Sementes de Esperança
Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre
© Bradi Barth
Março 2014
Intenções de Oração do Santo Padre Intenção Geral Direitos da Mulher Para que todas as culturas respeitem os direitos e a dignidade da mulher. > Todos sabemos que a sociedade e a Igreja, sobretudo a família e muitas instituições, dependem muito da dedicação, do amor, do serviço, da doação generosa de tantas mulheres. Mas infelizmente isso não é respeitado, amado, aceite e retribuído com generosidade. > Em muitos países os direitos da mulher são atropelados, negados, ultrajados, injustamente explorados. E não se respeita a mulher como igual ao homem, em direitos e deveres. Ainda há zonas do mundo onde são vendidas, exploradas, feitas escravas do homem. > É tão ridículo o que se passa que nalguns países a mulher é proibida de conduzir automóvel. Noutros, meninas são vendidas em casamento com seis e oito anos. Urge que um mundo dito civilizado respeite os direitos e a dignidade da mulher. É esta a grande intenção do Papa Francisco entregue ao Apostolado da Oração este mês. Dário Pedroso, s.j. Intenção Missionária Jovens Evangelizadores Para que muitos jovens acolham o convite do Senhor a consagrar a vida ao anúncio do Evangelho. Intenção Nacional Para que todos os cristãos e homens de boa vontade se empenhem verdadeiramente a viver intensamente o espírito da quaresma, de conversão ao essencial, e nada anteporem a Deus.
A oração é um dos pilares fundamentais da nossa missão. Sem a força que nos vem de Deus, não seríamos capazes de ajudar os Cristãos que sofrem por causa da sua fé. Para ajudar estes Cristãos perseguidos e necessitados criámos uma grande corrente de oração e distribuímos gratuitamente esta Folha de Oração, precisamente porque queremos que este movimento de oração seja cada vez maior. Por favor ajude-nos a divulgá-la na sua paróquia, nos grupos de oração, pelos amigos e vizinhos. Não deite fora esta Folha de Oração. Depois de a ler, partilhe-a com alguém ou coloque-a na sua paróquia.
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Reflectir
O estilo de Deus Desde o ano 2008 que a crise, entendida sobretudo na sua acepção económica e financeira, é o conceito dominante na sociedade contemporânea. Tem, nesta acepção, um sentido muito negativo, na medida em que tem levado multidões de pessoas para condições de extrema penúria, para as margens da sociedade. Mas o conceito de crise possui também uma acepção que seria necessário pôr em relevo hoje: permitir uma meditação sobre o que é bem ou mal, digno ou indigno da condição humana. Os tempos modernos foram marcados pela ideologia do progresso e do bem-estar. Pertenço à geração idealista dos anos 60 em que pensávamos que tínhamos nas nossas mãos todas as condições para alcançar o fim da história, no reino da democracia, da liberdade, do progresso e da felicidade. Pensava aquela geração que havia chegado o tempo em que a ciência e a tecnologia poderiam transformar o mundo num livro aberto que falava só do homem e das suas possibilidades, ficando a fé em Deus relegada para a inutilidade residual, que só os fracos e os desprovidos de cultura ainda aceitariam. Como é diferente hoje o espírito do tempo! É verdade que a relação com Deus continua a muitos títulos residual. Mas o facto é que é hoje igualmente residual e frágil a relação do homem com o seu semelhante, que se tornou suspeito e perigoso. Hoje muitos se refugiam numa relação virtual com os que estão longe, ignorando os que estão próximos, gerando-se uma rede virtual de solidões incomunicáveis. É verdade que as redes sociais nos colocam em contacto com todo o universo humano no plano planetário. No entanto, as presenças virtuais não preenchem o mistério da solidão e, por isso, pela urgência das presenças reais, talvez seja preciso declamar de novo o poema de John Donne: Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo. Em muitos sectores da cultura contemporânea, a terra e os animais, na ideologia ecologista e do género, têm mais direitos e protecção do que o homem. Ainda há pouco tempo Isilda Pegado escrevia um notável texto sobre a nova condição de filhos de pai incógnito, «agora
