Sementes de
Fevereiro 2017
Esperança Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre
Intenções de Oração do Santo Padre Intenção Missionária
Por todos os que vivem em provação, sobretudo os pobres, os prófugos e os marginalizados, para que encontrem acolhimento e conforto nas nossas comunidades.
O CICLO DAS ESTAÇÕES DO ANO Ano após ano, Inverno e Primavera, Verão e Outono sucedem-se no ciclo das estações. Vemos como a natureza morre para, pouco depois, renascer mais uma vez. Já vimos isso tantas vezes, que folhas secas, árvores nuas e campos vazios já não nos inquietam. Sabemos que, se o grão de trigo não cair na terra e morrer, ficará só; mas, se morrer, dará fruto em abundância. Para os romanos, o ano começava em Março. Para eles, a Primavera recém-chegada era o começo; o Inverno, o vazio, o fim. Segundo a contagem cristã do tempo, comemoramos o Ano Novo quando a natureza está morta. Entretanto, ela não está morta, mas adormecida - como a filhinha de Jairo. Deus toma-a pela mão. Menos encantadora, mas igualmente cheia de esperança, é a lembrança da Sexta-Feira da Paixão, quando Cristo derramou o sangue na Cruz para ressuscitar, na manhã de Páscoa. Pe. Werenfried van Straaten
A oração é um dos pilares fundamentais da nossa missão. Sem a força que nos vem de Deus, não seríamos capazes de ajudar os Cristãos que sofrem por causa da sua fé. Para ajudar estes Cristãos perseguidos e necessitados criámos uma grande corrente de oração e distribuímos gratuitamente esta Folha de Oração, precisamente porque queremos que este movimento de oração seja cada vez maior. Por favor, ajude-nos a divulgá-la na sua paróquia, nos grupos de oração, pelos amigos e vizinhos. Não deite fora esta Folha de Oração. Depois de a ler, partilhe-a com alguém ou coloque-a na sua paróquia.
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Reflectir Intenção Nacional
Pelos casais, para que procurem viver a sua relação conjugal e familiar de acordo com o pensar e o sentir de Deus.
“Se Deus quiser” Parece que, mesmo entre nós, se perdeu o costume de, no final de uma conversa, quando nos despedimos, concluirmos com um “se Deus quiser”. Esta expressão tão comum e usual entre nós no passado tinha um profundo sentido: o de que a nossa vida está nas mãos de Deus, porque d’Ele viemos – não fomos nós que nos demos a nós mesmos – n’Ele nos movemos e n’Ele nos sustentamos, como no solo que pisamos ou no ar que respiramos, e para Ele vamos. Mesmo os mais cépticos ou agnósticos ou mesmo ateus têm de reconhecer que as suas vidas, tanto na origem, como no presente como no futuro, não está nas suas mãos. Por isso, será necessário não só retomar a expressão que deixou de ser usada, mas sobretudo o que ela representava de sério e de importante. Por Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre
outras palavras, para estas e outras circunstâncias, é mesmo urgente que voltemos ao “princípio”, esse instante em que tudo começou segundo o pensamento de Deus. Foi esta a resposta que Jesus deu aos escribas e fariseus que lhe colocaram a questão do divórcio permitido pela lei de Moisés: Jesus apelou ao “princípio”, quando Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança e os criou homem e mulher (Gn 1,26), para constituírem uma unidade tal como se fossem uma só carne. O casal humano é a obra-prima de Deus, no qual Deus quer ver o Seu reflexo, e, na plenitude dos tempos, a imagem do mistério de Cristo e da Igreja. Por isso, Jesus responde aos escribas e fariseus: “não separe o homem o que Deus uniu” (Mt 19,6). 3
Reflectir Voltar ao princípio é o que importa também hoje, de modo que seja possível corrigir o que é de corrigir, reparar o que é de reparar, levar à perfeição o que já está bem. Fazendo-se eco das catequeses sobre a teologia do corpo de S. João Paulo II, em Amoris laetitia o Papa Francisco fala do “desígnio primordial” de Deus a respeito do casal e que o próprio Jesus Cristo evoca na passagem que acabámos de evocar (AL 9; cf. Mt 19,4; Gn 2,24). O sonho divino sobre o casal e a família “para que formem uma comunhão de pessoas que seja imagem da união entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo” (AL 29) foi estragado pelo pecado de Adão. Mas tanto na sua grandeza como sonho divino
como na sua miséria, como frustração, Adão e Eva representam o casal de todos os tempos. E foi esta realidade do casal e da família que Jesus Cristo, o Verbo, Filho de Deus veio redimir e dar o Seu Espírito: o sonho de Deus realiza-se finalmente em Cristo e na Igreja, e em todos os casais e famílias que vivam à Sua imagem e semelhança. E isto já acontece hoje na Igreja e no mundo, pois são os casais e as famílias que vivem segundo o pensamento e a vontade de Deus – “assim vai ser abençoado o homem que obedece ao Senhor” (Sl 128,4-5; cf. AL 15) – que sustentam o mundo e são fonte de bênção para todos.
Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, scj Assistente Espiritual da Fundação AIS
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Superfície 143.998 Km2 População 156.,6 milhões Sérvios: 120 mil Outras minorias: 40 mil Religiões Muçulmanos: 89,4% Hindus: 9,5% Budistas: 0,6% Cristãos: 0,5% Línguas oficiais Bengali
BANGLADESH
ALERTA VERMELHO Num Islão largamente maioritário e que tende a radicalizar-se, as minorias não são bem-vindas. Hindus, cristãos e ateus batem-se para conservar o seu lugar neste país superpovoado, com um dos mais elevados níveis de densidade populacional do mundo. A 7 de Setembro de 2015, o Supremo Tribunal do Bangladesh rejeitou uma petição que requeria a plena restauração do laicismo e a supressão dos fundamentos religiosos da Constituição, ou seja, do Islão, como religião do Estado. Porque para Somendra Nath Goswani, advogado hindu depositário deste pedido, a manutenção do Islão como religião do Estado não é compatível com o princípio fundamental do laicismo que é um dos quatro pilares da Constituição de 1972. Contudo, o Supremo Tribunal recusou a petição, baseado no princípio Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre
de que “a Constituição garante a igualdade de direitos para os cidadãos de todas as religiões, incluindo os hindus budistas e cristãos”. Esta recusa suscitou o descontentamento das minorias religiosas do país, sistematicamente sujeitas à pressão ou à violência dos islamitas. Para o Pe. Albert Thomas Rozario, advogado e secretário da Comissão Justiça e Paz da Conferência Episcopal do Bangladesh, “a Constituição não deveria conter mensagens contraditórias. Se ela garante igualdade de direitos, seja qual for a religião dos cidadãos, então a emenda acerca da 5
Bangladesh O Islão, definido como religião do Estado, dificulta o princípio da laicidade.
Quarenta por cento da população vive com menos de 1,25 dólares por dia.
religião do Estado deve ser considerada de 2013, assiste-se a um ressurgimento nula. Se não, isso dá um estatuto privile- do integracionismo islâmico, fonte de giado ao Islão, comparativamente com as novos ataques contra as minorias. outras religiões”. Porquê? O cúmplice “involuntário” O relator especial das Nações Unidas desta escalada do extremismo islâmico sobre a liberdade de religião, em visi- foi o Governo actualmente em funções, ta a Dacca a 9 de Setembro de 2015, dirigido pelo Sheikh Hasina e a sua liga denunciou a instrumentalização política Awami, um partido laico e socialista. Para da religião e o aumento da intolerância cumprir as promessas feitas durante a sua religiosa. Uma ameaça para a longa campanha eleitoral, o primeiro-ministro tradição de pluralismo e de harmonia criou o Tribunal Penal internacional (TPI). inter-religiosa do país, como precisou. A tarefa do tribunal era perseguir e conObserva-se, nestes últimos anos, um denar os autores dos crimes cometidos crescer dos conflitos entre a maioria durante a violenta guerra que levou à bengali - muçulmana – e as comunida- independência do Bangladesh (a guerra des tribais ou outros grupos étnicos que da libertação em 1971). Na prática, estes pertencem, na maioria das vezes, tam- tribunais levaram perante a justiça todos bém às minorias religiosas. Os ataques os principais dirigentes do Jamaat-econtra os hindus (8% da população), Islami, o partido fundamentalista islâmico cristãos (1% da população) e budistas e alguns membros do Partido Nacionalista estão, na sua maioria, ligados a questões do Bangladesh (BNP), principal partido da de terreno ou outros assuntos à vista oposição actual, culpados, sem dúvida, de dos quais a fé religiosa não é senão um crimes de guerra. Em protesto, o Jamaat aspecto “colateral”. Mas, desde o início denunciou imediatamente estes tribunais 6
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Bangladesh A liberdade de expressão é cada vez mais asfixiada.
