Sementes de Esperança » Abril de 2016

S E M E N T E S DE ESPERANÇA ABRIL 2016

| Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

Intenções de Oração do Santo Padre Intenção Geral Pequenos agricultores

Para que os pequenos agricultores recebam a justa compensação pelo seu precioso trabalho.

Intenção Missionária Cristãos de África

Para que os cristãos de África dêem testemunho do amor e da fé em Jesus Cristo no meio dos conflitos político-religiosos.

Páscoa “Porque procurais o Ressuscitado entre os mortos?”

Devemos procurar o Cristo vivo, como as mulheres que, na manhã de Páscoa, foram ao Seu túmulo. Também a nós, os anjos dizem: “Porque buscais o Vivente entre os mortos?” (Lc 24,5) Não, não procurem a Vida entre os mortos, entre os que não possuem amor e estão enterrados no túmulo do próprio egoísmo. O ser humano só pode viver por amor. E toda a injustiça na Terra, toda a miséria, todo o medo e todo o terror, toda a perseguição e a opressão, toda a guerra e todo o crime só existem pela falta de amor. Pois, qualquer plano insidioso que os tiranos e ditadores dos nossos tempos possam forjar tem sempre a sua causa nos mortos.

Porque procurais o Ressuscitado entre os mortos? Entre aqueles que só vivem para si mesmos, para o seu dinheiro, os seus bens e o seu prazer?

Deixem Cristo ressuscitado reinar em vós, para que a Sua força transformadora vos torne homens novos. Não procurem a vida entre os mortos, entre os egoístas.

Sigam as palavras de Jesus: “Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros” (Jo 13,34). Assim se tornarão homens novos, como Pedro, João, as mulheres, os discípulos de Emaús. Eles já não tinham medo, eles deram o seu testemunho, eles possuíam o amor.

Somente quando vós tiverdes o amor, Cristo poderá vir ao vosso encontro e dizer: “A paz esteja convosco!” Onde não há amor, a paz também é impossível. Não há outra saída, a não ser o amor.

Pe. Werenfried van Straaten

2

Sementes de Esperança | Abril 2016

Reflectir INTENÇÃO NACIONAL Para que os Cristãos em Portugal e os homens de boa vontade se comportem de tal modo que fiquem sem efeito prático ou pelo menos estatístico as leis fracturantes recentemente aprovadas e que daí tirem lições para o futuro em termos de prática de cidadania responsável.

O enorme perigo Na sua encíclica sobre o Deus de Misericórdia

sentido da sua dignidade, como homem,

S. João Paulo II escreve o seguinte: «A

criado à imagem e semelhança de Deus, e,

mentalidade contemporânea, talvez mais

como cristão, se esqueça da sua dignidade

do que o homem do passado, parece opor-

como filho.

-se ao Deus de misericórdia e, além disso, tende a separar da vida e a tirar do coração humano a própria ideia da misericórdia» (DM 2). E, no final da encíclica, diz que a solicitude da Igreja no que diz respeito à insistência sobre a misericórdia, como nota divina, «é ditada pelo amor para com o homem, para com tudo o que é humano e que, segundo a intuição de grande parte dos nossos contemporâneos, está ameaçado por perigo imenso» (DV 15).

Não é uma novidade na história que muitos dos nossos contemporâneos tenham dificuldade em entender a misericórdia de Deus, até como justificação do seu ateísmo ou agnosticismo; mas o problema é a segunda parte da afirmação: se o homem de hoje perde o coração, se tem o coração endurecido, isso é ainda mais grave, pois significa o colapso da humanidade, de uma humanidade que não tem, porque nunca teve ou porque perdeu, o seu cora-

Na bula O rosto da misericórdia, o Papa

ção. E esta verificação é extremamente

Francisco cita textualmente e no mesmo

grave. É isso que tanto S. João Paulo II

lugar estas duas passagens de S. João

em 1980 como o Papa Francisco hoje nos

Paulo II (Misericordia vultus, 11). Isto quer

recordam com veemência!