não por medo e imposição do pai, mas pelo ‘querer da mãe’. A mãe decide que quer ter um filho, só seu, cujo pai fique incógnito (dador anónimo) e faz inseminação artificial a partir do banco de esperma para poder gerar uma criança que é ‘só sua’». Esta verificação mostra que estamos em presença de uma sociedade em decadência, pelo menos a partir da nossa visão cristã do mundo e do homem, porque desaparece a noção de paternidade, tanto humana como divina, perde-se a noção da geração, como experiência originária que suporta o nosso ser como filhos, em que não só temos um nome, mas este nome diz uma relação de origem com o pai e a mãe, que têm nome próprio e que nos deram um nome pelo qual nos reconhecemos. Há tempos alguém me confidenciava que esta ideologia do género, eco-feminista e abortiva, tem como finalidade dar cabo da esquerda, pois é a esquerda que reivindica para si estas medidas fracturantes, que podem ser barulhentas na reivindicação, mas que não têm futuro, pois o futuro é para quem acredita na vida e a serve. Penso que seria melhor que a esquerda ou a direita se debatessem em torno de valores que nos fazem viver e não de reivindicações que fracturam e que matam. Na sua mensagem para a Quaresma, o Papa Francisco fala-nos do estilo de Deus e refere três formas de miséria, sendo que a mais grave não é a material, mas sim a moral e espiritual, que representam um suicídio antecipado. Assim como Cristo nos salvou com a sua pobreza, pois foi por ela que Ele nos enriqueceu, assim devemos redescobrir o sentido da pobreza segundo o Evangelho, que é disponibilidade e abertura para o hoje de Deus nas nossas vidas, não antepondo nada a Ele. O Papa Francisco exorta-nos a vivermos segundo o estilo de Deus, que quer que vivamos como filhos, na Igreja mãe. Não somos filhos de Pai incógnito: é a nossa Mãe, a Igreja, que na sua materna solicitude nos diz quem é o nosso Pai e que O devemos respeitar e amar acima de todas as coisas. P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj Assistente Espiritual da Fundação AIS
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Arábia Saudita Arábia Saudita Superfície 2.149.690 Km2 População 27.136.977 de habitantes Religiões Muçulmanos: 6.4% Cristãos: 4.9% Outros: 2.1% Língua Oficial Árabe
1,5 MILHÕES DE CRISTÃOS ESCONDIDOS No momento presente existe, sem sombra de dúvida, uma Igreja das catacumbas. É como a dos primeiros Cristãos, durante as perseguições romanas. Na Arábia Saudita, o simples facto de rezar pode condenar à morte. Viagem ao país onde a Cruz é secreta. Há o cenário, que pode parecer bonito, e o reverso, que é o oposto. A 26 de Novembro de 2012, o centro internacional do rei Abdallah para o diálogo intercultural e inter-religioso era inaugurado, com grande pompa, em Viena, na Áustria. Quase totalmente financiado pela Arábia Saudita, o centro tem por vocação “agir como uma encruzilhada facilitando o diálogo inter-religioso e intercultural e a compreensão; reforçar a cooperação e o respeito pela diversidade, pela justiça e pela paz”. Ninguém ignora que o reverso da encenação em solo saudita é exactamente o oposto daquilo que promove o centro fundado pelo petromonarca. Alguns retorquirão que não se pode criticar uma boa e bela iniciativa sob o pretexto de que os que 4
a puseram em prática são do género “olha para o que eu digo, mas não olhes para o que eu faço”. Vêem, nesse acontecimento, as primícias de uma nova era em que outras vozes, para além do wahabismo, poderão fazer-se ouvir na terra do Profeta. Outros responderão que é absolutamente indecente dar qualquer crédito a uma mascarada tão mal disfarçada. Outros, ainda, verão nisso o cavalo de Tróia do Islamismo radical na Europa. Cada um julgará e agirá como entender.
