Vintage for a Cause

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O Porto tem um clube de costura à antiga que até é uma coisa modernaça Vintage for a Cause tem em Katty Xiomara uma das madrinhas e é um projecto de empreendedorismo social, contra a solidão de mulheres com mais de 50 anos. Vai alargar-se a Lisboa e outras cidades FERNANDO VELUDO/NFACTOS

Solidariedade Sara Dias Oliveira Fernanda Magalhães é a primeira a chegar a este 2.º andar da Rua Santa Catarina, no Porto. Na mesa estão os instrumentos de que precisa: tesouras, botões antigos, alfinetes, rendas. Fernanda tem 50 anos e é a mais nova do grupo de senhoras do projecto de empreendedorismo social Vintage for a Cause. É um clube de costura que reúne dez costureiras de circunstância, duas tardes por semana. Dedicam-se a transformar roupas vintage em peças únicas. É o que fazem entre conversas sobre o último jantar que fizeram juntas, a produção fotográfica feita para o projecto, os 60 centavos que no seu tempo pagavam se quisessem mudar o nome de solteira, as fotos que os mais novos tiram com o telemóvel e que ficam maravilhosas. Fernanda não saía do sofá lá de casa desde que enviuvou. Costureira de marroquinaria, desempregada, foi desafiada a espreitar o que se passa aqui. “Agora tenho este compromisso, agora saio de casa.” Tirou do armário a saia preta de veludo que há anos deixou de lhe servir. Mudoulhe o botão, colocou-lhe uma franja, doou a peça ao projecto. Ivone Pinho, 65 anos, admite que a costura não é a sua praia. Pouco importa. Dá ideias para alterações de peças que são partilhadas com os estilistas que apadrinham o projecto – Katty Xiomara, André Gandra, Mariana da Fonseca, Carolina Veloso e Lia Oliveira – entre outros parceiros que, voluntariamente, contribuem com conhecimentos e talento. Escutam as sugestões das mulheres, orientam-nas. Ivone aprecia essa parte e também pega na agulha. Conta que está a fazer um trabalho de cerâmica. Um casal de minhotos estilizado. “Quando estiver pronto, trago fotografias”, promete. Maria das Dores, 66 anos, esteve quatro décadas ao serviço da Câmara do Porto, tem um curso industrial para dar aulas de lavores e é fã de ponto de cruz. Trouxe a máquina de costura e acabou por ficar no clube. “Gosto muito de conviver. Cheguei cá e não conhecia ninguém.” Numa pausa da costura, passa a uma colega a receita de um bolo de cenoura.

As promotoras do projecto garantem que os resultados desta fase-piloto superaram as expectativas

Cada peça tem uma história

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ada peça de roupa do Vintage for a Cause tem uma etiqueta bordada à mão por Teresa Monteiro, de 65 anos, outra das senhoras do grupo. Uma mão e um braço vermelhos bordados por uma mulher que foi costureira de alfaiate. Além da etiqueta, cada peça é acompanhada por um pequeno texto que conta a sua história. Márcia Coelho mostra um exemplo: “Uma saia condenada ao esquecimento no armário da D. Alice, costureira de profissão...” Os pormenores emocionais são importantes para o projecto Vintage for a Cause. As memórias não

se querem esquecidas, são chamadas a integrar o processo. O texto contará a história da peça de vestuário em questão e da pessoa que a doou, bem como referência a quem a transformou e um convite à futura dona para partilhar a continuidade do seu percurso na Internet. “Roupa única com história”, resume Márcia Coelho. E já há mais uma ideia em concretização: uma colecção de brincos feitos a partir de botões de vestidos de noiva que funcionará com um cartão de visita do projecto. O clube de costura já pensa no merchandising.

Ana Maria Ribeiro, 63 anos, nascida e criada na Foz, ouviu falar do Vintage. Ficou curiosa. “Vou ver o que é. Gostei e fiquei. É muito criativo”, comenta esta ex-técnica administrativa. “Fiz novas amigas e gosto de modificar coisas. Basta mudar os botões e a roupa já fica completamente diferente.” A advogada Helena Antónia, a educóloga Márcia Coelho e a gestora Isabel Fontes conheceram-se numa pós-graduação de Empreendedorismo Social. Idealizaram o Vintage for a Cause nos três dias de um bootcamp (encontro para fazer preparação física ao estilo militar) da Fundação Porto Social (FSP), da Câmara do Porto. A fase-piloto do Vintage começou em Fevereiro e está prestes a terminar. A 20 de Julho, na Quinta da Bonjóia, sede da FSP, o projecto é formalmente apresentado com as

senhoras e 50 peças que irão a leilão. A receita será reinvestida. “O objectivo é que o Vintage seja auto-sustentável”, sublinha Márcia Coelho.

Projecto premiado

O impacto do projecto, um dos 51 premiados no Concurso EDP Solidária, está a ser avaliado por psicólogos em entrevistas individuais. Mas há sinais positivas. Relações de amizade, jantares em comum, alegrias e tristezas partilhadas, auto-estima revigorada. Em Setembro, o Vintage vai ganhar escala, ficando com núcleos no Porto, Lisboa, Santo Tirso e Maia, para, no espaço de um ano, trabalhar com 200 mulheres e apresentar quatro colecções. “Teremos manhãs e tardes ocupadas”, adianta Isabel Fontes. Helena Antónia está satisfeita com a evolução do Vintage. “Superou as expectativas e queremos provar que é sustentável.”


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