dizer que desde 1980 até 2015 a situação de perigo que paira sobre a humanidade se

Nunca como hoje se avançou tanto no

mantém ou até se agrava: que o homem

domínio da ciência e da tecnologia; e,

perca o seu coração e, por conseguinte, o

todavia, o perigo do colapso espiritual da

Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

3

Reflectir humanidade, de uma humanidade sem

do pai e da mãe, são-lhe propostos dois

rosto e sem coração, nunca foi tão real

pais ou duas mães; no momento mais

como hoje. Bem que nos recorda Bento

solene da vida, marcado pela doença e

XVI quando diz, na Spe salvi (salvos na

pelo sofrimento, a pessoa é entregue à

esperança): enganam-se aqueles que

sua liberdade, como se fosse de liberdade

pensam que a salvação vem pela ciência;

que ela precisasse e não de conforto, de

a salvação vem pelo amor (Spe salvi, 26).

afecto, de proximidade cordial e amorosa.

Mas como pode amar uma geração sem

Quando no orçamento do Estado, para

coração, uma humanidade que perdeu o

efeitos de deduções fiscais, são colocados

sentido da misericórdia?

em paralelo os animais de estimação

As leis recentemente aprovadas em Portugal são um sintoma desta crise e deste perigo: de facto, elas são movidas, na justificação dos seus autores, pela lógica racional da liberdade – cada qual pode fazer o que quiser, do seu corpo, do corpo dos outros, das relações afectivas. As leis da despenalização do aborto, as pers-

e os filhos, estamos aí em presença da perda da dignidade da pessoa enquanto tal, pois quase já não se distingue, em termos jurídicos, dos animais. Fiquei surpreendido, mesmo chocado, quando vi a publicidade do partido PAN que falava dos animais como dos nossos familiares mais próximos!...

pectivas do debate sobre a eutanásia e a

As palavras proféticas de João Paulo II e

adopção de crianças por casais do mesmo

do Papa Francisco nunca foram tão urgen-

sexo – para não falar já do cartaz do Bloco

tes como hoje. Que este ano da misericór-

de Esquerda para celebrar a promulgação

dia e as palavras destes homens sábios

desta lei – são a expressão de uma rei-

nos façam pensar e arrepiar caminho,

vindicação da liberdade e do direito, mas

enquanto é tempo.

desprovidas de coração, pois no momento em que a mulher grávida mais precisa de ajuda, fica entregue à sua liberdade

Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, scj

e à pressão dos outros; no momento

Assistente Espiritual da Fundação AIS

em que a criança precisa da presença 4

Sementes de Esperança | Abril 2016

Bulgária Superfície 110.910 Km2

Hungria•

População 7 milhões Sérvia•

Cristãos: 82,1%

Bulgária•

Ortodoxos: 81,3% Muçulmanos: 13,7%

Ucrânia

Roménia•

Religiões

Outros Cristãos 0,8%

Moldávia•

Mar Negro

Macedónia• Albânia•

Sem religião: 4,2% Línguas oficiais Búlgaro

Grécia•

• Turquia

BULGÁRIA

POBREZA E DIVISÕES Um quarto de século após a queda do comunismo e oito anos após a sua entrada na União Europeia, a Bulgária continua à procura da sua identidade e de uma estabilidade que se esfumam no fluxo de emigração contínua e nos problemas com as minorias. A Igreja Ortodoxa, maioritária, tem dificuldade em encontrar o seu lugar num mundo que mudou.

Trinta por cento da população búlgara terá deixado o país, desde o fim do comunismo, reduzindo a Bulgária a uma população que pouco ultrapassa os 7 milhões de habitantes. Ao mesmo tempo, os dramas sírio e iraquiano e a sua posição de posto avançado terrestre da miragem europeia, tornam-na um lugar de imigração record, a partir da Turquia. Os migrantes constituem, presentemente, uma minoria no país a acrescentar aos Roms (10% da população, a maior densidade do mundo e pouco integrados) e aos “Turcos” (os Pomaks, de confissão muçulmana, cuja origem não se Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

sabe se é turca ou búlgara e que representam 10 a 15% da população estando, em geral, bem integrados).

