Folha de Oração | JulhoAgosto 2017

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Julho/Agosto 2017

Sementes de

Esperança Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre


Intenções de Oração do Santo Padre Intenção Geral

Julho Pelos nossos irmãos que se afastaram da fé, para que, através da nossa oração e do nosso testemunho evangélico, possam redescobrir a proximidade do Senhor misericordioso e a beleza da vida cristã. Agosto Pelos artistas do nosso tempo, para que, através das obras do seu engenho, ajudem todas as pessoas a descobrir a beleza da criação.

DEUS AMA AS CRIANÇAS Deus é amigo dos pequeninos. Por mais que nós nos possamos comover, quando descobrimos, nos olhos de uma criança, um vestígio do paraíso perdido, não é nada em comparação com o que o Senhor sente quando vê a pureza do próprio ser reflectida nos olhos delas. Ele alegra-Se na sua vivacidade e luminosidade. Por isso, não quer que se impeça às crianças, a quem pertence o Reino do Céu, de chegar a Ele. E a Sua maior expressão de ternura, que nos foi transmitida, é com aquele menino desconhecido que Ele tomou em Seus braços (cf. Mc 9,36). Ele amava as crianças de forma tão intensa, que Se identificava totalmente com elas: “Quem receber um destes meninos em meu nome é a mim que recebe” (Mc 9,37). Assim, Ele prescreve-nos que dispensemos às crianças a mesma veneração, cuidado e amor que Lhe devemos. E, prevendo o que corruptores sem escrúpulos fariam aos Seus pequenos protegidos, lançou ao mundo estas terríveis palavras: “E se alguém escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor seria para ele atarem-lhe ao pescoço uma dessas mós que são giradas pelos jumentos, e lançarem-no ao mar” (Mc 9,42). Pe. Werenfried van Straaten

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Reflectir Intenção Nacional

Para que a estação do Verão, que é também tempo de férias, seja bem aproveitada para um melhor conhecimento de si, descobrindo que o repouso que tranquiliza a alma só em Deus se pode encontrar, Ele que não descansa, que não tem férias.

ATÉ AO FIM DO MUNDO Este ano do centenário das aparições

O que significa dizer que alguém ficará

deve ser bem aproveitado para vermos

no Purgatório até ao fim do mundo?

até que ponto temos interiorizado a Mensagem de Fátima. Que ela seja digna de crédito, aí está o testemunho dos Pastorinhos, a sua vida de santidade, agora confirmada pela Canonização do Francisco e da Jacinta; aí estão as visitas dos Papas recentes, de Paulo VI ao Papa Francisco; aí estão as três rosas de ouro oferecidas ao Santuário, por Paulo VI, por Bento XVI e agora pelo Papa Francisco; aí estão as multidões de peregrinos que acorrem ao Santuário para rezarem no lugar que a Virgem Maria santificou com a sua Aparição. Numa das Aparições, Lúcia perguntou a Nossa Senhora acerca de duas suas conhecidas que tinham morrido havia pouco tempo. A resposta de Nossa

A minha resposta é a seguinte: o Purgatório faz parte daquelas grandezas finitas, e neste sentido é uma fase transitória, entre a nossa vida terrena e a visão beatífica, a contemplação de Deus face a face. A Irmã Lúcia diz-nos que o Purgatório é um espaço de tempo de purificação pelo amor, porque só o amor purifica. E esta purificação, pela qual todos temos de passar, durante a vida ou depois da morte, é feita pelo sofrimento, pelas provações, pelas quais se dá a aprendizagem da morte, do morrer para si mesmo, como condição para alcançar o sentido autêntico da vida, segundo aquele adágio popular cheio de sabedoria: pensa na morte e viverás!

Senhora foi que uma delas já se encon-

A Moisés, que pedia a Deus que lhe mos-

trava no Céu, mas que a Amélia ficaria

trasse o Seu rosto, Deus responde: nin-

no Purgatório até ao fim do mundo.

guém pode ver o meu rosto e continuar a

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Reflectir viver (cf. Ex 33,20). O Purgatório é o lugar

até ao fim do mundo, aqui ou depois

onde se dá a necessária purificação,

da morte, se a purificação ao longo da

activa (o que devemos fazer em termos

nossa vida não tiver sido suficiente para

de ascese, de abnegação, de autodomí-

que, totalmente purificados e libertos

nio, de sacrifício) e passiva (aquilo que

dos restos do pecado que nos prendem

vem ao nosso encontro, em termos de

a nós mesmos, possamos contemplar

sofrimento, de provações, de doenças

Deus face a face.

ou de outras situações, que devemos suportar) durante a vida e depois da morte.

