Tempo Livre Fevereiro 2011

Page 1

01_Capa_223_FINAL:sumario 154_novo.qxd 26-01-2011 12:20 Page 1

N.º 223 Fevereiro 2011 Mensal 2,00 €

TempoLivre www.inatel.pt

Rituais Fallas de Valência, o elogio do fogo

Portfólio Egipto: o canal, as pirâmides e o Farol

Viagens Carnaval em Porto Santo


02:Layout 1 25-01-2011 15:15 Page 1


03_Sumario:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 12:24 Page 3

Sumário

Na capa 18|30 VIAGENS E RITUAIS

Carnaval de Porto Santo e Fallas de Valência Desfrutar do popular Carnaval de Porto Santo e aproveitar a amena temperatura da ilha para os primeiros banhos de mar de 2011 é, a par, das mais célebres e divertidas festas de Entrudo na vizinha Espanha – as Fallas de Valência – uma das atractivas propostas dos destinos Inatel para o próximo mês de Março.

5

EDITORIAL

6

CARTAS E COLUNA DO PROVEDOR

8 16 32 48

NOTÍCIAS

CONCURSO DE FOTOGRAFIA

25

TERMAS DE PORTUGAL

ENTREVISTA

As boas águas do Estoril

João Proença Há 15 anos a liderar a União Geral dos Trabalhadores (UGT), João Proença, engenheiro químico, fala da crise económico-social do país, considera que a crescente precariedade contratual no mundo do emprego “não é só anti-social, é também anti-sindical... “ e sublinha ter a Inatel um “papel fundamental na valorização das pessoas que trabalham”.

TEMPO GLOBAL

António Rebelo de Sousa analisa a crise económica europeia

52

OLHO VIVO

54

A CASA NA ÁRVORE

79

O TEMPO E AS PALAVRAS

ESCOLAS DE DESPORTO INATEL

Maria Alice Vila Fabião

Desenvolver o projecto em termos nacionais é o objectivo das Escolas de Desporto da Inatel, já em curso nos Parques Desportivos da Fundação em Lisboa e no Porto.

80

34 OS CONTOS DO ZAMBUJAL

82

CRÓNICA Eduardo White

38 PAIXÕES

57 74

Melício: o escultor de Lisboa BOA VIDA

43

CLUBE TEMPO LIVRE

PORTFÓLIO

Passatempos, Novos livros e Cartaz

Egipto: O canal, as pirâmides e o Farol

Revista Mensal e-mail: tl@inatel.pt | Propriedade da Fundação INATEL Presidente do Conselho de Administração: Vítor Ramalho Vice-Presidente: Carlos Mamede Vogais: Cristina Baptista, José Moreira Marques e Rogério Fernandes Sede da Fundação: Calçada de Sant’Ana, 180, 1169-062 LISBOA, Tel. 210027000 Nº Pessoa Colectiva: 500122237 Director: Vítor Ramalho Editor: Eugénio Alves Grafismo: José Souto Fotografia: José Frade Coordenação: Glória Lambelho Colaboradores: António Costa Santos, António Sérgio Azenha, Carlos Barbosa de Oliveira, Carlos Blanco, Gil Montalverne, Humberto Lopes, Joaquim Diabinho, Joaquim Magalhães de Castro, José Jorge Letria, José Luís Jorge, Lurdes Féria, Manuela Garcia, Maria Augusta Drago, Maria João Duarte, Maria Mesquita, Pedro Barrocas, Rodrigues Vaz, Sérgio Alves, Suzana Neves, Vítor Ribeiro. Cronistas: Alice Vieira, Álvaro Belo Marques, Artur Queirós, Baptista Bastos, Fernando Dacosta, Joaquim Letria, Maria Alice Vila Fabião, Mário Zambujal. Redacção: Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 LISBOA, Telef. 210027000 Fax: 210027061 Publicidade: Direcção de Marketing (DMRI) Telef. 210027189; Impressão: Lisgráfica - Impressão e Artes Gráficas, SA Rua Consiglieri Pedroso, n.º 90, Casal de Sta. Leopoldina, 2730-053 Barcarena, Tel. 214345400 Dep. Legal: 41725/90. Registo de propriedade na D.G.C.S. nº 114484. Registo de Empresas Jornalísticas na D.G.C.S. nº 214483. Preço: 2,00 euros Tiragem deste número: 154.605 exemplares


04:Layout 1 25-01-2011 14:46 Page 1


05_Editorial_223:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 12:24 Page 5

Editorial

V í t o r Ra m a l h o

Viver em tempo de crise

A

s preocupações da Inatel em marchar ao ritmo do nosso tempo, no domínio da informação e da procura de respostas ajustadas aos desafios que a todos hoje nos colocam, explicam o convite da " Tempo Livre" ao Prof. António Rebelo de Sousa para uma análise da crise financeira que afecta a Europa e o nosso país em particular. O excelente artigo que fez para o efeito, na esteira aliás de outros que a revista vem publicando, é de grande actualidade. Ele enquadra as preocupações que o líder da UGT, Engenheiro João Proença, nos transmite na entrevista que no início deste novo ano de 2011 nos concede e que justamente assinalamos. A Inatel é uma instituição que se suporta na memória, na acção do sindicalismo e na força do mundo do trabalho e seria indesculpável não ouvir a importante reflexão de João Proença sobre os desafios que hoje se colocam aos trabalhadores e aos sindicatos. De par com o artigo e com a entrevista, os associados encontrarão mais uma vez, nas páginas da "TL", propostas aliciantes integradas nas actividades tradicionais da Fundação, quer na oferta turística no Carnaval, em Porto Santo, quer no destino que foi preparado para a Fallas de Valência, dois dos muitos programas de excelência incluídos no período do Outono/Inverno. Falar da Inatel é falar também da cultura, do desporto e do enorme mundo que a preenche e que tem sido nossa preocupação reforçá-lo,

olhando sempre para o futuro. É com esta perspectiva que no desporto lhe damos a conhecer o projecto escolas do desporto, algumas delas já em funcionamento em Lisboa e no Porto, com um crescente número de praticantes. Não poderíamos também deixar de evocar o símbolo da lusofonia que foi o grande pintor Malangatana porque, como disse, a cultura é indissociável da nossa Fundação. Quem melhor do que Eduardo White, profundo conhecedor de Moçambique, das suas gentes e do próprio Malangatana para nos vir falar deste e da saudade que já sentimos com a sua partida?

N

outro plano, o escultor de Lisboa, de uma escola hiper-realista, Jorge Melício, cidadão do mundo, uma personalidade incontornável das Artes nacionais, é, também, neste número da nossa revista, objecto de um trabalho sobre a sua vasta e prestigiada obra, espalhada um pouco por todo o país, em colecções de museus e de particulares, sem esquecer as mais representativas, visíveis em espaços abertos da capital. Destaco por fim o reconhecimento à Unidade de São Pedro do Sul como Hotel de quatro estrelas nos processos de significativa melhoria das unidades hoteleiras da Inatel, que implicam requisitos muito exigentes de licenciamento. Um caminho que foi iniciado e que prosseguirá para um igual reconhecimento das restantes Unidades. n

FEV 2011 |

TempoLivre 5


06_Cartas:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 12:25 Page 6

Cartas A correspondência para estas secções deve ser enviada para a Redacção de “Tempo Livre”, Calçada de Sant’Ana, nº. 180, 1169-062 Lisboa, ou por e-mail: tl@inatel.pt

Pavilhão no Porto Eu, Jorge Gomes professor de desporto, licenciado pela Universidade do Porto, atleta de ténis de mesa do clube Sinapsa, venho por este meio perguntar: agora que houve uma mudança a nível de responsáveis na INATEL e, pelo que já li na “TL”, com vontade de modificar o que está mal, será que poderei ser informado o porquê de não haver um Pavilhão para prática de desportos no Porto? Jorge Gomes, Porto (email)

principal razão da existência desta Associação que é a de “Envelhecer sim, mas com qualidade de vida”. A enorme satisfação, decorre do facto de se tratar de pessoas que só na parte final das suas vidas viajaram para fora da sua terra; gozaram férias em hotel de qualidade; assistiram a peças de teatro; visitaram o Jardim Zoológico e o Oceanário de Lisboa, etc.. Uma satisfação expressa nos parabéns, ainda, para o pessoal da Agência de Braga, pela sua eficiência na preparação desta viagem. Manuel Rodrigues, Braga

Turismo Solidário

50 anos na INATEL

A Associação de Reformados de Santa Maria de Panoias-IPSS, Braga, inscrita na Inatel como Centro de Cultura e Desporto (CCD), vem manifestar a enorme satisfação dos seus 48 associados que participaram na viagem nº 60 do “Turismo Solidário 2010”. O programa da viagem enquadrou-se na

Completaram, este mês, 50 anos de ligação à Fundação Inatel os associados: António Monteiro Gil e Helder Joel Linguiça, Almada; António Almeida Teles, Amadora; José António Fonte Santa, Évora; Fernando Gomes, Gondomar; Mª da Conceição Silva, Lisboa; Máximo Marques, Loures; Manuel Pereira, Sintra.

Coluna do Provedor UMA DAS TAREFAS estimulantes nas funções

Kalidás Barreto provedor@inatel.pt

6

TempoLivre

| FEV 2011

para que sucessivamente tenho sido eleito na Inatel, é a de receber dos associados sugestões inovadoras para o funcionamento da Fundação. Estas sugestões são analisadas pela Administração e Departamentos a que se destinam para se concluir, ou não, da sua exequibilidade. É, sobretudo, interessante e socialmente valioso este tipo de correspondência, e que reflecte a diferença entre a prática da Fundação e, como agora se diz, do mercado. Com efeito, a Inatel não é só mercado hoteleiro como claramente estabelece o diploma (DL nº106/2008) ao acentuar “como fins principais” da fundação a “promoção das melhores condições para a ocupação dos tempos livres e do lazer dos trabalhadores, no activo e reformados, desenvolvendo e valorizando o turismo social, a criação e fruição cultural, a actividade física e desportiva, a inclusão e a solidariedade social” em todo o território nacional, com especiais res-

ponsabilidades, na prossecução destes fins, da confederações sindicais. Ao gerir um importante património edificado, constituído essencialmente por equipamentos hoteleiros, culturais e desportivos, dedicados à prestação de um vasto leque de serviços nas áreas da hotelaria e do turismo social, do termalismo social e sénior, do apoio e promoção da cultura tradicional, do teatro e do desporto amador, sem esquecer os programas e iniciativas de inclusão e solidariedade social envolvendo, sobretudo, jovens e idosos, a Inatel tem uma função e responsabilidade que ultrapassa a mera realidade do mercado. Sem chegar à humildade do filósofo grego que teria afirmado “só sei que nada sei”, embora saber que nada se sabe já é saber alguma coisa, temos a certeza de não possuir o dom da omnisciência. É por isso que agradecemos as contribuições dos nossos associados, interessados simplesmente na melhoria dos serviços da Fundação.


07:Layout 1 25-01-2011 14:48 Page 1


08a14:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 12:27 Page 8

Notícias

Quatro estrelas para o Inatel Palace O Turismo de Portugal atribuiu classificação de quatro estrelas à Inatel Palace, em S. Pedro do Sul, uma distinção ligada à alteração estatutária da Fundação Inatel que prevê, no prazo de três anos, a adequação dos seus equipamentos e l

Vítor Ramalho e Carlos Mamede com a primeira placa de classificação da Inatel Palace, a afixar na fachada principal daquela unidade hoteleira.

actividades ao sector privado. Carlos Mamede, vice-presidente da Inatel e responsável pela área do Turismo, sublinha a importância desta classificação e o esforço em curso na Fundação para adequar as unidades às novas exigências do mercado, adiantando que, em breve, toda a sua rede hoteleira estará classificada de acordo com a oferta de serviços e características de cada unidade. A classificação de estabelecimentos turísticos, da competência do Turismo de Portugal, obedece - recorde-se - a requisitos rigorosos que avaliam, entre outros, a qualidade dos serviços, a higiene, o funcionamento das instalações e equipamentos, a insonorização, o sistema de armazenamento de lixos, a iluminação de segurança e a prevenção de risco de incêndios.

Gavião promove "Trilhos do Tejo" l

Com o objectivo de aliar a

prática do desporto à promoção do concelho, a câmara de Gavião organiza um interessante percurso pedestre intitulado "Trilhos do Tejo", por veredas e caminhos das duas margens do Tejo, num fascinante enquadramento paisagístico que inclui o belíssimo Castelo de Belver. O percurso apresenta um trilho circular com origem e destino em Belver e contempla, ainda, passagem por Alamal, local onde se situa a unidade turística da Inatel. A iniciativa tem o apoio da Fundação na divulgação e promoção e os interessados poderão obter informações mais detalhadas junto da autarquia e da Inatel em Alamal.

Castelo de S.Jorge: quase um milhão de visitantes

Castelo de S. Jorge recebeu, em 2010, um total de 969.519 visitantes dos quais 12% nacionais. Para este aumento contribuiu a abertura do Núcleo Arqueológico do Castelo de S. Jorge, em Março passado, e a aposta no programa Domingos em Família. O Serviço Educativo totalizou 44.170 l

8

TempoLivre

| FEV 2011

participantes nos seus diferentes programas - Visitas Orientadas, Ateliers, Domingos em Família, Actividades de Verão, Morcegos no Castelo, Dias com História, Semana da Criança e Festas de Anos. Preços: Normal: 7,00 €; Reduções: Estudantes - 3,50 € , Sénior > 65 anos

- 3,50 €, Família incluindo < 18 anos - 3,50 €, Pessoas com deficiência 3,50 €, LX Card - 4,90 €, Grupos escolares organizados com marcação prévia - 0,70 €. Isenções: Crianças até 10 anos, Residentes, Jornalistas e Operadores Turísticos no exercício de funções.


08a14:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 12:27 Page 9

Associação Salvador lança "Portugal Acessível" l Desenvolvido pela Associação Salvador, com a missão de guia nacional de referência na disponibilização de informação sobre a acessibilidade física em diferentes tipos de espaços em Portugal, o site Portugal Acessível www.portugalacessivel.com - tem já disponível informação sobre acessibilidades físicas em mais de 3.000 espaços em Portugal, graças a uma equipa que realiza os levantamentos in loco por todo o país. Simultaneamente, o site pretende ser uma ferramenta de sensibilização junto de entidades públicas e privadas para a importância das acessibilidades, contribuindo para a integração das pessoas com deficiência motora ou mobilidade reduzida na sociedade e para a melhoria da sua qualidade de vida. O Guia Portugal Acessível, além de permitir a interacção e troca de experiências entre a comunidade de pessoas com deficiência motora, disponibiliza informação detalhada

sobre diferentes espaços, nas seguintes áreas: Alojamento (ex: hotéis, hotéis-apartamento, pensões, pousadas); Cultura (ex: museus, monumentos, jardins); Praias (marítimas e fluviais); Restauração (ex: restaurantes, bares, pastelarias); Saúde (ex: hospitais, centros de saúde, farmácias); e Utilidades (ex: lojas, correios, serviços do Estado). O site começou por disponibilizar, em 2008, informação sobre 600 espaços na zona de Lisboa, sendo alargado em 2009 às 18 cidades capital de distrito e em 2010 aos 50 principais destinos turísticos (com base no número de hóspedes). Actualmente, conta com informação sobre, aproximadamente, 3.100 espaços.

Parque de Jogos 1º de Maio Exemplo desses espaços é o resultante da parceria Associação Salvador/Inatel, situado no Parque de Jogos 1º de Maio em Alvalade Lisboa, destinado a pessoas com deficiência motora. Esta parceria vem

preencher uma lacuna e disponibilizar aquilo que os ginásios e espaços desportivos convencionais simplesmente não podem oferecer a pessoas portadoras de deficiência motora, ou seja, uma oportunidade para que as pessoas com deficiência motora possam melhorar a sua condição física, conquistando desta forma uma vida mais saudável. O designado "Espaço Desportivo Adaptado" oferece equipamentos e instalações adequadas às necessidades das pessoas portadoras de deficiência motora, nomeadamente um ginásio com máquinas adaptadas, que permitem acesso em cadeira de rodas assim como diversos equipamentos que permitem exercitar os músculos dos membros superiores e inferiores e efectuar um trabalho cardiovascular; pavilhões e zonas exteriores para a prática de ciclismo, ténis e basquete adaptados - com equipamentos à disposição; e balneários e sanitários adaptados, boas acessibilidades e acompanhamento por um fisioterapeuta com experiência neste tipo de deficiências

Janeiras na Covilhã O CCD do Grupo de Amigos Incondicionais do Orvalho foi cantar as Janeiras à Agência Inatel na Covilhã, para agradecer o apoio e reconhecimento da Fundação.

FEV 2011 |

TempoLivre 9


08a14:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 12:27 Page 10

Notícias

Concursos Inatel de Teatro, Vídeo e Artes

"Arte & Peregrinação" l

A Inatel Foz do Arelho foi palco, em Dezembro último, da cerimónia de entrega de prémios dos Concursos Teatro Novos Textos, Vídeo e Artes, direccionados tanto para beneficiários associados como não associados. No âmbito do Concurso INATEL/Teatro Novos Textos foi premiado com o "Grande Prémio" o texto original "A Manhã, A Tarde e a Noite" de Luís Mestre, e com o Prémio "Miguel Rovisco", para menores de 25 anos, o texto original "A Pítia" de César Magalhães. Do Concurso de Vídeo foram entregues: Prémio Fundação INATEL ao l

vídeo "Naufrágio" de Flávio Pires e Tiago Carvalho; Prémio Gente da Minha Terra ao vídeo "Pouco a Pouco" de Pedro Grenha e Rui Cacilhas; e Prémio Jovem Realizador ao vídeo "Nocturna" de Francisco Carvalho. O júri atribuiu ainda uma Menção Honrosa ao vídeo "Sinfonia dos Loucos" de Vasco Mendes.No Concurso de Artes, o Prémio Pintura coube à obra "Não-Lugar" de Mónica Mindelis e o Prémio Escultura à obra "Pirâmide" de Maria João Ribeiro. Foram também entregues duas menções honrosas, na categoria de Pintura, às obras "Microtonalidades" de Ana Cassiano e "Sem Fronteiras" de Carlos Vieira. Paralelamente, foi inaugurada a Exposição das Obras Seleccionadas do Concurso de Artes 2010, em que estiveram expostas as 10 obras seleccionadas na categoria de Pintura e as quatro obras seleccionadas de Escultura. A exposição esteve patente até final do mês de Janeiro na sala "Atlântico". A Cerimónia abriu com a actuação de um quarteto de cordas feminino.

Na Galeria Sul da Fundação

Oriente está patente, até 27 de Março, a mostra "Arte & Peregrinação, os Portugueses ao Encontro da sua História". Há mais de 20 anos que o Centro Nacional de Cultura organiza o ciclo de viagens "Os Portugueses ao encontro da sua história", que procura ir à procura dos vestígios que os Portugueses dos séculos XVII e XVIII deixaram pelo mundo fora.Verdadeiras embaixadas culturais dão origem a novos laços e projectos e são registadas nos Diários de Viagem, sempre da autoria de um artista plástico e de um escritor. Nesta exposição, reúnem-se pela primeira vez as ilustrações de quatro grandes artistas portugueses de gerações diferentes - Graça Morais, João Queiroz, José de Guimarães e Bárbara Assis Pacheco - resultantes de algumas destas viagens a países como o Japão, Indonésia e Índia. Os seus "relatos" de viagem são a demonstração nítida de que

"Round the Corner"

uma crónica gráfica de viagem permite irmos adiante do que

De Vasco Barata, "Un secret", uma instalação vídeo, com sessões de exibições diárias, de 26 de Fevereiro a 6 de Março, de 2011, no espaço "Round the corner" (no Trindade) com horário a definir. Um vídeo, cuja banda sonora nos narra um segredo…Até 20 do corrente, no mesmo espaço, a instalação "Ser espectador", de Anabela Bravo, de 2ª a sábado, das 15 às 20h00, uma reflexão sobre a condição de espectador na contemporaneidade (…) O espectador age cada vez que l

10

TempoLivre

| FEV 2011

observa, selecciona, compara e interpreta aquilo que vê. Nesta instalação, o espectador é confrontado com esta sua permanente condição.

se espera, uma vez que, além da narrativa das peregrinações, temos a descrição visual do que se sente num cenário diferente daquele em que vivemos no dia a dia.