RECORDE ABSOLUTO DA NÃO-LIBERDADE A Arábia Saudita detém, sem margem para dúvidas, o triste prémio da ausência total de liberdade religiosa, no seu território. Os cristãos, e mesmo os muçulmanos pertencentes
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Arábia Saudita a outras correntes islâmicas (xiitas ou ismaelitas), deparam-se com duras restrições. A 8 de fevereiro de 2013, as autoridades sauditas ordenaram a prisão de cinquenta e três cristãos etíopes, dos quais quarenta e seis mulheres da cidade de Damman, um centro petrolífero do golfo arábico-pérsico. O seu crime foi terem-se reunido numa casa privada para um encontro de oração, tal como foi divulgado pela World Evangelical Alliance (WEA-RLC), uma organização evangélica sediada em Nova Iorque. No final de Dezembro de 2012, a polícia religiosa saudita fez uma rusga numa casa da província de al-Jouf e prendeu mais de quarenta e um convidados por “conluio para a celebração do Natal”, segundo uma declaração da polícia.
IGREJA DAS CATACUMBAS Hoje em dia calcula-se que vivem na Arábia Saudita 1,5 milhões de cristãos. São, principalmente, trabalhadores emigrantes vindos das Filipinas (cerca de 700.000), da Índia, do Sri Lanka, etc. É proibido, a quem quer que seja, ter uma Bíblia, imagens religiosas e terços. Se forem detectados no aeroporto, são imediatamente confiscados. Os funcionários das alfândegas estão autorizados a abrir a correspondência para procurar “produtos de contrabando” ligados à prática religiosa dos cultos não muçulmanos. É punida toda a manifestação pública de fé que não seja o Islamismo. Sabem que os americanos, os franceses ou ainda os italianos celebram as Missas de Natal e de Páscoa no interior das
embaixadas, mas como a embaixada é uma Casas típicas em Jeddah.
zona extraterritorial, a lei não é aplicável. Todavia, a polícia não está longe e vigia. Não há, no reino, igrejas, sinagogas ou templos. De facto, foi toda uma Igreja clandestina que se criou com nomes de código para a Missa, outros para anunciar lugares determinados, paróquias sem lugar fixo, horários moldáveis e sumo de uva em vez de vinho para a consagração. Não vale a pena determo-nos com estes detalhes, numerosos, que poderiam colocar pessoas em perigo. Camille Eid, professor na Universidade de Milão, jornalista, autor, especialista nas
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Arábia Saudita Igrejas do Médio Oriente, explicava numa entrevista à AIS, em Maio de 2011: “Todos os residentes estão submetidos a esta lei e ninguém se lhe pode opor, porque isso equivaleria a opor-se ao Islão. Logo que se chega ao aeroporto, é-se imediatamente informado de que se está sujeito a uma estricta observação das leis islâmicas. Por exemplo, eu, cristão, tinha na mão uma Pepsi e era o Ramadão. Reparei que toda a gente me olhava de forma estranha e que estavam a ponto de me bater. Durante o jejum, não se pode comer no exterior ou em público, só em privado. Deste modo, tem de se fazer jejum, mesmo quem não é muçulmano, porque é a lei.” E continuou: “Estava um dia no aeroporto de Djeddah com uma cassete de vídeo e quiseram vê-la. Era um filme sobre Spartacus. De repente, fiquei com medo que vissem a cena da crucificação. Mas o agente deixou passar, porque era um soldado que estava a ser crucificado e não Jesus Cristo... É difícil. Dizem que os Cristãos podem rezar em privado, mas o que significa ‘em privado’? Quer dizer ‘sozinho’ ou ‘com a família’? Quando duas ou mais pessoas, ou um grupo de famílias, rezam em conjunto na intimidade da sua casa, a polícia pode irromper, intervir e prendê-los.” A polícia religiosa, conhecida com o nome de Al Mutawaeen ou de Hayat al Amr bil Maaruf wan Nahi an al Munkar (Comissão para a Propagação da Virtude e Prevenção do Vício, CPVPV), tem por missão velar pelo rigoroso respeito pelas regras de conduta estabelecidas. Este organismo,
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em teoria semi-autónomo, actua na prática em estreita colaboração com a polícia e os governantes das diversas localidades. Há 5.000 agentes da polícia religiosa repartidos por 100 distritos, mas qualquer muçulmano pode denunciar uma pessoa e fazer aplicar a lei. “Passei dois anos e meio em Djeddah, recorda Camille Eid. Tinha medo de enviar mensagens de Páscoa e de Natal, mesmo por telefone, com receio de ser escutado. A polícia religiosa controla tudo incluindo as livrarias, porque é proibido vender postais com conteúdos não muçulmanos. Há alguns anos, na escola americana, um homem disfarçado de Pai Natal quase foi preso, mas conseguiu fugir pela janela.”
