Sementes de Esperança - Novembro de 2016

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S E M E N T E S DE ESPERANÇA NOVEMBRO 2016

| Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre


Intenções de Oração do Santo Padre Intenção Geral Países que acolhem refugiados

Para que os países que acolhem um grande número de deslocados e refugiados sejam apoiados no seu empenho de solidariedade. Intenção Missionária Colaboração entre sacerdotes e leigos

Para que, nas paróquias, os sacerdotes e os leigos colaborem no serviço à comunidade sem ceder à tentação do desânimo. Novembro “Por isso, digo-te que lhe são perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou” (Lc 7,47) Se algum dia Deus fizer o balanço final da nossa vida, que Ele possa lembrar-Se, sorrindo, de que também o nosso amor cobre uma multidão de pecados e que Ele pode perdoar-nos, porque muito amámos. Pois, o amor é o maior mandamento, e nós, pela nossa natureza corrompida, por predisposição ou influência de outros, somos fracos e indefesos na tempestade das muitas tentações... Enquanto pudermos dizer, juntamente com Pedro caído, que realmente amamos Jesus, enquanto fizermos o que está ao nosso alcance para O ajudarmos, quando Ele pedir auxílio para o menor dos Seus irmãos, pobre, doente, perseguido, poderemos invocar, confiantes, as Suas próprias palavras: “Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.” (Mt 5,7) Essa misericórdia que, hoje mais do que nunca, não podemos dispensar e cuja medida nós mesmos determinamos mediante o bem que fazemos ao nosso próximo. Possa Deus ter essa misericórdia connosco. Pe. Werenfried van Straaten A oração é um dos pilares fundamentais da nossa missão. Sem a força que nos vem de Deus, não seríamos capazes de ajudar os Cristãos que sofrem por causa da sua fé. Para ajudar estes Cristãos perseguidos e necessitados criámos uma grande corrente de oração e distribuímos gratuitamente esta Folha de Oração, precisamente porque queremos que este movimento de oração seja cada vez maior. Por favor, ajude-nos a divulgá-la na sua paróquia, nos grupos de oração, pelos amigos e vizinhos. Não deite fora esta Folha de Oração. Depois de a ler, partilhe-a com alguém ou coloque-a na sua paróquia.

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Sementes de Esperança | Novembro 2016


Reflectir INTENÇÃO NACIONAL Para que nas pequenas e nas grandes decisões os cristãos tenham a coragem de arriscar no Senhor, nada antepondo a Ele.

O RISCO DA FÉ Há uma passagem no Evangelho em que Jesus nos diz que nos devemos considerar como servos inúteis, pois, depois de termos feito o que devemos, mais nada temos a exigir: «quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: somos servos inúteis, fizemos o que devíamos fazer» (Lc 17,10). Isso vem naquela passagem em que os apóstolos pedem ao Senhor que lhes aumente a sua fé: Senhor, aumenta a nossa fé (Lc 17,5). E Jesus responde que se eles tivessem uma fé que fosse comparável ao grão de mostarda seriam capazes de fazer milagres, coisas inauditas, como transportar montanhas (Lc 17,6). Como há-de entender-se essa fé que os discípulos pedem ao Senhor que lhes aumente? Há quem pense que ter fé é o mesmo que dar o assentimento a coisas que não se entendem, que superam a capacidade humana de entendimento. É verdade que o mistério de Deus e as grandes coisas da vida superam infinitamente a nossa capacidade de compreensão. Quem é capaz de

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entender o que é a vida e a morte, o amor e o ódio? Mas com isso não se pode dizer que não saibamos o que é a vida, o amor, o ódio ou a morte; mas não conseguimos explicar, porque nos faltam as palavras, e por isso muitas vezes o melhor modo de reagir perante os acontecimentos que têm a ver com a vida e a morte, o amor e o ódio, é remeter-se para uma respeitoso e sofrido silêncio. Mas a fé tem a ver com isto? Se virmos bem o que acontece no Evangelho, a fé tem a ver com a capacidade de arriscar tudo para seguir Jesus: «se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas quem perder a sua vida por minha causa, salvá-la-á» (Lc 9,23-24). Como os apóstolos, que deixaram tudo para seguir Jesus: os bens, a família, tudo o que tinham: «E depois de terem reconduzido as barcas para terra, deixaram tudo e seguiram-n’O» (Lc 5,11)! Foi assim também com S. Francisco de

