Sementes de
Março 2017
Esperança Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre
Intenções de Oração do Santo Padre Intenção Missionária
Pela Evangelização: Pelos cristãos perseguidos, para que experimentem o apoio de toda a Igreja na oração e através da ajuda material.
JESUS ABANDONADO Jesus abandonado, completamente só na Cruz, entre o céu e a terra, salvou-nos a todos. Somente se O amarmos e a Ele estivermos unidos, teremos o resgate dos nossos pecados e a chave do Reino dos Céus. A unidade com Ele deve ser, pois, para nós, mais valiosa que todos os tesouros da Terra. Ninguém pode estar unido ao Senhor sem participar do Seu sofrimento e da Sua Cruz. Por isso, a Igreja, em lugar algum, é mais florescente do que onde, por causa de Cristo, é perseguida ou sofre necessidade. E, em lugar algum, ela sofre tanta necessidade como quando se esquiva do abandono do Crucificado. Somente se partilharmos, sinceramente, o sofrimento dos nossos irmãos necessitados, nos quais reconhecemos o Senhor, poderemos unir-nos a Jesus abandonado. E as consequências são incalculáveis. Com Ele teremos Deus, em Quem não encontramos apenas o Céu, com a Santíssima Trindade, mas também a Terra, com toda a humanidade. Nele teremos tudo, porque tudo o que é Seu, será também nosso. Essa opção custa caro. Pois o Senhor crucificado já não sentia a presença de Deus. Só Lhe restaram a dor sem sentido, o fracasso total e a solidão dos que se sentem abandonados por Deus e pelos homens. Também esse sofrimento, que é o preço da nossa redenção, será nosso se amarmos Jesus abandonado na verdade e a Ele estivermos unidos. É lei fundamental do Cristianismo que devemos morrer como o grão de trigo na terra, a fim de frutificar na eternidade. Desta forma, também para nós virá, um dia, a hora do Calvário. Talvez sob a forma de uma enfermidade grave ou quando a morte nos levar a pessoa mais querida; talvez na profunda angústia por um filho que se perdeu; na injustiça ou no fracasso; na solidão da velhice, na pobreza ou, até mesmo, no martírio. Não sabemos a hora do nosso Calvário. Só sabemos que a ninguém Deus dá provações acima das suas forças. Só podemos esperar que a nossa fé resista à prova de fogo do sofrimento. Pe. Werenfried van Straaten
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Reflectir Intenção Nacional
Neste Centenário das Aparições, sejam os Cristãos como os Pastorinhos, disponíveis para se oferecerem a Deus para que o Seu Amor reine em todos os corações.
As consequências da indiferença No dia 11 de Fevereiro é assinalada na liturgia a memória de Nossa Senhora de Lourdes. É também o dia mundial do doente, e em muitas paróquias, se não mesmo em todas, celebra-se o sacramento da Unção dos Doentes, que traz o conforto a quem sofre para que viva em paz todas as saídas possíveis da doença. Mas para Portugal é um dia triste, porque foi nesse dia que há dez anos os Portugueses foram convidados a pronunciarem-se sobre a despenalização do aborto, e 54,4% da população absteve-se, indiferente a um tema tão vital. E porque esta percentagem tão elevada encolheu os ombros como se o tema não lhe dissesse respeito, a aprovação da lei fez com que, dez anos depois, já sejam 160 mil as crianças que não deixaram nascer. Esta indiferença deixa a Igreja muito triste e ela faz sua a voz do profeta que dizia: “Ouviu-se uma voz em Ramá, uma lamentação e um grande pranto: Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre
É Raquel que chora os seus filhos e não quer ser consolada, porque já não existem” (Jr 31,15; Mt 2,18). Não deixamos nascer aqueles que seriam a esperança e conforto dos pais e da sociedade; os santos e os heróis que contribuiriam para a renovação da Igreja e da sociedade segundo o direito e a justiça; deixámos de ser colaboradores de Deus na obra da criação, para sermos cúmplices da civilização e da cultura da morte. Por isso é que a nossa sociedade está triste, doente e deprimida. Que sentido tem então dizer-se que a legalização do aborto pode ter contribuído para melhores condições na saúde pública? Onde estão os católicos, os cristãos e os homens de boa vontade, dado que aqui o que está em jogo não é uma questão religiosa, mas sim um problema humano, transversal a todos os credos e opiniões? Onde 3
Reflectir está o distintivo dos Cristãos que marca a diferença, como no passado e no presente, naqueles que tomam a sério a sua fé? Que medo é esse perante o dom da vida, seja qual for a condição da sua geração, se um filho, desejado ou não, é antes de mais um dom de Deus, que não faz mal à saúde da mãe nem à bolsa do pai? Na antiguidade, como hoje, os Cristãos hão-de distinguir-se dos outros pelo seu testemunho de vida, pela coerência entre a palava que se dá e a fé que se professa. Segundo um texto antigo, a carta a Diogneto, o que distinguia os Cristãos, chamados a ser no mundo o que a alma é no corpo, ou, na linguagem de Jesus, sal da terra e luz do mundo, eram três coisas: não praticavam o aborto, não expunham os recém-nascidos e tinham tudo em comum, menos a cama, ou seja, não praticavam relações imorais. Tertuliano, por sua vez, era testemunha da reacção dos pagãos perante a força dos Cristãos no martírio por causa da fé e o amor fraterno: “vêde como se amam”!
