Sementes de Esperança | Dezembro de 2018

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Sementes de

Dezembro 2018

Esperança Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

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Intenção de Oração do Santo Padre UNIVERSAL

Ao serviço da transmissão da fé Para que as pessoas comprometidas com o serviço da transmissão da fé encontrem uma linguagem adaptada aos nossos dias no diálogo com as culturas.

12 de Dezembro NOSSA SENHORA DE GUADALUPE, Padroeira da América

“Não estou Eu aqui, que sou tua mãe?”.

A oração é um dos pilares fundamentais da nossa missão. Sem a força que nos vem de Deus, não seríamos capazes de ajudar os Cristãos que sofrem por causa da sua fé. Para ajudar estes Cristãos perseguidos e necessitados criámos uma grande corrente de oração e distribuímos gratuitamente esta Folha de Oração, precisamente porque queremos que este movimento de oração seja cada vez maior. Por favor, ajude-nos a divulgá-la na sua paróquia, nos grupos de oração, pelos amigos e vizinhos. Não deite fora esta Folha de Oração. Depois de a ler, partilhe-a com alguém ou coloque-a na sua paróquia.

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Reflectir INTENÇÃO NACIONAL

Para que seja sempre mais promovida nas famílias, nos Movimentos eclesiais e nas paróquias a devoção dos primeiros sábados, em obediência ao que Nossa Senhora pediu à Irmã Lúcia, em Pontevedra, no dia 10 de Dezembro de 1925.

A devoção dos primeiros sábados Numa carta dirigida ao Cardeal Cafarra, a Irmã Lúcia dizia que o combate final entre a Igreja e Satanás seria sobre a família. Ora todos sabemos como hoje a família é atacada de todos os pontos de vista e de todos os quadrantes da sociedade contemporânea: há uma conspiração diabólica contra a família, que hoje, para nos entendermos, temos de chamar tradicional, como se houvesse outro tipo de família; mas é isso que hoje pretendem fazer crer, como a ideologia do género, que procura introduzir-se nas escolas, como se houvesse uma terceira possibilidade para além de sermos ou homens ou mulheres. E neste combate estamos conscientes de que a Igreja católica está sozinha. Mas a frente de combate não é apenas a família. A tragédia moral dos abusos sexuais do clero e a criminalização da sexualidade – antigamente tudo o que dizia respeito ao sexo era pecado, hoje é crime – não é motivada apenas com o objectivo do bem moral. Há também uma intenção perversa: desacreditar o clero e desautorizá-lo, estigmatizado como um perigo e uma ameaça sobretudo para as crianças e os adolescentes. Já dizia Einstein – pelo menos numa frase que lhe é atribuída, ele que era um matemático e judeu – que no dia em que conseguissem afastar as crianças dos Padres

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esse dia seria o princípio do fim da Igreja Católica. As forças satânicas que combatem a Igreja sabem bem isso. Neste sentido podemos dizer que nos ataques actuais à família e ao sacerdócio, o que pretendem é atingir precisamente o coração da Igreja, pois a família e o sacerdócio são o coração, os dois pilares fundamentais da Igreja Católica. Então, encontramo-nos hoje bem no centro do combate dos últimos tempos, anunciados por S. Paulo – “… proibirão o casamento e uso dos alimentos que Deus criou para serem consumidos em acção de graças…” (1Tim 4,1-5), e aos quais se refere profeticamente a Irmã Lúcia na carta ao Cardeal Cafarra. É disso também que o Papa Francisco tem consciência, com o seu empenho em purificar o sacerdócio desta verdadeira chaga e no seu igual cuidado em promover a santidade da família, estimulando-a viver o seu ideal de perfeição. Mas tanto os casais como os sacerdotes são pessoas de carne e osso, não são anjos, e por isso estão todos sujeitos às solicitações da carne que são contrárias às do Espírito (cf. 1Cor 6,9-11; Gl 5,16-26). Na humildade, temos todos de pedir a graça de Deus, porque, nas actuais circunstâncias, são mais do que nunca verdadeiras as palavras de Jesus:

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Reflectir “sem Mim não podeis fazer nada” (Jo 15,5)! É mesmo nada, e quem pensar que consegue alguma coisa por si mesmo, está totalmente enganado; e quem estiver inocente e sem pecado, que seja o primeiro a atirar a pedra, como Jesus disse, em tom de desafio, aos que acusavam a mulher adúltera (cf. Jo 8,7). Só a graça do Espírito Santo poderá mudar os nossos corações de pedra em corações de carne; só pela acção do Espírito Santo é que poderemos ter casais fiéis e abertos à vida, sacerdotes zelosos e santos conformes ao coração de Deus. A Irmã Lúcia terminou a sua carta ao Cardeal Cafarra dizendo-lhe: “não tenha medo nem se perturbe, Senhor Cardeal, pois Nossa Senhora já venceu o demónio e em Fátima prometeu não só que em Portugal se manteria sempre o dogma da fé, mas também que no final a vitória será sua, porque no fim ‘o meu Coração Imaculado triunfará’!” Para que este triunfo do Imaculado Coração aconteça nos nossos corações atribulados, no dia 10 de Dezembro de 1925, em Pontevedra (Espanha), Nossa Senhora pediu à Irmã Lúcia a devoção dos primeiros sábados. Eis o texto da Irmã Lúcia: “Apareceu-lhe a SS. Virgem e, ao lado, suspenso em uma nuvem luminosa, um Menino. A SS. Virgem, pondo-lhe no ombro a mão e mostrando, ao mesmo tempo, um coração que tinha na outra mão, cercado de espinhos. Ao mesmo tempo disse o Menino: - Tem pena do Coração de tua SS. Mãe que está coberto de espinhos que os homens ingratos a todos os momentos Lhe cravam sem haver quem faça um acto de reparação para os tirar. 4 FO Dez18.indd 4

Em seguida, disse a SS. Virgem: - Olha, minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todos os momentos Me cravam, com blasfémias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que todos aqueles que durante 5 meses, ao 1º sábado, se confessarem, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 mistérios do Rosário, com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes, na hora da morte, com todas as graças necessárias para a salvação dessas almas.” Tomemos a sério este pedido de Nossa Senhora para que as suas promessas se cumpram em cada um de nós e nas nossas famílias. Foi nesta obediência que há dois anos começámos no Seminário Nossa Senhora de Fátima, em Alfragide, onde resido, a devoção dos primeiros sábados, cuja participação tem crescido de mês para mês, e tenho conhecimento que o mesmo está a ser feito em muitas paróquias, o que muito me alegra. Por isso, exorto vivamente a que não tenhais medo de planear o vosso mês de tal modo que tenhais tempo para fazer companhia a Nossa Senhora, como ela pediu, e vereis os frutos maravilhosos que haveis de colher, para vós, para as vossas famílias, para a Igreja e para o mundo. Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, scj Assistente Espiritual da Fundação AIS

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• Afeganistão

• China

Superfície 3.100.000 km2 População 1,25 Bilhões de habitantes

• Paquistão

• Nepal • Butão

Religiões Hindus: 79,8% Muçulmanos: 14,2%

• Bangladesh

• Índia

• Mianmar

Cristãos: 2,3% Siques: 1,7% Budistas: 0,7% Outras: 1% Língua oficial Hindi, Inglês

ÍNDIA

Oceano Índico • Sri Lanka

UMA PRESSÃO CRESCENTE O todo-poderoso BJP (Partido Bharatiya Janata), partido fundamentalista hindu, parece impor a sua lei, em detrimento das minorias religiosas, cada vez mais ameaçadas. Jogando habilmente com o descrédito do partido do Congresso, no poder desde a independência, e sendo objectivamente sinónimo de corrupção, o BJP parecia ser capaz de tudo conseguir e especialmente de conservar o controlo deste subcontinente. É preciso dizer que Narendra Modi, o primeiro-ministro ultranacionalista, fazia o que fosse necessário para aumentar a tensão radical baseando-se na chamada retirada de identidade. Confrontado com importantes alterações socioeconómicas, efectivamente parecia ser capaz de investir sobre as duas Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

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principais divisões indianas, a casta e a religião. Radicalizando o discurso religioso, o BPJ adulava as altas castas, que não queriam perder a sua autoridade sobre as centenas de milhões de concidadãos, enquanto permitia que todos descarregassem a sua frustração contra o bode expiatório natural: as minorias religiosas. Neste contexto, não é difícil imaginar que as tensões religiosas que gangrenam a sociedade sejam agravadas depois da vitória do BPJ nas legislativas federais de 2014. Em quase todas as eleições locais, o partido de Modi tenta mobilizar 5 19/11/18 18:34


