Sementes de Esperança Julho - Agosto 2016

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S E M E N T E S DE ESPERANÇA JULHO-AGOSTO 2016

| Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

© Bradi Barth


Intenções de Oração do Santo Padre Intenção Geral Julho | Respeito pelos povos indígenas

Para que os povos indígenas, ameaçados na sua identidade e existência, sejam respeitados. Agosto | Fraternidade no desporto

Para que o desporto seja uma oportunidade de encontro fraterno entre os povos e contribua para a causa da paz no mundo. Intenção Missionária Julho | Missão na América Latina e Caraíbas

Para que a Igreja na América Latina e Caraíbas, através da sua missão continental, anuncie o Evangelho com renovado vigor e entusiasmo. Agosto | Viver o Evangelho

Para que os Cristãos vivam o seguimento do Evangelho dando testemunho de fé, de honestidade e de amor pelo próximo.

Agosto O sofrimento dos mártires redunda no benefício de todos Cristo recusa-Se a pertencer ao passado. Ele quer ser mais do que uma sombra saída de uma parábola de há dois mil anos. Quer ser nosso contemporâneo. Quer continuar, vivendo na Sua Igreja. O que antes Ele fez na Sua própria figura, quer repeti-lo, até ao fim dos tempos, em todos aqueles que trazem o Seu nome e se nutrem com Seu santíssimo corpo e sangue. Ele quer romper os limites da Sua existência histórica a fim de, por amor a Seu Pai, buscar sempre de novo, inclusive nos dias de hoje, o Seu rebanho perdido. Por isso, o Redentor pede-vos e a mim que Lhe emprestemos uma figura viva, para que Ele possa novamente ir pelo mundo, como o bom samaritano, o pai do filho pródigo, como o amigo dos publicanos e pecadores, como o bom pastor e como o protector dos oprimidos. Pe. Werenfried van Straaten A oração é um dos pilares fundamentais da nossa missão. Sem a força que nos vem de Deus, não seríamos capazes de ajudar os Cristãos que sofrem por causa da sua fé. Para ajudar estes Cristãos perseguidos e necessitados criámos uma grande corrente de oração e distribuímos gratuitamente esta Folha de Oração, precisamente porque queremos que este movimento de oração seja cada vez maior. Por favor, ajude-nos a divulgá-la na sua paróquia, nos grupos de oração, pelos amigos e vizinhos. Não deite fora esta Folha de Oração. Depois de a ler, partilhe-a com alguém ou coloque-a na sua paróquia.

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Sementes de Esperança | Julho-Agosto 2016


Reflectir INTENÇÃO NACIONAL Para que, em resposta ao apelo do Papa Francisco, cada cristão e cada homem de boa vontade cultive, de modo permanente, uma obra de misericórdia, começando por dar, com esta intenção, de beber a quem tem sede de justiça e de paz.

A carícia de Deus O Papa Francisco poderá ficar na história

padece da «fragilidade» que o amor, por

da Igreja como o «Papa da Misericórdia»

mais forte que seja, em si mesmo contém.

à qual ele não se cansa de apelar a toda a

O perturbador do amor, aquele que cada

Igreja, no seu conjunto, e a cada cristão e

um de nós mais ou menos sente, é ser

crente ou mesmo simples homem de boa

expressão da nossa fragilidade e por isso

vontade, consciente que está de duas coi-

é que nos surpreende que aquilo que todo

sas fundamentais: que nós precisamos da

o homem mais anseia e que parece mais

misericórdia de Deus, antes de mais; mas

simples, é, afinal, o que há de mais difícil,

que precisamos também da «misericórdia

o que significa que as coisas simples não

dos outros».

são necessariamente fáceis. Ora quando

A primeira afirmação parece óbvia, na medida em que todos sabemos, por experiência e por observação, que somos «pecadores», em maior ou menor grau,

nós evocamos a «misericórdia em Deus» será que isso pode significar que também Deus «precisa» da nossa misericórdia, tão necessária para Ele como para nós?

isso tanto faz, ou, mesmo que não seja

A história da salvação, tal como a pode-

esta a razão conscientemente primária,

mos ler tanto nas Sagradas Escrituras como

é consolador saber que o Deus em que

na história da santidade, parece ir nesta

acreditamos não é um ser abstracto, mas

direcção: também Deus «precisa» da nossa

concreto, que «sente» interiormente a

«misericórdia». De facto, que outro sentido

Sua relação com o mundo, e, mesmo se

poderiam ter todas as lamentações que

é omnipotente, porque criador do mundo,

d’Ele escutamos através dos profetas?

Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

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Líbano Que sentido podem ter as «lamentações»

divina; e precisamos de nos sentir consola-

de Jesus a Santa Margarida (1647-1690)

dos quando queremos bem aos outros por

quando Lhe revela o profundo sofrimento,

aquilo que são e não por aquilo que nos

que atinge o Seu adorável Coração, porque

podem dar: os homens valem por aquilo

o Seu amor não é correspondido: «Eis o

que «são» e não pelo que «têm»!... E foi

Coração que tanto amou os homens e que

assim; é assim que Deus nos ama, pois, de

não recebe da maior parte deles senão

facto, que Lhe podemos dar, senão retri-

ingratidão?»; que outro sentido poderá

buir-lhe com os mesmo dons e as mesmas

ter a mensagem do Anjo de Portugal aos

palavras com que Ele nos cumula: se Deus

Pastorinhos no ano de 1916, em Fátima,

nos ama assim é então porque nós somos

quando os convidava a «consolar Deus»:

para Ele o Seu «bem»!...

«consolai o vosso Deus», dizia ele. Então Deus está sozinho, precisa de consolação? E que sentido tem a afirmação do menino Beato Francisco quando, nas vésperas da sua morte, respondia à Lúcia: «No céu não me cansarei de ‘consolar Deus’. O que desejo é consolá-Lo e é mais importante para mim consolá-Lo do que rezar pela conversão dos pecadores»!

Tem razão o Papa Francisco: precisamos da misericórdia de Deus quase em igual medida com que precisamos da misericórdia dos outros; porque a misericórdia, a divina sobretudo, mas também a humana, é como que a «carícia de Deus» e daqueles que nos querem bem, que torna a nossa vida, mesmo nas tribulações e nos sofrimentos, docemente suave.

Nós precisamos da consolação de Deus,

Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, scj

que este é um dos sentidos da misericór-

Assistente Espiritual da Fundação AIS

dia, porque muitas vezes nos sentimos sós e precisamos da Sua consolação sobretudo nos momentos mais sérios e densos da nossa vida, nas duas grandes horas que a demarcam: esta hora e a hora da nossa morte. E precisamos da «consolação» dos outros, acolhidos como dom, como dádiva 4

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Líbano Superfície 10.452 Km2

• Turquia

População 4 milhões Religiões Muçulmanos: 61,3 % Cristãos: 38,3 % (maioritariamente católicos)

• Síria

Mediterrâneo

• Libano • Iraque

Outros: 0,4 % Israel •

Língua oficial Árabe Línguas usuais Árabe libanês, francês, inglês

• Egipto

• Jordânia • ArábiaŁ Saudita

Mar Vermelho

LÍBANO

UM PAÍS COM MÚLTIPLOS DESAFIOS Desde 2011, e com as várias revoluções da primavera árabe, o Médio Oriente atravessa um período extremamente conturbado. Todos os países foram afectados: alguns foram invadidos pelo Daesh (Iraque e Síria), outros com milhões de pessoas deslocadas como o Líbano, país onde a Igreja desempenha um papel importante. Devido a que milagre é que este país que esteve em guerra de 1975 a 1990 e que está hoje invadido por milhares de refugiados consegue ainda ter estabilidade? A presença ainda muito visível da Igreja desempenha, indubitavelmente, um papel fundamental para a manutenção da paz. Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

A IGREJA OU AS IGREJAS? Falar da Igreja do Líbano como falamos da Igreja em França não reflecte a realidade. É preciso falar “das Igrejas”, porque há mais de dezoito ritos orientais católicos e ortodoxos que se misturam na paisagem libanesa. Cada comunidade tem o seu 5


Líbano Soldados e armas fazem novamente parte da paisagem do Líbano.