a vida que têm futuro, mesmo se isso passa pelo sofrimento, e pela incompreensão e perseguição do mundo. Em Fátima Nossa Senhora disse aos Pastorinhos: “Quereis oferecer-vos a Deus?... Sim, queremos, responderam as crianças. Tereis muito que sofrer, confirmou Nossa Senhora, mas a graça de Deus será o vosso conforto”. Noutra ocasião disse a Lúcia: “Sofres muito? Não temas, o meu Coração Imaculado será o teu conforto e o caminho que te conduzirá a Deus”. Assim sejamos nós: disponíveis para nos oferecermos a Deus, para a construção de um mundo à imagem do Seu divino Coração. Pois, também a respeito de cada um de nós, Ele tem desígnios de misericórdia, como o Anjo recordava aos Pastorinhos. Não tenhamos medo de estar à altura de corresponder a tão elevada vocação e missão. Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, scj Assistente Espiritual da Fundação AIS
Assim foi no passado, assim é ainda hoje e assim há-de ser no futuro: são aqueles que acreditam e servem 4
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Superfície 27.834 Km2 População 8,9 milhões Religiões Cristãos: 75% Católicos: 60% Protestantes: 15% Religiões tradicionais: 20% Muçulmanos: 3% Outras: 2% Línguas oficiais Francês e kirundi
BURUNDI
UMA IGREJA DETERMINADA… QUANTO AOS SEUS RISCOS E PERIGOS Desde a reeleição considerada inconstitucional do presidente Nkurunziza, em fins de Julho de 2015, o Burundi mergulhou novamente numa crise violenta, logo quando se refazia de uma guerra civil. Com coragem e determinação, a Igreja denuncia os excessos, pronta a opor-se abertamente às classes dirigentes. Situado entre o Ruanda, a Tanzânia e a República Democrática do Congo, o Burundi, estado mais pequeno que a Suíça, encontra-se entre os dez países mais pobres do mundo. Ao mesmo tempo que se refaz de uma terrível Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre
guerra civil entre Hutus e Tutsis que combateu durante quase dez anos, até 2003, paira já no ar o receio de uma nova guerra civil. Em causa a reeleição do presidente Nkurunziza, considerada anticonstitucional. 5
Burundi Corajosamente, a Igreja denuncia a violência e apoia a população.
Pierre Nkurunziza candidatou-se, pela terceira vez, ao cargo de presidente, se bem que a Constituição declare que a presidência está limitada a dois mandatos. A sua candidatura já tinha desencadeado protestos e perturbações políticas na capital deste pequeno país da região dos grandes lagos. Em meados de Maio, uma parte do exército tinha lançado, contra o presidente, uma tentativa de golpe de Estado que fracassou. Na altura, o Governo reagiu com violência contra os manifestantes. No princípio de Agosto a tensão continuava. O general Adolphe Nshimirimana, braço direito do presidente, foi assassinado e, pouco tempo depois, o comandante supremo do exército escapava, à justa, de um atentado. Desde aí, a violência não parou de aumentar, provocando o caos e o medo em todo o país. 6
A IGREJA CONTRA O ESTADO Em Setembro, a Conferência Episcopal tomou claramente posição na crise que atravessa o país onde mais de 90% da população é cristã, sendo 62% católicos. Os bispos exprimiram as suas mais profundas preocupações, numa carta pastoral em que criticam os actos criminosos e “a linguagem difamatória e ameaçadora do poder político”. Apesar do medo de possíveis retaliações por parte do Governo, escrevem numa declaração oficial: “A Igreja Católica não pode participar num processo eleitoral que, visivelmente, não é consensual e apresenta lacunas.” A guerra rebentou. O Pe. Déo Maruhukiro, do Burundi, residente em Fribourg - e portanto livre para Sementes de Esperança | Março 2017
Burundi O país vive no medo e na incerteza.
