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N.º 221 Dezembro 2010 Mensal 2,00 €
TempoLivre www.inatel.pt
Viagens Inatel Marraquexe Entrevista Tonicha nas “Vozes de Trabalho” Destacável 12 páginas Hotelaria Inatel 2011
Belém
Natal na Palestina
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Sumário
Na capa Foto: Humberto Lopes
30 RITUAIS
Natal em Belém A margem ocidental do Jordão alberga uma infinidade de lugares ligados a narrativas do Velho e do Novo Testamento. Belém é o mais visitado, sobretudo pela sua condição de local de nascimento de Jesus de Nazaré. Espaço multicultural e multirreligioso, a cidade acolhe todos os anos as mais famosas celebrações de Natal.
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EDITORIAL
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CARTAS E COLUNA DO PROVEDOR
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DESTACÁVEL DE 12 PÁGINAS
CONCURSO DE FOTOGRAFIA
46 48 75
Hotelaria Inatel 2011
NOTÍCIAS
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PAIXÕES
A inspiração duriense de Mestre Fandino
18 ENTREVISTA
MEMÓRIA
Metro Goldwyn Pictures: mais estrelas que no céu
OLHO VIVO A CASA NA ÁRVORE O TEMPO E AS PALAVRAS
Tonicha e as “Vozes de Trabalho” Não perdeu o ar franzino nem o brilho no olhar. E fala com entusiasmo deste desafio novo: a representação. No Teatro da Trindade, integra o espectáculo Vozes de Trabalho, onde dá corpo a Ti Ana, mulher sem idade, a quem os trabalhos do campo levaram a maior parte das memórias, mas as cantigas guardou-as todas.
Maria Alice Vila Fabião
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OS CONTOS
VIAGENS
DO ZAMBUJAL
Marraqueche: à sombra do Atlas É uma das quatro cidades imperiais de Marrocos, a mais meridional. O deserto fica ainda mais para sul, do outro lado do Atlas, mas Marraquexe já acolheu caravanas que vinham do Níger e do Mali. A segunda maior cidade marroquina tem uma face moderna, mas também uma herança que a mantém ligada às montanhas vizinhas.
CRÓNICA Baptista-Bastos
BOA VIDA CLUBE TEMPO LIVRE
Passatempos, Novos livros e Cartaz
Revista Mensal e-mail: tl@inatel.pt | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: Carlos Mamede Vogais: Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: António Costa Santos, António Sérgio Azenha, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho, Joaquim Magalhães de Castro, José Jorge Letria, José Luís Jorge, Lurdes Féria, Manuela Garcia, Maria Augusta Drago, Maria João Duarte, Maria Mesquita, Pedro Barrocas, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, Vítor Ribeiro. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Fernando Dacosta, Joaquim Letria, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA, Telef. 210027000 Fax: 210027061 Publicidade: Direcção de Marketing (DMRI) Telef. 210027189; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 150.825 exemplares
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Editorial
V í t o r Ra m a l h o
Um programa para o futuro
À
data da nossa posse propusemo-nos actuar na modernização administrativo-financeira da Fundação, no reforço das relações de proximidade com os beneficiários, na requalificação dos equipamentos que se justificassem, na racionalização dos recursos humanos, no aprofundamento dos programas existentes e na inovação, numa lógica de auto-sustentabilidade económica e financeira. A reformulação da Tempo Livre, a uniformização da nossa imagem, a modernização do nosso sitio, a requalificação do Teatro da Trindade, do Parque de Jogos 1º de Maio, das unidades da Foz do Arelho e de Albufeira e as que estão em curso ou em projecto e que vão desde Cerveira até Manteigas, passando por Oeiras tal como a reorganização da hotelaria, do turismo, da cultura e do desporto e das ex-delegações falam por si como exemplos do esforço desenvolvido. Estes objectivos têm corrido paredes meias com a criação de novos programas como o do Turismo Educativo Júnior, que será reforçado no próximo ano, sem que descurássemos os programas governamentais com maiores preocupações sociais como o "Abrir Portas à Diferença", o "Turismo Solidário", ou noutro plano o "Turismo para Todos", com elevadas exigências de qualidade. Tem havido ainda a preocupação em concedermos novos benefícios aos associados com parcerias que permitem a aquisição de medicamentos mais baratos, o mesmo sucedendo com combustíveis para automóveis e em equipamentos telefónicos, entre outros, muitos que vão para além dos serviços directamente prestados.
É nesta lógica que este número da "Tempo Livre" faz referência a um novo programa que projectamos apresentar já em 2011 e que se denominará "SEMPRE EM FÉRIAS". A ideia é a de possibilitarmos uma alternativa muito apelativa ao impulso de muitos seniores, no pleno gozo de todas as faculdades físicas e psíquicas, à eventual opção, a partir de certa altura da vida, em desejarem voluntariamente fixarem residência definitiva num lar. O "SEMPRE EM FÉRIAS" - que só se concretizará se o número de candidatos e os requisitos exigíveis estiverem preenchidos - facultará aos que preferirem a Fundação Inatel a um lar o direito a permanecerem por ano em três ou quatro das nossas unidades hoteleiras com a assistência, o lazer e a convivencialidade que têm marcado a oferta da Inatel.
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onscientes da crise, das dificuldades existentes, da escassez de recursos, queremos conceder respostas inovadoras que, indo ao encontro das exigências dos nossos beneficiários e do mundo de hoje, contribuam para reforçar os alicerces do futuro da nossa Fundação numa perspectiva crescentemente humanista. Sabemos que nem tudo o que fizemos e iremos fazer é perfeito ou está isento de críticas. Por essa razão estamos a proceder a um balanço aprofundado do trabalho desenvolvido para também corrigirmos o que deve ser corrigido, o que, como se vê, não prejudica que em simultâneo trabalhemos em novas iniciativas como o SEMPRE EM FÉRIAS. n
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Cartas A correspondência para estas secções deve ser enviada para a Redacção de “Tempo Livre”, Calçada de Sant’Ana, nº. 180, 1169-062 Lisboa, ou por e-mail: tl@inatel.pt
E o Porto aqui tão perto…
Turismo Sénior
Ao ler a “Tempo Livre” de Novembro verifico que vai estrear no Teatro da Trindade mais um magnífico espectáculo, assim como concertos de Ravel e Cesar Franck. Constato que há sempre em cena uma peça de teatro, sessões de cinema e outras actividades. Lamento que no Porto não haja nada, mesmo na própria agência, apesar de haver boas instalações. Pergunto-me se não seria possível haver parcerias com alguma das várias casas de espectáculos desta cidade que também beneficiariam com um pouco de vida, assim como os sócios desta região pouco fértil em eventos culturais acessíveis à generalidade da população. Até o Parque de Jogos de Ramalde poderia servir para muita coisa se fosse revitalizado. Espero que este meu desabafo/sugestão possa servir para despertar algum entusiasmo em quem de direito. Arminda R.Carvalho Coutinho,Porto
Sou o sócio 100180, com quotas em dia, frequento com a esposa o Turismo Sénior e Termalismo desde o início. Sempre fiz a melhor divulgação e outros amigos aderiram. O meu dia de inscrição era hoje (28-10-2010). Com outros amigos, dirigi-me a Agência Best Travel, de Sines, onde me informaram que as marcações para 2011 só seriam aceites no dia 8-11-2010, sem considerarem o sorteio de nomes. Todos pretendíamos Abril de 2011. Verifiquei que no livro que editaram, e nem no telefonema que me fizeram, constava tal condição. Resultado: de Alvalade a Sines e volta andei, em vão, 120 Km. Considero uma falta de respeito para aqueles que são a razão da existência da Fundação. José Raposo Nobre, Alvalade N.R. -Tratou-se de um erro cometido pela agência de viagens que, pronta e voluntariamente, tratou de o corrigir através do contacto com o Sr. José Raposo Nobre. Após os devidos esclarecimentos, o nosso beneficiário pôde reservar as suas férias na viagem pretendida. Todavia, e porque as normas que regem o processo de inscrições assim o determinam, a mesma agência de viagens será notificada sobre esta questão e devidamente penalizada.
Coluna do Provedor
Kalidás Barreto provedor@inatel.pt
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AS INSCRIÇÕES, sobretudo para o Turismo Sénior, são sempre motivo de reclamação. A despeito do Regulamento ser publicitado, largamente, de todas as formas que permitam chegar, atempadamente, aos destinatários, a verdade é que há, sempre descontentamentos sobre os sorteios. Porém, ao longo dos tempos, têm os serviços da Inatel, estudado várias formas de ir ao encontro das sugestões e de se evitarem algumas aglomerações nas datas de inscrição. Ultimamente optou-se pelas letras do primeiro nome do concorrente após sorteio previamente incluído no Regulamento, opção muito mais clara e que tem tido êxito, evitando-se algumas situações desagradáveis.
Claro que subsistem incompreensões até porque no hábito português, uma boa parte dos interessados não lê o Regulamento e deixa andar. Porém, os Regulamentos devem ser cumpridos. Meus caros leitores, é bom estar-se atento para se usar o direito à reclamação, mas é necessário que se conheçam as regras do jogo, isto é, os Regulamentos que existem e ninguém ganha com o desconhecimento dos mesmos. Depois, valha a verdade, quem apanha por tabela são o serviços de atendimento quando na esmagadora maioria dos casos é o utente que não se informa devidamente, isto é, “paga o justo pelo pecador”! n
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Notícias
Albergaria do Sameiro na rede hoteleira da Inatel l Na sequência de um protocolo com o Centro Apostólico do Sameiro, a Fundação Inatel vai proporcionar aos seus beneficiários a oferta de serviços de alojamento e restauração na Albergaria do Sameiro, uma unidade hoteleira de 99 quartos, com capacidade para alojar cerca de 150 pessoas (e facilidades para casais com filhos), situada num dos locais mais atractivos da região minhota Para o cónego José Paulo Abreu, presidente da Confraria de Nossa Senhora do Sameiro, o acordo agora firmado visa dinamizar a Albergaria/ Centro Apostólico do Sameiro, um «espaço aprazível» com «óptimas
instalações» e condições logísticas «excelentes», mas com problemas de rentabilidade na época baixa e que será benéfico para as duas partes, pois a Inatel aumenta a sua oferta na
zona e o Centro Apostólico e terá um maior rendimento da sua unidade que apenas tem maior ocupação no Verão. A Inatel, representada no acto pelo
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presidente e vice-presidente, respectivamente, Vítor Ramalho e Carlos Mamede, disporá, por seu turno, de um espaço de qualidade para os seus beneficiários numa das
mais belas zonas do país. “Temos aqui muitas coisas à volta que podem e merecem ser visitadas, e este espaço pode ser um ancoradouro para as pessoas procurarem estas
belezas que este “mar verde” tem para oferecer», salientou na sua intervenção o cónego José Paulo Abreu. Vítor Ramalho acentuou, por sua vez, a relevância do acordo dado tratar-se de “uma estalagem exemplar”, situada numa zona “muito aprazível” e que aumenta e diversifica a oferta hoteleira da Inatel, uma instituição com cerca de 200 mil associados e que mobiliza, nos programas governamentais de turismo social, cerca de 50 mil pessoas. Os benficiários Inatel deverão reservar as respectivas estadias através das agências da Fundação. O custo da diária para duas pessoas varia entre os 50€ (preço para associados) e os 55€, preço para o público em geral.
amizade e da solidariedade para reforço dos laços entre os trabalhadores que ao longo dos anos contribuíram para dignificar esta instituição. “ O nosso maior legado – frisou - são os trabalhadores e não encontro palavras para traduzir o contributo de todos os que ajudaram a construir esta casa”. Votos de esperança no futuro e um apelo à inovação e competitividade dos serviços tendo em conta a importância e missão da
Inatel estiveram, ainda, presentes na intervenção do presidente da Fundação ao acentuar a importância do bom relacionamento com os associados - “são a razão da nossa existência”, disse –, através do reforço do contacto directo e da recolha de elementos que espelhem a realidade e o seu perfil, criando, ao mesmo tempo, uma oferta de serviços mais diversificada e atractiva que vá ao encontro dos seus desejos e expectativas.
Convívio Inatel
Cerca de duas centenas de trabalhadores estiveram presente no almoço de Confraternização da Fundação Inatel, que decorreu na Unidade Hoteleira da Costa de Caparica, no passado dia 6 de Novembro. Um encontro marcado pelo convívio, amizade e boa disposição entre trabalhadores de vários recantos dos país e que assinala os 75 aniversário da Inatel. Vítor Ramalho, presidente do CA da Inatel, realçou a importância da l
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Notícias
Concurso INATEL/Teatro Novos Textos O Grande Prémio do concurso Inatel/Teatro Novos Textos foi atribuído ao original “A Manhã, A Tarde e a Noite”, de Luis Miguel Silva Lopes, cabendo a César Lomba Magalhães o Prémio Miguel Rovisco pela autoria do original “A Pítia”. O concurso INATEL/Teatro Novos Textos tem como intuito estimular novos autores para a
Agência de Lisboa
escrita de textos originais em língua portuguesa, promovendo e divulgando novos valores literários na área do Teatro. Em 2002, foi criado um prémio especial dedicado aos jovens com idade até aos 25 anos, que tem como patrono o malogrado dramaturgo Miguel Rovisco.
l No sentido de reforçar o contacto directo entre os associados, a Agência Inatel passou a funcionar, desde Novembro último, no Parque de Jogos 1º de Maio, em Alvalade (Lisboa). Nestas instalações poderá encontrar resposta para todas as questões relacionadas com as áreas
desportiva e cultural, inscrição de associados e outras informações de âmbito geral, com excepção das actividades na área de Turismo (reserva de viagens e outras) que estão a cargo da dependência Inatel, sita na rua das Portas de Santo Antão (Rossio) em Lisboa.
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Nova época desportiva 2010-2011
“Presépios deste Mundo”
O Auditório da Agência Inatel do Porto foi palco, em Outubro último da cerimónia de entrega de Prémios da Época 2009/2010 e da abertura da nova época desportiva 2010-2011. O acto, a que assistiram dezenas de participantes, contou com as presenças do Administrador Moreira Marques, do Delegado Regional, Armindo Oliveira, do Director da Agência do Porto, Emanuel Mota, e de dois convidados especiais: Rosa Mota (ex-atleta olímpica) e Carlos Resende (ex-atleta internacional). O programa incluiu a actuação da banda Os Eruditos, uma exibição de um grupo de atletas da Federação Portuguesa de Karaté e um Porto de Honra. Foram ainda homenageados os atletas António Valente, Domingos Moreira e Armando Silva pelas suas carreiras desportivas no atletismo O acto finalizou com a apresentação pública das equipas de Futebol da Taça Fundação Inatel. l
Muitas das tradições transmitidas pelos colonizadores aos povos meridionais foram sincreticamente adaptadas ao seu quotidiano. A imagem do menino Jesus que nasceu, cresceu e viveu entre os pobres, assume a sua verdadeira dimensão nas mãos de diversos artesãos pertencentes a esses comunidades que se organizam com o objectivo de enfrentar as adversidades impostas por crescentes situações de injustiça e desigualdade. l
Alguns desses trabalhos, verdadeiros hinos à criatividade destes povos, construídos e comercializados segundo os princípios do Comércio Justo, podem ser apreciados ou adquiridos na exposição “Presépios deste Mundo”, patente ao público até ao dia 24 de Dezembro, no espaço solidário da Mó de Vida Coop, na Calçadinha da Horta, nº 19, Pragal, de 2ª a 6ª feira das 14 às 20 horas e sábados até às 19 horas.
Teatro da Trindade
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Conterrânea de Lídia Jorge, autora de “O Dia dos Prodígios”, romance que deu
origem à peça homónima, levada à cena no Teatro da Trindade, Maria Cavaco Silva foi uma espectadora atenta de uma das numerosas e aplaudidas representações no passado mês de Novembro. DEZ 2010 |
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Notícias
AG da CSIT Nos dias 8 e 9 de Outubro realizou-se em Agrigento (Itália) a Assembleia-Geral da CSIT (Conféderation Sportive Internationale du Travail). A Inatel esteve representada pelo seu administrador, Eng.º Moreira Marques, que participou nas principais deliberações, designadamente sobre o calendário executivo para 2011 e os próximos calendários desportivos. A assembleia, presidida pelo austríaco Harald Bauer, debateu, ainda, questões relacionadas com o doping,
Dia Mundial do Coração
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a adesão de novos membros, casos da China, Turquia, Sérvia e Rússia e a realização do próximo congresso da CSIT em 2011, no Rio de Janeiro, cidade que deverá albergar os Jogos Mundiais da CSIT, em 2013.
l A Fundação Inatel associouse, através da Direcção Desportiva, ao Dia Mundial do Coração, uma iniciativa que pretende sensibilizar a população portuguesa para a actividade física e desportiva. Presente na mesa da conferência de imprensa do Dia Mundial do Coração, o Administrador Moreira Marques deu conta do papel e iniciativas da Fundação na promoção e divulgação do desporto amador, contribuindo para um estilo de vida mais activo e de prática desportiva no quotidiano dos portugueses.
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“Mutualismo com Jornalistas dentro”
“Bicicletas em Setembro”
l A União das Mutualidades Portuguesas (UMP) editou, recentemente, “Mutualismo com Jornalistas dentro”, da autoria de Mário Branco. O trabalho do antigo dirigente da Casa da Imprensa (CI), cujos direitos autorais foram oferecidos à UMP, é um compêndio que, objectivando num fio condutor os principais factos, circunstâncias, contextos políticos e protagonistas, relativos aos 200 anos de mutualismo em Portugal, “aspira a ser útil ao progresso do Movimento e, portanto, à defesa e promoção do Homem e dos seus direitos fundamentais”. O livro foi oferecido aos participantes na cerimónia que assinalou, nas Caldas da Rainha, o Dia Nacional do Mutualismo. Na ocasião, a presidente da Assembleia Geral da UMP, Maria de Belém Roseira, homenageou Mário Branco, pela “ampla divulgação” da causa do mutualismo ao longo de uma vida inteira.
l Esgotada a primeira edição, o mais recente romance de Baptista-Bastos, “Bicicletas em Setembro”, regressa às livrarias com a chancela da Oficina do Livro. Obra maior de um grande romancista português, “Bicicletas em Setembro” fala de trajectórias amorosas e de que todos os destinos sentimentais ocultam histórias subterrâneas. Fala, também, da beleza perversa das relações humanas, e de que as pessoas suportam tudo, menos a solidão, a separação e a perda. É uma parábola sobre perdedores – todos nós. Porque cada um de nós perdeu alguma coisa.
