Sementes de
Janeiro 2017
Esperança Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre
Intenções de Oração do Santo Padre Intenção Missionária
Por todos os Cristãos, para que, fiéis ao ensinamento do Senhor, se empenhem com a oração e a caridade fraterna no restabelecimento da plena comunhão eclesial, colaborando para responder aos desafios actuais da humanidade.
ANO NOVO Um ano novo, que nos é dado por Deus, é um espaço vazio que nós mesmos temos de preencher. Em primeiro lugar, não é importante o que Ele nos traz, mas o que nós fazemos dele. É semelhante à moldura de um quadro, que teremos um ano para pintar. Um quadro, possivelmente de cores alegres, claras, mas onde não podem faltar partes escuras, pois um quadro sem sombras não existe. Na verdade, é um mau hábito omitirmos, por ocasião das felicitações do Ano Novo, tudo o que é desagradável. Um ano repleto exclusivamente de dinheiro, divertimento e prazer é um ano fracassado. Embora eu espere que a alegria, a paz e a felicidade nos sejam abundantemente proporcionadas, eu sei que também as dificuldades não nos serão poupadas. Por isso, desejo força para suportarmos tudo o que nos for exigido para moldar a nossa vida, de modo a agradar a Deus. E, como Deus nos destinou a sermos semelhantes à imagem de Seu Filho, a nossa vida deve ser uma reprodução fiel da vida de Cristo. Pe. Werenfried van Straaten
A oração é um dos pilares fundamentais da nossa missão. Sem a força que nos vem de Deus, não seríamos capazes de ajudar os Cristãos que sofrem por causa da sua fé. Para ajudar estes Cristãos perseguidos e necessitados criámos uma grande corrente de oração e distribuímos gratuitamente esta Folha de Oração, precisamente porque queremos que este movimento de oração seja cada vez maior. Por favor, ajude-nos a divulgá-la na sua paróquia, nos grupos de oração, pelos amigos e vizinhos. Não deite fora esta Folha de Oração. Depois de a ler, partilhe-a com alguém ou coloque-a na sua paróquia.
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Reflectir Intenção Nacional
Pelas famílias cristãs, para que sejam verdadeiramente a causa da alegria e do júbilo da Igreja.
A ALEGRIA E O JÚBILO DA IGREJA Dois documentos do Papa Francisco têm um valor programático e têm de comum o apelo à alegria: foi a Alegria do Evangelho (2013) e agora a Alegria do Amor (2016). Na verdade podemos dizer que um e outro têm o mesmo tema, pois se o Evangelho é motivo da alegria, o amor, humano e cristão, só é verdadeiro se for vivido à luz do Evangelho, que é a narração do amor de Deus que se revela em Cristo e no dom do Espírito Santo, de um amor que vai ao ponto de se entregar totalmente e de se dar até morrer de amor: «Ele que amara os seus, que estavam no mundo, levou até ao extremo o seu amor por eles» (Jo 13,1). Proponho-me começar agora uma série de meditações sobre a Amoris laetitia, a alegria do amor. É um simples contributo para ajudar os leitores destas meditações a Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre
entrarem no espírito com o qual o Santo Padre redigiu esta exortação, fazendo-se eco e porta-voz do sentir dos dois sínodos dos Bispos sobre os desafios pastorais das famílias no contexto da Nova Evangelização, que se realizaram em Roma, em Outubro de 2014 e 2015. A preocupação do Santo Padre é estimular e ajudar as famílias «na sua doação e nas suas dificuldades» (Amoris Laetitia, 4), de modo a que possam ser «sólidas e fecundas segundo o plano de Deus» (Amoris Laetitia, 6). Não podemos esquecer a beleza e a grandeza das famílias cristãs que vivem a alegria do amor, no meio das provações e das dificuldades que o caminho do amor como tal exige. Sabemos todos que o que há de mais belo na vida é sentirmo-nos 3
Reflectir acolhidos, respeitados e estimados, e de podermos corresponder em igual medida. Nunca será demais repetir a clássica definição da amizade, que é querer o bem ao outro por aquilo que ele é e não por aquilo que ele possa dar. Esta gratuidade da amizade é a causa da alegria nas famílias e do júbilo da Igreja. Como muito bem escreve o Papa Francisco: as famílias «não são um problema, mas uma oportunidade» (Amoris Laetitia, 7). O futuro da Igreja e, portanto, da humanidade depende da solicitude que todos tivermos em «cuidar com amor da vida das famílias» (Amoris Laetitia, 7).
