RAIZ
FUNDAÇÃO MVG
INAUGURA EM MARÇO
FUNDAÇÃO MVG
INAUGURA EM MARÇO
com General RAMALHO EANES
e Professor JORGE PAIVA
Em 2023, ExcursãoàSerra doAlgarveé 1.ª página do Caderno Viagenspelaobra deManuelViegasGuerreiro. Assina o ensaio, Ivani Farias.
p.6-9
Revista da Fundação estreia nome e nova secção, da inteira responsabilidade de Francisco José, pediatra e artista louletano.
p.10-12
Exposição ArtedaAtracção , de Vítor Martins, visitável só até ao final de Março. Até lá pode deixar uma impressão ou sugestão sobre Querença.
p.27-28
EDIÇÃO | FMVG
TEXTOS | Francisco José; Ivani Farias e Marinela Malveiro
POSTAIS DO ALGARVE com autoria identificada sob o excerto
POSTAIS DO ALGARVE Recolha e selecção | Marinela Malveiro
PAGINAÇÃO E DESIGN | Marinela Malveiro
FOTOGRAFIA | Cedida por Ivani Farias; Fundo FMVG; Marinela Malveiro; Mário Lino e Vítor Martins, na ilustração de folha de sala da exposição ArtedaAtracção
IMAGENS | BRINCAR COM AS PALAVRAS
E A ESCULTURA: fundo Francisco José
IMAGENS | ESCAPARATE: cedidas pelas editoras
PÓS-PRODUÇÃO IMAGENS | Marinela Malveiro
APOIO À PRODUÇÃO E SECRETARIADO
Miriam Soares
IMPRESSÃO | Gráfica Comercial, Arnaldo Matos Pereira, Lda., Zona Industrial de Loulé Lt. 18, Loulé | T. 289 420 200
RAIZ | N.º 33 | 2023
Os textos são da responsabilidade dos/as seus/suas autores/as e o uso do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa é, por isso, uma opção dos/as mesmos/as.
VIAGENS PELA OBRA DE MANUEL VIEGAS GUERREIRO
UmaExcursãoàSerradoAlgarve
Ivani Farias
BRINCAR COM AS PALAVRAS E A ESCULTURA
5MINUTOSou1HORAdeconversacomoSr.Presidente
Francisco José
ARTIGO | França, Portugal e Alemanha de mãos dadas para estudar papel dos museus etnológicos na paisagem cultural
POSTAIS DO ALGARVE
DIÁRIO DE CAMPO
ESCAPARATE
No início de mais um ciclo de 365 dias, a Fundação
Manuel Viegas Guerreiro (FMVG) prossegue na execução dos seus princípios fundamentais, respondendo aos desafios que hoje se colocam à Humanidade e às instituições, das regionais às de escala mundial, como as Nações Unidas. A partir deste pequeno “acampamento” onde se ergue a Fundação, a transformação germina de forma minimalista, mas de ensejo cada vez mais radicular. É aqui, centro nevrálgico do pensamento do Professor Viegas Guerreiro, que se estabelecem em permanência essas trocas “umbilicais”
Se porventura a afirmação pode parecer panfletária, sigamos a sua obra, onde tantas vezes se pontua a necessidade de (re)conhecer o outro, esquecendo preconceitos, prática distante da antropologia europeísta do seu tempo.
No seu ciclo de vida, Viegas Guerreiro não se apouca nas chamadas de atenção para a diversidade sócio-cultural e ecológica. Para a busca incessante De equilíbrio na exploração dos recursos naturais e de harmonia entre as comunidades e os processos de reforma estruturais, que visam o chamado “progresso”. Nome essencial na luta pela construção de pontes culturais e humanas, elos que trabalha através da Ciência. O etnólogo e antropólogo aproxima a Humanidade e tenta derrubar fronteiras mentais. Confirma que entre as comunidades ditas primitivas, que estudou no Sul de Angola, a evolução é real: «Os Bochimanes do deserto mantêm alguns mitos, continuam a contar histórias, a cantar e a bailar. E, se perderam determinadas tradições [os seus antepassados remotos são autores de gravuras e pinturas rupestres, Drakensberg, África do Sul], outras ganharam, que a evolução não é fenómeno privativo das civilizações progressivas.» (Bochimanes!Khũde Angola.Estudoetnográfico , 1968).
Ciente da «escassez de especialistas», fundamenta a analogia cultural com a sua observação em pequenas comunidades rurais de África e da Europa. Cita George M. Foster no seu livro LasCulturasTradicionalesylos CambiosTécnicos , alertando para os riscos de não atentarmos nessa diversidade:
«Uma vez, em tempos idos, um macaco, ágil e experimentado, teve a sorte de poder subir a uma árvore, onde ficou seguro. Ao olhar de cima para as águas embravecidas, lobrigou o peixe, que lutava contra a corrente. Movido por humanitário desejo de ajudar o
desafortunado companheiro, estendeu-lhe a mão e tirou-o da água. Foi, porém, grande a sua surpresa, ao ver que o peixe de modo nenhum lhe agradecia aquele favor.»
Porque o mundo não se sintetiza em uma grande urbe, o Professor coloca o Homem no centro do desenvolvimento rural, formulando a recomendação de que técnicos e antropólogos andem de mãos dadas. É também em OPapeldaAntropologiaSocialnos ProgramasdeDesenvolvimentoRural(1974) que destaca Possinger: «O homem do campo deve ser considerado sujeito e não objecto de uma política de desenvolvimento. Devemos ir ter com ele, ouvi-lo, saber o que quer, como quer e para que quer, e não tomá-lo como coisa que vamos modelar à nossa vontade.»
