiro ... osso de Colombo.

Os prémios IgNobel, atribuídos desde 1991, na mesma altura que a Academia Sueca divulga os Nobel, recompensaram este ano um estudo que afirma ser possível curar a asma dando várias voltas na montanha russa. A entrega dos galardões foi feita na prestigiada Universidade de Harvard e os premiados são cientistas que dedicam a vida a estudar insignificâncias. O IgNobel da Física, por exemplo, foi para investigadores da Universidade de Otago, na Nova Zelândia, que concluíram que usar meias por fora dos sapatos diminui em muito a possibilidade de escorregar no gelo das ruas. NOV 2010 |

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A Casa na árvore Susana Neves

E do céu caem maçãs A má reputação das macieiras nunca conseguiu envenenar a Branca de Neve.

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escascar uma maçã sem rasgar a pele exige alguma perícia mas no século XIX permitia descobrir o nome do futuro marido. O procedimento era simples: bastava atirar a casca para o chão e a sua forma serpentina desenharia a letra inicial do nome do apaixonado. Esta virtude divinatória e oracular, atribuída à casca de maçã, poderá parecer ingénua mas constitui uma valorização ancestral da macieira (“Malus Domestica”) enquanto “Árvore do Conhecimento”, não a que expulsa Adão e Eva do Paraíso, mas a que protegendo o casal, contribui para a perpetuidade da espécie humana. «A maçã, com as suas sementes dispostas em forma de estrela, correspondia à forma pitagórica do pentágono que unia os contrários: o princípio masculino e o princípio

feminino», explica Andrée Corvol (“L`Arbre en Occident”, Fayard, 2009). E conclui: «O primeiro princípio era simbolizado pelo número três indivisível; o segundo, pelo número dois que se divide. A maçã constituía uma parábola do mundo, do homem e da mulher». Assim o entendia o médico grego Claude Galien, um dos fundadores da medicina e da farmácia, no século III A.C., época em que esta “Rosaceae” era umas das árvores mais estimadas na Europa. Ao invés de ser “o fruto proibido”, uma perversa invenção medieval, a maçã doméstica, oriunda do Cáucaso, região que engloba a Europa Oriental e Ásia Ocidental, era a “star” das frutas (no Cáucaso, uma só palavra designa simultaneamente maçã e estrela), pela qual se chamavam todos os frutos (“Malum”) de consistência mole e húmida. Fruto solar, redondo, perfeito, as suas virtudes tonificantes, constituintes e sedativas é que teriam permitido ao Rei Artur (na mística Ilha de Avalon, ou Ilha das Macieiras) repousar das guerras e renascer para o combate. Lembremos o ditado inglês, onde se evoca o coFotos: Susana Neves

Macieiras em flor

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nhecimento das propriedades curativas da maçã: «Uma maçã por dia mantém o médico longe». De onde vem então a sua má reputação de “fruto proibido”, se nem sequer o texto bíblico menciona o nome da macieira? O motivo é primeiro de ordem linguística, maçã em latim diz-se “malum”, a mesma palavra para designar mal; mas esta coincidência vocabular terá também favorecido o propósito de obscurecer os mitos pagãos, sobretudo celtas e germânicos, que entre as árvores de culto consagravam à macieira um lugar primordial associado à imortalidade. O fruto da macieira, cuja resistência ao longo do Inverno alimentou gerações de camponeses, dando-lhes saúde, simpatia, boas cores e algumas bebedeiras (tudo dependia da graduação da sidra ou do “calvados”, bebida alcoólica produzida na Baixa Normandia), ainda no início do XIX era a fruta da bruxa madrasta, vermelha e venenosa. Contudo, é verdade que na história contada pelos irmãos Grimm, a bela Branca de Neve não morre por comer o “fruto proibido”, pelo contrário, repousa, sem acusar envelhecimento nem dor, belíssima se mantém até ser encontrada pelo príncipe que a há-de desposar. E belíssimas ficavam todas as mulheres que desde o século XVI, no Renascimento italiano, usavam um creme à base de polpa de maçã d`Api (uma variedade inventada pelo político romano Appius Claudius). Chamavam a este unguento “pomata”, origem da palavra “pomada” e da expressão francesa “passer de la pommade à quelqu`un”, quer dizer, “dar graxa”! Curiosamente, entre nós, as macieiras e os pomares foram cultivados sobretudo pelos monges cistercienses no Douro e em Alcobaça. Eles que reviam a sua afectividade nas virtudes do olmo («crescente, ridente e frágil»), apreciavam as fruteiras e pela vastidão das suas propriedades podiam cultivá-las e rentabilizá-las tal como o faziam com as vinhas. A extinção das ordens religiosas em Portugal, em 1834, contribuiu para o desaparecimento destes pomares mais antigos, voltando-se apenas no final dos anos 50 princípio dos anos 60, com o II Plano de Fomento Agrícola, a incrementar a sua plantação.

Até hoje, a maçã de Alcobaça distingue-se no quadro da produção nacional. No Douro Sul, em particular, em Armamar, considerada a “capital das maçãs de montanha”, desde 1989-1999, temse assistido a um incremento da sua produção atingindo-se actualmente cerca de 40 mil toneladas por ano. O que significa que na Primavera, as altas terras do Douro parecem um mar de flores e no Outono com as primeiras colheitas até as estradas estão cheias de fruta caída. Numa das nações do Cáucaso, na antiquíssima Arménia, quando o narrador acaba uma história, acrescenta: ... e do céu caíram três maçãs, uma para quem a contou, outra para quem a pediu e a terceira para quem a ouviu. Será que o leitor já comeu a sua? n

Fruto, flor e folha da macieira

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64 CONSUMO Seria bom, no futuro, apostar na formação dos consumidores na área financeira. Uma lição a tirar dos trágicos endividamentos dos últimos 20 anos Pág. 56 l À MESA A caça, que tem aromas e sabores exóticos de grande requinte, só ganha se for preparada com bom senso e bom gosto. Pág. 58 lLIVRO ABERTO Em foco, “O Paradoxo do Amor”, de Pascal Bruckner, uma reflexão profunda sobre o acto de amar na civilização occidental. Pág. 60 l ARTES Os 15 desenhos inéditos de Malangatana, expostos até 9 de Janeiro na Casa da Cerca, em Almada, marcam o começo da temporada cultural. Pág. 62 l MÚSICAS Camané e o seu novo CD, “Do Amor e dos Dias”, é acontecimento para a música portuguesa em geral e para o fado em particular. Pág. 64 l NO PALCO Para um público infanto-juvenil, o Trindade apresenta, até Dezembro, “As aventuras de João Sem Medo”, de José Gomes Ferreira, com encenação de João Mota. Pág. 66 l CINEMA EM CASA De duas criativas e renascidas escolas de cinema europeu, a francesa e a italiana. A não perder: “As Ervas Daninhas”, de Resnais, e “Eu Sou o Amor”, de Luca Guadagnino. Pág. 68 l GRANDE ECRÃ “A Rede Social”, de David Fincher, é o acontecimento maior da rentrée nos ecrãs de todo o mundo: a ficção em redor do nascimento do facebook e dos seus criadores. Pág. 69 l TEMPO INFORMÁTICO Os ecrãs Touch Screen invadem o mercado numa série de dispositivos informáticos, desde monitores de PC aos mais sofisticados telemóveis. Pág. 70 l AO VOLANTE Dotado de uma vasta série de equipamentos e sistemas inovadores, o novo Opel Meriva atinge o expoente máximo do design ergonómico. Pág. 71 lSAÚDE A síndrome de Diógenes é uma perturbação do comportamento, com características obsessivo-complusivas que afecta principalmente os homens... Pág. 72 lPALAVRAS DA LEI Uma abordagem à Lei n.º 39/2009, que estipula o regime jurídico de combate à violência, ao racismo à xenofobia e à intolerância nos espectáculos desportivos. Pág. 73 l

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Boavida|Consumo

Onde está o dinheiro? Os consumidores andam confusos e desconfiados em relação ao mercado financeiro. Depois de terem sido incitados, durante mais de duas décadas, a endividarem-se, são agora acusados de se terem endividado irresponsavelmente e incitados a poupar. Seria bom, no futuro, apostar na formação dos consumidores na área financeira.

Carlos Barbosa de Oliveira

publicidade dos bancos e instituições financeiras demonstra à saciedade que a sua relação com os consumidores se alterou radicalmente nos últimos anos. Há apenas dois ou três anos, os bancos convidavam os consumidores ao endividamento e guerreavam-se na oferta do melhor crédito, acenando com juros baixos e spreads de 0 por cento. Hoje em dia, os bancos aumentaram substancialmente os juros dos empréstimos e dificultam o acesso ao crédito. A publicidade procura agora cativar as poupanças dos consumidores, travando-se a guerra entre os bancos na oferta dos juros mais atraentes dos depósitos a prazo. As falências de alguns bancos com boa reputação internacional - em parte provocadas por riscos mal calculados pelos próprios operadores financeiros, como foi o caso dos Lehmann Brothers nos Estados Unidos, ou da Societé Generale em França - criaram, porém, alguma desconfiança nos consumidores que, na sequência da crise financeira internacional, manifestam receios sobre a forma como devem aplicar as suas poupanças. Acresce que a falta de educação financeira e a deficiente informação que lhes é proporcionada nesta área, aumentam a desconfiança, sendo as notícias dos jornais, por vezes especulativas, um rastilho para minar a confiança dos consumidores. Os economistas são unânimes em afirmar que não há receitas cem por cento seguras que permitam orientar os consumidores para a canalização das suas poupanças em determinado sentido. Convém, a propósito, lembrar as recentes recomendações da DECO, na sequência de algum alarmismo sobre a eventual falência de alguns bancos portugueses”: “Não há razão para alarme. Não podemos entrar em pânico cada vez que há boatos sobre a falência de um banco”- alertava a associação de consumidores. Os consumidores portugueses responderam de uma forma responsável e, apesar das notícias que indiciavam a falência próxima de um dos principais bancos portugue-

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ses, não correram a levantar os seus depósitos. Com efeito, os bancos continuam a merecer a confiança dos consumidores e os recentes testes de stress feitos aos bancos europeus, onde alguns dos bancos portugueses obtiveram boas classificações, parecem demonstrar que essa confiança é merecida. O importante é não se deixar iludir, apenas porque determinado banco oferece juros mais elevados aos seus depósitos. Antes de decidir, tenha em consideração a credibilidade do banco e procure informar-se sobre o rating atribuído pelas agências internacionais ao banco onde pretende fazer os seus depósitos. Pode fazê-lo ao balcão ou no site do banco. O mesmo se aplica, obviamente, se a sua opção for para a subscrição de um produto financeiro. OS BANCOS SÃO SEGUROS?