vive segundo aquilo que o Senhor propõe e, depois, fazermos o possível para encontrar os meios e os auxílios, humanos e da graça, para que possam reconciliar as suas vidas e os seus estilos de vida, com o pensamento de Deus. Não se trata de adaptar a vontade de Deus à nossa vontade, mas, pelo contrário, de fazermos como a Virgem Maria que assim respondeu ao Anjo: «Pois que se faça em mim segundo a tua palavra» (Lc 1,38).
Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, scj Assistente Espiritual da Fundação AIS
Quando o Papa Francisco faz apelo ao discernimento perante aquelas situações que não correspondem plenamente ao que o Senhor nos propõe (Amoris Laetitia, 6) e que nessas situações devemos ter presente o sentido da misericórdia, isso significa que todos devemos estar empenhados, primeiro, em fazermos um exame de consciência para vermos se cada um de nós 4
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Superfície 10.908 Km2
• Sérvia • Montenegro
População 1,7 milhões Sérvios: 120 mil Outras minorias: 40 mil
• Kosovo • Bulgária
Religiões Muçulmanos: 95,6% Cristãos: 3,6%
• Macedónia
Ortodoxos: 1,4% Católicos: 2,2% Outras: 0,8% • Albânia
Línguas oficiais Albanês e sérvio
• Grécia
Mar Adriático
KOSOVO
OS CRIPTO-CATÓLICOS SAEM DA SOMBRA A pequena minoria cristã do Kosovo, estado independente desde 2008, vê as suas fileiras aumentarem graças ao regresso dos cripto-católicos. Vejamos de perto estes cristãos atípicos. Já não é necessário esconderem-se em casas privadas para celebrar o Natal ou a Páscoa. Chegou ao fim o tempo em que se acendiam às escondidas as velas para os santos, ao mesmo tempo que exteriormente passavam por muçulmanos recebendo nas suas casas a hodja (ensino corânico) e frequentando a mesquita. Remontemos ao séc. XVI. Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre
Durante o período otomano, os turcos tinham obrigado a população desta região a converter-se ao Islão. A maioria tinha adoptado a nova religião com receio da descriminação, mas conservando-se cristã no coração. Por vezes, só o chefe de família é que se “convertia” e todos os outros membros continuavam cristãos. Vestidos como muçulmanos, 5
Kosovo Durante vários séculos os cripto-católicos viveram na sombra.
usando um nome muçulmano em público e outro na clandestinidade, baptizavam secretamente os filhos, respeitavam o jejum e faziam o sinal da cruz às escondidas. Hoje, os seus descendentes reencontram a fé dos seus antepassados. Estes cristãos cripto-católicos a quem se chama laramans (palavra que significa coloridos ou “multicolores” em albanês), expõem-se agora com orgulho. “Há já alguns anos que o fenómeno dos cripto-católicos – pessoas cujas raízes não são muçulmanas mas cristãs, mesmo que sejam oficialmente consideradas muçulmanas – se tornou cada vez mais perceptível no Kosovo”, explica Magda Kaczmarek, responsável pela secção 6
dos projectos da Fundação AIS na Europa de Leste. Nas paróquias, os registos de baptismos, outrora realizados no maior dos segredos, são testemunha destes tempos de repressão e de clandestinidade. D. Marjan Uka tem a seu cargo os fiéis de uma paróquia situada numa região montanhosa, no centro do Kosovo. O seu bispo confiou-lhe o encargo pastoral destes novos baptizados. Todos os anos, na Páscoa e na véspera da Ascensão, adultos e suas famílias são baptizados. As famílias devem frequentar a catequese durante um ano para se prepararem para o baptismo, explica. Tal como Veton, um pequeno empresário Sementes de Esperança | Janeiro 2017
Kosovo Mons. Gjergji, administrador apostólico do Kosovo
cujos antepassados sempre foram católicos. “Éramos cristãos antes de os otomanos terem islamizado a actual região dos Balcãs”, relembra.