11:Layout 1 25-01-2011 15:14 Page 1


08a14:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 12:31 Page 12

Notícias

Gala dos Trabalhadores

l Um animado e divertido espectáculo, com apontamentos musicais por parte de elementos dos diferentes departamentos, pontuou a Gala dos Trabalhadores da Inatel, realizada, no final de Dezembro, no Trindade. A anteceder o "show" do pessoal, foi projectado o documentário "Uma História com Futuro", comemorativo dos 75 anos da Fundação, seguido de uma intervenção do Presidente, Vítor Ramalho que, sem esquecer as dificuldades derivadas da actual crise económico-social que afecta Portugal, manifestou esperança e optimismo no futuro da Inatel. Nas imagens centrais, o colectivo do Desporto, acompanhado ao acordeão pelo ex-árbitro António Rola e sob o olhar atento do Júri, integrado por representantes de diferentes sectores da Fundação; em cima, o grupo da Informática, onde se destacou a bela voz de Rute Reis; em baixo, a equipa do Turismo Social. 12

TempoLivre

| FEV 2011


08a14:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 12:32 Page 13

Parceria Inatel/BP Na sequência da parceria que a Fundação Inatel estabeleceu com a BP, foi acordada uma revisão do acordo e que significa a melhoria das condições para

Corrida de S. Silvestre/Coimbra Organizada pela agência distrital da Inatel, a 34ª São Silvestre Cidade de Coimbra mobilizou mais de 400 atletas pelas ruas da cidade de Coimbra. Considerada a maior festa do Atletismo na região Centro do país, o seu percurso constou de duas distâncias diferentes: 6400 metros para Juniores e Seniores femininas, e l

Veteranos 2; e 9600 metros para Juniores e Seniores masculinos, além de Veteranos 1. Em femininos, a vitória coube à atleta olímpica Anália Rosa, seguida de Carla Martinho e Sara Pinho. No sector masculino, José Moreira (Cyclones) foi o vencedor, seguido de Paulo Gomes (Conforlimpa).

os seus Associados. Assim, o desconto em vigor de 5 cêntimos/l passa a partir de 1/02/2011 para 6 cêntimos/l. Relembramos que os Associados ao abastecer nos postos BP, acumulam pontos Premier Plus que poderão rebater para pagamento da quota anual (1000 pontos = pagamento da quota).


08a14:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 12:32 Page 14

Notícias

Mercados de Natal na Alsácia l Durante seis dias, um grupo de portugueses viveu na Alsácia a magia do Natal. História, Cultura e Gastronomia são os atractivos maiores de uma região que atrai mais de dois milhões de visitantes só no mês de Dezembro. Os coloridos e fascinantes Mercados de Natal - de tradição seiscentista - e o encanto da Floresta Negra deslumbraram este grupo de portugueses, como sublinha Elizabete Alves, ex-professora de Ilhavo, convencida por uma das filhas a desfrutar da festa natalícia alsaciana: "Tivemos muita sorte em apanhar neve. Isto é um verdadeiro postal. Nunca pensei que a Floresta Negra fosse tão espectacular! É como voltar

à infância". A INATEL - recorde-se organiza todos os anos viagens para este destino mágico.

Gala Sénior

Imagem do grupo que viveu a magia do Natal na Alsácia

Ramalde

Os associados Inatel do Porto já podem utilizar o Parque de Jogos de Ramalde, a partir das 18h00, para a prática de Futebol de Cinco, graças à relva sintética entretanto instalada. Filipe La Féria, autor do espectáculo “Fado - História de um Povo”, em cena no

Para mais informações contactar tel.:

Casino do Estoril, homenageado pelo presidente da Inatel no decorrer da Gala do

226 184 684

Turismo Sénior


15:Layout 1 25-01-2011 14:54 Page 1


16e17_Conc_Fotog:sumario 154_novo.qxd 26-01-2011 10:20 Page 16

Fotografia

XV Concurso “Tempo Livre”

Fotos premiadas [ 1 ] José Pinto, Coimbra Sócio n.º 494110 [ 2 ] Luis Gaspar, Lisboa Sócio n.º 265869 [ 3 ] José Pestana, Lisboa Sócio n.º 284337

[1]

[3]

[2] 16

TempoLivre

| FEV 2011


16e17_Conc_Fotog:sumario 154_novo.qxd 26-01-2011 10:20 Page 17

Regulamento 1. Concurso Nacional de Fotografia da revista Tempo Livre. Periodicidade mensal. Podem participar todos os associados da Fundação Inatel, excluindo os seus funcionários e colaboradores da revista Tempo Livre. 2. Enviar as fotos para: Revista Tempo Livre - Concurso de Fotografia, Calçada de Sant’Ana, 180 - 1169-062 Lisboa. 3. A data limite para a recepção dos trabalhos é o dia 10 de cada mês. 4. O tema é livre e cada concorrente pode enviar, mensalmente, um máximo de 3 fotografias de formato mínimo de 10x15 cm e máximo de 18x24 cm., em papel, cor ou preto e branco. 5. Não são aceites diapositivos e as fotos concorrentes não serão devolvidas.

Menções honrosas [ a ] Manuel Cardoso, Vila Nova de Gaia Sócio n.º 345542 [ b ] Maria Silva, Cacém Sócio n.º 493267 [ c ] Mário Bizarro, Vila Nova de Gaia Sócio n.º 64888

[a]

6. O concurso é limitado aos associados da Inatel. Todas as fotos devem ser assinaladas no verso com o nome do autor, morada, telefone e número de associado da Inatel. 7. A «TL» publicará, em cada mês, as seis melhores fotos (três premiadas e três menções honrosas), seleccionadas entre as enviadas no prazo previsto.

[b]

8. Não serão seleccionadas, no mesmo ano, as fotos de um concorrente premiado nesse ano 9. Prémios: cada uma das três fotos seleccionadas terá como prémio duas noites para duas pessoas numa das unidades hoteleiras da Inatel, durante a época baixa, em regime APA (alojamento e pequeno almoço). O prémio tem a validade de um ano. O premiado(a) deve contactar a redacção da «TL».

[c]

10. Grande Prémio Anual: uma viagem a escolher na Brochura Inatel Turismo Social até ao montante de 1750 Euros. A este prémio, a publicar na «TL» de Setembro de 2011, concorrem todas as fotos premiadas e publicadas nos meses em que decorre o concurso. 11. O júri será composto por dois responsáveis da revista T. Livre e por um fotógrafo de reconhecido prestígio.

FEV 2011 |

TempoLivre 17


18a22:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 12:35 Page 18

Viagens

Um carnaval lusitano com praia, montanha e boa gastronomia

E o Porto Santo aqui tão perto...

Conhecido pela beleza da praia com propriedades terapêuticas, o Porto Santo tem mais para descobrir. Uma grande riqueza geológica, que em breve dará origem a um Geoparque de nível mundial, belas veredas com paisagens deslumbrantes e uma gastronomia apetitosa e singular. Os dias de Carnaval, também festejados na ilha, podem ser um bom pretexto para a descoberta deste pequeno paraíso atlântico que teve em Cristóvão Colombo um dos mais ilustres moradores.

18

TempoLivre

| FEV 2011


18a22:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 12:35 Page 19

P

"

orto Santo - Ir é Voltar". Podia tratar-se de meras palavras que as levam a brisa do mar, mas os turistas habitués deste pequeno paraíso do Arquipélago da Madeira comprovam que o slogan com a qual a ilha se tem feito representar em Feiras de Turismo, como a BTL, não é enganador. O extenso areal dourado, de cerca de 9 km, é o favorito, há dezenas de anos, de Manoel de Oliveira. Com 102 anos de idade, o grande mestre do cinema português não desiste, ano após ano, dos dias serenos e repousantes e dos inigualáveis banhos nas águas mornas azul-turquesa que a mais 'africana' das praias portuguesas lhe proporciona. Muitas outras figuras conhecidas têm-lhe seguido o exemplo, caso, entre outros, do apresentador Jorge Gabriel, da RTP, que comprou casa na ilha e costuma lá ir várias vezes ao ano, nem que seja para jogar algumas partidas de golfe com os amigos.

Praia e Carnaval Procurado pelos turistas essencialmente no Verão, atingindo o pico de visitantes em Agosto,

o Porto Santo é convidativo todo o ano graças à sua amena temperatura. Cruzar-se com pessoas de manga curta e calções em pleno Inverno, assim como ver turistas a nadar, não é assim tão estranho quanto possa parecer. Fevereiro poderá ser a altura ideal para os mais destemidos estrearem a época balnear, que ganha mais força na Páscoa e pela altura das festas do São João, em Junho, o verdadeiro cartaz turístico da ilha. Os dias breves de Carnaval podem, no entanto, ser a desculpa perfeita para partir à descoberta deste e de outros encantos desta pequena ilha de 42 km2. Não tão sofisticada ou luxuosa como a do Rio de Janeiro ou a do vizinho Funchal, esta época de festa é vivida com animação no Porto Santo com o chamado Carnaval Trapalhão. Na terça-feira de Entrudo desfila pelas ruas de Vila Baleira um cortejo popular, com as tradicionais sátiras, de que os porto-santenses não abdicam, a temas locais e nacionais. A autarquia tem apostado na dinamização deste popular ritual, "desafiando as associações culturais e recreativas do Porto Santo, que são, a da Camacha e a do FEV 2011 |

TempoLivre 19


18a22:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 12:35 Page 20

Viagens

Espírito Santo, para também elas mobilizarem os porto-santenses a mascararem-se", salienta Roberto Silva, presidente da Câmara Municipal. Nos últimos anos, tem sido convidada a participar uma trupe do Funchal, a escola de samba "Os Cariocas". A festa termina com um espectáculo musical na Praça do Barqueiro, que este ano terá como estrela principal um artista da terra, revela-nos

Miguel Fonseca, da "Areal Dourado", entidade responsável pela programação do Carnaval. O arranque do Entrudo começa na sexta-feira, com as crianças das escolas básicas do Porto Santo a desfilarem disfarçadas. No passado faziam-se acompanhar pela Banda Filarmónica da Casa do Povo do Porto Santo.

Geoparque Cerca de 130 mil turistas visitam anualmente o Porto Santo - o recorde está em 180 mil, conta Roberto Silva - e em breve haverá uma nova atracção que poderá captar mais visitantes. "Temos um projecto muito interessante que estamos a desenvolver, que é o Geoparque do Porto Santo. A ilha tem um património geológico único no mundo com diversos geossítios que queremos divulgar e potencializar. O Pico de Ana Ferreira, o Cabeço das Laranjas na zona do Ilhéu de Cima e o Ilhéu da Cal são alguns exemplos. Haverá uma grande rota, onde as pessoas poderão sair de manhã e regressar ao final do dia podendo visitar todos estes sítios, ou fazer rotas mais pequenas. Estamos muito

20

TempoLivre

| FEV 2011


18a22:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 12:35 Page 21

empenhados em ter este Geoparque a funcionar em 2013 e candidatá-lo a Parque Mundial através da UNESCO", diz o autarca. No Ilhéu da Cal, por exemplo, é possível encontrar vestígios da extracção de cal desenvolvida no início do século XVIII, assim como observar escoadas lávicas submarinas, cinzas vulcânicas e espessas camadas de calcário.

Caminhadas Enquanto não pode partir à descoberta em plenitude da riqueza geológica, o visitante pode fazer

tranquilas caminhadas pelas veredas. Uma das mais bonitas é a do Pico Branco e Terra Chã, onde encontra vegetação indígena na escarpa, como o marmulano. A vereda do Calhau, junto à Fonte d'Areia, e a do Pico do Castelo são igualmente um convite a inolvidáveis e salutares passeios de montanha. Para ganhar forças para novas caminhadas, nada como deliciar-se com algumas das iguarias da ilha. A pouco mais de cem metros da tranquila e confortável unidade hoteleira da Inatel encontra o bar João do Cabeço, onde poderá saborear o original bolo do caco com manteiga de alho e as famosas lapas grelhadas, acompanhado por uma fresca cerveja Coral. Os menos apreciadores de cerveja têm, entre outras alternativas, a Brisa Maracujá, um dos sumos mais apreciados pelos madeirenses. A oferta de restaurantes é variada e em quase todos encontra pratos tradicionais como a espetada com milho frito ou os bifes de atum. Um peixe que vale a pena provar é o bodião grelhado. O prato mais típico do Porto Santo, a escrapiada com serralha, já não se encontra nos restaurantes. Considerada, no pasFEV 2011 |

TempoLivre 21


18a22:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 12:36 Page 22

Viagens

Vista do campo do Porto Santo Golfe

sado, comida dos pobres, a saborosa escrapiada apenas resiste, infelizmente, nas cozinhas familiares.

Novas unidades hoteleiras A ilha conta, actualmente, com cerca de 3000 camas para receber os turistas, mas o objectivo é subir essa oferta. Daí a previsão de novas unidades hoteleiras, nomeadamente o Colombo's Resort, um mega projecto de qualidade, de momento com as obras paradas, e um outro atractivo hotel de que Cristiano Ronaldo é um dos principais investidores. Roberto Silva confia no recomeço das obras no Colombo dentro de um ano, afastando o espectro do Vila Baleira, hotel que teve a construção parada durante mais de 25 anos. O empreendimento do internacional português e craque do Real Madrid está pendente da aprovação do plano de urbanização elaborado pela Câmara. O autarca gostaria que as obras se iniciassem ainda durante o primeiro semestre deste ano. É um investimento da ordem dos 50 a 60 milhões de euros e com 500 camas, que engloba hotel, moradias turísticas e uma clínica de recuperação para jogadores de futebol. Com a concretização destas duas unidades hoteleiras, o Porto Santo passa a contar com 5500 a 6000 camas. 22

TempoLivre

| FEV 2011

Há turistas suficientes para este número de camas? "No Verão sim, no Inverno não", diz Roberto Silva, que acredita, no entanto, que é na perspectiva de serem rentáveis todo o ano que se avançam com hotéis com estas características. No caso do Colombo's chegou a ser projectado para ter sete estrelas. Muitos ou poucos, os que escolhem o Porto Santo para férias fazem-no essencialmente pelo prazer de dias tranquilos de repouso e pela qualidade terapêutica das águas e areia da sua extensa e belíssima praia, uma alternativa semi-tropical a destinos balneares mais longínquos e obviamente mais 'pesados' para as deprimidas finanças da larga maioria dos portugueses. n Helena Magna Costa (texto e fotos)

Viagens Inatel Carnaval em Porto Santo é um dos destinos nacionais da Inatel, com uma estadia, de 6 a 11 de Março, na pequena ilha madeirense por ocasião das festas de Entrudo. Com partidas de Lisboa, o programa inclui passagem aérea, alojamento, pequenoalmoço e cinco refeições. Preços: em quarto duplo - 531 euros; quarto individual - 694 euros.


23:Layout 1 25-01-2011 14:58 Page 1


24a28:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:01 Page 24

Entrevista

João Proença Secretário-geral da UGT

H

á 15 anos a liderar a União Geral dos Trabalhadores (UGT), este engenheiro químico de formação trocou a docência universitária pela intervenção social e pela acção política. O doutoramento em Metalurgia Física ficou pendurado em 1974. Com o 25 de Abril veio a liderança sindical no Técnico, chegou a ser chefe de gabinete de vários membros do Governo nas áreas da Energia e Economia mas sempre a acompanhar a função pública. Foi por isso, sem surpresa, que em 1978 foi eleito o primeiro secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Função Pública da UGT, então criado. A actividade parlamentar chegou nos anos 80, tendo sido deputado pelo PS de 1987 a 1995. Orgulha-se de ter elaborado e apresentado na Assembleia da República a proposta do Rendimento Mínimo Garantido. Hoje, olha para o trabalho feito e afirma que é um homem feliz. Natural do concelho de Belmonte, foi uma surpresa para a família o ter enveredado pela intervenção social e pelo trabalho na função pública. Mas declara que fez uma boa opção, “sinto muito orgulho em ser servidor, em ser dos serviços públicos”. Embora também não esqueça que em Portugal a actividade sindical seja penalizada, no seu caso mantém a mesma categoria profissional desde os anos 80: investigador auxiliar do INETI, Instituto Nacional da Engenharia Tecnologia e Inovação. Sobre a história recente da Inatel, não se esquece que está intimamente ligada à maior manifestação de sempre em Portugal: o 1º de Maio de 1974, a explosão de alegria popular e a grande saudação ao 25 de Abril.

“A precariedade não é só anti-so c

24

TempoLivre

| FEV 2011


24a28:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:01 Page 25

o cial, é também anti-sindical...”

FEV 2011 |

TempoLivre 25


24a28:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:01 Page 26

Entrevista

A UGT acaba de participar numa greve geral conjunta com a CGTP Intersindical. Faz sentido esta bicefalia no movimento sindical? Totalmente, como aliás é tradição em todos os países do sul da Europa. O que não faz sentido é centrais sindicais viverem de costas voltadas umas para as outras. Faz sentido promover unidade na acção sempre que haja objectivos comuns de luta, não faz sentido promover a unidade orgânica, visto que há diferentes perspectivas quanto ao movimento sindical. Aliás a realidade europeia é que só há dois ou três países com uma única central: Inglaterra, Irlanda, Alemanha e Áustria, por razões históricas. O balanço do ano de 2010, para a UGT, é muito negativo. Mas esta crise tem de encontrar soluções. Agradam-lhe as recentes medidas? Esta crise tem uma dimensão nacional e uma dimensão internacional. Muito do que se vai passar está fora das nossas mãos. Estamos perante Um jovem uma UE que nos exige atingir precário quando se determinadas metas nomeadasindicaliza diz: mas o mente em termos de dívida, mas meu patrão não deve o atingirmo-las não nos salvasaber… guarda de intervenções negativas, nomeadamente uma entrada que consideramos absolutamente inaceitável: o FMI em Portugal. Também estamos dependentes do que se vier a passar: se a Europa assume as suas responsabilidades de ser não só económica mas também com uma dimensão política… E solidária… Solidária, social e cultural e tendo justamente este objectivo muito ligado à moeda única; uma moeda única implica haver capacidade orçamental, nomeadamente para haver políticas que tenham em conta o equilibrar a competitividade dos diferentes países europeus e a coesão económica, social e territorial. O que nem sempre se verifica… Porque não há uma verdadeira liderança europeia que seja pró-europeia. Temos uma liderança da França e da Alemanha mas nenhum dos presidentes - e nenhum é de esquerda -, se assume com uma perspectiva de futuro da Europa, que tenha uma dimensão federal e política, na Europa e no mundo.

