Sementes de Esperança

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Sementes de

Outubro 2018

Esperança Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre


Intenção de Oração do Santo Padre UNIVERSAL

A missão dos consagrados Para que os consagrados e as consagradas reavivem o seu fervor missionário e estejam presentes entre os pobres, os marginalizados e aqueles que não têm voz.

1 de Outubro SANTA TERESA DO MENINO JESUS, virgem, doutora da Igreja (+ Lisieux, França, 1897) “O meu caminho é todo confiança e amor.”

A oração é um dos pilares fundamentais da nossa missão. Sem a força que nos vem de Deus, não seríamos capazes de ajudar os Cristãos que sofrem por causa da sua fé. Para ajudar estes Cristãos perseguidos e necessitados criámos uma grande corrente de oração e distribuímos gratuitamente esta Folha de Oração, precisamente porque queremos que este movimento de oração seja cada vez maior. Por favor, ajude-nos a divulgá-la na sua paróquia, nos grupos de oração, pelos amigos e vizinhos. Não deite fora esta Folha de Oração. Depois de a ler, partilhe-a com alguém ou coloque-a na sua paróquia.

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Reflectir INTENÇÃO NACIONAL

Para que em Portugal se mantenha sempre o dogma da fé, como Nossa Senhora prometeu em Fátima, e os Cristãos e as comunidades sejam fiéis à sua vocação e missão neste tempo de crise e de confusão em que vivemos.

O Senhor manifestou-Se na minha doença Em Julho passado conheci em Fátima o antigo Bispo de Mossul, no Iraque, que foi preso pelos radicais islâmicos e condenado à morte, por ser cristão e se recusar a renegar a sua fé. Esteve a ponto de ser executado e só escapou porque a opinião pública mundial se mobilizou em sua defesa. “Quem és tu, para que o mundo se interesse por ti?”, perguntaram-lhe os terroristas islâmicos. “Sou um simples servidor do Senhor e estou pronto a dar a minha vida por Ele como Ele deu a Sua vida por mim!” E dizia-nos: naquelas horas terríveis eu sentia uma enorme paz! Tiago é um jovem que sofre de cancro no sistema linfático. Num momento de grande sofrimento, no início duma dolorosa quimioterapia, foi-se abaixo, quase ao desespero. Os pais disseram-me que nunca o tinham visto assim. Mas o pai animou-o com estas palavras: “Daqui a pouco chega o teu padrinho

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e ele dar-te-á a sua bênção e tu ficarás mais sereno.” Eu cheguei. Pergunteilhe: “Sofres muito?” Ele acenou que sim. Então eu disse-lhe: “Já cantaste muitas vezes na igreja o hino à cruz gloriosa, lembras-te? É verdade! Agora é o momento de tu e de todos nós a vivermos!” Ele sorriu e disse: “É verdade!” E a partir daquele momento nunca mais se lamentou e chegou a dizer ao médico, noutro momento de grande sofrimento: ofereço os meus sofrimentos em reparação dos meus pecados e pela conversão dos pecadores. Em Fevereiro passado, perante um grupo de estudantes universitários, deu este testemunho: “Agora sei que Deus existe, porque Ele Se tem manifestado na minha doença.” E é assim que ele e a sua família (são 8 filhos, o mais novo nasceu em Junho passado) e eu próprio temos vivido esta terrível doença, procurando descobrir a visita de Deus que faz com que o peso

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Reflectir da doença e do sofrimento seja tolerável, segundo a palavra que o Senhor uma vez disse: «vinde a mim vós todos que andais sobrecarregados e oprimidos, que Eu vos aliviarei; porque o meu jugo é suave e a minha carga é leve».

Deus não promete, dá-Se a Si mesmo, e o sinal maior desse dom foi Nosso Senhor Jesus Cristo, que revelou o Seu amor pelo homem, dando a Sua vida na cruz: Ele é verdadeiramente Corpo entregue e sangue derramado!