Índia

Foram registados mais de 736 casos de violência contra cristãos em 2017.

o eleitorado hindu jogando com os preconceitos existentes em relação aos Muçulmanos e aos Cristãos, uma maneira de recuperar os votos dos Hindus, geralmente divididos pelas diferentes castas. De acordo com a Constituição, a Índia é uma república socialista, laica e democrática. O artigo 25º da Constituição estipula que “todas as pessoas têm direitos iguais no que se refere à liberdade de consciência, à profissão de uma religião, à sua prática e à sua propagação”. Contudo, “o primeiro-ministro Modi”, confidencia Monsenhor Paulsamy, Bispo da Diocese de Dindigul, “tem intenção de transformar a Índia num país hindu. Ele não quer que seja a Constituição a ser aplicada, mas os princípios e valores religiosos do Hinduísmo”. Após a sua vitória, o partido BPJ quis igualmente restaurar à escala nacional uma lei anti-conversão – uma ofensiva 6 FO Dez18.indd 6

que contudo foi rejeitada pelo Ministério do Direito e da Justiça. Os juristas justificaram a sua decisão sublinhando que toda a legislação vinda da parte do Governo centralizado que arriscava limitar a livre escolha da religião era contrária à Constituição. Contudo, actualmente, as leis anti-conversão entraram em vigor em sete dos 29 Estados Federais indianos.

BURACO NEGRO MORAL Porém, dois crimes fortemente mediatizados e implicando o partido nacionalista hindu vêm fragilizar Modi. Infelizmente, a violação faz parte do quotidiano na Índia, e não se passa uma semana sem que a imprensa noticie um novo caso. Mas, desde o passado mês de Abril, a opinião pública manifestou a sua cólera e os tumultos nas ruas e nas redes sociais, pois duas novas violações ilustram de maneira dramática o falhanço das instituições que são as pedras angulares do sistema Sementes de Esperança | Dezembro 2018

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Índia

Modi, primeiro-ministro ultranacionalista.

democrático indiano: a polícia, os advogados e a classe política. A primeira vítima é uma adolescente, violada por um deputado do BJP, e depois novamente por mais três homens para a fazer calar. O pai foi detido e morreu na prisão. A segunda vítima é uma menina muçulmana de 8 anos, violada durante seis dias por seis homens, incluindo um polícia. Em ambos os casos, uma parte do aparelho político, da segurança e judiciário entrara em acordo para proteger os acusados. O politólogo Pratap Bhanu Mehta vê neste fracasso institucional a marca de um “buraco negro moral”. A crise actual é incómoda mesmo nas fileiras do BJP. O antigo ministro e vice-presidente, Yashwant Sinha, assusta-se ao ver o seu partido comprometido desta forma para fins eleitorais, e declara que “o interesse da nação deve estar primeiro que o do Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

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Será que Rahul Gandhi fará renascer o Congresso?

nosso partido”. Um discurso que soa como uma advertência, a um ano das próximas eleições.

REGRESSO DO CONGRESSO? Mesmo que o final do quase monopólio político do BJP ainda pareça longínquo, não podemos deixar de seguir com interesse o possível renascimento do partido do Congresso do qual Rahul Gandhi, descendente da ilustre dinastia NehruGandhi, assumiu a liderança (Dezembro de 2017). O bisneto de Nehru viu a sua avó Indira e o seu pai Rajiv, primeiros-ministros, assassinados respectivamente em 1984 e 1991. Conhecido durante muito tempo por não ter herdado o gene da política, “RG”, como o chamam, começou a aparecer como uma nova luz. O seu principal desafio é a falta de militantes e cabe-lhe a ele reconstruir as suas redes e reforçar o poder dos seus dirigentes à escala regional. 7 19/11/18 18:34


Índia A Índia não pode ficar sem os serviços de educação e de assistência dispensados pela Igreja. Na foto, as Irmãs da Rainha dos Apóstolos em Mangalore.

60% dos Cristãos são dalits, os quais são duplamente descriminados.

