Sementes de Esperança | Julho-Agosto 2018

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Julho/Agosto 2018

Sementes de

Esperança Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

© Bradi Barth


Intenção de Oração do Santo Padre MISSIONÁRIA

Julho: Os sacerdotes na sua missão pastoral Para que os sacerdotes que vivem o seu trabalho pastoral com dificuldade e na solidão se sintam ajudados e confortados pela amizade com o Senhor e com os irmãos. UNIVERSAL

Agosto: As famílias, um tesouro Para que as grandes escolhas económicas e políticas protejam a família como um tesouro da humanidade.

9 Agosto SANTA BENEDITA DA CRUZ (EDITH STEIN), religiosa, mártir, padroeira da Europa, +1942 “Quanto mais escuridão se faz ao nosso redor, mais devemos abrir o coração à luz que vem do alto”. A oração é um dos pilares fundamentais da nossa missão. Sem a força que nos vem de Deus, não seríamos capazes de ajudar os Cristãos que sofrem por causa da sua fé. Para ajudar estes Cristãos perseguidos e necessitados criámos uma grande corrente de oração e distribuímos gratuitamente esta Folha de Oração, precisamente porque queremos que este movimento de oração seja cada vez maior. Por favor, ajude-nos a divulgá-la na sua paróquia, nos grupos de oração, pelos amigos e vizinhos. Não deite fora esta Folha de Oração. Depois de a ler, partilhe-a com alguém ou coloque-a na sua paróquia.

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Reflectir INTENÇÃO NACIONAL

Por todos aqueles que estão zangados com Deus por algum motivo e não conseguem encontrar um sentido no que lhes acontece, para que descubram que o protesto, se dito com a linguagem dos salmos, também pode ser uma forma de oração de confiança, como no Sl 22: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?!”

O meu filho está zangado com Deus Assim me confidenciou um pai que recentemente me veio visitar e que, ao perguntar-lhe pela sua família, me disse que tinha cinco filhos, dos quais um é sacerdote e outro, uma das filhas, é religiosa contemplativa. Uma família abençoada, comentei. É verdade, mas temos um problema que nos angustia há muitos anos. Um dos nossos filhos está “zangado com Deus”. Zangado com Deus porquê? É verdade, ele estava muito ligado ao irmão mais velho e quando ele decidiu ir para o seminário, ele sentiu muito a sua falta e não foi capaz de aceitar. Tinha ele então 7 anos. Mais tarde, quando atingiu aquela idade em que já não se considerava obrigado a “obedecer” aos pais e os pais também já reconheciam que tinham de respeitar a sua liberdade, deixou de ir à Missa, porque “estava zangado com Deus”. E já tem 22 anos! Como pais cristãos que somos, dizia-me, faz-nos sofrer ver

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que este nosso filho tenha perdido a fé, se tenha tornado ateu! E mostrou-me a fotografia: é, de facto, um perfeito moço, um jovem encantador no fulgor da sua beleza juvenil! Mas está zangado com Deus. Este desabafo daquele bom pai tocou-me muito e, num primeiro momento, não encontrando outras palavras nem explicações, limitei-me a dizer-lhe que compreendia e que com o tempo o filho haveria de se reconciliar com Deus e de integrar a sua zanga na história que Deus está a fazer com ele. Mas logo depois me lembrei do livro de Job, de alguns Salmos e das confissões do profeta Jeremias, textos nos quais encontramos o testemunho de alguém que também se zangou com Deus num determinado momento da sua vida, porque não conseguia integrar algumas situações tanto da sua vocação profética, no caso 3


Reflectir de Jeremias, como da própria vida (sofrimentos, doenças, perseguições) na história que Deus estava a fazer com eles. O Livro dos Salmos oferece-nos tantos exemplos de protesto, de clamor por justiça, de pedido duma explicação em momentos em que parece que Deus abandona aquele que n’Ele confia: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste”, começa assim o salmo 22, oração de súplica e de clamor que o próprio Jesus rezou na cruz! O profeta Jeremias lamenta o dia em que nasceu como uma maldição e não como bênção; Job insurge-se contra os seus amigos, pois considera-se inocente e, por isso, não consegue compreender o que possa estar na origem de tanto sofrimento e de tantas desgraças. Isto leva-me a pensar que estas “zangas com Deus”, de que a Sagrada Escritura dá tantos exemplos, não são sinal de falta de fé, mas o protesto de quem acredita e que pergunta a Deus porque é que determinadas coisas acontecem. Talvez seja por isto que o seu filho esteja a passar, disse ao pai: ele precisa de descobrir que o facto de Deus lhe ter roubado o irmão mais velho, que era todo o seu conforto, tem sido para o irmão e para toda a família uma bênção que ele ainda não descobriu, mas 4