A obra e as conferências que Manuel Viegas Guerreiro promoveu materializam uma orientação apontada à educação, à comunidade, à sustentabilidade, à saúde e ao papel da mulher. É inevitável escutar nos seus textos ecos do memorandum da Organização das Nações Unidas e da Agenda 2030: os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, com os quais a Fundação se sente inequivocamente alinhada. Não só na áreas da saúde, através da promoção de estudos científicos, mas também de princípios de igualdade de género, de redução das desigualdades, disponibilizando acessibilidade, física e intelectual, para públicos com necessidades específicas, com uma aposta em projectos que consubstanciem o recurso às energias renováveis e acessíveis, de protecção da vida terrestre. De forma simples e convocando L. Farnoux-Reynaud, note-se: «Dado que o homem é o único animal que bebe sem sede, convém que o faça com discernimento.» De Querença, se ouve também Casimiro de Brito que escreve a determinada altura num dos seus poemas:
Um figo é uma / dádiva do sol e da terra e da nossa / humilde fome, e tudo são figos, ah não comas, / não comas nunca nada / sem fome
Epítome desse pensamento: o Percurso Eco-Botânico Manuel Gomes Guerreiro (PEB-MGG), a inaugurar em Março, com a presença do General Ramalho Eanes e do destacado biólogo Jorge Paiva, tal como pensado em 2020.
Cartilha esta, para a paz e para a justiça, que só se
cumpre com uma sólida rede de parcerias. Exemplo disso, a embrionária mas futura ligação ao Colégio
Doutoral franco-luso-alemão RepresentaroOutro: museus,universidades,etnologia , criado este ano no seio da universidade Sorbonne Nouvelle e do Instituto alemão Frobenius, triangulado pelo Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto.
A nível local, fruto de outras parcerias, a Fundação prepara-se para apresentar em Junho um conjunto de recursos educativos sobre Viegas Guerreiro. O projecto AntropologiadoEspantodará a conhecer a figura do Professor através de jogos, na fórmula original de estes serem concretizados por crianças e jovens para outras crianças e jovens. A iniciativa está inserida no calendário da I Bienal Cultura e Educação, Retrovisor:umahistória defuturo , do Plano Nacional das Artes.
A raiz da Fundação
Esse desejo maior de transformação através da Cultura reflecte-se no enraizamento dos princípios enunciados, somados aos da sustentação e da perseverança, todos implantados no nome Raiz , que titula a partir de 2023 a revista da Fundação. Publicada desde 2017, tem vindo a acrescentar páginas e colaborações. Sinal disso, à plêiade de investigadores/as, junta-se agora o notável médico pediatra Francisco José, com uma vida de experiência nos hospitais de Faro, Abrantes, D. Estefânia, Maternidade Alfredo da Costa e Portimão. Com ele se estreia a secção Brincarcomaspalavrasecoma escultura , que abre as portas do seu atelier , génese de museu com peças da História de Portugal. Representada por inúmeras figuras nacionais feitas em massa moldável, madeira ou esferovite, não raras vezes, Francisco José acompanha as esculturas com poemas, inéditos ou de autores conhecidos. Vale a pena ler a estória que liga Francisco pai e Francisco filho ao General Ramalho Eanes. Esta conta-se aqui, com direito a novos episódios com o regresso do Presidente ao Algarve, em Março. Neste novo ciclo, a FMVG espera dar-se a conhecer a cada vez mais seguidores, se não em Querença, no mundo digital, através do novo site, de grafismo moderno, intuitivo, multilingue e adaptado a pessoas com necessidades específicas, que permite descobrir a história e as iniciativas da Fundação em hebraico, árabe, mas também em inglês, francês, alemão, holandês, finlandês, e em outras línguas. Ou então, acedendo, desde já, a esta Raiz , nutrida em Querença.
Na ação de divulgação das obras do seu Patrono, a Fundação Manuel Viegas Guerreiro, fez-me o convite para integrar um renomado grupo de investigadores de diferentes disciplinas do conhecimento, os quais colaboram para dar visibilidade ao enorme legado literário do ilustre professor liceal e universitário, Manuel Viegas Guerreiro (MVG). A mim coube a análise de uma das suas obras1
Nesta obra, MVG reafirma a sua vocação de incitador da investigação na área da literatura popular oral, descrevendo nos mínimos detalhes o modo de vida das “gentes da terra”, sem deixar de expressar sua própria
perceção como “filho da terra”. A sua experiência nas áreas da antropologia cultural e da etnografia, lhe permite contemplar e interpretar as sociedades humanas, ao mesmo tempo em que estrutura seu pensamento para encontrar os significados culturais contidos nas ações do cotidiano e nos comportamentos apresentados pelos atores investigados. Deste modo, apresenta suas perceções e inquietudes referentes ao fenómeno observado, relacionando-as aos diversos contextos: naturais, culturais, sociais, políticos e económicos. Em poucas páginas, o autor faz um breve relato de uma excursão de dois dias à serra do Algarve, num percurso entre Corcitos, Cabaça, Barrigões, Sarnadinha, Montinho,
Corte Fidalgo, Sítio das Éguas, Sobreira, Monte do Alganduro e Ameixeirinha. Para obter as informações necessárias relativas ao contexto social das comunidades e para estabelecer proximidade e interagir com as pessoas em seu espaço sociocultural, utiliza o método de observação participante ativo e, desta forma, obtém informações para compor a sua narrativa.
Vale a pena ler e reler esta obra. Nela encontramos uma descrição interpretativa da dinâmica social, da cultura, da identidade, dos elementos referentes a geografia, a paisagem e aos patrimónios materiais e imateriais das comunidades visitadas e das poucas pessoas que encontrou em seu percurso.
A categoria dos ditos, dos versos e das adivinhas, como cultura popular oral, foi a abordagem metodológica adotada para facilitar a proximidade e para obter as informações referentes ao modo de vida, atitudes, virtudes, saberes e fazeres dos ofícios das gerações passada, transmitidas ao presente e ao futuro.
A parceria estabelecida com o seu guia e companheiro de viagem, o almocreve Joaquim Boicinha, contribuiu para o êxito da comunicação investigativa em que ambos penetram de maneira respeitosa na intimidade dos sujeitos envolvidos e recolhem as informações desejadas. Os dois posicionam-se como mediadores, entre os sujeitos e o contexto investigado, postura intermediária que permitiu o desenrolar do diálogo necessário para a coleta das informações referentes aos statusdos sujeitos e de suas posições diante a sociedade, e assim, sequencialmente, MVG criou um quadro teórico, detalhando as regras sociais condicionadas nos contextos económico, cultural e identitário dos sujeitos envolvidos e das comunidades que visitou.
Além destas questões, ainda podemos extrair da sua narrativa, o seu lado humanista expressado pela descrição dos seus próprios sentimentos, inerentes ao fenómeno observado, tornando a leitura mais envolvente e rica.