Há dois sacramentos que nos permitem participar nesta purificação: o sacramento da Penitência e a Unção dos

Durante a nossa vida, não há situações

doentes. É por estes sacramentos que

definitivas, tudo é passageiro, segundo

o Senhor vai curando as nossas feridas,

o adágio popular: não há mal que sem-

do pecado e da doença, e dando-nos a

pre dure, nem bem que não se acabe.

Paz, aquela Paz que vem de Deus, e que

Na experiência histórica, por mais difí-

nos conforta e nos prepara para viver-

ceis e terríveis que sejam as situações,

mos a comunhão. Mas também temos

não são definitivas, também elas têm

um sacramento que já nos dá uma

um fim; mas também os momentos de

pregustação do paraíso, pois o que é o

felicidade, os poucos que há, são sem-

paraíso senão Deus mesmo? É o sacra-

pre tão fugazes, porque ninguém pode

mento da Eucaristia, o sagrado convívio

dar a ninguém o paraíso neste mundo.

em que aqueles que estão purificados

Então só resta o Purgatório, que é a

podem participar no banquete que

grandeza transitória, passageira, mas

Deus oferece aos Seus filhos.

que caracteriza a nossa vida e que lhe dá sentido: se for vivida como amor, liberta-nos; se não for vivida como

Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, scj Assistente Espiritual da Fundação AIS

amor, oprime-nos. Mas em todo o caso, faz parte das realidades passageiras e por isso termina com o nosso mundo: também nós ficaremos no Purgatório 4

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• EUA

Superfície 27.750 Km2 População 10,7 milhões

Atlântico • México

Religiões Cristãos: 94,35% Católicos: 54,7% Protestantes: 23,3% Outros: 16,35% Espiritistas: 2,71% Outras: 2,94%

• Cuba

Haiti • • República Dominicana

•Honduras

Guatemala •

• Jamaica

• Porto Rico

•Nicarágua Costa Rica • Panamá •

• Venezuela • Colômbia

Língua oficial Francês

• Guiana

Equador • • Brasil

Pacífico

• Peru

HAITI

A AJUDA HUMANITÁRIA: UMA DROGA DURA No dia seguinte ao terrível terramoto de 12 de Janeiro de 2010, que destruiu uma parte da ilha e provocou 300 mil mortos, a ajuda humanitária fluiu em abundância, incluindo a da Fundação AIS. Sete anos depois, é legítimo querer fazer o balanço da reconstrução.

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Haiti Aula de catequese em Jacmel

A constatação é terrível: a ilha do Haiti parece viver do gotejar da ajuda humanitária e, como com qualquer droga, parece que nunca mais vai ser capaz de passar sem ela. É difícil de obter números exactos, mas fala-se em centenas de milhões de dólares americanos injectados todos os anos, o que representaria até 60% do orçamento de funcionamento do país.

Aqui e ali, acendem-se fogueiras para queimar todo o tipo de resíduos: alimentares, plásticos… a electricidade funciona de forma intermitente e não há água corrente habitualmente. O que a torna verdadeiramente na capital de um país pobre. Em que foram gastos centenas de milhões de dólares? Não no saneamento, nem na rede eléctrica ou nas infraestruturas.

E, contudo, quando viajamos pelo Haiti praticamente não encontramos nenhum vestígio desta ajuda. Em Port-au-Prince a circulação é muito difícil e as ruas ficam uma imundície no fim dos mercados.

Por fim, quem lucra com esta situação? A resposta dos bispos é unânime: os Americanos que, já presentes no Haiti, tomaram o poder no dia seguinte ao sismo e injectam a sua ajuda.