As dificuldades e as perturbações económicas e sociais que se sucederam nestes últimos anos, sobretudo desde 2013, viram o aparecimento mediático de oligarcas de origem por vezes mafiosa mas, acima de tudo, fragilizaram a classe política. Boyko Borrisov, antigo guarda-costas do último dirigente comunista búlgaro e, depois, chefe da polícia rotulado como centro direita e pró-europeu, voltou 5

Bulgária O Mosteiro de São João de Rila, fundado no séc. X pelo eremita ortodoxo São João de Rila, é património mundial da UNESCO..

ao poder em Novembro de 2014, à frente de uma frágil coligação de cinco partidos com interesses divergentes.

até ao momento, imune às febres balcânicas destas últimas décadas.

Duas novas fontes de instabilidade apareceram em meados de 2015. Por um lado, a degradação da situação na Grécia, país de que a Bulgária depende financeira e economicamente, com o medo do efeito dominó. Por outro lado, motins nos bairros Roms da capital e de outras cidades que levam o jornal búlgaro Standart a escrever: “Vemos nitidamente o crash do modelo étnico búlgaro que tinha feito do nosso país um oásis de paz nos Balcãs.”

Entre fantasmas e prevenção legítima, as informações sobre o Islão búlgaro e os seus eventuais laços com os movimentos radicais do Médio Oriente são bem difíceis de decifrar. Os especialistas do Balcãs estão de acordo em colocar a tónica sobre o carácter pacífico, mesmo secularizado, deste Islão búlgaro. No máximo, apenas algumas cidades parecem sensíveis à propaganda radical e o número de jovens búlgaros que se alistaram no Daesh não ultrapassa os quarenta.

O caminho para a “normalidade” europeia política e social está ainda longe para o país mais pobre da União europeia.

Ao oferecer ao primeiro ministro Boyko Borrisov e ao seu homólogo macedónio, medalhas do Anjo da Paz, a 23 de Maio de 2015, acompanhadas destas palavras “Eis o Anjo da Paz que vence o mal da guerra.

Temos todos de ser anjos da paz. Neste momento é muito importante”, o Papa Francisco apontava os riscos de um país, 6

AMEAÇA ISLÂMICA?

Mas o atentado de Julho de 2012 (um kamikaze detonou-se num autocarro que levava jovens israelitas ao aeroporto de Burgas causando a morte de seis pessoas e ferimentos a trinta e duas), atribuído imediatamente a islamitas libaneses e ao Hezbollah, revelou a fragilidade do país, mesmo que não se possam provar cumplicidades a nível interno. Para além disso, este drama foi seguido de um inquérito Sementes de Esperança | Abril 2016

Bulgária A aldeia de Pokrovan, no sul da Bulgária.

judicial sobre escolas corânicas clandestinas de cariz radical. Existem certamente laços entre vários comerciantes de armas que têm lojas na Bulgária e a Al-Qaeda ou o Daesh. Definitivamente, um movimento limitado de conversão de Roms ao Islão instala no país uma atmosfera de hostilidade no seio de uma parte da maioria ortodoxa que desceu à rua para manifestar a sua oposição. Está em estudo uma legislação visando impedir todo o contágio islâmico.

Após o falecimento, em 2013, aos 98 anos, do Patriarca Maxime, que conseguiu manter-se à frente da sua Igreja mais de vinte anos após a queda do regime comunista, ao qual esteve intimamente ligado, e apesar da eleição de um patriarca cismático durante os anos noventa é o metropolita de Ruse, Néophyte, que dirige agora o Patriarcado de Sofia. Monge em Troyan, maestro em Sofia, ordenado bispo em 1985, hoje com setenta anos, pertence à geração que esteve ligada ao regime comunista enquanto tentava não Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

A Bulgária continua a ser o país mais pobre da União Europeia.

perder a sua alma. O novo patriarca teve a missão de preparar as festividades do 1150º aniversário do baptismo do czar Boris e do seu povo, em 865. Nesta ocasião, milhares de fiéis ortodoxos vieram, no início do mês de Maio de 2015, a Pliska, antiga capital do reino búlgaro. O Patriarca Néophyte declarou perante todos os fiéis: “Hoje, a nossa nação ortodoxa vive numa situação de provações espirituais muitas vezes atraída por valores e ideais duvidosos. Em vez da porta estreita da vida eterna e da herança do Reino de Deus ela é empurrada para a porta larga do pecado. Eis porque nos lembramos dos nossos mestres que pregaram a Palavra de Deus.