“A Crise Financeira e Económica e as Outras” XXIV Salão de Outuno homenageia Nadir Afonso l A Galeria de Arte do Casino Estoril, a exemplo do que já fez em relação a outros grandes pintores ligados a esta galeria, em que participaram muitos outros artistas, propõe-se homenagear, também, Nadir Afonso, com uma ampla e qualificada exposição colectiva. Esta mostra, que será o XXIV Salão de Outono, inaugurada a 4 de Dezembro, dia do 90º aniversário de Nadir Afonso, apresentará - a par de dez trabalhos do homenageado – trabalhos de pintura, escultura e desenho de dezenas de artistas convidados. Nadir Afonso é, indubitavelmente, um dos mais importantes pintores portugueses contemporâneos. É o pintor das grandes urbes do mundo, com uma linguagem plástica exclusivamente sua, fruto de uma rigorosa investigação, que tem feito acompanhar com a publicação de numerosos livros, onde fundamenta o seu pensamento sobre a Arte e que serão também expostos. A exposição manter-se-á patente ao público, até 15 de Janeiro.
l A Fundação Mário Soares foi palco, em Novembro, do lançamento de “A Crise Financeira e Económica e as Outras”, de José Maria Rodrigues da Silva, antigo juíz conselheiro do Supremo Tribunal Administrativo. Autor de uma extensa obra ensaística e de ficção, o também ex-presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses salienta no seu mais recente travalho que enfrentamos, fundamentalmente, uma profunda crise “identitária, civilizacional e cultural”, agravada pela “emergência da crise economicofinanceira”. A par dos défices identitários e culturais, o autor aborda os problemas de natureza política, a situação da justiça, o super-individualismo das sociedades modernas, a complexa influência dos media e as polémicas em torno do actual primeiro-ministro, para concluir que “a solução” dos problemas financeiro e económico “está dependente da resolução das outras crises, com relevo para as da ética, da cultura, da justiça e da informação”.
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Notícias
Prémios Gazeta 2009
Teresa Gonçalves em Viena l
No Instituto de Cultura
Francesa de Viena esteve patente, em Outubro e Novembro, a exposição “Desenhos”, da artista madeirense Teresa Gonçalves Lobo. A mostra, de 30 desenhos, teve o patrocínio da Embaixada de Portugal e do
Com a presença do Chefe de Estado, teve lugar no passado dia 15 de Novembro, a cerimónia de entrega dos Prémios Gazeta 2009, iniciativa do Clube de Jornalistas, com o patrocínio da CGD. Foram distinguidos Miguel Carvalho, l
jornalista da Revista Visão, com o Grande Prémio Gazeta 2009, pela reportagem “Os segredos do Barro Branco”; o quinzenário “Repórter do Marão” recebeu o Prémio Gazeta Regional e a João Paulo Guerra foi atribuído o Prémio Gazeta de Mérito.
Centro de Língua Portuguesa/Instituto Camões na capital austríaca e foi apresentada por Arnold Mettnizer, figura de referência do mundo cultural vienense.
Portugal no Coração
Os vinte emigrantes portugueses, radicados nos continentes africano e americano, que integraram a 2.ª fase do programa “Portugal no Coração”, de 18 a 29 de Outubro último, visitaram vários pontos do país, designadamente Lisboa, Albufeira, Óbidos, Fátima e Coimbra, com estadias nas unidades hoteleiras da Inatel. Promovido pela Direcção-Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas, com apoio da TAP e da Fundação INATEL, o programa, iniciado em 1996, traz, todos os anos em Maio e Outubro, dezenas de emigrantes seniores ausentes do país por longos períodos de tempo e sem recursos financeiros.
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Fotografia
XV Concurso “Tempo Livre”
Fotos premiadas
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Regulamento 1. Concurso Nacional de Fotografia da revista Tempo Livre. Periodicidade mensal. Podem participar todos os associados da Fundação Inatel, excluindo os seus funcionários e colaboradores da revista Tempo Livre. 2. Enviar as fotos para: Revista Tempo Livre - Concurso de Fotografia, Calçada de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa. 3. A data limite para a recepção dos trabalhos é o dia 10 de cada mês. 4. O tema é livre e cada concorrente pode enviar, mensalmente, um máximo de 3 fotografias de formato mínimo de 10x15 cm e máximo de 18x24 cm., em papel, cor ou preto e branco. 5. Não são aceites diapositivos e as fotos concorrentes não serão devolvidas. 6. O concurso é limitado aos associados da Inatel. Todas as fotos devem ser assinaladas no verso com o nome do autor, morada, telefone e número de associado da Inatel.
Menções honrosas [ a ] Sérgio Guerra, S. João do Estoril Sócio n.º 204212 [ b ] Joaquim Faria, Matosinhos Sócio n.º 65387 [ c ] Fernando Ledo, Viana de Castelo Sócio n.º 349141
[a]
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7. A «TL» publicará, em cada mês, as seis melhores fotos (três premiadas e três menções honrosas), seleccionadas entre as enviadas no prazo previsto. 8. Não serão seleccionadas, no mesmo ano, as fotos de um concorrente premiado nesse ano 9. Prémios: cada uma das três fotos seleccionadas terá como prémio duas noites para duas pessoas numa das unidades hoteleiras da Inatel, durante a época baixa, em regime APA (alojamento e pequeno almoço). O prémio tem a validade de um ano. O premiado(a) deve contactar a redacção da «TL».
[ 1 ] Manuel Cardoso, Vila Nova de Gaia Sócio n.º 345542 [ 2 ] Ana Fialho, Azueira Sócio n.º 122630 [ 3 ] Manuel Andrade, Vila Nova de Gaia Sócio n.º 421159
[c]
10. Grande Prémio Anual: uma viagem a escolher na Brochura Inatel Turismo Social até ao montante de 1750 Euros. A este prémio, a publicar na «TL» de Setembro de 2011, concorrem todas as fotos premiadas e publicadas nos meses em que decorre o concurso. 11. O júri será composto por dois responsáveis da revista T. Livre e por um fotógrafo de reconhecido prestígio.
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Entrevista
Tonicha encanta no Trindade
ão perdeu o ar franzino nem o brilho no olhar. E fala com entusiasmo deste desafio novo: a representação. No Teatro da Trindade, integra o espectáculo Vozes de Trabalho, onde dá corpo a Ti Ana, mulher sem idade, a quem os trabalhos do campo levaram a maior parte das memórias, mas as cantigas guardou-as todas. Depois de ter passado uma vida agarrada à nora, a tirar a água das entranhas da terra – como refere o bem urdido texto de Tiago Torres da Silva, que acumula a encenação a personagem abre espaço para Tonicha dar o melhor de si e arranca com Massadeira. Mais à frente há-de embalar com Moreninha mas onde realmente mostra todo o seu à-vontade e alegria a interpretar o reportório do Cancioneiro Popular é em Vareira, uma música originária da Beira Litoral. E é embalada pelo som da orquestra de instrumentos etnográficos que ocupam uma parte do palco da sala principal do Trindade que Tonicha nos fala deste regresso.
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Entrevista
Como está a viver este desafio de voltar aos espectáculos mas agora também como actriz em Vozes de Trabalho? O que se está a passar comigo agora é algo diferente de tudo o que já fiz. Nunca fiz representação, nunca estive no teatro. E é muito interessante, faz-me trabalhar com a cabeça, com o físico. E veio Vozes de numa hora muito boa. Tive probleTrabalho tem a ver mas de saúde e isto serve-me de com trabalho, com o terapia. Quando tinha os meus 16 campo, o mar, a gente anos, apanharam-me uma vez na que está em várias RTP e perguntaram-me se queria actividades. O tipo de fazer um pequeno papel numa música que temos ali peça que ia ser emitida em directo. está de facto Achei graça e aceitei. Fiz de filha dentro… de uma grande actriz, a Mariana Vilar. Foi a única experiência que tive antes em termos de representação. Agora estou a tentar fazer bem. Esta peça vai também de encontro à sua faceta de intérprete da canção popular tradicional… é um voltar às suas raízes… É verdade. Eu diria que Vozes de Trabalho tem a
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ver com trabalho, com o campo, o mar, a gente que está em várias actividades. O tipo de música que temos ali está de facto dentro do que conheço, da música tradicional portuguesa que sempre cantei, e aí eu estou perfeitamente à vontade. E representa o papel de uma senhora sem idade… A Ti Ana aqui é uma espécie de lenda. Passa a vida numa nora, é o seu trabalho, é o que conhece bem. O trabalho e as cantigas. No fundo a única coisa que lhe dá uma certa vida, alguma vontade de continuar a viver é a música. Mas devo dizer aqui que o Tiago Torres da Silva ao escrever esta peça convidou as pessoas que achou por bem convidar e distribuiu os papéis por igual: ou seja, todos temos o nosso tempo em cima de palco. Todos representamos, todos cantamos, à excepção de duas grandes actrizes que lá estão, que não são cantoras Cecília Guimarães e Lourdes Norberto. Nós representamos mas também pedimos desculpa por isso (risos). E das plateias, do público, tem saudades… Tenho. Há que dizer: eu parei há ano e meio mas
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naturalmente a minha vida foi sempre essa. Quarenta e muitos anos de cantigas é muito tempo. É uma vida. Andei por todo o mundo. Gravei em francês, inglês, italiano e castelhano. Queríamos que o nosso trabalho fosse mais além e achámos que isso seria mais interessante. Está feliz com a carreira que escolheu? Sim, repare, comecei a viajar aos 16 anos à boleia da música. O primeiro país que eu visitei foi França, fui a Paris – que me deslumbrou, como pode imaginar. A partir daí fui para todo o lado. Para toda a Europa, incluindo alguns países de Leste; a América do Norte fi-la não sei quantas vezes em tournées; estive na Ásia, andei por todo o lado, desde Macau, Austrália… Que reportório levava? Cantava mais música tradicional portuguesa. Cantei para a emigração mas também para públicos locais. Fiz por exemplo um espectáculo na City Hall em Toronto e cantei para tudo quanto era gente. E isto para lhe dizer que a música deume tudo de bom. Desde a oportunidade de viajar muito, muito, muito até conhecer pessoas fantásticas. Porque eu fui sempre bem recebida, tanto lá fora como cá, e não me posso queixar. Para quem veio de Beja com 16 anos para o Barreiro já imaginava toda esta vida? Tenho uma prima que cantava no Centro de Preparação de Artistas de Rádio e uma vez por mês dava o programa em directo do estúdio e eu ouvia-a cantar. Como já gostava de cantar, aquilo entusiasmava-me muito. Por outro lado, na família da parte do meu pai, todos eles eram ligados à música e isso passou a ser um sonho meu desde muito criança. Quais são as primeiras memórias ligadas à música? Tínhamos um amigo da família que gostava muito de brincar comigo. Eu era muito pequenina, devia ter uns 4-5 anos e ele fazia-me uma maldade: sabia que eu gostava imenso de cantar e dizia-me que me dava uma moeda se eu cantasse debaixo da mesa, era um sádico. Eu respondia-lhe que só ia se me desse uma moeda branca, porque as pretas não valiam nada. E lá ia para debaixo da mesa cantar e ele muito sádico a gozar o pratinho. Portanto isto vem mesmo desde miúda. Eu estive no Barreiro 15 dias. Tinha um tio-avô que era chefe dos caminhos - de - ferro do Barreiro. E
foi uma boa oportunidade ir ali a casa do meu tio porque era muito fácil vir a Lisboa bater às portas. Como se entrava no mundo artístico? Nessa altura os cantores tinham professores de canto e eu comecei por aí. Perguntei onde podia encontrar uma professora de canto. E indicaramme Corina Freire, também uma grande actriz. E eu fui. Curiosamente era onde ia a maioria dos cantores da época. Ali fiz conhecimentos e consegui saber imensas coisas: podia concorrer aqui e ali. Por exemplo fui a um concurso para a exEmissora Nacional, com mais 40 cantores e fiquei eu; fui a concurso à RTP, teria os meus 16-17 anos e também fiquei… portanto isto é uma coisa que vem das entranhas. Não havia como calar esta vontade… Não, nem alguma vez pensei em O que se está a ser outra coisa. Eu tal como a perpassar comigo agora sonagem Tiana só queria cantigas, é algo diferente de queria cantar. Se um dia ia ou não tudo o que já fiz (…) ser popular, não pensava nisso. nunca estive no E o início da minha carreira foi teatro. E é muito muito interessante, porque cointeressante, faz-me nheci muita gente que queria trabalhar com a seguir o mesmo caminho, dávacabeça, com o físico. mo-nos todos muito bem, era E veio numa hora tudo muito descontraído, ninmuito boa…. guém naquela altura pensava em concorrência. Respeitávamos muito quem já cá estava e que já tinha grandes carreiras. E para nós era o deixa andar, calmamente, foi muito descontraído. O que a terá ajudado a ter um percurso feliz… Sim e há coisas que me fazem fugir: o drama, as pessoas negativas. Sou uma pessoa que tem tido problemas, como toda a gente, mas sou muito positiva, tenho muita força. Há coisas que nos puxam para baixo e eu puxo muito para cima. Começou pela música ligeira depois enveredou pelo lado etnográfico… Por influência do meu marido. Ele fazia recolhas, foi um etnógrafo muitíssimo bom que já estava a trabalhar muito antes de me conhecer, já estava ligado a um grupo de Almeirim, viajava e era um estudioso dessas matérias, quer aqui, quer lá fora. Um dia disse-me se eu não queria cantar uma cantiga do Cancioneiro e eu respondi-lhe que não; acho que não sou capaz. Mas ele insistiu. E
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…A música deu-me tudo de bom. Desde a oportunidade de viajar muito, muito, até conhecer pessoas fantásticas.
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tanto insistiu que experimentei e achei que tinha jeito. E foi a partir daí. Sempre, sempre com o apoio e o aconselhamento dele. Aliás, nessa área e noutros estilos de música. Nos estúdios, na própria RTP, era ele que dirigia todo o meu trabalho. Lembra-se das primeiras músicas tradicionais que cantou? Vira dos Malmequeres, Resineiro… foram todas mais ou menos gravadas nos anos 70. Comecei e vendia milhares de discos. As pessoas gostaram muito de me ouvir cantar esse estilo, tive imensa sorte. Às tantas, fazia o trabalho de estrada que todos os artistas fazem e cantava metade, metade: o estilo que sempre gostei de cantar, a canção com poesia, mais elaborada e depois cantava músicas do Cancioneiro Popular. Eram dois públicos diferentes? Creio que sim. A música do Cancioneiro era muito mais abrangente. Naturalmente que eu ia a um espectáculo popular e aquilo era uma festa! As pessoas cantavam todas as músicas. Milhares 22
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de pessoas a cantar é uma coisa absolutamente fantástica. É a melhor prenda para o artista, é de tudo quanto há de melhor: o público e o espectáculo em directo. E agora vai tê-lo, no Trindade e na digressão… Vai ser muito interessante. Vai ter músicas do Cancioneiro. Canto uma Vareira da Beira Litoral, é uma música que eu divulguei. Achámos que seria bom colocar ali uma peça daquela zona porque tem a ver com umas personagens que ali estão. E é muito alegre. É uma peça pura, autêntica. E a partir de agora ganha a música ou o teatro? Não sei porque nunca fui para cima de um palco representar… Agora há a responsabilidade de fazer o que nunca fiz, que é representar; e a de cantar, porque há um ano e tal que não canto. Isto tem sido um ir trabalhando, não é uma coisa que se faça de um dia para o outro. Isto abana, pica. E aí está outra vez a Tonicha nos palcos… Aí estou eu outra vez. n Manuela Garcia (texto) José Frade (fotos)
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Marraquexe À sombra do Atlas É uma das quatro cidades imperiais de Marrocos, a mais meridional. O deserto fica ainda mais para sul, do outro lado do Atlas, mas Marraquexe já acolheu caravanas que vinham do Níger e do Mali. A segunda maior cidade marroquina tem uma face moderna, mas também uma herança que a mantém ligada às montanhas vizinhas.
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Viagens
lmorávidas, Almóadas, Merínidas, Saadianos e Alauítas sucederem-se no domínio da maior cidade marroquina do sul. Marraquexe foi fundada por um guerreiro da primeira dessas dinastias, Youssef Ben Tachfine, que alargou a sua soberania até terras andaluzas, mantendo Fez como sede do poder. Foi Ali Ben Youssef, o sucessor, que transformou Marraquexe em capital imperial privilegiada. O primeiro grande circuito de muralhas, a edificação de palácios e mesquitas, a par de um extraordinário desenvolvimento das artes decorativas, marcaram esse período. A dinastia seguinte, pela mão do seu terceiro sultão, Yacoub el Mansour, inaugurou a que seria a época de ouro de Marraquexe, o tempo que foi o da edificação da Koutoubia, a
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torre gémea da Giralda de Sevilha e um dos símbolos da actual Marraquexe. Depois dos Merínidas, que reinaram um século, vieram os Saadianos e Marraquexe fez-se sede de um vasto império que se estendia desde a costa atlântica até Tombuctu. Ahmed el Mansour, um dos monarcas responsáveis pela derrota lusitana em Alcácer-Quibir, foi o obreiro principal da empresa que deu a Marraquexe o controlo das rotas das caravanas africanas até ao Mali e ao Império do Songai, com os seus comércios de ouro, marfim e escravos. Os quase mil anos de Marraquexe sedimentaram todas essas heranças.
Uma praça feérica Como em qualquer outra cidade marroquina, os souks e a medina são pontos irresistíveis para os 26
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passos do viajante. Os mercados estão, como sempre, mergulhados em muitos quefazeres e a organização da Medina espelha lógicas medievas de compartimentação profissional, transformando as deambulações pelo labirinto da Medina numa sucessão de surpresas. Mercadorias e trabalho repartem-se por cantões especializados: ora se revelam os odores dos souks das especiarias, ora somos surpreendidos pelo ribombar dos martelos dos ferreiros, no souk Haddadin, ora pela cantilena das serras dos carpinteiros. No souk Cherratin, o odor dos couros faz-nos hesitar em seguir em frente... Os preços, esses, são regateados sempre com um razoável grau de incerteza. Escrevia Canetti em “As vozes de Marraquexe”: “... o preço dito de início é a ponta de um enigma. Ninguém o sabe de antemão, incluindo o próprio comerciante, pois que para cada caso há um preço diferente”… Há, claro, o mais ou menos convencional roteiro monumental: o Palácio da Bahia, os Túmulos Saadianos, o Palácio Dar Si Said, que acolhe o Museu das Artes Marroquinas (e uma admirável colecção de tapetes e jóias do Alto Atlas), a Madraça Ben Youssef (uma escola corânica quinhentista), as ruínas do Palácio El-Badi (famoso pelos mármores de Itália e materiais preciosos da Índia e construído com as indemnizações de guerra de Alcácer-Quibir), os jardins Majorelle e de Menara, a cintura de muralhas de pedra rosada que a luz do crepúsculo faz parecer acabadinha de sair de um desenho infantil. Dos quarteirões modernos, “ocidentalizados”, de Guéliz ou Hivernage, pouco ou nada se dirá: provam o convívio de Marraquexe com temporalidades diversas. É na Praça Djemaa-el-Fna que pulsa uma certa herança de Marraquexe, quiçá a mais singular e aquela que liga a cidade ao Atlas – e, sobretudo, aos tempos pré-modernos. A animação da mais famosa ágora marroquina ganha fôlego com o cair da noite, quando começa a fumarada dos grelhados dos restaurantes ao ar livre. Um ambiente feérico, para abreviar adjectivos. A malta acomoda-se, noite dentro, em pequenos ajuntamentos à volta das atracções: contadores de histórias com ar de profetas, músicos berberes com os seus tambores e cornetas, dentistas e curandeiros mais as suas mezinhas e ervas e antídotos, encantadores de serpentes e as suas flautas e ofídeos, videntes e astrólogos, acro-
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batas e comediantes, aguadeiros e uns quantos ratoneiros simpáticos.
