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O máximo de beleza, com o mínimo de gritos No Porto, na Fundação EDP, revelamse fotografias e filmes de um artista português a que o espectador só pode transmitir um sentimento: o da gratidão. Com a curadoria de Sérgio Mah, Encontro com as formas é um reencontro com a cor, a alergia, a luz e a simplicidade da obra de Ângelo de Sousa.
José Marmeleira
Encontro com as formas até 6 de Julho na Fundação EDP, no Porto, salienta o papel central da fotografia e do filme no interior da
prática de Ângelo de Sousa
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os artistas portugueses revelados no fim dos anos 60, Ângelo de Sousa (19382011) é, porventura, o mais entusiasmante e generoso. Há na sua obra uma celebração rara das cores, das formas, da expressão artística. Sem estudos prévios, sem programas, sem estratégias de distinção, sem premeditação. Recorde-se a beleza das suas pinturas monocromáticas, com a infinidade incrível de variações, a alegria cromática das suas geometrias (na escultura e na pintura), a experimentação e a espontaneidade do seu desenho, o impulso lúdico que atravessa os seus filmes. É dito sobre o artista que nunca se ateve a correntes ou estilos, que o seu trabalho atesta uma singularidade irredutível a todos os “ismos”. Certamente. No entanto, é também verdade que não foi indiferente às experiências que marcaram a arte da sua época. E como poucos soube integrá-las, com uma serenidade surpreendente, tornando-as “acessíveis” aos espectadores. Diante das suas obras, é-se convidado a olhar para todas as formas, todas as linhas, todos os pontos. Do chão da rua, da história da pintura, do quotidiano doméstico. Nada era, à partida, excluído do mundo de Ângelo de Sousa. Esta asserção é relembrada em Encontro com as formas que até 6 de Julho na Fundação EDP, no Porto, salienta o papel central da fotografia e do filme no interior da prática do artista portuense. “Constituíram um campo de possibilidades criativas imensas”, diz Sérgio Mah, o curador do projecto. “Permitiram-lhe prosseguir com aspectos recorrentes do seu trabalho, mas subsumidos a uma atenção ao real. Às suas circunstâncias físicas, às suas formas aparentes, à sua figuralidade. Mas também
à exploração dos efeitos estéticos e perceptivos provocados pela reprodução técnica das imagens”. Refirase que a exposição nasceu de um convite endereçado ao curador pela Cooperativa Árvore, com fins claramente identificados: pesquisar, selecionar e mostrar um corpo de obras em fotografia e filme. “Estão aqui trabalhos que já foram apresentados noutras exposições, nomeadamente em Sem Prata [Museu de Serralves, 2001] e muitas fotografias inéditas, realizadas entre 1965 e 2006”. A razão deste ineditismo (parcial) prende-se com o desconhecimento que ainda vela uma parte da sua produção fotográfica. “Ele acumulou milhares de fotografias apenas com o objectivo de seguir o impulso obsessivo, criativo e lúdico de fixar imagens. Nunca houve um tema aglutinador ou uma inclinação sistemática”. Acresce a reduzida circulação desses mesmos trabalhos no circuito comercial. “Não os considerava como vendáveis”, esclarece Sérgio Mah. “Oferecia-os aos amigos, resultavam de uma actividade livre e lúdica.”
Alegria e melancolia Agora, e consultado o espólio, Sérgio Mah identifica três núcleos: as “umanistas”, que compreendem instantâneos do quotidiano (imagens de rua); o núcleo “criança”, com fotografias do filho do artista; e as abstractas sobre a quais incidem Encontro com as formas. Resumindo, muito fica (ainda) por mostrar sobre a relação de Ângelo de Sousa com o acto de fotografar. “O espólio é bastante vasto e diversificado. Fica certamente por fazer um livro, ou uma exposição, sobre as fotografias que fez na Rua da Alegria no Porto ao longo dos anos 60 até ao início dos anos 70 quando se muda para a casa na Foz Velha. Existem outras verten-