Imitemo-los, tendo o final da sua vida perante os nossos olhos.”

Muitas acções recentes ilustram estas declarações. O Santo Sínodo lança, regularmente, campanhas contra tudo o que lhe parece ser sinais de secularização, até mesmo influências malignas. Depois de Harry Potter, o protesto contra a moda do ioga, em Junho de 2015, é um dos mais 7

Bulgária Alguns temem uma radicalização do Islão búlgaro, considerado pacífico até à data.

recentes episódios. Tal como a discussão, desde há anos, de um regresso ao calendário juliano, abandonado em 1916 ou ainda a campanha lançada em Julho de 2015, para fazer respeitar o descanso dominical em toda a parte, salvo em caso de necessidade. Quanto à decisão do Santo Sínodo, de mencionar como rei, na liturgia, o antigo monarca e depois primeiro-ministro, Siméon de Saxe-Cobourg, desencadeou polémicas e foi condenada, entre outros, pelo presidente búlgaro, Rossen Plevnellev, por fazer crer que há dois chefes de Estado no mesmo país. Paralelamente, a prática religiosa num país que se reclama 90% ortodoxo, é uma das mais fracas da Europa e a vida monástica, berço do Cristianismo búlgaro, debilita-se até em São João de Rila, o seu centro secular.

MENOS DE 1% DE CATÓLICOS Tendo sido confortados no seu ministério pelo Papa Francisco, aquando da sua visita ad limina de 2014 e encorajados a prosseguir com o seu empenho missionário a favor dos valores morais, os bispos católicos da Bulgária têm a pesada tarefa de 8

Os Católicos representam apenas 1% da população.

conduzir um bem magro rebanho – algumas dezenas de milhares de fiéis – que se divide entre latinos e greco-católicos. Têm, além disso, de negociar com os poderes públicos. Deste modo, durante o Outono de 2014, o Mons. Hristo Proykov, presidente da Conferência Episcopal da Bulgária, interveio junto de Plamen Slalov, presidente do comité parlamentar, para falar sobre os subsídios dados às organizações religiosas, o que deveria permitir à Igreja Católica receber na medida da sua estatura. Isto no caso de o pedido ser aceite.

A Igreja Católica é ajudada por padres vindos de outros lugares, como os assuncionistas ou os passionistas. Estes últimos, que deram à Bulgária os seus primeiros missionários católicos e o seu primeiro bispo mártir, Mons. Bossilkov beatificado por João Paulo II, estão de volta a Ruse.

O Pe. Patrick Ville, pároco em Shistov, na fronteira romena, assegura além do serviço à pequena comunidade católica uma missão missionária e educativa em particular junto dos jovens, numa região do pós-comunismo que continua destruída.

Sementes de Esperança | Abril 2016

Bulgária Os bispos (na fotografia D. Proykov) devem negociar os apoios com os poderes públicos.

As relações com a poderosa Igreja Ortodoxa, que goza de um quase monopólio do Estado, não são fáceis, sobretudo quando esta pretende ser a única Igreja verdadeiramente cristã do país. A proibição feita pelo novo metropolita ortodoxo de Plovdiv aos seus padres, de se relacionarem com padres católicos (na altura em que tinham sido organizadas peregrinações conjuntas a Lourdes) ilustra, hoje, essas dificuldades.