Herança berbere: teoria e prática Mais do que árabe, o coração de Marraquexe é berbere. A cidade foi, largamente, um lugar de encontro e de cruzamento privilegiado de gente do Atlas, de nómadas do Sara, de antigos escravos que fizeram a travessia do grande deserto. Como muitas outras cidades, Marraquexe tem o seu quinhão de mestiçagem, ou de mestiçagens -
Viagens INATEL A Direcção de turismo da Fundação INATEL tem dois programas de viagem para Marraquexe, na passagem de ano, de 30 de Dezembro a 3 de Janeiro (partidas de Lisboa, Porto e Faro), e no Carnaval, entre 5 e 8/3 de 2011, com partidas de Lisboa. Mais informações nas agências Inatel e em www.inatel.pt
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culturais, arquitectónicas, etc. O período colonial francês deixou traços no urbanismo, em certas rotinas sociais, em muitos aspectos da cultura urbana e na arquitectura, que se mesclaram com referências árabes. Mas a herança berbere, diz-se e escreve-se, permanece transversal a várias dimensões da identidade de Marraquexe. À sombra do Atlas, portanto. A cadeia montanhosa que começa lá no norte, no Riff, perto do Mediterrâneo, e corre quase até ao deserto completa o cenário, mas é, obviamente, apenas um fragmento do cenário. A cidade é bem mais do que essa imagem de postal que pinta os picos nevados como tela de fundo de palmeiras e de muralhas rosadas. Mas o Atlas é, ainda a fonte de onde brotam os contadores de histórias, os acrobatas, os músicos da praça Djemaa-el-Fna. Sem a montanha Marraquexe não seria o que é: a cidade que vive à sombra do Atlas. Não disse Paul Bowles, um dia, que sem a praça Djemaa-el-Fna Marraquexe seria apenas mais uma cidade marroquina, sem nada de especial que a evidenciasse entre as demais? n Humberto Lopes (texto e fotos)
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Belém Natal na Palestina
A margem ocidental do Jordão acolhe uma infinidade de lugares ligados a narrativas do Velho e do Novo Testamento. Belém é o mais visitado, sobretudo pela sua condição de local de nascimento de Jesus de Nazaré. Espaço multicultural e multirreligioso, a cidade acolhe todos os anos as mais famosas celebrações de Natal. DEZ 2010 |
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Rua de Belém, Igreja da Gruta do Leite, Mesquita de Omar e Igreja da Natividade
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e Jericó, situada a umas dezenas de quilómetros na direcção da fronteira da Jordânia, é considerada a cidade mais antiga do mundo, Belém é uma das comunidades cristãs mais vetustas do planeta. A cidade onde se supõe ter nascido Jesus de Nazaré conserva, ainda, muitos outros pergaminhos, já que aí coexistem espaços simbólicos para as três grandes religiões monoteístas que nasceram no Médio Oriente. O túmulo de Raquel, um local sagrado para o Judaísmo, encontra-se perto de uma das entradas da cidade, que foi também lugar de nascimento do rei David. Pela cidade terá passado, ainda, o profeta Maomé, que ali se deteve em oração. Os indícios mais antigos de um assentamento urbano datam de 3000 a.C., tendo sido o local habitado e disputado por Cananeus e Filisteus. Com a chegada do Islão, através do califado de Omar, a antiga Efrata, designação com que Belém surge mencionada nos textos bíblicos, não deixou de ser cristã, pelo menos parcialmente, embora na actualidade a maioria da população seja muçulmana. A comunidade cristã, que reúne hoje cerca de vinte mil habitantes, manteve sempre os seus templos e cultos ao longo dos vários períodos da sua história, com períodos de maior ou menor tolerância, à excepção do tempo em que esteve sob o domínio dos Mamelucos. Pouco depois do ano 1000, os Cruzados conquistaram a cidade, mas foram expulsos logo a seguir
pelo sultão Saladino. A cidade, localizada no deserto da Judeia, é administrada actualmente pela Autoridade Palestiniana, na sequência dos acordos de Oslo de 1995, mas o controlo das suas entradas e dos territórios circundantes continua a ser feito pelo exército israelita desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Um graffiti pintado no muro construído por Israel para isolar os colonatos judeus na Palestina, perto do checkpoint da estrada para Jerusalém, é exemplar na representação da situação actual da Cisjordânia e, particularmente, de Belém. É uma árvore de Natal cercada por um muro alto – o muro que deixou do outro lado o túmulo de Raquel e que é bem mais do que a expressão de uma violência simbólica, nessa separação que faz de territórios e lugares sagrados de diferentes comunidades religiosas. Mas, como sustenta Elias, um árabe cristão que tem uma loja nas imediações e que é descendente dos refugiados palestinianos que acudiram a Belém em 1948 (quando do conflito que eclodiu com a criação do Estado de Israel, na sequência do fim do mandato britânico), “o problema não é a religião”. As questões políticas que atravancam o processo de paz têm muitos outros e mais fortes componentes, numa terra onde os templos cristãos sobreviveram a sucessivas e diferentes soberanias. A igreja da Natividade é vizinha da mesquita de Omar, ambas na Praça da Manjedoura, lembra Elias.
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O comerciante aponta para um calendário com uma imagem da Virgem com o Menino. “Vocês, Portugal, França, Itália, Espanha... todos latinos. Como a minha família, aqui na Palestina. Podes ir a Hebron, onde quiseres, ninguém te faz mal. Aqui entre nós os muros não têm a altura daquele ali em baixo”. Será que Elias se lembra de quando a igreja da Natividade foi salva da destruição graças à população muçulmana local, que se insurgiu, em 1009, contra um édito do califa Hakim?
A igreja e a gruta da Natividade Belém ou Nazaré? A investigação histórica sobre o local de nascimento de Cristo enfrenta algumas contradições que os textos sagrados – e as suas interpretações – tentaram ultrapassar. Como sublinha Ambrogio Donini na sua “História do Cristianismo”, obra de referência na literatura não confessional sobre o assunto, “Nazoreu” (ou “Nazareno”) não teria relação com Nazaré e referir-se-ia, muito provavelmente, à qualidade de “santo”, ou “puro”, uma vez que “a tradição cristã dos primeiros séculos tem conhecimento de um grupo de nazoreus, que se conservou por muitos séculos, fazendo referências a Jesus, ‘que honram como um homem justo’”. A indicação de Nazaré como lugar de origem de Cristo opõe-se, como assinala também Donini, a uma outra tradição que atribuía ao Messias uma descendência da linhagem de David e o nascimento em Belém,
versão “que depois prevaleceu, enriquecida com toda uma série de pormenores lendários”. A especificação do lugar de nascimento (dada pelos evangelhos de S. Lucas e de S. Mateus) surge após o consulado de Constantino, quando as autoridades eclesiásticas procuraram sistematizar a topografia da Palestina. Segundo S. Jerónimo, que viveu em Belém e que Donini cita como fonte desta informação, por volta do ano 400 foi descoberta a “gruta da natividade”, justamente “no local em que, havia séculos, tinha sido edificado um pequeno templo a Adónis (ou Tammuz), o ‘salvador’ dos cultos de mistério orientais. Dioniso, Hermes, Horo, Zeus e, sobretudo, Mitra, tinham nascido também numa gruta”. A primitiva igreja da Natividade, localizada num dos extremos da Praça da Manjedoura, foi construída no séc. IV, sobre a gruta, por ordem do imperador Constantino, e substituída por outro templo maior, já no séc. VI, que é, hoje, o mais importante foco de peregrinação cristã em Belém. De feição bizantina, a basílica ortodoxa mantém intacta a nave central, com algumas intervenções
Um árabe cristão
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Centro da Paz e Museu Arqueológico e, ao lado, pormenor de um mercado
posteriores (séc. XV e XIX) nos tectos. Muitas das colunas têm gravadas inscrições dos Cruzados e a maior parte fazia parte da igreja primitiva do tempo de Constantino. A igreja conserva, também, mosaicos do início do séc. XII. O acesso à gruta faz-se por uma escada numa zona lateral do altar. Lá dentro estão assinalados o lugar exacto onde Cristo terá nascido e, também, o sítio onde foi depositada a manjedoura. Sobre a estrela que assinala o sítio do nascimento pendem quinze lamparinas, seis gregas, cinco arménias e quatro católicas. A gruta da Natividade é um dos espaços principais das celebrações natalícias cristãs.
Uma noite branca As celebrações de Natal constituem, naturalmente, o momento mais importante das celebrações religiosas cristãs em Belém, motivando, portanto, um maior afluxo de peregrinos, estrangeiros e, sobretudo, da comunidade cristã da Cisjordânia. Nos últimos anos, a Autoridade Palestiniana tem apostado na criação de condições para incrementar o turismo religioso na cidade, uma das principais fontes de rendimento da autarquia.
Informações úteis Centro de Informação Cristã de Jerusalém: (Christian Information Centre), Praça Omar Ibn el Khattab, Jaffa Gate, POB 14308, Jerusalem 91142 e-mail: cicinfo@cicts.org; Telef: 02 627-2692; Fax: 02 628-6417. Posto de Turismo de Belém: Praça da Manjedoura, telef. 972 2 274 1322/3/4; Fax: 972 2 274 1327; e-mail: info@bethlehem-city.org. Na internet: http://www.bethlehem-city.org/
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As comemorações assumem diferentes colorações, de acordo com as várias igrejas em que se expressa o cristianismo: católica, protestante, ortodoxa, etc., com múltiplas procissões e liturgias. As principais celebrações protestantes realizam-se no Campo dos Pastores, mas a grande maioria das procissões ocupa a Praça da Manjedoura. Os serviços religiosos católicos realizam-se na igreja de Santa Catarina, um templo fransciscano edificado no século XV que incorporou elementos de uma capela do tempo das Cruzadas. Com poucas variações, as celebrações católicas iniciam-se normalmente no dia 24 de Dezembro com uma recepção do Patriarca Latino de Jerusalém no túmulo de Raquel e na igreja de Santa Catarina. Durante a tarde há uma procissão entre Santa Catarina e a Gruta da Natividade. A igreja de Santa Catarina abre as portas aos peregrinos por volta das 22h00 (é necessário obter previamente senhas de entrada). À meia noite realiza-se a Missa do Galo, que tem contado com a presença de altos dirigentes da Autoridade Palestiniana, como Mahmoud Abbas ou Yasser Arafat, e na Gruta da Natividade inicia-se um ciclo de missas que se prolonga madrugada dentro, até quase ao amanhecer. Por volta das duas da manhã há outra procissão de Santa Catarina para a Gruta. No manhã do dia segue-se uma missa solene na igreja de Santa Catarina e durante a tarde tem lugar uma peregrinação até ao Campo dos Pastores. Elias, o comerciante árabe da rua que desce para o muro, vai estar lá, como sempre acontece todos os anos. n Humberto Lopes (texto e fotos)
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A inspiração duriense de Mestre Fandino Alexandre Fandino, um artista que se inspira nas terras durienses para criar peças criativas e originais com o barro vermelho, tem este mês algumas das suas obras expostas no Hotel Lamego com trabalho ao vivo. A arte deste mestre de olaria figurativa seduz quem aprecia a beleza e a cultura do Douro.
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minha natureza é muito caprichosa, e superficial: para ter cores, estilo, ideias, preciso de um meio que me sacuda, que me excite, que me espiritualize.” Esta frase pertence a Guerra Junqueiro, um dos grandes escritores portugueses inspirados pelo Douro. O rio, as paisagens, as serras fazem parte da identidade das terras durienses que muitos outros autores, tais como Aquilino Ribeiro, Eça de Queiroz, Miguel Torga imortalizaram nas suas obras. A beleza da geografia convida a criar arte. Seja por palavras, pinturas ou figuras. Alexandre Fandino, mestre em olaria figurativa, em Lamego, molda com as suas mãos obras que nos dão um sentido de pertença. Nas suas peças está representada a nossa cultura vitivinícola nas situações mais inusitadas. Imagine a Sagrada Família a
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Casal Presidencial aprecia as peças de Mestre Fandino
navegar numa embarcação do Douro ou um presépio, encimado por S. Francisco de Assis, onde o Deus Menino, ao invés de estar em palhas deitado, tem a leveza macia das parras da videira. Muita parra e pouca uva é um ditado que não se aplica à obra suculenta do mestre Fandino. O oleiro garante que com o barro tenta fazer tudo “até onde possa desafiar a imaginação”. A arte sacra tem um lugar de excelência na sua obra. Explica que esta opção se relaciona com a fé que as pessoas, em geral, buscam: “A arte religiosa tem uma presença ímpar na região onde vivo e trabalho.” Em cada peça integra os elementos do Douro, que são já a sua imagem de marca: “Quero que todas as minhas obras tenham uma ‘impressão digital’ comum e sejam reconhecidas, e, por isso mesmo, nada melhor que integrar os símbolos da minha região”, afirma com orgulho. Talvez por isso a peça que mais gostou de criar foi a fuga do Egipto para o Douro, porque “o Douro é acolhedor para com os forasteiros”. Nas terras durienses há lugares e paisagens que ajudam a estimular a criatividade. “O Douro, majestoso e imponente, está sempre nas minhas criações”, acentua o artista. Para Alexandre Fandino, o barro vermelho é um prolongamento de si próprio que o ajuda a pensar e a criar as suas obras inspiradas numa das zonas mais belas de Portugal. “O barro faz parte de mim… e com ele pretendo actuar continuadamente, numa perspectiva cultural, criativa e inovadora”. Das suas mãos já saíram centenas de obras, que pertencem a várias entidades públicas e privadas, quer no nosso país quer no estrangeiro. Maria Cavaco Silva, o prémio Nobel da Paz, D. Ximenes Belo, o maestro Vitorino de Almeida e Mariza são algumas das muitas figuras públicas que adquiriram as suas peças. Este Natal, mestre Fandino vai continuar a trabalhar nos presépios e promete novidades: “Variedades incontornáveis do Menino do Douro, enfeites de Natal para as decorações de árvores, entre outras.” Para coleccionadores está a preparar algumas novidades como a Rainha Santa Isabel do Douro, Nossa Senhora do Ó do Douro, Santa Teresinha do Douro, Pietà do Douro, São Francisco de Assis do Douro, “sem esquecer uma grande variedade de Cristos, as cruzes alusivas ao Douro e os Caretos de Lazarim”. É curioso observar na sua obra os rostos indeDEZ 2010 |
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Artesanato
finidos. Quem adquire uma das suas peças tem de fazer o trabalho de imaginar as expressões pertencentes a cada uma das figuras: “Deixo ao critério de cada pessoa apreciar a obra e a idealização de cada rosto”, explica. Não raras vezes, Alexandre Fandino trabalha ao vivo. O reboliço à sua volta, quando está numa rua movimentada enquanto os transeuntes olham curiosos, enche o mestre de regozijo por ter a oportunidade de mostrar a sua arte. “Quando trabalho na rua, o que acontece quando participo em feiras de artesanato, as pessoas observam como nasce uma peça de barro do nada. Gosto de ver a satisfação das pessoas ao presenciarem o meu trabalho”, confessa. Mas a maioria das peças é produzida na intimidade do seu pequeno, mas acolhedor ateliê. É ali que acontece o milagre de quem cria e vê a sua obra nascer depois de um trabalho minucioso que «aspira a seduzir quem a vê». Depois, tal como acontece com os filhos, as suas obras ganham asas e partem para outros lugares para ver mundo e deixam de lhe pertencer. Razão tinha o artista norte-americano John Baldessari quando dizia que “a arte é a melhor forma de perceber o mundo”. n Sílvia Júlio (texto) Nany Cabral (fotos) 38
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De Angola a Lamego… Alexandre Rodriges M. Lopes Fandino nasceu em Angola, em 1959, mas é lamacense de alma e coração. O gosto pelo barro nasceu muito cedo na escola. Em 1998, obteve o primeiro lugar ex-aequo no XIII Concurso de Presépios realizado pela Associação de Artesãos de Lisboa. Dez anos depois recebeu o Prémio Anim’Arte 2008 Produção Artística Escultura. A arte sacra tem primazia na sua obra, mas também faz figuras típicas regionais, como Caretos. Dele se diz que é ícone da olaria figurativa e mestre da escultura. É habitualmente convidado para ir a escolas transmitir os seus conhecimentos aos mais novos e despertar neles a mesma paixão pela arte do barro. Este mês, os trabalhos estão expostos no Hotel Lamego com trabalho ao vivo. A partir do dia 13, as suas obras poderão ser vistas no Posto de Turismo de Braga.
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Memória
METRO Mais Estrelas que no Céu Mais estrelas que no céu, eis o slogan adoptado pelos estúdios da Metro, a tal que tinha como mascote um leão a rugir no écran. Já lá vai o tempo em que um filme valia ou era sucesso pelo nome das estrelas que o protagonizavam. E o grande culpado daquilo a que se chamou de «Star System» foi um homem chamado Louis B. Mayer, o patrão da Metro Goldwyn Pictures, nascida em 1924.
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fábrica de sonhos criada por este americano confundia-se com o pequeno bairro chamado Hollywood (madeira de azevinho) que muitos transformaram em meca do cinema. Fábrica de sonhos de onde sairiam nomes famosos como Mickey Rooney, Deborah Kerr, Elizabeth Taylor, Spencer Tracy, Clark Gable ou Gene Kelly. E, claro, a maior de todas, Greta Gustafson, rapidamente transformada em Greta Garbo. Dos estúdios da Metro saíram, durante anos, os melhores musicais e filmes tipicamente americanos, género «o rapaz bonzinho que se apaixona pela rapariga mais bonita do lugar». Talvez por isso e pelo sucesso das suas fitas, os críticos de serviço não gostavam da Metro. Mas a razão estava do lado de Mayer e de, por exemplo, o realizador Vincente Minnelli que disse um dia: «o objectivo do cinema é acrescentar um pouco de magia às nossas vidas».
Ir ao cinema ver as estrelas Quando hoje vemos o êxito de revistas cor de rosa que alimentam os leitores com segredos e mentiras, tricas e inventonas das vedetas do nosso triste a apagado mundo artístico, não nos espanta que os estúdios de cinema como a Metro inventassem paixões assolapadas, traições e amores para sempre, bodas e divórcios, enfim, uma vida de mentira, superficial mas sempre fascinante, de molde a manter o público cinéfilo atento ao que se passava naquele reino de 42
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fantasia chamado Hollywood- Era preciso alimentar a curiosidade dos cinéfilos. Ontem e hoje tudo no melhor dos mundos. Na Metro nada era deixado ao acaso. O «dono» dos estúdios era, ao mesmo tempo, «dono» das vedetas. Era ele que dizia que as divas, as estrelas não nascem estrelas. Constroem-se, fabricam-se como foi, por exemplo, o caso de Greta Garbo. Louis B. Mayer conheceu Greta na Europa e ficou logo apaixonado por aquele rosto fascinante. Aconselhou-a a perder peso e em pouco tempo aquela sueca angulosa transformou-se na diva mais famosa de Hollywood. Mulheres e homens que tentavam entrar no mundo maravilhoso do cinema passavam pelo crivo de Mayer e, se tinham um palminho de cara, um corpo curvilíneo, um físico atlético, eram aceites e logo sujeitos a uma espécie de lavagem ao cérebro que os ligavam, anos a fio, aos grandes estúdios da Metro.