Onde o solo se veste, cresce o medronheiro, a esteva, o estevão, o sargoaço, os rasmonos, o tojo, o lentisco, a murta, o trovisco, a mongariça, a urze, a acendalha... Manto vegetal pouco mais que rasteiro, degradado por séculos de pastoreio, de queimadas, de arroteias. Faz pena ver aqui, espalmado no chão, abatido de toda a sua grandeza, mas resistindo teimosamente à fúria destruidora do homem, o nobre e altivo carvalho de outros tempos.
(...)
A serra chã espreguiça-se, ondeante e quase toda nua, pelos confins do horizonte. Lá bem ao fundo, o dorso imponente do Caldeirão.
Não poderei deixar de assinalar a comida como instrumento de comunicação e de identificação de pessoas e comunidades, ou seja, onde há comida e pessoas há comunicação, instrumento este que possibilita criar uma articulação entre o narrador, o objeto narrado e o leitor da narrativa. Este fenómeno ocorre devido a sua natureza dinâmica e integrativa que o ato alimentar proporciona. Deste modo, o património cultural alimentar identifica os indivíduos enquanto agentes sociais e sua posição na sociedade, sendo a comida um marcador da identidade e da cultura de uma comunidade. Quando este ato se associa aos ofícios e labores dos detentores dos afazeres [Edição de 1991, pág. 14]
O casario agarra-se ao espinhaço de uma colina e perto, como é habitual, fica a fonte de água férrea. O que vai escrever-se acerca das casas vale para as de todos os lugares. Seu carácter é primitivo. Formam-nas lajes de xisto liadas a barro e assentes na rocha viva. A fachada é rectangular. Abrem-se nela duas portas: uma, da casa de habitação, com um postigo de cujos lados sai um poial de pouca altura, onde se aliviam de cargas, o corpo repousa e se goza, ao ar livre, da frescura do morrer dos dias de caniculares; outra, a da cavalariça. Telhados de uma só água, de telha mourisca. Dentro, 3 ou 4 divisões, além da loja do gado: casa de estar, à entrada; um quarto, à direita, às vezes com minúscula janela; a casa de fogo, à esquerda, sem chaminé ou com simulacro dela e celeiro, para trás. O chão é de terra batida, lajeado ou de ladrilho. O compartimento de estar é o de arquitectura mais variada.
culinários, conseguimos abstrair informações mais precisas para a compreensão cultural e identitária de pessoas e comunidades em determinada época.
O registo etnográfico que MVG nos oferece neste breve relato é um valioso contributo para o conhecimento do património sociocultural do interior algarvio. Pontuo a qualidade, a sensibilidade e a originalidade deste trabalho, onde MVG enquadra epistemologicamente a sua narrativa, integrando informações de forma clara, leve e profunda sobre a cultura popular oral e do património material e imaterial da serra e do barrocal, informações estas, repletas de conteúdos informativos sobre o panorama da dinâmica territorial e das relações identitárias e culturais em contexto comunitário e/ou individual. Por fim, lanço o convite para que façam a leitura completa desta obra que é, sem dúvida alguma, uma referência de grande relevância para estudos científicos de diversas disciplinas do conhecimento e para os apaixonados pela genuinidade do interior algarvio.
[CASA em Monte da Cabaça(1991, pág. 18). MVG descreve ainda os nichos interiores, o lugar para os cântaros, as paredes caiadas e os arruamentos]
IVANI STELLO FARIAS é licenciada em Educação Física (Universidade de Cruz Alta
- UNICRUZ, Brasil) e Nutrição (Universidade Franciscana – UFN, Brasil), com especialização em Gerontologia Social, Nutrição Clínica Funcional, Fitoterapia e Fitoenergética. Mestre em Saúde e Gestão do Trabalho (Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, Brasil). Doutoranda em Patrimónios Alimentares: culturas e identidades na Universidade de Coimbra, a Dahortaàcozinha–práticas alimentaresesaúdedoidosonoconcelhode . Investigadora colaboradora no projeto Diaita: Património Alimentar da Lusofonia (Universidade de Coimbra) e no Centro de Pesquisa: Saúde, Espaço, Cultura SECS (Universidade do Vale do UNIVALI, Brasil). Tem desenvolvido investigação de âmbito interdisciplinar e intergeracional nas áreas da saúde, do envelhecimento humano e dos patrimónios alimentares, culturas e identidades em Portugal e no Brasil. Desenvolveu o projecto Vidas no Lar de Idosos da Associação de Bem Estar dos Amigos de Querença. Em 2019 constitui a Laivos através da QRIAR - Incubadora Criativa do Algarve, dinamizada pela QRER. A empresa é vocacionada para a concepção de produtos alimentares em diálogo com a
Era uma vez o Chico Zé que, em vez de se ter dedicado à música, andou a vender "penicos", como ele dizia
NASCIP´RAMÚSICAÉVERDADE
SURGIU-MESEMPREUMDESVIO
RESTA-MEAGORAASAUDADE
EOSELOGIOSDEQUEMMEOUVIU
Esta quadra, extraída de um dos seus inúmeros poemas, ilustra a sua vida.
Esteve mais de 30 anos sem mexer num instrumento, um dia, depois de muitas vezes desafiado pelos amigos, comprou um saxofone e voltou a tocar e a compor.
Chegado o dia 7 de Dezembro de 1980, Francisco José Andrade de Sousa, Chico Zé para os amigos, foi assistir em Loulé ao comício da campanha eleitoral do Sr. General Ramalho Eanes que se recandidatava ao cargo de Presidente da República.
Foi para casa, inspirou-se na personalidade do General Eanes e, com o seu saxofone criou umas frases musicais que foram posteriormente orquestradas pelo seu grande amigo Mendes do Carmo, mais conhecido pelo Zezé
Rainha, Sargento Mor da GNR que na altura era maestro e um elemento importante da banda da GNR. O Zezé, era também louletano e companheiro na orquestra
BlackRoseque foi célebre por estas paragens nos anos 40 e 50 ao abrilhantarem os bailes no Algarve e sul de Espanha. A gravação foi feita no regimento de infantaria de Queluz pois o quartel do Carmo era muito barulhento
A marcha foi ouvida pelos amigos no cantinho do café
Delfime entre os presentes habituais na tertúlia matinal estava o mais louletano de todos os penichenses, o Major Santos Costa, que fez o contacto com outro louletano que em férias costumava frequentar a tertúlia, o Tenente
Coronel Geraldo Estevens, que era na altura o chefe da casa militar do Sr. Presidente da República Eanes. Alguns dias depois, o Chico Zé viria a ser recebido no palácio de Belém pelo Tenente Coronel Estevens ao qual entregou a cassete gravada e a partitura da marcha militar RamalhoEanespara ofertar ao Presidente Eanes. Semanas depois viria a ser contactado telefonicamente para se deslocar ao palácio de Belém pois o Sr. Presidente fazia questão de o conhecer.