O ÚLTIMO ASSUNCIONISTA BÚLGARO Tendo ido para França para entrar na congregação assuncionista, o jovem Assen Karaguiosov não pôde regressar à Bulgária, porque a Igreja Católica foi liquidada pelo regime comunista. Exerceu o seu apostolado em França, sobretudo na região de Toulon, até ao fim do comunismo e mesmo depois disso. Foi somente aos 75 anos que voltou ao seu país. Foi nomeado cura de Pokrovan, a única aldeia totalmente católica do país, numa pobreza que roçava a miséria. Aí ficará durante quase seis anos até que um Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

acidente o obriga a reformar-se. O P. Assen morreu em fevereiro de 2015.

A BULGÁRIA, UM PORTO PARA OS CRISTÃOS DO IRÃO Primeiro às dezenas, hoje mais de 200, os Cristãos do Irão encontraram refúgio na Bulgária. São convertidos do Islão que fugiram do país onde são perseguidos, ameaçados com a prisão ou pior. Fazem parte dos mil iranianos refugiados na Bulgária, ajudados por um rico filantropo judeu canadiano, Yank Berry, que lhes assegura o apoio para o alojamento e educação dos filhos. A Bulgária acolhe, igualmente, outros refugiados cristãos vindos, nomeadamente, da Síria e do Iraque.

Oração Para que a Igreja Católica continue a semear o amor e a esperança neste país ferido por ideologias iníquas e ameaçado por forças extremistas, nós Te pedimos Senhor!

9

Oração NOSSA SENHORA DO BOM CONSELHO 26 de Abril A imagem original de Nossa Senhora do Bom Conselho estava exposta numa igreja da Albânia, em Scutari. Em 1467, esta cidade foi conquistada pelos turcos muçulmanos. Foi então que o milagre se deu, tendo sido testemunhado por populações inteiras tanto na Albânia, como em Itália, e reconhecido como autêntico por vários papas, entre os quais, João Paulo II: a imagem foi miraculosamente envolta em nuvens de luz e transportada da pequena igreja de Scutari para uma igreja em reconstrução em Genazzano, Itália. Esta igreja foi mais tarde elevada à condição de Basílica Menor, e nela podemos confirmar o milagre permanente desta imagem, que continua exposta à veneração dos fiéis sem que nada a suporte ou a segure à parede da igreja.

Em 1993, João Paulo II visitou a Albânia e, como presente, ofereceu à igreja de Scutari uma réplica da imagem que de lá partira no dia 25 de abril de 1467, confirmando assim a história do milagre de Genazzano.

Oração a Nossa Senhora do Bom Conselho

Gloriosíssima Virgem Maria, escolhida pelo eterno Conselho para Mãe do Verbo Humanado, tesoureira das divinas graças e advogada dos pecadores, eu, o mais indigno dos vossos servos, a vós recorro para que me sejais guia e conselheira neste vale de lágrimas.

Alcançai-me, pelo preciosíssimo sangue do vosso divino Filho, o perdão dos meus pecados, a salvação da minha alma e os meios necessários para obtê-la.

Alcançai também para a Santa Igreja o triunfo sobre os seus inimigos e a propagação do reino de Jesus Cristo em todo o mundo. Ámen.

.

10

Sementes de Esperança | Abril 2016

2016 - Ano Santo da Misericórdia CONSOLAR OS TRISTES A consolação é uma prática que o ser humano enquanto tal conhece, deseja, pede, concretiza, frente às situações de morte, de sofrimento físico e moral, de velhice, de solidão e abandono; ou melhor, frente a pessoas enlutadas, em sofrimento, entregues à sua velhice, isolamento e abandono.