À chegada à terra prometida, Josué interpelou todo o povo de Israel nestes termos: «decidi hoje a quem quereis servir: se a Deus ou aos ídolos que os vossos pais adoraram. Eu, porém, e a minha família serviremos o Senhor». Perante este desafio, o povo respondeu: «Também nós queremos servir o Senhor, porque Ele fez connosco maravilhas! Foi Ele que nos libertou da escravidão do Egipto».

A necessária renovação da Igreja passa por aqui, pela decisão existencial, pelo risco da fé em querer servir o Senhor, em todas as circunstâncias da vida, e não por acomodações à mentalidade do mundo! Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, scj Assistente Espiritual da Fundação AIS

Aqui está a distinção entre o Deus verdadeiro e os ídolos, os falsos deuses. Estes prometem o que não podem dar, prometem a felicidade e o que resulta é a frustração e o desespero. O verdadeiro

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Superfície 1.280.000 Km2

•Nicarágua Costa Rica • Panamá •

• Venezuela

• Colômbia

População 29,7 milhões de habitantes

• Guianas

Equador •

Religiões Cristãos: 96,5% Católicos: 85% Protestantes: 11% Outros cristãos: 0,5% Religiões tradicionais: 1,4% Agnósticos: 1,2%

• Brasil • Peru • Bolívia

Pacífico

• Paraguai

Outras religiões: 0,9% Língua oficial Espanhol, quechua, aymara

• Argentina Chile •

• Uruguai

Atlântico

PERU

UMA VISITA MUITO AGUARDADA De 18 a 21 de Janeiro de 2018, depois de alguns dias no Chile, o Papa Francisco efectuou uma viagem apostólica ao Peru, a convite dos chefes de Estado e dos bispos. Foi a sexagésima viagem do Santo Padre à América Latina, seu continente natal. A 18 de Janeiro de 2018, o Papa Francisco era esperado em Lima, a seguir em Puerto Maldonado, na Amazónia, e em Trujillo (no Norte). Com a escolha destes três lugares tão distintos, o Papa mostrou que quis ir ao encontro da diversidade na Igreja, apelando a todos à unidade. Monsenhor David Martínez de Aguirre Guinea, Bispo de Puerto Maldonado, afirmou: “A notícia Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

da visita do Santo Padre foi uma surpresa e uma alegria imensa. É a demonstração de que o coração do Papa está nas periferias. É claro que desejamos que ele venha ao Perú. Mas nunca pensámos que ele pudesse vir exactamente aqui!” Falando dos caciques (chefes) indígenas, prosseguiu. “Eles compreenderão que debaixo da cúpula da Igreja, há um coração 5


Peru

As festas cristãs e as procissões continuam a ser muito populares.

amigo que os escuta e que os quer ajudar.” Amigo: uma expressão empregue também pelo novo presidente, Pedro Pablo Kuczynski, eleito democraticamente em Junho de 2016. Alguns dias antes da sua audiência com o Papa Francisco, no Vaticano, em Setembro último, confessava sonhar estabelecer com o Papa uma “relação familiar”, a fim de o acolher “como um amigo” no Peru.

de 4000 m de altitude, milhares destas pequenas comunidades têm o seu modo de transmitir a fé de geração em geração, graças às tradições. Um bom testemunho, mesmo que, reconhece Monsenhor Berni, “se pareça mais como uma religiosidade popular: festejam solenemente os santos, mas os sacramentos são pouco procurados e o Domingo falha frequentemente.”

O Bispo de Lima anunciou a criação de uma “guarda do Papa”, composta por vinte mil jovens voluntários. “A Igreja teve sempre uma grande capacidade para reunir multidões”, declara Monsenhor Berni, Bispo de Chuquibambilla, nos Andes. Na sua região, “cada aldeia tem o seu Santo Padroeiro e é uma verdadeira festa celebrá-lo”. Localizadas a mais

O lema da visita ao Peru, ‘Unidos pela esperança’, apontava para um abraço, para um estreitar de relações entre culturas que são uma das principais riquezas deste país. “Unidos não numa estéril uniformidade, mas em toda a riqueza das diferenças que herdamos da história e da cultura”, disse o Papa.

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Peru

As enormes periferias devem ser evangelizadas (na fotografia, Lima).

DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO? Nestes últimos anos, muitos peruanos trocaram as montanhas pelas cidades, na esperança de beneficiar do desenvolvimento económico. Imensos subúrbios foram criados à volta de cidades como Lima e Arequipa, especialmente porque a população do Peru aumentou consideravelmente em 50 anos (170%). Perto destas novas classes médias, ricas nas suas tradições religiosas, a Igreja tem um papel essencial a desempenhar: evangelizar para suscitar novas vocações sacerdotais (47% dos bispos do Peru são estrangeiros e muitos dos seminaristas não chegam ao sacerdócio), formar sobre as questões sociais, acompanhar Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

numerosas crianças deixadas sozinhas durante o dia por pais que trabalham longe a fim de evitar que caiam em gangues e tráfico de droga, manter uma presença a fim de não dar lugar às seitas evangélicas… E estar junto dos mais pobres. Porque o desenvolvimento económico a que o país assiste desde há vários anos, devido a uma produção record no sector mineiro (cobre, prata e ferro), não beneficia a todos. Vinte e dois por cento da população ainda vive abaixo do limiar da pobreza: “Tendo chegado no ano 2000 a um bairro periférico de Lima, muito pobre, testemunha o Pe. Humberto, padre missionário fidei donum em missão no Peru, uma em cada quatro casas não tinha água corrente nem esgotos. Quinze anos mais tarde a população deste bairro 7


Peru

Localizados a 4.000 m de altitude, os aldeões souberam transmitir a fé ao longo dos séculos.

triplicou, mas uma em cada quatro casas continua a não ter água nem esgotos. Nas palavras do Santo Padre, a visita ao Peru permitiu constatar e apreciar “o património ambiental, cultural e espiritual” do país, destacando-se duas “realidades que o ameaçam mais gravemente: a degradação ecológico-social e a corrupção”, referindo-se nomeadamente a um sistema de redistribuição das riquezas que vê os mercados abrir-se, mas sem qualquer benefício para os pequenos rendimentos. As minas de cobre são, principal fonte de riqueza do país (o Peru é o terceiro produtor mundial, depois do Chile e da China), mas também fonte de poluição, de conflitos sociais e de exploração dos camponeses. No Peru, perante a comunidade católica, o Papa Francisco fez questão de sublinhar 8

as responsabilidades éticas e morais que os Cristãos transportam consigo. E recordou-o na primeira Audiência Geral na praça de São Pedro depois do regresso do Peru. “Ressaltei que ninguém está isento da responsabilidade perante essas duas pragas e que o empenho por combatê-las compromete todos.” O balanço da viagem apostólica, que levou o Papa ao Peru mas também ao Chile, ficou resumida numa frase final: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. Oração Para que o povo do Peru se agarre às suas raízes cristãs a fim de influenciar de forma positiva o destino do seu país, nós Te pedimos Senhor! Sementes de Esperança | Outubro 2018


Meditação

Peru

Primeiro Sínodo da Amazónia O Papa Francisco anunciou a realização de um sínodo especial sobre a Amazónia que terá lugar em Roma, em Outubro de 2019. Em primeiro lugar, explica o Papa, “o objectivo é encontrar novas vias para evangelizar esta parte do Povo de Deus, em particular os indígenas, muitas vezes esquecidos e privados da perspectiva de um futuro sereno, especialmente devido à crise chocante da floresta da Amazónia, pulmão de uma importância capital para o nosso planeta”. Tal como o Papa Pio X, um dos primeiros a alertar sobre a situação dos indígenas explorados nas plantações de borracha, o Papa Francisco denuncia frequentemente a situação das populações amazónicas da Venezuela, da Colômbia, do Equador, do Peru, da Bolívia e do Brasil.