se continuar a perguntar um dia há-de encontrar uma resposta. O nosso Deus é alguém que tem razões, pois nada acontece por acaso nas nossas vidas. Jesus diz que nem um cabelo da nossa cabeça cai sem o conhecimento de Deus. Segundo S. Paulo, tudo concorre para o bem daqueles que Deus ama e esse bem é tanto maior quanto mais acreditarmos e tivermos consciência disso. E a maravilha é que Deus mesmo nos ensinou a linguagem com que nos podemos dirigir a Ele: de louvor, de acção de graças, de lamentação e também de protesto e de zanga! O rosto daquele bom pai iluminou-se e assim partiu. E eu fiquei meditando no silêncio do coração no sentido que estas mesmas palavras podem ter para mim, quando tantas vezes também eu sinto que estou zangado com Deus. Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, scj Assistente Espiritual da Fundação AIS

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Superfície 2.400.000 Km2 População 36,5 milhões de habitantes Religiões Muçulmanos: 99% Outros: 1% Língua oficial Árabe, francês, línguas berberes

ARGÉLIA

O GRÃO DE MOSTARDA Dezanove católicos, entre os quais os monges de Tibhirine, assassinados por terroristas nos anos 90, “poderão ser beatificados nos próximos meses”, anunciou o Bispo de Argel em Outubro. Sinal de que a Argélia cura as suas feridas. Análise de uma pequena minoria católica em acção. “Conhecemos quase todos os fiéis pelo primeiro nome” conta o Pe. Michel Guillaud, enviado para a Argélia pelo Bispo de Lyon em 2006. Este “nós” engloba os padres e os bispos da Igreja Católica na Argélia, um país 99% muçulmano. Significa que as comunidades são pouco numerosas – como a imagem do grão de mostarda, a menor das sementes – e sem que as previsões indiquem melhores dias, na visão humana. A queda do preço do petróleo reduziu ainda mais os colaboradores. Ao suspender algumas grandes obras Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

(hospitais, fábricas….) a falta de meios, levou a Argélia a fazer economias e a limitar a presença de uma mão-de-obra frequentemente cristã, que emana de empresas de construção estrangeiras. “O que nos preocupa é que os padres e religiosas, frequentemente de idade avançada, não são substituídos”, acrescenta o Pe. Guillaud. Assim, “antes de ser islâmica, Cabília era cristã” lembra Zahia, uma argelina recém-baptizada, não por conversão mas por “regresso às origens”, como afirmou. Como é que o país passou de Santo Agostinho o 5


Argélia O Senhor continua a tocar os corações. Na fotografia, o grupo Argélia nas JMJ 2016.

Argelino, três papas berberes, 600 bispos entre Marrocos e a Líbia… para esta minoria católica tão limitada? No séc. VII com a conquista do Islão vem a sentença de morte das comunidades cristãs, no séc. XIX e XX inverte-se a situação com um novo fôlego da Igreja. É nessa altura que reside a primeira dificuldade. “Hoje, a Argélia está 100% impregnada da cultura árabe e a liturgia continua em francês”, lamenta um cristão argelino de família muçulmana… chamemos-lhe Jean. O Cristianismo é por vezes entendido como uma religião europeia, longínqua, enquanto o “Senhor continua a tocar os corações e a chamar argelinos para Si”, assegura-nos. “É preciso que possam encontrar o seu lugar na Igreja na Argélia”. Depois dos acordos de Évian, em 1962, muitos classificaram o Cristianismo como parte da herança colonial que devia ser banida juntamente com a “ingerência francesa”. Deitaram tudo a perder. 6

“Em Skikda, depois de vinte anos sem um cristão na cidade, a Igreja que já não podíamos utilizar nem manter foi transformada em orfanato. Três meses depois chegaram cem Cristãos Coptas e depois uma dúzia de Croatas. Tivemos de instalar uma enorme tenda para criar um novo lugar de oração. É um lindo sinal de esperança, não é?” Pe. Guillaud, pároco de Skikda