[Na Antiguidade] a arte de consolar consistia numa presença compassiva, na capacidade de proferir palavras sentidas como expressão de encorajamento e de proximidade, através de visitas de condolências e de bilhetes ou cartas em tom consolador. Mediante a consolação tenta-se criar uma proximidade, fazer «presença junto de» quem está na desolação e no isolamento. É certo que, por vezes, a consolação pode ser transmitida por palavras. Todavia, muitas vezes, sobretudo quando quem está na aflição é uma única pessoa, as palavras revelam-se inadequadas, ou antes, inimigas de uma verdadeira consolação. (…). Uma verdadeira consolação consiste numa presença capaz de escuta. Uma presença que não avilta a desgraça do aflito com palavras falsamente tranquilizantes e ilusoriamente espirituais, com discursos teológicos, que, inevitavelmente, não alcançam a tragédia que a pessoa está a viver, antes, dela se distanciam. Muitas vezes, apressar discursos é sinal de angústia e de medo frente à aflição do aflito. Mais difícil, mas mais capaz de alcançar o outro na sua dor, é escutar o seu sofrimento, deixar que seja o seu silêncio, o seu estado de espírito, a sugerir gestos, tempos, movimentos, silêncios, palavras, olhares, abraços, carícias, distâncias, para lhes poderem servir realmente de consolação.

A consolação tem os seus tempos, tal como a tristeza.

Temos de nos despojar das formas de «poder» que nos podem habitar, de renunciar às respostas salvíficas, à ilusão de possuir «técnicas» de consolação. Além disso, aquele que se faz próximo de quem está «triste» nunca poderá substituí-lo, caso contrário, a sua acção será de violência, e não de encontro nem de consolação. Vital, na acção de consolação, é Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

evitar a presunção de que se sabe e pode consolar, do delírio de omnipotência de pensar que o bemestar do outro dependa de nós. A consolação não é uma intervenção anestésica. Trata-se de entrar, de certo modo, na situação do outro, ou melhor, de estar ao lado do outro e de mostrar empatia comunicando-lhe o nosso sentimento, que ocorre mediante uma sábia e equilibrada relação de tensão do corpo, atenção da mente e sensibilidade das emoções. Realidade desanimadora, pelo contrário, é que, muitas vezes, não há quem console. (…). Entre as expressões usadas [na Bíblia] há o «falar ao coração» (Gn 50, 21; Is 40, 1-2), que designa o gesto amoroso e afetuoso de quem apoia a cabeça sobre o peito da pessoa amada e lhe dirige palavras que pretendem atingi-la profundamente, no coração.

Trata-se de uma comunicação íntima e pessoalíssima.

Se o próprio Deus é o verdadeiro sujeito da consolação, a sua acção de consolador é descrita recorrendo às imagens de uma mãe (cf. Is 66, 13) e de um pastor (cf. Is 40, 11). Assim, a consolação revela-se como elemento essencial do cuidado que Deus tem pelo seu povo e pelas suas criaturas, cuidado esse que tende para a plenitude de vida do seu povo. É significativo que a imagem talvez mais comovente, que exprime a salvação escatológica, seja a de Deus que enxuga as lágrimas dos olhos das criaturas (cf. Ap 7, 17; 21, 4). É verdade que a consolação definitiva, no Cristianismo, é escatológica, é obra de Deus, porque pretende ser consolação radical frente ao mal e ao pecado. Esta consolação só pode vir de Deus.

Luciano Manicardi, A caridade dá que fazer: Redescobrindo a actualidade das ‘obras de misericórdia’, 2015

11

2016 - Ano Santo da Misericórdia Amar e Servir a Deus, Amando e Servindo Directamente os Pobres.

A SOCIEDADE DE SÃO VICENTE DE PAULO A Sociedade de São Vicente de Paulo (SSPV) é uma associação mundial de leigos que tem como missão a assistência espiritual e material, a situações de solidão, sofrimento ou pobreza. É uma sociedade independente da hierarquia eclesiástica, com estatutos próprios, que no entanto é composta por leigos cristãos

e, por isso, estreitamente ligada à Igreja Católica. As conferências são a unidade básica desta Sociedade. Reúnem-se periodicamente sob a orientação de um Conselheiro Espiritual, para planearem e prepararem a sua ação.

A SSVP foi fundada pelo (hoje Beato) Frederico Ozanam e cinco companheiros com o apoio de uma Filha da Caridade Rosália Rendu, em 23 de Abril de 1833.

Entra em Portugal em 1859, pela mão do Padre Sena de Freitas, Padre Miel, Conde de Aljezur e outros, e funda-se a primeira Conferência em Lisboa.