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Reflectir Assis, naquela cena impressionante em que se despe totalmente, se acolhe sob o manto do Bispo, que representa a Igreja, e parte assim para a grande aventura da sua vida, de corresponder ao amor que não é amado: «O Amor não é amado»! Nós pensamos que somos importantes, quase indispensáveis e andamos atarefados com muitas coisas. Hoje, como reconhece o Papa Francisco, muitos agentes pastorais sofrem de acédia, isto é, da falta de gosto pelas coisas de Deus e da vida, e que se traduz tanto na preguiça, de quem não lhe apetece fazer nada e por isso se apresenta como quem transporta sempre um grande fardo, um peso enorme, e está sempre triste ou revoltado, como naquele que está sempre ocupado, não tem tempo para mais nada, como se tudo, o presente e o futuro, dependesse dele (Evangelii Gaudium, 81-83). Muitas vezes, perante a situação de crise que é visível tanto na Igreja como na sociedade, há a tendência de atribuir as culpas aos outros. Muitos pensam que o cansaço de que padecem hoje muitas comunidades cristãs no ocidente se deve à secularização, ao laicismo, à globalização da indiferença e a outras causas. Mas

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o Papa Francisco insiste, e bem, em dizer que a causa não está fora, mas dentro da Igreja. Lembra aquela cena do Apocalipse em que o Senhor diz: «Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo» (Ap 3,20). É preciso, como dizia S. João Paulo II, abrir as portas do coração ao Redentor, porque Aquele que nos criou sem nós, não nos salva sem nós, já dizia Santo Agostinho. O Papa Francisco gosta também de dizer que não podemos continuar a manter o Senhor cativo no coração: Ele quer sair para o mundo e não deixamos, porque ou o reservamos para nós ou temos medo que Ele, estando livre, nos desinstale. Por isso é que o Papa Francisco nos convida a sair, a ir para as periferias, a dar testemunho da alegria que só se pode ter se deixarmos que o Senhor entre no coração e depois saia e nos leve com Ele para fora, para o mundo.

Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, scj Assistente Espiritual da Fundação AIS

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PARAGUAI Superfície 406.752 Km2

Equador •

População 6,67 milhões Religiões

• Brasil

• Peru

Cristãos: 95,42% Católicos: 84,7%

• Bolívia

Evangélicos: 6,2% Outros cristãos: 4,52% Religiões étnicas: 2%

Pacífico

• Paraguai

Outras religiões: 0,79% Agnósticos: 1,79% Línguas oficiais espanhol e guarani

• Argentina Chile •

• Uruguai

Atlântico

PARAGUAI

O JOGO DA VIDA Visitado pelo Papa Francisco no ano passado o Paraguai reafirma com coragem os seus valores cristãos apesar das pressões da ONU. A viagem do Papa Francisco ao Paraguai, em Julho de 2015, ilustra o gosto do Pontífice pelas periferias. Este país que continua, na sua maioria, agrícola, é um dos mais pobres da América do Sul, com um PIB por habitante quatro vezes inferior ao da Argentina e quase nada superior ao da Bolívia, mas também um dos mais jovens, com uma idade média de 27 anos. Hoje aspira à paz cívica e social, após os anos movimentados Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

da presidência de Fernando Lugo, de 2008 a 2012, bispo católico que passou ao estado laico e cuja presidência foi esmaltada por tensões sociais e escândalos pessoais, antes de ser destituído na sequência de um massacre junto de Curuguaty. O actual presidente Horatio Cartes, um industrial e dirigente desportivo, renunciou ao seu salário de chefe de Estado depois de ter começado a exercer as suas funções. 5


PARAGUAI O Paraguai, um dos países mais pobres da América do Sul.