No caso de um banco falir, os consumidores que sejam titulares de contas nessa instituição poderão accionar o Fundo de Garantia dos Depósitos (FGD). Trata-se de um Fundo constituído pelas contribuições periódicas a que todos os bancos e instituições de crédito estão obrigados e ANDRÉ LETRIA


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SABER DISTRIBUIR AS POUPANÇAS

que, no caso de falência de um banco, permite o reembolso dos depósitos até ao montante máximo de 100 mil euros. Mesmo que as reservas deste Fundo de Garantia não sejam suficientes, o Banco de Portugal disponibilizará as verbas necessárias para ressarcir os consumidores. Isso só ocorrerá, no entanto, depois de ser decretada a falência e de os consumidores apresentarem a sua reclamação junto do FGD. Uma vez accionado o FGD, o consumidor será reembolsado no prazo máximo de sete dias, nos montantes até 10 mil euros, sendo o pagamento da quantia remanescente efectuado no prazo de 20 dias úteis. CUIDADOS E CALDOS DE GALINHA…

…nunca fizeram mal a ninguém. Aconselhamo-lo, por isso, a prestar alguma atenção no momento de fazer um depósito a prazo. A vasta gama de produtos financeiros com taxas de juro atraentes (muito superiores aos dos depósitos a prazo) oferecidos pelos bancos, aliados a alguma habilidade das instituições para aproveitar o analfabetismo funcional dos consumidores portugueses em matéria financeira, levaram muitos incautos a fazer aplicações em produtos financeiros, quando pensavam estar a fazer simples depósitos a prazo. No caso do BPP, essa “distracção” foi fatal para muitos consumidores pois, ao contrário do que acontece com os depósitos, as aplicações em produtos financeiros (que sempre envolvem alguma percentagem de risco) não estão cobertas pelo FGD, pelo que os consumidores que tinham feito essas aplicações não foram ressarcidos. Fundamental para evitar confusões é que os consumidores saibam o seguinte: se no banco – ou qualquer outra instituição financeira - lhe pedirem para assinar algum contrato, provavelmente não está a fazer um depósito…

Sabemos, desde tenra idade, que não se devem colocar todos os ovos no mesmo cesto. Ora essa é uma das regras básicas para qualquer aforrador, pelo que é importante diversificar as poupanças, para além dos depósitos bancários. Essa possibilidade aumenta proporcionalmente ao montante das poupanças mas, mesmo para um pequeno aforrador, há diversas possibilidades interessantes. Durante muitos anos, os Certificados de Aforro foram um dos mais populares produtos de poupanças junto dos portugueses. Com as alterações efectuadas em Janeiro de 2008, o rendimento dos CA deixou de ser aliciante e muitos consumidores optaram por investimentos mais rentáveis. Outros títulos de dívida pública vieram entretanto oferecer remunerações atraentes, como é o caso dos Certificados do Tesouro. Sobre estes títulos e outras formas de aforro, darei informação aos leitores no próximo mês. n


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Boavida|À Mesa

Caça boa é no prato A caça tem a idade do Homem. Começou por ser um exercício de sobrevivência, foi academia de preparação dos homens para a guerra, actualmente o seu prestígio está ligado ao facto de serem as peças de caça petiscos muito prezados caso o seu tratamento culinário seja competente.

David Lopes Ramos

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guam-se as papilas – é claro que há sempre alguém que não aprecia – quando falamos de lebres, perdizes, galinholas, tordos, rolas, codornizes, patos bravos e, até, de javalis ou de

veados. É costume distinguir-se duas categorias quando se fala de caça: a de pêlo e a de pena. A carne de caça é tida em alta consideração pelos gastrónomos, devido ao seu aroma e sabor acentuados, únicos e outonais, quer dizer, a bosque. O erudito e grande gastrónomo galego Álvaro Cunqueiro chamou à perdiz do monte, não à de aviário, infelizmente cada vez mais comum, “pedaço de Outono”. O nosso Aquilino Ribeiro, num belo texto, “A arte da caça”, incluído no volume I de “A caça em Portugal” (Ed.Estampa, Lisboa, 1988), em defesa da actividade venatória, defende que tanto têm razão os que a consideram “divina” como “bárbara”, dependendo “do ângulo em que se coloca o observador”. Para ele, no entanto, não há dúvidas: a caça é “divina”. Argumenta o autor de “Andam faunos pelos bosques”: “Nós, que somos no terreno da competição pelo tiro aos pratos contra o tiro aos pombos de gaiola, pela batida às perdizes “pedibus calcantibus” em vez de ir o “fogueteiro” ocupar uma porta nas coutadas, mantidas na roda do ano sob a égide da G. R., pela caça da lebre procurada pelas devesas e encostas soalheiras em vez de perseguida a cavalo – de corricão lhe chamavam os antigos – e com galgos que só comem e bebem e são bonitos para tal fim, diremos, dentro da lei da relatividade das coisas, que será isso e mais uma coisa: humana”. Já não faz sentido, nos nossos dias, falar de “perdiz só com o dedo no nariz”, dito evocativo dos tempos em que esta ave só era cozinhada após atingir uma fase adiantada de decomposição. Ainda assim, a caça nunca deverá ser comida no dia em que é capturada. Pois se até esta regra deverá ser respeitada no caso de animais domésticos e de certos peixes, muito mais ela se justifica com a caça, devido à forma como é abatida. Quando se sente perseguida, qualquer peça de caça sente medo e, em pleno esforço, quando tenta escapar, o seu organismo segrega acido láctico em excesso para alimentar 58

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os músculos, que “pagam” em ácido úrico, cujo aroma azotado se espalha pela carne. Daí a necessidade de algum tempo de repouso que se deve dar à caça de pêlo, como a lebre, o coelho, o javali ou o veado, embora a carne das aves também beneficie com tal tratamento. Só as codornizes, as rolas e os tordos não perderão grande coisa se não tiverem algum tempo de mortificação. As marinadas, de vinho, certos destilados (aguardente velha, “armagnac” e “cognac”), ervas aromáticas e especiarias são muito aconselháveis para libertar as peças de caça de cheiros mais inconvenientes e amaciar a textura da carne. Mas as peças de caça mais novas, por exemplo uma

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O arroz de perdizes de Fialho d’Almeida Fialho d’Almeida, autor de “Os Gatos”, onde publicou um célebre texto sobre “o prato nacional” e o seu significado, era um “gourmet” e um talentoso cozinheiro amador, segundo testemunhos insuspeitos de contemporâneos seus. Uma das suas receitas mais conhecidas é a do arroz

perdiz sem esporões e de bico tenro, não precisam de marinadas. Basta-lhes umas pedrinhas de sal marinho, umas brasas lentas e teremos um belo petisco à nossa mercê. A caça, que tem aromas e sabores exóticos, em certos casos, lembremo-nos da galinhola, de grande requinte, só ganha, a exemplo do que sucede com todos os outros alimentos, se for preparada com bom senso e bom gosto. Lembremo-nos que, na Idade Média e na Renascença, eram atribuídas grandes virtudes medicinais ao sangue de lebre, o qual, sabemos nós, é apenas bom, misturado com vinagre de vinho, para finalizar um “civet” francês ou um arroz português... n

de perdizes, inicialmente publicada na revista “Ilustração Portuguesa”, em 1905. Ei-la, como a transcreve, respeitando a grafia original, Albino Forjaz de Sampaio no seu livro “VOLÚPIA – a nona arte: a gastronomia”, de 1940: “Primeira operação – Ferver duas perdizes bem limpas, em agua, com algumas tiras de presunto e linguiça magra, fresca podendo ser, e não rançosa. A trecho de meia cosedura, tirar para um prato as perdizes, e acessorios, ficando na panella o caldo posto em sossego, como nos ‘Luziadas’ a linda Ignez. “Segunda operação – Em caçarola lavada, pôr a refogar aparte, e a fogo brando, em tres colheres de manteiga de vacca, tres dentes de alho, pimenta, salsa picada, cravo da India e, loiro – o loiro em muito exígua quantidade. Quando a manteiga tiver já feito estes temperos, sem lhes consumir porém o perfume, juntar tomates bastantes (uns cinco ou seis, dos grandes, cortados em bocados, e completamente limpos da buchada interior), e duas ou tres cebolinhas de Lisboa, descascadas, bem limpas, e aos bocados. Refogar tudo, até ficar n’um todo uniforme, e em termos que no paladar predomine um ligeiro queimor de pimenta. Ao refogado juntareis então uma massa picada feita com os bocados de presunto e linguiça da primeira operação, e bem assim os meúdos das perdizes, ou quaisquer outras de aves e caça que se possam obter das outras ôlhas do jantar. Nova fervura, e incorporar aos poucos, dois decilitros de vinho tinto velho, e até generoso, quem quiser, e todo o caldo da fervura da chamada primeira operação.” “Apura-se tudo isto a fogo brando, sem deixar de ir provando sempre, até que o paladar do cozinheiro confirme e reconheça a permanencia e bôa altura dos aromas e mais riquezas sapidas do môlho. “Por fim, junta-se no môlho arroz em quantidade, que se vai cozendo a fogo lento, mexendo constantemente, por que se não tóste e pégue ao fundo da caçarola. Quando está prompto, ajuntem as perdizes, cortadas em bocados certos e bonitos, e que se farão embeber completamente dos perfumes do guisado, metendo por fim a caçarola no forno do fogão, com ramos de salsa por cima, para tostar e aloirar a crósta do arroz, que deve servir-se quente e a pouco trecho de tirado”.

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Boavida|Livro Aberto

Do amor intemporal à arte de ensinar Pascal Bruckner é um dos mais interessantes pensadores franceses contemporâneos, com obras de referência como “O Complexo de Culpa do Ocidente”, “A Tentação do Ocidentes” ou “A Euforia Perpétua”.