Dezoito ritos diferentes constituem a Igreja do Líbano.

patriarca, os seus bispos, o seu clero, as suas igrejas, os seus ritos ancestrais e um povo de fiéis agarrados às suas tradições. Algumas comunidades, como os sírio-católicos, têm menos de 200 mil fiéis no mundo por oposição aos 15 milhões de maronitas! Ficamos ao mesmo tempo maravilhados com estes ritos identitários fortes expressos por liturgias magníficas e assutados perante estas divisões suicidas num mundo muçulmano claramente dividido, mas nitidamente superior em número.

UM CHOQUE DEMOGRÁFICO É aí que reside o maior desafio da Igreja no Líbano: como resistir ao esmagamento demográfico dos muçulmanos sunitas e xiitas? Os números são eloquentes: em 1860, no dia seguinte ao massacre dos cristãos pelos druzos, o Líbano tinha 207 mil maronitas, 17 mil xiitas e 30 mil sunitas. Um século e meio mais tarde estão recenseados 420 mil maronitas, 1,3 milhões de xiitas e 800 mil sunitas. As famílias cristãs têm claramente menos filhos que os seus vizinhos muçulmanos, muitas vezes devido 6

a interesses económicos: querem dar aos seus filhos estudos superiores muito caros e garantir-lhes um nível de vida elevado. Bento XVI denunciava frequentemente esta apetência para uma vida confortável e materialista. Estas mesmas famílias decidiam também emigrar, sempre com o objectivo de dar aos seus filhos o que pensavam ser o melhor para o seu futuro. Outro desafio económico: o dinheiro enviado pela Arábia Saudita para a construção de mesquitas é bem mais avultado que as somas da diáspora libanesa para a (re)construção de igrejas. As comunidades cristãs resistem conservando ciosamente a sua terra e até dispostas a comprar, sempre que possível, um pequeno pedaço de terreno.

A CHEGADA DOS REFUGIADOS SÍRIOS Desde há dois anos, que cerca de um 1,6 milhões de refugiados sírios desembarcaram no Líbano, ou seja 40% da população. Como os Libaneses gostam de dizer: que Sementes de Esperança | Julho-Agosto 2016


Líbano Família de refugiados iraquianos apoiada pela Igreja.

diríamos nós se a França chegassem, em poucos meses, 20 milhões de refugiados? No Líbano estes refugiados são, na sua maioria, mulheres e crianças, dos quais mais de 90% são de origem sunita. Os Libaneses enfrentam a situação de maneira corajosa, quando nos lembramos que de 1975 a 1990 o Líbano esteve em guerra contra o invasor sírio… Face a este afluxo, são múltiplas as consequências na vida quotidiana: um mercado de emprego que favorece o mercado negro e penaliza fortemente os Libaneses, e uma poluição muito grande nas cidades, com problemas ligados à acumulação de aterros selvagens. A vaga do lugar de presidente da república (ver caixa) não facilita nada. Demograficamente, há 65 a 75 mil bebés refugiados nascidos no Líbano que não têm nenhum documento de identificação (em comparação com os 50 mil bebés libaneses nascidos no mesmo período). A onda demográfica, que começou com um desequilíbrio nos nascimentos entre famílias muçulmanas e cristãs, continua. Hoje, estes refugiados vivem, um pouco Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

Milhares de crianças refugiadas nascidas nos campos carecem de documentos de identidade.

por todo o lado, em pequenas comunidades, em bairros da lata ou em alojamentos muito precários. Os Libaneses recusam-se a criar campos para não reproduzir o esquema dos campos palestinianos de 1950 que são hoje, na realidade, campos permanentes e sobretudo zonas sem direitos. Calcula-se que mais de 500 mil palestinianos vivam nestes campos.

COMO PODE A IGREJA ACTUAR? A resposta de todos os bispos é unânime: é preciso catequisar sem cessar, receber os refugiados e apoiar a comunidade cristã na sua fé. Face a esta urgência, todos os bispos das dezoito confissões cristãs reúnem-se, uma vez por ano, a fim de definir uma estratégia e uma solidariedade eficazes entre as comunidades. Para isso, é preciso começar com um inventário sem concessões. Aquando do encontro de Novembro de 2015, a inquietação era palpável. O Mons. Casargi, Bispo dos Caldeus, foi muito claro: “Há, pura e simplesmente, uma guerra contra os Cristãos do Médio Oriente.” Face a esta constatação, os bispos devem demonstrar 7


Líbano Beirute, bairro de refugiados sírios.