PAPA FRANCISCO: AS MULHERES, OS POBRES E OS JOVENS A viagem apostólica do Papa Francisco ao Paraguai, de 10 a 12 de julho de 2015, vinte e sete anos após a de João Paulo II, teve vários momentos fortes. A Missa, no santuário mariano de Caacupé, a 50 km a leste de Assunção na manhã de 11 de Julho, perante 1.000 fiéis aglomerados na praça da basílica (apesar de ter começado sem ele devido a um momento de fadiga que obrigou o pontífice a repousar um pouco), foi o primeiro. A homilia do Papa exaltou o papel da mulher paraguaia, “a mais gloriosa da América”, num país marcado há um século e meio por guerras que deixaram um homem para quatro mulheres. O Santo Padre disse 6

especialmente às mulheres, “Tendes a memória e o património genético daquelas que reconstruiram a vida, a fé e a dignidade do vosso povo”, antes de as confiar à Virgem Maria. O segundo momento forte foi a visita ao bairro de lata de Banado Norte, na periferia da capital, nas margens do rio Paraguai e numa zona normalmente atingida por inundações. O Papa começou por se fazer convidado a entrar em duas barracas, depois ouviu o testemunho dos habitantes do bairro que denunciavam principalmente projectos imobiliários que ameaçam de despejo alguns pobres, antes de se lançar num discurso improvisado, convidando os que vivem neste bairro a dar testemunho de uma fé solidária a toda a cidade: “Uma fé que não é solidária é uma fé Sementes de Esperança | Novembro 2016


PARAGUAI O Papa fez-se convidado para visitar os bairros de lata.

morta… É uma fé morta ou uma fé mentirosa.” Depois, o Papa terminou a sua visita pondo os 30 mil habitantes do bairro a rezar o Pai Nosso em língua guarani. O terceiro foi o encontro com os jovens, a 12 de Julho, durante o qual o Papa Francisco deixou novamente de lado o discurso que tinha preparado, esmiuçou todos os vícios e escravaturas que restringem ou destroem a verdadeira liberdade e, depois, encorajou os jovens presentes a rezar assim com ele: “Senhor Jesus, dá-me um coração livre, que não seja escravo da comodidade do lucro, que não seja escravo da ‘boa vida’, que não seja escravo dos vícios, que não seja escravo de uma falsa liberdade que é fazer o que me agrada o tempo inteiro.” Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

O PARAGUAI RECUSA CEDER NA QUESTÃO DO ABORTO Tal como outros países latino-americanos, o Paraguai recusa ceder às instâncias da ONU que propõem o aborto como um direito humano. Um mês depois da viagem apostólica do Papa Francisco, os partidos de esquerda, utilizando as estatísticas da Unicef, pegaram no acontecimento de uma violação incestuosa para relançar o debate e reclamar o direito ao aborto. Antes da visita do Papa Francisco, a Amnistia Internacional tinha lançado uma campanha com o mesmo objectivo. Mais recentemente, em Janeiro de 2016, a questão foi então apresentada no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, onde o Paraguai foi intimado a liberalizar a legislação que proíbe o aborto às 7


PARAGUAI A Igreja apoia o Governo na defesa da vida.

mulheres e jovens vítimas de violação, por motivos de saúde da mãe ou em caso de malformação da criança que vai nascer. Só em caso de perigo para a vida da mãe é permitida uma excepção à lei existente. Mas a delegação do Paraguai, sob as directrizes do Governo de Assunção e apoiada pela Igreja Católica, recusou corajosamente, dado que estas propostas são contrárias à Constituição nacional, aos compromissos assumidos aquando da ratificação da Convenção Interamericana dos Direitos do Homem e à legislação nacional.