Uma cidade do glamour Estrelas «fabricadas» na Metro fazem hoje parte da grande história do cinema. Clark Gable, Ava Gardner, Jean Harlow, Heddy Lamarr, Joan Crawford, Robert Taylor, Esther Williams, Elizabeth Taylor, John Wayne,Spencer Tracy, entre muitos outros, foram presença quase diária na cidade construida por Louis B. Mayer, 195 edificios, entre escritó-
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Ava Gardner, considerada “o mais belo animal do mundo” foi estrela da Metro. Em baixo, Greta Garbo, a “Marie Waleska” de Charles Boyer
Elizabeth Taylor, a mais mimada estrela do patrão da Metro. Em baixo, Lana Turner, vedeta “encontrada” num bar e logo transformada em estrela
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Memória
rios, oficinas , comissariado, laboratórios, estúdios e um sem número de departamentos onde tudo trabalhava para o êxito dos filmes. Os seus estúdios eram os maiores do mundo com cenários permanentes e pessoal que mantinha a cidade, noite e dia, pronta para o que fosse preciso. Telefonistas, seguranças, motoristas, costureiras, carpinteiros, floristas, sapateiros, milhares de homens e mulheres a trabalharem para a fábrica de sonhos que tornou famoso o nome de Hollywood. Conta-se que foi a Metro, ou melhor Louis B. Mayer, a escolher o primeiro namorado de Elizabeth Taylor, tinha ela 16 anos. Era um jovem herdeiro do proprietário da cadeia de hotéis Hilton e a participação da produtora foi tão longe que os noivos casaram numa festa deslumbrante seguida de luade-mel na Europa, tudo a expensas da Metro. O vestido de Liz Taylor levou dois meses de trabalho, ocupou quinze costureiras, era de cetim branco bordado a pérolas e vidrilhos, com cauda de 13 metros de cetim e véu de tule de seda. Como a Metro não deixava nada ao acaso, lançou ao mesmo tempo um filme chamado «O Pai da Noiva».
Milhares de dólares nos cofres da Metro Cada filme que saía dos estúdios era um risco para os patrões da Metro mas os milhares de dólares que entravam, logo a seguir à estreia, eram um estímulo para mais e maiores fortunas gastas na produção de filmes grandiosos como por exemplo «Ben-Hur», «Uma Noite na Ópera» ou «O Feiticeiro de Oz». E, na rectaguarda, sempre o patrão Louis B. Mayer que zelava por aquilo a que se convencionou chamar de «estilo MGM»: «grandes planos suaves, as rugas das damas habilmente dissimuladas pela maquilhagem, penteados refulgentes, sorrisos lânguidos, dentes muito brancos», como escreveu um crítico inglês Paul Mayersberg. A constelação de estrelas de que já falámos atrás continuava a aumentar. E tanto podia ser uma actriz ou actor vindos do teatro como uma vedetinha descoberta num bar como foi o caso da loiríssima Lana Turner. Antes de se transformarem em estrelas os actores e actrizes recebiam lições de interpretação, de dança, de esgrima, de equitação. O estúdio tratava de tudo, da vida profissional, da publicidade, das festas onde deviam ir, como deviam vestir-se e até resolver algum escândalo em que se tivessem metido. O rugir do leão acompanhava a frase «Art Gratia Artis» (a arte pela arte). O leão rugia desde 1924 e rugiu por muitos e bons anos, «acrescentando um pouco de magia às nossas vidas». Que mais havíamos de querer? n Maria João Duarte 44
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As telefonistas atendiam mais de 250 mil chamadas por mês enquanto mais de 70 oficiais e seguranças patrulhavam a cidade da Metro. Ao lado, o departamento de sapataria e, em baixo, as oficinas onde se costurava tudo o que era pedido dos estúdios
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Olho Vivo
Comer de estufa
Bifes de Neandertal
Cada espanhol contribui com duas toneladas de CO2 por ano, para o efeito de estufa, só pelo simples facto de comer. Um estudo da Universidade de Almeria confirma ainda que os excrementos humanos contribuem para a poluição da água, especialmente em azoto e fósforo, fornecendo nutrientes para o crescimento de algas e uma diminuição dos níveis de oxigénio nos oceanos. Cada espanhol comeu em média 881 quilos de alimentos durante o ano de 2005, mas a agricultura e a criação de gado, mais do que a digestão de tortilhas e melocotones, são responsáveis pelas emissões de CO2 estudadas.
Os primeiros humanos caçaram e comeram homens de Neandertal, há 28 ou 30 mil anos. Em Les Rois, no sudoeste de França, arqueólogos encontraram restos cuidadosamente descarnados de uma criança neandertal e ossos com marcas de instrumentos de corte usados pela cultura local de Homo Sapiens. Esta é a primeira prova biológica da coexistência (pouco pacífica) daqueles hominídeos e do homem moderno.
Tetris faz bem ao cérebro Exames ao cérebro por ressonância magnética mostraram que 26 raparigas que jogaram Tetris meia hora por dia durante três meses viram a sua matéria cinzenta aumentada, em certas áreas do cérebro, ao contrário das colegas de um grupo de controlo que não jogaram no computador. O estudo foi publicado pela revista BMC Research Notes e foi feito por uma equipa de cientistas de Albuquerque, no Novo México.
Apaga a luz e emagrece Ratos de laboratório expostos a uma luz ténue durante a noite ao longo de oito semanas ganharam mais peso, 50% mais, do que outros ratinhos sujeitos a um regime normal de luz do dia e escuro de noite. Investigadores da Universidade Estadual do Ohio, EUA, verificaram este efeito da luz no metabolismo. A luz durante a noite levava os animais a comer fora de horas. Não comiam mais do que os colegas, mas, ao fim da experiência, os ratos com luz de noite estavam mais gordos 12 gramas, contra oito dos que puderam dormir às escuras. 46
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Mal empregados Mais vale desempregado que mal empregado, diz um estudo da Universidade Nacional Australiana, publicado na revista de saúde pública BMC. Já se sabia que um mau emprego faz qualquer um infeliz, mas agora provou-se que isso é pior para a saúde mental do que estar desempregado. Os cientistas definiram mau emprego como um posto precário, com uma carga de trabalho irrealista e sem perspectivas de futuro. O estudo incidiu sobre 4 mil moradores de Camberra e demorou quatro anos.
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A n t ó n i o C o s t a S a n t o s ( t ex t o s ) A n d r é L e t r i a ( i l u s t r a ç õ e s )
Há um macaco novo Uma equipa internacional de primatólogos descobriu uma nova espécie de macaco no norte da Birmânia e chamou-lhe Rhinopithecus Strykeri. Os habitantes dos contrafortes do Himalaia, porém, chamam-lhe nwoah mey, que significa “cara metida para dentro”. Não é um macaco bonito, portanto, mas tem pêlo negro, com tufos brancos nas orelhas, no queixo e na base da cauda que é bastante longa. O rosto é que estraga tudo, côncavo e sem nariz. Por isto também, o macaco é fácil de capturar quando chove, porque se senta com a cabeça entre as pernas para não criar uma poça de água na cara.
Beba sumo de nabo Uma dose diária de sumo de nabo aumenta o fluxo sanguíneo no cérebro dos idosos e é um potencial adversário da demência senil, segundo mostrou uma experiência da Universidade de Wake Forest, dos Estados Unidos. Já se sabia que o nabo reduz a tensão arterial, mas agora provou-se que aumenta o volume de sangue no cérebro, com a sua alta concentração em nitratos. E o processo é rápido. Os cientistas deram o sumo durante quatro dias a 14 idosos e verificaram que o fluxo de sangue nos lóbulos frontais (áreas cuja degenerescência conduz à demência e outras doenças cognitivas) aumenta imediatamente. Resta agora criar uma bebida de nabo que não seja desagradável ao paladar.
O dedo primeiro Investigadores da Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos descobriram que o cérebro usa dois sistemas diferentes para detectar erros. O estudo publicado na Science envolveu 22 experientes dactilógrafos e revelou que as mãos sabem quando se cometeu um erro, antes de o cérebro ter consciência disso. Sempre que cometiam um erro, a velocidade do dedo abrandava instantaneamente, antes de o cérebro dar ordem de correcção. Os cientistas pensam que este sistema de detecção de erros também ocorre, por exemplo, nos instrumentistas musicais.
Paladar nos pulmões Cientistas da Universidade de Maryland descobriram nos pulmões receptores para sabores amargos como existem na língua. Esta descoberta poderá transformar, por exemplo, os tratamentos da asma. Estimulando os receptores em pulmões de ratinhos com asma, os investigadores conseguiram diminuir a obstrução das vias aéreas dos roedores. A experiência surpreendeu os médicos que julgavam que as substâncias amargas apertavam as vias respiratórias, em vez de as distender.
O futuro dos abusos Um estudo australiano publicado em Novembro nos Anais de Psiquiatria Geral sugere que as crianças que são abusadas sexualmente têm um risco maior de desenvolverem uma esquizofrenia em adultas. Estudos prévios ligavam já os abusos na infância à depressão, toxicodependência e comportamentos suicidas. O mecanismo de causa-efeito, contudo, ainda não está esclarecido, dizem os médicos da Universidade Monash, de Victória, na Austrália, que analisaram os casos de 2759 pessoas abusadas em crianças.
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A Casa na árvore Susana Neves
Rainha com pés de elefante Alta, elegante, perigosa, a faia é uma árvore dominadora que gosta de jacintos, livros e tamancos.
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uma canção popular da Beira Baixa, um apaixonado chama “Maria Faia” a uma mulher cujo nome na realidade desconhece: “Eu não sei como te chamas/ Oh Maria Faia/ Nem que nome te hei de eu pôr/ Oh Maria Faia oh Faia Maria/ Cravo não que tu és rosa/ Oh Maria Faia/ Rosa não que tu és flor...” Imortalizada pela voz de Zeca Afonso, a letra desta canção de amor elogia a beleza feminina, opondo-se por isso à conotação pejorativa que a palavra “faia”, por vezes, adquire quando se diz de um homem é “um faia”, no sentido de ser “janota”, “peralta” e “boémio fadista”. Estes significados da palavra “faia”, comummente usada para designar aquela que é a “Rainha do Bosque” (“Fagus Sylvatica L.”), árvore consorte do carvalho, revelam a forma pela
qual aparece no imaginário popular português: elegante e bem vestida, para contemplar mas não para comer. E no entanto, o fruto da faia (glande), muito saboroso apesar da toxicidade e adstringência da casca, é um dos mais cobiçados por várias espécies de pássaros, ratos, veados e porcos. Frutificando de forma irregular, nos anos em que os bosques de faia deram grande abundância de glande há notícia de ter havido em França verdadeiros movimentos migratórios de animais que a procuravam “com furor”. Até ao século XIX, os camponeses franceses também apanhavam este fruto, não tanto para o comer — forte era a probabilidade de desenvolverem uma dor de cabeça ou uma “embriaguez furiosa” — mas com o objectivo de produzirem combustível para iluminação, e azeite destinado à culinária (com 50 quilos de glande produzia-se 10 litros de azeite). Desta vocação comestível da faia, expressa no vocábulo grego “phagos” que significa “comer”, não achamos notícia em Portugal, mas a canção “Maria Faia” evoca longinquamente a memória Fotos: Susana Neves
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de outras funções e ritos que esta “Fagaceae” (da mesma família do castanheiro e do carvalho) cumpriu no passado. Era ela, desde a época romana, a árvore dos desejos: no chão, enterravam-se pedaços de madeira com a descrição de um desejo; no tronco, os amantes inscreviam os seus nomes para verem o seu amor perpetuado. Escreve Ovídio, poeta romano, autor de “Metamorfoses”: «As faias leais guardiães da tua chama/Carregam nos seus troncos feridos o nome de Cenone/E assim como os troncos crescem assim hão-de crescer as letras”. Árvore da memória e da escrita — as primeiras inscrições rúnicas teriam sido feitas em madeira de faia — a conexão entre faia e livro, desaparecida na nossa língua, é porém evidente nas línguas inglesa e alemã. Em inglês e em alemão, as palavras faia (“beech” e “buche”) e livro (“book” e “buch”) são parecidas porque derivam de um vocábulo comum “bok”. Árvore da memória da própria espécie, por ser capaz de se auto-clonar, reproduzindo-se sozinha através da raiz, caso não haja outras faias nas redondezas, a faia europeia (não autóctone em Portugal) resiste desde o neolítico e ganhou má reputação por ser dominadora, impedindo outras plantas e árvores de coexistirem no mesmo bosque. Se a sombra da sua copa harmoniosa impede muitas outras espécies de medrarem, junto aos seus pés de gigante (pode atingir 40 metros de altura), contrastando com o cinzento do tronco semelhante à cor da pele de um elefante, nasce na Primavera uma das mais belas, frágeis e inspiradoras flores silvestres: o jacinto dos bosques (“Hyacinthoides non-scripta”) lilás. A sua floração cria um verdadeiro tapete de fadas que entre os britânicos, desde 1981, é delito estragar ou arrancar. Espécie sagrada entre os celtas (quem nasce no dia 22 de Dezembro está sob o seu domínio), associada à prosperidade assente no conhecimento, as faias serviram durante vários séculos para a confecção de tamancos de madeira. À sombra das suas folhas dispostas em “mosaico”, iluminadas no Outono numa diversidade de tons que vão do amarelo ao vermelho, viviam e tra-
balhavam inúmeros artesãos até outra ser a forma de calçar. Na floresta da Brocelândia (Bretanha), onde Merlin, o Mago, se refugiou, ainda vive uma dessas faias centenárias. Segundo as lendas celtas, teria sido plantada por desejo divino. Um cavaleiro chamado Pontus queria ter um filho da sua amada Sidónia e pediu ajuda a Deus e ao Diabo. Deus não lhe respondeu logo, mas o Diabo foi rápido e pouco tempo depois nasceu um monstro peludo. Mal tinha saído do ventre materno já o recém-nascido dava um salto para se empoleirar em cima de um grande armário. «Mau sinal!», alertou a parteira. Uma forte tempestade destruiu o castelo onde vivia Pontus e em seu lugar nasceu uma faia. n DEZ 2010 |
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67 CONSUMO Em época de Natal, vale a pena reflectir sobre os excessos nas embalagens dos presentes. Pág. 52 l À MESA A refeição da Consoada é, entre nós, a grande festa da família, mas nem sempre foi assim… Pág. 54 l LIVRO ABERTO A celebração do centenário da República conduziu à edição de interessantes obras ensaísticas e de ficção. Pág. 56 l ARTES A exposição Utopias Urbanas, homenageam da autarquia de Cascais a Nadir Afonso por ocasião do seu 90º aniversário, foi prolongada até 9 de Janeiro. Pág. 58 l MÚSICAS Os regressos de Bryan Ferry com um novo álbum – “Olympia” – e de Norah Jones com uma colectânea de duetos “…Featuring Norah Jones”. Pág. 60 l NO PALCO “O Senhor Puntila e o seu criado Matti”, de Bertolt Brecht, está em cena no Teatro Aberto até Janeiro. Pág. 62 l CINEMA EM CASA Em destaque, quatro sugestões para os mais jovens: Toy Story 3, Karate Kid, Príncipe da Pérsia: as Areias do Tempo e a comédia Juventude em Revolta. Pág. 64 lGRANDE ECRÃ Celebrizado com “Belleville Rendez-Vous”, Sylvain Chomet volta a dar provas do seu talento com “L’Illusionniste” (“O Mágico”). Pág. 65 l TEMPO INFORMÁTICO Várias sugestões de acessórios úteis, como é o caso do primeiro medidor de glicemia Plug&Play com software de Gestão da Diabetes lançado pela Bayer. Pág. 66 l VOLANTE A Renault quer democratizar o veículo eléctrico, propondo uma gama completa de veículos “Renault Z.E.” Pág. 67 l SAÚDE Alguns conselhos para evitar as intoxicações alimentares, tão frequentes e que causam tanto transtorno na época natalícia. Pág. 68 l PALAVRAS DA LEI Todas as pessoas acima dos 65 anos com um contrato de arrendamento podem ver a sua renda aumentada, mas de modo faseado, ao longo de 10 anos. Pág. 69 l
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Boavida|Consumo
Embalagem rima com imagem Para além de um efeito persuasivo sobre o consumidor, algumas embalagens têm impactos nocivos sobre o ambiente. Em época de Natal, vale a pena pensar um pouco sobre isso, antes de embalar os presentes.
