Espólio MVG © FMVG MANUEL VIEGAS GUERREIRO MVG 1912 - 2022 REVISTA FMVG | N.º 31 | JUL SET 2022 em trabalho de campo, junto de alunos/as e de comunidades que estudou ao longo de mais de 6 décadas
FICHA TÉCNICA
EDIÇÃO | FMVG
TEXTOS | António Covas, Maria José Mackaaij, Marinela Malveiro MVG 1912 1997 e POSTAIS DO ALGARVE com autoria identificada sob o excerto
POSTAIS DO ALGARVE Recolha e selecção | Marinela Malveiro
PAGINAÇÃO E DESIGN | Marinela Malveiro
FOTOGRAFIA | Fundo FMVG; cedidas por António Covas; Maria José Mackaaij; Marinela Malveiro e Mário Lino
IMAGENS | ESCAPARATE: cedidas pelas editoras
APOIO À PRODUÇÃO E SECRETARIADO
Miriam Soares
IMPRESSÃO | Gráfica Comercial, Arnaldo Matos Pereira, Lda., Zona Industrial de Loulé Lt. 18, Loulé | T. 289 420 200
REVISTA FMVG | N.º 31 | 2022
Os textos são da responsabilidade dos/as seus/suas autores/as e o uso do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa é, por isso, uma opção dos/as mesmos/as.
REVISTA FMVG | N.º 31
MANUEL VIEGAS GUERREIRO 1912 1997 25 anos após o seu falecimento, 110 anos de nascimento
POSTAIS DO ALGARVE
VIAGENS PELA OBRA DE MANUEL VIEGAS GUERREIRO Universidade,DesenvolvimentoRegionaleEtnografiaManuelViegasGuerreiro(1982) António Covas
ESTUDO COVID 19 Prevalência de Anticorpos contra SARS CoV 2 na população residente no município português de Vila Nova de Gaia após a primeira onda da pandemia
DIÁRIO DE CAMPO
ESCAPARATE
EDITORIAL | P. 3 CONTEÚDOS
EDITORIAL MANUEL VIEGAS GUERREIRO
A INFINITA LIBERDADE DO SABER
As citações que se seguem permitem nos encontrar várias palavras chave que ajudam a compor o mosaico a individualidade Manuel Viegas Guerreiro (1912 1997). Muitas fazem parte da Agenda 2030. Atentemos: «Era um homem sábio, um homem simples, um comunicador nato. Um fazedor de pontes, sempre. Para ele não havia fronteiras. O foco era sempre na igualdade, no que aproxima as pessoas. Nunca na diferença.» Maria Lucinda Fonseca
INCLUSÃO E TOLERÂNCIA
«É talvez o exemplo mais perfeito de humanidade que eu encontrei. Humanidade no sentido de que nada do que é humano lhe era estranho.» Francisco Melo Ferreira
MULTICULTURALIDADE E HUMANISMO
«Nunca o vi sozinho. Nem o consigo imaginar solitário recolhido em leitura silenciosa, debruçado sobre problema de que não fala aos outros, empenhado no avanço próprio ou simplesmente destacado das pessoas por timidez, sobranceria ou indiferença. A imagem que deixa é de um homem acompanhado.» Ivo Castro IMPLICADO, EM COMUNHÃO COM O OUTRO E COM
A COMUNIDADE
«Nunca vinha à faculdade sem procurar os amigos de sempre, estes jovens a quem tinha ensinado o amor à gente do campo, a modéstia e a simplicidade no trato, a devoção à ciência e o desinteresse pelo lucro.»
Suzanne Daveau
CONVIVIALIDADE E AMOR
«Em pleno trabalho de campo no meio do Atlântico, repartiu connosco o prazer da sua companhia no dia do seu 80.º aniversário. Foi o momento de observar como nos transmitia o seu saber e o seu entusiasmo, como estabelecia com todos o mais natural diálogo, de presidentes a lavradores. E os que não eram, tão logo ficaram seus amigos que na Ilha ninguém mais deixou de perguntar pelo Senhor Professor.»
Maria Eugénia S. de Albergaria Moreira
SOLIDARIEDADE E EMPATIA
«Director de colóquios (...) Grande mestre, colega generoso e destacado campeão dos estudos literário orais.» Samuel Gordon Armistead GENEROSIDADE E SABEDORIA
Além do imenso legado de Manuel Viegas Guerreiro, do património bibliográfico, documental, fotográfico e fonográfico, os seus valores e pensamento extravasam qualquer biblioteca pessoal que se pense organizar, perfilar, redireccionar, comunicar.
Olhando agora para as palavras de Professor e Aluno: «De universitas, que em latim significa conjunto, saiu universidade, conjunto de pessoas, mestres e discípulos,
que, num dado lugar, numa cidade para defender interesses comuns, se constituíam em grupo organizado ou corporação. Não se tratava, portanto de um edifício ou edifícios, situados em aglomerado urbano, onde se ensinassem estas ou aquelas matérias, como mais tarde se viria a entender por universidade.» A universidade oferece: «estudos gerais, universais e comuns».
Manuel Viegas Guerreiro UNIVERSALISMO, TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO, AUTODETERMINAÇÃO E LIBERDADE
Aluno: «O convívio com os alunos foi sempre o mais importante para ele enquanto professor.»
Francisco Melo Ferreira CIDADANIA, HUMILDADE E INOVAÇÃO
Foi de facto seu desiderato enquanto professor, por mais de 60 anos, estimular a participação dos estudantes «com a frescura da sua imaginação». Manuel Viegas Guerreiro Observando os conceitos semeados, compreende se o nível de actualidade que personaliza Manuel Viegas Guerreiro. O jovem professor que defendia num país colonizador, paternalista, autoritário, segregador, isolado e monocromático uma educação plena, universal e gratuita para o povo. Para que este pudesse escolher em consciência. Para que fosse Livre.
De Moçambique a Pitões das Júnias, dos Açores ao Brasil, Manuel Viegas Guerreiro e tantos outros, é verdade é um notável exemplo de Humanidade que interessa não esquecer.
No mundo do século XXI, caracterizado por alterações climáticas, inundações e seca extrema, desflorestação, guerras, fome e pandemia, impunidade e omissão de deveres, usurpação de direitos e liberdades, convém lembrar que a esperança, o amor e o conhecimento podem equilibrar a Humanidade.
A Fundação, de forma singela e parceira, promove a ciência; divulga o saber do Patrono, emprestando a sua obra a novas leituras, reactivando os seus Estudos Gerais Livres; semeia valores junto das novas gerações. Exemplo disso, a criação de recursos educativos inspirados em Manuel Viegas Guerreiro, concretizados por e para crianças e jovens, projecto inserido na 1.ª Bienal Cultura eEducaçãodo Plano Nacional das Artes.
Por outro lado, promove estudos na área da saúde; dá formação no âmbito das florestas; concebe acções de estímulo à criatividade e à autonomia, de incentivo ao autoconhecimento e do território. Encontrará tudo isto na actividade da Fundação, que se espelha nas páginas que agora lhe oferecemos.
Marinela Malveiro
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MANUEL
ANOS APÓS O SEU FALECIMENTO
A LIGAÇÃO A ORLANDO RIBEIRO POR SUZANNE DAVEAU1
É impossível evocar separadamente a vida de três dos grandes professores que ilustraram a Faculdade de Letras de Lisboa. Foi em casa de Leite de Vasconcellos, que acabava de aposentar se por atingir, em 1929, o limite de idade, que os então jovens Orlando Ribeiro e Manuel Viegas Guerreiro se tornaram os seus fiéis discípulos e transformaram o convívio estudantil que os ligava numa profunda e vitalícia amizade.