José Jorge Letria

Paradoxo do Amor” (Publicações Europa -América) é o seu mais recente título publicado em Portugal, constituindo uma reflexão profunda sobre o acto de amar na civilização a que pertencemos, equacionando fenómenos como o casamento e as várias manifestações de erotismo. O livro de Bruckner demonstra que apesar das mudanças operadas no nosso modo de viver em sociedade, o essencial da relação amorosa continua a envolver o mesmo mistério, a mesma tensão e a mesma magia de sempre. É sabido que a evolução das dinâmicas sociais transforma também os paradigmas de relacionamento entre o homem e a mulher. No entanto, o autor deste livro defende que embora esse relacionamento se altere, o essencial da relação amorosa permanece inalterável, porque faz parte do que é imutável no ser humano ao longo dos tempos. Quem gosta de livros que envolvem o tema da espionagem num quadro bem definido de enredo histórico,

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terá em “O Oficial Polaco” (D. Quixote), de Alan Furst, uma leitura gratificante, já que se trata de uma narrativa cuja acção decorre durante a ocupação alemã da Polónia, na Segunda Guerra Mundial. O autor nasceu em Nova Iorque e viveu em Paris. A publicação deste livro foi saudada pela crítica internacional, que destacou o ritmo da narrativa, o seu carácter engenhoso e o perfeito domínio das técnicas que por vezes tornam a ficção irresistível. Um merecido destaque. Autora de “Enterrem-me de Pé”, Isabel Fonseca, que é mulher do grande escritor inglês Martin Amis, está de novo ao alcance dos leitores portugueses com “Attachement (em anexo)” (Teorema), onde deixa uma vez mais evidentes as suas qualidades como ficcionista de talento. Tudo começa com a leitura de um texto anexo num e-mail que revela aspectos inesperados de uma relação e da própria realidade. O resto, só lendo. Da mesma editora é “Onde Três Estradas se Encontram”, de Salley Vickers, livro que narra de forma admirável os derradeiros tempos de vida de Sigmund Freud, exilado em Londres em 1938 e já impedido de falar devido ao cancro que lhe atingiu, durante anos, o maxilar. Uma narrativa pujante que se lê com emoção e prazer.


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Por seu turno, a Teorema acaba de reeditar dois dos principais títulos do norte-americano Bret Easton Ellis ”Menos que Zero” e “As Regras da Atracção” -, escritorícone da geração que atingiu a maturidade e alcançou o poder na década de oitenta do século XX e que também foi a geração dos “yuppies”, do hedonismo e do descomprometimento político. Vale a pena relê-lo à luz dos conceitos e das inquietações de hoje, cerca de três décadas depois, e perceber até que ponto a dinâmica da moda não construiu um êxito que ultrapassou em larga medida a importância do autor como ficcionista. Do português João Morgado é “Diário dos Infiéis” (Oficina do Livro), um romance engenhosamente construído onde se cruzam homens e mulheres, destinos e inquietações, sempre com a solidão em fundo e a angústia por aquilo que fica por dizer. O prefácio deste romance de estreia é de Manuel da Silva Ramos. “A Arte de Ensinar” (Academia do Livro), de Alan Haigh, é um livro de ideias claras e bem estruturadas sobre o papel da pedagogia no mundo de hoje e surge no

momento certo, pois começou recentemente a época escolar. O autor é um conhecido pedagogo do Reino Unido. Das muitas ideias por ele defendidas neste livro, destaco uma que me parece ser central e estruturante em qualquer processo educativo, seja qual for o país: que ensina, deve ensinar o aluno a pensar. Se tal não acontecer, continuarão a criar-se meras máquinas de debitar conhecimentos de forma mecânica e acrítica. “BRINCAR COM AS COISAS SÉRIAS” (Oficina do Livro), de

Margarida Fonseca Santos e Rita Vilela, é uma colectânea de contos que constitui também uma reflexão sobre o jogo de efabulação que os próprios contos encerram, tendo como propósito assumido levar os leitores a conhecerem melhor o que são enquanto seres humanos e a sentirem-se como elementos activos no acto de criar ficções. Uma experiência interessante que vai para além do labor de escrever contos, convertendo-se num modo de colocar estas narrativas breves ao serviço de um melhor conhecimento humano. n


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Boavida|Artes

Moçambique em Almada São 15 desenhos inéditos de Malangatana e uma retrospectiva do arquitecto José Forjaz, amigo de longa data do afamado pintor moçambicano, que podem ser vistos até 9 de Janeiro próximo na Casa da Cerca em Almada, numa exposição que é um dos grandes eventos deste começo de temporada cultural.

Rodrigues Vaz

om esta mostra, intitulada Novos Sonhos a Preto e Branco, que integra ainda seis pinturas sobre pedra mármore, parte de um conjunto mais vasto, apenas mostrado duas vezes em Moçambique, Malangatana regressa a uma relação directa com o homem, convocando para as suas telas fábulas, histórias, rituais, contos tradicionais ou mesmo uma ambiência de religiosidade, que traduzem, como acentua Ana Maria Ribeiro, “o seu apurado sentido de observação quer das suas origens culturais quer da situação colonial, estando assim subjacente um sentido de crítica política e social”. Embora no seu conjunto de desenhos apresentados nesta exposição a cor esteja ausente, estes filiam-se numa temática já abordada pelo pintor, prosseguindo a genealogia do seu léxico artístico e visual, herdeiros inequívocos do seu modo de fazer. São “traços lânguidos, de diferentes espessuras e intensidade, (que) dão corpo aos corpos e às figuras que se adensam e se preenchem, quase sempre na totalidade, a folha onde se inscrevem” - salienta ainda a coordenadora da Casa da Cerca.

C

… E ARTE ANGOLANA NA GALERIA NOVO SÉCULO

Por seu turno, em Lisboa, a Galeria Novo Século mostra as últimas obras do artista angolano António Alonso, a maior parte das quais integraram uma recente exposição do autor realizada na Gallery M, em Nova York. Intitulada Extra in Harlem, esta nova série assume frontalmente uma força construída à base de cores explosivas e formas e ritmos falsamente naíves, que enformam uma proposta cujo objectivo se radica num processo criativo fundamentado no quotidiano africano, com as suas 62

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Obras de Malangatana e António Alonso


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tradições e a sua ambiência e clima, portadores de sugestões e promessas muito peculiares. Baseando-se involuntariamente nos chamados panos do Congo, universalizados em África pelos holandeses desde os fins do século XIX, António Alonso recria um universo muito próprio, a que será preciso estar atento como possível proposta para a renovação desta indústria. TEREZA TRIGALHOS EM LAGOA E NA CNAP

Entretanto, a cada vez mais activa artista plástica Tereza Trigalhos, ao mesmo tempo que apresenta os seus últimos trabalhos (até 14 de Novembro) no Convento de São José, mostra parte da sua última série Ilha dos Imortais, na Galeria da CNAP-Clube Nacional de Artes Plásticas, em Lisboa. Trata-se, no seguimento do seu percurso, de imagens de forte impacto visual, formas recorrentes, a alimentar um desejo de comunicações construtivas/destrutivas, que, parecendo figurativas, mas ultrapassando com mestria essa fronteira, transportam em si a enorme força que só é possível quando o que está em causa é a pintura na verdadeira acepção da palavra e á qual Tereza Trigalhos tão sabiamente se dedica. A sua arte impõe-se pela franqueza e pela vontade interior, conseguindo um conjunto estético, cultural e histórico impressionante, pela qualidade, oportunidade e volume, exprimindo com eficácia não só as inquietudes, mas também a criatividade nos universos líricos, trágicos ou dramáticos que constrói. n


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Boavida|Músicas

“Do Amor e dos Dias” de Camané Camané acaba de nos brindar com um novo CD: “Do Amor e dos Dias”. Um acontecimento para a música portuguesa em geral e para o fado em particular.

Vítor Ribeiro

ara nos cantar “Do Amor e dos Dias”, Camané escolheu 18 textos e músicas de alguns dos mais destacados autores nacionais, de entre os quais salientamos David Mourão Ferreira, Alexandre O`Neil, Cesário Verde, Marceneiro, Frederico de Brito, Fausto Bordalo Dias, Sérgio Godinho, Manuela de Freitas… Àqueles, junte-se José Mário Branco, compositor e intérprete de excepção responsável pela produção, direcção musical e arranjos de “Do Amor e dos Dias”. Por uma questão de justiça e de direito próprio, enunciem-se ainda os nomes de José Manuel Neto (guitarra portuguesa), Carlos Manuel Proença (viola) e Carlos Bica (contrabaixo). Há muito que Camané atingiu a maioridade no mundo do fado. Habituado, desde sempre e por opção própria, a trabalhar em elevados patamares de exigência, Camané é hoje, com toda a legitimidade, portador da herança legada por Marceneiro, Carlos Ramos, Manuel de Almeida, Carlos do Carmo… Sem exageros nem receios, digamos que estamos perante um trabalho soberbo, que nos enche de orgulho, sentimento difícil de experimentar no momento de descrença colectiva que nos atormenta. Os melómanos interessados ficam ainda a saber que “Do Amor e dos Dias” está disponível numa edição especial limitada (CD+DVD com gravação vídeo ao vivo de temas do álbum), numa edição standard (CD), numa edição em vinil (duplo vinil+CD) e em edição digital.

P

co com o duplo-CD “In And Out of Consciousness – The Greatest Hits 1990-2010”. Apresentada como se tratando de uma “viagem com Robbie Williams”, a colectânea integra 39 temas e celebra 20 anos de carreira do cantor. As duas primeiras canções do álbum foram criadas em dueto com Gary Barlow, dos Take That, grupo que Williams abandonou em 1995. A “viagem” percorre, depois, os restantes oito álbuns de estúdio gravados por Robbie Wiiliams, desde “Life Thru a Lens” (1997), até “Reallity Killed the Video Star” (2009). No “cais de chegada” espera-nos, no entanto, o tema “Everything Changes”, dos Take That, de 1994. Boa “viagem”, então, para os apreciadores. VAMPIRE WEEKEND E SHAKIRA

Os Vampire Weekend actuam no Campo Pequeno, em Lisboa, e no Coliseu do Porto, nos dias 10 e 11 de Novembro, respectivamente. Em ambos os casos a partir das 21h00.

OS MAIORES ÊXITOS DE ROBBIE WILLIAMS

Por sua vez, Shakira efectua um único espectáculo no Pavilhão

Robbie Williams acaba de regressar ao mercado discográfi-

Atlântico, em Lisboa, dia 21de Novembro, pelas 21h00.

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Boavida|No Palco

‘1974’: Uma História de Portugal Na Sala Garrett, até 19 de Dezembro, é apresentada a História de Portugal em três das suas mais importantes fases, na peça intitulada simplesmente “1974”.