que estão unidos e falar a uma só voz para mostrar comunhão entre as Igrejas. Algumas ideias concretas traduzem já esta unidade. O seminário patriarcal maronita de Ghazir acolhe conjuntamente, de há dois anos para cá, seminaristas caldeus (do Iraque) sírios e maronitas (ver caixa). O seminário não só está cheio como, no início das aulas em 2015, teve de recusar quarenta e cinco seminaristas! É um sinal vivo da vitalidade da Igreja no Líbano, que desfaz muitas inquietações quanto à sobrevivência da Igreja no Médio Oriente. Todavia, a urgência a curto prazo diz respeito aos refugiados. Cada bispo acolhe e ocupa-se de cristãos refugiados da sua própria comunidade (arménios, greco-católicos…) que chegam todos os dias ao Líbano. Há muitas necessidades: é preciso cuidar das crianças, tratar dos doentes, alojar as famílias, etc. O equilíbrio é frágil. Os refugiados encaram a sua vinda para o Líbano como uma escala e procuram obter vistos para a Europa, a Austrália, o Canadá ou os E.U.A. O clero libanês vê, com desolação, a hemorragia crescente de cristãos do Médio Oriente e suplica aos 8

Mons. Raï: “Queremos conservar a nossa identidade.”

países ocidentais que tomem providências para parar com este fluxo migratório que esvazia o Médio Oriente de cristãos.

E A FRANÇA E OS CRISTÃOS? Os bispos interpelam sobretudo a França, quando se referem aos laços históricos que unem os dois países, em especial acerca do problema da protecção dos Cristãos. Os Libaneses não hesitam em relembrar as cruzadas e a visita de São Luís, em 1250, que ofereceu a sua cruz ao Mosteiro de Santo António de Qozhaya (100 km a norte de Beirute). Mais perto de nós, em 1860, Napoleão III enviou o exército para defender os maronitas, após o seu massacre pelos Drusos. E hoje, que faz a França pelos Cristãos do Oriente? Sem entrar em considerações políticas, os bispos libaneses estão preocupados em saber se os Cristãos e os bispos franceses se apercebem que o Médio Oriente está a perder a sua população cristã. Vai ser um drama se o Líbano perder a sua população cristã, porque só os Cristãos fazem a ligação entre as religiões judaica, muçulmana e cristã. Sementes de Esperança | Julho-Agosto 2016


Líbano Foi o sentido da expressão do Papa João Paulo II, em 1997, que tanto marcou os Cristãos do Líbano: “O Líbano é mais do que um país, o Líbano é uma mensagem.” Esta frase sublinhava a coabitação política entre Cristãos e Muçulmanos, que deve ser mantida. Para os outros países muçulmanos, o Líbano continua a ser um mistério, uma vez que o seu presidente é o único não muçulmano (porque é cristão) que participa nas reuniões da organização mundial dos países islâmicos (OCI). Como lembra Mons. Raï, Patriarca dos Maronitas: “Somos o corpo místico de Cristo neste país do Machrek do qual é preciso preservar a existência e defender a missão, e do qual somos os cidadãos originais. Aí queremos preservar a vivência em conjunto com os Muçulmanos na igualdade, respeito mútuo, cooperação e edificação das nossas pátrias e da nossa identidade de Médio Oriente. O Líbano tem um papel dinâmico a desempenhar neste plano, devido à sua situação geográfica na margem Este do Mediterrâneo, ao seu regime político e à sua experiência.” Um grito que também é espiritual e dirigido aos Cristãos de França e da Europa: “Rezem pela paz! Somente a paz e a estabilidade permitirão às famílias desenraizadas regressar a suas casas.” É urgente. Como resposta à pergunta sobre o que nós, cristãos em França e na Europa, podemos fazer, o Mons. Hasham, antigo Núncio dos países do Golfo, afirma com veemência: “Os Muçulmanos gostam de discutir com pessoas fortes. Sejam fortes!” Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

Oração Para que o Líbano e o seu povo continuem a ser abençoados por Deus, para poderem cumprir a sua especial missão no Médio Oriente, nós Te pedimos Senhor!