O Bangladesh: um dos países mais povoados do mundo.
como estando “politizados” e organizou a primeira de uma longa série de greves em todo o país que sistematicamente acabaram em violência, causando mais de 250 mortos durante o ano. Estas greves tiveram três consequências: em primeiro lugar, o Jamaat ganhou força e popularidade; em segundo lugar, as minorias religiosas ficaram, mais uma vez, na mira dos fundamentalistas islâmicos; e em terceiro lugar, novos grupos radicais criaram novas madraças (escolas corânicas) espalhadas por todo o país.
NOVOS ATAQUES CONTRA OS CRISTÃOS
Sinal desta islamização e de uma mudança de clima é o ataque, em Julho de 2014, pela primeira vez, a uma comunidade religiosa. Para o Mons. Sebastian Tudu, Bispo de Dinajpur “foi na medida do seu empenho junto das minorias e das pessoas desfavorecidas Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre
que as religiosas e os padres serviram de alvo”. O Mons. Tudu relata, igualmente, que outros cristãos da sua diocese foram vítimas de vários ataques, no decurso do ano. “Visaram, sobretudo, um determinado seminário e os seus seminaristas.” Em Novembro de 2015, o Pe. Piero Parolari, médico italiano e missionário do Instituto Pontifício das Missões Estrangeiras (PIME), foi atacado por três homens que dispararam sobre ele. Estes atentados, dos quais o primeiro foi reivindicado por um subgrupo do Daesh presente no Bangladesh, visam em primeiro lugar os estrangeiros. “Com estas agressões, estes grupos querem atrair as atenções à escala mundial”, explica o bispo. “Dir-se-ia que querem também agitar ainda mais a instabilidade que reina no Bangladesh.”.
OS BLOGUISTAS ATEUS ALVO DOS EXTREMISTAS
Outros grupos visados pelos extremistas são: os bloguistas ateus, pensadores 7
Bangladesh Mons. D’Rozario, Arcebispo de Dacca.
Cerimónia fúnebre cristã
livres que se opõem ao fundamentalismo religioso. Desce o início de 2015, pelo menos quatro foram selvaticamente assassinados e um dos editores também. Reivindicados pela organização Ansar Al-Islam, ramo da Al Qaida, estes assassínios de uma violência extrema inquietam vivamente a comunidade internacional. Pela negação ou por medo, o Ministério do Interior vê-os como incidentes isolados e parece incapaz de desmantelar as redes de extremistas religiosos.