Registo de vídeo / documentário: Patrícia Poção; Música original: José Mário Branco; Interpretação: Carla Galvão, Claúdia Andrade, David Pereira Bastos, Emanuel Arada, Filipe Costa, Inês Lua, Inês Mariana Moitas, Miguel Damião, João Melo, Rui M. Silva e Susana Madeira. Coprodução: TNDM II e Teatro Meridional “JOÃO SEM MEDO” NO TRINDADE

odas as revoluções pelas quais Portugal passou ao longo dos últimos 40 anos resultaram na transformação do país enquanto nação ibérica, europeia e, finalmente numa nação à escala mais global. Esta peça, encenada por Miguel Seabra servirá para definir talvez, até que ponto, para o bem e para o mal, essas transfigurações mudaram a face da nossa terra, das nossas suas gentes, do nosso pensamento e, de que forma, encaramos agora as nossas vidas. “1974” tem como objecto temático a identidade portuguesa a partir do discurso narrativo de três importantes períodos da História de Portugal do último século: a Ditadura, a Revolução de Abril e a entrada de Portugal na Comunidade Europeia. Inscrito na lógica de construção cénica e artística dos espectáculos do Teatro Meridional, “Para Além do Tejo” (2004) e “Por Detrás dos Montes” (2006), o espectáculo “1974” alia à linguagem cénica, essencialmente não verbal, construída através da fisicalidade do actor, a linguagem musical, com criação de José Mário Branco.

Dedicado exclusivamente a um público infanto-juvenil, vindo, mais concretamente das escolas básicas, a peça “As aventuras de João Sem Medo”, de José Gomes Ferreira, é agora apresentado no Teatro da Trindade, até Dezembro, com encenação de João Mota. Habituamo-nos a ouvir histórias encantadas desde muito novos, de príncipes e princesas, monstros que acabam por desaparecer e finais felizes “para sempre”. Contudo sabemos que a realidade é, muitas vezes, diferente desses contos infantis, que ajudavam as crianças mais teimosas a dormir. José Gomes Ferreira, um dos vultos mais importantes da nossa literatura, publicou, em 1963, “As aventuras de João Sem Medo”, talvez a sua forma mais “indirecta” de chamar a atenção ao que acontecia durante a Ditadura nacional: “…à partida, quem seguisse o caminho da felicidade completa tinha de se sujeitar a que lhe cortassem a cabeça para não pensar.” Esta frase seria o mote para toda a trama que conta a história de João Sem Medo, um jovem que ao contrário do que acontecia a todos os outros homens e mulheres da sua terra, aventurou-se na Floresta Branca, saltando o Muro que a separava do quotidiano “normal”, enfrentando todas as aventuras, situações e problemas que a partir daí se adivinham.

FICHA TÉCNICA: Criação: Teatro Meridional; Encenação:

FICHA TÉCNICA: Autor: José Gomes Ferreira; Encenador e

Miguel Seabra; Assistência artística: Jean Paul Bucchieri;

cenógrafo: João Mota; Interpretação: Marco Paiva, Mia Farr,

Dramaturgia: Francisco Luís Parreira; Espaço cénico e

Miguel Sermão, Rui Neto, Tânia Alve sCo-Produção: Fundação

figurinos: Marta Carreiras; Desenho de luz: Miguel Seabra;

INATEL | Teatro da Trindade | Comuna -Teatro de Pesquisa

Maria Mesquita

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Boavida|Cinema em Casa

Qualidade europeia Quatro excelentes filmes de duas das mais criativas e renascidas 'escolas' europeias de cinema. Com assinatura francesa temos o insólito "As Ervas Daninhas", de Alain Resnais, o dramático "Um Profeta", de Jacques Audiard, e o belíssimo "Os Juncos Silvestres", de André Téchiné. Do novo cinema italiano, seleccionamos "Eu Sou o Amor", de Luca Guadagnino. Sérgio Alves

AS ERVAS DANINHAS

UM PROFETA

OS JUNCOS SILVESTRES

EU SOU O AMOR

Uma premissa simples está

O jovem Malik, francês de

Estamos em 1962. O Tratado

Na propriedade dos Recchi,

na base deste filme: uma

origem magrebina, cumpre

de Evian confirma a inde-

uma família milanesa abasta-

carteira perdida. Georges

pena de prisão pela primeira

pendência da Argélia.

da, Emma vive dias

encontra-a e procura entregá-

vez, depois de ter passado

Henri, um pied-noir

monótonos, aprisionada no

la à polícia mas a tarefa não é

grande parte da sua juven-

(francês nascido na Argélia)

casamento e no sentido do

fácil. Marguerite fica, igual-

tude em centros de detenção

chega ao liceu numa vila do

dever. Com a chegada da

mente, curiosa

juvenil. Apanhado no meio

sudoeste de França. É um

Primavera, conhece António,

em descobrir

de uma guerra entre corsos e

revoltado e considera os france-

Chef de cozinha e melhor

aquele que a

árabes, Malik não tem amigos

ses traidores. Maite, François e

amigo do seu filho Edo. Do

encontrou. De

nem inimigos dentro da

Serge são os seus novos amigos

encontro de ambos vai nascer

um quotidiano

cadeia e apenas quer cumprir

e os tempos vão ser agitados

uma paixão intensa que leva

tranquilo a uma

a pena e sair. Mas o líder dos

entre discussões sobre a guerra

Emma a reencontrar-se com a

agitação permanente, as suas

corsos vai atraí-lo para as

na Argélia, amores, amizades e

vida. Escrito e realizado pelo

vidas nunca mais serão as

suas operações...

o fim do liceu.

jovem realizador, Luca

Filmado com o rigor e

Retrato da

Guadagnino, este melodrama

intensidade adequadas, esta

juventude france-

familiar tem um ritmo e uma

anos, o autor de "Hiroshima

crua viagem ao interior de

sa do início dos

forma que escapam aos

Meu Amor" (1959),

uma prisão recebeu dezenas

anos 60, "Os

padrões actuais. A escolha da

mesmas. Quase a completar 90

Juncos Silvestres"

"Fumar/Não Fumar" (1993) e

de prémios em

britânica Tilda

"Corações" (2006) mantém,

2009, incluin-

(1994) coloca em confronto

Swinton - que

neste regresso com "As Ervas

do o grande

visões diferentes da sociedade

teve de aprender

Daninhas" (Prémio especial

prémio do Júri

francesa e da questão argelina.

italiano e russo -

do Júri de Cannes), a inspi-

de Cannes, e

Com este pano de fundo,

como protago-

ração e reconhecida maestria

consagrou o

André Téchiné, o realizador,

nista, trouxe visi-

narrativa, bem acompanhado

jovem Tahar

explora as relações na ado-

bilidade interna-

pela dupla de intérpretes,

Rahim como uma das reve-

lescência com uma sensibili-

cional a este imperdível

André Dussolier e Sabine

lações do ano.

dade notável. Bem acolhido

filme- revelação do cinema

pelo público e crítica e distin-

italiano, reforçado por uma

guido com vários prémios do

belíssima banda sonora.

Azéma. TÍTULO ORIGINAL: TÍTULO ORIGINAL:

Les Herbes

REALIZADOR:

Un Prophète;

Jacques

cinema francês, o filme revelou

Folles; REALIZAÇÃO: Alain

Audiard; COM: Tahar Rahim,

ainda a bonita e talentosa

TÍTULO ORIGINAL:

Resnais; COM: André

Niels Arestrup, Adel

Élodie Bouchez.

l'amore; REALIZAÇÃO: Luca

Dussolier, Sabine Azéma,

Bencherif, Hichem Yacoubi;

Emmanuelle Devos, Mathieu

França/Itália, 150m, Cor,

TÍTULO ORIGINAL:

Amalric; França/Itália, 104m,

2009; EDIÇÃO: Atalanta Filmes

Sauvages; REALIZAÇÃO: André

Edoardo Gabbriellini, Alba

Cor, 2009; EDIÇÃO: Atalanta

Téchiné; COM: Élodie

Rohrwacher; Itália, 120m, cor,

Filmes

Bouchez, Gael Morel,

2009; EDIÇÃO: Prísvideo

Guadagnino; COM: Tilda Les Roseaux

Stéphane Rideau, Frédéric Gorny; França, 110m, cor, 1994; EDIÇÃO: Midas Filmes 68

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Io sono

Swinton, Flavio Parenti,


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Boavida|Grande Ecrã

Jogo e Poder “A Rede Social” é o acontecimento maior da rentrée nos ecrãs de todo o mundo: a ficção em redor do nascimento do facebook e dos seus criadores. Em tom de fábula e com uns gramas de thriller a que não falta alguma inspiração em Kurosawa, grande mestre do cinema nipónico e até em modelos shakespereanos.

Joaquim Diabinho

aseado na obra literária de Ben Mezrich,“The Accidental Billionaires:The Founding of Facebook, a Tale of Sex, Money,Genius and Betraya”, o filme descreve as relações de cumplicidade criadora entre Mark Zuckerberg e Eduardo Saverin, dois universitários de Harvard, experts na área da programação de computadores, revelando como foi criado (a partir de uma ideia de Mark, numa noite de outono de 2003) a maior rede social global baptizada “facebook” alegadamente orientada para a partilha e amizade virtual que provocou, como é bem sabido, um efeito revolucionário poderoso na área da comunicação e, já agora, teve (tem) enorme repercussão nas relações sociais e humanas. Qualquer espectador que tenha a visto os filmes de David Fincher sabe de antemão o que à priori lhe está reservado: uma perfeita definição dos personagens e das relações que estabelecem entre si. Em “A Rede Social”, Fincher trabalha a esse nível o mais profundo e fá-lo com equilíbrio e saber mas também com talento e mestria. O lado mais pertinente do filme está justa-

B

mente na constatação de que a fama e o sucesso profissional rápido e apoteótico do jovem estudante comportam riscos e trazem complicações pessoais e de natureza legal relativamente imprevisíveis. No “cast”, destaque-se as prestações de Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Justin Timberlake e Armie Hammer, entre outros. MAS NOVEMBRO traz ainda às salas o ousado e chocante “Inside Job”, documentário de Charles Ferguson sobre o colapso financeiro mundial de há dois anos que custou a milhões de pessoas a perda do emprego e da casa e que soma custos superiores a mais de vinte mil milhões de dólares. Surpreendente e não menos inquietante é o facto do realizador expor, sem tibiezas nem meias-tintas, a verdade sobre as razões que se escondem por detrás da grave depressão económica. E põe a nu as relações perniciosas que corromperam a política, as autoridades responsáveis pela regulamentação e o mundo universitário. Para reflectir e retirar ensinamentos e perspectivas. Uma curiosidade: o actor Matt Damon cumpre com eficácia a função de (bom) de narrador. n NOV 2010 |

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Boavida|Tempo Informático

Toque-me! Exactamente. Este é o convite feito por uma série dos actuais dispositivos informáticos. Há cerca de cinco anos intensificou-se o uso dos ecrãs “touch screen” após o célebre Surface da Microsoft.