26

TempoLivre

| FEV 2011

Mas não houve também, internamente, apostas políticas erradas? Apostou-se demasiado na financiarização da economia, estar tudo à volta do sector financeiro, dos lucros e da especulação. E chegamos a isto: por um lado, o sector financeiro a dizer às famílias ‘consumam que o banco empresta sem problemas’, mas omitia-se que as taxas de crédito bancárias para os cartões de crédito andava perto dos 30% ao ano e as pessoas endividaram-se de uma maneira excessiva. Nas empresas, a mesma coisa: emprestamos e vocês até convertem os capitais das empresas em sociedades de gestão de participações e depois estas poderão fazer investimentos financeiros, em vez de fazerem investimentos no sector produtivo. E até os próprios empresários da área social desapareceram, transformaram-se em investidores do sector financeiro. Há que voltar, portanto, a investir no sector produtivo… É necessário sobretudo ter presente de que não podemos permanecer com este grande endividamento face ao exterior, temos de equilibrar as importações e as exportações. Antigamente eram equilibradas pelas remessas dos emigrantes, hoje isso não acontece, temos de encontrar um caminho noutro sentido. Por outro lado, em termos de défice, tem de haver sacrifícios mas muitas vezes os sacrifícios são assumidos da maneira mais fácil. Ou seja: cortes nos salários da função pública e aumento de impostos, mas não se traduzem em melhoria das políticas públicas, nomeadamente na melhoria do funcionamento da administração. Essa deve ser a questão central. Temos uma crise económica e social mas também temos uma crise de desemprego... E eu não posso combater a crise económica e social sem pensar também em promover o emprego, criar postos de trabalho, combater a precariedade, melhorar a qualidade do emprego. E sabendo que as medidas de combate à crise são necessariamente recessivas, provocam um menor crescimento económico, provocam eventualmente no curto prazo o aumento do desemprego. Mas como é que eu dou resposta às pessoas? Pessoas que hoje não têm rendimentos poderão por via de ocupações temporárias, da formação profissional, obter alguns rendimentos, ou de pessoas que estão em risco de perder qua-


24a28:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:01 Page 27

capacidade técnica das empresas e a entrada desses licenciados pode vir a ter um papel extremamente importante. A segunda questão é que há muitos licenciados no mercado de trabalho que nunca tiveram a noção de estar em cursos de fraca empregabilidade, ou uma empregabilidade muito ligada ao Estado. Mas o Estado hoje não está a recrutar. E é necessário reclassificar esses licenciados mas para profissões claramente identificadas como profissões em que há falta no mercado de trabalho. Há um equilíbrio que tem de ser encontrado… Temos que utilizar este período de maior desemprego para criar condições para ir criando postos de trabalho – o facto do desemprego estar a crescer não impede que todos os dias a economia crie e destrua postos de trabalho. Por ano, criam-se em Portugal muito mais de 100 mil postos de trabalho. Mas não são suficientes. Há, ainda, que criar condições de empregabilidade, quer para Tenho a noção de agora, quer para o futuro, quer que dei o meu melhor dos jovens, quer de alguns que e acho que mudei estão em risco de serem marginaalguma coisa para lizadas do mercado de trabalho, melhor na vida de estamos a falar de pessoas de 45muitos 55 anos, com profissões que já trabalhadores. não têm saída no mercado de trabalho ou com baixo nível de educação, e temos de dar a essas pessoas uma oportunidade de integração, não podemos aceitar que sejam colocadas à margem. A dois anos de terminar o último mandato à frente da UGT, está satisfeito com o caminho que percorreu? Estou. Sinto-me com a noção de que dei o meu melhor e acho que mudei alguma coisa para melhor na vida de muitos trabalhadores. É evidente que gostaria de ter feito mais, mas a UGT cresceu, é uma instituição respeitada e forte. Independentemente de uns concordarem e outros discordarem do que faz, é respeitada pelo conjunto da população e pelo conjunto dos trabalhadores. Temos as limitações de intervenção do movimento sindical que hoje se confronta com o desemprego, com a modernização de sectores de actividade que conduziu a muita saída de trabalhadores mais velhos e isso traduz até decréscimo das quotizações dos sindicatos. Há um menor envolvimento sindical.

lificações, de sair do mercado de trabalho… como é que eu posso classificar? Repare que há profissões a desaparecer. Com a crise do sector das confecções, por exemplo, a profissão das costureiras praticamente desaparece. E havia dezenas de milhares de costureiras, a maioria delas agora no desemprego e têm de ser classificadas noutras profissões. E o mesmo ao nível dos licenciados do ensino superior… A chamada geração ‘nem-nem’, nem estuda nem está empregada … Para nós é uma prioridade. Por isso nos batemos muito pelo programa dos estágios sobretudo orientado para os licenciados. Duram nove meses mas fazem descontos para a Segurança Social, integra-os já no sistema, o que lhes dá acesso ao Subsídio Social de Desemprego e até com um pouco mais de tempo de trabalho ao Subsídio de Desemprego. Mas dá-lhe sobretudo acesso a um programa de alta empregabilidade. Antes da crise, grande parte dos estagiários, mais de 70%, conservava o posto de trabalho. E hoje as empresas estão receptivas a esses estagiários? Queremos reforçar os incentivos para que os recrutem, porque há um problema de falta de

FEV 2011 |

TempoLivre 27


24a28:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:01 Page 28

Entrevista

As pessoas no passado sentiam mais necessidade de estar sindicalizadas do que hoje. Os jovens estão sujeitos à precariedade e muitas vezes até têm receio de se sindicalizar. É a realidade dos factos. Um jovem precário quando se sindicaliza diz: mas o meu patrão não deve A Inatel tem um saber. Sindicaliza-se muitas papel fundamental na vezes por motivo de solidariedavalorização das de, mas também para estar melpessoas que hor protegido. Se necessitar de trabalham protecção, é claro que o sindicato aparece. Mas enquanto não necessitar de protecção explícita, o sindicato é um seguro que está a fazer. Na recente greve geral muitos trabalhadores diziam: se eu fizer greve geral arrisco-me a ter penalização por parte do empresário. Nós dissemos: se vocês conseguirem provar que foram penalizados pelo facto de terem aderido à greve geral, é o empresário que vai ser penalizado. O problema é provar. A precariedade não é só anti-social, é também anti-sindical. Como é que a UGT avalia o trabalho que a Inatel tem feito em prol dos trabalhadores, agora que celebra 75 anos?

28

TempoLivre

| FEV 2011

É uma grande instituição que tem desempenhado uma acção relevante em áreas fundamentais: na ocupação dos tempos livres, na cultura, no desporto. Precisa de manter a linha de rumo, de utilizar melhor os trabalhadores que tem e também de reforçar a sua capacidade técnicoprofissional. E precisa ter este aspecto de que é uma instituição ao serviço dos trabalhadores, do activo e reformados, aposentados. Esta dimensão pode ter um papel muito importante no quadro da competitividade e do emprego, nomeadamente porque hoje é fundamental que as pessoas sintam que são valorizadas e apoiadas. A Inatel tem um papel fundamental na valorização das pessoas que trabalham mas também na expectativa de quando saem da vida activa poderão ter um futuro melhor, mais apoiado. A Inatel tem de ser um instrumento que reforce a sindicalização, de ligar os trabalhadores ao sindicato e favorecer a actividade sindical. Há ainda que apostar claramente no intercâmbio com outros países onde há instituições idênticas muito ligadas ao movimento sindical. n Manuela Garcia (texto) José Frade (fotos)


29:Layout 1 25-01-2011 15:00 Page 1


30a33:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:03 Page 30

Cabeça

Fallas de Valência Elogio do fogo Valência celebra nos alvores primaveris uma festa ímpar, uma exuberante despedida do Inverno, com orgias de fogo e pólvora. A cidade é, em Março, um destino privilegiado das viagens Inatel.

30

TempoLivre

| FEV 2011


30a33:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:03 Page 31

E

ssa é uma imagem bem conhecida e tornou-se, justamente, um dos “exlibris” das festas populares dos nossos vizinhos ibéricos. As famosíssimas Fallas enchem as ruas da cidade levantina de multidões arrebatadas pelos estampidos dos petardos e pelo lumaréu que consome os conjuntos satíricos de figuras modeladas em cartão, os “ninots”. Não é nada difícil descortinar nestas festividades similitudes com o que noutras latitudes entusiasma as gentes enfadadas do Inverno, ansiosas e animadas pelas promessas de um novo ciclo. Uma das articulações mais óbvias, e mais consensuais, é a que se pode fazer com as festas de cunho pagão que marcam o solstício de verão. A evolução social e cultural e a ascensão do cristianismo constituíram factores que foram modelando e regulando, ao longo do tempo, este género de celebrações, que assumiram, simultaneamente, expressões locais. Obviamente, as explicações destes “excessos” festivos têm na cidade de Valência um enraizamento em tradições particulares, locais, confir-

mando, ao mesmo tempo, o que vários estudos têm evidenciado: que aquilo que se designa por ”tradição” não tem, a maioria das vezes, muito mais do que umas dezenas de anos. Neste caso, certas crónicas da urbe dizem que o acontecimento mais remoto com o qual se pode estabelecer um parentesco seguro com os actuais rituais festivos é uma grande queima pública de madeira velha, acto que terá ocorrido há pouco mais de uma centena de anos, já no findar do séc. XIX. Oficialmente, a fogueira terá sido ateada em honra do patrono dos carpinteiros, São José. Noutra hipótese, talvez as explicações se devam lavrar com menos pompa, mais circunstanciadas nas práticas habituais dos carpinteiros valencianos que, chegada a primavera, se livravam de restos inúteis de madeira, aproveitando eventuais formas antropomórficas no arranjo das fogueiras.

Terramotos às duas da tarde As festividades têm variadíssimos componentes e começam muito antes dessa noite. Os preparativos, com maior ou menor solenidade, têm início em Janeiro, embora em Dezembro do ano

FEV 2011 |

TempoLivre 31


30a33:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:03 Page 32

Cabeça

do dia 1 de Março, na agenda diária das festas, entre outros acontecimentos, está o rebentamento das “mascletàs”, dispositivos de petardos e de fogos de artifício cuja detonação em sequência (durante cinco ou seis minutos) enche o ar de densas nuvens de fumo e de um fortíssimo odor a pólvora. Realizam-se, normalmente, na Praça do Município, às duas da tarde, e o efeito, para quem estiver mais perto, pode ser similar ao de um terramoto – sem contar com o excesso de decibéis, que é uma das mais evidentes paixões dos valencianos...

Uma noite de chamas, música e pólvora

anterior esteja já fixado um programa provisório – que não varia muito de ano para ano - e vá já adiantada a concepção e a execução dos “ninots”, que deverão ficar em exposição a partir de Fevereiro e ser montados alguns dias antes da noite da queima, a “cremà”. As maiores peças podem requerer duas ou mais semanas para a montagem e, até, o auxílio de gruas. A construção das “fallas” leva vários meses e envolve o trabalho de dezenas de artistas, nomeadamente pintores e escultores, os “mestres fallers”. Actualmente, com a crescente sofisticação e dimensão dos “ninots”, ao papel, cartão e madeira tradicionais, juntou-se o poliestireno, uma material mais leve e dúctil. Os dois primeiros meses do ano correspondem a um período de celebrações com interesse, sobretudo, para a gente de Valência, com galas culturais e de pirotecnia, com a apresentação de comissões de festas, atribuição de prémios, recepção e exposição dos “ninots”, etc. A partir

Viagens Inatel O Departamento de Turismo da Inatel tem uma programa de viagem às Fallas de Valência de 16 a 21 de Março, com partidas de Coimbra, Santarém, Lisboa e Setúbal, e que inclui uma manhã e almoço em Madrid no primeiro dia e uma tarde e noite, com jantar, em Toledo, no penúltimo dia. Preços: quarto duplo 523 euros; individual: 704.

32

TempoLivre

| FEV 2011

As várias comissões “falleras” (cujo número se aproxima das quatro centenas) representam zonas, ruas e recantos da cidade e cada uma delas integra normalmente uma secção infantil, pelo que às “fallas” dos adultos, de pendor satírico (e acompanhadas por vezes, por um “libret” explicativo), se juntam as das crianças, que glosam temáticas mais próximas dos mundos da infância. Ao todo, são montadas e queimadas nas ruas de Valência várias centenas de estruturas, com menor ou maior sofisticação, cujo custo de produção pode ultrapassar os quinhentos mil euros. Algumas podem chegar aos trinta ou mais metros de altura. A “Nou Campanar”, construída em 2007, foi a mais alta de sempre, com os seus trinta e dois metros. Nem todas as “fallas” têm o destino do fogo. Durante o tempo em que estão expostas ocorre uma votação para se eleger os chamados “ninots indultats”. O indulto é concedido às ”fallas” avaliadas como as mais belas e expressivas. A decisão pertence ao povo valenciano e as peças eleitas podem ser apreciadas no Museu das Fallas. A noite da queima é o ponto mais alto da semana “fallera” e sucede à madrugada da “nit del foc”, a madrugada dos grandes fogos de artifício. A grande maioria das “fallas” alcança essa glória, a de ser consumida pelas chamas purificadoras que celebram, também, o advento da primavera. A noite da grande imolação das “fallas”, em 19 de Março, significa o momento superlativo de uma conjugação de excessos, reunidos os elementos mais amados das festas valencianas: a música, a pólvora e o fogo. n Humberto Lopes (texto e fotos)


30a33:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:03 Page 33


34e35:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:08 Page 34

Escolas de Desporto

Inatel promove desporto juvenil Contribuir para a elevação do nível de oferta desportiva da INATEL, às crianças e jovens, apostando simultaneamente no rejuvenescimento do universo de associados é o objectivo central do projecto “Escolas de Desporto”, uma iniciativa da Direcção Desportiva da Fundação e que irá concretizar-se através de parcerias com os seus associados colectivos Centros de Cultura e Desporto -, clubes, escolas ou outras entidades publicas e privadas.

D

estinadas a dar formação às crianças e jovens do País, as Escolas de Desporto irão funcionar como o motor que irá atrair o segmento infantil / juvenil a diversas modalidades desportivas, constituindo-se como estrutura nuclear das acções para a promoção, divulgação e qualificação da prática dessas modalidades.

Âmbito nacional A sua organização baseia-se no princípio da distribuição equitativa pelo País, tendo em consideração a qualidade, natureza e adequação das instalações para as modalidades desportivas respectivas, os aspectos demográficos e a procura desportiva pelos associados/praticantes. Deste modo, a sede de cada Escola irá situar-se preferencialmente numa instalação de propriedade e gestão da Fundação que reúna as condições técnicas exigidas pela res-

pectiva modalidade, ou em outra que possa ser definida no âmbito de acordo de cooperação e parcerias com outras entidades.

Visão integrada A (projecção) inovação deste projecto, baseia-se numa visão integrada do desenvolvimento desportivo, procurando sinergias entre as diversas entidades interessadas no movimento desportivo (publicas e privadas), respeitando e valorizando as vocações e competências próprias de cada interveniente, trazendo deste modo um valor acrescentado à oferta desportiva para os nossos associados praticantes e a população em geral. Com a implementação deste projecto, a Direcção Desportiva entende que deste modo está não só a rentabilizar os recursos existentes, como também a racionalizar a procura de resposta às novas e futuras necessidades, dando ainda resposta a uma necessidade, cada vez mais emergente na ocupação dos tempos livres e formação desportiva dos mais jovens.

Escolas em Lisboa e no Porto Recorde-se que, fruto de várias parcerias com clubes desportivos e outras entidades, estão já em funcionamento nos Parques Desportivos da Fundação, em Lisboa e no Porto, várias escolas abertas às camadas mais jovens da população. Assim, no Parque de Jogos 1º de Maio, em Lisboa, estão a funcionar escolas de atletismo, futebol, judo, taekwondo, basquetebol, badminton, rugby, natação e ténis. No Parque de Jogos de Ramalde, no Porto, estão as escolas de futebol americano, rugby e karate.n 34

TempoLivre

| FEV 2011


34e35:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:08 Page 35


36:Layout 1 25-01-2011 15:02 Page 1


37:Layout 1 25-01-2011 15:03 Page 1


38a40:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:09 Page 38

Paixões

Jorge Melício O escultor de Lisboa A cidade do Lobito, em Angola, foi a terra que o viu nascer. Desde os 7 anos a viver em Lisboa, por mais voltas que dê, Jorge Melício regressa sempre a esta sua cidade amada. Vive-a e sente-a como poucos. E também a tem povoado com alguns trabalhos em escultura, sobretudo.

38

TempoLivre

| FEV 2011


38a40:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:09 Page 39

C

abelo cortado à escovinha, altura meã, olhar vivo ainda que discreto, assim se apresenta Jorge Melício no meio dos seus trabalhos de pintura, de uma escultura hiper-realista e de trabalhos de artistas seus amigos ou até seus discípulos, que ele também ensina. Nota-se que se sente à vontade com este cenário. Mas já lá vamos.

Pela mão do avô… Não havia como fugir à arte nem nunca pensou em ser outra coisa. Ainda criança, a viver em terras africanas, depois das grandes chuvadas que alagavam as estradas, todas em barro, o que mais lhe dava prazer era pegar num pedaço de barro e começar a modelar. E as cores da cultura africana ficaram como grande fascínio. Para sempre. As férias eram sempre passadas em Lisboa com o do avô materno, numa casa decorada com obras de arte de pintores destacados e onde pontuavam cerâmicas de Bordallo -Pinheiro. Pela mão do avô Melício, homem muito ligado à cultura, percorreu todos os museus da cidade e começou a frequentar a ópera no S. Carlos logo aos 8 anos. Mas também não se inibiam de entrar em armazéns de ferro-velho, para ver peças de arte antigas, ou percorrer a Feira da Ladra – zona para onde há um ano mudou a residência e que tanta nostalgia lhe traz. Na Escola de Artes António Arroio, sentiu-se pela primeira vez sintonizado com colegas e professores que tal como ele viviam e respiravam arte. Ali “havia uma intimidade muito grande entre alunos e professores – estes eram todos artistas, o que por si só era um ensinamento vivo”. Já nas Belas Artes, que também frequentou, as memórias não são tão positivas. Daí que tenha decidido começar a expor muito cedo e aos 20 anos conhece o êxito na primeira exposição individual, de colagens, apresentada no Algarve. Recebeu os holofotes dos jornais e o bom augúrio não mais o abandonou. “A partir desse momento nunca mais parei”. Eram os anos do pós-25 de Abril e o país estava sedento de actividade cultural. Acabada a licenciatura, ruma a Paris onde o amigo Cargaleiro o ajuda a encontrar um local para expor. Vendeu a exposição toda e andou

meses a explorar a cidade e a região, a visitar os museus que tanto estudara mas não conhecia.

Observar o quotidiano Durante muito tempo esculpiu a pedra e fez restauros arquitectónicos mas há cerca de 15 anos aproximou-se da escultura hiper-realista e a ela se tem dedicado, com peças expostas um pouco por todo o país, outras integradas em colecções de museus e de particulares. As mais emblemáticas estão na capital: no Jardim Fernando Pessoa, junto à Assembleia Municipal de Lisboa, encontra-se o conjunto de escultura em bronze “A família”, são figuras humanas à escala natural. Outra obra de relevo é a que está nas imediações da sede da Caixa Geral de Depósitos, em cerâmica e dedicada à Rainha Santa Isabel. A mais conhecida de todas no entanto é a escultura em bronze “Mãe com bébé”, em que uma mãe africana amamenta o filho. Noutro registo, o traço de Melício pode ainda ser apreciado na Brasileira, ao Chiado, o friso em tela que encima a porta de entrada é da sua autoria. O traço fino e sensível é também marca de um trabalho constante em azulejaria. Sempre de lápis e bloco na mão, não raro é vêlo a traçar formas, volumes e sombras, para mais FEV 2011 |

TempoLivre 39


38a40:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:10 Page 40

Paixões

tarde “poder vir a gerar algo que tenha volumetria”. E para as fotografias o telemóvel também se revela um grande aliado – antes era uma pequena Kodac que andava sempre no bolso: “O movimento e a forma de estar das pessoas é algo que me motiva sempre”. Observar o quotidiano, o vestuário, as feições, as posições, tudo lhe serve de inspiração para as criações hiper-realistas, arte que reproduz o dia-a-dia das pessoas. Um dos próximos trabalhos vai ser apresentado no Museu da Vidigueira, onde o conceito é o retratar das profissões, o que o torna um espaço de exaltação ao hiper-realismo.