Oração

Primeira visita de um Patriarca de Moscovo “Em seis meses, o Paraguai foi visitado por dois chefes religiosos, os mais importantes no contexto internacional”. Foi com estas palavras que o presidente Horatio Cartes acolheu o patriarca Kyrill de Moscovo, a 16 de Fevereiro de 2016. Se os Ortodoxos russos, na sua maioria imigrantes, são pouco numerosos no país, esta visita, no dia seguinte ao encontro de Cuba, ilustrava a vontade do chefe da Igreja Ortodoxa Russa de arranjar um ponto de apoio no continente mais católico do mundo, antes de partir para a Antártida.

Para que o Paraguai saiba resistir às pressões exteriores e continue a ser um país fiel aos valores do Evangelho, nós Te pedimos Senhor! 8

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Oração ADVENTO “Não ter medo que a vida possa acabar. Em vez disso, ter medo que nunca possa realmente começar” A parábola dos talentos (Mt 25, 14-30) narra a história da confiança do Senhor em nós, em cada um de nós, confiança que se concretiza num dom que nos é pedido para fazer frutificar neste tempo de espera do regresso do Senhor. Muitas vezes falamos apenas da nossa fé, da nossa confiança no Senhor, esquecendo que é em primeiro lugar o Senhor a fazer-nos confiança, a ter fé em nós. A nossa vida é precedida de um chamamento, é dom, mas o dom deve ser reconhecido, acolhido com gratidão e feito frutificar. Na parábola de Mateus, o proprietário, antes de partir para uma longa viagem, deixa aos seus servos uma soma de dinheiro adequada à capacidade de cada um. Conhece bem os seus servos, conhece a possibilidade de cada um. A soma que deixa é despropositada: o talento equivalia a 6.000 dracmas ou dinheiros, correspondente a 6.000 dias de trabalho de um operário. «Passado muito tempo», o proprietário regressa e pede contas aos seus servos de quanto lhes confiou. Esse muito tempo alude à experiência vivida pela comunidade cristã primitiva: o Senhor está a demorar (cf. Mateus 24, 48; 25, 5). A quem pergunta, com sarcasmo, «onde está a promessa da sua vida?», a segunda Carta de Pedro responde que o Senhor não demora a cumprir a sua promessa, mas, se nos dá ainda um tempo de espera, é para que todos tenhamos a possibilidade de nos converter (cf. 2 Pd 3, 3-10). É-nos dado tempo para nos interrogarmos sobre o uso que fizemos dos dons do Senhor. Os dois primeiros servos ouvem as mesmas palavras, o mesmo convite a tomarem parte da alegria do seu senhor. Quanto ao terceiro servo, o proprietário concorda com as suas palavras, reconhece que é exigente; mas deixa cair uma palavra: a que o define como duro. Nenhuma dureza: duro é o servo que não sabe reconhecer no talento um sinal de benevolência, mas projectou o seu temor e a sua angústia na imagem que fez do proprietário. Nunca assumiu a responsabilidade que lhe era confiada; teve medo de arriscar, de jogar a sua vida. Escrevia John Henry Newman: «Não ter medo que a vida possa acabar. Em vez disso, ter medo que nunca possa realmente começar». A falta de confiança no proprietário impede o terceiro servo de acolher com responsabilidade o dom que lhe foi dado. Não fez frutificar o que recebeu, conservou-o tal e qual como propriedade do seu senhor. É dominado pelo medo e o seu medo traduz-se num legalismo estéril, infrutuoso. Os servos louvados pelo proprietário sabem reconhecer o dom e assumem responsavelmente a sua partida; tornam-se sujeitos, fazem trabalhar o dom recebido; sabem receber e agora sabem responder à confiança recebida. Acreditaram na força, no poder do dom recebido mais do que na sua debilidade e fragilidade. Entram na alegria do seu proprietário; esta é a intenção do Senhor quando nos chama à vida, quando nos chama a segui-lo. Mateus está a falar à sua comunidade, que adormeceu, que já não sabe vigiar e arrisca, como todos nós, de não esperar mais nada, ou de esquecer e frustrar os dons recebidos, deixando-se paralisar pelo medo. O tempo do Advento quer renovar a nossa espera do Senhor, uma espera vigilante e operativa para responder com reconhecimento e fidelidade aos dons que recebemos. Irmã Lisa, in Monastero di Bose, (disponível em: http://www.snpcultura.org/nao_ter_medo_que_a_vida_possa_acabar.html) Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