ma espécie de mesa cujo tampo era um enorme ecrã onde com o toque ou movimento dos dedos accionávamos ferramentas para desenhar, pintar, dimensionar e até reproduzir objectos colocados sobre ele. Aliás a tecnologia “touch sensor” fora descoberta em 1971 por um Professor da Univ. de Kentucky num dispositivo a que deu o nome de Elographics. Presentemente ecrãs Touch Screen invadem o mercado numa série de dispositivos informáticos, desde monitores de PC aos mais sofisticados telemóveis. Também os modernos GPS como a série NDRIVE Touch abandonaram o estilete e utilizamos apenas um dedo para escolher menus ou escrever a morada do destino. Nos Smartphones está lá tudo na ponta dos dedos. Escolhemos no ecrã o telefone, a Internet, o correio electrónico, o bloco de notas, as fotografias, vídeos ou músicas, tudo enfim que o software nos oferece. Lembremos o entusiasmo do lançamento do

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iPad, os milhões de exemplares vendidos nos Estados Unidos logo nos primeiros dias e ele aí está numa placa com 25 cm de diagonal, mostrando conteúdos na horizontal ou vertical, conforme o nosso gosto, com aplicações profissionais e de entretenimento para deliciar o utilizador. E eis que os fabricantes (Acer, Asus, etc.) nos apresentam computadores que quase dispensam os teclados como os da série “All in one” ou “Tudo em Um” da Packard Bell com monitores touch screen, onde a vulgar caixa ou tower desapareceram. É que acoplado no interior do monitor de 23 ou 21,5 polegadas reside todo o hardware necessário, incluindo um disco de 1 Terabyte, processador da última geração e muita memória para maior velocidade, placa gráfica qb, drive DVD e tudo o mais. Temos assim menos espaço ocupado em cima da secretária e o máximo do touch screen. Esta é a interface mais fácil e cómoda para todos os computadores numa larga gama de aplicações. Permitem-nos navegar tocando apenas em ícones e links que estão no ecrã. Teclados, se forem necessários, até já existem projectados no tampo da secretária. Assim será num futuro próximo. Comodidade e simplicidade. Aceite o convite de com eles trabalhar. Toque-me! n


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Boavida|Ao Volante

Opel Meriva inovador O novo Opel Meriva está dotado de uma vasta série de equipamentos e sistemas inovadores concebidos para optimizar a versatilidade e a facilidade de utilização, tornando-se, com isso, no expoente máximo do design ergonómico.

Carlos Blanco

isponível em Portugal com uma gama de três motores e dois níveis de equipamento, o monovolume da Opel distingue-se de todas as restantes ofertas do mercado graças às portas antagónicas, abrindo, a partir daí, todo um novo mundo em matéria de versatilidade. Quando lançou a primeira geração Meriva, em 2003, a Opel criou um novo segmento de mercado para monovolumes de pequenas dimensões e economicamente acessíveis. Com um versátil sistema de ordenação dos bancos traseiros FlexSpace, bancos de posição elevada e um habitáculo espaçoso, o Meriva liderou assertivamente o segmento durante o seu ciclo de vida, não só nas vendas - vendeu mais de um milhão de unidades -, mas também na qualidade. Em 2007, obteve a menor taxa de ocorrências entre os 113 modelos avaliados pela TUV, o principal organismo alemão de certificação da qualidade. O novo Meriva de segunda geração não descansa sobre os louros, optando antes por se afirmar ousadamente. Desenhado e desenvolvido em Russelsheim, na Alemanha, utiliza a nova linguagem de design da Opel para se tornar num monovolume dinâmico e elegante, com dimensões exteriores reduzidas. Além disso, eleva a versatilidade a bordo a um novo patamar de funcionalidade, ergonomia e simplicidade de utilização. O Meriva destaca-se pelo inovador sistema FlexDoors, com portas de abertura antagónica (portas traseiras de dobradiças posteriores), que facilitam ao máximo o acesso ao habitáculo e constituem um trunfo extremamente importante num automóvel deste género, cujos braços traseiros são normalmente bastantes utilizados. Na temática da versatilidade, além das portas de abertura antagónica, o novo Meriva oferece ainda o engenhoso sistema de suporte para bicicletas FlexFix, integrado atrás do párachoque traseiro, que é extremamente fácil de utilizar e não interfere com o design do automóvel.

D

No habitáculo, as mudanças face à anterior geração são verdadeiramente revolucionárias, com um nível de desenho e qualidade superiores, uma versatilidade inovadora e grande ênfase no bem-estar dos passageiros. O habitáculo dispõe de uma versão aperfeiçoada do sistema de ordenação variável dos bancos traseiros FlexSpace, de maior espaço de arrumação (graças ao Flexrail, um sistema inovador de arrumação adaptável na consola central), e bancos dianteiros com as maiores amplitudes de regulação do segmento e, a título opcional, de bancos dianteiros com ergonomia certificada por especialistas. O conceito global do novo Meriva recebeu o selo da Aktion Gesunder Rucken - associação alemã de médicos e terapeutas de ortopedia - de que as características especiais deste automóvel oferecem condições para garantir a melhor ergonomia. A gama do novo Meriva em Portugal possui dois níveis de equipamento - Enjoy e Cosmo - mas com equipamento de série completo. Vocacionada para uma utilização mais prática e constituindo a opção mais acessível à gama, a versão Enjoy oferece de série ar condicionado, rádio-leitor de CDs/MP3 com comandos no volante, programador de velocidade, computador de bordo, vidros eléctricos, espelhos retrovisores com regulação eléctrica e aquecidos, fecho centralizado de todas as portas com comando à distância e travão de mão eléctrico, entre muitos outros. O novo Opel Meriva está à venda em Portugal a partir de 18.150 euros. n NOV 2010 |

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Boavida|Saúde

A síndrome de Diógenes Sempre que partilho convosco uma história clínica, senão posso dar um rosto a essa história, pelo menos escrevo as iniciais do nome do doente, e isto para defender a sua privacidade. Por detrás dessas histórias estão sempre pessoas reais, que eu conheço e que me consultam.

M. Augusta Drago

medicofamília@clix.pt

oje, ao contrário do habitual, escrevo uma história que me foi contada por uma doente minha sobre a irmã. Acontece que não poderia ser narrada pela irmã, porque esta, como todos os doentes que sofrem da síndrome de Diógenes, não tem consciência da sua doença. A síndrome de Diógenes é uma perturbação do comportamento, com características obsessivo-complusivas e certas particularidades: os doentes com esta perturbação não conseguem separar-se dos mais variados objectos a que as pessoas em geral chamam lixo. Afecta principalmente os homens e, dentro destes, os mais idosos e os que vivem sós. Dá-se o nome de comportamento obsessivo-compulsivo, quando, por exemplo, uma pessoa se levanta amiúde da cama para verificar se a porta da rua ficou bem fechada ou se o gás está desligado. Ou ainda, quando estaciona o carro, volta frequentemente para trás para se certificar de que trancou tudo, e pode tornar a ver se a janelas ficaram fechadas e quando vai entrar em casa, volta de novo ao carro para ter a certeza de que ligou o alarme…Uma pessoa assim pode estar em risco de desenvolver esta perturbação do comportamento, que atinge cerca de 2% de todas as classes sociais. A doente a que refiro é uma senhora de 72 anos, solteira, com formação académica, que teve ao longo da vida vários interesses de natureza intelectual e que, a par disso, foi reunindo em sua casa livros e objectos a seu gosto e, depois, tudo o que lhe parecia que poderia vir a utilizar um dia. Com o tempo, o quarto onde dormia ficou de tal modo atulhado que já não tinham espaço para dormir. A pessoa que sofre desta perturbação não consegue perceber o absurdo da situação e muda-se para outra divisão da casa e, se não se tratar,

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vai repetindo este procedimento Perante a insistência da irmã – a minha doente - para ajudar a remover o lixo, fechou-se sobre si, recusando qualquer ajuda e impedindo a entrada a quem quer que fosse. Dentro da classe médica ainda existem divergências e dúvidas sobre esta perturbação e há quem não a considere uma doença. A Organização Mundial de Saúde classifica o sintoma como coleccionismo, isto é, a incapacidade que algumas pessoas têm de se desfazer de objectos pessoais velhos ou mesmo de lixo. Em alguns doentes, aqueles com uma origem de classe mais humilde, é tentador atribuir este “coleccionismo” às carências sofridas e a um desejo insaciável de bens. Porém, este comportamento é transversal às classes sociais, há pessoas bem colocados socialmente e com carreiras profissionais com sucesso que sofrem desta doença. A doença pode surgir numa pessoa que perde um ente querido. Para manter viva a recordação, começa a partir de então a juntar tudo o que se relaciona com essa pessoa. Noutros casos, o doente rodeia-se de objectos estimáveis para colmatar a solidão. São comportamentos aceitáveis e só serão considerados doença quando excedem o razoável e impedem a pessoa, neste caso o doente, de fazer a sua vida normal. Esta alteração do comportamento também pode atingir um membro de uma família. Nestes casos, o desconforto, o lixo, o mau cheiro, o risco de contrair doenças ou acidentes e até de incêndio aumenta e faz com que as famílias se desagreguem. Estas pessoas precisam de ajuda psiquiátrica. Foi o que aconteceu com a irmã da minha doente. Aceitou ir passar férias no campo. Encontra-se numa casa de repouso, onde é acompanhada por técnicos de saúde e onde faz terapia comportamental. n ANDRÉ LETRIA


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Boavida|Palavras da Lei

Violência no Desporto – Claques ?

Sou membro de uma claque de futebol. Como sempre ouvi falar sobre a legalização das claques e seu envolvimento em actos de violência, gostari de saber se existe alguma lei

em Portugal sobre estes assuntos. Sócio devidamente identificado – Forte da Casa.