Um e outro expressaram, mais uma vez, o que deviam ao Mestre. Em 1958, Viegas Guerreiro lembrava já o «alto significado de uma vida integralmente dada à Ciência» e «a lição edificante do homem íntegro e do sábio eminente, que foi o maior da sua terra, nas matérias a que se aplicou, e um dos grandes do mundo».
Em 1982, Orlando Ribeiro expressava ainda «a saudade de um dos homens que mais amei e de um dos Espíritos que (...) mais profunda e duradoura influência teve na minha própria formação».
Um e outro pagaram generosamente a sua dívida, realizando sem fraquejar, ao longo de meio século e em plena e activa maturidade, a tarefa, aparentemente impossível, de publicar o enorme material reunido para a EtnografiaPortuguesa . Com efeito, Leite de Vasconcellos apenas começou a redigir a sua principal obra quando a aposentação o libertou das tarefas do ensino: o primeiro volume saiu em 1993. Para o segundo, publicado em 1936 e o terceiro em 1941, logo antes do seu falecimento, já o velho mestre tinha agradecido,
Ideias . O artigo foi publicado em 1997, numa homenagem póstuma do JL a Manuel Viegas Guerreiro
JornaldeLetras,Artese
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VIEGAS GUERREIRO 1912 1997 25
110 ANOS DE NASCIMENTO | 2022
1 AligaçãoaOrlandoRibeirotitula o testemunho dado por Suzanne Daveau, geógrafa franco portuguesa, diretora de investigação do Centro de Estudos Geográficos, FLUL
ao
Manuel Viegas Guerreiro com Orlando Ribeiro na fila superior, numa visita de estudo, em 1959
comovido, o «tão bom auxílio» que os discípulos lhe prestavam.
Para organizar a publicação do espólio foi preciso vencer sérias e renovadas dificuldades: a contestação do testamento, a morte sucessiva de vários testamenteiros, o desinteresse de outro, a desorganização do arquivo, a falta de recursos, as inevitáveis imposições das próprias carreiras... Apenas em 1955, na mesma altura em que era fundado em Lisboa o Centro de Estudos Geográficos, Manuel Viegas Guerreiro, então professor do liceu de Oeiras, recebeu uma Bolsa do Instituto de Alta Cultura para ordenar e publicar os manuscritos leiteanos, que iriam ser impressos na mesma Imprensa Nacional onde Leite tinha publicado o essencial da sua obra. E publicava se já, em 1958, o quarto volume da Etnografia , elaborado em grande parte por Viegas Guerreiro. Mas não ficou por ali o esforço. Com a ajuda devotada e persistente de Paulo e Alda Soromenho, Manuel Viegas Guerreiro foi publicando os seguintes volumes, em 1967, 1975, 1980, 1982, 1985 e 1988. Os dois amigos tinham então
atingido 77 e 76 anos... Mas tinham conseguido a aposta. Publicaram se também diversas obras leiteanos e, em 1981, renascia a RevistaLusitana , sob o impulso de vários discípulos, entre os quais o mais operoso foi, sem contestação, Manuel Viegas Guerreiro. Até conseguir, em 1993, a criação de um centro de investigação autónomo, dedicado à recolha e ao estudo da Literatura Popular, Manuel Viegas Guerreiro foi colaborador activo do Centro de Estudos Geográficos de Lisboa e, na verdade, continuou a sê lo até ao último dia da sua vida profissional. O «Tio Guerreiro», como passaram a chamar lhe afectuosamente os antigos alunos, nunca vinha à faculdade sem procurar os amigos de sempre, estes jovens a quem tinha ensinado o amor à gente do campo, a modéstia e a simplicidade no trato, a devoção à ciência e o desinteresse pelo lucro.
Cada vez que podia, vinha visitar «o Orlando» em Vale de Lobos e pedia amistosamente notícias dele, de cada vez que me encontrava. O ensino da Etnologia, que praticou na Faculdade de Letras de Lisboa a partir de 1966, inseria se na licenciatura de Geografia e dava aos jovens geógrafos uma útil abertura para os aspectos mais profundos e ocultos da vida humana, ajudando os a ultrapassar o que a visão então predominante em Geografia Humana tinha de esquematicamente económico e utilitário. Dava lhes também uma larga e profunda visão do mundo tropical, baseada nas experiências africanas longamente praticadas no Sul de Angola e no Norte de Moçambique. Povos tão retraídos, e tão sacrificados, como foram os Macondes e os Bochimanes! Khũ de Angola, devem lhe a divulgação de parte da sua cultura. O amor e o respeito com o qual tratou sempre a gente que estudou aparece, por exemplo, nos agradecimentos que dirigiu ao povo maconde, «que com tão apurado espírito de compreensão, invulgar confiança e generosa simpatia me deixou penetrar um pouco na intimidade do seu viver quotidiano».
Num mesmo amor do campo português e da gente africana comungavam Viegas Guerreiro e Orlando Ribeiro. Em trabalho de campo no Sul de Angola ou em inúmeras excursões com os alunos através de Portugal, os dois compadres partilhavam do mesmo entusiasmo. «Saía se frequentemente para o campo
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MVG 1912 1997
Pormenor de fotografia de Suzanne Daveau, no gabinete do Centro de Estudos Geográficos, UL, 1966. Propriedade: Suzanne Daveau. Cedida por Fototeca do CEG
sem olhar ao cariz do tempo, em marchas por vezes penosas com chuva que encharcava o corpo. (...) Geografia e História davam se as mãos, em discurso como nunca ouvimos outro, tão eloquente como emocional, singelo, despretensioso», escrevia Viegas Guerreiro em 1980.
A partir dos anos 60, partilhei também destas alegres expedições, às quais não faltava a sempre discreta mas atenta participação de «D. Conceição», como chamávamos à querida mulher do nosso amigo e mestre. O valor fundamental e imprescindível do trabalho de campo tinham os dois aprendido com o «Doutor Leite» e transmitiram convictamente aos discípulos.
Nunca o vi sozinho. Nem o consigo imaginar solitário recolhido em leitura silenciosa, debruçado sobre problema de que não fala aos outros, empenhado no avanço próprio ou simplesmente destacado das pessoas por timidez, sobranceria ou indiferença. A imagem que deixa é de um homem acompanhado. Nos corredores da Faculdade de Letras, sempre de braço dado com alguém, cabeça inclinada para ouvir melhor. Nos corredores da vida, é só escolher: o último aluno activo de Leite de Vasconcellos e publicador das suas obras póstumas (olhar para ele era uma vertigem do género «vejo os olhos que viram o Imperador»); o amigo de Orlando Ribeiro, que o trouxe para a faculdade e lhe transmitiu o bastão patriarcal do nosso melhor departamento; o professor que antes marcara a juventude de tantos liceais algarvios (será que os jovens das escolas secundárias de hoje poderão vir a dizer frases do género «Rui aluno de Rómulo, do Virgílio, do Martins Sequeira,
do Viegas Guerreiro»?; o cientista que ocupava tempo a promover os colaboradores, cumprindo, assim, uma obrigação raramente cumprida, porque tem custos; o reformado que todas as tardes comparecia na faculdade, dando uma magistral bofetada no limite de idade mostrando o que um professor pode fazer com os tempos livres seus e dos outros: assim criou os Estudos Gerais Livres, uma bem sucedida escola do fim da tarde que lhe sobreviverá, e a que durante anos atraiu, para cursos e conferências, os maiores nomes da ciência portuguesa, convocados todos pela sua amizade. Dir se á: é normal que um homem viva acompanhado pelos seus colegas e amigos, mas com certeza Manuel Guerreiro se retirava para estudar e investigar. É possível que sim, se o seu material estivesse em papel. Mas para onde se retira um etnógrafo, se não é para o meio da gente?