OS CRISTÃOS AMEAÇADOS Aquando da sua sessão bianual, a Conferência Episcopal Indiana advertiu, na sua declaração final, que a promoção de um nacionalismo com base na religião seria auto-destrutiva para a Índia. Os cerca de 200 bispos originários de 174 dioceses indianas recordaram que a Índia tinha registado 736 casos de violência contra os Cristãos em 2017, ou seja uma média de dois casos por dia, e que a Índia sempre tinha necessitado dos serviços prestados pelos Cristãos, em termos de educação, cuidados de saúde e bem-estar social. “Os Cristãos”, que chegaram no ano 52 depois de Jesus Cristo com a pregação de S. Tomé, “continuam a amar a Índia, a construir a paz e a lutar pela verdade, a justiça e a liberdade”, insistiram eles. “Apesar das numerosas acções prejudiciais à unidade do país, temos orgulho de ser indianos”, concluíram. 8 FO Dez18.indd 8

No entanto, num só ano, os ataques contra os Cristãos duplicaram! A maior parte destes actos de violência foram ataques físicos e cerca de 57% dos incidentes tiveram lugar nos Estados de Uttar Pradesh, de Madhya Pradesh, de Tamil Nadu e de Chattisgarh, apesar de 24 dos 29 Estados estarem envolvidos. Vinte e três incidentes perturbaram as festas de Natal do ano passado, o que levou o Cardeal Baselios Cleemis Thottunkal, Arcebispo Maior da Igreja Siro-Malancar (rito católico oriental), a dizer que “nós perdemos a confiança no nosso Governo”. Ainda assim, o Conselho mundial hindu anunciou no dia 28 de Dezembro de 2017 que pretendia acelerar a campanha do “regresso a casa” (Ghar Wapsi), permitindo aos fiéis de outras religiões o “regresso” ao Hinduísmo, à ideologia da direita nacionalista indiana, pretendendo que cada indiano seja realmente hindu. A sua pretensão é fazer da Índia uma nação exclusivamente hindu nos próximos anos, o que parece Sementes de Esperança | Dezembro 2018

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Meditação

Índia

Os Cristãos, que chegaram no ano 52 com S. Tomé, representam 2,3% da população.

impossível face à violência do projecto.

RELIGIOSAS MOLESTADAS A 28 de Fevereiro, um padre católico indiano, preso durante 10 anos por violação, foi libertado e absolvido de todas as acusações contra ele. Os observadores consideraram que as acusações de que foi vítima foram uma forma de perseguição anti-cristã. Duas semanas mais tarde, a 12 de Março, religiosas foram molestadas em Ujjain, no centro da Índia. “A utilização de alavancas políticas e a demonstração arrogante e violenta do seu poder não é mais do que uma forma de terrorismo”, a fustigar a Diocese de Ujjain. Apesar de um ambiente pouco construtivo, a Igreja prosseguiu inabalavelmente o seu objectivo de diálogo, com vista a acalmar a situação. A 5 de Abril, organizou-se em Goa um encontro das seis religiões maioritárias da Índia – Hinduísmo, Islão, Cristianismo, Budismo, Jainismo e Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

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Siquismo – que apelou à população para não misturar sentimentos religiosos e patriotismo. “Se hoje em dia uma religião não puder apoiar outra, então a Índia não pode avançar”, declarou Sushil Goswany Maharaj, um chefe hindu. Na Sexta-Feira Santa, nove hindus entraram na Catedral de Santa Catarina de Goa para rezar e prestar homenagem aos sofrimentos de Cristo. Por outro lado, o Bispo de Bhopal, D. Leo Cornelio, vê o festival hindu como uma ocasião de ouro para pôr as diferenças de lado. “É um festival de alegria e de unidade, de paz e harmonia em toda a Índia”, assegura o bispo, que desejou “a felicidade e a prosperidade a todos os nossos irmãos hindus”.

UM ESPÍRITO MISSIONÁRIO Apesar destes ataques, os bispos católicos reafirmaram o espírito missionário e o seu compromisso em favor dos 200 milhões de dalits do país. Na Índia, os 9 19/11/18 18:34


Índia

Funeral cristão no estado de Bihar.