“NÃO LHES CHAMAMOS CONVERTIDOS PORQUE ELES REGRESSAM A CASA” “Não baptizamos muçulmanos, mas albaneses que viveram como muçulmanos, devido a circunstâncias históricas”, diz Mons. Dodë Gjergji, administrador apostólico de Prizren e de todo o Kosovo. “Não lhes chamamos convertidos, porque regressam a casa. Sobreviveram como puderam, conservando um crucifixo em casa. Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre
Os laramans apresentamse agora com orgulho.
Alguns lembram-se ainda de como rezavam na clandestinidade. Hoje, querem viver livremente e pedem o baptismo.” Pouco numerosos mas “importantes para nós” de acordo com as palavras do bispo, os laramans juntam-se, deste modo, à minoria católica constituída por cerca de 65 mil albaneses do Kosovo (1.5 % da população).
INFLUÊNCIA ISLAMITA LIMITADA… POR AGORA “Os cripto-católicos não são mal vistos pelos Muçulmanos. No Kosovo, a Igreja Católica é muito repeitada”, confirma Magda Kaczmarek. “Infelizmente, nestes 7
Kosovo Mesquita em construção
últimos tempos, um ‘Islamismo de importação’ está a instalar-se no país, levando a comportamentos de intolerância em relação às outras religiões”, deplora. Com efeito, os sauditas financiam a construção de numerosas mesquitas e subvencionam pregadores formados na ideologia wahabita. Também se nota, por todo o lado, a presença turca, nomeadamente na restauração de mesquitas históricas. Mas parece que o fundamentalismo não pega entre os kosovares que são, na sua maioria, muito abertos.
sérvios e albaneses. “Quanto ao fundamentalismo muçulmano e ao extremismo islâmico provenientes da Turquia ou da península arábica, não está mais espalhado em Pristina do que em Viena, Bruxelas ou Berlim!”, afirma Mons. Dodë Gjergji. A população jovem resiste, por enquanto, ao integrismo. Está virada para a Europa ocidental, devido à sua diversidade cultural.
Oração
Para que os Cristãos do Kosovo mantenham o zelo e a perseverança que Aliás, é bom lembrar que a guer- outrora os seus antepassados demonsra do Kosovo não se travou entre traram, nós Te pedimos Senhor! cristãos e muçulmanos, mas entre 8
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Oração
Oração pelo Ano que começa Acolhe, Pai Santo, Deus eterno e todo-poderoso, este ano que hoje começamos. Desde o primeiro dia, desde as primeiras horas desejamos oferecer-Te, a Ti, que não tens princípio, este novo princípio. Dia-a-dia, aparecerá diante de cada um de nós como uma grande incógnita, como um espaço que deveremos encher com um conteúdo, como uma perspectiva de acontecimentos desconhecidos e de decisões a tomar. Como uma nova etapa e um novo espaço da luta de cada ser humano e também a nível da família, da sociedade, das nações e de toda a humanidade. São João Paulo II
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Meditação
A MATERNIDADE DIVINA O primeiro dos quatro dogmas marianos é o da maternidade divina de Maria. Primeiro, historicamente. Primeiro, como razão de todos os outros. O dogma que declara verdade de fé que Maria é Mãe de Deus foi proclamado pelo Concílio de Éfeso, no ano 431. Maria recebeu o nome de “Theotokos”, palavra grega que diz exatamente “Mãe de Deus”, e foi julgado insuficiente o título de “Christotokos”, ou seja “Mãe de Cristo”. A controvérsia era chefiada, de um lado, pelo Patriarca de Constantinopla, Nestório, bispo famoso como orador sacro, como líder e organizador, como conhecedor das Escrituras; por outro lado, o Patriarca de Alexandria, Cirilo, também exímio pregador, teólogo refinado, excelente bispo. Ambos tinham seguidores bispos, padres, leigos.