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Testemunho de Ivo Castro, professor catedrático aposentado da FLUL,
cedido ao JornaldeLetras,ArteseIdeias , 1997 | P. 7
MVG 1912 1997
MVG e Orlando Ribeiro abraçados, FLUL, 1991
« UM
HOMEM ACOMPANHADO
POR
IVO CASTRO
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NOBREZA HUMANA
POR MARIA EUGÉNIA S. DE ALBERGARIA MOREIRA3
Em 1976, Viegas Guerreiro era me um nome familiar. A simplicidade e o rigor dos seus escritos conhecera os já, nos MacondesdeMoçambique Ele era exactamente assim, o autor que então tive a sorte de conhecer como colega, e a fortuna de apreciar como amigo de há uma vintena de anos. A admiração mútua por África aproximou nos, em longas conversas que por vezes terminavam num dueto pobre, quase em surdina, mas sentido, de OssiKatakisaAfrica , no átrio do Centro de Estudos Geográficos ou pelo corredor da faculdade. E no convívio do dia a dia, naturalmente, com o encanto e candura, «o Tio» (como o chamávamos), se tornou um Grande Amigo. Um dos poucos Grandes Amigos que, com a sua adorada Conceição, se integraram com carinho e alegria no meu ambiente familiar. Exemplo digno de bondade e de enorme nobreza humana para todos que tiveram o
privilégio de com eles privar. Há três anos, com um entusiasmo renovado, fez se o menos jovem dos coordenadores científicos dos projectos de I&D da JNICT. Chefe de uma grande equipa de investigadores de diferentes ramos do saber, de que também faziam parte os colegas Carlos A. Medeiros, Lucinda Fonseca, Viriato Soromenho Marques e eu própria, dirigiu um projecto para a elaboração de uma Monografia Etnográfica de S. Jorge, Açores, quase concluída. Em pleno trabalho de campo no meio do Atlântico, repartiu connosco o prazer da sua companhia no dia do seu 80.º aniversário. Foi o momento de observar como nos transmitia o seu saber e o seu entusiasmo, como estabelecia com todos o mais natural diálogo, de presidentes a lavradores. E os que não eram, tão logo ficaram seus amigos que na Ilha ninguém mais deixou de perguntar pelo Senhor Professor.
CAMPEÃO DOS ESTUDOS LITERÁRIO ORAIS
POR SAMUEL G. ARMISTEAD4
Y en el presente contexto, quisera recordar algunas de las notables publicaciones suyas, que, para mí, como especialista en el Romancero, me han resultado de singular interés y utilidade. Su Guiade RecolhadeLiteraturaPopular(1976) nos dio la pauta para una recolección sistemática de la riquíssima tradictión lusitana. La Históriada LiteraturaPopularPortuguesa(1978), informada por vastas e autorizadas lecturas, ofrece una nueva perspectiva y una nueva valoración de toda a literatura oral y, concretamente, para el ensalmos, coplas, romances, refranes, adivinanzas y cuentos tradicionales. Y junto a sus publicaciones y su
3 Testemunho de Maria Eugénia S. de Albergaria Moreira, professora catedrática aposentada da FLUL, ao JornaldeLetras,ArteseIdeias , 1997
4 Samuel Gordon Armistead (1927 2013), etnógrafo, professor e crítico
ejemplar erudición, conviene subrayar outro aspecto no menos importante de la vida intelectual de don Manuel Viegas Guerreiro y es su magna contribuición, como colega, al organizar y colaborar en nuestros afanes colectivos. Recordemos, entre otras muchas intervenciones, su crucial colaboración en la edición del monumental Romanceiro, de José Leite de Vasconcelos (1958 1960), así como sus importantes contribuciones como director de los Coloquios de Lisboa y Paris (ambos de 1987). Hemos perdido un gran maestro, un generoso colega y un destacado campeón de los estúdios literário orales. No veremos su igual.
literário norte americano. Era professor na Universidade da Pensilvânia quando participou na homenagem póstuma do JL a MVG, em 1997.
REVISTA FMVG | N.º 31MVG 1912 1997
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UM HOMEM SÁBIO
POR MARIA LUCINDA FONSECA5
O Professor Manuel Viegas Guerreiro sempre nos transmitiu o amor pela terra, pelas pessoas. Olhar para essas memórias faz me pensar muito e sentir me privilegiada, porque uma das melhores experiências que eu tive na vida foi a oportunidade de ter tido um professor como o Professor Viegas Guerreiro. Ele viria a ser um grande amigo até ao fim, até ao último dia da sua vida.
Era um homem sábio, um homem simples, um comunicador nato. Um fazedor de pontes, sempre. Para ele não havia fronteiras. Lembro me das aulas que nos dava, como ele
nos transmitia a identidade do ser humano, com uma convicção impressionante. Para uma rapariga como eu, que tinha 17 anos quando entrei para a universidade, em 1973, foi efectivamente extraordinário.
Outro aspecto notável foi a autoconfiança que ele nos transmitia porque vivíamos num regime de opressão, em que as universidades eram para as elites. Eu não fazia parte da elite, porque também eu era originária do campo. Encontrar um professor que valorizava o campo, as minhas raízes, o sentir que nós não éramos inferiores, que podíamos ser bons... Isso foi muito importante.
de Manuel Viegas Guerreiro, no âmbito do documentário Estudos GeraisLivres:umtítuloparaaHistória , realizado pela FMVG, em 2019
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5 Excerto de entrevista a Maria Lucinda Fonseca, professora catedrática no Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, UL e discípula
Manuel Viegas Guerreiro com os alunos Maria Lucinda Fonseca e Francisco Melo Ferreira
O foco era sempre na igualdade, no que aproxima as pessoas. Nunca na diferença. Também dizia sempre que ser professor era uma permanente disponibilidade para aprender. E aprender com todos, até com os seus alunos. Confesso que quando ouvi o seu comentário nem conseguia acreditar, porque nós fazíamos sugestões, contestávamos. Era próprio da época, queríamos outras matérias e a felicidade dele era imensa.
O professor estava connosco sempre e nós com ele, e sentíamos esta responsabilidade. Recordo me de quando o Professor foi contactado por um aluno de Filosofia, da Faculdade de Letras (Leonel Nunes), natural da Ilha de S. Jorge e que, na época, era o presidente da Associação de Estudantes da Faculdade. Preocupado com o declínio populacional da sua ilha, ele pediu ao professor: «Tem que ir lá, à Semana Cultural das Velas e tem que fazer uma monografia.» O aluno convenceu o presidente da Câmara a apoiar este projeto para que a memória da ilha se não perdesse.
O professor constituiu uma equipa que incluía dois professores catedráticos de Geografia, do meu departamento, ambos açorianos (Maria Eugénia Albergaria Moreira e Carlos Alberto Medeiros), o professor Viriato Soromenho Marques, do departamento de Filosofia, e do grupo dos seus alunos, lá fui eu, ainda uma jovem professora de Geografia Humana.
E assim fomos para S. Jorge fazer o trabalho de campo. Lembro me que ele rapidamente era um dos membros da comunidade. Nós deslocávamo nos com o motorista da Câmara e quando precisávamos de ir das Velas para a Calheta, outro município, já o motorista não gostava, por conta das rivalidades. Mas estimava tanto o Professor que decidiu fazer uma festa em sua casa. Queria que os filhos e os netos o
conhecessem. Convidou apenas o Professor e a menina, que era eu. Os outros também eram doutores, mas para ele e para a família o Professor era só um. Os outros eram pessoas “muito importantes”. Portanto o Professor era esta autenticidade, esta proximidade. Era um homem sábio que antecipava as questões. Quando, já reformado, cria os Estudos Gerais Livres (EGL) com o professor Agostinho da Silva, fala nos também, seus alunos, do seu sonho. Nós estávamos em tudo, a planear os seus projectos com ele. Com os EGL, o professor queria aproximar se do povo. Para ele, a partilha do saber pelos professores universitários era uma obrigação cívica. Assim como o ir ao encontro das necessidades das pessoas, proporcionar a formação ao longo da vida que, no fundo, eram os fundamentos dos Estudos Gerais Livres.