Oração Para que os Cristãos na Arábia Saudita continuem a ir buscar a Cristo a força e a coragem para se manterem fiéis à Verdade, e possam contar com a nossa solidariedade espiritual e material, nós Te pedimos Senhor!
GRAU DE VIGILÂNCIA Contudo, é preciso especificar que nem todas as comunidades cristãs sofrem da mesma maneira com a falta de liberdade religiosa. Os americanos, italianos, franceses e britânicos – na realidade a maior parte dos países da Europa e dos países industrializados – são menos visados, porque os países são poderosos e interviriam imediatamente para proteger os seus cidadãos. Os alvos são, portanto, os cristãos do Terceiro Mundo como a Eritreia, Índia e Filipinas. Estes países temem a perda dos rendimentos dos seus
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Arábia Saudita Velho forte no coração de Riad.
emigrantes, que vivem no reino. Por isso, os cristãos destes países do Terceiro Mundo, mais pobres, são preferidos como alvo. Os testemunhos, que se multiplicam na Internet, são uns mais atrozes que os outros. Vêem-se pais de família, indianos ou filipinos, que descrevem a sua prisão nas cadeias sauditas. Às vezes, são famílias inteiras que são presas, torturadas e depois expulsas do país. “Um dia, abri a porta e dois polícias entraram”, conta Arti, um filipino já regressado ao seu país. “Um pôs-me a mão na boca, o outro na nuca e obrigaram-me, à força, a voltar a entrar. Estava horrorizado e dizia para mim: vou mesmo morrer porque rezei numa sexta-feira de manhã?” A mulher foi presa durante duas semanas com os três filhos mais novos. Um outro filipino, Doni, que trabalhava para a Saudia Airlines, foi preso. A polícia tinha encontrado em casa dele uma fotografia onde estava a rezar. Foi algemado e arrastado para a
esquadra. “Bateram-me, morderam-me, esbofetearam-me e, como protestei, sufocaram-me de tal maneira que mal conseguia respirar. Disseram-me: ‘Reconhece que és padre e deixamos-te em paz.’ Não sou nem padre nem pastor, já vos disse. ‘Mentiroso, mentiroso!’ respondiam. Batiam-me na cara. Tiravam-me todas as noites do isolamento para me bater. Interrogavam-me horas a fio.” Ao fim de três meses, a polícia deu uma folha de papel a Doni dizendo-lhe que era a sua libertação. “Assinei. E só mais tarde percebi que tinha assinado uma confissão reconhecendo que era padre.” Diante do tribunal, foi intimado a converter-se ao Islão. “Perante a minha recusa, o juiz disse-me que eu era um demónio”, continuou. Finalmente, o tribunal condena-o a 18 meses de prisão e 70 chicotadas. É encarcerado em Riad. “Tínhamos as mãos algemadas e as pernas atadas. Eles riam. Caí após a décima quinta chicotada. Mas
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Arábia Saudita levantaram-me para acabarem os golpes. Quando olhei para as minhas pernas, vi que estavam azuis escuras.” Após cumprir os 18 meses de prisão, foi extraditado. Todos estes abandonados, esquecidos, constituem a chamada “Igreja do silêncio”, onde os fiéis não têm hipótese de se exprimir e de demonstrar a sua fé. Pelo simples facto de serem Cristãos arriscam-se a trazer consequências graves para a sua existência: prisão, perda de trabalho e, por vezes, da vida. Face às dificuldades que estes Cristãos encontram em diversas regiões da Península Arábica, D. Camillo Ballin, Vigário Apostólico da Arábia do Norte, lamenta que os Governos dos países ocidentais não reajam, enquanto no local, “os imigrantes não podem protestar seja sobre o que for (…) As potências estrangeiras não se preocupam com o destino dos cristãos desta região, mas apenas com os seus próprios interesses económicos. Os Governos ocidentais são inexistentes neste ponto, eles não têm a coragem de exigir a reciprocidade!”, insurgiu-se o prelado no passado mês de Outubro. Foi então que o rei do Barém lhe concedeu um terreno para a futura catedral.