Carlos Barbosa de Oliveira
eixa-me seduzir-te!” parecem dizer as embalagens nos escaparates, quando percorremos as artérias de um hipermercado ou de um centro comercial. Latas de bolachas, pacotes de leite, frascos de perfume, garrafas de refrigerantes, caixas de bombons e uma parafernália de produtos tentam seduzir-nos através das suas roupagens, utilizadas como estratégia de marketing para atrair a atenção dos consumidores. Quando optamos pela compra de um produto, nem sempre nos apercebemos do poder que a embalagem tem sobre a nossa escolha. No entanto, o seu efeito persuasivo não é inócuo, como o testemunha o facto de existirem revistas especializadas sobre embalagens, feiras, exposições e outros certames para a promover e ter sido criado, nos anos 90, um curso de pós-graduação em embalagens com a duração de três anos. Para os mais cépticos, sobre o poder da embalagem nas nossas escolhas, lembro uma experiência realizada nos anos 30 do século passado (a primeira que conheço no género). Uma bebida, em duas embalagens diferentes, foi apresentada a um grupo de consumidores, omitindo-se, porém que o conteúdo era exactamente o mesmo. Uma das embalagens tinha círculos e a outra triângulos e pediase aos consumidores para escolher uma e justificar a opção. A maioria dos consumidores escolheu a embalagem com círculos, alegando que “parecia conter um produto com mais qualidade”. Quando provaram o conteúdo de ambas as embalagens, só 2% dos inquiridos acharam que, afinal (?), a bebida da garrafa embalada numa embalagem com círculos, era pior! Os restantes mantiveram a sua opinião inicial. A embalagem é um vendedor incansável e omnipresente aos nossos olhos, um manipulador silencioso que nos “ajuda” a optar por determinado dentífrico, sabonete, ou marca de vinho, quando a nossa escolha não está previamente feita em função da publicidade ou de um qualquer desígnio afectivo ou consuetudinário. Algumas embalagens tornaram-se famosas e destacam-se facilmente do conjunto de mais de 10 mil
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que observamos em pouco mais de uma hora que demoramos a percorrer os corredores de um hipermercado. É o caso, por exemplo, das sopas Campbell’s, das velhas garrafas de Coca Cola e Pepsi, do atum Bom Petisco, do ketchup Heinz, ou dos cigarros Marlboro. Entre estas, há mesmo o caso do frasco de ketchup da Heinz, cujas dimensões obrigaram, em tempos, a “normalizar” as dimensões das prateleiras dos frigoríficos em metade do mundo. No entanto, apesar deste efeito de sedução, as embalagens são, geralmente, um dos maiores inimigos do ambiente. Haveria muito a dizer sobre os “truques” utilizados na embalagem para seduzir os consumidores mas, por agora, interessa responder à pergunta: porque razão é a
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embalagem inimiga do ambiente? Cada português produz, anualmente, mais de 400 quilos de lixo, sendo que mais de metade é constituído por embalagens. São sacos de plástico, o papel que embrulha o fiambre, as embalagens de esferovite da carne ou peixe pré-embalados, os pacotes de leite e sumos, a lata do refrigerante ou da conserva, a pizza, o hambúrguer, a refeição pré-cozinhada e pré-embalada, os papéis de embrulho com que alindamos os presentes, enfim, uma vasta parafernália de desperdício. A embalagem não é, porém, apenas poluente como produto final, isto é, no momento em que nos desfazemos dela. Antes de aparecer nos escaparates e a recolhermos, para durante algum tempo a albergarmos em nossas casas e depois nos despedirmos dela junto ao caixote do lixo, já a embalagem provocou danos apreciáveis. O seu impacte ambiental começa na exploração das matérias-primas como o petróleo ou o ferro, as florestas que se abatem ou as jazidas a céu aberto e a energia que se consome na sua produção. Depois de utilizada e se tornar imprestável, a embalagem atirada para o lixo vai libertar substâncias tóxicas que vão infiltrar-se nos lençóis freáticos e poluir as reservas de água potável. Cada um de nós pode contribuir para a redução do impacte ambiental provocado pelas embalagens. Como? É fácil…Reduzindo o consumo de muitas destas embalagens e optando por embalagens reutilizáveis. Comprando líquidos em recipientes de vidro (material reciclável) em detrimento de embalagens de plástico; eliminando os sacos de plástico quando vamos ao supermercado, à farmácia, à livraria, etc.; tendo atenção às características da embalagem. Quer quanto ao material de que é feito, quer quanto às suas dimensões. Quando compramos determinados produtos (especialmente detergentes, bebidas, perfumes e cosméticos) vale a pena prestar atenção ao facto de muitas das embalagens serem de tamanho desproporcionado para o conteúdo, sendo o seu único objectivo iludir os consumidores. Com isso se desperdiçam matérias - primas e encarece o produto. Uma recusa de compra desses produtos, ainda que por um curto espaço de tempo, é uma forma eficaz de obrigar as
empresas a repensarem o embalamento dos seus produtos. Felizmente, há cada vez mais empresas preocupadas em acondicionar os seus produtos em embalagens sustentáveis (com menor impacte ambiental), porque uma empresa que proclama a Responsabilidade Social e se promove como “amiga do ambiente”, não pode praticar o desperdício. Mas nem todas agem assim. Devemos denunciar as empresas que, embora proclamem a RS, continuam a utilizar a embalagem como imagem de venda do produto, sem cuidar da sustentabilidade, e convencer os nossos amigos a recusar os produtos de uma empresa que nos mente. Aproxima-se o Natal, época de desperdício por excelência. Reparem em vossas casas, quando termina a distribuição dos presentes, no amontoado de caixas, papéis, plásticos ou esferovite que se acumulam na sala e aproveitem para reflectir sobre tamanho desperdício. É certo que embalagem rima com imagem e um presente bem encadernado parece logo mais bonito, mas é importante que, neste mundo onde mais vale “parecê-lo” do que “sê-lo”, demos o nosso contributo para mudar essa mentalidade. n
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Boavida|À Mesa
Comidas festivas do Natal português A refeição da Consoada é, entre nós, a grande festa da família. Nem sempre foi assim. É assim por o cristianismo ter transformado as celebrações da Natureza dos festejos do Solstício de Inverno em momentos de grande partilha humana, nos quais as artes da mesa desempenham um papel de relevo.
David Lopes Ramos
o princípio, eram as festas do Solstício de Inverno. A vitória da luz sobre a mais longa noite do ano. As trevas dominavam tudo, estava-se a séculos da descoberta da electricidade, só a lua era agente de claridade nas noites escuras e sem nuvens. Reminiscência desses tempos é, sobretudo nas terras do interior português, a queima dos cepos de árvores adultas que os jovens vão buscar aos campos, em acções que conservam o carácter de rituais de iniciação. Nas regiões de Trás-os-Montes, da Beira Interior e no Alentejo é onde as fogueiras, acesas nos largos principais na noite de 24 de Dezembro, perto das igrejas onde estão armados os presépios, durante mais tempo se mantêm acesas. A reunião das famílias à volta da lareira sai para a rua e alarga-se a toda a comunidade. Em algumas terras até 6 de Janeiro, Dia de Reis. O Alentejo, por razões históricas a mais descristianiza-
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da das regiões portuguesas é, no entanto, aquela em que as expressões de religiosidade popular alcançam mais alta expressão. Por alturas do Natal, o cante ao Deus-Menino nas “palhas deitado” anima terras transtaganas, havendo ainda “presépios vivos” e a representação de autos do Natal. O madeiro do Natal é aceso nas lareiras dos montes e, em muitas terras, esta manifestação transfere-se para os largos. É o caso de Barrancos, a vila de fronteira cujos habitantes têm um linguajar próprio e tradições únicas. Nos dias que antecedem as Festas, os rapazes vão aos campos arranjar lenha para fazer o fogo no largo da vila. Amontoam-se toneladas de raízes e de troncos de árvores e, na noite da Consoada, acende-se “o lume”. Ritmado pelo som cavo da zabumba – um cântaro de barro vermelho com a boca tapada com pele seca de borrego, cabra ou bexiga de porco, travessa por uma cana —, canta-se ao Menino nas “palhas deitado”, conversa-se, petisca-se, bebe-se o vinho novo. A porta da igreja fica aberta, para que “o lume” aqueça os pezinhos do Menino-Deus dos católicos. ANDRÉ LETRIA
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Foi também a Igreja Católica que marcou a refeição da noite da Consoada com um carácter particular, ao incluí-la nos dias de jejum do Advento, com a consequente proibição de ingestão de comidas “quentes”, como as carnes, sendo apenas autorizadas as “frias”, ou seja, os peixes e legumes. Daí o bacalhau e o polvo na Consoada das famílias do Norte, Beira Interior e Centro, e, no Sul, o cação, a pescada, e, mais recentemente, também o bacalhau, embora no Alentejo, na refeição que se segue à Missa do galo, se prefira a carne de porco (“marra”), ou as cabidelas de peru e de galo. Há algumas particularidades. Os pescadores da Póvoa de Varzim, por exemplo, não dispensam o peixe seco, como o cação e o ruivo, entre outros, na ceia da Consoada. No Minho, sobretudo nas casas maia tradicionais, após se consoar o bacalhau, polvo, ovos, couve penca ou couve portuguesa ou “coivão”, grelos, batatas, cenouras, cebolas, tudo cozido em água abundante e temperado com azeite cru, ou com o “molho fervido”, de azeite e alhos, assiste-se à Missa do galo. Só depois dela, em que se assinala o nascimento de Jesus Cristo, é que se festeja com doces: mexidos ou formigos, rabanas ou fatias de parida, arroz doce, aletria, pão-de-ló ou pão leve, bolinhos de jerimu, bilharacos... e o vinho quente, isto Entre-Douro-e-Minho ou os melhores vinhos finos na região duriense. Nessa noite, em algumas casas, o lugar da cabeceira da mesa é reservado aos que já partiram e a mesa fica posta. Isto porque os que já morreram não desdenham sentar-se à mesa da Consoada. No Minho, o primeiro prato da refeição festiva do Dia de Natal é a “roupa velha”, feita com as sobras da Consoada, prato refrescado com um golpe de vinagre. Depois, segundo as regiões e as tradições de cada família, há o galo mais galaroz da capoeira, o capão, o cabrito ou o anho, lombo de porco, leitão, pato, ganso ou peru, em geral assados no forno. Como se sabe, a comida festiva em terras marcadas pela ruralidade, como é ainda o nosso caso, é a comezaina. De Norte a Sul, no Continente e nas Regiões Autónomas da Madeira (aos madeirenses basta-lhes a palavra “Festa” para nomear todos os festejos – Consoada, Natal, Ano Novo e Dia de Reis – deste tempo especial) e dos Açores a abundância é o traço distintivo das refeições desta época. E é a doçaria, de uma variedade riquíssima, que encerra as refeições: rabanadas, velhoses, filhós, sopas secas doces, sopa dourada, pão-de-ló (de Margaride, de Ovar, de Arouca, de Alfeizerão...), bilharacos, bolinhos de jerimu, formigos ou mexidos, fartes, espécies, migas doces, borrachos, bolo de mel, pudins, sonhos, aletria, arroz doce, leite creme, bolo podre, broinhas e broas doces, bolo-rei, merendeiras, azevias...
Já se falou do vinho quente que, no Minho, se bebe a seguir à Missa do Galo. Nas ilhas bebem-se licores caseiros e os generosos Madeira e Biscoitos e, no Continente, é altura de se abrirem os melhores Portos datados (10, 20, 30, 40 e mais anos) e os Colheitas, os “vintage” já com barbas e os Moscatel de Setúbal adultos, os Roxos e a relíquia que é o Bastardinho. Num belíssimo texto evocativo da noite da Consoada no Minho, escreveu Ramalho Ortigão, em “As Farpas”: “Havia o arrastar das cadeiras, o tinir dos copos e dos talheres, o desdobrar dos guardanapos, o fumegar da terrina. Tomava-se o caldo, bebia-se o primeiro copo de vinho, estava-se ombro com ombro, os pés de um lado tocavam nos pés que tinham defronte. Bom aconchego! Belo agasalho! As fisionomias tomavam uma expressão de contentamento, de plenitude. Que diabo! Exigir mais seria pedir muito. Tudo o que há de mais profundo no coração do homem, o amor, a religião, a pátria, a família, estava tudo aí reunido numa doce paz, não opulenta, mas risonhamente remediada e satisfeita. Não é tudo?” (...) n
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Boavida|Livro Aberto
Comemorar a República e a paixão pelo Livro e pela Leitura Em período de intensas e participadas comemorações do centenário da República, merece ser sublinhada a quantidade de obras ensaísticas e de ficção dadas à estampa sobre o tema, com uma qualidade média apreciável, o que significa que o espírito comemorativo tem tido uma expressão invulgarmente dinâmica também no sector editorial.
José Jorge Letria
esse âmbito, destacamos “A Maçonaria e a Implantação da República em Portugal”, de Pedro Ramos Brandão e António Chaves Fidalgo (Casa das Letras), uma obra de referência fundamental para se compreender até que ponto o pensamento e a “praxis” maçónicas foram determinantes para o êxito do processo revolucionário que derrubou a monarquia e implantou a República em Portugal, no dia 5 de Outubro de 1910. Imbuída desse espírito comemorativo, Maria João Seixas, actual directora da Cinemateca Nacional, publicou “República das Mulheres” (Bertrand Editora), com o apoio do Fundo Cultural da Sociedade Portuguesa de Autores, obra na qual se juntam 14 entrevistas com nomes representativos de várias gerações e géneros da literatura portuguesa, de Maria Velho da Costa a Hélia Correia, passando por Lídia Jorge e Maria do Rosário Pedreira. Uma forma feminina e diferente de manter presente o ideal republicano na sua vertente criadora.
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OUTRO DESTAQUE vai para “Jan Karski” (Teorema), de Yannick Haenel, Prémio Interaliado 2009, que relatava de forma concisa e densa, numa narrativa exemplarmente construída, a tentativa que um herói quase desconhecido 56
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realizou para tentar evitar que o Holocausto se transformasse na tragédia que foi e que mudou a história da humanidade. Para ler e dar ler, sobretudo em tempo de grandes incertezas na história do mundo e das relações entre os Estados e os povos. ANTÓNIO LOBO ANTUNES, um dos maiores escritores mundiais da actualidade está de volta com “Sôbolos Rios Que Vão” (D. Quixote), um dos seus livros menos extensos mais profundos e tocantes, por se assumir como uma reflexão ficcional sobre os rios -percursos que cruzam as novas vidas, convertendo-se em memórias, emoções e em densa matéria ficcional. Como sempre, um livro a não perder, por ser de quem é e por trazer sempre a garantia de inovação e qualidade. Confirmação de um grande talento narrativo é “As Memórias Secretas” (D. Quixote), do ficcionista, dramaturgo e ensaísta Miguel Real, que, em tempo de comemoração do centenário da República, constrói umas soberbas memórias ficcionadas da última rainha de Portugal, viúva de D. Carlos I e mãe de D. Manuel II. Um livro em que realidade e ficção se cruzam de forma admirável. Dois livros a não perder. Realce, igualmente, para “A Especulação Imobiliária”(Teorema), do italiano Ítalo Calvino, texto pelo
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qual o genial autor tinha uma especial e justificada predilecção. Outra leitura obrigatória. Ainda quanto a novidades a não perder em matéria de ficção narrativa, um mais do que merecido destaque para “Dama de Espadas - Crónica dos Loucos Amantes”, do jornalista e escritor Mário Zambujal, título de estreia da nova editora Clube do Leitor, com direcção editorial de Cristina Ovídio, vinda da Oficina do Livro, com uma breve passagem pela Planeta. Um livro imaginativo, cheio de ritmo e subtil humor, como sempre acontece na prosa de ficção de Mário Zambujal. Destaque, igualmente, para o excelente “Divórcio em Buda”(D.Quixote), do grande escritor húngaro Sándor Márai, autor, entre outros, de “As Velas Ardem Até ao Fim”; “A Identidade”(D.Quixote), do checo naturalizado francês Milan Kundera, com uma exemplar tradução de Pedro Tamen; “O Coleccionador de Chuva” (Europa-América), de Júlia Stuart; “O Navio dos Homens”, (Clube do Autor), do notável escritor japonês Takiji
Kobayashi, cuja descoberta pelos leitores portugueses é absolutamente obrigatória; e, ainda, “Um Pai de Filme”, (Teorema), do consagrador escritor chileno António Skármeta, autor, entre outros, de “o Carteiro de Pablo Neruda”, adaptado com enorme êxito ao cinema. EM ÉPOCA NATALÍCIA, saúdem-se algumas oportunas re-
edições de diversos géneros, começando por “O Meu Dicionário Filosófico”(D. Quixote), de Fernando Savater, passando pelo segundo volume autobiográfico do chileno Pablo Neruda, de “Nasci para Nascer” (P. Europa-América), por uma das obras-primas do judeu italiano Primo Levi, “A Trégua” (Teorema), sobre os dias, semanas e meses que se seguiram à libertação dos prisioneiros dos campos de concentração nazis, obra pujante e comovente, e por “Os Contos da Sétima Esfera” ( Caminho/Leya), de Mário de Carvalho, um dos melhores ficcionistas portugueses contemporâneos. Livros a que vale sempre a pena regressar, seja em que época for. n
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Boavida|Artes
Nadir Afonso: Rigor e Harmonia A exposição Utopias Urbanas com que a Câmara Municipal de Cascais quis homenagear Nadir Afonso por ocasião do seu 90º aniversário, planeada para encerrar ao público em Novembro passado, acabou por ser prolongada até 9 de Janeiro próximo, devido à afluência desusada e para atender os pedidos de diversas escolas.
Rodrigues Vaz
o seguimento de uma primeira exposição antológica, igualmente no Centro Cultural de Cascais, na Gandarinha, esta mostra ilustra à saciedade o conceito deste peculiar artista português que procura sempre ligar a Matemática à Arte, uma das razões por que a sua obra é marcada essencialmente pelo rigor visual e geométrico. Num dos muitos textos teóricos que escreveu pode lerse um excerto esclarecedor do seu pensamento estético, que, por vir a propósito, transcrevemos: "Três espécies de relações estéticas unem sujeito e objecto: leis universais, funções e necessidades. À primeira chamamos: harmonia relação imutável dada pelas leis geométricas universais. Às segundas chamamos: perfeição - relação mutável dada pelas funções e necessidades regionais. A partir daqui tudo se esclarece. Se a obra de arte visa uma ordem interna que atinja a universalidade, 'como a obra de um Deus criador', a sua relação a nós só pode ser dada pelas leis universais."
N
TRÊS MULHERES ARTISTAS
Entretanto, nesta época natalícia, salientam-se em Lisboa 58
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Trabalho de Luisa Nogueira da série "Entre Bichos"
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três exposições de mulheres artistas, três propostas tão díspares nos objectivos como nas formas, mas as três eivadas do mesmo sentido de feminilidade que faz, antes de mais, das suas obras objectos encantatórios a condizer com o espírito da época. Luisa Nogueira, quase a dizer adeus à Bélgica, onde aprendeu a amar as brumas que tão bem sabe representar esteticamente, mostra na Galeria Movimento Arte Contemporânea a série "Entre Bichos", composições de rara beleza visual, onde alia com mestria várias gradações de cores provocando sensações de movimento sugerido especialmente pela leveza e pela transparência diáfana que lhes imprime. Por sua vez, Brígida Machado mostra na Galeria Trema os seus últimos bestiários, prosseguindo um percurso que tem como fundo permanente um fascínio imparável por animais reais e imaginários. Lembrando por vezes alguns elementos do universo de Paula Rego, mas nitidamente a partir de um registo muito diferente que tem no humor o seu principal leit-motiv e no aspecto lúdico a sua justificação essencial, Brígida Machado está a conquistar perseverantemente um lugar muito especial no universo dos nossos criadores. Quanto a Helena Justino, com uma exposição de pequeno formato na Galeria Stuart, até 11 de Janeiro, regressa a um neo-figurativismo em que se sente como peixe na água, exprimindo com a sensibilidade que lhe é habitual a ternura pelas coisas simples e a preferência pelas cores quentes e vivas, ao mesmo tempo com a liberdade e o rigor com que os seus professores na Escola Superior de Belas Artes do Porto lhe souberam incutir: a liberdade criativa do Júlio Resende e o rigor do desenho de Lagoa Henriques. RODRIGO COSTA NA GALERIA PAULA CABRAL
Entretanto, saúde-se o reaparecimento da Galeria Paula Cabral, agora em plena Praça do Príncipe Real, em Lisboa, num complexo integrando bar e livraria. A exposição de abertura é do artista portuense Rodrigo Costa, intitulada Landscapes, onde faz jus ao seu pendor paisagista, em que é exímio executante. Preferindo celebrar o Tempo, espaços e verdades que não lhe mintam, Rodrigo Costa regressa inexoravelmente à chamada Grande Pintura, que recria em grandes pinceladas gestuais, próprias de quem está à vontade no ofício e arte. E faz questão em esclarecer: "Permaneço onde sempre estive, deste lado da história. Continuam a enlevar-me alguns trechos de lugares e de gente, composições, ao todo; o jogo sensual da luz e da sombras, mesmo que do meu prazer pareça sobressair qualquer drama."n
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Boavida|Músicas
Do“Olympia” de Bryan Ferry aos duetos de Norah Jones Bryan Ferry está de regresso ao mercado discográfico com um novo álbum – “Olympia” – e Norah Jones dá de si com uma colectânea de duetos intitulada “…Featuring Norah Jones”.