Eu vivi esta pedagogia de proximidade, dos interesses dos alunos, das interrogações, do que falamos hoje e que é tão importante: o ensino mais centrado no aluno, como diz “Bolonha”. Era o que o professor Viegas Guerreiro praticava, sempre com a ideia de liberdade. Dava um valor imenso ao facto de as pessoas estarem informadas. Era lhe absolutamente crucial a transformação da informação em conhecimento, para que as pessoas pudessem escolher em liberdade. Nessa fase, sentia que a universidade estava a perder um pouco dessa liberdade com as questões do neoliberalismo, dos cortes no financiamento público, os aumentos das propinas, a expansão do ensino superior privado. Ele debatia estas questões connosco de forma muito convicta e com um pragmatismo impressionante. Ele era um sonhador que preparava as coisas até ao mais ínfimo pormenor.
REVISTA FMVG | N.º 31MVG 1912 1997
HOMEM DE SABER EXTRAORDINÁRIO
POR FRANCISCO MELO FERREIRA
Ele era um homem de uma simplicidade incrível e era por isso que muitos de nós o adorávamos.
Ao mesmo tempo era de um saber extraordinário e era esse saber extraordinário que ele punha ao serviço das comunidades menos conhecidas.
Num certo sentido correspondia às suas preocupações, o devolver ao povo aquilo que este lhe tinha ensinado.
Viegas Guerreiro diz numa entrevista a propósito dos Estudos Gerais Livres (EGL) que o convívio com os alunos foi sempre o mais importante para ele
enquanto professor e os EGL alargavam essa comunidade de alunos porque os participantes, os ouvintes, as pessoas que iam às sessões em certo sentido eram alunos do professor Viegas Guerreiro. Ele é talvez o exemplo mais perfeito de humanidade que eu encontrei. Humanidade no sentido de que nada do que é humano lhe era estranho e eu penso que ele não se admirava com qualquer hábito, costume, história que qualquer pessoa, de qualquer cultura lhe contasse.
et curieux incurable
6 Excerto do depoimento de Francisco Melo Ferreira, professor de Geografia no ensino secundário e discípulo de Manuel Viegas Guerreiro, recolhido para EstudosGeraisLivres:umtítuloparaa
, documentário realizado pela FMVG, em
7 Richard Kuba, investigador, curador das colecções do Instituto Frobenius na Universidade Goethe, Frankfurt am Main, sintetizou assim MVG no seminário ManuelViegasGuerreiro:opercursoeafilosofiadeum humanistaefilósofo
organizado pela Fundação em
| P. 11 Espólio MVG © FMVG MVG 1912 1997 «
6
« MANUEL VIEGAS GUERREIRO POR
RICHARD KUBA
7 Un savant
,
2021.
História
2019
POSTAIS DO ALGARVE REVISTA FMVG | N.º 31 JÚLIO DANTAS E O ALGARVE NO N.º 25 DA REVISTAINTERNACIONAL SAIU PARA A RUA HÁ 70 ANOS
No mês de abril do ano de 1982 a Universidade do Algarve realizou um seminário intitulado Opapelda Universidadenoprocessode regionalizaçãoedesenvolvimentoregionalno qual participou o Professor Manuel Viegas Guerreiro com a comunicação Universidade,DesenvolvimentoRegional eEtnografia . Seguem se alguns comentários sobre esse texto.
Em primeiro lugar, o Prof. Manuel Viegas Guerreiro lembra nos a ideia geral de universidade que considera ser um «conjunto de pessoas, mestres e discípulos, constituídos em grupos organizados ou corporações,
mais do que um edifício ou grupo de edifícios em um determinado lugar» e que oferece à comunidade «estudos gerais, universais e comuns».
Em segundo lugar, o Prof. Manuel Viegas Guerreiro considera a universidade uma «instituição comprometida com o processo de desenvolvimento regional, porém, esse compromisso não deve pôr em causa os fins últimos da instituição e que são: o equilíbrio entre ciência aplicada e ciência fundamental, evitar o excesso de dirigismo, promover a função educativa e moral no sentido de formação humana e, em todos os casos, estimular a participação dos estudantes com a frescura da sua imaginação».
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VIAGENS PELA OBRA DE MANUEL VIEGAS GUERREIRO UNIVERSIDADE, DESENVOLVIMENTO REGIONAL E ETNOGRAFIA MANUEL VIEGAS GUERREIRO (1982) POR ANTÓNIO COVAS
Capa e 1.ª página da comunicação de MVG comentada por António Covas,
Professor Catedrático aposentado da Universidade do Algarve
Espólio MVG © FMVG
Em terceiro lugar, e quanto ao processo de regionalização, o Prof. Manuel Viegas Guerreiro é mui crítico e refere que é a regionalização». Ou ainda «muito se apregoam as suas excelências, pouco se fala da formação de base de quem há da execução, isto é, os membros das autarquias locais; e tão pouco esclarecidos estão os portugueses sobre o que é a regionalização, que, a cada passo, e em todos os níveis, sobre ela se interrogam».
Em quarto lugar, e no que à etnografia diz respeito, o prof. Manuel Viegas Guerreiro afirma «em definitivo, sem uma participação ativa e consciente das populações e das suas comunidades não há plano de desenvolvimento regional que resista». E acrescenta «o estudo minucioso das comunidades por via de uma etnografia científica aplicada e não de uma etnografia à moda antiga, folclórica e pitoresca, respeitável e útil, sem dúvida, mas a que falta a qualidade de uma adequada metodologia científica».
Em quinto lugar, depois de uma breve referência a um trabalho de campo sobre a freguesia de Cachopo, o Prof. Manuel Viegas Guerreiro tece algumas considerações finais, em jeito de aviso, sobre a filosofia e o modelo de desenvolvimento socioeconómico regional, de onde destacamos:
Não subestimemos os problemas, nunca falta uma especificidade cultural aos grupos humanos, por mais pequenos que eles sejam;
A tradição é fundamental, a etnografia é a ponte entre o passado, o presente e o futuro;
Não cuidamos do necessário e vamos atrás do supérfluo;
Produzir e consumir, eis o teor da vida para onde nos empurram, ambições incontidas, sem cuidar do bem comum e dos direitos alheios.
Notas Finais
E, mesmo a terminar, diz nos o Prof. Manuel Viegas Guerreiro, «a liberdade é sempre uma liberdade comprometida, mas isso não impede a nossa paz interior, a sadia alegria de viver, a justiça social, a
palavra de Deus».
Nesta mesma linha, seja me permitida uma última reflexão sobre a missão da Universidade, hoje, em 2022.
Devido às grandes transições que irão atravessar esta década, é praticamente impossível às instituições de ensino superior escapar a uma profunda transformação das suas missões, funções, estrutura, processos e procedimentos. Devido à sua especificidade, em especial a rede dos subsistemas de ensino, investigação e desenvolvimento, as instituições de ensino superior estão particularmente vocacionadas para poderem funcionar como instituições plataforma de excelência. Eis algumas características dessa organização plataforma: Em primeiro lugar, a universidade será cada vez mais uma placa giratória de problemas, projetos e
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Ao centro, o Prof. Viegas Guerreiro. À sua direita o Prof. Gomes Guerreiro
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colaboradores que interessam às diferentes comunidades de cidadãos e funcionando em canal aberto com a multidão;
Em segundo lugar, a universidade é uma organização aberta ao mundo, partilhando o conhecimento e o financiamento com a multidão plataforma, em múltiplas formas e formatos de crowdsourcing , crowdlearning e crowdfunding , donde a importância de dedicar uma especial atenção à sua política comunicacional;
Em terceiro lugar, a «universidade é cada vez mais univercidade», isto é, a universidade deve fundir se cada vez mais com a cidade e os seus problemas, sobretudo, numa ótica crescente de smartcity;
Em quarto lugar, a «universidade é cada vez mais pluriversidade», isto é, não há áreas de trabalho estranhas ou exteriores à universidade plataforma na exata medida em que a universidade se alimenta desse banco de problemas que é a pluriversidade de situações e oportunidades;
Em quinto lugar, a organização da universidade plataforma deverá seguir, em minha opinião, a regra do terço: um terço de formação, presencial e à distância, um terço de problemsolvinge um terço de investigação ação.