falar – confirma que “reina no seu país um clima de medo”. “Aquele que ousa criticar o Governo é considerado como um golpista e deve temer pela sua vida”, declara. Os bispos e os padres são constantemente difamados pelos media e totalmente controlados pelo Governo. Durante o dia, a vida parece decorrer normalmente mas, de acordo com o Pe. Déo, quase todas as noites se ouvem tiros na capital, Bujumbura, provocando mortos e feridos. A população vive no medo e na incerteza, também devido a uma grande falta de informação, testemunha o Pe. Niciteretse, secretário-geral da Conferência Episcopal do Burundi. “Excepto a televisão e a rádio ligadas ao partido do poder, só funcionam as estações que emitem do estrangeiro, porque as outras foram todas destruídas. Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre
Trata-se de uma grave limitação, mesmo para a Igreja que só dispõe de um canal – Radio Maria Burundi – para transmitir a sua importante mensagem de paz. Mas, apesar das dificuldades, continuaremos a apoiar a população, a denunciar a violência e a convidar à paz e ao respeito pelos direitos do homem.”
ÊXODO EM MASSA A instabilidade, a grande precariedade, os confrontos e a repressão levada a cabo pelo Governo, provocaram o êxodo de centenas de milhares de habitantes. Segundo as Nações Unidas, desde Maio de 2015 já se refugiaram na Tanzânia, no Ruanda e na República Democrática do Congo mais de 200 mil habitantes. 7
Burundi
Segundo o Pe. Déo, a Igreja é constantemente difamada.
Apesar da violência quotidiana, o abade Joseph-Désiré Nijimbere, da Paróquia de Rutovu na Diocese de Bururi, quer continuar a acreditar no futuro e interromper o ciclo de violência que gangrena o país. “Vivemos num país que conheceu as atrocidades da guerra e cujas consequências continuam a manifestar-se sobretudo nos jovens”, explica. Para contrariar a situação, é indispensável o seu acompanhamento pastoral. É preciso ajudá-los “a superar os obstáculos que criaram clivagens étnicas e raciais para que possam coabitar pacificamente”.
ASSASSINATO DE TRÊS RELIGIOSAS CATÓLICAS NO BURUNDI: MAIS DE UM ANO DEPOIS, O MISTÉRIO CONTINUA POR RESOLVER
Mais de dois anos após o triplo homicídio das religiosas italianas, as Irmãs Olga, 8
A Irmã Olga, de 83 anos, foi barbaramente assassinada a 7 de Setembro de 2014.
Bernadetta e Lucia, em Kamenge, na periferia de Bujumbura, a 7 de Setembro de 2014, persiste o mistério sobre as circunstâncias deste assassinato. Na verdade, foi preso um homem que será, de acordo com as autoridades, o autor dos homicídios mas, dadas as circunstâncias e o perfil deste possível assassino, esta é uma versão pouco convincente. Com, respectivamente, 83, 79 e 75 anos, estas religiosas italianas tinham consagrado a sua vida ao serviço dos pobres, em África, durante mais de quarenta anos.
Oração Para que no clima de medo, incerteza, difamação e violência que se vive no Burundi, a Igreja continue, corajosa e serenamente, a espelhar o rosto de Cristo, nós Te pedimos Senhor!