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2016 - Ano Santo da Misericórdia Rezar a Deus pelos vivos e com os vivos

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lista das obras de misericórdia espirituais culmina com a oração: rezar a Deus por vivos e defuntos. Tal como o amor, a oração também é uma obra, um trabalho. Rezar é uma ação laboriosa. Aqui, a oração é intercessão: rezar pelos outros. Na oração de intercessão, o ser humano manifesta a ligação indissolúvel entre a relação com Deus e a responsabilidade pelos outros, a confissão da fé e o empenho histórico, o amor a Deus e a solidariedade para com os irmãos. Assim como nós vivemos com e pelos outros, também rezamos com e pelos outros. Etimologicamente, interceder significa «dar um passo entre (‘inter-cedere’)», «interpor-se», colocar-se entre duas partes para tentar construir uma ponte, uma comunicação entre elas. É uma posição «crucial». É a posição de Jesus Cristo na cruz, quando o seu estar entre o céu e a terra terra, de braços estendidos para levar a Deus todos os seres humanos, se torna revelação do resultado último da intercessão: o dar a vida pelos pecadores, por parte daquele que é santo; o «morrer pelos» injustos, por parte daquele que é justo. E o Ressuscitado continua a interceder pelos seres humanos (cf. Heb 7,25; Rm 8,34). Na intercessão não pedimos a Deus que se lembre de alguém, mas, «diante dele» recordamos, nós próprios, outras pessoas para que a nossa relação com elas seja iluminada pela palavra de Deus. Enquanto invocamos o perdão ou a ajuda de Deus para quem deles necessita, empenhamo-nos concretamente e fazemos tudo o que está no nosso poder em favor dessas pessoas. Neste sentido, a intercessão é luta contra a amnésia que nos ameaça, purificação da nossa relação com os outros e entrega concreta em favor daqueles pelos quais se reza. A intercessão coloca-nos na alternância entre solidão e solidariedade. Ora, se Jesus Cristo, no seu ministério histórico, rezou pelos seus discípulos, agora, também os discípulos são chamados a «rezar uns pelos outros» (Tg 5, 16). Sujeito da oração no coração do discípulo e da comunidade cristã é o Espírito Santo, o Paráclito, que fala a língua de Deus e ensina o crente a rezar. Então, o cristão é convidado a interceder, a elevar súplicas e orações por todos. Graças à intercessão, a vontade de Deus e o amor universal que a anima tornam-se práxis quotidiana do crente, convertendo o seu coração. Com efeito, a oração pelos outros nasce do amor e conduz ao amor, purificando o amor. Aliás, como seria possível chegar a amar os inimigos sem rezar por eles? Não foi por acaso que Jesus Cristo, depois de ter dito «Amai os vossos inimigos» (Lc 6, 27), acrescenta de imediato: «Rezai por aqueles que vos maltratam» (Lc 6, 28). A oração infunde intencionalidade na nossa atuação e forma de relacionamento, tornando-se o seu fundamento espiritual. Luciano Manicardi, A caridade dá que fazer: Redescobrindo a actualidade das ‘obras de misericórdia’, 2015

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2016 - Ano Santo da Misericórdia

IRMANDADE DA MISERICÓRDIA E DE SÃO ROQUE DE LISBOA QUEM SOMOS A Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa é uma associação pública de fiéis, sediada na Igreja de São Roque, que tem como carisma particular e principal vocação a prática das Obras de Misericórdia Espirituais e Corporais, o seu estudo e divulgação, em espírito de entrega à grande comunidade urbana da cidade de Lisboa. UM POUCO DE HISTÓRIA A Irmandade de São Roque foi instituída em Lisboa, em data ainda incerta mas seguramente anterior a Março de 1506 e em 25 de Julho de 1990, foi constituída em Irmandade de Misericórdia, sob a denominação de Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa (IMSRL). Foi reconstituída em 21 de Fevereiro de 2011, por fusão das venerandas Irmandade da Misericórdia de Lisboa, instituída em 15 de Agosto de 1498 e da Real Irmandade do Glorioso São Roque Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