Estas serão as balizas para as novas missões da universidade que, para o efeito, deverá encontrar um novo ponto de equilíbrio interno e externo, de acordo com novas áreas funcionais e os interesses das várias comunidades que deve servir. E, quatro décadas depois, em plena crise de civilização e cultura, em situação crítica quanto ao papel das ciências humanas e sociais na atual conjuntura e novamente preocupados com o desenvolvimento regional, recordamos as palavras avisadas do Prof. Manuel Viegas Guerreiro, «cuidado com o excesso de dirigismo, não esqueçamos a função educativa e moral e a formação humana da universidade, usemos a liberdade em benefício do bem comum e dos direitos alheios». E quanto ao resto, dizemos nós, confiamos plenamente na Universidade do Algarve e no seu compromisso com o desenvolvimento humano e social.
ANTÓNIO MANUEL ALHINHO COVAS
Doutorado em Assuntos Europeus pela Universidade de Bruxelas, (1987) e professor catedrático da Universidade do Algarve desde 2000. Entre 1990 e 1995 foi Pró Reitor e Vice Reitor da Universidade de Évora e entre 1995 e 1999 Assessor ministerial. Tem 14 livros publicados na área dos Estudos Europeus e 14 na dos Estudos Rurais e Territoriais, para além de inúmeros artigos em revistas e na imprensa. Foi membro do Conselho Deontológico da Ordem dos Economistas, Conselheiro Nacional de Educação e Vogal do Programa Operacional do Algarve entre 2008 2014. Para além dos assuntos europeus, a sua investigação centra se na conceção de territórios rede da 2ª ruralidade e na implementação de territórios inteligentes e economias de rede e visitação de base territorial. Atualmente está aposentado.
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REVISTA FMVG | N.º 31 CV completo: orcid.org/0000 0002 0034 102X
Publica se nesta edição da RevistaFMVGmais um estudo da Fundação Álvaro de Carvalho com a Nova Medical School, da Universidade Nova de Lisboa e o Centro de Medicina Laboratorial Germano de Sousa.
O artigo saiu em Junho na ActaMédicaPortuguesa. Pode ler aqui ou consultar onlineem https://actamedicaportuguesa.com/revista/index.php/
amp/article/view/17676
Desde o início da pandemia, a Fundação promoveu um conjunto de estudos serológicos, em parceria com a Fundação Vox Populi, Fundação Claude e Sofia, Ordem dos Médicos e Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto.
NOVO ESTUDO SARS CoV 2
DIÁRIO DE CAMPO
LEGADO MANUEL VIEGAS GUERREIRO ESCRITOS DO PROFESSOR VIAJAM PARA UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE, MOÇAMBIQUE
Presença de projecto teatral moçambicano em Loulé com investigadores da Universidade Eduardo Mondlane constitui passaporte para livro de Manuel Viegas Guerreiro sobre estudos em Moçambique. Outras publicações da Fundação vão integrar acervo da biblioteca da universidade de Maputo.
Durante a estadia do grupo de teatro em Loulé, em Julho, a equipa visitou vários espaços da cidade, entre eles, a CasadoMeioDia , da editora Sul, Sol e Sal, com quem a Fundação tem uma parceria de circulação de livros usados. Um conjunto saiu de Querença para a cidade, por não configurar o perfil temático da biblioteca CentrodeEstudosAlgarviosLuísGuerreiro , e viajou para Moçambique, cumprindo um itinerário pouco previsível, como são os percursos dos livros. Integrou esta oferta o livro com a chancela da Fundação, ManuelViegasGuerreiro,Cadernosde Campo,Moçambique1957 , organizado por Luísa Martins, bem como revistas da FMVG.
Já a peça de teatro, autêntico agente desta viagem, levou nos até Xigovia, onde Chovemamoresnarua domatador , espectáculo encenado a partir das palavras de Mia Couto e José Agualusa, passíveis de ler no livro Oterroristaeleganteeoutrashistórias, mas que, em Julho, foi ouvida em 20 palcos de 12 distritos portugueses.
Com co produção da Fundação Fernando Leite Couto e Universidade Eduardo Mondlane, a peça foi encenada por Clotilde Guirrugo e Vítor Gonçalves. No centro da trama, Baltazar Fortuna e as suas três mulheres: Mariana Chubichuba, Judith Malimali e Ermelinda Feitinha. O machismo de “Balt azar” Fortuna, levado ao ridículo, e a voz das mulheres moçambicanas que se elevam com aguçado humor, conduzem nos por várias definições de amor através de uma estória que, segundo a encenadora, nos revela outras realidades: «Esta é uma boa abertura, um intercâmbio, um grito que diz que nós existimos, como actores, encenadores ou fazedores do teatro
em geral», disse ao jornal moçambicano OPaís Angelina Chavango, ou Judith Malimali, na peça, acrescenta ao mesmo periódico: «Os portugueses irão ver que Moçambique é uma fábrica de actores». Os autores da peça, Mia Couto e José Eduardo Agualusa, também foram chamados à cena. Em Loulé, participaram de um debate pós espectáculo através de videoconferência, na qual se estabeleceu o diálogo entre autores, amigos e público presente.
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Da esq. para a dir.: Josefina Massango, directora do Teatro Scala ou Ermelinda Feitinha em Chovemamoresnaruadomatador , Marinela Malveiro, da FMVG, e os encenadores Clotilde Guirrugo, da Fundação Fernando Leite Couto e Vítor Gonçalves, da Universidade Eduardo Mondlane.
Horácio Guiamba na pele de Baltazar Fortuna no palco do Cineteatro Louletano
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DOIS WORKSHOPSNUMA SÓ SESSÃO
APROVEITAMENTO DA FLORESTA MEDITERRÂNICA O CASO DE LOULÉ
A Fundação promoveu, no passado dia 27 de Junho, dois workshopssob a égide da Valorizaçãoe aproveitamentodaflorestamediterrânica ocaso deLoulé , candidatura constituída em parceria com a Universidade do Algarve, financiada pela Comissão de Coordenação de Desenvolvimento Regional do Algarve e pela Câmara Municipal de Loulé. Pedro Curto, coordenador regional do Algarve da Agência de Gestão Integrada dos Fogos Rurais e Gonçalo Alves, sócio da GKAPITAL, empresa de consultoria de gestão de recursos naturais e investimento florestal, foram os oradores convidados. O duplo workshopteve transmissão em directo no canal de Youtubeda Fundação, onde pode ser visionado.
Paulo Tomé ofereceu à FMVG, no passado dia 30 de Junho, a colecção da revista Esfera , publicação que dirige desde 2015, compaginando as grandes áreas da ilustração, prosa e poesia.
Os 13 números do projecto editorial semestral com raiz em Querença, entretanto descontinuado, podem ser consultados no CentrodeEstudosAlgarviosLuís Guerreiro , no núcleo HemerotecadoAlgarve . No mesmo dia, a Fundação ofereceu um conjunto de publicações com a chancela FMVG.