Registem-se também as participações de Nile Rodgers, David Gilmour, Groove Armada, Scissor Sisters, Marcus Miller, Flea, Mani e Jonny Greenwood. De salientar, por fim, que “Olympia”, no qual se integra um DVD, apresenta uma capa/brochura com um trabalho gráfico notável. Como “cover girl”, surge-nos Kate Moss fotografada por Adam Whitehead. DUETOS DE NORAH JONES
Vítor Ribeiro
os 65 anos de idade, completados no passado mês de Setembro, o cantor e compositor inglês Bryan Ferry apresenta ao mundo um novo CD, com 10 temas (oito dos quais originais). Fundador, no início da década de 70 do século passado, dos Roxy Music, grupo de referência da música por/rock anglo-americana, Bryan Ferry praticamente desde sempre foi desenvolvendo uma carreira paralela a solo, distinguindo-se não só como compositor e intérprete, mas também como criador de versões de outros grandes autores da música popular. Por exemplo, em 2007 editou o álbum “Dylanesque”, com versões notáveis de canções de Bob Dylan. Em “Olympia” sobressaem, mais uma vez, a arte e o engenho de um compositor, intérprete e produtor que recusa a facilidade, observa os sinais dos tempos, contorna a estagnação. Para o novo CD Ferry recorreu à colaboração de “colegas” dos Roxy Music, designadamente Brian Eno, Phil Manzanera e Andy Mackay.
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“…Featuring Norah Jones” é o título genérico do álbum de Norah Jones mais recentemente chegado ao mercado discográfico. Com mais de 40 milhões de discos vendidos em todo o mundo, galardoada com vários grammys e outras distinções, Norah Jones, com pouco mais de 31 anos de idade, consegue dar-se ao luxo de publicar um CD com 18 duetos. Intérprete, pianista e compositora matricialmente marcada pelo jazz, Norah revela nos seus duetos um ecletismo invulgar, que lhe possibilitou criar momentos inesquecíveis ao lado de nomes como Foo Fighters, Sean Bones, Willie Nelson, Dolly Parton… Porem, a nossa chamada de atenção, sem menosprezo pelos restantes seleccionadas para esta colectânea, vai para dois momentos altos: os duetos com Herbie Hancock e com Ray Charles. HANCOCK EM PORTUGAL
E já que estamos a falar de Herbie Hancock, autor maior do jazz mundial, recordamos que estará em Lisboa, dia 7 de Dezembro, no Campo Pequeno, pelas 21h30 e no Porto, no dia 8 de Dezembro, na Casa da Música, pelas 22h00. n
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Boavida|No Palco
Uma história de classes Até Janeiro, no Teatro Aberto, com encenação de João Lourenço e interpretação de Miguel Guilherme, entre mais 15 actores, podemos ver a história de “O Senhor Puntila e o seu criado Matti”.
Maria Mesquita
ertolt Brecht escreveu esta peça quando se encontrava exilado na Finlândia durante a II Guerra Mundial, inspirando-se nas histórias locais, na música, bebida e tradição daquele país de acolhimento, bem como num conto da autoria de Hella Wuolijok. Assim, retrata-se a vida de Puntila, proprietário rural de algumas terras, de ascendência aristocrática, que se debate com a duplicidade em que o álcool, neste caso, a bebida, vai transformando a sua personalidade. Quando ébrio é afável e ternurento, capaz de reconhecer a (sua) bondade e ser generoso para com os outros, tendo como fiel ouvinte e companheiro o criado, Matti. No
B
entanto, enquanto sóbrio, tem a consciência da diferença entre classes, não permitindo qualquer tipo de manifestação compreensiva para com os mais necessitados, tornando-se frio e cínico. É neste conflito interno em que a peça se desenrola, principalmente quando essa dualidade dentro do mesmo homem, deixa um rasto de admiração, espanto e tristeza aos que o rodeiam, e, de igual forma, também começa a deixar marcas na sua relação com a filha, Eva. Puntila bêbedo quer ver a filha casada com um homem da mesma classe social, mas Eva sonha perdida de amor por Matti, numa história que teria um final bem mais feliz. Será Puntila capaz de ver mais do que a diferença de classes? Ou será que apenas ganha consciência da sua mortalidade e igualdade de valores com os outros quando está embriagado…
FICHA TÉCNICA: Versão: João Lourenço, Vera San Payo de
Lemos; Dramaturgia: Vera San Payo de Lemos; Encenação e realização vídeo: João Lourenço; Música: Mazgani; Cenário: António Casimiro, João Lourenço; Figurinos: Bernardo Monteiro; Coreografia: Cláudia Nóvoa; Supervisão audiovisual: Aurélio Vasques; Luz: Melim Teixeira;
Com: António Pedro Lima, Cátia Ribeiro, Carlos Malvarez, Cristóvão Campos, Francisco Pestana, João Fernandez, Luís Barros, Mafalda Lencastre, Mafalda Luís de Castro, Marta Dias, Miguel Guilherme, Miguel Tapadas, Patrícia André, Rui Morrison, Sara Cipriano, Sérgio Praia, Sofia de Portugal, Vasco Sousa.
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promovido pela Inatel, no mesmo ano. A fórmula vencedora junta-se agora em palco da Trindade para apresentar a “Ordem”, uma sátira aos procedimentos judiciais, à sua lentidão e “cegueira”… FICHA TÉCNICA: De: João Santos Lopes; Coordenação
artística: Sílvia Brito; Espaço cenográfico: António Jorge; Coprodução: Fundação INATEL | Teatro da Trindade | Grupo o Celeiro
“Snapshots”
“Beijo de Sal com Vento” Para ver até dia 18 de Dezembro na Companhia de Teatro do Chiado, uma peça dedicada aos mais pequenos, onde se explicam os conceitos de amizade e a capacidade para sonhar com coisas bonitas. Baseado no conto “O Pescador de Estrelas” de Mathilde Ferreira Neves, a Companhia de Teatro do Chiado criou a peça “1 Beijo de Sal com Vento” totalmente dedicado a um público infanto-juvenil. Nesta encenação serão explicados e ilustrados conceitos tão simples como a amizade, ou a capacidade de sonhar, a concretização de objectivos ou o sofrimento de perda e despedida, nem sempre sentimentos fáceis de explicar aos mais pequenos.
Podem fotografias corresponder à realidade, ou serão apenas instantes para uma memória fotográfica de alguns momentos felizes numa vida de solidão. É a pergunta que se faz em “Snapshots”, uma peça com produção do Teatro Nacional D. Maria II, em conjunto com o Teatro da Garagem e Teatro Municipal de Bragança, para ver na Sala Estúdio até 19 de Dezembro. FICHA TÉCNICA: Texto e encenação: Carlos J. Pessoa;
Dramaturgia: David Antunes; Cenografia e figurinos: Sérgio Loureiro; Desenho de luz: Miguel Cruz; Música: Daniel Cervantes; Vídeo: Pedro dos Santos e Teresa Azevedo Gomes; Interpretação: Ana Palma, António Banha, Carolina Sales, David Cabecinha, Dinis Machado, Fernando Nobre, José Neves, Maria João Vicente, Miguel Mendes, Nuno Nolasco, Nuno Pinheiro e Tiago Lameiras; Co-produção: Teatro Nacional D. Maria II, Teatro da Garagem e Teatro Municipal de Bragança
FICHA TÉCNICA: Ficha Técnica: Interpretação: Anabela
Faustino, Ângela dos Vais, Diogo Lemos; Voz(es) Off: Juliana Conde; Encenação: Frederico Salvador; Dramaturgia: Anabela Faustino, Frederico Salvador, Tânia de Brito; Coreografia: Ricardo Molar; Assistência de Encenação: Juliana Conde; Produção: CTI - Companhia de Teatro Industrial
A “Ordem” A “Ordem”, peça co-produzida pela Fundação INATEL, da autoria de João Santos Lopes e representada pelo Grupo de Teatro O Celeiro, estará em cena nos dias 4 e 5 de Dezembro, na Sala Estúdio do Teatro da Trindade. João Santos Lopes foi o grande vencedor do concurso INATEL/ Teatro Novos Textos de 2009, com este título. O Grupo de Teatro O Celeiro, que agora o representa, também foi vencedor na Concurso Nacional de Teatro também DEZ 2010 |
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Boavida|Cinema em Casa
Sugestões juvenis Quatro sugestões de géneros variados com um alvo comum: o público mais jovem. Da excelente animação Toy Story 3 passando pelo renovado Karate Kid e a aventura Príncipe da Pérsia: as Areias do Tempo e, finalmente, a comédia juvenil Juventude em Revolta. Sérgio Alves
TOY STORY 3
KARATE KID
PRÍNCIPE DA PÉRSIA: AS
JUVENTUDE EM REVOLTA
O regresso de Woody, Buzz e demais brinquedos! Andy
Parker era o miúdo mais po-
AREIAS DO TEMPO
Nick é um jovem de 14 anos
pular em Detroit, mas a sua
Na mítica Pérsia, um príncipe
que passa por um momento
está prestes a ir para a
Mãe decide mudar-se para a
valente e uma misteriosa
difícil com a separação dos
Universidade e não sabe o
China e tudo vai mudar. Na
princesa correm contra as
Pais. Durante as férias, co-
que fazer aos seus velhos
China, o jovem apaixona-se
forças do mal para defender
nhece e apaixona-se perdida-
brinquedos. Estes, por
pela sua colega Mei Ying mas
um punhal mágico capaz de
mente por Sheeni. Ela é uma
engano, vão
as diferenças culturais tornam
libertar as areias do tempo -
bela rapariga de espírito livre
parar a um
a relação difícil. Para piorar as
um poder dos deuses que pode
e tudo parece correr bem mas,
infantário e
coisas o seu colega Cheng
fazer o tempo voltar atrás e
a família e os ex-namorados
agora terão que
começa a implicar com ele
permitir a domínio do Mundo.
fazem tudo para acabar com a
encontrar uma
até que conhece Mr.Han,
O jovem Dastan, injustamente
relação. Inspirado pela sua
forma de con-
responsável da manutenção
acusado de ter morto o Rei, e a
amada, Nick resolve criar um
seguir fugir e voltar para casa
do seu prédio, que lhe vai
bela Tamina embarcam numa
alter-ego rebelde com o nome
antes que o seu dono parta.
ensinar a melhor forma de se
aventura
de François mas o resultado
Neste terceiro e último capí-
defender: o Kung Fu.
inesquecível pela
será desastroso. Retrato diver-
tulo da série da Pixar/Disney,
Produzido por Will Smith,
defesa do punhal
tido da adolescência, dos
os nossos amigos vão
Karate Kid é uma versão mo-
sagrado e das
desejos, das pequenas lou-
enfrentar vários desafios e a
derna do filme que marcou a
forças do Bem.
curas que se fazem em nome
união será a sua grande força.
geração dos anos 80. Rodado
Inspirado num
Com um excelente acolhi-
quase integralmente em
das paixões de
jogo de computador com o
Verão.
mento da crítica e visto por
Pequim, com
mesmo nome, Príncipe da
Realizado por
milhões de famílias, o filme é
uma realiza-
Pérsia é uma aventura fantásti-
Miguel Arteta,
o grande acontecimento do
ção segura, o
ca com acção, romance e um
o filme tem no
ano na animação e forte can-
filme cumpre
final surpreendente. Grandes
seu protago-
didato ao Óscar nessa catego-
o fito de aler-
intérpretes, efeitos especiais
ria.
tar para o
deslumbrantes e um ritmo
virtude. Michael Cera, já bri-
problema do
TÍTULO ORIGINAL: REALIZAÇÃO:
acelerado, com a assinatura do
lhante em Juno, apresenta-se
bullying e as diferenças cul-
veterano Mike Newel (Quatro
em grande forma nesta comé-
Toy Story 3;
Lee Unkrich;
nista a maior
turais na China moderna.
Casamentos e um Funeral,
dia.
Joan Cusack, Don Rickles,
Atenção, ainda, para o
Donnie Brasco e Harry Potter e
TÍTULO ORIGINAL:
Michael Keaton; EUA, 103m,
despontar de uma nova
o Cálice de Fogo).
Revolt; REALIZAÇÃO: Miguel
Cor, 2010; EDIÇÃO: Zon
estrela - Jaden Smith - (filho
TÍTULO ORIGINAL:
Lusomundo
de Will Smith) e a confir-
Persia: The Sands of Time;
mação de outra - Jackie Chan.
REALIZAÇÃO:
VOZES:
Tom Hanks, Tim Allen,
TÍTULO ORIGINAL:
TempoLivre
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COM:
Mike Newel
Jake Gyllenhaal,
Arteta; COM: Michael Cera, Portia Doubleday, Jean Smart, Steve Buscemi, Ray Liotta; EUA, 90m, cor, 2009;
Kid; REALIZADOR: Harald
Gemma Arterton, Bem
EDIÇÃO:
Zwart; COM: Jaden Smith,
Kingsley, Alfred Molina; EUA,
Multimédia
Jackie Chan, Taraji P.Henson;
116m, cor;
EUA/China, 140m, Cor, 2010;
2010; EDIÇÃO: Zon
EDIÇÃO:
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The Karate
Prince of
Prísvideo
Lusomundo
Youth in
Castello Lopes
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Boavida|Grande Ecrã
Para toda a família Celebrizado com “Belleville Rendez-Vous”, um prodigioso filme de animação - nomeado, em 2004, para o óscar e aclamado em toda a parte -, Sylvain Chomet volta a dar provas do seu talento com “L’Illusionniste” (“O Mágico”), uma fábula nostálgica e sensível que tem como base um argumento inédito de Jacques Tati, um dos mais admiráveis e inteligentes actores e realizadores da história do cinema burlesco.