Telefonou então ao Chico Zé filho confessando a sua angústia dizendo: «O telefonema deve ser partida da malta do café, o que é que eu posso conversar com o Presidente da República?» Então pediu-me: «Oh Chico tu é que podias fazer um busto do Presidente Eanes e assim já terei um assunto de conversa.» Assim foi, fiz um busto em barro e o provinciano do pai Chico Zé lá foi para Lisboa com a partitura debaixo do braço e a caixa de papelão que guardava o grande tesouro, o busto do Presidente.
Chegado ao palácio de Belém, foi recebido pelo conterrâneo Tenente Coronel Estevens que lhe disse que o encontro era informal, talvez uns 5 minutos de conversa, pois o Presidente iria receber a seguir um grupo de chineses.
O meu pai descreveu-me o encontro deste modo: «Entrei numa sala enorme. Pouco depois, no lado contrário abre-se uma porta e de lá veio direito a mim o Sr. Presidente Eanes, de mão esticada, sorridente e simpático. Como estáSr.FranciscoJoséAndradedeSousa,sentemo-nos econte-meláoquetemsidoasuavida. Como é que ele sabia o meu nome, questionava-se o meu pai enquanto desenrolava o seu percurso na vida. Foi a pergunta certa para o meu pai que não deu pelo voar dos ponteiros do relógio e, quando deu por isso pediu desculpas pelo tempo paleado tendo como resposta: «Sr. Francisco, conversas destas fazem falta nesta sala de vez em quando e é com muito gosto que aqui estou a falar consigo.» Entretanto, os ponteiros do relógio tinham corrido cerca de 1 hora. Antes de terminar o encontro o meu pai pediu
licença e, com a sua navalhinha de algibeira, lá cortou o cordel que aconchegava a caixa de papelão, de onde saiu intacto o busto do Sr. Presidente Eanes.
Questionado se o filho era escultor, disse que não, que por acaso era médico e que se divertia com a arte. Passado algum tempo, pela Páscoa, recebi um postal que guardo como um tesouro, manuscrito e assinado pelo Sr. Presidente Ramalho Eanes agradecendo a obra. Nas semanas que se seguiram, o encontro com o Presidente Eanes foi o tema de conversa entre os amigos, o meu pai acabara de conhecer um Homem afável, empático, de boa e fácil conversa.
Anos depois o Sr. General Ramalho Eanes veio ao Cineteatro Louletano participar nas comemorações do 25 de Abril e foi nessa noite presenteado com a audição da “sua marcha militar” executada pela filarmónica
Artistas de Minerva - Música Nova, onde o meu pai foi músico desde os 9 anos de idade e onde eu Chico Zé filho sou aluno de saxofone desde há dois. Muito obrigado Sr. General Ramalho Eanes.
FRANCISCO JOSÉ CORREIA ANDRADE DE SOUSA
Nascido a 6 de Julho de 1955, filho de Francisco
José Andrade de Sousa e de Maria Ivone Madeira Correia. Licenciei-me em medicina na Faculdade de Medicina de Lisboa e especializei-me em Pediatria Médica. Trabalhei nos hospitais de Faro, Abrantes, D. Estefânia, Maternidade Alfredo da
Costa, Portimão e finalmente nos últimos 19 anos terminei a carreira hospitalar no Hospital de Faro. Actualmente, sou pediatra num consultório em Loulé que criei para as crianças e tenho como actividade prazeirentaa escultura, o saxofone e a leitura.
Programa doutoral junta pela primeira vez investigadores de três países europeus com o objectivo de aprofundar e partilhar o conhecimento nas áreas da etnologia e antropologia. Existem bolsas de apoio para quem estiver matriculado numa faculdade francesa ou alemã.
O cruzamento de saberes entre investigadores desempenha um papel crucial no avanço das investigações e na disseminação do conhecimento.
Desta vez, franceses, portugueses e alemães juntaram-se para criar o Colégio Doutoral franco-luso-alemão RepresentaroOutro:museus,universidades,etnologia, numa colaboração inédita entre múltiplos parceiros que estudam os museus etnológicos.
Esta é a primeira vez que é criado um colégio com este ADN, aberto a investigadores de todas as disciplinas das ciências humanas e sociais cuja investigação se centra nas questões levantadas pelo lugar dos museus na paisagem cultural como um todo.
Tratando-se de um local de formação, pretende também reunir académicos e doutorandos de países cujas práticas e conhecimentos permanecem em grande parte desconhecidos nos países parceiros.
O colégio permitirá desenvolver doutoramentos em parceria e interdisciplinaridade, úteis para a profissionalização dos estudantes de doutoramento.
A Fundação Manuel Viegas Guerreiro, que acolhe o espólio bibliográfico e documental do etnólogo e antropólogo, poderá assim vir a fazer parte desta rede de conhecimento internacional. Recorde-se que desde 2019 têm ocorrido encontros entre investigadores da Sorbonne Nouvelle e do Instituto Frobenius, o mais antigo centro de pesquisa antropológica da Alemanha. Antes disso, com o Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto.
O Colégio Doutoral está organizado em torno de quatro eixos que estruturam o trabalho dos professores/ as-investigadores/as e dos/as doutorandos/as.
A saber: O que é um terreno?; O que é uma colecção?; O que é um dispositivo?; O que é um museu?
Os formandos/as, com fluência obrigatória em duas das línguas dos três países parceiros (francês/português/ alemão), terão três anos de doutoramento e, caso estejam inscritos/as em França e/ou na Alemanha, poderão beneficiar de bolsas de mobilidade, no valor de €600 por mês, com uma duração total máxima de
18 meses, ao longo dos três anos. Existem vários responsáveis pela recepção e análise de candidaturas, consoante os países.