Oração Para que a comunidade internacional tenha a coragem de falar em nome da minoria cristã nos países árabes, a fim de proteger a sua dignidade e liberdade, nós Te pedimos Senhor!s
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Cristãos no Golfo O Kuweit tem menos de 35.000 católicos, o Barém cerca de 80.000 e o Catar entre 200.000 e 300.000. Estes fiéis são todos trabalhadores imigrantes oriundos de outros países. No Kuweit são celebradas mais de cinquenta Missas todas as semanas, em doze línguas e cinco ritos diferentes No Catar as autoridades cederam terrenos a todas as Igrejas e um “Complexo de Igrejas” de 56.000 m2 foi colocado à disposição de Católicos, Anglicanos, Ortodoxos Coptas e Ortodoxos Gregos. Oito Igrejas indianas também têm terrenos. A Prefeitura Apostólica recorda que já existiam comunidades cristãs nesta região antes da chegada do Islão, desde o séc. IV e V d.C..
Bispo D. Camillo Ballin, Vigário Apostólico da Arábia do Norte, com um grupo de Crismandos
Uma igreja nova para o Barém “O Barém terá em breve uma nova igreja!” Foi este o anúncio, a 11 de Fevereiro de 2013, de D. Camillo Ballin, Vigário Apostólico da Arábia do Norte. Esta Prefeitura Apostólica abrange o Barém, o Kuweit, o Catar e a Arábia Saudita. “É com grande emoção que Shaykh Ahmed Bin Ateytallah Al Khalifa, ministro encarregue da aplicação das decisões tomadas pelo rei ou pelo Governo, me entregou, por ordem do rei, a escritura de um terreno de 9.000 m2 onde iremos construir a nova igreja.” A nova igreja será a Catedral e será dedicada a Nossa Senhora da Arábia.
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Oração Carta Encíclica de Sua Santidade o Papa Leão XIII sobre a necessidade de se recorrer ao Patrocínio de São José, junto ao da Virgem Mãe de Deus, nas dificuldades dos tempos actuais (…) Em tempos difíceis, especialmente quando o poder das trevas parece tentar de tudo em dano da cristandade, a Igreja costuma invocar humildemente a Deus, seu autor e protetor, com novo fervor e maior perseverança, bem como solicitar a mediação dos santos em cujo patrocínio tem mais confiança de encontrar socorro, em primeiro lugar a bem-aventurada Virgem Mãe de Deus, bem sabendo que os frutos desta piedosa oração e desta esperança cedo ou tarde aparecerão. (…) Para fazer com que Deus seja mais favorável às nossas orações, e para que (…) derrame mais pronta e copiosamente auxílio à sua Igreja, cremos muito útil que o povo cristão habitue-se a rogar com devoção e confiança, juntamente com a Virgem Mãe de Deus, também o seu castíssimo esposo São José. E temos bons motivos para crer que isto será particularmente agradável à Virgem Santa. (…) Sabemos que a dignidade da Mãe de Deus é altíssima e que não pode haver uma maior. Mas dado que entre a beatíssima Mãe de Deus e São José existe um verdadeiro vínculo matrimonial, é também certo que São José, mais que qualquer outro, se aproximou daquela altíssima dignidade que faz da Mãe de Deus a criatura mais excelsa. (…) Foi ele, de facto, que guardou com sumo amor e contínua vigilância a sua esposa e o Filho divino; foi ele que proveu o seu sustento com o trabalho; ele que os afastou do perigo a que os expunha o ódio de um rei, levando-o a salvo para fora da pátria, e nos desconfortos das viagens e nas dificuldades do exílio foi de Jesus e Maria companheiro inseparável, socorro e conforto. (…) Todos os cristãos, por isso, de quaisquer condições e estado, têm bons motivos para se confiarem e se abandonarem à amorosa protecção de São José. Nele, os