A década negra dos anos 90 contribuiu para ensombrar ainda mais a realidade. Para além dos estrangeiros que deixaram o país, os terroristas islâmicos do GIA (Grupo Islâmico Armado) deixou um rasto e “devido ao que se passou nessa altura, a polícia está junto às igrejas para as proteger e vigiar”, constata o Pe. Paul-Élie, ex-muçulmano e hoje sacerdote, ordenado em 2016. Os cristãos que permaneceram, obrigados a uma total Sementes de Esperança | Julho/Agosto 2018


Argélia Os “Irmãos de Jesus” discretos na sua fé. Na fotografia, com os vizinhos.

discrição, privilegiaram o testemunho de vida, em silêncio, à evangelização aberta. Os monges de Tibhirine são um dos exemplos mais conhecidos. Outros tentaram forçar a questão e conseguiram desencorajar muitas pessoas com boa vontade. Em 1999, quando Jean revelou a um padre que queria conhecer Jesus, ficou traumatizado “Não tens vergonha de deixar o Islão, a religião dos teus pais?” Em 2017, o terrorismo já não atinge a Argélia como há vinte anos. As feridas da colonização estão mais saradas. “Os Argelinos acolhem com muita alegria os franceses que visitam o seu país”, salienta o Pe. Guillaud. Restam no entanto as restrições para aqueles que não professam a fé muçulmana. Dar uma Bíblia a alguém na rua é ilegal. É proibido expor a Bíblia nas livrarias. O Islão continua a ser a religião do Estado. Uma regra de 2006 – confirmada pela revisão da Constituição em Fevereiro de 2016 – proíbe converter um muçulmano Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

ou mesmo “abalar a sua fé”, sob pena de prisão. O Pe. Paul-Élie salienta também a dificuldade de obter um visto para padres ou religiosos: “Alguns nem sequer têm acesso a um visto turístico e a maioria continua o seu apostolado através da renovação do seu visto de dois em dois meses. Uma forma de limitar a sua vinda e as conversões”. O Bispo de Argel conhece todas as armadilhas. Para ele, “encontrar a cruz faz parte do caminho do apóstolo. O discípulo não está acima do seu Mestre”. Para além da lei, as mentalidades podem igualmente contribuir para desencorajar eventuais novos cristãos. “Um convertido é um apóstata que merece sanções e, se for preciso, a família encarrega-se delas”, perseguindo o jovem ordenado, mesmo que ele seja uma excepção porque o seu próprio pai, muçulmano, esteve presente no dia da sua ordenação sacerdotal. “Alguns muçulmanos não suportam olhar para uma Cruz”. Por medo ou ignorância. 7


Argélia

As paróquias são constituídas por pequenas comunidades.

ANTENA PARABÓLICA? Perante esta realidade, o Pe. Paul-Élie arranjou uma técnica. Pelo menos para remediar a ignorância. Antes de se tornar sacerdote, instalava antenas parabólicas ou antenas de televisão em casas e programava sistematicamente todos os canais, incluindo os cristãos, cerda de 15 a 20. Uma forma de fazer entrar Cristo em casa dos salafitas. Assim, “foi-nos dada a graça de acolher alguns discípulos novos que vieram depois de ouvir um pensamento, uma leitura, uma emissão de televisão, um site na Internet” confirma D. Desfarges, Bispo da Diocese de Argel. “A existência de cristãos argelinos é nova na história contemporânea” esclarece o Pe. Guillaud, “interfere com o sonho de unanimidade de uma Argélia árabe e muçulmana. Cabe-nos a nós, Cristãos, mostrar que o Cristianismo não é um risco para a Argélia”. É o que se tenta realizar nas suas duas paróquias no norte do país: uma em Skikda, junto ao mar e outra em 8

Constantine, nas montanhas, que contam respectivamente com cerca de 10 e 60 fiéis. É um número modesto, mais uma vez, mas implica “ser Cristãos responsáveis”, afirma o Bispo. Uma minoria não tem a maior parte das vezes outros porta-voz para além dela própria. Ora, esta “Igreja caseira”, de acordo com as palavras do pároco de Skikda, tem uma certa visibilidade, apesar da escassez de Igrejas mais ostensivas. “A maioria das pessoas que entram durante o dia nos nossos lugares de oração não são só cristãs. Há muitos muçulmanos”. Porque os fiéis não deixam de nos espantar. “Quando um grupo de jovens paroquianos, composto de africanos negros, argelinos brancos, europeus e asiáticos, rapazes e raparigas, jogam voleibol na praia, o testemunho é forte”. Sente-se de passagem que o rosto da Igreja local vai mudando. O núcleo duro vem menos da Europa e mais de África e da América Latina e, assim, pelo menos, evita-se a ligação do Cristianismo ao antigo colonizador francês. Sementes de Esperança | Julho/Agosto 2018


Meditação Argélia

Ex-voto. Antes do Islão, a Cabília era cristã.