QUE PRESIDENTE PARA O LÍBANO? É um presidente cristão, o que confere ao Líbano um estatuto internacional particular, dado que os Muçulmanos se recusam, em geral, a ser dirigidos por não-cristãos. Ora, desde Maio de 2014 que o cargo está vago devido à rivalidade entre Samir Geagea (pró-sunita aliado da Arábia Saudita) e Michel Aoun (próximo dos xiitas do Irão). Desde meados de Janeiro de 2016 que Samir Geagea se voltou a aliar a Michel Aoun, mas o presidente ainda não foi eleito, o que desola os bispos do Líbano. O Mons. Hasham, antigo Núncio Apostólico da Península Arábica, lembra que “o primeiro e único papel do Parlamento não é legislar, mas eleger um presidente!”

UM SEMINÁRIO CHEIO! Cento e cinquenta e dois homens dos 20 aos 35 anos cruzam-se, em Ghazir, a norte de Beirute, neste magnífico palácio druso do séc. XVII transformado, em 1943, num seminário jesuíta e depois maronita, em 1975. Entre eles há caldeus, vindos do Iraque, e sírio-católicos. Do programa constam o aramaico (língua de Cristo), o inglês, o francês e também o árabe oficial, porque muitos partem em missão, durante as férias, para os países do Golfo.

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Oração O tempo da liberdade

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ão é questão de ter de fazer, mas de ter de ser. As férias são o tempo da liberdade, não como libertação do estudo ou do trabalho, mas porque obrigam ao esforço e à responsabilidade da liberdade e da sinceridade. É o tempo no qual vem à tona o que queremos de verdade. Há em mim a presença de algo tão real quanto o mar e as montanhas. Eu sou sempre eu. O tempo das férias é o tempo da personalidade. Deve garantir-se a permanência de um critério (momento de fidelidade e de continuidade). Após algum tempo, até mesmo a novidade cessa e provoca o tédio. A novidade é a verdadeira busca do nosso destino. Deve dar-se atenção aos outros. Adaptar-se a um ambiente não quer dizer ceder a ele. Males: - considerar o descanso como um momento de esquecer o que aconteceu antes; - ausência de um programa; - aceitar representar um papel que me torne mais simpático aos que me cercam; - medo de ficar sozinhos, que muitas vezes esconde o medo da responsabilidade pelo tempo. Devem fixar-se alguns momentos de coisas sérias, de oração, ao longo do dia (saber ao encontro do que se vai). É preciso saber retomar sempre. Escrever; encontrar-se nas férias; dispor-se a viver com bondade. Discrição com o ambiente. Evitar certas experiências. Luigi Giussani, Notas de uma Assembleia, 9 de Junho de 1962

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Sementes de Esperança | Julho-Agosto 2016


2016 - Ano Santo da Misericórdia Vestir os nus

N

ão ter roupa ou estar quase nus ou cobertos de farrapos é uma condição que tem importantes conotações psicológicas e espirituais. Na Bíblia, uma boa parte do valor simbólico da nudez é negativa: trata-se da nudez que retira identidade, da nudez do anónimo, do sem dignidade: o escravo que é vendido, o preso privado da liberdade, a prostituta exposta aos olhares de todos, o doente mental que vive numa condição de alienação. A Bíblia mostra particular interesse pela nudez inocente e humilhada do pobre, da vítima, do marginal. A simples referência à mesma significa já dar voz a quem não tem voz e pretende suscitar a compaixão ativa de quem depara com tais situações. Na tradição cristã ocidental, o gesto de vestir os nus é expresso, de um modo conhecido de todos, pelo episódio em que Martinho de Tours corta o próprio manto para reparti-lo com um pobre indefeso dos rigores de um inverno gélido. O revestimento da nudez não se encontra apenas no início da vida humana e da passagem da natureza à cultura, mas também tem uma importância significativa na iniciação cristã, como o denota a antiga práxis batismal (do século III ao século VI). No fim do século IV, na região siríaca, o desenrolar do rito batismal compreendia o ato com o qual o/a neófito/a se despojava das próprias vestes e as espezinhava; a unção do seu corpo nu; a imersão (ainda completamente nu) nas águas batismais; e, por fim, o ato pelo qual, tendo saído da piscina, o neobatizado era revestido com uma túnica branca. A nudez gloriosa de Cristo morto (na cruz, o condenado estava completamente nu, para significar a sua indignidade) e ressuscitado reveste e protege o recém-batizado, que agora sabe que já se encontra mergulhado numa vida nova, tendo-se «revestido de Cristo»: «Batizados em Cristo, revestiste-vos de Cristo» (Gálatas 3, 27). Luciano Manicardi, A caridade dá que fazer: Redescobrindo a actualidade das ‘obras de misericórdia’, 2015 Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