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Haiti Uma religiosa distribui mensagens de apoio da Fundação AIS

Um primeiro sinal que não engana: a embaixada americana no Haiti é a segunda maior do mundo (para um país com 11 milhões de habitantes!). O dinheiro das ONG ou das instituições internacionais (Banco Mundial e outros) não é gerida pelos Haitianos mas pelos expatriados que lá se encontram e cuja maioria é americana, com um nível de vida conforme as normas ocidentais. A questão que se põe é: terão eles algum interesse que o Haiti saia da situação em que se encontra? Segundo sinal: a onda de seitas evangélicas americanas que Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

desafiam a Igreja no seu próprio terreno e que já converteram 30% da população. Estas seitas têm muito dinheiro e há uma verdadeira corrida entre Católicos e Protestantes à construção de igrejas e capelas onde se reunirão os fiéis. Porquê esta dominação do Haiti? A localização geográfica do Haiti, face a Cuba e a menos de 1 hora de avião de Miami, faz dela um lugar estratégico para o controlo e a vigilância desta zona. O Haiti servirá simultaneamente de corredor para a passagem de terroristas (alguns kamikaze do 11 de Setembro terão entrado nos EUA pelo Haiti) e para 7


Haiti Catedral de Port-au-Prince

a chegada da droga proveniente da Colômbia. E também muitos vivem confortavelmente com esta situação. Um exemplo: os importadores instalados em Port-au-Prince arrecadaram 200 milhões de dólares em 2009-2010.

O Haiti importa arroz, café, cacao… Mas porquê falar de droga no caso da ajuda humanitária? Simplesmente porque o país hoje não pode passar sem ela, exige-a cada vez mais e os “fornecedores” não fazem nada para travar a 8

situação. Por exemplo, vejamos o sector alimentar. Como acreditar que hoje o Haiti seja obrigado a importar arroz, café e cacau quando há cinquenta anos era um dos seus principais produtores? Nada se faz para desenvolver a agricultura local e os Haitianos continuam a ser beneficiários da ajuda internacional e não actores do desenvolvimento da sua ilha. Tal como para qualquer outra situação de dependência, a única solução é o desmame! Mas será o Haiti capaz de encontrar um candidato capaz de dizer não a todo esse maná e de explicar ao seu povo que Sementes de Esperança | Julho/Agosto 2017


Haiti Um autocarro chamado “Jesus”

possui os recursos necessários a uma justa independência? Da mesma maneira, as ONG e outras instituições internacionais não poderiam explicar ao Haiti que a sua ajuda vai diminuir progressivamente para que os Haitianos sejam autónomos? Isso poria em causa a própria existência de algumas das suas estruturas. Enfim, isto coloca-nos, a nós Obra da Igreja, questões fundamentais sobre a gestão da nossa ajuda. Sim, temos de ajudar o Haiti vítima de catástrofes naturais (sismos, Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

ciclones), mas a nossa ajuda deve ser orientada, decrescente e isso desde o início das negociações. É a escolha que a Fundação AIS fez, da qual os bispos haitianos são os interlocutores privilegiados. São eles que escolhem as prioridades de financiamento para a sua diocese, de acordo com um orçamento bem definido.

Oração Para que o Haiti se torne uma nação autónoma e responsável na sua gestão, e sempre temente e fiel a Deus, nós Te pedimos Senhor! 9


Oração

LADAINHA DO PRECIOSÍSSIMO SANGUE DE JESUS Senhor, tende piedade de nós. Jesus Cristo, tende piedade de nós. Senhor, tende piedade de nós. Jesus Cristo, ouvi-nos. Jesus Cristo, atendei-nos. Pai dos Céus que sois Deus, tende piedade de nós. Filho Redentor do mundo que sois Deus, tende piedade de nós. Espírito Santo que sois Deus, tende piedade de nós. Santíssima Trindade que sois um só Deus, tende piedade de nós. Sangue de Cristo, Unigénito do Pai Eterno, salvai-nos. Sangue de Cristo, Verbo de Deus Encarnado, salvai-nos. Sangue de Cristo, do Novo e Eterno Testamento, salvai-nos. Sangue de Cristo, a correr na agonia sobre a terra, salvai-nos. Sangue de Cristo, a verter na flagelação, salvai-nos. Sangue de Cristo, a emanar na coroação de espinhos, salvai-nos. Sangue de Cristo, derramado na Cruz, salvai-nos. Sangue de Cristo, preço da nossa Salvação, salvai-nos. Sangue de Cristo, sem o qual não há remissão, salvai-nos. Sangue de Cristo, bebida e purificação das almas na Eucaristia, salvai-nos. Sangue de Cristo, manancial de misericórdia, salvai-nos. Sangue de Cristo, vencedor dos demónios, salvai-nos. Sangue de Cristo, fortaleza dos mártires, salvai-nos. Sangue de Cristo, força dos confessores, salvai-nos.