Cristãos representam cerca de 2,3% da população e 60% são dalits. Os dalits cristãos (ou muçulmanos) sofrem uma dupla descriminação, a da sua casta e a da sua religião, e sofrem igualmente nas suas próprias Igrejas. Reunidos na assembleia da Conferência Episcopal Indiana, que agrupa os três ritos católicos indianos (latino, siro-malabar e siro-malancar), os bispos recordaram que a Igreja não só deve promover os programas de desenvolvimento e de inclusão social, mas também está chamada a compreender mais profundamente as causas de discriminação a fim de as curar. Um verdadeiro serviço a prestar à Índia como um todo. Oração Para que a Índia cresça no respeito pela dignidade humana dos seus cidadãos, independentemente da sua religião, nós Te pedimos Senhor! 10 FO Dez18.indd 10

Cachemira Setenta anos de guerra por causa de um vale disputado pelo Paquistão e a Índia. Neste Estado maioritariamente muçulmano, que conhece uma insurreição separatista sustentada pelo Paquistão, a Índia mantém meio milhão de militares estacionados, mas parece ter perdido a batalha dos corações. A propaganda separatista, veiculada pela Internet junto de uma juventude cada vez mais politizada, mantém e amplia a revolta numa sociedade que se divide imperceptivelmente sob os golpes de um conflito pouco ruidoso.

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Oração

Jesus

Nasce, ó Jesus, e ensina-me a nascer: quando as esperanças se rompem como coisas gastas quando o dia não chegou a cumprir nem metade da sua promessa quando me faltam as forças para o degrau seguinte e hesito quando da sementeira julgo recolher apenas um vazio quando o caminho parecia mais leve e simples do que depois foi. Nasce, ó Jesus, e ensina-me a nascer: quando não consigo fazer do amor uma escrita legível quando a insatisfação corrói até o espaço da alegria quando as mãos desaprendem a transparente dança do dom quando não me sei abandonar verdadeiramente a ti! Nasce, ó Jesus, e ensina-me a nascer: diz ao meu coração que não é tarde, nem longe segreda-me que não tenho de fazer coisa nenhuma senão deixar-me amar. José Tolentino Mendonça

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ADVENTO Amados irmãos e irmãs, bom dia! Nos domingos passados a liturgia frisou o que significa pôr-se em atitude de vigilância e o que comporta concretamente preparar o caminho do Senhor. Neste terceiro domingo de Advento, chamado “domingo da alegria”, a liturgia convida-nos a sentir o espírito com o qual tudo isto acontece, ou seja, precisamente, o júbilo. São Paulo convida-nos a preparar a vinda do Senhor assumindo três atitudes. Ouvi bem: três atitudes. Primeira, o júbilo constante; segunda, a oração perseverante; terceira, a ação de graças contínua. Alegria constante, oração perseverante e ação de graças contínua. A primeira atitude, alegria constante: “Regozijai-vos sempre” (1Ts 5,16), diz São Paulo. Isto significa permanecer sempre na alegria, até quando as coisas não correm segundo os nossos desejos; mas há aquele júbilo profundo, que é a paz: também ela é júbilo, está dentro. E a paz é um júbilo “a nível terreno”, mas é um júbilo. As angústias, as dificuldades e os sofrimentos atravessam a vida de cada um, como todos sabemos; e muitas vezes a realidade que nos circunda parece ser inóspita e árida, semelhante ao deserto no qual ressoava a voz de João Batista, como recorda o Evangelho de hoje (cf. Jo 1,23). Mas precisamente as palavras do Batista revelam que o nosso júbilo se baseia numa certeza, que este deserto é habitado: 12 FO Dez18.indd 12