O prazer de ensinar E encanta-o a relação das pessoas com a sua produção artística, “fico muito fascinado quando vejo jovens e crianças felizes a circularem à volta das minhas esculturas que estão em jardins públicos; quando em jovem se brinca à volta de uma peça de escultura, mais tarde ficará de certeza sensibilizado para aquela forma de arte”. E é isso mesmo que Melício pretende com o trabalho que faz, que “haja interacção e um abraçar entre humanos e o objecto artístico”. A formação artística é outra das vertentes de onde retira muita satisfação. Ensinou em vários locais e ajudou a formar jovens artistas; tanto a colaborar com a autarquia lisboeta, como com uma Universidade da Terceira Idade. Chegou mesmo a ter um atelier de artes plásticas durante 17 anos. Tem recebido convites para ir trabalhar para o Brasil – já deu aulas de arte nas favelas da Rocinha e do Alemão, em colaboração com o Ministério da Cultura Brasileiro. Mas tem resistido. Não se imagina longe da cidade de Lisboa, que percorre diariamente a pé, tanto de dia como à noite, numa média de 10km diários. “É uma forma de bem-estar na vida, de podermos olhar os prédios de alto a baixo, apreciar peças arquitectónicas de diferentes épocas e de vários séculos, que são fascinantes”. Quanto ao futuro, não perdeu a esperança de um dia montar uma escola de artes que funcione 24 horas por dia para jovens marginais e semabrigo, seguindo o modelo do pedagogo inglês A.S. Neel. Já apresentou o projecto à câmara lisboeta, que o rejeitou. Mas Melício não desiste à primeira e vai insistir nesse sonho. n Manuela Garcia 40

TempoLivre

| FEV 2011


41:Layout 1 25-01-2011 15:12 Page 1


42:Layout 1 25-01-2011 15:10 Page 1


43a47:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:12 Page 43

Portfólio

Egipto

O canal, as pirâmides e o Farol O EGIPTO é um desses países que todos desejam visitar, nem que seja uma só vez na vida. E se a Esfinge e as pirâmides milenares continuam a ser o seu principal cartão-de-visita, é o Suez quem paga o quinhão principal da factura nacional. Cruzam-se diariamente nesse canal que une as águas do Mar Vermelho às do Mediterrâneo centenas de navios estrangeiros, importantes contribuintes para a estabilidade do produto interno bruto desse país árabe. Mas o Egipto é também um milagre da produção agrícola, graças ao Nilo, um dos maiores e mais admiráveis rios do planeta. Nas terras por ele fertilizadas – uns meros 5 por cento do território total – concentra-se a esmagadora maioria da população. Duas cidades são obrigatórias, seja qual for a opção

de visita. O Cairo, a capital mundial dos mesquitas, ali mesmo ao lado do Sara oriental e das pirâmides de Giza; e Alexandria, uma das antigas referências da cultura ocidental de matriz greco-romana. Dela recordamos o seu Farol, uma das sete maravilhas do mundo antigo, e uma imensa biblioteca, destruída por um devastador incêndio. Nesse mesmo local existe hoje uma outra biblioteca, exemplo maior da arquitectura moderna com palavras de todos os idiomas gravadas em baixo-relevo nas paredes exteriores, sinal de uma diversidade e tolerância que nem sempre são tidas em conta, como o comprovam os recentes ataques aos cristãos coptas dessa cidade. n Joaquim Magalhães de Castro (texto e fotos)


Portf贸lio

43a47:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:12 Page 44


43a47:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:12 Page 45

Cruzam-se diariamente nesse canal que une as águas do Mar Vermelho às do Mediterrâneo centenas de navios estrangeiros


Portf贸lio

43a47:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:12 Page 46


43a47:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:12 Page 47

“

Existe hoje uma outra biblioteca, exemplo maior da arquitectura moderna com palavras de todos os idiomas gravadas em baixo-relevo nas paredes exteriores

�


48a55:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:26 Page 48

Tempo Global

Das perspectivas futuras da econom ao futuro da economia portuguesa … António Re b e l o de Sousa

É do conhecimento geral que a economia mundial sofreu uma contracção de 2,2%, em 2009, com uma redução do PIB da ordem dos 5,2% no Japão, de cerca de 4% na “zona do Euro” e de, aproximadamente, 2,4% nos E.U.A1.

M

esmo o que se convencionou designar de “economias emergentes” experimentou um abrandamento no ritmo de expansão do nível de actividade económica, sendo, ainda, de realçar que os fluxos comerciais mundiais sofreram uma redução de 11,2%, enquanto que os movimentos do factor produtivo capital conheceram um decréscimo de 40,7%. E, se é verdade que os fluxos de investimento nos países do “centro-desenvolvido” diminuíram 45,4%, também não se apresentou menos verdade que os fluxos de investimento das Novas Economias Emergentes passaram por uma contracção de 35,5%. Ronald Findlay já havia procurado demonstrar que o que era bom para o “centro” também poderia ser bom para a “periferia”, pondo em causa a análise dicotómica convencional Norte-Sul2. E, em boa verdade, as economias “periféricas” dificilmente poderão crescer se o conjunto das economias desenvolvidas sofrer uma contracção, diminuindo, simultaneamente, o investimento originário das mesmas. E, também, não se apresenta fácil que venha a constatar-se um crescimento significativo da economia mundial com as economias do “centro” em crise. Em 2010, os EUA iniciaram um processo de recuperação, graças à política de estímulo à redinamização da economia americana (de inspiração Keynesiana) levada a cabo pelo Federal Reserve e pelo próprio Governo, recorrendo-se, inclusive, a fortes injecções de liquidez no sistema financeiro e 48

TempoLivre

| FEV 2011

a programas de investimento público geradores, aliás, de um elevado défice orçamental. Mas, os EUA são uma União Económica e Monetária completa, em cujo espaço existe uma coordenação de políticas, para além de o Federal Reserve poder comprar dívida pública no mercado primário, financiando directamente o Estado, em caso de necessidade. A admissibilidade de financiamento directo ao Estado por parte do Banco Central comporta alguns problemas, podendo, nomeadamente, gerar inflação, em caso de excesso de criação monetária. Daí que não se trate de um mecanismo a que deva recorrer-se com frequência. Só que, em recessão, importa mais procurar atenuar o problema do desemprego, estimulando a produção (e, por conseguinte, influenciando positivamente as expectativas de evolução da procura) do que erigir o controle da inflação em preocupação cimeira (sobretudo, em economias em que, mesmo com injecções de moeda no sistema financeiro, a inflação não ultrapassa os 1 ou 2%)3. E, contrariamente, à tese defendida pelos monetaristas como, por exemplo, Friedman e Phelps, a injecção de moeda no sistema financeiro não terá, apenas, um impacto inflacionista, podendo produzir efeitos positivos no nível de actividade económica. De facto, os monetaristas, partindo da equação da troca e assumindo o pressuposto das expectativas racionais, entendiam que um aumento no volume de massa monetária em circulação só contribuiria para o aumento do nível de preços, não tendo um impacto positivo na produção. Contudo, autores como Mankiw, Romer e Blanchard, puseram – e bem – em causa essa teoria, explicando que existia viscosidade nos preços e rigidez nos salários. Mas, se nos EUA tem havido alguma recuperação, graças à implementação de uma política monetária (e macroeconómica) consistente, já na U.E., em virtude de se terem registado hesitações excessivas na prestação de auxílio à Grécia – como,


48a55:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:26 Page 49

omia mundial a… aliás, refere Jacinto Nunes4 – registou-se uma evolução negativa, gerando-se uma situação, particularmente, crítica.

Do futuro da Europa Não pertenço ao conjunto dos que pensam que a Europa passará, no futuro, a Nova Periferia, enquanto que as Economias Emergentes (com destaque para a China) passariam a NOVO CENTRO. Os “Intermediate Countries” têm vindo a beneficiar de uma oferta excedentária de mão-de-obra, que permite a manutenção de baixos custos salariais, sendo, simultaneamente, certo que não estão confrontados com indivisibilidades tecnológicas que impeçam a obtenção de níveis de produtividade elevados. Daí a sua competitividade externa. Todavia, como avisa Paul Krugman, a Lei dos Rendimentos Marginais decrescentes vai, seguramente, ser uma realidade, o efeito demonstração – imitação social contribuirá, ainda mais, para reforçar o aumento dos custos marginais de produção, o IDE – Investimento Directo Estrangeiro nesses países está, em larga medida, dependente das estratégias delineadas por empresas multinacionais ocidentais, os modelos de desenvolvimento adoptados têm, em muitos casos – como na China –, correspondido a modelos de industrialização e não de desenvolvimento sustentado e os excedentes (saldos líquidos externos) têm sido canalizados para aplicações em mercados ocidentais, financiando, inclusive, dívidas soberanas, criando, por conseguinte, situações de interdependência. A Europa, com níveis de produtividade elevados, com um mercado endógeno exigente (com um perfil de procura comparativamente sofisticado) e com uma mão-de-obra, altamente, qualificada, poderá desempenhar um papel da maior relevância no contexto mundial. Mas, para tal, tem que aprofundar a U.E.M., o que implica uma maior coordenação ao nível das políticas macroeconómicas e, por conseguinte, o

reforço das instituições supra-nacionais. A presente situação não pode manter-se, havendo mesmo o risco da implosão da “zona do euro”. A ideia de que a Alemanha não está interessada na manutenção da actual “zona do euro” (que alguns autores preferem designar de “área do euro”) não faz muito sentido. Em boa verdade, tudo se passa, hoje em dia, como se, no mercado europeu, a Alemanha tivesse a sua moeda subvalorizada, enquanto que a generalidade das restantes economias teriam as respectivas moedas sobrevalorizadas. Com a destruição da “zona euro” ou a saída da Alemanha da mesma, a generalidade dos parceiros comerciais teria que desvalorizar as respectivas moedas (em alguns casos 20 a 30%) ou, então, a Alemanha teria que apreciar, substancialmente, a sua moeda, o que afectaria a competitividade externa das exportações alemãs. E, mal ou bem, a maior parte das exportações alemãs, ainda, tem como mercado de destino o europeu. Por outro lado, a destruição da “zona euro”, com eventual regresso da Alemanha ao DM, levaria a que a moeda alemã passasse a funcionar como “moeda de refúgio”, verificando-se um afluxo suplementar de capitais que iria pressionar, ainda mais, no sentido da apreciação da referida moeda alemã. O Ministro das Finanças da Alemanha já deve ter compreendido qual o risco de um “cenário” de destruição da “zona euro”. Por outro lado, a concretização de políticas orçamentais responsáveis (com redução dos défices e da Dívida acumulada) só produzirá efeitos positivos, a longo prazo, se fôr acompanhada de reformas estruturais, que permitam o aumento da competitividade externa das economias que integram a U.E. Ora, essas reformas estruturais só se apresentarão viáveis se, concomitantemente, forem criados, ao nível da própria Europa, mecanismos que possibilitem a sua implementação. E quais serão, então, as mudanças necessárias na Europa que poderão criar esses mecanismos, consolidando a UEM e possibilitando a inversão do “ciclo da crise”? A Europa precisa de um Orçamento Comunitário muito mais expressivo do que aquele com que conta actualmente, da ordem dos 4 ou 5% do PIB agregado da U.E. A Europa deveria dispor de um Fundo Comum FEV 2011 |

TempoLivre 49


48a55:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:26 Page 50

Tempo Global

de Emergência quatro ou cinco vezes maior do que aquele de que dispõe. A Europa deveria aceitar a alteração das regras comunitárias (e dos próprios Estatutos do BCE), por forma a ser possível ao Banco Central Europeu financiar directamente os Estados Membros da “zona do euro”. A parte de investimento público nacional dos projectos de investimento comparticipados por fundos comunitários não deveria ser tida em linha de conta para efeitos do critério do défice, bem como para efeitos do critério da Dívida Pública. Deveria haver, ainda, um reforço dos fundos estruturais europeus e das transferências para as economias mais carenciadas. Seria, ainda, fundamental uma maior articulação e coordenação de políticas macroeconómicas, em geral, e de políticas monetárias, em particular, criando-se condições para uma desvalorização significativa do euro em relação ao dólar. E, finalmente, a Europa precisava de um verdadeiro Ministro da Economia e das Finanças.

Do futuro da economia portuguesa. Se nenhuma das transformações propostas for concretizada, a economia portuguesa conhecerá uma recessão – com um decréscimo do PIB entre 1,5 e 2% em 2011. Como é sabido5, a criação de emprego só existe quando a taxa de crescimento do PIB se apresenta superior à taxa de crescimento da produtividade, o que, no quadro de uma recessão, se apresenta, praticamente, impossível. E para a taxa de desemprego diminuir é, ainda, necessário que a taxa de crescimento do nível de emprego seja superior à taxa de crescimento da população activa, o que, naturalmente, não se apresenta fácil. O mais natural – e na linha da Lei de OKUN – será um aumento da taxa de desemprego para valores que se aproximarão, no mínimo, dos 12%. Num contexto tão desfavorável, não se apresentará fácil obter os objectivos pretendidos para o défice orçamental, em 2011 e 2012, sem que novas medidas sejam adoptadas. Se, porventura, se vier a constatar que existem dificuldades suplementares no controle do défice orçamental, então os juros da dívida soberana poderão aumentar, ainda, mais, não sendo de excluir uma intervenção comunitária (na compa50

TempoLivre

| FEV 2011

nhia do FMI – Fundo Monetário Internacional), o que poderá contribuir para um afunilamento das condições de desenvolvimento da economia portuguesa, gerando-se um ciclo de recessão – medidas contraccionistas – agravamento da recessão. Tal só poderia ser evitado graças a reformas estruturais profundas, na Justiça, como na Educação (e, de um modo geral, na Administração Pública), o que, em meu entender, só seria possível com a introdução das transformações que já mencionei na U.E. Em qualquer caso, a esquerda democrática deverá ter que rever, necessariamente, a sua concepção de intervenção do Estado na economia e em termos do que se convencionou designar de Estado Providência. Mais importante do que a adopção de políticas de protecção do emprego, assentes na ideia de que aquilo que se apresenta progressista é a adopção de uma legislação orientada para a preservação do posto de trabalho, será, em meu entender, a adopção de políticas de apoio à adaptabilidade / mobilidade do trabalhador e à flexibilidade / mobilidade do investimento, como refere Teodora Cardoso6. As empresas, no futuro, terão que apresentar estruturas flexíveis, com redução da componente custos fixos. E o mesmo deverá acontecer com a Administração Pública, não se prescindindo, todavia, de uma “rede de direitos sociais mínimos” assegurada pelo Estado aos Cidadãos, pré-condição da obtenção das condições propiciadoras de estabilidade social, estabilidade social essa indispensável ao progresso económico e ao desenvolvimento integral e sustentado. n 1

Economist Intelligence Unit.

2

FINDLAY, Ronald – “The terms of Trade and equilibrium

growth in the World Economy”, The American Economic Review, Vol. 70, Junho 1980, pags 291 a 299. 3

A inflação em Novembro de 2010 era de 1,1% e a taxa de

inflação média anual nos EUA, entre 1914 e 2010, foi de 3,38%. 4

NUNES, Jacinto – “A Crise Económica” – Anuário da

Economia Portuguesa – 2010, Ordem dos Economistas, 2010. 5

Vide, a este propósito, DIAS, Mário Caldeira in “A crise

económica e o desemprego”, Anuário da Economia Portuguesa – 2010, Ordem dos Economistas, 2010. 6

CARDOSO, Teodora – “O endividamento, a economia e a

política”, “O Economista – Anuário da Economia Portuguesa – 2010”, Ordem dos Economistas, 2010


51:Layout 1 25-01-2011 15:16 Page 1


48a55:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:27 Page 52

Olho Vivo

Danças nupciais Como muitos animais, o homem também atrai mais uma fêmea da sua espécie se executar uns bons passos de dança. Segundo cientistas da Universidade de Northumbria em Newcastle Upon Tyne, as mulheres heterossexuais são mais atraídas pelos machos que fazem movimentos variados da cabeça, pescoço e tronco e menos pelos que mexem muito as mãos e os pés. Teoricamente, no início da evolução, um homem que fosse hábil nos movimentos do tronco, pescoço e cabeça, seria melhor caçador com arco ou lança, podendo assim contribuir mais decididamente para o sustento da fêmea e crias.

Quente e frio Quem é que acredita em aquecimento global este Inverno, numa Europa que treme de frio como nunca tremeu? É um discurso pouco credível, concorde-se. Porém, o físico russo Vladimir Petukov tem uma teoria para explicar o aparente paradoxo. Segundo o cientista, ambos os fenómenos estão ligados, porque o derretimento das calotes polares altera todo o sistema de pressões na zona do pólo Norte e gera um sistema de altas pressões que empurra o ar gelado para a Europa. A hipótese foi publicada pela Revista de Investigação Geofísica e vai ser estudada pelos especialistas.

Sem medos Cientistas americanos da universidade de Iowa descobriram a zona do cérebro que faz com que sintamos medo - uma região em forma de amêndoa chamada amígdala. A investigação pode contribuir para curar distúrbios como o stress pós-traumático. Uma mulher atingida por uma doença que lhe destruiu a amígdala manteve-se indiferente a todos os estímulos aterrorizadores a que foi exposta, incluindo alguns que punham a sua vida em perigo. Para interpretar os resultados, os investigadores convidaram o cientista português António Damásio, professor de neurociências na Califórnia, que estuda as funções da amígdala há vários anos.

52

TempoLivre

| FEV 2011

Hoje, não, querido A revista Science publicou em Janeiro provas de que as lágrimas humanas incluem sinais químicos que afectam o comportamento das outras pessoas. Nas lágrimas de tristeza de uma mulher, por exemplo, pode-se ler a mensagem "Hoje, não, meu querido". No decurso da experiência, homens que cheiraram lágrimas verdadeiras e recentes de uma mulher viram a sua excitação sexual diminuir, ao contrário de outros que cheiraram apenas uma solução salina que foi passada pela pele do rosto da mesma mulher. O estudo foi realizado pelo Instituto de Neurobiologia Weizmann, em Israel.

De África a Israel Restos de um Homo Sapiens com o dobro da idade dos até agora conhecidos, foram encontrados em Israel, numa gruta a leste de Telavive: oito dentes espalhados por camadas da caverna datados de há 400 mil anos. Os mais antigos fósseis de humanos têm 200 mil anos e foram achados na África Oriental. As escavações prosseguem, em busca de mais vestígios.


48a55:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:27 Page 53

A n t ó n i o C o s t a S a n t o s ( t ex t o s ) A n d r é L e t r i a ( i l u s t r a ç õ e s )

Temperatura ideal Não é por acaso que a temperatura corporal dos mamíferos (e dos humanos, claro) anda à volta dos 37 graus. Esse é o valor ideal para nos proteger das infecções, que aumentariam se tivéssemos um metabolismo mais frio, sem que tenhamos de estar sempre a comer para manter uma temperatura mais elevada. O equilíbrio perfeito entre custo e benefício foi estabelecido por cientistas do Instituto Albert Einstein, de Yeshiva, nos 36,7 graus.

Cara a cara Como é que sabemos instantaneamente que a cara de um boneco não é humana, por muito perfeita que seja a imitação? O que torna uma cara viva? Um novo estudo, publicado na revista Psychological Science, explica que estamos programados para identificar rostos humanos até na face da Lua, mas que "sabemos" quais são reais, quais são imitações, através do estudo dos olhos. Segundo os cientistas, fazemos essa análise imediata para poupar energias, uma vez que só nos interessa sociabilizar com rostos capazes de pensar, sentir e interagir connosco, sem perder tempo a falar para o boneco.

Há mais um elefante Novas provas genéticas estabelecem o que já se suspeitava: os elefantes da floresta africana são uma espécie distinta do elefante da savana. Cientistas americanos e ingleses que analisaram o ADN dos elefantes africanos e dos extintos mamute e mastodonte confirmaram que as duas variedades se separaram há uns 3 a 5 milhões de anos e que o elefante da floresta, mais pequeno que o da savana, é tão diferente deste quanto do elefante asiático ou do mamute.

Ano Novo, Hominídeo Novo Há um novo hominídeo no catálogo da Ciência. Nem neandertal, nem homem moderno, o indivíduo, com uns 30 a 50 mil anos, foi descoberto na gruta de Denisova na Sibéria, se bem que chamar-lhe indivíduo possa ser um exagero, dado só terem sobrado dois pequenos fósseis do denisovensis. Especialistas em antropologia evolutiva de Leipzig, Alemanha, analisaram o ADN de um osso da mão e de um dente, encontrados em 2008 no local, e publicaram os resultados a 2 de Janeiro de 2011, na revista Nature.