© Bradi Barth
Nestório ensinava que Maria era só mãe do Cristo-homem, porque lhe parecia absurdo uma criatura ser mãe do criador. Cirilo contestava com veemência, afirmando que não podia haver dois Cristos, um homem e outro Deus. E havendo um Cristo só, embora com duas naturezas inseparáveis, Maria era mãe do Cristo-homem e mãe do Cristo-Deus, portanto sua maternidade era tão divina quanto humana, ela era verdadeiramente “Theotokos”, Mãe de Deus. O Concílio deu razão a Cirilo e declarou herética a posição de Nestório que, humildemente, se retirou da vida pública e voltou à vida que levava antes de ser bispo e patriarca, a vida de monge. Na carta encíclica “Fulgens Corona”, com 10
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Meditação que o Papa Pio XII comemorou os cem anos do dogma da Imaculada Conceição, vem lembrado que a maternidade divina de Maria constitui a mais alta missão, depois da que recebeu o Cristo, na face da terra, e que esta missão exige a graça divina em toda a sua plenitude. Continua o Papa: “Na verdade, desta sublime missão de Mãe de Deus nascem, como duma misteriosa e limpidíssima fonte, todos os privilégios e graças, que adornam, duma forma admirável e numa abundância extraordinária, a sua alma e a sua vida. Por isso, com razão declara Santo Tomás de Aquino que a BemAventurada Virgem Maria, pelo fato de ser Mãe de Deus, recebe do bem infinito, que é Deus, uma certa dignidade infinita” (n.10). Depois de Cristo, a maior e mais excelsa missão na terra; por causa de Cristo, revestida de uma certa dignidade infinita: mais não se pode dizer de uma criatura, privilegiada, plena da graça divina, mas sempre criatura, sempre mulher de carne e sangue. A partir do Concílio de Éfeso, a maternidade divina de Maria é doutrina constante e unânime na Igreja. Repete-a o Concílio Vaticano II, na Constituição Lumen Gentium: “A Virgem Maria, que na Anunciação do anjo, recebeu o Verbo de Deus no coração e no corpo e trouxe ao mundo a Vida, é reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus e do Redentor” (n. 53). (…) São Bernardo, num de seus sermões sobre a Anunciação, demora-se em observar Maria no exato momento de seu sim à maternidade divina, um sim que mudaria os rumos da história, que recriaria o mundo, que possibilitaria uma nova e eterna comunhão entre Deus e as criaturas. Transcrevo um trecho: “Ó Virgem piedosa, o pobre Adão, expulso do paraíso com sua mísera Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre
descendência, implora a tua resposta. Implora-a Abraão, implora-a Davi; e os outros patriarcas, teus antepassados… suplicam esta resposta. Toda a humanidade, prostrada a teus pés, a aguarda. E não é sem razão, pois do teu consentimento depende o alívio dos infelizes, a redenção dos cativos, a libertação dos condenados, a salvação de todos os filhos e filhas de Adão, de toda a tua raça. Responde depressa, ó Virgem! Pronuncia, ó Senhora, a palavra esperada pela terra, pelos infernos e pelos céus. O próprio Rei e Senhor de todos, tanto quanto cobiçou a tua beleza, deseja agora a tua resposta afirmativa, porque por ela decidiu salvar o mundo. Agradaste a ele pelo silêncio, muito mais lhe agradarás pela palavra … Se tu lhe fizeres ouvir a tua voz, ele te fará ver a nossa salvação”. Este trecho não só é retoricamente bonito, mas também nos ensina como Deus respeitou a liberdade de Maria. Não lhe impôs a maternidade divina. Predestinou-a, mas pediu-lhe o consentimento. Elegeu-a desde antes da criação do mundo, ornou-a com todas as bênçãos e graças, mas aguardou o seu sim, a sua disponibilidade. O sim de Maria veio acompanhado de uma declaração de humildade: “Sou a serva do Senhor” (Lc 1,38). Volto a citar São Bernardo: “Que sublime humildade é esta que não soube ceder às honras e não sabe orgulhar-se na gloria! É escolhida para ser a Mãe de Deus e se proclama a serva. É certamente sinal de grande humildade não se esquecer de ser humilde quando é oferecida tamanha glória. Não é grande coisa mostrar-se humilde quando se é desprezado; ao contrário, é virtude insigne e rara ser humilde quando se é honrado”. Com o sim de Maria, o Filho de Deus assumiu a carne humana; “subsistindo na condição de Deus, não se apegou à sua igualdade com 11