Paulo Tomé é um dos fundadores da associação cultural Figo Lampo, com a qual a Fundação mantém um trabalho colaborativo desde que esta se apresentou publicamente, nesta Casa, em 2020
A Fundação recebeu, em Setembro, mais de oitenta livros doados por José Luís da Silva, filho da poetisa Quina Faleiro. Composta maioritariamente por livros de poesia e prosa de autores algarvios, a colecção inclui livros sobre História, Fotografia e Pintura. Muitos deles estão autografados. Após catalogação, poderão ser consultados no CentrodeEstudosAlgarviosLuís Guerreiro . (CEA LG). Recorde se que a FMVG recebe livros sobre a temática do Algarve ou de autores/as algarvios/as. Também nos comprometemos a dar lhe novos donos, nova vida, caso não passem neste crivo, numa parceria com a CasadoMeioDia , em Loulé.
REVISTA FMVG | N.º 31
CENTRO DE ESTUDOS ALGARVIOS LG COLECÇÃO ESFERASOB CONSULTA NA FUNDAÇÃO MVG
DOAÇÃO PARTICULAR AO CEA LG
Livros doados por José Luís da Silva
Paulo Tomé mostra uma edição da revista EsferaPalco e sessão streaming
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Quarenta e um anos após a 1.ª edição de PitõesdasJúnias,esboçodemonografiaetnográfica , as imagens captadas pelo Professor Viegas Guerreiro voltam a ser impressas, agora no 5.º vol. da colecção PenedaGerês,AmbienteeTradição , assinalando o 50.º aniversário do Parque Nacional da Peneda Gerês (PNPG).
A celebração de meio século de existência do PNPG deu nova luz sobre algumas das fotografias captadas por Manuel Viegas Guerreiro na sua incursão por Pitões das Júnias, colhidas em finais dos anos 70 do século passado, a pedido da Secretaria de Estado do Ambiente, através do Serviço Nacional de Parques, Reservas e Património Paisagístico, actual Instituto da Conservação da Natureza e Florestas. As imagens revelam as casas com coberturas em colmo, as práticas agrícolas e de pastorícia da aldeia nortenha.
O contacto com a Fundação, surge em Junho, pela mão de Ricardo Prata, arquitecto e autor do projecto editorial do PNPG.
O livro, pode ler se na sinopse: «Partiu da curiosidade e da busca de uma realidade cultural em grande parte já desaparecida, mas conservada em registos documentais.»
Recorde se que no início deste ano, Fernando Pessoa, arquitecto paisagista e fundador do Serviço Nacional de Parques, Reservas e Património Paisagístico, doou à Fundação parte da colecção das fotografias utilizadas na edição da monografia de Pitões das Júnias. A obra fixa no tempo o comunalismo no Norte do país.
Aquela que agora revisita as imagens de Manuel Viegas Guerreiro, entre outras, saiu em Setembro. Além de PitõesdasJúnias(Montalegre).Homem Montanhês , de Ricardo Prata, a colecção inclui os volumes CastroLaboreiro.BicodeAkiKaurismaki, Soajo PovoqueCantadeMichelGiacometti,Vilarinho daFurna DocumentáriodeAntónioCampos,e Lindoso(Lindoso).UmaBatidaaoLobo,de Hélder Mendes. Os livros podem ser adquiridos nas Portas do PNPG.
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ESPÓLIO FOTOGRÁFICO MANUEL VIEGAS GUERREIRO IMAGENS DE PITÕES DAS JÚNIAS COM MAIS DE 40 ANOS REPUBLICADAS EM EDIÇÃO DE 2022 DO PNPG
Legenda de MVG: OtioCasarãocolmandoumpalheiro
Legenda de MVG: Aeira
Capítulo da publicação onde constam as imagens de MVG Espólio MVG © FMVG Espólio MVG © FMVG
A Fundação Manuel Viegas Guerreiro promoveu um debate sobre o fim da União de Freguesias na noite de 15 de Setembro. Os habitantes de Querença, Tôr e Benafim deslocaram se em peso para ouvir prós e contras da reorganização administrativa deste território.
A discussão evidenciou que a história destas comunidades, que sempre lutaram por ter autonomia administrativa, de Alte no caso de Benafim e de Querença, no caso da Tôr, não se apaga por decreto.
Para a sessão pública, a Fundação convidou o jurista Quirino Mealha, membro da instituição, para fazer o enquadramento legal da possibilidade de utilizar o período transitório e irrepetível que a lei n.º 39/2021,
de 24 de junho, concede para devolver a identidade cultural e territorial a cada freguesia.
A título não oficial, compareceram a presidente da União de Freguesias de Querença, Tôr e Benafim, Margarida Correia, e, em representação do Município, o director municipal da Câmara de Loulé, Júlio Sousa.
O prazo limite para que este intuito se cumpra através de um processo simplificado termina no dia 21 de Dezembro. Recorde se que a agregação das freguesias ocorreu em condições impostas pelo programa de assistência financeira externa. Nesse quadro, o município de Loulé viu se obrigado a reduzir para nove as 11 freguesias do concelho.
CINEMA LENÇOL EM QUERENÇA
O lençol voltou a ser esticado na Praça da Fundação, que recebeu, na noite de 5 de Agosto, a estreia da 2.ª edição do ciclo de cinema ao ar livre de Querença. OlharesLugares , de Agnès Varda e JR, foi o documentário escolhido pela organização de Cinema Lençol, a associação cultural Figo Lampo. Abriu a sessão, a curta de animação Ocontodovento , de Cláudio Jordão e Nelson Martins. Cinema Lençol estendeu se ao longo do mês de Agosto por vários espaços da aldeia, sempre com exibição às sextas feiras, entrada gratuita e cerca de 60 lugares ocupados por residentes e visitantes.
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SESSÃO PÚBLICA EM QUERENÇA QUASE 10 ANOS DEPOIS DE UNIÃO FORÇADA QUERENÇA, TÔR E BENAFIM PEDEM A SEPARAÇÃO
Sessão de esclarecimento na FMVG
Sessão de
cinema
ao ar livre na FMVG MMML MM
MANUEL VIEGAS GUERREIRO OLHADO E REFLECTIDO PELOS MAIS JOVENS DA SUA ALDEIA
Obra e pensamento de Manuel Viegas Guerreiro deixam prateleiras e estantes para serem sentidos e apreendidos por crianças e jovens. São eles que dirão quem foi e quem é o patrono desta Fundação. Assim reza o cartaz colaborativo apresentado em Setembro ao Plano Nacional das Artes, para a 1.ª Bienal Cultura e Educação: Retrovisor,umahistóriadofuturo
O legado de Manuel Viegas Guerreiro, o histórico de colaborações entre os agentes parceiros e o barro de Querença permitiram que Fundação, Câmara Municipal de Loulé e Ao Luar Teatro, ideias culturais moldassem, através da arte, a criação de recursos educativos MVG, gérmen proposto ao Plano Nacional das Artes no passado dia 15 de Setembro no Cineteatro Louletano. Para que ganhe raízes, a ideia conta com a sempre boa colaboração da Escola EB1/JI de Querença, que integra o agrupamento de escolas Pde João Coelho Cabanita e da União de Freguesias de Querença, Tôr e Benafim. Crianças de Querença e jovens que se venham a voluntariar vão assim conceber recursos, vídeos e jogos para outras crianças e jovens, apreendendo não só a figura singular do mundo que é Manuel Viegas Guerreiro: o homem de escuta, o etnólogo, antropólogo, professor de liceu e universitário, mas acima de tudo os seus valores culturais universalistas, inclusivos e profundamente humanistas.
As actividades terão como palcos a Fundação, a aldeia e a paisagem envolvente de Querença. A transferência das ideias e do conhecimento será
conseguida através de um trabalho conjunto, mediada pelo projecto Vemos,OuvimoseLemos, já implantado na escola EB1/JI de Querença pela bibliotecária da Câmara de Loulé, Maria José Mackaaij. A concretização dos recursos educativos terá a mentoria de Célia Martins, especialista em educação, atriz e co fundadora da companhia Ao Luar Teatro que desde
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Imagens utilizadas na apresentação conjunta no Cineteatro Louletano
Apresentação do projecto colaborativo RecursosEducativosMVG
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há quatro anos dinamiza, na mesma escola, o projecto QuartoMinguante . No contexto desenhado para 2022 2023, tenta se abranger também jovens do entorno da aldeia.