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Oração
Oração para a Quaresma Senhor, nesta Quaresma, tempo de mergulhar no meu interior, de revisão e de conversão, ensina-me a descer sempre mais até onde Tu te encontras: o meu coração. Como “descer” até aí? Pelo silêncio, encontrando tempo para rezar, pela leitura da Tua Palavra que tanto me quer dizer, pelos Sacramentos, especialmente a Confissão e a Santa Missa. Também pela aceitação das contrariedades, o peso das circunstâncias e da monotonia da vida… com os olhos postos em Ti. Senhor, Tu que estás no meu íntimo, ajuda-me nesta Quaresma, a fazer uma viagem ao meu interior, para aí me encontrar conTigo! Beato Francisco Palau Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre
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QUARESMA
Regressar de todo o coração ao coração de Deus A Palavra de Deus, no início do caminho quaresmal, dirige à Igreja e a cada um de nós dois convites. O primeiro é o de S. Paulo: «Deixai-vos reconciliar com Deus». Não é simplesmente um bom conselho paterno, nem sequer uma sugestão; é uma autêntica e própria súplica em nome de Cristo: «Suplicamo-vos em nome de Cristo: deixai-vos reconciliar com Deus». Porquê um apelo tão solene e fervoroso? Porque Cristo sabe o quanto somos frágeis e pecadores, conhece a fragilidade do nosso coração; vê-lo ferido pelo mal que cometemos e sofremos; sabe quanta necessidade temos de perdão, sabe que nos é necessário sentirmo-nos amados para fazer o bem. 10
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Meditação Sozinhos não somos capazes: por isso o apóstolo não nos diz para fazermos alguma coisa, mas para nos deixarmos reconciliar por Deus, permitir-lhe perdoar-nos, com confiança, porque «Deus é maior que o nosso coração». Ele vence o pecado e ergue-nos das misérias, se lhas confiarmos. Cabe a nós reconhecermo-nos necessitados de misericórdia: é o primeiro passo do caminho cristão; trata-se de entrar através da porta aberta que é Cristo, onde nos aguarda Ele próprio, o Salvador, e nos oferece uma vida nova e feliz. Pode haver alguns obstáculos, que fecham a porta do coração. Há a tentação de blindar as portas, ou seja, de conviver com o próprio pecado, minimizando-o, justificando-se sempre, pensando que não se é pior do que os outros; desta maneira, porém, trancam-se as fechaduras da alma e permanece-se encerrado por dentro, prisioneiro do mal. Um outro obstáculo é a vergonha de abrir a porta secreta do coração. A vergonha, na realidade, é um bom sintoma, porque indica que queremos distanciar-nos do mal; todavia nunca deve transformar-se em temor ou medo. E há uma terceira insídia, a de nos distanciarmos da porta: acontece quando nos fechamos nas nossas misérias, quando nelas ruminamos continuamente, ligando entre elas as coisas negativas, até nos afundarmos nas profundezas mais negras da alma. Chegamos então até a sermos familiares da tristeza que não desejamos, desencorajamo-nos e ficamos mais frágeis diante das tentações. Isto acontece porque permanecemos sós com nós próprios, fechando-nos e fugindo da luz, enquanto apenas a graça do Senhor nos liberta. Deixemo-nos então reconciliar, escutemos Jesus que diz a quem está cansado e oprimido: «Vem até mim». Não permanecer em si próprio, mas ir até Ele. Nele há alívio e paz. (…) O Evangelho que abre a Quaresma [Mateus 6, 1-6. 16-18] convida-nos a sermos seus protagonistas, abraçando três remédios, três tratamentos que curam o pecado. Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre
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Meditação Em primeiro lugar, a oração, expressão de abertura e de confiança no Senhor: é o encontro pessoal com Ele, que encurta as distâncias criadas pelo pecado. Orar significa dizer: «Não sou autossuficiente, preciso de ti, Tu és a minha vida e a minha salvação». Em segundo lugar, a caridade, para ultrapassar a estranheza em relação aos outros. Com efeito, o amor verdadeiro não é um acto exterior, não é dar alguma coisa de forma paternalista para sossegar a consciência, mas aceitar quem precisa do nosso tempo, da nossa amizade, da nossa ajuda. É viver o serviço, vencendo a tentação de se satisfazer. Em terceiro lugar, o jejum, a penitência, para nos libertarmos das dependências em relação àquilo que passa e