Jovens Cristãos da Argélia mobilizados De 26 a 28 de Outubro de 2017, cerca de 60 cristãos, estudantes de Annaba, Guelma, Sétif, Constantine e Skikda, reuniram-se em Constantine para responder ao questionário do Papa Francisco para o Sínodo de 2018 para a Juventude. Em Abril de 2017, não menos de 400 participaram nas Jornadas Argelinas da Juventude. Uma inovação inédita no Magrebe, no espírito das JMJ. Relativamente a números, se os Católicos continuam minoritários, consideremos que muitos não constam das estatísticas. Alguns não se dão a conhecer. Um dia, duas mulheres de véu, chegam totalmente cobertas para uma oração de louvor. Elas não se descobrirão porque não Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

querem ser reconhecidas. Outros, pura e simplesmente não conseguem percorrer as longas distâncias que os separam da paróquia mais próxima. Como se pode encontrar um padre quando se trabalha longe de tudo, na base da extracção de hidrocarbonetos, no meio do deserto? Numa noite de Natal, o Pe. Guillaud viu chegar 700 fiéis à basílica de Santo Agostinho, em Hipona - Annaba; “pessoas de que ignorávamos a existência”. O Natal foi a uma sexta-feira, feriado – o que tornou possível a deslocação destes trabalhadores. “E no entanto, no norte, onde nos encontramos, as distâncias são razoáveis”, analisa Pe. Guillaud. Quantos vivem a sua fé em Tazrouk ou mesmo em Tindouf? Quantos muçulmanos se deixam encontrar por Cristo no segredo da sua alma? Quando, em Maio de 2016, a Diocese de Oran organizou um colóquio sobre o seu antigo bispo assassinado em 1996, a maioria dos 400 participantes era… muçulmana. E, no entanto, estes encontros tratavam claramente de um 9


Argélia

A Igreja local muda. Menos europeus, mais africanos.

Muitos muçulmanos entram nos lugares de culto cristãos.

assunto sensível: “a actualidade da obra de D. Pierre Claverie” que, a propósito, foi beatificado com os outros 18 católicos.

Argelino.” A Igreja, este simples grão de mostarda na sociedade argelina, é “a mais pequena de todas as sementes; mas, depois de crescer, torna-se a maior planta do horto e transforma-se numa árvore, a ponto de virem as aves do céu abrigar-se nos seus ramos.” (Mt 13,32)

GRÃO A GRÃO… Se o Governo não tiver um volte face nas próximas eleições presidenciais de 2019 e mantiver a sua “relação positiva com a Igreja, quando existe” – afirma o pároco de Constantine – os Católicos poderão talvez falar da sua fé mais livremente. Notese que a basílica de Argel, a de Hipona e a de Nossa Senhora de Santa-Cruz em Oran foram todas restauradas graças a uma importante ajuda financeira por parte das autoridades. O Pe. Paul-Élie exprime assim a sua esperança: “Continuem a rezar para que o Senhor suscite padres, missionários e leigos que possam trazer Jesus ao povo 10

Oração Para que a minoria cristã na Argélia seja como a semente de mostarda, continuando a crescer na fé e em número, apesar de todos os obstáculos e problemas, nós Te pedimos Senhor!

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Oração

Transfiguração do Senhor 6 de Agosto

Mc 9,2-13 Obrigado, Pai, porque Cristo transfigurado, depois de anunciar a sua paixão aos discípulos, lhes mostrou no monte o esplendor da sua glória, testemunhando assim o caminho da ressurreição. Ao revelar-se em si mesmo a glória futura, fortalece a nossa fé perante o escândalo da cruz e alenta a esperança do seu povo, a Igreja. Concede-nos ir ao teu encontro na montanha, deixar os nossos caminhos de trilhos, escutar Jesus e caminhar com Ele na planície quotidiana da vida; porque, seguindo-O, a renúncia é liberdade e a morte é vida que antecipa a ressurreição. Pe. Helder Salvador Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