A 1.ª Bienal Cultura e Educação, de cariz nacional, decorrerá de 1 de Março a 30 de Junho do próximo ano e será dirigida à infância e juventude. Tem como objectivo reflectir e disseminar o lugar das expressões e das linguagens artísticas na educação, formal e não formal, através de uma programação cultural integrada e diversa. No que toca a Querença, serão apresentados e disponibilizados, em Junho, jogos físicos e digitais e um vídeo. Ferramentas de divulgação de Manuel Viegas Guerreiro que poderão ser partilhadas pela
família educativa de forma universal e gratuita. Os jogos tradicionais dos macondes, vyakuyalanga em maconde, segundo recolheu Manuel Viegas Guerreiro em Moçambique, constituem um interessante ponto de partida para a exploração dos jogos tradicionais do interior de Loulé. Estes levam nos à evidência de que as brincadeiras são universais e específicas de um território, de uma cultura. Os brinquedos que vierem a ser criados serão objecto de uma pequena mostra expositiva itinerante. Mas isso, acontecerá só no próximo ano.
Para já, e tal como na apresentação de dia 15 de Setembro, no Cineteatro Louletano, convocamos outra figura icónica:
ANTÓNIO ALEIXO
QUE NOS ENSINA:
E ASSIM, LIÇÃO POR LIÇÃO
O QUE AOS POUCOS APRENDEMOS DE OUTROS A OUTROS DAREMOS QUE OUTROS A OUTROS DARÃO
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Apresentação de Célia Martins, Ao Luar Teatro
Apresentação de Maria José Mackaaij, CML
PROJETO COM A COMUNIDADE EDUCATIVA DE QUERENÇA AS ÁRVORES, OS LIVROS E CRESCER EM QUERENÇA
O projeto de mediação ambiental, educativa e cultural com a comunidade educativa de Querença, que resulta da parceria que desde há três anos a Fundação mantém com a Câmara Municipal de Loulé e o agrupamento de escolas Pde João Coelho Cabanita/EB1/JI de Querença tem como sede e ponto de partida a sua Biblioteca Verde intitulada ANossaCasaComum . As dinâmicas deste projeto estão fortemente comprometidas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, ao promover uma Educação de Qualidade (4), a Redução das Desigualdades (10) e Proteger a Vida Terrestre (15) e inserem se na Estratégia Local de Ação Climática, promovida pelo Plano Municipal de Ação Climática da Câmara de Loulé. A continuidade desta intervenção tem vindo a consolidar uma relação de forte cumplicidade e afetividade com as crianças da escola de Querença, com as suas professoras e famílias, a partir dos livros, da sua leitura e da natureza que juntos temos vindo a descobrir. Criada em 2019 a partir da doação de livros para a infância em diálogo com os temas do PercursoEcoBotânicoManuelGomesGuerreiro a biblioteca ANossaCasaComumfoi organizada na convicção de que a Humanidade partilha com os demais seres vivos uma casa comum a todos: a Terra. A partir dos seus livros, as crianças são convidadas a conhecer, contar, criar e cuidar responsavelmente a biodiversidade do planeta.
Neste ano letivo que agora começou abraçámos um novo desafio, alargando a rede de parceiros do nosso projeto: ao grupo inicial junta se agora também a associação ao
Fotografia: Maria José Mackaaij
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As árvores como os livros têm folhas e margens lisas ou recortadas, e capas (isto é copas) e capítulos de flores e letras de oiro nas lombadas.
Jorge Sousa Braga, Herbário , 1999
Luar Teatro A Lua das Crianças e a União de Freguesias de Querença, Tôr e Benafim.
No quadro da nossa intervenção iremos este ano iniciar uma arqueologia da memória em torno da figura de Manuel Viegas Guerreiro. Uma espécie de viagem no tempo e no espaço do povo de Querença para o mundo e do vasto mundo de volta a Querença pela mão do menino Blé, que aqui nasceu e onde a sua personalidade absorveu marcas humanas e paisagísticas que o enformaram.
Iremos descobrir Manuel Viegas Guerreiro o seu estar, sentir e crescer a partir desta aldeia através de um processo de espanto, curiosidade e afetividade, tal como temos vindo a construir em continuidade ao longo destes anos. Para o efeito, exploraremos a sua biblioteca pessoal, entrevistaremos pessoas que o conheceram pessoalmente, e faremos uso da imaginação do olhar enquanto caminharmos nas paisagens que, provavelmente, por aqui calcorreou durante a sua infância.
Pela mão das crianças serão criados recursos educativos e culturais (um vídeo e jogos físicos e digitais) para dar a conhecer a vida e obra deste homem singular e generoso. Esta criação irá integrar, em junho de 2023, a 1.ª Bienal CulturaeEducação Retrovisor,umahistória doFuturo , do Plano Nacional das Artes.
Quem sabe, abrindo assim caminho a possíveis futuros PequenosAntropólogosdeQuerença
Regularmente, a Fundação acolhe estas crianças transformando se em lugar de aprendizagens, de
descobertas, de encontros surpreendentes com a comunidade e de desafios que nos levam paisagem fora, tendo realizado 125 sessões ao longo do ano letivo anterior, nas várias valências do projeto.
Com os PequenosNaturalistasdeQuerença , ficámos a conhecer Greta Thunberg; descobrimos constelações de pássaros (os orizurus do espectáculo PaPIOpus8 , da Companhia de Música Teatral, o pombo correio, com Humbertino Semião da Sociedade Columbófila Louletana e as aves da Fonte Benémola, com António Marques e a Almargem); ouvimos lendas das mouras encantadas de Salir e de Querença, pelo Serviço Educativo do Museu Municipal; aprendemos que as rochas também falam connosco e nos contam histórias antigas da vida na Terra, na exposição do Geoparque Algarvensis; deslumbrámo nos com os insetos de Querença e com as possibilidades da fotografia, com Vítor Martins; aprendemos com a Ana Barreto quão saborosas são as barras energéticas de Querença, confecionadas com os frutos secos do barrocal algarvio; e criámos eco arte a partir de elementos recolhidos durante os nossos passeios na natureza. E porque não podemos ignorar e ficar indiferentes ao mundo à nossa volta e nos confrontamos e entristecemos com a miséria da guerra, participámos também numa campanha de recolha de bens para ajuda ao povo ucraniano. No âmbito das nossas atividades na valência Leitores deBemQuerençaconstatámos o grande entusiasmo das crianças com os novos livros que mensalmente lhes foram entregues na Fundação, ao ponto de cada título ter tido, em média, uma rotatividade de três empréstimos a alunos diferentes (339 livros resultaram em 1.088 empréstimos para casa). Foi com alegria e satisfação que assistimos também a melhorias nas competências pré leitoras das crianças do pré escolar a partir da intervenção que implementámos para promoção da literacia emergente e na melhoria da fluência e compreensão da leitura das crianças do 1.º ciclo que integraram o L.E.R. Cãofiante. Ao canto dos pássaros e ao rumor do vento na folhagem das árvores em redor da Fundação, juntam se livros e risos de crianças. Sabe bem crescer em Querença.
Maria José Mackaaij Câmara Municipal de Loulé
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NAS ASAS DO MUNDO
Ainda o sol não nasceu, já António Marques e Paulo Narciso lançam as redes. Não esperam apanhar peixe mas pássaros, a quem devolverão o voo após medições e pesagem. Descobrimos a biodiversidade da Fonte da Benémola nas asas da ciência e do voluntariado.