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Oração

Carta do Papa Francisco ao Povo de Deus «Um membro sofre? Todos os outros membros sofrem com ele» (1 Co 12,26). Estas palavras de São Paulo ressoam com força no meu coração ao verificar, uma vez mais, o sofrimento vivido por muitos menores por causa de abusos sexuais, abusos de poder e abusos de consciência cometidos por um elevado número de clérigos e pessoas consagradas. Um crime que gera profundas feridas de dor e impotência, em primeiro lugar nas vítimas, mas também nas suas famílias e na comunidade inteira, tanto entre os crentes como entre os não-crentes. Olhando para o passado, nunca será suficiente o que se faça para pedir perdão e procurar reparar o dano causado. Olhando para o futuro, será sempre pouco tudo o que for feito para gerar uma cultura capaz de fazer que 10

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Meditação essas situações não só não aconteçam, mas que não encontrem espaços para serem ocultadas e perpetuadas. A dor das vítimas e das suas famílias é também a nossa dor; por isso é preciso reafirmar o nosso compromisso de garantir a protecção de menores e de adultos em situações de vulnerabilidade.

1. Um membro sofre? Nestes últimos dias, foi divulgado um relatório apresentando com detalhe aquilo que viveram pelo menos 1.000 sobreviventes, vítimas de abuso sexual, de abuso de poder e de abuso de consciência, às mãos de sacerdotes por setenta anos aproximadamente. Embora seja possível dizer que a maioria dos casos corresponde ao passado, contudo, ao longo do tempo, conhecemos a dor de muitas das vítimas, verificamos que as feridas nunca desaparecem e nos obrigam a condenar veementemente essas atrocidades, bem como a unir esforços para erradicar essa cultura da morte; as feridas “nunca prescrevem”. A dor dessas vítimas é um gemido que clama ao céu, que alcança a alma e que, por muito tempo, foi ignorado, emudecido ou silenciado. Mas o seu grito foi mais forte do que todas as medidas que tentaram silenciá-lo ou, inclusive, que procuraram resolvê-lo com decisões que aumentaram a gravidade, caindo na cumplicidade. Clamor que o Senhor ouviu, demonstrando, mais uma vez, de que lado Ele quer estar. O cântico de Maria não se equivoca e continua a sussurrar ao longo da história, porque o Senhor se lembra da promessa que fez a nossos pais: «dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias» (Lc 1,51-53), e sentimos vergonha quando percebemos que o nosso estilo de vida contradisse e contradiz aquilo que proclamamos com a nossa voz. Com vergonha e arrependimento, como comunidade eclesial, assumimos que não soubemos estar onde devíamos, que não agimos a tempo para reconhecer a dimensão e a gravidade do dano que estava a ser causado a tantas vidas. Nós negligenciamos e abandonamos os pequenos. Faço minhas as palavras do então Cardeal Ratzinger quando, na Via Sacra escrita para a Sexta-feira Santa de 2005, se uniu ao grito de dor de tantas vítimas, afirmando com força: «Quanta imundície há na Igreja, e precisamente entre aqueles que, no sacerdócio, deveriam pertencer completamente a Ele! Quanta soberba, quanta autossuficiência![…] A traição dos discípulos, a recepção indigna do seu Corpo e do seu Sangue é certamente o maior sofrimento do Redentor, o que Lhe trespassa o coração. Nada mais podemos fazer do que dirigir-Lhe este grito do mais fundo da alma: Kyrie, eleison – Senhor, salvai-nos (cf. Mt 8,25)» (Nona Estação). Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