Jean-Louis Georget e François Mairesse respondem pelo programa da Sorbonne Nouvelle, Hans Peter Hahn pelo programa da Universidade de Frankfurt, e Egídia Souto pelo programa na Universidade do Porto (Centro de Estudos Africanos).
AS CONDIÇÕES DE ACESSO para os/as interessados/as estão disponíveis no siteda Sorbonne Nouvelle, no linkabaixo:
http://www.univ-paris3.fr/college-doctoral-francoallemand-representer-l-autre-musees-universitesethnologie 769395.kjsp?RH=1178827356806
AS CANDIDATURAS poderão ser enviadas para: jean-louis.georget@sorbonne-nouvelle.fr egidia.souto@sorbonne-nouvelle.fr françois.mairesse@sorbonne-nouvelle.fr
Os estudantes devem enviar:
Pré-projecto de tese (máximo 2 páginas)
Plano de trabalho detalhado
Carta de motivação (máximo 1 página)
CV resumido
Cópia do mestrado e as notas obtidas
POSTAIS DO ALGARVE é uma rubrica criada em 2020, quando o país e o mundo se viram mergulhados na pandemia da covid-19. Numa altura em que as casas de cultura se encontravam encerradas ao público, a FMVG iniciou o levantamento e a publicação regular de descrições da região, do litoral à serra, de barlavento a sotavento, através das palavras de mais de 120 autores/as.
Todos/as se encontram reunidos/ as no CentrodeEstudosAlgarvios LuísGuerreiro , alojado na Fundação.
Seis números após a publicação do mapa do barlavento algarvio, do GuiadePortugal(1983), colamos nesta caderneta a cartografia de sotavento.
Segue-se a esta um conjunto de postais ilustrados com as imagens que as palavras importam. Percorremos S. Brás de Alportel e Faro.
As descrições de lugares ou do pensamento dos poetas que aqui nasceram ou que os invocam apresentam-se em versão excerto. Não deixe de as ler integralmente, nos livros que Querença acolhe. PostaisdoAlgarveé só um aperitivo para algo mais enriquecedor.
O Algarve de Sotavento,
Tarde de leite e rosas. Cada aresta, Tinha um rubi tremente: Fomos ouvir o canto da floresta, O seu canto de amor, ao sol poente.
Tu querias sorver os poderosos Lamentos de saudade e commoção Que, as raízes, dos fundos tenebrosos, Mandavam, pelo ramo, p’ra o clarão.
Opalescera já, o ar. O vento, Correndo atraz da sombra, murmurou
Sentiu-se um fechar de azas. N’um momento, A floresta, cantou. JOÃO
TAVARES RODRIGUES
mediterrânico, e tão árabe. tão helénico
«
A Paisagem dá-me emoções musicais. Tudo canta, suspira e chora, e tudo é ritmo. A Luz e a Cor são expressões musicais. (…) Por sua vez a Música sugere-me aspectos panorâmicos, extra-terrenos, muitas vezes etéreos, de além-mundo, como sucede sempre que ouço Beethoven, que me dá a sensação divina do Infinito, - como se essa música maravilhosa acordasse em mim a saudade misteriosa duma Pátria distante, primitiva, de antes da vida, de cujo eterno Amor e eterna Beleza andássemos exilados... A mesma saudade, afinal, que sempre me deu o amor, e que já no Adeus, meu primeiro livro de versos, se acha expressa na poesia Celeste.
Depois de São Lourenço de Almansil, esta Igreja de Alte não é um Letes que faça esquecer o resto.
JOSÉ SARAMAGO
«
É este o rio e estes são os bosques Corpo de que a alma é a brisa dos jardins.
«
Terra de Santa Maria que tanta beleza encerra, olhando, vaidosa, a Ria, acenando ao longe, à serra!
FRANKLIN MARQUES
A salsugem fermenta nos sapais
Num fervilhar de combustão activa...
E o sol pisca nas águas mil cristais
A irisar, ferindo a conjuntiva.
ANTÓNIO TEIXEIRA MARQUES
Ode a Faro
Ao Ex.mo Sr. Dr. Joaquim Magalhães, com apreço
Cidade morena, de morena cor, tão dada à janela do sonho vivido. Se trazes no sangue horizontes de amor também tens nas veias a treva e o gemido...
Se tens o Futuro no ventre confiante, possuis o Presente no sol de te dar... E dás-te a teus filhos, como doce amante que nada reclama - como a praia e o mar!...
Não quero perder a beleza do todo que dá mais aprumo a teu nome elevado. Mas sei, minha Faro, que tens oiro e lodo... E, embora haja lodo, eu quero-o doirado!
Dizem que não tens a energia bastante pra dar luzimento ao viver, algo velho... Confio em teu génio, como bom amante, pois sei que és capaz de ficares num espelho!
Se és a capital da província sulista, da terra morena de Lúcio e de Passos, preciso é que agrades ao sentir e à vista - e te abras em cor, em canções e abraços!
Os meus sonhos situam-se sempre a Sul
Faro Cacela ou Alcoutim
TERESA RITA LOPES
Morenas em bandos sobre açoteias
Janelas abertas sobre um palmar
Já vejo de longe as altas ameias
Já vejo Santa Maria a Sem-Par
JOSÉ AFONSO
E depois, olhar: umas vezes para os restos do MAR, outras vezes para TI.
CASIMIRO DE BRITO
Lembrança da ria de Faro Dunas atrás da casa gafanhotos cor de madeira cardos cor de areia ao fim da tarde, barcos na água rósea onde a cidade, em frente à casa, cai De madeira caiada a casa está sobre a areia, que escurece quando a maré devagar desce na praia
GASTÃO CRUZ
«
As flores das amendoeiras sarapintavam as veredas de branco e rosa, com as pétalas que adejavam pelos ares caindo suavemente sobre o manto verde que bordejava os trilhos. A lenda da bela princesa do Norte, saudosa das paisagens nevadas do seu país, veio à memória de Joana...
LUÍS BARRIGA
NATÉRCIA FREIRE
« Esta cabeça evanescente e aguda, Tão doce no seu ar decapitadoJORGE DE SENA
«
Toda a festa de luz que irrompe da poesia de João Lúcio é o Algarve.