pais de família encontram o mais alto exemplo de paterna vigilância e providência; os cônjuges, o exemplo mais perfeito de amor, concórdia e fidelidade conjugal; os consagrados a Deus, o modelo e protector da castidade virginal. Volvendo o olhar à imagem de José, aprendam os nobres a conservar a sua dignidade também na desventura; os ricos descubram quais são os bens que na verdade é necessário buscar e guardar zelosamente. E enfim, os pobres, os operários e todos aqueles que pouco tiveram da sorte, têm um motivo a mais - e todo especial - de recorrer a José e de tomá-lo como exemplo: Ele, embora sendo de descendência régia, desposado com a mais excelsa entre as mulheres, e ter sido considerado como o pai do Filho de Deus, passou todavia sua vida no trabalho, provendo o necessário para si e para os seus, com a fadiga e a habilidade de suas mãos. (…) José, contente do seu trabalho e do pouco que possuía, viveu com coragem e nobreza as angústias da vida, seguindo nisto o exemplo de Jesus, que embora sendo Senhor de tudo, fez-se servo de todos e não desdenhou abraçar voluntariamente a pobreza. (…) É também útil e louvável que se consagre, como já se fez em muitos lugares, o mês de Março ao Santo Patriarca, com exercícios diários de piedade em sua honra. Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre
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Meditação
Antonio Ciseri, Ecce Homo, 1871, Galeria de Arte Moderna, Florença, Itália
Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2014 Fez-Se pobre, para nos enriquecer com a sua pobreza (cf. 2 Cor 8, 9) (…) À imitação do nosso Mestre, nós, cristãos, somos chamados a ver as misérias dos irmãos, a tocá-las, a ocupar-nos delas e a trabalhar concretamente para as aliviar. A miséria não coincide com a pobreza; a miséria é a pobreza sem confiança, sem solidariedade, sem esperança. Podemos distinguir três tipos de miséria: a miséria material, a miséria moral e a miséria espiritual. A miséria material é a que habitualmente designamos por pobreza e atinge todos aqueles que vivem numa condição indigna da pessoa humana: privados dos direitos fundamentais e dos bens de primeira necessidade como o alimento, a água, as condições higiénicas, o trabalho, a possibilidade de progresso e de crescimento cultural. Perante esta miséria, a Igreja oferece o seu serviço, a sua diakonia, para ir ao encontro das necessidades e curar estas chagas que deturpam o rosto da humanidade. Nos pobres e nos últimos, vemos o rosto de Cristo; amando e ajudando os pobres, amamos e servimos Cristo. (…) 10
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Meditação Não menos preocupante é a miséria moral, que consiste em tornar-se escravo do vício e do pecado. Quantas famílias vivem na angústia, porque algum dos seus membros – frequentemente jovem – se deixou subjugar pelo álcool, pela droga, pelo jogo, pela pornografia! Quantas pessoas perderam o sentido da vida; sem perspetivas de futuro, perderam a esperança! E quantas pessoas se veem constrangidas a tal miséria por condições sociais injustas, por falta de trabalho que as priva da dignidade de poderem trazer o pão para casa, por falta de igualdade nos direitos à educação e à saúde. Nestes casos, a miséria moral pode-se justamente chamar um suicídio incipiente. Esta forma de miséria, que é causa também de ruína económica, anda sempre associada com a miséria espiritual, que nos atinge quando nos afastamos de Deus e recusamos o seu amor. Se julgamos não ter necessidade de Deus, que em Cristo