dos Carpinteiros de Machado, instituída em 9 de Dezembro de 1581,mantendo a denominação de Irmandade da Misericórdia e de São Roque de Lisboa. VIVER AS OBRAS DE MISERICÓRDIA Conforme decorre do seu Compromisso, aos Irmãos de São Roque cumpre viverem as obras de misericórdia, entre elas ”orar pelos vivos e defuntos” e “enterrar os mortos”. Ajustando-se à evolução dos tempos e às novas formas da realidade social, a Irmandade da Misericórdia e de São Roque, em estreita ligação com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), acompanha o funeral daqueles nossos irmãos em Cristo que terminam a sua peregrinação terrena, sem familiares, amigos ou conhecidos, e que estariam destinados a baixar à terra sem terem ninguém que os acompanhasse com uma prece, um olhar, uma flor. 11


2016 - Ano Santo da Misericórdia Se as razões da adesão variam de acompanhante para acompanhante, há sempre um ponto comum que a todos une, um gesto de compaixão, de ternura, para aquele a quem, no final da sua vida terrena, faltou o calor humano da família, dos amigos, dos conhecidos.

Um grupo de Irmãos, Voluntários e Amigos da Irmandade, abraçou este projecto, seguindo o ensinamento da Igreja - “Os corpos dos defuntos devem ser tratados com respeito e caridade, na fé e na esperança da ressurreição. O enterro dos mortos é uma obra de misericórdia corporal que honra os filhos de Deus, templos do Espírito Santo” (CIC § 2300) e lembrando Tobit, pai de Tobias que, com uma solicitude toda particular, sepultava os defuntos e os que tinham sido mortos (Tb 1, 20). São diversas as motivações que originam a primeira oferta e o primeiro contacto. A saudade de familiares falecidos, a recordação de amigos que pelas voltas do mundo caíram no nosso esquecimento, a sensação pungente do ocasional contacto com um funeral não acompanhado, o puro apelo da compaixão, o desejo de ser coerente com o Compromisso da vivência das Obras de Misericórdia, motivações muito específicas e pessoais ou um forte apelo espiritual ou religioso, ditado por um acreditar no Mundo que há-de vir e na Ressurreição, prometida pelo Senhor Jesus. 12

Ao longo das experiências vividas há normalmente um aprofundamento reflexivo do puro acto de acompanhamento para uma maior vivência da realidade social que cria estas situações, bem mais frequentes do que poderíamos supor, porque vai longe o ambiente familiar das nossas aldeias e vilas ou dos nossos bairros em que seria impensável alguém falecer ignorado pela sua comunidade.

Com cambiantes diversos, não é uma situação de todo invulgar, aparecerem no último momento acompanhantes inesperados. Familiares que num primeiro momento não se quiseram denunciar, mas que o apelo dos laços de família acabaram por os empurrar a estar presentes, amigos ou simples conhecidos que, tomando conhecimento do funeral, sentem o desejo de manifestarem uma Sementes de Esperança | Novembro 2016


Actualidade última solidariedade, lembrando, quantas vezes com um pesar manchado de remorsos, como o deixámos esquecido enquanto vivo. Companheiros de trabalho que as circunstâncias afastaram,

mas que ao conhecerem o falecimento, tantas vezes de forma ocasional, porque os laços normais de relacionamento há muito tinham desaparecido, vêm trazer a sua saudade, recordar tempos passados, deixar uma flor, orar ao Pai do Céu, a bênção para o que partiu, o apoio para os que ficaram.

da vida abandonou, permite que sem qualquer distinção de raça, credo ou ideologia, todos possam ter um funeral digno do ponto de vista humano e espiritual. A continuada presença da Irmandade, com a sua oração, pedindo perdão a Deus pelas faltas que o falecido possa ter cometido, e rezando para que Deus o guarde e lhe conceda a Paz eterna, celebra a dignidade da pessoa humana e reafirma o amor ao irmão em Cristo. APELO FINAL Terminamos com um forte apelo aos Irmãos e outros Voluntários para se juntarem a este grupo, e dentro das suas disponibilidades e de acordo com as suas sensibilidades e sentimentos, participarem nesta obra de misericórdia.