Joaquim Diabinho
omo o título indica, o ilusionista (de nome Tatischeff, que é, curiosamente, o apelido verdadeiro de Tati) deve ser lido como uma homenagem a uma forma de arte performativa que há muito entrou em declínio mas deve, também, ser apreendido como uma reflexão filosófica sobre a vida que se escapa, da irreversibilidade do tempo que passa, da melancolia, da lembrança e da saudade. E da capacidade de se renovar, de renascer. Evocação poética bem inspirada do universo de Tati(os seus processos cómicos, o seu assaz incomum sentido de humor), o filme de Sylvain Chomet -que até convoca Charles Chaplin e a sua personagem Calvero do belíssimo, “Luzes da Ribalta” – revela-se bastante hábil no estilo narrativo onde quase não abundam diálogos mas está carregado de sentimento e no poder visual, repare-se: como se combinam, de forma eficaz os (poucos) efeitos digitais com a fluidez da animação artesanal, via aquarelas e lápis, cuja estética nos remete
C
forçosamente para a ambiência da “bd”. E repare-se, em particular, na expressividade da banda sonora. Surpreendente é, por outro lado, que tudo “isto” surja num filme de animação que não precisa nada de recorrer às tão apregoadas virtualidades do sistema tridimensional do 3D para ganhar a adesão do espectador que valoriza demais certos e determinados dispositivos hollywoodianos dominantes. E, pese o absurdo da questão, nunca saberemos o que seria “L’Illusionniste” se realizado e interpretado por Jacques Tati. Mas podemos imaginar.... Para os mais pequenos, a estreia, prevista para 9 Dezembro, da produção belga, “As Aventuras de Sammy: A Passagem Secreta, 3D” (outra fábula, mas de natureza ecologista) que narra a odisseia de uma tartaruga marítima perdida de amores é pretexto para um alerta pedagógico para os males do aquecimento global que colocam em perigo a vida do planeta. Não goza, nem de perto nem de longe, do virtuosismo tecnológico das produções estadounidenses mas diverte e emociona. n DEZ 2010 |
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Boavida|Tempo Informático
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ciente, contribuindo para a redução da HbA1c (hemoglobina glicosilada) melhorando a vida da pessoa com Diabetes. Tratando-se de um dispositivo semelhante a uma Pen, a tecnologia Plug&Play permite ligá-lo a qualquer computador e ter de imediato os resultados. Possui memória para 2.000 resultados, lembretes das próximas medidas e até adicionar notas das condições como stress, actividade, doença, etc. Disponível nas farmácias. NO MERCADO eis um adaptador SATA USB que transforma qualquer disco de 2,5” ou 3,5”, unidade SSD ou Drive óptica (DVD,Blu-Ray, etc.) em dispositivos externos pela porta USB 3.0 mas compatível com USB 2, sem necessidade de instalação interna no PC. Prático e económico permite por exemplo fazer cópias de segurança do computador para o dispositivo ou vice-versa. PVP: 44.90 € QUEM DISSE que só se podem fazer boas fotografias na
Primavera e Verão? Em qualquer dia do ano, em qualquer lugar, a qualquer hora, pode conseguir uma boa fotografia. Mas para isso é necessário recorrer a quem nos possa explicar o "como". É isso que o jovem e prestigiado fotógrafo Joel Santos nos ensina no seu livro "FOTOGRAFIA: Luz, Exposição, Composição, Equipamento e Dicas para Fotografar" editado pelo Centro Atlântico. Ele não desdenha ensinar, inspirar e entusiasmar o leitor, revelando-lhe um sem número de oportunidades fotográficas. Está lá tudo. (PVP: 24,69 €) n
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Boavida|Ao Volante
Renault “democratiza” veículo eléctrico A aliança Renault/Nissan anunciou, desde 2008, o objectivo de comercializar, em grande escala, veículos “zero emissões”. O objectivo da Renault passa por democratizar o veículo eléctrico, propondo uma gama completa de veículos “Renault Z.E.” acessíveis a todos. Carlos Blanco
U
ma fórmula económica inovadora A Renault irá propor fórmulas de aquisição inovadoras para facilitar a democratização dos veículos eléctricos. É, de facto, a primeira vez que a propriedade do veículo e das baterias está dissociada. Os clientes vão poder comprar ou simplesmente alugar o veículo, recorrendo aos produtos financeiros propostos pelas mais variadas instituições bancárias. Desde a compra do automóvel no concessionário, o cliente encontra resposta às suas necessidades. É a solução “one stop shopping”, que inclui a compra ou o aluguer da viatura, o aluguer da bateria e a contratação dos serviços a ela associados, o financiamento, o seguro e até a instalação de uma “wall-box” para uma carga rápida e segura, no domicílio. A Renault desenvolveu três modos de carregamento para a gama Renault Z.E.: A carga standard: é o modo comum e o mais prático para os utilizadores. Ligando simplesmente a viatura a uma tomada no domicílio ou num local de carga no exterior (num estacionamento, por exemplo) permite efectuar uma carga completa entre 3h30/8h, dependendo da potência disponível e do tipo de veículo (3h30 para o Twizy, entre 6h/8h para o Fluence Z.E., ZOE Preview e Kangoo Express Z.E.). Para a carga no domicílio a Renault recomenda a instalação de uma “wall-box” que apresenta várias vantagens como ergonomia, velocidade, optimização do custo da carga e a segurança de uma instalação conforme as regras de segurança. A carga rápida é o modo de carga por excelência. Quando
é necessário recarregar rapidamente a bateria, basta ligar a viatura a uma das tomadas “carga rápida” instaladas na via pública para recuperar 50 km de autonomia em 30 minutos. Numa fase inicial, esta forma de carregamento estará apenas disponível para o Renault ZOE Preview, seguindo-se o Renault Fluence Z.E. e o Renault Kangoo Express Z.E.. Carga “quickdrop”: em determinados países vão ser instaladas estações automáticas de troca de baterias. O cliente vai poder substituir a sua bateria descarregada por uma com carga total em apenas três minutos. Até ao momento, estas estações estão previstas para Israel e Dinamarca. OPTIMIZAR AUTONOMIA
A gestão da autonomia é a principal aposta do veículo eléctrico. As viaturas da gama Renault Z.E. possuem um IHM (Interface Homem/Máquina) desenvolvido especificamente para informar o condutor do nível de carga do veículo, bem como a autonomia (quilómetros) restante: - Um indicador mostra o nível de carga da bateria. - Um indicador de economia indica ao condutor, com precisão, o seu nível de consumo de energia. Surgem também novos códigos de cor: azul claro na faixa de utilização “normal”, azul escuro no funcionamento optimizado e vermelho na zona de sobre consumo, susceptível de afectar mais rapidamente a autonomia do veículo. - O computador de bordo está adaptado ao veículo eléctrico. Indica a autonomia em quilómetros, o consumo médio e instantâneo, bem como o número de kWh que restam. - O sistema de navegação inteligente Carminat TomTom® integra informação sobre a autonomia e indica, em permanência, a localização de estações de carregamento ou de troca de baterias mais próximas. A recuperação de energia na travagem faz igualmente parte do programa da gama Renault Z.E., com um dispositivo com a lógica de funcionamento do KERS (Kinetic Energy Recovery System) utilizado na Fórmula 1. Aquando da desaceleração, a energia cinética é recuperada e armazenada na bateria. O Renault Twizy encontra, fácil e rapidamente, um lugar para estacionar em cidade em locais onde os “microcarros” não conseguem. Com uma velocidade máxima de 75 km/h (para a versão com carta de condução), o Renault Twizy está à vontade em zonas suburbanas, podendo circular na periferia dos grandes aglomerados (dependendo da legislação local em vigor). n DEZ 2010 |
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Boavida|Saúde
Natal com mais saúde Não, não pense que vou dar-lhe conselhos para não abusar dos doces ou para evitar os excessos alimentares ou de álcool – este último em especial, se tiver de conduzir depois da consoada. Já toda a gente sabe isso, embora nestes dias de festa, alguns prefiram esquecer…
M. Augusta Drago
medicofamília@clix.pt
oje proponho-me dar alguns conselhos, mas destinados a evitar as intoxicações alimentares, que são tão frequentes e que causam tanto transtorno nesta época festiva. Regra geral, os doentes, quando vêm a uma consulta de urgência, apresentam-se com náuseas, vómitos, cólicas abdominais e diarreia. Também é comum saberem o diagnóstico. Costumam dizer: “foi qualquer coisa que comi…”. A intoxicação alimentar é uma doença aguda extremamente frequente, que resulta da reacção do organismo às toxinas produzidas por agentes patogénicos – bactérias e vírus – quando são ingeridos alimentos contaminados. A contaminação dos alimentos é, normalmente, resultante do manuseio impróprio dos alimentos e do desrespeito pelas regras de higiene. Os agentes mais frequentemente implicados nestas infecções são o campilobacter, a listeria e a salmonela. Qualquer destes agentes é difícil de detectar, quer pelo aspecto dos alimentos quer pelo cheiro ou mesmo pelo sabor. A ingestão de alimentos contaminados produz sempre desconforto gastrointestinal, mal-estar geral e, por vezes, dores musculares, como se fosse uma gripe. As intoxicações alimentares têm níveis de gravidade variável, dependendo da quantidade de toxina ingerida e das características do doente. Uma pessoa adulta saudável, que ingere uma pequena porção de alimento contaminado, pode resolver o problema sem necessidade de recorrer aos serviços de saúde. O mesmo não sucede quando se verifica uma diarreia intensa e líquida, ou quando o doente é mais vulnerável, o que acontece com as crianças, idosos e imunodeprimidos. Os cuidados de higiene alimentar começam na compra dos alimentos. As compras devem ser feitas de preferência em locais onde temos a garantia de que os produtos são frescos. Cada vez é mais importante verificar os
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prazos de validade, assim como respeitar as temperaturas a que os diversos alimentos devem ser conservados e que vêm escritas nas respectivas embalagens. Ao comprar carne, peixe e outros alimentos que possam ter algum líquido, é necessário isolá-los bem em sacos de plástico, para não pingarem e conspurcarem os outros alimentos. Os produtos frescos devem ser comprados em pequenas quantidades e com maior frequência. Os alimentos congelados e refrigerados devem ser os últimos a pôr no carrinho das compras e devem ser guardados, no frigorífico ou na arca, o mais rapidamente possível. Em casa, tenha atenção à higiene das bancadas, tábuas, bem como de todos os utensílios que estão em contacto com os alimentos. Lave os vegetais e a fruta com água corrente e guarde no frigorífico a uma temperatura inferior a 10º. Coloque os ovos no frigorífico, verifique a data de validade e conserve a embalagem para não se esquecer dela. Quando estiver a cozinhar, deve manipular separadamente os alimentos frescos e os cozinhados e lavar sempre as mão antes de iniciar a preparação e quando tiver de mudar de um alimento cru para outro já cozinhado. Assegure-se que os alimentos ficam bem cozidos no seu interior, para ter a certeza de que, por exemplo, o peru, está bem assado, deve utilizar um termómetro que se espeta na carne e dá indicação da temperatura no seu interior, esta deve chegar pelo menos aos 75º. Nos dias de festa, é certo que ficam sempre “restos” que podem e devem ser consumidos. Porém, não se recomenda que fiquem mais de dois dias no frigorífico. A carne, o peixe e todas as comidas que são confeccionadas com leite e ovos são susceptíveis de contaminação pelas bactérias de que já falei. A maneira melhor de conservar estes alimentos é em recipientes de plástico ou vidro, com tampas herméticas, para evitar o contacto com o ar e com as bactérias. Espero ter contribuído para um Natal mais feliz e com mais saúde para si e para a sua família! n ANDRÉ LETRIA
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Boavida|Palavras da Lei
Habitação permanente de idosos ?
Habito um T1 desde Dezembro de 1961, com um contrato de arrendamento celebrado em Novembro de
1966 entre mim e o avô do actual senhorio. Como eu e o meu marido fomos comprando muitos livros e objectos, a casa começou a tornar-se pequena, pelo que adquirimos um apartamento no Concelho de Oeiras, usando-o como casa de fim-de-semana. Por causa de uma doença de familiar, tivemos que, durante uns tempos, viver na casa de Oeiras; após a melhoria dessa pessoa, recebemos um telefonema do senhorio. O motivo por ele apresentado foi o de que, por causa de problemas de isolamento de uma empena, teve que fazer obras. O meu marido concordou em suportar partes das despesas, desde que lhe fosse apresentado orçamento para tal. A situação complicou-se, o senhorio insinuou que não usávamos a casa e a situação está em Tribunal. A minha idade concede-me alguns direitos sobre um eventual novo contrato de arrendamento? Sócia devidamente identificada por “Maria” – Lisboa Pedro Baptista-Bastos
esde já lhe agradecendo a sua longa carta, que não posso responder em todos os seus aspectos, e desejando-lhe felicidades para a sua acção judicial que tem todas as possibilidades de êxito – de acordo com o exposto – resumi as suas questões a uma única, na qual se baseia esta crónica. Todas as pessoas acima dos 65 anos que tenham um contrato de arrendamento podem ver a sua renda aumentada, mas este aumento é efectuado de modo faseado, ao longo de 10 anos. Se, por qualquer motivo, não habitasse permanentemente no imóvel, a renda seria faseada de dois em dois anos, independentemente da idade. No entanto, como está recenseada na freguesia onde se situa o imóvel, como paga água e luz, como está recenseada na Junta de Freguesia onde vota, há mais do que indícios suficientes para que o senhorio não possa sequer alegar a necessidade dessa habitação para seu uso, em sede de acção de despejo. E, embora nenhum advogado prudente goste de dizer isto, atrevo-me a dizer que terá êxito na sua demanda judicial, dado que o mais forte motivo para um despejo – a falta de pagamento de rendas – não se verifica nesta situação. Por outro lado, os arrendatários com idade superior a 65 anos e rendimento anual bruto corrigido do agregado familiar inferior a cinco salários mínimos anuais ficam excluídos da aplicação do Novo Regime do Arrendamento Urbano
D
(NRAU), com uma excepção: o fim da transmissibilidade do contrato por falecimento de um dos arrendatários, salvaguardando-se, no entanto, a situação dos cônjuges, dos descendentes menores ou em idade escolar, até aos 25 anos, e das pessoas deficientes. Quer isto dizer que o NRAU não lhe é aplicável na sua situação, excepto na parte do aumento das rendas, tal como a descrevi acima. O contrato que vigorará, independentemente do que suceda em Tribunal, será sempre o celebrado em 1966, com as actualizações de renda exigidas por Lei, para vossa protecção e segurança. n DEZ 2010 |
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ClubeTempoLivre > Passatempos 1
Palavras Cruzadas | por José Lattas
Abolis; Sufixo formador de substantivos masculinos, que indicam uso ou serventia. 3-Para mim; Divina; Capricho. 4Acoitas; Porções. 5-Também não; Contracção de preposição e artigo (pl.); Essência. 6-Enguias; Sossego; Rego. 7-Planta anual, palustre e termófila, pertencente à família das Gramíneas; Lamentação; Aconselhem. 8-Cachaça; Gavinha; Apuro. 9-Calor; Sapo do Amazonas; Conceito. 10-Berço de Santa Teresa de Jesus; Atola. 11-Dilecta; Publicou; Anno Domini (abrev.). 12-Popa; Arvorara; Impostura. 13-Alma; Arrasas. Verticais: 1-Possesso; Pedra de altar. 2-Cântico; Claudicas;
Assim seja!. 3-Ministério da Educação (abrev.); Aquentava. 4-O grande amor de D. Pedro; Agrada; Adjectivo latino, que significa o mesmo. 5-Solteirona (pop.); Lúcido. 6-Rebentos; Sus. 7-Alucinas-te; Para barlavento (naut.); Termo latino, que exprime a personalidade autoconsciente. 8-Catedrais; Caritativo; Admiti. 9-Mau cheiro (Bras.); Apelido de compositor e musicólogo peruano (1900-67). 10-Dezena; Dinheiros. 11-Antiga possessão portuguesa na Oceânia; Rotina. 12-Celeridade; Cachorro; Cada uma das cavidades que, na roda hidráulica, recebe a água, que a faz mover. 13Escusa; Pequena ribeira portuguesa, do distrito de Aveiro. 14-Alguns; Divisa; Enfiada. 15-Pronome pessoal (fem.); Amigos.
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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 SOLUÇÕES (horizontais): 1-DOMINGO; A; TARDE. 2-EDEN; RISCAIS; OL. 3-ME; ETEREA; MANIA. 4-O; ASILAS; DOSES. 5-NEM; AOS; G; C. 6-IROS; S; PAZ; VALA. 7-ARROZ; AIS; DITEM. 8-CANA; ELO; P; LIMA. 9-O; A; CIO; ARU; VER. 10-AVILA; ATASCA; A. 11-AMADA; EDITOU; AD. 12-RE; ERIGIRA; BULA. 13-ANIMO; O; ASSOLAS.
Horizontais: 1-Romance de Fernando Namora. 2-Paraíso;
2
Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos
N.º 21 Preencha a grelha com os algarismos de 1 a 9 sem que nenhum deles se repita em cada linha, coluna ou quadrado
N.º 21
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SOLUÇÕES
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ClubeTempoLivre > Novos livros
ÂNCORA EDITORA
BOOKSMILE
NÃO HAVERÁ AMANHÃ
DIÁRIO DE UM VAMPIRO
degelo dos glaciares e seu
Magalhães Pinto Com a freguesia Sanhoane,
BANANA
impacto nas populações locais.
como pano de fundo, este
Tim Collins Nigel é um vampiro
romance transporta os
desajeitado e pouco popular.
consequências do aquecimento global sobre o
EUROPA-AMÉRICA
cheiros, as cores e as
Transformado
texturas do Douro. Num
aos 15 anos e
cenário aparentemente
condenado a
ratolas e divirta-se com uma
OS SENHORES DA
idílico poderá descobrir uma
lidar com os
bela história em verso,
SOMBRA
visão pouco abonatória da
eternos
ilustrada com pop-ups
problemas da
irresistíveis.
Daniel Estulin Saiba tudo sobre a elite que
política, percorrendo
se esconde na sombra, sua
adolescência,
bastidores
Nigel, neste diário, escreve
AS MELHORAS, AVÔ!
agenda
inacessíveis ao
sobre a tentativa
Janey Louise Jones
secreta,
cidadão
desesperada de captar o
jogos de
comum.
amor de Chloe, do embaraço
poder e
As
de ter pais vampiros que, por
intriga… e
personagens e os
vezes, tentam morder os
como os
acontecimentos são do
seus amigos e de nunca ter
domínio da ficção, embora o
tido uma namorada, mesmo
governos e seus serviços
retrato do país se revele
morto há mais de 80 anos!
secretos estão em conluio
diversos
perturbadoramente real.
com traficantes e terroristas Com a hospitalização do avô,
para benefício e lucro
Poppy fica triste e não
mútuos.
consegue concentrar-se nos
As jogadas na obscuridade
treinos para o torneio de
criam a «realidade»,
ginástica. Será que as suas
inventam os bons e os maus,
prioridades se alteram com a
num jogo fraudulento pelo
doença do avô?
poder, pelo lucro e… pelo nosso futuro.
DESCOBRIR BUDA TEM CALMA, BORIS!
EDITORIAL PRESENÇA
FILHOS E AMANTES
teoria e prática da Via do
Sam Lloyd Boris é um monstro cheio de
HORIZONTES EM BRANCO
D. H. Lawrence Baseada nas vivências do
Buda ou do Despertar
boas intenções, a quem as
(vulgarmente conhecida por
coisas nem sempre correm
budismo), com análise
bem.
pelo mundo
num romance onde a Sr.ª
comparativa a outras
Ajude Boris e escovar o
na senda dos
Morel desiludida com o
tradições, como a hindu, a
cabelo e perceba como vai
efeitos do
marido, um mineiro rude e
cristã e a ocidental.
tornar-se um herói. Uma
aquecimento
bêbedo,
Descobrir Buda procura
história divertida com um
global que
concentra
conciliar os ensinamentos
fantoche em tamanho real.
evidência as
todas as
Paulo Borges Estudos e ensaios sobre a
budistas com a meditação
José Maria Abecasis Soares Uma viagem
autor, a obra explora os complexos laços emocionais,
impressões do autor sobre
esperanças
séria sobre o seu sentido,
O NATAL DOS RATOS
as expedições ao Aletsch e
no seu filho
reflectindo, em especial,
RATOLAS
Alpes suíços e a
Paul. Mas, à medida que
identidade pessoal, Deus e o
Jack Tickle Acompanhe as aventuras
Quilimanjaro. Uma obra que pretende dar
o rapaz cresce, surgem
conceito de realidade.
natalícias dos atrevidos
visibilidade às
tensões relacionadas com a
temas como a sexualidade, a
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paixão por duas mulheres e
Bernardo Mendes, cuja
Mário Cruz, Miguel Lopes,
com o conflito entre amor e
história se funde com a
Paulo Novais e Tiago Petinga
sentimento de posse.
conturbada fundação da
avivam momentos
nação, terá de vingar a morte
inesquecíveis desta visita
CORAÇÃO EM SEGUNDA
de seu tio e revelar os
papal.
MÃO
segredos d’ O Livro de Cale.
Catherine Ryan Hyde Vida, de 19 anos, está
LINHAS DAS MÃOS DOS
gravemente doente. Uma
FAMOSOS – APRENDA A
nova esperança, um coração
LER AS SUAS
alheio, fá-la
VOGAIS & COMPANHIA O DIÁRIO DE UM BANANA… E O MEU
compreender
Zila Dedicada à quiromancia,
proposta ao júri, Mia relê o
que só pode
aborda as principais linhas
seu diário e a história
Jeff Kinney Um diário repleto de
viver se outra
das mãos: formato, cor e
decorre, entrelaçando
ilustrações, com páginas
pessoa
sinais mais frequentes,
incríveis aventuras desse
pautadas e
morrer.
incluindo questões
diário com situações que a
balões de
Entretanto, Richard perdeu a
relacionadas com o amor, a
própria vive no presente.
diálogo vazios
esposa num acidente e o
sorte, a riqueza e a saúde
sofrimento levam-no a querer
das pessoas.
para criar a
LUCERNA
suas histórias
conhecer a pessoa que
Conheça,
recebeu o seu coração. E,
ainda, os
O PAPA EM PORTUGAL
momentos mais marcantes
num misto de emoções,
segredos das
Com prefácio de † Carlos
da sua vida. Uma ideia
surge, inesperadamente a
mãos de
Azevedo, o livro integra
original para mais tarde
paixão!
Manuel Luís
textos dos
Goucha,
jornalistas
e registar os
recordar!
O LIVRO DE CALE —
Merche Romero, Marina
(Ana Santos,
PERFEITOS
BERNARDO MENDES: O
Mota, Toy, Fernando Povoas e
Aura Miguel,
MONGE NEGRO (1060-1089)
de muitos outros famosos.
Manuela
Scott Westerfeld Tally é perfeita. Tem um rosto
Paixão,
e um corpo fantástico,
Carlos Cordeiro Reza a lenda que este
Octávio
pergaminho
EVEREST EDITORA
amaldiçoado
namorado giro
Carmo, Rosa Pedroso Lima,
e um guarda-
Susana Lúcio e Teresa Canto
roupa de fazer
- repositório
QUERO SER ESCRITORA
Noronha) que
inveja. A sua
de dados
Paola Zannoner A obra relata a história de
acompanharam Sua
vida social está
genealógicos de insignes
Mia, uma miúda de treze
Portugal, incluindo
que uma mensagem sobre o
portucalenses – deu azo a
anos que sonha ser escritora
saudações e discursos de
seu passado imperfeito
infâmias, lutas e
e que decide candidatar-se a
Bento XVI. As fotos de André
destrói a sua alegria. Agora
assassinatos.
um prestigiado curso de
Kosters, António Contrim,
terá de lutar pela vida, pois
Dividido entre o amor da
escrita, tal como Sean, um
Arlindo Homem, Estela Silva,
as autoridades não vão
filha do abade de Santo
atraente rapaz com quem se
Inácio Rosa, Jorge Oliveira,
deixar vivo alguém que saiba
Alberico e a fidelidade aos
cruza no evento.