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Meditação

O Tempo da Liberdade Desde os primeiríssimos dias da Gioventù Studentesca que tivemos um conceito claro e simples: o tempo livre é o tempo em que a pessoa não é obrigada a fazer nada, não há nada que sejamos obrigados a fazer; tempo livre é tempo livre. Como discutíamos frequentemente com os pais e com os professores sobre o facto de que a GS ocupava demais o tempo livre dos jovens, enquanto deveriam estudar ou ajudar na cozinha, em casa, eu dizia: «Vão ter muito tempo livre os jovens!». «Mas um jovem, uma pessoa adulta», retorquiam, «é julgado pelo trabalho, pela seriedade do trabalho, pela tenacidade e pela fidelidade ao trabalho». «Não», respondia eu, «qual quê! Um jovem é julgado pela forma como usa o tempo livre». Oh, escandalizavam-se todos. Contudo... se é tempo livre, significa que a pessoa é livre de fazer o que quiser. Portanto, percebe-se aquilo que se quer pela forma como se emprega o tempo livre. Eu percebo o que uma pessoa – jovem ou adulta – quer verdadeiramente não pelo trabalho, pelo estudo, que é aquilo que tem a obrigação de fazer, pelas conveniências ou pelas necessidades sociais, mas pela forma como usa o seu tempo livre. Se um jovem ou uma pessoa madura desperdiça o tempo livre, não ama a vida: é tolo. As férias são, de facto, o clássico tempo em que quase todos se tornam tolos. Pelo contrário, as férias são o tempo mais nobre do ano, porque é o momento em que uma pessoa se compromete como quer com o valor que reconhece como predominante na sua vida, ou então não se compromete de maneira nenhuma com nada e então, realmente, é tola. 12

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Meditação A resposta que dávamos aos pais e professores há mais de quarenta anos tem uma profundidade a que eles nunca tinham chegado: o valor maior do homem, a virtude, a coragem, a energia do homem, aquilo por que vale a pena viver, está na gratuidade, na capacidade de gratuidade. E a gratuidade está precisamente no tempo livre que emerge e se afirma de uma forma admirável. O modo de rezar, a fidelidade à oração, a verdade dos relacionamentos, a entrega de si, o gosto pelas coisas, a modéstia ao usar a realidade, a comoção e a compaixão em relação às coisas, tudo isto vê-se muito melhor estando de férias do que durante o ano. Nas férias a pessoa é livre e, sendo livre, faz o que quer. Isto quer dizer que as férias são uma coisa importante. Em primeiro lugar isso implica atenção na escolha da companhia e do local, mas sobretudo tem a ver com o modo como se vive: se as férias nunca te recordam aquilo que mais gostavas de lembrar, se não te fazem ser melhor em relação aos outros, mas te tornam mais instintivo, se não te fazem aprender a contemplar a natureza com uma intenção profunda, se não te fazem oferecer um sacrifício com alegria, o tempo do descanso não cumpre o seu objectivo. As férias devem ser o mais livres possível. O critério das férias é respirar, de preferência a plenos pulmões. Deste ponto de vista, estabelecer como princípio a priori que um grupo tenha de fazer férias juntos é, antes de mais, contrário ao que foi dito, porque os mais frágeis da companhia, por exemplo, podem não atrever-se a dizer não. Em segundo lugar é contrário ao princípio missionário: ir de férias juntos deve responder a este critério. Seja como for, em primeiro lugar liberdade acima de tudo. Liberdade de fazer o que se quer... segundo o ideal! O que é que se ganha vivendo assim? A gratuidade, a pureza da relação humana. Em tudo isto a última coisa de que podemos ser acusados é de estarmos a convidar para uma vida triste ou de obrigar a uma vida de pesar: seria sinal de que é precisamente quem faz objecções que está triste, pesaroso e macilento. Sendo que macilento designa quem não come nem bebe e, por isso, quem não aprecia a vida. E dizer que Jesus identificou o instrumento, o nexo entre o homem que caminha sobre a terra e o Deus vivo, o Infinito, o Mistério infinito, com o comer e o beber: a Eucaristia é comer e beber – ainda que agora esteja muitas vezes reduzida a um esquematismo do qual já não se compreende o significado. É um comer e um beber: ágape é comer e beber. A expressão maior da relação entre mim e esta presença que é Deus feito homem em ti, oh Cristo, é comer e beber contigo. Onde tu te identificas com aquilo que comes e bebes, de tal maneira que, “vivendo na carne, vivo na fé do Filho de Deus” (“fé” quer dizer reconhecer uma Presença). Pe. Luigi Giussan