Pedro Baptista-Bastos

ortugal foi um País pioneiro em termos de prevenção dos fenómenos de violência no desporto. A nossa Constituição prevê este problema, ao atribuir ao Estado a tarefa de “prevenir a violência no desporto” – art. 79º, n.º 2 da CRP; além disso, esta matéria foi, já no ano de 1980, regulamentada pelo Decreto-Lei n.º 339/80, de 30 de Agosto, norma essa pioneira nesta matéria. Foi, depois, substituída pela Lei n.º 16/81, de 31 de Julho e pela Lei n.º 16/2004, de 11 de Maio. Actualmente, vigora a Lei n.º 39/2009, de 30 de Julho, que estipula o regime jurídico de combate à violência, ao racismo à xenofobia e à intolerância nos espectáculos desportivos, de forma a possibilitar a realização dos mesmos com segurança. Esta Lei teve uma grande preocupação em definir e, principalmente, obrigar aos registos de claques, seus apoios e protocolos, de modo a prevenir a violência nos recintos desportivos. Assim, esta norma define, no seu artigo 3º, al. g) a noção de “Grupo Organizado de Adeptos”, sendo o conjunto de adeptos, filiados ou não numa entidade desportiva, tendo por objecto o apoio a clubes, a associações ou a entidades desportivas. Enquadra-se, nestes termos a ideia de “claque”. Esta noção jurídica é desenvolvida nos seus artigos 14º a 16º da Lei n.º 39/2009, de 30 de Julho. Já no nº 1 do art. 14º se obriga a que haja um registo das “claques” junto do Conselho para a Ética e Segurança no Desporto (CESD) e sua constituição como associação pública, para que o promotor do espectáculo desportivo possa efectuar “facilidades de utilização ou cedência de instalações, apoio técnico, financeiro ou material”. O “apoio técnico, financeiro ou material” tem de ser celebrado através de Protocolo, que contém o registo dos membros da claque – nºs 2 e 3 do art. 14º. A Lei proíbe expressamente quaisquer apoios a grupos que adoptem sinais, símbolos e expressões de carácter racista ou xenófobo, podendo o clube desportivo incorrer em penalizações que podem ir até à realização de eventos

P

desportivos à porta fechada. As sanções são aplicadas pelo Instituto do Desporto em Portugal, I.P., sob proposta do CESD. As “claques” devidamente legalizadas devem possuir um registo dos seus filiados o mais pormenorizado e actual possível, nos termos do art. 15º da Lei n.º 39/2009, de 30 de Julho, sob pena dos elementos responsáveis das “claques” não poderem entrar nos recintos desportivos. Sob este aspecto, saliente-se o n.º 2 do art. 16º da Lei n.º 39/2009, de 30 de Julho, que proíbe ao promotor do espectáculo desportivo ceder às “claques” bilhetes a mais do que o número de filiados da “claque” que constem no registo, devendo, inclusive, “constar em cada bilhete cedido ou vendido o nome de cada titular filiado”. Estes cuidados estão desenvolvidos no art. 26º da Lei n.º 39/2009, de 30 de Julho. No art. 24º da Lei n.º 39/2009, de 30 de Julho prevê-se que os membros de uma “claque” podem utilizar megafones, tambores e “potes de fumo” no interior dos recintos. Finalmente, esta Lei prevê exaustivamente as punições, quer sob a forma de Crime, quer sob a forma de contra-ordenações, ilícitos disciplinares e outras penas, nos seus artigos 27º a 51º desta Lei. Realce-se o crime de participação em rixa, ou o arremesso de objectos ou produto líquido, que podem ser punidos com pena de prisão até 3 anos. n NOV 2010 |

TempoLivre 73


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ClubeTempoLivre > Passatempos 1

Palavras Cruzadas | por José Lattas

Víscera dupla. 3-Aspirar; Alindada. 4-Alento; Livro litúrgico, para a celebração da missa (pl.); Redução popular de senhor. 5-Aconteces; Alívio; Estrôncio (s.q.). 6-Cinzas; Contudo; Pronome pessoal. 7-Acumulam; Couros. 8Comilão; Acabamentos; Descoberta. 9-Coibira; Criminoso. 10-Metal precioso: Antecessores. 11-Mais; Igualdade em farmácia; Álea; Prefixo que se emprega em vez de in; Antiga nota musical. 12-Elemento grego, com ideia de Terra ou solo; Aliciação; Governanta. 13-Adjectivo demonstrativo (fem.); Cola; Mentiras. Verticais: 1-Alces; Grande poeta, natural de Setúbal. 2-

Coerências; Debaixo de; Redução de Leste. 3-Acarreta; Lugar onde se costuma estar; Artigo (pl.). 4-Preposição; Rio de Portugal. 5-Aplicam; Consolidaras. 6- Rei dos Persas; Único; Antiga cidade da Caldeia. 7-Estão em "voga"; Tio americano; Adversa; Abrigo. 8- Volubilidade; Eles. 9-Aqui; Lamentos; Basta!; Artigo (abrev.). 10-Lavrais; Transgride; Articulação. 11-Abalas; Vulcão junto a Nápoles. 12Alistamento; Soada. 13-Arredores; Carta de jogar, com seis pintas; Contracção de preposição e artigo. 14-Alegrias; Expresso para Paris; Certa. 15-Acorrenta; Artéria que nasce no ventrículo esquerdo, do coração (pl.).

3

4

5

6

7

8

9 10 11 12 13 14 15

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 SOLUÇÕES (horizontais): 1-ENTRUDO; CASCARA. 2-LER; SAGRARA; RIM. 3EXALAR; E; AIROSA. 4-VOZ; MISSAIS; SOR. 5-ÉS; C; OÁSIS; R; SR. 6-S; PÓS; MAS; VOS; A. 7-SOMAM; O; PELES. 8-BOI; REMATES; NUA. 9-OBSTARA; ACUSADO. 10-C; OURO; E; AVÓS; R. 11-AL; AA; ALA; IM; UT. 12-GEO; SUBORNO; AMA. 13-ESSA; RASTO; LOAS.

Horizontais: 1-Carnaval; Batera. 2-Devanear; Benzera;

2

Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos

N.º 20 Preencha a grelha com os algarismos de 1 a 9 sem que nenhum deles se repita em cada linha, coluna ou quadrado

N.º 20

74

TempoLivre

| NOV 2010

SOLUÇÕES


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ClubeTempoLivre > Novos livros

ÂNCORA EDITORA

ARTE PLURAL

como

relatar as sua vivência,

conheceu a

emoções e batalhas que teve

NÓBREGA E SOUSA

IOGA - GUIA PRÁTICO

dragoa bebé

de enfrentar ao longo da

Música no Coração

Tara Fraser Um guia prático e ilustrado

que vive na

vida.

com uma abordagem

escola, como

tradicional e holística que

é assustador

Nuno Gonçalo da Paula A biografia de Carlos Nóbrega e Sousa, uma

cave da

EDITORIAL PRESENÇA

referência da música ligeira

combina

encontrar um troll das

A CASA DOS SETE

que conquistou, em 1958,

posturas de

pontes debaixo da cama e

PECADOS

grande êxito com “Vocês

ioga com um

como as trapalhadas de um

Sabem Lá”.

estilo de vida

fantasma matreiro (que

Mari Pau Domínguez Madrid, 1568. A morte de

saudável.

picou com um lápis o

Isabel de Valois leva o rei

Inclui

traseiro da stora Henriques)

Felipe II a desposar a sobrinha, Ana de Áustria,

Entre os sucessos da sua autoria constam

instruções sobre os asanas e

provocam uma enorme

temas como

revela como estes

barafunda.

“Sol de

ensinamentos ajudam a

Inverno”,

vencer o stress e as

UMA HISTÓRIA MESMO

garantir ao

“Onde vais rio

limitações da vida moderna.

BESTIAL: O CAÇADOR

reino um

CONTRA-ATACA

filho varão.

David Sinden, Guy

Abalado com

que eu canto”, Sobe, Sobe Balão

BOOKSMILE

com o objectivo de

Sobe” e muitas outras

Macdonald e Matthew

canções eternizados por

Filipe só encontra consolo

Amália Rodrigues, Madalena

Morgan Um morcego-correio aterra

Iglésias, Mª de Lourdes

em Farraway Hall com um

Consciente da traição à nova

esta morte, nos braços da aia das filhas.

Resende, Rui de

pedido de

esposa e da condição de

Mascarenhas, Simone de

socorro e de

soberano de uma das

Oliveira e Tony de Matos.

imediato a

monarquias mais poderosa

equipa da

do seu tempo, Filipe

SRPCB entra

envereda por um caminho

em acção.

que irá mudar muitas vidas.

AREIAS DO TEMPO ROTA SEM FIM

Alguém vai

Rogério Seabra Cardoso Um relato invulgar onde a

organizar uma caçada às

A ARTE E O MODO DE

RIPLEY’S ACREDITE SE

bestas e expulsar os trolls da

ABORDAR O SEU CHEFE DE

riqueza das personagens e a

QUISER! - VER PARA CRER

sua gruta na montanha!

SERVIÇO PARA LHE PEDIR

paisagem fluem sem

Dulce Afonso e Teresa

Conseguirá Ulf, o lobisomem,

UM AUMENTO

pretensiosismo, recordando

salvar os trolls sem ser

a presença militar em África.

Sousa (trad.) Um impressionante álbum

Georges Perec O autor explora os jogos e os

“É um diálogo saboroso (…)

repleto de imagens sobre

feito por quem domina a arte

casos bizarros e histórias

literária e o enquadramento

incríveis que irão

histórico-social de uma

surpreender o leitor.

AS DIFICULDADES NÃO

guerra em que o bem e o

A adaptação ao cinema em

MATAM O SONHO

o seu chefe

mal estão

2011 terá Jim Carrey no

no momento

presentes,

papel principal.

Isaura Félix de Queirós Um testemunho e um

onde quer

TempoLivre

limites da linguagem

EDIÇÃO DE AUTOR

partindo da história de um insignificante funcionário que tenta chegar à fala com

mais propício

exemplo de

a obter aquilo que pretende.

que haja

JOÃO PASTEL: O DRAGÃO

coragem que

seres

DA ESCOLA

a autora

Michael Broad Três novas aventuras muito

pretende

descrição em que o lúdico e

partilhar com

o absurdo se combinam de

engraçadas. João conta

o leitor, ao

forma genial.

humanos.”.

76

apanhado?

| NOV 2010

Uma


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EUROPA-AMÉRICA

contingências

desorganização económica e

como superá-los.

dão azo a

social, com a violência

Em estilo confessional e

A RAINHA DOS MALDITOS - I

uma obra de

pública e com os constantes

rigoroso o livro ajuda a

Anne Rice O vampiro Lestat viaja até à

arte e que a

pronunciamentos militares-

perceber o que é a Diabetes,

arte sublima

revolucionários. A

como preveni-la e como viver

o real e o

desvalorização da moeda e a

com as suas limitações, sem

desperta Akasha, a rainha

maravilhoso ombreia com a

inflação foram, de longe, as

esquecer a questão da

dos malditos e mãe de todos

ciência.

piores dos tempos

alimentação e terapêutica.

os vampiros, que sedenta de

Um magnífico livro do Nobel

modernos. Por volta de 1926,

sangue traça um plano para

da Literatura, laureado em

restavam à República muito

dominar os

1907, que faz jus ao bom

poucos apoiantes.”.

vivos.

humor inglês.