nos dá a mão, porque nos consideramos autossuficientes, vamos a caminho da falência. O único que verdadeiramente salva e liberta é Deus. O Evangelho é o verdadeiro antídoto contra a miséria espiritual: o cristão é chamado a levar a todo o ambiente o anúncio libertador de que existe o perdão do mal cometido, de que Deus é maior que o nosso pecado e nos ama gratuitamente e sempre, e de que estamos feitos para a comunhão e a vida eterna. O Senhor convida-nos a sermos jubilosos anunciadores desta mensagem de misericórdia e esperança. É bom experimentar a alegria de difundir esta boa nova, partilhar o tesouro que nos foi confiado para consolar os corações dilacerados e dar esperança a tantos irmãos e irmãs imersos na escuridão. (…) A Quaresma é um tempo propício para o despojamento; e far-nos-á bem questionar-nos acerca do que nos podemos privar a fim de ajudar e enriquecer a outros com a nossa pobreza. Não esqueçamos que a verdadeira pobreza dói: não seria válido um despojamento sem esta dimensão penitencial. Desconfio da esmola que não custa nem dói. Pedimos a graça do Espírito Santo que nos permita ser «tidos por pobres, nós que enriquecemos a muitos; por nada tendo e, no entanto, tudo possuindo» (2 Cor 6, 10). Que Ele sustente estes nossos propósitos e reforce em nós a atenção e solicitude pela miséria humana, para nos tornarmos misericordiosos e agentes de misericórdia. Com estes votos, asseguro a minha oração para que cada crente e cada comunidade eclesial percorra frutuosamente o itinerário quaresmal, e peço-vos que rezeis por mim. Que o Senhor vos abençoe e Nossa Senhora vos guarde!
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Destaque VIA SACRA MATRIMONIAL “Também nós, casal, andávamos desgarrados como ovelhas perdidas, seguindo o nosso caminho de pessoas instaladas e despreocupadas, de uma vida fácil e sem sentido. Após 12 anos de casamento, 2 filhos, com vida despreocupada profissional e economicamente estável para a época, enfim, uma vida rotineira e vazia, uma vida apenas presa aos prazeres materiais. Uma vida que nos levou ao desgaste da relação familiar existente. Assim demos por nós caídos por terra, porque o diálogo em família esgotou e tudo se desmoronou. (…) Pensámos que o divórcio seria o melhor para todos, só que esse não era o plano que Deus tinha traçado para nós.” 76 páginas Esta via-sacra matrimonial é um testemunho de amor e de esperança, é um testemunho dos passos de Jesus, dos sofrimentos de Jesus, nos testemunhos de catorze famílias configuradas com Jesus nas catorze estações da via-sacra. Configurados com Cristo na Sua paixão e morte, assim configurados com Cristo na Sua ressurreição, num caminho transfigurado já nesta terra pela força da graça de Deus, mas com o olhar colocado na glória do Céu, prémio de quem trava o ‘bom combate da fé’.
Cód. VS003
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SEMENTES DE ESPERANÇA - Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre PROPRIEDADE Fundação AIS DIRECTORA Catarina Martins de Bettencourt REDACÇÃO E EDIÇÃO P. José Jacinto Ferreira de Farias, scj, Maria de Fátima Silva, Alexandra Ferreira, Ana Vieira e Félix Lungu FONTE L’Église dans le monde – AIS França FOTOS © Fundação AIS; © Bradi Barth; © Marc Fromager
CAPA PERIODICIDADE IMPRESSÃO PAGINAÇÃO DEPÓSITO LEGAL ISSN
“Nazareth” © Bradi Barth 11 Edições Anuais Gráfica Artipol JSDesign Isento de registo na ERC ao 352561/12 abrigo do Dec. Reg. 8/99 2182-3928 de 9/6 art.º 12 n.º 1 A
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