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Sangue de Cristo, fonte de virgindade, salvai-nos. Sangue de Cristo, conforto dos que estão em perigo, salvai-nos. Sangue de Cristo, alívio dos que sofrem, salvai-nos. Sangue de Cristo, consolo das nossas lágrimas, salvai-nos. Sangue de Cristo, esperança dos penitentes, salvai-nos. Sangue de Cristo, consolação dos agonizantes, salvai-nos. Sangue de Cristo, paz e doçura dos corações, salvai-nos. Sangue de Cristo, penhor de vida eterna, salvai-nos. Sangue de Cristo, que libertais as almas do Purgatório,salvai-nos. Sangue de Cristo, digníssimo de toda a honra e glória, salvai-nos. Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, perdoai-nos Senhor. Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, ouvi-nos Senhor. Cordeiro de Deus, que tirais os pecados do mundo, tende piedade de nós. R.: Remiste-nos, Senhor, com o vosso Sangue. V.: E fizestes de nós um reino para o nosso Deus. Oremos: Deus Todo-Poderoso e Eterno, que constituístes o Vosso Filho Unigénito Filho Redentor do mundo, e quisestes ser aplacado com o seu Sangue, concedei-nos a graça de venerar o preço da nossa salvação, e de encontrar, na virtude que Ele contém, defesa contra os males da vida presente, de tal modo que eternamente gozemos dos seus frutos no Céu. Pelo mesmo Cristo, Senhor nosso. Ámen. Sementes de Esperança | Julho/Agosto 2017


Meditação

DESCANSAR O CORPO Submetido durante todo o ano a ritmos que não são os seus, aturdido por ruídos, maltratado por uma alimentação negligente, stressado pela falta de sono... o nosso corpo aspira a reencontrar a sua liberdade, harmonia e beleza. Deus, que no-lo confiou, espera que finalmente cuidemos verdadeiramente dele. E esse poderá muito bem ser o nosso primeiro dever das férias. Uma tarefa que exigirá atenção e delicadeza e que, longe de ser uma preocupação narcísica, nos abrirá a relações abertas e francas. Na condição, como é óbvio, de não substituir um stress por outro, ao submeter o nosso corpo a um ritmo de actividades desenfreadas dominadas pela preocupação de obter resultados. Comecemos por escutar o nosso corpo e por o deixar viver, respirar, dormir, mexer ao seu ritmo. Tal como é, é um dom de Deus que nos personaliza e nos situa no mundo, como o corpo de Jesus nascido de Maria incarnou o Verbo de Deus na nossa história. É inimaginável que Jesus não tenha cuidado do corpo que lhe iria permitir exprimir o seu amor pelo Pai e pelos seus irmãos. Foi através dele que pôde traduzir o seu terno reconhecimento por Maria e por José, o seu afeto pelo discípulo que amava, por Marta, Maria, Lázaro e tantos outros, a sua solicitude atenta pelas multidões sem pastor. Saibamos, nós também, cuidar e reconhecer este dom de Deus que nos dá uma fisionomia entre os nossos irmãos. No termo da sua vida, Francisco de Assis acusava-se de ter cometido uma falta grave ao menosprezar este dom de Deus. O nosso corpo situa-se no espaço e no tempo em que somos chamados a engrandecer. Não esqueçamos que o nosso crescimento humano se realiza através dele. Se queremos aproveitar este tempo de férias para nos tornarmos mais homens ou mulheres, tudo o que fizermos para o descontrair, fortalecer e harmonizar ajudar-nos-á a sentirmo-nos responsáveis por nós próprios e pelo nosso progresso humano. Ao acolhermos e desenvolvermos o nosso corpo, é toda a nossa personalidade que progride. Saibamos fazê-lo com sabedoria e constância. Este corpo, que consideramos frequentemente sob a única perspetiva da saúde ou dos prazeres que dele podemos extrair, revela-se rico de potencialidades espirituais. Ele pode, por exemplo, tornar-se aliado da nossa oração. Temos muitas dificuldades em fixar o nosso espírito, em manter um olhar contemplativo sobre uma cena evangélica; deixemos que o nosso corpo nos apazigue. Peçamos-lhe, através de uma atitude calma, relaxada, de um ritmo respiratório controlado, de nos assemelharmos, de nos unificarmos no acolhimento da Palavra de Deus. Não há nenhuma tradição espiritual que não sublinhe o lugar do corpo na oração. Aproveitemos este tempo de férias para o convocar a participar na oração; cedo nos aperceberemos dos benefícios. A verdadeira interioridade começa com o recolhimento do corpo. (…) Aproveitemos este tempo de repouso para educar o nosso corpo a tornar-se agradável aos outros através de um sorriso acolhedor, um olhar benevolente, uma voz harmoniosa, com gestos de afecto e ternura respeitosos e verdadeiros. Não se trata de construir um corpo atlético capaz de prodígios físicos; trata-se de procurar um desabrochar que terá o valor da eternidade. Pe. Michel Rondet, SJ