UMA IGREJA EMPENHADA
Neste contexto violento e frágil, a Igreja do Bangladesh, sem dúvida pouco numerosa, continua todavia a crescer. Disso dá testemunho o Cardeal Fernando Filoni, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos. Tendo ido celebrar os vinte e cinco anos da Diocese de Rajshahi, em Setembro de 2015, felicitou, no seu 8
discurso, o crescimento da Igreja local e o belíssimo testemunho de fé que ela dá num país muçulmano imenso. E isto “apesar das tensões e dificuldades diversas”. O Cardeal sublinhou igualmente os serviços consideráveis quer no plano educativo quer no social prestados pela Igreja, que é particularmente actuante junto dos pobres. Neste estado com uma das maiores densidades populacionais do mundo, 40% da população vive com menos de 1,25 USD por dia. As crianças são as primeiras vítimas desta pobreza. São, pelo menos, oito milhões que têm de trabalhar em condições precárias e, muitas vezes, obrigadas a colocar-se em situações perigosas de sobrevivência para si e suas famílias. Muitas são vítimas de exploração, de maus tratos e, pior ainda, de homicídios. Durante estes últimos meses uma vaga de linchamentos particularmente violenta agitou o Bangladesh (191 crianças assassinadas em 2015 e o mesmo número de violações Sementes de Esperança | Fevereiro 2017
Bangladesh segundo o Bangladesh Child Rights Forum), provocando protestos em todo o país, nomeadamente da Igreja local que denunciou a passividade do Estado. Para o Pe. Albert Thomas Rozario, jurista do Supremo tribunal do Bangladesh, “um país civilizado não pode e não deve aceitar tais crimes hediondos contra as crianças. Estes casos de abusos e de homicídios bárbaros demonstram uma profunda falta de amor pelas crianças e um desprezo total pelas leis”. O Mons. D’Rozario, Arcebispo de Dacca, que segue com preocupação estes últimos acontecimentos, sublinha a missão específica de que, neste contexto, estão incumbidos os católicos: “As nossas orações e os nossos sacrifícios não são em vão. Todos os cristãos, qualquer que seja a sua Igreja, estão solidários com os seus compatriotas de outras religiões. As nossas iniciativas caritativas e sociais servem o país a educação e o desenvolvimento. O Bangladesh tem necessidade de diálogo e tenho esperança que ele aconteça!”
da independência de 1971 por exemplo), a Igreja leva a sua obra de misericórdia a todo o lado onde pode e a todos sem distinção de credo religioso. Estamos presentes junto das minorias, bem como da maioria muçulmana da população. Deste modo, quando abordamos questões que têm impacto na vida de cada um, que interessam a cada um, as pessoas escutam a Igreja.” Mons. Theotonius Gomes, Bispo Auxiliar de Dacca.
MINORIA HINDU: UMA FORMA DE PURIFICAÇÃO ÉTNICA
Neste país, maioritariamente muçulmano, a maioria hindu é vítima de uma descriminação constante no acesso à educação, ao emprego e aos lugares de responsabilidade. Muitos templos hindus foram, nos últimos anos, vítimas de actos de vandalismo. Prisões por motivos fictícios, relatos de conversões forçadas, raptos, violações e casamentos forçados são regularmente relatados pelos media. Alguns falam mesmo de purificação étnica. Os números falam por si: em 1947, um terço da população A ECOLOGIA, FACTOR DE era hindu. Em 1971, representavam apeDIÁLOGO INTER-RELIGIOSO ? nas um quinto da população. Hoje são “A Igreja forma uma pequena comu- menos de 8%. nidade no Bangladesh, mas constato que, pouca a pouco, a sua voz se diriOração ge nomeadamente para as questões ambientais e de ecologia. As pessoas Para que a minoria cristã do Bangladesh estão abertas e dispostas a ouvir falar encontre na comunhão dos santos a sobre estas questões. Face às calamida- fortaleza e a paz para continuar a ser des naturais mas também às dificuldades exemplo do amor de Cristo, nós Te pediprovenientes da nossa história (a guerra mos Senhor! Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre
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OS TRÊS PASTORINHOS
Sinal de Deus para o nosso tempo
“Só o olhar daqueles que escolheste Nos dá o Teu sinal entre os fantasmas”. Sophia de Mello Breyner Andresen, Sinal de Ti
Em 1917 o mundo encontrava-se envolvido, pela primeira vez na sua história, numa guerra de proporções mundiais. O mal parecia envolver a nossa terra e Deus, que nunca se ausenta da história dos seus filhos, torna-se presente através do renovado anúncio do seu amor por nós. Foi portadora desse anúncio, em nome de Seu Filho, a Senhora do Rosário, convidando três crianças para serem, por sua vez, testemunhas dessa mensagem, a partir da intimidade partilhada com o seu Imaculado Coração. E, mais com a sua vida do que com as suas palavras, os três Pastorinhos foram expressão desse amor de Deus, foram sinal de Deus para o nosso tempo. Uma das afirmações mais extraordinárias da pequena Lúcia, logo no início dos acontecimentos de 19161917 é a seguinte: “Compreendemos quem era Deus, como nos amava e queria ser amado” (cf. MIL 170). Esta experiência, de se perceberem como objeto do amor incondicional de Deus, foi determinante na vida dos pastorinhos. 10
E essa compreensão, transformada em anúncio e profecia do amor incondicional de Deus pela humanidade, torna o acontecimento Fátima como um lugar e um apelo à conversão, um chamamento ao imperativo de amar como a única resposta humana possível a este amor de Deus.