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Actualidade

Nossa Senhora de Czestochowa 26 de Agosto

O Santuário de Czestochowa situa-se na Polónia e é um dos mais

importantes centros de culto católico. A imagem de Nossa Senhora Negra com o Menino é de tradição medieval. Segundo os especialistas em arte, o quadro segue o modelo da iconografia bizantina: trata-se da imagem denominada “Odigitria”, “Aquela que indica e guia ao longo do caminho”. 14

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Actualidade A tradição narra que São Lucas a pintou, pois, sendo contemporâneo de Maria, pôde retratar a sua verdadeira face. A imagem foi levada a Jasna Góra – que em polaco significa “Montanha Luminosa” - em 1382, pelo príncipe Ladislau de Opole, que mandou construir a cidade no alto de uma colina e chamou os monges paulinos para que cuidassem do santuário. Em 1430, numa tentativa de roubo e profanação, o Ícone foi vandalizado, tendo o rosto de Maria sido desfigurado pelos cortes de uma espada. Depois do restauro, as cicatrizes mantiveram-se e são hoje uma das suas características principais. Embora intimamente ligado à história de uma Polónia sofrida mas persistente na fé, o Ícone é, porém, conhecido e venerado pelo mundo fora, tanto no Ocidente como no Oriente. Em 1656, o rei Casimiro declarou Nossa Senhora de Czestochowa “Rainha da Polónia” e designou a cidade capital espiritual da nação. O rosto do Menino olha para o observador. O olhar, ao invés, dirige-se para o além, como se olhasse para um panorama distante de tempo e de lugar. Seja a Mãe, seja o Filho, parecem imergirem-se em pensamentos profundos, representando uma grande sabedoria. Os rostos são escuros e contrastam com a luminosidade que os circunda. Maria indica ao peregrino o Menino, e o Menino numa mão segura o livro, e com a outra abençoa com um gesto simples e soberano ao mesmo tempo. Em todos os momentos de dificuldades da Polónia, a população une-se em torno de Nossa Senhora Negra de Czestochowa e ao Menino, incrementando assim o número de peregrinos. Ainda hoje, durante o Verão, são dezenas de milhares as pessoas que vão a pé ao santuário. Fonte: H2O News e Santuário de Fátima

PEREGRINAÇÃO NACIONAL A Fundação AIS tem a honra de convidar todos os seus amigos e benfeitores a participar na Peregrinação Nacional que terá lugar em Fátima, dia 16 de Setembro (Domingo). VALOR: € 15,00 por pessoa (inclui almoço e lanche no Hotel Steyler - Praça Paulo VI) DATA LIMITE DE INSCRIÇÃO: 31 de Agosto Caso esteja interessado, por favor, entre em contacto connosco: Tel. 21 754 40 00 (de 2ª a 6ª feira, das 09h00 às 18h00) ou apoio@fundacao-ais.pt Queremos celebrar consigo. Este convite é extensível aos seus familiares e amigos. CONTAMOS COM A SUA PRESENÇA NESTE DIA ESPECIAL! Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

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Destaque

BLOCO DE NOTAS

FÁTIMA Sabemos que ninguém pode ou deve caminhar sozinho, caminhamos juntos como povo de Deus a caminho da terra prometida. ‘Apesar de negra e escura, Deus enfeita a terra com um manto de santidade’ afirma o Padre Werenfried, fundador da AIS. O trabalho da Fundação segundo ele ‘é tecer uma parte desse manto com fios de amor e gratidão’. A ajuda dos amigos do Céu é essencial para quantos ainda caminhamos na terra, neste vale de lágrimas, no meio de perseguições.

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SEMENTES DE ESPERANÇA - Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre PROPRIEDADE Fundação AIS DIRECTORA Catarina Martins de Bettencourt REDACÇÃO E EDIÇÃO Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, scj, Maria de Fátima Silva, Alexandra Ferreira FONTE L’Église dans le monde – AIS França FOTOS © AIS; © Petits frères de Jésus; © Transfiguração, Giovanni Bellini

CAPA PERIODICIDADE IMPRESSÃO PAGINAÇÃO DEPÓSITO LEGAL ISSN

Transfiguração, Lewis Bowman 11 edições anuais Gráfica Artipol JSDesign Isento de registo na ERC ao 352561/12 abrigo do Dec. Reg. 8/99 2182-3928 de 9/6 art.º 12 n.º 1 A

Rua Professor Orlando Ribeiro, 5 D, 1600-796 LISBOA Tel 217 544 000 | IBAN: PT50 0269 0109 0020 0029 1608 8 fundacao-ais@fundacao-ais.pt | www.fundacao-ais.pt


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