Bonecas para macacos Um primatólogo de Harvard, Richard Wrangham, estudou 68 chimpanzés na floresta tropical do Uganda e verificou que as fêmeas jovens utilizavam paus como reproduções dos comportamentos que as suas mães tinham com as crias. Os paus eram transportados às costas, "embalados" e até "amamentados" pelas pequenas chimpanzés, levando a equipa de Wrangham, que publicou o seu estudo em Janeiro na revista online Current Biology, a proclamar que, a exemplo das meninas, as macacas também brincam com bonecas. Os jovens chimpanzés machos, entretanto, usavam os paus para actividades pseudoguerreiras e de exploração do território. FEV 2011 |

TempoLivre 53


48a55:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:27 Page 54

A Casa na árvore Susana Neves

A embriaguez da água Protagonista da história do calçado de pau, o amieiro é a árvore dos rios que melhor entende o Carnaval.

O

«

amieiro é uma árvore borrachona», afirma o senhor Adão, de Lalim (Lamego), na noite gélida em que o fomos conhecer. «As máscaras de Carnaval são feitas com a madeira desta árvore porque é fácil de trabalhar e absorve a transpiração dos mascarados durante o cortejo», explica ele, um dos mais talentosos escultores de caretos, destinados às celebrações do Entrudo, em Lazarim. Mas o amieiro, “Alnus Glutinosa (L.) Gaertner”, espontâneo nas margens dos rios e terras húmidas, bebendo a transpiração dos foliões não serve apenas a desordem consentida do Carnaval, durante séculos, ajudou as gentes do Fotos: Susana Neves

54

TempoLivre

| FEV 2011

Norte a andar, trabalhar e folgar de pés secos. Citamos alguns versos do século XVIII: «Homem de Entre Douro e Minho/Calça de pau e veste linho,/Bebe vinho de enforcado,/Traz o porco escangado,/Foge dele como do diabo.» E é novamente o nosso interlocutor quem especifica: «Usavam-se tamancos feitos de amieiro, eram leves, e absorvendo a água nunca se andava com os pés molhados». Protagonista na história do calçado de pau português, esta árvore alta e austera, que pode alcançar 120 anos, já não alimenta a produção dos outrora proeminentes pauzeiros, tamanqueiros ou soqueiros do Norte (na freguesia de Vermoim, Vila Nova de Famalicão, foi erigida uma estátua em homenagem aos tamanqueiros) — profissões hoje praticamente desaparecidas. «Há 30 ou 40 anos havia mais de 10 ou 15 soqueiros. Um dos últimos, o senhor Tomás Borges faleceu há pouco tempo, há ainda outro artesão em São Cipriano, também idoso...» conta António Branquinho, Presidente do Grupo Folclórico e Etnográfico de São Pedro de Paus, cujos elementos dançam com socos e tamancos de amieiro. A ligação desta “Betulaceae” à história do andar não é, no entanto, exclusivamente portuguesa. Na Itália, desde o século XVI, por recomendação do médico botânico Pietro Andrea Mattioli, introduziam-se no interior dos sapatos, como uma espécie de palmilha, folhas de amieiro frescas, uma solução para relaxar os pés durante a marcha. Nos Alpes, era habitual os camponeses forrarem as sacas com folhas de amieiro aquecidas, para curar o reumatismo. Sedento de água, capaz de suster as terras nas margens dos rios (no Douro, as árvores junto ao rio eram cortadas antes das enchentes de Inverno) ou secar os pântanos, incorruptível e muito sólido, uma vez submersos os seus troncos, o amieiro desempenhou ainda um papel crucial na história da arquitectura. De facto, a este “Rei das Águas” se deve a elevação por estacaria, de Rialto, a mais antiga ponte em arco de Veneza, bem como os fundamentos de algumas catedrais medievas.


48a55:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:27 Page 55

Diríamos assim que a vocação primeira desta “árvore dos druidas”, enaltecida pelas mitologias irlandesa e britânica, é constituir-se como base sólida, infra-estrutura a partir da qual é possível edificar. Uma outra particularidade confirma-o: ao estabelecer uma relação simbiótica com uma minúscula bactéria em forma de cogumelo (“Actinomyces alni”), que se desenvolve nas suas raízes, o amieiro consegue fixar grandes quantidades de azoto, enriquecendo os solos. A este conjunto de virtudes junta-se a beleza da sua dupla floração que ocorre ao longo de Fevereiro e Março, quando sem folhas, exibe cachos de flores brancas pendentes (masculinas) e pequenas pinhas vermelhas aveludadas (inflorescências femininas) que em Outubro e Novembro se tornam lenhosas, abrem e libertam um pequenino fruto achatado e alado. Perante tantas maravilhas surpreende ver no amieiro uma árvore “inquietante” ou “maléfica”, conforme o enunciam Andrée Corvol e Jacques Brosse, conceituados investigadores da mitologia de árvores. Segundo estes autores, a explicação reside na singularidade do amieiro sobreviver em lugares, como os pântanos, perigosos ao Homem e inóspitos a outras espécies arbóreas; não produzir fumo ao arder (útil ao fabrico de carnes fumadas); crescer rapidamente beneficiando das podas, apresentar um aspecto espectral no Inverno e libertar seiva da cor do sangue quando é cortado. Durante algum tempo, na Europa, foi proibido cortar amieiros. Dizia-se que a árvore começava a falar, um pouco como a cabeça decepada do gigante Bran, da mitologia celta. Mas pior do que isso, temia-se que por vingança da própria árvore, a casa do responsável pelo seu abate fosse incendiada. No fundo, cada amieiro era visto como uma pessoa, um descendente do primeiro homem sobre a Terra, cujo corpo, para algumas culturas, entre elas a irlandesa, era feito de madeira de amieiro. Uma hipótese, porventura, mais interessante do que descendermos de um Adão de barro. n

Amieiros na praia fluvial de Mondim da Beira, Tarouca. Gravura: Alnus Glutinosa, Gaertner, Otto Wilhelm, 1885

FEV 2011 |

TempoLivre 55


56:Layout 1 25-01-2011 15:17 Page 1


57a73_BV223:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:32 Page 57

69 CONSUMO Em Maio, os consumidores vão poder debater os problemas e desafios da nova década e a melhor forma de os enfrentar. Pág. 58 l LIVRO ABERTO Destaque para “Uma História dos Milagres-da Idade Média aos Nossos Dias”, de Joachim Bouflet, uma obra fascinante sobre esses momentos de mistério e revelação. Pág. 60 lARTES O grande acontecimento cultural português de relevo actual é a exposição “As Áfricas de Pancho Guedes”, no Mercado de Santa Clara, em Lisboa. Pág. 62 l MÚSICAS Mariza regressa ao mercado discográfico com o CD “Fado Tradicional”, outro notável trabalho de uma das mais destacadas intérpretes da nova vaga do fado. Pág. 64 l NO PALCO Duas estreias em foco em salas da capital: “Azul Longe nas Colinas”, de Dennis Potter, no TNDMII, e “Otelo”, de Shakespear, no Trindade. Pág. 66 l CINEMA EM CASA “A Consagração”, conjunto de cinco obras do grande realizador chileno Raul Ruiz, é uma das novidades nas escolhas de Fevereiro. Pág. 68 l GRANDE ECRÃ “Another Year”, de Mike Leigh, fala-nos do envelhecimento e a solidão, do amor vivo pela vida e do modo como as relações em família e a amizade podem ajudar a enfrentar dificuldades… Pág. 69 l TEMPO INFORMÁTICO Algumas das novidades do Consumer Electronic Show 2011, de Las Vegas, que apresentou 20 mil produtos inovadores de 2700 empresas. Pág. 70 l AO VOLANTE A Auris inclui agora a motorização Hybrid Synergy Drive, o primeiro automóvel do seu segmento a oferecer uma experiência de condução híbrida. Pág. 71 l SAÚDE Se na Primavera ou no Outono, ou na presença de pó de qualquer origem, sofre de crises de espirros sucessivos… Então, deve sofrer de rinite. Pág. 72 l PALAVRAS DA LEI Regra geral, os condóminos que habitem um rés-do-chão não comparticipam nas despesas de conservação de um elevador… Pág. 73 l

BOAVIDA


57a73_BV223:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:32 Page 58

Boavida|Consumo

O futuro é amanhã Em Maio, depois de Davos e do Fórum Social Mundial, os consumidores vão poder debater com instituições como o Banco Mundial, os problemas e desafios que se lhes colocam durante os primeiros anos desta década e a melhor forma de os enfrentar.

Carlos Barbosa de Oliveira

S

ubordinado ao tema "Reforçar os poderes dos consumidores de amanhã", realiza-se em Maio, em Hong-Kong, o Congresso Mundial das Associações de Consumidores. Para além das organizações de consumidores, estarão presentes líderes de topo do Banco Mundial, Comissão Europeia, Organização Mundial de Saúde, representantes de empresas multinacionais, da indústria e membros do governo de diversos países, o que constituirá uma oportunidade para um debate vivo entre as organizações de consumidores e estas entidades. É a segunda vez que o Congresso da CI se realiza em Hong - Kong - a primeira foi em 1991- e, nestes 20 anos, as preocupações dos consumidores alteraram-se profundamente, sendo de esperar que as organizações de consumidores não deixem de fazer um cotejo entre as questões suscitadas na altura e aquelas que agora centram as suas atenções. Há 20 anos ainda eram muito ténues os problemas suscitados pelo desenvolvimento tecnológico, a economia digital era apenas analisada numa perspectiva futurista, a Responsabilidade Social das Empresas era perspectivada num modelo muito mais restrito, o consumo ético era apenas uma preocupação subjacente às relações comerciais e o consumo sustentável era encarado como uma responsabilidade quase exclusiva das empresas e dos mercados, sendo ainda ténues as perspectivas de coresponsabilização dos consumidores, resultante dos seus comportamentos face ao consumo. A segurança alimentar era, no entanto, um dos problemas que já preocupava as organizações de consumidores. A doença das vacas loucas e as dioxinas estiveram no centro da discussão. Hoje, as questões alimentares não se colocam apenas ao nível da segurança e qualidade. Têm também a ver com o modo de produção sustentável e a necessidade de abastecer uma população em constante crescimento. Se em 1991 nascia o bebe 5 mil milhões, duas décadas mais tarde a população da Terra já ultrapassou os 7 biliões, o que coloca problemas intrincados no concernente à alimentação da 58

TempoLivre

| FEV 2011

população mundial. Daí a importância de saber como poderão os consumidores responder aos desafios alimentares do século XXI, que passarão inquestionavelmente pelas garantias de segurança e higiene em toda a cadeia alimentar. Os organismos geneticamente modificados (OGM), os produtos transgénicos, são hoje uma preocupação generalizada. Curiosamente, o Congresso da CI em 1991 realizou-se numa época em que a Europa de Leste vivia uma autêntica revolução em matéria de padrões de consumo, resultante da transformação das economias dos países da região, depois da queda do muro de Berlim. O desmoronar do império soviético escancarou as portas à Internacional Consumista que, de Mc Donalds e Coca - Cola em riste, desaguou na Praça Vermelha. Por essa altura, os problemas dos países do Leste Europeu estiveram no centro das atenções dos participantes que ouviam, pasmados, os ANDRÉ LETRIA


57a73_BV223:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:32 Page 59

relatos dos delegados de países como a Polónia e a Hungria: fábricas a fechar todos os dias, aumento galopante do desemprego, miséria a alastrar, vendedores ambulantes exibindo nas ruas réplicas dos mais cobiçados produtos ocidentais, "made in Taiwan". Duas décadas depois, a Europa enfrenta uma crise económica e financeira que, eventualmente, a poderá colocar no centro das atenções em Hong- Kong, precisamente por causa de problemas que, há duas décadas, apenas preocupavam o Leste europeu. Em 1991, o comércio electrónico, o consumo responsável, o consumo ético, a ebulição dos mercados financeiros, ou o conceito de consumidor cidadão, temas centrais do Congresso de Maio, estiveram ausentes da discussão porque… eram temas que não se colocavam, pois estavam numa fase embrionária de desenvolvimento. Era, no entanto, já bem perceptível que a emergência das economias asiáticas (os então denominados tigres) iria ser determinante para uma nova abordagem das questões do consumo à escala global. Duas décadas depois, o acelerado desenvolvimento dos

países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) a que se junta ainda de forma lenta, mas progressiva, a África do Sul, torna a análise da temática do consumo mais global, universalizando algumas questões do consumo, que há 20 anos eram apenas preocupações dos países ocidentais. Ser consumidor consciente em 1991 era, essencialmente, estar atento às armadilhas do mercado, numa perspectiva local, pautada pelas regras de cada país ou região. Após a Cimeira do Rio de Janeiro, em 1992, na sequência da aprovação da Agenda 21, o conceito de consumidor consciente tornou-se mais abrangente e global, passando a estar intimamente relacionado com questões de cidadania. Foi a nova abordagem do consumo inscrita na Agenda 21 que suscitou questões relacionadas com a responsabilidade do consumidor e despertou a atenção das organizações de consumidores para a problemática do consumo ético, do consumo sustentável e responsável, ou para o comércio justo. Temas que não sendo novos, eram apenas discutidos no seio das cooperativas de consumidores e por alguns consumerólogos interessados na análise sociológica da sociedade de consumo. n


57a73_BV223:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:32 Page 60

Boavida|Livro Aberto

Milagres, mistérios e o prazer de viajar e comer Para além da objectividade dos historiadores, subsistem, ao longo dos séculos e milénio, mistérios para os quais mesmo a investigação mais apurada não conseguiu encontrar resposta.

José Jorge Letria

O

Canal História, de que muitos leitores são utentes regulares e apaixonados, dedicou uma série de documentários aos Grandes Mistérios da História, de que resultou um livro com os mesmo título agora publicado pelo Clube do Autor. Abarcando vários temas e épocas, o livro, obra colectiva que contou com a colaboração de competentes historiadores e jornalistas, o livro fala sobre os Templários, sobre Stonehenge, sobre o Santo Sudário, sobre o naufrágio e tentativas de resgate do “Titanic”, sobre as ligações dos nazis ao ocultismo e sobre a busca do El Dorado, entre muitos outros mistérios para os quais só a imaginação humana poderá ter encontrado solução e resposta, mas no domínio da pura efabulação, da especulação e da sua capacidade de criar e alimentar mitos. Mais de 400 páginas de leitura apaixonante e problematizadora. Com a mesma chancela estão no mercado os primeiros títulos da colecção “Os Livros da Minha Vida”, em que personalidades da vida cultural e política, entre outras, sugerem títulos de referência obrigatória numa biblioteca que queira ter pelo menos o essencial. “A Ilha do Tesouso”, de Robert Luís Stevenson, foi a escolha de Miguel Sousa Tavares, e “O Corsário Negro”, de Emílio Salgari, a opção do ex-ministro da Educação e actual administrador da Gulbenkian Eduardo Marçal Grilo. E outros se seguirão. José Gomes Ferreira, nascido em 1900 e falecido em 1984, foi um dos grandes poetas portugueses do século XX, mas, para além disso, um notável memorialista, que registou em páginas inesquecíveis o seu olhar sobre o quotidiano, sobre a vida da cidade de Lisboa, sobre a sua relação sobre a escrita e da sua escrita com o mundo. É 60

TempoLivre

| FEV 2011

sempre um prazer relê-lo, nunca deixando o poeta de ser um inesquecível cronista do real circundante, e o cronista um poeta que alimentou a sua obra com uma sensível, apurada e sôfrega observação da realidade. Por isso se destaca a reedição pela D. Quixote do volume quinto da obra “Dias Comuns”, com o título “Continuação do Sol”. Página a página reencontramos o poeta que vale sempre a pena voltar a ler, porque a obra dos grandes poetas não está refém de épocas nem de ciclos de gosto. “UMA HISTÓRIA DOS MILAGRES – da Idade Média aos Nossos Dias”(Teorema), de Joachim Bouflet, é uma obra fascinante sobre esses momentos de mistério e revelação a que convencionou chamarse milagres e que estão na origem de tantas controvérsias históricas e religiosas, desde Fátima ao fenómeno dos estigmatizados. Exigente na forma os analisa e valida (ou não), a Igreja Católica tem feito assentar na galeria dos grandes milagres uma boa parte da capacidade de manter a fé dos seus crentes. É difícil explicar e entender os milagres fora da moldura espiritual da fé individual e colectiva. Eça de Queirós escreveu um “Dicionário de Milagres”, fazendo dele um brilhante exercício literário. Este livro, escrito por um especialista no tema e autor de biografias de grandes crentes, fornece ao leitor pistas para melhor conhecer o fenómeno ao longo dos séculos, sem sugerir que a sua aceitação se sobreponha ao exercício do livre arbítrio individual. GONÇALO CADILHE é já hoje uma referência obrigatória na literatura de viagens em Portugal. Os seus livros e programas de televisão mostram que existe nesta prática um saber muito especial que deve ter uma forma própria para ser transmitido e partilhado. Tenha-se presente a forma


57a73_BV223:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:32 Page 61

como tem falado e escrito sobre as viagens de Fernão de Magalhães ou Fernão Mendes Pinto e perceber-se-á que isto de falar de países, pessoas e errâncias corresponde a uma arte. Por isso é tão interessante e útil a leitura do livro “O Mundo É fácilAprenda a Viajar com Gonçalo Cadilhe” (Oficina do Livro), no qual o autor-viajante sistematiza aquilo que aprendeu ao longo de muitos anos de andanças por vários continentes, dando conselhos úteis aos leitores e apostando no aparecimento de novas viajantes, num país onde a resposta maus frequente a qualquer pessoa, na televisão ou em inquéritos para fins estatísticos, costuma ser: “o que eu mais desejo é viajar”. Esses são os leitores naturais de quem sabe muito sobre o tema, como é, reconhecidamente, o caso de Gonçalo Cadilhe.

Da mesma editora é o belo livro-objecto “Portugal Revisitado” , do “chef” Chakall, que nos propõe um excelente roteiro de viagem pelos pratos de referência da nossa cultura gastronómica. Um livro que dá gosto ter e ler e que, às vezes, até apetece comer, de tão aliciantes que são os textos e as fotos. Numa época em que a gastronomia e os seus “chefs” estão na moda, transformados em verdadeiras vedetas mediáticas, este é um livro que dá gosto ler e ver. “Top Service – Servir Bem é a Chave do Sucesso” (Academia do Livro), de Carla Carvalho Dias, consultora e “coach” empresarial é um livro que tem como propósito ensinar quem tem profissões em que se prestam serviços num contexto empresarial a actuar com eficiência, mas também com prazer e resultados palpáveis. O prefácio é de Nicolau Santos, director-adjunto do “Expresso”. n


57a73_BV223:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:32 Page 62

Boavida|Artes

As Áfricas de Pancho Guedes: uma exposição notável O grande acontecimento cultural português de relevo actual é a exposição "As Áfricas de Pancho Guedes", no Mercado de Santa Clara, novo espaço cultural que a Câmara de Lisboa abriu na capital portuguesa, mais concretamente em plena Feira da Ladra.