1. UM OLHAR, UM CORAÇÃO, UMA PALAVRA
Entrar no coração e na intimidade da vida dos três videntes de Fátima, Jacinta, Francisco, e Lúcia, é entrar dentro de um mistério, tal como nos refere a mãe dos mais pequenos: “A vida destas crianças é um enigma” (MIL 61). De facto, a sua vida é um enigma, no sentido profundo de um estilo de viver e de agir incompreensível a um olhar superficial, e ao qual não se pode aceder, a não ser com a delicadeza e o respeito que nos exige o “terreno sagrado” (cf. Ex 3,5) das vidas tocadas pelo Espírito de Deus. É preciso ter, como eles, um olhar atento e delicado, um coração sensível e apaixonado Sementes de Esperança | Fevereiro 2017
Meditação e aceitar transformar-se em palavra viva que testemunha o que se vê e o que se ouve. E este olhar, esta compaixão e a palavra que transmitem são, de alguma forma, características peculiares de cada um dos confidentes da “Senhora mais brilhante do que o sol”. Cada um viveu a seu jeito, uma vocação e missão comum. O Francisco desde cedo foi marcado pelo olhar que contempla, a Jacinta pelo coração que se compadece e a Lúcia é chamada a viver para anunciar: aspectos diferentes de uma mesma vocação, de tal forma que olhar o conjunto dos três videntes é penetrar no essencial da Mensagem de Fátima.
2. FRANCISCO: O OLHAR QUE PENETRA O MISTÉRIO
Nas aparições que testemunhou, o pequeno Francisco apenas via o Anjo e Nossa Senhora, sem ouvir o que se dizia. E isto foi o suficiente para desenvolver a sua vocação e o seu papel específico no conjunto das aparições. Com o olhar completamente centrado na luz do que lhe era dado ver, viveu encantado pela beleza de Deus e da Senhora. Posteriormente, auxiliado pelas explicações da prima e da irmã acerca das palavras do Anjo e de Nossa Senhora, irá adentrar-se na vivência do mistério de Deus: “Nós estávamos a arder, naquela luz que é Deus, e não nos queimávamos. Como é Deus!!! Não se pode dizer! Isto sim, que a gente nunca pode dizer!” (MIL 145). E ainda que nunca tivesse encontrado as palavras certas para dizer Deus, foi talvez o que mais entendeu e penetrou o Seu mistério. De facto, o Francisco deixou-se invadir tão intensamente por Deus que, mergulhando nessa presença divina em Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre
atitude de adoração, encontrou em Deus o sentido e a beleza da sua vida, aprendeu o louvor perfeito (cf. Mt 21,16). Partindo da experiência que faz do amor compassivo de Deus por todos os seres humanos e com a consciência de que a humanidade escolhe com frequência caminhos afastados de Deus, surge no Francisco um desejo intenso de corresponder ao amor divino, consolando Aquele a quem chamava o “Jesus-Escondido”. O testemunho que nos chegou diz-nos que ele “só O queria consolar” (cf. MIL 145), o que nos aponta para uma intensa oração contemplativa desta criança, cuja preocupação central era viver intimamente uma relação intensa com Deus.