exercitarmo-nos para sermos mais sensíveis e misericordiosos. É um convite à simplicidade e à partilha: tirar alguma coisa da nossa mesa e dos nossos bens para reencontrar o bem verdadeiro da liberdade. «Regressai a mim – diz o Senhor -, regressai de todo o coração»: não só com algum acto externo, mas da profundidade de nós próprios. De facto, Jesus chama-nos a viver a oração, a caridade e a penitência com coerência e autenticidade, vencendo a hipocrisia. Que a Quaresma seja um tempo de benéfica “poda” da falsidade, da mundanidade, da indiferença: para não se pensar que tudo vai bem se eu estou bem; para compreender que o que conta não é a aprovação, a procura do sucesso ou do consenso, mas a limpeza do coração e da vida; para reencontrar a identidade cristã, isto é, o amor que serve, não o egoísmo que se serve. Coloquemo-nos juntos a caminho, como Igreja, recebendo as cinzas – também nós nos tornaremos cinzas – e tendo fixo o olhar no Crucificado. Ele, amando-nos, convida-nos a deixarmo-nos reconciliar com Deus e a regressar a Ele, para nos encontrarmos a nós próprios. Papa Francisco, Missa de Quarta-feira de Cinzas, 10.2.2016
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FÁTIMA, SINAL DE ESPERANÇA PARA O NOSSO TEMPO Carta Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa no Centenário das Aparições de Nossa Senhora em Fátima No Centenário das aparições da Virgem Maria, em Fátima, desejamos dar graças a Deus por nos permitir viver este acontecimento, que nos enche de júbilo, e reafirmar a atualidade da sua mensagem para a revitalização da nossa fé e do nosso compromisso evangelizador. Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre
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Actualidade
O acontecimento Centenário de Fátima As aparições As aparições tiveram lugar na Cova da Iria, no ano de 1917, com três crianças entre os sete e os dez anos de idade, Lúcia, Francisco e Jacinta, como protagonistas. O contexto nacional e internacional era dramático: Portugal atravessava uma crise política, religiosa e social profunda e a Europa estava, como nunca antes na sua história, imersa numa guerra mundial, em que também o nosso país estava envolvido. No ano de 1916, as mesmas crianças já tinham sido testemunhas de três manifestações de um anjo que se apresentou como Anjo da Paz e Anjo de Portugal. Em 13 de maio de 1917, foram testemunhas da aparição da Senhora «mais brilhante que o sol» no cimo de uma azinheira. Convidou-as a regressar àquele mesmo lugar no dia 13 dos meses seguintes, até outubro. E ao longo destes encontros, comunicou-lhes uma mensagem de misericórdia e paz, depois transmitida através dos interrogatórios a que as crianças desde o princípio foram submetidas e das Memórias escritas pela Lúcia anos mais tarde. Assim que a notícia se divulgou, multiplicaram-se as reações. Muitos acorreram ao local, dando crédito ao testemunho das crianças; mas houve também dúvidas, incompreensões e mesmo perseguições, que tantos sofrimentos causaram aos pastorinhos. Entretanto, eram cada vez mais os que acorriam no dia de cada aparição, sempre a 13 de cada mês, à exceção de agosto, em que a aparição foi adiada uns dias, devido à prisão dos videntes. A última deu-se a 13 de outubro, na presença de cerca de setenta mil pessoas, umas crentes, outras céticas, para verem o sinal prometido pela Virgem, o chamado “milagre do sol”, divulgado pela imprensa da época. Poucos anos depois, os três videntes deixam a sua terra: os dois mais novos, os irmãos Francisco e Jacinta, morrem de uma epidemia de gripe, respetivamente em 1919 e 1920; a sua prima Lúcia, aconselhada pelo bispo de Leiria, afastou-se em 1921 para iniciar a sua formação, acabando por se recolher à vida religiosa. Faleceu em 2005, no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra. A fama de santidade de Francisco e de Jacinta cedo se espalhou pelo mundo inteiro e foram beatificados no ano 2000, sendo as primeiras crianças não-mártires. Em 2008 iniciou-se o 14