É para todos, crentes e não crentes, um momento de reflexão. O que é a vida, como a estou vivendo, para onde caminho? Quando acompanhamos crianças, na sua “caixinha branca”, é difícil não nos deixarmos dominar por uma agitação interior, por sentimentos desencontrados de dúvida, de incompreensão, de dor. Também estes Senhor, agora nascidos e já abandonados? Recebidos na Tua Luz e na Tua Paz, sejam eles os nossos anjos no Céu. A SCML ao suportar os encargos do funeral daqueles a quem a sorte e os revezes Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

CONTACTOS Largo Trindade Coelho 1200-470 Lisboa Tel.: 213 235 066 Fax: 213 235 234 E-mail: irmandadesaoroque@gmail.com www.irmandadesaoroque.pt

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2016 - Ano Santo da Misericórdia

O que é um Santo? Porque é que a Igreja inclui o dia de Todos os santos (1 de Novembro) no seu calendário de festas solenes? Porque é que o Credo dos Apóstolos inclui a “comunhão dos santos” como um dos doze artigos da fé fundamentais? Porque, como diz Charles Péguy, “em última análise, a vida comporta uma única tragédia: a de não ter sido santo”. Os santos não são aberrações ou excepções, são o modelo de conduta para os seres humanos. De facto, no sentido bíblico do termo, todos os crentes são santos. “Santidade” significa santidade de vida. Todos os homens, mulheres e crianças, nascidos ou não nascidos, bonitos ou feios, hetero ou homossexuais, são santos porque têm em si a imagem de Deus. Os santos não são o contrário de pecadores. Não existe o contrário de pecadores neste mundo. Só existem pecadores salvos e pecadores não salvos. Assim, santo não significa “sem pecado” mas “separado”: chamado deste mundo para o destino de êxtase eterno com Deus. O que é um santo? Em primeiro lugar, é alguém que se reconhece pecador. Um santo sabe todas as notícias, tanto as más notícias do pecado, como a boa nova da salvação. Um santo é um verdadeiro cientista, um verdadeiro filósofo. Um santo conhece a verdade. Um santo é capaz de ver, ver o que está perante ele. Um santo é um realista. Um santo é também um idealista. Um santo abraça heroicamente o sofrimento, partindo de um amor heróico. Um santo também abraça uma alegria heróica. (Este é um dos critérios para a canonização: os santos têm de ser alegres) Um santo é um servidor de Cristo. Um santo é também um conquistador maior do que Alexandre, que só conquistou o mundo. Um santo conquista-se a si próprio. De que serve a um homem conquistar o mundo inteiro se não se conquista a si próprio? Um santo é tão aberto que pode dizer como Paulo: “aprendi a ser autónomo nas situações em que me encontre. Sei passar por privações, sei viver na abundância.” (Fl 4,11-12). Um santo casa-se com Deus “ama-o e respeita-o na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da sua vida, até à morte.” Um santo é ainda tão determinado, tão teimoso, que dará a vida pela verdade e escreverá “creio” na areia com o seu próprio sangue enquanto morre (houve um santo que fez isto). Um santo é um inimigo do mundo, da carne e do demónio. Está em combate mortal com 14