3. JACINTA: O CORAÇÃO FEITO COMPAIXÃO Em Jacinta é central a atitude da compaixão. Nela reconhecemos um coração com profundidade e paixão, completamente dedicado à missão que o Céu lhe confia. São dela as palavras que nos chegaram: “Se eu pudesse meter no coração de toda a gente o lume que tenho cá dentro no peito a queimar-me e a fazer-me gostar tanto do Coração de Jesus e do Coração de Maria!” (MIL 130). Desde o início das aparições desenvolve uma profunda devoção ao Imaculado Coração de Maria. Com as palavras do Cardeal Joseph Ratzinger compreendemos como o amor a Nossa Senhora configurou a vida da Jacinta: “ter devoção ao Imaculado Coração de Maria é aproximar-se desta atitude do coração, na qual o fiat — «seja feita a vossa vontade» — se torna o centro conformador de toda a existência”. De facto, a pastorinha 11
Meditação Jacinta aprendeu com Maria e na escola do Seu Imaculado Coração a fazer da vontade de Deus o centro conformador da sua existência: aprendeu com Ela a “fazer como Nosso Senhor” (cf. MIL 44). Este desejo conformador da sua existência com o Coração de Jesus, levou a Jacinta a desejar segui-lo, percorrendo o mesmo caminho que o Mestre. O Senhor não fugiu à agonia do Getsémani, à solidão e ao abandono da Cruz. E a pequena Jacinta não rejeitou a solidão na doença, a aridez de lhe ter sido negado a comunhão eucarística – o que teria sido a sua última consolação possível no momento da morte –, não escapou à ferida aberta no peito, assemelhando-se ao coração trespassado de Jesus, que ela amou tão ternamente. E viveu tudo isto, com uma alegria serena e numa entrega de amor, como testemunham os interrogados no seu processo canónico. A pequena Jacinta, que “gostava tanto de pensar” (MIL 61), meditando e guardando tudo em seu coração, como tinha feito a Senhora que agora era a sua “Mestra na escola da santidade” (João Paulo II), “e que a introduz no conhecimento íntimo do Amor Trinitário” (Bento XVI) aprende a ter um coração universal. Durante a sua estadia na prisão, quando Lúcia lhe pede para escolher uma intenção pela qual oferecer os sacrifícios – pelos pobres pecadores, ou pelo Santo Padre, ou em reparação ao Imaculado Coração de Maria – a Jacinta não hesita em responder: “eu ofereço por todas, porque gosto muito de todas”(MIL 53). Desenvolveu um profundo sentimento de compaixão por todas as formas de sofrimento que foi percebendo, na intensa luz 12
de Deus e através do Imaculado Coração de Maria. Foi insaciável nesta sede de rezar e de oferecer sacrifícios pelos pecadores. Ardia-lhe a alma neste “zelo” pela salvação da humanidade que sentia como sua. Escutar a Jacinta, nas suas inúmeras expressões de compaixão por todo o tipo de sofrimento e de miséria, faz nascer em nós a gratidão ao Pai, porque escondeu estas verdades aos sábios e inteligentes, e as revelou aos pequeninos (cf. Mt 11,25).