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Meditação “no meio de vós — diz — está um a quem vós não conheceis”. Trata-se de Jesus, o enviado do Pai que, como frisa Isaías, “leva a boa nova aos que sofrem, cura os de coração despedaçado, anuncia a amnistia aos cativos, e a liberdade aos prisioneiros; proclama um ano de graça da parte do Senhor” (cf. 61, 1-2). Estas palavras, que Jesus fará suas no sermão da sinagoga de Nazaré (cf. Lc 4, 16-19), esclarecem que a sua missão no mundo consiste na libertação do pecado e das escravidões pessoais e sociais que ele causa. Ele veio à terra para restituir aos homens a dignidade e a liberdade dos filhos de Deus, que só Ele pode comunicar, e dar júbilo para isto. O júbilo que caracteriza a expetativa do Messias baseia-se na oração perseverante: esta é a segunda atitude. São Paulo diz: “rezai sem cessar” (1 Ts 5, 17). Por meio da oração podemos entrar numa relação estável com Deus, que é a fonte da verdadeira alegria. A alegria do cristão não se compra, não se pode comprar; vem da fé e do encontro com Jesus Cristo, razão da nossa felicidade. E quanto mais estivermos radicados em Cristo, quanto mais estivermos próximos de Jesus, tanto mais encontraremos a serenidade interior, mesmo no meio das contradições diárias. Por isso o cristão, tendo encontrado Jesus, não pode ser um profeta de desventura, mas uma testemunha e um arauto de alegria. Uma alegria a partilhar com os demais; uma alegria contagiosa que torna menos cansativo o caminho da vida. A terceira atitude indicada por Paulo é a ação de graças contínua, ou seja, o amor grato a Deus. Com efeito, Ele é muito generoso connosco, e nós somos convidados a reconhecer sempre os seus benefícios, o seu amor misericordioso, a sua paciência e bondade, vivendo assim numa incessante ação de graças. Júbilo, oração e gratidão são três atitudes que nos preparam para viver o Natal de maneira autêntica. Júbilo, oração e gratidão. Digamos todos juntos: júbilo, oração e gratidão. Outra vez! Nesta última fase do tempo de Advento, confiemo-nos à materna intercessão da Virgem Maria. Ela é “causa do nosso júbilo”, não só por ter gerado Jesus, mas porque nos reconduz continuamente a Ele. Papa Francisco, Angelus, 17 de Dezembro de 2017

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Actualidade

A Imaculada Conceição e a história de Portugal As Nações sobrevivem à erosão do tempo e permanecem vivas na história dos povos se prosseguirem na fecundidade que lhes vem da sua espiritualidade e da sua cultura. A diluição espiritual e cultural de um povo significará inevitavelmente a perca da sua identidade e a sua fusão num hoje sem futuro. A História de Portugal regista dois momentos altos na recuperação da sua independência: a Revolução 1383-1385 e a Restauração de 1640. Na Revolução de 1383-1385 salienta-se o cerco de Lisboa, que durou cerca de cinco meses e terminou em princípios de setembro de 1384, acentuando-se durante o assédio, o significado da vitória alcançada por D. Nuno Alvares Pereira em Atoleiros a 6 de abril de 1384 e a eleição do Mestre de Aviz para Rei de Portugal, curiosamente a 6 de abril de 1385. Em 15 de agosto travou-se a Batalha de Aljubarrota, sob a chefia de D. Nuno Alvares Pereira, símbolo da vitória e da consolidação do processo revolucionário de 1383-1385. No movimento da restauração destaca-se a coroação de D. João IV como Rei de Portugal, a 15 de dezembro de 1640, no Terreiro do Paço em Lisboa. A Solenidade da Imaculada Conceição liga estes dois acontecimentos decisivos na História da independência de Portugal e no contexto das Nações Europeias. Segundo secular tradição foi o condestável D. Nuno Alvares Pereira quem fundou a Igreja de Nossa Senhora do Castelo em Vila Viçosa e quem ofereceu a imagem da Virgem Padroeira, adquirida na Inglaterra. Este gesto do Contestável reconhece que a mística que levou Portugal à vitória veio da devoção de um povo a Nossa Senhora da Conceição. Aliás, já desde o berço, já aquando da conquista de Lisboa por D. Afonso Henriques, havia sido celebrado um pontifical de ação de graças, em Lisboa, em honra da Imaculada Conceição. A espiritualidade que brotava da devoção a Nossa Senhora da Conceição foi novamente sublinhada no gesto que D. João IV assumiu ao coroar a Imagem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa como Rainha de Portugal nas cortes de 1646. 14 FO Dez18.indd 14