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2016 - Ano Santo da Misericórdia

“Já ouviram falar do Ninho? É uma Associação espantosa que tem a porta aberta para acolher as mulheres que precisam de ajuda, nos caminhos da rua que percorrem constantemente. Os companheiros também podem bater à porta, podem entrar, há sempre alguém que escuta, compreende, respeita e descobre caminhos ainda não andados e que são salvadores.” Padre Vítor Feytor Pinto, 2001

QUEM SOMOS? O Ninho é uma Instituição Particular de Solidariedade Social Católica, que surge em Portugal em 1967, seguindo o modelo de O Ninho francês, fundado em Paris pelo Padre André Marie Talvas, em 1936. Tem como objectivo a promoção humana e social de mulheres prostituídas e de mulheres traficadas para fins de exploração sexual.

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No século XXI milhões de crianças jovens e mulheres são traficadas em todo o mundo nomeadamente em Portugal, o que constitui uma clara violação dos Direitos Humanos. 80% são mulheres e meninas traficadas para fins de exploração sexual. Sendo 50% menores de idade e a idade média de entrada para a exploração sexual de 12 anos. Com quase 50 anos de experiência de trabalho junto de pessoas prostituídas e Sementes de Esperança | Julho-Agosto 2016


2016 - Ano Santo da Misericórdia com conhecimento aprofundado do meio prostitucional, o Ninho considera a prostituição uma forma de violência e de escravatura do nosso século, incompatível com a dignidade e com os direitos humanos. O Ninho nasce a partir das necessidades sentidas pelas mulheres prostituídas e estrutura uma metodologia de intervenção que se vai adequando às realidades: Faz também o acompanhamento social das mulheres e seus agregados familiares, que buscam caminhos de mudança e que se traduz num processo metodológico de uma relação contratual, que exige uma relação de proximidade e uma relação afectiva (contrato/afecto) entre os técnicos de O Ninho e as mulheres prostituídas. Ajuda ainda a consciencializar as pessoas prostituídas da sua situação e faz a reinserção através do trabalho, da escolaridade, da promoção individual e de grupo

RESPOSTAS/ SERVIÇOS: > Intervenção em meio prostitucional > Centro de Atendimento > Lar > Oficinas > Reinserção social através de técnicas de manutenção de áreas ajardinadas e espaços verdes > Acompanhamento social das antigas estagiárias > Centro Pedagógico Ocupacional > Apoio psicológico e psicoterapia > Venda de artesanato > Informação

Explorar o corpo reduzi-lo a objecto, é a negação da liberdade. Todos os seres humanos querem amar e ser amados, dar-se e não vender-se. Por isso pensar que a prostituição existiu, existe e existirá sempre é negar ao ser humano os seus direitos, é negar a dignidade, é desacreditar a possibilidade da liberdade existir. Inês Fontinha Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

CONTACTOS Rua Luciano Cordeiro 59, 4º, 1150-212 Lisboa, Portugal Tel: 213 530 273 | Fax :213 527 444 E-mail: geral@oninho.pt www.oninho.pt https//www.facebook.com/associacaooninho

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Actualidade

Queridos amigos, É com muita alegria e emoção que hoje vos escrevo para dizer que o Papa Francisco nos enviou, isto é, enviou a si e a mim, uma vídeo mensagem onde nos convida a “realizar obras de misericórdia, juntamente com a Fundação AIS, em todo o mundo, de modo a socorrer as muitas necessidades de hoje”. Esta mensagem é um desafio para cada um de nós, uma vez que nos pede para fazermos uma obra de misericórdia concreta, para estarmos junto do nosso irmão, para cuidarmos uns dos outros. O desafio do Papa Francisco é claro: precisamos de ter compaixão pelos outros, os mais necessitados, nos lugares onde vivemos, onde trabalhamos ou estudamos, nas ruas que percorremos todos os dias, assim como nas periferias. E estar mais próximo do outro significa também estar atento às suas necessidades - necessidades materiais e espirituais. Esta campanha “Seja a Misericórdia de Deus” é uma campanha internacional que estará a decorrer nos 22 países onde a Fundação AIS está presente durante os próximos quatro meses, de 17 de Junho a 4 de Outubro, com o objectivo de apoiar obras de misericórdia em todo o mundo. Em Portugal, recebemos para esta campanha o Alto Patrocínio da Presidência da República, o que muito nos honra. Serão quatro meses de uma grande viagem de misericórdia em que queremos apoiar e estar junto dos nossos irmãos mais necessitados. A Fundação AIS irá multiplicar as suas acções em todo o país, procurando levar mais longe este desejo do Papa Francisco. 14