Rodrigues Vaz

O

rganizada pela Câmara Municipal de Lisboa / Gabinete Lisboa Encruzilhada de Mundos, e comissariada por Alexandre Pomar e Rui Mateus Pereira, esta exposição reúne cerca de 500 obras da colecção de arte africana do grande arquitecto português Amâncio (Pancho) Guedes, e vai estar patente até ao próximo dia 8 de Março. É uma exposição notável; pela qualidade do acervo, pela "metodologia" se assim se pode chamar à reunião feita por Pancho Guedes de uma Colecção de Arte feita ao arrepio das correntes estéticas da época, e pelo estudo laborioso feito pelos curadores - Alexandre Pomar e Rui Mateus Pereira. As chamadas artes plásticas, a arte popular e o artesanato, os objectos tradicionais com destino ritual ou de uso quotidiano coexistem nesta colecção, reunida ao longo de uma intensa vida profissional passada em Moçambique e na África do Sul, com destaque especial para um grande núcleo formado pelas obras iniciais de Malangatana. Classificado normalmente como arquitecto e artista plástico modernista, embora nos últimos anos se fale dele como um pós-moderno 20 anos antes de o termo ser inventado, Amâncio d'Alpoim Miranda Guedes, de seu nome completo, absorveu muitas influências, pela sua grande imaginação visual, desde a arte de África ao surrealismo, e sintetiza-as num estilo que é reconhecivelmente seu. Actualmente continua bastante activo, trabalhando em Portugal, inventando novos edifícios, esculturas e pinturas, numa altura em que completa 85 anos de vida. CARLOS BARROCO MOSTRA PINTURAS DOS ANOS 80

Digno de realce no actual panorama das artes visuais é também a exposição "CARLOS BARROCO PINTURAS 62

TempoLivre

| FEV 2011

Em cima: O período inicial de Malangatana ocupa um lugar especial na exposição apresentada por Pancho Guedes. Ao lado, um trabalho de Carlos Barroco

ANOS 80", que este conhecido criador mostra na sua Galeria, a Novo Século, Lisboa, um caso paradigmático no mercado de arte em Portugal pela sua perseverança e programação peculiar, um caso sério de independência. Segundo o crítico José Sousa Machado, "Nestas telas, o


57a73_BV223:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:32 Page 63

mundanismo, a noite inoportuna e a Arte Contemporânea, sob o título moda convivem plenamente com a Fragmentos e Lugares na Paisagem. expressão intimista da soi-disant "alma" Como assinala Zeferino Silva, direclusitana; a figuração ingénua, os tons tor das Galeria, "a sua linguagem plásaguados, a abundância de referências tica é marcada pela originalidade plásticas são o sinal claro das possibiliatravés de um jogo de alusões, oculdades infinitas que esta época nos ofetações e associações aparentemente rece." sem nexo, que apela à experiência Conhecido estudioso do mundo dos existencial do observador, arrastando-o brinquedos infantis, especialmente os para desafios que deseja enfrentar, africanos, onde o que interessa é a como se fizesse parte desse mundo ali engenhosidade e não a qualidade dos proposto." materiais, Carlos Barroco revela-se fiel a As suas telas mostram realmente Tela de Teresa Mendonça este legado com uma escrita muito próexercícios de criação cromática, dos xima da chamada "Arte Povera", que procura na singeleza quais uns derivam de sistemas de aprendizagem e outros e no quotidiano os seus motivos principais de inspiração do próprio comportamento emocional da artista com a pintura, verdadeiramente demonstrativo do empenho, do ensaio e da vontade com que Teresa Mendonça enfrenta a TERESA MENDONÇA NA MAC intimidade do espaço, da cor e da luz, na ânsia de repenMerece ainda atenção a exposição que Teresa Mendonça sar a arte e o refazer artístico. n tem patente até ao dia 25 na Galeria MAC - Movimento de


57a73_BV223:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:33 Page 64

Boavida|Músicas

Mariza: o regresso às origens Mariza acaba de regressar ao mercado discográfico com o CD “Fado Tradicional”. Mais um trabalho notável de uma das mais destacadas cantoras da nova vaga do fado.

Vítor Ribeiro

F

igura central no movimento espontâneo de jovens cantores que há cerca de duas décadas ousaram “descobrir” o fado, Mariza alcançou entretanto estatuto de relevo, quer em Portugal, quer no estrangeiro. A par de muitos outros fadistas surgidos em tempos e de modos diferentes (Camané, Aldina Duarte, Joana Amendoeira, Raquel Tavares, Ricardo Ribeiro, Carminho…), Mariza foi inovando na forma e no conteúdo, sem recusar o passado. O álbum “Fado Tradicional” aparece 20 anos depois do disco de estreia de Mariza (“Fado em Mim”, 1991) e com ele a cantora reafirma a respeito e lealdade aos “princípios” matriciais que a enformaram. A propósito deste novo trabalho discográfico, o musicólogo Rui Vieira Nery, com clarividência e rigor, escreveu: “Mariza regressa aqui às próprias raízes do Fado “clássico”, mergulhando por completo nas tradições mais autênticas e mais consagradas pelo tempo de um género de que é hoje um expoente consagrado”. E conclui: “Mas ao mesmo tempo continua atenta a uma nova geração de jovens compositores como Sérgio Dâmaso, e estimula os seus acompanhadores a apoiá-la nesta viagem como um suporte instrumental assumidamente contemporâneo e por vezes ousadamente experimental. Mais uma vez oferece-nos a sua mistura tão especial do velho e do novo, mas sempre só o melhor”. Eis-nos então perante 12 temas, de entre os quais destacamos “Fado Vianinha” (Francisco Viana); “Promete, Jura”, 64

TempoLivre

| FEV 2011

Fado Sérgio, (Maria João Dâmaso/Sérgio Dâmaso); “Dona Rosa”, Fado Bailarico, (Fernando Pessoa/ Alfredo Marceneiro); “Ai Esta Pena de Mim”, Fado Zé António, (Amália Rodrigues/ José António Guimarães Serôdio) e “Boa Noite Solidão”, Fado Carlos Da Maia, (Jorge Fernando). “Fado Tradicional” está disponível nas seguintes modalidades: “Edição Standard” – CD com 12 fados; “Edição Especial” – CD com 12 fados + 2 fados extra e “Edição Digital”. Em todos os casos, é muito bom ouvir Mariza. “GUERRA” DOS THIRTY SECONDS TO MARS

“This is War - Delux” é o título genérico do mais recente trabalho discográfico do grupo norteamericano Thirty Seconds to Mars. Nesta edição revista e aumentada e na qual se integra um DVD, além de canções da primeira, encontram-se temas extra como “Hurricane 2.0, em que a banda conta com a participação de Kanye West, versões ao vivo de “Bad Romance” de Lady Gaga e de “Stronger”, igualmente de Kanye West. “SCRIPT”, “SUM 41” E KATY PERRY EM LISBOA

Os irlandeses “The Scrip” efectuam um concerto no Coliseu de Lisboa, dia 14 de Fevereiro, pelas 21h00. Também no Coliseu de Lisboa, dia 17 de Fevereiro, apresentam-se os canadianos “Sum 41”, a partir das 21h00. Finalmente, no âmbito da California Dreams Tour, Katy Perry efectua um único espectáculo no Campo Pequeno, em Lisboa, dia 20 de Fevereiro, pelas 20h00. n


65:Layout 1 25-01-2011 15:21 Page 1


57a73_BV223:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:33 Page 66

Boavida|No Palco

Crescer… mas devagar A razão de não se querer crescer depressa é explicada em “Azul Longe nas Colinas”, de Dennis Potter, uma encenação de Beatriz Batarda, com estreia a 10 de Fevereiro, na Sala Estúdio do Teatro Nacional D. Maria II.

Maria Mesquita

S

ão sete amigos com sete anos. Tolos, inocentes, crianças, infantis, brincam num parque perto da vila onde moram. Querem imitar o “mundo dos adultos” onde, aparentemente, tudo é possível e perdoável. Não existem castigos (pelo menos não ficam no quarto sem jantar ou sem poderem ir brincar para rua), não existem regras e, os sete amigos querem viver essa vida. A partir da história de Dennis Potter, um dos mais brilhantes dramaturgos britânicos, Beatriz Batarda encena aquele que poderá ser um dos mais comoventes e brutais textos contemporâneos. Onde se pode considerar uma certa frivolidade, um desapego e se calhar uma história desprovida da introspecção necessária para a tornar, quiçá, num texto completo, existe sim a simplicidade que é óbvia e que se espera das crianças, mesmo que estas tomem comportamentos desviantes, se tornem más. São crianças e, aos olhos das crianças (quase) nunca existe maldade. Talvez um das características que mais se destacam desta peça seja o facto de as personagens serem interpretadas por adultos, o que torna todo o cenário ainda mais dantesco. As brincadeiras adultas (brincam às guerras, aos pais e às mães, à caça ao esquilo, aos enfermeiros, etc.) tornam as crianças adultas na forma, mas não no conteúdo e quando atingem o limiar do perigo, poderá ser tarde de mais.

correspondido que em pouco tempo se tornou insuportável graças à intromissão de outras pessoas. Onde a inveja anda, espalha a semente do mal, pois não há coisa pior do que sermos invejados ou invejar alguém… Otelo é, assim, um homem colocado à prova, no mais básico de todos os sentimentos humanos que é o ciúme. Convencem-no de que o seu melhor amigo, Cássio, tem um romance com a sua mulher Desdêmona, Otelo transforma-se, revolta-se e inicia a sua vingança. FICHA TÉCNICA: Autor: W. Shakespeare; Tradução: Manuel

Resende; Encenação: Kuniaki Ida; Interpretação: António Capelo, Rita Lello, João Paulo Costa, António Júlio, João Melo,

FICHA TÉCNICA: De: Dennis Potter; Tradução: Daniel Jonas;

Ângela Marques, Fernando Soares, Rute Miranda, Jorge

Encenação: Beatriz Batarda; Cenografia e figurinos: Cristina

Loureiro, Elóy Monteiro, Pedro Fiúza, José Moreira; Figurinos:

Reis; Desenho de luz: Nuno Meira; Música: Bernardo Sassetti;

Cristina Costa; Cenografia: Cristóvão Neto; Iluminação: José

Com: Albano Jerónimo, Bruno Nogueira, Dinarte Branco, Elsa

Carlos Gomes; Sonoplastia: José Prata; Produção: Pedro

Oliveira, Francisco Nascimento, Luísa Cruz, Nuno Nunes; Um

Aparício, Glória Cheio, Gabriela Poças; Produção: ACE |

projecto: Arena Ensemble: Co-produção: TNDMII, TNSJ,

Teatro do Bolhão

Culturproject, Centro das Artes – Casa das Mudas.

“Otelo” no Trindade

“Otelo”, para ver até dia 27 de Fevereiro no Teatro da Trindade. Uma história de traição, ciúme, desconfiança. Uma história de humanos, demasiadamente humanos… A história de Otelo podia ser a de um homem qualquer. Calhou a ele, de origem árabe, general em Veneza, amigo do seu amigo, apaixonar-se por uma mulher mais nova, bonita, de um estrato social superior. Um amor felizmente 66

TempoLivre

| FEV 2011

Angel City

Em cena, na Barraca, até 27 de Fevereiro, “Angel City”, de Sam Shepard, questiona, de forma divertida, a estratégia das grandes produtoras cinematográficas, apostadas sobretudo em grandes êxitos de bilheteiras, em detrimento de valores mais altos que os meramente financeiros. Quantas vezes não ouvimos dizer que o que conta são os milhões de dólares facturados no fim-de-semana de estreia de determinado filme, ou vimos, no caso por-


57a73_BV223:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:33 Page 67

tuguês, o seu sucesso mede-se pelo número de espectadores… A Rita Lello coube a direcção desta comédia vertiginosa onde três argumentistas são “obrigados” pelos executivos de uma grande produtora a criarem a obraprima do êxito de bilheteira, acabando, ao longo do tempo de clausura, por se transformarem noutra coisa que não o que são na realidade. FICHA TÉCNICA: Texto: Sam Shepard; Direcção: Rita Lello;

Elenco: Paulo Curado, Pedro Borges, Ruben Garcia, Sérgio Moras, Sérgio Moura Afonso, Vânia Naia; Música Original: Paulo Curado (Sax) Ricardo Santos Pedro Freixo (Electro)

“Outra História de Encantar”

Em cena até 28 de Fevereiro na Companhia Teatral do Chiado, “Outra História de Encantar” é, acima de tudo, uma comédia sobre uma história um pouco diferente do que se espera dos contos de fadas. E promete ser hilariante. Esperando-se, a partir do título a uma encenação com príncipes e princesas, num mundo de fantasia, castelos

encantados, florestas, animais mágicos, brumas e “viveram felizes para sempre”, qual não é o espanto em saber que o “Era uma vez, há muito, muito tempo…” se passava no longínquo ano de 1984. Ou seja, esta história de “encantar” desenrola-se nessa década (já considerada quase mundialmente) mágica, onde as permanentes, os blusões de ganga e os óculos RayBan eram donos e senhores. Podemos então imaginar um cenário onde as princesas têm um aspecto duvidoso, os príncipes deveriam calçar ténis Adidas, as bruxas teriam ainda pior aspecto que as princesas e todos dançavam ao som de sintetizadores. Com a participação especial de Eládio Clímaco, Rui Unas e Jorge Mourato, e música de Toy, “Outra História de Encantar” é definitivamente, “outra” história a não perder. FICHA TÉCNICA: De: Jorge Picoto; Interpretação: Cristina

Basílio, Eric Santos, Gonçalo Oliveira, Hugo Nevez, Inês Oneto, Jorge Picoto, Mafalda Franco, Márcia Cardoso, Mariana Rosário; Participação Especial: Eládio Clímaco, Jorge Mourato, Rui Unas; Encenação: Mário Redondo; Direcção Musical: Toy; Produção: Mole & Erre


57a73_BV223:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:33 Page 68

Boavida|Cinema em Casa

Jovens e consagrados Os regressos de Frederik Wiseman, mestre do cinema documental com um dos seus bons trabalhos, A Dança, e de dois jovens e prestigiados cineastas: Christopher Nolan (A Origem) e Noah Baumbach (Greenberg) pautam, juntamente com a colecção de cinco filmes, A Consagração, do grande realizador chileno Raul Ruiz as escolhas deste mês de Fevereiro. Sérgio Alves RAÚL RUIZ - A

Proust, O Tempo

observação de uma determi-

em todo o Mundo no Verão

CONSAGRAÇÃO

Reencontrado (1999); Aquele

nada instituição, das suas

passado e é um forte candida-

Autor de uma vasta e original

Dia (2003) e Klimt (2006).

rotinas, dos seus papéis bem

to aos Óscares 2010.

obra, Raúl Ruiz (1941, Puerto

TÍTULO ORIGINAL:

definidos para sobre ela cons-

TÍTULO ORIGINAL:

Montt, Chile) iniciou a car-

Consagração; REALIZAÇÃO:

truir um olhar próprio.

REALIZAÇÃO:

reira artística pelo teatro de

Raúl Ruiz - A

Inception;

Christopher

Raúl Ruiz; COM: Marcello

TÍTULO ORIGINAL:

vanguarda, entre

Mastroianni, Catherine

Le ballet de l'Opera de Paris;

Caprio, Marion Cottilard,

1956 e 1962. Em

Deneuve, Michel Piccoli,

REALIZADOR:

Ellen Paige, Joseph Gordon

1964 realiza a

John Malkovich; França/GB,

Wiseman; Documentário;

Levitt; EUA/GB, 148m, cor,

curta-metragem

528m, Cor, 1995/2006; EDIÇÃO:

França/EUA, 159m, Cor, 2009

2010; EDIÇÃO: Zon

A Mala, seguida

Atalanta Filmes

EDIÇÃO:

Lusomundo

La Danse -

Frederik

Atalanta Filmes

Nolan; COM: Leonardo di

de O Tango do Viúvo (1967) e A

A DANÇA

A ORIGEM

GREENBERG

Volta (1968). A sua primeira

Um dos grandes aconteci-

Dom Cobb é um talentoso

Roger Greenberg, um solteiro

longa-metragem "Três Tristes

mentos de 2010 foi a estreia

ladrão que 'rou-

quarentão sem planos para os

Tigres" (1968) indicia as qua-

nas salas nacionais de A

ba' segredos e

próximos tempos, viaja para

lidades de um talentoso e ino-

Dança, o 36º documentário,

ideias às pes-

Los Angeles para tomar conta

vador cineasta que o golpe

em mais de 40 anos de car-

soas, directa-

da casa e do cão do seu irmão.

militar de Pinochet (1973)

reira, do mestre do cinema

mente das pro-

Aí, reencontra velhos amigos,

condenou ao exílio. Radicado

documental

fundezas das

em Paris, dedicou-se quase

Frederick

suas mentes, durante os so-

incluindo um dos membros da sua

em exclusivo ao cinema, com

Wiseman.

nhos. A rara habilidade de

ex-banda e uma

mais de uma centena de tra-

Seguindo o

Cobb fez dele uma das pessoas

ex-namorada mas

balhos para cinema e tele-

seu método de

mais influentes neste novo

conhece também

visão, merecendo o reconhe-

trabalho habi-

mundo de espionagem empre-

a assistente do seu

tual, o cineas-

sarial, mas também fez dele

irmão, Florence, aspirante a

dos mais diversos festivais,

ta norte-americano mergulha

um fugitivo internacional cus-

cantora. Retrato melancólico e

como o recente prémio de

no universo de uma das mais

tando-lhe tudo o que já amara.

desencantado de uma raiz

melhor realização do Festival

importantes companhias de

Dão-lhe, entretanto, uma opor-

geracional bem definida,

de San Sebastian para "Os

Dança do Mundo: o ballet da

tunidade para se redimir: um

Greenberg é uma das re-

Mistérios de Lisboa", baseado

Ópera de Paris. Durante

derradeiro trabalho que

velações de 2010. Noah Baum-

no romance de Camilo.

várias semanas observa

poderá devolver-lhe a sua anti-

bach, realizador e autor do

Nesta antologia de cinco

ensaios, assiste a reuniões de

ga vida…

argumento, revelara já a sua

filmes, com produção de

trabalho, filma o trabalho de

Assinado por um dos mais ta-

arte em A Lula e a Baleia

Paulo Branco, podemos com-

cada um dos elementos da

lentosos valores da cine-

(2006).

provar a sua criatividade,

companhia - dos electricistas

matografia actual, Christopher

inspiração e ousadia em

e pintores aos gestores pas-

Nolan - Memento (2000) e

películas como Três Vidas e

sando pelos bailarinos e téc-

Cavaleiro das Trevas (2008) -,

Baumbach; COM: Ben Stiller,

uma só Morte (1996);

nicos do espectáculo.

A Origem é uma viagem ao

Greta Gerwig, Jennifer Jason

Genealogias de um Crime

Tal como nos seus filmes

mundo dos sonhos e do sub-

Leigh, Rhys Ifans; EUA,

(1997); a monumental adap-

anteriores, o documentarista

consciente. Com Di Caprio no

107m, cor, 2010; EDIÇÃO:

tação da obra de Marcel

norte-americano procura a

papel principal, encheu salas

Castello Lopes Multimédia

cimento da crítica e dos júris

68

TempoLivre

| FEV 2011

TÍTULO ORIGINAL: REALIZAÇÃO:

Greenberg;

Noah


57a73_BV223:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:33 Page 69

Boavida|Grande Ecrã

O tempo que passa Não restam dúvidas de que Mike Leigh, sendo um atentíssimo retratista da realidade social britânica, se tornou no mais ousado dos cineastas não apenas por transformar os seus filmes em reflexões filosóficas, cheias de ironia, sobre a complexidade humana mas também pelo seu estilo de perspicaz observador que usa a câmara como um bisturi para dissecar a vida microcósmica.