Uma edição comemorativa

O FLAMINGO DA ASA

do Centenário da República.

QUEBRADA Augusto Carlos Com a ajuda da natureza e

caverna numa ilha grega e

Enquanto

NOVA VAGA EDITORA

Lestat ignora

ESCRITOS ÍNTIMOS

a existência

Charles Darwin A obra dá a conhecer as

OFICINA DO LIVRO

dispostos a destruí-lo por ter

várias facetas de Darwin e

MORRER E RENASCER

revelado o seu segredo, um

remete para o local onde a

Homem e

misterioso sonho aponta

ciência confina com a

Maria José Costa Félix Um convite a acreditar na

para uma tragédia

intimidade. Pois a

vida para lá de qualquer

nos rodeia.

indescritível.

curiosidade científica de

espécie de morte e na

Venha

Darwin

possibilidade que todos

descobrir o

NASCI PARA NASCER

centra-se

temos de continuar vivos,

Pablo Neruda Composta por diversos

nele próprio

mesmo

conversar com uma flor ou

ou nas

quando

saber porque é que o

cadernos agrupados em

pessoas que

confrontados

flamingo está triste, mesmo

estilos que passam pela

preza e que o

com

vivendo num jardim

rodeiam. Da primeira viagem

sentimentos

paradisíaco com um lago e

literário de

às observações pacientes e

de perda de

outros pássaros lindos à sua

Neruda e pela

ternas sobre o crescimento

alguém

volta.

experiência

dos seus filhos, revela-se a

querido ou de alguma coisa

vivida,

grandeza de um homem da

a que estávamos ligados.

VOVÔ TSONGONHANA

incluindo a

ciência. SEM AÇÚCAR, COM AFECTO

Augusto Carlos Dudinho é um menino das ruas de Maputo que vai

de vampiros

abordagem do trabalho

situação

dos animais é possível compreender melhor o tudo o que

mundo,

HISTÓRIA POLÍTICA DE

José Jorge Letria e Sílvia

Chile, a obra traça um

PORTUGAL – 1910 A 1926

aprender as

retrato psicológico do autor

Douglas Wheeler “O país sofreu com a

Saraiva Sílvia Saraiva, endocrinologista conhecida pela sua

da vida com

naturalidade que a ausência

abordagem pouco

o «Vovô».

de pose determina.

convencional à Diabetes,

Desde o

esclarece e desmistifica

respeito pela

política no

com toda a verdade e

A HISTÓRIA MAIS BELA DO

algumas concepções sobre a

MUNDO

doença, enquanto José Jorge

coisas boas

natureza e por tudo o que existe até aos

Rudyard Kipling Uma história onde o autor

Letria revela

problemas que afectam os

como é viver

homens, a obra apela ao

leva a crer que a inspiração

com esta

crescimento interior e à

surge dos detalhes mais

patologia,

moral de cada indivíduo.

prosaicos que só o artista

quais os

pode transcender, que só

maiores

várias coincidências e

desafios e

Glória Lambelho (gloria.lambelho@inatel.pt) NOV 2010 |

TempoLivre 77


78_Cartaz:sumario 154_novo.qxd 26-10-2010 11:11 Page 78

ClubeTempoLivre > Cartaz

CASTELO BRANCO

sonoras” actuam no final de cada peça.

Teatro Festival de Teatro Amador no

COIMBRA

Teatro Clube de Alpedrinha: dia 5 - A finura de uma velha

Concertos

e Tia Verde Água e os 10

Dia 6 às 21h30 - Orquestra

Anõezinhos, pelo grupo de

de Sopros de Coimbra na

Teatro Clube de Alpedrinha,

ADFP em Miranda do Corvo;

dia 6 – Músculos - A primeira

dia 10 às 21h30 - Recital de

do Actor, encenador e

Violino e Guitarra na

argumentista da obra de

Biblioteca Joanina em

Pedro Fiúza, dia 12 – Vícios

Coimbra; dia 14 às 21h30 -

Anónimos um Exercício

Órgão na Igreja da

(Centro Social); dia 21 às 16h

Teatral das Oficinas de Teatro

Misericórdia de Arganil; dia

- Órgão e Canto Ensemble

de João Rosa e dia 13 – A

16 às 21h30 - Recital de Piano

Cum Jubilo na Igreja de

Cinema

Rosa ou quem é a cabra?,

na Biblioteca Joanina; dia 18

Santa Cruz em Coimbra; dia

Dia 11 às 21h30 –“Gomorra” na

produção Ana Lázaro e Rita

às 21h30 - Ensemble Coimbra

25 - Farsa de Inês Pereira

Junta de Freg. de Tregosa; 13

Cruz.

na Biblioteca Joanina; dia 20

pelo Gr. de Teatro de Casal

–“A Cidade sobre Ameaça” na

Os Dj-Set´s vencedores do

às 16h - Recital Litúrgico p/

Cimeiro e Sax Ensemble no

Junta de Freg.a de Vila de

passatempo “Atmosferas

Santa Cecília em Prodeco

Auditório da Escola Avelar

Punhe; dia 18 às 21h30 -

Brotero em Coimbra; dia 26

“Patoruzito - O Pequeno índio”

às 21h30 - Violoncelo e Piano

no Grupo C.S.R.D de Cuide de

(música Portuguesa) na

Vila Verde; dia 27 às 21h30 -

Biblioteca Joanina; dia 27 às

Gomorra no Grupo C.S.R.D. de

22h - Coro da Academia

Cuide.

VIANA DO CASTELO

Martiniana na Igreja Matriz de Cantanhede.

Teatro Dia 19 - Grupo Unhas do

Dança

Diabo em Sá (Ponte de Lima);

Dia 6 às 21h30 – V Festival

dias 5, 6 e 7 - Nacional do

Nacional de Dança Moderna

Concurso de Teatro em Ponte

da Associação C.R. de

de Lima, no Teatro Diogo

Coimbra na sede do Grupo de

Bernardes.

Teatro de Sobral de Ceira. Workshop Pedestrianismo

Dias 19 e 20 às 19h -

Dia 14 - caminhada na mata

Workshop de Judo na Escola

do Buçaco “Rota S. Martinho

C+S António Feijó em Ponte

- Trilhos do Buçaco”,

de Lima.

informações na Agência Inatel.

Curso Dia 27 - Iniciação à

Futebol

Maquilhagem na Agência

Dia 7,14,21 e 28 – jornadas do

Inatel. Preço p/ associados:

grupo A e B da Taça de

35 euros.

Futebol, informações na Agência Inatel.

Cicloturismo Dia 14 – prova com convívio em Perre.


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O Tempo e as palavras M a r i a A l i c e Vi l a Fa b i ã o

Do pragmatismo das pragmáticas […] Giram as estações e os dias, /giram os céus, rápidos ou lentos,/as fábulas errantes das nuvens,/de campos de jogos e campos de batalha /de instáveis nações de reflexos, /reinos de vento que dissipa o vento: nos dias serenos o espaço palpita,/os sons são corpos transparentes, /os ecos são visíveis, ouvem-se os silêncios./Manancial de presenças, o dia flui soberbo nas suas ficções.[…] Otavio Paz, Rememoración (Segundo Tablero), in: Pasado en Claro, 1974 Trad. M.A.V.F.

E

ram ricos. Eram poderosos. Eram reis ou imperadores. Em quase todas as civilizações antigas, considerados detentores de um mandato divino na terra, com a missão de estabelecerem a justiça e a paz, o equilíbrio e a harmonia no mundo. Entre os Celtas, de cuja cultura ainda se encontram vestígios no nosso país, um bom rei (eleito pelos nobres, como qualquer primeiro-ministro actual) era aquele que assegurasse a prosperidade dos seus súbditos. Ele era apenas o distribuidor dos tributos e dos impostos que lhe eram confiados. Por seu lado, rei que lançasse impostos, retirando deles benefícios pessoais, sem, em troca, dar qualquer compensação ao contribuinte, era considerado um mau rei, em cujo reinado a terra, as plantas e os animais se tornariam estéreis. (Sei que não temos rei, mas há quem diga que este ano a terra está seca, que as árvores se negaram a dar fruto… Não. Ninguém me falou dos animais.) Na realidade, se eram ricos e poderosos, ainda que, aparentemente, jamais bons, eram também pragmáticos, não no sentido de “adeptos do pragmatismo”, teoria filosófica do séc. XX, mas sim no comezinho sentido original de “prático”, do grego “pragmatikós”: quando as despesas excediam as receitas do reino, e as régias burras ficavam vazias de dobrões, cruzados ou maravedis, por exemplo, havia o recurso, ainda actual, de lançar novos impostos, que em Portugal podiam ter nomes tão apelativos como, entre outros, fossado, calúnia, anúduva, açougagem e alcavala, fossado, calúnia, anúduva, açougagem e alcavala, e que, à míngua de numerário, até ao séc. XV, eram frequentemente pagos em géneros (sobretudo em trigo e panos). Muito actual, também, era o recurso a empréstimos, tendo a nossa familiar locução “dívida pública” surgido, paradoxalmente, em Portugal nos séculos das especiarias

da Índia, do ouro do Brasil - do apogeu do poderio político e económico português. Quase todos os monarcas europeus passaram, ao longo da História, por graves crises financeiras. Os reis portugueses não foram excepção. Curioso é o facto de, por vezes, essas crises financeiras serem suscitadas, ou, pelo menos, agravadas pela tendência para o novo-riquismo, para o luxo delirante, das elites sociais portuguesas das diversas épocas, de que não estava isenta a própria Casa Real. Incapazes de aumentar as receitas, os reis procuravam equilibrar a sua balança comercial, desequilibrada pelas importações de artigos de luxo do estrangeiro, mediante a contenção das despesas, do ruinoso despesismo incontrolável, o que faziam através de Pragmáticas, ou decretos reais, como a Pragmática contra o Luxo, de 1749, “em que se regula a moderação dos adornos, e se proíbe o luxo e o excesso dos trajes, carruagens, móveis e lutos, o uso de espadas a pessoas de baixa condição, e outros diversos abusos, que necessitavam de reforma”. Esta Pragmática, que também se aplicava às colónias da época, estipulava, inclusive, o que os negros e mulatos deviam usar e impedindo-os de vestir do mesmo modo que os brancos. O seu incumprimento implicava pesadas sanções, que podiam ir da prisão a dois anos de degredo. Diante dos meus olhos sonolentos desfilam na madrugada modelos envoltos em metros e metros de sedas da Flandres e brocados de Itália, com rendas de Bruges, de bilros de Peniche e de Vila do Conde, pérolas do Oriente, pedrarias da Índia… Nas cabeleiras empoadas, fitas e plumas de Paris e, bem ocultas sob esse delírio sumptuário, nas leitosas coxas celulíticas à Rubens, uma liga de fio de ouro fino do Brasil, de cuja existência apenas sei, evidentemente, pela indiscreta Pragmática que a proíbe. n