Meditação Deus,… tornou-se solidário com os seres humanos e apresentou-se como simples homem” (Fl 2,6-7). A paternidade de Deus une-se para sempre à maternidade da jovem Maria de Nazaré. O “faça-se” de Deus ao criar o universo soma-se ao “faça-se” de Maria para recriar, em seu Filho, todas as coisas na face da terra. Em Jesus Cristo, Messias e Salvador, não se separam mais a paternidade de Deus, que fecundou Maria mediante o Espírito Santo, e a maternidade de Maria, que acreditou no convite. O “faça-se” de Maria encerra o tempo da espera; as criaturas, tendo à frente o Filho de Deus concebido no seio virginal de uma mulher, entram na “plenitude dos tempos” (Gl 4,4): “pelo ingresso do eterno no tempo, do divino no humano, o próprio tempo foi redimido e, tendo sido preenchido pelo mistério de Cristo, se torna definitivamente tempo de salvação” (Redemptoris Mater, 1). Maria tornou-se assim, como diz o Prefácio da festa da Imaculada, o início, as primícias da Igreja. Estamos diante de vários mistérios unidos, que perfazem o grande e inaudito mistério da salvação. É estupendo, mas verdadeiro. É inédito e acima de qualquer inteligência humana, mas é obra, graça e vontade de Deus e, como afirmou o anjo na hora da Anunciação, “para Deus, nada é impossível” (Lc 1,37). Embevecido diante do mistério da maternidade divina de Maria, São Boaventura (+1274), compôs um longo hino de louvor à maneira do Te Deum. Destaco alguns versos: “Os coros dos anjos, com vozes incessantes, te proclamam: santa, santa, santa, ó Maria, Mãe de Deus, mãe e virgem ao mesmo tempo! Os céus e a terra estão cheios da majestade vitoriosa do Fruto do teu ventre! O glorioso coro dos apóstolos te aclama Mãe do Criador! Celebram-te todos 12
os profetas, porque deste à luz o próprio Deus! A imensa assembleia dos santos mártires te glorifica como Mãe do Cristo. A multidão triunfante dos confessores prostra-se diante de ti, porque és o Templo da Trindade!”. A Maternidade divina de Maria é a raiz de todas as perfeições e privilégios que a adornam. Por esse título, foi concebida imaculada e está cheia de graça, é sempre virgem, subiu em corpo e alma aos céus, foi coroada como Rainha da criação inteira, acima dos anjos e dos santos. Mais do que Ela, só Deus. A Santíssima Virgem, por ser Mãe de Deus, possui uma dignidade de certo modo infinita, derivada do bem infinito que é Deus. Não há o perigo de exagerar. Nunca aprofundaremos bastante neste mistério inefável; nunca poderemos agradecer suficientemente à nossa Mãe a familiaridade com a Trindade Beatíssima que Ela nos deu. Éramos pecadores e inimigos de Deus. A Redenção não se limita a livrar-nos do pecado e a reconciliar-nos com o Senhor: converte-nos em filhos, entrega-nos uma Mãe, a mesma que engendrou o Verbo, segundo a sua Humanidade. É possível maior prodigalidade, maior excesso de amor? Ansioso por redimir-nos, Deus dispunha de muitos modos para executar a sua Vontade Santíssima, segundo a sua infinita sabedoria. Escolheu um que dissipa todas as possíveis dúvidas sobre a nossa salvação e glorificação. Assim como o primeiro Adão não nasceu de homem e mulher, mas foi plasmado na terra, assim também o último Adão, que havia de curar a ferida do primeiro, tomou um corpo plasmado no seio da Virgem, para ser, quanto à carne, igual à carne dos que pecaram. São Josemaría Escrivá, in Amigos de Deus
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Meditação
O ACONTECIMENTO DE FÁTIMA «Graças ao coração misericordioso do nosso Deus, que das alturas nos visita como sol nascente» (Lc 1,78)
Fátima acontece como uma irrupção da luz de Deus nas sombras da história humana. Na alvorada do século XX, ecoou, na aridez da Cova da Iria, a promessa da misericórdia, recordando a um mundo entrincheirado em conflitos e sôfrego de uma palavra de esperança a boa nova do evangelho, a boa notícia de um encontro prometido na esperança, como graça e misericórdia. Fátima acontece como uma irrupção da luz de Deus nas sombras da história humana. Na alvorada do século XX, ecoou, na aridez da Cova da Iria, a promessa da misericórdia, recordando a um mundo entrincheirado em conflitos e sôfrego de uma palavra de esperança a boa nova do evangelho, a boa notícia de um encontro prometido na