Joaquim Diabinho

P

orque, se trata de um homem de fortes convicções estéticas e ideológicas que reflecte na sua obra (“Grandes Ambições”, acto sarcástico sobre o tatcherismo; “Nu”, fábula filosófica; “Segredos e Mentiras”, sobre as angustiantes aspirações do amor e da afeição, que lhe valeu cinco nomeações para os “Óscares” e a Palma de Ouro em Cannes, em 1996; “Vera Darke” sobre o aborto) as grandes preocupações sobre a família, o desemprego, os pais, as crianças, o sexo, a morte e a vida. O propósito de Leigh é levar o espectador a descobrir nessas histórias dramáticas e por vezes alegremente tristes e comoventes as razões e as circunstâncias que determinaram essas pessoas a serem como são. Instintivamente, como o declara o próprio cineasta, o espectador vai reconhecer-se nesse mundo dos personagens e sentir-se como se fosse um qualquer deles. Ora, o que é mais surpreendente no seu último filme, “Another Year” (“Um Ano Mais”) - que este mês chega aos ecrãs portugueses - é a consagração dessa estratégia narrativa aliada a um forte poder visual. Trata-se de um impressivo drama centrado - ao longo das quatro estações do ano - na vida de um casal eternamente feliz no final da meia

idade que abre as portas da sua casa a um grupo sui generis de amigos imersos em crises existenciais, carentes de afectos, desesperados entre alegrias e tristezas à procura de momentos de equilíbrio e felicidade.Leigh que joga habilmente com o simbolismo das cores (para assinalar o tempo das estações) e que serve para acentuar também as variações do estado de alma dos personagens, mantém, à maneira de Jean Renoir seu mestre confesso, o olhar cravado no desânimo e na esperança do humano, pela sua humanidade. Filme sobre o envelhecimento e a solidão, do amor vivo pela vida, do modo como as relações em família e a amizade podem ajudar a enfrentar e superar dificuldades, “Another Year” vem reafirmar as qualidades superiores e imensas de um cineasta (para quem a arte cinematográfica nunca morrerá!) que consagrou o seu trabalho a descrever e amar os personagens que vivem, como diz, “das aspirações profundas e da inexorabilidade angustiante do tempo que passa”. n UM ANO MAIS / ANOTHER YEAR

de Mike Leigh (Grã-Bretanha, 2010 | 1h29) com Jim Broadbent, Ruth Sheen, Peter Wight, etc. (estreia prevista: 1 Fevereiro) FEV 2011 |

TempoLivre 69


57a73_BV223:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:33 Page 70

Boavida|Tempo Informático

A informática não pára Apesar das dificuldades de todo o género que dominam a actualidade, esta tecnologia que se afirma como estando ao serviço do homem para o seu bem-estar não se deixa influenciar e surpreende-nos com os seus avanços. Já o dissemos no mês anterior e aqui estamos de novo.

Gil Montalverne

ajuda@gil.com.pt

O

mês de Janeiro assinala a maior feira desta tecnologia que se realiza anualmente em Las Vegas. A CES ou Consumer Electronic Show 2011 apresentou 20.000 produtos inovadores de 2700 empresas. As notícias foram nos chegando e aqui destacamos algumas. Entre os dispositivos multiusos vejamos a primeira câmara fotográfica do mundo que inclui um ecrã GPS e nos mostra num mapa a localização do utilizador a as fotografias captadas. A Casio Exilim híbrida cria uma forma totalmente nova de planear, desfrutar e reviver as viagens pois tudo fica registado para mais tarde num mapa do Google Earth por exemplo, localizar com exactidão onde captaram as imagens. Já chegou a Portugal com PVP de cerca de 300 Euros. A TECNOLOGIA 3D é sem dúvida a mais fantástica tendência deste ano. Tendo as emissões de TV, os filmes, os jogos, a fotografia e muitas outras aplicações a Acer resolve colocar o primeiro monitor 3D no mundo com suporte de ligação HDMI da NVIDIA para usufruir de todas essa oferta de possibilidades. O Full HD 3D projecta-nos para o meio

da própria acção do que se passa no ecrã. Através de uma box adaptadora temos a TV. E preocupada com o ambiente a tecnologia EcoDisplay reduz a nossa pegada ambiental, usando materiais recicláveis e poupando energia. É só colocar os óculos incluídos e mergulhar na aventura. A MICROSOFT não podia estar ausente e entre o que apresentou resolveu inovar com o primeiro rato multi-toque. O Touch Mouse permite clicar, passar o dedo, deslocar e tocar, em interacção completa com o PC (Windows 7). Combina portanto as virtudes do rato com a linguagem universal do gesto. A partir de agora utilizamos 1, 2 ou 3 dedos, maximizando, minimizando ou restaurando janelas ou controlando páginas Web. E, muito importante, trabalha sobre qualquer superfície. Prevê-se que chegue por cá em breve. On-line na Amazon custa 80 dólares. CLARO QUE A GUERRA dos tablets foi a mais notada. O iPad teve de encarar a enorme série de dispositivos. Desde a Samsung, Asus ou Toshiba às menos conhecidas Motion Computing ou Trade, só a Sony resolveu esperar por 2012. A opinião geral é de que as pessoas passaram a compreender que um tablet pode ser o controlo remoto de tudo na vida. A pequena tela sensível ao toque até já pode calcular a necessidade de refrigeração ou aquecimento de uma sala, usando as previsões do tempo fornecidas pela Net. A Informática não pára e os Tablets avançam em todas as frentes. Venha mais um. n


57a73_BV223:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:33 Page 71

Boavida|Ao Volante

Os novos Auris Híbrido e Verso A Toyota já colocou no mercado local os novos modelos Auris Híbrido e Verso.

Carlos Blanco

A

família Auris inclui agora a motorização Hybrid Synergy Drive, o primeiro automóvel do seu segmento a oferecer uma experiência de condução híbrida: suave, silenciosa e eficiente. Seguro, enérgico, com um comportamento competente e um conforto superior, o Auris Híbrido proporciona-nos um prazer de condução único. O avançado sistema híbrido do Auris utiliza uma inteligente combinação de dois motores eléctricos e um motor de combustão. Esta fiável tecnologia híbrida é já utilizada por dois milhões de condutores Toyota em todo o mundo. O resultado é uma experiência de condução eficiente, silenciosa e sofisticada, melhorada pela suavidade e resposta da transmissão automática CVT. O sistema híbrido sofisticado foi desenvolvido para analisar automaticamente as condições de condução e, consequentemente, decidir autonomamente quando utilizar os motores eléctricos ou a gasolina, utilizando uma suave transferência de potência entre as duas unidades. Tal permite máxima eficiência, potência optimizada e excelente resposta em qualquer situação. A bateria nunca necessitará de ser carregada manualmente, uma vez que esta é recarregada automaticamente através da travagem regenerativa ou por intermédio do motor de combustão. Para além do modo de condução normal, pode-se escolher entre os modos EV, ECO e Power para usufruir ao máximo do Auris Híbrido: - MODO EV para uma condução exclusivamente eléctrica, de elevada eficiência, zero emissões e extremamente silenciosa; MODO ECO para um equilíbrio entre eficiência e performance; MODO POWER para uma resposta mais rápida do acelerador.

O novo Auris Híbrido é um inovador e completo automóvel, cujo invejável nível de equipamento inclui luzes diurnas LED, botão de arranque, controlo de assistência ao arranque em subida, ar condicionado automático e jantes em liga leve. O seu preço entre nós ronda o 25 mil euros. No que respeita ao Verso, a versatilidade é, sem dúvida, a sua característica mais atractiva, oferecendo uma protecção de topo, com uma estrutura rígida e airbags para todo o habitáculo. A sua tecnologia de ponta inovadora assegura uma aderência permanente à estrada. O Verso tem tanto de impressionante como de multifacetado. Cada banco rebate totalmente num movimento suave para criar uma superfície completamente plana e há vários compartimentos de arrumação e uma ampla área para bagagem. Com um interior espaçoso, que assegura os mais altos níveis de conforto e qualidade, o novo modelo apresenta uma gama de motorizações e transmissões avançadas com componentes de baixo atrito, concepção super compacta e elevada eficiência e combustão. Na unidade de 1.6 a gasolina, a nova tecnologia Valvematic optimiza simultaneamente o tempo de abertura das válvulas e o seu curso, ajudando a melhorar os níveis de potência até 20% e reduzindo emissões de CO2 até a um mínimo de 158 g/km. A refinada gama diesel desfruta da última tecnologia common rail, proporcionando mais binário e menos CO2, atingindo um mínimo de 140 g/km. Uma baixa taxa de compressão, eficiência termodinâmica e elevado binário a baixa velocidade ajudam a atingir elevadas prestações com consumos reduzidos. Os motores 2.2 também apresentam a tecnologia de redução de emissões exclusiva da marca, Toyota D-CAT. Os acessórios Toyota reflectem a sua individualidade. Do mesmo modo que o Verso se adapta a diferentes estilos de vida, os packs de acessórios do modelo conferem-lhe uma dimensão personalizada. Em Portugal, o Toyota Verso está à venda a partir dos 30 mil euros. n

FEV 2011 |

TempoLivre 71


57a73_BV223:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:33 Page 72

Boavida|Saúde

Acha que sofre de rinite alérgica? Se na Primavera ou no Outono, ou na presença de pó de qualquer proveniência, sofre de crises de espirros sucessivos… Então, muito provavelmente, sofre de rinite.

M. Augusta Drago

A

medicofamília@clix.pt

s rinites têm várias causas, ou etiologias, na linguagem médica. A rinite alérgica é a mais comum, causa grande desconforto aos que dela sofrem e, nos EUA, representa custos directos e indirectos, relacionados com tratamento e absentismo, de mais de 9 mil milhões de dólares anuais. A rinite é uma inflamação da mucosa do nariz. Esta inflamação pode ser causada por diversos agentes, nomeadamente produtos químicos irritantes inalados, certos medicamentos de aplicação tópica inadequados e alergénios, entre os quais são mais frequentes vírus semelhantes aos que causam as constipações e as gripes. Em qualquer dos casos, as manifestações clínicas referidas pelos doentes são semelhantes. Queixam-se de congestão nasal, com corrimento anterior ou posterior, prurido e muitos espirros. Também é frequente ocorrer prurido ocular e lacrimejo.

72

TempoLivre

| FEV 2011

A rinite causada por agentes irritantes é habitual em ambientes de trabalho poluídos com produtos tóxicos, mas também acontece com frequência nas grandes cidades, devido ao número de agentes irritantes e poluentes na atmosfera. A rinite alérgica não é contagiosa, tem um carácter familiar, podendo ser transmitida de pais para filhos. É a rinite mais frequente, porque esta fragilidade do sistema imunitário encontra-se amplamente difundida na população e existem alergénios um pouco por todo o lado. Dentro de casa, as pessoas cuja mucosa nasal possui essa sensibilidade reagem à presença de pós domésticos, ácaros, pêlos e penas de animais domésticos e aos locais húmidos e com fungos. No exterior, reagem às poeiras, aos pólens, aos bolores e aos bio-aerossóis. A rinite alérgica tem tratamento, mas não tem cura. As pessoas que sofrem de rinite alérgica podem ter uma vida perfeitamente normal, desde que convenientemente tratadas. O primeiro passo para ter uma vida livre deste desconforto é identificar os alergénios a que se é sensível e evitar a todo o custo estar em contacto com eles. Escolher ambientes não poluídos, sem fumos, nomeadamente de tabaco, pêlos de animais, insecticidas, cheiros de tintas ou vernizes e, por vezes, de combustíveis e até mesmo de certos perfumes. Em casa, o piso deve ser liso, sem tapetes ou alcatifas, para ser fácil de limpar e a limpeza tem de ser geral, frequente e, se possível, deve passar-se um pano húmido diariamente no chão e nos móveis, para não acumular poeira. O quarto onde se dorme é um local muito importante para estes doentes: não pode ser húmido nem sombrio e não deve permitir a entrada de animais domésticos; o colchão e as almofadas têm de ser forradas para não permitir a passagem de poeira e há que preferir o uso de edredões de fibra e nunca de penas. A parte mais importante no tratamento da rinite alérgica é a prevenção e esta depende do próprio doente. O conjunto destas pequenas medidas preconizadas, quando postas em prática, faz toda a diferença entre uma vida normal e o desencadear de uma crise. n ANDRÉ LETRIA


57a73_BV223:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:34 Page 73

Boavida|Palavras da Lei

Despesas de elevadores, arrumos e condóminos de rés-do-chão ?

No bloco onde resido existem dois elevadores que servem todos os apartamentos, do último andar

até à cave, que possui alguns arrumos, inclusive um corredor que dá saída para o pátio posterior, e um outro arrumo para a frente do edifício – jardim e rua – o qual constitui parte comum do prédio. Os condóminos do rés-do-chão não têm arrumos, mas podem usar o corredor de saída. Devem eles comparticipar nas despesas extra para arranjos de conservação dos elevadores? Sócia devidamente identificada – Aveiro.

Pedro Baptista -Bastos

R

egra geral, os condóminos que habitem um rés-do-chão não comparticipam nas despesas de conservação de um elevador, por não os usarem, a não ser que possuam um arrumo na cave ou no último piso do imóvel que seja servido pelo elevador e do qual façam uso. Se, por exemplo, houver um terraço, ou um espaço na cave que seja usado para benefício comum de todos os condóminos, os residentes do rés-do-chão devem comparticipar nas despesas de manutenção dos elevadores. As despesas são efectuadas em proporção do valor das respectivas fracções, excepto se um condómino do rés-do-chão apenas tiver uso e acesso a um arrumo ou a um mero uso do terraço do último piso; nesse caso, farse-á um valor proporcional ao uso pouco frequente que

esse condómino efectue do elevador. Estas questões relacionam-se sempre com os usos que os condóminos do rés-do-chão façam de partes comuns que sejam servidas por elevadores. Se um terraço ou um arrumo servido por um elevador for aprazível ou útil para um condómino do rés-do-chão, terá sempre que custear as despesas de manutenção a ele inerentes, no modo acima descrito. Como esse primeiro arrumo que nos descreveu dá saída para um pátio posterior, resta-nos saber se essa saída é de uso comum de todos os condóminos ou não. Parecendo ser de uso comum, é minha opinião que não devem custear as despesas de conservação dos elevadores. A esta dúvida da nossa associada prevê a lei a resposta no artigo 1424º do Código Civil, especialmente nos seus números 1 e 4. n FEV 2011 |

TempoLivre 73


74_PASSAT:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:34 Page 74

ClubeTempoLivre > Passatempos Palavras Cruzadas | por José Lattas

1

HORIZONTAIS: 1-Moço que trata de cavalos (pl.). 2-Abalou;

1

Leira; Óxido de cálcio. 3-Ribeira portuguesa, do distrito de Aveiro; Multidão; Cidade da Galiza; Berílio (s.q.). 4-Penates; Gramado; Forma oblíqua do pronome pessoal da 1ª. pessoa do singular. 5-Lombo entre a pá e o cachaço; Abalada; Macho da cabra. 6-Trono; Consta; Sarilhos. 7-Cordeiro; Couro. 8Ingagam; Dezena; Desancar. 9-Nome do aio de D. Afonso Henriques; Embargar; Estirpe. 10-Matéria; Relativo à semana; Moendas. 11-Grito de dor; Defesa; Cidade espanhola, principal fronteira com a França; Rádio (s.q.). 12-Chiste; Brejeiros; Lua. 13-Campana; Unidade de media agrária; Obrigação.

2

Astuciosos. 3-Nesse lugar; Mencionas; Vi. 4-Jazigos. 5-Ladra (inv.); Unidade de resistência eléctrica; Excelso. 6Assopradores; Prestara. 7-Vielas; Adiamento. 8-Érbio (s.q.); Roxo; 17ª. letra do alfabeto grego (inv.). 9-Enregelada; Ápice. 10-Omita; Escasso. 11-Uma das personagens de Otelo, de Shakespeare; Forma átona do pronome pessoal nós; Português. 12-Decadência. 13-Sim, no dialecto provençal; Viviam; Macho. 14-Batida; Arquipélago no Atlântico. 15Administrações; Descréditos.

3

4

5

6

7

8

9 10 11 12 13 14 15

3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 SOLUÇÕES (horizontais) 1-PALAFRENEIROS. 2-FOI; COURELA; CAL. 3-UL; MOLE; VIGO; BE. 4-LAR; RELVADO; MIM. 5-ACÉM; SAÍDA; BODE. 6SÓLIO; SOA; NORAS. 7-ANHO; L; SOLA. 8-CATAM; DEZ; SOVAR. 9EGAS; DETER; RAÇA. 10-PÚS; SEMANAL; MÓS. 11-AI; MURO; IRUN; RA. 12-SAL; MAROTOS; MÊS. 13-SINO; ARE; ÓNUS.

VERTICAIS: 1-Furiosas; Videiras. 2-Natural da Polónia;

2

Ginástica mental| por Jorge Barata dos Santos

N.º 23

Preencha a grelha com os algarismos de 1 a 9 sem que nenhum deles se repita em cada linha, coluna ou quadrado

N.º 23

74

TempoLivre

| FEV 2011

SOLUÇÕES


75:Layout 1 25-01-2011 15:20 Page 1


76e77_NL:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:37 Page 76

ClubeTempoLivre > Novos livros

ARCÁDIA

verdadeiro manual de

FONTE DA PALAVRA

“caninês”, procura traduzir e

Dedicada ao percurso da FNAT/INATEL, uma

CRETINOS COM PODER

interpretar as expressões do

ANGELINA, UMA MULHER

instituição ímpar com

Diego Armario O autor descreve os

seu canino.

DO POVO NA I REPÚBLICA

reconhecido mérito nas áreas da política social e da

bastidores do poder na vida

CLUBE DO AUTOR

Manuel Dias Duarte Com a morte de D. Manuel II em 1932, Maria Pia assume-

para trabalhadores, a obra

política, profissional e nas

ocupação dos tempos livres

relações

A ILHA DOS ENCANTOS

se como

levada à estampa para

interpessoais,

Mary Nickson

legítima

comemorar os 75 anos da

enquanto

Deprimida

sucessora

Fundação INATEL, é um

revela

com a morte

do trono

importante contributo,

inúmeras

inesperada

português.

excelentemente

situações

do marido,

Levada em

documentado e ilustrado,

caricatas de pessoas que

Victoria

menina

para a história politica e

não merecem o poder.

refugia-se na

para longe

ideológica do nosso país.

casa da avó,

Escrita de forma divertida, a

da casa do seu pai, só

EDITORIAL PRESENÇA

obra sensibiliza para o

numa idílica ilha do

Angelina, a lavadeira de D.

respeito de quem não tem

mediterrâneo.

Manuel II a poderia

poder e vive obedecendo a

Quando tudo parece

identificar como filha

E DEPOIS DO AMOR

cretinos.

tranquilo e a dor do luto

bastarda de D. Carlos I.

Ray Kluun Com a morte inesperada da

necessidade de averiguar a

EDIÇÕES COLIBRI

mulher, Dan entra numa

verdade sobre o passado…

/FUNDAÇÃO INATEL

espiral autodestrutiva.

superada, eis que surge a

BOOKSMILLE JOÃO PASTEL: A MALDIÇÃO

Um romance sobre os

DO PIRATA

contrastes do amor e o poder

PARA A HISTÓRIA DOS

trabalho,

Michael Broad Três incríveis histórias vividas

da amizade na paradisíaca

TEMPOS LIVRES EM

entrega-se ao

ilha de Corfu.

PORTUGAL: DA FNAT À

álcool e à

INATEL (1935-2010)

vida boémia

José Carlos Valente Uma edição revista e

de Ibiza e

por João Pastel e nas

IPLATÃO

quais ninguém

Mark Vernon Uma pertinente reflexão

acredita. João garante que são

Abandona o

Amesterdão.

aumentada do livro “Estado

Mergulhado na desgraça,

sobre o mundo actual

Novo e Alegria no Trabalho:

percebe que tem de alterar o

analisado à luz dos

Uma história politica da

rumo da vida e investir na

ensinamentos dos grandes

FNAT (1935-1958)”, publicado

filha de três anos. Juntos de

verdadeiras e, à medida que

filósofos da Grécia Antiga.

em 1999, que inclui uma

autocaravana, partem numa

as descreve, desenha e faz

Escrita de forma acessível, a

súmula referente ao período

longa e interessante viagem

comentários divertidos no

obra ajuda a compreender a

de 1959 a 2010.

pela Austrália.

seu bloco de notas.

importância e

Um romance autobiográfico,

intemporalidade da

despretensioso e divertido,

CÃOVERSA

mensagem

de um homem que procura

Sophie Collins Os movimentos do focinho,

de Sócrates,

recuperar o controlo da vida.

olhos, orelhas e cauda dos

Diógenes,

O ANO X - LISBOA 1936

cães são importantes na

Zenão e de outros

José-Augusto França Um «Estudo de factos

mestres da

socioculturais» de 1936 e

Epicuro,

comunicação com o ser humano. Para

antiguidade, enquanto faz a

uma análise à vida política

descodificar

conexão com a vida no

portuguesa e suas

esses gestos,

presente.

preocupações internas e

este guia, um 76

TempoLivre

| FEV 2011

externas, destacando, entre


76e77_NL:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:37 Page 77

outros, a

(ex-polícia e narcotraficante)

Estarão dispostos a aceitar o

Guerra de

e Don Crutchfield (detective).

amor quando o passado

Espanha, a

Um poderoso romance que

ameaça as suas vidas?