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Actualidade Esta espiritualidade imaculista foi igualmente assumida por todos os intelectuais, que na prestigiada Universidade de Coimbra defenderam o dogma da Imaculada Conceição sob a forma de um juramento solene. De tal modo a Imaculada Conceição caracteriza a espiritualidade dos portugueses, que durante séculos o dia 8 de dezembro foi celebrado como “Dia da Mãe” e João Paulo II incluiu no seu inesquecível roteiro da Visita Pastoral de 1982 dois Santuários que unem o Norte e o Sul de Portugal: Vila Viçosa no Alentejo e o Sameiro no Minho. O dia 8 de dezembro transcende o “Dia Santo” dos Católicos e engloba indubitavelmente a comemoração da Independência de Portugal, que o dia 1 de dezembro retoma. O feriado do dia 8 de dezembro é religioso, mas é também celebrativo da cultura, da tradição e da espiritualidade da alma e da identidade do povo português. Não menos importante, e em âmbito religioso e litúrgico, o tema da Imaculada Conceição da Virgem Maria é já abundantemente abordado pelos Padres da Igreja. Será o Oriente cristão o primeiro a celebrá-la. Festividade que chega à Europa Ocidental e ao continente europeu pelas mãos das cruzadas Inglesas nos séc. XI e XII. Vivamente celebrada pelos franciscanos a partir de 1263, será o também franciscano Sixto IV, Papa, que a inscreverá no calendário litúrgico romano em 1477. De facto, o debate e a celebração desta festividade em toda a Europa é acompanhada pela história do próprio Portugal. Coimbra, como já vimos, tem um importante papel em todo este processo. Em 8 de dezembro de 1854, viverá a Igreja o auge de toda esta riqueza teológica e celebrativa. Através da bula “Ineffabilis Deus”, Pio IX, após consultar os bispos do mundo, definirá solenemente o dogma da Imaculada Conceição da Virgem Maria. Não estamos diante de uma simples festa cristã ou de capricho religioso. O dogma resulta de tudo quanto a Igreja viveu até aqui e vive hoje em toda a sua plenitude. Faz parte da identidade da Igreja. Isso mesmo o prova o texto proclamado por Pio IX que apoia a sua argumentação nos Padres e Doutores da Igreja e na sua forma de interpretar a Sagrada Escritura. Ele, de facto, reconhece que este dogma faz parte, depois de muitos séculos, do ensinamento ordinário da Igreja. Portugal, segundo Nuno Alvares Pereira, ou melhor, São Nuno de Santa Maria, e D. João IV isso mesmo o demonstram, não só como resultado da sua própria fé mas como expressão de um povo deveras agradecido pela sua Independência e Liberdade. A Conceição Imaculada da Virgem é um dogma de fé segundo o qual Maria é considerada a primeira redimida pela Páscoa de Cristo. Pe. Francisco Couto, reitor do Santuário de Vila Viçosa, professor do Instituto Superior de Teologia de Évora Dom Francisco Senra Coelho, Arcebispo de Évora In Agência Ecclesia Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

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Destaque

Deus existe?

NOVO

- Porque é que há várias religiões?

- O pai de Jesus é São José ou é Deus? - Jesus nasceu mesmo no dia 25 de Dezembro? - Porque é que Jesus era judeu e nós somos cristãos?

Há perguntas demasiado importantes para ficarem sem resposta. Este livro, dedicado aos mais jovens, reúne 102 dessas perguntas e respostas directas sobre as mais habituais – e por vezes também mais difíceis – dúvidas que se colocam a quem quer progredir na fé. Autor: Pe. Charles Delhez, SJ 160 páginas

Cód. LI194

€ 19,95

SEMENTES DE ESPERANÇA - Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre PROPRIEDADE Fundação AIS DIRECTORA Catarina Martins de Bettencourt REDACÇÃO E EDIÇÃO Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, scj, Maria de Fátima Silva, Alexandra Ferreira FONTE L’Église dans le monde – AIS França FOTOS © AIS; © Indian National Congress; © AED/Ismaël Sanchez Martinez; © Al Jazeera English; © Imaculada Conceição, Murillo

CAPA PERIODICIDADE IMPRESSÃO PAGINAÇÃO DEPÓSITO LEGAL ISSN

Love’s pure light, Annie Henrie Nader 11 edições anuais Gráfica Artipol JSDesign Isento de registo na ERC ao 352561/12 abrigo do Dec. Reg. 8/99 2182-3928 de 9/6 art.º 12 n.º 1 A

Rua Professor Orlando Ribeiro, 5 D, 1600-796 LISBOA Tel 217 544 000 | IBAN: PT50 0269 0109 0020 0029 1608 8 fundacao-ais@fundacao-ais.pt | www.fundacao-ais.pt FO Dez18.indd 16

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