esperança, como graça e misericórdia. «Não temais. Sou o Anjo da Paz. Orai comigo.» É com um convite à confiança que se inaugura o acontecimento de Fátima. Percursor da presença da luz de Deus que dissipa o medo, o Anjo anuncia-se por três vezes aos videntes, em 1916, com uma convocação à adoração, atitude fundamental que os há de predispor para acolher os desígnios da misericórdia do Altíssimo. É esta convocação ao silêncio habitado pela presença transbordante do Deus Vivo que se vê espelhada na oração que o Anjo ensina às três crianças: Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-vos. Prostrados por terra, em adoração, os pequenos pastores compreendem que ali se inaugura uma vida renovada. Da humildade da prostração de toda a sua existência em adoração há-de brotar o dom confiante da fé de quem se faz discípulo, a esperança de quem se sabe acompanhado na intimidade Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre
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Actualidade da amizade com Deus, e o amor como resposta ao amor inaugural de Deus, que frutifica no cuidado pelos outros, particularmente pelos que se colocam à margem do amor, pelos que «não creem, não adoram, não esperam e não amam». Ao receberem do Anjo a Eucaristia, os pastorinhos veem confirmada a sua vocação a uma vida eucarística, a uma vida feita dom a Deus pelos demais. Acolhendo, pela adoração, a graça da amizade com Deus, são comprometidos, pelo sacrifício eucarístico, com a oferta total das suas vidas. «Quereis oferecer-vos a Deus?» Em maio de 1917, a Senhora cheia de graça anuncia-se transbordando a luz de Deus, na qual os videntes se reveem «mais claramente que nos vemos no melhor dos espelhos». Na experiência mistagógica da luz que emana das mãos da Senhora, os pequenos pastores são preenchidos por uma presença que se grava indelevelmente no seu íntimo e os sagra testemunhas proféticas da misericórdia de Deus que, desde o fim da história, ilumina o enredo do drama humano. O segredo que em Fátima se dá é precisamente revelação do mistério humano à luz de Deus. Nas imagens que se sucedem no olhar de Jacinta, Francisco e Lúcia, oferece-se a síntese do drama difícil da liberdade humana. A visão do inferno é memorial de que a história se abre sobre outros horizontes, mais definitivos do que o imediato, e que Deus anseia tanto por esse encontro escatológico em que a pessoa é recuperada para o amor quanto preza a sua liberdade. Assim também, a visão da Igreja mártir – que, encabeçada pelo bispo vestido de branco, atravessa as ruínas da grande cidade, carregando o seu sofrimento e a sua oração, para se prostrar, por fim, diante da 14
Cruz – evoca uma história humana sufocada nas ruínas dos seus confrontos e dos seus egoísmos, e uma Igreja que carrega essas ruínas, qual via crucis, para se entregar finalmente a Deus em dom total, diante da Cruz – símbolo do dom total do próprio Deus. Essa Igreja é semente de um outro jeito de vida cheio de graça, à imagem do Coração Imaculado de Maria. O coração daquele que se consagra a Deus é imaculado pela sua misericórdia e, por ela, ungido em missão. O segredo que em Fátima se dá é revelação da confiança de que, por fim, este Coração Imaculado cheio de graça triunfará. O jeito crente do Coração Imaculado oferece-se como oração e como sacrifício. A Senhora do Rosário convoca insistentemente os videntes à oração, esse lugar de encontro em que se enraizará a sua intimidade com Deus. Os traços concretos da oração pedida em Fátima são os do rosário, recordado pela Senhora em cada uma das seis aparições, sob o signo da urgência. Nesta pedagogia humilde da fé orante, o crente é convocado a acolher os mistérios do dom maior do Cristo no seu coração e a deixar-se interpelar pelo seu amor que redime as feridas da liberdade humana. Que o rosário seja apontado como caminho para a paz é sinal de que o acolhimento do Verbo enche de graça o coração humano, cativo do egoísmo e da violência, e pacifica a história com a coragem dos humildes. A intimidade com Deus transforma a vida em sacrifício pelos irmãos, particularmente aqueles sobre quem recai o olhar compassivo de Deus. O dom de si, eis o que significa o sacrifício. Amado como filho, o coração humano renova-se à imagem do Pai e assume toda a sua paixão pela humanidade. Face aos dramas Sementes de Esperança | Janeiro 2017