[Artigo parcialmente publicado na pág. de Facebook da Fundação, a 3 Fev. ‘23]
Na Quinta da Ombria (OmbriaResort) ou - em rigor - na estufa do empreendimento turístico, existe desde o dia 27 de Janeiro um canteiro de Narcissuswillkommiicom o nome da escola de Querença associado.
Há quem lhes chame junquilhos-do-barrocal mas, para fazer jus à designação, a sementeira do grupo de PequenosNaturalistasdeQuerençaterá que vingar.
Gonçalo Menezes é engenheiro florestal e, no Ombria Resort , dá a conhecer aos pequenos estudantes da EB1/ JI de Querença - cerca de 30 - que o narciso amarelo existe unicamente junto a um troço da ribeira de Quarteira, no litoral. É uma espécie em perigo, inscrita na Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental, com uma população estimada à volta de 1 400 a 10 000 indivíduos maduros, implantada numa área de 16 km2
O engenheiro Gonçalo avança na “aula ao ar livre” e ficamos a saber que o declínio do Narcissuswillkommii provém da reconstrução de açudes ao longo do troço da ribeira onde estão identificados quatro núcleos.
Deterioram as hipóteses de sobrevivência da espécie, a expansão do canavial, a erosão hídrica dos taludes e margens do habitate o corte de vegetação nas margens durante o período de floração ou frutificação. Em contramão com o declínio, as sementes do narciso-do-barrocal subiram da ribeira de Quarteira até Querença para ampliar o perímetro de presença em Portugal. Os cursos de água que atravessam a propriedade, o constante controlo do canavial e as características do solo desta região, de calcários a xistosos, prometem ser o habitatideal para que se confirme, por aqui, a existência de narcisos-do-barrocal Porque importa começar, foi isso que aconteceu na
manhã de 27 de Janeiro, com as crianças do pré-escolar e 1.º ciclo de Querença a lançar mãos à jardinagem. Cristóvão é homem para todo o serviço e, com mais dois colegas, orienta os trabalhos da sementeira. Os pequenos naturalistas não se fazem rogados e, à vez, enchem de terra o carrinho de mão. Adicionam turfa e pequenas esferas brancas. «É esferovite!» exclamam uns. «Parece neve. Parece neve » - ecoa. A perlite, misturada no preparado orgânico, irá favorecer a aeração e a circulação da água por todo o canteiro.
Todos querem estar à frente e semear. Multiplicam-se as mãos sobre a terra. Ainda a sementeira não está completa já três crianças, sagazes, agarram o regador. Conhecem a rotina. A partir daqui, os “ pequenos narcisos” que “crescem” na escola de Querença, irão receber fotografias mensais para que acompanhem aqueles que deixaram - em promessa - na estufa do OmbriaResort
Missão cumprida.
A água, na origem do maior aquífero do Algarve
Na comitiva de boas-vindas aos PequenosNaturalistas deQuerença , estão também dois engenheiros Luíses, um do ambiente e outro agrónomo. Luís Ferreira, há quase dez anos dedicado ao ambiente do Ombria , desenha o mapa das ribeiras de Querença: a de Menalva, a das Mercês e, reunidas, a de Algibre, que corre para Quarteira. Explica que tudo o que vemos à nossa volta está implantado na Rede Natura 2000, área designada para conservar os habitatse as espécies selvagens raras, ameaçadas ou vulneráveis na União Europeia. Que o esforço de múltiplas equipas tem ultrapassado as várias fases do projecto, de investimento finlandês. Relata que muitos foram os estudos e os anos de análise sobre o impacto do resortnaquele espaço de elevada riqueza natural e patrimonial.
«- E quando é que o projecto vai estar pronto?» –pergunta o Guilherme. «Daqui a 7 anos», diz Sabrina Pessanha, que responde pela comunicação do Ombria Resort
Luís Ferreira prossegue na caminhada paralela ao golfe. A área de construção do hotel evidencia-se à esquerda. As gruas vigiam a obra que começou em 2019. «O que vemos representa um quarto do que está previsto construir», projecta. O povoamento irá ainda ocupar as encostas norte e sul da colina entre a actual zona de construção e Querença e, oposta ao golfe, a que se encontra do outro lado da estrada municipal.
«- Por que é que fizeram o golfe?» - retoma o Guilherme. Luís Pinto, engenheiro agrónomo e responsável pelo campo de golfe é chamado a responder, mas é Cristina Carraça, arquitecta paisagista e responsável pela horta biológica, que avança com a caracterização do espaço: «O golfe cria um ambiente que os pássaros podem procurar para viverem e se juntarem É um novo habitat.». Previamente, junto a uma tangerineira carregada de fruto, Cristina havia falado do necessário controle de pragas e de feromonas: «Os perfumes que os insectos libertam» - explicava. No processo de transformação da paisagem, de adaptação ao plano de construção do empreendimento turístico de hotel, moradias e golfe de 18 buracos, foram abatidas mais de 800 árvores, conta o engenheiro do ambiente. «Mas por cada árvore arrancada» – salienta«foram plantadas duas. E tentamos a replantação de algumas dessas árvores e arbustos.»
Um viveiro e uma estufa encarregam-se agora de ser incubadora e berço dessas novas árvores e arbustos, a décadas de distância do estado adulto de cada azinheira, carvalho ou sobreiro.