4. LÚCIA: A PALAVRA FEITA PROFECIA
Lúcia é uma figura central no acontecimento Fátima: teve uma vida longa para anunciar ao mundo o que viu e ouviu. A sua grandeza consiste na total fidelidade à missão que lhe fora confiada em criança. Bem podia fazer suas as palavras do profeta: «Ah, Senhor Deus, mas eu não sei falar, porque sou uma criança» (Jer 1,6). E, se ao profeta, assombrado com a grandeza da vocação que ultrapassava a sua pequenez, o Senhor respondeu: «Não digas: ‘Sou uma criança. Pois irás aonde Eu te enviar e dirás tudo o que Eu te mandar» (Jer 1,7), à Lúcia animou-a a Jacinta: “Já me falta pouco para ir para o Céu. Tu ficas cá para dizeres que Deus quer estabelecer no Mundo a devoção do Ima culado Coração de Maria. Quando for para dizeres isso, não te escondas” (MIL 130). E para isso a Lúcia ficou, vivendo o nosso tempo, sendo “instrumento dos desígnios da misericórdia de Deus”, consciente que ao partilhar o imenso tesouro do que viveu na Cova da Iria, se despojava do seu segredo para que “outros cantassem com ela as grandezas da Sua misericórdia» (cf. MIL Sementes de Esperança | Fevereiro 2017
Meditação dirige a todo o mundo. E fê-lo “sem gritar, sem levantar a voz, sem clamar nas ruas” (Is 42,2), mas a partir de uma entrega, feita em silêncio e oração, nos claustros do Carmelo onde passou a maior parte da sua vida. Fê-lo desenvolvendo uma intensa e fecunda correspondência com a hierarquia suprema da Igreja, e junto das pessoas de boa vontade para que fossem escutados os convites de Deus, que pedia oração, conversão, reparação, a consagração do mundo ao Coração Imaculado de Maria. Lúcia foi profeta do Senhor, anunciando a paz, reafirmando o amor misericordioso de Deus pelo mundo e o triunfo do Imaculado Coração de Maria. 66), mas obediente ao desejo de Deus que «queria estabelecer no mundo a devoção ao Imaculado Coração de Maria» (MIL 177). A promessa da Senhora – «Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O Meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus» (MIL 175) – foi o farol dos seus passos e o sustento da sua vida. Desde cedo aprendeu com Ela, a Senhora enamorada de Deus, a contemplar o rosto de Jesus e a deixar-se configurar por Ele através da contemplação dos mistérios do Rosário. Desde cedo aprendeu a confiar na promessa do triunfo deste Coração Imaculado, eco da promessa de Jesus “Tende confiança! Eu venci o mundo” (Jo 16,33). Desde cedo compreendeu que a Mensagem que lhe foi confiada é «a revelação do mistério de Deus presente em mim, e eu sempre presente em Deus, onde devo adorá-Lo, amá-Lo e servi-Lo com fé, esperança e amor» (CVM, 37). E assim, durante a sua longa vida, foi testemunha desta Mensagem que de Fátima se Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre
5. CRIANÇAS, MEDIDA DO REINO
Quase cem anos depois de todos estes acontecimentos, continua a ser “impressionante observar como três crianças se renderam à força interior que as invadiu nas aparições do Anjo e da Mãe do Céu.” (Bento XVI) Todos os convites de Deus, quando aceites pelos seres humanos, podem introduzir no mundo uma lógica de amor e de graça que superabunda as trevas de qualquer pecado. Os Pastorinhos foram sempre um sim aos convites de Deus, foram expressão madura da infância espiritual que é medida do Reino (cf. Mt 18,2-3). Os seus olhos, o seu coração, o seu testemunho são, desta forma, sinal de Deus entre tantas encruzilhadas da nossa vida. Por isso a “mensagem das suas vidas permanece sempre viva para iluminar o caminho da humanidade!” (João Paulo II). Irª Ângela de Fátima Coelho, asm, in Fátima XXI, nº2, Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, Fátima 2014, p. 94-97
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Actualidade
AS CINCO CHAGAS DO SENHOR 7 de Fevereiro