Actualidade
do mundo, a liberdade centrada em Deus implica-se nos seus desígnios de misericórdia que abarcam cada mulher, cada homem, na missão reconciliadora do Filho de reunir a todos num só redil (Jo 10,16). Na gramática difícil do sacrifício, a vida é corajosamente assumida na sua verdade e a liberdade é polida para o dom de si. Como que na transparência deste dom de si pelos outros, brota o convite à consolação do Deus de toda a consolação (2Cor 1,3). No desconcerto deste convite se manifesta a verdadeira amizade com Deus. O olhar do íntimo de Deus encontra a sua tristeza face aos vazios de amor dos dramas da história e das liberdades humanas, e deixa-se comover, para logo desejar consolar o próprio Deus. No último encontro com a Senhora do Rosário, em outubro, a esperança na promessa do triunfo do Coração cheio de graça é selada com a bênção do Cristo. «Graça e Misericórdia.» O acontecimento de Fátima transborda as fronteiras da Cova da Iria. A palavra conclusiva deste acontecimento é oferecida em Pontevedra e Tuy à vidente Lúcia, entre 1925 e 1929. O Coração Imaculado de Maria, que se oferecera já como «refúgio e caminho que conduz até Deus», dá-se, Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre
ainda uma vez, como regaço materno disposto a acolher os dramas da história dos homens e dos homens da história que a ele se consagrem e para os confiar ao Coração misericordioso de Deus. O Coração da Imaculada figura a vocação de cada mulher, de cada homem, desde sempre sonhados para a graça. A consagração a este Coração cheio de graça afirma a certeza de que a vocação do homem é a vida plena em Deus. Para esse horizonte aponta também o âmago do pedido da comunhão reparadora nos primeiros sábados. Esses sabath, dias consagrados ao encontro com Deus, são imagem de uma vida toda a Ele consagrada. No final, tudo é «Graça e Misericórdia». O mistério da comunhão trinitária, luz que perpassa todo o acontecimento de Fátima, revela-se, ainda uma vez, para recordar que o Coração compassivo de Deus se faz dom. Que o testemunho frágil de três crianças de uma aldeia remota da Serra d’Aire promova, até aos confins da terra, o encontro com essa luz do coração misericordioso de Deus é apenas sinal, confirmado também na Cova da Iria, de que a história definitiva se constrói com a força de Deus operando na disponibilidade dos humildes. In http://www.fatima.pt/pt/pages/o-acontecimento-de-fatima
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Destaque
A FORÇA QUE NOS VEM DE DEUS Desafios – Vol. IV “Ela disse: rezai o terço todos os dias e tereis a Paz. Não disse que os problemas sociais e políticos e económicos seriam magicamente resolvidos; pelo contrário, eles têm-se agravado e como. Mas com a arma da oração que o terço representa, os que o rezam alcançam a paz e tornam-se mensageiros e construtores da paz, o que é verdade. Ela também disse que “em Portugal se manterá sempre o dogma da fé”. Pois vivamos no conforto e na consolação desta doce promessa. No mundo perigoso em que vivemos, na verdade, só Ela nos pode valer!...” Desafios reúne um conjunto de meditações que o Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, scj, Assistente Eclesiástico da Fundação AIS compôs entre 2014 e 2016. Têm todas como denominador comum o esforço de chamar a atenção dos leitores para o mundo do nosso tempo, com as suas inquietações, problemas e esperanças. Oferta Medalha Nossa Senhora de Fátima
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SEMENTES DE ESPERANÇA - Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre PROPRIEDADE Fundação AIS CAPA DIRECTORA Catarina Martins de Bettencourt PERIODICIDADE REDACÇÃO E EDIÇÃO Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, scj, Maria de Fátima Silva, IMPRESSÃO Alexandra Ferreira PAGINAÇÃO FONTE L’Église dans le monde – AIS França DEPÓSITO LEGAL FOTOS © AIS; Painel da Basílica da Santíssima Trindade, em Fátima, ISSN da autoria do Pe. Marko Ivan Rupnik
Icone de Nossa Senhora de Vladimir 11 edições anuais Gráfica Artipol JSDesign 352561/12 2182-3928
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