André Pinheiro colabora na associação ambientalista Almargem e foi o cicerone da incursão do grupo de PequenosNaturalistasdeQuerença alunos de 1.º ciclo da aldeia pelos meandros da Zona Protegida da Fonte da Benémola, no passado dia 29 de Junho. Pelo caminho, ficam a saber que este espaço verde é um pequeno paraíso para as espécies florísticas e faunísticas que merecem ser preservadas. Com o silêncio possível que um grupo de 18 crianças vai anunciando e deixando à passagem, são feitas pequenas descobertas:
FUNCHO, bom para fazer chá e acalmar a barriga; TOMILHO de que se pode retirar o perfume, sem
estragar as flores roxas; PERPÉTUA DAS AREIAS a lembrar o passo lento dos camaleões e o cheio a caril; ALECRIM a fazer soar, entre outras vozes, a da Filipa Faísca:
O Sto António chegava, que alegria, que folguedo Só nas fogueiras se falava, depois S. João e S. Pedro Todo o ar se perfumava com o cheiro do ALECRIM Todos a fogueira saltavam, em Querença era assim Os vizinhos se juntavam à volta da maior fogueira Nas sortes participavam, tudo era uma brincadeira Nas noites negras como breu, só se viam as clareiras E as estrelas no céu e a luz baça das fogueiras
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Fotografia: Marinela Malveiro
Guarda rios nas mãos de António Marques
Identificam se colónias abandonadas de abelharucos, com os ninhos embutidos nas paredes finas do barrocal, longe do alcance das raposas.
Um quilómetro de caminhada depois, conhecemos o Sr. António, responsável pela anilhagem científica de aves na Fonte da Benémola há mais de 20 anos.
Provavelmente, das pessoas que há mais tempo regista no Algarve, de forma continuada, as espécies que ali residem e as que se encontram de passagem neste intenso corredor de migração. Toda a informação recolhida é integrada na base de dados do ICNF Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas.
O voluntariado do Sr. António permite saber, por exemplo, que uma toutinegra de cabeça preta pode viver, no mínimo, 8 anos. Como? Recapturando a pequena ave, anilhada em 2014.
Ou que à Benémola chegam felosas listadas da Sibéria.
Ou ainda que a felosa de bigode vem ganhar peso nesta área, por cerca de 2 3 semanas, para regressar a África, sobrevoando de uma só tirada o deserto do Saara. Este local é também o de eleição da felosa ibérica para nidificar. Do tamanho e peso de um pacotinho de açúcar, trazem bilhete de ida e volta de países africanos.
Com direito a voltar a voar depois da consulta de rotina, as pequenas aves são libertadas pelos/as alunos/as de Querença com toda a alegria e emoção que o momento fermenta.
Para o final, fica o recado da necessidade de todos entendermos a importância das aves no controlo de pragas e a necessidade da sua protecção. No Algarve, são capturadas 100 mil aves todos os anos. Tomamos nota. Do número e de que a anilhagem científica na Benémola costuma decorrer todos os sábados de manhã. Após contacto com a Fonte Benémola Anilhagem Científica de Aves é possível presenciar a sessão. Basta levantar cedo! Despedimo nos do António e do Paulo. No regresso à escola, que o almoço já começa a arrefecer na cantina, ainda há tempo para apreciar a subtileza de mais um par de asas. Desta vez de uma borboleta zebra, a maior borboleta diurna da Europa. Agradecemos ao André que colabora no Centro Ambiental de Loulé, sinergia criada há quase três décadas entre a associação Almargem e a Câmara Municipal de Loulé (CML).
Os PequenosNaturalistasdeQuerençafecham com chave de ouro as sessões lectivas, desenhadas pela Maria Mackaaij, técnica bibliotecária da CML. Para o ano há mais páginas e asas para abrir na escola e na Fundação Manuel Viegas Guerreiro. Por agora, são eles que voam em direcção às férias, na companhia dos avós, primos/as, pais, entre um mergulho e, quem sabe, um passeio à Benémola para contar à família as aventuras de hoje. MM
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A professora Fernanda Guerreiro liberta uma felosa
António Marques
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ESCAPARATE
Alunos e professores do Colégio Internacional de Vilamoura publicam livro sobre o bullying.
O projecto multidisciplinar foi apresentado no Dia Mundial da Criança e marcou presença na 92.ª Feira do Livro de Lisboa para orgulho da comunidade CIV.
Rodrigo Neto fala em nome dos/as colegas: «Este livro orgulha nos a todos e pertence a todos. Ele conta nos um pouco sobre as nossas ações, as suas consequências e como as podemos mudar». O livro também levanta questões através de um código QR.
Nova separata de Fernando Pessanha já chegou às livrarias. Desta vez, regista um acontecimento histórico ocorrido nas costas de Huelva votado ao esquecimento: AExpediçãodoCorsárioPortuguês D.GonçaloCameloàscostasde Huelvaem1336. O resultado da investigação havia sido publicada no vol. XLIII dos AnaisdoMunicípio deFaro.É agora editada individualmente pela Editora Guadiana Lda, de VRSA.
A edição conta os 75 anos da Casa da Primeira Infância, reunindo a história de crianças, mulheres e homens. Regista os dramas do miserabilismo de meados do século passado. Fundada em 1945, foi pioneira de creche e jardim de infância, para as crianças mais desfavorecidas. É marca da instituição a exigência na promoção e proteção dos direitos da criança
«A Daniela tem muitos amiguinhos, mas brinca pouco com eles porque prefere ir para a biblioteca ler livros e sonhar E ela sonha ser jornalista!»
Assim narra a história de Nathalie Dias. A jornalista e directora de jornais louletanos pretende despertar a curiosidade de jovens leitores sobre a profissão, mostrando o leque de possibilidades, da escrita à fotografia. Percorre as noções de pesquisa, editorias e a importância da leitura. O livro poderá constituir uma ferramenta para os professores sobre a temática profissões.
É o mais recente projecto da FLEE: o livro e LP Levaleva,ladaínhade pescadores , concebidos a partir de gravações de Michel Giacometti, em 1961. O livro é assinado por um colectivo de investigadores e artistas portugueses e franceses e propõe uma viagem pelas vidas dos pescadores portugueses no século XX.
O livro publica o estudo de enquadramento e a transcrição dos livros de receita e despesa mais antigos da vila que chegaram até à atualidade. Os publicados foram elaborados entre 1375 e 1518, mas fazem referência a anos anteriores, como o de 1348, ano da entrada da Peste Negra em Portugal.
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A APANHA DO FIGO
Quando o Sol já ia alto, Maria Gramacho pôs na cabeça, sobre o lenço, um esburacado chapéu e com dois cestos de cana no braço dirigiu se para o princípio da fazenda. O marido seguiu a de caimbo às costas, com uma canastra na mão. Iam apanhar figos. João Gramacho começou a varejar os pincres, suspensos nos gomos das altas pernadas, enquanto a mulher, agachada, rodeava as abas baixas e colhia os maduros, arregoados pelo sereno. Depois rastejaram debaixo da árvore para apanhar os que o vento e o caimbo tinham lançado para a terra arrasada. (...)
Em meados de Setembro o pequeno almanchar encheu se. Na semana seguinte fizeram um rebusco e iniciaram a apanha as alfarrobas.
LUÍS ANTÓNIO DOS SANTOS
« FOTOGRAFIA: MARINELA
MALVEIRO
POSTAIS DO ALGARVE
EMILIANO DA COSTA OUT PÓLO MUSEOLÓGICO DA ÁGUA Centenário nascimento JOSÉ SARAMAGO 15H30 | Entrada gratuita 2022 29 ORGANIZAÇÃO APOIO ESTUDOS GERAIS LIVRES PILAR DEL RIO PARCERIA