O primeiro acto de adoração às Santas Chagas foi realizado por Maria Santíssima, quando desceram Jesus da Cruz. De São Tomé até aos nossos dias, muitos foram os devotos e propagadores desta belíssima devoção. Jesus é descido da Cruz. Cuidadosamente, Nicodemos, José de Arimateia e São João conduzem-n’O até Maria Santíssima e depositam-n’O no seu virginalíssimo regaço. Sentada, Ela acolhe-O transida de dor e adora-O. Enquanto as Santas Mulheres preparam os bálsamos com que em breve irão ungi-Lo, para ser depositado no sepulcro, Ela oscula, uma a uma, as Suas Chagas: a do peito rasgado, as dos divinos pés e mãos. Realiza-se ali o primeiro ato de devoção e adoração às Chagas do Redentor, que iria perpetuar-se por todas as gerações. A Bem-Aventurada por excelência rende o mais perfeito culto de latria às fontes sagradas de onde jorrou o Sangue que redimiu total e superabundantemente todo o género humano. Por causa daquelas Santíssimas Chagas, Ela fora preservada do pecado original e aos homens de boa vontade abriram-se as portas do Céu. Cinco fontes de graças infinitas, plenas de formosura, saciando a santidade das almas contemplativas, missionárias e apostólicas, selando a coroa de glória dos mártires e as vitórias de 14
Sementes de Esperança | Fevereiro 2017
Actualidade todos os tempos. Eis o manancial que nos purifica no Baptismo, nos revivifica na Eucaristia e dá fecundidade a toda a Santa Igreja, nos seus sacramentos. Eis a santa argamassa que, ligada aos sacrifícios dos homens, erguerá os mais belos monumentos e poemas da Civilização Cristã. “Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos. Aproxima a tua mão e mete-a no meu lado”. Poucos dias após a ressurreição, é o próprio Redentor que convida o incrédulo Tomé a ter devoção às Suas Santas Chagas. Já deslumbrado, ele respondeu-Lhe: “Meu Senhor e meu Deus!” As tíbias almas que dificilmente se deixam convencer, a progénie dos cépticos, a própria incredulidade, quase se diria, sucumbiram no mesmo instante em que aquele feliz e invejado Apóstolo introduziu o seu dedo no lado de Jesus. São Francisco de Assis, Santa Gemma Galgani, São Pio de Pietrelcina - enfim, uma legião de santos e almas virtuosas - foram galardoados com os estigmas da Paixão de Cristo. É um modo maravilhoso de Ele condecorar alguns daqueles a quem mais ama, na face da terra. É o Seu invisível e puro amor tornado visível nos Seus predilectos, para perpetuar na memória dos homens a bem-aventurança daqueles que acreditam sem terem visto e tocado as Chagas do Senhor, como Tomé. A devoção às Santas Chagas não é privilégio apenas de algumas almas, mas é-o também de nações. Em Portugal, por exemplo, ela é muito antiga e marcou profundamente a piedade dos fiéis, quase desde os alvores da nacionalidade. Camões, no seu imortal poema, “Os Lusíadas”, na dedicatória ao rei Dom Sebastião, regista em versos essa antiga e piedosa tradição, gravada também na bandeira nacional e no escudo heráldico da Casa Real: Vede-o no vosso escudo, que presente Vos amostra a vitória já passada, Na qual vos deu por armas e deixou As que Ele para si na Cruz tomou. A devoção às Chagas de Jesus Cristo, sinais amorosos do Seu martírio e, posteriormente, da Sua glorificação, aperfeiçoam em nós a gratidão, que leva a pagar amor com amor, até ao holocausto total, por Deus e pelos irmãos. (…) Eurico Monteiro, in http://www.arautos.org/artigo/3243/As-Cinco-Chagas-do-Senhor.html Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre
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Destaque
A MENSAGEM DE FÁTIMA Foi há cerca de cem anos, em Portugal. Primeiro apareceu aos Pastorinhos o Anjo da Paz. Pediu para rezarem muito e ensinou-os a adorar a Deus com amor, fé e esperança. Depois, apareceu Maria, a Mãe de Jesus. Nossa Senhora insistiu: rezem o terço todos os dias, pela conversão dos pecadores e pela paz no mundo. A Mensagem de Fátima é um apelo à oração e penitência, à conversão permanente. Dirige-se também ao nosso tempo. A todos e cada um de nós.
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SEMENTES DE ESPERANÇA - Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre PROPRIEDADE Fundação AIS CAPA DIRECTORA Catarina Martins de Bettencourt PERIODICIDADE REDACÇÃO E EDIÇÃO Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, scj, Maria de Fátima Silva, IMPRESSÃO Alexandra Ferreira PAGINAÇÃO FONTE L’Église dans le monde – AIS França DEPÓSITO LEGAL FOTOS © AIS ISSN
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