NOV 2010 |

TempoLivre 79


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Os contos do

A vingadora

S

entindo aproximar-se o último suspiro, Lionídio Barros Frágua disse adeus ao hospital, preferindo finar-se em casa, na sua cama de sempre. Ali nascera noventa e quatro anos antes e ali queria despedir-se da vida, não sem antes expor a sua última e férrea vontade. Eram quatro horas de uma tarde escaldante e a ventoinha soprando ao lado da cama pouco atenuava a temperatura e o pivete áspero que abafavam o quarto. Adília, a enfermeira contratada para cuidar do moribundo, aligeirou-o de colcha e manta deixando o corpo anafado exposto no pijama às riscas e pés envoltos em peúgas amarelas. Lionídio levaria para a cova a sua fama de homem quezilento e impiedoso mas alguns dos seus escassos amigos acreditavam que na hora da despedida desistisse do mau feitio. Não aconteceu. É certo que quando convocou os três filhos e a bisneta Ana Rute, todos eles, excepto talvez a menina, aguardavam que o derradeiro encontro se destinasse a recomendações acerca da gigantesca empresa que desde há largas décadas alimentava a família toda. Nem estranharam a inclusão de Ana Rute, apesar de ser a mais tenra do agregado, com os seus vinte anos incompletos, porquanto ela era a perfeita herdeira do espírito empreendedor e outras características do bisavô. Sobre os negócios e vasto património, no entanto, o velho nada disse. Todas as suas palavras foram para exigir que fizessem cair raios e coriscos sobre o jovem Marco Vicente, que tomara de assalto a Fulguermata, Limitada. Uma história banal. Na próspera empresa de maquinarias, Lionídio Barros Frágua era um de três sócios, cada um deles com um terço do capital e respectivos lucros. Ele beneficiava do alheamento da família de Jacinto Pulquério, outro dos patrões, que passara a Lionídio procuração para pôr e dispor, independentemente da vontade do terceiro minoritário, de seu nome Octaviano. 80

TempoLivre

| NOV 2010

Este Octaviano detestava Lionídio pelo seu carácter despótico, mas não podia impedir que ele, com o apoio do outro societário, se mantivesse ano após ano no cadeirão de todo poderoso presidente da empresa. Até que emergiu o moço Marco Vicente, sobrinho de Jacinto Pulquério, que fez questão em representar a família até então alheada de cuidados administrativos. E foi o fim. De imediato, o novato Marco fez acordos com o embezerrado Octaviano e sacudiram do trono Lionídio Barros Frágua. Não só ele, mas quantos ele escolhera para lugares de topo e confiança, inclusive a secretária e os advogados. O novo líder quis rodear-se de gente da sua afeição e apreço e, pior ainda, deleitou-se em destruir todas as regras e práticas que Lionídio adoptara ao longo dos sucessivos mandatos. O ódio de Lionídio pelo invasor atingiu os píncaros. Vingança era o sentimento que lhe enchia a mente. Marco Vicente mostrava-se hábil a suster os golpes e, para seu crescente rancor, via aproximar-se o fim da vida sem saborear o mel da vingança. Foi nesse passo que reuniu os filhos e a bisneta para lhes legar o ressentimento e a incumbência de fazerem de Marco Vicente o sujeito mais infeliz do planeta. - Quero que lhe façam a vida negra – disse, com voz fininha mas ainda bem audível pela raiva. Na verdade, ele não acreditava muito na capacidade dos filhos, três molengões, e quanto aos netos, nem os convocara: ele desviara-se para actor de teatro e ela fugira com um ilusionista argentino para o Tibete. A bisneta sim, tinha garra. Todavia, os filhos prometeram que se iam esforçar para que se cumprisse a última vontade do seu azedo pai. - Para eu descansar em paz, têm de lhe fazer a vida negra – repetiu o ancião e todos disseram, à excepção da mocinha Ana Rute que se manteve pensativa: ANDRÉ LETRIA


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- Exactamente, havemos de lhe fazer a vida negra. O tempo correu, Lionídio Barros Fraga foi a enterrar, com fraca assistência, e mais tempo se seguiu sem que tombassem sobre o alvo Marco Vicente as maldições encomendadas. - Eu ando a ver se lhe risco o carro – disse o filho mais velho. - Quero mais do que isso – avançou o segundo filho. – Vou escrever uma carta anónima às Finanças acusando-o de aldrabar no IRS. - Sim – aprovou o terceiro filho – isso pode fazer-lhe a vida negra. Mas eu quero mais: vou inventar um inimigo misterioso que, todos os dias, lhe dirige ameaças de morte, por carta, por e-mail, por telemóvel. - Essa é boa – aplaudiram os outros. - Fazes isso? - Eu não sou capaz. Dou a ideia, ponham-na vocês em prática. Os irmãos esquivaram-se, alegando falta de tempo e de jeito para tão exigente operação. E assim corria o tempo inútil até que chegou a perturbadora notícia: Ana Rute, a bisnetinha em que o falecido depositara tantas esperanças, fora vista a jantar num restaurante fino e em alegre convívio com o detestável Marco Vicente. - Pode ser? – espantou-se, indignado, o avô da traidora. Podia. Tanto assim que, entregues à preocupada missão de espiar a menina, sofreram o choque de a ver passear de mãos dadas com o que devia ser o alvo da ira dela. E mais: escondidos no interior de um carro observaram o par enlaçado e aos beijos nas bocas. - Incrível – gritou um. - Não se pode confiar nas novas gerações – lamentou outro. - O nosso querido pai e ingénuo bisavô da Ana Rute deve andar às voltas na tumba – prognosticou o terceiro. Decidiram então que haveriam de admoestar

a desobediente e reconduzi-la ao plano original. Todavia, eles eram de facto indolentes e, nesta agitada época em que vivemos, o tempo voa. Quando deram por ela, era o dia que Ana Rute e Marco Vicente tinham escolhido para se casarem. Foi em desespero que se apresentaram na eminência do consórcio e foi com ela já de branco no seu vestido de noiva que a tentaram deter: - Desiste desse casamento desavergonhado, querida. Não te lembras do que prometemos ao teu bisavô? A noiva rodopiou fazendo esvoaçar a cauda do majestoso vestido e disse: - Lembro-me e cumpro. Vou fazer-lhe a vida negra. n NOV 2010 |

TempoLivre 81


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Crónica

Procissão no adro Fe r n a n d o Dacosta

82

TempoLivre

| NOV 2010

O

s dirigentes do País (de qualquer partido) acostumaram-se a empurrar, nas alturas de crise, as responsabilidades por ela para as vítimas dela. É o seu estratagema de impunidade. Insidiosamente, os trabalhadores vêem-se, assim, invectivados por não produzirem, os desempregados por não se haverem modernizado, os jovens sem colocação por se mostrarem impacientes de consumismos, os reformados por adornarem a sustentabilidade da previdência social, os doentes crónicos por serem viciados em gulodices farmacológicas, em saborosos internamentos hospitalares e intervenções cirúrgicas. Tornou-se, aliás, hábito aparecerem em público uns senhores de rostos severos a admoestarem-nos por «gastarmos mais do que ganhamos» e «ganharmos mais do que produzimos»; por, nas suas enfáticas palavras, «vivermos acima das nossas possibilidades». Não se sabe, entretanto, nem ninguém cuida de explicar, o que isso realmente significa. Sabese, sim, que vários dos notáveis em causa auferem regalias multi-milionárias apesar (talvez por isso) de serem co-responsáveis pelo desequilíbrio a que chegamos. Subir o nível de vida dos portugueses constituiu (é bom não esquece-lo), o isco utilizado para as populações morderem a Revolução, a democracia, a liberdade, a igualdade, então lançado nas águas onde, expectantes, barbateávamos. Para o manter abaixo (ou dentro) das nossas míseras possibilidades, já bastava a sovinice do regime anterior. O povoléu atirou-se às promessas (paradisíacas) dos novos poderes como gato a bofe. As nacionalizações que a esquerda mais destemida fez garantiam, por outro lado, que iríamos aboletar-nos, sem suar grandes estopinhas, com grossas maquias de empresas, fábricas, bancos, herdades, prédios, indústrias e comércios expropriados aos capitalistas fascistas. A CEE ajudou, depois, à festa com fundos rapinados a preceito. Num ápice, novas, expeditas classes ascende-

ram no País preferindo, porém, fazê-lo em direcção a valores materiais do que culturais, o que gerou um boom de light bastante ilustrativo. Ante solo tão fértil, adubado pelo colapso socialista, o liberalismo selvagem (passe o pleonasmo) emergiu, fomentando o consumismo que fomentou a massificação e, esta, a indiferenciação, a desistência, a apatia – em que nos afogamos. Colunistas de soalheiro e contabilistas de balcão inundam-nos, entretanto, de cenários, de estatísticas, de sondagens a sustentarem medidas revigorantes (arrasantes) para a continuação da nossa débil sobrevivência – que a deles encontrase salvaguardada. Temos, como consequência – e ainda a procissão vai no adro –, falências e desemprego, miséria e aviltamentos em tsunami. O pequeno comércio (sustentáculo dos núcleos populacionais das cidades), a pequena agricultura (idem para os dos campos) caíram inanimados; 80 mil jovens andam à procura de um primeiro emprego, enquanto as famílias vêem 90 por cento dos seus rendimentos endividados; metade da população vive, segundo os critérios da CE (dos nossos são 22 por cento), a nível da pobreza. Em número crescente, crianças vão em jejum para as escolas, idosos deixam de tomar medicamentos, multidões dormem ao relento, semienvergonhados comem de caixotes do lixo. Em muitas casas volta-se, como há 50 anos, a cozinhar em fogareiros de petróleo (o gás inacessibilizou-se), a tomar banho uma vez por semana, a ingerir apenas sopa às refeições, a deitar meias solas em sapatos. Fazer baixar o luxo que, dizem, praticamos é, avisam-nos, um imperativo inadiável, sob o risco das classes médias baterem (mais?) no fundo e perder-se o País. Irónicos, os mais vividos reduzem o que se ensaia a remake de Neo-Estado Novo, neo-fascismo anular de indomados. «Muita gente», avisava Cunha Rego, «sente-se já bem no mal e mal no bem». n


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