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FÁTIMA, SINAL DE ESPERANÇA PARA O NOSSO TEMPO Carta Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa no Centenário das Aparições de Nossa Senhora em Fátima (Continuação)

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Actualidade

Ícone de ternura e de misericórdia: a presença de Maria O protagonismo de Deus Trindade na nossa história, a sua proximidade e a sua providência tornam-se visíveis na Virgem Maria, de modo mais concreto no seu Coração Imaculado. Para os pastorinhos, o coração da Senhora era o Santuário do seu encontro com Deus: «Não nos diz o Sagrado Evangelho que Maria guardava todas as coisas em Seu coração? E quem melhor que este Imaculado Coração nos poderia descobrir os segredos da Divina Misericórdia?». Esse coração é o “lugar” onde experimentavam a luz divina e a mensagem lhes era comunicada: «O que seria, se soubessem o que Ela nos mostrou em Deus, no seu Imaculado Coração, nessa luz tão grande!». A misericórdia de Deus, o palpitar do seu coração diante dos pecadores e dos desgraçados, encontra um ícone privilegiado no coração de Maria. Neste coração imaculado reflete-se a força da graça, a ação do Espírito, que no momento da anunciação a cobriu com a sua sombra, e já desde a sua conceção tinha antecipado nela a ação redentora do mistério pascal: é eleita para ser «Mãe de Deus “toda santa” e “imune de toda a mancha de pecado”, visto que o próprio Espírito Santo a modelou e dela fez uma nova criatura». O coração da Mãe é verdadeiramente ícone da «graça e misericórdia», as palavras que, na aparição de Tuy, em 13 de junho de 1929, ilustram a visão da Trindade, que Lúcia acolhe; duas palavras que tão bem condensam a mensagem de Fátima. Por isso, a devoção ao Imaculado Coração de Maria converteu-se num traço característico da espiritualidade de Fátima. Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

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Actualidade

O facto de Maria se tornar presente corresponde ao dinamismo da história da salvação e ao papel que a Virgem desempenhou no mistério da encarnação. Tendo colaborado de forma totalmente singular com a obra do Salvador, a sua missão maternal para com os homens perdura sem cessar na economia da graça. Com a sua assunção aos céus, não abandonou esta missão: continua, com mais intensidade, a cuidar dos irmãos de seu Filho que peregrinam neste mundo, entre angústias e perigos, e procura, com a sua intercessão, alcançar os dons da salvação, mostrando assim a eficácia da mediação única e insuperável de Jesus Cristo. A partir do seu estado glorioso, Maria mostra, nas suas aparições, o significado sempre permanente da Páscoa, o constante triunfo da graça e da misericórdia. Deste modo, na Virgem Maria, no seu coração materno, transparece a vontade misericordiosa de um Deus Trindade que não é indiferente à situação das suas criaturas, que não abandona o pecador na sua culpa, que não esquece os desgraçados no seu sofrimento, que não ignora as vítimas e os excluídos, que sempre oferece o seu perdão e a sua consolação, que abre sempre a porta da esperança, quando os seres humanos se fecham no seu egoísmo ou na sua inconsciência.