A TERRA DOS GIGANTES

Legião

está para além da denúncia

Portuguesa e

dos esquemas criminosos e

A FARMÁCIA VERDE - O

Enid Blyton Jessica, Tiago e Desejoso vão

a Colónia

na era da informação.

onde as personagens

HERBÁRIO PRÁTICO

parar à Terra dos Gigantes,

Penal do Tarrafal. No campo

questionam as próprias

onde tudo é… Gigante! Até a

das artes, letras e imprensa

acções.

James A. Duke Uma obra sobre plantas

o autor apresenta uma

Cadeira-dos-Desejos que os

medicinais,

próprios

minuciosa descrição da vida

UM BEIJO NO PÉ

com mais de

Gigantes

em Lisboa.

Maria Teresa Maia Gonzalez Miguel e Filipa conhecem-se

180

querem

sugestões

possuir a

SEM TEMPO PARA DIZER

desde os sete

para tratar e

todo o

ADEUS

anos e a

prevenir

custo. Mas,

Jacquelyn Mitchard Raptado em criança, Bem

amizade

diversas

os

entre ambos

doenças. Remédios fáceis de

pequenos amigos não

Cappadora

cedo evolui

encontrar para centenas de

podem perdê-la, pois, sem

regressa ao

para paixão.

males.

ela, ficarão presos e nunca

ceio familiar

Aos

Um guia completo sobre os

mais regressarão a casa.

nove anos

dezassete anos Filipa

tipos de plantas, benefícios,

Então, como poderão

mais tarde.

engravida e, contra a

partes usadas, efeitos

escapar sem ser

Duas décadas

vontade do namorado, é

secundários e dosagens,

esmagados?

após o fatídico dia vive em

pressionada pelos pais a

para uma leitura prática e

plena harmonia familiar. Até

interromper a gestação. Para

divertida.

ao dia em que Vincent, seu

resistir e recuperar a alegria

irmão mais velho, realiza um

de viver, estes jovens

HISTÓRIA CONCISA DE

documentário com histórias

reinventam o amor.

COMO SE FAZ A GUERRA

EUROPA-AMÉRICA

General Loureiro dos Santos O autor traça uma súmula

de cinco famílias cujos filhos desaparecidos nunca foram encontrados. Um trabalho

VERBO

da história da guerra ao

que abalou profundamente a

POR ENTRE GRÃOS DE

longo dos tempos, da época

família e irá testar a solidez

AREIA

pré-clássica à actualidade.

dos seus laços.

Josephine Cox Anos 50 em Dorset, duas

Aborda, entre outros aspectos do conflito bélico, a

A COLHER DE PAU

SANGUE VADIO

vidas recomeçam à beira-

dinâmica e meios técnicos, o

Maria de Lourdes Modesto

James Ellroy A obra decorre em 1968, no

mar. Kathy pretende

teatro de operações, os

(adaptação) Edição fac-similada de um

transformar

condicionalismos e a guerra

rescaldo da luta pelos

Barden

grande sucesso da

direitos civis que

House a sua

gastronomia nacional

culminaram no assassínio de

casa junto à

publicado em 1966, adaptado

Luther King e Robert

praia num

por Maria de Lourdes

Kennedy. Uma luta marcada

ninho de paz.

Modesto.

pelo controle político, pelo

Mas, atraída

Um magnífico álbum

pelo homem solitário que

de iniciação à cozinha

violência na

passeia à beira-mar sente

para quem pretende

América, que

que a sua vida vai mudar. Ele

explorar o mundo da

reúne Dwight

é Tom Arnold e West Bay é o

gastronomia.

Holly (agente

seu refúgio. Segredos e

do FBI),

fantasmas do passado

Wayne Tedrow

assombram a vida de ambos.

preconceito, corrupção e

Glória Lambelho FEV 2011 |

TempoLivre 77


78_Cartaz:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:37 Page 78

ClubeTempoLivre > Cartaz

COIMBRA

Escola de Música Aulas de Música, horários e

Concerto

informações na Agência de

Dia 19 às 21h30 - Sax

Coimbra.

Ensemble - Quarteto de Saxofones de Coimbra no

PORTALEGRE

Salão Nobre da C.M de Arganil;

Curso “Formação em produção de

Evento

eventos culturais” - dias 26 e

11º Aniversário da

27 no Auditório Municipal de

Associação de Arte e

Sousel.

Cultura do Concelho de

Horário: sábado - 15h/19h e

Futebol

Cantanhede: “Portugal em

21h/23h, domingo – 9h/13h.

Dias 6, 13, 20 e 27 decorem

Música”, espectáculos com

Preço: 25 euros (para sócios)

jogos da Taça Fundação Inatel

Grupo “Bairrada Portugal

e 35 euros (público não

2010/2011, informações na

Evento

Mix” - dia 24 no Lar de

associado), mais informações

Agência Inatel

Aniversário da Banda

Idosos da Tocha/Cantanhede

na Agência Inatel em

e dia 25 às 21h30 no Centro

Portalegre.

VIANA DO CASTELO

2010/2011, informações na Agência Inatel.

VISEU

Sociedade Musical “ de Futsal

Santar – dia 6 às 11h Missa,

Social e Paroquial de

Dias 4, 5, 11, 12, 18, 19 e 26

seguida de almoço e de

Camarneira.

decorrem jogos da liga Inatel

concerto às 15h


79a82_223:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:40 Page 79

O Tempo e as palavras M a r i a A l i c e Vi l a Fa b i ã o

Afinal, onde estava o Gil Vicente "Não se esqueçam de que fazemos campanha em poesia, mas que, quando somos eleitos, somos obrigados a governar em prosa." Mário Cuomo, in: New Republic, 1985

C

hega pontual. Na sua esteira, e pela mesma porta por onde, com ela, entra o frio cinzento-espesso de um dia sem Sol, entram "as notícias", que o seu palavrear quase transforma em aconteceres em tempo real, com formas concretas, cheiros, sons e cores. "Era… Matou… Mas… Depois…". Mais fácil do que deter a torrente de palavras com que se alarga sobre os temas que nos últimos dias têm lançado o país numa grave crise de síndrome vertiginoso, entre os quais, e por ordem decrescente de interesse, a morte violenta do nosso último cronista social e a escolha de um novo messias que nos salve do FMI e de todos os grandes males (amém!), seria calar a voz do vento ou deter a torrente das águas diluviais que têm espalhado a morte e a destruição no mundo. Com a capacidade de dialéctica entorpecida, penso, por trás de um sorriso semi-atento, naquele amigo que punha termo às discussões académicas sobre o sexo dos anjos, voltando paulatinamente as costas ao debate e declarando, com o ar displicente de quem põe o último ponto final num texto de cem páginas: "Depois, começaram a chover rãs…". Palavras e gestos ficavam suspensos a meio e, entre risos e protestos, a conversa mudava de rumo. E se eu?... A rápida partida põe termo ao feliz solilóquio informativo. "Noblesse oblige", porém. Na era da informação e do conhecimento, estar bem informada é tão indispensável, um must tão imperioso, como qualquer objecto da Cartier. Vivo na era das TIC (Tecnologias da Informação e Conhecimento). Graças a elas, nada me impede de, no próximo segundo, estar a comunicar, olhos nos olhos, com alguém que, além-Himalaias, esteja, como eu, a tentar escrevinhar num computador uma qualquer crónica sobre um qualquer assunto sem importância. Sem o dom da ubiquidade do nosso Santo António, procuro informar-me no local: um ligeiro toque num botão do telecomando do televisor (modesta TIC caseira) e, sem abandonar a cadeira de trabalho, encontro-me subitamente a quilómetros de distância, num feirão de cidade do interior.

Como em todas as feiras, há ali vendedores e compradores; há o produto e a sua inevitável publicidade, o trivial e o absurdo. E, é claro, há uma moeda de troca: o "voto", moeda moderna e de utilização relativamente recente no nosso país. Verdadeiramente difícil é determinar qual é o produto à venda. Palavras? Beijos? Quantos beijos por um voto? Alguém, apontando para si mesmo, parece anunciar como produto "a minha pessoa". Não, não está a tentar vender a sua pessoa, mas sim as suas "qualidades", em tudo superiores, em sua opinião, a quaisquer outras à venda noutras feiras do produto. (Voz off: Chamem o Gil!) Uma mudança brusca do operador da TV catapulta-me para outra dessas feiras, bastante menor, mas onde, aparentemente, além de palavras e beijos, se vendem flores. Não resisto a flores: quantas rosas por um voto? E qualidades? Certamente, com fartura! menos publicitadas, porém, do que a má qualidade das qualidades da concorrência. (Voz off: Ulo o Gil?) Melancolicamente, sigo o operador no circuito das feiras menores, quase mercados de bairro. Mais palavras, mais beijos, mais flores a troco de nada, vendedores românticos, pouco dotados para o negócio. Notável a ausência de vendedoras nestes mercados tão frequentados pela mulher. Também elas apregoariam: "Quem quer, quem quer votar na Carochinha?"? Fim do circuito. Não terão chovido rãs, nestas feiras, quando esta crónica for publicada e, restabelecido, o país já tiver recuperado o seu equilíbrio e o seu sentido da dignidade (Ah! Cá está a palavra que não encontrei!). Houve, contudo, uma chuva de palavras, de milhões de palavras ocas de sentido, palavras mortas como aves em pleno voo, que jamais se cumprirão, porque, como afirmava Jorge Orwell em Politics and the English Language: A linguagem política e, com variantes, isto aplica-se a todos os partidos políticos, dos Conservadores aos Anarquistas é concebida para fazer com que as mentiras pareçam verdades e o crime pareça respeitável, e para dar ao puro vento aparência de solidez. n FEV 2011 |

TempoLivre 79


79a82_223:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:40 Page 80

Os contos do

O matador

F

oi o Arlindo quem me recomendou o Bar Ventoinhas. Eu tencionava escrever uma novela em que, a certo passo da acção, as personagens se encontravam num lugar sórdido em que se respirasse um ar de marginalidade. - Meu caro Jacinto – disse ele – o Ventoinhas é o cenário perfeito para o que procuras. Mas não te apresentes lá com esse fato de bom corte, camisa e gravata. Escolhe a roupa mais deselegante que tiveres e barba de dois dias. Tenta parecer-te com os frequentadores habituais, sem dares nas vistas. Era esse o meu desejo e procurei no fundo do roupeiro as peças que se adequassem. Encontrei a horrenda camisola roxa de gola alta que a tia Ema me ofereceu no Natal. Seria de péssimo gosto vesti-la, sobretudo com o casacão verde, surrado, que há muito tinha atirado para o canto. Acreditei que se o Ventoínhas fosse tal -qual a descrição do Adelino, ninguém ia reparar num tipo assim. A porta aberta dá para um pequeno átrio com as paredes pintadas do que parece ser um prólogo. O artista esmerou-se em figuras de mulheres garridas e tipos sinistros, como que a anunciar o que se encontraria para além da entrada do bar. Saído da claridade da rua, levo algum tempo a adaptar-me à penumbra entrecortada por candeeiros de lâmpadas vermelhas. Mas por sobre o balcão há um risco de luz mais viva e por ele me oriento. Sento-me no último dos bancos altos e a primeira pessoa que vejo, cara-a-cara, sou eu próprio. Por detrás das prateleiras com garrafas há um espelho e quase me assusta a imagem do sujeito de má pinta que sou agora. O homem do bar vem à minha frente e nem pergunta o que quero beber. Limita-se a esperar. Apetece-me um uisqui mas as circunstâncias levam-me a desconfiar da pureza da bebida e opto por cerveja em garrafa. Só agora dou meia volta para olhar a sala. Há poucos fregueses. Duas

80

TempoLivre

| FEV 2011

mulheres, que deduzo alternadeiras, ensanduicham um tipo que parece não pertencer a este filme. Ou talvez pertença e seja por tontos como ele que aguardam as mulheres de alterne. Ele, sim, está de fato, gravata, e ar feliz para tão amáveis companhias. No bolso lateral direito do meu casaco guardei um jornal, dobrado em quatro, e penso que talvez fosse melhor mudar-me para uma das mesas vagas. Mas não faz sentido. A luz é fraca para leituras e o que me traz aqui é observar o ambiente. Nem compreendo o que levou a dobrar o jornal e levá-lo no bolso, meio dentro, meio fora, para um sítio onde não queria perder pitada do que ocorria em volta. Aproxima-se de mim uma mulher que terá saltado a fasquia dos quarenta. É magra e penso que a maquilhagem farta lhe esconde a palidez. - Pagas-me um copo? - Agora não. Quero estar sóbrio. Afasta-se, resmungando, mas não tarda um minuto para que o banco a meu lado tenha pretendente. Outro, de gravata e fato fino. Nervoso. Observa-me com uma atenção incomodativa, o olhar dele desce ao bolso do meu casaco onde tenho o jornal dobrado. Aproxima a cara do meu pescoço, como se quisesse cheirar, e surpreendeme com uma pergunta em voz miúda: - A camisola é roxa? - É roxa, é – digo, entre a surpresa e a incomodidade. Ele tinha outra pergunta estranha: - E o jornal é de hoje? - Exactamente. Então, ele coloca sobre o balcão um envelope com as dimensões de meia folha A-4 e um outro, mais pequeno mas volumoso que entreabre, mostrando notas de cinquenta euros. - É metade - diz. – Depois do serviço feito doulhe a outra metade. Quero falar mas continuo embatucado, não compreendo, não sei que dizer. E ele nem me dá


79a82_223:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:40 Page 81

tempo. Do envelope maior retira uma fotografia que o apresenta a ele próprio com um braço sobre os ombros de uma mulher elegante, de feições delicadas. - Tem aí escrito o endereço da boutique dela. Vai ser fácil para si. Tem de ser hoje ou amanhã, vou partir agora para o estrangeiro. Quero voltar viúvo. Enquanto fala, excitado, rasga a foto ao meio e introduz no meu bolso, junto ao jornal, a imagem da mulher. Sobre o balcão vejo a metade da foto em que ele próprio sorri e o envelope com o dinheiro adiantado. O espanto emudece. Quero falar, gritar, dizer que está enganado que me confundiu com um assassino. Mas apenas balbucio – “espere… espere…”- e ele não espera. Alguém chegou da rua e lançou o alarme: - Andam por aí gajos da bófia! De um salto, desvairado, o meu interlocutor desiste de mais recomendações e corre para a porta, sumindo-se na luz do dia claro. Que faço agora? Hesito e, por fim, opto por distanciar-me, como se a simples mudança de lugar me libertasse de toda a perturbação que se apossou de mim. Agarro no copo de cerveja e vou sentar-me na mesa do fundo. Só penso que não

posso ver-me envolvido no crime encomendado. E se vem a polícia e quer saber quem deixou no tampo do balcão um maço de notas e uma foto esquecida mostrando o tipo que acabou de sair? Informarei a mulher, isso sim, tenho no bolso a fotografia e o endereço dela. Mas não é pressa. O marido, definiu-se por marido, equivocou-se no matador. Os pensamentos rodopiam na minha pobre cabaça quando reparo no homem apressado que acaba de entrar. Veste uma camisola roxa, de gola alta, precisamente como a que eu tenho no corpo. Sobressalto-me quando noto que tem um jornal, dobrado em quatro, no bolso direito do casaco. Vai sentar-se no banco ao balcão que eu ocupara até há poucos minutos. Olha em redor, como quem busca alguém. Acto contínuo, volta-se para o balcão, vê o dinheiro, conta as notas e recolheas no casaco. O mesmo faz ao retrato, depois de o observar longamente, como se quisesse decorar todos os pormenores da fisionomia. Passou uma semana. Folheio o jornal e deparo com o sorriso do sujeito que me abordou no Bar Ventoinhas. O texto por baixo informa que foi assassinado em circunstâncias misteriosas. Ninguém percebe porquê. “Era um cidadão exemplar”- assegura a notícia. n FEV 2011 |

TempoLivre 81


79a82_223:sumario 154_novo.qxd 25-01-2011 14:40 Page 82

Crónica

Marinheiro Malangatana Eduardo White

82

TempoLivre

| FEV 2011

D

isseram-me, esta manhã, que tinha chegado um barco grande a Matosinhos. De um porto tão distante que os homens só dele sabem de ouvirem falar. Veio munido de entorpecentes luzes, lento e majestoso como uma baleia divagando em seus mares. De dentro, tambores e cânticos ecoavam, rufando e seduzindo, enquanto bailarinas líquidas, dançando, se embrulhavam em milhentas mil cores sob os pássaros gentios que as acompanhavam. Havia sol. Estranharam os contadores, pois que não é costume em tempos de tão rígidos frios serem ali solarengas as madrugadas e que nem pássaros se agitem em tão acordados voos. A nave, continuam eles, era um gigantesco vapor feito de invulgares materiais. Estrelas-do-mar, búzios, escamas prateadas de peixes, carapaças de caranguejos, conchas de um ouro luzidio e muitas máscaras de variáveis rostos. Também se viam areias encarnadíssimas de uma fineza só igualável às mais longínquas sedas e madeiras rosa e negra e castanhamente canforizadas e também fortes como o ferro e negras como o breu. E haviam, estranhamente, musculados negros vestidos de uma roupagem quase nua, carregando consigo enormes lanças e elmos de pele e escudos de enormes e vivas cabeças de leopardos rosnando. Também, contam-se as mulheres elegantíssimas cujos seios eram da mais perfeita e dura redondez e que os seguiam agitadas entre seus gritos comemorativos. Dizem que Matosinhos terá acordado atónita com tão invulgar espectáculo. Eram as altíssimas labaredas que ondulavam de inúmeras fogueiras crepitando sobre o mar, as estrelas havidas baixas e amarelas como o sol, como as luzes vastas de uma grande cidade, cintilantes e irrequietas, e,

sobre elas, crianças rindo-se com papagaios tocando o azul límpido dos céus. Em volta do navio, contam-se incontáveis as almadias com os seus pescadores remando e golfinhos saltando, demorada, lentamente em sua volta e que também emitiam envidraçados sons cristalizados por todos os lados em flâmulas e minúsculas bandeiras coloridas, enquanto do seu casco se estendia, até junto à terra, uma enorme passadeira púrpura ladeada por árvores frutadas e perfumadas. Sobre ela caminhava um homem negro e forte que, em meio a sonoras gargalhadas, falava e cantava, palavras e músicas indizíveis, e dos seus cabelos brancos um extenso e distante algodoal se agitava, e das mãos, enormes montanhas verdes de chá enobrecidas o guardavam e da boca, um grande rio trovejando para as duas gigantescas luas negras dos olhos aluando tudo.

F

alam as mais variadas vozes que, depois deste espectáculo, do navio se fez ouvir uma estridente sirene, tão forte, tão aguda, tão capaz de fazer tremer as casas dos homens, os prédios da terra, os campos em volta. Com esse som, os cães ladraram e os relógios pararam e o mar se abriu calmo e sereno para engolir aquela visão fantástica. E o silêncio, então, fez sentir-se como uma cortante e sibilante brisa para que a cidade voltasse a dormir de novo. Apenas mais tarde se soube, de um país haver percorrido o Mundo para embarcar o seu pintador enfeitiçado da vida, que, agora, naquela enorme nave, voltava para vivê-la na consanguinidade moçambicana das suas telas. Desse homem, nosso colorido marinheiro do mundo e de seu nome Malangatana, só mesmo elas, justa e merecidamente, poderão falar. n


83:Layout 1 25-01-2011 15:08 Page 1


84:Layout 1 25-01-2011 15:18 Page 1


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.