Saiba mais sobre a campanha da Misericórdia e veja o vídeo do Papa Francisco em: www.aismisericordia.org Sementes de Esperança | Julho-Agosto 2016


Actualidade Esta campanha está dividida em quatro grandes áreas: necessidade de misericórdia, apóstolos da misericórdia, lugares de misericórdia e frutos da misericórdia. Desde o apoio aos mendigos na Colômbia, à oferta de cabazes alimentares aos refugiados no Médio Oriente, ao trabalho pela Paz e a Reconciliação nos países Africanos que sofrem com a guerra e a perseguição, ao apoio às mulheres com deficiência mental, que são abandonadas praticamente nuas nas lixeiras da Índia - estes são apenas alguns exemplos de projectos que serão apoiados pela Fundação AIS. O primeiro benfeitor da campanha é o próprio Papa Francisco, que confiou um donativo para apoiar os Cristãos iraquianos. O seu donativo será entregue na Clínica de São José, em Erbil, no Iraque, que dá assistência médica gratuita a cerca de 2.800 refugiados por mês, de todas as religiões.

O Papa Francisco quis associar-se com a campanha da misericórdia da Fundação AIS porque, como ele próprio diz na sua vídeo mensagem, “Confio estas obras de misericórdia à Fundação AIS, Ajuda à Igreja que Sofre.” Em anexo segue uma das Obras de Misericórdia que necessita do nosso apoio concreto. No Líbano cerca de 500 refugiados dependem da nossa ajuda para comer. São necessários 1.000€ por dia para os alimentar. Podem contar também consigo? Aqui fica o meu desafio ao desafio que o Santo Padre nos faz: Junte-se a nós nesta viagem da Misericórdia ajudando-nos a sermos a Misericórdia de Deus! Vamos fazer, todos juntos, obras de misericórdia. Muito obrigada!

Directora da Fundação AIS Portugal P.S. Ao apoiar esta iniciativa, o seu nome será inscrito no Livro da Misericórdia que será entregue ao Papa Francisco aquando da audiência para comunicarmos os primeiros frutos desta campanha, em Outubro de 2016. Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

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Destaque

DIÁRIO AMAR “Como seria belo se cada um de vocês pudesse, ao fim do dia, dizer: hoje realizei um gesto de amor pelos outros!” Papa Francisco

Diário jovem, com folhas pautadas, para registar os pensamentos, inspirações e acontecimentos marcantes do dia-a-dia. Capa dura Formato: 15 x 21,5 cm 144 páginas

Cód. DI085

€ 5,00

SEMENTES DE ESPERANÇA - Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre PROPRIEDADE Fundação AIS DIRECTORA Catarina Martins de Bettencourt REDACÇÃO E EDIÇÃO P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj, Maria de Fátima Silva, Alexandra Ferreira, Ana Vieira e Pilar Rocha FONTE L’Église dans le monde – AIS França FOTOS © AIS; O Regresso do Filho Pródigo, Murillo

CAPA PERIODICIDADE IMPRESSÃO PAGINAÇÃO DEPÓSITO LEGAL ISSN

© Bradi Barth 11 edições anuais Gráfica Artipol JSDesign 352561/12 2182-3928

Isento de registo na ERC ao abrigo do Dec. Reg. 8/99 de 9/6 art.º 12 n.º 1 A

Rua Professor Orlando Ribeiro, 5 D, 1600-796 LISBOA T el 21 754 40 00 • Fax 21 754 40 01 • NIF 505 152 304 fundacao-ais@fundacao-ais.pt • www.fundacao-ais.pt


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