ESPIRITUALIDADE Amar, partilhar e servir os mais desfavorecidos com humildade, espírito de pobreza, alegria, juventude, criatividade, dinamismo e ousadia.

A espiritualidade cristã revelada por Cristo como evangelizador dos pobres 12

Sementes de Esperança | Abril 2016

2016 - Ano Santo da Misericórdia é a espiritualidade cristã vivida por São Vicente de Paulo que nos faz entender e conhecer o «Cristo Vicentino», aquele Cristo que «caminhou e trabalhou como nós». Aquele Cristo sem ceptro e sem coroa, que não está sentado sobre o globo, que suportou o peso da cruz de todos os que sofrem, de todos que pecam, de todos que são pobres... e ressuscitou para nos oferecer a Esperança.

A Espiritualidade vicentina é a espiritualidade que levou Ozanam a criar as Conferências de São Vicente de Paulo que colocam cristãos-leigos em permanente disponibilidade para aliviar o sofrimento e a pobreza, despertando a vocação e missão da SSVP.

MISSÃO Desde a simples oferta de «umas achas de lenha» - oferta inicial de Ozanam às famílias que primeiro visitou em Paris às ofertas de roupa, livros, medicamentos, ajuda na procura de empregos e internamentos, visitas a lares, hospitais, cadeias, ou à fundação das chamadas «obras especiais» (obras de acção especializada e individualizada, lares de 3ª idade, centros de dia, casas de trabalho, salas de estudo, cantinas, lares para jovens, creches, infantários, jardins de infância, colónias de férias, etc.), a acção vicentina procura ser a resposta oportuna para cada situação de sofrimento ou pobreza que se detecta - resposta mais ou menos imediata, ou de simples encaminhamento das situações mais difíceis para as vias possíveis de resolução, Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

inquietando consciências indiferentes, apesar de responsáveis, mas com possibilidade de resposta às situações de pobreza e sofrimento.

A acção vicentina preocupa-se com a promoção do homem na sociedade através de um sentimento de afecto e respeito pela dignidade de cada pessoa, da oferta de amor, a que todos têm direito, da compreensão e receptividade a uma confidência ou a um desabafo, um conselho com uma palavra amiga, um olhar carinhoso, motivos de fé e de esperança.

PRESENÇA NO MUNDO Os 960 mil membros da Sociedade encontram-se em 135 países nos 5 continentes.

Em Portugal, estão presentes em todas as dioceses.

CONTACTOS Largo do Casal Vistoso, nº 2D - 1º G 1900-142 Lisboa Tel.: 217931292 Fax: 217819878 Tm: 968554754 Email: ssvp.portugal.geral@gmail.com www.ssvp.pt

13

Actualidade

UM ROSTO QUE HÁ-DE VIR

“É um rosto com os olhos, os lábios, o pensamento, todo o retracto à procura do silêncio ressuscitado, como Sábado Santo esperando em seu coração, em sua garganta, em suas mãos, em cada sopro do barro, o canto novo (...). Eu já sabia que o lugar era a pedra, mas só depois fiz da pedra o meu lugar. Encontrei como entrar nela pelo Seu lado aberto, descansar em Sua pulsação até não ser mais ninguém. A completa presença na única Presença, para ser, à Sua semelhança, tudo em todos.”

Daniel Faria

Esperamos contra toda a esperança a Ressurreição de Jesus: o desejo ardia-nos no peito ao longo da Semana Santa. E reclama-se o tempo da espera alegre e da escuta obediente de quem quer ser curado pelo Rosto que se ergue sob a penumbra das nossas noites, para queimar as deformidades do nosso coração, que continua a desejar selar aliança com o seu Senhor.

14

Sementes de Esperança | Abril 2016

Actualidade A ressurreição de Jesus estende diante de nós a verdade de quem somos. Cristo está vivo e já não há necessidade de O procurarmos entre os mortos! A pedra removida abre uma longa estrada que beija o horizonte: eis o mistério da Luz; eis o mistério da novidade e “um rosto que há-de vir”. Sem dúvida, uma estrada da vida, mas em particular o Ressuscitado, é Ele mesmo que se estende como estrada da Misericórdia. O encontro com o Ressuscitado é fonte da Graça e Misericórdia! A solenidade da Sua Páscoa leva-nos à Festa da Divina Misericórdia onde podemos beber directamente dessa fonte que vai construindo esse “rosto que há-de vir”.