O convite à conversão e ao combate contra o mal: uma mensagem profética De entre os sinais dos tempos, afirmou São João Paulo II, «sobressai Fátima, que nos ajuda a ver a mão de Deus, guia providente e Pai paciente e compassivo também deste século XX». Por sua vez, Bento XVI reforçou este aspeto dizendo que Fátima é a «mais profética das aparições modernas». De facto, denuncia as máscaras do 14

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Actualidade

mal, que provoca no mundo tanta dor injusta e atinge, por vezes, os membros da Igreja: por um lado, os mecanismos que conduzem à guerra, o ateísmo que quer apagar as pegadas de Deus neste mundo, os poderes económicos que não buscam mais que o seu próprio benefício à custa dos pobres e dos débeis, a perseguição contra a Igreja e contra os santos que se opõem aos ídolos criados pelos interesses humanos; por outro lado, a hipocrisia ou a infidelidade daqueles que, na Igreja, se deixam dominar pela apatia ou pelo espírito mundano: a comodidade, a corrupção ou a busca de poder. O sofrimento da Igreja, dizia Bento XVI a caminho de Fátima, vem também do pecado que existe na Igreja, pelo que necessitamos de aprender a penitência, aceitar a purificação, pedir perdão. A mensagem de Fátima é um veemente apelo à conversão e à penitência. O pedido repetido para que os homens não ofendam mais a Deus, a tristeza de Nossa Senhora como expressão da não indiferença diante dos pecados cometidos, o convite à oração e ao sacrifício pelos pecadores são simultaneamente denúncia do mal, apelo à conversão e afirmação categórica do amor de Deus. Como afirmava o cardeal Ratzinger, no comentário teológico ao segredo de Fátima, a «palavra-chave desta [terceira] parte do ‘segredo’ é o tríplice grito: “Penitência, Penitência, Penitência!” Volta-nos ao pensamento o início do Evangelho: “Pænitemini et credite evangelio” (Mc 1, 15). Perceber os sinais do tempo significa compreender a urgência da penitência, da conversão, da fé». In http://www.conferenciaepiscopal.pt/v1/fatima-sinal-de-esperanca-para-o-nosso-tempo/ (Ao longo de 2017, ano em que se celebra o 100º Aniversário das Aparições de Nossa Senhora em Fátima, apresentaremos em cada número das Sementes de Esperança um excerto da Carta Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa no Centenário das Aparições de Nossa Senhora em Fátima. Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

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Destaque

O ROSÁRIO COM FRANCISCO E JACINTA “Há 100 anos, a Cova da Iria foi o lugar de um encontro que gerou uma das mais belas histórias de amor do séc. XX: a história de amor entre Deus e os seus “pequeninos” Francisco e Jacinta. (…) Mas o Francisco e a Jacinta, na generosidade com que abraçam este encontro com Deus, assumem este encontro de amizade plenamente ao ponto de através deles vermos o rosto do seu amigo Deus. (…) Rezar o Rosário com o Francisco e a Jacinta será sempre rezar o Rosário em companhia da Senhora mais brilhante do que o sol, aquela que os introduziu à amizade de Deus, e, através do seu olhar, contemplar o rosto do Jesus! Nada de mais expressivo poderia a Fundação AIS oferecer à Senhora do Rosário, no cinquentenário da consagração desta Obra a Nossa Senhora de Fátima. Possa este livro ajudar-nos a aprender com São Francisco e Santa Jacinta de Fátima a encontrarmo-nos, também nós, com Deus, através do Coração Imaculado de Maria!” Ir.ª Ângela de Fátima Coelho, asm Postuladora da Causa dos Pastorinhos

OFERTA

Pagela de oração dos Pastorinhos distribuída no dia da sua canonização em Fátima

in Prefácio do Rosário com Francisco e Jacinta 3ª Edição 124 páginas

Cód. RO003

€ 5,00

SEMENTES DE ESPERANÇA - Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre PROPRIEDADE Fundação AIS DIRECTORA Catarina Martins de Bettencourt REDACÇÃO E EDIÇÃO Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, scj, Maria de Fátima Silva, Alexandra Ferreira FONTE L’Église dans le monde – AIS França FOTOS © AIS

CAPA PERIODICIDADE IMPRESSÃO PAGINAÇÃO DEPÓSITO LEGAL ISSN

Imagem de cálice com o Sangue de Cristo 11 edições anuais Gráfica Artipol JSDesign Isento de registo na ERC ao 352561/12 abrigo do Dec. Reg. 8/99 2182-3928 de 9/6 art.º 12 n.º 1 A

Rua Professor Orlando Ribeiro, 5 D, 1600-796 LISBOA Tel 21 754 40 00 • Fax 21 754 40 01 • NIF 505 152 304 fundacao-ais@fundacao-ais.pt • www.fundacao-ais.pt


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