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Meditação

2. Todos os outros membros sofrem com ele. A dimensão e a gravidade dos acontecimentos obrigam a assumir esse facto de maneira global e comunitária. Embora seja importante e necessário em qualquer caminho de conversão tomar conhecimento do que aconteceu, isso por si só não basta. Hoje, como Povo de Deus, somos convidados a assumir a dor de nossos irmãos feridos na sua carne e no seu espírito. Se no passado a omissão pôde ter sido uma forma de resposta, hoje queremos que seja a solidariedade, entendida em sentido mais profundo e desafiador, a tornar-se o nosso modo de fazer a história do presente e do futuro, num âmbito onde os conflitos, as tensões e, especialmente, as vítimas de todo o tipo de abuso possam encontrar uma mão estendida que as proteja e resgate da sua dor (cf. Evangelii gaudium, 228). Essa solidariedade exige que, por nossa vez, denunciemos tudo o que possa comprometer a integridade de qualquer pessoa. Uma solidariedade que exige a luta contra todas as formas de corrupção, especialmente a espiritual «porque se trata de uma cegueira cómoda e autossuficiente, em que tudo acaba por parecer lícito: o engano, a calúnia, o egoísmo e muitas formas subtis de autorreferencialidade, já que “também Satanás se disfarça de anjo de luz” (2 Cor 11,14)» (Gaudete et exultate, 165). O chamamento de Paulo para sofrer com quem sofre é o melhor antídoto contra qualquer tentativa de continuar a reproduzir entre nós as palavras de Caim: «Sou, porventura, o guardião do meu irmão?» (Gn 4,9). Reconheço o esforço e o trabalho que são feitos em diferentes partes do mundo para garantir e gerar as mediações necessárias para proporcionar segurança e proteger a integridade de crianças e de adultos em situação de vulnerabilidade, bem como a implementação da “tolerância zero” e de modos de prestar contas por parte de todos aqueles que realizem ou encubram esses crimes. Tardamos em aplicar essas medidas e sanções tão necessárias, mas confio que elas ajudarão a garantir uma maior cultura do cuidado no presente e no futuro. Juntamente com esses esforços, é necessário que cada baptizado se sinta envolvido na transformação eclesial e social de que tanto necessitamos. Tal transformação exige conversão pessoal e comunitária e leva-nos a dirigir os olhos na mesma direção do olhar do Senhor. São João Paulo II assim o dizia: «se verdadeiramente partimos da contemplação de Cristo, devemos saber vê-Lo sobretudo no rosto daqueles com quem Ele mesmo Se quis identificar» (Novo millennio ineunte, 49). Aprender a olhar para onde o Senhor olha, estar onde o Senhor quer que estejamos, converter o coração na Sua presença. Para isso nos ajudarão a oração e a penitência. Convido todo o Povo Santo fiel de Deus ao exercício penitencial da oração e do jejum que, seguindo o mandato do Senhor[1], desperte a nossa 12

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Meditação consciência, a nossa solidariedade, o compromisso com uma cultura do cuidado e o “nunca mais” a qualquer tipo e forma de abuso. É impossível imaginar uma conversão do agir eclesial sem a participação activa de todos os membros do Povo de Deus. Além disso, sempre que tentamos suplantar, silenciar, ignorar, reduzir a pequenas elites o povo de Deus, construímos comunidades, planos, ênfases teológicas, espiritualidades e estruturas sem raízes, sem memória, sem rostos, sem corpos, enfim, sem vidas[2]. Isto manifesta-se claramente num modo anómalo de entender a autoridade na Igreja – tão comum em muitas comunidades onde ocorreram as condutas de abuso sexual, de abuso de poder e de abuso de consciência – como é o clericalismo, aquela «atitude que não só anula a personalidade dos cristãos, mas tende também a diminuir e a subestimar a graça baptismal que o Espírito Santo derramou no coração do nosso povo»[3]. O clericalismo, favorecido tanto por sacerdotes como por leigos, gera uma ruptura no corpo eclesial que beneficia e ajuda a perpetuar muitos dos males que denunciamos hoje. Dizer não ao abuso, é dizer energicamente não a qualquer forma de clericalismo. É sempre bom lembrar que o Senhor, «na história da salvação, salvou um povo. Não há identidade plena, sem pertença a um povo. Por isso, ninguém se salva sozinho, como indivíduo isolado, mas Deus atrai-nos tendo em conta a complexa rede de relações interpessoais que se estabelecem na comunidade humana: Deus quis entrar numa dinâmica popular, na dinâmica de um povo» (Gaudete et exultate, 6). Portanto, a única maneira de respondermos a esse mal que prejudicou tantas vidas é vivê-lo como uma tarefa que nos envolve e diz respeito a todos como Povo de Deus. Essa consciência de nos sentirmos parte de um povo e de uma história comum permitir-nos-á reconhecer os nossos pecados e erros do passado com uma abertura penitencial capaz de se deixar renovar a partir de dentro. Tudo o que for feito para erradicar a cultura do abuso nas nossas comunidades, sem a participação activa de todos os membros da Igreja, não será capaz de gerar as dinâmicas necessárias para uma transformação saudável e realista. A dimensão penitencial do jejum e da oração ajudar-nos-á, como Povo de Deus, a colocarmo-nos diante do Senhor e dos nossos irmãos feridos como pecadores que imploram o perdão, a graça da vergonha e da conversão e, assim, podermos desenvolver acções que criem dinâmicas em sintonia com o Evangelho. Porque «sempre que procuramos voltar à fonte e recuperar a frescura original do Evangelho, despontam novos caminhos, métodos criativos, outras formas de expressão, sinais mais eloquentes, palavras cheias de significado novo para o mundo actual» (Evangelii gaudium, 11). É imperativo que nós, como Igreja, possamos reconhecer e condenar, com dor e vergonha, as atrocidades cometidas por pessoas consagradas, clérigos e inclusivamente por todos Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre

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Meditação aqueles que tinham a missão de assistir e cuidar dos mais vulneráveis. Peçamos perdão pelos pecados, nossos e dos outros. A consciência do pecado ajuda-nos a reconhecer os erros, delitos e feridas geradas no passado e permite-nos abrir e comprometermo-nos mais com o presente num caminho de conversão renovada. Da mesma forma, a penitência e a oração ajudar-nos-ão a sensibilizar os nossos olhos e os nossos corações para o sofrimento alheio e a superar a ânsia de domínio e controle que muitas vezes se torna a raiz desses males. Que o jejum e a oração despertem os nossos ouvidos para a dor silenciada em crianças, jovens e pessoas com necessidades especiais. Jejum que nos dá fome e sede de justiça e nos encoraja a caminhar na verdade, dando apoio a todas as medidas judiciais que sejam necessárias. Um jejum que nos sacuda e nos leve ao compromisso com a verdade na caridade com todos os homens de boa vontade e com a sociedade em geral, para lutar contra qualquer tipo de abuso de poder, abuso sexual e abuso de consciência. Desta forma, poderemos tornar transparente a vocação para a qual fomos chamados: ser «um sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano» (Lumen gentium, 1). «Um membro sofre? Todos os outros membros sofrem com ele», disse-nos São Paulo. Através da atitude de oração e penitência, poderemos entrar em sintonia pessoal e comunitária com essa exortação, para que cresça em nós o dom da compaixão, da justiça, da prevenção e da reparação. Maria soube estar ao pé da cruz de seu Filho. Não o fez de uma maneira qualquer, mas permaneceu firme de pé ao seu lado. Com essa postura, Ela manifesta o seu modo de estar na vida. Quando experimentamos a desolação que nos produzem essas chagas eclesiais far-nos-á bem, com Maria, «insistir mais na oração» (cf. S. Inácio de Loyola, Exercícios Espirituais, 319), procurando crescer no amor e na fidelidade à Igreja. Ela, a primeira discípula, ensina a todos os discípulos como somos convidados a enfrentar o sofrimento do inocente, sem evasões nem cobardia. Olhar para Maria é aprender a descobrir onde e como o discípulo de Cristo deve estar. Que o Espírito Santo nos dê a graça da conversão e da unção interior para podermos expressar, diante desses crimes de abuso, a nossa compunção e a nossa decisão de lutar com coragem. Papa Francisco, 20 de Agosto de 2018 [1] «Esta espécie de demónios não se expulsa senão à força de oração e de jejum» Mt 17, 21. [2] Cf. Carta do Santo Padre Francisco ao Povo de Deus que peregrina no Chile, 31 de Maio de 2018. [3] Carta do Papa Francisco ao Cardeal Marc Ouellet, Presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, 19 de Março de 2018.