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Actualidade processo de beatificação de Lúcia, abreviando, por concessão do papa Bento XVI, os prazos canónicos requeridos. A receção do acontecimento e da mensagem de Fátima No acontecimento de Fátima teve um papel decisivo o sensus fidei dos batizados, cuja função eclesial foi destacada pelo Concílio Vaticano II e revalorizada pelo papa Francisco: «Como parte do seu mistério de amor pela humanidade, Deus dota a totalidade dos fiéis com um sentido da fé – o sensus fidei – que os ajuda a discernir o que vem realmente de Deus. A presença do Espírito confere aos cristãos uma certa conaturalidade com as realidades divinas e uma sabedoria que lhes permite captá-las intuitivamente». O povo fiel de Deus começou desde muito cedo a reunir-se ao pé da azinheira para rezar. E em 1919 torna possível a edificação de uma capelinha, como havia pedido Nossa Senhora. É ele quem responde com atos de desagravo aos ataques e profanações dos adversários, de que é exemplo a dinamitação da capelinha, em 6 de março de 1922. A capela foi novamente reerguida e consagrada em 13 de janeiro de 1923. Paulatinamente, foram-se ampliando e consolidando o culto e as práticas de piedade naquele lugar. Finalmente, o bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva, apoiando-se no Relatório de uma Comissão Canónica por ele nomeada, publicou, em 13 de outubro de 1930, a Carta Pastoral «A Providência Divina» sobre o Culto de Nossa Senhora de Fátima, declarando como dignas de crédito as visões das três crianças e permitindo oficialmente o culto de Nossa Senhora do Rosário de Fátima. Nas palavras do cardeal D. Manuel Gonçalves Cerejeira, «não foi a Igreja que impôs Fátima, foi Fátima que se impôs à Igreja». De facto, a devoção a Nossa Senhora do Rosário de Fátima e a espiritualidade que brota da sua mensagem rapidamente passaram a marcar a pastoral da Igreja em Portugal e em todo o mundo. A mensagem é essencialmente um dom inefável de graça, misericórdia, esperança e paz, que nos chama ao acolhimento e ao compromisso. Esta interpelação à Igreja a que responda ao dom misericordioso de Deus está profundamente vinculada aos dramas e tragédias da história do século XX, mas conserva ainda a mesma força e exigência para os crentes do nosso tempo. Em sintonia com a piedade do nosso povo e sob a iluminação do Espírito Santo, nós, os bispos, sentimos a responsabilidade de aprofundar o significado deste acontecimento, de destacar a sua atualidade para a nossa vida cristã e de explicitar as suas potencialidades para nutrir a nossa conversão espiritual, pastoral e missionária. In http://www.conferenciaepiscopal.pt/v1/fatima-sinal-de-esperanca-para-o-nosso-tempo/ (Ao longo de 2017, ano em que se celebra o 100º Aniversário das Aparições de Nossa Senhora em Fátima, apresentaremos em cada número das Sementes de Esperança um excerto da Carta Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa no Centenário das Aparições de Nossa Senhora em Fátima.) Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre
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Destaque
OS SONHOS DE JOSÉ “José, homem escolhido por Deus para uma missão única e imprescindível, é, juntamente com Maria, o primeiro cristão, o primeiro a viver com e para Cristo, colocando-se inteiramente ao serviço dos planos de Deus. Fazendo seus os sonhos de Deus para a sua vida e para a Humanidade, torna-se, pelas suas virtudes e conduta, um modelo para todos os homens – crentes e nãocrentes. Um modelo para os seres humanos de todos os tempos.” Neste mês especialmente dedicado a São José, sugerimos este livro, com belíssimas ilustrações, e que salienta alguns aspectos relevantes da vida do Santo a partir dos quais podemos entrar em oração. Cód. LI138
Autora: Maria Teresa Maia Gonzalez
€ 5,00
Ilustradora: Isabel Monteiro 96 páginas SEMENTES DE ESPERANÇA - Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre PROPRIEDADE Fundação AIS CAPA DIRECTORA Catarina Martins de Bettencourt PERIODICIDADE REDACÇÃO E EDIÇÃO Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, scj, Maria de Fátima Silva, IMPRESSÃO Alexandra Ferreira PAGINAÇÃO FONTE L’Église dans le monde – AIS França DEPÓSITO LEGAL FOTOS © AIS; Pedro e João correm para o sepulcro após a Ressurreição, ISSN Eugène Burnand; vitral da Igreja de S. Carlos Borromeu em Hollywood
A Cross in a blizzard, Jozef Chelmonski 11 edições anuais Gráfica Artipol JSDesign Isento de registo na ERC ao 352561/12 abrigo do Dec. Reg. 8/99 2182-3928 de 9/6 art.º 12 n.º 1 A
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