José Sena Goulão, Luis de
o que ela sabe!
monges do mosteiro rival,
Para apresentar uma boa
Oliveira, Manuel Almeida,
Santidade na visita a
ao rubro, até
Glória Lambelho
OS SEUS AMIGOS VÃO GOSTAR DE AJUDAR Dar a quem mais precisa. Você escolhe uma entre 28 instituições. PROMOTORES:
PARCEIRO SOCIAL:
AUDITORIA:
Este Natal ofereça
APOIOS:
Info em: www.coolgift.pt
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ClubeTempoLivre > Cartaz
COIMBRA
Camponesas do Alva”em Avô
VIANA DO CASTELO
Atletismo
Concerto de Natal
Circuito de Cinema
S. Silvestre Cidade de
Dia 11 às 21h30 - Coro dos
Dia 11 às 21h30 – filme
Coimbra – dia 29 às 21h00
Pequenos Cantores de
Gomorra na Junta de
decorre a 34ª edição da
Coimbra, Choral Poliphónico
freguesia de Tregosa, pela
corrida de S. Silvestre
de Coimbra e Orquestra de
Associação “A Mó” - Vale do
Cidade de Coimbra, início na
Sopros de Coimbra na Igreja
Neiva; dia 18 às 21h30 – filme
rua General Humberto
de S. José em Coimbra; dia
Patoruzito - O Pequeno índio
Delgado. Informações e
12 às 16h00 – Grupo de
no Grupo Cult. Social Recr. e
inscrições na Agência Inatel
Câmara “Canticus Camerae”
Desp. de Cuide.
em Coimbra.
em Sepins; dia 19 às 16h00 Grupo de Câmara “Canticus
Espectáculo de Teatro
Cantares Natalícios
Camerae” no Salão Nobre da
Dia 19 - Grupo Unhas do
Dia 11 às 21h00 - grupos
C.M de Arganil.
Diabo na Associação Cult. e Desp. dos Jovens de Sá
típicos de Ançã , “As Camponesas do Alva” e
Teatro de Outono
ranchos de Sanguinheira e S.
Dia 12 às 15h00 - peça
Associação para o
Tarde Cultural
Mamede Infesta na Igreja
“Lucilina e Antenor “, de
Desenvolvimento e Formação
Dia 19 - Grupo Unhas do
Paroquial de Ançã; dia 31 às
Matilde Rosa Araújo, pela
Profissional de Miranda do
Diabo e R. Folclórico de Cuide
21h30 Rancho Folcl. “As
“Arte à Parte” na ADFP -
Corvo.
em Cuide.
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O Tempo e as palavras M a r i a A l i c e Vi l a Fa b i ã o
Dos barões assinalados à propaganda política […] De longe muito longe desde o início / O homem soube de si pela palavra / E nomeou a pedra a flor a água / E tudo emergiu porque ele disse // Com fúria e raiva acuso o demagogo / Que se promove à sombra da palavra / E da palavra faz poder e jogo / E transforma as palavras em moeda / Como se faz com o trigo e com a terra. // Sophia de Mello Breyner, Com fúria e raiva, in: O nome das coisas, Lisboa, 1977
D
as praias da Península, partem no medo do mistério do que os aguarda para além daquele mar hostil, que, visto de terra, lhes parece infinito. Em naus, caravelas ou galeões, em cujo bojo, entre biscoitos, salmouras, ratos e animais de capoeira, levam missais e missangas para o desconhecido, enfrentam com rezas a fúria de ventos e vagas, ou as mortais calmarias da terrível imensidão aquática. Eles são os barões assinalados, os que, em nome de reis gloriosamente visionários, vão dilatar o Império, para o que, “devastando as terras viciosas” (Camões o diz!) dos continentes descobertos, vão, sobretudo, dilatar a Fé, numa obra de evangelização em que a capacidade persuasiva da palavra anda de mão dada com a capacidade persuasiva das armas. Paradoxalmente, o predomínio da actividade missionária exercido pelo cristianíssimo Portugal e pela cristianíssima Espanha ao longo do séc. XVI desagrada a Roma. Logo, no dia 22 de Junho de 1622, o Papa Gregório XV promulga a encíclica Incrustabili divinae, que institui a Congregatio de propaganda fide (Congregação para a Propagação da Fé), a cujo cargo fica, finalmente, a direcção suprema dos assuntos eclesiásticos nos países não católicos e que, informalmente, passa a ser designada por PROPAGANDA. Uma nova palavra penetra, assim, nos léxicos dos principais países europeus na sua forma original de gerundivo do verbo latino propagare (propagar por estaca, multiplicar, espalhar, difundir, divulgar): PROPAGANDA. Inicialmente específico do léxico eclesiástico, o termo evolui semanticamente, adquire novas funcionalidades. Em 1842, William Brande observa, no Dictionary of Science, Literature and Art, que “o nome propaganda se aplica na moderna linguagem política, como termo de recriminação a associações secretas pela divulgação de opiniões e princípios
considerados com horror e aversão pela maior parte dos governos”. É sobretudo como propaganda política que o termo adquire, simultaneamente, grande importância na vida dos povos e uma conotação profundamente negativa. A propaganda é o elemento mais importante da competição política. Como instrumentos indispensáveis à consecução dos seus fins, a propaganda política usa a exploração do inconsciente colectivo e a palavra escrita ou falada. Só o uso intensivo de palavra e da “artilharia psicológica” da propaganda política pode explicar o fascínio de Hitler sobre uma nação que dera ao mundo uma invulgar plêiade de pensadores. Organizada em longos discursos encantatórios, a palavra era, para Hitler e para o povo alemão, que, incapaz de pensar, o seguia hipnotizado, o que a flauta mágica era para o caçador de ratos de Hamelin. “O homem moderno está surpreendentemente disposto a crer”, comentava Mussolini, querendo certamente dizer, que está disposto a ser manipulado, a ser conduzido, como os ratos de Hamelin, para onde quer que qualquer flautista o leve, inclusive para a sua destruição. Em plena campanha eleitoral dominada pelo tema central da crise financeira, a propaganda política do momento passa quase despercebida, como tal, perde-se, sem que nada se ganhe com isso, numa luta de palavras que continuamente se desdizem a si próprias, antes de terem tido oportunidade de convencer o mais crédulo. Felizmente, talvez… Afinal, como escreve Jean-Marie Domenach, “”Propaganda” é uma das palavras mais desacreditadas de qualquer língua”. Melancolicamente, penso: não tivessem os nossos barões assinalados substituído a Igreja na sua missão de dilatar a Fé, que nome se daria agora ao conceito de persuasão por qualquer método perverso, a que, nas principais línguas europeias, se dá hoje o nome de PROPAGANDA? n DEZ 2010 |
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Os contos do
O Número dois
A
primeira vez que vi Mariana foi com ela a meus pés. Era empregada única da Sapataria Passo-a-Passo e tentava convencer-me que o par de sapatos me assentava como luvas. Eu contrariava-a, afirmando que, com efeito, o esquerdo era cómodo mas o parceiro da direita apertava-me sem piedade. Ela ria-se, um riso claro e sedutor, e lá ia dizendo que o material tem sempre razão, os sapatos eram perfeitos e condizentes. Se problema existia só podia ser dos meus pés, um a pedir o número 40 e o outro a contentar-se com o 38. Para meu prazer, a conversa prolongou-se. Mariana era uma menina – mulher de feições iluminadas pelo sorriso constante e, nas posições em que ambos nos encontrávamos, o meu olhar enfiava-se pelo decote dela descobrindo os seios soltos e rijos. Afastados os sapatos de primeira escolha apresentou-me, em alternativa, um modelo que recusei de pronto por terem biqueiras demasiado em bico. Ela não desarmava o sorriso e o bom humor, insinuando que os pés eram bonitos mas, desditosamente, um me crescera mais do que o outro. Partimos para a terceira tentativa, senti com agrado a mão longa a segurar-me os tornozelos enquanto a outra mão forcejava na calçadeira. Então os sapatos e os meus pés conciliaram-se um com os outros, dei uns passos e declarei-me satisfeito. Ela permanecia ainda de joelhos no tapete e a alegria contagiante não se despegava do rosto. Olhei-a com o que ultrapassava a simpatia inicial para se tornar num enlevo e fiz a pergunta óbvia: — Como se chama? — Mariana. Ocorreu-me a contrariedade de ela ser empregada de sapataria, não me dava pretexto para a visitar com frequência. Melhor seria que vendesse cafés ou jornais. Todavia, não decorreu uma semana até voltar à Passo-a-Passo, agora para comprar sandálias, nada oportuno para um inverno frio e chuvoso. Ela recebeu-me como se fosse um amigo de longa data, brincou com a pretensa desarmonia dos meus pés –
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“com sandálias não se nota” – e dirigia-me miradas risonhas enquanto atendia uma freguesa indecisa quanto ao tom de castanho dos sapatos. Finalmente sós, não resisti ao impulso de confessar que – quais sandálias nem meio sandálias – o que me levava ali era o desejo forte de tornar a vê-la. Primeiro desenhou-se na carinha dela uma expressão de espanto, depois retomou o sorriso e disse: — Também estou contente por ter voltado. Mesmo que não leve as sandálias. — Não só comprarei as sandálias como sairei daqui com elas calçadas, indiferente ao frio e à chuva, se a Mariana aceitar almoçar comigo. Repare, é quase uma hora, de certeza vai fechar a loja e, que diabo, terá de almoçar. Vamos? A indecisão dela assomou numa frase: — É estranho, afinal nem o seu nome sei. — Nelson. E vou gostar do meu nome quando dito pela sua boca. Minutos depois segurei-lhe na mão ao atravessarmos a rua, a caminho de um pequeno restaurante próximo. Comemos robalos assados no carvão acompanhados de um vinho branco frio e amável ao paladar. Mais que tudo saboreei a doçura da voz enquanto me contava, sem um queixume, que o trabalho na sapataria começara seis meses antes. Não era o que pretendia mas desempenhava o papel com a meia satisfação de ter encontrado um emprego. Afinal, Mariana era a imagem da alegria de viver e teve pena quando olhou o relógio e quebrou o meu encantamento: — Tenho de ir, Nelson. —Já? Não tardarei a aparecer-lhe, nem que seja para comprar uns chinelos. Foi então que ela me apertou a mão e disse, baixinho, como que em confidência: — Não precisa. Apareça sempre que queira verme. — Arrisca-se a que a visite todos os dias. Era uma declaração de amor e os olhos dela responderam sim. Nesse momento fiquei certo de me ANDRÉ LETRIA
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ter enamorado pela empregada de uma sapataria onde entrara por bênção do acaso. O problema era Patrícia. Patrícia e eu vivíamos em satisfatória comunhão ia para dois anos e sempre surgira aos meus olhos como a mais apaixonante das mulheres. A número um. Teria de confessar-lhe o súbito encantamento por Mariana pois sempre nos tínhamos prometido franqueza total. A mesma franqueza com que Patrícia falava da sua paixão por Gonçalo Milcíades que a repudiara depois de um esboço de namoro. Sempre fui, para ela, o número dois. Acertei a situação procurando escudar-me na ideia de que, afinal, milhões de mulheres se contentam com os homens que têm á falta de um aceno do Brad Pitt ou do George Clooney. No meu raciocínio, Gonçalo Milcíades era um desses, excepto quando ela o intrometia entre nós, recordando com a sua ligeira e alegre gaguez, a barbicha loura, os cabelos presos com uma fita grená, o brinco em forma de meia lua. Aconteceu em momentos de ardor sexual, com Patrícia abraçada a mim e no auge da excitação me chamou de Gonçalo. Então eu sentia, desolado, que nunca passaria do número dois. — Não será um mero impulso? Tu, um tipo obcecado pelas artes e pelas ciências, querer para companhia de vida uma empregadazita de sapataria? Tens a certeza Nelson? — Absoluta. E é bom sentir-me o número um. Mulher de classe, Patrícia despediu-se de mim com mimo, e simpatia. Não estranhei. Eu teria sido igualmente atencioso se fosse ela a partir, chamada pelo Gonçalo Milcíades, seu amor de verdade. Meses de ardoroso romance foram os que se seguiram. Nos afagos sexuais a harmonia era perfeita e
Mariana surpreendia-me também pelo espírito vivo e pelo interesse com que me escutava quando eu puxava as conversas para assuntos históricos, de artes ou de música erudita. Era como lapidar um diamante raro e nem por um só momento o tédio arrefecia o nosso mútuo embevecimento. Ela fazia-me rir com histórias e anedotas que contava em passeios à beirario. Uma tarde chegou a casa esfusiante de felicidade: por influência de um freguês da sapataria, que lhe apreciara os méritos, conseguira novo emprego, numa biblioteca. A partir daí as sombras começaram a enegrecer. Cedo a senti diferente, por vezes nem me ouvia, era como se a mente vogasse por outros lugares. E chegou o dia em que a vi tão arisca e nervosa que quis saber: — Que se passa? — Nada. — Nada, como? Anda aí problema, salta à vista. Ela sentou-se com os cotovelos apoiados nas coxas e a cabeça entre as mãos. — Gosto de outra pessoa – disse. Um nó frio entupiu-me a garganta e quebrei o silêncio pesado com uma pergunta sem nexo: — Eu conheço-o? —Não. É uma pessoa maravilhosa, conseguiu-me o emprego na biblioteca, mas não foi por gratidão que aceitei viver com ele a vida toda. Desculpa, Nelson. Tentei aparentar serenidade e forcei um sorriso: — Que tem esse tipo de especial? — Tudo. Até a graça de ser um poucochinho gago, ter uma barbicha loura, usar um brinco em forma de meia-lua e uma fita grená a prender-lhe os cabelos. – Fez uma pausa, fungou e concluiu: - Ele é a única pessoa de quem gosto mais que de ti.n DEZ 2010 |
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Crónica
Um homem de todos dias Baptista -Bastos
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unca admitiu que a mulher morrera. A palavra estava rigorosamente suprimida do seu vocabulário e, por derivação, do vocabulário dos outros. Uma espécie de cerimonial do silêncio, respeitado por todos aqueles que haviam conhecido o casal. Quando a ela se referia, dizia: «Foi indo», e permanecia assim, hirto e rígido, fixando quem o escutava como num desafio. A casa estava cheia dela, do seu perfume, dos seus retratos: uma cronologia de rostos, de sorrisos, de gestos: o casamento, a viagem a Santiago de Compostela, os quatro filhos, os três netos. Fora uma união constituída numa identidade de imperfeições. Ele costumava dizer: «O nosso casamento resistiu a tudo, sobretudo aos estragos e às ruínas do tempo. O único que se manteve, entre os da nossa geração.» Às vezes vagueia pela casa enorme, conversa com a mulher que foi indo, criando diálogos derivados das situações quotidianas. A casa, na avenida Almirante Reis, possuía um corredor enorme e os quartos eram espaçosos e claros. Lembra-se de ter lido, em tempos, «A Escola do Paraíso», de José Rodrigues Miguéis, que falava daqueles sítios com áspera ternura. Os romances, então, ensinavam-nos a olhar as coisas com outras atenções, e até nos treinavam para comentar e criticar a época e os hábitos. Costumava ler poemas em voz alta para a mulher. Os poetas daqueles anos, bem entendido, e gostava, particularmente, do «Romance do Terceiro Oficial de Finanças», um lindo poema de Manuel da Fonseca. Chegara a conhecer Manuel da Fonseca, numa casa de pasto às escadinhas do Duque, onde se reuniam escritores, jornalistas, gente do cinema. Conversara, avulsamente, com ele, e apreciara o tom arrastado da sua conversa, uma sabedoria antiquíssima e uma integridade lisa, limpa e firme. Tinham ido, todos aqueles de quem gostava. Ocasionalmente, passeava por esses lugares, e parecia-lhe ver as sombras fugidias, os sons das conversas, o ruído dos copos. Ainda foi tentado a escrever uns textos breves, sobre aquilo que via. Percebeu, porém, que lhe faltava o sentimento secreto da escrita, o impulso que, por exemplo, levava Manuel da Fonseca a contar uma história a que toda a gente assistira, mas a que ele dava um toque, uma música muito particular, tornando-a diferente. A mulher dizia-lhe: «Tenta, tens de insistir.» Ele
sabia que não dispunha dessa música leve e única que faz com que as palavras pareçam solfejo. Se calhar, as palavras são mesmo solfejo. Leu-lhe uns casos, inspirados na vida real, mas compreendeu, pelo olhar dela, que os escritos não prestavam para nada. Desistiu. Contudo, não deixava de pensar, ao ler livros e histórias dos outros, que escrever era muito fácil. Tem saudades da mulher, de sentir o corpo quente dela na cama, dos seus ralhos e, até, dos seus constantes queixumes. À medida que o tempo foi correndo o rosto, os gestos, o modo de andar tornaram-se cada vez mais nítidos e definidos. A voz, o registo da voz, é que se perdera. A voz é a primeira a desaparecer da nossa memória, uns anos depois da saída da pessoa amada. Parece uma punição insustentável, tanto mais que, de contrário, seria bom conversar com ela, com essa voz. Ninguém o visitava. Os filhos tinham as suas vidas; no entanto, bem poderiam, de vez em quando, ir lá a casa, para ele ver os netos. Era o silêncio em torno de si. O silêncio não o assustava nem atemorizava. Com frequência permanecia na cama até tarde. Gostava de pensar em factos remotos, de rememorar a sua vida sem sentido, cheia de hipóteses incumpridas, de sonhos sem solução. Também gostava de ir a pé até à Baixa, olhar para as mulheres, sentir os seus perfumes, os odores dos corpos. Agora, cansava-se muito; até demasiado. E recordava o seu passo antigo e desenvolto. Mas logo suprimia a imagem por demasiado penosa. Apreciava futebol, via alguns jogos na televisão. A televisão era o sustento do seu tempo, Sentava-se no sofá, horas e horas a fio, comia umas sandes, uma peça de fruta, e adormecia. Gostava de ler «A Bola», apenas uma vez por semana. Era do tempo do Cândido de Oliveira, do Vítor Santos, do Carlos Pinhão, do Alfredo Farinha, do Carlos Miranda, agora as coisas eram outras, diferentes, e não sabia se melhores. Aqueles jornalistas serviam-se de palavras que favoreciam a sua imaginação como se tivesse visto, directamente, os jogos por eles narrados. Decidira, naquela manhã, sair um pouco. Talvez caminhar até ao jardim da igreja dos Anjos, sentar-se e atirar umas migalhas de pão aos pombos. Sentiu, de súbito, um imenso cansaço, uma indolência inexplicável, uma desistência do corpo. Deitou-se, cerrou os olhos e foi indo. n
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