O Domingo da Misericórdia é momento solene…é dom que Deus nos oferece para que possamos experimentar a fundo a Sua Misericórdia pelo Sacramento da Reconciliação. Esta festa é como remover, deixar retirar a pedra sob a qual emerge o homem novo. Deus não quer que vivamos sob o peso do túmulo! “O Ano Santo não teria muita eficácia se a porta do nosso coração não deixasse passar Cristo que nos leva a avançar em direcção aos outros, para o levar a Ele e ao seu amor” diz o Papa Francisco.

O Sacramento da Reconciliação é lugar do encontro da Presença viva da Misericórdia e tem a característica da alegria. Nas Palavras da Beata Jacinta Marto, “A Confissão é o sacramento de misericórdia. Por isso é preciso aproximarem-se do confessionário com confiança e alegria”. Sentir-se perdoado e livre da escravidão do pecado é em si motivo de festa! Lembremos que a Confissão é como um “sinal importante” deste Jubileu, para fazer a “experiência directa” da misericórdia de Deus. É a experiencia de sermos resgatados e recriados a partir do Seu amor que nos faz transbordar d’Ele mesmo. E, por isso, uma vez reconciliados com Deus e com o próximo podemos tornar nossas as palavras do poeta: “Encontrei como entrar nela (a pedra) pelo seu lado aberto, descansar em Sua pulsação até não ser mais ninguém. A completa presença na única Presença, para ser, à Sua semelhança, tudo em todos”.

Ir. Bridget Eason, asm

Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

15

Destaque

PACK ANO DA MISERICÓRDIA Terço + Livro TERÇO DA MISERICÓRDIA Crucifixo: Jesus Misericordioso e a confissão. Os dois raios representam o Sangue, que é a vida das almas, e a Água, que justifica as almas. Ambos jorraram das entranhas da Misericórdia de Jesus quando, na Cruz, o Seu Coração agonizante foi aberto pela lança. No verso, a pomba que representa o Espírito Santo.

Medalha: De um lado a Imaculada, Mãe de Misericórdia e Refúgio dos pecadores. Do outro, a alegria do perdão, representada por um pormenor da pintura de Rembrandt “O Retorno do Filho Pródigo”.

Contas redondas, de 6 mm, em vidro prensado. O encarnado representa o Sangue e o branco representa a Água.

LIVRO Nos Caminhos da Misericórdia – Itinerário Bíblico Conjunto de passagens bíblicas sobre a misericórdia acompanhadas de um breve texto descritivo.

“Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado.”

Papa Francisco

Autor: Fortunato Frezza 126 páginas

Cód. PR105

€ 19,80 € 15,00

SEMENTES DE ESPERANÇA - Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre PROPRIEDADE Fundação AIS DIRECTORA Catarina Martins de Bettencourt REDACÇÃO E EDIÇÃO P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj, Maria de Fátima Silva, Alexandra Ferreira, Ana Vieira e Félix Lungu FONTE L’Église dans le monde – AIS França FOTOS © AIS; O Filho Pródigo, Rembrandt

CAPA PERIODICIDADE IMPRESSÃO PAGINAÇÃO DEPÓSITO LEGAL ISSN

Le saintes femmes au tombeau, William-Adolphe Bouguereau 11 edições anuais Gráfica Artipol JSDesign Isento de registo na ERC ao 352561/12 abrigo do Dec. Reg. 8/99 2182-3928 de 9/6 art.º 12 n.º 1 A

Rua Professor Orlando Ribeiro, 5 D, 1600-796 LISBOA T el 21 754 40 00 • Fax 21 754 40 01 • NIF 505 152 304 fundacao-ais@fundacao-ais.pt • www.fundacao-ais.pt