No OmbriaResort , as crianças experimentaram as tangerinas do barrocal: doces e sumarentas. Ouviram os especialistas falar do carvalho-cerquinho e de outras árvores características da região. A alfarrobeira faz-se aqui representar por duas a três espécies e as figueiras
por três a quatro. A achega é dada pelo arqueólogo José Malveiro, que também integra a equipa. É ele o responsável pelo levantamento dos sistemas de regadio tradicionais: noras, tanques e levadas, que se observam pela propriedade, bem como das casas de apoio, cadastrando e justificando o abate de cada uma delas. A ruína da casa da fruta ainda lá está. Foi espaço de armazenamento da recolecção que se fazia nestes terrenos, agora de grama. Cultivados para a subsistência de 300 a 600 famílias, eram arrendados por um coronel apaixonado pela arquitectura militar. Com mais de um século, a sua fortificação está a ser recuperada no lugar altaneiro que se avista da antiga dispensa agrícola. José, que regista a etnologia do local, partilha: «Nos vestígios vê-se a passagem do uso do burro para a utilização de motores de explosão para fazer trabalhar os engenhos e retirar a água dos reservatórios.» O arqueólogo fixa a idade do castelo entre 120 a 130 anos Pelo caminho há ainda tempo para que Gonçalo explique - com um pedaço de cortiça na mão - que aquela casca vem do sobreiro e que até poderia ser utilizada para fazer rolhas, não fosse ser tão porosa. Em seguida, testemunha-se a poda de uma árvore. Faz parte da intervenção colocar uma pasta cinzenta no local do
corte, para ajudar à cicatrização. À nossa frente: o green. Um rapaz não resiste a rebolar pelo pequeno cabeço abaixo. O goldenretrieverMoMo, cão ouvinte que participa das leituras dos mais novos na Fundação Manuel Viegas Guerreiro, conquista metros de trela e corre. A margem de liberdade é facilitada pela tratadora Maria José, parceira de aprendizagens e experiências, e dinamizadora do grupo a passeio. As professoras Fernanda Guerreiro e Sara Piedade, o professor Marco, as assistentes operacionais Diamantina Cavaco e Érica Carvalho descontraem no pleno da paisagem. As crianças dispersam-se pelo espaço amplo e na expansão do momento quase se esquece que daqui a escassos meses serão as bolas de golfe a rolar pelos mesmos declives, fazendo a delícia de visitantes estrangeiros dos quatro cantos do mundo. Mais uma paragem junto a um tanque de água que embeleza o tapete verde e exibe parte da tradicional rede de irrigação das antigas hortas. Ao seu lado, um banco de areia (sandbunker) com uma árvore ao centro.
A água faz-se presente sob pontes de madeira e construções de pedra. O grupo abeira-se da ribeira. Gonçalo inclina-se sobre a grama e arranca uma erva intrusa. Desfaz as folhas entre os dedos e sente o aroma. Prossegue.
É hora da fotografia de grupo onde fica registado o céu azul inextremis, característico de uma região como a do Algarve, pouco bafejada pelas chuvas constantes de países como Inglaterra, Holanda ou Finlândia, de onde virão provavelmente muitos dos futuros frequentadores e moradores deste espaço. Fixa-se ainda na imagem, a alegria das crianças e dos adultos numa manhã iluminada pelo sol, exalada pelas plantas e milhares de árvores. Fora do registo da lente do Pedro Queiroga, ainda se ouve: «Parece neve Parece neve!» As sementes de narciso ainda dormem na incubadora. Outras, na ribeira de Querença, já acordaram e preparam-se para florir em Abril, durante um mês.
Por essa altura, o espaço percorrido agora pelas crianças, à descoberta de um novo equipamento no concelho de Loulé, será palco de descoberta para outros. Apresenta-se uma paisagem de luxo no Algarve, assente na tradição e acrescentando moradias de milhões de euros à pitoresca aldeia de Querença. É uma nova tela desenhada na serra e na qual o voo dos pássaros se cruza com o swingdos tacos. Em breve, a antiga propriedade agrícola do barrocal experienciará novas vidas, novos usos aliados aos serviços, de golfe e de investimento imobiliário.
Exposição seguida de tertúlia chamou ingleses, franceses e até finlandeses que vivem em Querença ou que têm particular atracção por este lugar. Para além de contemplar a arte e as manobras que os seres vivos utilizam para assegurar a vida e a reprodução, elencaram-se propostas para melhorar a vida no território de Querença.
A aldeia à beira-serra plantada, no concelho de Loulé, é conhecida pela atracção que exerce em quem a visita.
A presença de dezenas de residentes e visitantes, grande parte estrangeiros, no dia 28 de Janeiro, confirmou mais uma vez o facto. Responderam assim à chamada para a inauguração da exposição ArtedaAtracção
A mostra de fotografia criativa, da autoria de Vítor Martins, patente na Fundação Manuel Viegas Guerreiro (FMVG) até ao final do mês de Março, reflecte sobre os meios e mecanismos de atracção na Natureza, entre animais e plantas. Humanos incluídos, naturalmente.
«O objetivo é estimular a curiosidade sobre a arte da atracção, convidando a audiência a observar e a discutir a diversidade das suas manifestações no quotidiano.»explica o fotógrafo. Vítor Martins é português e viveu 35 anos em Los Angeles, nos Estados Unidos. Reside há dois em Querença. Membro da ALFA – Associação Livre Fotógrafos do Algarve, que patrocina a exposição,
ocorrem para garantir a nossa sobrevivência, obter alimentação ou para segurança e conforto. Não escapamos à necessidade de atrair. As estratégias são infinitas e os resultados determinantes do sucesso de um indivíduo»
A colecção exposta é constituída por dez dípticos, dez composições duais que colocam - lado a lado - pessoas e elementos naturais, num diálogo permanente entre vários elementos do planeta.
A exposição, que esteve anteriormente em Faro, chega a Querença a convite da Fundação mas, desta feita, aplicando o conceito da “lei da atracção” a Querença, aldeia-escolha de muitos portugueses e estrangeiros, pela eloquência da paisagem, quietude, valores patrimoniais, segurança, qualidade dos produtos alimentares e genuinidade das gentes. Todavia, Querença também evidencia algumas lacunas estruturais, ligadas ao acesso
fragmenta: «No nosso quotidiano usamos vários tipos de mensagem: som, cor, forma para elevar a nossa posição negocial, algo tão simples como sermos simpáticos para obter amizade ou união sexual. Esses mecanismos
a água potável de qualidade, à dinamização comercial de produtos da terra, ao acesso à habitação e à requalificação dos prédios rústicos. Todos estes factores foram ponto de partida para uma conversa alargada que juntou várias
nacionalidades e em que se falou em português e em inglês, para entendimento de todos/as. A Fundação considera que numa altura em que Querença inicia o retomar da sua autonomia administrativa é imperativo promover o diálogo em torno de quem cá vive o ano inteiro, coligindo os seus contributos para o desenvolvimento de Querença, no interior do concelho de Loulé.