Sementes de Esperança | Novembro 2016


Actualidade principados e potestades. Um santo é também um amigo e amante do mundo. Beija este mundo doente de pecado com os lábios ternos do amor do Deus de João 3,16. Um santo declara a Guerra de Deus a este mundo, afundando a cruz na terra ocupada pelo inimigo como uma espada, empunhada pelo céu. Em simultâneo, abre os braços nessa mesma cruz como se dissesse “Vêem? Este é o tamanho do meu amor por vós!” Um santo é a noiva de Cristo, completamente ligado, fiel e dependente. Um santo é também completamente independente, desligado de ídolos e de outros maridos. Um santo trabalha no meio destes outros, dinheiro, poder, prazer, como uma mulher casada trabalha com outros homens, mas não terá qualquer relação com eles. Um santo é maior do que qualquer outra pessoa no mundo. Um santo é o verdadeiro alpinista. Um santo é também o mais baixo de todos no mundo. Como a água, infiltra-se nos lugares mais baixos, como Calcutá. O coração de um santo parte-se com cada pequena mágoa e pecado. O coração de um santo é também tão forte que nem mesmo a morte o pode destruir. É indestrutível por ser tão frágil. Um santo larga o volante e deixa que Deus conduza a sua vida, o que é assustador porque Deus é invisível. Um santo tem também mãos que transformam o mundo. Tem pés que percorrem o mundo com um passo seguro. Um santo não permite que outros se ponham no lugar de Deus. Um santo aceita ordens do general, não do exército. Um santo também não se põe no lugar de Deus em relação aos outros. Um santo é um pequeno Cristo. Não só vemos Cristo através dos Seus santos, como vemos a luz através de um vitral, mas também só podemos compreender os santos através de Cristo, como só compreendemos os ovos através das galinhas. Os santos são a nossa família. Somos um Corpo. Eles são as nossas pernas e nós as deles. É por isso que a sua festa é a nossa festa. Como diz Pascal, “O exemplo de nobres mortes de espartanos e outros quase não nos afecta… mas o exemplo das mortes dos mártires afecta-nos, porque são os nossos membros… não ficamos mais edificados por ver um desconhecido herói, mas por ver um pai ou um marido herói”. Tornamo-nos santos não por pensar nisso e (muito menos) por escrever sobre isso, mas simplesmente agindo. Chega uma altura em que a pergunta “como?” desaparece e entramos em acção. Se aquele que amamos estiver à nossa porta a bater, vamos deter-nos a imaginar como funciona a fechadura e como se mexem os nossos músculos para a abrir? S. Francisco de Assis disse uma vez aos seus monges que se estivessem no meio de uma visão beatífica e um vagabundo batesse à porta a pedir um copo de água, o verdadeiro paraíso seria ajudar o vagabundo, enquanto abandonar o vagabundo para manter a visão seria voltar as costas a Deus. Um santo é alguém que vê quem é esse vagabundo: Jesus. Peter Kreeft, “What is a Saint?” National Catholic Register, October 1987 (disponível em: www.catholiceducation.org) Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

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Destaque

CELEBRAÇÃO DE MISSA Durante este mês de Novembro peça a um dos sacerdotes apoiados pela Fundação AIS a celebração de uma Santa Missa pelos seus entes queridos ou por uma Alma do Purgatório que não tenha ninguém que reze por ela. > Missa …………….…………................................................ €10,00 > Novena …………….…………............................................. €90,00 > Trintário Gregoriano …………….…………...................... €350,00 (30 Missas seguidas pela alma de um só defunto)

Este pequeno donativo de 10€, para a celebração de uma Missa, contribui para o sustento do sacerdote e da sua comunidade. ESTES SACERDOTES AGRADECEM-LHE PROFUNDAMENTE… ELES REZARÃO PELAS SUAS INTENÇÕES! A EUCARISTIA É O NOSSO BEM MAIS PRECIOSO! PEÇA A UM DESTES SACERDOTES A CELEBRAÇÃO DE UMA MISSA.

SEMENTES DE ESPERANÇA - Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre PROPRIEDADE Fundação AIS DIRECTORA Catarina Martins de Bettencourt PERIODICIDADE REDACÇÃO E EDIÇÃO Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, scj, Maria de Fátima Silva, IMPRESSÃO Alexandra Ferreira PAGINAÇÃO FONTE L’Église dans le monde – AIS França DEPÓSITO LEGAL FOTOS © AIS ISSN

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