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Actualidade

Campanha Um milhão de Crianças rezam o Terço

Todos nós presenciamos a extremamente preocupante situação política no mundo inteiro. Já há muito que não se trata de meros conflitos nacionais. Muitas regiões no mundo tornaram-se um autêntico paiol, que muito facilmente pode desencadear um conflito militar global. O que podemos nós, Cristãos, fazer perante esta situação? São João Crisóstomo afirmou: “O homem que reza tem as mãos no leme da história.” Começou em 2005, na Venezuela. Alguns adultos iniciaram esta acção de oração, confiando nas palavras do Pe. Pio: “Quando um milhão de crianças rezar o terço, o mundo mudará.” Algumas crianças, com menos de 10 anos, encontraram-se sob uma árvore e rezaram o terço. Pelo mundo. Pela paz. Pelas suas famílias. Depois, não quiseram continuar a rezar sozinhas. Teria de ser um milhão de crianças a rezar o terço na mesma altura, no mundo inteiro. Desde então, no dia 18 de Outubro de cada ano, centenas de milhares de crianças rezam o terço. A campanha do terço das crianças une o mundo a Deus. O Rosário, dizia São João Paulo II, “leva-nos a uma união viva com Jesus através do coração de sua Mãe”. Também este ano, a Fundação AIS convida todos os pais, professores e educadores, no âmbito da iniciativa de oração mundial “Um milhão de crianças rezam o terço”, a rezarem o terço com as crianças no dia 18 de Outubro de 2018, às 9h00 horas (ou a uma hora mais adequada), pedindo a Nossa Senhora pela unidade e a paz no mundo, sobretudo no Iraque e na Síria. Em muitos lugares do mundo as aulas serão interrompidas por meia hora. Deste modo, não serão reunidas apenas um milhão, mas muitos milhões de crianças em todo o mundo durante um dia, no mês do Rosário, para trazer um pouco do Céu à terra. O Senhor disse: “Deixai as crianças e não as impeçais de vir ter comigo, pois delas é o Reino do Céu.” (Mt 19,14) Que a Mãe de Deus nos dê coragem e ânimo para que ainda mais crianças saibam deste laço que une o mundo e participem nesta iniciativa de oração, que certamente irá produzir frutos de paz e unidade.

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Se pretender receber material de divulgação e apoio a esta campanha, por favor, contacte-nos para 217544000 ou apoio@fundacao-ais.pt. Também poderá descarregar o material do nosso site: www.fundação-ais.pt.

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Destaque

Rosário dos Jovens pelos Cristãos Perseguidos

NOVO

Rezar o terço pelos Cristãos perseguidos é uma grande bênção para eles e para nós, mantendo a chama da fé bem viva. Não há nenhum mal que não se resolva, no mundo, na família, pela recitação do terço. Foi essa a mensagem principal de Nossa Senhora em Fátima há um século e que queremos ver conhecida e respondida em cada coração onde o seu Imaculado Coração quer triunfar. Que triunfo?! O triunfo do Céu. Será que vou para o Céu?! Padre Marco Luis, In Prefácio

Esta obra é ideal para iniciar os adolescentes e os jovens na oração do terço, mas também para adultos. Com meditações que interpelam e belíssimas ilustrações a aguarela, ensina a rezar o terço e a contemplar cada um dos seus mistérios. Um presente perfeito para oferecer aos filhos, netos, afilhados, grupos de catequese, grupos de jovens, etc, a fim de semear no seu coração o amor a Maria. Autora: Maria Teresa Maia Gonzalez Ilustradora: Ir. Ângela Oliveira, ASM 72 páginas

Cód. RO012

€ 5,00

SEMENTES DE ESPERANÇA - Folha de Oração em Comunhão com a Igreja que Sofre PROPRIEDADE Fundação AIS DIRECTORA Catarina Martins de Bettencourt REDACÇÃO E EDIÇÃO Pe. José Jacinto Ferreira de Farias, scj, Maria de Fátima Silva, Paulo Aido, Alexandra Ferreira FONTE L’Église dans le monde – AIS França FOTOS © AIS; © DR

CAPA PERIODICIDADE IMPRESSÃO PAGINAÇÃO DEPÓSITO LEGAL ISSN

Criança chinesa a rezar o terço 11 edições anuais Gráfica Artipol JSDesign Isento de registo na ERC ao 352561/12 abrigo do Dec. Reg. 8/99 2182-3928 de 9/6 art.º 12 n.º 1 A

Rua Professor Orlando Ribeiro, 5 D, 1600-796 LISBOA Tel 217 544 000 | IBAN: PT50 0269 0109 0020 0029 1608 8 fundacao-ais@fundacao-ais.pt | www.fundacao-ais.pt


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