Biblioteca Museu Manuel Viegas Guerreiro Como anfitriã do evento, a FMVG aproveitou a oportunidade para dar a conhecer a sua actividade e o homem que lhe dá nome, visto que este foi o primeiro contacto de parte do público com a instituição. Desde logo, este foi recebido no Centrode EstudosAlgarviosLuísGuerreirocom música recolhida por Viegas Guerreiro junto de comunidades angolanas e moçambicanas (Köisan e Maconde), dando a conhecer parte do património fonográfico guardado em Querença. O grupo foi então convidado a visitar um dos núcleos mais exclusivos e intimistas da Fundação: a biblioteca particular do Patrono, que se transformou em mini-sala de projecção, acolhendo a exibição do documentário bilingue MVG:MestredoMundo . Foi complementar à sessão, a apresentação de várias fotografias da colecção particular de Manuel Viegas Guerreiro, com incidência nos Köisan, datada da década de 50 do século XX. Ainda, a leitura de uma descrição de Querença, retirada de Uma ExcursãoàSerradoAlgarve(1959) Um excerto da obra ganhou destaque num marcador de livros, em português e inglês, oferecido neste evento.
A BibliotecaMuseuManuelViegasGuerreiroconstitui uma réplica do escritório da sua casa em Paço de Arcos, Lisboa. Grande parte das estantes, todos os livros, mobiliário e objectos expostos pertenceram ao etnólogo
e antropólogo.
Recorde-se que Manuel Viegas Guerreiro (1912-1997), filho de Querença, nunca perdeu a oportunidade de evidenciar o seu encantamento por este lugar, ao longo de mais de oito décadas de vida. A Fundação continua a dar-lhe voz, honrando o seu legado humanista.
O secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços, apresentou com optimismo o Roteiroda AgendaparaoTurismonoInteriorno passado dia 15 de Fevereiro. Para a primeira ronda de debate foram convidados José Apolinário, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve; Ana Renda, directora do Mestrado em Turismo da Universidade do Algarve; João Ministro, CEO & Founder da Proactivetur; e Susana Calado Martins, presidente da QRER – Cooperativa para o Desenvolvimento dos Territórios de Baixa Densidade. No segundo painel integraram Hélder Martins, presidente da AHETA - Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve; Daniel do Adro, vice-presidente da AIHSA- Associação dos Industriais Hoteleiros e Similares do Algarve; Isolete Correia, presidente da APPR- Associação Portuguesa de Portos de Recreio; João Paulo Sousa; vice-presidente da Associação de Turismo do Algarve.
A moderação ficou a cargo de Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal e de Carlos Abade, vogal do Conselho Directivo do Turismo de Portugal, respectivamente.
Na Fundação, a iniciativa foi organizada em articulação directa com a Região de Turismo do Algarve.
A FMVG iniciou em 2023 uma nova actividade, sustentada no Centro deEstudosAlgarviosLuísGuerreiro . O acervo aqui reunido, com destaque para a literatura popular, é mote de leituras junto dos/das utentes da Associação de Bem Estar dos Amigos de Querença, Lar e Centro de Dia, que acolhe cerca de 20 idosas/os acima dos 83-85 anos de idade. A leitura ocorre todas as sextas-feiras de cada mês, alternadamente, ora no Lar para todo o grupo, ora na Fundação para aquelas/es que têm maior autonomia e que assim usufruem do passeio. Pretende-se que esta iniciativa estimule a coesão entre todas/os e desperte para a partilha de poesia e outras estórias.
Dina Adão, da biblioteca do Colégio Internacional de Vilamoura, trouxe à FMVG quatro estórias: «Pedacinhos de cada um de nós», define O intercâmbio de leituras tem a capa da RBCL e, desta vez, os ouvintes foram as crianças da escola EB/JI de Querença. Na sessão de 24 de Fevereiro, Dina registou curiosidade, ânimo e alegria. Entre os vários momentos especiais, destaca dois: «Aquele em que, um a um, todos começaram a trautear comigo a música que acompanha a história de um menino que tinha muitas histórias na sua cabeça: Não,não,David!Não,não E também a imensa vontade de cada um em partilhar as suas experiências, em particular, do Ivo.»
São entretecidos neste roteiro histórico e literário um conto infantojuvenil de temática ecológica e antirracista: Avisitadeestudoe a desconhecida AventuradeSancho Pança,ofielescudeirodeDom Quixote,oCavaleirodaTristeFigura, noReinodoAlgarve , vertida para português a partir do original de Cide Hamete Benengueli.
Biblioteca Gulbenkian Paris adquire colecção de LÓGOS– Bibliotecado Tempo.Com uma vida de cinco anos, a revista reúne textos de 140 autores (poemas, ensaios, contos, entrevistas) e ilustração de autor. Apesar de a última edição ter sido impressa em Maio de 2022, a LÓGOS tem futuro: «A revista vai continuar, porque existe em suporte papel. Existe nas bibliotecas e na casa de muitos leitores.» Adília César, co-fundadora ao lado de Fernando Esteves Pinto, sabe que esta continuará a revelar os seus autores a novos leitores. Aguarda-se, quiçá, nova série.
Foram transcritos os documentos que registam as visitações do bispo D. Francisco Gomes de Avelar às igrejas e capelas do concelho de Loulé, entre 1790 e 1816. Trabalho assegurado por João Sabóia e Luísa Martins, com prefácio de Carlos Aquino, pároco de Loulé e Querença.
A obra aborda os estudos de Botânica e Zoologia realizados durante o século XVIII em Portugal, Espanha e territórios ultramarinos. Época de grandes viagens científicas, memórias de geografia, política, história natural e etnografia, colecções de história natural, trabalhos de taxonomia vegetal e animal. Inclui os jardins botânicos ibéricos e franceses.
Da paisagem à gastronomia, passando pelos jardins comestíveis, este livro conjuga conhecimentos da cultura erudita e do património oral, prestando tributo às gentes que têm sabido preservar os saberes da tradição. As três cientistas propõem respostas para quem procura opções saudáveis em benefício próprio e da Natureza.
Acompanhe o poeta-viajante na evocação e convocação de memórias e fantasmas que o autor faz presentes no momento da (re)escrita dos lugares: o Algarve da casa da infância e, ainda assim, estranho. Percorra a cartografia geográfica do Algarve de Salvador Santos em forma de poemas.